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FAZEI A EXPERIÊNCIA

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FAZEI A EXPERIÊNCIA

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PrefácioPara mim é uma alegria prefaciar esta obra do mis-

sionário leigo e teólogo, Kater Filho, cujo trabalho evange-lizador pelo Brasil eu já acompanho há décadas. Acredito que a nova edição deste livro-testemunho continuará aju-dando a conscientizar os fiéis sobre a importância da devo-lução integral do dízimo às comunidades que frequentam.

A paróquia constitui, juntamente com seu pároco, uma parcela do rebanho da diocese à qual pertence. O pároco, como colaborador do bispo, é responsável por administrar a paróquia, guiar e santificar o povo, pelo exercício do seu ministério. Os fiéis que a frequentam e, através dela, usufruem dos sacramentos e das demais graças e bênçãos, são membros daquela comunidade e, portanto, também responsáveis por ela.

Com o passar do tempo, quando acontece a substi-tuição do pároco, os paroquianos permanecem, porque, na maioria das vezes, ali residem há muitos anos. Eles são a memória da comunidade, onde foram batizados, crismados e receberam a sua primeira comunhão. Ali amadureceram para a vocação, celebraram o seu matri-mônio e prosseguem engajando na comunidade os filhos e filhas, enquanto também se despedem dos parentes e amigos falecidos.

Eles são os primeiros discípulos missionários da pa-róquia, chamados a colaborar na sua ação evangelizado-ra e pastoral. São também os grandes responsáveis pela manutenção e, se necessário, pela expansão e pelo cresci-mento e adequação do templo, do salão paroquial e por todas as demais necessidades materiais que surgirem. E tudo isso é feito por meio do dízimo que, fielmente, todos os meses, os paroquianos ali devolvem.

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O dízimo, portanto, nada mais é que a contribuição de cada paroquiano ou paroquiana para que a Paróquia sobreviva dignamente e cresça, mantendo-se por si pró-pria. Ali está a casa de Deus, onde O cultuamos com nossas celebrações e orações. Ela “é comunidade de co-munidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário” (Evangelii Gaudium, nº28).

Ao iniciar seu livro com citações da Sagrada Escritu-ra, o autor mostra que o dízimo é bíblico e não uma simples invenção ou determinação da Igreja. Como paroquiano e dizimista, ele próprio tem testemunhado que Deus é fiel àqueles que o buscam, conforme a profecia de Malaquias: “Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência –- diz o Senhor dos exércitos - e verei se não vos abro os re-servatórios do céu e se não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário” (Ml 3,10).

Por isso mesmo, Kater Filho coloca este subtítulo ao seu livro: “Fazei a experiência”, convidando o leitor a praticar o dízimo e experimentar a mão poderosa de Deus agindo em sua vida, pois Deus sempre é fiel em suas promessas e nunca falha.

Acredito que a leitura desta obra incentivará os seus leitores e leitoras a também experimentarem a fidelidade de Deus, que se manifesta nas mais diversas circunstân-cias de nossa vida. Cada passo de amadurecimento na fé e na confiança em Deus, inclusive a entrega do dízimo às comunidades ou paróquias que frequentam, nunca deixará de ser acolhido pelo Senhor, que nos supera infinitamente em generosidade.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.Arcebispo Metropolitano de

São Sebastião do Rio de Janeiro

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Apresentação da 1ª edição

Este livro que você tem em mãos e abre com curio-sidade é fruto de uma preciosa experiência que o carís-simo irmão, KATER FILHO, vem nos ajudando a re-alizar, desde 1998, na Arquidiocese de Montes Claros, assessorando muitos Encontros da Pastoral do Dízimo.

As primeiras comunidades cristãs dos Atos dos Apóstolos (At 2,42 e At 4,32-35) ensinaram-nos que, além da escuta da Palavra de Deus, do amor fraterno e da liturgia, é preciso viver uma mística de comunhão e partilha concreta dos bens, se quisermos seguir a Cris-to e viver como Igreja viva: “Não havia necessitados entre eles” (At 4,34).

A própria comunidade que Cristo fundou com seus doze Apóstolos e as mulheres que os acompa-nhavam estava organizada, inclusive com caixa co-mum, não só para a própria subsistência, mas para ajudar também os mais pobres (Jo 12,4-0).

No Antigo Testamento, Deus, ao organizar seu povo, inspirou-lhe o preceito da prática da arreca-dação da décima parte (dízimo) do que a pessoa ga-nhava, para que fosse mantido o culto a Deus com os sacerdotes e levitas (Mt 3,0-12).

Para facilitar a prática da partilha e comunhão, hoje, para nós, o dízimo não funciona como um im-posto sagrado, mas como uma alegre mística de co-munhão para que as comunidades, as paróquias e as dioceses, possam manter-se e praticar a solidariedade com os carentes.

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A experiência recolhida neste livro de KATER FILHO afirma-nos a necessidade de se criar uma verdadeira Pastoral do Dízimo nas paróquias, prio-rizando a conscientização baseada no Evangelho e nas promessas de Deus, levando a comunidade a se evangelizar cada vez mais para ser Missionária do desapego e da partilha cristã neste mundo tão consu-mista e materialista, que coloca a felicidade da pessoa no ter mais.

KATER FILHO, cristão católico que se esfor-ça sempre mais por viver o Evangelho e a Missão de evangelizador e apóstolo, juntamente com sua esposa ALAICE e seus filhos, dá neste livro seu tes-temunho pessoal da prática do dízimo. Isso leva os agentes dessa Pastoral e todos os que o lerem, a viver também essa prática e a dar seu testemunho de vida na implantação do dízimo, com entusiasmo e amor apaixonado a Cristo e a sua Igreja, nas comunidades e paróquias.

Agora, vire a página e leia! Você vai conhecer o coração deste missionário da família, dos jovens e das comunidades e este grande entusiasta da Pasto-ral do Dízimo.

Dom Geraldo Majela de Castro, O. Praem.

Arcebispo de Montes Claros — MG

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Introdução

Atendendo a sugestões e pedidos de amigos, que já me ouviram pregar e dar o meu testemunho sobre a fidelidade de Deus aos que, fielmente, devol-vem o dízimo à Igreja, publico, como adendo a este li-vro, alguns subsídios que costumo utilizar neste meu trabalho de conscientização sobre dízimo, em nível paroquial e diocesano.

Obviamente que, para conseguirmos um resul-tado eficiente e eficaz, a utilização destes subsídios deve estar acoplada a testemunhos concretos e entu-siastas de dizimistas fiéis que tenham feito esta expe-riência da fidelidade de Deus, narrada textualmente no desafio descrito no livro de Malaquias 3,8-10. O meu testemunho, que originou a primeira versão des-te livro, pela Editora Ave-Maria (editado em 1998), encontra-se na sequência deste, ao qual acrescentei mais alguns testemunhos inusitados de pessoas que, como eu, fizeram essa experiência de Deus.

Além disso, em muitas comunidades, onde criou--se o hábito (mau, diga-se de passagem) de “manter” a paróquia (ou as suas pastorais) por meio de “pro-moções” constantes do tipo: quermesse do padroeiro, bingos, noites de pizza, bazar da pechincha, leilões, rifas e sorteios, faz-se necessário uma mudança de mentalidade e postura, pois essas práticas impedem o trabalho eficaz de conscientização do dízimo junto aos paroquianos. Isto sem contarmos que, em muitos ca-sos, elas promovem e incentivam a venda de bebidas

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alcoólicas e as jogatinas, o que, inquestionavelmente, é uma incoerência absurda no contexto religioso e pas-toral. Tratarei objetivamente desse assunto na sequên-cia dos subsídios sugeridos.

Normalmente trabalho com grupos de pessoas integrantes da Pastoral do Dízimo ou diretamente com os paroquianos, em encontros previamente pre-parados com este objetivo precípuo: conscientizar as pessoas sobre a importância do dízimo. Pela experi-ência adquirida ao longo destes anos, pude perceber que esta conscientização sobre o dízimo deve ser fei-ta com grupos que estejam dispostos a ouvirem-na atentamente, em encontros organizados e não apenas em palestras surpresa, substituindo as homilias, du-rante a celebração da missa.

Particularmente, apesar de já ter obtido resul-tados eficazes, em ações semelhantes efetuadas a pedido de certos párocos amigos, percebo ser muito difícil, durante o pouco tempo disponível nas ho-milias, conscientizar verdadeiramente as pessoas, mesmo se tratando de testemunhos fortes e convin-centes, naquele momento. Muitas delas estão mais preocupadas com o horário, ou com o tempo de duração das celebrações, do que com o seu conteú-do. Infelizmente, ainda, muitas pessoas participam das missas dominicais só para cumprir o preceito religioso e não estão muito dispostas a ouvirem tes-temunhos que irão “mexer” com a sua maneira de “ver” a religião que professam já há muitos anos e da mesma maneira conservadora como a aprende-ram. Ainda mais se este testemunho ousar “mexer” em seu bolso... mudando a sua maneira de partici-par da Igreja ou questionando a sua responsabilida-de como seu membro.

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Introdução

Naturalmente, sempre existem honrosas ex-ceções, mas, infelizmente, a maioria ainda não está muito propensa a mudar. Logo, insisto, porque acho mais eficiente e eficaz convidar os paroquianos para um Seminário ou Encontro sobre Dízimo, dando oportunidade àqueles que realmente estão dispos-tos a ouvir, de se inteirarem desse assunto que, infe-lizmente, é ainda um tabu em nossa Igreja.

Compete basicamente ao pároco o estímulo maior para que as pessoas venham participar do En-contro sobre o dízimo. Quanto mais o pároco, pes-soalmente, se empenhar no convite aos paroquianos, maior será o número de participantes. Mesmo que este convite precise ser feito corpo a corpo ou até, se necessário, que o pároco visite as famílias que ele deseja que participem, convidando-as pessoalmente. Não basta apenas os avisos nos horários determina-dos da celebração ou a fixação de cartazes na porta da igreja e da sacristia.

Quanto aos membros pertencentes a pastorais, é necessário que o pároco os convoque para o En-contro, não deixando ao seu livre-arbítrio a decisão de irem ou não participar do evento. Por experiência aprendemos, quando se trata de dízimo, onde está envolvido o dinheiro, normalmente as pessoas se fur-tam a ir, encontrando as mais variadas desculpas ou justificativas para a sua ausência. Uma significativa parte dos leigos engajados nas atividades da Igreja, incluindo ministros da Eucaristia, catequistas, pre-gadores, acreditam piamente que “pagam até mais do que o dízimo” doando o seu valioso tempo nos serviços que prestam à sua paróquia. Muitas vezes até mesmo algumas pessoas engajadas nas pastorais do dízimo, nem são dizimistas regulares e fiéis, pois

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alegam a mesma desculpa de que já “pagam o dízi-mo” oferecendo o seu tempo de trabalho na pasto-ral. Infelizmente estas pessoas confundem as coisas, conscientemente ou não. Por esta razão, volto a in-sistir: é necessário conscientizarmos primeiro aqueles que são parte integrante das diversas pastorais, antes de iniciarmos o trabalho propriamente dito junto aos paroquianos. Se não existir um esforço integrado e conjunto, com todos “falando a mesma língua”, os resultados deixarão muito a desejar.

Antes de desenvolvermos uma ação de marketing necessitamos fazer o endomarketing, ou seja, o marke--ting interno. Traduzindo para o linguajar eclesiástico, antes de sairmos para evangelizar o povo, precisamos evangelizar os nossos “evangelizadores”. Caso isso não ocorra, correremos o sério risco de ter na equipe agentes falando daquilo que pode e deve ser feito teoricamen-te, mas na prática, agindo de maneira diferente de tudo aquilo que apregoam. Não funciona (nem nunca fun-cionou, a meu ver) a pedagogia do tipo: “faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço”. Uma das principais razões do insucesso no trabalho de conscientização do dízimo junto a paroquianos ou diocesanos é esse, pois o trabalho tem que ser iniciado na base, ou seja, junto aos agentes da Pastoral do Dízimo e das outras pastorais.

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Quem inventou o dízimo, foi a Igreja?

Esse deve ser o primeiro esclarecimento a ser fei-to junto ao nosso público, pois ao longo dos séculos, difundiu-se entre os cristãos a falsa informação de que foi a Igreja quem “inventou” o dízimo para garantir a sua sobrevivência e opulência na história da humani-dade, garantindo assim o seu poder temporal, a partir dos bens materiais. Interessante ainda é detectarmos que essas e outras informações desairosas, particular-mente sobre a Igreja Católica no decorrer da História, são levantadas por alguns professores de história, nos cursinhos preparatórios ao vestibular, e nos cursos de Ensino Médio (antigo colegial ou segundo grau). Alguns deles, por razões pessoais e talvez vingati-vas, empenham-se num trabalho constante para criar uma imagem negativa, perante a juventude, sobre a Igreja Católica Apostólica Romana, taxando-a de ex-ploradora, atrasada, incoerente, moralista, retrógrada. Obtive essas informações junto a muitos pais e mães, católicos praticantes, de alunos e alunas que levam es-sas questões para casa, buscando explicações maiores ou, muitas vezes, porque se veem impossibilitados ou inibidos, em salas de aula, de defender a religião que sua família professa, por tantos “exemplos” históricos ressaltados por estes “professores”, tal como a Santa Inquisição, entre outros.

Se observamos a História e a evolução da hu-manidade, perceberemos que, desde os primórdios

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da civilização, os povos sempre manifestaram a sua gratidão e o seu temor às divindades cultuadas em seu tempo, oferecendo-lhes, espontaneamente, sa-crifícios e presentes, apresentando-lhes tudo isso em rituais solenes.

Logo, esse gesto visível de gratidão aos “deuses” pelo dom da vida, por bênçãos e graças recebidas, é uma atitude natural do homem e começou a manifes-tar-se a partir do momento em que ele tomou consci-ência de que não estava só no universo e que, acima de tudo e de todos, deveria existir uma entidade superior que tudo criou, a quem deveria prestar culto e agrade-cer de uma maneira concreta.

Identificamos princípios rudimentares do dízi-mo nas oferendas levadas pelos povos primitivos às crateras dos vulcões que, em sua ignorância, acredi-tavam ser fruto da ira divina, ou nas ofertas lançadas ao mar, onde imaginavam morar tais divindades ou ainda nas vítimas sacrificadas e queimadas nas mon-tanhas mais altas, para que a fumaça subisse rapida-mente ao céu, onde pensavam, também, habitarem esses “deuses”.

No judaísmo, religião monoteísta e de onde nas-ceu o cristianismo, já percebemos a prática concreta do dízimo associada à conduta religiosa do crente, por meio de textos bíblicos que ensinavam as leis, práticas e prescrições observadas na época, dos quais citamos alguns para uma melhor compreensão do nosso leitor:

Voltando Abrão da derrota de Cordolaomor e seus reis aliados, o rei de Sodoma sai-lhe ao encontro no vale de Savé, que é o vale do rei. Melquisedeque rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho,

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Quem inventou o dízimo, foi a Igreja?

e abençoou Abrão dizendo: “Bendito seja o Deus Altíssi-mo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o Deus Altíssi-mo que entregou os teus inimigos em tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. (Gn 14,17-20)

Percebam que Abrão dá o dízimo a Melquise-deque, o sacerdote do Deus Altíssimo, em gratidão pela vitória conquistada. O dízimo aqui referido era proveniente dos bens que o vitorioso tinha direito sobre o derrotado, ficando para si tudo aquilo que era de valor, despojando o perdedor desses bens. Era o prêmio pela vitória conseguida. A atitude de Abrão é espontânea, diante daquilo que o sacerdo-te lhe disse: Deus lhe entregou os inimigos em suas mãos, Deus proporcionou-lhe a vitória e consequen-temente os bens que você agora desfrutará. E Abrão, gratificado, devolve o dízimo a Deus. É a primeira vez que o dízimo é citado nas Sagradas Escrituras e surge como uma manifestação livre e grata do ho-mem para com Deus.

Jacó fez então este voto: “Se Deus for comigo, se ele me guardar durante esta viagem que empreendi, e me der pão para comer e roupa para vestir, então o Senhor será o meu Deus. Esta pedra da qual fiz uma esteia será uma casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo o que me derdes”. (Gn 28,20-22)

Jacó, nessa segunda referência ao dízimo na Bí-blia, promete o dízimo a Deus em troca de sua pro-teção, guardando-o, proporcionando-lhe alimentos e vestimenta, jurando ainda a Deus a sua fidelida-de. Logo, vemos mais uma vez o homem tomando a iniciativa neste relacionamento com Deus, por

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intermédio do dízimo de tudo aquilo que ele con-quistar com as bênçãos e a proteção de Senhor.

Já no livro do Êxodo, logo após ter estabelecido explicitamente os seus mandamentos a Moisés, Deus determina, ainda por meio desse profeta, diversas normas referentes aos altares, direitos referentes aos escravos, propriedades, leis morais e religiosas, que deveriam ser observadas pelo povo hebreu, para dele (Deus) receberem as suas bênçãos e a sua proteção. No livro do Êxodo lemos a seguinte prescrição divina:

Não tardarás a oferecer-me as primícias de tua colheita e de tua vindima. Tu me darás o primogênito de teus filhos. Da mesma forma me darás o primogênito de tua vaca e de tua ovelha. (Ex 22,28)

De acordo com esse preceito, os homens deve-riam oferecer a Deus as suas primícias, ou seja, os primeiros frutos das suas colheitas. Da mesma forma deveriam agir com as crias de seus rebanhos, eles de-veriam oferecer-lhe os primeiros que nascessem.

Daqui concluímos que, de nossos rendimentos recebidos, devemos, antes de tudo, separar o dízimo, para devolvê-lo fielmente a Deus. Esse é um procedi-mento que ele mesmo determinou aos homens, pois sabe que se tardarmos a devolver aquilo que é de Deus, mantendo-o sob nossa custódia, corremos o ris-co de sermos infiéis, consumindo-o.

Um pouco mais além, no livro do Levítico, que trata especificamente dos rituais e das leis relaciona-das a Deus e a conduta do povo hebreu, Deus, por intermédio de Moisés, esclarece definitivamente a quem pertence os dízimos:

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Quem inventou o dízimo, foi a Igreja?

Todos os dízimos da terra, tomados das sementes do solo ou dos frutos das árvores são propriedade do Senhor: é uma coisa consagrada ao Senhor. (Lv 27,30)

Aqui, Deus estabelece que o dízimo é coisa sa-grada, pois a ele pertence e, portanto, a ele deve ser devolvido.

Já no livro do Deuteronômio, para evitar outras discussões ou distorções, para onde deveriam ser le-vados os dízimos do Senhor, ao determinar o santu-ário como local do culto a Deus, ele indica o templo como sendo este local, dizendo:

É nesse lugar que apresentareis vossos holocaustos e vos-sos sacrifícios, vossos dízimos, vossas primícias, vossos votos, vossas ofertas espontâneas, os primogênitos de vos-sos rebanhos graúdo e miúdo [...] então, ao lugar que o Senhor, vosso Deus, escolheu para estabelecer nele o seu nome (o templo), ali levareis todas as coisas que vos orde-no: vossos holocaustos, vossos sacrifícios, vossos dízimos, vossas primícias e todas as ofertas escolhidas que tiverdes prometido por voto ao Senhor. (Dt 12,6.11)

Por essa determinação divina do Antigo Testa-mento, concluímos que o dízimo deve ser entregue no Templo, ou seja, no local oficial do culto a Deus: na igreja, mais especificamente hoje, nas paróquias, que são as organizações responsáveis pelas igrejas: os templos onde hoje cultuamos a Deus, professando, em comunidade, a nossa fé católica.

Ainda no livro do Deuteronômio lemos a orien-tação para que o hebreu que vivesse do campo e da agricultura não negligenciasse quanto a observação do dízimo:

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Porás à parte o dízimo de todo fruto de tuas semeaduras, de tudo o que teu campo produzir cada ano. (Dt 14,22)

Costumo, nas palestras sobre o dízimo em comu-nidades de economia basicamente rural e agrícola, citar esse texto para orientação dos agricultores e fazendeiros em relação à conduta e postura sobre o dízimo.

Assim poderemos comprovar, pela leitura desses e de outros trechos da Palavra de Deus, que o dízimo nas-ceu como uma manifestação espontânea dos homens a Deus e que, no decorrer dos séculos, foi sendo orientado por prescrições divinas, inspiradas aos seus profetas e representantes, para que, ao longo do tempo, não fosse negligenciado pela humanidade, muito menos distorci-do por seus sentimentos egoístas e materialistas.

Para aqueles que quiserem ainda se aprofundar mais nas citações bíblicas que falam de alguma maneira sobre a prática do dízimo existem, ao todo, 51 citações sobre ele, sendo 42 no Antigo Testamento e nove no Novo Testamento. A seguir público a relação na ordem encontrada nos livros bíblicos, para posterior consulta e estudo dos que desejam aprofundar um pouco mais sobre o tema. Se você encontrar outras citações, com a palavra dízimo, que tenham escapado de minha pesqui-sa, e que não se encontrem na relação abaixo, por favor escreva-me, com carta endereçada a Editora Ave-Maria, comunicando-as que iremos inseri-las nas próximas edi-ções deste livro:

Gn 14,20; Gn 28,22; Lv 14,10; Lv 14,21; Lv 23,13; Lv 23,17; Lv 24,5; Lv 27,3; Lv 27,31; Lv 27,32; Nm 18,21; Nm 18,24; Nm 18,26; Nm 18,28; Nm 18,30; Dt 12,6; Dt 12,11; Dt 12,17; Dt 14,22-23; Dt 14,28; Dt 26,12; Dt 26,14; 2Cr 31,5; 2Cr 31,6; 2Cr 31,12; Ne 10,37-38; Ne 12,44; Ne 13,5; Ne 13,12; Eclo 7,34; Eclo 35,11; Am 4,4; Ml 3,8; Ml 3,10; Mt 23,23; Lc 11,42; Lc 18,12; Hb 7,2; Hb 7,4-6; Hb 7,8-9.

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Servir a Deus ou ao dinheiro?

A palavra de Deus nos diz, no Evangelho de São Lucas 16,13:

Nenhum servo pode amar a dois senhores; ou há de odiar a um e amar a outro, ou há de aderir a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.

Essa palavra de Deus passa despercebida por muitos de nós, católicos. Nós não entendemos a pro-fundidade dessa advertência, desse alerta de Jesus Cristo.

Por minha experiência, conversando com mui-tas pessoas a respeito do dízimo, posso garantir: o dinheiro tem sido, nesta nossa caminhada terrestre, um dos grandes obstáculos a nos impedir de mergu-lharmos profundamente numa experiência de Deus. O que me permite falar assim com segurança é exa-tamente aquilo que leremos a seguir na palavra de Deus e que diz respeito ao dízimo. O dízimo tem sido um assunto pouco comentado e também pouco expli-cado nas pregações e homilias, por nossos sacerdotes e pelas pessoas que têm a missão de evangelizar. Eu gostaria de convidá-los a abrirem a Bíblia no livro de Malaquias 3,8-10, onde lemos:

Pode o homem enganar o seu Deus? Por que procurais enganar-me? E ainda perguntais: Em que vos tenho en-ganado? No pagamento dos dízimos e nas ofertas. Fostes atingidos pela maldição, e vós, nação inteira, procurais enganar-me. Pagais integralmente o dízimo ao tesouro

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do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência — diz o Senhor dos exércitos — e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário.

Meus amigos, essa palavra de Deus não é um simples mandamento. Aliás, o dízimo não é um man-damento da Lei de Deus. O dízimo é antes uma pro-messa e, acima de tudo, um desafio que Deus faz a cada um de nós que se diz cristão.

Pagai integralmente o dízimo e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se não derramo a minha bênção so-bre vós muito além do necessário.

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Dízimo, para implantar é preciso, antes de tudo, conscientizar

Tenho observado, nos últimos tempos, maiores esforços de dioceses e paróquias no sentido de im-plantar o dízimo junto aos fiéis católicos, até mesmo por uma questão de sobrevivência das mesmas. Inge-nuamente, alguns pensam que o dízimo se implanta com a simples criação de uma Pastoral do Dízimo determinando normas, procedimentos, sistemas de arrecadação ou recolhimento, cadastramento dos di-zimistas potenciais, nomeação de responsáveis pelo dízimo etc. Felizmente, o dízimo não se implanta como um “imposto” devido à Igreja, mesmo porque a maioria das pessoas já estão saturadas de impostos “implantados” pelos governos municipais, estaduais e federais. Para que possamos “implantar” o dízi-mo em determinada comunidade, de uma maneira definitiva e eficaz, precisamos, antes de mais nada, conscientizarmos os seus membros sobre sua impor-tância, benefícios, necessidade e frutos para toda a comunidade e sociedade de uma forma geral.

Conscientizar significa mostrar aos fiéis a neces-sidade da Igreja em se manter com os recursos prove-nientes de seus membros. Os fiéis foram, infelizmen-te, sendo deseducados ao longo dos séculos quanto ao dízimo, basicamente pela postura dos padres, bis-pos e da Igreja que, no passado, de uma forma gené-rica, deixou uma impressão de riqueza material não muito real, muito menos benéfica junto aos católicos.

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Dízmo - Fazei a experiência

A impressão de riqueza e opulência deixada e ali-mentada durante séculos é o primeiro e, talvez, o maior obstáculo a se transpor junto à comunidade ca-tólica. Essa percepção, aliada a uma certa autonomia financeira, deixada transparecer por certas ordens religiosas ou mesmo pelas dioceses mais abastadas, impede que o fiel se veja como um corresponsável pela manutenção de sua Igreja. Para isso precisamos:

• Desmitificar o conceito de que a Igreja Católica é rica e de que o Vaticano possui incontáveis tesou-ros guardados (as fábulas sobre o ouro do Vatica-no), com firmeza, conhecimento de causa e deter-minação. E importante que se vá direto ao cerne da questão com autoridade e segurança, mostrando aos fiéis do que se trata o tal “tesouro do Vaticano” de que tanto falam os inimigos da Igreja. Na se-quência, no meu testemunho, abordo esse assunto com maior objetividade e transparência.

• Explicar que a aparente riqueza da Igreja, obser-vada pela beleza e luxo de seus templos, ou pela pompa de seus rituais, é fruto de uma antiga tradi-ção, de um estilo de vida, de uma época anterior a nossa, de um passado remoto, onde isso era impor-tante e necessário para impressionar e convencer as pessoas que conviviam com o poder temporal, que emanava de dentro dos palácios, da nobreza e da realeza, decorrência da cultura que impera-va naquele tempo. Hoje isto não é mais prioridade nas construções das novas igrejas, mas os templos anteriormente erigidos estão aí, pois foram cons-truídos para durar e são patrimônio cultural e de fé de nossa Igreja e precisam ser conservados.

• Apresentar, objetivamente, as necessidades ma-teriais da Igreja, quase nunca comentadas pela

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Dízimo, para implantar é preciso, antes de tudo, conscientizar

hierarquia por timidez, ou, talvez, por um dis-farçado, mas injustificado, orgulho, falando das inúmeras despesas paroquiais ou diocesanas, quantificando-as em valores monetários (taxas, impostos, água, luz, manutenção predial, custo de folhetos e outros materiais para evangelização, necessidade de investimentos, folha de pagamen-tos, encargos trabalhistas). Se possível preparar uma lista das despesas mensais da paróquia ou da diocese para citar neste encontro. Muitas pes-soas não têm a noção do montante desses valores por isso dão moedas em suas ofertas.

• Mostrar as dificuldades que enfrentam os semi-nários para atrair e formar novos padres e que existem muitas vocações religiosas no meio da juventude, mas a Igreja não tem como investir para suscitar a atenção desses jovens, que aca-bam migrando para áreas profissionais mais se-dutoras. Da mesma maneira, se possível, listar as despesas mensais do Seminário com alimen-tação, custos de estudos, professores e outras contas mensais para apresentar aos fiéis. Em al-guns casos, se possível, calcular o quanto custa, mensalmente, para a diocese, manter um semi-nário funcionando como uma escola, só que sem as entradas das mensalidades de seus alunos.

• Falar do custo mensal de um seminarista e da diferença entre os seminários diocesanos (man-tidos exclusivamente por uma diocese) e religio-sos (mantidos por uma congregação religiosa), se possível, quantificando esse custo, moneta-riamente. Ainda há uma confusão na cabeça de muitos católicos entre o que é ser um religioso e um diocesano, até mesmo entre os que são

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engajados na Igreja. Por várias vezes eu já per-guntei a alguns paroquianos engajados: o seu pároco é religioso ou diocesano? Eles respon-dem: “Ah ele é muito, muito religioso, reza o terço todos dias, sim é um padre muito piedoso, um santinho”.

• Citar as dificuldades enfrentadas por congre-gações e mosteiros de vida enclausurada para a sua sobrevivência, manutenção e descoberta de novas vocações, falando da importância das instituições monásticas para a vida espiritual da Igreja, pela força de suas orações e pelo valor e poder de sua intercessão ininterrupta pela hu-manidade, inclusive para cada um de nós. Se na diocese houver algum mosteiro, citá-lo textual-mente apontando também os carismas da con-gregação que ali vive. Se o mosteiro concordar fale especificamente das necessidades materiais para a sua manutenção e sobrevivência e de onde ele tem conseguido recursos para tal.

• Falar da necessidade de mantermos, ativo e em pé, todo o patrimônio histórico e cultural da Igreja, acumulado ao longo de 2.000 anos de história e lutas e que nos pertence! Por essa razão, somos responsáveis, pois constitui-se o nosso patrimônio de fé, o qual temos o dever de manter e transferi-lo intacto às gerações futuras (nossos filhos, netos, bisnetos). Aí está a impor-tância do dízimo para a nossa Igreja. Frisar que a Igreja é dos leigos (deles: paroquianos e dio-cesanos) e não dos bispos ou dos padres, como pensam erroneamente. Explicar que o pároco não é pároco, mas está pároco por um determi-nado tempo. Antes dele outros padres foram os

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párocos da comunidade e no futuro outros o se-rão, mas que eles, os leigos ali residentes, por serem paroquianos, pois a maioria mora neste local há anos, é que são os “donos” da paróquia. Logo, sendo a paróquia deles (e não dos padres), compete a eles zelarem por ela e cuidarem des-se patrimônio material e espiritual para legá-lo aos seus filhos e netos, enquanto permanecerem naquela paróquia. Caso um dia se mudem de lá, assumirão automaticamente a paróquia da re-gião para onde se mudarem.

• Lembrar a necessidade que a igreja tem de in-vestir nos novos meios de comunicação (rádio, TV, internet) para não ficar à margem da his-tória contemporânea. As outras religiões estão à nossa frente nessa área, pois entenderam a importância de dominarem tecnicamente esses poderosos veículos de comunicação de massa. Citar as emissoras católicas que estão presentes na comunidade e o bem que elas fazem aos que as ouvem ou as assistem. Se existirem outros veículos de comunicação à serviço da Igreja na comunidade (jornais, revistas) citá-los nominal-mente falando de suas dificuldades financeiras.

• Ressaltar a necessidade (e obrigação) que a Igreja tem de investir em muitas obras sociais, ampa-rando e protegendo os pobres e marginalizados, mas, ao mesmo tempo, procurando evangelizá--los para que conheçam o Caminho, a Verdade e a Vida, cumprindo assim, na íntegra, o que nos manda o Evangelho. Citar a ação social da Igreja na comunidade. Lembrar a ação da Pastoral da Criança em todo o Brasil, da Cáritas, dos Vicen-tinos e de tantas outras organizações católicas de

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âmbito nacional que desempenham um papel fun-damental na área social de nosso país. Todas, sem exceção, passam por dificuldades financeiras e se tivessem mais recursos à sua disposição poderiam fazer muito mais do que já o fazem atendendo muitas outras famílias, minimizando a miséria e combatendo, na raiz, a marginalidade e a prosti-tuição, que são oriundas da pobreza extrema.

Se houver mais argumentos que possam mostrar as muitas necessidades da Igreja local, que só poderão ser atendidas se houver entrada regular de dinheiro para capacitar os agentes, utilizá-los sem vacilar. Te-mos que quebrar este tabu de não falarmos aberta-mente de dinheiro na Igreja, como se estivéssemos cometendo um pecado ou um grande sacrilégio. Isso é de uma hipocrisia incrível e acaba servindo de subter-fúgio para que muitas pessoas participem das ativida-des oferecidas por ela, sem se importarem como é que são mantidas e oferecidas. Isto reduz a participação fi-nanceira da comunidade às parcas esmolas, colocadas durante o ofertório nas missas e celebrações, ou então, à participação direta ou indireta dos paroquianos nas festas e promoções paroquiais que são realizadas, para arrecadar dinheiro para a Igreja.

Essa é uma causa que precisa ser enfrentada e corrigida porque interfere diretamente na implantação do dízimo na comunidade e sua conscientização, e que já citei na introdução ao livro: o mau hábito, desenvol-vido em muitas comunidades, de “manter” a paróquia (ou as suas pastorais) por meio de “promoções” cons-tantes do tipo: quermesse do padroeiro, bingos, noites de pizza, bazar da pechincha, leilões, rifas e sorteios. Sei que, em alguns casos, esse é um assunto bastante delicado para o pároco mexer, pois a comunidade, de

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uma forma geral, até já se “acostumou” com as muitas promoções realizadas (almoços, feijoadas, churrascos) e que já fazem parte de suas vidas.

Uma vez um pároco me confidenciou: “Ih, eu mexi em um grande vespeiro e acabei recebendo ‘ferroadas’ dos paroquianos, dos não paroquianos, dos comerciantes e, principalmente, dos políticos da cidade”. Em cidades pequenas, por falta de opções, essas confraternizações são as formas principais, para não dizer as únicas, de lazer do povo.

O mesmo podemos falar de certas festas tradicio-nais do padroeiro, que chegam a durar semanas e acabam tornando-se também fonte de renda de muitas organiza-ções e pessoas na cidade, envolvendo interesses extrapa-roquiais. As mais tradicionais chegam a atrair turistas e romeiros de outras cidades e região e todo esse comércio e movimentação de pessoas faz aumentar, de alguma for-ma, a renda do município. Porém, mesmo diante desses argumentos políticos e econômicos, cumpre-nos lembrar que, do ponto de vista pastoral, a maioria das pessoas que vem participar dessas festas perdeu o sentido real e espiritual da sua participação e é atraída pela comida, pela bebida, pelos sorteios e outros “atrativos” presentes, todos, quase nada compatíveis com a devoção ao santo e, muito menos, com a prática religiosa.

Dentre os agravantes, o inexorável incentivo ao alcoolismo é um dos mais sérios por ser injustificável perante Deus, que se arrecade dinheiro para a manu-tenção de sua Igreja, promovendo ou permitindo a propagação do mais terrível vício que assola as famí-lias brasileiras: o consumo exagerado de bebidas alco-ólicas, causa de tantas dissoluções, traições, violência, delitos, crimes, mortes e outras desgraças. Nesse caso, os fins não justificam, sob hipótese alguma, os meios.

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No princípio o vinho foi criado para a alegria e não para a embriaguez. O vinho, bebido moderadamente, é a alegria da alma e do coração. A sobriedade no beber é a saúde da alma e do corpo. O excesso na bebida causa irritação, có-lera e numerosas catástrofes. O vinho bebido em demasia é a aflição da alma. A embriaguez inspira a ousadia e faz pecar o insensato; abafa as forças e causa feridas. (Eclo 31,35-40)

Esse sábio preceito bíblico nos orienta e nos alerta para os riscos deste tipo de promoção, infe-lizmente, ainda muito comum em nossas paróquias. Alguns bispos e párocos, por este Brasil, mesmo sob protestos, corajosamente, já enfrentaram este desafio de frente: eliminar a festa “profana”, criada ao redor da comemoração da festa do padroeiro) e manter a festa da devoção com os tríduos, novenas, trezenas, procissões, celebrações solenes e todas as práticas efetivamente religiosas, as quais deveriam consistir nessas comemorações.

O outro agravante, no sentido prático, e que in-terfere diretamente na conscientização do dízimo, é que os fiéis paroquianos, pelo simples fato de terem doado uma prenda para a festa ou de terem gasto al-gum dinheiro nas barracas, já sentem ter cumprido a sua parte na responsabilidade financeira de manter a paróquia, o que os desobrigará, no decorrer do ano, de serem dizimistas fiéis.

Da mesma forma pensam aqueles que compram ingressos para as noites de pizza ou para as churras-cadas; aqueles que adquiriram as cartelas para as bin-gadas (bingos regados a petiscos e bebidas) ou bilhe-tes para as rifas e sorteios, ou ainda todos os que de uma maneira, direta ou indiretamente, colaboraram

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de alguma forma para esse tipo de promoções. Todos eles, em suas consciências, pensam já estar fazendo a sua parte e isso põe por terra todo esforço empre-endido na conscientização do dízimo no aspecto da responsabilidade da manutenção financeira da paró-quia. Nesses casos, o pároco (ou o bispo) precisa ter uma postura firme e corajosa e, radicalmente, após uma profunda reflexão e argumentação bem funda-mentada, junto à comunidade, não permitir esse tipo de promoção, com vistas a uma mudança de mentali-dade e postura da comunidade.

Volto a dizer: essas práticas promocionais, sem exceção e independentes de sua criatividade ou ori-ginalidade, impedem o trabalho eficaz de conscien-tização do dízimo junto aos paroquianos, além de promover e incentivar a venda de bebidas alcoólicas e as jogatinas, o que, inquestionavelmente, é uma in-coerência absurda no contexto religioso e pastoral. É impossível conscientizarmos os paroquianos se, ao mesmo tempo, a paróquia ou algumas pastorais em particular, insistirem em promoções dessa natureza.

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