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2 | Soeli Silva | andré (eSpírito)

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Edição e distribuição

Editora EMECaixa Postal 1820 – CEP 13360 ‑000 – Capivari – SP

Telefones: (19) 3491 ‑7000 | 3491 ‑5449Vivo (19) 99983‑2575 | Claro (19) 99317‑2800

[email protected] – www.editoraeme.com.br

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Soeli SilvaAndré (espírito)

Capivari-SP– 2014 –

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4 | Soeli Silva | andré (eSpírito)

Ficha catalográfica elaborada na editora

André (espírito) Fazenda Engenho Novo / pelo espírito André; [psicografado por] Soeli Silva – 1ª ed. abr. 2014 – Capivari, SP : Editora EME. 260 p.

ISBN 978‑85‑66805‑29‑1

1. Fazenda Engenho Novo. 2. Romance mediúnico.3. Existências sucessivas. I. TÍTULO

CDD 133.9

CAPA | André StenicoDIAGRAMAÇÃO | Marco MeloREvISÃO | Editora EME

1ª edição – abril/2014 – 3.000 exemplares

© 2014 Soeli Silva

Os direitos autorais desta obra são de exclusividade da autora.

A Editora EME mantém o Centro Espírita “Mensagem de Esperança”, colabora na manutenção da Comunidade Psicossomática Nova Consciência (clínica masculina para tratamento da dependência química), e patrocina, junto com outras empresas, a Central de Educação e Atendimento da Criança (Casa da Criança), em Capivari-SP.

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Sumário

Prefácio ................................................................................... 11

toMo i .................................................................................. 13Herculano .......................................................................... 15Betina ................................................................................. 15Desejo e remorso .............................................................. 17Isabel .................................................................................. 17Augusto ............................................................................. 17Herculano no internato ................................................... 18Desencarnação de Sinhá.................................................. 19Retorno de Herculano ..................................................... 19Augusto na Europa .......................................................... 21Feitor João do Mato ......................................................... 22Motivação à liberdade ..................................................... 24Agressão ao feitor ............................................................ 25Recordações ...................................................................... 25Desencarnação do Patrão ................................................ 27Volta de Augusto ............................................................. 28Debandada dos alforriados ............................................ 30Paulo e Isabel .................................................................... 31Desencarnação da Patroinha .......................................... 33Alforrias programadas .................................................... 34Protestos ............................................................................ 35Mais alforrias .................................................................... 35Tocaia ................................................................................. 36Encontro de Sinhozinho e Herculano ........................... 37Lei Áurea ........................................................................... 38Casamento de Paulo e Isabel .......................................... 39Desencarnação de Sinhozinho e Betina ........................ 40

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Revolta contra o Imperador ............................................ 41Augusto e Clarinha .......................................................... 42O sonho de Herculano .................................................... 42Reencarnação do Padrinho ............................................. 43Imigrantes italianos ......................................................... 45Mariana.............................................................................. 45Augustinho ....................................................................... 47Casamento de Herculano ................................................ 47Luto de Paulo.................................................................... 48Benedito ............................................................................. 49Professora Erélide ............................................................ 50Professora Dulce .............................................................. 50Escola para todos ............................................................. 50Reforma da Capela .......................................................... 51Prece de agradecimento .................................................. 52Desdobramento ................................................................ 53Batizado de Rita de Cássia .............................................. 54Desdobramento do padre Tomaz .................................. 55Geada e suicídios ............................................................. 56Vinhedos ........................................................................... 57Augustinho e Pedrinho, médicos .................................. 58Consequências da gripe .................................................. 60Augustinho e Gilda ......................................................... 63Amor proibido .................................................................. 63Pedrinho e Ana Francisca ............................................... 65Delírio de Herculano ....................................................... 67Festa na Engenho Novo .................................................. 69Desencarnação de Herculano ......................................... 69Segredo revelado .............................................................. 70Medo da consanguinidade ............................................. 72Vidências que antecedem a desencarnação ................. 72Deixam de morar na Engenho Novo ............................ 74

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Vila Vinhedo ..................................................................... 75viagem à Europa .............................................................. 75Isabela ................................................................................ 77Cotidiano e progresso ..................................................... 77Participantes da História ................................................ 81

toMo ii ................................................................................ 85Tragédia na pequena cidade .......................................... 87Doutor Fausto ................................................................... 88Terezinha ........................................................................... 89Susto no mercado ............................................................. 96Ameaças .......................................................................... 105Sonho estranho ............................................................... 106Juqueri ............................................................................. 10710 anos depois ................................................................ 108Influência para a verdade ............................................. 110Amargo desabafo ........................................................... 111O Livro dos Espíritos ........................................................ 112Novamente o sonho ....................................................... 113Enfim, novo diagnóstico ............................................... 113O suicida do sonho ........................................................ 115Reencontro inesperado .................................................. 117Prova de reencarnação .................................................. 119Desvendando o crime .................................................... 120Expectativa ...................................................................... 122Marco Antonio ............................................................... 125Insônia ............................................................................. 126Laços do passado ........................................................... 126Reencontro na Fazenda Engenho Novo ..................... 132Mediunidade de Augustinho ....................................... 139Fechando o Evangelho, comentou:.............................. 147Conversão de Gilda ....................................................... 149

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Internação de Pedro ....................................................... 154Transfusão de energias.................................................. 154Doutor Pedro no centro espírita .................................. 156Isabel reencarnada ......................................................... 156Intervenção espiritual .................................................... 159Desceu do teto ................................................................ 160Casamento de Isabela e Valter ..................................... 161Irineu ................................................................................ 164Conversão de Maria Alice ............................................ 165João Paulo........................................................................ 166Vidência no cemitério .................................................... 172Lista de nomes que fazem parte desta psicografia ... 177

toMo iii............................................................................. 181Encontros nos desdobramentos ................................... 183Operação mediúnica ...................................................... 183Novamente no centro .................................................... 185Idealizando novo centro ............................................... 186Sonho premonitório ....................................................... 186Novo centro .................................................................... 194Laços do passado ........................................................... 196Vidência ........................................................................... 196De volta à Fazenda Engenho Novo ............................. 197Desencarnação do doutor Pedro.................................. 198Os que chegam pela dor................................................ 199Vidência de João Paulo ................................................. 200Inácio e Lurdinha ........................................................... 201Evangelho em família .................................................... 201Palestra no Bom Menino ............................................... 203Noêmia e o pai desencarnado ...................................... 204Desencarnação renovadora .......................................... 205Valentina ......................................................................... 205

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Mariana............................................................................ 206Casa da Criança .............................................................. 206Desencarnação de Augustinho .................................... 209Formatura ........................................................................ 210Decepção de Otavinho .................................................. 211Comunicação de Augustinho ....................................... 212Reencarnação programada ........................................... 213Fábrica de loucos ............................................................ 214Tela mental ...................................................................... 215Desencarnações .............................................................. 216Terezinha, médium ........................................................ 217

toMo iV............................................................................. 219No umbral ....................................................................... 221Sem remorsos ................................................................. 224O poder da prece ............................................................ 229Minha máxima culpa ..................................................... 237Atrocidades ..................................................................... 238No Posto de Auxílio ...................................................... 241Na Colônia ...................................................................... 242No umbral ....................................................................... 244Causa e efeito .................................................................. 246Rastro de maldade ......................................................... 248Depoimento de um auxiliar da enfermaria ................ 252Câmaras de energização ............................................... 254Atuando no umbral ....................................................... 255Reconciliação .................................................................. 257

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Prefácio

A história inicia-se em 1829 quando Augusto Pa‑trão casa‑se com Sinhá e se instala na Fazenda Engenho Novo. Dali para cá foram nascendo, crescendo, partindo e retornando todos os personagens que aparecem nela. Marca o início, aqui no Brasil, do retorno desta gran‑de família.

Os nomes dos lugares e das pessoas foram omitidos ou substituídos, pois muitos descendentes se encontram encarnados, e prósperos ou não, verem‑se revelados cau‑saria constrangimentos.

Sinceramente,

andré

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TOMO I

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Herculano

Caminhava acelerado castigado pelo sol escaldante. O tempo úmido e quente favorecia a presença dos mos‑quitos, mas isso não o incomodava. Seus pensamentos mesclavam o que estava deixando para trás com a angús‑tia do desconhecido. Mas, como diria o Padrinho se es‑tivesse vivo: “Não há como mudar o rumo traçado pelo Criador”. Havia que seguir em frente. Há onze anos, nas‑cera na Fazenda Engenho Novo. Moreno, quase branco, era filho de Sinhozinho com a escrava Betina. Porém, não nascera livre.

Herculano morava com o Padrinho, já avançado em idade. Sabia da chegada do pai e ansiava por conhecê‑-lo. Crescia forte e esperto. Quis aprender a ler e escrever. Tanto fez que a professora da Sinhazinha, ensinou-lhe às escondidas do Patrão.

Betina

Feliz com o filho, estava apreensiva quanto ao seu des‑tino, pois o Patrão, pai de Sinhozinho, não a mirava com bons olhos. Sinhozinho fora estudar na Europa sem sa‑ber que a deixara grávida. Herculano sabia ser filho de Sinhozinho, razão da pele mais clara. Mas, não era livre. Devia obediência ao Patrão, homem de coração duro, mo‑tivo pelo qual Betina mantinha‑o distante e não falava a respeito com ninguém.

Betina orgulhava-se de Herculano. Menino bonito, cla‑ro e letrado. Sinhozinho, prestes a chegar após dez anos, haveria de gostar do filho – pensava sonhadora e ansiosa.

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Nunca tivera notícias concretas sobre ele. viu Sinhá cho‑rar por causa dele, mas jamais se atreveu a perguntar. Há dois anos, Patrão e Sinhá foram visitá-lo. Na volta, soube que tinham ido ao casamento do filho. Ficou triste e pro‑curou não pensar no assunto.

No dia da chegada, a cozinha estava em alvoroço. Os comentários eram de que Sinhozinho se casara com uma princesa. Caiu a tarde e ele não chegou. Betina passou de ansiosa a aflita. A noite avançou e ele não veio. Não con‑seguiu dormir. Com o dia raiando já estava de pé, antes mesmo que o sino tocasse. Enfim, o alarido. Sinhozinho não estava só. Evidente tratar-se da esposa. Percebia-se que estava grávida. Sinhozinho a cercava de cuidados.

– Não sabe que já é pai. Não sabe da existência de Her‑culano – sussurrou Betina.

Agora, na função de mucama, teria que cuidar da ri‑val. Sufocaria ciúme e inveja. Não queria que Sinhozinho se decepcionasse. Após dez anos, ambos estavam diferen‑tes. Talvez nem a reconhecesse, nem se recordasse. Re‑colhida ao leito, chorou magoada. Nenhum sorriso. Nem um olhar. Mas, amanhã seria outro dia e Sinhozinho ha‑veria de notá-la.

A dor que Betina sentia em nada se parecia com as anteriores. Não atinava ao certo se na alma ou no físico. Acreditava em Deus e sabia que as coisas se ajeitariam. Concentrou‑se no trabalho, embora contrariada por ser justamente ela quem zelaria pela “Patroinha”. Não tinha com quem desabafar. Nenhum parente no lote quando comprada em Fazenda distante. A única amiga, Nega Tiná, falecera. As demais eram fuxiqueiras, razão de não confiar.

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DeSejo e remorSo

A Patroinha reclamou de enjoo e quis caminhar. Betina acompanhou‑a pelo jardim e pomar, disfarçando o ciú me, buscando se resignar. A Patroinha não tinha culpa. Teria que aprender a gostar dela e da criança – reiterava a pensar. De repente, empalideceu e desfaleceu. Betina amparou‑-a gritando por auxílio. Todos acudiram. Sinhozinho veio rápido. Por segundos cruzaram olhares e Betina percebeu que ele a reconheceu. Por instantes desejou que a Patroinha morresse, mas, o remorso bateu forte e logo buscou auxi‑liar. O médico foi chamado e tudo correu bem.

iSaBel

Meses após nascia Isabel, clara e de olhos azuis como os da Patroinha. Betina decidiu cuidar da criança como se fosse sua. Afinal, era filha do dono de seu coração, em‑bora ele não soubesse. Isabel era saudável, porém, a mãe requeria constantes cuidados. Betina se desdobrava para que tudo corresse bem. Sinhozinho era bom, carinhoso e cercava a Patroinha e Isabel de mimos. Já o Patrão não gostava muito da neta. Ansiava por um neto e a chega‑da de Isabel o decepcionou. Betina percebeu o desagrado, mas, longe de se alegrar, cuidava para que a Patroinha não se inteirasse do fato.

auguSto

Passado um ano, já recuperada, Patroinha engravidou novamente. Repouso compulsório pelo risco de aborto.

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As escravas mais experientes davam‑lhe beberagens para que segurasse a criança. Finalmente nasceu belo menino. Houve problemas durante o parto resultando em febres fortes e delírios. Betina desdobrava-se em cuidados e ora‑ções. Os meses correram. Patroinha melhorou, mas sem‑pre requerendo atenção. O menino recebeu o nome do avô que o tratava qual príncipe. Era visível a diferença que o Patrão fazia entre a menina Isabel e o menino Augusto.

Herculano no internato

O Padrinho, mercê da idade e enfermidade, faleceu. Em testamento reconheceu Herculano como filho, tornan‑do-o herdeiro dos bens que possuía. Por ter apenas onze anos, a administração dos negócios, casas e mercearia no vilarejo, ficou a cargo do senhor José, sobrinho do Padri‑nho, que morava com eles há alguns anos. Afeiçoara-se a Herculano, que também gostava e tinha respeito por ele. José tratou de cumprir o prometido ao tio. Herculano iria estudar mais. Saber ler e escrever não bastava.

Eis a razão do caminhar apreensivo de Herculano. Despedira‑se de todos, deixando Betina com o cora‑ção partido. Iria para a cidade estudar com os padres. Acostumado à calma do vilarejo, estava ansioso e te‑meroso, embora resoluto. Padre Damião o aguarda‑va no Colégio. Conhecia-o de pequeno, pois quando no vilarejo hospedava-se na casa do Padrinho. Sabia desde que o batizara, que o Padrinho almejava passos maiores para ele. Haveria de prepará-lo, ensinando‑‑lhe tudo.

No testamento deixou pequena fortuna à Igreja

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para que educassem o agora herdeiro de seus bens e de seu nome. Herculano serenou-se ao avistar pa‑dre Damião. Abraçou-o e chorou por relembrar o Pa‑drinho com saudade e dor. Padre Damião recebeu-o com carinho. Esperou que se acalmasse e seguiram de mãos dadas.

Passaram-se alguns anos. Herculano tratava de apren‑der ao máximo. À noite, recolhido à cela – nome usado para pequeno quarto com cama simples –, imaginava como estaria a mãe e seu pai Sinhozinho. Na Engenho Novo, Isabel e Augusto cresciam saudáveis e bonitos. Aprendiam com a professora Amália, contratada para ensiná-los.

A Patroinha, que quase morreu no parto de Augusto, herdou como sequela uma perna mais curta, o que além de dores, fazia com que mancasse.

DeSencarnação De SinHá

Sinhá, mãe de Sinhozinho, faleceu num dia chuvoso e frio. Os escravos choraram, pois a tinham como protetora. O Patrão, desgostoso e enfermo, deixou a Fazenda a car‑go do filho e rumou para a Europa, objetivando tratar da saúde, pois já vinha sentindo dores intermitentes no peito.

retorno De Herculano

Quando padre Damião deu os estudos por encerrado, disse‑lhe:

– Meu filho, aqui não há mais como prosseguir. Só na

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Europa se quiser. Condições para tanto, você tem, mas poderá ser rejeitado devido à sua origem.

Herculano julgou não necessitar do que a Europa ti‑nha a oferecer. Já era tempo de retornar e assumir o que era seu. Em nada se parecia com o menino assustado que ali chegara há alguns anos. vestido com discreta elegân‑cia, partiu acompanhado do padre Damião. O senhor José abraçou Herculano com visível emoção. Herculano estava feliz, como nos tempos de menino. Padre Damião cum‑primentou José com a simpatia que lhe era característica. José ajoelhou‑se aos seus pés e beijou‑lhe a mão, constran‑gendo-o.

Na primeira noite, teve sonhos agitados. No sonho o Padrinho o auxiliava, ensinando‑o a perdoar e valorizar o que realmente valia a pena. Deveria esquecer seu último dia na casa do Patrão-avô e, sobretudo, perdoá-lo.

O senhor José cuidara de tudo com dedicação. Ago‑ra Herculano era sua família. Mesmo idoso, continuaria auxiliando. Desde que chegara da Europa, sabia que o tio deixaria tudo para o menino. Sua esposa falecera no navio; não tinha filhos. Afeiçoou-se a Herculano. Não sa‑bia explicar, mas era como se Herculano fosse realmente seu filho. Herculano o queria muito e agora mais ainda, pois José se transformara no Padrinho, tanto na aparência quanto na bondade.

Betina veio vê-lo o quanto antes. Deslumbrou-se. Se não o soubesse filho, pensaria tratar-se de um “doutor”. Bem-vestido, bons modos, olhar inteligente. Ah, que or‑gulho! Agradeceu ao Padrinho em pensamento e pediu a Deus que o recompensasse por ter sido tão bom com seu filho, amparando-o no momento mais difícil de sua

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vida. Retornou feliz. Agora – concluiu refletindo – pode‑ria morrer. Seu filho já era homem feito e não precisava mais dela.

Absorta em seus pensamentos demorou‑se a notar que a Patroinha a observava. Assustou-se, pedindo desculpas pela distração. Patroinha gostava dela e alegrou-se com a sua felicidade. Sabia que Herculano era o motivo de Be‑tina “estar nas nuvens”. Contudo, não imaginava que o marido, Sinhozinho, fosse pai de Herculano. O menino, agora rapaz, mulato claro, quase branco, era acreditado por todos como filho do “Padrinho”. Sinhozinho tampou‑co sabia. Tal segredo, Betina e Herculano levariam para o túmulo.

auguSto na euroPa

O tempo transcorreu célere. Augusto partiu com os pais e a irmã, para a casa dos avós maternos na Europa, onde concluiria os estudos. Sinhozinho preparou um ad‑ministrador, mas estava apreensivo. Porém, o desejo de levar o filho e rever o pai, foi mais forte.

Na Fazenda, Betina ficou responsável pela Casa Grande e tratou de ir à luta para que tudo continuasse a contento.

Na administração, Joaquim sabia como e o que fazer. Porém, receava quanto ao feitor, “João do Mato”, duro demais no trato com os escravos. Presenciara vários exa‑geros e em alguns até Sinhozinho tivera que intervir.

Dois anos após retornaram. Isabel, cheia de novida‑des, estava radiante querendo contar tudo. O tempo na

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Europa deixou-a mais bonita. Com certeza não faltariam pretendentes. Na época, somente os homens recebiam educação mais esmerada. Às mulheres, tão somente o lar e a criação dos filhos. Patroinha, um pouco triste e nostál‑gica por Augusto ter ficado, consolava-se reiterando que era para o bem dele. Afinal, ficara aos cuidados de seus pais e irmã e em companhia dos primos.

Sinhozinho, já na chegada, precisou intervir na con‑tenda entre João do Mato e dois escravos no tronco há dias. Sabia que se desautorizasse João do Mato, o feitor perderia o controle sobre os mais rebeldes. Fora informa‑do que os fugidos não haviam sido recapturados pelos capitães do mato. Os escravos estavam descontentes com o feitor e tudo fariam para que tivesse menos poderes.

Na Casa Grande, as encarregadas do serviço não ti‑nham motivos para reclamar, já que Betina continuara a ro‑tina de sempre. Isabel contou a Betina sobre as dimensões e beleza dos navios, cidades, edifícios, monumentos. Betina, maravilhada, achava que um pouco era exagero e fantasia.

feitor joão Do mato

Para os escravos, João do Mato era inimigo a ser com‑batido. Implacável, não deixava nenhuma falta sem cas‑tigo. Desde que Sinhozinho se ausentara, iniciara uma era de tirania. Joaquim intercedia, mas muitas vezes não conseguia conter os excessos. Com auxílio externo, os escravos se organizavam planejando fugas para o Qui‑lombo. Os não recapturados até poderiam estar mortos, mas, para os reclusos, eram heróis que haviam alcança‑do a liberdade.

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Começava época difícil para os senhores de escra‑vos. Quanto mais severos os castigos maior o desejo por liberdade. Muitos tentaram, tentavam e tentariam fugir. Sinhozinho sabia disso. As notícias fervilhavam. Os sexa‑genários, que por lei ganharam a liberdade, não se aven‑turavam a partir para o Quilombo, relatado como paraíso, qual aldeias africanas descritas pelos pais e avós. Afeiçoa-dos ao lugar e aos demais, temiam o futuro. Desprepa‑rados para a liberdade, cansados e doentes, não teriam sequer como conseguir alimentos.

O Quilombo distante só era alcançado pelos mais jo‑vens e saudáveis. Os velhos e débeis facilmente seriam se‑guidos, colocando em risco os fugitivos e os Quilombolas. A maioria dos que por lei nasciam livres, ficavam junto às mães, prestando pequenos serviços em troca do susten‑to. Sinhozinho e senhor Joaquim procuravam apaziguar os escravos, mas, não poderiam abrir mão dos serviços do feitor, ante os rumores que abolicionistas tomariam as senzalas libertando a todos. A ocasião exigia rigor, caute‑la e vigilância.

Anseios de liberdade ecoavam por todos os cantos. Não se podia facilitar. Os escravos estavam levando o dobro do tempo para executar as tarefas. João do Mato punia‑os pela pouca produtividade, chicoteando os mais recalcitrantes no tronco. Patroinha não se envolvia como a falecida sogra Sinhá, mas a filha, Isabel, era contra os castigos e ajudada por Betina auxiliava no que podia, pelo que tinham‑na como protetora.

Muitas vezes, contrariando o pai, Isabel entrava na Senzala para cuidar de doentes e feridos. Não gostava de João do Mato por maltratar os escravos quais animais. Sa‑

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bia que o pai dependia do trabalho escravo, mas achava que a disciplina poderia ser obtida com menor rigor e que a Senzala não devia ficar trancada qual prisão. Queria que fossem tratados com respeito. Por suas ideias, era querida e chamada de Sinhazinha.

motivação à liBerDaDe

Relâmpagos clareavam a escuridão antecipando o amanhecer que não tardaria. Escravos alvoroçados. Ne‑gro Tião, no tronco, ardia em febre e delirava, descreven‑do o Quilombo como se o estivesse vendo:

– Liberdade. Terras para plantar. Rio bonito para ba‑nho e pesca... Paraíso, sem troncos, sem feitor, sem Se‑nhor. Liberdade...

Os ouvintes pensavam tratar-se de um de seus mor‑tos que vinha através do negro Tião motivá‑los a que fu‑gissem. Mas, como? João do Mato parecia não ter sono. Rondava a Senzala durante a noite e a lavoura durante o dia.

Contudo, acreditavam que a liberdade estava pró‑xima. Sabiam que homens brancos de bom coração – abolicionistas – lutavam por eles. Sabiam que muitos abolicionistas eram filhos de senhores de escravos, comprando um de cada fazenda para se inteirarem do funcionamento da guarda, planejando modos e for‑mas de libertá-los. A esperança aumentara ao saberem que um deles, recentemente fora comprado por jovem recém‑chegado da Europa, filho do escravagista da fa‑zenda vizinha.

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agreSSão ao feitor

A chuva parou momentaneamente acompanhando o últi‑mo suspiro de Tião, intensificando-se em seguida, qual um sinal. Juraram punir o responsável. Mesmo chovendo for‑te, saíram para a lavoura. A vingança teria que ser execu‑tada. Iniciaram o trabalho com afinco, como se nada ocor‑rera. João do Mato, ao vê-los na lida sem moleza, concluiu que o castigo de Tião fizera efeito e descuidou-se por um momento. O suficiente para levar certeiro golpe de enxada, desencarnando na hora. Os fiscais auxiliares prenderam e levaram o autor para o tronco. Os escravos continuaram trabalhando, excitados e aliviados por estarem livres do cruel feitor, graças à coragem do negro Nestor.

Sinhozinho e Joaquim, imediatamente avisados, tro‑caram ideias sobre o que fazer para manter a ordem e a disciplina. Suspenderam a lida para evitar fugas e após acompanharem o enterro de Tião, foram recolhidos à Senzala. Sinhazinha chorou por Tião e temia pela sorte de Nestor, preso ao tronco.

Betina não sabia como consolá-la. Sempre fora escrava e submissa. Se ganhasse a liberdade iria morar com o filho Her‑culano, longe de tal aflição. Agora, conseguia avaliar como bênção, o que no passado considerou penoso castigo. Pen‑sando aliviar o sofrimento de Isabel, decidiu contar‑lhe como e porque seu filho Herculano fora morar com o Padrinho.