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GESTÂO DE RISCOS DE DESASTRES: INTEGRANDO OS RISCOS DE ACIDENTES INDUSTRIAIS À GESTÃO TERRITORIAL Isadora Timbó de Paula Lopes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento Energético, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Planejamento Energético. Orientadores: Alessandra Magrini Álvaro Souza Jr. Rio de Janeiro Março de 2017

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GESTÂO DE RISCOS DE DESASTRES: INTEGRANDO OS RISCOS DE

ACIDENTES INDUSTRIAIS À GESTÃO TERRITORIAL

Isadora Timbó de Paula Lopes

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Planejamento

Energético, COPPE, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em

Planejamento Energético.

Orientadores: Alessandra Magrini

Álvaro Souza Jr.

Rio de Janeiro

Março de 2017

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GESTÂO DE RISCO DE DESASTRES: INTEGRANDO OS RISCOS DE

ACIDENTES INDUSTRIAIS À GESTÃO TERRITORIAL

Isadora Timbó de Paula Lopes

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO

LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA

(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM CIÊNCIAS EM PLANEJAMENTO ENERGÉTICO.

Examinada por:

__________________________________________

Prof. Alessandra Magrini, D.Sc.

__________________________________________

Alvaro Souza Jr., D.Sc.

__________________________________________

Prof. Marcos Freitas, D.Sc.

__________________________________________

Prof. Francisco Moura Duarte, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO DE 2017

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Lopes, Isadora Timbó de Paula

Gestão de Risco de Desastres: Integrando os Riscos de

Acidentes Industriais à Gestão Territorial / Isadora Timbó –

Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2017.

X, 114 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Alessandra Magrini

Álvaro Souza Jr.

Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Planejamento Energético, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 102-114.

1. Gestão de Riscos de Desastres. 2. Acidentes Industriais

Ampliados. 3. Gestão Territorial. I. Magrini, Alessandra et

al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,

Programa de Planejamento Energético. III. Título.

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Aos meus amores.

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iv

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, FORA TEMER!

Em segundo lugar, gostaria de agradecer aos orientadores por terem me apoiado durante essa longa caminhada, por todas as ideias trocadas e conhecimentos passados.

À minha família e amigos queridos que me incentivaram durante os três anos de PPE, mesmo durante os momentos de chatice crônica.

À GITEC Brasil pelo apoio e incentivo para concluir essa árdua e engrandecedora missão que é se tornar mestre.

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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

GESTÂO DE RISCO DE DESASTRES: INTEGRANDO OS RISCOS DE

ACIDENTES INDUSTRIAIS NA GESTÃO TERRITORIAL

Isadora Timbó

Março/2017

Orientadores: Alessandra Magrini

Álvaro Souza Jr.

Programa: Planejamento Energético

A ocorrência de acidentes industriais cujas consequências ultrapassam os

limites das instalações fez com que diversos países e organismos internacionais

repensassem suas estratégias de intervenção. Nesse contexto, os Estudos de Analises de

Riscos (EARs) passaram a ser utilizados pela gestão pública em processos de tomada de

decisão associados a atividades industriais perigosas. No Brasil, os EARs são utilizados

apenas no âmbito do processo de licenciamento ambiental. O objetivo principal desse

estudo é propor um sistema de integração dos riscos de acidentes industriais ao

planejamento do território. Para isso foi feita uma vasta pesquisa bibliográfica e também

foram utilizadas informações de entrevistas e contatos com pessoas do setor. Foi

selecionada a experiência do Reino Unido e sua metodologia de Planejamento e Uso do

Solo, que inspirou as recomendações de mecanismos técnicos, legais e de governança

que devem ser desenvolvidos para a implementação de um sistema de integração dos

riscos industriais ao planejamento do território no Brasil. Espera-se dessa forma

contribuir para a reflexão e discussão da importante e emergente temática de Gestão de

Riscos de Desastres, através da integração dos riscos, sejam industriais ou não, às

demais políticas públicas, em especial à de planejamento territorial.

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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

DISASTER RISK MANAGEMENT: INTEGRATING THE RISK OF INDUSTRIAL

ACCIDENTS IN TERRITORIAL MANAGEMENT

Isadora Timbó

March/2017

Advisors: Alessandra Magrini

Alvaro Souza Jr.

Department: Energy Planning

The occurrence of industrial accidents whose consequences exceeded the limits

of the facilities caused several countries and international organizations to rethink their

intervention strategies. In this context, risk analysis studies started to be used as a tool to

support public management in decision-making processes associated with hazardous

industrial activities. In Brazil, such studies are only used in the ambit of the

environmental licensing process. The main objective of this study is to propose a system

for integrating the risks of industrial accidents into the planning of the territory. For this,

a vast bibliographical research was done and information of interviews and contacts

with people of the sectors were used. The experience of the UK and its Land-Use

Planning methodology were selected, which inspired the recommendations of technical,

legal and governance mechanisms that should be developed for the implementation of a

system for integrating industrial risks into land-use planning in Brazil. It is hoped to

contribute to the reflection and discussion of the important and emergent issue of

Disaster Risk Management, through the integration of risks, whether industrial or not,

with other public policies, especially territorial planning.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .................................................................................................... iv

SUMÁRIO ...................................................................................................................... vii

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................... ix

ÍNDICE DE QUADROS .................................................................................................. x

1. Introdução.................................................................................................................. 1

2. Gestão de Risco de Desastres (GRD) ........................................................................ 5

2.1. Desastres e sua relação com o desenvolvimento ............................................... 5

2.2. Fundamentação teórica e conceitual .................................................................. 7

2.2.1. Riscos de Desastres .................................................................................... 7

2.2.2. A Gestão de Riscos de Desastres .............................................................. 11

2.3. Da ‘Gestão de Desastres’ à ‘Gestão de Riscos de Desastres’ .......................... 14

2.3.1. Marcos Internacionais............................................................................... 14

2.3.2. Marco Nacional: A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil ........... 25

3. Acidentes Industriais Ampliados e sua Gestão ....................................................... 29

3.1. Acidentes Industriais Ampliados ..................................................................... 29

3.2. Gerindo os Riscos Industriais Ampliados ........................................................ 38

4. Regulamentações para a Gestão de Riscos de Acidentes Industriais ...................... 42

4.1. Principais Regulamentações Internacionais ..................................................... 42

4.1.1. Diretiva de Seveso (União Européia) ....................................................... 42

4.1.2. Convenção 174 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) .......... 47

4.2. Regulamentações Nacionais ............................................................................ 49

4.2.1. Licenciamento Ambiental e Estudo de Análise de Risco (EAR) ............. 50

4.2.2. Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a

Emergências Ambientais (P2R2) ............................................................................ 62

5. Integração dos Riscos Industriais à Gestão Territorial............................................ 67

5.1. Território e Risco ............................................................................................. 67

5.2. Experiência Internacional e o Caso do Reino Unido ....................................... 70

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5.3. Planejamento Territorial e sua Relação com a Gestão de Risco no Brasil ...... 78

5.4. Recomendações para a Integração no Brasil ................................................... 81

5.4.1. Mecanismos técnicos ................................................................................ 81

5.4.2. Mecanismos Legais .................................................................................. 87

5.4.3. Governança ............................................................................................... 90

5.4.4. Síntese das Recomendações ..................................................................... 98

6. Conclusões (em construção).................................................................................... 99

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 102

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Principais iniciativas internacionais para a redução de desastres e de riscos de

desastres .......................................................................................................................... 15

Figura 2. Classificação dos desastres tecnológicos, adotada pelo EM-DAT (Base de

dados do Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia do Desastre). .................................. 29

Figura 3. Exemplo de representação do risco individual através de contornos de

isorriscos. São ilustrados os contornos de Risco Individual de 10-5, 10-6, 10-7 e 10-8 de

uma planta fictícia .......................................................................................................... 59

Figura 4. Curva de risco social, de uma planta fictícia e o limite recomendável para a

implementação de medidas ............................................................................................. 59

Figura 5. Organograma inicialmente proposto para o P2R2. ......................................... 64

Figura 6. Zonas de risco. ................................................................................................ 76

Figura 7. Ocupação no entorno de terminal de óleo em São Sebastião, SP. .................. 79

Figura 8. Quadro atual aonde não existe uma integração entre os EARs e o ordenamento

territorial ......................................................................................................................... 91

Figura 9. Proposta de arranjo tripartite para a integração dos resultados dos EARs no

planejamento territorial................................................................................................... 93

Figura 10. Síntese de todas as recomendações propostas para a integração dos riscos de

acidentes industriais ao planejamento territorial. ........................................................... 99

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Classificação das ameaças. .............................................................................. 8

Quadro 2. Descrição das diferentes categorias de vulnerabilidade. ................................. 9

Quadro 3. As etapas fundamentais da criação do risco de desastre e os processos de

intervenção através da GRD. .......................................................................................... 12

Quadro 4. Prioridades e atividades definidas no Marco de Ação de Hyogo. ................. 20

Quadro 5. As quatro prioridades de ação do Marco de Sendai. ..................................... 23

Quadro 6. Tipos, definição e exemplos de eventos relacionados à vazamento ou

liberação de produtos perigosos. .................................................................................... 31

Quadro 7. Exemplos de acidentes industriais ampliados. .............................................. 34

Quadro 8. Etapas e scopos dos documentos de Referência para a elaboração de EAR dos

estados do Rio de Janeiro (INEA, 2012) de São Paulo (CETESB, 2003), Rio Grande do

Sul (FEPAM, 2001) e Bahia (CEPRAM, 2009). ............................................................ 53

Quadro 9. Diferentes abordagens utilizadas para o planejamento territorial realizado ao

redor de instalações perigosas. ....................................................................................... 71

Quadro 10. Responsabilidades gerais e específicas de cada nível governamental e das

instituições envolvidas com as gestões territorial e de risco de acidentes industriais. ... 96

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1. Introdução

O desenvolvimento industrial moderno aumentou o potencial de danos e

perdas provenientes de acidentes ocasionados por falhas em processos industriais, em

especial aqueles que envolvem substâncias químicas perigosas. Acidentes industriais

ocorridos nas últimas décadas, cujas consequências ultrapassaram os limites das

instalações, tiveram grande repercussão internacional, fato que conferiu uma maior

atenção por parte da sociedade para os riscos relacionados às atividades industriais

(SOUZA JUNIOR, 2002).

Essa maior visibilidade dos riscos industriais fez com que diversos países e

organismos internacionais, especialmente aqueles mais industrializados, repensassem

suas estratégias de intervenção. Como resultado novas normas e regulamentações foram

criadas para orientar as partes envolvidas nesse processo de readequação de práticas e

procedimentos de segurança.

Nesse contexto, os Estudos de Análise de Risco (EAR), mais especificamente

as Análises Quantitativas de Risco (AQRs), um tipo de EAR de que utiliza modelos

numéricos para definir limites toleráveis de risco, passaram a ser utilizadas para apoiar a

gestão pública em processos de tomada de decisão associados a atividades industriais

perigosas (FREITAS, 2015).

A AQR como ferramenta de gestão pública é um requisito legal e seu uso para

esse fim resulta em ganhos provenientes da maior compreensão do risco em processos

de tomada de decisão (ARENDT e LORENZO, 2000). Uma vez que para se ter riscos

industriais zero toda e qualquer atividade industrial deveria ser suspensa, a solução é

conhecer e entender os riscos inerentes a tais atividades. Conhecendo esses riscos é

possível estabelecer limites toleráveis para convívio com os mesmos e definir medidas

de segurança para evitar a criação de novos riscos e reduzir as consequências de um

possível acidente.

No Brasil, os EARs, sejam quantitativos ou não, passaram a ser utilizados

como ferramenta para a gestão pública dentro dos processos de licenciamento ambiental

de instalações ou atividades perigosas, cujos princípios foram estabelecidos pelo

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Decreto Federal nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e pela Resolução CONAMA 237, de

16 de dezembro de 1997, também da instância federal.

A partir das normas gerais federais, o órgão ambiental competente, como

condicionante para a concessão das licenças para implementação e execução da

atividade industrial, define e requisita ao empreendedor a elaboração e apresentação de

documentos, estudos e programas ambientais necessários para subsidiar a análise da

licença requerida. Um desses estudos é a análise preliminar de risco (CONAMA 237,

1997).

Para os empreendimentos industriais fixos, que envolvem substâncias químicas

perigosas, o processo de licenciamento é conduzido pelo órgão ambiental estadual. Com

exceção das atividades de óleo e gás e de empreendimentos que ultrapassem limites

estaduais, essas ficam a cargo do nível federal.

As localizações das instalações que produzem, armazenam ou utilizam

produtos químicos é o primeiro fator a ser considerado na gestão dos riscos industriais,

pois é no território em questão que o risco é construído e os impactos de um possível

acidente são sentidos. A consideração desses riscos na política pública de ordenamento

territorial é fundamental, assim se evita a criação de novos riscos e de condições de

vulnerabilidade.

A utilização dos resultados de AQRs no ordenamento territorial é uma prática

de gestão integrada que vem sendo desenvolvida em diversos países ao redor do mundo.

Contudo, no Brasil, as AQRs são utilizadas de maneira restrita, somente para o auxílio a

tomada de decisão no processo de licenciamento ambiental. Não é observada uma

integração entre os resultados desses estudos e o planejamento local de uso e ocupação

do solo.

No Brasil, é comum observar a ocupação indiscriminada de áreas próximas às

instalações industriais perigosas. Geralmente tal ocupação ocorre devido à expectativa

de crescimento econômico da região. Na maioria das vezes a população desconhece os

riscos que as instalações oferecem, logo, é de responsabilidade dos órgãos públicos o

planejamento e controle da ocupação do solo ao redor de instalações perigosas.

A preocupação com os efeitos do desenvolvimento socioeconômico sobre a

saúde e bem-estar das pessoas e do meio ambiente vem mudando gradativamente desde

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a década de 1970, acompanhando o crescimento dos movimentos ambientalistas,

fazendo com que a engenharia e outras áreas de conhecimento busquem soluções

sustentáveis para os problemas originados em decorrência do desordenado crescimento

urbano (REZENDE, 2010).

Dentro deste cenário de busca por soluções sustentáveis, a gestão de risco

surge em meados da década de 1990 como um processo, uma estratégia de gestão que

visa, através da formulação e implementação de políticas, estratégias, ações e

instrumentos, intervir nas condições de vulnerabilidade e/ou agir sobre as ameaças.

A constatação da falta de interconectividade entre as gestões de risco e

territorial, somada à tendência global de foco na gestão do risco e não mais apenas na

gestão dos desastres são os grandes motivadores deste estudo. As gestões deveriam ser

articuladas para evitar a criação de novas condições vulneráveis e garantir a segurança

da população e do meio ambiente.

O objetivo desse estudo é propor um sistema de integração dos riscos

industriais ao planejamento do território. A luz da importante e emergente temática,

cujos principais benefícios seriam a otimização da gestão pública brasileira e uma maior

segurança para a população e desenvolvimento sustentável. Para isso, o tema será

apresentado, discutido e algumas recomendações serão propostas para que tal prática de

gestão integrada seja implementada no Brasil.

Para tal, foi realizada uma vasta pesquisa bibliográfica de literatura técnica e

regulamentar. Além disso, foram também utilizadas informações obtidas através de

contatos e entrevistas com pessoas dos diversos setores envolvidos, como por exemplo,

especialistas em gestão de riscos, especialistas em gestão territorial, profissionais da

defesa civil e meio ambiente.

A presente dissertação foi estruturada a partir do presente capítulo introdutório

que apresentou a contextualização, motivação, objetivos, metodologia de pesquisa e se

encerra com a estrutura e conteúdo dos demais capítulos.

O capitulo 2 apresenta uma breve revisão sobre a Gestão de Riscos de

Desastres (GRD). Inicialmente é exposta a relação entre os desastres e os padrões de

desenvolvimentos socioeconômicos. Na sequência é apresentada uma fundamentação

teórica e conceitual dos riscos e de sua gestão. E por fim, são apresentados os principais

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marcos internacionais e o marco nacional, de forma a elucidar como Brasil está

reagindo a todo esse novo paradigma da GRD.

O capitulo 3 é focado no tipo de desastre que será tratado nessa dissertação,

que são os provenientes de atividades industriais, os chamados acidentes industriais.

Como mencionado anteriormente as consequências desses acidentes podem ultrapassar

barreiras de espaço e perdurar no tempo, colocando em risco não só os trabalhadores e a

infraestrutura industrial, como também o público externo e meio ambiente. Esses

acidentes são chamados acidentes industriais ampliados, devido ao alcance e magnitude

dos seus efeitos. Além disso é apresentada uma descrição de como tais riscos podem ser

geridos.

No capítulo 4 são apresentadas as principais regulamentações internacionais

para a gestão de riscos industriais: a Diretiva de Seveso da Comunidade Europeia e a

Convenção 174 da Organização Internacional do Trabalho. Depois o enfoque é trazido

para o Brasil, na tentativa de entender como a gestão desses riscos é realizada

atualmente no país.

O capítulo 5 é dedicado a expor a importância da integração entre a gestão de

riscos industriais e a gestão territorial e como essa prática vem sendo desenvolvida no

mundo. Em seguida é apresentado um contexto nacional sobre o tema, enfatizando o

funcionamento do ordenamento territorial no Brasil e sua relação com a gestão de

riscos. Por fim são apresentadas recomendações para que essa prática de gestão

integrada seja implementada no país.

A dissertação se encerra explicitando as principais conclusões alcançadas e

propostas para trabalhos futuros, ambos apresentados no capítulo 6.

Esta é uma temática nova e complexa, pois envolve a integração horizontal,

entre diversos setores, e vertical, entre diferentes níveis de governo. Não se pretende

aqui, portanto, apresentar uma solução pronta, o que seria de fato inviável uma vez que

as soluções devem ser pensadas e avaliadas pelos gestores considerando as

especificidades de cada território, mas sim trazer à luz esse tema e a importância de se

debater e desenvolver práticas integradas e otimizadas de gestão pública.

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5

Espera-se dessa forma contribuir para a reflexão e discussão da importância de

integração dos riscos, sejam industriais ou não, às demais políticas públicas, em especial

as de planejamento e ordenamento territorial.

2. Gestão de Risco de Desastres (GRD)

2.1. Desastres e sua relação com o desenvolvimento

Entre as décadas de 1980 e 1990 o interesse na relação entre desastres e

desenvolvimento cresceu. No início, a maior parte dos estudos analisavam o impacto de

um evento na sociedade, em seu ambiente e economia, ou seja, o impacto do desastre no

desenvolvimento. Mais recentemente, os escopos ampliaram e atualmente, investiga-se

os efeitos do desenvolvimento na magnitude dos danos ocasionados pelos desastres

(EIRD, 2004).

Segundo o PNUD (2004), os dois principais fatores de desenvolvimento que

impulsionam os desastres são a rápida urbanização e os meios de subsistência em áreas

rurais. A rápida urbanização, junto ao crescimento urbano desordenado e socialmente

segregado, resultam em: concentrações de áreas urbanizadas, populações e bens

culturais em zonas inseguras ou perigosas (barrancos, ladeiras íngremes, zonas de

inundação, proximidades de zonas industriais ou sistemas de transporte nocivos);

condições de exclusão social e pobreza; complexas interações entre as diversas ameaças

(eventos físicos); novas vulnerabilidades físicas (susceptibilidade ou predisposição

física de uma comunidade ser afetada ou sofrer efeitos adversos quando uma ameaça se

manifesta) físicas; transformação espacial de novos territórios e dificuldade de acesso a

mecanismos de mitigação de perdas; a interação de todos esses fatores resulta em novos

padrões de risco de desastres. Em geral, estes últimos, não são considerados no

planejamento urbano e regional, e o ordenamento do crescimento urbano tem se

mostrado ineficaz em relação à gestão do risco.

Apesar da denominação de desastres ser baseada na origem das ameaças que os

provocam – naturais e tecnológicos – é importante ter claro que os desastres não são

apenas consequências dos fatores ameaçadores, mas também do aumento da

vulnerabilidade das pessoas, em diferentes graus, gerado por sistemas humanos. A

vulnerabilidade é fortemente influenciada por fatores econômicos, investimentos na

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problemática; políticos, governos que beneficiam (ou não) todos os cidadãos; e sociais,

o grau de integração social. Além disso, outra questão importante é o fato que uma

ameaça não se transforma automaticamente em um desastre (IFRC, 2014).

As ameaças sempre estarão presentes e terão que ser enfrentadas pelas

comunidades. Já a vulnerabilidade dessas comunidades aumenta devido a inúmeras

decisões adotadas diariamente, nos diferentes níveis individual, local nacional e

internacional (EIRD, 2004).

O PNUD (2004), ao medir a vulnerabilidade relativa de cada pais ou região a

ameaças específicas, constatou que os processos de desenvolvimentos são de grande

importância na transformação desta vulnerabilidade em risco de desastres. Em vários

países, aonde o número de mortos em eventos desse tipo é muito alto, observa-se um

indicio de opções de desenvolvimento que levam à acumulação de risco até atingir

escalas catastróficas. Por outro lado, vários países que optaram por um modelo ou

práticas de desenvolvimento que reduz os riscos de desastres, apesar da grande

quantidade de habitantes, o número de vítimas mortais é baixo (PNUD, 2004). Portanto,

conclui-se que diferentes formas de desenvolvimento irão gerar diferentes

vulnerabilidades aos desastres. Premissa básica deste estudo.

O desastre afeta negativamente o desenvolvimento e consequentemente o

crescimento econômico, na medida em que causa perda de vidas humanas, danos às

pessoas, destruição total ou parcial a moradias, fontes de sustento, de subsistência, a

infraestrutura produtiva e de serviços, e meio ambiente, entre outros.

As perdas globais relacionadas com desastres somaram US$ 3.800 bilhões, de

1980 a 2012, com um crescimento dos custos econômicos de cerca de 400% (WORLD

BANK, 2013).

Segundo a UNISDR (2015b), em 2015 as perdas econômicas globais

ocasionadas pelos desastres foram estimadas em cerca de US$ 275.000 milhões por ano,

ultrapassando significativamente a média de US$ 170.000 milhões atingida na década

2004-2013. Ao mesmo tempo, as perdas futuras em ambiente construído são estimadas

em US$ 314.000 milhões. Este é o montante que os países deveriam reservar, a cada

ano, para cobrir futuras perdas ocasionadas pelos desastres.

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Os custos sociais e econômicos gerados por desastres são exorbitantes, fato que

deveria impulsionar o planejamento de longo prazo a se tornar princípio orientador e

pré-requisito para a sustentabilidade de investimentos físicos, especialmente os que são

relativos ao uso da terra em zonas perigosas (EIRD, 2004).

Ao analisar a relação entre o risco de desastres e o desenvolvimento, observa-

se que os primeiros devem ser geridos e reduzidos, afim de se evitar a ocorrência de um

evento, a partir de decisões apropriadas em projetos de desenvolvimento (EIRD, 2004).

Reduzir a probabilidade de ocorrência de desastres, ou reduzir os riscos de desastres, é

um objetivo estratégico do desenvolvimento sustentável.

Segundo a EIRD (2004), para que isso seja posto em prática, é preciso definir

uma política pública sobre seguros para eventos desastrosos, proporcionar incentivos de

mercado e isenções para reduzir o risco e a vulnerabilidade, disponibilizar assistência

técnica à população de baixa renda, oferecer proteção contra flutuações de preço de

seguros e resseguros, aumentar a cobertura a custos razoáveis, além de respaldar

mecanismos financeiros pertinentes.

2.2. Fundamentação teórica e conceitual

2.2.1. Riscos de Desastres

O conceito de risco é bastante recente. Os riscos e as condições que os

produzem passaram a ser considerados, a partir das transformações decorrentes da

Revolução Industrial, no século XIX (FURTADO, 2012).

Segundo o Centro Internacional de Formação da Organização Internacional do

Trabalho (CIF-OIT, 2012a):

“O risco de desastre é a probabilidade de um evento físico potencialmente

destrutivo, ocasionar danos com consequências para a sociedade. Manifesta-se pela

perda provável de vidas humanas e de bens sociais e probabilidade de perdas e

deterioração dos meios de subsistência, da atividade econômica e do ambiente de um

território.”

O risco de desastre é função da ocorrência de eventos físicos potencialmente

perigosos, ou ameaças, e o grau de exposição de elementos socioeconômicos a estes

fenômenos, em uma condição vulnerável, com determinadas capacidades de resposta e

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resiliência. Portanto, forças naturais e sociais atuam em conjunto na determinação da

existência e dimensão do risco. São entre si elementos dinâmicos e variáveis ao longo

do tempo tais mudanças tanto podem ser graduais, quanto abruptas (CIF-OIT, 2012a).

As ameaças são relativas ao perigo inerente a uma provável ocorrência de

fenômenos físicos de origem natural ou antropogênica, que pode resultar em danos ou

prejuízos às pessoas, ecossistemas, produção, infraestrutura, bens e serviços. É o fator

físico do risco, externo ao elemento ou grupo exposto (NARVÁEZ, LAVELL &

ORTEGA, 2009; CIF-OIT, 2012b).

Existe uma ampla gama de ameaças que, isoladas ou em complexos arranjos de

interação, pode colocar em perigo a vida das pessoas e o desenvolvimento sustentável.

As amaças são classificadas pela origem em naturais - biológicas, geológicas,

hidrometeorológicas - e tecnológicas. O Quadro 1, abaixo, apresenta a classificação das

ameaças segundo a EIRD (2004) e UNISDR (2015a).

Quadro 1. Classificação das ameaças (adaptado de EIRD, 2004 e UNISDR, 2015).

AMEAÇAS

AMEAÇAS NATURAIS

Processos ou fenômenos naturais que têm lugar na biosfera e que podem resultar num evento prejudicial e causar morte ou lesões, danos materiais, interrupção de atividade social e econômica ou degradação ambiental. Podem ser classificadas em: hidrometeorológicas, geológicas e biológicas.

Exemplos: Inundações, ciclones tropicais, nevascas, tempestades severas, secas, incêndios florestais, geadas, terremotos, tsunamis, atividades vulcânicas, movimento de massa, deslizamento, surtos de enfermidades epidêmicas, pandemias, etc.

AMEAÇAS TECNOLÓGICAS

Ameaça originada por acidentes tecnológicos ou industriais, procedimentos perigosos, falhas de infraestrutura ou de certas atividades humanas, que podem resultar num evento prejudicial e causar morte ou lesões, danos materiais, interrupção de atividade social e econômica ou degradação ambiental.

Exemplos: contaminação industrial, atividades nucleares e radioatividade, rejeitos tóxicos, rompimento de barragens; acidentes de transporte, industriais ou tecnológicos (explosões, incêndios, derrames); colapso de edificações.

Segundo a EIRD (2004), as ameaças mais comuns de origem natural são as

hidrometeorológicas, tanto em áreas urbanas ou rurais, sendo que as inundações

atingem dois terços da população total afetada por desastres.

A vulnerabilidade, por sua vez, representa o fator interno do risco. Refere-se a

características da sociedade, sua infraestrutura, seus meios de subsistência e

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ecossistemas, que acarretam a susceptibilidade física, social, econômica, política ou

ambiental da mesma a ser afetada adversamente quando uma ameaça se manifesta (CIF-

OIT, 2012b). Este fator não pode ser considerado independentemente das atividades

realizadas em prol do desenvolvimento (EIRD, 2004). O Quadro 2 apresenta as

descrições das diferentes categorias de vulnerabilidade.

Quadro 2. Descrição das diferentes categorias de vulnerabilidade (adaptado de EIRD, 2004 e CIF-OIT, 2012b)

VULNERABILIDADE

TIPO RELACIONADO COM ASPECTOS DETERMINANTES

FÍSICA

Questões do ordenamento territorial, engenharia e arquitetura que definem a localização das pessoas, suas moradias e o entorno construído

• Densidade populacional; • Distância em que se encontra um

assentamento; • O lugar, o projeto e os materiais utilizados

para construir a infraestrutura vital e as moradias

SOCIAL O bem-estar das pessoas, as comunidades e a sociedade.

• Grau de alfabetização e educação; • Condições de paz e segurança; • Acesso aos direitos humanos fundamentais; • Sistemas de boa governabilidade e equidade

social; • Valores tradicionais de caráter positivo; • Costumes e convicções ideológicas e aos

sistemas de organização coletiva em geral. • Falta de infraestrutura básica: água potável,

saneamento, saúde pública

ECONÔMICA A situação econômica das pessoas, comunidades e países.

• Distribuição de renda • Gênero • Faixa etária

AMBIENTAL Características do meio ambiente

• O grau de esgotamento dos recursos naturais e seu estado de degradação;

• A falta de resiliência dos ecossistemas; e • A exposição a contaminantes tóxicos e

perigosos

Anteriormente, a vulnerabilidade física era descrita como exposição (EIRD,

2004). Atualmente, predomina o entendimento de que a exposição e a vulnerabilidade

sejam variáveis distintas. Neste sentido, a exposição refere-se a populações,

propriedades, e outros ativos ou sistemas expostos a ameaças (UNISDR, 2015a).

A vulnerabilidade social também é associada com fatores de cunho político,

como as relações sociais de poder, as instituições e as estruturas de governabilidade. A

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coesão social e o sistema normativo aumentam a capacidade de superação, enquanto a

insegurança social aumenta a vulnerabilidade social (EIRD, 2004).

A população mais carente, grupo que na maioria das regiões é formado por

uma excessiva proporção de mulheres e idosos, geralmente é muito mais vulnerável que

os demais grupos da sociedade (EIRD, 2004).

Os fatores ambientais podem aumentar ainda mais a vulnerabilidade com o

tempo, posto que criam novos e indesejáveis padrões de discórdia social, privações

econômicas que, eventualmente, provocarão a migração de comunidades inteiras

(EIRD, 2004).

A classificação por fatores que contribuem para a vulnerabilidade serve para

ilustrar a complexidade associada a este fator de risco. Porém, a vulnerabilidade não

deve ser compartimentada, pois um sistema não é submetido a diversas

vulnerabilidades, mas sim a diversas condições que contribuem para a sua

vulnerabilidade. A vulnerabilidade física é também social, pois o conjunto de

características e processos que conferem a vulnerabilidade a um determinado sistema,

forma um todo integrado. No Brasil, vem sendo feitas avaliações de vulnerabilidade

municipal considerando os fatores essenciais "sensibilidade", "exposição" e "capacidade

de resposta" de forma integrada e complementar, caracterizável por uma métrica única,

capaz de quantificar o grau de vulnerabilidade do "sistema sócio ecológico" (SANTOS,

2016).

O terceiro fator que compõe o risco é determinado pela existência de elementos,

pessoas, infraestruturas ou atividades socioeconômicas expostas à ameaça. O grau de

exposição é diretamente relacionado com a vulnerabilidade, quanto maior for a

exposição à uma ameaça maior será a vulnerabilidade de um determinado de um

elemento socioeconômico qualquer.

As capacidades são as ações ou meios pelos quais as comunidades ou

organizações utilizam seus recursos e habilidades para enfrentar o impacto de um

desastre. A resiliência é uma das capacidades mais importantes ao nível local e significa

a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade se adaptar, resistindo ou

mudando, com a finalidade de manter sua estrutura em funcionamento minimamente

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adequado, perante a ocorrência de uma ameaça (NARVÁEZ, LAVELL & ORTEGA,

2009; CIF-OIT, 2012b).

Os fatores que compõe o risco (ameaças, vulnerabilidades, grau de exposição e

capacidades) são dinâmicos e interdependentes. A ocorrência simultânea desses fatores,

espacial e temporal, determina a existência do risco do território. Risco este que pode

ser atual ou consolidado, como também futuro ou em processo de criação (CIF-OIT,

2012b).

O risco atual ou consolidado refere-se ao risco já criado, isto é, quando existem

elementos socioeconômicos expostos em condições de vulnerabilidade perante ameaças.

Consequentemente, é o risco em que se pode intervir mais rapidamente, por já ter sido

percebido ou avaliado pela sociedade e instituições (CIF-OIT, 2012b). Este risco

também é o que mais imediatamente pode ser transformado ou atualizado em desastre.

O risco futuro ou em processo de criação refere-se à prospecção do risco, ou

seja, ao entendimento da sua provável existência no futuro. O risco futuro se torna

evidente no planejamento de investimentos, onde é possível identificar e avaliar o risco

que será criado com a implantação de determinado projeto de desenvolvimento (CIF-

OIT, 2012b).

2.2.2. A Gestão de Riscos de Desastres

A gestão de riscos de desastres (GRD) deve ser entendida como processo

permanente de análise, planejamento, tomada de decisões e implementação de ações,

afim de identificar, prevenir e reduzir as chances de um fenômeno potencialmente

destrutivo, causar danos ou perturbações graves na sociedade, meios de subsistência e

ecossistemas dos territórios. A GRD também abrange o preparo para lidar com

situações adversas, a resposta adequada e a recuperação de condições de vida, serviços e

sistemas após a ocorrência de um desastre (CIF-OIT, 2012b).

A GRD pode ser distinguida em três componentes: a gestão para evitar a

geração de novas vulnerabilidades e novos riscos no futuro, chamada de gestão

prospectiva; a gestão para reduzir o risco existente, ou gestão corretiva; e a gestão para

atender a situações de emergência/desastre, a gestão reativa ou compensatória (CIF-

OIT, 2012b).

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A GRD compreende diferentes formas de intervenção, que vão desde

formulação e implementação de políticas e estratégias, até a implantação de ações e

instrumentos de redução e controle do risco. Podendo variar em níveis de intervenção

desde a escala global, ou integral; a setorial, ou macro territorial; até o local, o

comunitário e o familiar. Para isso é preciso que existam sistemas ou estruturas

organizacionais e institucionais que representem estes níveis e reúna tais organismos

coletivos de representação social dos diferentes atores e interesses que desempenham

um papel no processo de construção e redução do risco, previsão e controle, em

modalidades de coordenação e com diferentes papéis previamente acordados.

(NARVAEZ, LAVELL & ORTEGA, 2009).

A GRD deve ser encarada como um processo específico para cada contexto.

Segundo Narvaez, Lavell e Ortega (2009), ao adotar uma visão sistêmica do problema,

para que o processo de controle se estabeleça, seis processos-chaves devem ocorrer de

forma integrada. São eles: 1) o conhecimento do risco; 2) a prevenção do risco futuro;

3) a mitigação do risco atual; 4) a preparação para a resposta; 5) a resposta e

reabilitação; e 6) a recuperação e reconstrução. O Quadro 3, compila as etapas

fundamentais de criação do risco do desastre, correlacionando aos processos de

intervenção através da GRD.

O processo-chave de gerar conhecimento e estimativas sobre o risco de

desastres (Processo 1) em seus diversos âmbitos, influencia todos os demais processos.

Este processo é necessário para identificar os fatores de risco de desastre e também

fatores subjacentes, como, as origens, causas e alterações. Este processo também deve

contemplar a avaliação e monitoramento, permanente, do desenvolvimento e das

intervenções sobre o risco de desastres.

Quadro 3. As etapas fundamentais da criação do risco de desastre e os processos de intervenção através da GRD (adaptado de NARVAÉZ, ORTEGA e LAVELL, 2009)

Criação do Risco de Desastre Processo de intervenção através da GRD

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I. Criação de fatores/condições de riscos futuros

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Processo 2: prevenir o risco futuro

II. Consolidação/permanência dos fatores/condições do risco atual

Processo 3: reduzir o risco existente

III. Ocorrência do desastre (atualização do cenário de risco)

Processo 4: Preparar a resposta

IV. Transformação do cenário de risco (novo cenário de risco pós-desaster)

Processo 5: responder e reabilitar

Processo 6: recuperar e reconstruir

A prevenção do risco futuro (Processo 2) se dá através da identificação dos

processos sociais geradores de risco, evitando sua concretização e consequente geração

do risco desastre. Para tal, devem ser tomadas medidas necessárias de prevenção sobre

todos os fatores de risco, tão logo o risco futuro seja identificado.

A redução, ou mitigação, do risco existente (Processo 3) tem a finalidade de

estabelecer e aplicar medidas corretivas de controle quando o risco presente é

constatado. É possível, portanto, reduzir ou mitigar, com antecipação, os possíveis

efeitos do fenômeno físico perigoso antes que esse ocorra.

O preparo para a resposta (Processo 4) é fundamental, para que as instituições e

população possam atuar e responder apropriadamente no caso da ocorrência do desastre.

Após ocorrido o evento danoso, a resposta e reabilitação (Processo 5) entram em ação,

com a finalidade de atender e assistir a população atingida pelo desastre. A recuperação

e reconstrução de áreas afetadas (Processo 6), incluindo os aspectos físico, social e

econômico da população e dos seus meus de vida, é o último processo parcial do risco.

Os processos de intervenção são contínuos, interdependentes e complexos, pois

devem estar inseridos em uma dinâmica do desenvolvimento. Para que a condução dos

processos descritos acima ocorra de maneira satisfatória, é necessário a participação

organizada de diversas entidades (estado, setor privado, organizações sociais,

acadêmicas, entre outras), com distintas especialidades e campos de ação. Estas devem

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desenvolver conjuntamente atividades em diferentes níveis (internacional, nacional,

regional e local), de maneira sistêmica e integrada (NARVAÉZ, LAVELL & ORTEGA,

2009).

O termo “Gestão de Riscos de Desastres” começou a ser utilizado na última

metade dos anos 90 e desde então, tem substituído, em muitos lugares, a noção de

Gestão ou Administração de Desastres, comumente utilizados desde os anos 60. Essa

troca de terminologia, por si só já ilustra como o foco de análises e preocupação passou

do desastre para o risco, dando espaço para o desenvolvimento e implementação de

medidas de prevenção e mitigação do risco, além das usuais práticas de resposta e

reconstruções (NARVAEZ, LAVELL & ORTEGA, 2009).

Com este cenário em mente, pode-se afirmar que o desafio atual da GRD

consiste em identificar e prevenir o risco de desastre, integrando as ameaças potenciais

(riscos futuros) na concepção e execução das políticas de desenvolvimento. De modo

que a GRD seja integrada em instrumentos e mecanismos de desenvolvimento

sustentável, como por exemplo, o planejamento territorial. Trata-se de um novo

paradigma da GRD (UN, 2011).

Este novo paradigma, vem impulsionado inovações na contabilidade das perdas

por desastres e na análise de risco, na adaptação do planejamento do desenvolvimento e

do investimento público, e em esforços para fortalecer a governança do risco, e

praticados por aqueles governos que têm reconhecido a importância de investir hoje

para ter um amanhã mais seguro (UNISDR, 2015b).

A seguir serão apresentados os esforços e marcos internacionais e nacional no

sentido da mudança de ótica da ‘Gestão do Desastre’ para a ‘Gestão de Riscos de

Desastres’, detalhando como esse novo paradigma está emergindo e sendo tratado no

âmbito mundial e no Brasil.

2.3. Da ‘Gestão de Desastres’ à ‘Gestão de Riscos de Desastres’

2.3.1. Marcos Internacionais

Há bastante tempo a comunidade internacional reconheceu a necessidade de

coordenação e cooperação na resposta aos desastres (HEATH, 2011). A ONU, desde

sua criação, em 1945, apoia países afetados e adota importantes iniciativas que visam

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reduzir o risco de desastres e colaborando para a construção de um mundo mais seguro

e resiliente, através do engajamento e cooperação dos estados membros.

Tais iniciativas representam marcos para a cooperação internacional,

promovendo a articulação institucional, arranjo governamental e a concepção de

políticas públicas e de estratégias nacionais. A Figura 1, abaixo, apresenta as principais

iniciativas, que a partir da década de 90 mobilizaram os países e os esforços nacionais

para superar o desafio da redução de desastres.

Figura 1. Principais iniciativas internacionais para a redução de desastres e de

riscos de desastres (elaboração própria)

a. A Década Internacional para a Redução de Desastres Naturais – DIRDN

Em 1989, incentivada pela crescente preocupação internacional com o aumento

da ocorrência e danos gerados por desastres, a Assembleia Geral da ONU designou a

década de 90 como a Década Internacional para Redução de Desastres Naturais

(DIRDN). O objetivo era promover ações internacionais para a redução do impacto dos

desastres nos países em desenvolvimento. Esse marco que representou o otimismo

acerca dos recursos técnicos e científicos disponíveis para enfrentar esta problemática

global (RODRIGUES, 2010) e a entrada definitiva da prevenção de desastres na agenda

internacional. Vários países, inclusive o Brasil, reorganizaram suas instituições,

Década Internacional

de Redução de Desastres Naturais -

DIRDN (1990 a 1999)

Estratégia de Yokohama

(1995 - 1999)

Entratégia Internacional

para a Redução de Desastres

(2000 - 2005)

Marco de Ação de Hyogo

(2005 - 2015)

Marco de Sendai

(2015 - 2030)

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alteraram a legislação nacional e as políticas públicas voltadas à atenção aos desastres

naturais.

Em 1992, ocorreu a Conferência Internacional das Nações Unidas para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92 no Rio de Janeiro. Essa conferencia

determinou ações e princípios fundamentais para se alcançar um desenvolvimento

sustentável. Durante o evento, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre

Mudanças do Clima (UNFCCC)1, um acordo multilateral foi assinado por mais de 150

países e pela Comunidade Europeia. Ao assinar os países se comprometeram em reduzir

as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e com a estabilização dos níveis de

concentração de GEE na atmosfera em um nível considerado seguro.

Também em 1992, uma rede latino-americana de estudos sociais em prevenção

de desastres foi criada em Puerto Limón, Costa Rica, chamada “La Red”2. Um pequeno

grupo de multidisciplinar de cientistas, tinham o objetivo de entender e analisar os

desastres, relacionando-os à produção social de vulnerabilidade e aos modelos de

desenvolvimento vigentes. Foram responsáveis por formular as bases da atual Gestão do

Risco.

Em 1994, durante a 1ª Conferência Mundial sobre Prevenção e Desastres

Naturais foram apresentados e aprovados a “Estratégia de Yokohama para um Mundo

mais Seguro: Diretrizes para Prevenção, Resposta e Mitigação de Desastres Naturais”

(IDNDR, 1994) e o “Plano de Ação de Yokohama”. O plano apresentou as primeiras

diretrizes para prevenção e preparação para desastres e mitigação dos seus efeitos. A

Estratégia estabeleceu 10 princípios, apresentados a seguir:

1. A avaliação de risco é um passo necessário para a adoção de uma

política e de medidas adequadas e positivas para a redução de desastres.

2. A prevenção de desastres e a preparação de desastres são componentes

essenciais para reduzir a necessidade de resposta a desastres.

3. A prevenção de desastres e a preparação para desastres devem ser

considerados aspectos essenciais das políticas e planos de

1 Disponível em: http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas 2 Disponível em: http://www.la-red.org/

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desenvolvimento em nível nacional, regional, bilateral, multilateral e

internacional.

4. A criação e o fortalecimento da capacidade de prevenir e reduzir os

desastres e mitigar os seus efeitos são uma questão de alta prioridade,

devendo ser consideradas com vistas a estabelecer uma base sólida para

atuação futura.

5. Os avisos prévios (antecipados) de catástrofes iminentes e sua

divulgação eficaz, por meios de comunicação adequados, incluindo os

serviços de radiodifusão, são a chave para prevenir os desastres com

êxito e preparar-se para eles.

6. As medidas preventivas são mais eficazes quando envolvem a

participação em todos os níveis, desde a comunidade local aos níveis

regional e internacional, por meio dos governos nacionais.

7. A vulnerabilidade pode ser reduzida através da aplicação de métodos

adequados de concepção de padrões de desenvolvimento focados em

grupos-alvo, fornecendo educação e formação adequadas para toda a

comunidade.

8. A comunidade internacional reconhece a necessidade de compartilhar a

tecnologia necessária para prevenir e reduzir os desastres e mitigar seus

efeitos; esta tecnologia deve ser livre e oferecida como parte da

cooperação técnica.

9. A proteção do ambiente, como componente do desenvolvimento

sustentável, coerente com a redução da pobreza, é essencial para a

redução do risco de desastres.

10. Cada país tem a responsabilidade primária de proteger seu povo,

infraestrutura e outros bens nacionais do impacto dos desastres naturais.

A comunidade internacional deveria demonstrar a firme determinação

política necessária para mobilizar os recursos adequados e fazer uso

efetivo dos existentes, incluindo os meios financeiros, científicos e

tecnológicos, na área de redução de desastres naturais, tendo em conta

as necessidades dos países em desenvolvimento, particularmente os

menos adiantados.

b. A Estratégia Internacional para a Redução de Desastre - EIRD

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Em dezembro de 1999, a Assembleia Geral da ONU adotou a Estratégia

Internacional para a Redução de Desastre (EIRD), como mecanismo de continuidade do

esforço internacional empreendido durante a DIRDN. Cujo objetivo era promover uma

maior consciência da importância da temática, aumentar o interesse e comprometimento

do público, de forma a aumentar a resiliência das comunidades aos riscos naturais,

dentro do âmbito do desenvolvimento sustentável. Incentivou também a criação de

redes e parcerias.

A EIRD refletiu uma mudança da ênfase tradicional na resposta a desastres

para a redução de desastres, buscando promover uma “cultura de prevenção” (EIRD,

2016). As quatros linhas de ação propostas:

1. Aumentar a consciência para compreender o risco, a vulnerabilidade e a

redução global de desastres;

2. Obter o compromisso das autoridades públicas para implementar as

políticas e diretrizes para a redução de desastres;

3. Estabelecer parcerias interdisciplinares e intersetoriais, incluindo a

expansão da rede de redução de riscos; e,

4. Melhorar o conhecimento científico sobre redução de risco de desastres.

Conjuntamente com a aprovação da EIRD, em 2000, foi fundado o Escritório

das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastre, conhecido pela sigla em

inglês UNISDR, que tinha o objetivo de acompanhar sua implementação. No ano

seguinte a UNISDR teve seu escopo aumentado, passando a ser o centro de coordenação

do Sistema das Nações Unidas para a redução do risco de desastres, garantindo a

sinergia entre as atividades da ONU e das organizações regionais.

No início da década seguinte, mais precisamente em 2002, o Plano de ação de

Joanesburgo, apresentou a necessidade de uma ação integrada para diversas ameaças,

tirando a ênfase exclusiva sobre as ameaças naturais. O plano priorizou as

vulnerabilidades, avaliação de risco e a gestão dos desastres.

c. O Marco de Ação de Hyogo

Em 2005, em Kobe no Japão, aconteceu a 2ª Conferência Mundial sobre

Redução de Desastres, que contou com a participação de 168 países membros da ONU.

Durante esta Conferência foi aprovado o “Marco de Ação do Hyogo (MAH):

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Construindo a resiliência de nações e comunidades frente a desastres”, para o período

2005-2015, visando continuar a mobilização e os avanços alcançados com a EIRD

(EIRD, 2016).

De natureza política, o MAH reafirma a responsabilidade do estado em

proteger sua população contra desastres e apresenta o emergente pensamento estratégico

internacional, cuja ênfase é em promover a emergência de uma cultura de prevenção

através da redução das vulnerabilidades (RODRIGUES, 2010). Serviu também para

avaliar os 5 primeiros anos da EIRD, com renovação de compromissos e

responsabilidades para os estados membros.

O Marco de Ação de Hyogo foi construído com base em um conjunto de ações

globais, orientadas a responder aos desastres em nível nacional. A estratégia é

constituída por 5 prioridades, cada uma com atividades essenciais definidas. O Quadro

4 resume as prioridades e atividades elencadas pelo Marco de Ação de Hyogo.

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Quadro 4. Prioridades e atividades definidas no Marco de Ação de Hyogo (EIRD, 2016).

PRIORIDADES DIMENSÃO ATIVIDADES

1ª: Garantir que a RRD seja uma prioridade nacional e local com uma sólida base institucional para sua implementação.

Política – reafirmando a importância do comprometimento político na promoção e implementação de ações de RRD.

• Quadro institucional e legislativo nacional (implementação da Plataforma Nacional para a redução de risco de desastres)

• Recursos

2ª: Identificar, avaliar, monitorizar os riscos de desastres e melhorar os avisos atempados

Científica – mostra a necessidade de aprofundar e validar os conhecimentos relacionados com as vulnerabilidades e sua evolução

• Avaliação dos riscos a nível nacional e local;

3ª: Construir uma cultura de segurança e de resiliência, através do conhecimento, da inovação e da educação

Social – ressaltando o fato que o risco jamais será nulo, mas que pode ser reduzido ou atenuado e que isso depende do envolvimento e engajamento da comunidade, para isso é preciso que seja criada uma cultura de prevenção. A ideia desta prioridade é responsabilizar as comunidades, tornando-os agentes ativos do processo de prevenção e de recuperação dos desastres

• Gestão e partilha de informação; • Educação e a formação; • Pesquisa; • Sensibilização do público

4ª: Reduzir os fatores de risco subjacentes

Das vulnerabilidades – explica que o risco de desastre não está apenas associado aos eventos extremos, mas

• A gestão ambiental e os recursos naturais

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essencialmente sobre a forma que esses eventos interagem com o espaço construído pelo homem.

• As boas práticas em matéria de desenvolvimento social e económico;

• O desenvolvimento do território e a adopção de medidas técnicas adequadas

5ª: Reforçar as estratégias de preparação face aos desastres

De ação de emergência - trata da resposta ao evento e de como limitar as consequências dos desastres. Os cidadãos e comunidades precisam estar dotadas de um conjunto de conhecimento e capacidades, para gerir e reagir de maneira eficaz durante e após o desastre. Tal preparação pode englobar diferentes ações ou medidas, como o plano de contingência, abrigos e estoques de emergência, formação de pessoal, exercícios coletivos, educação do público, entre outros.

• Reforçar capacidades de gestão em situação de desastre;

• Apoiar o diálogo interinstitucional; • Fundo de calamidades/desastres.

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Em 2007, a UNISRD lançou a Plataforma Global para a Redução de Riscos de

Desastres, para acompanhar a EIRD e o MAH. A plataforma é composta por governos,

agências da ONU, instituições financeiras internacionais, órgãos regionais, sociedade

civil, setor privado, comunidade científica e acadêmica. A plataforma tem o objetivo de

incentivar aos países a criarem seus próprios mecanismos integrais, identificando e

elencando prioridades e estratégias para a RRD, através de uma sólida base institucional

de aplicação. Nesse mesmo ano o Banco Mundial criou o Fórum Mundial para a

Redução de Desastres e Recuperação.

Durante o período de vigência do MAH, 2005 a 2015, foi adotado um

mecanismo de informes bienais de avaliação global de redução de risco de desastres e

da gestão de risco com foco do desenvolvimento sustentável. Estes informes também

apresentavam praticas exitosas dos governos nacionais, chamados de Avaliação Global

sobre Redução de Risco de Desastres, conhecido pela sigla em inglês GAR, que

geraram a Série GAR3 (UN, 2007; UN, 2009; UN, 2011; UN, 2013 e UN, 2015).

d. O Marco de Sendai

Em 2015, ocorreu a terceira e mais recente Conferência Mundial das Nações

Unidas para Redução de Riscos de Desastres, em Sendai no Japão. Durante a

conferência foi aprovado o Marco de Ação de Sendai (UN, 2015b), para o período de

2015 a 2030, dando continuidade ao MAH.

Com 13 países a mais que o MAH, Sendai reconhece que enquanto os Estados

têm a função principal de reduzir o risco de desastre, é importante que tal

responsabilidade seja compartilhada com as demais partes interessadas, como governos

locais e setor privado. O Marco de Sendai compartilha a responsabilidade de reduzir

substancialmente, em 15 anos, o risco de desastres e perdas de vidas, meios de

subsistência e saúde, ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais, entre

pessoas, empresas, comunidades e países (UN, 2015b). O Quadro 5 abaixo, apresenta as

quatro prioridades de ação e como fazer para implementar tais ações.

3 Disponível em: https://www.unisdr.org/we/inform/gar

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Quadro 5. As quatro prioridades de ação do Marco de Sendai (adaptado de UN, 2015b)

Prioridades Como?

1ª: Compreender o risco de

desastre

As políticas e práticas para a gestão do risco de desastres devem

ser baseadas em uma compreensão clara do risco em todas as

suas dimensões de vulnerabilidade, capacidade, exposição de

pessoas e bens, características dos perigos e meio ambiente

2ª: Fortalecer a governança para

gerenciar o risco de desastres

A governança do risco de desastre em âmbito nacional, regional

e global é de grande importância para uma gestão do risco

eficiente e efetiva

3ª: Investir na RRD para

aumentar a resiliência

O investimento público e privado na prevenção e na redução de

riscos de desastres são essenciais para melhorar a resiliência

econômica, social, cultural e de saúde de pessoas, comunidades,

países e ativos, bem como do meio ambiente

4ª: Melhorar a preparação para

responder eficazmente e

reconstruir melhor: recuperação,

reabilitação e reconstrução

O fortalecimento da preparação para a resposta, recuperação,

reabilitação e reconstrução é fator crucial para “reconstruir

melhor”.

De acordo com as Nações Unidas (UN, 2015b), as sete metas globais

estabelecidas pelo Marco de Sendai a serem alcançadas até 2030 são:

1. Reduzir substancialmente a mortalidade global por desastres, com o objetivo de

reduzir a média de mortalidade global por 100.000 habitantes entre 2020-2030,

em comparação com 2005-2015.

2. Reduzir substancialmente o número de pessoas afetadas em todo o mundo, com

o objetivo de reduzir a média global por 100.000 habitantes entre 2020-2030, em

comparação com 2005-2015.

3. Reduzir as perdas econômicas diretas, devido a desastres, em relação ao produto

interno bruto (PIB) global.

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4. Reduzir substancialmente os danos causados por desastres em infraestrutura

básica e a interrupção de serviços básicos, como unidades de saúde e educação,

inclusive por meio do aumento de sua resiliência.

5. Aumentar substancialmente o número de países com estratégias nacionais e

locais de redução do risco de desastres até 2020.

6. Intensificar substancialmente a cooperação internacional com os países em

desenvolvimento por meio de apoio adequado e sustentável para complementar

as ações nacionais voltadas à implementação do Marco de Sendai.

7. Aumentar substancialmente a disponibilidade e o acesso da população a sistemas

de alerta antecipado, e às informações e avaliações sobre o risco de desastres.

As inovações do Marco de Sendai (UN, 2015b) em relação ao Marco de Hyogo

podem ser resumidas pelos seguintes objetivos:

• Orientar a gestão do risco de desastres para vários perigos do desenvolvimento

em todos os níveis, nos âmbitos intra e intersetorial;

• Considerar, além do risco de desastres, enfatizado no Marco de Ação de Hyogo,

as perdas relacionadas aos desastres (no referente aos meios de subsistência, à

saúde, aos bens físicos e culturais, à proteção da vida e dos bens sociais,

econômicos e ambientais), tornando resilientes os sistemas de saúde, o

patrimônio cultural e os locais de trabalho;

• Compreender e abordar os fatores geradores de risco;

• Focar na prevenção de novos riscos e, ao mesmo tempo, reduzir os riscos atuais,

fortalecendo a resiliência;

• Promover medidas no sentido de prevenir e reduzir a exposição a ameaças e

vulnerabilidades;

• Aumentar a preparação e a recuperação.

Para monitorar e incentivar a aplicação do Marco de Sendai, o UNISDR usará

as mesmas estratégias complementares empregadas na implementação do Marco de

Ação de Hyogo - Plataformas global e nacionais e, os informes de avaliação global.

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De maneira geral, o principal objetivo nas diversas agendas em relação à GRD

é a diminuição da vulnerabilidade das pessoas, atividades e ecossistemas,

principalmente nas áreas menos desenvolvidas e entre as populações mais suscetíveis,

através de:

• A adaptação como estratégia de desenvolvimento de longo prazo;

• Incentivo à estudos, pesquisas e desenvolvimento de tecnologias e de

instrumentos, mesmo ciente das incertezas existentes;

• Ações de sensibilização e capacitação da população, técnicos e

tomadores de decisão;

• Comunicar o risco, receber e divulgar a informação;

• Incentivo a processos participativos populares no planejamento e

tomada de decisão, com uma perspectiva particular de gênero;

• Criação e fortalecimento de sistemas de alerta precoce;

• Integração da gestão de riscos de desastres nos planos e políticas em

todos os níveis e temáticas, especialmente relacionados ao

planejamento do desenvolvimento;

• Aumento da cooperação internacional.

2.3.2. Marco Nacional: A Política Nacional de Proteção e Defesa Civil

A GRD é uma área de conhecimento recente e vários esforços têm sido

realizados pelos e entre os setores que decidem as ações sobre os territórios urbanos e

regionais e exercem influência no ambiente construído.

Um exemplo de ação que já vem sendo desenvolvida é a Campanha

“Construindo Cidades Resilientes: Minha Cidade está se Preparando”. Devido à

importância das ações em nível local, a campanha foi lançada em 2010 durante o

período de adoção do Marco de Hyogo (2005 – 2015), para dar orientações práticas

visando a aumentar a resiliência urbana. Um grande número de municípios brasileiros

aderiu a essa Campanha, tornando o Brasil o país com maior número de adesões (MI,

20174).

4 Disponível em: http://www.mi.gov.br/cidades-resilientes

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Como signatário do Marco de Sendai o Brasil deve estar alinhado com todas as

suas diretrizes para que em 15 anos consiga atingir os resultados com que se

comprometeu: a redução substancial dos riscos de desastres e perdas de vida, meios de

subsistência e saúde e dos ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais das

pessoas, empresas, comunidades e países.

No Brasil, a consolidação dos esforços relativos à GRD ocorreu em 2012 com

a promulgação da Lei nº 12.608/2012, que institui a Política Nacional de Proteção e

Defesa Civil (PNPDEC), reorganiza o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil

(SINPDEC) e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil (CONPDEC),

distribuindo responsabilidades e autorizando a criação de sistemas de informações e

monitoramento de desastres.

A Lei 12.608/2012 aponta a necessidade da integração entre políticas de

ordenamento territorial com as políticas de gestão de riscos e representa a busca por

transformações e mudanças nos procedimentos, projetos e ações que, desde a década de

1970, vinham ocorrendo separadamente tanto nas ações de prevenção de risco, quanto

nas propostas do planejamento urbano e regional.

A Lei 12.608, foi lançada um ano após o desastre ocorrido na região serrana do

Rio de Janeiro, que resultou em cerca de 900 óbitos e 350 desaparecidos, afetando

diversos munícipios do estado. Somado a outros eventos menores que o antecederam,

esse desastre da região serrana do Rio de Janeiro, incentivou o governo federal a criar

novas instituições e a reformular as responsabilidades de outras instituições já existentes

com o objetivo de prevenir, monitorar, tentar articular diversas instituições e responder

de forma imediata em caso de desastres (SILVA, 2015).

A nova lei distribui as competências e deveres dos entes federados (União,

Estados, Distrito Federal e Municípios), onde a União mantém sua competência de

legislar sobre a Defesa Civil, devendo também atuar na defesa contra calamidades

públicas. O Estado é responsável pela execução das atividades de Defesa Civil e os

Municípios pelo planejamento de ocupação do solo. De forma conjunta, os entes

federados possuem a competência de promover programas para construção de novas

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moradias, em locais adequados, remanejamento dos desabrigados e moradores de áreas

de risco (BRASIL, 2012).

Tendo em vista o desenvolvimento sustentável, a PNPDEC abrange as ações

de prevenção, mitigação, preparo, respostas e recuperação, indicando que a gestão de

riscos de desastres é tema transversal (art. 3º Lei 12.608/2012) e deve ser integrada às

políticas setoriais: de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio

ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura,

educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais. A política de proteção e

defesa civil, portanto, deve ser elaborada e implementada de forma coordenada e

articulada às demais políticas.

A Lei é precisa na orientação para a atuação, à medida que estabelece em seu

Art. 2º que “É dever da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios adotar

as medidas necessárias à redução dos riscos de desastre”. Em consequência, a “redução

dos riscos de desastres (RRD)” passa a ser determinante para a atuação do SINPDEC na

implementação da PNPDEC em todo o território nacional e não mais a “redução de

desastres”, como anteriormente considerado.

De acordo com o Art.2º “A incerteza quanto ao risco de desastre não

constituirá óbice para a adoção das medidas preventivas e mitigadoras da situação de

risco”. Portanto, o desconhecimento dos riscos não mais justifica o não planejar, mas,

ao contrário, exige atenção redobrada e constante, para a identificação, avaliação e

controle dos mesmos, requerendo, ainda, considerá-los desde a concepção de políticas

públicas, planos, programas e projetos. Sendo assim, a Lei Federal nº 12.608/12

(BRASIL, 2012) está em consonância com o movimento internacional, com foco no

processo de redução de risco de desastre (RRD).

Muitas vezes essas políticas abordam uma mesma questão, fato que dificulta a

delimitação entre elas, em muitos de seus aspectos. Porém, é preciso manter em mente

que são políticas regidas por diretrizes, normas e instrumentos específicos e envolvem

uma série de órgãos e instituições, no nível federal, estadual e municipal. Promover a

articulação institucional, a organização e a coordenação para construir esta atuação

intersetorial é, talvez, o maior dos desafios para a implementação efetiva da Política

Nacional de Proteção e Defesa Civil.

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Atualmente, a política federal sobre gestão de risco de desastres é expressa

pelo Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, lançado em

2012 pelo programa 2040 – Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, que faz parte do

Programa Mais Brasil (Plano Plurianuais de 2012-2015 e de 2016-2019). Os desastres

biológicos e tecnológicos não são contemplados nos PPA’s 2012-2015 e 2016-2019.

A Proteção e Defesa Civil no Brasil, ainda é muito voltada para os desastres e

situações de emergência provenientes de ameaças cuja origem é natural. No caso das

ameaças biológicas órgãos de saúde assumem a responsabilidade. Já para os

provenientes de ameaças tecnológicas, são os órgãos ambientais que se responsabilizam,

porem de maneira desarticulada e sem um órgão específico que trate do problema das

substâncias perigosas.

Além disso, a defesa civil ainda é vista, muitas vezes, tanto pelos profissionais

internos aos órgãos quanto pela população, como uma entidade socorrista. O fato de

existir liberação de verba para municípios atingidos, acaba por criar espaço para

diversas manobras políticas dentro dessas instituições.

Incentivado pelas novas diretrizes e recomendações e motivado por essa falta

de uma política clara de gestão dos riscos tecnológicos o presente trabalho reúne ideias

e sugere uma nova forma, multissetorial e entre os diferentes níveis federados, para a

gestão pública dos riscos tecnológicos, de forma a garantir a segurança da população

vulnerável a tais ameaças.

A partir da regulamentação da Lei nº 12.608/12 espera-se os órgãos de

proteção e defesa civil brasileiros através do SINPDEC, melhorem a articulação com

outros setores e políticas, garantindo assim a transversalidade da GRD nas demais

políticas públicas e a execução de ações cujo foca é a real segurança e proteção à

sociedade civil e meio ambiente.

Além disso, espera-se que o foco majoritário em desastres causados por

ameaças naturais se amplie abrangindo também aqueles desastres causados pelas

ameaças tecnológicas que, da mesma maneira, colocam em risco a vida da população de

áreas urbanas.

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3. Acidentes Industriais Ampliados e sua Gestão

3.1.Acidentes Industriais Ampliados

Os desastres tecnológicos são aqueles originados a partir de ameaças

decorrentes de certas condições tecnológicas ou industriais, como acidentes,

procedimentos perigosos, falhas na infraestrutura ou na operação, que podem implicar

em perdas humanas ou outros impactos à saúde, danos ao meio ambiente e à

propriedade, interrupção dos serviços e distúrbios sociais e econômicos (OIT, 2012b;

UNRSD, 2015).

Os desastres tecnológicos são classificados em três grupos: acidentes

industriais, de transportes e mistos (Figura 2). Pois são a partir de acidentes que os

desastres são causados.

Figura 2. Classificação dos desastres tecnológicos, adotada pelo EM-DAT -

Base de dados do Centro de Pesquisa sobre Epidemiologia do Desastre (adaptado de

CRED, 2014).

O grupo de acidentes industriais provenientes de atividades químicas ou

petroquímicas, ou seja, os relacionados a substâncias perigosas, é o que apresenta o

maior número de ameaças devido à diversidade de produtos químicos produzidos,

movimentados e utilizados no Brasil (SOUZA JUNIOR, 2002). E é sobre este que a

presenta análise se desenvolverá.

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Tais acidentes podem ser causados tanto por falhas humanas ou tecnológicas,

como também por falhas gerenciais e organizacionais (FREITAS, 1996). Uma série de

pequenas e imprevisíveis falhas, nos processos industriais, podem levar à ocorrência de

eventos catastróficos.

Por apresentarem tecnologias complexas e demandarem práticas gerenciais

também com alto nível de complexidade, a possibilidade de acidentes passa a ser real e

inerente a tais atividades industriais (PERROW, 1984).

O desenvolvimento das indústrias modernas, especialmente aquelas que

envolvem substâncias perigosas, causou o aumento do potencial de gravidade dos

acidentes decorrentes de falhas nas operações (LAGADEC, 1981 apud FREITAS,

2015). A partir da década 60, diversos fatores contribuíram para o aumento do potencial

de acidentes relativos à indústria química (LEES, 1980a; QUARANTELLI, 1992;

PARKER, 1992):

• O maior acúmulo de energia nos processos, devido a condições

operacionais mais severas (altas pressões e temperaturas);

• A utilização ou produção de diversos (milhares) de novos materiais e

substâncias, muito deles perigosos à saúde humana e ambiental;

• O aumento da escala das plantas de processo, bastante acentuado

devido a razões econômicas.

Mesmo com o desenvolvimento de técnicas de segurança e o aprimoramento

de tecnologias, esse conjunto de fatores e circunstâncias possibilitaram a ocorrência de

acidentes industriais com consequências catastróficas (SOUZA JUNIOR, 2002). Tais

acidentes afetaram não somente os trabalhadores e as instalações onde ocorreram, mas

também o seu entorno, afetando drasticamente populações e meio ambiente.

Quando os efeitos de um acidente industrial envolvendo substâncias perigosas

ultrapassam os limites da instalação e/ou indústria, perdurando no tempo e colocando

em risco a vida e saúde de público interno e externo, estes são chamados de acidentes

industriais ampliados, acidentes industriais graves, acidentes industriais maiores e

acidentes industriais severos (SOUZA JUNIOR, 2002).

Tais acidentes, geralmente, são referidos internacionalmente como major

acidentes, mesmo não havendo uma definição estrita e consensual para o significado

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desta expressão (FREITAS, 1996). A não utilização da tradução literal, "acidente

maior" é justificada para se evitar a utilização da nomenclatura “acidentes menores”,

para os que não possuem individualmente o mesmo nível de impacto. Será adotada,

portanto, a denominação indicada por Freitas et al. (1995), "acidente ampliado" ou

ainda “acidente industrial ampliado”. Ainda não existe uma definição de acidentes

industriais ampliados na legislação brasileira.

Os acidentes industriais ampliados estão normalmente relacionados à perda de

contenção (ou vazamento) de uma ou mais substâncias perigosas, que podem resultar

em diferentes tipos de eventos, como: incêndios, explosões ou liberações tóxicas

(FAWCETT, 1981). O Quadro 6 abaixo apresenta a definição e alguns exemplos de

cada tipo de evento.

Quadro 6. Tipos, definição e exemplos de eventos relacionados à vazamento ou liberação de produtos perigosos (Adaptado de SOUZA JUNIOR, 2002)

Tipo Definição Exemplos

Incêndio Resultado de uma reação química (combustão) envolvendo a oxidação de uma substância (combustível), com liberação de energia principalmente sob a forma de calor

o Jato de fogo (jet fire) - chama estreita produzida, por exemplo, pela ignição de um vazamento de gás em uma tubulação pressurizada;

o Incêndio em poça (pool fire) - resulta da ignição de uma poça de líquido inflamável;

o Incêndio em nuvem (flash fire) - ocorre devido à combustão de uma nuvem de gás inflamável;

o Bola de fogo (fireball) - resulta da ignição de uma grande massa de gás inflamável liberada abruptamente;

o Incêndios em materiais sólidos combustíveis

Explosões Liberações súbitas e violentas de energia acumulada sob várias formas possíveis. A energia liberada em uma explosão pode ser classificada em três tipos básicos: física, química e nuclear5.

o Física - explosão de capacitores e transformadores (energia elétrica) e na explosão de vasos pressurizados (energia potencial de pressão);

o Químicas - podem advir de reações exotérmicas descontroladas e de reações de combustão em misturas inflamáveis e materiais explosivos

5 Explosões associadas à liberação de energia nuclear não serão discutidas neste trabalho.

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Liberações tóxicas

Resultam da emissão de uma ou mais substâncias potencialmente danosas ao meio ambiente e, em particular, à saúde e à vida das pessoas expostas. As liberações tóxicas ocorrem normalmente sob a forma líquida ou gasosa, possuindo as liberações gasosas geralmente um maior potencial de gravidade devido à sua propagação mais rápida

A emissão de substâncias tóxicas pode ser causada por:

o Perda de contenção em equipamentos tais como tanques e tubulações;

o Substâncias tóxicas podem também ser produzidas e emitidas devido a reações químicas descontroladas e às reações de combustão ocorridas em incêndios e explosões

Souza Junior (2002), destaca dois tipos de explosões, devido ao elevado

potencial de destruição. O primeiro tipo está relacionado à nuvem de gás ou vapor

inflamável que entra em combustão, originando uma explosão confinada ou não. Uma

nuvem inflamável pode alcançar grandes distâncias, em alguns casos superiores a 100

metros, antes de sua ignição, a depender da quantidade de gás inflamável e das

condições meteorológicas.

O segundo tipo de explosão cujas consequências podem ser catastróficas é

chamado BLEVE, do inglês ‘boiling liquid expanding vapor explosion’. Este fenômeno

pode acontecer em tanques ou ambientes pressurizados onde se armazenam gases

liquefeitos acima de sua temperatura de ebulição à pressão atmosférica. Com a ruptura

do tanque, uma mistura bifásica (líquido-gás) é liberada, se expande e em poucos

instantes forma uma grande nuvem. Se a substância for inflamável, uma eventual

ignição dessa nuvem provoca uma bola de fogo (do inglês, fireball). Dependendo da

quantidade de gás presente, o calor liberado pode resultar em mortes e queimaduras

graves a pessoas expostas até algumas centenas de metros do local da explosão

(SOUZA JUNIOR, 2002).

Portanto, os efeitos físicos dos acidentes industriais ampliados podem ser: a

radiação térmica e o rápido aumento da concentração de substâncias tóxicas na

atmosfera, que podem levar a mortes ou lesões de características e gravidade variadas,

com prazo de manifestação e duração dos efeitos também variáveis. Afetando, direta ou

indiretamente, não somente aos trabalhadores, mas também ao público externo, por

exemplo moradores de regiões vizinhas.

Além dos efeitos físicos, existem também os efeitos psicológicos e

psiquiátricos, danos ao meio ambiente e prejuízos econômicos importantes. Os efeitos

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significativos sobre a saúde mental das vítimas estão relacionados a distúrbios

associados a desordens por estresse pós-traumático. Esses efeitos se desenvolvem em

até 80% das vítimas de desastres proveniente de ameaças tecnológicas (MEHTA,

MEHTA & MEHTA, 1990).

O meio ambiente, da mesma maneira que os seres humanos, também sofre as

consequências dos acidentes industriais ampliados, que resultam em significativos

danos sobre este. Como exemplos podem ser citados: a liberação de toneladas de lama

tóxica de minério de ferro no Rio Doce, devido ao rompimento da barragem de Fundão

em Mariana – MG em 2015; a contaminação por óleo de ecossistemas marinhos e

terrestres, devido ao vazamento de petróleo da Deepwater Horizon no Golfo do México

em 2010; a contaminação do Rio Reno, em 1986, devido à um incêndio em um deposito

de produtos químicos na cidade suíça de Basel.

Como consequência dos efeitos destrutivos, os acidentes ampliados geram

significativos impactos econômicos. Tais impactos podem estar relacionados a perdas

diretas, resultantes de danos físicos à instalações e propriedades; e indiretas, como

impactos na atividade econômica local e no valor das propriedades, indenizações e

elevação dos custos de responsabilidade e seguro (SOUZA JUNIOR, 2002).

Além de todos os efeitos mencionados, os acidentes industriais, ou ainda o

risco de acidentes industriais, também são responsáveis por gerar outros efeitos

relacionados à sua repercussão social, como por exemplo: formação de percepções

mentais, opiniões e atitudes (p.e. opiniões contrárias ao uso da tecnologia, alienação e

apatia social); pressão política e social (p.e. demandas políticas, mudanças no contexto e

na cultura política); desordem social (p.e. protestos, distúrbios, sabotagem, terrorismo);

mudanças no monitoramento e regulação de atividades de risco; repercussão em outras

tecnologias (p.e. menor nível de aceitação pública) e em instituições sociais (p.e. perda

da credibilidade pública) (KASPERSON et al, 1988).

Os acidentes industriais, sejam eles ampliados ou não, são um inevitável

subproduto da sociedade industrial moderna. Determinados tipos de acidente, cuja

extensão das suas consequências ultrapassaram os limites das instalações onde ocorrem,

ganharam visibilidade na segunda metade do século XX.

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Alguns exemplos de acidentes industriais ampliados, que resultaram em danos

severos ao meio ambiente são: i) o Acidente de Flixborough, ocorrido em 1974 na

Inglaterra; ii) acidente de Sevejo, ocorrido em 1976 na Itália; iii) acidente de Bhopal,

em 1984 na Índia; iv) acidente de Cubatão, ocorrido também em 1984 no Brasil, v)

desastre de Toulouse, em 2001 na França; vi) explosão de gás em Lyon, 2008 na

França; vii) explosões em Tiajin, 2015 na China. O Quadro 7 a apresenta uma breve

descrição desses acidentes.

Quadro 7. Exemplos de acidentes industriais ampliados (elaboração própria).

i. Acidente de Flixborough – Inglaterra (01 de junho de 1974) – Uma violenta explosão, gerada devido ao vazamento de ciclohexano de uma tubulação temporária que se rompeu, destruiu as instalações de uma planta química. O vazamento formou uma nuvem de vapor inflamável que entrou em ignição resultando uma violenta explosão seguida de um incêndio. Além da destruição da planta, o acidente totalizou 28 óbitos e 36 pessoas gravemente feridas. Fora dos limites da planta, existem registros de 53 pessoas lesionadas e 2000 residências e outras propriedades foram danificadas (HSE, 1975). Após o acidente de Flixborough, foram criados o The Health & Safety at Work Act 1974 (HSW Act) e o Advisory Committee on Major Hazards (ACMH), que estabeleceram uma série de controles para reduzir a ocorrência e atenuar as consequências de possíveis acidentes ampliados.

Registros do acidente de Flixborough do chão (à esquerda) e vista aérea (à direita). Fonte:

http://inspecaoequipto.blogspot.com.br/2013/06/caso-20-as-falhas-de-flixborough-1974.html

ii. Acidente de Seveso – Itália (10 de julho de 1976) – uma reação descontrolada, ocorrida no

interior de um reator de uma planta química utilizada para a formulação de triclorofenol, deu origem ao acidente. Uma elevação de pressão no reator, rompeu o disco de ruptura, liberando para a atmosfera uma nuvem que continha, entre outras substâncias, uma quantidade significativa de TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzoparadioxina). Os efeitos da liberação começaram a se manifestar em poucos dias, danos à vegetação, morte de animais e afecções cutâneas em pessoas, principalmente crianças. No dia 26 de julho foram retiradas 225 pessoas da área considerada mais afetada pela dioxina e, durante meses, a população foi orientada a não consumir produtos da região. Posteriormente, estenderam a área considerada contaminada para mais de 100 ha, provocando a retirada de mais 730 pessoas. Cerca de 220 mil pessoas foram submetidas a monitoramento epidemiológico, e mais de 20 anos depois do acidente parte da

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população ainda recebia acompanhamento em razão das incertezas quanto aos efeitos crônicos da exposição à dioxina (BERTAZZI, 1991). A repercussão e aprendizados provenientes do acidente de Seveso, e de outros ocorridos na Europa durante a década de 70, deram origem à Diretiva de Seveso das Comunidades Europeias sobre os perigos de acidentes ampliados em certas atividades industriais em 1982, que será apresentada no Capítulo 4, Seção 4.1.1.

Registro do acidente de Seveso, roupas de segurança. Fonte: http://inspecaoequipto.blogspot.com.br/2014/06/caso-074-o-legado-de-seveso-italia-1976.html

iii. Acidente de Bhopal – Índia (3 de dezembro de 1984) – considerado o mais grave acidente da indústria química ocorreu em uma planta de fabricação de pesticidas da Union Carbide Corporation. O acidente foi causado pela entrada de água em um tanque subterrâneo que armazenada cerca de 40 toneladas de substância altamente tóxica, isocianato de metila (MIC), causando uma reação exotérmica seguida do aumento da pressão do tanque. A válvula de alívio não resistiu ao aumento da pressão e abriu. Cerca de 25 toneladas de MIC e 23 toneladas de produtos em reação vazou para a atmosfera, formando uma nuvem tóxica que se espalhou sobre uma área de cerca de 40km2, com alta taxa de habitação. Estima-se que três dias após o desastre 8 mil pessoas já tinham morrido devido à exposição direta aos gases. Infelizmente, a noite do desastre foi apenas o início de uma longa tragédia, cujos efeitos se estendem até hoje. A Union Carbide, dona da fábrica de agrotóxicos na época do vazamento dos gases, abandonou a área, deixando para trás uma grande quantidade de venenos perigosos. A empresa tentou se livrar da responsabilidade pelas mortes provocadas pelo desastre, pagando ao governo da Índia uma indenização irrisória face a gravidade da contaminação. Hoje, bem mais de 150.000 sobreviventes com doenças crônicas ainda necessitam de cuidados médicos, e uma segunda geração de crianças continua a sofrer os efeitos da herança tóxica deixada pela indústria (GREENPEACE, s/d).

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Registro das instalações da Union Carbide após o vazamento da nuvem de gases tóxicos. Fonte: Eutanásia Mental Website (s/d).

iv. Acidente de Cubatão – Brasil (25 de fevereiro de 1984) - O vazamento de 700.000 litros de gasolina ocasionou um incêndio de proporções catastróficas em Cubatão, São Paulo. O vazamento ocorreu a partir de um duto de 18” próximo a a comunidade Vila Socó, com cerca de 8.000 habitantes. O incêndio teve cerca de 10 horas de duração, mas há registro de que o vazamento tenha sido percebido por alguns moradores pelo menos duas horas antes do fogo. O incêndio destruiu completamente uma área de 100.000 m2, correspondente a 3/4 da Vila Socó. Foram encontrados 67 corpos entre as cinzas das casas, em sua maioria irreconhecíveis. O acidente deixou cerca de 200 feridos com maior gravidade, dos quais vários não resistiram às queimaduras e faleceram nos dias seguintes. No entanto, o total de mortes comumente atribuído na literatura ao acidente de Cubatão – 508 – supera em muito estes números (FREITAS, 2015).

Registro fotográfico da Vila Socó após o incêndio. Fonte:

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http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/07/comissao-quer-levar-caso-do-incendio-da-vila-soco-a-corte-interamericana v. O acidente de Toulouse – França (21 de setembro de 2001) – uma explosão de nitrato de

amônio ocorreru na fábrica da AZF pertencente à Grande Paroisse Company, do Grupo TotalFinalElf. A explosão matou 30 e afetou cerca de 2242 pessoas. A fábrica era localizada no subúrbio de Toulouse e a extensão dos danos foi bastante ampla, extrapolando os limites da instalação e afetando a população e infraestrutura localizadas na vizinhança. Seguradoras estimaram um custo de 1,5 bilhões de euros. A fábrica produzia basicamente nitrato de amônio, fertilizando à base de nitrato de amônio e outros produtos químicos, incluindo compostos clorados. A explosão ocorreu em um armazém que continha cerca de 400 toneladas de materiais fora da especificação. O desastre de Toulouse iniciou um grande debate que terminou com a proposta de uma nova lei para melhorar os sistemas de gestão de risco. Mais um exemplo do caráter reativo das mudanças e da conscientização dos tomadores de decisão. Fonte: SALVI, MERAD E RODRIGUES (2005).

Registro fotográfico aéreo da fábrica AZF após a explosão, localizada dentro da cidade de Toulouse, França. Fonte: Dechy et al. (2005). vi. Explosões em Tiajin – China (Agosto de 2015) – explosões massivas em um depósito químico

em Tiajin resultaram em 139 óbitos, mais de 700 afetados e 6000 tiveram que ser realocadas e cerca de 17 mil casas ao redor da instalação foram destruídas ou danificadas.

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Registro fotográfico de parte da área afetada após explosões em um depósito químico em Tiajin,

China. Fonte: http://chuangcn.org/2015/08/tianjin-explosion/

3.2. Gerindo os Riscos Industriais Ampliados

Os acidentes industriais não são aqueles que resultam em maiores ônus para a

sociedade, em relação ao número eventos ou de óbitos (FREITAS, 1996). Porém, como

os efeitos desses acidentes industriais ampliados, afetam também ao público externo às

instalações, eles adquiriram uma visibilidade pública, atingindo uma repercussão até

então não observada nos acidentes ocorridos na primeira metade do século XX

(DWYER, 1991).

Essa maior visibilidade reforça a preocupação com esses tipos de acidentes,

incitando o surgimento de diversas ações no sentido de controle social e proteção ao

público externo, seja por pressões de grupos organizados, decretação de legislações

específicas até por iniciativas voluntárias do próprio setor industrial (SOUZA JUNIOR,

2002).

Observa-se, portanto, que os riscos industriais devem ser geridos e reduzidos,

afim de se evitar a ocorrência de um acidente, seja ele ampliado ou não, a partir de

decisões apropriadas em projetos de desenvolvimento (EIRD, 2004). Reduzir a

probabilidade de ocorrência de desastres, ou reduzir os riscos de desastres, é um

objetivo estratégico do desenvolvimento sustentável.

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A gestão de riscos, sejam industriais ou não, é um processo de tomada de

decisão e reúne um conjunto de ações baseadas no conhecimento do risco local, ou seja,

nos resultados de análises de risco (SALVI, MERA e RODRIGUES, 2005). O objetivo

da gestão de riscos industriais é, portanto, evitar que novos riscos surjam e reduzir os

riscos existentes através do controle das ameaças de acidentes potencialmente

ampliados ou não.

Os sistemas industriais produtivos, que em sua maioria envolvem substâncias

químicas, estão cada vez mais complexos. Diversos novos materiais e substâncias,

muitos deles perigosos à saúde humana e ambiental, começaram a ser utilizados como

matérias-primas ou gerados durante os processos industriais. Durante algumas décadas,

devido a razões econômicas, o aumento de escala das plantas de processo foi acentuado.

Esses fatos dificultam a gestão dos riscos associados a tais processos (LEES, 1980a;

QUARANTELLI, 1992; PARKER, 1992).

Segundo Souza Junior (2002), existem dois conjuntos básicos de

ações/intervenções que podem ser utilizadas visando a redução do risco associado à

operação de uma instalação industrial. O primeiro conjunto de ações está relacionado ao

que é possível ser feito para reduzir a frequência ou probabilidade esperadas de

ocorrência de acidentes industriais. Na terminologia da gestão de riscos de desastres,

trata-se de medidas de controle das ameaças (de vazamentos, explosões, contaminação).

Nesse conjunto de ações incluem-se (OSHA, 1992):

• concepção e implementação do projeto, construção e operação da

instalação em conformidade com os padrões e normas técnicas

vigentes;

• disponibilização de informações e documentação técnica confiáveis

relativas à operação da instalação, incluindo processos, equipamentos,

substâncias empregadas e responsáveis pelas operações;

• padronização de procedimentos operacionais seguros;

• treinamento adequado e periódico para os trabalhadores sobre aspectos

operacionais e de segurança da instalação;

• implantação de um sistema eficiente de inspeção e manutenção de

equipamentos e sistemas;

• investigação de incidentes que tenham ou que poderiam ter resultado

em danos significativos e a adoção de medidas corretivas apropriadas.

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No entanto, na maioria das vezes, um segundo conjunto de ações se faz

necessário, com o objetivo de reduzir as consequências danosas de eventos acidentais. São

medidas corretivas da exposição às ameaças. A exposição refere-se ao ambiente externo

das instalações industriais ocupado por moradias e outros elementos socioeconômicos e

que pode ser afetado por algum acidente industrial.

Nesse contexto, cabe aos órgãos governamentais estabelecer, rever e aperfeiçoar,

continuamente, normas de atuação com o objetivo de mitigar riscos gerados na área

industrial, principalmente incêndios, vazamentos de substâncias tóxicas e outros agentes

que podem impactar drasticamente a região.

Esse conjunto é composto pelas ações de resposta e tem como objetivo

principal a redução dos danos de eventos acidentais decorrentes de falhas ou

insuficiência das ações de controle das ameaças (SOUZA JUNIOR, 2002).

Quando implementadas de maneira rápida e eficaz, as ações de resposta podem

reduzir significativamente as consequências de acidentes industriais potencialmente

ampliados. SOUZA JUNIOR (2002), afim de ilustrar essa afirmação, cita do caso de um

acidente, ocorrido no México em 1979, de um trem que transportava diversos produtos

perigosos (cloro, butano e outros materiais tóxicos e explosivos). A implementação de

um plano de emergência cautelosamente elaborado permitiu a evacuação de cerca de

250.000 pessoas, sem que fossem registradas mortes ou danos mais graves (PARKER,

1992 apud SOUZA JUNIOR, 2002).

Souza Junior (2002) afirma que “a implantação de sistemas de resposta, ou o

planejamento para emergências, para acidentes com consequências externas passou a

ser considerado elementos fundamentais para a segurança das populações que habitam

próximo a instalações industriais perigosas”.

Os acidentes industriais ocorrem em uma localidade geográfica restrita, sendo

seus impactos também restritos a tal localização. A consequência disso, é que a

preparação para esses acidentes, deve ocorrer principalmente a nível local, envolvendo,

necessariamente, a participação e os recursos da sociedade civil organizada de maneira

coletiva para enfrentar os problemas que podem vir a surgir devido a algum acidente

naquela área específica (QUARANTELLI e TIERNEY, 1980).

O processo de preparação para emergências deve ser participativo, envolvendo

os diferentes segmentos, como órgãos públicos, empresas e sociedade civil (moradores,

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associações comunitárias, etc). A congregação dos diferentes setores pode ser conduzida

por uma agência-líder (MURTI, 1991) ou por meio de um comitê local (SINGH e

TRAVIS, 1991). A agencia ou comitê deve se responsabilizar pelo estabelecimento das

diretrizes do planejamento e coordenação do plano de emergência local.

Acidentes industriais ampliados, em especial os ocorridos na década de 80 (ver

capítulo 3, seção 3.1), funcionaram como catalisadores para trazer a atenção de

autoridades governamentais, indústrias e da sociedade como um todo para a temática,

priorizando a busca por medidas e mecanismos de prevenção. De forma que, técnica e

método já usados nas indústrias bélica, aeronáutica e nuclear sofreram adaptações para a

realização de estudos de identificação e análise do risco, em especial relacionados às

áreas de petróleo, química e petroquímica (CETESB, 2011).

Essa maior visibilidade dos riscos industriais a partir da década de 70 e 80, fez

com que vários países e organismos internacionais revessem suas estratégias de

intervenção, visando uma maior proteção não apenas dos trabalhadores, mas também do

público externo e do meio ambiente (SOUZA JUNIOR, 2002).

Segundo a EIRD (2004), para se obter uma gestão efetiva dos riscos

industriais, é preciso definir uma política pública sobre seguros para eventos

desastrosos, proporcionar incentivos de mercado e isenções para reduzir o risco e a

vulnerabilidade, disponibilizar assistência técnica à população de baixa renda, oferecer

proteção contra flutuações de preço de seguros e resseguros, aumentar a cobertura a

custos razoáveis, além de respaldar mecanismos financeiros pertinentes.

A falta de políticas eficazes de ordenamento territorial e ocupação do solo

propiciou o desenvolvimento de ocupações humanas nas proximidades de industrias ou

polos industriais, expondo essa população as ameaças tecnológicas, gerando diversas

áreas de risco.

Isso resulta em uma frequente proliferação de residências e outras ocupações

humanas na vizinhança dessas áreas, sem controle – e por vezes até com o aval – das

autoridades competentes, que muitas vezes desconhecem, não tem acesso ou não

utilizam as informações contidas nos EARs. São comuns os exemplos de cidades que se

desenvolveram na vizinhança desses locais, por conveniência por parte da população e

pelo despreparo, descaso ou desinformação das autoridades competentes.

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4. Regulamentações para a Gestão de Riscos de Acidentes

Industriais

4.1. Principais Regulamentações Internacionais

Ações das autoridades governamentais para reduzir, mitigar e controlar o risco,

datam desde os tempos antigos (COVELLO & MUMPOWER, 1985). Seja através da

criação de mecanismos de saúde e atendimento médico, corporações de bombeiros,

consideradas intervenções diretas; ou através da criação de instrumentos legais e de

órgãos normativos e fiscalizadores, exemplos de intervenções indiretas.

Originalmente, a intervenção do Estado para controlar os riscos industriais e a

consequente criação de leis específicas, estava voltada para a melhoria das condições de

trabalho dentro das instalações, ou seja, melhorar a segurança dos trabalhadores dentro

dos seus locais de trabalho. A partir da segunda metade do século XX, alguns acidentes

industriais passaram a ameaçar não somente os trabalhadores, mas também o público

externo, fato que conferiu maior visibilidade e repercussão públicas a este tipo de

acidente (DWYER, 1991).

A partir das décadas de 70 e 80 essa maior visibilidade aos acidentes

industriais, fez com que organismos internacionais e vários países, especialmente os

mais industrializados, revessem suas estratégias, considerando uma maior proteção não

só aos trabalhadores, mas também ao público externo e ao meio ambiente. Como

consequência surgiram regulamentações que estabeleceram um maior controle sobre as

atividades industriais, através de novas leis ou revisão das leis existentes

(CASTLEMAN e NAVARRO, 1987; GALLIOT, 1988).

Duas dessas regulamentações merecem destaque aqui:

• A Diretiva de Seveso, da União Europeia; e • A Convenção 174, da Organização Internacional do Trabalho.

4.1.1. Diretiva de Seveso (União Europeia)

Os acidentes industriais ampliados ocorridos em 1974 em Flixborough,

Inglaterra, e em Seveso na Itália, dois anos mais tarde, apresentaram dois aspectos em

comum: i) autoridades locais não tinham conhecimento sobre as substâncias químicas e

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as quantidades envolvidas nos acidentes, não dispondo, portanto, de informações

suficientes para saber quais outras substâncias poderiam ser geradas em condições

ambientais; e ii) a inexistência de planejamento de emergência para ambas as situações

(DE MARCHI, FUNTOWICZ e RAVETZ, 2000; OTWAY e AMENDOLA, 1989).

As lições aprendidas e a repercussão desses e outros acidentes ocorridos na

Europa durante a década de 70, incentivaram a criação da Diretiva de Seveso em 1982

(OTWAY e AMENDOLA, 1989), também conhecida como Diretiva do Conselho das

Comunidades Europeias sobre os perigos de acidentes ampliados em certas atividades

industriais (Council Directive of June 24, 1982 on the major-accident hazards of certain

industrial activities – 82/501/EEC) (CEC, 1982)

A Diretiva de Seveso foi formulada visando a criação e disseminação de

informações para a prevenção de acidentes para o gerenciamento de risco, com dois

principais objetivos (OTWAY e AMENDOLA, 1989):

• Proteção dos trabalhadores, público externo e meio ambiente frente aos

perigos industriais;

• Alinhar as obrigações das industrias de modo a evitar distorções na

competição entre elas dentro da Comunidade Europeia.

A Diretiva de Seveso estabelece que os Estados-Membro devem gerar, obter e

verificar informações sobre condições de segurança na operação de certas instalações

industriais que se enquadram dentro dos critérios estabelecidos, relativos à quantidade

de substancias perigosas existentes ou possivelmente existentes nessas instalações. A

indústria, por sua vez, deve fornecer para as autoridades locais informações relativas a

(CEC, 1982):

i. substâncias perigosas manuseadas;

ii. características locacionais e operacionais das instalações; e

iii. possíveis cenários acidentais, detalhados abaixo:

• planos de emergência, incluindo equipamentos de segurança, sistemas

de alarme e recursos disponíveis na instalação para usar em caso de

acidente severo;

• informações para orientar a preparação de planos externos de

emergência, de responsabilidade da autoridade local;

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• lista com os responsáveis por ativar os planos de emergência e avisar à

autoridades competentes.

Os Estado-Membros deveriam então transpor os objetivos estabelecidos pela

Diretiva para as legislações nacionais, considerando a tradição cultural e a estrutura

político-administrativa do seu país.

A Diretiva também determinava que a Comissão Europeia seria o órgão

responsável pelo acompanhamento e fiscalização do cumprimento das diretrizes e

requisições estabelecidas. Tendo, além disso, a obrigação de criar procedimentos legais

contra os Estado-Membros inadimplentes em suas obrigações (CEC, 1982).

O arcabouço legal desenvolvido ou adaptado por cada Estado-Membro da

Comunidade Europeia com vista ao cumprimento dos requisitos da Diretiva de Seveso

relativos ao planejamento e resposta a emergências é sumariado por DE MARCHI

(1996) com base em relatórios previamente conduzidos nos estados membros.

De maneira geral, a incorporação se dá pela determinação da elaboração de

Planos de Emergência Interno, pelas empresas, que devem conter todas as informações

necessárias para a elaboração de planos de Emergência Externos. Estes últimos são de

reponsabilidade das autoridades locais, muitas vezes de forma articulada com outros

órgãos ou através de comitês compostos por representantes de diversos órgãos (defesa

civil, corpo de bombeiros, polícia).

Em 1996, uma nova Diretiva foi promulgada, substituindo a anterior. Esta nova

Diretiva (Council Directive of 9 December 1996 on the control of major-accident

hazards involving dangerous substances – 96/82/EC), conhecida com o “Seveso II”

trouxe critérios de enquadramento reformulados e introduziu alguns novos requisitos,

dentro os quais merecem destaque (MITCHISON e PORTER, 1998; LOUPASIS,

1997):

• formulação e implementação de políticas de prevenção de acidentes

severos e de sistemas de gerenciamento de segurança por parte dos

estabelecimentos perigosos cobertos pela Diretiva;

• consideração dos objetivos de prevenção e redução das consequências de

acidentes severos nas políticas governamentais de planejamento territorial.

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A necessidade de regulamentações para o planejamento e ordenamento do uso

do solo ao redor de instalações perigosas foi um dos principais fatores que levou à

revisão da Diretiva de Seveso. Na Seveso II, a Comissão Europeia considerou a

introdução de requisitos de planejamento de uso do solo nas vizinhanças de

instalações/plantas perigosas que se enquadravam na Diretiva como medida necessária

para a mitigação das consequências de um acidente industrial ampliado (DEMICHELA

et al., 2014).

O Artigo 12 de Seveso II requer que os Estados-Membro “assegurem que suas

políticas de utilização dos solos e/ou outras políticas pertinentes e os procedimentos

para implementar tais políticas considerem a necessidade de se manter uma distância

adequadas entre os estabelecimentos cobertos pela presente Diretiva e as zonas

residenciais, áreas de uso público e áreas ambientais de interesse ou sensíveis, e, no

caso de estabelecimentos já existentes, a necessidade de medidas técnicas adicionais de

acordo com o Art. 5º de modo a não aumentar os riscos para as pessoas”.

Após um processo de revisão da Seveso II, em julho de 2012 foi lançada uma

terceira versão da Diretiva (2012/18/EU), conhecida como Seveso III, que entraria em

vigor a partir de junho de 2015 (EUROPEAN COMISSION, 2016).

As principais mudanças introduzidas pela Seveso III são relativas à:

• atualização e alinhamento das listas de substâncias cobertas pela

Diretiva;

• reforçar os diretos dos cidadão de acesso à informação, à justiça e à

participação na tomada de decisão;

• melhoria na forma como as informações são coletadas, geridas,

disponibilizadas e compartilhadas;

• introdução de normas mais rigorosas para as inspeções de forma

assegurar uma aplicação e execução mais eficazes;

• classificação e atualização das disposições, incluindo uma

desburocratização e simplificação de forma a reduzir os encargos

administrativos.

Em sua versão mais atual, a Diretiva de Seveso estabelece que os operadores

das instalações são obrigados a implementar todas as medidas necessárias para prevenir

acidentes industriais ampliados e para limitar as possíveis consequências para as saúdes

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humana e do meio ambiente (EUROPEAN COMISSION, 2016). Entre as requisições

destacam-se:

• Notificar todas as partes interessadas e estabelecimentos envolvidos (Art.

7º);

• Implantar uma política de prevenção de acidentes ampliados (Art. 8º);

• Elaborar um relatório de segurança para os estabelecimentos fontes, ou

seja, primeiro nível da cadeia produtiva (Art. 10º);

• Produzir planos de emergência internos para os estabelecimentos fontes

(Art. 12º);

• Fornecer informações para as autoridades locais relativas às substancias

perigosas, características locacionais e operacionais das instalações e

possíveis cenários acidentais (Art. 16º).

As autoridades locais dos Estados Membro, por sua vez, devem assegurar que

todos os requisitos sejam cumpridos. Os estados membro devem manter ou adotar

medidas mais rigorosas do que as previstas na Diretiva (EUROPEAN COMISSION,

2016). Entre suas obrigações, destacam-se:

• Produzir planos de emergências externos para os estabelecimentos fontes

(Art. 12º);

• Realizar o planejamento de uso do solo para a implementação de novos

estabelecimentos (Art. 13º);

• Disponibilizar para o público todas as informações relevantes (Art. 14º);

• Assegurar que sejam tomadas as medidas necessárias após um acidente,

incluindo medidas de emergência, ações que garantam que o operador

tome qualquer medida corretiva necessária e informe as pessoas

suscetíveis a serem afetadas pelo acidente (Art. 17º);

• Reportar os acidentes à Comissão Europeia (Art. 18º);

• Proibir o funcionamento de estabelecimento ou a utilização de

produtos/substâncias ilícitos (Art. 19º);

• Realizar inspeções (Art. 20º).

Além disso a Diretiva também elenca os direitos dos cidadãos:

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• O público interessado precisa ser consultado e envolvido na tomada de

decisão para projetos individuais específicos (Art. 15º);

• As autoridades dos Estados Membros devem disponibilizar as

informações detidas em conformidade com a Diretiva (Art. 14º e Art.

22º);

• Acesso à justiça deve ser garantido nos casos listados no Art. 23º

A Diretiva de Seveso merece destaque, pois foi a partir dela que surgiram

iniciativas comuns entre os Estado Membros com o propósito de prevenir e mitigar os

riscos associados às atividades industriais com substâncias perigosas. A Diretiva

também providenciou melhorias no preparo e na resposta, diminuindo as consequências

de um possível acidente para a sociedade e meio ambiente.

A Diretiva de Seveso contribuiu e contribui, portanto, para a integração dos

riscos industriais no ordenamento territorial, o planejamento de emergências, a melhoria

do nível de informação sobre riscos, o engajamento e autoproteção das populações e

para a construção de uma cultura de redução de riscos.

Pelo histórico das revisões da Diretiva apresentado acima, fica claro que

devido à complexidade do assunto, lições aprendidas com acidentes ou prevenção deles

as regulamentações precisam ser periodicamente atualizadas para se tornarem cada vez

mais eficientes no que se propõe.

4.1.2. Convenção 174 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Em junho de 1993, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) adotou a

Convenção Nº 174 que trata da prevenção de acidentes industriais ampliados que

envolvem substâncias químicas perigosas. O objetivo da Convenção OIT 174 é definir

medidas apropriadas para a prevenção e mitigação de tais acidentes, ou seja, reduzir ao

mínimo os riscos e consequências dos mesmos, através de ações integradas entre órgãos

públicos, privados e os próprios trabalhadores (ANEST, 2002).

Em relação ao planejamento para emergências, a Convenção OIT 174, estipula

como sendo atribuição dos proprietários e operadores das instalações a criação e

manutenção de um sistema documentado de controle de riscos que preveja:

• “Identificação de perigos e avaliação dos riscos, considerando possíveis

interações de substâncias;

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• Medidas técnicas sobre o projeto, sistemas de segurança, construção,

seleção de substâncias químicas, operação, manutenção e inspeção

sistemática das instalações;

• Medidas organizacionais que intimam a formação e instrução do pessoal,

fornecimentos de equipamentos de segurança, definição de

responsabilidades, entre outros;

• Planos e procedimentos de emergência que compreendam:

o preparação de planos e procedimentos eficazes de emergência local,

inclusive atendimento médico emergencial, com testes e avaliação de

sua eficácia e revisões periódicas;

o fornecimento de informações sobre possíveis acidentes e planos

internos de emergência a autoridades e órgãos responsáveis pela

preparação de planos e procedimentos de emergência para proteção do

público e do meio ambiente externos à instalação;

• medidas para reduzir as consequências de um acidente ampliado;

• consulta com os trabalhadores e seus representantes;

• a melhoria do sistema, incluindo medidas para a coleta de informações e

análise de acidentes ou “quase-acidentes”.

A Convenção OIT 174 estabelece que as autoridades competentes, com base

nas informações fornecidas pelo empregador, devem assegurar a “criação dos planos e

procedimentos de emergência contendo medidas de proteção para população e meio

ambiente externos às instalações, atualizado periodicamente e a coordenado com

autoridades e órgãos pertinentes” (Art. 15 Convenção OIT 174).

Apesar do foco principal da Convenção ser sobre o planejamento para

emergências, ela também apresenta algumas diretrizes e orientações sobre a localização

territorial das instalações. Entre as disposições trazidas pelas OIT 174, destacam-se:

• o estabelecimento de distância mínima entre as instalações perigosas e

as populações vizinhas, que deve ser estabelecida com base não apenas

na probabilidade da ocorrência do acidente como também nas suas

consequências, considerando as especificidades locais;

• as providencias devem se estender ao público e projetos de

desenvolvimento externos à tais instalações, ou seja, certos tipos de

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projetos não poderão se localizar dentro das zonas de risco,

especialmente quando tais projetos envolvem um número significativo

de pessoas;

O órgão competente também deve divulgar, mesmo sem solicitação, as

informações atualizadas sobre medidas de segurança e comportamento apropriado a ser

adotado em caso de acidente para a população passível de ser afetada (Art n° 16,

Convenção OIT 174).

Após a realização de diversos seminários e ações para a ratificação da

Convenção OIT 174, em junho de 2001, o Senado Federal promulgou o Decreto

Legislativo Nº 246 com a aprovação do Congresso Nacional ao texto da Convenção. Por

fim, em 15 de janeiro de 2002, a Convenção OIT 174 foi promulgada pelo Presidente da

República por meio do Decreto Nº 4.085 (SOUZA JUNIOR, 2002).

4.2. Regulamentações Nacionais

Com a promulgação da Convenção OIT 174 o Brasil passa a assumir a

obrigação de implementar ações visando o controle do risco de acidentes industriais

ampliados. Tais ações devem ser apoiadas através de uma política clara e de

regulamentações que definam requisitos, atribuições e responsabilidades das entidades

privadas e do poder público (SOUZA JUNIOR, 2002).

Atualmente, o Brasil carece de uma política e regulamentações específicas para

o controle de acidentes industriais envolvendo substâncias perigosas.

Porém, existem algumas regulamentações que mesmo não sendo específicas se

relacionam com a Gestão de Riscos Industriais Ampliados, são elas:

• A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981) - através dos

Estudos de Análise de Risco (EARs) parte do processo de

Licenciamento Ambiental (Decreto 99.274/1990 e Resolução

CONAMA 237/1997);

• O Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a

Emergências Ambientais com Produtos Químicos Perigosos (P2R2 -

Decreto Nº 5.098 de 2004);

A seguir as regulamentações listadas acima serão apresentadas e discutidas:

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4.2.1. Licenciamento Ambiental e Estudo de Análise de Risco (EAR)

No Brasil, de maneira geral, a consideração do risco de acidentes industriais

com possíveis danos externos às instalações faz parte da Política Nacional de Meio

Ambiente (Lei 6.938/1981) através do processo de licenciamento ambiental dessas

instalações, cujos princípios foram estabelecidos pelo Decreto 99.274, de 6 de junho de

1990, e pela Resolução CONAMA 237, de 16 de dezembro de 1997.

Todo processo de construção, instalação, ampliação e operação de instalações

necessárias para a execução de tais atividades e empreendimentos dependerão de prévio

licenciamento. Esta obrigação é compartilhada pelos órgãos estaduais integrantes do

SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente) e pelo IBAMA (Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

O IBAMA atua, principalmente, no licenciamento de grandes projetos de

infraestrutura que envolva impactos em mais de um estado e nas atividades do setor de

petróleo e gás na plataforma continental. Para empreendimentos pontuais, aqueles que

ocorrem dentro de apenas um estado, os responsáveis pelo processo de licenciamento

são os órgãos estaduais responsáveis pelas questões ambientais. Portanto, para os

empreendimentos/atividades industriais que utilizam substâncias químicas, com exceção

da indústria de O&G, os responsáveis por conduzir e fiscalizar o processo de

licenciamento ambiental são os órgãos estaduais.

Dentro do processo de licenciamento, o CONAMA (Conselho Nacional do

Meio Ambiente) estabelece os critérios básicos, que servirão para definir as exigências

relativas a estudos de impacto ambiental (EIA). De maneira geral o EIA deve conter o

diagnóstico ambiental da área; a descrição da ação proposta e suas alternativas; e a

identificação, análise e previsão dos impactos significativos, positivos e negativo. Os

níveis de aprofundamento dos estudos dependem diretamente da atividade desenvolvida

e da fase do projeto em questão: planejamento, implantação/instalação e operação

(BRASIL, 1990 – Art. 19 Dec. 99.274/1990).

Assim, ao órgão ambiental competente cabe, dentro do processo de

licenciamento, definir e requisitar ao empreendedor a apresentação de documentos,

projetos e estudos ambientais julgados necessários para subsidiar análise da licença

requerida. A Resolução CONAMA 237/97 cita como exemplo a análise preliminar de

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risco. De forma geral, três tipos de documentos têm sido requisitados com essa

finalidade, são eles:

• Estudos de Análise de Risco (EAR) da instalação;

• Programa de Gerenciamento de Risco (PGR); e

• Plano de Ação de Emergência (PAE).

O EAR pode ser definido como uma metodologia que identifica e avalia

possíveis danos e perdas, desde vidas humanas a meios de subsistências e postos de

trabalho, perante o impacto de um fenômeno perigoso proveniente de uma determinada

atividade, em um determinado período de tempo e espaço, com determinadas condições

de vulnerabilidade. Portanto, visa conhecer a atividade que será desenvolvida e o

território aonde essas se desenvolverá, suas ameaças e a vulnerabilidade do entorno

(CIF-OIT, 2012b).

O EAR é parte do processo de gestão de riscos industriais, ferramenta usada

para estimar o risco, caracterizado pela probabilidade de ocorrência e gravidade dos

eventos específicos. O processo de tomada de decisão baseado no risco é, naturalmente,

baseado em critérios da análise do risco, mas também devem ser integrados outros

critérios econômicos, cultural, ético, etc (SALVI et al., 2004).

De maneira geral, o conteúdo mínimo de um estudo de análise de risco (EAR)

vai variar de acordo com a classificação dos empreendimentos quanto à periculosidade

(CETESB, 2002). O EAR pode conter (1) apenas a caracterização do empreendimento,

identificação e avaliação quantitativas das hipóteses acidentais. Por vezes, a depender

da caracterização do empreendimento, pode ser necessário (2) realizar uma avaliação do

alcance dos efeitos físicos danosos, normalmente através de modelos matemáticos. Caso

esses efeitos letais alcancem ocupações sensíveis (residências, escolhas, hospitais, etc)

deve ser realizado (3) um estudo quantitativo de risco para avaliação da sua

aceitabilidade em relação aos critérios estabelecidos pelo órgão ambiental. A este estudo

chama-se Análise Quantitativa de Risco (AQR), este inclui uma estimativa das

consequências e frequências das hipóteses acidentais.

Com base nas normas gerais, os órgãos ambientais federais e estaduais adotam

procedimentos e requisitos próprios para a consideração dos aspectos relacionados ao

risco ambiental de uma instalação ou atividade. A definição do conteúdo e as

orientações para elaboração desses documentos são feitas por meio de normas técnicas

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ou termos de referência. No entanto, apenas Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do

Sul e Bahia, quatro dos vinte e seis estados brasileiros, possuem documentos de

referência com a definição do conteúdo e as orientações para elaboração de Estudos de

Análise de Risco (EAR):

• Rio de Janeiro: Termo de Referência para a Elaboração de Estudo de

Análise de Risco para Instalações Convencionais (INEA, 2012;

• São Paulo: Manual para a Elaboração de Estudos de Análise de Riscos

– Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB, 2003);

• Rio Grande do Sul: Manual de Análise de Riscos Industriais –

Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler

(FEPAM, 2001); e

• Bahia: Norma Técnica para Gerenciamento de Risco no Estado da

Bahia – Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEPRAM, 2009).

O Quadro 8 abaixo reúne todas as etapas dos EAR’s presentes nos documentos

de referência que existem no Brasil e congrega as atividades nas principais fases da um

EAR.

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Quadro 8. Etapas e escopos dos documentos de referência para a elaboração de EAR existentes no Brasil (elaboração própria).

Etapas EAR Rio de Janeiro –

INEA (2012)

São Paulo –

CETESB (2003)

Rio Grande do Sul -

FEPAM (2001)

Bahia –

CEPRAM (2009)

1. Caracterização do empreendimento e entorno

• Dados gerais sobre a região onde se pretende localizar ou encontra-se localizada a atividade

• Descrição da instalação e sistemas

• Caracterização das substâncias relacionadas

• Caracterização do empreendimento e da região

• Objetivos e abrangência do estudo;

• Caracterização geral da região;

• Descrição técnica dos sistemas e das instalações em geral;

• Introdução e objetivos do trabalho

• Informações gerais sobre a região onde se localiza a atividade;

2. Análise das ameaças

• Identificação dos cenários acidentais

• Identificação dos perigos e consolidação das hipóteses acidentais

• Identificação dos eventos iniciadores;

• Identificação dos cenários de acidentes;

3. Análise das vulnerabilidades

• Análise de vulnerabilidade • Alcance dos efeitos físicos

danosos • Avaliação das frequências

de ocorrência

• Estimativa dos efeitos físicos e análise das vulnerabilidades

• Estimativa de frequências

• Análise de vulnerabilidade; • Avaliação da frequência de

ocorrência dos cenários;

• Avaliação da frequência de ocorrência;

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4. Avaliação dos riscos

• Avaliação dos riscos; • Tolerabilidade dos riscos • Medidas preventivas e

mitigadoras

• Estimativa e avaliação do risco

• Gerenciamento do risco

• Avaliação dos riscos • Identificação das medidas

de redução dos riscos e posterior reavaliação dos riscos considerando tais medidas;

• Programa de gerenciamento dos riscos.

• Avaliação dos riscos • Identificação das medidas

de redução dos riscos e reavaliação considerando tais medidas.

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Portanto, um estudo de análise de risco (EAR) processa-se a partir de quatro

fases fundamentais (Quadro 8). A etapa 1. Caracterização do empreendimento e entorno

provê o conhecimento pormenorizado das condições e realidades que configuram a base

para uma análise realista das condições de risco de desastres, dos aspectos operacionais

e construtivos. Não é possível uma avaliação do risco sem conhecer as suas principais

características, bem como as capacidades, as condições geográficas e as condições do

desenvolvimento em geral (CIF-OIT, 2012b).

A partir dessa caracterização inicial é possível identificar aspectos que possam

interferir na instalação sob o enfoque do meio ambiente, da segurança e da operação, de

forma a identificar a relação direta entre a instalação e a região (CETESB, 2003). A

etapa 2. Análise das ameaças é um outro passo fundamental no EAR, pois uma ameaça

(ou perigo) não identificada é um risco não avaliado (CCPS, 2000).

A avaliação das ameaças tem por objetivo conhecer a natureza, a

probabilidade, a intensidade e a distribuição espacial de uma ou várias ameaças em um

determinado período, visando obter uma estimativa ou apreciação dos danos que podem

ocorrer caso um evento destrutivo (CIF-OIT, 2012b).

A profundidade e o nível de análise das ameaças tecnológicas dependerão das

particularidades e situações específicas do local da avaliação. De toda forma, esta etapa

requer um conhecimento detalhado sobre a situação operacional e de manutenção dos

equipamentos e sistemas, bem como dos dispositivos de segurança existentes. Existem

diversas técnicas estruturadas para identificar os riscos, a saber:

• Listas de verificação (Check lists);

• Análise “E se?” (What if?);

• Análise Preliminar dos Perigos (APP);

• Análise de Perigos e Operacionalidade (Hazard and Operability Analysis –

HAZOP);

• Análise de Modos de Falhas e Efeitos (Failure Modes and Effects Analysis –

FMEA);

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Além das características, nível de perigo e possíveis danos de um determinado

fenômeno, a etapa da análise das ameaças deve contemplar a duração e a intensidade

prováveis do evento. O impacto sobre a população possui estreita relação com esse

conhecimento. Em síntese, “a análise das ameaças deve descrever e avaliar a

probabilidade de elas se transformarem em fenômenos perigosos para um território, em

um período específico, com uma determinada intensidade e duração. Deve também

descrever o grau de perigo para as pessoas, a flora, a fauna, as instalações, os bens, a

economia e o ambiente, sempre considerando a utilização que se dá à terra e aos

ecossistemas” (CIF-OIT, 2012b).

Uma vez que as ameaças (perigos) foram identificadas é a hora de definir um

critério para a seleção das hipóteses acidentais que serão analisadas detalhadamente nas

próximas etapas do EAR. O critério deve ser estabelecido com base na severidade do

dano decorrente da falha identificada (CETESB, 2003). Para isso é preciso realizar a

etapa 3. Análise das Vulnerabilidades, que visa identificar os setores, bens, ecossistemas

e comunidades externos a uma ou várias ameaças, fragilidades e grau de perigo que

enfrentam, a dimensão dos possíveis danos e as consequências que estes podem ter no

desenvolvimento futuro (CIF-OIT, 2012b).

Ao se comparar a avaliação das ameaças e a avaliação da vulnerabilidade,

verifica-se que a análise se limitado aos processos de avaliação dos perigos e só

recentemente o seu estudo começa a assumir maior importância em aspetos

relacionados com a criação do risco, ou seja, com as vulnerabilidades (CIF-OIT,

2012b).

A partir de então é possível realizar o estudo das hipóteses acidentais

selecionadas, em função das suas consequências, ou seja, em função dos impactos e

danos prováveis caso esse acidente se materialize. A etapa da análise das consequências

envolve as seguintes atividades (AREDNT & LORENZO, 2000):

a) Caracterização da fonte de vazamento do produto ou energia associada aos

perigos;

b) Mensurar, por meio de experimentos ou modelos, a dispersão e transporte

do material e/ou a propagação de energia no ambiente de interesse;

c) Identificar os efeitos da propagação de material e/ou energia no ambiente;

d) Quantificar os impactos sociais, econômicos, à saúde, à segurança e ao

meio ambiente.

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Os modelos matemáticos usados nas Análises Quantitativas de Risco (AQR)

para representar os efeitos dos cenários acidentais, precisam de informações sobre a

propagação do fenômeno, seja pela descarga do material, taxa de evaporação, a

dispersão atmosférica do gás ou vapor, a sobrepressão gerada em explosões, o fluxo

térmico gerado em caso de incêndios e a distribuição espacial de gás tóxicos liberados

acidentalmente (FREITAS, 2015).

O Ministério de Moradias, Planejamento Espacial e de Meio Ambiente da

Holanda (sigla em holandês VROM) junto com a empresa TNO, publicaram uma série

de quatro livros, conhecidos como “Coloured Books”, usados mundialmente como

referência para padrões de estudos de segurança (TNO, 20166).

O livro amarelo, chamado Methods for the calculation of physical effects -

Yellow Book (PGS2, 2005), apresenta uma extensa literatura sobre modelos

matemáticos das consequências físicas para os casos de incêndios, explosões e formação

de nuvem tóxica devido a liberações de substâncias inflamáveis ou tóxicas na

atmosfera. O cálculo destes modelos não é trivial, pois são realizados para cada cenário

identificado nas hipóteses acidentais considerando suas variações (diferentes direções e

velocidades do vento, as classes de estabilidade atmosférica, as probabilidades de fontes

de ignição e as probabilidades de falha dos sistemas de segurança existentes).

Na AQR é realizada a estimativa das frequências dos cenários acidentais,

desenvolvidos nas etapas anteriores. Em certos casos, as frequências de ocorrências

podem ser estimadas com base em uma série histórica de acidentes ou a partir da

experiência de profissionais, porém na maioria das vezes os acidentes analisados são

raros e é preciso o uso de métodos e modelos para o cálculo das frequências. Segundo

Arendt e Lorenzo (2000), a análise das frequências de eventos raros consiste em três

etapas: 1) determinar combinações importantes de falhas e as circunstâncias que podem

causar acidentes; 2) desenvolver dados básicos de falha da indústria ou dados da planta;

3) utilizar métodos matemáticos probabilísticos para determinar as frequências de

ocorrência.

De acordo com Freitas (2015), os modelos matemáticos utilizados com maior

frequência são o de árvore de eventos e o de árvore de falhas, que representam as

6 Disponível em: https://www.tno.nl/en/focus-areas/urbanisation/environment-sustainability/public-safety/the-coloured-books-yellow-green-purple-red/

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possíveis sequências de eventos, envolvendo sucessos ou falhas de componentes, os

quais devem desempenhar funções especificas. Estas árvores partem de um evento

iniciador e ramifica-se toda vez que um componente do sistema obtém sucesso ou falha

na função para o qual foi projetado. Também é possível incluir os desdobramentos, tais

como período do dia, direção do vento, probabilidades de ocorrência de ignição e

detonação ocasionando diferentes efeitos físicos como incêndios, explosões e formação

de nuvem tóxica (WILEY & SONS, 2003).

As árvores de falhas representam um encadeamento de eventos que poderiam

causar uma falha particular. Está árvore inicia-se a partir de um evento de falha

particular denominado de evento topo e ramifica-se através de níveis mais baixos de

ocorrência de eventos até atingir as causas básicas de falha. A ramificação de uma

árvore de falhas ocorre por meio de portões lógicos (portões E ou OU) situados nas

interseções da árvore. Estes portões definem a relação causal entre os eventos (NUREG,

1981).

De posse de todas as informações trabalhadas nas etapas anteriores é possível

realizar a etapa 4. Avaliação de Riscos, que consiste em calcular o risco com o critério

previamente estabelecido. Segundo PSG2 (2005), os resultados podem ser expressos em

função do risco individual e do risco social.

O risco individual pode ser definido como a probabilidade anual de morte de

um indivíduo situado na área de influência dos efeitos dos cenários acidentais. O risco

individual, pode ser estimado para aquele indivíduo mais exposto a um perigoso e mais

susceptível às consequências, para um grupo de pessoas ou para uma média de

indivíduos (CETESB, 2003). A representação gráfica do risco individual pode ser feita

por meio de contorno de isorriscos em mapas topográficos (PSG3, 2005) (Figura 3).

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Figura 3. Exemplo de representação do risco individual através de contornos de isorriscos. São ilustrados os contornos de Risco Individual de 10-5, 10-6, 10-7 e 10-8 de

uma planta fictícia (PSG3, 2005)

O risco social, por sua vez, representa a frequência de ocorrência dos cenários

acidentais com potencial de ocasionar N ou mais mortes simultaneamente. A

representação gráfica é feita por meio da curva FN (Figura 4), que é função da

frequência acumulada de acidentes capaz de causar N mortes ou mais mortes (F) pelo

número de mortes (N) (PSG3, 2005).

Figura 4. Curva de risco social, de uma planta fictícia e o limite recomendável para a implementação de medidas (VROM, 2015b).

De acordo com Crowl e Louvar (2002) não se pode eliminar o risco

completamente. Todo processo químico possui certo risco associado. Em algum ponto

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do estágio de projeto alguém deve decidir se o risco é aceitável ou gerenciável. Neste

contexto os riscos individual e social são utilizados para subsidiar a tomada de decisão

quanto a aceitabilidade ou tolerabilidade dos riscos. No entanto para esta avaliação é

necessário o estabelecimento de critérios comparativos. O estabelecimento desses

critérios depende de fatores pessoais que estabelecem a percepção de risco, o que torna

o tema subjetivo e complexo.

Além disso, é importante realizar a análise das capacidades, ou seja, dos

recursos disponíveis na instalação e território para então propor soluções realísticas e

alternativas, assim como medidas e ações para redução do risco de desastre. É

importante definir prioridades e áreas de intervenção (planos, programas e projetos)

para a mitigação e redução do risco de desastres associados ao empreendimento, sempre

acompanhados de propostas, estratégias e ações.

Em síntese, o EAR é o primeiro passo necessário e a base de qualquer

estratégia séria de redução do risco de desastres que tenha por objetivo salvaguardar a

vida e os bens de uma comunidade perante a ocorrência de um fenómeno devastador.

Porém, os EARs, mais especificamente as AQRs, vem sendo subutilizados pela

gestão pública brasileira. Atualmente tais estudos servem para respaldar ou apoiar o

processo de licenciamento ambiental, quando poderiam e deveriam ser utilizados como

instrumento de planejamento, gestão territorial e ambiental.

Em estudo recente Freitas (2015), ao analisar a forma como as avaliações de

riscos de acidentes industriais são utilizadas, aponta algumas falhas ou limitações do

processo. São eles:

• Individualidade na avaliação dos EAR;

• A subjetividade na definição dos padrões de tolerabilidade de risco;

• Falta de monitoramento dos EAR;

• Falta de integração dos resultados dos EAR com o planejamento

territorial a nível municipal;

Os órgãos ambientais requisitam e avaliam os EAR que são elaborados com

base no risco individual, aquele que reflete a probabilidade anual de morte de um

indivíduo situado na área de influência dos efeitos dos cenários acidentais, e no risco

social, que se refere ao risco para um grupo de indivíduos expostos aos danos

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decorrentes de um ou mais cenários acidentais. Esses resultados são então comparados

com os padrões toleráveis de riscos definidos pelo órgão ambiental estadual.

Ao proceder dessa forma o órgão ambiental acaba realizando uma avaliação de

risco de maneira individualizada para cada instalação ou atividade. Indicando um risco

subdimensionado, uma vez que uma pessoa ou uma sociedade estão de fato submetidos

ao risco criado por todas as instalações perigosas localizadas em sua proximidade. O

correto seria, portanto, avaliar o risco de forma integrada para um conjunto de

instalações em uma determinada área de influência. Deste modo, os resultados

refletiriam um cenário muito mais aproximado da real situação de risco.

A falta de um padrão de tolerabilidade de riscos nacional é outro ponto que

merece destaque. A definição desses critérios tem uma forte subjetividade pois envolve

temas complexos, como por exemplo a percepção dos riscos, que varia

consideravelmente de indivíduo para indivíduo. Contudo, a definição de padrões

nacionais é importante na medida em que cria uma uniformidade para a avaliação de

empreendimentos, mantendo uma valoração padrão da vida humana para todo o

território nacional e facilitando a sistematização dessas informações.

Outro ponto crítico, é relacionado à falta de monitoramento e

revisões/atualizações periódicas desses estudos, de forma a se identificar qualquer novo

risco que possa ter surgido, possibilitando a melhoria contínua da segurança em tais

instalações. Esta revisão deve estar prevista no Programa de Gerenciamento de Riscos

(PGR) das instalações. Além disso, qualquer alteração ou ampliação na planta

industrial, a renovação da licença ambiental ou a retomada de operações, devem prever

uma revisão do EAR. Geralmente essa revisão só é realizada quando a licença ambiental

deve ser renovada, por ser uma exigência à obtenção da nova licença, mostrando um

caráter pouco orientado à redução de riscos e sim ao cumprimento das exigências legais.

Por último, é comum a existência de uma ocupação indiscriminada em áreas

próximas a instalações perigosas. Este fato ocorre devido à falta de comunicação e

sistematização entre as avaliações de risco e o planejamento de uso e ocupação

territorial. Subutilizando os resultados dos EAR limitando-os apenas à processos de

tomada de decisão quando a concessão de licença ambiental.

Enquanto a gestão territorial não considerar as avaliações de risco o

empreendedor não conseguirá prever o risco que sua instalação irá gerar a sociedade no

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futuro. Além disso, a falta de integração dessas políticas pode resultar na

impossibilidade de medidas de redução de risco, podendo resultar na inviabilidade do

empreendimento devido à ocupação indiscriminada da área vizinha.

O resultado dessa falta de articulação e integração entre tais políticas públicas,

ambientais e do território, é a exposição de pessoas e espaços de uso comum, externos

às instalações, à riscos de acidentes industriais ampliados. A ocupação de regiões

vizinhas a instalações industriais pode ser explicada devido à falta de expectativa de

crescimento econômico da região. Além disso, a percepção do risco associados a esses

complexos ou instalações industriais é pequena ou inexistente por parte da população.

4.2.2. Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a

Emergências Ambientais (P2R2)

O Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a Emergências

Ambientais com Produtos Químicos Perigosos, também chamado de P2R2, foi criado

pelo Decreto Nº 5.098 de 2004, com o objetivo de prevenir a ocorrência de acidentes

com produtos químicos perigosos e para aprimorar o sistema de preparação e respostas

a emergências químicas no país (MMA, 2007).

O P2R2 surgiu em decorrência do acidente causado pelo rompimento de uma

barragem de resíduos contendo substâncias químicas, que ocorre em 29 de março de

2003, em Cataguazes, Minas Gerais. O acidente contaminou os rios Pomba e Paraíba do

Sul, o que suspendeu temporariamente o fornecimento de água para diversas cidades

dos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Percebeu-se, com o fato, a deficiência

na estrutura de atendimento a esse tipo de emergência (CPRH, 2010).

Segundo notícia publicada no site do Ministério do Meio Ambiente (MMA,

s/d7) a “elaboração do plano levou em consideração a necessidade de parceria entre o

governo federal e os estados, com o objetivo de garantir a integração e uniformização

das ações de prevenção e procedimentos de resposta rápida”. O que deixa claro a

necessidade de articulação vertical, entre os níveis de governo, mas é importante frisar

que a articulação horizontal, entre os diferentes setores, é tão importante quanto.

7 Disponível em: http://www.meioambiente.gov.br/informma/item/4535-mma-investe-na-criacao-de-comissoes-estaduais-do-p2r2

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O P2R2 possui foco na prevenção, por meio da implantação de sistemas,

programas, ações e iniciativas que visam inibir ou desmotivar práticas que resultam na

ocorrência de acidentes envolvendo produtos perigosos; e no controle, por meio da

implementação de sistemas, ações e procedimentos que visam responder de forma

rápida e eficaz às ocorrências de acidentes, assim como preparar, capacitar recursos

humanos disponíveis nas esferas federais, estaduais e municipais (MMA, 2007)8.

A estratégia do P2R2 é a operação descentralizada e cooperativa entre as três

esferas de governo e entidades privadas, seguindo as orientações da PNMA (Lei

6.938/1981), direcionando esforços para as seguintes diretrizes, entre outras:

• Criação e operacionalização de uma estrutura organizacional adequada;

• Integração dos órgãos e instituições públicas nos três níveis de governo

(federal, estadual e municipal), estabelecendo seus respectivos níveis de

competência no atendimento de situações emergenciais;

• Definição das responsabilidades dos órgãos públicos e privados em

caso de acidente;

• Disponibilização de informações entre as entidades públicas e privadas

de produção, armazenamento, transporte e manipulação de produtos

químicos perigosos;

• Otimização de recursos humanos, financeiros e treinamento contínuo de

profissionais e equipes envolvidos no plano, visando ampliar a

capacidade de resposta.

O P2R2 estabelece que sejam criadas Comissões Nacionais (CN – P2R2) e

Comissões Estaduais (CE – P2R2) do P2R2, cuja missão é implantar e promover ações

de prevenção, preparação e resposta rápida a acidentes ambientais com produtos

perigosos. A CN – P2R2 deve atuar nos acidentes de âmbito nacional, além de

promover a estruturação e a implementação do Plano P2R2 e a articulação e proposição

de parcerias com órgãos públicos e privados. A CE – P2R2 é responsável pelo

planejamento, coordenação e acompanhamento das ações dos diversos parceiros

envolvidos em todas as etapas do P2R2 e deve atuar em consonância com a CN. No

8 http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/emergencias-ambientais

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caso de existência de estruturas equivalentes nos Estados, estas deverão ser referendadas

por decreto estadual e assumirão as atribuições da CE – P2R2.

A Figura 5 abaixo ilustra o organograma inicial proposto para o Plano P2R2.

Figura 5. Organograma inicialmente proposto para o P2R2 (MMA, 2016)

A missão da Comissão Nacional (CN-P2R2) é implantar e promover ações de

prevenção, preparação e resposta rápida a acidentes ambientais com produtos químicos

perigosos. A CN-P2R2 deve promover a estruturação e implementação do Plano, a

articulação e proposição de parcerias com órgãos públicos e privados com vistas à sua

implementação.

A CN é composta por representantes dos seguintes órgãos e instituições

(MMA, 2009):

• Ministérios do Meio Ambiente (MMA) que coordena a CN, da Saúde (MS), da

Integração Nacional (MI), de Minas e Energia (MME), dos Transportes (MT),

Ministério do Trabalho e Empregos (MTE), da Justiça (MJ); do

Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC);

• Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA);

• ABEMA - Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente

(ABEMA);

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• CNI – Confederação Nacional da Indústria (CNI);

• Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (FBOMS).

As competências da CN do P2R2 estão listadas abaixo:

I. zelar pela observância dos princípios e assegurar o cumprimento do

objetivo geral e das diretrizes estratégicas do P2R2;

II. articular e propor parcerias com órgãos públicos e entidades privadas

afins, visando à implementação do P2R2;

III. identificar as oportunidades e estimular o aperfeiçoamento dos

instrumentos de gestão do P2R2;

IV. proceder à análise de acidentes em conjunto com outras entidades,

quando julgar necessário;

V. promover o desenvolvimento, implantação, atualização, padronização

e acesso ao sistema de informações do P2R2 e apoiar os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios nesse sentido;

VI. divulgar e disseminar informações relativas ao P2R2, seus objetivos,

diretrizes e organização;

VII. mobilizar os recursos humanos e financeiros de suporte ao plano,

visando garantir a implantação e manutenção do P2R2;

VIII. incentivar a criação de Comissões Estaduais e Distrital e colaborar com

elas na implementação do P2R2;

IX. apoiar as CE - P2R2 e entidades municipais, mediante solicitação

dessas, na ocorrência de acidentes de maior gravidade;

X. elaborar o seu regimento interno e unidades vinculadas

A Secretaria Executiva deve prover apoio técnico e administrativo à CN,

providenciar apoio logístico e manter a estrutura necessária para o fornecimento e

intercâmbio de informações entre a Comissão Nacional e as áreas de apoio e entre a

Comissão Nacional e as Comissões Estaduais. A coordenação da Secretaria Executiva é

a cargo da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental SMCQ/MMA

(MMA, 2009).

Os Comitês Técnicos devem implementar e operacionalizar ações específicas

do P2R2 e são constituídos por representantes dos segmentos que manipulam e

movimentam produtos químicos perigosos (MMA, 2009).

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Os Grupos de Apoio de Preparação a Resposta (GAPR) tem como tarefas

principais a identificação e atendimento de demandas relacionadas às ações de

Preparação de Resposta à emergências, através de: capacitação de recursos humanos,

desenvolvimento e gerenciamento de banco de dados, e apoio técnico aos estados nos

mapeamentos de áreas de risco (MMA, 2009).

O Grupo de Apoio a Emergências (GAE) é responsável por coordenar as ações

de atendimento à emergência, com base em protocolos de atuação previamente

estabelecidos com os Estados. O GAE deve acionar especialistas quando da ocorrência

de acidentes de abrangência nacional. Por fim, o GAE deve elaborar um Plano Nacional

de Apoio a Emergências (MMA, 2009).

As Comissões Estaduais (CE-P2R2) têm como principais responsabilidades:

• Implantar e promover ações de prevenção, preparação e resposta rápida

a acidentes envolvendo substâncias perigosas;

• Planejar, coordenar e acompanhar as ações dos diversos parceiros.

As comissões Estaduais devem ser compostas por representantes dos seguintes

órgãos/setores: estaduais de meio ambiente; de saúde, Defesa Civil, Corpo de

Bombeiros, SAMU, Polícia Rodoviária Federal e Estadual, Polícia Militar Ambiental,

Transporte, IBAMA, Federação das Indústrias, Universidades, iniciativa privada,

associações, ONGs, sindicatos e outros (MMA, 2009).

O plano estabelece 4 instrumentos, a saber: a) Mapeamento das Áreas de

Risco; b) Sistema de Informação; c) Mecanismos Financeiros; e d) Plano de Ação de

Emergência (PAE). O próprio plano pode ser considerado um instrumento legal para

prevenção, preparação e resposta a desastres envolvendo produtos químicos. Contudo,

falta uma estratégia definida para a sua implementação e de seus instrumentos. Não se

tem informações atualizadas disponíveis sobre o desenvolvimento do P2R2.

De qualquer forma, o P2R2 é um avanço significativo na questão relativa ao

atendimento de acidentes industriais com produtos perigosos. O processo já foi iniciado

com a criação da CN-P2R2 e de Comissões Estaduais, em 2007 apenas 6 estados

possuíam CE-P2R2 estruturadas, Tocantins, Mato Grosso, Paraíba, Bahia, Rio de

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Janeiro e Rio Grande do Sul (MMA, s/d9). Não existem informações atualizadas sobre

as Comissões Estaduais, porém em pesquisa realizada constatou-se que atualmente pelo

menos 12 estados já formaram suas comissões oficialmente.

O P2R2 é sem dúvida um passo importante no sentido da gestão dos riscos

tecnológicos, porém o Brasil ainda apresenta muitas deficiências nesta área. O Brasil

ainda não possui um banco de dados sobre o tema o que dificulta e por vezes até

inviabiliza certas análises. Além disso, há carência em recursos humanos com

qualificação para atuar na área e a infraestrutura operacional dos estados e municípios é

por vezes bastante precária.

A esfera nacional deve implementar ações para auxiliar os estados e

municípios a modificarem esse cenário, como por exemplo auxiliar os municípios a

elaborarem seus planos de ação de emergências, desenvolver sistemas de informações

sobre os produtos químicos perigosos e sobre unidades de apoio a respostas. A criação

de um sistema de notificação único e integrado também seria de grande valia e poderia

servir para alimentar o banco de dados. Além da capacitação periódica de técnicos que

trabalhem nessas áreas.

Nota-se, portanto, que a gestão pública dos riscos industriais é centralizada nos

órgãos de meio ambiente, tendo pouco ou nenhuma interface com as demais políticas

públicas.

5. Integração dos Riscos Industriais à Gestão Territorial

5.1. Território e Risco

O território é um dos fatores estratégicos de desenvolvimento e deve ser

entendido como um sistema em que se articulam de forma coerente a produção, os

recursos existentes, uma sociedade e cultura locais, a sua história e os seus costumes

(CIF-OIT, 2012a).

O planejamento territorial consiste em um processo técnico-político cujo

principal objetivo é a organização do uso e ocupação do território em função de suas

9 http://www.meioambiente.gov.br/informma/item/4535-mma-investe-na-criacao-de-comissoes-estaduais-do-p2r2

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características biofísicas, socioeconômicas, culturais e político-institucionais. Tal

organização deve ser orientada aos objetivos de segurança e sustentabilidade,

garantindo a otimização dos assentamentos humanos, o acesso aos serviços básicos

como saúde e educação e a localização devida da infraestrutura produtiva

(PREDECAN, 2008).

O planejamento territorial, ou planejamento do uso e ocupação do solo,

funciona como uma ferramenta de orientação para tomadas de decisão acerca de

investimentos públicos ou privados, contribuindo com a redução da vulnerabilidade das

pessoas, seus meios de subsistência, bens e infraestrutura diante de ameaças que se

manifestam no território (PREDECAN, 2008).

Dessa forma, os riscos decorrentes de atividades industriais e sua gestão estão

intrinsecamente relacionados ao território e seu desenvolvimento. Portanto, a integração

desses riscos ao planejamento territorial é fundamental para que seja possível reduzi-los

ao estabelecer com segurança os possíveis usos do solo de um território (municipal,

metropolitano, micro ou mesorregional) e garantir o bem-estar e a proteção das

populações e meio ambiente localizados nas proximidades de instalações perigosas.

A Figura 6, abaixo, ilustra os três eixos que devem se articular para que haja

uma efetiva incorporação de critérios de redução de risco de desastre no

desenvolvimento, mais especificamente no ordenamento territorial (COMUNIDAD

ANDINA, 2009a).

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Figura 6. Três eixos essenciais para a incorporação da redução de risco no ordenamento territorial. Fonte: Adaptado de COMUNIDAD ANDINA (2009a).

O primeiro eixo, conhecimento do risco abrange os seguintes aspectos: a

distribuição espacial e temporal dos riscos no território; os possíveis impactos sobre

elementos socioambientais expostos; a identificação dos processos territoriais e setoriais

que contribuem para a geração do risco; e as possíveis consequências sociais e

econômicas. Esses aspectos devem ser abordados através de estudos específicos de

análise de riscos e usados como base em processos de tomada de decisão no

ordenamento territorial.

Os instrumentos de gestão do ordenamento territorial, o segundo eixo, são

estudos específicos que demandam recursos humanos e econômicos relevantes. O tipo,

âmbito e resolução dos estudos de risco, determinam as possibilidades práticas de

incorporação de critérios de redução de riscos nos processos e instrumentos específicos

de planejamento e gestão territorial.

O terceiro eixo, a gestão de risco, é o conjunto de políticas e ações necessárias

para o controle e redução de risco, que auxiliam na definição do componente regulatório

e programático de ordenamento territorial.

A integração dos resultados dos estudos análise do risco de acidentes industrias

no ordenamento do território, em seus diversos aspectos, pode ser respaldada pelas

seguintes razões (UNGRD, 2015):

Incorporção do Risco no

Ordenamento Territorial

Conhecimento do Risco

Instrumentos de Gestão de

Territorial

Políticas de Gestão de

Riscos

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• Permite o desenvolvimento, ocupação e construção segura no território (moradias, infraestrutura, equipamentos, serviços, indústria, comércio, etc.);

• Garante um maior acerto nas tomadas de decisão das autoridades municipais, estaduais, regionais e nacional frente ao desenvolvimento sustentável;

• Otimiza os recursos, por atuar na prevenção do risco, evitando perdas econômicas e desvio de recursos dirigidos a investimentos sociais, prevenindo o atraso no desenvolvimento dos territórios;

• Garante um ordenamento adequado do território, evitando a geração de novas condições de risco ao controlar a exposição de novos elementos em áreas com condições de ameaça.

A seguir serão apresentados alguns exemplos de como essa prática vem sendo

implementada em nível internacional e então será realizada uma avaliação do contexto

nacional sobre a possibilidade da integração.

5.2. Experiência Internacional e o Caso do Reino Unido

Apesar de todo o esforço que a comunidade internacional vem implementado

para controlar os acidentes industriais ampliados reduzindo os riscos na instalação, os

acidentes continuam a ocorrer. De acordo com o banco de dados MARS (Major

Accident Reporting System) da Comissão Europeia, ocorrem entre 25 e 30 acidentes

ampliados por ano na Europa (European Comission, 2002).

Nesse contexto, os estudos de análise de risco, mais especificamente as

análises quantitativas de risco (AQRs) começaram a ser utilizadas como uma ferramenta

de apoio à tomada de decisão nos processos de gestão pública do risco associado às

atividades industriais perigosas. Segundo Pasman e Reniers (2014), a ferramenta pode

ser aplicada para analisar e, quando necessário, melhorar a segurança das instalações,

para a elaboração do Plano de Emergência e também para o planejamento e

ordenamento de uso do solo.

Países da União Europeia, como Reino Unido, França, Itália, Grécia, entre

outros, que já utilizavam a AQR como ferramenta para a melhoria da segurança das

instalações e para a elaboração do Plano de Emergência, passaram a utilizá-la também

para o planejamento de uso do solo (HSE, 2012; SALVI et al, 2005; DEMICHELA et

al, 2014, SEBOS, et al., 2010), incentivados pela Diretiva de Seveso II. Ou seja, tais

países integraram a gestão do risco de acidentes industriais à gestão territorial.

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Como constatado anteriormente, a Diretiva de Seveso II (CEC, 1997)

estabeleceu que as políticas de uso e ocupação territorial dos estados membros da

Comunidade Europeia considerassem os objetivos de prevenção e limitação das

consequências de acidentes ampliados. Segundo Christou e Porter (1999), esse requisito

se sustenta na necessidade de serem estabelecidas distâncias apropriadas entre áreas

residenciais, áreas de uso público e áreas ecologicamente sensíveis ou de interesse

particular e as instalações cobertas pela Diretiva.

Contudo, mesmo antes da Diretiva de Seveso II, alguns estados membros já

utilizavam práticas de planejamento do uso do solo que incorporavam os riscos

industriais, através da separação entre instalações perigosas e áreas residenciais, Reino

Unido e Holanda são exemplos (HSE, s/d; XANTEN et al, 2014). O Quadro 9

apresenta os diversos tipos de abordagem utilizadas pelos estados membros da

Comunidade Europeia de forma atender as diretrizes de Seveso II.

Quadro 9. Diferentes abordagens utilizadas para o planejamento territorial realizado ao redor de instalações perigosas.

Abordagem Descrição Países Referencias

Determinística

ou baseada

nas

consequências

Critério para o planejamento é a

área delimitada pelo alcance dos

efeitos físicos danosos

resultantes de possíveis cenários

acidentais

Finlândia;

Luxemburgo;

Espanha;

Áustria

CHRISTOU e

MATTARELLI

(2000);

CHRISTOU et al.

(1999)

Distâncias

genéricas

Versão simplificada da

abordagem baseada em

consequências. Critério para o

planejamento é baseado em

distâncias genéricas de cenários

selecionados e desenvolvidas

em uma base conservativa,

considerando dados históricos e

a experiência do avaliador.

Alemanha;

Suécia

CHRISTOU et al.

(1999);

CHRISTOU e

PORTER (1995);

Probabilística

ou baseada no

Critério para o planejamento é o

risco associado à instalação, ou

Reino Unido;

Holanda;

COZZANI et al.

(2006);

BOTTELBERGHS

(2000);

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risco seja, a probabilidade de

ocorrência dos efeitos danosos

resultantes dos eventos

acidentais. Os resultados são

apresentados como risco

individual e social, e são

estabelecidos critérios

específicos de aceitabilidade

com respeito ao risco calculado.

Grécia;

Bélgica

KONTIC e

KONTIC (2009);

HSE (s/d);

PAPAZOGLOU et

al. (2000);

XANTEN et al.

(2014).

Abordagens

híbridas

Combinam as abordagens

baseadas nas consequências e

nos riscos.

França;

Itália

COZZANI et al.

(2006); KONTIC e

KONTIC (2009);

CARPIGNANO et

al. (2001);

DEMICHELA et

al. (2014)

Fonte: Elaboração própria

A heterogeneidade das abordagens adotadas reflete as especificidades dos

contextos geográficos, regulatórios, legais e sociais de cada país, as diferenças

populacionais que resultam em diferentes níveis de escassez de terra, disponibilidade de

dados de risco, percepção social do risco, e também a autonomia que os Estados

membros possuem para adaptar uma legislação europeia a seu arcabouço legal

específico (SEBOS et al, 2010).

A abordagem probabilística é predominantemente utilizada em países com alta

densidade populacional e que, por isso, apresentam maiores pressões sobre o uso do

solo, como por exemplo Bélgica, Grécia, Holanda e Reino Unido. Em países com

ocupação mais diluída, como Finlândia e Espanha, predomina a abordagem

determinística (HAMILTON et al., 1994).

Em abril de 2016, a UNECE (do inglês, United Nations Economic

Commission for Europe) realizou um evento sobre planejamento do uso do solo,

localização de instalações perigosas e aspectos relacionados com segurança, que contou

com a presença de mais de cem formuladores de políticas e profissionais de diversas

áreas, como segurança industrial, avaliação ambiental e ordenamento territorial. Os

participantes apresentaram os avanços que estão sendo desenvolvidos nesse sentido, e

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ressaltaram a importância da cooperação e do fluxo efetivo de informações entre todas

as partes interessadas, incluindo operadores das instalações, autoridades de

planejamento, meio ambiente e saúde. Porém, apesar dos avanços, ficou claro que

existem diversos desafios para que tal prática seja efetivada. Alguns países, por

exemplo, têm pouca ou nenhuma integração entre os critérios de segurança industrial e

a avaliação de impacto ambiental. Falta de conscientização, baixo nível de execução e

pouca experiência prática foram outros tópicos apontados como desafios para a

integração das políticas, o que demonstra a necessidade de se aplicar mais esforços

nesse sentido (UNECE, 201610).

Além dos países da comunidade europeia, alguns outros países já utilizam há

algum tempo critérios de risco industrial no planejamento do seu território, como é o

caso do Canadá e de alguns estados da Austrália, como o New South Wales, por

exemplo.

Reconhecer a importância da incorporação do risco de acidentes ampliados em

políticas e ações de planejamento territorial é fundamental, independente da

metodologia adotada. Isso deve ser feito tanto por meio do controle da instalação

perigosa localizada nas proximidades de áreas habitadas, como pelo controle de

assentamentos humanos e projetos de desenvolvimento nas vizinhanças de tais

instalações. O potencial de gravidade de um acidente ampliado em uma instalação

perigosa localizada próximo a áreas com alta densidade populacional é enorme, como

demonstram os casos apresentados na seção 4.1. Acidentes Industriais Ampliados.

Não existe um modelo único de planejamento do uso do solo para as regiões

anexas a instalações perigosas, mas sim diretrizes e ideias gerais que vem sendo

utilizadas, nas quais o Brasil pode se inspirar para criar seu próprio modelo adequado à

sua realidade técnica, financeira e político-institucional. Contudo vale ressaltar que

todas as decisões tomadas nesse âmbito devem ter como prioridade a segurança das

pessoas, acima de tudo, mas também limitações relativas às especificidades de cada

território, como a geografia local, o nível de desenvolvimento, a área disponível para

novas instalações, questões socioeconômicas de maneira geral e também as políticas.

10 Disponível em: http://www.unece.org/info/media/presscurrent-press-h/environment/2016/land-use-planning-integrating-industrial-safety-considerations-into-environmental-assessments/doc.html

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Para deixar mais claro como essa integração funciona na prática foi escolhido

o exemplo do Reino Unido e sua metodologia de planejamento do uso do solo. A ideia

é ilustrar a possibilidade de se integrar os resultados de um estudo de análise de risco à

gestão pública territorial, em práticas de desenvolvimento visando sempre a

sustentabilidade, através de uma abordagem de desenvolvimento local integrado.

Porém, deve se ter claro que essa metodologia vem sendo desenvolvida desde o final da

década de 80 e até hoje sofre alterações e adaptações de acordo com necessidades que

vão surgindo e sendo identificadas.

No ano de 1974, após o acidente de Flixborough, no Reino Unido, a gestão

pública criou e implementou uma série de medidas para controlar os riscos dos

acidentes industriais e reduzir seus impactos.

O Health and Safety Executive (HSE), fundado em janeiro de 1975 vinculado à

Secretary of State for Work and Pensions, foi concebido como órgão de aconselhamento

legal para certos tipos de projetos de desenvolvimento (urbanísticos e edilícios) nas

imediações de instalações e dutos que armazenam e transportam substâncias perigosas

na Grã-Bretanha. Desde então, o HSE atua junto às autoridades locais de planejamento

na elaboração de estudos de análise de riscos para as áreas do entorno de instalações

perigosas (HSE, s/d).

Tão logo foi fundado, o HSE passou a ser responsável por inspecionar as

fábricas, instalações nucleares e minas, prestar serviço de aconselhamento médico aos

trabalhadores, entre outras funções que antes pertenciam a outras organizações (HSE

Timeline, s/d). Em síntese, o HSE foi fundado para:

• Garantir a melhoria da saúde e segurança em ambientes de trabalho;

• Prover um quadro regulamentar eficaz;

• Assegurar o cumprimento da lei;

• Reduzir a probabilidade de incidentes catastróficos de alto impacto e

baixa frequência;

• Gerenciar seus recursos de forma eficiente e eficaz.

Para cumprir tais objetivos, o HSE aplica uma combinação de diferentes técnicas

de intervenção, incluindo inspeção, aconselhamento e apoio, atividades para aumentar a

percepção do risco e ações executivas (HSE, s/d).

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O Advisory Committe on Major Hazards - ACMH (Comitê Consultivo para

Ameaças Maiores), criado após o acidente de Flixborough, estabeleceu uma série de

medidas, padrões e parâmetros de controle dos riscos (ACMH, 1976). Entre essas

medidas, o ACMH desenvolveu uma estratégia para atenuar a consequência de

acidentes industriais ampliados por meio do planejamento territorial no entorno de

instalações perigosas (DWP/HSE, 2016). Diferentemente do Brasil, esses controles não

se aplicam apenas às atividades industriais, e a comunidade local também pode

enfrentar restrições de uso e ocupação do território, para a construção de moradias,

escolas ou hospitais, por exemplo.

Com base nos critérios e estratégias estabelecidos pelo ACMH, o HSE

desenvolveu uma metodologia de planejamento do uso do solo integrada à gestão de

risco de acidentes industriais, chamada Land Use Planning / HSE (LUP/HSE), cujo

objetivo é gerenciar o crescimento da população em áreas próximas a locais com alto

risco para mitigar as consequências de um acidente industrial ampliado.

O HSE baseia seu aconselhamento às autoridades locais de planejamento nos

resultados obtidos a partir da metodologia LUP. Tal aconselhamento tem como objetivo

mitigar os efeitos de um possível acidente ampliado na população que habita áreas

vizinhas às instalações perigosas. O HSE segue uma abordagem coerente e sistemática

para prover aconselhamento sobre os pedidos de autorização de projetos de

desenvolvimento (urbanísticos ou edilícios) em torno desses sítios.

De acordo com as regulamentações de Planejamento de Substâncias Perigosas

(PHS, do inglês Planning Hazardous Substances), a presença de produtos químicos

perigosos acima de limites pré-estabelecidos requer o consentimento da autoridade de

substâncias perigosas (HSA, do inglês Hazardous Substances Authority), que na

maioria dos casos também é a autoridade local de planejamento. O HSE atua como

consultor legal em todos os pedidos de consentimento relacionados às substâncias

perigosas. Seu papel é considerar os perigos e riscos relativos às substâncias perigosas

para as pessoas, infraestrutura e meio ambiente ao redor das instalações que utilizam

tais substâncias.

Baseado nisso, o HSE aconselha o HSA se a autorização deve ou não ser

concedida ao operador da instalação, no caso de novas instalações industriais, ou para

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algum projeto de desenvolvimento local, caso a instalação perigosa já exista e tal

projeto se localize nas proximidades da mesma (HSE, s/d).

O HSE pode ainda especificar condições que devem ser impostas pelo HSA

para limitar os riscos ao público, além do cumprimento dos requisitos legais de saúde e

segurança, como por exemplo, diminuir a quantidade permitida de armazenamento de

substâncias perigosas ou exigir que os produtos sejam armazenados em carros tanque e

não no local. Em contrapartida, a HSA deve notificar o HSE do resultado de todos os

pedidos de consentimento, e quando conceder a autorização para a implementação de

determinado projeto de desenvolvimento, deve fornecer cópias dos planos e condições

do local (HSE, s/d).

De posse de tais informações, o HSE realiza uma avaliação detalhada dos

perigos e riscos da instalação e estabelece a chamada distância de consulta (CD, do

inglês consultation distance) ao redor da instalação. A CD é composta por 3 zonas de

perigo: interior, média e exterior. Tais zonas são definidas levando-se em consideração

as quantidades máximas de substâncias perigosas que o local é autorizado a armazenar e

manter sob sua responsabilidade, com base no nível de risco individual (Figura 6) (HSE,

2011):

• Zona Interior (ZI) ou zona I: níveis de risco individual maiores que 1 x 10-5; • Zona média (ZM) ou zona II: níveis de risco individual entre 1 x 10-5 e 1 x 10-6; • Zona exterior (ZE) ou zona III: níveis de risco individual entre 1 x 10-6 e 3 x 10-

7.

Figura 7. Zonas de risco. Fonte: Adaptado de HSE (2011).

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O segundo passo é avaliar as características do projeto de desenvolvimento

proposto, seja ele fonte de risco ou não. O HSE considera a dimensão e natureza do

projeto, a vulnerabilidade da população exposta, a facilidade de evacuação ou outros

procedimentos emergenciais para o tipo de projeto proposto. Escolas e hospitais

pertencem à categoria de risco mais sensível do que, por exemplo, as indústrias leves. A

metodologia também leva em consideração a existência do risco de lesões graves,

inclusive de morte, atribuindo, desta forma, peso ao risco (HSE, s/d).

O HSE deve manter as autoridades locais de planejamento informadas sobre

todas as zonas de perigo dentro de sua área de jurisdição, permitindo assim que as

autoridades locais consultem o HSE sobre qualquer projeto de desenvolvimento

relevante que esteja sendo pensado dentro de tais áreas, em especial aqueles que tendem

a aumentar a população local.

O HSE aconselha sobre a natureza e a gravidade dos riscos apresentados pela

instalação para as pessoas na área adjacente, para que esses riscos sejam devidamente

considerados pela autoridade local de planejamento ao tomar a sua decisão. Tendo em

conta os riscos, o HSE irá aconselhar contra o desenvolvimento proposto ou

simplesmente notificar que não o desaconselha.

Para o aconselhamento, o HSE leva em consideração o tipo de

desenvolvimento através do nível de sensibilidade e a localização deste dentro da CD. O

uso e a ocupação, permitida e apropriada para cada zona, são definidos, portanto, de

acordo com níveis de sensibilidade. A Tabela 2 apresenta as ocupações apropriadas para

cada zona. (REFAZER TABELA ABAIXO E CHAMAR DE QUADRO)

Por ter um caráter consultivo, o aconselhamento do HSE não tem poder de

recusar um projeto de desenvolvimento. A tomada de decisão é responsabilidade da

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autoridade local de planejamento, que deve ponderar as necessidades, riscos locais e

outras questões relativas ao planejamento com o aconselhamento do HSE. No entanto, o

HSE pode acionar o Secretário de Estado caso discorde da decisão da autoridade de

planejamento local e considere os riscos de um determinado empreendimento muito

elevados.

Atualmente, todo o processo de aconselhamento do HSE é realizado através de

um aplicativo online, o HSE’s Planning Advice Web App11, por onde a maior parte das

consultas é feita (HSE, s/d).

5.3. Planejamento Territorial e sua Relação com a Gestão de Risco no

Brasil

Segundo Pohlmann et al. (2014), pouco tem avançado o planejamento urbano

no trato da problemática do risco no Brasil. Além disso, identifica-se a falta de

conhecimento específico sobre os aspectos da urbanização aos que trabalham com a

gestão de riscos.

No Brasil, diferentemente do Reino Unido, a gestão pública dos riscos de

acidentes industriais possui foco exclusivo nas instalações fonte de risco e não interage

com a gestão territorial. Isso resulta em uma frequente proliferação de residências e

outras ocupações humanas na vizinhança de áreas industriais de risco, sem controle – e

por vezes até com o aval – das autoridades competentes, que muitas vezes

desconhecem, não tem acesso ou não utilizam as informações contidas nos estudos de

análise de risco.

Assim, os EARs, e mais especificamente as AQRs, são subutilizados pela

gestão pública. Atualmente, tais estudos servem apenas para respaldar ou apoiar o

processo de licenciamento ambiental das instalações, quando poderiam e deveriam ser

utilizados como instrumento de planejamento, gestão territorial e ambiental.

A existência da ocupação indiscriminada em áreas próximas a instalações

perigosas ocorre devido à falta de comunicação e sistematização entre as avaliações de

11 O HSE’s Planning Advice Web App pode ser acessado no link: https://pa.hsl.gov.uk/

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risco e o planejamento de uso e ocupação territorial. Além disso, a percepção do risco

associado a esses complexos ou instalações industriais é pequena ou inexistente por

parte da população.

São comuns os exemplos de cidades que se desenvolveram na vizinhança

desses locais (Figura 7), por conveniência por parte da população e pelo despreparo,

descaso ou desinformação das autoridades competentes.

Figura 8. Ocupação no entorno de terminal de óleo em São Sebastião, SP. Fonte: GoogleEarth, data da imagem: 7/7/2016.

O resultado é a exposição de pessoas e espaços de uso comum, externos às

instalações, ao risco de acidentes industriais ampliados.

Como apresentado anteriormente, a prática de se integrar os riscos de

acidentes industriais ao planejamento territorial vem sendo desenvolvida e praticada

por diversos países, em especial pelos membros da Comunidade Europeia, incentivados

pela Diretiva de Seveso (ver capítulo 4.1).

No Brasil, o planejamento territorial é tratado em diferentes níveis

governamentais. A elaboração e execução dos planos nacionais e regionais de

ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social é de competência da

União (Par. IX, Art. 21 da Constituição Federal). Entre os instrumentos de planejamento

e ordenamento territorial nessa escala estão o zoneamento ecológico-econômico (ZEE),

o gerenciamento costeiro, o zoneamento ambiental, entre outros.

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No nível local, segundo a Constituição Federal, compete aos municípios

“promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e

controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano.” (Art. 30, VIII).

Ademais, segundo o Estatuto da Cidade (Lei Nº 10.257/2001), o processo de

ordenamento e controle do uso e ocupação do território tem por objetivo evitar que a

população seja exposta aos riscos de desastres.

Os objetivos e princípios do ordenamento territorial no nível local ganham

forma e se concretizam no Plano Diretor, instrumento de planejamento municipal

estabelecido pelo Estatuto da Cidade. O Plano Diretor é uma ferramenta legal cujo

propósito é intervir deliberadamente, seja acelerando, controlando, alterando ou

orientando os processos de uso e ocupação do território, em função de uma visão de

desenvolvimento sustentável e integrado. É considerado o instrumento básico da

política de desenvolvimento e expansão urbana (Art. 40, Lei 10.257/2001).

O Estatuto da Cidade dispõe que “o Plano Diretor é parte integrante do

processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes

orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e prioridades nele contidas”

(§ 1º do art. 40) e que “o Plano Diretor deverá englobar o território do Município como

um todo” (§ 2º do Art. 40). Todos os demais planos setoriais municipais devem

respeitar as diretrizes estabelecidas pelo Plano Diretor, uma vez que ele é o instrumento

básico do ordenamento territorial e da política urbana.

Existe, portanto, uma importante relação entre a política nacional de proteção e

defesa civil (PNPDEC – Lei nº 12.608/2012, ver capítulo Marco Nacional: A Política

Nacional de Proteção e Defesa Civil) e o Plano Diretor, especialmente em termos de

ações de prevenção e mitigação de desastres. Dois dos objetivos da PNPDEC

explicitam essa relação direta:

• Incorporar a redução do risco de desastre e as ações de proteção e defesa civil

entre os elementos da gestão territorial e do planejamento das políticas setoriais

(Lei 12.608/2012, Art. 5º, inciso IV);

• Estimular o ordenamento da ocupação do solo urbano e rural, tendo em vista

sua conservação e a proteção da vegetação nativa, dos recursos hídricos e da

vida humana (Lei nº 12.608, Art. 5o, inciso X).

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Desta forma, a Lei nº 12.608/2012 altera o Estatuto da Cidade (Lei nº

10.257/2001) e a Lei de Parcelamento do Solo Urbano (Lei nº 6.766/1979), refletindo a

incorporação de ações de proteção e defesa civil no planejamento municipal,

estabelecendo como competência dos municípios a fiscalização das áreas de riscos de

desastres e a proibição de novas ocupações nessas áreas (BRASIL, 2012).

Um dos pilares que estruturam a PNPDEC (Lei 12.608 de 2012) é a prevenção

de desastres, prever e prevenir é um dos papéis designados e assumidos pelo

planejamento urbano e territorial. Uma vez regulamentada, a Lei nº 12.608/2012,

deverá resultar na adequação dos Planos Diretores para atender as novas orientações.

Essa constatação torna ainda mais clara a necessidade de se integrar tais políticas.

5.4. Recomendações para a Integração no Brasil

A integração dos riscos industriais no ordenamento do território adjacente a

instalações industriais perigosas pode ser analisada sob três aspectos:

a) Mecanismos técnicos, envolvendo a utilização dos resultados dos EAR

para o planejamento e controle do uso do solo;

b) Legislação, envolvendo a necessidade de criação de um conjunto de leis

que apoie e orienta essas práticas.

c) Governança, envolvendo a identificação e a discussão dos papéis das

entidades e esferas governamentais envolvidas;

5.4.1. Mecanismos técnicos

O principal instrumento e fonte de informações para a integração dos riscos

industriais à gestão territorial são os estudos de análise de riscos (EARs). Atualmente,

os órgãos ambientais requisitam e avaliam os EAR para decidir se concedem ou não as

licenças ambientais aos empreendimentos novos ou existentes. A avaliação é feita com

base no risco individual, aquele que reflete a probabilidade anual de morte de um

indivíduo situado na área de influência dos efeitos dos cenários acidentais, e no risco

social, que se refere ao risco para um grupo de indivíduos expostos aos danos

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decorrentes dos cenários acidentais. Esses resultados são então comparados com os

critérios de aceitabilidade de risco definidos pelo órgão ambiental.

Para se ter um ordenamento territorial orientado aos riscos industriais é preciso,

portanto, desenvolver e utilizar uma metodologia de planejamento de uso e ocupação do

solo que considere os resultados dos EARs. Dessa forma se torna possível gerenciar de

maneira mais segura o crescimento da população no entorno das instalações de alto

risco e evitar a criação de novas condições de vulnerabilidade.

A principal etapa dessa metodologia é a definição de zonas de perigo ao redor

das instalações perigosas a partir dos resultados dos EARs. Essas zonas devem ser

definidas com base na quantidade máxima de produtos químicos perigosos que tal

instalação é autorizada a armazenar, dessa forma será realizada uma avaliação sobre o

pior cenário acidental com resultados mais conservadores. Para tal deve ser realizada

uma análise detalhada das características, perigos e riscos da instalação proposta.

Essas zonas de perigo ou, como chamadas no Reino Unido, distâncias de

consulta, devem ser utilizadas pela autoridade local para avaliar a qual risco as áreas

adjacentes às instalações perigosas estão expostas e, em caso de novos projetos de

desenvolvimentos relevantes propostos, definir qual a melhor estratégia para sua

execução.

Essa definição depende de uma avaliação da localização e características do

projeto de desenvolvimento, seja fonte de risco ou não, que configura a segunda etapa

da metodologia em questão. A localização é o primeiro aspecto que deve ser avaliado,

caso o projeto proposto se localize dentro das zonas de perigo deve-se proceder com

uma avaliação detalhada das características do mesmo.

Durante a avaliação das características do projeto diversos fatores devem ser

levados em consideração. Inicialmente devem ser avaliadas a dimensão e a natureza do

projeto, de forma a saber se o projeto acarretará em um aumento significativo da

população dentro das zonas de perigo.

A vulnerabilidade da população exposta é um outro fator que deve ser

analisado. Por exemplo, se o projeto de desenvolvimento consistir em prédio comercial,

se pode supor que o público envolvido é majoritariamente adulto e saudável. A

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vulnerabilidade desse público é menor do que se o projeto me questão fosse uma escola

ou um hospital.

Além disso, as características de desenho do projeto, como a facilidade de

evacuação da instalação, e outros procedimentos gerenciais e de segurança também

devem ser considerados na etapa da avaliação das características.

Para padronizar e facilitar essa análise é importante que sejam definidas classes

de sensibilidade para os projetos de desenvolvimento relevantes, por exemplo, escolas

ou hospitais pertencem à categoria mais sensível do que as indústrias leves, por

exemplo. A seguir, como exemplo, estão listadas as classes de sensibilidade utilizadas

na metodologia de planejamento e uso do solo utilizada no Reino Unido (HSE, s/d):

• Nível de sensibilidade 1: fábricas, escritórios, e qualquer outro lugar que

envolva um público em seu ambiente de trabalho.

• Nível de sensibilidade 2: residências, hotéis, conexões de transportes, ou

qualquer outro local que envolva o público em geral.

• Nível de sensibilidade 3: locais que envolvam pessoas mais vulneráveis

como escolas primarias (crianças) e asilos (idosos).

• Nível de sensibilidade 4: Locais de concentração de pessoas como estádios

de futebol e grandes hospitais.

As autoridades locais devem ter conhecimento sobre a todos as zonas de perigo

existentes dentro de sua jurisdição, assim poderão avaliar a viabilidade de

implementação de qualquer projeto de desenvolvimento relevante que esteja sendo

planejado dentro de tais áreas. A seguir estão listados alguns exemplos de projetos de

desenvolvimento que devem ser considerados dentro desta metodologia:

• Projetos de desenvolvimento dentro das zonas de perigo das instalações que

armazenam ou transportam produtos perigosos, por exemplo: residências;

áreas comerciais; complexos industriais; conexões de transporte (ferrovias,

rodovias) e qualquer outro que aumente significativamente o número de

pessoas no local;

• Projetos que envolvam a implementação de novas instalações que utilizem

e/ou armazenem substâncias perigosas;

• Modificações em instalações já existentes;

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• Projetos propostos que estejam nas proximidades de uma instalação

existente e que por isso possam aumentar o risco das consequências de um

acidente industrial ampliado.

Após a definição de uma metodologia a nível nacional, deve ser elaborado um

documento de referência para o planejamento do uso do solo orientado à prevenção dos

riscos industriais. Esse documento serviria de suporte para as autoridades locais de

planejamento incorporarem os resultados das análises de risco aos seus instrumentos de

planejamento, mais especificamente, ao Plano Diretor Municipal.

Além da elaboração dessa metodologia de planejamento territorial orientada

aos riscos industriais, algumas outras medidas poderiam ser estabelecidas e facilitariam

a implementação dessa prática no Brasil. A primeira delas deveria ser a criação de um

padrão nacional de tolerabilidade de riscos.

A falta de um padrão nacional pode gerar resultados diferentes, fazendo com

que uma instalação seja viável em um estado e inviável em outro (FREITAS, 2015). Por

isso a definição de padrões nacionais é importante na medida em que cria uma

uniformidade para a avaliação de empreendimentos, mantendo uma valoração padrão da

vida humana para todo o território nacional e facilitando a sistematização dessas

informações.

Em âmbito nacional, poderia ainda ser criado um documento com a

classificação e orientação para identificação das instalações que utilizam substâncias

perigosas e que por isso, são fontes de risco para o público interno, externo e meio

ambiente. Essa medida auxiliaria a autoridade local a identificar quais instalações

perigosas existem dentro da sua jurisdição.

Além disso, para que a gestão de risco decorra de maneira eficiente é preciso

ter conhecimento sobre os riscos, não apenas através dos resultados de avaliações

pontuais mas também através do histórico de acidentes. No Brasil, ainda não existe um

banco de dados integrado que agregue informações sobre os acidentes industriais

ocorridos, as informações disponíveis são difusas e não sistematizadas, ficando a cargo

de entidades específicas para cada tipo de acidente.

Outra recomendação seria, portanto, a compilação dos registros de acidentes

industriais em um banco de dados nacional integrado. É extremamente importante que

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essas informações sejam compiladas em uma base de dados única, cujo preenchimento

seja compulsório pelos órgãos responsáveis pelo monitoramento e, principalmente, pelo

setor industrial. Esse banco de dados deveria ser online e ter acesso livre para que todas

as partes envolvidas, inclusive a sociedade civil, tenham acesso a tais informações.

Em síntese, em nível nacional, os mecanismos técnicos que devem ser

desenvolvidos e implementados, para viabilizar e otimizar a integração dos riscos

industriais à gestão territorial são:

• Elaboração de uma metodologia de planejamento e controle do uso do

solo orientada aos riscos industriais e publicação de um documento de

referência;

• Criação de um padrão nacional de tolerabilidade de riscos industriais;

• Documento com a classificação e orientações para identificação das

instalações perigosas, com as quantidades limites das substâncias

químicas permitidas;

• Criação de uma base de dados integrada e sistematizada dos acidentes

industriais.

Uma outra recomendação que tornaria todo o processo mais uniforme e rápido,

é a informatização e sistematização dos resultados dos EARs. Essa medida facilitaria a

análise de risco integrada e geraria resultados que refletiriam mais os cenários de risco.

Como os documentos de referência para a elaboração dos EARs são elaborados pela

esfera estadual, essa tarefa deve ficar a cargo da esfera estadual.

Uma vez que os critérios gerais tenham sido estabelecidos pela esfera nacional,

é a vez dos estados incorporarem tais normas ao seu quadro regulamentar. É importante

frisar que adequações e especificações são necessárias uma vez que as especificidades

sociais, ambientais, culturais e político-institucionais devem ser consideradas. Contudo,

essa adequação deve ser sempre igual ou mais rigorosa do que a estabelecida à nível

nacional.

Tais especificidades devem então, ser transferidas e harmonizadas na

regulamentação municipal, ou seja, o Plano Diretor Municipal deve ser revisto

considerando tais informações. É importante garantir uma atualização periódica do

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Plano Diretor para que esse possa ser utilizado pelas autoridades municipais como

ferramenta segura para o auxílio de processos de tomada de decisão sobre o

planejamento local.

Diferentes expertises são necessárias neste estágio, é desejável que se tenha

recursos humanos com: boa capacidade de analisar e interpretar o território e os

ecossistemas; capacidade de interpretar as consequências de um evento acidental sobre

os elementos vulneráveis e a ameaça potencial relacionada às substâncias utilizadas nas

atividades industriais. A criação de conselhos técnicos para apoiar os municípios pode

solucionar para essa questão.

Todo esse processo, desde a definição de critérios gerais nacionais até as

adequações específicas à nível local, deve ser altamente participativo e deve envolver,

além do setor público, o setor industrial e a sociedade civil.

O envolvimento direto do setor industrial nesse processo teria repercussões

positivas. Este deve atualizar seus estudos de analises de risco de tempos em tempos, ou

sempre que houver alguma modificação na instalação perigosa. Além de fornecer

informações, sempre que solicitado, para a elaboração do documento técnico, uma vez

que eles são os principais conhecedores das atividades e substâncias químicas

envolvidas.

A sociedade civil deve ter o direito de acesso à informação acerca dos riscos

industriais e medidas de segurança, além de poder participar do processo de tomada de

decisão para novos empreendimentos, sejam eles fontes de risco ou não.

Uma abordagem participativa garantirá uma maior validade e aceitabilidade

das novas orientações e adequações. Com uma participação mais ampla, seria garantido

um conhecimento aprofundado e atualizado sobre os elementos de pressão que estão

presentes em todo o território do município e as autoridades teriam os elementos-chave

para ler e planejar o território para um desenvolvimento e crescimento seguros todos.

De fato, é extremamente importante salvaguardar a saúde dos cidadãos e do

meio ambiente, mas também é muito importante e do interesse das comunidades locais

a sobrevivência das atividades de produção, mesmo as perigosas. É preciso então que as

autoridades locais possuam um nível de sensibilidade e capacidade de mediar

suficientes para equilibrar as demandas do setor produtivo e as do meio ambiente e

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público externo, garantindo assim que se atingirá as condições necessárias para um

desenvolvimento sustentável. (REVISADO ATE AQUI)

5.4.2. Mecanismos Legais

Como apresentado no Cap. 4, na União Europeia a implementação de uma

política de controle de ameaças industriais ampliadas envolvendo substâncias químicas

foi regulada pela Diretiva de Seveso. O Brasil ainda não possui uma legislação

específica para o tema.

Porém, apesar da inexistência de uma política específica para o tema, o país

possui políticas e outros instrumentos legais que, mais ou menos diretamente, respaldam

tal proposição de se integrar os riscos industriais ao planejamento do uso do solo.

A Lei 12.608/12 estabelece algumas diretrizes que vão de encontro com a

proposição de integração dos riscos industriais no planejamento do uso do solo ao redor

de tais áreas (BRASIL, 2012), são elas:

• Atuação articulada entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios para redução de desastres e apoio às comunidades

atingidas; e

• Priorização das ações preventivas relacionadas à minimização de

desastres;

Como visto anteriormente, existe uma importante relação entre a Lei

12.608/2012 (em vias de ser regulamentada), que instaura a Política e o Sistema

Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC e SINPDEC), e o planejamento

territorial. Dois dos objetivos da política nacional de proteção e defesa civil têm relação

direta com o Plano Diretor, a saber:

• Incorporar a redução do risco de desastre e as ações de proteção e defesa civil

entre os elementos da gestão territorial e do planejamento das políticas setoriais;

• Estimular o ordenamento da ocupação do solo urbano e rural, tendo em vista

sua conservação e a proteção da vegetação nativa, dos recursos hídricos e da

vida humana (Lei nº 12.608, Art. 5o, incisos IV e X).

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A PNPDEC abrange também ações de prevenção, mitigação, preparação,

resposta e recuperação voltadas à proteção e defesa civil, devendo integrar-se às

políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente,

mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação,

ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais, tendo em vista o desenvolvimento

sustentável (BRASIL, 2012), o que mostra a necessidade da integração entre as políticas

de ordenamento territorial com as políticas de gestão de riscos.

Segundo Ferrari (1991), o planejamento integrado deve ser tanto horizontal,

envolvendo os aspectos econômicos, sociais, físico-territoriais e institucionais da

realidade a ser planejada; como vertical, obedecendo às metas e diretrizes dos planos da

região envolvida, do Estado e da União. Quando o planejamento é realizado

observando-se esses dois sentidos de integração, diz-se que é integrado (FERRARI,

1991).

Essa conceituação de planejamento, desenvolvida nos anos 70, contempla uma

demanda atual de reintegração das ações do planejamento e é aqui resgatado pois serve

aos objetivos do debate aqui colocado: a integração entre o planejamento urbano e

regional e a gestão de risco. Verifica-se que a Lei nº 12.608/2012 promove os dois

sentidos necessários para essa integração. Em um sentido horizontal, a necessidade de

mapeamento de riscos nos municípios incluídos no cadastro nacional de municípios

com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações

bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos. Em sentido vertical com a

estruturação das entidades municipais, estaduais e federal visando a integração das

informações e dos conhecimentos relacionados a riscos.

Atualmente, a política federal sobre gestão de risco de desastres é expressa

pelo Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, lançado em

2012 pelo programa 2040 – Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, que faz parte do

Programa Mais Brasil (Plano Plurianuais de 2012-2015 e de 2016-2019). Os Planos

Plurianuais (PPA’s) estabelecem programas temáticos e estipulam objetivos, metas e

iniciativas por tema. Porém tais PPA’s não contemplam os desastres provenientes de

ameaças tecnológicas, ou seja, não comtemplam os riscos de acidentes industriais.

Nota-se, portanto, que a PNPDEC, assim como os órgãos de proteção e defesa

civil brasileiros ainda tem uma visão muito orientada aos desastres causados por

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ameaças naturais (inundações, deslizamentos, seca, etc), pois estes são os prevalecentes

no Brasil. Reafirmando a necessidade de atuação integrada e articulada com os órgãos

ambientais.

É preciso que os riscos tecnológicos provenientes de atividades industriais,

sejam considerados e tratados de maneira a garantir a segurança das populações e

ambientes naturais localizados em áreas vizinhas ás instalações fonte do risco. Os

órgãos de proteção e defesa civil, pelo seu carácter articulador deveriam se apropriar

mais dessa categoria de riscos, uma vez que seu objetivo como instituição é garantir a

segurança da população. O modelo de governança proposto para a integração dos riscos

industriais no planejamento territorial impulsiona a defesa civil no sentido dessa

apropriação.

A tendência internacional e nacional de foco na gestão do risco do desastre e

não mais apenas na gestão do desastre é outro argumento a favor de se tentar adequar a

metodologia apresentada para a realidade do país. Isso impulsionaria o país no sentindo

de tal tendência, além de auxiliar no cumprimento dos objetivos acordados no Marco de

Sendai. O Brasil, ao assinar o Marco de Sendai 2015-2030, se comprometeu a reduzir

substancialmente, em 15 anos, o risco de desastres e danos sobre vidas humanas, meios

de subsistência e saúde, ativos econômicos, físicos, sociais, culturais e ambientais

(UNITED NATIONS, 2015c).

O Plano Nacional de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a Emergências

Ambientais com Produtos Químicos Perigosos (P2R2) é um outro importante

mecanismo legal para a redução e controle dos riscos industriais. O objetivo do P2R2 é

prevenir a ocorrência de acidentes com substâncias químicas perigosas e aprimorar o

sistema de preparação e resposta a emergências químicas no país. Para isso, o plano

estabelece a criação e Comissões Nacional e Estaduais, multisetoriais para tratar do

assunto.

O P2R2 é de grande relevância para o controle dos riscos industriais, porém,

ainda não existem diretrizes claras e uma estratégia bem definida para sua

implementação. Pouca informação sobre o estágio em que o P2R2 se encontra é

disponível. De toda forma, o plano é sem dúvida um primeiro passo nacional nesse

sentido.

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É possível notar que o Brasil, já iniciou sua caminhada no sentido de se obter

uma maior segurança em relação as atividades industriais que envolvem substâncias

químicas. Contudo, o aparato legal existente não oferece meios e diretrizes suficientes

para a implementação de uma metodologia apresentada. Se faz necessário a criação de

uma lei federal (ou conjunto de leis) que regulamente a política de controle e prevenção

de acidentes industriais ampliados.

Tais leis deveriam estabelecer a adoção de requerimentos de segurança

mínimos relativos ao planejamento e uso do solo para áreas ao redor de instalações de

risco ampliado. A adoção de critérios de planejamento de uso do solo, orientados à

prevenção de riscos industriais, devem ser respaldados com decreto específico, com

diretrizes e orientações específicas.

A introdução desse arcabouço legal nacional trará mudanças em todos os níveis

de governo relacionados ao planejamento e ordenamento territorial. De posse dessa

nova legislação nacional, os estados deveriam adequar a orientação geral à sua

legislação e deveria também produzir guias estaduais específicos e oferecer suporte para

os municípios incorporarem tais orientações à sua política de ordenamento do território.

5.4.3. Governança

A inclusão dos riscos industriais no planejamento do uso do solo, por ser um

tema multidisciplinar, naturalmente, envolve diversas entidades e atores das mais

diversas áreas do conhecimento (engenharia, planejamento, sociais, etc). Para que essa

integração funcione, é preciso que cada uma dessas entidades compreenda suas

responsabilidades.

De maneira geral, a divisão de tarefas entre os níveis governamentais deve se

dar da seguinte forma:

• o nível nacional se encarrega da formulação de políticas, planos e

direcionamento gerais, assessoria e acompanhamento técnico, avaliação e

controle de todo o processo;

• o nível estadual, traz seu apoio conectando o nível nacional e o local;

• o nível local assume o planejamento e a execução das ações específicas de cada

processo e o controle e a retroalimentação no âmbito das suas competências;

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• o nível setorial combina a formulação de políticas setoriais e o assessoramento

técnico na sua aplicação.

Não cabe aqui, nem é o objetivo, apresentar todas as atribuições de cada parte

envolvida no processo. Este é um tema incipiente que deve ser amplamente discutido no

âmbito das políticas de desenvolvimento. Porém algumas indicações serão apresentadas

no intuito de se ilustrar uma viabilidade e importância de tal proposta inovadora.

De maneira geral, a ideia é fazer com que os resultados dos EARs, mais

especificamente das AQRs, cheguem ao conhecimento das autoridades municipais de

planejamento para que essas possam utiliza-los na gestão territorial das áreas adjacentes

às instalações industriais perigosas (Figura 8).

Figura 9. Quadro atual aonde não existe uma integração entre os EARs e o ordenamento territorial (elaboração própria).

Os órgãos ambientais estaduais, encarregados do processo de licenciamento de

atividades e instalações que envolvem substâncias perigosas, deveriam disponibilizar

para as autoridades municipais, todos os resultados dos EARs das instalações perigosas

presentes em sua jurisdição. Dessa forma, tais resultados poderiam ser incorporados ao

processo de planejamento territorial, garantindo que o território ao redor de instalações

perigosas teria uma gestão propícia ao desenvolvimento sustentável local.

De acordo com a legislação brasileira, os municípios como responsáveis pelo

ordenamento territorial, devem: “promover, no que couber, adequado ordenamento

territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do

solo urbano.” (Par. VIII, Art. 30 da Constituição Federal). As autoridades locais,

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deveriam inserir nos seus instrumentos de planejamento e uso do solo urbano novos

critérios para as áreas ao redor de instalações perigosas, com base em definições da

esfera nacional.

Essa orientação requer uma abordagem multidisciplinar, porém as autoridades

locais, nem sempre são preparadas para esse tipo de análise multicritério. A falta de

recursos econômicos, pessoal qualificado com habilidades técnicas são grandes entraves

para a condução desse processo. O resultado é uma subestimação da importância de um

planejamento do solo e urbano nas áreas ao redor de instalação de risco ampliado.

As esferas estadual e federal deveriam, portanto, auxiliar e sensibilizar os

municípios para que tal adequação seja implementada. As autoridades municipais

precisam ter uma instituição, entidade ou órgão que forneça aconselhamento e

orientação, como um comitê técnico ou órgão consultivo, que possam capacita-las além

de fornecer suporte na formulação de uma política de planejamento do uso do solo ao

redor de tais instalações de risco ampliado e para novas instalações.

Para que isso seja possível é preciso antes de mais nada sistematizar esse

processo e incluir uma terceira entidade que estabelecesse o elo entre os órgãos

ambientais estaduais e os municipais de planejamento.

A proposta é que um terceiro setor assuma essa interface. O perfil articulador

dos órgãos de proteção e defesa civil e o propósito da instituição em si, que é defender

civilmente os municípios, estados e União, o tornam uma entidade apta e indicada para

compor o elo entre os órgãos de meio ambiente e de planejamento territorial (Figura 9).

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Figura 10. Proposta de arranjo tripartite para a integração dos resultados dos EARs no planejamento territorial (elaboração própria).

O objetivo IV da Lei 12.608/2012 sugere que sejam desenvolvidas ações de

proteção e defesa civil entre os elementos da gestão territorial e do planejamento de

ações setoriais, respaldando tal proposta. Os órgãos de defesa civil assumiriam,

portanto, papel central na articulação e implementação dessa nova abordagem.

A Lei 12608/1212 além de tratar da Política Nacional de Proteção e Defesa

Civil, também dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC)

que deve ser composto por:

• Órgão consultivo – constituído pelo Conselho Nacional de Proteção e

Defesa Civil (CONPDEC);

• Órgão Central que coordenará o sistema – Secretaria Nacional de

Proteção e Defesa Civil (SEDEC);

• Órgãos regionais, estaduais e municipais de Proteção e Defesa Civil

• Órgãos Setoriais dos 3 âmbitos do governo.

O CONPDEC deve ser composto por representantes da União, dos estados, do

Distrito Federal, municípios e sociedade civil organizada, incluindo representantes das

comunidades atingidas por desastres, e por especialistas de notório saber. Portanto,

sugere-se que o CONPDEC, através dos órgãos estaduais e municipais de proteção e

defesa civil, assuma a responsabilidade de articulação entre os órgãos ambientais

estaduais e os de planejamento em nível municipal. O CONPDEC seria ainda

responsável por apoiar e aconselhar as autoridades municipais na implementação dessa

prática.

Os órgãos ambientais deveriam disponibilizar para os órgãos de defesa civil

todos os resultados dos estudos de análise de risco. O CONPDEC, através dos órgãos

12 A Lei 12.608/12 ainda não foi regulamentada, atualmente o decreto tramita pela SEDEC e Casa Civil.

As novas diretrizes e propostas que a Lei introduz envolvem diversas instituições e níveis setoriais, fato que torna

ainda mais complexa sua execução. Após regulamentação, com a clara definição de instrumentos e orientações,

espera-se que tanto a PNPDEC quanto o SINPDEC e o CONPDEC sejam de fato implementados e funcionem de

maneira devida.

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estaduais/municipais de defesa civil, deveria garantir que todos os resultados e análises

fossem transmitidos aos órgãos municipais de planejamento e ocupação territorial.

Seria necessário, portanto, uma sistematização e transferência dos resultados

dos estudos de análise de risco, por parte dos órgãos ambientais estaduais, para os

órgãos de proteção e defesa civil estadual e/ou municipal. Tais informações deveriam

ser padronizadas e compiladas em um banco de dados georreferenciados espacialmente

(SIG, por exemplo), facilitando análise e acesso os resultados e utiliza-los para embasar

o aconselhamento sobre os projetos de desenvolvimento em um determinado território.

O CONPDEC através do órgão de defesa civil estadual ou municipal, em

alguns casos, deve ter autoridade para solicitar estudos mais específicos, seja em termos

de design do processo, manufaturas, construção, comissionamento, operação,

manutenção ou modificações posteriores no arranjo ou operações. Além de

demonstrações que as operações procedem dentro das normas legais, padrões e códigos

de práticas, e a apresentação dos procedimentos emergenciais utilizados. Essa medida

deveria ser apoiada por uma regulamentação específica. A articulação entre os órgãos

de defesa civil e de meio ambiente deveria ser muito bem trabalhada para que essa

sistemática funcione.

Uma vez que a articulação entre o CONPDEC e os órgãos ambientais fosse

estabelecida, e com uma devida padronização e sistematização das informações sobre as

áreas de risco industriais existentes, seria necessário um segundo nível de articulação

intersetorial. O CONPDEC (órgãos estaduais e municipais de defesa civil) deveria

estabelecer uma sistemática de trabalho com as autoridades de planejamento municipal.

A defesa civil seria responsável em manter as autoridades de planejamento local

informadas sobre todas as zonas de risco (ou CDs) existentes dentro de sua jurisdição,

fornecendo apoio e aconselhamento sobre desenvolvimentos futuros no território.

Vale destacar que todos esses atores/órgãos que estão sendo mencionados são

parte do SINPDEC, o que em teoria, facilitaria a integração e comunicação dos mesmos,

porém é preciso que o SINPDEC comece de fato a atuar de forma integrada. Espera-se

que com a regulamentação da Lei 12.608/2012, sejam definidas estratégias claras para

que o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil se estruture e comece a atuar da

melhor maneira possível dentro da realidade e especificidades brasileiras.

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É importante que se tenha claro que não é necessário possuir uma gama de

expertise tão ampla para lidar com os problemas que podem surgir em caso de um

acidente ampliado. Por isso, o CONPDEC deve trabalhar de forma articulada com

demais órgãos e instituições, de forma que possa solicitar ajuda sempre que necessário.

O Quadro 9 abaixo apresenta as instituições e responsabilidades de cada uma

dentro do arranjo de governança proposto, sintetizando a ideia do

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Quadro 10. Proposta de governança (instituições e atribuições) para a integração (elaboração própria).

Nível governamental

Responsabilidades gerais Integração dos riscos industriais à gestão territorial

Órgãos / Instituições Responsabilidades específicas

Nacional • Formulação de políticas, planos e diretrizes gerais

• Assessoria e acompanhamento técnico

• Avalição e controle de todos o processo

SINPDEC – Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil

• Criação de um novo arcabouço legal • Elaboração de um documento de referência

com metodologia de planejamento e uso do solo orientado ao risco industrial

• Definição de padrão nacional de tolerabilidade de riscos industriais

• Classificação das instalações e definição das quantidades máximas de substancias tóxicas permitidas

Estadual • Apoio conectando o nível nacional e o local

Órgãos Ambientais • Adequação e melhoria dos EARs • Informatização e disponibilização dos

resultados

Local • Planejamento e execução de ações específicas de cada processo;

• Controle e retroalimentação das suas competências

Autoridades de planejamento • Adequação das normas gerais para as especificidades locais;

• Identificação das instalações perigosas e mapeamento do risco (através das zonas de perigo)

• Revisão dos Planos Diretores

Setorial • Formulação de políticas setoriais

CONPDEC – Conselho Nacional de Proteção e

• Articulação • Assessoramento e aconselhamento

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• Assessoramento técnico na sua aplicação

Defesa civil (órgãos estaduais e municipais)

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Para que tal arranjo funcione, as sugestões e demandas dos órgãos envolvidos

devem ser baseadas em premissas como: a) gerenciamento/gestão como fator

dominante; b) objetivos políticos claros; c) organizações efetivas aonde as

responsabilidades individuais estejam definidas claramente.

Todo esse processo deve ser participativo, ou seja, além de envolver todos os

níveis governamentais, deve incluir também o setor industrial e a sociedade civil. As

autoridades locais devem garantir que a população, especialmente aquela localizada ao

redor das instalações perigosas participem do processo de decisão do planejamento do

território.

5.4.4. Síntese das Recomendações

A integração dos riscos industriais no ordenamento do território adjacente a

instalações industriais perigosas é um processo complexo que depende de diversas

adequações técnicas e regulamentares. Nas seções anteriores foram apresentadas

recomendações de 3 eixos necessário à integração: mecanismos técnicos, mecanismos

legais e governança. A Figura 10 sintetiza as principais recomendações apresentadas

nos itens anteriores.

A implementação do sistema abaixo irá garantir uma maior segurança e

controle das ocupações irregulares ao redor das instalações perigosas, evitará a criação

de novas condições de vulnerabilidade e, consequentemente, reduzirá as consequências

de um possível acidente industrial ampliado.

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Figura 11. Proposta para a integração dos riscos de acidentes industriais ao planejamento territorial (elaboração própria).

6. Conclusões

O principal objetivo desse estudo foi trazer à luz a necessidade de integração

entre as políticas de gestão dos riscos industriais e de ordenamento territorial, através de

uma proposta de gestão integrada.

Inicialmente foi apresentada a evolução e surgimento da nova temática da

Gestão dos Riscos de Desastres (GRD), no intuito de mostrar a importância e

complexidade do tema, uma vez que o mesmo deve ser transversal às demais políticas

públicas. Foram apresentados os marcos internacionais e o marco normativo nacional

acerda da GRD.

Em seguida, o foco foi transposto para os grandes desastres industrias. Foram

exemplificados acidentes industriais cujas consequências ultrapassaram os limites

físicos das instalações, causando grande impacto nas populações e ambiente vizinhos à

tais instalações. A partir desses acidentes, vários países estabeleceram regulamentações

específicas para um maior controle sobre as atividades industriais. Nesse contexto, os

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estudos análises de risco (EARs), mais especificamente as análises quantitativas de risco

(AQRs) passaram a ser utilizadas nos processos de gestão pública do risco.

A AQR é uma valiosa ferramenta para estimar o risco relativos às atividades

industriais que utilizam substâncias químicas e seus resultados devem ser integrados ao

planejamento do uso do solo. Para isso é preciso que a gestão de riscos industriais seja

integrada à gestão territorial.

Contudo, no Brasil essa ferramenta apenas é utilizada no processo de

licenciamento ambiental, para auxílio à tomada de decisão sobre a concessão das

licenças ambientais. Seus resultados não chegam a ser considerados pelas autoridades

de planejamento local no ordenamento do seu território. Isso faz com que seja comum o

surgimento de cidades ao redor de instalações perigosas, o que aumentam

consideravelmente o potencial das consequências de um possível acidente.

O marco normativo da GRD no Brasil, a Lei 12.608/2012 vai trazer

importantes mudanças em relação à integração dos riscos de desastres nas demais

políticas públicas, em especial nas de planejamento territorial.

A Lei 12.608/2012 confere maior responsabilidade aos órgãos de proteção e

defesa civil, ao orienta-los a priorizar as medidas preventivas e não mais apenas a ações

de resposta e recuperação. Motivado por isso sugere-se que o CONPDEC (Conselho

Nacional de Proteção e Defesa Civil), através dos órgãos de proteção e defesa civil

assumam o papel de articuladores entre os órgãos estaduais de meio ambiente e os

órgãos locais de planejamento, garantindo que todas as informações dos EARs cheguem

ao acesso as autoridades locais e fornecendo suporte para que essas consigam incorpora-

los ao planejamento local do território de sua jurisdição.

No caso dos riscos de acidentes industriais ampliados, a principal ferramenta

para a implementação dessa técnica é a AQRs. O primeiro passo para realizar a

integração deve ser, portanto, a melhoria da ferramenta em si, através da redução de

incertezas e discrepâncias das avaliações que são utilizadas nas tomadas de decisões

públicas.

Atualmente no Brasil, apenas 4 dos 26 estados possuem documentos com

orientações especificas para a elaboração dos estudos de análise de risco. Por isso é

extremamente importante, que a esfera nacional crie normas gerais para a gestão de

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riscos de acidentes industriais, certamente auxiliaria esse processo de padronização. A

partir de normais gerais os estados/municípios poderiam especificar o conteúdo para seu

território, considerando as características locais (sociais, culturais, politicas, etc).

Todas as políticas são regidas por normas; que são regras que devem ser

respeitadas e que permitem ajustar determinadas condutas ou atividades. Seu objetivo

imediato é disciplinar o comportamento dos indivíduos ou grupos sociais. Por isto, o

conhecimento e a devida aplicação das normas de cada política são passos fundamentais

para a redução de vulnerabilidades. Em casos específicos, o desenvolvimento de normas

adicionais pode ser necessário.

Enquanto a gestão territorial brasileira não considerar as avaliações de risco o

empreendedor não conseguirá prever o risco que sua instalação irá gerar a sociedade no

futuro. Além disso, a falta de integração dessas políticas pode resultar na

impossibilidade de medidas de redução de risco, podendo resultar na inviabilidade do

empreendimento devido à ocupação indiscriminada da área vizinha.

Os principais gargalos deste processo são: vontade política e apropriação por

parte da sociedade. É preciso autoridades políticas, neste caso, municipais, exercerem a

liderança no processo de planejamento e ordenamento do território, buscarem

resoluções duradouras para os conflitos, adotarem um enfoque participativo, aplicarem

critérios territoriais para definir as estratégias orçamentarias e outros instrumentos de

gestão municipal (GTZ/PREDECAN, 2010).

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