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1 Montepuez, Peregrinação Mariana, Maio de 2013 PRIMEIRA PARTE: A FAMÍLIA, «COMUNIDADE de PAZ, ESCOLA de FE» 1 “À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade evangelizadora” (João Paulo II) A família é a única comunidade onde cada um é amado pelo que é e não pelo que tem. ”A missão educativa da família cristã é um verdadeiro ministério, através do qual é transmitido e irradiado o Evangelho, a tal ponto que toda a vida familiar se torna itinerário de fé e, em certa medida, iniciação cristã e escola de vida para seguir a Cristo” (AM 46) Tudo se faz sentir no seio das famílias, tudo aquilo que na sociedade se vive ou acontece. As famílias são um espelho da sociedade. Cada dia mais se faz sentir um ambiente sem fé, sem Deus, importa o ter e não o ser. Se a família foi outrora uma escola da fé e dos valores cristãos, hoje já não é assim. No entanto, na família se joga o futuro da fé. As perguntas importantes são estas: como podem as nossas famílias ser hoje escolas de fé? Será que há coisas que poderíamos fazer e não estamos a fazer? Como pode a comunidade cristã ajudar às famílias nesta tarefa educadora? 1. - Situação de complexidade Partimos do contexto de primeira evangelização que nos atinge fortemente. A realidade da família está condicionada pela tradição e pela cultura. O matrimonio, entendido em perspectiva cristã, define- se de modo peculiar e implica umas condições próprias. No contexto cultural e inter-religioso que vivemos é mesmo um desafio para a evangelização o estilo de vida cristão que configura um modo especial de viver a comunidade familiar. Para muitos dos nossos crentes, envolvidos em relações com crentes de outras religiões, o contrato matrimonial é um vinculo apenas sociológico e cultural, compreende-se precariamente e nele estão ausentes os valores fundamentais do amor cristão. Casamentos fazem-se e desfazem-se 1 Cfr. J. A. PAGOLA. SAL TERRAE 1997/10. Págs. 743-754

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Montepuez, Peregrinação Mariana, Maio de 2013

PRIMEIRA PARTE: A FAMÍLIA, «COMUNIDADE de PAZ, ESCOLA de FE» 1

“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade evangelizadora” (João Paulo II)

A família é a única comunidade onde cada um é amado pelo que é e não pelo que tem.

”A missão educativa da família cristã é um verdadeiro ministério, através do qual é transmitido e irradiado o Evangelho, a tal ponto que toda a vida familiar se torna itinerário de fé e, em certa medida, iniciação cristã e escola de vida para seguir a Cristo” (AM 46)

Tudo se faz sentir no seio das famílias, tudo aquilo que na sociedade se vive ou acontece. As famílias são um espelho da sociedade.

Cada dia mais se faz sentir um ambiente sem fé, sem Deus, importa o ter e não o ser. Se a família foi outrora uma escola da fé e dos valores cristãos, hoje já não é assim. No entanto, na família se joga o futuro da fé.

As perguntas importantes são estas: como podem as nossas famílias ser hoje escolas de fé? Será que há coisas que poderíamos fazer e não estamos a fazer? Como pode a comunidade cristã ajudar às famílias nesta tarefa educadora?

1. - Situação de complexidade

Partimos do contexto de primeira evangelização que nos atinge fortemente. A realidade da família está condicionada pela tradição e pela cultura. O matrimonio, entendido em perspectiva cristã, define-se de modo peculiar e implica umas condições próprias. No contexto cultural e inter-religioso que vivemos é mesmo um desafio para a evangelização o estilo de vida cristão que configura um modo especial de viver a comunidade familiar. Para muitos dos nossos crentes, envolvidos em relações com crentes de outras religiões, o contrato matrimonial é um vinculo apenas sociológico e cultural, compreende-se precariamente e nele estão ausentes os valores fundamentais do amor cristão. Casamentos fazem-se e desfazem-se mesmo com a presença de filhos, sem maior relevância ou consciência da sua importância. Embora esta situação se dê também em países desenvolvidos pela influencia da secularização, em nosso contexto acontece com elementos próprios.

Qual é a realidade das nossas famílias?

Uma vista de olhos mostra-nos uma situação variada e complexa, quase sempre determinada pelas condições sociais, culturais e econômicas que vivemos. E assim nos encontramos:

Famílias que mantém viva a sua identidade cristã, para as quais a fé é importante e contribui a consolidar o lar. São pais com sensibilidade crente, mas que não conseguem transmitir a fé aos filhos. São famílias que só precisariam encontrar na

1Cfr. J. A. PAGOLA. SAL TERRAE 1997/10. Págs. 743-754

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comunidade cristã um apoio firme e um acompanhamento, para poder fazer dos seus lares uma vivência alegre do evangelho.

Famílias que excluíram a fé dos seus lares. Pais que já não practicam, que tal vez celebraram os sacramentos (baptismo, matrimonio, eucaristia...) mas despreocuparam-se da fé porque eles próprios não a vivem. Não se importam com a educação da fé dos filhos ou até opõem-se por diferentes motivos. O que as crianças destes lares conhecem sobre a fé é pobre e não afecta à vida.

Famílias com conflictos e problemas graves que impedem uma resposta normal à fé. É difícil viver a fé e transmiti-la quando a família está desestructurada, rota, quando se vivem separações, divórcios, violências de qualquer tipo, quando o lar é um campo de batalha, quando há problemas com o álcool ou as drogas, quando se vive o problema da falta de trabalho ou quando falta o necessário para viver. Os filhos destes lares andam “perdidos”...

Famílias que sentem a pressão da própria cultura (poligamia), das outras religiões (islamismo) e acabam por abandonar a fé ou vivem ela com desleixo para não provocar problemas.

2. Actitude dos pais

Uma das questões mais importantes na educação da fé na família tem a ver com a actitude dos pais. A educação da fé na família depende desta actitude. Podemos salientar alguns aspectos:

Alguns pais vivem desde uma actitude de total despreocupação. Não se importando pela educação cristã dos filhos, pois não sentem que a fé possa ser de utilidade para eles ou simplesmente estão mais preocupados por outros interesses.

Outros pais sentem uma sensação de desorientação, sentem-se desnorteados. Não sabem como fazer nem se acham capazes de transmitir a sua fé. Estão cheios de duvidas e contradições. Mesmo aceitando a experiência religiosa nas suas vidas e pensando que pode ser boa para a família, sentem-se perdidos para actuar de algum modo.

Outros são, tal vez, algo covardes. Confessam-se cristãos, mas vivem uma fé rotineira, de cumprimento, não vivem a fé com convicção. Não abandonam abertamente, mas também não tomam ao serio o compromisso da fé. Deixaram a formação cristã há muito tempo, pressões culturais ou sociais levaram-nos a misturar a fé com outras coisas. Não se sentem capazes de assumir o compromisso de fé porque este exige cortar com essas outras coisas que sabem incompatíveis.

Outros ainda adoptam uma postura de desleixo e abandono. Pensam que a educação cristã dos filhos já se faz na paróquia, na missão, na escola e eles não se sentem responsáveis. No lar não se faz esforço por partilhar a fé.

Muitos outros pais tem consciência da sua responsabilidade. Vivem preocupados pela fé dos seus filhos, são conscientes das dificuldades embora não se sintam preparados devidamente. Estes costumam pedir ajuda, apoio, acompanhamento... Estão dispostos a fazer dos seus lares um espaço de convívio cristão e de educação na Fé.

3. As dificuldades

Ao lado das actitudes dos pais se encontram muitas dificuldades. Destas vamos salientar algumas:

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Lares rotos, desestructurados, que atravessam alguma crise grave tornam-se lugares onde a presença da fé e o seu crescimento é muito difícil (separações ou divórcios dos pais, violência domestica, abusos, falta de trabalho, carências do indispensável...)

A falta de comunicação. A vida de hoje torna-se muitas vezes agitada, dispersa, e faz difícil a comunicação no seio da família. A mesma rotina de trabalho para os pais e de escola para os filhos, ou simplesmente a necessidade que faz com que as pessoas fiquem preocupadas com outras coisas, por vezes, tornam muito difícil a comunicação. Hoje, muitos acham que assistir televisão, escutar musica muito alta, é mais importante. Sem comunicação no lar é impossível compartilhar a fé e transmiti-la.

As diferenças de critérios entre os pais e os filhos: diferenças de sensibilidade e de actitudes, por causa de modelos culturais diferentes e sistemas de valores também diferentes. Quando os filhos abandonam as crenças e as prácticas culturais dos pais, quando estes renunciam a impor as actitudes de comportamento que guiaram as suas vidas... nestas situações acaba-se por aceitar que os tempos estão a mudar e que a fé já não tem sentido.

O contexto social, cultural e religioso dificulta não apenas a vivência da fé e a transmissão da mesma, mas também a transmissão de valores importantes e bons para a vida (assim é que se perdem aos poucos as tradições, as culturas e as ideologias que foram importantes e boas)2:

o Social: quando o que preocupa são as necessidades básicas de condições sociais dignas (para muitos “na fome não tem Deus”)

o Cultural: quando as prácticas culturais de toda a vida exigem comportamentos incompatíveis com a fé

o Religioso: quando o convívio com pessoas de outras religiões não é pacífico e a própria fé se vê questionada constantemente.

A principal dificuldade é a crise de fé3. Vive-se uma fé diluída, sem formação, desleixada, também interesseira, que depende das conveniências de cada um. Vive-se uma fé da qual se pega aquilo de que se gosta, mas deixando aquilo de que não se gosta. Assim não é possível uma vivência autentica da fé nem a sua transmissão.

4. As possibilidades da família

Podemos pensar que esta situação, todo este conjunto de dificuldades, nos deixa sem saber o que fazer ou a pensar que é pouco ou nada. Muitos pais renunciam mesmo à sua tarefa educadora da fé sem conhecer as possibilidades reais do lar e antes de fazer nenhum esforço. É verdade que nas paróquias e nas comunidades cristãs quase não se faz nada pela família. Não temos consciência da importância da família como instituição decisiva para a socialização da fé (a cultura liberal individualista está a destruir a família). Devemos recuperar esta convicção na nossa tarefa evangelizadora. Para esta recuperação eis algumas coisas que devemos ter em conta:

O acolhimento da fé depende de uma experiência positiva da religião. Todas as pessoas voltam sempre para aquilo que experimentaram como bom e viveram com sentido. A família oferece às crianças esse âmbito primário de acolhimento para existir e ser pessoa, é o primeiro grupo humano com maior capacidade para criar uma

2 Margaret Mead: já não vivemos numa cultura pós-figurativa onde os filhos aprendem dos pais como estes aprenderam dos seus, já não se aprende do passado, mas do presente. A nossa cultura é con-figurativa: aprende-se dos amigos, da televisão, das modas... por vezes estamos já numa cultura pre-figurativa na qual são os pais os que aprendem dos filhos. É preciso que nos perguntemos como educar e transmitir a fé neste contexto.3 Razão pela qual o Papa Bento XVI proclama o ano da fé que estamos celebrando.

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experiência positiva, alegre, gozosa, da vida e do religioso. Nada penetra tão profundamente na intimidade de uma criança como a família, os parentes, essas pessoas das quais se depende absolutamente durante os seis ou nove primeiros anos de vida. Nenhum outro grupo humano pode competir com a família para oferecer o solo de valores num clima de afecto. É no lar que a criança percebe os valores, as coisas realmente importantes, os comportamentos e as experiências religiosas, mas sempre num âmbito de afecto, confiança, proximidade e amor. Esta experiência positiva é a que pode enraizar a fé religiosa. A criança cresce e vai sendo independente, em contacto com outras realidades e modelos, que provocam tensões e conflictos, mas se a experiência da fé foi positiva não é fácil elimina-la, menos ainda se no lar a experiência partilhada da fé continua de modo maduro, adulto e sadio. Os amigos, a rua ou a televisão tem tanta influencia porque no lar os pais desleixaram a sua fé e desde a paróquia muito pouco se faz.

Se a experiência da vida ou da fé não é positiva: se o medo, a ameaça, a violência de qualquer tipo, a falta de respeito... são a base da experiência familiar, então a experiência da fé provocará sempre esses mesmos sentimentos dos quais todas as pessoas tentamos fugir: medo, ressentimento, culpa...

Hoje faz-se necessário que os cristãos façamos dos nossos lares e comunidades, das nossas paróquias, lugares onde a experiência da fé seja positiva, especialmente para as crianças que são o futuro. Renovar o testemunho da fé passa por esta conversão do coração que acenda em nosso interior a alegria da presença de Jesus Ressuscitado.

5. Condições básicas

As comunidades cristãs e a pastoral têm de promover a educação da fé nas famílias e para isso são necessárias umas condições:

O matrimonio é sacramento do amor dos pais: é preciso que os pais se amem e que os filhos saibam que se amam. A base para criar um clima de confiança, segurança e convívio para partilhar e transmitir a fé é o amor dos pais.

O afecto para com os filhos, a atenção pessoal a cada um, a dedicação, a proximidade, o respeito... são condições básicas, pois os filhos olham para os pais e os reconhecem como modelos só se eles se sentirem amados. Os pais exercem uma função de mediação do mistério de Deus que é Pai e é Mãe quando os filhos percebem através deles a sua bondade, perdão, respeito e amor4.

Outra condição é a comunicação entre os pais e destes com os filhos. Há que se evitar o que gera desconfiança, receio, tirania, agressividade ou imposição. Há que se cuidar o convívio (controlo da rua, das saídas, da televisão, a criação de momentos de encontro) para se conhecer as influencias que os filhos estão a ter. há que integrar os filhos no lar, escuta-los em assuntos que afectam a toda a família, partilhar com eles os logros e as dificuldades, distribuir as tarefas do lar, participar dos sucessos ou dos problemas dos filhos. Não é tão importante o tempo de que se disponha para estar juntos quanto que esse tempo seja bom, em confiança, proximidade e carinho.

É importante que sejamos coerentes, entre o que dizemos e fazemos não pode haver distância. A coerência tem um valor e um peso decisivos. Esta coerência-testemunho é que convence e concede autoridade aos pais para transmitir a fé.

4 Nela (na família) aprendem a amar, enquanto são amados gratuitamente; aprendem o respeito por qualquer outra pessoa, enquanto são respeitados; aprendem a conhecer o rosto de Deus, enquanto recebem a sua primeira revelação de um pai e de uma mãe cheios de atenção. Sempre que falham estas experiências basilares, a sociedade no seu conjunto sofre violência e torna-se, por sua vez, geradora de múltiplas violências (AM 42)

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Há que se cultivar a fé partilhada no casal e com toda a família. Por vezes no lar compartilha-se de tudo menos a fé e as vivências religiosas. O individualismo dos nossos dias não ajuda muito e todos precisamos de conversão. Cada família tem de percorrer seu caminho na partilha da fé. Mas os grupos matrimoniais e a pastoral familiar têm de se comprometerem na procura de esse estilo de fé partilhada no lar (oração em família, escuta da Palavra de Deus, dialogo sobre a fé, partilha de experiências)

Nas situações em que algum dos membros da família se declara não crente, é importante orientar os cristãos que vivem em lares deste tipo. É importante respeitar profundamente, cuidar o testemunho e a coerência com as próprias convicções, evitar a polêmicas, confessar a própria fé mostrando o que cada um recebe dela, proteger por cima de tudo o amor e a pertença à própria família. Pois Deus ama, a todos sem distinção.

6. Educação da Fé no lar

Se preocupar pela formação humana, cultural e social dos filhos é algo normal. Mas a educação na fé não parece ter a mesma importância. Muitos pensam que a paróquia, a catequese paroquial, já faz o suficiente. No entanto as crianças que não encontram nos seus lares o ambiente religioso positivo para crescer dificilmente interiorizarão a fé. Se Deus não tem importância em casa, se Jesus não conta para nada no lar, a fé não arraigará. O ambiente familiar é essencial para a educação da fé.

Hoje já não serve educar a fé como se fazia antigamente, apenas como uma transmissão de ritos ou prácticas que sempre se realizaram, como uma herança do passado. Hoje é necessário aprender a ser crente, numa sociedade que já não se importa com Deus, num contexto de contacto com outras religiões e de especial dificuldade para assumir um compromisso cristão por tantos motivos. O caminho passa por uma fé pessoal, já não mais tradicional, mas fruto da decisão pessoal, vivida, não alimentada apenas de idéias ou sentimentos, mas de uma experiência verdadeira de encontro com Jesus ressuscitado (cfr Lc 24: os discípulos de Emaús). Uma fé não individualista, mas partilhada em comunidade, centralizada no essencial que pode crescer entre dúvidas e questionamentos, uma fé sem vergonha, comprometida e testemunhada na sociedade.

O importante será transmitir a experiência religiosa mais do que conteúdos ou doutrinas, ensinar a viver os valores cristãos mais do que impor normas, desenvolver a responsabilidade pessoal mais do que dictar ordens, aproximar à comunidade religiosa mais do que promover o individualismo religioso, cultivar a adesão confiada em Deus mais do que resolver todas as dúvidas.

A pastoral familiar tem de ser apoio, orientação e oferta para que os pais possam realizar sua tarefa educadora. Não serve de nada o pessimismo, ainda menos a renuncia. Se pode fazer muito. Se preocupar pelos filhos, para que recebam a educação religiosa nas paróquias, colaborar desde o lar nesta tarefa. Os pais transmitem aos filhos uma determinada imagem de Deus. Se estes forem autoritários e controladores transmitirão uma imagem de Deus temível, castigador, juiz. Se os pais forem permissivos e despreocupados transmitirão uma imagem de Deus indiferente, distante, um Deus inexistente. Mas a relação de confiança e comunicação com os pais transmitirá uma imagem de Deus muito distinta.

Uma educação autoritária conduz a uma vivencia doentia da Fé. A educação que se baseia em imposições, ameaças e castigos, é danosa. Aquele que não expõe nem orienta a sua experiência não educa na fé. O filho que interioriza a religião num ambiente de coação, ameaças e pressões abandonará mais adiante essa experiência negativa.

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Apenas aprende-se o que se faz com sentido, o que se experimenta. De nada serve rezar sem rezar, cumprir sem viver, practicar e não saber o que nem o porquê. A fé aprende-se se for vivida com alegria, pois apenas educa aquilo que se aprende com o coração. Daí a importância de partilhar a oração no lar.

Algumas sugestões podem nos servir:

Melhorar o ambiente religioso do lar. Nossos lares se tornaram muitas vezes vazios de toda presença da religião. Cuidar os domingos especialmente...

Iniciar na oração aos casais, superando falsas actitudes entre os esposos. A oração simples faz bem, alimenta a fé e pode ser base de um lar cristão. A oração pode nascer da mesma vida do lar, incluindo a acção de graças e o reconhecimento mutuo, a petição de perdão e a súplica. Oração pelos filhos que faça crescer o amor...

As comunidades cristãs têm de apoiar as famílias a encontrar o melhor modo de integrar a oração na vida. A oração com os menores é diferente à oração com os jovens e adolescentes. Há muitas possibilidades. A oração tem de ser simples mas cheia de significado: em momentos importantes da vida familiar, nos aniversários, no começo do ano lectivo, quando houver alguém doente, ao terminar os estudos, aos domingos... antes do descanso todos os dias, uns instantes para partilhar como é que foi o dia, dar graças a Deus e rezar juntos muito devagar o Pai nosso, invocar a Maria, desejar um bom descanso para todos... não seria tão difícil.

7. Catequese Familiar nas Paróquias.

A catequese familiar nas paróquias é uma disciplina ausente. Esta catequese é a tarefa educadora dos pais na família para despertar a Fe. Esta catequese deve acompanhar às outras e seus objectivos seriam: o despertar religioso, a iniciação na oração pessoal e comunitária, a educação da consciência moral, a iniciação no sentido do amor, do trabalho, do convívio e do compromisso no mundo desde a perspectiva cristã.

As dificuldades que salientamos tornam muito difícil esta catequese. Mas as paróquias podem organizar um programa a ser conduzido desde a paróquia: preparação dos pais, contacto permanente com eles, encontros entre pais e catequistas, com os filhos. Aproveitar os sacramentos de iniciação cristã para iniciar processos familiares é absolutamente necessário. Assim, desde as paróquias pode-se também acompanhar as crianças pertencentes às famílias afastadas da fé ou desestructuradas...

A colaboração entre a família e a comunidade paroquial é uma tarefa que temos de empreender com esforço e com alegria, dela depende o futuro da fé na sociedade.

SEGUNDA PARTE: MISSÃO DA FAMILIA – IGREJA DOMESTICA.

1. Missão

O Documento da Conferência de Santo Domingo (cf. n. 214) apresenta a identidade e a missão da família através de quatro aspectos:

a) A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas chamadas a testemunhar a unidade por toda a vida (valor unitivo).

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b) Ser santuário da vida, serva da vida, conservando o direito à vida como a base de todos os direitos humanos (valor procriativo). Nela deve-se transmitir e educar para os valores autenticamente humanos e cristãos.

c) Ser ‘célula primeira e vital da sociedade’. Por natureza e vocação, a família deve ser promotora do desenvolvimento, protagonista de uma nova cultura que valorize a família.

d) Ser ‘Igreja doméstica’ que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus. Lugar privilegiado para “fazer catequese”, aprofundando e dando razões para a fé, na vivência do discipulado de Jesus.

A família cristã tem a missão de gerar os filhos para Deus, dando-lhes uma formação espiritual integral, educando-os, formando-os e transmitindo-lhes ensinamentos baseados nos valores humanos e evangélicos. O ambiente familiar é chamado a ser primeira comunidade onde os pais ensinam desde a tenra idade de seus filhos o reconhecimento da presença de Deus e a experiência da oração: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei ali no meio deles” (Mt 18,20). Ela é chamada a ser uma verdadeira Igreja-doméstica, no dizer do Concílio Vaticano II, cujo cinquentenário estamos por celebrar.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a família cristã constitui uma revelação e uma realização específica da comunhão eclesial; por esse motivo [...], há de ser designada como uma igreja doméstica” (Catecismo, 2204). Uma das missões da família na sociedade é sinalizar para todos a dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. A família cristã tem ainda a missão de fazer das paróquias, das dioceses, de cada cidade, do mundo inteiro, verdadeira comunidade de irmãos e irmãs, testemunhando como a força do amor pode tudo transformar, romper barreiras que separam as pessoas, buscando a vida de perfeita comunhão com Deus.

Na família, cada um é chamado a tornar-se responsável pelos outros. Ela é o primeiro lugar onde somos tratados pela nossa identidade pessoal, pelo que somos, não pelo que fazemos, pelo que temos, ou pela beleza física. É nesta célula da sociedade que também nos é passado o valor da hospitalidade cristã, recebendo a quem nos visita como irmão, levando-nos a reconhecer que há outras famílias e outras pessoas que precisam de nós: os pobres, as crianças, os idosos, os doentes, “A família é a comunidade em que, desde a infância, pode-se aprender os valores morais, começar a honrar a Deus e a fazer bom uso da liberdade. A vida da família é iniciação à vida em sociedade” (Catecismo, 2207).

Importantíssima e insubstituível para a formação da pessoa, a família há de ser valorizada e defendida por todos. Onde falta família, falta muita coisa para a consolidação da personalidade daquele novo indivíduo. Nela aprendemos a nos importar com os semelhantes, a conviver com diferentes personalidades e a estabelecer vínculos e afetos entre as gerações. No seio da família a criança tem chances de fazer a experiência da partilha quando, por exemplo, aprende a dividir roupas e brinquedos com os irmãos; aprende a ser sóbrio, não desperdiçando a comida; têm-se as primeiras lições para o desenvolvimento dos valores humanos e cristãos.

A família continua sendo muito importante para os planos de Deus. Ela é uma instituição divina, sonhada por Deus e fruto da sua benigna vontade. Ela não pode ficar desacreditada. Ela é dom de Deus, por isso merece todo o nosso empenho e todo o nosso amor. Se a catequese não zela pela família, como vai cuidar pastoralmente dos seus catequizandos? E se as famílias não se interessam pela catequese, que futuro poderão dar a seus filhos no caminho da justiça e da fé?

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O papa João Paulo II, na encíclica Familiaris Consortio, dirige algumas palavras significativas que servem de horizonte para a missão da catequese: “Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, e por fim, forma eminente de amor à família cristã, de hoje, muitas vezes tomada por desconfortos e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça na missão que Deus lhe confiou”.

15ª Semana Catequética

Forania São MiguelSantos Dumont – MG / Agosto de 2011

SEMANA CATEQUÉTICA

15 anos

 Família, primeira Igreja, berço da catequesePe João Paulo Teixeira Dias

“A Igreja é a nossa casa, está é a nossa casa!” (DAp, 261).

“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé, torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II)

Como educar na fé, hoje? Um pouco da história... 

- a família e a catequese devem educar para os valores essenciais da vida;

- educar para a verdade, o amor, a justiça, para a vida sexual etc;

- no AT a Família transmitia e tornava presente a eleição, a aliança e a tradição viva;

- o pai tinha função sacerdotal, profética e educativa da família;

- no NT ela deve ser um itinerário de fé, lugar próprio da catequese;

- Jesus fala de outro tipo de família, que surge da fé (Mt 12, 46-50);

- Paulo identifica a família com a Igreja (Ef 5, 31-32);

- além de ser itinerário de fé, a família é escola para seguir Cristo (FC 39);

- Puebla recorda a família como lugar privilegiado da catequese (DP 640);

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- a catequese na família é a educação cristã mais testemunhada do que ensinada;

- ela é mais criadora de hábitos cristãos do que doutrinação e sistematização;

- é escola do mais rico humanismo, das virtudes sociais e cristãs;

- mas pesa sobre ela a idolatria da subjetividade com ênfase na privacidade;

- a catequese deve despertar a família para a vida de comunidade; ... 

- A FAMÍLIA: é o berço da fé, o qual deve favorecer o desabrochar das dimensões da vida cristã.

- A CATEQUESE: desenvolve a fé inicial do batismo até à maturidade, cuja medida é Cristo. 

Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo, individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).

O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se desenvolveram tanto que acabam passando por cima dos princípios da ética e da religião. E quem acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica num beco sem saída. Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje?

Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar:

• Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão.

• Ausência dos pais na educação de seus filhos.

• Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos.

• Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação.

• O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato conjugal.

• Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados.

• Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por trocar os parceiros.

• Número crescente de divórcios.

• Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a prática do aborto.

• Instauração de uma mentalidade contraceptiva. 

O que nos fala o DAp:

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Apesar dos aspectos positivos que nos alegram na esperança, observamos sombras, entre as quais mencionamos as seguintes: DAp, §  100 

d) Na evangelização, na catequese e, em geral, na pastoral, persistem também linguagens pouco significativas para a cultura atual e em particular, para os jovens. Muitas vezes as linguagens utilizadas parecem não levar em consideração a mutação dos códigos existencialmente relevantes nas sociedades influenciadas pela pós-modernidade e marcadas por um amplo pluralismo social e cultural. As mudanças culturais dificultam a transmissão da Fé por parte da família e da sociedade. Frente a isso, não se vê uma presença importante da Igreja na geração de cultura, de modo especial no mundo universitário e nos meios de comunicação.

e) O número insuficiente de sacerdotes e sua não equitativa distribuição impossibilitam que muitíssimas comunidades possam participar regularmente na celebração da Eucaristia. Recordando que a Eucaristia faz à Igreja, preocupa-nos a situação de milhares destas comunidades privadas da Eucaristia dominical por longos períodos de tempo. A isto se acrescenta a relativa escassez de vocações ao ministério e à vida consagrada. Falta espírito missionário em membros do clero, inclusive em sua formação. Muitos católicos vivem e morrem sem assistência da Igreja, à qual pertencem pelo batismo. Enfrentam-se dificuldades para assumir a sustentação econômica das estruturas pastorais. Falta solidariedade na comunhão de bens no interior das igrejas locais e entre elas. Em muitas das nossas Igrejas locais não se assume suficientemente a pastoral penitenciária, nem a pastoral de menores infratores e em situações de risco. É insuficiente o acompanhamento pastoral para os migrantes e itinerantes. Alguns movimentos eclesiais nem sempre se integram adequadamente na pastoral paroquial e diocesana; por sua vez, algumas estruturas eclesiais não são suficientemente abertas para acolhê-los.

f) Nas últimas décadas vemos com preocupação, por um lado, que numerosas pessoas perdem o sentido transcendental de suas vidas e abandonam as práticas religiosas e, por outro lado, que um número significativo de católicos estão abandonando a Igreja para entrar em outros grupos religiosos. Ainda que este seja um problema real em todos os países latino-americanos e caribenhos, não existe homogeneidade no que se refere a suas dimensões e sua diversidade.

g) Dentro do novo pluralismo religioso em nosso continente, não se tem diferenciado suficientemente os cristãos que pertencem a outras igrejas ou comunidades eclesiais, tanto por sua doutrina como por suas atitudes, dos que fazem parte da grande diversidade de grupos cristãos (inclusive pseudo-cristãos) que se tem instalado entre nós. Isto porque não é adequado englobar a todos em uma só categoria de análise. Muitas vezes não é fácil o diálogo ecumênico com grupos cristãos que atacam a Igreja Católica com insistência.

h) Reconhecemos que, ocasionalmente, alguns católicos tem se afastado do Evangelho, que requer um estilo de vida mais simples, austero e solidário, mais fiel à verdade e à caridade, como também nos tem faltado valentia, persistência e docilidade à graça de prosseguir, fiel à Igreja de sempre, a renovação iniciada pelo Concílio Vaticano II, impulsionada pelas Conferências Gerais anteriores, e para assegurar o rosto latinoamericano e caribenho de nossa Igreja. Reconhecemo-nos como comunidade de pobres pecadores, mendicantes da misericórdia de Deus, congregada, reconciliada, unida e enviada pela força da Ressurreição de seu Filho e a graça de conversão do Espírito Santo.

Luzes e esperanças para a família do século XXI 

Nem tudo são só espinhos e sombras. Temos presente em nossa realidade familiar luzes que nos dão muitas esperanças:

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- Cresceu a consciência da liberdade pessoal e maior atenção à qualidade das relações interpessoais no matrimônio.

- A promoção da dignidade da mulher.

- Maior atenção na educação dos filhos no exercício da paternidade e maternidade responsável.

- Maior união da família nas relações de ajuda, nos momentos de necessidade.

- Descoberta da importância da família e sua missão na Igreja e na sociedade.

O que o DAp nos diz:

114. Proclamamos com alegria o valor da família na América Latina e no Caribe. O Papa Bento XVI afirma que a família, “patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos e caribenhos. Ela tem sido e é escola da fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e se acolhe generosa e responsavelmente... A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação de seus filhos”49.

115. Agradecemos a Cristo que nos revela que “Deus é amor e vive em si mesmo um mistério pessoal de amor”50 e, optando por viver em família em meio a nós, eleva-a à dignidade de ‘Igreja Doméstica’.

116. Bendizemos a Deus por haver criado o ser humano, homem e mulher, ainda que hoje se queira confundir esta verdade: “Criou Deus os seres humanos a sua imagem; a imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou” (Gn 1,27). Pertence à natureza humana que o homem e a mulher busquem um no outro sua reciprocidade e complementaridade51.

117.O fato de sermos amados por Deus enche-nos de alegria. O amor humano encontra sua plenitude quando participa do amor divino, do amor de Jesus que se entrega solidariamente por nós em seu amor pleno até o fim (cf. Jo 13,1; 15,9). O amor conjugal é a doação recíproca entre um homem e uma mulher, os esposos: é fiel e exclusivo até a morte e fecundo, aberto á vida e á educação dos filhos, assemelhando-se ao amor fecundo da Santíssima Trindade52. O amor conjugal é assumido no Sacramento do Matrimônio para significar a união de Cristo com sua Igreja. Por isso, na graça de Jesus Cristo ele encontra sua purificação, alimento e plenitude ( Ef 5,23-33).

118. No seio de uma família, a pessoa descobre os motivos e o caminho para pertencer á família de Deus. Dela, recebemos a vida que é a primeira experiência do amor e da fé. O grande tesouro da educação dos filhos na fé consiste na experiência de uma vida familiar que recebe a fé, conserva-a, celebra-a, transmite-a e dá testemunha dela. Os pais devem tomar nova consciência de sua alegre e irrenunciável responsabilidade na formação integral de seus filhos.

119. Deus ama nossas famílias, apesar de tantas feridas e divisões. A presença invocada de Cristo através da oração em família nos ajuda a superar os problemas, a curar as feridas e abre caminhos de esperança. Muitos vazios de lar podem ser atenuados através de serviços prestados pela comunidade eclesial, família de famílias.

O que nos fala o Sínodo:

O sínodo indicou que o principal para a Igreja de Juiz de Fora, no momento, é não perder o elã missionário, para evangelizar, ou re-evangelizar a cidade e o campo, os ambientes e as pessoas, com atenção especial aos jovens e à família.

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Diante do crescimento de numerosas propostas religiosas nos dias atuais, dos mais variados tipos, algumas mais próximas de nós, outras contraditórias ou até agressivas a Cristo, somos chamados pelo Sínodo a ir atrás dos que não estão ainda integrados na vida comunitária, ir em busca dos desanimados e decepcionados, para que reencontrem o Cristo que anunciamos.

Missão: eis a proposta central do Sínodo.

Tanto a família quanto a catequese tem uma missão em comum: educar para o Amor, transmitindo valores humanos e cristãos. Diante das ameaças do mundo capitalista, é preciso não perder a esperança e abrir-se ao diálogo, revendo nossos métodos para educar os filhos no lar.

O Papa Paulo VI, em seu documento Evangelização no mundo contemporâneo (n. 71) oferece uma catequese ao tratar sobre a família como centro de irradiação do Evangelho. Vamos refletir alguns aspectos importantes para a família na educação da fé:

- No conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de pôr em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a bela designação aprovada pelo II Concílio do Vaticano: ‘Igreja doméstica’. Isso quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira. Por outras palavras, a família, como a Igreja, tem por dever ser um espaço onde o Evangelho é transmitido e donde o Evangelho irradia.

- No seio de uma família que tem consciência desta missão, todos os membros da mesma família evangelizam e são evangelizados. Os pais, não somente comunicam aos filhos o Evangelho, mas podem receber deles o mesmo Evangelho profundamente vivido. E ‘uma família assim torna-se evangelizadora de muitas outras famílias e do meio ambiente em que ela se insere’.

-  A futura evangelização depende em grande parte da Igreja doméstica. Esta missão apostólica da família tem as suas raízes no batismo e recebe da graça sacramental do matrimônio uma nova força para transmitir a fé, para santificar e transformar a sociedade atual segundo o desígnio de Deus.

- A família cristã, sobretudo hoje, tem uma especial vocação para ser testemunha da aliança pascal de Cristo, mediante a irradiação constante da alegria do amor e da certeza da esperança, da qual deve tornar-se reflexo: ‘A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentes do Reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada.’

- O mistério de evangelização dos pais cristãos é original e insubstituível: assume as conotações típicas da vida familiar, entrelaçada como deveria ser com o amor, com a simplicidade, com o sentido do concreto e com o testemunho do quotidiano.

- A família deve formar os filhos para a vida, de modo que cada um realize plenamente o seu dever segundo a vocação recebida de Deus. De fato, a família que está aberta aos valores do transcendente, que serve os irmãos na alegria, que realiza com generosa fidelidade os seus deveres e tem consciência da sua participação cotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo, torna-se o primeiro e o melhor seminário da vocação à vida consagrada ao Reino de Deus.

O Documento da Conferência de Santo Domingo (cf. n. 214) apresenta a identidade e a missão da família através de quatro aspectos:

a) A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas chamadas a testemunhar a unidade por toda a vida (valor unitivo).

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b) Ser santuário da vida, serva da vida, conservando o direito à vida como a base de todos os direitos humanos (valor procriativo). Nela deve-se transmitir e educar para os valores autenticamente humanos e cristãos.

c) Ser ‘célula primeira e vital da sociedade’. Por natureza e vocação, a família deve ser promotora do desenvolvimento, protagonista de uma nova cultura que valorize a família.

d) Ser ‘Igreja doméstica’ que acolhe, vive, celebra e anuncia a Palavra de Deus. Lugar privilegiado para “fazer catequese”, aprofundando e dando razões para a fé, na vivência do discipulado de Jesus.

A Conferência de Santo Domingo propôs como uma das linhas pastorais para a família:

“Fortalecer a vida da Igreja e da sociedade a partir da família: enriquecê-la a partir da catequese familiar, a oração no lar, a Eucaristia, a participação no Sacramento da Reconciliação, o conhecimento da Palavra de Deus, para ser fermento na Igreja e na sociedade.” (Santo Domingo, n. 225).

A Família é o melhor espaço para formar e orientar os filhos rumo a uma vida verdadeiramente humana, cristã e feliz.

Quanto maior for a nossa formação humana e cristã, melhores condições temos para transmitir às nossas crianças e adolescentes o interesse pela descoberta das riquezas da fé. E o gosto de, juntos saborearmos as maravilhas do amor de Deus para conosco, e de Lhe correspondermos com o nosso amor filial.

A família encontra hoje não poucos obstáculos, sobretudo neste “momento histórico em que ela é vítima de muitas forças que buscam destruí-la ou deformá-la” (Santo Domingo, n. 210).

 Deste modo, a catequese precisa conhecer algumas pistas de ação para ajudar a família a encontrar a sua missão:

a) Conhecer as diversas situações e a realidade de cada catequizando.

b) Conscientizar as famílias para participação mais ativa na Igreja, como incentivo e testemunho para os seus filhos que estão caminhando na catequese.

c) Por meio de ações conjuntas com a Pastoral Familiar, oferecer esclarecimentos e possibilidades de regularização às famílias em situações irregulares (especialmente aos amasiados que não têm impedimentos para casar na Igreja).

d) Não discriminar as famílias e crianças e não abandoná-las por motivo algum. Acolher a todos, sem distinção, independentemente de suas opções.

e) Oferecer às famílias em dificuldades apoio e orientação, no diálogo.

f) Aos casais separados, prestar apoio e acolhida, com especial atenção aos seus filhos.

g) Distinguir entre o mal e a pessoa. No dizer do papa Paulo VI: “Jesus foi intransigente para com o mal, porém misericordioso para com as pessoas”.

h) Distinguir com perspicácia as famílias que procuram a Igreja não muito bem intencionada, querendo dar um jeitinho para receber os sacramentos sem a devida preparação.

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i) As situações delicadas que aparecem na catequese, levar ao conhecimento do padre para descobrirem juntos as possíveis soluções. Depois de averiguar os casos, dar os encaminhamentos necessários, baseando sempre na verdade e na caridade.

            O que nos fala o Sínodo:

I - Horizonte Missionário

Família e Vida

1. Introdução

A família é a primeira e a mais importante escola da vida. É o lugar onde se faz a primeira experiência de amar e ser amado. Ela é a primeira escola da fé em Jesus Cristo, onde se aprendem as virtudes teologais, além de assimilar os valores humanos e sociais.

Depois de ter criado todas as outras coisas, Deus criou o homem e a mulher e viu que isso era muito bom. A família não é invenção humana. Ela é a criação do próprio Deus, sonhada desde toda a eternidade, desde o início da criação do mundo: “Deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne” (Gn 2,24). “Crescei, sede fecundos, multiplicai, povoai a terra” (Gn 1,22).

A família nasce de uma opção e depende de um projeto, em constante realização. De fato, ela existirá a partir do momento em que um homem e uma mulher, com maturidade para se darem em matrimônio, decidirem viver juntos, criando um jeito novo de habitar o mundo, constituindo uma nova teia de relações, uma nova família, onde nascerão os filhos, que se incorporarão ao projeto de vida idealizado por seus pais. É na família que os filhos desenvolverão sua personalidade. Nela crescerão, encontrarão o sentido de sua existência e amadurecerão na segurança, até que um dia também eles partirão para realizar seu próprio projeto.

Ao definir a família como um núcleo de convivência, como comunidade, como célula mãe da sociedade, quando a analisamos ou defendemos os seus direitos, nos referimos a uma realidade bem definida, que está presente no cotidiano e na existência de muitos e que desempenha um papel concreto na vida das pessoas e da sociedade. No entanto, quando penetramos no interior das diferentes famílias, deixando de lado as teorias e descendo ao palco da própria vida, observamos que ela é uma realidade dinâmica, em constante evolução. Percebemos ainda que cada família é um mundo à parte,com propostas e jeitos próprios que não se repetem. É neste contexto que os planos de Deus tomam forma e são dados ao homem e à mulher em forma de semente, para que sejam levados à plenitude, segundo suas possibilidades e realidades.

Na família, os filhos deverão encontrar o dom da fé, ou seja, o primeiro anúncio sobre Deus e seu plano criador e salvador.

2. Missão da Família

A família cristã tem a missão de gerar os filhos para Deus, dando-lhes uma formação espiritual integral, educando-os, formando-os e transmitindo-lhes ensinamentos baseados nos valores humanos e evangélicos. O ambiente familiar é chamado a ser primeira comunidade onde os pais ensinam desde a tenra idade de seus filhos o reconhecimento da presença de Deus e a experiência da oração: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei ali no meio deles” (Mt 18,20). Ela é chamada a

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ser uma verdadeira Igreja-doméstica, no dizer do Concílio Vaticano II, cujo cinqüentenário estamos por celebrar.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a família cristã constitui uma revelação e uma realização específica da comunhão eclesial; por esse motivo [...], há de ser designada como uma igreja doméstica” (Catecismo, 2204). Uma das missões da família na sociedade é sinalizar para todos a dignidade do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus. A família cristã tem ainda a missão de fazer das paróquias, das dioceses, de cada cidade, do mundo inteiro, verdadeira comunidade de irmãos e irmãs, testemunhando como a força do amor pode tudo transformar, romper barreiras que separam as pessoas, buscando a vida de perfeita comunhão com Deus.

Na família, cada um é chamado a tornar-se responsável pelos outros. Ela é o primeiro lugar onde somos tratados pela nossa identidade pessoal, pelo que somos, não pelo que fazemos, pelo que temos, ou pela beleza física. É nesta célula da sociedade que também nos é passado o valor da hospitalidade cristã, recebendo a quem nos visita como irmão, levando-nos a reconhecer que há outras famílias e outras pessoas que precisam de nós: os pobres, as crianças, os idosos, os doentes, “A família é a comunidade em que, desde a infância, pode-se aprender os valores morais, começar a honrar a Deus e a fazer bom uso da liberdade. A vida da família é iniciação à vida em sociedade” (Catecismo, 2207).

Importantíssima e insubstituível para a formação da pessoa, a família há de ser valorizada e defendida por todos. Onde falta família, falta muita coisa para a consolidação da personalidade daquele novo indivíduo. Nela aprendemos a nos importar com os semelhantes, a conviver com diferentes personalidades e a estabelecer vínculos e afetos entre as gerações. No seio da família a criança tem chances de fazer a experiência da partilha quando, por exemplo, aprende a dividir roupas e brinquedos com os irmãos; aprende a ser sóbrio, não desperdiçando a comida; têm-se as primeiras lições para o desenvolvimento dos valores humanos e cristãos.

A família continua sendo muito importante para os planos de Deus. Ela é uma instituição divina, sonhada por Deus e fruto da sua benigna vontade. Ela não pode ficar desacreditada. Ela é dom de Deus, por isso merece todo o nosso empenho e todo o nosso amor. Se a catequese não zela pela família, como vai cuidar pastoralmente dos seus catequizandos? E se as famílias não se interessam pela catequese, que futuro poderão dar a seus filhos no caminho da justiça e da fé?

O papa João Paulo II, na encíclica Familiaris Consortio, dirige algumas palavras significativas que servem de horizonte para a missão da catequese: “Amar a família significa saber estimar os seus valores e possibilidades, promovendo-os sempre. Amar a família significa descobrir os perigos e males que a ameaçam, para poder superá-los. Amar a família significa empenhar-se em criar um ambiente favorável ao seu desenvolvimento, e por fim, forma eminente de amor à família cristã, de hoje, muitas vezes tomada por desconfortos e angustiada por crescentes dificuldades, é dar-lhe novamente razões de confiança em si mesma, nas riquezas próprias que lhe advém da natureza e da graça na missão que Deus lhe confiou”.

O que nos fala o Sínodo:

3. A Família de Jesus

Deus enviou o seu único Filho, Jesus Cristo, para nascer no seio de uma família, a Sagrada Família de Nazaré. Jesus deu continuidade ao projeto de Deus Pai, priorizando a família, tanto que a sua existência na terra foi marcada por situações de convívio familiar. A exemplo disto, podemos mencionar o milagre nas Bodas de Caná e as várias visitas que Ele fez às famílias amigas ou desconhecidas. Ele hospedou-se na casa de Pedro e ali curou a sogra dele. Ele visitou Lázaro e suas

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irmãs, Zaqueu e sua família, Mateus, o publicano. Jesus não teve restrições contra Zaqueu, que era tido como um ladrão. Antes, Jesus quis se hospedar naquela casa; Mateus, Levi, era um cobrador de impostos, tido como alguém que desviava recursos para o próprio bolso. Também lá Jesus fez questão de ir.

Jesus era assim, resgatava as pessoas e reconstruía a unidade daquelas pessoas e, consequentemente, de suas famílias.

A Igreja é a grande família de Jesus. Ela sente-se desafiada a continuar a missão de Jesus Cristo, sobretudo pelo anúncio do Reino que pede o acolhimento das pessoas que vêm ao encontro do Senhor por ocasião das celebrações eucarísticas, das festas religiosas e dos serviços pastorais. É tarefa de todos os membros da comunidade de fé, discípulos-missionários, acolher como Jesus acolhia.

A família, para cumprir a obra de Jesus, é chamada a ser comunidade geradora de vocações, sobretudo as vocações sacerdotais, religiosas e missionárias.

3. A família é o berço da fé.

Há um provérbio chinês que dizia: “Quem embala um berço, está embalando o futuro do mundo”. Quem cultiva a educação cristã de uma criança, desde o seu berço, desde sua infância, está promovendo a formação dos homens e mulheres que irão renovar o mundo.

Havia uma família de cristãos que vivia na Polônia e procurava educar seus dois filhos na fé. Numa situação, a mãe morreu prematuramente e o pai ficou com a responsabilidade de criar e educar na fé os filhos, sobretudo o mais novo, após a morte do filho mais velho. O berço da educação religiosa para o filho foi decisivo, pois mais tarde este menino se tornou papa da Igreja, João Paulo II. Graças às orientações que embalaram o berço da sua fé, ele pode mais tarde embalar o mundo inteiro com palavras de paz.

O que nos fala o DAp:

A família, primeira escola da fé.

302. A família, “patrimônio da humanidade”, constitui um dos tesouros mais valiosos dos povos latinoamericanos. Ela tem sido e é o lugar e escola de comunhão, fonte de valores humanos e cívicos, lar no qual a vida humana nasce e se acolhe generosa e responsavelmente. Para que a família seja “escola de fé” e possa ajudar os pais a serem os primeiros catequistas de seus filhos, a pastoral familiar deve oferecer espaços de formação, materiais catequéticos, momentos celebrativos, que lhes permitam cumprir sua missão educativa. A família é chamada a introduzir os filhos no caminho da iniciação cristã. A família, pequena Igreja, deve ser, junto com a Paróquia, o primeiro lugar para a iniciação cristã das crianças172. Ela oferece aos filhos um sentido cristão de existência e os acompanha na elaboração de seu projeto de vida, como discípulos missionários.

303. É, além disso, um dever dos pais, através especialmente através de seu exemplo de vida, a educação dos filhos para o amor com dom de si mesmos e a ajuda que eles prestam para descobrir sua vocação de serviço, seja na vida laica como na vida consagrada. Deste modo, opera-se a formação dos filhos como discípulos de Jesus Cristo, nas experiências da vida diária na família cristã. Os filhos têm o direito de poder contar com o pai e a mãe para que cuidem deles e os acompanhem até a plenitude de vida. A “catequese familiar”, implementada de diversas maneiras, tem-se revelado como uma ajuda eficiente à unidade das famílias, oferecendo, além disso, uma possibilidade eficiente de formar os pais de família, os jovens e as crianças, para que sejam testemunhas firmes da fé em suas respectivas comunidades.

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Na Albânia, dominada por um consumismo cruel, um lar corajoso conservou a fé e embalou de modo cristão o berço da pequenina Agnes. Sua educação religiosa foi tão bela, que esta menina, agora já adulta, foi para um grande país, a Índia e revelou pelo exemplo e testemunho, a beleza da fé cristã e do seguimento de Jesus, como caminho, verdade e vida. Seu trabalho foi respeitado no mundo inteiro e o seu nome ficou gravado como o grande nome da solidariedade cristã, Madre Teresa de Calcutá. Ela catequizou o mundo inteiro para a prática da caridade e para a promoção da paz no mundo.

A família perde em qualidade quando não conta com a valiosa ajuda da catequese na educação da fé de crianças, jovens e adultos. E a catequese não pode realizar um trabalho fecundo se não contar com o apoio e a atenção da família. Hoje, verifica-se na realidade pastoral da Igreja que é praticamente impossível imaginar uma catequese com jovens, adolescentes e crianças sem um trabalho específico com os pais. Para ampliar a presença da catequese nas famílias, é preciso, então, envolver a família através de reuniões, celebrações e confraternizações, visitas às famílias, encontros nas casas dos catequizandos e outras iniciativas que possam colaborar no cultivo de valores e da responsabilidade da família na iniciação cristã de seus filhos.

Como salienta o Catecismo da Igreja Católica (cf. CIC 2221): “É urgentíssimo ajudar a família a recuperar a beleza original da sua vocação matrimonial, querida por Deus. Pois, o papel dos pais na educação é tão importante que é quase impossível substituí-los. O direito e o dever da educação são primordiais e inalienáveis para os pais”. A fé não começa na catequese, mas na família.

Muitos acham que a catequese é só para os sacramentos. Esta visão é muito reducionista. Também não se pode divorciar a catequese dos sacramentos. A catequese está profundamente ligada à ação litúrgica e sacramental da Igreja. Contudo, a celebração dos sacramentos sem uma preparação séria (Catequese), não tem sentido algum. Sem a catequese os sacramentos se reduzem a um mero ritualismo, o qual não será capaz de nos transformar, dar vida e felicidade e fazer de nós autênticos cristãos.

O que nos fala o Sínodo:

4. Realidade das Famílias e a Ação Missionária da Igreja

Na história, a família passou por diversas configurações (algumas ainda conservam traços do passado na sua identidade) que resultaram no que podemos chamar hoje de “família moderna”. Na família de nossos tempos entrecruzam-se valores e contra valores.

O que vivenciamos hoje é o perigo do relativismo radical da ética humana que desconhece a importância essencial e fundamental da pessoa humana. De modo contraditório, as pessoas querem conduzir suas vidas com total liberdade, sem se importar com os códigos de conduta em sociedade, tão importantes para a prática do respeito pelo outro. Pretende-se apresentar que a sexualidade é apenas questão de escolha e de construção, podendo-se optar e legitimar condutas e comportamentos contrários ao Plano de Deus e, por isso mesmo, ofensivos à lei natural. O ser humano é hoje apresentado como um indivíduo em busca de liberdade. Isto em si é legítimo e positivo. Neste quadro surge a tendência de propor uma liberdade absoluta que permitiria ao ser humano decidir exclusivamente por si mesmo o que é certo ou errado, não levando em consideração outras  instâncias de formação ética e moral. Quanto à composição da família, divulga-se, até mesmo, a possibilidade de reinvenção desta com outros arranjos que não aquele da unidade indissolúvel entre homem e mulher.

Em uma sociedade com tantos desafios, cabe à família cristã a recuperação do direito de educar os filhos conforme as suas crenças e valores, não abrindo mão da visão correta do ser humano. Como disse o Papa Bento XVI, “A família encontra-se no meio de uma tempestade”. Então, a ação evangelizadora da Igreja deve ser firmemente direcionada para o cuidado da família, pois “(...) o futuro

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da humanidade passa através da família” (Familiaris Consortio). Uma sociedade mais solidária e justa depende diretamente de famílias construídas sobre a “rocha” dos valores humanos e cristãos.

Por sua função social, a família tem o direito de ser reconhecida na própria identidade e não ser confundida com outras formas de convivência. Ela não pode omitir-se na promoção da identidade e dos direitos de família segundo os valores do Evangelho e da Igreja: “(...) a salvação da pessoa e da sociedade humana está intimamente ligada à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (Gaudium et spes, n. 47).

A união das famílias forma a comunidade paroquial, gerando comunhão e participação, discípulos e missionários. É importante recordar que “pertence ao Bispo fazer com que sejam sustentados e defendidos os valores do matrimônio na  sociedade civil, através de justas decisões políticas e econômicas.

Depois, no âmbito da comunidade cristã, não deixará de encorajar a preparação dos noivos para o matrimônio, o acompanhamento dos jovens casais e a formação de grupos de famílias que apoiem a pastoral familiar e, não menos importante, sejam capazes de ajudar as famílias em dificuldade” (João Paulo II, Pastores Gregis, 52). Para realizar esta missão, o bispo conta com o auxílio dos presbíteros e dos diáconos permanentes, e especialmente, com os casais das comunidades e dos movimentos familiares.

A Igreja não desconhece a triste realidade das famílias que se separam e dos casais que estão em segunda união. O Papa João Paulo II já manifestava a preocupação da Igreja em relação aos divorciados que contraem novo casamento, quando dizia: “(...) exorto vivamente os pastores e a inteira comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados, promovendo com caridade solícita que eles não se considerem separados da Igreja (...)”, pois é missão dos Sacerdotes cuidar para que esses irmãos tenham a chance de participar do projeto de salvação de Jesus Cristo (cf. Familiaris Consortio, 84).

A ação abortiva torna-se um pecado de extrema gravidade, contradizendo a dignidade natural e a sacralidade da vida, afetando diretamente o 5º mandamento da Lei de Deus que é “não matar”. Por isso a Igreja, com coragem e certeza diz “não” à ação abortiva e a toda tentativa de uma legislação abortista, afirmando que não há nenhum argumento legítimo para o abortamento provocado.

5. Família e Vida

A sociedade atual passa por um momento de muitas incertezas. As pessoas têm até medo de sair de casa. As notícias, a todo o momento, são trágicas, em um grau elevado de sensacionalismo, que leva o indivíduo a duvidar do quanto vale à pena viver e deixar vir à vida um outro ser. É por isso que aqueles que reconhecem e defendem o sentido e a importância da família, podem e devem transmitir o quanto é importante a existência humana. Diz assim o Papa João II: “(...) a tarefa fundamental da família é o serviço à vida.” (Familiaris Consortio, nº 28).

É eminente que apoiemos todos os esforços para proteger o nascituro, pois ele é a garantia da perpetuação da humanidade. Não podemos fechar os olhos ante os apelos materialistas, subjetivistas, onde o que prevalece é a vontade egoísta do humano, com intuito de fazer valer exclusivamente a sua própria vontade. É missão da Igreja lutar para chamar à lucidez todos aqueles que por um motivo ou outro, acham que podem dominar a sua própria vida, esquecendo que para isso, tiram o direito de nascer daquele que não pode defender a si mesmo.

6. Conclusão

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A evangelização deve mirar-se sempre no exemplo deixado por Jesus. Dotado de extrema humildade, mas de uma sabedoria infinita, Ele ensinou a fraternidade que se alastrou pelo mundo inteiro ao longo desses dois mil anos. Foi Ele o precursor da ajuda solidária, do não preconceito, do amor incondicional.

A família é a primeira e mais básica comunidade eclesial. Ela é chamada a manter entre seus membros laços de comunhão que se inspiram nas relações trinitárias. O modelo trinitário aponta como o Pai é aquele que ama, o Filho é o amado e o Espírito Santo é o próprio Amor.

Nela deve se desenvolver um ambiente natural de oração e de escuta da Palavra, bem como de consciência comunitária, participando assiduamente de vida paroquial, celebrando o Mistério Eucarístico todos os domingos, gerando  vocações que sirvam à comunidade de fé.

O que nos fala o DAP:

9.1 O matrimônio e a família

432. A família é um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos e caribenhos e é patrimônio da humanidade inteira. Em nossos países, uma parte importante da população está afetada por difíceis condições de vida que ameaçam diretamente a instituição familiar. Em nossa condição de discípulos e missionários de Jesus Cristo somos chamados a trabalhar para que esta situação seja transformada e a família assuma seu ser e sua missão240 no âmbito da sociedade e da Igreja241.

433. A família cristã está fundada no sacramento do matrimônio entre um homem e uma mulher, sinal do amor de Deus pela humanidade e da entrega de Cristo por sua esposa, a Igreja. A partir desta aliança se manifestam a paternidade e a maternidade, a filiação e a fraternidade e o compromisso dos dois por uma sociedade melhor.

434. Cremos que “a família é imagem de Deus que, em seu mistério mais íntimo não é uma solidão, mas uma família”242. Na comunhão de amor das três Pessoas divinas, nossas famílias tem sua origem, seu modelo perfeito, sua motivação mais bela e seu último destino.

435. Visto que a família é o valor mais querido por nossos povos, cremos que se deve assumir a preocupação por ela como um dos eixos transversais de toda ação evangelizadora da Igreja. Em toda diocese se requer uma pastoral familiar “intensa e vigorosa”243 para proclamar o evangelho da família, promover a cultura da vida e trabalhar para que os direitos das famílias sejam reconhecidos e respeitados.

436. Esperamos que os legisladores, governantes e profissionais da saúde, conscientes da dignidade da vida humana e do fundamento da família em nossos povos, defendam-na e protejam-na dos crimes abomináveis do aborto e da eutanásia; esta é sua responsabilidade. Por isso, diante de leis e disposições governamentais que são injustas à luz da fé e da razão, deve-se favorecer a objeção de consciência. Devemos nos ater à “coerência eucarística”, isto é, ser conscientes de que não podem receber a sagrada comunhão e ao mesmo tempo agir com atos ou palavras contra os mandamentos, em particular quando se propicia o aborto, a eutanásia e outros graves delitos contra a vida e a família. Esta responsabilidade pesa de maneira particular sobre os legisladores, governantes e os profissionais da saúde244.

437. Para tutelar e apoiar a família, a pastoral familiar pode estimular, entre outras, as seguintes ações:

a) Comprometer de uma maneira integral e orgânica ás outras pastorais, os movimentos e associações matrimoniais e familiares a favor das famílias.

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b) Estimular projetos que promovam famílias evangelizadas e evangelizadoras.

c) Renovar a preparação remota e próxima para o sacramento do matrimônio e da vida familiar com itinerários pedagógicos de fé245.

d) Promover, em diálogo com os governos e a sociedade, políticas e leis a favor da vida, do matrimônio e da família246.

e) Estimular e promover a educação integral dos membros da família, especialmente daqueles membros da família que estão em situações difíceis, incluindo a dimensão do amor e da sexualidade247.

f) Estimular centros paroquiais e diocesanos com uma pastoral de atenção integral à família, especialmente aquelas que estão em situações difíceis: mães adolescentes e solteiras, viúvas e viúvos, pessoas da terceira idade, crianças abandonadas, etc.

g) Estabelecer programas de formação, atenção e acompanhamento para a paternidade e a maternidade responsáveis.

h) Estudar as causas das crises familiares para encará-las em todos os seus fatores.

i) Continuar oferecendo formação permanente, doutrinal e pedagógica para os agentes de pastoral familiar.

j) Acompanhar com cuidado, prudência e amor compassivo, seguindo as orientações do Magistério248, os casais que vivem em situação irregular, conscientes que os divorciados e casados novamente não são permitidos comungar249. Requerem-se mediações para que a mensagem de salvação chegue a todos. É urgente estimular ações eclesiais, com um trabalho interdisciplinar de teologia e ciências humanas, que ilumine a pastoral e a preparação de agentes especializados para o acompanhamento destes irmãos.

k) Diante das petições de nulidade matrimonial, fazer com que os Tribunais eclesiásticos sejam acessíveis e tenham uma correta e rápida atuação250.

l) Ajudar a criar possibilidades para que os meninos e meninas órfãos e abandonados consigam, pela caridade cristã, condições de acolhida e adoção e possam viver em família.

m) Organizar casas de acolhida e um acompanhamento específico para socorrer com compaixão e solidariedade ás meninas e adolescentes grávidas, ás mães “solteiras”, os lares incompletos.

n) Ter presente que a Palavra de Deus, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, solicita-nos uma

atenção especial em relação às viúvas. Procurar uma maneira para que elas recebam uma pastoral que as ajude a enfrentar esta situação, muitas vezes de desamparo e de solidão. 

4. Mística para a relação Catequese-Família

A catequese é uma das facetas da ação evangelizadora da Igreja e a família é um nível de Igreja (“Igreja Doméstica”). Paulo VI já direcionava a ação pastoral a ter um olhar para a família: “no conjunto daquilo que é o apostolado evangelizador dos leigos, não se pode deixar de por em realce a ação evangelizadora da família. Nos diversos momentos da história da Igreja, ela mereceu bem a

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expressão sancionada pelo Vaticano II: ‘Igreja Doméstica’. Isto quer dizer que, em cada família cristã, deveriam encontrar-se os diversos aspectos da Igreja inteira” (EN 71).

A fecundidade da catequese depende em parte da família. Como salienta João Paulo II, na Familiaris Consortio: “a própria vida da família torna-se itinerário de fé e, em certo modo, iniciação cristã e escola para seguir Cristo” (FC 39).

O Documento de Puebla menciona a família como um lugar privilegiado de catequese (cf. 640). O Diretório Geral de Catequese diz: “a família como lugar de catequese tem uma prerrogativa única: transmite o Evangelho, radicando-o no contexto de profundos valores humanos” (DGC 255).

Para cultivar a mística da catequese a serviço da família é preciso:

• Que a família esteja no coração da catequese e que a catequese esteja no coração da família.

• Acreditar que a salvação do mundo passa pela família (João Paulo II). É a família que salvará a família. Parafraseando o antigo princípio: “Fora da família não há salvação”.

• Como bons samaritanos, curar as muitas chagas que o mundo moderno causou no seio da família, tais como: infidelidades, separações, aborto, perda da fé, etc.

• Devolver à família a missão de ser berço da vida e da fé.

• Recordar aos pais que a catequese começa em casa e que eles são os primeiros e permanentes catequistas de seus filhos.

• Que a família se sinta uma Igreja Doméstica, onde se cultivam a leitura da Bíblia e a meditação por meio dos Círculos Bíblicos, o terço e outras devoções.

• Que os catequistas continuem a missão apostólica, visitando os lares e levando a alegria da mensagem de fé.

• Que os pais estejam acompanhando o processo de educação e amadurecimento da fé de seus filhos.

• Cultivar a oração da família em família: “família que reza unida, permanece unida”.

• Participar da Eucaristia aos domingos, para celebrar com a família eclesial o mistério pascal do Senhor.

• Valorizar as datas festivas: Semana da Família, Natal, Páscoa, Dia das mães e dos pais.

• Incentivar as famílias cristãs para a formação de pequenos grupos e comunidades. Pois não existe catequese sem comunidade. Esta é a fonte, lugar e meta de toda a catequese. (cf. DGC 158).

5. Catequese e Encontro com os Pais

O encontro com os pais é uma rica oportunidade para interagir família e catequese. Os encontros precisam ser melhor aproveitados. Muitos pais não gostam de participar das “reuniões” porque dizem que é só bronca. Outros lugares só fazem reunião para informar às famílias preços de camiseta, lembrancinha, vela, etc.

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Os encontros com os pais na Catequese precisam ser oportunidade para catequizar a família, incentivando para a missão de oferecer condições para o desenvolvimento da fé dos catequizandos.

A catequese instrui os catequizandos na fé e prepara para a vida na comunidade, mas isso não tira o mérito e a responsabilidade dos pais de educarem seus filhos. Os pais são os primeiros catequistas na família e o seu testemunho que vai motivar os seus filhos a experimentarem o amor de Deus e a buscarem o caminho da fé. Para que os pais tenham consciência da sua missão, é importante que a catequese dê a devida atenção aos encontros com as famílias e oferecendo outros espaços para que pais e filhos estejam dentro do itinerário catequético. Assim como os encontros com catequizandos, os encontros com os pais precisam ser planejados, a fim de despertar a motivação dos pais e apontar caminhos novos para a educação da fé na família. Os pais têm necessidade de ouvir dos catequistas coisas tão simples, mas muito importantes, tais como: o que é catequese? Qual a sua finalidade? Qual a missão do catequista? Muitos pais passaram pela catequese, mas ficaram esclarecidos sobre as responsabilidades na educação da fé de seus filhos.

Aqui propomos algumas idéias para o encontro com os pais na catequese:

A catequese (Etimologicamente, significa “fazer ecoar”).

• Catequese: um importante ministério da Igreja que nasce da Palavra.

• “Processo de educação comunitária, permanente, progressiva, ordenada, orgânica e sistemática da fé” (CR 318).

• “A missão catequética não se improvisa e nem fica ao sabor do imediatismo ou do gosto de uma pessoa” (DNC 319).

• “A Catequese é uma urgência no vosso país. Fazei da catequese uma prioridade” (João Paulo II).

• “A finalidade definitiva da catequese é fazer com que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo” (CT 5).

• A catequese tem por fim “tornar a fé viva, consciente e operosa, por meio de uma instrução adequada” (CD 14).

O catequista: um educador da fé.

• Aquele que assume um ministério em nome da comunidade.

• Um colaborador da Igreja mãe e mestra.

• Torna visível o Cristo Mestre.

• É porta-voz da comunidade.

• É instrutor na fé.

Igreja:

• Catequese é ação da Igreja e projeto assumido pela comunidade.

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• A catequese é obra de toda a Igreja e sua missão consiste em oferecer os fundamentos da fé e promover o amadurecimento integral na vida de cada um.

• A catequese é o coração da Igreja. É como o sangue nas veias. Ela é fundamental para a vida da comunidade cristã.

• O lugar da catequese é a comunidade.

• Há na sociedade uma mentalidade: “catequese é coisa de criança”.

Família:

• A catequese acompanha a nossa vida em todos os seus estágios.

• Os pais são os primeiros catequistas.

• Importância da família na catequese:

a) Família – Santuário da Vida.

b) Família – Berço da Fé.

c) Família – Igreja Doméstica.

d) Família – Célula da Sociedade.

• É importante para a família:

1) O testemunho dos pais (participação na comunidade de fé).

2) A vida de oração na família.

3) Compreender as fases e o processo de desenvolvimento da fé.

4) O diálogo e transparência.

5) A liberdade e responsabilidade.

6) Exercitar a paciência.

7) Buscar parcerias (Igreja – comunidade – sociedade). 

 “Família humana, comunidade de paz”. 

(No Dia Mundial da Paz - 1 de janeiro de 2008, o papa Bento XVI escolheu o tema da família para proferir uma mensagem ao mundo inteiro. Vejamos alguns trechos...).

1. “(...) a primeira forma de comunhão entre pessoas é a que o amor suscita entre um homem e uma mulher decididos a unir-se estavelmente para construírem juntos uma nova família” (n. 1).

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2. “A família (...) constitui o lugar primário da ‘humanização’ da pessoa e da sociedade, o ‘berço da vida e do amor’” (n. 2).

3. “A família é fundamento da sociedade inclusivamente porque permite fazer decisivas experiências de paz. Devido a isso, a comunidade humana não pode prescindir do serviço que a família realiza. Onde poderá o ser humano em formação aprender melhor a apreciar o ‘sabor’ genuíno da paz do que no ‘ninho’ primordial que a natureza lhe prepara?” (n.3).

4. “Na inflação das linguagens, a sociedade não pode perder a referência àquela ‘gramática’que cada criança aprende dos gestos e olhares da mãe e do pai, antes mesmo das suas palavras” (n. 3).

5. “A própria comunidade social, para viver em paz, é chamada a inspirar-se nos valores por que se rege a comunidade familiar” (n. 6).

6. “Condição essencial para a paz nas famílias é que estas assentem sobre o alicerce firme de valores espirituais e éticos compartilhados” (n. 7).

7. “Uma família vive em paz, se todos os seus componentes se sujeitam a uma norma comum: é esta que impede o individualismo egoísta e que mantém unidos os indivíduos” (n. 11). 

Os Dez mandamentos da família para a Catequese:

1. Não fecheis o coração! Não vos bastais a vós próprios na educação da fé, mesmo que sejais os primeiros catequistas dos vossos filhos. Os catequistas são vossos colaboradores na educação da fé, mas não substitutos.

2. Amai a Catequese! A Catequese não é um "ensino" avulso e desorganizado. É processo de educação da fé, feita de modo ordenado e sistemático. É itinerário para amadurecer na vida cristã e caminho para o discipulado. Velai pela assiduidade dos vossos filhos e pelo seu acompanhamento, num estreito diálogo com os catequistas e com a comunidade de fé.

3. Não exijais dos vossos filhos o que não sois capazes de fazer. Não exijais dos vossos filhos, o que não sois capazes de dar. Exigir do outro o que não se tem pra oferecer é negar a si mesmo enquanto sujeito de fé.

4. Não queira transformar a catequese em curso para que vossos filhos "saibam muitas coisas"! Mas alegrai-vos sempre, ao verificardes que eles saboreiam a alegria de serem cristãos, e vão descobrindo, com outros cristãos, a pessoa de Jesus, o Amigo por excelência, que convida a seguir os seus passos no anúncio/testemunho da sua Palavra.

5. Demonstrem amor e cuidado pela família! A primeira forma de catequese acontece sem palavras e sermões, no respeito à dignidade de cada membro da família. O amor exige cuidado, como diz o poeta: “Quem ama cuida”.

6. Vivei a comunhão na família e na Igreja! Não sois uma ilha nem uma ostra. Sem diálogo não há espaço para a fé se desenvolver. Sem a sociedade não podereis progredir e sem a Igreja não podereis iluminar o mundo.

7. Sede discípulos e não expectadores! Não espereis que a Catequese faça de vós e vossos filhos bons alunos ou expectadores. Ao contrário, procurai que ela vos ajude a formar discípulos de Jesus, que O seguem, em comunidade.

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8. Saiba testemunhar a fé na participação da comunidade e no sacramento da Eucaristia. Procurai pensar e viver de acordo com os valores do Evangelho. Sabeis bem que o testemunho é a primeira forma de evangelização. Deste modo, os filhos aceitarão melhor a proposta dos vossos ideais e valores.

9. Procurem aprofundar a fé e ter um gosto pelo conhecimentos das coisas de Deus! Como diz o célebre ditado bíblico: “Um cego não pode guiar outro cego”. Quem não é esclarecido na fé não pode orientar os outros a viver o compromisso cristão. Nem tem o direito de manipular a fé segundo a sua ignorância. Também não cedais à tentação de achar que se pode "mandar" os filhos à Catequese, para vos verdes livres deles ou para fugirdes das vossas responsabilidades.

10. Orai e celebrai a vida em família! Rezar e celebrar com toda a família, de modo a que a vossa fé seja vivida em comum na pequena Igreja que é a família, se exprima na grande família que é a Igreja e transforme a diversificada família humana que integra a sociedade.

Gurdjieff costumava dizer: “A menos que você esteja em boa comunhão com seus pais, você perdeu a sua vida.”Se alguma raiva persiste entre você e seus pais, você nunca se sentirá à vontade. Onde você estiver você se sentirá um pouco culpado. Você nunca será capaz de perdoar e esquecer. Os pais não são apenas um relacionamento social, pois foi deles que você veio. Você é parte deles, um ramo da árvore deles. Você ainda está enraizado neles. Quando os pais morrem, morre algo muito profundamente enraizado dentro de você. Quando os pais morrem, pela primeira vez você se sente sozinho, sem raízes.  Assim, enquanto eles estiverem vivos, faça tudo o que puder para que uma compreensão possa surgir e você possa se comunicar com eles e eles possam se comunicar com você. Assim, as coisas se ajustam e as contas se encerram, e, quando eles deixarem o mundo – e algum dia eles deixarão –  você não se sentirá culpado, não se arrependerá e saberá que as dificuldades se resolveram. Eles ficarão felizes com você, e você ficará feliz com eles.

OshoFoto: Google

MENSAGEM DE SUA SANTIDADEBENTO XVIPARA A CELEBRAÇÃO DODIA MUNDIAL DA PAZ

1o DE JANEIRO DE 2008

FAMÍLIA HUMANA, COMUNIDADE DE PAZ

1. NO INÍCIO DE UM ANO NOVO, desejo fazer chegar meus ardentes votos de paz, acompanhados duma calorosa mensagem de esperança, aos homens e mulheres do mundo inteiro; faço-o, propondo à reflexão comum o tema com que abri esta mensagem e que me está particularmente a peito: Família humana, comunidade de paz. Com efeito, a primeira forma de comunhão entre pessoas é a que o amor suscita entre um homem e uma mulher decididos a unir-se estavelmente para construírem juntos uma nova família. Entretanto, os povos da terra também são chamados a instaurar entre si relações de solidariedade e

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colaboração, como convém em membros da única família humana: « Os homens – sentenciou o Concílio Vaticano II – constituem todos uma só comunidade; todos têm a mesma origem, pois foi Deus quem fez habitar em toda a terra o inteiro género humano (Act 17, 26); têm também todos um só fim último, Deus ».(1)

Família, sociedade e paz

2. A família natural, enquanto comunhão íntima de vida e de amor fundada sobre o matrimonio entre um homem e uma mulher, (2) constitui « o lugar primário da ‘‘humanização'' da pessoa e da sociedade »,(3) o « berço da vida e do amor ».(4) Por isso, a família é justamente designada como a primeira sociedade natural, « uma instituição divina colocada como fundamento da vida das pessoas, como protótipo de todo o ordenamento social ».(5)

3. Com efeito, numa vida familiar « sã » experimentam-se algumas componentes fundamentais da paz: a justiça e o amor entre irmãos e irmãs, a função da autoridade manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis porque pequenos, doentes ou idosos, a mútua ajuda nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário, perdoar-lhe. Por isso, a família é a primeira e insubstituível educadora para a paz. Não admira, pois, que a violência, quando perpetrada em família, seja sentida como particularmente intolerável. Deste modo, quando se diz que a família é « a primeira célula vital da sociedade »,(6) afirma-se algo de essencial. A família é fundamento da sociedade inclusivamente porque permite fazer decisivas experiências de paz. Devido a isso, a comunidade humana não pode prescindir do serviço que a família realiza. Onde poderá o ser humano em formação aprender melhor a apreciar o « sabor » genuíno da paz do que no « ninho » primordial que a natureza lhe prepara? A linguagem familiar usa um léxico de paz; aqui é necessário recorrer sempre para não perder o uso do vocabulário da paz. Na inflação das linguagens, a sociedade não pode perder a referência àquela « gramática » que cada criança aprende dos gestos e olhares da mãe e do pai, antes mesmo das suas palavras.

4. Uma vez que a família tem o dever de educar os seus membros, a mesma é titular de direitos específicos. A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, que constitui uma aquisição de civilização jurídica de valor verdadeiramente universal, afirma que « a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito a ser protegida pela sociedade e pelo Estado ».(7) Por seu lado, a Santa Sé quis reconhecer uma especial dignidade jurídica à família, publicando a Carta dos Direitos da Família. Lê-se no Preâmbulo: « Os direitos da pessoa, ainda que expressos como direitos do indivíduo, têm uma dimensão social fundamental, que encontra na família a sua expressão originária e vital ».(8) Os direitos enunciados na Carta são expressão e explicitação da lei natural, inscrita no coração do ser humano e que lhe é manifestada pela razão. A negação ou mesmo a restrição dos direitos da família, obscurecendo a verdade sobre o homem, ameaça os próprios alicerces da paz.

5. Deste modo quem, mesmo inconscientemente, combate o instituto familiar, debilita a paz na comunidade inteira, nacional e internacional, porque enfraquece aquela que é efectivamente a principal « agência » de paz. Este é um ponto que merece especial reflexão: tudo o que contribui para debilitar a família fundada sobre o matrimónio de um homem e uma mulher, aquilo que directa ou indirectamente refreia a sua abertura ao acolhimento responsável de uma nova vida, o que dificulta o seu direito de ser a primeira responsável pela educação dos filhos, constitui um impedimento objectivo no caminho da paz. A família tem necessidade da casa, do emprego ou do justo reconhecimento da actividade doméstica dos pais, da escola para os filhos, de assistência sanitária básica para todos. Quando a sociedade e a política não se empenham a ajudar a família nestes campos, privam-se de um recurso essencial ao serviço da paz. De forma particular os meios de comunicação social, pelas potencialidades educativas de que dispõem, têm uma responsabilidade especial de

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promover o respeito pela família, de ilustrar as suas expectativas e os seus direitos, de pôr em evidência a sua beleza.

A humanidade é uma grande família

6. A própria comunidade social, para viver em paz, é chamada a inspirar-se nos valores por que se rege a comunidade familiar. Isto vale tanto para as comunidades locais como nacionais; mais, vale para a própria comunidade dos povos, para a família humana que vive nesta casa comum que é a terra. Numa tal perspectiva, porém, não se pode esquecer que a família nasce do « sim » responsável e definitivo de um homem e de uma mulher e vive do « sim » consciente dos filhos que pouco a pouco entram a fazer parte dela. Para prosperar, a comunidade familiar tem necessidade do consenso generoso de todos os seus membros. É preciso que esta consciência se torne convicção partilhada também por quantos são chamados a formar a família humana comum. É necessário saber dizer o « sim » pessoal a esta vocação que Deus inscreveu na nossa própria natureza. Não vivemos uns ao lado dos outros por acaso; estamos percorrendo todos um mesmo caminho como homens e por isso como irmãos e irmãs. Desta forma, é essencial que cada um se empenhe por viver a própria vida em atitude de responsabilidade diante de Deus, reconhecendo n'Ele a fonte originária da existência própria e alheia. É subindo até este Princípio supremo que se pode perceber o valor incondicional de todo o ser humano, colocando as premissas para a edificação duma humanidade pacificada. Sem este Fundamento transcendente, a sociedade é apenas uma agregação de vizinhos, e não uma comunidade de irmãs e irmãos chamados a formar uma grande família.

Família, comunidade humana e ambiente.

7. A família precisa duma casa, dum ambiente à sua medida onde tecer as próprias relações. No caso da família humana, esta casa é a terra, o ambiente que Deus criador nos deu para que o habitássemos com criatividade e responsabilidade. Devemos cuidar do ambiente: este foi confiado ao homem, para que o guarde e cultive com liberdade responsável, tendo sempre como critério orientador o bem de todos. Obviamente, o ser humano tem um primado de valor sobre toda a criação. Respeitar o ambiente não significa considerar a natureza material ou animal mais importante do que o homem; quer dizer antes não a considerar egoisticamente à completa disposição dos próprios interesses, porque as gerações futuras também têm o direito de beneficiar da criação, exprimindo nela a mesma liberdade responsável que reivindicamos para nós. Nem se hão-de esquecer os pobres, em muitos casos excluídos do destino universal dos bens da criação. Actualmente a humanidade teme pelo futuro equilíbrio ecológico. Será bom que as avaliações a este respeito se façam com prudência, no diálogo entre peritos e cientistas, sem acelerações ideológicas para conclusões apressadas e sobretudo pondo-se conjuntamente de acordo sobre um modelo de progresso sustentável, que garanta o bem-estar de todos no respeito dos equilíbrios ecológicos. Se a tutela do ambiente comporta os seus custos, estes devem ser distribuídos com justiça tendo em conta a disparidade de desenvolvimento dos vários países e a solidariedade com as futuras gerações. Prudência não significa deixar de assumir as próprias responsabilidades e adiar as decisões; significa antes assumir o empenho de decidir juntos depois de ter ponderado responsavelmente qual a estrada a percorrer, com o objectivo de reforçar aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho.

8. A tal propósito, é fundamental « sentir » a terra como « nossa casa comum » e escolher, para uma gestão da mesma ao serviço de todos, a estrada do diálogo em vez de decisões unilaterais. Podem-se aumentar, se for necessário, os lugares institucionais a nível internacional, para se enfrentar conjuntamente o governo desta nossa « casa »; mas, o que mais conta é fazer maturar nas consciências a convicção da necessidade de colaborar responsavelmente. Os problemas que se desenham no horizonte são complexos e o tempo

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escasseia. Para fazer frente de maneira eficaz à situação, é preciso agir de comum acordo. Um âmbito onde seria particularmente necessário intensificar o diálogo entre as nações é o da gestão dos recursos energéticos do planeta. A tal respeito, uma dupla urgência preme sobre os países tecnologicamente avançados: é preciso, por um lado, rever os elevados níveis de consumo devido ao modelo actual de progresso e, por outro, providenciar adequados investimentos para a diferenciação das fontes de energia e o melhoramento da sua utilização. Os países emergentes sentem carência de energia, mas às vezes esta carência é remediada prejudicando os países pobres, que, pela insuficiência das suas infra-estruturas nomeadamente tecnológicas, se veem obrigados a vender ao desbarato os recursos energéticos em seu poder. Às vezes a sua própria liberdade política é posta em discussão por formas de protectorado ou, em todo o caso, de condicionamento que resultam claramente humilhantes.

Família, comunidade humana e economia.

9. Condição essencial para a paz nas famílias é que estas assentem sobre o alicerce firme de valores espirituais e éticos compartilhados. No entanto, é preciso acrescentar que a família experimenta autenticamente a paz quando a ninguém falta o necessário, e o património familiar – fruto do trabalho de alguns, da poupança de outros e da colaboração activa de todos – é bem gerido na solidariedade, sem excessos nem desperdício. Para a paz familiar, portanto, é necessária a abertura a um património transcendente de valores, mas, simultaneamente, há que não menosprezar a sapiente gestão quer dos bens materiais quer das relações entre as pessoas. O falimento desta componente tem como consequência a quebra da confiança recíproca devido às perspectivas incertas que passam a gravar sobre o futuro do núcleo familiar.

10. O mesmo se diga daquela grande família que é a humanidade no seu todo. De facto a família humana, que hoje aparece ainda mais interligada pelo fenômeno da globalização, além de um alicerce de valores compartilhados tem necessidade também de uma economia que corresponda verdadeiramente às exigências de um bem comum com dimensões planetárias. A referência à família natural revela-se, sob este ponto de vista também, singularmente sugestiva. Entre os indivíduos humanos e entre os povos, é preciso promover relações correctas e sinceras, que permitam a todos colaborarem num plano de paridade e justiça. Ao mesmo tempo, tem-se de trabalhar por uma sábia utilização dos recursos e uma equitativa distribuição da riqueza. De forma particular, as ajudas concedidas aos países pobres devem obedecer a critérios duma lógica económica sã, evitando desperdícios que no fim de contas resultam sobretudo do funcionamento de custosos aparelhos burocráticos. É preciso ter em devida conta também a exigência moral de fazer com que a organização econômica não obedeça somente às duras leis do lucro imediato, que se podem revelar desumanas.

Família, comunidade humana e lei moral

11. Uma família vive em paz, se todos os seus componentes se sujeitam a uma norma comum: é esta que impede o individualismo egoísta e que mantém unidos os indivíduos, favorecendo a sua coexistência harmoniosa e laboriosidade para o fim comum. Tal critério, em si óbvio, vale também para as comunidades mais amplas: desde as locais passando pelas nacionais, até à própria comunidade internacional. Para se gozar de paz, há necessidade duma lei comum que ajude a liberdade a ser verdadeiramente tal, e não um arbítrio cego, e que proteja o fraco da prepotência do mais forte. Na família dos povos, verificam-se muitos comportamentos arbitrários, seja dentro dos diversos Estados seja nas relações destes entre si. Além disso, não faltam situações em que o fraco tem de inclinar a cabeça não frente às exigências da justiça mas à força nua e crua de quem possui mais meios do que ele. É preciso repeti-lo: a força há-de ser sempre disciplinada pela lei, e isto mesmo deve acontecer também nas relações entre Estados soberanos.

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12. Sobre a natureza e a função da lei, já muitas vezes se pronunciou a Igreja: a norma jurídica que regula as relações das pessoas entre si, disciplinando os comportamentos externos e prevendo também sanções para os transgressores, tem como critério a norma moral assente na natureza das coisas. A razão humana, por sua vez, é capaz de discerni-la, pelo menos nas suas exigências fundamentais, subindo assim até à Razão criadora de Deus que está na origem de todas as coisas. Esta norma moral deve regular as opções das consciências e guiar todos os comportamentos dos seres humanos. Existirão normas jurídicas para as relações entre as nações que formam a família humana? E, se existem, serão operativas? Eis a resposta: sim, as normas existem, mas para fazer com que sejam verdadeiramente operativas é preciso subir até à norma moral natural como base da norma jurídica; de contrário, esta fica à mercê de frágeis e provisórios consensos.

13. O conhecimento da norma moral natural não está vedado ao homem que entre em si mesmo e, tendo diante dos olhos o próprio destino, se interrogue sobre a lógica interna das mais profundas inclinações presentes no seu ser. Embora com perplexidades e incertezas, ele pode chegar a descobrir, pelo menos nas suas linhas essenciais, esta lei moral comum que, independentemente das diferenças culturais, permite aos seres humanos entenderem-se entre si quanto aos aspectos mais importantes do bem e do mal, do justo e do injusto. É imprescindível subir até esta lei fundamental, empenhando nesta pesquisa as nossas melhores energias intelectuais sem deixar-se desanimar por equívocos nem confusões. Com efeito, valores radicados na lei natural estão presentes, ainda que de forma fragmentária e nem sempre coerente, nos acordos internacionais, nas formas de autoridade universalmente reconhecidas, nos princípios do direito humanitário recebido nas legislações dos diversos Estados ou nos estatutos dos organismos internacionais. A humanidade não está « sem lei ». É urgente, porém, prosseguir o diálogo sobre estes temas, favorecendo a convergência das próprias legislações dos diversos Estados sobre o reconhecimento dos direitos humanos fundamentais. O crescimento da cultura jurídica no mundo depende, para além do mais, do esforço de tornar as normas internacionais sempre substanciosas de conteúdo profundamente humano, para evitar a sua redução a procedimentos facilmente contornáveis por motivos egoístas ou ideológicos.

Superação dos conflitos e desarmamento

14. A humanidade vive hoje, infelizmente, grandes divisões e fortes conflitos que lançam densas sombras sobre o seu futuro. Temos vastas áreas do planeta envolvidas em tensões crescentes, enquanto o perigo de se multiplicarem os países detentores de armas nucleares cria motivadas apreensões em toda a pessoa responsável. Há ainda muitas guerras civis no continente africano, embora também se tenham registado em vários dos seus países progressos na liberdade e na democracia. O Médio Oriente continua a ser teatro de conflitos e atentados, que não deixam de influenciar nações e regiões limítrofes com o risco de arrastá-las na espiral da violência. A nível mais geral, há que registar, com tristeza, um número maior de Estados envolvidos na corrida aos armamentos: temos até nações em vias de desenvolvimento que destinam uma quota importante do seu magro produto interno para a compra de armas. Neste funesto comércio, são muitas as responsabilidades: há os países do mundo industrialmente desenvolvido que arrecadam avultados lucros da venda de armas e temos as oligarquias reinantes em muitos países pobres que pretendem reforçar a sua posição com a aquisição de armas cada vez mais sofisticadas. Em tempos tão difíceis, é verdadeiramente necessária a mobilização de todas as pessoas de boa vontade para se encontrar acordos concretos que visem uma eficaz desmilitarização, sobretudo no campo das armas nucleares. Nesta fase em que o processo de não proliferação nuclear marca passo, sinto-me no dever de exortar as Autoridades a retomarem, com mais firme determinação, as conversações em ordem ao desmantelamento progressivo e concordado das armas nucleares existentes. Ao renovar este apelo, sei que dou voz a um desejo compartilhado por quantos têm a peito o futuro da humanidade.

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15. Há sessenta anos, a Organização das Nações Unidas tornava pública, de maneira solene, aDeclaração Universal dos Direitos Humanos (1948-2008). Com tal documento, a família humana reagia aos horrores da II Guerra Mundial, reconhecendo a sua própria unidade assente na igual dignidade de todos os homens e pondo, no centro da convivência humana, o respeito pelos direitos fundamentais dos indivíduos e dos povos: tratou-se de um passo decisivo no árduo e empenhativo caminho da concórdia e da paz. Merece também menção especial a passagem do 25º aniversário da adopção pela Santa Sé da Carta dos Direitos da Família (1983-2008), bem como o 40º aniversário da celebração do primeiro Dia Mundial da Paz (1968-2008). Fruto duma providencial intuição do Papa Paulo VI, retomada com grande convicção pelo meu amado e venerado predecessor, Papa João Paulo II, a celebração deste Dia proporcionou ao longo dos anos a possibilidade de a Igreja desenvolver, através das Mensagens publicadas para tal circunstância, uma doutrina elucidativa em defesa deste bem humano fundamental. É precisamente à luz de tais significativas comemorações que convido todo o homem e toda a mulher a tomarem consciência mais lúcida da sua pertença comum à única família humana e a empenharem-se por que a convivência sobre a terra espelhe cada vez mais esta convicção da qual depende a instauração de uma paz verdadeira e duradoura. Em seguida, convido os crentes a implorarem de Deus, sem se cansar, o grande dom da paz. Os cristãos, por seu lado, sabem que podem confiar-se à intercessão d'Aquela que, sendo Mãe do Filho de Deus encarnado para a salvação da humanidade inteira, é Mãe comum.

A todos desejo um Ano Novo feliz!

Vaticano, 8 de Dezembro de 2007.

BENEDICTUS PP. XVI

(1) Decl. sobre a Igreja e as religiões não-cristãs Nostra ætate, 1.

(2) Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 48.

(3) João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici, 40: AAS 81 (1989), 469.

(4) Ibid., 40: o.c., 469.

(5) Pont. Cons. «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 211.

(6) Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 11.

(7) Art. 16/3.

(8) Pont. Cons. para a Família, Carta dos Direitos da Família (24 de Novembro de 1983), Preâmbulo/A.

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