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1 OBJETIVOS —A disciplina visa o desenvolvimento e aperfeiçoamento das linguagens individuais de cada aluno. Na formação do aluno é fator importante o desenvolvimento dos processos que lhe permitam criar e recriar o repertório de suas atribuições, por meio do desenvolvimento de uma visão critica da realidade e capaz de inseri-lo em uma visão ampla e que deve ultrapassar a idéia que atribui a esse ensino a função de produzir um profissional fechado e incapaz de pensar. —O curso não visa o desenvolvimento de experimentações que privilegiem o uso do computador como ferramenta de trabalho, o mesmo deverá ser evitado em favor de outras ferramentas menos pasteurizadas e mais eficazes no desenvolvimento do processo criativo de cada um. Os exercícios deverão ser desenvolvidos, preferencialmente, sob a orientação do professor numa troca constante de informações e respeitando-se o partido adotado por cada um dos alunos. —Alertar os alunos no sentido de resolver problemas objetivando sempre uma peça bem-sucedida capaz de criar sua própria autoridade e com um sentido convincente de identidade. —Na solução dos problemas, o objetivo não deve consistir apenas na invenção, mas também na re-invenção. Re-invenção que parte quase que de uma explosão de imaginação. Aquela imaginação que existe para organizar nossos pesadelos, para mostrar a saída do labirinto de nosso dia-a-dia, transformando-o em sonhos. —Ainda quanto a solução de problemas adotamos o conceito do grande arquiteto americano Buckminster Fuller—“Quando trabalhamos na solução de um problema, nunca pensamos em bonito ou feio. Pensamos somente em resolver o problema. Mas quando terminamos, se a solução não for bonita, concluímos que está errada.” —Durante o curso desenvolvemos ainda o conceito de que a arte é responsável pelo alargamento de nossa consciência em direção ao novo ao desconhecido e contribui para a transformacão do homem e da sociedade. Devemos sempre misturar a precisão com a imprecisão, ou seja, o imprevisto deve ser tratado com precisão. AUP0343 DESENHO GRÁFICO EXPERIMENTAL Disciplina Optativa | PROGRAMA | Primeiro Semestre 2019 Prof Dr Vicente Gil FAU USP DEPARTAMENTO DE PROJETO GRUPO DE DISCIPLINAS DE PROGRAMAÇÃO VISUAL

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OBJETIVOS

—A disciplina visa o desenvolvimento e aperfeiçoamento das linguagens individuais de cada aluno. Na formação do aluno é fator importante o desenvolvimento dos processos que lhe permitam criar e recriar o repertório de suas atribuições, por meio do desenvolvimento de uma visão critica da realidade e capaz de inseri-lo em uma visão ampla e que deve ultrapassar a idéia que atribui a esse ensino a função de produzir um profissional fechado e incapaz de pensar.

—O curso não visa o desenvolvimento de experimentações que privilegiem o uso do computador como ferramenta de trabalho, o mesmo deverá ser evitado em favor de outras ferramentas menos pasteurizadas e mais eficazes no desenvolvimento do processo criativo de cada um.Os exercícios deverão ser desenvolvidos, preferencialmente, sob a orientação do professor numa troca constante de informações e respeitando-se o partido adotado por cada um dos alunos.

—Alertar os alunos no sentido de resolver problemas objetivando sempre uma peça bem-sucedida capaz de criar sua própria autoridade e com um sentido convincente de identidade. —Na solução dos problemas, o objetivo não deve consistir apenas na invenção, mas também na re-invenção. Re-invenção que parte quase que de uma explosão de imaginação. Aquela imaginação que existe para organizar nossos pesadelos,para mostrar a saída do labirinto de nosso dia-a-dia, transformando-o em sonhos.

—Ainda quanto a solução de problemas adotamos o conceito do grande arquiteto americano Buckminster Fuller—“Quando trabalhamos na solução de um problema, nunca pensamos em bonito ou feio. Pensamos somente em resolver o problema. Mas quando terminamos, se a solução não for bonita, concluímos que está errada.”

—Durante o curso desenvolvemos ainda o conceito de que a arte é responsável pelo alargamento de nossa consciência em direção ao novo ao desconhecido e contribui para a transformacão do homem e da sociedade. Devemos sempre misturar a precisão com a imprecisão, ou seja, o imprevisto deve ser tratado com precisão.

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OBJETO DE ESTUDO

—Representação gráfica, visual, conceitual e experimental dos espaços descritos nos textos do livro “As Cidades Invisíveis” de Italo Calvino, relacionando conteúdo e forma, sem nunca abandonar a mensagem a ser transmitida.

—Percepção visual do espaço e linguagens de comunicação ambiental por meio de abrangências de escalas macro e micro: cidade e paisagem, arquitetura e desenho urbano, objetos e gráficas comunicacionais, artes visuais, objetivando a pesquisa experimental na representação da imagem.

HISTÓRICO

O nome e parte do conteúdo da disciplina pretende ser uma homenagem à grande professora Élide Monzéglio, minha orientadora, mentora e responsável pelo grupo de disciplinas de programação visual da FAUUSP, na época única professora titular na área, sua dedicação e presença sempre foram dignas de grande respeito por parte de toda a comunidade da FAUUSP.

CONTEÚDO

—Percepção visual do espaço. O espaço visual percebido: a realidade presente e a ação de ver e de interpretar, constituindo-se em reflexão que possibilite e instrumentalize a transferência de conhecimento.

—Conceitos de espaço visual, ancorado nas teorias da percepção e comunicação, permitindo a dialética entre o ver e o interpretar e a respectiva representação espacial conceitual.

—Concepção de espaço visual, o real e o imaginário: formação da imagem visual a proposta de imagem visual no processo de concepção e criação.

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METODOLOGIA

—Serão realizados 11 (onze) estudos práticos experimentais por cada um dos alunos matriculados o que se constituirá num laboratório de projeto gráfico, envolvendo o croqui e o desenho, sempre lembrando que um trabalho sem percepção, intuição e espontaneidade é privado de humanidade.

—Os 11 estudos terão como conceituação os 11 tipos de cidades invisívies propostos por Calvino no livro e são os seguintes:

01. As cidades e a memória02. As cidades e o desejo03. As cidades e os símbolos04. As cidades delgadas05. As cidades e as trocas06. As cidades e os olhos07. As cidades e os nomes08. As cidades e os mortos09. As cidades e o céu10. As cidades contínuas11. As cidades ocultas

O desenvolvimento dos 11 exercícios deverão:

—Estimular no aluno a capacidade de equacionar respostas aos problemas propostos, agilizando seu raciocínio e criatividade frente aos temas sugeridos.

—Desenvolver o hábito de realizar estudos alternativos e de discutí-los com os demais colegas, com vistas à seleção da resposta definitiva a ser adotada.

—Na primeira hora de cada uma das aulas, com início às 14h, serão apresentados os conceitos a serem desenvolvidos e entregues durante a aula seguinte, em seguida serão discutidos e analisados pelo professor os resultados da aula anterior que deverão estar afixados para discussão e servirem de motivação e inspiração para o exercício que deverá estar sendo finalizado sob orientação do professor.

—Os exercícios deverão ser realizados e entregues conforme cronograma apresentado na página 4.

—Importante lembrar que a participação na discussão dos trabalhos dos colegas é um dos pontos mais importantes do curso, porque irá ajudar no desenvolvimento da auto-crítica.

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CRONOGRAMA

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18 Fevereiro Semana dos calouros25 Fevereiro Aula inaugural11 Março Programa/Apresentação exercício 0118 Março Apresentação exercício 02/entrega exercício 0125 Março Apresentação exercício 03/discussão ex 01/entrega ex 0201 Abril Apresentação exercício 04/discussão ex 02/entrega ex 0308 Abril Apresentação exercício 05/discussão ex 03/entrega ex 0422 Abril Apresentação exercício 06/discussão ex 04/entrega ex 0529 Abril Apresentação exercício 07/discussão ex 05/entrega ex 0606 Maio Apresentação exercício 08/discussão ex 06/entrega ex 0713 Maio Apresentação exercício 09/discussão ex 07/entrega ex 0820 Maio Apresentação exercício 10/discussão ex 08/entrega ex 0927 Maio Apresentação exercício 11/discussão ex 09/entrega ex 1003 Junho Discussão ex 10/entrega ex 1110 Junho Discussão ex 1117 Junho Discussão e Avaliação Geral do Curso24 Junho Liberado para assistir apresentação de TFGs

AVALIAÇÃONota atribuída ao trabalho desenvolvido, incluindo presença,participação e interesse de cada um dos alunos na execução dos exercícios ediscussões em aula.

FORMA DE APRESENTAÇÃOOs trabalhos deverão ser entregues em pranchas rígidas no formato A4 (210 x 297 mm), no sentido vertical, para discussão final em classe, nos prazos e datas estipuladas. Não serão aceitos trabalhos desenvolvidos em papel sulfite.

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BIBLIOGRAFIA

BÁSICACALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis.Companhia das Letras. São Paulo, SP, 1990.

GYORGY, Kepes. El Lenguaje de la Vision.Edição Argentina de 1976. Original em inglês 1949.SILVEIRA, Paulo. A Página Violada: Da Ternura à Injúria na Construção do Livro de Artista.Editora da UFRGS. Porto Alegre, 2001.

HELLER, Steven and POMEROY, Karen. Design Literacy. Allworth Press. New York, 1997.

BEIRUT, Michael, HELFAND, Jessica, HELLER, Steven e POYNOR, Rick. Textos Clássicos do Design Gráfico. Martins Fontes. São Paulo, SP, 2010.

HOLLIS, Richard. Design Gráfico—Uma História concisa.Martins Fontes. São Paulo, SP, 2001.

BRINGHURST, Robert. Elementos do Estilo Tipográfico.Cosac Naify. São Paulo, SP, 2005.

HENDEL, Richard. O Design do Livro. Ateliê Editorial. São Paulo, SP, 2003.

TSCHICHOLD, Jan. A Forma do Livro—Ensaios sobre Tipografia e Estética do Livro. Ateliê Editorial. São Paulo, SP, 2007.

SAMARA, Timothy. Making and Breaking the Grid. Rockport Publishers. Gloucester, MA, 2002.

MÜLLER-BROCKMANN, Josef. Grid Systems in Graphic Design. Verlag Niggli. Zürich, 1981.

BOSSHARD, Hans Rudolf. The Typographic Grid. Verlag Niggli. Zürich, 2000.

KRÖPLIEN, Manfred. Karl Gerstner. Hatje Cantz. Germany, 2001.

CROUWEL, Wim. Alphabets. BIS Publishers. Amsterdam, 2003.

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HOFMANN, Armin. Poster Collection. Lars Müller Publishers. Zürich, 2003.

HOFMANN, Armin. Manual de Diseño Gráfico. G. Gilli. México, 1996. RUDER, Emil. Manual de Diseño Tipográfico. Barcelona, 1983. BILL, Max. Typography. Verlag Nigli. Zürich, 1999.

Design ExperimentalGLASER, Milton. Art is Work. The Overlook Press. New York, 2000.

GIL, Vicente. A Revolução dos Tipos. Tese de Doutorado FAUUSP. São Paulo, SP, 1999.

WOZENCROFT, John. The Graphic Language of Neville Brody.Thames and Hudson. London, UK, 1994.

BLACKWELL, Lewis and CARSON, David. The End of Print.Chronicle Books. San Francisco, 1995.

NUNOO-QUARCOO, Franc. Paul Rand: Modernist Design.University of Maryland. New York, 2003.

MÜLLER-BROCKMANN, Josef. Historia de La Comunicación Visual.G. Gilli. Barcelona, 2001.

KLANTEM, Robert. Neasden Control Centre.Die Gestalten Verlag. Berlim, 2003.

KLANTEN, Robert; BOURQUIN, Nicolas e GEIGER, Thorsten. TresLogos.Die Gestalten Verlag, Berlin, DE, 2006.

GERBER, Anna. All Messed Up—Umpredictable Graphics. Laurence King Publishing Ltd. London, 2004.

MCQUISTON, Liz. Graphic Agitation—Social and Political Graphics in the Digital Age. Phaidon Press Inc. New York, NY, 1993.

MCQUISTON, Liz. Graphic Agitation 2—Social and Political Graphics in the Digital Age. Phaidon Press Inc. New York, NY, 2004.

LASN, Kalle. Design Anarchy. Adbusters Media Foundation. Vancouver, CA, 2006.

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VITRUVIUS/RESENHAS ON LINE/ 085.02 ANO 08 JAN 2009

CIDADES INVISÍVEIS VISITADAS.UMA LEITURA DE ÍTALO CALVINO PARA COMPREENDER A PAISAGEM URBANAEVANDRO ZIGGIATTI MONTEIRO

O Cidades invisíveis tem sido utilizado, mundo afora, não apenas como uma obra literária profunda e inspiradora, mas também como substrato para reflexões e pesquisas do fenômeno urbano, e, ainda, como ponto de partida didático para ensinar os alunos de arquitetura a olhar e a pensar sobre a cidade. Seduzidos pelo texto, amadurece neles a compreensão de que, diante dela, estão diante de algo muito mais complexo do que o projeto de um edifício, e de que o universo urbano se estende muito além até mesmo do que o “urbanismo” possa abarcar. A primeira lição é, portanto, sem dúvida, a de que o urbano é feito de uma matéria não manipulável, rebelde, caprichosa, mas nem por isso menos fascinante. A segunda lição, descoberta à medida que Marco Pólo segue descrevendo as cidades do império mongol, é de que cada cidade é única na sua paisagem e na construção do seu espaço pelos seus habitantes, e que o número de possíveis cidades é infinito. Salta-lhes tanto aos olhos a riqueza de cidades da qual se compõe a narrativa que quase escapa a terceira lição, de que Eudóxia, Zirma, Leônia e tantas outras são na verdade arquétipos: Dimensões ou imagens que servem a todas e a uma única cidade ao mesmo tempo, sem que por isso não deixem de servir como elementos diferenciadores que tornam, paradoxalmente, cada cidade, única.Embora as cinqüenta e cinco cidades do livro gerem uma incontável multiplicidade de imagens e simbolismos, nesse ponto é o próprio Calvino que nos revela a chave para entendê-las e até, classificá-las. Mesmo tendo sido apresentadas “embaralhadas” na narrativa, cada uma pertence a um dos onze grupos de cinco cidades que recebem uma adjetivação comum do tipo: “as cidades e a memória”, “as cidades ocultas”, etc.

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E como a maior parte das mensagens no texto, a ligação entre as cinco cidades de cada grupo é tênue, quase que apenas sussurrada em algumas características comuns. Mesmo assim, para cada um dos onze grupos de cidades espalhadas pelo livro há uma questão central que liga e permeia a descrição das cidades de cada grupo, e há, ao mesmo tempo, uma senda individual para cada cidade, que é a forma como ela lida com aquela questão.

Os onze “tipos” de Cidades invisíveis

1. “As cidades e o nome” – identidade e sentido de lugar“As Cidades e o Nome” remete à clássica afirmação de Aldo Rossi (1) de que o sentido do lugar emana do acontecimento e do signo que o fixou. “Por longo tempo, Pirra foi para mim uma cidade encastelada nas encostas de um golfo, com amplas janelas e torres, fechada como uma taça, com uma praça em seu centro profunda como um poço e com um poço em seu centro” (p.87). Em Aglaura, essa identidade é definida pelo “estilo de vida” ou “estado de espírito” dos habitantes; Leandra opta pelo intimismo e pelo provincianismo da vida privada, pela negação à grande cidade; Irene fabrica uma imagem forjada para a cidade e a usa para convencer os cidadãos e o resto do mundo do seu papel; já Clarisse procura compreender e incorporar a multiplicidade de lugares como o verdadeiro sentido de lugar.

2. “As cidades e a memória” – a presença do sítio e a influência do passadoEm cada grupo de cidades costuma haver um “encantamento” e uma “armadilha”. No caso de “As Cidades e a Memória”, o encantamento prossegue no encontro com o passado como se ele fosse sempre melhor que o presente e uma inspiração para o futuro. A armadilha está na decepção de que o passado não permanece melhor ou nunca foi, e no seu esquecimento. Apresentadas quase todas na parte um do livro, é possível indagar se Diomira, Isidora, Zaíra, Zora e Maurília não estão assim situadas para que nos esqueçamos delas ao fim da narrativa.

3. “As cidades e o desejo” – a motivação inconsciente e a ação sobre a memóriaNelas há uma alusão insistente à contradição, à dualidade do espírito humano. Intuitivamente somos destinados à ordem e ao caos simultaneamente, e as “cidades e o desejo” refletem o paradoxo em paisagens regulares como Dorotéia e Anastácia ou dúbias como Despina. Ou ainda múltiplas como Fedora, em que quase nos perdermos nos infinitos caminhos que geramos para cada uma de nossas escolhas.

4. “As cidades e os símbolos” – a linguagem da subconsciência coletiva e a imagem da cidade“Não existe linguagem sem engano.” é a frase final de Ítalo Calvino (p. 48) após ter descrito as desventuras de Marco em Ipásia, a quarta das “cidades e os símbolos”. Nelas discute-se a imagem da cidade formada não só pela composição de sólidos

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na luz e na sombra, mas também a partir da sua ornamentação, dos sinais e dos seus significados. Então a cidade passa a ser lida como densa e enigmática, já que é muito mais do que apenas sua forma física. É possível evocar, a partir delas, o clássico Imagem da cidade de Kevin Lynch (2), onde a questão central é a compreensão da cidade a partir do seu vocabulário visual, sua linguagem. Mas exploram também a utilização dos símbolos como marcação de territórios e hierarquias, classes, posturas ou ainda propositalmente como mensageiros do engodo. São, nesse sentido, cidades em que de alguma forma o discurso, ou os ícones, não correspondem às suas verdadeiras dinâmicas, ocultas ou dissimuladas.

5. “As cidades delgadas” – a busca pelo desprender da terra, a negação da imobilidadeCalvino cita motivos diversos para que cada uma das “cidades delgadas” seja descolada da terra. A idéia geral é de paisagens urbanas que se projetam para cima, ou se isolam da terra firme por algum artifício geológico ou construído: Isaura está no chão mas na verdade sobre um profundo lago negro extinto; Zenóbia sobre palafitas em um lago seco; em Armila não há as massas construídas; Sofrônia são duas meias cidades em que a cidade pesada é itinerante e a cidade leve é fixa; e finalmente, Otávia uma cidade teia-de-aranha pendurada sobre o abismo.Através das “cidades delgadas” é possível verter a muitas paisagens da cidade moderna, como a verticalidade ou a transfiguração cíclica de seus espaços. Também nelas talvez se incluísse o próprio urbanismo modernista, as imagens de uma cidade-máquina baseada no movimento, ou o espírito etéreo de uma Ville Radieuse. Ou ver as “cidades delgadas” como buscas coletivas, através da técnica, para transcender o peso da superfície do planeta, ou para abandonar uma paisagem urbana feita apenas de pedras.

6. “As cidades e as trocas” – as relações entre os habitantesEstas são como um preâmbulo das “Cidades Contínuas”. Nelas emerge a questão da circulação na cidade, com analogias com fios (Ercília) e redes (Esmeraldina) superpostas; e a própria mobilidade e mutabilidade urbanas, que lhe dão o caráter de um ser mutante, ainda que de pedra. “As cidades e as trocas” também abordam a tessitura do território, as camadas de atores no espaço urbano (Esmeraldina) e o embate entre rotina e mudança (Eutrópia).

7. “As cidades e os olhos” – a visão individual e os engodosEstas são exemplos dúbios, em que se discute o referencial do qual se olha a cidade. Em termos de paisagem, são cidades descritas com um lado positivo que enche os olhos, cheio de cores, sabores, tentações. Em Zemrude o enfoque são as visões particulares, e o autor sugere que a maioria dessas visões tende a buscar mais o chão e as profundezas do que o céu, com o passar do tempo. As cidades e os olhos parecem evocar análises mais contemporâneas dos fenômenos urbanos, como em “A Cidade de Quartzo” e sua descrição dos bastidores dos guetos e seus embates (3).

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8. “As cidades e os mortos” – engessamento, ciclo, fim de cicloEmbora em algumas das “cidades e os mortos” sua paisagem seja mais literal, referindo-se a uma espécie de campo santo, ou um duplo, e muitas vezes desafiando as profundezas da terra, há uma questão que permeia todas. Aborda-se a idéia do ciclo como presença estruturadora, como um moto motiv do ser-cidade, para onde ele a leva, ou não leva... As “cidades e os mortos” evocam a temática dos filmes da trilogia “qatsi” (REGGIO, 1983), em que a questão principal passa a ser os ciclos “inescapáveis” do planeta e das nossas cidades civilizadas, e sobretudo a busca do sentido que os move.

9. “As cidades ocultas” – a natureza humana e sua dualidadeSão as cidades mais tardiamente apresentadas no livro, o que faz das “cidades ocultas” um espelhamento das “cidades e a memória”, quase todas apresentadas na primeira parte. São cidades tão complexas quanto à natureza humana, e necessariamente contraditórias. As cidades ocultas exploram essas contradições na forma de dualidades intrínsecas, como o dentro e o fora de Olinda, a cidade feliz e a infeliz de Raíssa, os ratos e as andorinhas de Marósia, os homens e as bestas de Teodora, e os injustos e os justos de Berenice.

10. “As cidades contínuas” – antropofagia, destruição do meioEm “as cidades contínuas” Calvino reúne os casos extremos de cidades: a metrópole, ou ainda, a sua aberração, a megalópole, e a possibilidade da humanidade ser um câncer assolando o planeta. São exemplos que aludem ao debate sobre as questões ambientais, mas também sobre o subúrbio e o planejamento regional. E de novo às utopias modernistas e às visões deformadas que delas restaram, no legado dos grandes conjuntos habitacionais.

11. “As Cidades e o Céu” – o ideal de perfeição e o cosmosOpondo-se às “cidades e os mortos”, cidades como Tecla e Ândria não são apenas as antíteses de sua paisagem, buscando elevar-se do solo e negando a terra. Também buscam a antítese do ciclo, na idéia de uma permanência transcendental. Sonhos de todos os utopistas desde os antigos até Ledoux e além dele. São descritas como lugares urbanos de paisagem harmônica, e, às vezes, imutável.Mas sua presença no livro é fundamental. Em meio a tantas dimensões imperfeitas – e horripilantes – do urbano, as cidades e o céu trazem o fascínio do novo, das reformas e das idéias que se apresentam como eternamente belas – até que a realidade e o tempo as gaste – e retornemos aos inescapáveis ciclos. Cheios de visões, mas sem ilusões, somos (arquitetos/urbanistas) chamados a assumir nosso papel como uma pequena peça das Cidades invisíveis: a de projetar para elas olhando para o alto, para o projeto das estrelas.

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UM DIAGRAMA PARA O CIDADES INVISÍVEIS

O “Diagrama” – uma proposta de visualização “temática” dos onze grupos de cidades apresentados pelo livro “As Cidades Invisíveis” (desenho do autor da resenha)—Uma linha horizontal divide o gráfico em duas partes (“terra-céu”), ficando abaixo dele as cidades “ocultas”, “e os símbolos”, “e os nomes”, “e os mortos”. Os quatro grupos apresentam cidades em um certo sentido “perdidas”; perdidas no tempo, ou na memória, ou fisicamente enterradas no espaço. Ou ainda, incompreendidas ou incompreensíveis. Além da divisão terra-céu, a disposição dos grupos de cidades sofre a influência de quatro vetores principais. No centro, atua uma quinta força, não como um vetor, mas uma inércia que tenta manter junto de si três grupos de cidades invisíveis: as “cidades ocultas” (abaixo do horizonte); as “cidades e a memória” e as “cidades e o desejo” (ambos os grupos acima do horizonte). O primeiro vetor (das cidades “desperdiçadas”) aponta – através das “cidades e as trocas” – para as “cidades contínuas”, onde a matéria das cidades passa a ser um fim em si de sua existência, ao mesmo tempo a semente de sua natureza finita e portanto da sua destruição. O segundo vetor (das cidades “idealizadas”), aponta para “as cidades e os olhos”, idealização no sentido de “pontos de vista”, com espaço para a desilusão e o engodo. O terceiro (das “perdidas”) vetor passa pelas “cidades e os símbolos” e aponta para as “cidades e os mortos”. O quarto vetor

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aponta para cima, passando pelas leves “cidades delgadas” e culminando com “as cidades e o céu”, estas sim discutindo uma idealização no sentido de “plano” ou “modelo”. As “cidades e o céu” ousam buscar o sentido cósmico da perfeição, em paisagens urbanas tão harmônicas quanto do universo que as rodeia.

Notas

1ROSSI, Aldo. La arquitectura de la ciudad.

Colección Punto y Línea, 7 ed. Barcelona, Gustavo Gili, 1986, p. 188.

2LYNCH, Kevin. A imagem da cidade.Tradução: Maria Cristina Tavares Afonso. 1 ed. Lisboa, Edições 70, 1970.

3DAVIS, Mike. Cidade de Quartzo – escavando o futuro em Los Angeles.Tradução: Renato Aguiar. 1 ed. São Paulo, Editora Página Aberta Ltda, 1993.

Referências ComplementaresJACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Tradução: Carlos S. Mendes Rosa. Coleção “a”, 1 ed. São Paulo, Martins Fontes, 2000.KOYAANISQATSI.- Direção de Godfrey Reggio. [s.l.]: IRE: 1983. p.e.: 1 DVD (89 min): p.e.: son., color.; NTSC.

Sobre o AutorEvandro Ziggiatti Monteiro é professor doutor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, ministrando as disciplinas Teoria e Projeto VII Acústica Arquitetônica, Fundamentos do Urbanismo e Trabalhos Finais de Graduação

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