fausto 2006 sobre pcc

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ícone - ppgcom/ufpe - v. 2 - n. 9 - dez. 2006 - 39 39 39 39 39 Na madrugada de 12 para 13 de agosto, a programação da Rede Globo é repentinamente alterada pela encenação de um acontecimento, pela chancela do discurso jornalístico, pela presença de uma espécie de um "discurso proibido". Antes da emissão 'Altas Horas', programa semanal, espécie de talk show ameno apresentado na madrugada de domingo - estava sendo exibido o filme "Será que ele é?" 3 , dentro da Sessão Supercine 4 . Pelo menos, na sua formulação em português, o título poderia guardar alguma contiguidade com a encenação do discurso que interceptaria, logo em seguida, o fluxo da programação. Formulado na forma interrogativa, guardaria, ironicamente, uma certa associação com o acontecimento que se "instalaria" subitamente, entre a película e o talk show. De que trataria, afinal, esta emissão interveniente? A película é interrompida pela apresentação sonora e visual da vinheta "Plantão" produzindo-se a entrada em cena do discurso jornalístico. Imagens e som, ao vivo da redação, e o jornalista César Tralli anuncia a soltura de um dos dois funcionários do setor de jornalismo da Rede Globo, o técnico Alexandre Calado, que ao lado do jornalista Guilherme Portanova, havia sido seqüestrado por um "comando" do PCC 5 , na manhã de sábado. SERÁ QUE ELE É? ONDE EST SERÁ QUE ELE É? ONDE EST SERÁ QUE ELE É? ONDE EST SERÁ QUE ELE É? ONDE EST SERÁ QUE ELE É? ONDE ESTAMOS? AMOS? AMOS? AMOS? AMOS? A MIDIA A MIDIA A MIDIA A MIDIA A MIDIATIZAÇÃO DE UM "DISCURSO PROIBIDO" TIZAÇÃO DE UM "DISCURSO PROIBIDO" TIZAÇÃO DE UM "DISCURSO PROIBIDO" TIZAÇÃO DE UM "DISCURSO PROIBIDO" TIZAÇÃO DE UM "DISCURSO PROIBIDO" 1 Antônio Fausto Neto Antônio Fausto Neto Antônio Fausto Neto Antônio Fausto Neto Antônio Fausto Neto 2 1 Este texto resulta de discussões entre os participantes da pesquisa "Mutações nos processos de noticiabilidade: novas estratégias de enunciação do discurso jornalístico", e entre pesquisadores que integram a Rede Prosul de Pesquisa "Midiatização: Sentido e Sociedade". Parte dele foi apresentada no VIII Seminário Estadual de Comunicação, no minicurso TV e cultura da paz. Unisinos/São Leopoldo, 25 de agosto de 2006. Colaboraram com este artigo os bolsistas Aline Weschenfelder, Clovis Okada, Mariana Bastian e Micael Vier Behs. 2 Professor do Programa de Pós- graduação em Comunicação da Unidinos/RS. E-mail: [email protected] 3 O enredo falava sobre um professor se vê em sérias complicações (grifo nosso) quando, às vésperas de seu casamento, um de seus ex-alunos diz ao receber o Oscar que ele é gay. Dirigido por Frank Oz (Os Picaretas) e com Kevin Kline, Joan Cusack, Matt Dillon e Tom Selleck no elenco. Recebeu uma indicação ao Oscar.

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Fausto 2006 sobre PCC

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  • cone - ppgcom/ufpe - v. 2 - n. 9 - dez. 2006 - 3939393939

    Na madrugada de 12 para 13 de agosto, a programao daRede Globo repentinamente alterada pela encenao de umacontecimento, pela chancela do discurso jornalstico, pelapresena de uma espcie de um "discurso proibido". Antes daemisso 'Altas Horas', programa semanal, espcie de talk showameno apresentado na madrugada de domingo - estava sendoexibido o filme "Ser que ele ?"3, dentro da Sesso Supercine4.Pelo menos, na sua formulao em portugus, o ttulo poderiaguardar alguma contiguidade com a encenao do discurso queinterceptaria, logo em seguida, o fluxo da programao.Formulado na forma interrogativa, guardaria, ironicamente, umacerta associao com o acontecimento que se "instalaria"subitamente, entre a pelcula e o talk show. De que trataria,afinal, esta emisso interveniente?

    A pelcula interrompida pela apresentao sonora e visualda vinheta "Planto" produzindo-se a entrada em cena dodiscurso jornalstico. Imagens e som, ao vivo da redao, e ojornalista Csar Tralli anuncia a soltura de um dos doisfuncionrios do setor de jornalismo da Rede Globo, o tcnicoAlexandre Calado, que ao lado do jornalista GuilhermePortanova, havia sido seqestrado por um "comando" do PCC5,na manh de sbado.

    SER QUE ELE ? ONDE ESTSER QUE ELE ? ONDE ESTSER QUE ELE ? ONDE ESTSER QUE ELE ? ONDE ESTSER QUE ELE ? ONDE ESTAMOS?AMOS?AMOS?AMOS?AMOS?A MIDIAA MIDIAA MIDIAA MIDIAA MIDIATIZAO DE UM "DISCURSO PROIBIDO"TIZAO DE UM "DISCURSO PROIBIDO"TIZAO DE UM "DISCURSO PROIBIDO"TIZAO DE UM "DISCURSO PROIBIDO"TIZAO DE UM "DISCURSO PROIBIDO"11111

    Antnio Fausto NetoAntnio Fausto NetoAntnio Fausto NetoAntnio Fausto NetoAntnio Fausto Neto22222

    1Este texto resulta dediscusses entre osparticipantes dapesquisa "Mutaesnos processos denoticiabilidade:novas estratgias deenunciao dodiscursojornalstico", e entrepesquisadores queintegram a RedeProsul de Pesquisa"Midiatizao:Sentido eSociedade". Partedele foi apresentadano VIII SeminrioEstadual deComunicao, nominicurso TV ecultura da paz.Unisinos/SoLeopoldo, 25 deagosto de 2006.Colaboraram comeste artigo osbolsistas AlineWeschenfelder,Clovis Okada,Mariana Bastian eMicael Vier Behs.2Professor doPrograma de Ps-graduao emComunicao daUnidinos/RS. E-mail:[email protected] enredo falavasobre um professor sev em sriascomplicaes (grifonosso) quando, svsperas de seucasamento, um deseus ex-alunos diz aoreceber o Oscar queele gay. Dirigido porFrank Oz (OsPicaretas) e comKevin Kline, JoanCusack, Matt Dillon eTom Selleck noelenco. Recebeu umaindicao ao Oscar.

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    Vinheta PlantoCsar Tralli anuncia:"O auxiliar tcnico da Rede Globo, Alexandre Calado, sequestrado hoje demanh, junto com o reprter Guilherme Portanova, acaba de ser libertado.Os sequestradores o deixaram perto da emissora e deram a ele um DVDdizendo que a condio para libertar com vida o reprter que est em poderdeles a divulgao, na ntegra, das imagens. O contedo o que segue:"

    O relato jornalstico da libertao desdobra-se em dois aspectos.A descrio sobre as condies nas quais Alexandre Calado libertado , aspecto que por si justificaria a interveno do discursojornalstico na programao, se levarmos em conta que pela primeiravez atores do campo da midia jornalstica so atingidos por estetipo de ato de violncia, algo somente superado pela morte dojornalista Tim Lopes, (tambm da Rede Globo) , em junho de 2002,quando foi capturado e morto por agentes do trfico. O segundoaspecto sinaliza que o campo miditico jornalstico transformadoem "presa" de uma estratgia discursiva produzida por estratgiasde outros campos sociais. O apresentador anuncia em sua matriaa existncia de um DVD, com imagens atribudas ao PCC, explicandoainda, que sua divulgao seria a condio da soltura do reprter,que permanecia preso pelos seqestradores. No fazendo menoao contedo, o relato jornalstico enfraquece, possivelmente, aspr-condies estabelecidas para a difuso da emisso ao "dissolver"imagem e contedo. Deixa claro que o contedo das imagens nodeixando explcito, porm, que h um texto que seria tambmrelatado. Isto , o mesmo seria anunciado no pelo "lugar do discursojornalstico", mas por um "porta voz" do PCC.

    Este manejo do processo de circulao da mensagem estassociado uma operao de encenao de TV, e que visa sinalizaruma tomada de posio sobre a autoria do material trazido. E, aomesmo tempo, um certo controle sobre as condies de suaenunciao.

    A reflexo que se prope, aqui, restringe-se pontualmente, importncia que tem este acontecimento para o debate sobre ascondies e os processos de midiatizao e, de modo especial, osefeitos que estes tem sobre o funcionamento das prticas sociais.

    4A Diviso dePlanejamento de

    Marketing Depto.Planejamento Matriz/

    DF N 002E o Jan/06 diz que no ms de

    novembro (2005),em mdia 13,6

    milhes de pessoasem todo o Brasil

    viveram as emoesdos longas-

    metragens deSupercine nas noitesde sbado. A sesso

    de cinema quecompletar 22 anos

    no ar em 2006,atinge mdias de 19pontos de audinciae 49% de share em

    mercado nacional, eseu CPM o menorentre vrias sessesde cinema exibidas

    por outras emissoras.O perfil da audincia

    do programa nosprincipais mercados,mostra que o pblico

    predominante doprograma pertence

    s classes ABC(67%) e tem 25 anos

    ou mais (64%).5O Primeiro

    Comando da Capital(PCC) uma

    organizao deencarceradosenvolvidos em

    crimes, criada parasupostamente

    defender os direitosde cidados

    encarcerados noBrasil. Surge no

    incio da dcada de1990 no Centro de

    ReabilitaoPenitenciria de

    Taubat, local queacolhia prisioneiros

    transferidos porserem consideradosde alta periculosida-

    de pelasautoridades.Fonte: http://

    pt.wikipedia.org/wiki/

    Primeiro_Comando_da_Capital,

    assessado em 21/09/2006.

  • cone - ppgcom/ufpe - v. 2 - n. 9 - dez. 2006 - 4141414141

    Leva-se em conta, para tanto, o fato de que, alm de umacontecimento que tambm se "faz em ato", no settingg do sistemastelevisivos, tambm engendrado,conforme veremos, por vriosdispositivos atravs dos quais as prticas e operaes miditicasafetam outras prticas no miditicas. Operaes de midiatizaotransformam-se em dispositivo estratgico para o funcionamentode determinados tipos de discursos, cujas condies de produoe, especialmente de circulao, "recebem" dos dispositivos miditicospossibilidades para sua existncia.

    H, de nossa parte, o reconhecimento de uma problemtica maisabrangente sobre o mundo do crime organizado, e que vem sendorefletida por diferentes campos sociais. Entretanto, parece-nosimportante examinar alguns ngulos do processo de midiatizaodo fato aqui examinado, se considerarmos a importncia que tmos "processos de afetao" da midiatizao sobre o discurso doPCC. So questes que transcendem, largamente, o debate queinterroga se o "acesso do PCC s antenas", nestas condies, legal, ou no. Sem dvida, ilegal do ponto de vista da lei vigente,mas h aspectos que escapam "lgica e a economia do normativo"e que aparecem, de maneira complexa, como conseqncia dosefeitos da midiatizao sobre as mais diferentes prticas sociais. Eesta, parece-nos uma outra questo interessante,a ser formulada,pelo menos, entre os estudiosos dos processos miditicos.

    a) Uma questo no s acadmica...

    Em textos diferentes, Eliseo Vern, estudioso da mdia, examina ofenmeno da midiatizao e seus respectivos processos defuncionamento, chamando ateno para duas questes, que noparecem ser apenas formulaes tericas, e sobre as quais seassentaram as hipteses deste texto.

    Num primeiro estudo6 (1997), afirmava que as prticas (operaes)dos processos de midiatizao afetavam todas as prticas sociaisem funcionamento na sociedade contempornea, mas que talafetao no se daria de modo homogneo. Ou seja, seus modosde operao dependiam de um conjunto de fatores relacionadoscom os estgio atravs dos quais se dava a insero da culturamiditica na vida das instituies, e tambm, dos tipos de demandasque estas faziam ao prprio campo miditico7.

    Em um texto publicado mais recentemente, em espanhol8 (2001),mas que aparece, em 1984 numa primeira edio, em francs9,concede-nos uma observao central e que transformada nahiptese sobre a qual se apia a descrio que se faz neste artigo,sobre as condies de midiatizao do discurso do PCC. Diz o

    6VERN, Eliseo.Esquema para elanlisis de lamediatizacin.Revista Dilogos,n 48, Lima:FELAFACS, 1997.7Estas questesesto presentes empesquisas por mimconduzidas,recentemente, eque procurammostrarmanifestaes dapresena deoperaesmiditicas, porexemplo, nofuncionamento dasnovas prticas dereligiosidades noBrasil, e que temseus dispositivos ereferenciaismiditicos asmatrizes centraisde sua estratgia.Ver: FAUSTONETO, Antnio.Processosmiditicos e aconstruo denovas religiosida-des - As dimensesdiscursivas.Relatrio depesquisa, CNPq/UNISINOS. SoLeopoldo, 2004. 8VERN, Eliseo.El living y susdobles.Arquitecturas de lapanatalla chica.In.: El cuerpo delas imgenes.Buenos Aires:Norma, 2001.p.15. 9VERN, Eliseo.Le sejour et sesdoubles:architectures dupetit cran. Paris:Temps Libre, n11, 1984.

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    texto: "uma sociedade em vias de midiatizao aquela onde ofuncionamento das instituies , das prticas, dos conflitos, daculturas, comea a estruturar-se em relao direta com a existnciadas mdias" (2001:15).

    Tal referncia deixa de ser uma formulao apenas acadmica,caso consigamos descrever as condies de produo e defuncionamento de estratgias de diferentes prticas - quaisquer quesejam as caractersticas das instituies que as pem emfuncionamento - e que tm na lgica, na cultura e operaesdiscursivas miditicas suas respectivas "condies de produo".

    Diferentes relatos sobre estratgias institucionais nos mostram,segundo diferentes angulaes, como as suas prticas sociais tmse estruturado a partir, de sua "relao direta com a existncia dosmdias", conforme sugere Vern. Algo que entendemos como osprprios efeitos decorrentes da existncia da midiatizao, dos seusprocessos e mecanismos de afetao das operaes, que lhes sointrnsecas, e que servem como possibilidade de novas produodiscursivas, e de inteligibilidade das outras prticas sociais.

    Tal "digresso" nos parece til para se entender um complexoprocesso de midiatizao deste "manifesto" e que no se resumeapenas no seqestro dos funcionrios da Rede Globo e, nem naprpria publicizao da mensagem. Seu processo de engendramento mais complexo e em sua descrio procuramos assim mostraraspectos de processos atravs dos quais a construo doacontecimento do discurso produzido pelo PCC se tece, antesmesmo de sua visibilidade em si, na esteira da lgica da midiatizao,ou seja, na considerao da existncia de um dispositivo, sem oqual este discurso no existiria. Assim sendo, alguns registros - oque vamos chamar apenas de algumas cenas - chamam a nossaateno porque apontam para marcas destes efeitos da presena deoperaes da midiatizao sobre estratgias que se fazem noutroslugares, mas que se ligam s mdias, por foras dos dispositivos quese entrelaam.

    Cena 1: De "Olho no Fantstico"

    Enquanto organizao, o PCC, ao longo de 2006, objeto datematizao de vrias agendas dos campos sociais, especialmentemiditicas, segundo construes em que lhes so atribudas asresponsabilidades por rebelies em penitencirias paulistas,monitoradas por dispositivos de comunicao, como o uso decelulares. Tambm por aes que desencadeiam ainda, ondas deincndios e destruio de transportes coletivos, ataques armadoscontra instalaes civis e pblicas, alm de outros contra funcionrios

  • cone - ppgcom/ufpe - v. 2 - n. 9 - dez. 2006 - 4343434343

    do Estado, culminando na morte de vrias centenas de pessoas,encarceradas ou no.

    "Colocado nas cordas" por efeito das agendas, o PCC vai lutaem busca de construir uma "contra estratgia de visibilidade". Vintedias antes do seqestro do jornalista e do tcnico, no auge dasrepercusses destes acontecimentos, o PCC envia cartas e faztelefonemas para vrias redaes de jornais, rdio e TV, em SP,solicitando acesso ao noticirio, fato, porm que no confirmadopela mdia. Tais iniciativas no operacionalizadas, geram novasinvestidas. Sua meta confirmada - pelo jornalista seqestrado -era o acesso televiso, atravs do Fantstico10. Este seria omomento pice de um processo que vinha sendo construdo e que,para tanto, priorizava como estratgia central os processos,objetos, atores e os prprios meios de midiatizao.

    Em depoimento11, uma semana aps a sua libertao, o reprterseqestrado, Guilherme Portanova, descrevia a compreenso queseus sequestradores tinham sobre operaes relacionadas com oseu o seqestro dele e do colega, para chegar ao estgio principaldos seus objetivos e que era o "acesso antena". "Seria muito maisinteressante se eles pegassem o William Bonner12. Eu acho queeles entenderam o seguinte: a Globo vai ceder se a gente tiver umreprter. Eles queriam um reporter qualquer que fosse. Tenhoconvico disso. S que eu acho tambm que o plano tinha de serexecutado no sbado. Porque eles queriam o Fantstico, dequalquer jeito eles queiram o Fantstico. Se eles pegassem nodomingo ia ser um perodo muito curto para dar tenso suficientepara a Globo resolver talvez botar, talvez no. Eu acho que elespegaram quem passou na frente; sendo o William Waack13 (nota-co apresentador do jornal da Globo, ), o Bonner ou sendo eu,qualquer um servia, desde que eles conseguissem ter acesso aoprograma que eles desejavam, e que era o Fantstico".

    O depoimento sugere pensar que no apenas o lugar daproduo miditica quem conhece as "tramas" e lgicas defuncionamento dos campos sociais e suas prticas defuncionamento. O inverso tambm verdadeiro, e isto nos pareceo primeiro efeito do processo de efetivao da midiatizao.Como uma resultante de um certo grau de afetao que tm dosmodos de operar o trabalho da midiatizao, os sequestradorestinham um domnio do que representava o acesso televisivo, aum determinado canal, a um programa determinado, e ainda,dia e hora de sua apresentao. A compreenso desta lgica ofundamento para a pragmtica que caraterizou a estratgia noseu desenrolar, no prprio "mundo interno" do processo deproduo do PCC.

    10Emisso-revistacom duas horas emeia detransmissonacional, carrochefe daprogramaonoturna dominicalda rede Globo eque atinge umaaudinciaaproximada de 22milhes detelespectadores.11Depoimentoprestado pelojornalistaGuilhermePortanova,seqestrado peloPCC, aosprofessores ealunos do curso dejornalismo daUniversidade doVale do Rio dosSinos -UNISINOS/RS,21/08/2006.12Willian Bonner editor eapresentador doprincipal telejornalbrasileiro, o JornalNacional, que vistopor quase 32milhes debrasileiros nas noitesde segunda asbado, h 37 anos.So mais de 300edies exibidas porano, tendo comoaudincia nmerossuperlativos. Em SoPaulo, a audinciade homens emulheres acima de18 anos soma 2,4milhes de pessoas.13Willian Waack co-apresentador doJornal da Globo,apresentado emrede nacional desegunda a sexta, s00h15, com umamdia detelespectadores.

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    Cena 2: De seqestrado a "consultor": o reprter, operador.

    O jornalista e seu auxiliar foram tomados como refns eenvolvidos como peas de um processo de negociao cuja solturados mesmos implicaria na veiculao do "manifesto". No sendopersonagens distantes s finalidades desta operao, "extrai-se" dosmesmos seus conhecimentos que possam ser teis finalidade daestratgia, ou seja, o jornalista transformado em um elo dodispositivo de midiatizao do PCC. O reprter torna-se um"consultor", a quem os seus algozes ouvem sobre a qualidade dotexto/mensagem endereado para ser lido na televiso, e quecuriosamente nomeado duplamente, como carta e vdeo, por partedo reprter. "Eu tive com o vdeo na mo, eles me disseram. E mederam a carta para ler, antes de sair a carta do cativeiro com o meucolega Alexandre. Eles queriam que eu lesse a carta para opinarsobre a carta. Eu disse, esta carta uma beleza , isso uma maravilha.Claro, mas eu disse para o cara o seguinte: me d esta carta porqueolha s, desde as onze da manh, mais ou menos, eles estavaminsistindo que a tal carta e o vdeo tinham que entrar no ar, s que agente no tinha acesso a carta nem ao vdeo. Eu digo, vocs soloucos, querem colocar no ar algo que no existe. D esse negciode uma vez, o Alexandre vai, coloca esse negcio no ar e nsestamos conversados. Eles pediram para ler. Na verdade um trechoda carta um trecho de uma jurisprudncia, eu acho que de 2003,2002, condenando o sistema que o RDD14 (...)".

    Texto, carta, vdeo a soma de percepes que o reprter tem dodiscurso-objeto no qual o jornalista transformado num operadorativo. No basta seqestr-lo. Seu saber faz parte do processo demidiatizao deste mltiplo objeto. O seqestrado, posto no lugarde sua especialidade, uma espcie de cmplice da operaodiscursiva do discurso do PCC. L, d palpite, orienta seuencaminhamento e prediz os seus efeitos. Sem esquecer que comentatodas estas operaes um tempo depois, quando j em liberdade.

    Cena 3: Do consultor ao pombo-correio

    O dispositivo instaura tambm um processo de circulao dotexto. Transforma um dos sequestrados - o tcnico Alexandre - empombo-correio e que vai se apresentar, ao ser libertado, comoporta-voz de uma precisa reivindicao: levar o texto para ser exibidona TV, um discurso produzido pela faco, e que traz a dennciasobre as condies carcerrias. A fita circula. Sai do "ambiente" doseqestro e trazida para o ambiente miditico pelo tcnico postoem liberdade, mas deixando detido, o outro refm. O texto sai das

    14O RDD - RegimeDisciplinar

    Diferenciadotrata-se de

    legislao queregulamenta o

    funcionamento doregime carcerrio

    e possui, dentreoutras, asseguintes

    caractersticas:durao mxima

    de 360 dias, semprejuzo de

    repetio dasano por nova

    falta grave demesma espcie,

    at o limite de umsexto da pena

    aplicada;recolhimento em

    cela individual;visitas semanais deduas pessoas, sem

    contar as crianas,com durao de

    duas horas; opreso ter direito

    sada da cela porduas horas diriaspara banho de sol.

    Fonte: http://www.direitonet.com.br/

    artigos/x/18/59/1859/

  • cone - ppgcom/ufpe - v. 2 - n. 9 - dez. 2006 - 4545454545

    mos dos membros da faco e chega at a Rede Globo, que assimo anuncia segundo esta estratgia: Alm de sua apresentao, oque j envolve o trabalho de encenao, faz operaes de edio,embora isso no seja dito pelo apresentador na hora em que anunciao fato. Simplesmente, se coloca como um "emissrio": "Deram, a umdos sequestrados, Alexandre, um DVD para ser divulgado, e ocontedo o que segue".

    Cena 4: O trabalho de edio

    Como o texto no se trata de uma unidade de discurso da prpriaprogramao, no pde entrar no ar de "qualquer maneira".Conforme anuncia a FSP em sua edio de 14/08, houve umtrabalho de edio na introduo, na medida em que foram feitassupresses de "imagens de armas de guerras, dinamites, granadase coquetis molotovs" (Folha de S. Paulo, 14/08/2006). O vdeo-dispositivo resulta de um trabalho complexo de produo ecirculao. Transita entre estratgias e as mos de diferentespersonagens e atores de campos sociais; traz as marcas einstrues do seu "sistema produtivo", sofre edies ao passarpara o corpo da mdia. Suporiam seus autores que as instruespor eles endereadas seriam observadas, levando-se em conta ascondies que originaram a sua produo e o respectivo "pedido"de veiculao. Mas talvez desconheciam que a exibio de umamensagem no dispositivo televiso passa por complexasoperaes produtivas, cujos mecanismos tecno-discursivos-editoriais no esto totalmente nas mos ou sob controle de umdispositivo de produo, e que, no caso, est fora do controle deoperaes relacionadas com a circulao do discurso. Por outraspalavras, antes mesmo de ganhar os caminhos de publicizao, otexto "endereado" para veiculao subordinado determinadascondies fora do seu mbito produtivo, da resultando marcasdas restries que so impostas aos sentidos da mensagemenviada. Na passagem de um texto a outro, no enquadramento dovdeo ao trabalho da sua circulao e de apresentao, osdispositivos de produo do sistema televisivo enquadram o textorecebido a determinados esquemas de semantizaes. Se umcontinuum de dispositivos miditicos, internos e externos ao prpriocampo das mdia, cuidam de construir o acontecimento,especialmente o seu objeto, deve ser dito que quando o vdeo/texto desloca-se pelo processo, do aparelho ao setting, decirculao sofre transformaes e tambm contaminaes deoperaes miditicas, independentemente das condies quederam origem sua existncia.

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    Cena 5: "Ser que ele ?"

    Os expectadores que assistem ao filme "Ser que ele ?"interrompem, certamente, o trabalho interpretativo que realizamsobre o que pergunta o ttulo da pelcula. Ato contnuo surge avinheta do "Planto". O jornalista aparece na "bancada informativa",faz abrupta transio entre o filme e aquele momento. Anuncia ocarter da emisso. Aciona-se DVD/vdeo. Deixa-se que o prpriodiscurso-objeto anunciado explicite as operaes de identificaodo seu "lugar de fala". Aparece imagem, de uma cabea encapuzada:Do corpo mostrado num plano semi-fechado, destacam-se a cabea,os olhos semi-encobertos e parte dos ombros. Est enquadradocontra uma parede sobre a qual esto registrados fragmentos deuma mensagem que identificam o lugar/sujeito institucional dodiscurso que o corpo profere. Ele assim est em um lugar quepoderamos cham-lo de porta-voz. L uma mensagem que est emuma folha, e que parece estar apoiado sobre suas mos. Nenhumaoutra marca emerge do corpo, a no ser a voz, que sustenta o relatoque fala e os dispositivos que permitem a identificao do PCC, ouseja, as marcas do discurso da organizao (Figuras 1 e 2).

    Figura (1) Figura (2)

    Trata-se de um corpo que age indicialmente: traz, por algunsminutos para ali, no setting, o corpo do PCC. Ele o corpo doPCC. O PCC ele. Enquadrados, corpo e texto, se re-enviammutuamente. Os dois formam, em suas especificidades, amensagem. O porta-voz l a mensagem do texto em que denunciaas condies carcerrias.

    Como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) venho pelo nicomeio encontrado por ns para transmitir um comunicado para a sociedade eos governantes. A introduo do Regime Disciplinar Diferenciado, pela Lei10.792 de 2003, no interior da fase de execuo penal, inverte a lgica daexecuo penal. E coerente com a perspectiva de eliminao e inabilitao dossetores sociais redundantes, leia-se clientela do sistema penal, a nova puniodisciplinar inaugura novos mtodos de custdia e controle da massa carcerria,conferindo pena de priso um ntido carter do castigo cruel. O RegimeDisciplinar Diferenciado agride o primado da ressocializao do sentenciado,vigente na conscincia mundial, desde o ilusionismo (sic) e pedra angular do

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    sistema penitencirio nacional, inspirado na escola da nova defesa social. ALEP (Lei de Execuo Penal) j em seu primeiro artigo traa como objetivo ocumprimento da pena e a reintegrao social do condenado, a qual indissocivel da efetivao da sano penal. Portanto, qualquer modalidadede cumprimento de pena em que no haja comitncia (sic) dos dois objetivoslegais, o castigo reintegrao social com observncia apenas do primeiro,mostra-se ilegal e contrrio Constituio federal. Queremos um sistemacarcerrio com condies humanas, no um sistema falido desumano no qualsofremos inmeras humilhaes e espacamentos. No estamos pedindo nadamais do que est dentro da lei. Se nossos governantes, juzes, desembargadores,senadores, deputados e ministros trabalham em cima da lei, que se faa justiaem cima da injustia que o sistema carcerrio: sem assistncia mdica, semassistncia jurdica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada. Pedimos aosrepresentantes da lei que se faa um mutiro judicial, pois existem muitossentenciados com situao processual favorvel, dentro do princpio da dignidadehumana. O sistema penal brasileiro na verdade um verdadeiro depsitohumano, onde l se jogam os seres humanos como se fossem animais. O RDD inconstitucional. O Estado Democrtico de Direito tem a obrigao e o deverde dar o mnimo de condies de sobrevivncia para os sentenciados. Queremosque a lei seja cumprida na sua totalidade. No queremos obter nenhumavantagem, apenas no queremos e no podemos sermos (sic) massacrados eoprimidos. Queremos que as providncias sejam tomadas, pois no vamosaceitar e ficarmos de braos cruzados pelo que est acontecendo no sistemacarcerrio. Deixamos bem claro que nossa luta com os governantes epoliciais, e que no mexam com nossas famlias que no mexeremos com as devocs. A luta ns e vocs15.

    O porta-voz apresenta-se atravs de um operadorindeterminado (como membro da organizao). Auto identifica-se como um sujeito que pertence, na condio de integrante aum coletivo. Ou seja, o indivduo dissolve-se, aqui, no coletivo.Mas, ao mesmo tempo misto do indivduo (venho) e do coletivo(ns), quem realiza a estratgia.

    O trabalho de midiatizao do manifesto , de certa formanaturalizado, na medida em que o texto diz que este foi o "nicomeio encontrado para transmitir o comunicado". Ou seja, deixaentender que no houve, ou desconhece um trabalho deengendramento de estratgia, na medida em que a identificao eescolha do meio (TV) resulta de uma escolha, (ele foi encontrado)por acaso. E, nestas condies, foi assim que se procedeu atransmisso do manifesto.

    Portanto, o porta-voz justifica a estratgia enunciativa semconsiderar os diferentes momentos que constituem a suacomplexidade. como se os mesmos estivessem fora de um trabalhoenunciativo posto em ao.

    No plano dos enunciados que compem o texto, observa-se,pelo menos quatro tipos de manifestaes retricas.

    A que destaca o argumento jurdico "o RDD agride o primado daressocializao do sentenciado". A que se refere as marcas defuncionamento do discurso didtico, pelo uso de expresses como

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    "leia-se" e "portanto", que visam explicar o sentido de algumaafirmao bem enfatizar o sentido de outras.

    Destaca-se ainda a retrica do prprio discurso poltico ao fazerdenuncias, proferir exigncias, lembrar reivindicaes, fazerexortaes e advertncias pelas quais delimita-se o territrio (o deluta) e as caractersticas dos seus contendores - ns e eles.

    O enunciado objeto da fala do porta-voz efeito de um poderque lhe designado. Espcie de um objeto, alguma coisa que secarrega, um feixe (...) de operaes que resultam da linguagemposta em funcionamento por um determinado dispositivo. Odiscurso do PCC se constitui "a partir da, algo que no existiaantes passa a existir"

    Este "discurso analisador" apresenta-se com duas caractersticas:a operao de indicialidade que o associa a uma simblica especficadestacando as marcas que o identificam como um "discurso-interdito",e cujas condies de livre explicitao e de reconhecimento sofremrestries por parte de outros dispositivos normativos. E, em segundolugar, o trabalho discursivo de um determinado tipo de "corposignificante" que, atravs de certas estratgias discursivas, chamaateno para problemtica da situao carcerria, questodesqualificada em seu teor, em virtude do "lugar de fala" e dascondies atravs das quais o "discurso denuncista" engendrado echega ao conhecimento do pblico.

    Cena 6: O desinteresse pelo "discurso analisador"

    A fala pronunciada por este corpo porta-voz uma espcie de"discurso analisador", mas cujo conteudo no gera interesse deoutros discursos. Talvez, devido origem do discurso e os processosque determinam s suas condies de produo, como o caso damdia, cuja cobertura deu mais nfase ao acesso do PCC s antenas,do que as denncias que apresenta.

    O que dizem manchetes dos jornais:

    "Bandidos usam seqestro para negociar privilgios" (O GLOBO,14/08/2006)"Mdia como alvo" (Zero Hora, 14/08/2006)"Globo e SP nas garras do PCC" (Tribuna da Imprensa, 14/08/2006)"Nasce um partido poltico" (FSP, 11/08/2006)"Presos de SP usam tticas terroristas para ter regalias" (Extra, 14/08/2006)"Criminosos libertam jornalista da Globo" (Zero Hora, 14/08/2006)"A vez dos jornalistas" (JB, 14/08/2006)

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    Os ttulos de jornais falam dos efeitos deste ato sobre o trabalhojornalstico, enfatizando as condies de acesso do PCC anunciam,a libertao do jornalista, avaliam o acontecimento, indicando seusefeitos sobre a prpria mdia, mas no fazem nenhuma aluso sobreo que prope o discurso veiculado

    Num rpido olhar nestes processos de titulao, observa-se queo trabalho de leitura miditica articula dois identificadores e queaparecem associados (poltica e criminalidade), a fim de que seproduza uma determinada condio de inteligibilidade doacontecimento. O que o "discurso analisador" aponta como denncia- e portanto algo que politizaria a sua razo de ser - desconhecidoe/ou desviado pelo tratamento jornalstico. Desta feita, o discursojornalstico politiza-o de outra forma, associando-o ordem dacriminalidade. Esta leitura deixa escapar outras questes que dealguma forma so arroladas pelo "acontecimento analisador", oque sucitaria vrias hipteses. Mas a principal nos parece ser aincapacidade analtica da mdia de fazer associaes sobre oprocesso de produo do discurso com a prpria lgica que oproduz: a das afetaes miditicas.

    Cena 7: Um corpo que se "decompe"?

    Ao apresentar o manifesto do PCC, o porta voz no deixaria,certamente, dvida sobre as marcas dos seus vnculos. Diferente dofilme, cuja indagao j est respondida por sua ficha tcnica, e sercomplementada ao longo de sua exibio - a emisso do manifesto uma operao que deve ser realizada no curto espao da veiculao:anunciar uma mensagem do PCC, do que no se dissociariacertamente, o seu porta voz. O que diz, pede reconhecimento ao sedirigir a uma vasta "audincia": telespectadores de modo geral, mas,sobretudo, os atores concernidos com a problemtica. Ou seja (vocs)- policiais, juzes, jornalistas, magistrados, etc.

    A exposio dos seus argumentos lingusticos no deixaria dvidassobre a identificao do seu "lugar de fala". Na condio de "falaventrloqua" - porta voz que sustenta ,enquanto intermediriointeressado, a emisso do discurso do outro - produz uma falaidentificada, mas que resvala e anuncia tambm fragmentos de outrasidentidades. Isto revela-se na "retrica de filiaridade", pronunciandocoletivos de identificao que so operadores tpicos do discursopoltico: "Deixamos bem claro que a nossa luta com os governantese policiais, e que no mexam com as nossas famlias que nomexeremos com a de vocs."

    um "corpo ventrloquo" porque representante de um certolugar e de modelo de enunciao discursiva que se organiza pelo

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    cruzamento de vrios dispositivos e matrizes discursivas (jurdica,poltica, didtica, argumentativa, pedaggica e, mesmo miditica),e que se funde num modelo determinado de enunciao.

    Tambm porque se conecta complexidade do processo produtivo. aprisionado ao sistema sistema discursivo que profere. Sabe da existnciade uma gravao destinada a tev. A leitura do texto no deve se limitarapenas sua apresentao. Interpretaes com alguns enfoques, aindaque discretos, de um ou outro aspecto, que requer nfases, ou melhorexplicitao, devem ser exercitadas. Obedece aos pedidos deenquadramento do prprio dispositivo da produo, ao moverdiscretamente a cabea para possibilitar que as inscries que figuramsobre uma parede atravs do corpo possam ser melhor captadas pelascmeras, pois se trata de uma mensagem sobre o PCC, e que deve tentarexibi-l. Emite movimentos, com os dedos, folheando as laudas que tementre as mos, e cujos sons so capturados pelo microfone. Por momentos,olha para um ponto mais distante para, certamente o dispositivo queregistra sua imagem. levado pela cmera at ser tirado de cena, deixandona fala parte da mensagem na parede, consigo a sua voz.

    O corpo do porta-voz se "decompe". Marcas que se referem sua existncia, como traos do seu rosto encapuzado, so tiradasde cena (Figuras 3, 4 e 5). O dispositivo vai produzindo odesaparecimento de parte do corpo que indicava de um modo mais"contextual", a presena do porta-voz. Da indicialidade do contato,esta apenas a voz, como fragmento. Um resto deste corpopermanece. A voz, como um pedao de um real circula no setting. E,sozinha- sem o que do corpo foi retirada da edio - faz fluir o queresta do texto atualizando a permanncia do discurso. A manobrado dispositivo assegura assim, a permanncia de uma outra dimensodo discurso poltico e que se trata da fora representacional dotexto. De qualquer maneira, espedaado pelo corpo, o discursopermanece ainda que permeado pelas injunes de suas condiesde produo e dos possveis efeitos do seu processo de circulao.

    Figura (3) Figura (4) Figura (5)

    Cena 8 : "Sobra" da estrutura do porta voz?

    A princpio este "corpo significante" visto como um "dispositivo-instrumento" a servio do trabalho enunciativo de sua organizao,

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    s restando-lhe, neste caso, a performance do que foi incumbido.O porta-voz no apenas aquele que sustenta a performance da missodiscursiva que lhe foi outorgada. Mesmo que as marcas da enunciaoque pratica sejam um bice existncia de outras referncias identitrias,este trabalho enunciativo sinaliza a existncia de algo que ultrapassa odispositivo discursivo da enunciao do aparelho. Em algum "lugar", ocumprimento da performance prevista, falha. Justamente, por fora doque intrnseco ordem de subjetividade do prprio sujeito enunciador:o sotaque deixando pista sobre a vinculao deste corpo, e de sua fala,a um continente ligustico determinado, contingentes migratrios, eregies geogrficas distintas do lugar geogrfico onde se passa e seproduz a emisso da mensagem. A modulao da voz , inibida oucontrolada pelo "vocabulrio da retrica", presente no texto. A inversona pronuncia de termos lingusticos (do ilusioninsmo ao invs deiluminismo), traindo os ditames definidos pela "gramtica do texto", oque de certa forma sinaliza uma certa "infidelidade" do porta voz "gramtica" do discurso que profere. Existe, certo, uma afinidade entreo porta-voz e aquele que ele representa, em termos de ideais. Entretanto,o trabalho singular da enunciao pe em risco este pacto. Ou seja, sea enunciao uma apropriao singular que o sujeito faz do aparelhodiscursivo, colocando-o em funcionamento por sua prpria conta erisco, significa que o relato do porta-voz - sendo fiel ao seu prpriomodo de dizer - deixa escapar marcas impostas pelo "discurso daorganizao". Subsiste ao discurso da organizao, o corpo de umsujeito cuja enunciao transcende ao regime de discursividade sobreo qual se instala e funciona o porta-voz16. Corpo em fala que traz, paraalm do discurso do PCC, estilhaos, ressonncias e fragmentos dehistria e biografia (individual, psquica e pessoal) que trata de falar daexistncia de uma outra "ordem do discurso", que no apenas aquelada organizao.

    Diriam dispositivos e aparelhos leitores deste acontecimento,que isso pode ser detalhe insignificante diante da evidncia de provasmateriais sobre a autoria e responsabilidade do PCC, especialmentedo crime que pratica, ao lado daqueles que constituem sua imensa"folha corrida". Mas, no se trata apenas de considerar estas leiturasque alimentam, ou so parmetros para as estratgias dos aparelhoinvestigatrios (policiais, jurdicos e miditicos). Por mais quesaibamos das referncias extra discursivas da fala do PCC, tambm,admissvel, que delas algo sobra para ainda ser lido, e que ficaflutuando merc de outros processos de leituras. Algo deriva,mesmo que a enunciao discursiva da organizao criminosaexplicite convices sobre as quais ela se faz. Sobra, inevitavelmente,porque na estratgia discursiva nem tudo consciencialista, pois"eles no sabem tudo o que fazem"17. Ou "sabem o que fazem, mas

    16FAUSTO NETO,Antnio. O porta-voz - Um dia eudigo que sim.Outro dia eu digoque no.Humanidades, n16. Braslia,1998.17ZIZEK, Slavoj.Multiculturalismo,ou a lgicacultural docapitalismomultinacional. In:DUNKER,Christian (org.).Zizek Crtico -Poltica epsicanlise na erado multiculturalis-mo. So Paulo:Editora Hacker,2005.

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    produzem discursos para dissimular, como se no soubessem oque fazem" . Nestes termos, seja a denegao, deslocamento ou oesquecimento, a enunciao deixa alguma coisa como condiopara que outros trabalhos de leituras se disponham a lembrar ascausas dos lapsos e os buracos das inverses e/ou silncios destesprocessos de produo de sentidos.

    Das sobras resultam pistas indiciais para trabalhos analticos queescapem aos reducionismos das frmulas do discurso policial oudos aparelhos da criminalidade.

    Figura (6)

    verdade que o corpo com seu trabalho segue "a gramtica" dodispositivo de produo do discurso. Fragmentos da imagem acima(Figura 6) mostram marcas que as imagens que so emitidas por esserosto semi-coberto, esto enquadradas na direo de um objeto, otexto em leitura. Mas esse mesmo rosto, aprisionado peloenquadramento, emite pistas de algo que est fora dessa modelizaoenunciativa e que se trata do semblante. Mesmo que semi-visvel,esse semblante deixa-se capturar. De um "lugar leitor", o corpotransforma-se em objeto de leitura, deixa visvel pistas de outrasenunciaes, da vinculao deste corpo porta-voz histrias de outrasvozes, talvez de uma gerao, a de jovens, que fazem transitar seusideais nos corredores da militncia de uma determinada prtica criminal.

    Se o contrato de leitura deste discurso tem a convico daperformance enunciativa, que prope, sua prpria estrutura deixaas pistas para que nela possamos investir outras "vontades de saber".O corpo significante oferece-nos, assim, na materialidade do seuprprio trabalho os "buracos" enquanto pistas, que geram novas einevitveis interpretaes. Como por exemplo, a do prprio jornalistaGuilherme Portanova que viveu na carne as agruras de um cativeiroameaatrio, sinaliza a permanncia de dvidas, de respostasimpossveis de serem esclarecidas por determinadaos esquemasinterpretativos, questo do "Onde ns estamos?". O seqestro dojornalista e a emisso de um manifesto a partir de condies que sedesaprova, no eludem o reconhecimento de uma problemtica

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    mais complexa e que o manifesto do PPC tambm fragmento -diria mesmo sintoma - de crises que vivem os campos sociais e osindivduos. Talvez recusemos o "manifesto" pelas origens dos seusautores, suas causas, e pelas estratgias por eles postas em prtica,visando estabelecer um certo tipo de "ao comunicativa". Ou seja,as condies de enunciao deste discurso - ao passar margem dequalquer tipo de contratualidade civilizada - nos levamirremediavelmente, a desprezar os seus enunciados. Nossosesquemas de leitura tambm fazem sobrar o que tambm noqueremos e/ou no podemos saber, ainda. Ou seja, damos maisimportncia a enunciao, sobra das narrativas miditicas (o acesso TV), do que a outra enunciao que diz outros ditos. Sobra assim,tambm, mais alguma coisa e que so os ditos da enunciao doprprio sujeito quando ele no segue o "dictamen" da enunciaodo aparelho da organizao. Mesmo nos limites e nas fronteirasdeste procedimento virulento e violento, preciso que saibamos,via a formulao de uma outra anlise, "mais do que perguntar asujeitos ideais o que puderam ceder deles mesmos ou de seuspoderes para se deixar sujeitar, preciso procurar saber como asrelaes de sujeio podem fabricar sujeitos. Do mesmo modo,melhor do que procurar a frmula nica, o ponto central de ondetodas as formas de poder derivariam, por via de conseqncia ou dedesenvolvimento, preciso deix-las aparecer na sua multiplicidade,nas suas diferenas, na sua especificidade, na sua reversibilidade:estud-las, portanto, como relaes de fora que se entrecruzam,que se remetem umas as outras, convergem ou, ao contrrio, seopem e tendem a se anular. Enfim, mais do que conceder umprivilgio lei como manifestaao de poder, melhor tentardeterminar as diferentes tcnicas de coero que opera"18.

    Se a tradio da investigao criminal, e de cobertura miditica,leva em conta as pistas deixadas pelo criminoso para produzir otrabalho de elucidao do crime, estamos diante de uma situaode trabalho de produo de sentidos cujas pistas envolvem tambmoutros sintomas que desafiam elucidamente para que se possaproduzir a resposta "onde estamos?".

    Nosso interesse visa exercitar interrogaes sobre o que significao processo de midiatizao desta mensagem, segundo entrelaamentosde dispositivos de produo de sentidos19. O que desejamos reterdesse registro, no , por exemplo, a desqualificao do acontecimentoem decorrncia da procedncia e motivao de sua confeco e daqualidade do ato e das caractersticas dos atores responsveis peloengendramento deste processo enunciativo.

    Nosso interesse permanece nas fronteiras do campo miditico, oque significaria no desconhecer as interfaces que a questo tem

    18FOUCAULT,Michel. Resumodos Collge deFrance. Rio deJaneiro: Zahar,1997. 19CARLON,Mario. Sobre lotelevisivo-dispositivos,discursos ysujectos. BuenosAires: Cruja,2004.

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    com prticas de outros campos sociais. O foco da reflexo dizrespeito condio do trabalho da midiatizao sobre umacontecimento. Mas, sobretudo, como o mesmo se engendra,tomando como referncia as lgicas e os dispositivos deste sistemade produo e sentido.

    Significa dizer tambm que, se, por um lado a midiatizao afeta/interfere em diferentes prticas sociais, tem, ao mesmo tempo, suaexistncia, e suas lgicas reconhecidas por outros campos sociais,que dela se servem como "mediao", ou ainda, como 'condio deproduo' de suas aes comunicativas. Esta questo no sjurdica e policial. estratgica e simblica pois ultrapassaprescries normativas sugeridas e orientadas por contratosnormativos, uma vez que diz respeito existncia de uma novaambiencia em que os processos miditicos, suas linguagens e suasprticas, alm de serem novos operadores de intelibibilidades,organizam o funcionamento das novas prticas dos campos sociais,bem como suas prprias discursividades.

    b) Notas finais

    Este acontecimento se tece entre muitos dispositivos de diferentescampos sociais. Mas ele se tece midiaticamente porque nesse camponele se inscreve e dele retira operaes em pelo menos nos seguintesmomentos: imaginando o processo de sua viabilidade e os modosde conectar-se com o que est fora de suas fronteiras, apropriando-se dos funcionrios da mdia, para que este gesto imobilizadorpossa gerar as condies que determinam e impem seu acesso aoprocesso produtivo e circulao miditica. Tomando como condiode produo o "saber miditico", apoiando-se em suas regras eoperaes para, atravs delas, dar corporeidade ao discurso quefar a conexo entre o ambiente privado do crime e a sua publicizaona sociedade. Algo se passa noutros dispositivos miditicos (mentais,territoriais) tornando-se fontes e referncias e que so operadoresde outros acontecimentos. Por exemplo, quando celulares soutilizados como meio de produo e de monitorao dos conflitosque ocorrem em So Paulo.

    Os processos produtivos miditicos utilizados pela faco, nose mostram, assim, apenas nos seus produtos, mas no processoprodutivo mais amplo, nos agenciamentos dos dispositivos.

    Subtrao/apropriao/imposio so atos de um processo quedo origem a materialidade da estratgia, e cuja face visvel umproduto discursivo apoiado pelo trabalho de um corpo que midiatizaa mensagem e, o prprio, PCC. Lembremos que o corpo tambmum dispositivo sensvel para o funcionamento do discurso poltico,

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    sobretudo quando se co-determina ao corpo miditico. Ter acesso aocorpo da TV, anunciar o corpo do PCC, faz-lo corpo pelo trabalhode um corpo de porta-voz, registra na TV a quase-presena do corpohumano, com todas as suas sinalizaes para o sentindo...20

    Ser que ele ? Fita, vdeo, cmera, texto, DVD, corpo, so peasde um complexo dispositivo por onde passam operaes eagenciamentos, que s se tornam inteligveis depois que a enunciaodo corpo do porta-voz constitui a sua existncia, transformando porsua performance o que at ento so pedaos, objetos de um processode produo de uma estratgia discursiva. Se a processualidade deproduo enunciativa suja, porque passa por um processo deexcluses, tenses, ameaas psquicas e materiais, ela interessacontudo, s pessoas que lidam com os processos miditicos, namedida em que uma possvel resposta s interrogaes "Ser que ele?", "Onde que estamos?" estaria noutro processo analtico.

    Se por um lado, o corpo do porta-voz parte, um dispositivooperador de um processo de visibilidade desse tipo de"acontecimento analisador", por outro constri indicialidades,movimento de passagem, indicao de outras cenas e problemticasque no ficam restritas ao acontecimento em si. Sugere que o mundodo crime tem outros componentes. Por este corpo pode-se fazer atravessia de fronteiras dos discursos, que s pde enunciar noslimites de determinados "pontos de acesso permitidos" de seuaparelho produtivo. Mas o "acesso" do PCC ao espao televisivo,no se trata de uma "falha" do mecanismo panopticista que controlao olhar da sociedade, segundo uma certa teoria linear dos efeitos ede suas respectiva regulaes. Esta convico poderia ser rebatidase considerssemos o fato de que o poder estando em vrios lugares,logicamente seria possvel a existncia de manifestaes de poderesque poderiam lanar "sombras", interferindo nos holofotes dosdispositivos de controle. Mas, aqui, lidamos com efeitos maiscomplexos; trata-se dos efeitos decorrentes da prpria existnciada ambincia midiatizadora, cujos fluxos e processos no se operamlinearmente, mas funcionam segundo mecanismos relacionais. Se verdade que a "sociedade percebe e se percebe a partir da suainstalao no ambiente da mdia"21, nestas condies que asdiferentes prticas sociais se vm permeadas e referidas pelaexistncia da midiatizao. No se trata de um perceber e se perceberpassivo, mas a produo de um trabalho - de constituir-se e detornar-se visvel - que se faz em funo e por conta, da existncia dacultura miditica. As lutas pela visibilidade no so externas problemtica da midiatizao como diz Thompson: "ela no simplesmente um veculo atravs do qual aspectos da vida poltica esocial so dados a conhecer as outras pessoas: ela, a visibilidade

    20SODR, Muniz.Estratgias visveis.Afeto, mdia epotica. Petrpolis:Vozes, 2006.p.110. 21GOMES, PedroGilberto. Amidiatizao noprocesso social.In.: Filosofia etica dacomunicao namidiatizao dasociedade. SoLeopoldo:Unisinos, 2006

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    miditica tornou-se em uma das principais alavancas atravs dasquais as lutas sociais e polticas so conduzidas e articuladas22.Talvez mais que isso, a midiatizao e suas processualidades -tcnicas, sociais, discursivas - do forma ao modo de existncia sprticas de outros campos sociais.

    A midiatizao processo e fim, fazendo junes e acoplamentose cujo controle dos seus efeitos, no se sabe a priori... Enquantoambincia e processo est no meio das lutas de produo de sentidosdos campos sociais, e que sem elas no pode, inclusive, transformaro proibido em semi-visvel. Ou ento, semi-mostrvel.

    Sobram deste corpo midiatizado, marcas que, em somente umaoutra forma de trabalho analtico da sociedade poder gerar novascompreenses, na medida em que se crie outras possibilidades deleituras que superem os esquemas e enquadramentos do bem x male da ordem x contra-ordem. Possivelmente, tais outros protocolossero mais eficazes no sentido de dar conta da compreenso destamodalidade de "acontecimentos analisadores" que no estoenquadrados nos processos de inteligibilidades das estratgias dediscursos de alguns campos sociais, como o da midiatizao. Porenquanto, ser que ele ? permanece um inevitvel intervalo, umano resposta. Mas, convite a um trabalho analtico sobre as sobrase que poder diminuir as "zonas de sombra" em que vivemos,elucidando, assim, onde estamos?.

    Referncias BibliogrficasReferncias BibliogrficasReferncias BibliogrficasReferncias BibliogrficasReferncias Bibliogrficas

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    22THOMPSON,John B. La nouvelle

    visibilit. In.:Rseaux n 129-

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