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Universidade de São Paulo Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Administração Programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo LILIANE SARTORIO AYALA Fatores de decisão em investimentos de impacto: um estudo sobre a relação risco, retorno e impacto São Paulo 2018

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Universidade de São Paulo

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

Departamento de Administração

Programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo

LILIANE SARTORIO AYALA

Fatores de decisão em investimentos de impacto: um estudo sobre

a relação risco, retorno e impacto

São Paulo

2018

Prof. Dr. Vahan Agopyan

Reitor da Universidade de São Paulo

Prof. Dr.Fábio Frezatti

Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

Prof. Dr. Moacir de Miranda Oliveira Jr.

Chefe do Departamento de Administração

Prof. Dr. Marcelo Caldeira Pedroso

Coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo

LILIANE SARTORIO AYALA

Fatores de decisão em investimentos de impacto: um estudo sobre a relação

risco, retorno e impacto

Versão Corrigida

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em

Empreendedorismo da Faculdade de Administração, Economia e

Contabilidade da Universidade de São Paulo, como requisito para

obtenção do título de Mestre em Ciências.

Orientadora: Profa. Dra. Liliam Sanchez Carrete

São Paulo

2018

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada por Martha Ribeiro Neves de Vasconcellos – CRB-8/5994

Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP

Ayala, Liliane Sartorio Fatores de decisão em investimentos de impacto: um estudo sobre a relação risco, retorno e impacto / Liliane Sartorio Ayala. – São Paulo, 2018. 97 p. Dissertação (Mestrado) -- Universidade de São Paulo, 2018. Orientador: Liliam Sanchez Carrete

1. Empreendedorismo social 2. Investimentos 3. Inovação 4. Finanças

I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. II. Título. CDD – 361.2

A Ramon e Porfiria, meus pais,

pela inspiração e amor incondicional.

AGRADECIMENTOS

A meus pais, Ramon e Porfiria, pelo apoio, incentivo, carinho e amor incondicional em toda

caminhada. Sempre presentes e preocupados, olhando por toda família, Obrigada.

A toda minha família, meus irmãos, tios, primas, minha madrinha Elza e meu padrinho Sérgio

e em especial Pedro e Carolina Sartorio, por estarem sempre ao meu lado em todos os

momentos.

À minha querida e especial orientadora Liliam Carrete, por todo o incentivo, inspiração,

animação, sempre presente, sempre disposta, com ideias, sugestões, praticidade, obrigada

pela compreensão e principalmente pelo olhar carinhoso sempre que necessário.

Ao incomparável Prof. Dr. Martinho Isnard Ribeiro de Almeida, pelo apoio sem medidas, em

todos os momentos em que precisei, principalmente quando me mostrou que o Programa de

Mestrado Profissional poderia ser um caminho, e hoje vejo que foi o melhor.

Aos mestres Prof. Dr. Fábio Lotti, Prof. Dr. Antonio Vidal, Prof. Dr. Marcelo Pedroso e Prof.ª.

Drª. Graziella Comini pela parceria e companheirismo enquanto estive representante discente

do programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo FEA – USP em 2017.

À Fabiana Caseiro, por toda sua dedicação e principalmente pela parceria, obrigada pela

amizade e confidências, preocupações e incentivos, sua mão carinhosa sempre a nos guiar.

À esplendorosa e magnânima T3, Adolfo, Alexandre, Alessandra, Camila, Daniel, Davi,

Emerson, Fábio, Fabrício, Guilherme, Jadyr, Jefferson, Laura, Leonardo, Marcelo, Renata P.,

Renata R., Rogério e Rui, mais que colegas de classe, agora uma só família.

A todos que me apoiaram e me incentivaram a estar aqui, em especial Sam, Cris Oshiro,

Mariane, Jules, Renats, Soraia, Giorgia, Renatinha, Mari Okamura, Guilherme e tantos outros

que não conseguiria mencionar todos aqui.

À minha comadre Renata e ao amigo Paulo, por estarmos sempre juntos e por todos os

artigos, trabalhos, seminários e apresentações realizadas com sucesso.

Ao Ale Borges, Leo Carneiro e Ricardo Duarte, pela contribuição na busca de pessoas que

topassem participar da pesquisa.

À Jaci, Oswaldo, Alfred e Nath e nossas Ideias de Futuro, que me ajudaram a realizar tantos

sonhos juntos e misturados, pelo amor e compreensão.

“Diante da vastidão do tempo

e da imensidão do universo,

é um imenso prazer dividir

um planeta e uma época com você.”

(Carl Sagan)

RESUMO

AYALA, Liliane Sartorio. Fatores de decisão em investimentos de impacto: um estudo

sobre a relação risco, retorno e impacto. (2018). 97f. Dissertação (Mestrado em

Ciências). Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade

de São Paulo. São Paulo.

Com a ambiciosa missão de resolver problemas sociais, os negócios de impacto estão

crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo. A fim de responder como o investidor

de impacto toma decisões sobre sua carteira, o presente estudo tem como objetivo

investigar a forma como o investidor lida com o fator de impacto, além da relação risco

e retorno, tradicionalmente utilizada pelos investidores. Utilizou-se metodologia de

natureza exploratória qualitativa, sendo os resultados estudados por meio da análise

de conteúdo. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas

realizadas junto a dez organizações da área de investimento de impacto que juntas

representam cerca de 75% dos ativos sob gestão no Brasil. Para analisar os dados,

foram identificadas as escalas, com intervalo de 1 até 5, atribuídas para cada um dos

fatores que compõem um investimento de impacto: risco, retorno e impacto. Para

retorno financeiro, foi encontrado que os investidores esperam retornos próximos ou

acima das taxas de mercado, da mesma maneira que o exigido por investidores

tradicionais, no intervalo da escala aplicada, obteve-se 3,778 para o fator analisado

retorno financeiro. Com relação ao risco, por meio desta pesquisa encontrou-se que,

ao investimento de impacto, agrega-se o risco de não ocorrer impacto, além do risco

financeiro já conhecido tradicionalmente. Os investidores de impacto apresentam mais

maturidade na escala para risco financeiro, apresentando um resultado na média de

3,667 e ao mesmo tempo para o risco de não atingir impacto ao grau de 3,778. Por

serem os fatores risco e retorno uma relação já tradicionalmente conhecida pelos

investidores, notou-se que as organizações tendem a apresentar maior maturidade no

entendimento destas. Para o mais novo fator impacto, calculou-se 3,000 na média.

Diante disto, apurou-se uma oportunidade de evolução no tema por parte dos

investidores, com um caminho a ser percorrido em busca da maturidade no tema,

principalmente no que tange à preocupação com a blindagem da missão, seja na

formalização deste compromisso em documentos ou na implementação de

mecanismos de remuneração por atingimento de objetivos de impacto. Os resultados

obtidos elucidam importantes questões da área de investimentos de impacto

demonstrando que há muita oportunidade de desenvolver o tema no Brasil, em busca

da maturidade de alinhamento com práticas adotadas por outros países.

Palavras chave: Empreendedorismo social; Investimentos; Inovação; Finanças.

ABSTRACT

AYALA, Liliane Sartorio. Decision factors in impact investments: a study on risk, return

and impact relationship. (2018). 97f. Dissertação (Mestrado em Ciências). Faculdade

de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. São

Paulo.

With an audacious mission to get resources to businesses that solve social problems,

impact investors are growing in Brazil and in the world. To answer that question of how

impact investors decide over their investment portfolio, considering the factor risk,

return and impact, this study aims to investigate impact investor and the way he

handles with impact factor beyond risk and return relationship, traditionally know by

the market. It was used a qualitative exploratory methodology which results were

studied through content analysis to reach the proposed objectives. Through semi-

structured interviews close to 10 organization of impact investment ecosystem, with a

sample that represents at least 75% of assets under management in Brazil, were

identified scales (built from 1 to 5) assigned to each decision factor that compound an

impact investment: risk, return and impact. For return, the main aspect identified is

about expected financial return; adjust to market taxes, as much as expected in

traditional investments. It was obtained an average result of 3,778 in financial return,

in a scale from 1 to 5. In relation to risk, in impact investments must be observe also

the risk of not achieving the expected impact, in addition to financial risk already know

in traditional financial market. Impact investors are willing to take risks in this type of

investments, since the financial risk factor average obtained in the interviews were

3,667 at the same time they feel prepare to face risk of not achieving desired impact,

represented by an average of 3,778. It were noticed that factors risk and return

achieved higher averages, a justification for that can be this relationship be traditionally

know by investor so they tend to present a greater knowledge on these subjects. To

the recent factor impact, it was find out an evolution in the theme, with a long way to

go in search of maturity, mainly to influence mission lock, in formalization of this

commitment in documents or in the implementation of mechanism to remunerate by

impact achievement of objectives. For impact, it was calculated an average of 3,000 in

a scale of 1 to 5. The obtained results clarify important questions of impact investment

ecosystem demonstrating that there is many opportunities to develop the theme in

Brazil, in a search of maturity with adopted practices in other countries.

Key words: Social Entrepreneurship; Investments; Innovation; Finances.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxo descritivo do processo de seleção de investimentos PEVC ............ 26

Figura 2 - Representação gráfica da Teoria de Mudança ......................................... 30

Figura 3 - Classificação de negócios conforme intenção e resultados financeiros .... 33

Figura 4 - Estrutura das dimensões nos investimentos de impacto .......................... 37

Figura 5 - Pesquisa sobre propósito nos negócios .................................................... 39

Figura 6 - Razões para incorporar impacto nos investimentos.................................. 39

Figura 7 - Graus de maturidade no comprometimento de um negócio de impacto ... 40

Figura 8 - Ciclo de vida dos fundos de investimentos ............................................... 48

Figura 9 - Taxa interna de retorno esperada em investimentos de impacto .............. 52

Figura 10 - Intenção sobre o retorno financeiro......................................................... 52

Figura 11 - Relação entre escalas e fatores de decisão ........................................... 65

Figura 12 - Representação gráfica dos resultados .................................................... 84

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Definições sobre investimento de impacto .............................................. 31

Quadro 2 - Matriz de amarração ............................................................................... 57

Quadro 3 - Resumo escalas ...................................................................................... 58

Quadro 4 - Graus de formalização do impacto (escala 1) ......................................... 59

Quadro 5 - Graus de comprometimento do investidor (escala 2) .............................. 60

Quadro 6 - Graus de escalabilidade, profundidade e mudança sistêmica (escala 3) 61

Quadro 7 - Graus de trade off entre retorno financeiro e impacto (escala 4) ............ 62

Quadro 8 - Graus de modelos de negócios (escala 5) .............................................. 62

Quadro 9 - Graus de risco de deslocar outros impactos (escala 6) ........................... 63

Quadro 10 - Graus de risco de não ocorrer impacto (escala 7) ................................ 63

Quadro 11 - Graus de apetite ao risco financeiro (escala 8) ..................................... 64

Quadro 12 - Graus de faixas de retorno financeiro (escala 9) ................................... 64

Quadro 13 - Graus de intenção sobre retorno (escala 10) ........................................ 65

Quadro 14 - Protocolo de pesquisa ........................................................................... 66

Quadro 15 - Apresentação das organizações em ordem alfabética .......................... 70

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Investidores por país de origem ............................................................... 35

Tabela 2 - Recompensa ligada a objetivos de impacto ............................................. 41

Tabela 3 - Resumo dos resultados levantados ......................................................... 53

Tabela 4 - Resumo das médias por escala ............................................................... 72

Tabela 5 - Média por escala fator impacto ................................................................ 73

Tabela 6 - Públicos-alvo mencionados ...................................................................... 76

Tabela 7 - Média por escala fator risco ..................................................................... 78

Tabela 8 - Categoria monitoramento impacto ........................................................... 80

Tabela 9 - Média por escala fator retorno financeiro ................................................. 82

LISTA DE SIGLAS

ANDE Aspen Network of Development Entrepreneurs

GIIN Global Impact Investing Network

GIIRS Global Impact Investing Rating System

GT Grupo de Trabalho

IPCA Índice de Preços ao Consumidor

IPO Initial Public Offer

IRIS Impact Reporting and Investment Standards

MoM Múltiplo de Dinheiro

PE Private equity

PEVC Private equity e venture capital

S&P 500 Standard & Poor’s 500

SELIC Sistema Especial de Liquidação e de Custódia

TIR Taxa Interna de Retorno

TMA Taxa Mínima de Atratividade

VC Venture Capital

VPL Valor Presente Líquido

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 19

1.1 RELATO ................................................................................................................... 19

1.2 PROBLEMA ............................................................................................................. 20

1.3 QUESTÕES E OBJETIVOS ...................................................................................... 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................... 23

2.1 IMPACTO ................................................................................................................. 23

2.2 INVESTIMENTOS DE CAPITAL DE RISCO ............................................................. 25

2.3 INVESTIMENTO DE IMPACTO ................................................................................ 28

2.3.1 Objetivos múltiplos ................................................................................................ 32

2.3.2 Contexto no mundo e América Latina .................................................................. 34

2.3.3 Contexto brasileiro ................................................................................................. 35

2.4 FATORES DE DECISÃO EM INVESTIMENTO DE IMPACTO .................................. 37

2.4.1 Impacto ................................................................................................................... 38

2.4.2 Risco financeiro ..................................................................................................... 43

2.4.3 Risco de impacto .................................................................................................... 46

2.4.4 Retorno financeiro .................................................................................................. 47

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................. 55

4 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................... 69

4.1 IMPACTO ................................................................................................................. 73

4.2 RISCO ...................................................................................................................... 77

4.2.1 Risco de impacto .................................................................................................... 78

4.2.2 Risco financeiro ..................................................................................................... 81

4.3 RETORNO FINANCEIRO ......................................................................................... 81

4.4 CONSOLIDAÇÃO .................................................................................................... 83

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 87

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 93

APÊNDICE .......................................................................................................................... 97

19

1 INTRODUÇÃO

1.1 RELATO

Trabalhando atualmente com negócios de impacto voltados para o ensino de

empreendedorismo e tecnologia, estou há cinco anos gerenciando projetos em

negócios de impacto, principalmente ligados a distribuição de renda, equidade de

gênero e educação. Anteriormente, trabalhei durante quinze anos em empresas de

grande porte como Volkswagen, Allianz Seguros, Eletropaulo, Grupo Coca Cola e

Brasilprev Seguros e Previdência, focada em finanças, orçamento e planejamento

estratégico. Na Brasilprev, comecei a caminhada nos temas relacionados à sociedade

e impacto ao liderar um projeto de disseminação e aculturamento desses temas para

toda a companhia.

Pude aplicar meu aprendizado na trajetória corporativa prestando consultoria

em planejamento estratégico de negócios para colegas próximos, até que em uma

destas consultorias, percebi que ao oferecer um valor agregado para cada

stakeholder, mostrando geração de valor não apenas no aspecto financeiro, mas

também em ganhos não financeiros. Foi assim acabei gerenciando um pequeno

negócio de impacto. Ao longo de cinco anos atuando nessa startup, a temática de

impacto se popularizou e como trabalhar com um propósito social fazia sentido para

minha vida, decidi dedicar-me exclusivamente aos negócios de impacto. Atualmente

sou gerente de parcerias e novos negócios em uma startup na área de educação.

Aliando minha experiência em finanças e investimentos com a gestão de

negócios de impacto, optei por uma pesquisa unindo os dois temas para pesquisar

investimentos de impacto.

20

1.2 PROBLEMA

Empreendedores necessitam de capital para financiar a estruturação ou

expansão de um negócio de impacto, que busca soluções para problemas sociais ou

ambientais na sociedade. Na busca de recursos, estes negócios devem oferecer

remuneração atrativa aos investidores, ao mesmo tempo que devem atender seus

objetivos de resultados socioambientais e ainda é necessário “garantir balanceamento

de atenção do investidor e do empreendedor entre impacto e lucro, sem necessidade

de sacrificar retorno ao buscar impacto através de incentivos adicionais” (EVANS,

2013, p. 151).

Apesar do crescente interesse, investimentos de impacto ficam em uma região

em que se questiona a possibilidade de gerar simultaneamente alto impacto e retornos

financeiros sustentáveis, insinuando uma situação em que se faz necessária uma

escolha, também chamado de trade off, entre os objetivos, conforme Mitchell,

Kingston e Goodall (2008). Como por exemplo, a filantropia e as políticas públicas

rejeitam a ideia de buscar investimentos ou gerar lucros para desempenhar a nobre

missão de promover igualdade e justiça (BUGG-LEVINE; EMERSON, 2011; FORÇA

TAREFA, 2015; PORTER et al., 2012). O contrato financeiro tradicional não incentiva

o empreendedor a buscar resultados de impacto, forçando-os a decidir se alocam

esforços nos resultados financeiros ou não financeiros, além disso, a mensuração do

desempenho financeiro não é afetada pelo esforço na busca de impacto (EVANS,

2013).

Enquanto há um grande consenso hoje no que tange o retorno financeiro

aceitável e como este é medido, há pouco consenso no que constitui um objetivo de

impacto desejável (ALLMAN, 2015).

O dilema do investidor de impacto pode ser compreendido quando imagina-se

a situação hipotética em que um investidor de impacto analisa um projeto voltado para

agricultura. Nesta situação, há duas estufas entre as quais um investidor deve buscar

ganhar altos retornos ao mesmo que busca impacto, no caso a redução do consumo

de água. As duas estufas se diferem pelo uso de tecnologia: a estufa A utiliza

tecnologia na captação de água da chuva, utilizando a mesma quantidade de água

por planta, na estufa B há uma redução na quantidade de água por planta, com a

utilização de um gel que gera aumento de custos. Há melhor alocação dos recursos

quando a estufa A mantém os mesmos custos com otimização do consumo de água,

21

o que parece mais atraente para o investidor de impacto (EVANS, 2013). Essa é a

perspectiva que melhor ilustra as escolhas e dilemas diante dos quais o investidor de

impacto se depara, que busca ao mesmo tempo obter impacto e possivelmente atingir

maior retorno.

Diferentemente do investidor tradicional, que tem como único objetivo a

maximização de resultados, os investidores de impacto devem administrar a expectativa

do mercado sobre a geração simultânea de resultados financeiros e impacto. Mesmo com

algumas pesquisas surgindo, ainda assim falta uma abordagem que explique o

desempenho de resultados em dois fatores, para o entendimento e calibragem do

investimento em caso de desvio de resultados do desempenho desejado (EVANS, 2013).

Uma grande motivação para o estudo, uma frente de trabalho recomendadas pela

Força Tarefa de Finanças Sociais, grupo criado em 2013 em prol do tema no Brasil,

propõe a produção de conhecimento e formação em finanças sociais, empreendedorismo

social e negócios de impacto, declarando a necessidade de incentivar pesquisas

acadêmicas na temática de impacto, a fim de contribuir na formação de conceitos,

consensos sobre nomenclaturas, parâmetros legais e apresentação de cases (FORÇA

TAREFA, 2015).

1.3 QUESTÕES E OBJETIVOS

Diante da experiência relatada em 1.1. e da problemática apresentada em 1.2., a

principal questão sobre a qual a pesquisa será realizada é:

Como o investidor de impacto no Brasil gerencia sua carteira de investimento os

fatores de decisão nos investimentos: retorno, risco e impacto?

Para responder essa questão, a presente pesquisa tem como objetivo:

Investigar como o investidor de impacto gerencia o fator de impacto além da

relação risco e retorno tradicionalmente utilizados pelos investidores.

Buscou-se como objetivos específicos: (i) analisar como o investidor gerencia o

compromisso com o impacto do negócio; (ii) identificar como o investidor exige a

remuneração do capital investido dos negócios de impacto e (iii) verificar o

comportamento do risco diante dos investimentos de impacto.

22

23

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 IMPACTO

Atualmente o mercado parece buscar somente ganhos individuais, ignorando

os interesses comuns das comunidades e do mundo como um todo (YUNUS, 1998),

enquanto a maioria das empresas mantém uma mentalidade de responsabilidade

social, na qual questões sociais estão na periferia do negócio e não no centro. A

solução pode estar em um modelo de negócio que por meio da geração de valor

econômico também crie algum tipo de valor para a sociedade e quem sabe assim

possa, de alguma maneira, conectar o sucesso da empresa ao progresso social

(PORTER; KRAMER, 2011).

Com a economia expandindo subitamente, inovações tecnológicas acelerando

processos, globalização ameaçando varrer economias frágeis e pobres do mapa

econômico, é hora de considerar esse modelo de negócio mais seriamente, de acordo

com Yunus (1998), permitindo a expansão da visão de mercado atual e assim os

negócios sociais transbordem o mercado, trabalhando para os objetivos sociais de

forma tão eficiente quanto hoje se trabalha para os objetivos individuais (YUNUS,

1998).

Embora existam diferentes definições acerca dos empreendimentos sociais, a

geração de valor social é protagonista em todas elas (CRUZ, 2014). O conceito de

valor social, na presente pesquisa, admite-se como intrinsecamente ligado ao de

impacto, uma vez que as mais variadas definições para ambas terminologias giram

em torno da diferença entre os efeitos dos benefícios sobre uma comunidade que

recebeu um programa e outra que não recebeu.

Portocarrero e Delgado (2010) identificam diferentes tipos de impacto a partir

da observação de resultados tangíveis e intangíveis, tais como a geração de renda,

aproveitamento de recursos disponíveis, alívio da pobreza, acesso a bens e serviços

para a base da pirâmide, chegada em lugares afastados com inovações de qualidade,

preços reduzidos e melhores condições de pagamento, contribuindo no combate a

alternativas informais e de baixa qualidade ou prejudiciais à saúde ou meio ambiente,

construção da cidadania com exercício pleno de deveres e direitos, como o acesso ao

trabalho e o desenvolvimento do capital social, com efeitos sobre as partes envolvidas,

como visibilidade do potencial dos negócios de impacto, melhoria nas condições de

24

negociação, maior acesso, entre outros. Há um interesse crescente por negócios que

combinam modelo de empresas tradicionais com os valores sociais característicos

destes negócios (COMINI; BARKI; AGUIAR, 2012).

A busca contínua de uma terminologia adequada, faz-se necessária para o

fortalecimento deste novo mercado. Para contribuir na delimitação acerca dos

negócios de impacto, são apresentadas duas premissas vitais no delineamento da

abordagem de impacto e que são muito importantes neste momento de

amadurecimento: intencionalidade dos negócios e expectativa de retornos

financeiros (O’DONOHOE et al., 2010; DREXLER et al., 2013; TASKFORCE, 2014b).

Uma vez que a principal característica dos negócios de impacto é a busca

concomitante de retornos financeiros e de geração de impacto social, segundo

Comini, Barki e Aguiar (2013) a busca pelo retorno financeiro não se sobrepõe à busca

pelos benefícios sociais do negócio devendo prevalecer a convivência pacífica de

ambos (PORTER; KRAMER, 2011).

Entende-se por negócio de impacto aquele que gera valor em grande escala

na busca da transformação de minorias ou até mesmo da sociedade como um todo,

tendo público alvo uma população desatendida, negligenciada ou altamente

desprivilegiada, sendo certamente possível gerar lucros em seus negócios,

organizando-se como um negócio com ou sem fins lucrativos (MARTIN; OSBERG,

2007). Os negócios de impacto lançam novos conceitos de produtos para satisfazer

necessidades sociais, sempre se baseando em modelos de negócios viáveis,

conforme Porter e Kramer (2011). Abaixo destaca-se a definição de negócios de

impacto que melhor traduz os propósitos desta pesquisa:

Empresas sociais apresentam um novo paradigma para o capita

lismo, em que as empresas privadas, organizações sem fins

lucrativos e da sociedade civil criam um novo tipo de negócio

com o objetivo principal de resolver problemas sociais com

sustentabilidade financeira e eficiência por meio de mecanismos

de mercado. (COMINI; BARKI; AGUIAR, 2012, p. 385).

Em relação ao financiamento, os negócios de impacto enfrentam os desafios

inerentes a qualquer mercado, sendo sua origem múltiplas (doações, caridade, entre

outros) ou então financiados exclusivamente por seu próprio faturamento. Esses

negócios buscam a geração de resultados tangíveis ou de resultados intangíveis.

25

Eventualmente contam com trabalho voluntário e apresentam uma proposta de valor

diferenciada, quando comparada com negócios tradicionais (CHELL, 2007).

2.2 INVESTIMENTOS DE CAPITAL DE RISCO

A construção básica de um fundo de investimentos parte da formação de um

grupo de pessoas que utilizam um montante de capital, além de seu próprio, para

fazer investimentos, comumente chamados de private equity (PE) ou venture capital

(VC) são utilizados como sinônimos, porém apresentam diferença quando

consideramos a fase do negócio envolvida, sendo PE para fases mais desenvolvidas,

envolvendo dezenas de milhões de dólares, enquanto venture capital, que

tecnicamente é um PE, está voltado para as fases de investimento bem precoces

(ALLMAN, 2015)

A extensa experiência dos gestores private equity e venture capital (PEVC) na

seleção e monitoramento na composição de seu portfólio sugere que tais profissionais

e as organizações nas quais trabalham, tenham desenvolvido processos e critérios

superiores de identificação, avaliação e acompanhamento de ativos intangíveis

(RIBEIRO; TIRONI, 2007), apresentando estruturas sólidas de processos para a

tomada de decisão de investimentos bastante consolidadas. Tyebjee e Bruno (1984)

apresentam de maneira pioneira um modelo do processo de decisão da atividade de

investimento do venture capital, com uma estrutura descrevendo os passos da

atividade do investidor: Origem da Negociação, Triagem, Estrutura da Negociação,

Atividades Pós Investimento. Estudos subsequentes detalharam ainda mais o

processo, com ênfase no passo de avaliação que passa a ser apresentado em duas

frentes distintas, com a inclusão da etapa de due diligence.

Uma versão brasileira é proposta em Ribeiro e Tironi (2007), em que PEVC

brasileiras foram analisadas, a fim de descrever o processo de seleção de

investimentos. Critérios e indicadores utilizados por tais organizações para identificar

e mensurar ativos intangíveis e seus resultados sugerem que investidores de PEVC

utilizam técnicas sofisticadas para avaliar propostas de investimento, pelas quais foi

possível reproduzir um modelo do processo de seleção de investimentos. Esta

estrutura, além de ser inspirada na realidade brasileira, revela e delimita em caixas

destacadas e separadas de outros passos, elementos importantes como os já

26

mencionados Due Diligence e o Term Sheet e adiciona outros elementos

interessantes.

Inspirado nestes trabalhos, segue abaixo na figura 1 a representação da

estrutura de um processo de decisão de investimento que incorpora os importantes

elementos citados acima e com suas funcionalidades detalhadas a seguir:

Figura 1 - Fluxo descritivo do processo de seleção de investimentos PEVC

Fonte: adaptado de Ribeiro e Tironi (2007, p. 16)

Na figura 1 temos uma estrutura com nove etapas sobre o processo de seleção

de investimentos em PEVC. Na etapa inicial estão apresentadas as formas previstas

de recebimento das solicitações de investimento, divididas em: a) prospecção, em que

o investidor proativamente vai ao mercado buscar negócios que se encaixem em suas

premissas e com potenciais retornos; b) indicações, negócios que o investidor recebe

informações e recomendações alinhadas com o que esse fundo está em busca; e c)

candidatura espontânea, em que são os próprios empreendedores que buscam os

fundos e apresentam voluntariamente seus negócios a fim de obter recursos

(RIBEIRO; TIRONI, 2007).

27

Os fundos recebem inúmeros pedidos de investimento, certamente

sobrecarregando suas operações na triagem e avaliação das propostas (MACMILLAN

et al., 1985) e após tamanho esforço, por meio de seus rigorosos processos de

seleção, apenas 1% dos negócios que solicitam investimento recebem aportes e por

isso, os negócios passam pela triagem, em que é realizada a pré-seleção dos

negócios permitindo que os investidores se concentrem apenas nas ofertas potenciais

e gerenciáveis (TYEBJEE; BRUNO, 1984). Em geral são protocolos simples como a

verificação de setor, tamanho, estágio de desenvolvimento, localização geográfica,

tecnologia, entre outros critérios (RIBEIRO; TIRONI, 2007) também conhecidos por

tese de investimento.

O conjunto de parâmetros que descrevem a abordagem de atuação de cada

fundo, as características específicas desejadas, desenhada pelo gestor do fundo que

também é responsável por captar recursos e fazer a operação do fundo, como por

exemplo, a seleção e apoio às empresas é chamada de tese investimento (PERONI,

2015). Ao desenhar uma tese de investimentos o fundo tem a oportunidade de trazer

para si os objetivos de impacto ambicionados pelos negócios de impacto

(O’DONOHOE, 2010), em fundos de impacto quando transparente e bem articulada,

a tese de investimento promove o crescimento de todo o setor (DREXLER et al.,

2013). O impacto se aproxima do mundo dos investimentos tradicionais a partir do

momento em que muitos profissionais desta área passam a perceber que este fator

pode ser uma nova tese de investimentos em fundos venture capital (GONÇALVES,

2017).

Os negócios que se qualificam na triagem passam então para a fase de análise.

Cabe ressaltar que cada etapa demanda um custo despendido pelo investidor e que

quanto mais se avança no processo, maior este custo. A análise se divide entre

preliminar e detalhada, a diferença entre ambas análises é o nível de detalhamento

das informações que aumenta conforme a análise avança (RIBEIRO; TIRONI, 2007).

Esta etapa envolve ampla e profunda coleta de informações dos investidores para

avaliação do conceito e probabilidade do sucesso, potencial do produto ou serviço,

avaliação da equipe em itens como integridade e experiência, avaliação do retorno,

incluindo o fator da oportunidade de saída, lucro absoluto e taxa de retorno (FEENEY

et al., 1999).

Tendo os investidores decidido, por meio das análises, pela realização do

aporte, segue-se para a negociação com os empreendedores, onde detalhes

28

relacionados ao formato de pagamento, valores, contrapartidas e principalmente

vínculos formais entre ambas as partes são definidos, que mais adiante serão

formalizados em um acordo (RIBEIRO; TIRONI, 2007) também chamado de term

sheet. A seguir, chega-se ao due diligence em que estudos formais de mercado,

conferência de referências e consulta a terceiros são realizadas sendo o principal

objetivo dos investidores identificar e resolver qualquer barreira na negociação

(FEENEY et al., 1999).

Após a conclusão desta etapa, segue-se ao aporte de recursos propriamente

dito. O negócio passa a fazer parte formalmente do fundo de investimentos, recebe

os recursos, conforme acordo firmado e passa a trabalhar com o compromisso de

maximizar a valorização de seu negócio.

Com o aporte realizado, ocorrem as Atividades de Pós Investimento, com

ações como estabelecimento de controles para proteger o investimento, consultoria

para jovens empreendedores, orquestrações de futuras fusões, aquisições ou ofertas

públicas, participação no conselho da companhia, oferecendo ao empreendedor

acesso à rede de contatos, rede de fornecedores, rede de clientes, acesso a

financiamento e mais benefícios que vão além dos recursos financeiros e que irão de

fato garantir que o negócio se expanda, aumente vendas, faça acordos, conquiste

novas parcerias, amplie o impacto (TYEBJEE; BRUNO, 1984).

Após esta longa jornada de um investimento, com uma duração que gira em

torno de cinco a dez anos (CARVALHO; RIBEIRO; FURTADO, 2006), chega o

momento do resgate do investimento, que possivelmente ocorre por abertura de

capital ou Initial Public Offer (IPO), venda estratégica, venda para investidores

(secondary sales), liquidação total dos ativos (write-off), recompra pelo empreendedor

(buyback) ou compra estratégica.

2.3 INVESTIMENTO DE IMPACTO

Até pouco tempo atrás, governos e organizações filantrópicas concentravam

seus recursos basicamente na solução de problemas sociais, hoje tais atores têm

ainda mais uma preocupação, o financiamento de suas atividades, pois à medida que

a economia global desacelera os cortes nos gastos públicos afetam o

desenvolvimento dos países refletindo na redução dos fundos de apoio global ou

ajudas humanitárias (CARRAGHER, 2013; COHEN; SAHLMAN, 2013). A crise

29

financeira de 2008 evidenciou um sistema que não considera as reais consequências

na sociedade e meio ambiente, alertando para a necessidade de as finanças

trabalharem para a construção de uma sociedade saudável (SILBY, 2011;

TASKFORCE, 2014a).

As organizações filantrópicas, ainda que com nobres propósitos, não

conseguem resolver sozinhas os problemas sociais devido às suas restrições de

recursos (DREXLER et al., 2013; TASKFORCE, 2014a). Para Carragher (2013),

subsídios tradicionais para o desenvolvimento das nações não devem nunca ser

suplantados, porém os desafios estão cada vez mais globais, por isso é hora de

revisar a narrativa e encontrar uma maneira de transformar capital investido em

soluções para os maiores desafios do mundo, mostrando que retornos financeiros e

bem-estar social não são mutuamente exclusivos.

Freirich e Fulton (2009) sinalizam um movimento recente, em que vários

setores e regiões estão convergindo para a criação de uma nova indústria global,

dirigida por forças similares e desafios em comum, operam em uma área inexplorada

entre a filantropia e o foco exclusivo na maximização do retorno. Essas novas

estratégias de financiamento a negócios são tendências aparentemente duradouras

de como a sociedade pode empregar seus recursos e resolver seus problemas

(BUGG-LEVINE; EMERSON, 2011).

O empreendedor social enfrenta dificuldade de atrair capital financeiro

tradicional ao não corresponder a negócios já conhecidos pelos investidores ou até

mesmo por serem vistos como apostas de risco, devido à incerteza futura (COHEN;

SAHLMAN, 2013; BATTILANA; LEE, 2014).

Assim, investimento de impacto emerge como um novo segmento de

investidores, uma alternativa para alocação de capitais em negócios sociais, além dos

financiamentos tradicionais (CARRAGHER, 2013; COHEN; SAHLMAN, 2013;

ORMISTON et al., 2015).

O melhor uso dos recursos será possível quando a viabilidade e credibilidade

dos resultados de curto e longo prazo dos impactos sociais possam ser

compartilhadas com confiança (CLARK et al., 2004). O recente campo dos

investimentos de impacto começa a criar estruturas financeiras desenhadas

especificamente para entregar resultados, ao considerar seus benefícios e restrições

(BATTILANA; LEE, 2014).

30

Os impactos revelam uma dimensão de intangibilidade muito proeminente.

Para que impacto seja medido, é necessário antes de tudo compreendê-lo, mas a

natureza qualitativa do impacto social torna difícil uma atribuição de valor (MAAS;

LIKET, 2011)

Até o momento, a Teoria de Mudança, formalmente desenvolvida por Carol

Weiss e amplamente discutida por diversos acadêmicos, é uma das ferramentas mais

disseminadas quando se trata de planejamento e avaliação de investimentos de

impacto, pois tem o potencial de desenhar realizações de curto e médio prazo que

produzirão resultados de longo prazo, articulando o caminho a ser percorrido, quais

processos para atingir os resultados almejados e as premissas que regem o ciclo,

resultando inclusive em uma representação gráfica ilustrativa (ANDERSON, 2005;

BRANDÃO et al., 2014).

A abordagem de Weiss é consolidada ao ser apresentada em Clark et al. (2004)

no Catálogo de Métodos, organizado pela Fundação Rockefeller. A representação

gráfica mais comumente encontrada é composta por inputs, atividades, outputs

(resultados), outcomes e impacto, sendo que seu funcionamento contempla uma

estrutura que recebe entradas (input) que estabelecem condições necessárias para a

realização de atividades que irão gerar saídas (outputs), que no médio prazo podem

gerar algum tipo de transformação social (outcomes) que poderá permitir o

atingimento da missão pretendida (SILVA; BRANDÃO, 2013). Na figura 2 é

apresentada uma representação gráfica da Teoria de Mudança:

Figura 2 - Representação gráfica da Teoria de Mudança

Fonte: Clark et al., 2004, p. 7.

31

A Teoria de Mudança em si não garante impacto, por isso deve estar associada

a outras estratégias de avaliação de impacto. Equilibrar a Teoria de Mudança com

outro método, é também um grande aprendizado para todo o mercado de investimento

de impacto (BRANDÃO et al., 2014; JACKSON, 2013).

O termo “investimento de impacto” surgiu em 2007, cunhado por investidores e

outros envolvidos no tema, em um encontro organizado pela Fundação Rockefeller

(HÖCHSTÄDTER; SCHECK, 2015), movido pela lacuna que os termos utilizados até

então deixavam ao não expressarem de fato os interesses dos investidores, como

“investimentos socialmente responsáveis” ou “investimentos éticos” que focam em

questões que as empresas querem evitar, ou ainda “finanças sustentáveis” que não

abarca o amplo significado de justiça social e desenvolvimento, abafando o

excitamento desses investidores sobre as possibilidades de um investimento cheio de

significados (BUGG-LEVINE; EMERSON, 2011).

Como qualquer setor novo e emergente, suas definições e delimitações estão

em evolução e com o desenvolvimento do setor essas incertezas passarão a ser

esclarecidas e endereçadas, a partir de lições aprendidas (DREXLER et al., 2013). No

quadro 1 é possível verificar as diferentes definições encontradas na literatura acerca

do termo investimento de impacto, no entanto parece haver uma abordagem

predominante girando em torno de dois elementos principais: retorno financeiro e

impacto não-financeiro (HÖCHSTÄDTER; SCHECK, 2015).

Quadro 1 - Definições sobre investimento de impacto

Definição Origem

“Investimento de impacto é uma abordagem de investimento que intencionalmente busca criar retorno financeiro e impacto social ou ambiental positivo, que é ativamente mensurável”

DREXLER et al.,2013, p. 7

“A ideia por trás do investimento de impacto é que investidores podem exigir duplo objetivo: retorno financeiro e atendimento a desafios sociais e ambientais”

BUGG-LEVINE; EMERSON, 2011, p. 10

“Investimentos de impacto são investimentos que pretendem criar impacto positivo além do retorno financeiro”

O’DONOHOE, 2010, p. 7

“São aqueles que intencionalmente buscam objetivos sociais específicos juntamente com retorno financeiro e mensuram o atingimento de ambos. ”

TASKFORCE, 2014a

Fonte: elaborado pela autora

32

Por isso o novo termo fornece amplitude retórica, evocando o otimismo e a

orientação voltada para a ação que alguns investidores buscavam, unidos pelo

interesse em acessar o potencial e o desempenho real de seu capital para fazer algo

de positivo (BUGG-LEVINE; EMERSON, 2011).

2.3.1. Objetivos múltiplos

No investimento de impacto busca-se dois objetivos simultaneamente, retorno

financeiro e impacto, o grau de balanceamento entre os dois tipos de resultados gera

um grande debate sobre a preponderância do retorno financeiro sobre o impacto

social, ou vice-versa (ROUNDY et al., 2017). Na verdade, investidores de impacto

buscam uma dupla geração de valor em que ambos os resultados são importantes e

podem ser obtidos conjuntamente (FREIRICH; FULTON, 2009; CARRAGHER, 2013;

HÖCHSTÄDTER; SCHECK, 2015).

Para Bugg-Levine e Emerson (2011), o conceito de valor combinado (blended

value) é uma fusão indivisível de elementos, não apenas uma adição de partes

separadas, mais que isso, uma recombinação de elementos centrais transformados

em um novo elemento. No coração do investimento de impacto está a presença de

um objetivo duplo: o desejo de atingir tanto os resultados sociais ou ambientais

positivos quantos os resultados financeiros (RODIN; BRANDENBURG, 2014).

Portanto, quando se trata de negócios de impacto, além da análise da

perspectiva entre retorno e risco, é incorporado um novo elemento, chamado de

impacto.

Por outro lado, Dees (2017) entende que a pressão sobre os negócios de

impacto pode ser uma ameaça à realização primária do impacto e Chell (2007)

complementa que, a busca por resultados financeiros, pode corromper a organização

de sua missão principal, na busca pelo impacto. Esses negócios enfrentam pressões

contínuas para se adequar às demandas que podem conflitar com seus próprios

interesses (BATTILANA; LEE, 2014).

Em Porter e Kramer (2011), a busca por impacto impõe limitações à

maximização de lucros, enquanto a organização supostamente aumenta custos e

possivelmente reduz lucros, este é o momento para voltar a unir a atividade

empresarial com a sociedade, criando um elo entre sucesso da empresa e progresso

social. Esses dois objetivos que, anteriormente eram vistos como incompatíveis, hoje

33

já são tidos como elementos centrais no funcionamento de qualquer organização e o

debate só expande o desejo de produzir um impacto social positivo até mesmo no

setor privado (COMINI; BARKI; AGUIAR, 2012).

Devido à pressão por resultados, os gestores dos fundos de impacto podem

enfrentar trade offs entre a maximização de retornos financeiros e a preservação da

missão da empresa, em que até se questiona a necessidade de sacrificar a missão

em troca de retorno financeiro, influenciados, por exemplo, pelos objetivos do

investidor (SHORTALL; ALTER, 2009; GRAY et al., 2015).

Ao observar o comprometimento com a missão de um negócio e os resultados

financeiros esperados de forma integrada na figura 3, verificam-se negócios que, em

diferentes graus, aderem à geração de impacto e se atém a geração de resultados

financeiros de diferentes formas (TASKFORCE, 2014b), todas essas formações são

válidas e contribuem para a solução de problemas socioambientais, porém diferem na

obtenção de recursos para o desempenho de suas atividades e na abrangência do

impacto gerado.

Figura 3 - Classificação de negócios conforme intenção e resultados financeiros

Fonte: TASKFORCE, 2014b, p. 6, tradução nossa.

Este mercado, que persistiu às instabilidades econômicas de 2008 e vem

superando as ajudas de governo e de empresas desde o início dos anos 90, atinge

34

neste momento um ponto de transição e está pronto para sair a fase inicial e partir

para a construção de um mercado mais amplo (FREIRICH; FULTON, 2009).

Para que o mercado atinja seu potencial, precisa atrair cada vez mais

investidores e assim ser uma das grandes mudanças na indústria de investimentos

nos últimos tempos (O’DONOHOE et al., 2010; DREXLER et al., 2013).

2.3.2 Contexto no mundo e América Latina

Segundo O’Donohoe et al. (2010), o valor global estimado para os

investimentos de impacto é de U$ 1 trilhão até 2020, sendo uma estimativa parcial,

pois o escopo foi delimitado para oportunidades em investimentos de impacto de cinco

setores. Já em Freirich e Fulton (2009) é estimado um potencial do mercado de

investimento de impacto de até U$ 500 bilhões de dólares, metade do valor

mencionado anteriormente. De uma maneira ou de outra, tais estimativas dão uma

dimensão da oportunidade que este mercado pode movimentar futuramente.

Sobre os ativos que já estão circulando sob investimento de impacto, o Global

Impact Investing Network (GIIN) apresentou uma pesquisa de 2015 com 62

instituições de todo o mundo, das quais cerca de 75% são gestores de fundo e

fundações. Nesta pesquisa foi identificado um montante em ativos sob gestão global

de U$ 25,4 bilhões em 2013 com incremento para U$ 35,5 bilhões em 2015, ou seja,

um crescimento composto anual de 18%. Já na América Latina, outra pesquisa

realizada com 28 investidores em 2016 aponta para um total de ativos sob gestão de

U$ 1,2 bilhões (DUMONT, 2016).

Em termos de atividade, globalmente foram comprometidos U$ 7,1 bilhões em

2013, subindo para U$ 9,1 bilhões em 2015 em cerca de 3 mil transações realizadas

anualmente (GIIN, 2016). Para a América Latina, os participantes declaram

investimentos de U$ 1,3 bilhão em 2014 e 2015 em 522 operações de investimento

de impacto (DUMONT, 2016).

Os setores que mais se destacam globalmente, no recebimento de

investimentos de impacto são serviços financeiros, habitação e energia (GIIN, 2016).

Já os setores que sobressaem na América Latina são agricultura, serviços financeiros

e saúde.

35

Tanto globalmente quanto na América Latina, o instrumento que os investidores

mais utilizam em suas transações é a participação acionária, seguido por dívida, dívida

conversível, doações, subvenções, garantias, entre outros.

2.3.3 Contexto brasileiro

A desigualdade social e econômica no Brasil ainda é uma das maiores do

mundo, tornando a solução de problemas complexos uma prioridade para o

desenvolvimento do país, o investimento de impacto tem potencial para endereçar

essas questões. No entanto, o mercado brasileiro ainda é nascente, com informações

limitadas sobre dados e tendências (PIAZZA, 2014).

O setor desenvolveu-se de forma gradual. A Oikocredit, um fundo de

microcrédito sediado na Holanda, foi o primeiro gestor de investimento de impacto a

entrar no mercado brasileiro, em 2003 e somente em 2009 o primeiro fundo fechado

de impacto nacional foi lançado pela Vox Capital (PIAZZA, 2014).

Em 2014, haviam nove investidores sediados no Brasil e mais 13 investidores

internacionais e em 2016 esse número subiu para dezesseis (DUMONT, 2016). O

cenário balanceado entre competidores locais e estrangeiros e o interesse de

fundações e fundos internacionais no Brasil demonstram a atratividade desta região

mediante outros mercados emergentes (PIAZZA, 2014). Na tabela 1 estão as

nacionalidades dos principais países que investem em negócios de impacto no Brasil.

Tabela 1 - Investidores por país de origem

País Número de investidores

Brasil 14

Estados Unidos 6

Suíça 4

Outros 5

Fonte: Dumont, 2016, p. 61.

Como é possível notar na tabela 1, a origem da maioria dos investidores

internacionais provém dos Estados Unidos, seguido pela Suíça, os demais são

36

provenientes de 5 outros países. Estes países são notoriamente conhecidos como

especialistas em investimentos.

O total de ativos sob gestão de organizações no Brasil em 2016 era U$ 186

milhões que resultaram em 48 transações que totalizaram aproximadamente U$ 70

milhões, sendo que em 2014 os investidores haviam estimado uma ambiciosa meta

para a captação de U$ 150 milhões até 2015 e os investidores mantêm-se otimistas,

projetando uma captação de U$ 269 milhões em 2016, bastante desafiador se

comparada à projeção anterior (DUMONT, 2016).

No mundo, na América Latina e no Brasil, o instrumento que os investidores

mais utilizam em suas transações, são respectivamente: participação acionária, dívida

e dívidas conversíveis. A dívida, mencionada por 52% em 2015, cresceu em

comparação a 2014, ocasião em que foi mencionado por 32% dos participantes

(DUMONT, 2016). “Devido à falta de negócios em fase de crescimento, 82% dos

investimentos compreendem negócios em fase inicial realizados por investidores de

impacto no Brasil” (PIAZZA, 2014, p. 23, tradução nossa).

Em uma pesquisa realizada em 2017 pela Pipe Social, uma plataforma de

fomento aos negócios de impacto no Brasil, mapeou 579 negócios de impacto

socioambiental no Brasil, a questão “qual problema seu negócio resolve no mundo”,

observou-se que 38% dos negócios tem como área principal de impacto a educação,

seguido por tecnologias verdes com 23%.

O mercado brasileiro, cresceu entre 2014 e 2015, apesar da situação político-

econômica, altas taxas de juros e ausência de casos de sucesso, de acordo com

Dumont (2016). Nos últimos anos houve um significante desenvolvimento no

desempenho e mais recentemente percebe-se uma melhor coordenação de atores da

área, mais profissionais envolvidos, e um maior número de investidores e capital

investido no país (PIAZZA, 2014).

A evolução do tema nos próximos anos vai garantir oportunidades para

investimentos em estágios mais maduros.

37

2.4 FATORES DE DECISÃO EM INVESTIMENTO DE IMPACTO

No dia a dia de um fundo de investimento tradicional, o gestor deve gerenciar

duas determinantes fundamentais que já são tradicionalmente conhecidas: risco e

retorno, segundo Gitman (2010) a combinação destes afeta a rentabilidade de um

fundo.

Investimento de impacto é um conceito tão inovador que desafia tal natureza

binária da alocação de recursos, ou seja, não é voltado só para a maximização do

retorno financeiro com risco ajustado ou somente para doações sem expectativa de

retorno financeiro (O’DONOHOE et al., 2010). Tal mudança de paradigma no mercado

de capital adiciona o fator impacto à relação risco-retorno já existente nas finanças

clássicas, resultando em quatro fatores, conforme ilustrado na figura 4 (TASKFORCE,

2014a): retorno financeiro, risco financeiro, retorno financeiro e retorno de impacto.

Figura 4 - Estrutura das dimensões nos investimentos de impacto

Fonte: Adaptado de Saltuk, 2012, p. 5, tradução nossa.

A estrutura representada na figura 4 e sugerida em Saltuk (2012) ilustra retorno,

impacto, risco financeiro e risco de impacto, que são os fatores de decisão que um

gestor de fundos de investimento de impacto pode mapear o perfil alvo tanto para um

portfólio com diferentes negócios ou para um perfil individual. Esta representação

gráfica apresenta a adição de novos elementos ao entendimento da relação clássica

38

entre risco e retorno estabelecida pelo investidor de impacto, além de evidenciar a

diferença primordial entre investimentos de impacto e os tradicionais.

2.4.1 Impacto

Na tentativa de tornar o termo impacto mais compreensível e também mais

acessível, propõe-se sua análise por meio de duas premissas:

● Intencionalidade dos negócios

● Mensuração de impacto

A intencionalidade dos negócios está diretamente associada ao propósito de

criar um bem social ou ambiental, diferentemente de negócios com resultados

positivos não-intencionais, que por definição não serão considerados investimentos

de impacto (FREIRICH; FULTON, 2009; DREXLER et al., 2013). No caso de impacto

gerado como consequência de algum investimento, mas não propositalmente, esta

operação não deve ser considerada um investimento de impacto a geração de valor

socioambiental deve ser a estratégia central do fundo (O’DONOHOE et al., 2010).

Em resumo, na intencionalidade de um negócio “busca-se, compromete-se,

cria-se e demonstra-se impacto socioambiental” (TASKFORCE, 2014b, p. 12). Para

ser mais esclarecedor e rigoroso, é possível ainda listar dois quesitos essenciais para

o delineamento do que é intencionalidade de um investimento de impacto

(TASKFORCE, 2014b), deve conter imprescindivelmente:

● Comprometimento: estar engajado a um propósito não financeiro;

● Mensuração: os impactos devem ser mensuráveis e reportáveis.

A “melhoria da sociedade” é apontada pela nova geração de investidores

millenials, aqueles nascidos após 1982 (DREXLER et al., 2013), como o principal

propósito na gestão dos negócios apresentado na figura 5, estabelecendo então um

novo paradigma no equilíbrio do propósito e da geração de resultados financeiros

(FREIRICH; FULTON, 2009; DREXLER et al., 2013). A mudança é tão relevante que

a pesquisa aponta “gerar lucro” apenas após o objetivo de “melhorar a sociedade”.

Outros objetivos como “impulsionar inovação”, “produzir bens e serviços” e “aprimorar

a subsistência” também são citados pela geração millenial como propósito principal

dos negócios.

39

Figura 5 - Pesquisa sobre propósito nos negócios

Fonte: Drexler et al., 2013, p. 5, tradução nossa.

A partir da demanda do mercado, os fundos estão passando a considerar

critérios de impacto como fatores determinantes na seleção de portfólio em Fundos

Sustentáveis e Responsáveis nos Estados Unidos, à frente até mesmo de critérios

como risco e retorno, mencionados com 67% e 64%, respectivamente (Drexler et al.;

2013) de acordo com a figura 6:

Figura 6 - Razões para incorporar impacto nos investimentos

Fonte: Drexler et al., 2013, p. 11, tradução nossa.

Além desses itens, na figura 6 destaca-se com 53% o dever fiduciário como

uma justificativa para incluir novos critérios nos investimentos, por fortalecer a relação

de confiança entre investidores, negócios e toda a sociedade. Por fim, é possível notar

a importância da relação impacto e resultado quando missão e benefício social são

citados com 72% e 67% respectivamente de importância para os investidores.

40

Entende-se por comprometimento quando há uma estratégia dos investidores

na qual está declarado seu vínculo com um propósito suficientemente amplo para

evitar o risco da obsolescência, porém específico o suficiente para estabelecer

objetivos e medir o atingimento (FREIRICH; FULTON, 2009; TASKFORCE, 2014b),

consequentemente, negócios que assegurem tal impacto dão confiança que as

soluções continuarão a atingir os objetivos socioambientais no longo prazo, ajudando

assim a atrair mais investidores de impacto (TASKFORCE, 2014b).

Proteger a missão é algo tão importante para o sucesso dos investimentos de

impacto que até mesmo o Fórum Econômico Mundial estabeleceu um grupo de

trabalho (GT) específico para a discussão deste tema, alegando que os negócios que

buscam geração de impacto necessitam de melhor reconhecimento e também de

ferramentas e suporte mais adequados para fazer negócios em escala (TASKFORCE,

2014a).

De acordo com Ebrahim et al. (2014), o desvio da missão é um risco para

investimentos de impacto pois, primeiramente, esses negócios são dependentes das

receitas comerciais para financiar suas operações e isso pode se sobrepor à intenção

socioambiental e, em segundo lugar, desviar da missão é como perder a razão de

existir, pois irão falhar na geração de seu compromisso acordado mediante seus

beneficiários. A fim de proteger a missão o GT esclarece que os empreendedores

devem ter acesso a uma gama completa de formas legais sobre a intenção de seu

negócio de impacto e assim reuniu cinco diferentes graus, explicitados abaixo cada

grau e seu detalhamento na figura 7:

Figura 7 - Graus de maturidade no comprometimento de um negócio de impacto

Fonte: Autora, adaptado de TASKFORCE, 2014a, p. 13, tradução nossa.

41

Os graus apresentados acima aludem à missão social de um negócio de

impacto, variando desde o grau 1, mais informal em que não se documenta

juridicamente a intenção social, distante do cerne do negócio, passando para os graus

mais incorporados à estratégia da companhia por mecanismos jurídicos ajustados,

como a participação acionária, formalização contratual ou pagamento de bônus anual

dos executivos, dando ao grau 5 a maior formalidade encontrada até o momento, pela

referida fonte.

Mecanismos, formas ou obrigações legais de proteger a busca pelo impacto

nos negócios podem ser estabelecidas de variadas formas, como vincular a

remuneração dos investidores ao atingimento de objetivos de impacto, ou seja, a cada

vez que a empresa superar a meta adiciona-se um percentual na remuneração

(ALLMAN, 2015). Na tabela 2 temos um exemplo, se a missão da empresa é entregar

produtos para a população de baixa renda e a meta for até 30% do portfólio (objetivo

1), o fundo será remunerado na taxa base de 15%, no entanto se a meta for superada,

adiciona-se 5% e se a meta ultrapassar o atingimento de 50% do portfólio voltado para

população de baixa renda (objetivo 2) agrega-se à remuneração mais 10%

alcançando desta maneira uma remuneração de 30% (ALLMAN, 2015):

Tabela 2 - Recompensa ligada a objetivos de impacto

Trava Remuneração

Remuneração por atingimento de objetivos

15%

Atingir objetivo 1 + 5%

Atingir objetivo 2 + 10%

Remuneração total final = 30%

Fonte: Allman, 2015, p. 249

O segundo requisito necessário que complementa a intencionalidade de

impacto é a mensuração de impactos sendo a maneira mais efetiva de construir

confiança junto às principais partes relacionadas de um negócio de impacto

(TASKFORCE, 2014b). A mensuração de impacto é um critério exclusivo ao

investimento de impacto, que também utiliza diversos critérios comuns ao

42

investimento tradicional, como potencial da equipe de gestão ou escalabilidade do

negócio, conforme Roundy et al. (2017).

Diferentemente do que acontece com os resultados financeiros, os impactos

socioambientais não estão explicitamente incluídos nos relatórios de resultados das

empresas (MAAS; LIKET, 2011) enquanto que para os investimentos de impacto, a

mensuração de impactos é uma prática central de gestão e não apenas uma reflexão

posterior, utilizada para divulgação externa e marketing (BUGG-LEVINE; EMERSON,

2011).

A habilidade que o investidor de impacto tem para estabelecer, medir, atingir e

reportar resultados socioambientais relevantes é cada vez mais importante e um

grande diferencial na obtenção de apoio financeiro para os negócios de impacto. Por

exemplo, o fundo de investimento Acumen (uma comunidade global que investe em

negócios em estágio inicial que transformem a vida dos mais carentes) incorporou

métricas rigorosas de impacto em seu processo de seleção, afinal tais evidências são

relevantes para legitimar as transações realizadas perante os provedores de recursos

financeiros e também para atrair novos investidores (CLARKIN; CANGIONI, 2016;

GLÄNZEL; SCHEUERLE, 2016).

A fim de endereçar algumas questões como as abordagens fragmentadas, falta

de comparabilidade e a ausência de análises e benchmarks para o mercado de

investimento de impacto (BOURI, 2011) esforços estão surgindo, como a criação de

um sistema de indicadores padrão que, aliado a uma linguagem comum, garantirão o

direcionamento de recursos e atenção aos negócios que de fato estão fazendo a

diferença e fomentando impacto na sociedade (BOURI, 2011; BUGG-LEVINE;

EMERSON, 2011; DREXLER et al., 2013). O Impact Reporting and Investment

Standards (IRIS) é um conjunto padronizado de métricas que descreve o desempenho

social, ambiental e financeira de uma organização e o Global Impact Investing Rating

System (GIIRS), um sistema de pontuação padronizado para comparação entre

diferentes fundos com potencial de atrair novos investidores interessados em

investimento de impacto, mas não desejam desenvolver uma metodologia própria

para mensuração de impacto (O’DONOHOE et al., 2010; DREXLER et al., 2013).

Novas estratégias e realidades competitivas exigem novos sistemas

de mensuração a fim de integrar as dimensões sociais no

desempenho dos negócios (MAAS; LIKET, 2011, p. 13, tradução

nossa).

43

Os primeiros agentes a adotar o sistema têm a importante missão de expressar

a padronização do IRIS, valorizando a ferramenta (BOURI, 2011).

2.4.2 Risco financeiro

O próximo fator a ser abordado é o risco, que está apresentado em duas

diferentes abordagens: risco financeiro na seção 2.4.2 e risco de impacto na seção

2.4.3. A definição de risco nada mais é que a probabilidade de receber como retorno

sobre um investimento algo inesperado, não apenas um resultado abaixo do

esperado, como também retornos mais altos que o esperado (DAMODARAN, 2004).

Ou ainda de forma mais simplificada, risco é a chance de perda financeira, a

variabilidade dos retornos associados a um determinado investimento, por Gitman

(2010).

A mensuração de um risco, de acordo com o seu histórico, é chamada de

volatilidade, sua avaliação usa indicadores como amplitude e desvio padrão. A

amplitude é encontrada subtraindo o pior resultado do melhor resultado possível.

Desvio padrão mede a dispersão sobre o retorno mais provável de um investimento,

calculado da seguinte forma (GITMAN, 2010):

r = ∑

𝑛

𝑗−1

𝑟𝑗 × 𝑃𝑟𝑗

Onde:

𝑟 = desvio padrão

𝑟𝑗= retorno para o j-nésimo resultado

𝑃𝑟𝑗= probabilidade de ocorrência do j-nésimo resultado

𝑛 = número de resultados considerados

No entanto quando todos os resultados são conhecidos e se presume que as

probabilidades sejam iguais, o cálculo é realizado conforme demonstrado abaixo

(GITMAN, 2010):

44

𝜎𝑟 = √ ∑𝑛

𝑗=1 (𝑟𝑗 − 𝑟)2

𝑛 − 1

Onde:

𝜎𝑟= desvio padrão com probabilidades iguais

𝑛 = quantidade de observações

𝑟 = desvio padrão

𝑟𝑗= retorno para o j-nésimo resultado

Em um exemplo prático, um investidor que exige 30% ao ano (a.a.) de retorno

em um determinado ativo, é quase certo que o retorno realizado não seja esse valor,

podendo ser maior ou menor, a medida desse risco é o desvio padrão.

Investidores por natureza são avessos ao risco, por isso, ao assumir um risco

o investidor certamente exigirá um retorno à altura do risco assumido e, portanto,

quanto maior o risco maior a expectativa de retorno (BERK; DEMARZO; HARFORD,

2010), em que “os desvios dos retornos efetivos sobre um investimento em relação a

seus retornos” (DAMODARAN, 2004, p. 161). Investidores tendem a preferir retornos

mais altos e riscos mais baixos, uma vez que risco e retorno são as principais variáveis

na maximização do lucro de uma empresa, pois a combinação destes que determina

a variação do resultado (GITMAN, 2010).

Nos modelos de fluxo de caixa descontado, há diferentes fatores de riscos que

podem influenciar os negócios ou investimentos e podem agir no modelo, por

exemplo, estendendo o prazo para que os valores projetados se realizem ou então

aumentando a taxa de desconto aplicada (BERK; DEMARZO; HARFORD, 2010). Os

fatores de risco usualmente identificados e mensurados pelos gestores são (RIBEIRO;

TIRONI, 2007):

● Risco Tecnológico: o uso tecnologias disruptivas, inovadoras, radicais, ou que,

todavia, não estão totalmente dominadas dificulta a avaliação deste risco, pois

não se sabe como se comportarão quando replicadas em grande escala,

podem atrasar o cronograma, a geração de receita ou ainda incorrer em custos

não previstos anteriormente.

45

● Risco no Modelo de Negócios: o modelo de negócios apresentado inicialmente

pelo empreendedor na obtenção do investimento evolui ao longo do tempo, de

acordo com diversos fatores, como as mudanças na dinâmica do mercado,

dependência de terceiros, tais como condições e preços dos fornecedores. Por

isso, uma boa governança corporativa pode atenuar a constante remodelagem

do modelo de negócios, principalmente sob a atuação do conselho

administrativo.

● Risco de Gestão: este tipo de risco é o mais delicado e sobre o qual os

investidores dedicam maior atenção. Existente em empresas de qualquer porte,

é mais significativo em negócios nascentes. Esse risco se torna mais sensível

na ocasião de troca de equipe, substituição de liderança, necessidade de

contratação de executivos de mercado.

● Risco de liquidez: todo investimento realizado por um PEVC tem expectativa

de saída a fim de liquidar a posição e minimizar o valor presente líquido dos

fluxos futuros. Esta abordagem está em clara oposição àquela perseguida

pelos conglomerados empresariais, que buscam o retorno do capital por meio

dos dividendos pagos, continuamente, pelas empresas do grupo. As saídas

podem ocorrer de diferentes maneiras como a oferta inicial pública, venda

estratégica, venda para o próprio empreendedor ou outros investidores ou

então, caso não ocorra nenhuma dessas, a alternativa é a liquidação dos ativos

da empresa. Por isso mesmo a obtenção de sucesso depende de muitos

fatores como: potenciais interessados, concorrência no setor, alinhamento

entre o negócio e o potencial interessado, porte da empresa e condições de

mercado favoráveis.

● Risco de diversificação: para diminuir certos riscos o gestor da carteira pode

buscar a diversificação da exposição de risco, buscando certas limitações

dentro da carteira, como por exemplo, mesclando negócios de diferentes áreas,

ou diferentes estágios, entre outros, a fim de evitar a concentração da carteira.

● Risco de mercado: o mercado de atuação dos negócios pode ter variações que

prejudiquem o desempenho da carteira, como a concentração das receitas em

46

poucos clientes, crescimento de mercado fora do esperado, determinações de

órgãos reguladores, novos concorrentes, entre outros.

2.4.3 Risco de impacto

Adicionalmente aos riscos financeiros previstos nas finanças clássicas, em

investimentos de impacto há que se considerar ainda os riscos de impacto, ou seja, a

probabilidade que o desempenho do impacto será diferente do esperado, conforme

Drexler e Noble (2014) e Ebrahim et al. (2014):

● Risco de não ter impacto: probabilidade de não haver geração de resultados

conforme esperado, de não haver causalidade e nem monitoramento de dados;

● Risco de desvio da missão: probabilidade de dar prioridade às atividades

comerciais, colocando em risco a razão de ser do negócio, que é causar

impacto;

● Risco de alinhamento: a falta de alinhamento dos modelos de negócios com o

impacto a ser entregue pode comprometer o atingimento dos resultados

desejados, ou seja, os fatores de sucesso do negócio devem estar alinhados

tanto com o modelo de negócios bem como à missão de criar impacto;

● Risco de foco: possibilidade de resultados gerados não solucionarem

problemas da sociedade ou não melhorarem indicadores socioeconômicos ou

de meio ambiente;

● Risco de interferência: ao produzir impacto em uma determinada região ou

público alvo é possível que outros impactos sejam deslocados ou até mesmo

prejudicados, não contribuindo para a adição de benefícios à comunidade.

Há um certo ceticismo com relação ao crescimento dos investimentos de

impacto que pode estar relacionado a diversos riscos associados a este campo, como

dificuldades acima mencionadas, como a construção de um modelo de negócios,

desenvolvimento de habilidades de gestão necessárias, crescimento lento do

empreendimento e dos problemas resultantes de pressão sobre o retorno dos

47

investimentos no curto prazo, resultando muitas vezes na própria rejeição de obter

investimentos (GLÄNZEL; SCHEUERLE, 2016).

2.4.4 Retorno financeiro

Uma grande variedade de investidores de impacto, incluindo instituições

financeiras, fundações, fortunas privadas, fundos de pensão, boutiques de

investimentos, participa operando sobre múltiplos setores, por isso, como acontece

em qualquer outra transação de investimento, é exigido um retorno sobre os

investimentos em negócios de impacto e aqui é justo se discutir que o valor do retorno

seja no mínimo o valor principal investido, diferentemente das doações e concessões

do governo (O’DONOHOE et al., 2010; HÖCHSTÄDTER; SCHECK, 2015).

É importante notar que para mobilizar um capital substancial é necessário

desenvolver estruturas financeiras de negociação que tragam confiança e

credibilidade ao investidor e mesmo com inerentes riscos e limitações, esta nova

abordagem de investimento voltada para o impacto deverá crescer nos próximos anos

(FREIRICH; FULTON, 2009).

Investidores utilizam-se de suas experiências prévias para inferir suas

estimativas de riscos do negócio, ponderam o peso de cada fator de risco, assumindo

assim, para remunerar o risco assumido, a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) que

significa qual o mínimo resultado esperado pelo investidor para um projeto e é

composta da taxa básica de juros com o prêmio pelo risco que representa o mínimo

que se espera ganhar ao realizar um investimento (RIBEIRO; TIRONI, 2007; GITMAN,

2010). Para cada oportunidade de investimento há uma TMA esperada, calculada

somando-se a taxa básica de juros e o prêmio pelo risco (DAMODARAN, 2004),

conforme demonstrado na fórmula abaixo:

TMA = taxa básica de juros + Prêmio pelo risco

Onde:

Taxa básica de juros: Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) é

a taxa básica de juros da economia brasileira.

Prêmio pelo risco: é o retorno extra que seria exigido por transferir recursos de

um investimento sem risco para um investimento de risco médio e deve ser em função

do grau de aversão ao risco do investidor.

48

De acordo com os princípios fundamentais das finanças corporativas, deve-se

investir apenas em projetos que ofereçam retorno mais alto que a TMA aceitável, que

para projetos com maior risco, tende a ser alta. Através da Taxa Interna de Retorno

(TIR) é possível verificar qual o percentual que retornará financeiramente ao

investidor, calculado igualando-se o valor presente do investimento aos retornos

futuros. Quando se compara a TIR com a TMA é verificado se a TIR for superior a

TMA, o projeto trará retornos vantajosos ao investidor e vice-versa.

No caso de um fundo de investimento, no momento em que este for lançado, é

realizada a seleção dos investimentos por processos iguais ou similares ao

apresentado na figura 8 e os aportes realizados, ou seja, ocorre o aporte de recursos

deste fundo nos negócios selecionados, durante um tempo esses negócios são

gerenciados e sobre eles ocorre a geração de valor, até o momento de ocorrer a saída

do investimento sobre o negócio, nesta oportunidade o fundo é remunerado por meio

do retorno sobre o investimento realizado anteriormente até a liquidação deste fundo,

conforme o ciclo de vida do fundo, demonstrado na representação da figura 8:

Figura 8 - Ciclo de vida dos fundos de investimentos

Fonte: a autora.

Neste fluxo de caixa, em que na ocasião do aporte de recursos nos negócios

há um grande desembolso, com alta saída de recursos do fundo e após este momento

no tempo inicia-se o fluxo de entradas (receitas), que podem ser tanto pelo

funcionamento do negócio em que se obtém faturamento ou pelo rendimento do

49

investimento, demonstrada na figura 8 como o valor residual (DAMODARAN, 2004).

Os investidores observam os negócios que farão parte de seu portfólio projetando os

fluxos de caixa futuros a valor presente líquido (VPL), este valor é geralmente mais

conservador e considera que os retornos serão reinvestidos pela TMA estimada

(GITMAN, 2010). No entanto como o VPL não revela uma métrica que se refere ao

montante investido, os tomadores de decisão preferem a utilização da TIR, em que é

possível visualizar o percentual de retorno sobre o valor investido, tornando possível

a comparação com outros dados como rentabilidade e taxas de juros (GITMAN, 2010).

É difícil discutir retorno sem um contexto, por isso, um benchmark é necessário,

ou seja, um indicador base com composição similar sob o ponto de vista de risco e

retorno, tipos de ativo, localização geográfica e temporal, só assim possibilitando

comparabilidade, um dos aspectos chaves do benchmark (Allman, 2015).

Um investidor de impacto deve observar cerca de 5 a 10 anos de investimento

(CARVALHO; RIBEIRO; FURTADO, 2006) com uma expectativa de retorno em 7,6%

no décimo ano ou 8,8% de retorno esperado no vigésimo ano de investimento, se

baseado, por exemplo, no benchmark de desempenho da Standard & Poor’s 500 (S&P

500), índice do mercado de ações americano composto por 500 empresas

representativas (ALLMAN, 2015)

Mais evidências empíricas sobre as taxas de retorno dos investidores de capital

de risco podem ser encontradas em diversos artigos, como por exemplo, Kaplan e

Schoar (2005) avaliaram a performance de fundos de investimento private equity

utilizando de 1980 a 1997, observando a taxa interna de retorno (TIR) do fluxo de

caixa do investidor do fundo líquido de taxa de administração, com TIR resultando em

17%. No estudo de Ljungqvist et al. (2003), a TIR realizada para os fundos analisados

de 1981 a 1993 foi de 19,81%. Para o mesmo estudo, outras conclusões marcantes

são o tempo de oito a dez anos para que o retorno exigido seja positivo e que também

para que eventualmente exceda o mercado público de ações na ordem de 5% a.a. a

8% a.a.

Analisando o perfil da exigência de retorno, Manigart et al. (2002) foi o primeiro

estudo a comparar o retorno exigido pelos fundos de venture capital em cinco países

diferentes (Bélgica, Estados Unidos, França, Holanda e Reino Unido). Por meio de

uma pesquisa junto a membros das associações de investidores venture capital nos

5 países, concluiu que países com maior assistência a fundos venture capital tem

maior expectativa de retorno financeiro. Outros pontos interessantes são: os fundos

50

venture capital especializados em investimentos em estágios iniciais exigem retornos

mais altos, ocorre o mesmo quando fundos altamente diversificados investem em

estágios iniciais; quanto menor a quantidade de fundos geridos maior o retorno

exigido, pois quanto maior o monitoramento e a assistência, maior o retorno exigido;

o horizonte de tempo é negativamente correlacionado com o retorno exigido e, por

fim, uma última contribuição de destaque é que para pequenos montantes de

investimentos, pequenos retornos são exigidos. Este estudo analisou o

comportamento dos VC mediante correlação de hipóteses, não tendo levantado

valores de retorno financeiro esperado.

Já em Das et al. (2003), que estudou uma amostra de mais de 23 mil empresas

avaliando os múltiplos de saída como medida de retorno no período de 1980 até 2000,

foi possível encontrar os resultados divididos em três estágios de desenvolvimento da

empresa, sendo estágio inicial e estágio intermediário e o estágio de expansão, sendo

possível constatar que a saída por IPO estima retornos superiores que a saída por

venda estratégica e que, conforme mais maduro o estágio da empresa, maior também

será o retorno, tendo sido apresentado pelo estudo que a saída por IPO na fase de

expansão o retorno deve chegar a 4,01 múltiplos de saída, enquanto que no caso de

saída por venda estratégica o retorno seria de 4,63 múltiplos de saída.

Em Minardi et al. (2015), que investiga se os fundos brasileiros de PEVC tem

ou não seu desempenho afetado pela escalabilidade da carteira, obteve informações

na base de dados construída em parceria pela Spectra, um investidor de fundos PEVC

brasileiro e com o Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER), observando resultados

entre 1994 e 2012. A métrica de desempenho utilizada foi o múltiplo de dinheiro (MoM)

que é o valor do resultado dividido pelo montante investido, sendo que nesta pesquisa

os valores estão em dólares americanos. A média total alcançada pelo desempenho

na amostra foi de 2,66 MoM, ou seja, cada 1 dólar americano investido resultou em

2,66 dólares. A conclusão de tal estudo aponta que há uma deseconomia de escala

na indústria PEVC brasileira, já que para se ter um bom desempenho, é necessário

um grande esforço para monitorar os investimentos e esse esforço independe do

tamanho do investimento. Os resultados também indicam que há uma relação

negativa entre desempenho e faixa de investimento para PEVC. Quanto maior a

empresa, menor risco e menor a rentabilidade. Conforme esperado, quanto maior o

tempo dedicado a um investimento, maior o múltiplo de dinheiro dos investimentos

PEVC.

51

Neste estágio vulnerável, os investimentos de impacto necessitam administrar

as expectativas de mercado por meio de uma habilidosa geração simultânea de

resultados financeiros e impacto, evidências empíricas sobre as taxas de retorno dos

investidores de impacto sugerem em Höchstädter e Scheck (2015) o ajuste da taxa

de retorno esperada sobre os investimentos de impacto deve levar em conta alguns

fatores de risco como localização geográfica, setor de foco, estágio e escalabilidade

do negócio, instrumentos elegíveis e o apetite de risco do investidor (SALTUK, 2012).

Saltuk et al. (2011) demonstra o resultado de sua pesquisa junto a investidores

de impacto, diferenciando os resultados para mercados desenvolvidos e mercados

emergentes, no entanto, a taxa interna de retorno anual esperada é similar, sendo

19% a.a. para mercados desenvolvidos e 18% a.a. para mercados emergentes, em

transações de equity.

Em uma pesquisa conduzida em 2011 no Reino Unido junto a 78 investidores

de impacto e intermediários financeiros encontrou-se uma expectativa média de

retorno de 10% entre diferentes tipos de instrumentos financeiros (BROWN;

NORMAN, 2011).

Em busca de abrangência, um recente estudo de Matthews et al. (2015) reuniu

seis bases de dados diferentes estabelecendo a premissa de focar em um conjunto

de dados relativamente uniforme e focou em fundos que visam retornos próximos às

taxas de mercado, obtendo assim uma amostra de 51 fundos com fundação entre

1998 e 2010 em sua pesquisa. Os fundos de impacto apontaram que a taxa interna

de retorno anual realizada no período total foi de 6,9% a.a. versus 8,1% a.a. dos

fundos tradicionais, selecionados na pesquisa e chamados de universo comparável

de fundos tendo reunido as características similares em tamanho, temas e localização

geográfica.

No mesmo estudo, fundos menores que US$ 100 milhões obteve uma TIR

anual realizada em fundos de impacto de 9,5% a.a. superando o retorno de 4,5% a.a.

atingido pelo universo comparável. No recorte entre mercados emergentes e

desenvolvidos, o resultado obtido pela pesquisa foi 9,1% a.a. para fundos de impacto

em mercados emergentes e de 4,8% a.a. para mercados desenvolvidos. Os fundos

focados particularmente na África tiveram um bom desempenho, atingindo retorno

realizado de 9,7% a.a. (MATTHEWS et al.; 2015).

No Brasil, 55% dos investidores nacionais esperam retornos financeiros

comparáveis aos retornos convencionais de PEVC, com expectativa de 20% e 35%

52

de taxa interna de retorno anual, conforme estudo realizado em 2014 junto a 22

investidores de impacto com atividade no Brasil (PIAZZA, 2014). Na figura 9 é possível

verificar que Drexler et al. (2013) apresenta TIR esperada por faixas, em que 70% dos

entrevistados tem expectativa de retorno acima de 11%. Mesmo assim, 18% dos

entrevistados tem expectativa de obter retornos abaixo de 6%.

Figura 9 - Taxa interna de retorno esperada em investimentos de impacto

Fonte: Drexler et al., 2013, p. 8, tradução nossa.

Já com relação à intenção do investidor sobre o retorno com relação às taxas de

mercado, Mudaliar et al. (2016), capturaram dados anuais sobre investidores de impacto

investigando atividades, planos, percepções e tendências, com 62 respondentes em três

anos subsequentes possibilitando uma comparabilidade. A figura 10 apresenta a evolução

de 2013 a 2015 da intenção do investidor sobre o retorno, classificada em: taxas abaixo

do mercado próximo da preservação de capital, taxas abaixo do mercado próximo à taxa

de mercado e busca de retornos acima do mercado com risco ajustado (HÖCHSTÄDTER;

SCHECK, 2015; MUDALIAR et al., 2016), demonstrando a crescente variedade de

escolhas disponíveis aos investidores (SHORTALL; ALTER, 2009).

Figura 10 - Intenção sobre o retorno financeiro

Fonte: Mudaliar et al., 2016, p. 7, tradução nossa.

53

Na figura 10 vê-se que de 2013 a 2015 há evolução de interesse do investidor de

impacto sobre o retorno. A expectativa em 2013 era proporcionalmente maior para

aqueles que buscavam taxas próximas à preservação do capital e taxas abaixo das taxas

de mercado, somando um total de 53%. Em 2015, tal interesse inverteu-se, com 53% dos

investidores interessados em obter taxas acima do mercado. (MUDALIAR et al., 2016).

Na tabela 3 abaixo, é possível visualizar um resumo dos resultados apresentados

até o momento baseados na literatura investigada:

Tabela 3 - Resumo dos resultados levantados

Tipo Resultados levantados Período ou referência Fonte

PEVC Expectativa TIR 7,6% no 10º ano

Expectativa TIR 8,8% no 20º ano

TIR Realizada 17,0% 1980 a 1997 Kaplan e Schoar (2005)

TIR Realizada 19,8% 1981 a 1993 Ljungqvist et al. (2003)

Saída por IPO 4,01 MoM

Saída por venda estratégica 4,63

MoM

Média realizada 2,66 MoM Minardi et al. (2015)

IMPACTO Expectativa TIR 19,0% Mercados desenvolvidos

Expectativa TIR 18,0% Mercados emergentes

Expectativa TIR 10,0% - Brown e Norman (2011)

TIR Realizada 6,9% 1998 a 2010 Matthews et al. (2015)

Expectativa TIR 20% a 35% - Piazza (2014)

Saltuk et al. (2011)

S&P 500 Allman (2015)

1980 a 2000Das et al. (2003)

Fonte: a autora.

Enquanto é possível analisar e medir o desempenho financeiro, é necessário

manter em mente que investimentos de impacto também fornecem um retorno de impacto,

sendo necessário sempre manter ambos em vista (ALLMAN, 2015).

54

55

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O estudo apresentado tem sua classificação com base em seus objetivos

gerais como sendo de natureza exploratória, com vistas a obter maior familiaridade

com o tema, buscar o aprimoramento de ideias e o envolvimento com pessoas que

tiveram experiências práticas com o problema pesquisado, com pesquisa qualitativa

que apesar de ser menos formal que a quantitativa pode ser otimizada com

categorização e interpretação de dados (GIL, 2002).

A partir da questão de pesquisa e objetivos, é possível definir de maneira

coerente para a pesquisa qual o método, ou seja, o caminho para se chegar a

determinado fim ou objetivo (MARTINS; THEÓPHILO, 2007). Uma metodologia de

pesquisa pode ser conceituada como a sistematização do processo de elaboração de

uma pesquisa, que se apresenta de natureza qualitativa com base na perspectiva do

Mestrado Profissional, que parte da prática para a teoria, segundo Almeida (2015).

Os dados primários foram recolhidos por meio de entrevista semiestruturada,

permitindo a coleta de informações, dados e evidências, a fim de entender e

compreender o significado que os entrevistados atribuem às questões e situações em

contextos que não foram estruturados anteriormente e também permite revelar

percepções e interpretações subjetivas dos investidores de impacto (GRAEBNER et

al., 2012; MARTINS; THEÓPHILO, 2007), diferentemente do que seria capturado por

meio de outras técnicas.

As entrevistas foram conduzidas à distância, por chamada de voz e, mediante

autorização do entrevistado, foram gravadas para posterior transcrição e análise. A

confidencialidade das informações será garantida.

Após a coleta e transcrição das informações, os dados foram manuseados por

meio da análise de conteúdo, esta técnica foi escolhida pois permite a identificação

dos temas que emergirem recorrentemente, que vão sendo identificados e agrupados

em categorias. A análise de conteúdo pode ser de diversos tipos, para a aplicação

nesta pesquisa foi utilizada a de tipo classificatório, com categorização qualitativa dos

dados, para assim finalizar a análise dos resultados e produzir a conclusão sobre a

questão e objetivos inicialmente propostos (BARDIN, 2002). Seu maior benefício vem

do fato desta ser uma técnica sistemática e replicável, para comprimir muitas palavras

em poucas categorias baseada em regras explícitas de codificação (STEMBLER,

2001).

56

A amostra não probabilística, por conveniência, em que não foi escolhida uma

quantidade final de entrevistados e sim foram realizadas quantas entrevistas fossem

necessárias até que o ponto de saturação seja alcançado, ou seja, até que surjam

padrões recorrentes de respostas e percepções (YIN, 2001).

O foco desta pesquisa é adequado pela seleção da amostra, de forma a atender

seus objetivos, em que os entrevistados são investidores de impacto em

funcionamento atualmente com atividade localizada no Brasil. A seleção dos

entrevistados tem como ponto de partida a base de investidores de impacto

convidados para a pesquisa Mapeamento do Setor de Investimento de Impacto no

Brasil (2014) pela Liechtenstein Global Trust Venture Philantropy e a Aspen Network

of Development Entrepreneurs, além disso outros convites foram disparados a partir

da rede de contatos da pesquisadora.

A partir de uma lista com 23 organizações de investimento de impacto com

atividades no Brasil foram realizados os contatos. Desta relação inicial, de 6

organizações não se obteve contato para o envio do convite, 17 convites foram

formalmente realizados, sendo 3 recusados pelos próprios investidores por não se

identificarem como investidores de impacto, 2 organizações deram retorno após o

atingimento de saturação das entrevistas e 2 organizações não deram retorno ao

convite. Desta maneira, um total de 10 entrevistas foram realizadas entre os meses

de maio e junho de 2018, incluindo o pré-teste.

A elaboração do instrumento de pesquisa ocorreu alinhada ao referencial

teórico, buscando identificar qual o grau de impacto, de risco e de retorno que cada

investidor de impacto gerencia em sua carteira. Outro cuidado na construção das

perguntas foi a adequação da linguagem ao perfil dos respondentes e a abordagem

de apenas um aspecto ou relação lógica por vez, conforme Martins e Theóphilo

(2007). Para que a coleta de dados atenda ao objetivo da presente pesquisa, as

questões foram baseadas em Drexler e Noble (2014), Taskforce (2014a) e Gray et al.

(2015) a fim de verificar junto aos entrevistados o envolvimento dos seus

investimentos com impacto, risco e retorno. A adequação ao referencial teórico pode

ser verificada a partir da matriz apresentada no quadro 2:

57

Quadro 2 - Matriz de amarração

Objetivos Variáveis Coleta de Dados Resultados Esperados

Investigar como o investidor de impacto trata o fator impacto

além da relação risco e retorno

tradicionalmente utilizados pelos

investidores

A pressão sobre os negócios de impacto pode ser uma

ameaça à busca primordial do negócio por impacto

(DEES, 2017)

Entrevista semiestruturada com

questões voltadas para o fator impacto

Atribuição de uma medida para o fator

impacto, que analise a profundidade no

investimento deste fator com relação aos

demais

Analisar como o investidor exige o

compromisso com o impacto do negócio

A busca por resultados financeiros, pode corromper

a organização de sua missão principal (CHELL,

2007)

Verificação da existência de

mecanismos de formalização do impacto com o

negócio e investimento

Identificar como o investidor exige a

remuneração do capital investido dos negócios

de impacto

Os gestores dos fundos de impacto podem enfrentar

trade offs entre a maximização de retornos

financeiros e a preservação da missão da empresa

(GRAY et al., 2015; SHORTALL; ALTER, 2009)

Entrevista semiestruturada com

questões voltadas para retorno financeiro

Atribuição de uma medida para o fator

retorno financeiro, que analise a profundidade no investimento deste fator com relação as

demais

Verificar o comportamento do

risco diante dos investimentos de

impacto.

Probabilidade de o impacto não ocorrer conforme esperado (DREXLER;

NOBLE, 2014)

Entrevista semiestruturada com

questões voltadas para fator risco

Atribuição de uma medida para a fator

risco financeiro e risco de impacto, que

analise a profundidade no investimento deste fator com relação aos

demais

Fonte: a autora

Uma pesquisa bibliográfica foi realizada utilizando dados secundários para

subsídio ao estudo, com o levantamento de dados e informações sobre o contexto e

atualidade dos investimentos de impacto foram coletados em veículos especializados

do setor, estudos e relatórios específicos sobre o tema, que são desenvolvidos por

diferentes atores do empreendedorismo social, para consolidação e contextualização

do tema com dados atualizados. Informações sobre as empresas entrevistadas como

histórico, perfil de atuação e dados financeiros foram levantadas em websites das

próprias organizações.

Para que se pudesse atribuir um grau para cada fator, foram elaboradas

escalas obtidas a partir do referencial teórico, associando-se perguntas às escalas e

58

chegando-se assim a um conjunto de questões aplicáveis a uma entrevista

semiestruturada, conforme detalhado a seguir.

Abaixo é apresentado o quadro 3 com todas as escalas elaboradas a fim de

obter o grau de mensuração dos fatores de decisão em investimento de impacto: risco,

retorno e impacto.

Quadro 3 - Resumo escalas

Fonte: a autora

Dimensão Escala Título da Escala Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

2Comprometimento

do Investidor

Suporte não

financeiro incentiva

o aumento de

impacto

Participa do

investimento junto

com outros fundos

É o único investidor

ou líder de projetos

procurados por

investidores

tradicionais

Apoio a incubação

ou aceleração de

terceiros

Incubador ou

acelerador dos

projetos

3

Escalabilidade,

Profundidade e

Mudança Sistêmica

Não busca escala ou

impacto

Busca escala ou

impacto para a

sociedade em geral

Busca escala e

impacto para público

específico

Busca escala e

impacto para a

sociedade em geral

Busca escala e

impacto e foca em

uma população

específica

4

Trade off entre

retorno financeiro e

impacto

Garante o retorno

financeiro

previamente

estabelecido em

detrimento do

impacto

Persegue o retorno

financeiro abrindo

mão do impacto até

um certo limite

Equilibra o

distanciamento do

impacto com um

certo limite de perda

financeira

Mantém o impacto

previamente

estabelecido, até um

certo limite de perda

financeira

Mantém ao impacto

previamente

estabelecido,

absorvendo a perda

financeira

5Modelos de

NegóciosNão considera Proposta de valor Um campo

Mais de um campo

ou Teoria da

Mudança

Modelo como um

todo e Teoria da

Mudança

6Risco de deslocar

outros impactos

Afeta outros

benefícios similares

Afeta pouco outros

benefícios similares

Provavelmente não

afeta outros

benefícios similares

Muito provavelmente

não afeta outros

benefícios similares

Não afeta outros

benefícios similares

7Risco de não ter

impacto

Evidências

secundárias

Avaliação qualitativa

ou quantitativa

própria

Avaliação qualitativa

e quantitativa própria

Pelo menos um

controle: estudo

científico, controle

de amostra,

evidências que

demonstrem a

geração de impacto

Mais de um controle:

estudo científico,

controle de amostra,

evidências que

demonstrem a

geração de impacto

Risco

financeiro8

Apetite ao risco

financeiroLiquidez Abaixo do mercado

Ajustado ao

mercadoAcima do mercado

Muito acima do

mercado

9Faixas de retorno

financeiroSem retorno Menor que 6%a.a. 6% a.a. a 10%a.a. 11%a.a. a 20%a.a. Acima de 20%a.a.

Reinvestimento do

retorno ou

Retorno muito abaixo

do mercado

Risco de

impacto

Retorno

financeiro

Estabelece

mecanismos formais

para assegurar o

impacto, como

distribuição de

lucros ou

bonificações

Estabelece a busca

pelo impacto como

parte das

obrigações dos

executivos do

negócio

10Intenção sobre

retorno financeiro

Retorno abaixo do

mercado

Retorno próximo às

taxas de mercado

Retorno acima do

mercado

Retorno muito acima

do mercado

Impacto

1Formalização do

Impacto

Inclui impacto como

objetivo secundário

em um negócio com

fins lucrativos

Inclui impacto como

objetivo principal em

um negócio com fins

lucrativos

Estabelece

precedentes e

práticas formais e

legais, focadas na

busca pelo impacto

59

Para que a análise de conteúdo seja realizada, a categorização dos elementos

identificados nos dados transcritos das entrevistas será orientada pelas escalas

detalhadas no quadro 3. A cada escala estão associados 5 graus que auxiliam na

análise de conteúdo no agrupamento por classificação em que unidades de sentido

são associadas por categorias, nas quais os dados obtidos serão reunidos por

aproximação, encaixando-as no grau da escala mais aproximado (BARDIN, 2002),

entregando assim uma análise de conteúdo para atingir os objetivos propostos

inicialmente.

Na investigação sobre como o investidor gerencia o fator impacto e verificar se

existe a utilização de algum mecanismo de formalização da busca pelo impacto foram

elaboradas cinco escalas e a partir destas extraídas questões a serem aplicadas nas

entrevistas:

Escala 1) Formalização do Impacto: a primeira escala sugerida busca

compreender como os negócios demonstram seu comprometimento com a obtenção

de impacto formalizando a missão e busca pelo impacto em seus acordos e

benefícios. A questão proposta é “Seus investimentos privilegiam negócios que”

sendo a resposta apontada em cinco alternativas que formam uma escala

apresentada no quadro 4, em que quanto mais formalizado está o comprometimento

do negócio com impacto, maior o grau de impacto aplicado à organização, adaptado

da escala proposta em Taskforce (2014a) e apresentado anteriormente na figura 7,

no referencial teórico:

Quadro 4 - Graus de formalização do impacto (escala 1)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Inclui impacto como objetivo secundário em

um negócio com fins lucrativos

Inclui impacto como objetivo

principal em um negócio com fins

lucrativos

Estabelece precedentes e

práticas formais e legais, focadas na busca pelo

impacto

Estabelece mecanismos formais para assegurar o

impacto, como distribuição de

lucros ou bonificações

Estabelece a busca pelo

impacto como parte das

obrigações dos executivos do

negócio

Fonte: a autora, adaptado de Taskforce (2014a)

60

Escala 2) comprometimento do investidor com impacto: A fim de garantir

valor agregado é necessário avaliar como os investidores se dedicam ao

desenvolvimento e crescimento do investimento, questionando “Quão comprometido

sua empresa está com o desempenho financeiro e de impacto do investimento?”

baseando-se a escala em Drexler e Noble (2014), apresentada no quadro 5, em que

baixo potencial para valor agregado quando o investidor oferece “suporte não

financeiro que incentiva o aumento de impacto”, médio potencial na busca por valor

agregado quando “é o único investidor ou líder de projetos procurados por investidores

tradicionais” e alto impacto quando o investidor tem um papel “incubador ou acelerador

de projetos” sobre os investidos:

Quadro 5 - Graus de comprometimento do investidor (escala 2)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Suporte não

financeiro incentiva

o aumento de

impacto

Participa do

investimento junto

com outros fundos

É o único

investidor ou líder

de projetos

procurados por

investidores

tradicionais

Apoio a incubação

ou aceleração de

terceiros

Incubador ou

acelerador dos

projetos

Fonte: a autora, adaptado de Drexler e Noble (2014)

Para verificar o comportamento do risco diante dos investimentos de impacto,

utilizamos três escalas que mensuram o grau de risco, conforme demonstrado abaixo.

Escala 3) Escalabilidade, profundidade e mudança sistêmica: A terceira

escala que busca aferir o potencial de impacto de um investimento no Brasil em termos

de escala, profundidade e mudança sistêmica, de acordo com Drexler e Noble (2014).

Para tanto, é necessário conhecer quem o impacto está sendo endereçado: “O

investimento beneficia qual população?” que poderia variar desde a sociedade em

geral até um alvo específico da população, com necessidades também específicas,

além de verificar se há uma prioridade na geração de valor para setores menos

privilegiados.

Por meio de perguntas que buscam compreender a visão do entrevistado sobre

os investimentos de impacto, como “Em suas palavras, o que é investimento de

impacto?” combinada com a pergunta “Você considera sua organização um investidor

61

de impacto?” e por fim questionando “Qual o papel de sua organização na área de

investimento de impacto?” seria possível verificar se há a intenção de escalabilidade

e mudança sistêmica. Baseado na escala proposta em Drexler e Noble (2014) em que

baixo impacto é “nem escala e nem profundidade”, médio impacto “escala e/ou

profundidade para a sociedade em geral” e alto impacto quando se obtém “escala ou

profundidade com foco em grupo desfavorecido e/ou potencial para mudança

sistêmica, a escala no quadro 6 que verifica as respostas das perguntas acima varia

de um baixo impacto quando não há a busca nem por impacto nem por escala e vai

aumentando conforme encontra-se a ocorrência desta intenção ao longo da

entrevista, aliando-se ao público-alvo que se deseja atingir, entendendo que quando

há a intenção de se atingir um público alvo específico e desfavorecido seja

economicamente, socialmente ou ambientalmente maior o grau de impacto adquirido,

pois o foco favorece a obtenção de impacto:

Quadro 6 - Graus de escalabilidade, profundidade e mudança sistêmica (escala 3)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Não busca escala ou impacto

Busca escala ou impacto para a sociedade em

geral

Busca escala e impacto para

público específico

Busca escala e impacto para a sociedade em

geral

Busca escala e impacto e foca

em uma população específica

Fonte: a autora, adaptado de Drexler e Noble (2014)

Escala 4) Trade off entre retorno financeiro e impacto: Outra escala

apresentada no quadro 7, para auxiliar na medição do grau de impacto pretendido

pelos investidores de impacto está relacionada com a decisão a ser tomada em caso

de conflito na obtenção de resultados financeiros e de impacto.

A escala responde à pergunta “Qual a decisão dos investidores em caso de

conflito entre impacto e retorno financeiro?”, realizada nas entrevistas e o seu grau

com relação ao impacto varia do mais baixo em que apenas se vislumbra o resultado

financeiro e vai aumentando à medida que aumenta a intenção de privilegiar o

resultado de impacto em detrimento do resultado financeiro.

62

Quadro 7 - Graus de trade off entre retorno financeiro e impacto (escala 4)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Garante o retorno financeiro

previamente estabelecido em

detrimento do impacto

Persegue o retorno financeiro abrindo mão do impacto até um

certo limite

Equilibra o distanciamento do impacto com um

certo limite de perda financeira

Mantém o impacto

previamente estabelecido, até um certo limite de perda financeira

Mantém ao impacto

previamente estabelecido, absorvendo a

perda financeira

Fonte: a autora, adaptado de Drexler e Noble (2014)

Escala 5) Modelos de Negócios: esta escala verifica como modelos de

negócios buscam alinhamento com impacto a fim de criar uma vantagem competitiva

para o investimento de impacto, sendo a questão apresentada aos entrevistados é

“Como os modelos de negócios dos investimentos buscam garantir a geração de

impacto esperada pelo investidor?” adaptado de Drexler e Noble (2014). A escala

propõe no quadro 8 que quanto maior o envolvimento do modelo de negócios com o

impacto, maior o grau de impacto a ser atingido pela organização entrevistada,

aspecto este analisado por meio do modelo de negócios estabelecido ou também pela

elaboração ou não de uma Teoria de Mudança:

Quadro 8 - Graus de modelos de negócios (escala 5)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Não considera Proposta de valor Um campo Mais de um campo ou Teoria

de Mudança

Modelo como um todo e Teoria de

Mudança

Fonte: a autora, adaptado de Drexler e Noble (2014)

Escala 6) Risco de interferência: Esta escala mensura o risco de não ocorrer

impacto conforme previsto. Com a questão “Como o investimento se relaciona com

outro benefício pré-existente?” é possível verificar se o impacto como o impacto

interage com outros benefícios. Sua escala, no quadro 9, baseada em Drexler e Noble

(2014), propõe que quanto menor sua intenção de impacto interferir em outros

benefícios pré-existentes, mais chances do risco ocorrer conforme planejado. É

possível que o investidor não esteja interessado em fazer essa verificação de

concorrência de impacto, portanto, maior o seu apetite ao risco.

63

Quadro 9 - Graus de risco de deslocar outros impactos (escala 6)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Afeta bastante outros benefícios

similares

Afeta pouco outros benefícios

similares

Provavelmente não afeta outros

benefícios similares

Muito provavelmente

não afeta outros benefícios similares

Não afeta outros benefícios similares

Fonte: a autora, adaptado de Drexler e Noble (2014)

Escala 7) Risco de não ocorrer impacto: outra maneira de se avaliar o apetite

ao risco do investidor é verificar como ele se previne do risco dos resultados de

impacto não ocorrerem conforme o planejado, acompanhando as evidências dos

resultados procurados. Conforme proposto em Drexler e Noble (2014) e demonstrado

no quadro 10, a escala mede quanto maior o rigor do acompanhamento destes

resultados, menor é o risco de não ocorrerem:

Quadro 10 - Graus de risco de não ocorrer impacto (escala 7)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Evidências secundárias

Avaliação qualitativa ou quantitativa

própria

Avaliação qualitativa e quantitativa

própria

Pelo menos um controle: estudo

científico, controle de amostra,

evidências que demonstrem a

geração de impacto

Mais de um controle: estudo

científico, controle de amostra,

evidências que demonstrem a

geração de impacto

Fonte: a autora, adaptado de Drexler e Noble (2014)

Escala 8) Apetite ao risco financeiro: quanto ao risco financeiro, a

organização teve a oportunidade de explicitar seu apetite ao risco com a pergunta

“Qual o apetite ao risco em sua carteira”, conforme quadro 11 o menor grau da escala

varia desde um apetite ao risco muito alto até que o maior grau da escala é para um

apetite ao risco bastante baixo:

64

Quadro 11 - Graus de apetite ao risco financeiro (escala 8)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Muito acima do mercado

Acima do mercado

Ajustado ao mercado

Abaixo do mercado

Liquidez

Fonte: a autora

Para identificar como o investidor exige a remuneração do capital investido dos

negócios de impacto, o fator retorno financeiro será investigada mediante a análise

das seguintes escalas:

Escala 9) Faixas de Retorno Financeiro: questionou-se “Qual a faixa de taxa

interna de retorno esperada sobre o investimento?”. Para dar conforto ao entrevistado

e não gerar constrangimento de abrir a estratégia do fundo falando sobre valores,

foram utilizadas as mesmas faixas propostas em Drexler et al. (2013), que variava

desde uma taxa menor que 6% a.a., de 6%a.a. até 10% a.a., de 11% a.a. a 20% a.a.

até taxas superiores a 20% a.a., conforme quadro 12. Ainda houve uma adaptação

considerando que o menor grau da escala seria quando o investidor manifestasse que

não há intenção de retorno:

Quadro 12 - Graus de faixas de retorno financeiro (escala 9)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Sem retorno Menor que 6% a.a. 6% a.a. a 10% a.a. 11% a.a. a 20% a.a. Acima de 20% a.a.

Fonte: a autora, adaptado de Drexler et al. (2013)

Ao apresentar as faixas, os entrevistados ainda puderam sugerir alterações:

“Você alteraria as faixas propostas? Como?” permitindo que fossem sugeridas novas

faixas.

Escala 10) Intenção sobre o retorno financeiro: “Qual a intenção sobre a

taxa retorno?” é outra questão relevante para o entendimento da visão do investidor

sobre retorno, apresentada no quadro 13, em que ele pudesse demonstrar sua

intenção sobre o retorno a partir de um benchmark proposto por ele, em que a escala

65

apresentada ao entrevistado adaptada de Mudaliar et al. (2016) variava desde um

baixo retorno em que o investidor pretende reinvestir o retorno financeiro obtido ou

que busca algo muito abaixo de mercado até um retorno muito acima do mercado.

Quadro 13 - Graus de intenção sobre retorno (escala 10)

Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Grau 5

Reinvestimento do retorno ou

Retorno muito abaixo do mercado

Retorno abaixo do mercado

Retorno próximo às taxas de

mercado

Retorno acima do mercado

Retorno muito acima do mercado

Fonte: a autora, adaptado de Mudaliar et al. (2016)

Com a transcrição das entrevistas, foi realizada a análise dos dados por meio

da análise de conteúdo, em que os dados foram categorizados de acordo com os 5

graus de cada escala, ou seja, cada resposta de cada organização foi atribuída a um

grau. A análise dos dados foi limitada pelo tema da presente pesquisa (BARDIN,

2002). As categorias representadas pelos graus das escalas foram elaboradas de

modo a serem independentes, mutualmente exclusivas e exaustivas (STEMBLER,

2001). Para obtenção de uma média, os graus atingidos foram somados assim

calculadas a média total e também em cada dimensão, gerando assim o gráfico de

quatro eixos sendo cada um formado pelos quatro fatores identificadas na presente

pesquisa, conforme demonstrado na figura 11 abaixo:

Figura 11 - Relação entre escalas e fatores de decisão

Fonte: a autora

66

Com a definição das escalas, listou-se perguntas para o protocolo de pesquisa,

descritas no quadro 14 e reunidas em um protocolo sequenciado, da mesma maneira

que foi apresentado ao entrevistado, sobre qual fator (retorno, risco ou impacto) e

escala a questão está relacionada.

Quadro 14 - Protocolo de pesquisa

Categoria Questão Escala

Introdução

1. Em suas palavras, o que é investimento de impacto? Não se aplica

2. Você considera sua organização um investidor de impacto? Não se aplica

3. Qual o principal instrumento financeiro utilizado em sua organização? Não se aplica

4. Qual o papel de sua organização na área de investimento de impacto? Não se aplica

Impacto

5. Seus investimentos privilegiam negócios com qual perfil de impacto? Escala 1

6. Quão comprometido sua empresa está com o desempenho financeiro e

de impacto do investimento?

Escala 2

7. O investimento beneficia qual população? Escala 3

8. Qual a decisão dos investidores em caso de conflito entre

impacto e retorno financeiro?

Escala 4

9. Qual a principal razão para manter um fundo de investimento de

impacto?

Escala 3

Risco de

impacto

10. Como os modelos de negócios dos investimentos buscam garantir a

geração de impacto esperada pelo investidor?

Escala 5

11. Como o investimento se relaciona com outro benefício pré-existente? Escala 6

12. Como são monitorados os outcomes/impacto da sua carteira de

investimentos?

Escala 7

Risco

financeiro

13. Qual seria o apetite ao risco de sua carteira? Escala 8

Retorno

14. Qual a faixa de taxa interna de retorno esperada sobre investimento? Escala 9

15. Você alteraria as faixas propostas? Como? NA

16. Qual a intenção sobre a taxa retorno? Escala 10

17. Qual o benchmark utilizado em sua carteira e/ou organização? NA

Fonte: a autora

A análise de conteúdo parte das respostas ao questionário acima apresentado,

com perguntas abertas e semiabertas, em que serão examinadas as respostas

explorando as relações do entrevistado e a organização a qual representa, com o

67

tema investimento de impacto, retorno financeiro, risco financeiro, risco de impacto e

resultado de impacto (BARDIN, 2002).

Na realização da entrevista, o roteiro seguiu os seguintes passos:

apresentação da pesquisadora, de informações sobre a pesquisa e seus objetivos,

orientações sobre confidencialidade e autorização para gravação do áudio, após as

questões a finalização com agradecimento.

Com as questões e o roteiro de pesquisa definidos, foi realizado o pré-teste,

para que “centrado na avaliação dos instrumentos enquanto tais, visando garantir que

meçam exatamente o que pretendem medir” (GIL, 1999, p. 119). O mesmo estudo

ainda ressalta que, nesta etapa, pretendeu-se identificar se o respondente encontrou

dificuldade, constrangimento, ambiguidade ou qualquer outro ponto de inadequação

e ainda contribui para aspectos como: clareza e precisão, quantidade de questões e

ordenação.

O entrevistado foi avisado que este era um pré-teste e por isso pediu permissão

para interferir quando sentisse necessidade de opinar sobre melhorias ou solicitar que

a questão fosse elaborada novamente para facilitar o entendimento. O pré-teste teve

duração de 53 minutos, com diversas intervenções do entrevistado e o ajuste nas

questões ao mesmo tempo que a sugestão era realizada. Portanto, o ajuste de tempo

e principalmente de compreensão das questões foi realizada com sucesso e o pré-

teste atingiu o objetivo desejado. O pré-teste não foi transcrito e contabilizado na

amostragem e análise de conteúdo.

68

69

4 ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo serão apresentados e analisados os dados obtidos por meio da

coleta de dados primários baseados nas entrevistas, aqui combinadas com dados

secundários sobre as organizações, como perfil, descrição da atividade e portfólio,

obtidos a partir de dados públicos disponíveis nos websites correspondentes a fim de

dar subsídio ao conteúdo.

A organização da análise inicia-se pela descrição do perfil das organizações e

em seguida se divide da mesma forma que estão divididos o referencial teórico:

impacto, risco e retorno em que os dados coletados analisados pela categorização

dos dados, conforme propõe a análise de conteúdo. Ao final, será apresentada uma

consolidação dos resultados analisados.

Um total de 10 entrevistas foram realizadas entre os meses de maio e junho de

2018, sendo uma destas a entrevista de pré-teste, junto a gestores de fundos de

investimento de impacto com operações no Brasil e de diferentes organizações, que

estão apresentadas abaixo em ordem alfabética no quadro 15 com: identificação, uma

breve descrição de sua atuação, obtidas a partir dos depoimentos das entrevistas e

complementados com dados secundários. Todas as entrevistas foram realizadas de

maneira online.

A análise de conteúdo orientou todo este capítulo, em que cada entrevista,

após sua transcrição, pode ser classificada em unidades de significação adequadas à

estrutura criada para dar suporte e orientação na análise (BARDIN, 2002), direcionada

pelas categorias apresentadas em cada grau de cada escala proposta.

70

Quadro 15 - Apresentação das organizações em ordem alfabética

Organização Descrição

Anjos de Impacto Rede de investidores anjos com foco em negócios de impacto.

Artemisia Organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil, apoiando negócios voltados à população de baixa renda, que criam soluções para problemas socioambientais e provocam impacto social positivo por meio de sua atividade principal.

Din4mo Investimento e direcionamento de capital da Din4mo para negócios de impacto, que por uma rede de investidores de impacto, mobilizamos e articulamos capital para empreendimento ganharem eficiência e escala.

Instituto Ideias de Futuro Nossa missão é reduzir a desigualdade de oportunidades para crianças e jovens de baixa renda, impactando de forma significativa a educação pública, pelo investimento em empreendedorismo, tecnologia e inovação no ambiente escolar.

Kaeté Investimentos Gestora de fundos de investimento de impacto buscando gerar lucro e ao mesmo tempo criar impacto social e ambiental positivo

Kria Plataforma online de investimento para startups que une investidores, mentores e empreendedores, nosso trabalho favorece diretamente a criação de novas empresas, em especial aquelas com forte componente de inovação e alto impacto.

Mov Investimentos Gestora brasileira de investimentos de impacto.

Positive Ventures Venture Capital que investe em negócios que resolvem desafios sociais e ambientais com tecnologia, escalabilidade e retorno financeiro.

Vox Capital É a principal gestora de investimentos de impacto no Brasil, investindo em negócios com tecnologias inovadoras.

Women’s World Banking Organização global sem fins lucrativos com atuação no Brasil, dedicada a dar acesso a mulheres de baixa renda ferramentas financeiras e recursos.

Fonte: a autora.

Entre as organizações entrevistadas, estão incluídas três gestoras que se

destacam por seu pioneirismo e porte dos investimentos, a saber, em ordem

alfabética: Kaeté Investimentos, Mov Investimentos e Vox Capital. Juntas, essas

organizações detêm cerca de 75% dos ativos sob gestão estimados para investimento

de impacto no Brasil, demonstrando que a representatividade da amostra selecionada

é bastante relevante, reforçando a credibilidade da pesquisa. O cálculo referente aos

75% foi realizado com base no valor total de ativos estimado no Brasil em 2016 de U$

186 milhões de dólares (DUMONT, 2016), sendo o câmbio dólar registrado em

01/12/2016 de R$ 3,31 para um valor em reais de R$ 613,8 milhões. Já o montante

1 https://economia.uol.com.br/cotacoes/cambio/dolar-comercial-estados-unidos/ acessado em 20/06/2018

71

total das organizações mencionadas, obteve-se o volume ativos Vox Capital de R$

204,4 milhões2, o volume de ativos Mov Investimentos de R$ 96,5 milhões3 e o volume

total de ativos na Kaeté Investimentos de R$ 100 milhões4. Também é importante

ressaltar que a maioria das organizações tem sede na cidade de São Paulo,

traduzindo o cenário Brasil sobre o tema.

Todos os entrevistados autorizaram a gravação do áudio da entrevista para fins

acadêmicos, mantendo a confidencialidade das informações fornecidas. Inicialmente

cada uma foi convidada a descrever seu papel de atuação na área de impacto. Com

exceção de uma organização, as demais entendem que seu principal papel está na

gestão de fundos de investimento de impacto, totalmente em linha com o que foi

proposto nos procedimentos metodológicos da presente pesquisa.

A pergunta chave para seguir com a pesquisa é se a organização se considera

um investidor de impacto. Todas as organizações entrevistadas consideram-se sim

investidores de impacto, ainda que uma organização tenha se identificado com

atuação indireta: “nos consideramos viabilizadores de investimentos de impacto, pois

mesmo não realizando o aporte monetário diretamente nos negócios, atuamos

diretamente na busca e conexão desses investimentos” (entrevistado C).

Na pesquisa apresentada em Dumont (2016), os instrumentos financeiros mais

utilizados por 67% da amostra é participação acionária (equity), em linha com os

dados coletados na presente pesquisa em que 70% dos entrevistados citaram tal

instrumento como principal veículo de investimento em suas organizações. Ainda um

dos entrevistados ressaltou: “nossa organização se trata de um venture capital, então

nosso veículo é sim a participação acionária, nós nos tornamos sócios dos negócios

de impacto” (entrevistado A) enfatizando que a participação acionária é muito mais

que um veículo e sim um comprometimento muito alto por parte do investidor com o

negócio de impacto, passando a fazer parte do negócio em si.

Cada resposta foi tratada pela análise de conteúdo, em que são detectados,

descontados e depois classificados cada elemento de significação, atribuindo uma

categoria nas escalas equivalentes (BARDIN, 2002), assim cada organização atingiu

uma nota em cada escala e com as médias obtidas gerou-se abaixo um resumo dos

2 Relatório de Impacto Social Vox Capital, 2017 3 Formulário de Referência - Pessoa Jurídica Anexo 15 – II da Instrução CVM nº 558/15, 2016 4 http://www.abvcap.com.br/sala-de-imprensa/noticias-imprensa.aspx?id=3958, acessado em 16/06/2018

72

resultados obtidos na totalização das médias sobre cada escala desenhada no item 3

de procedimentos metodológicos, explicitados na tabela 4:

Tabela 4 - Resumo das médias por escala

Fatores Escalas Média

Impacto

1 Formalização do Impacto 3,000

2 Comprometimento do investidor 3,000

3 Escalabilidade, profundidade e mudança sistêmica 3,222

4 Trade off entre retorno financeiro e impacto 2,778

Risco de impacto

5 Modelos de Negócios 4,222

6 Risco de deslocar outros impactos 3,111

7 Risco de não ter impacto 4,000

Risco financeiro 8 Apetite ao risco financeiro 3,667

Retorno Financeiro 9 Faixas de retorno financeiro 4,000

10 Intenção sobre o Retorno Financeiro 3,556

Fonte: a autora.

De maneira geral, as médias obtidas variam entre um valor mínimo de 2,778

para a escala de trade off entre retorno financeiro e impacto até o valor máximo 4,222

para a escala referente a modelos de negócios, demonstrando uma grande amplitude

nas respostas geradas e apontando uma concentração maior de respostas entre os

graus 2, 3 e 4 das escalas que variavam de 1 a 5. Na escala impacto, a máxima média

obtida foi de 3,222 demonstrando uma grande variação entre a máxima e a mínima

se considerar que a escala varia apenas de 1 a 5. Uma justificativa para a alta média

atingida na escala Modelos de Negócios pode ser a exigência dos investidores sobre

a elaboração de um modelo e também a opção pela cocriação de uma Teoria de

Mudança, uma vez que esta é uma das ferramentas que mais elucida quais

realizações de curto e médio prazo produzirão resultados de longo prazo

(ANDERSON, 2005; BRANDÃO et al., 2014).

Os graus atribuídos em cada escala, para cada organização, bem como os

cálculos das médias, estão detalhados no Apêndice A, para fins de consulta e

referência.

73

4.1 IMPACTO

Na análise dos resultados obtidos para o fator de decisão impacto, os

entrevistados puderam descrever, em suas próprias palavras, o que é investimento

de impacto. Todos concordaram com o conceito mais amplamente difundido como em

Drexler et al. (2013) ou em Bugg-Levine e Emerson (2011), em que é um investimento

que não visa apenas retorno financeiro, mas busca igualmente os resultados de

impacto, similar ao conceito em que “investimentos de impacto são investimentos que

pretendem criar impacto positivo além do retorno financeiro” (O’DONOHOE, 2010, p.

7). Um entrevistado foi além, e adicionou o elemento intencionalidade à sua definição

acerca de investimento de impacto: “para mim investimento de impacto é um

investimento onde eu tenho a intenção de provocar externalidade positiva na

sociedade, portanto estou preocupado em avaliar e aprender com esse impacto,

maximizar este impacto e alinhar isso tudo com retorno financeiro retorno financeiro”

(entrevistado B), ou seja, quando há resultados positivos, porém, obtidos de forma

não intencional, por definição não serão considerados investimentos de impacto

(FREIRICH; FULTON, 2009; DREXLER et al., 2013).

Esta pergunta não está diretamente ligada à nenhuma escala, permitindo que

a pesquisadora tivesse a oportunidade para compreender melhor o perfil do

entrevistado e de sua organização, tornando possível capturar os valores do

entrevistado e a cultura da organização, como se a primeira pergunta da entrevista

desse o tom e o ritmo da conversa, numa espécie de ambientação entre entrevistado

e entrevistador.

Abaixo na tabela 5, temos as escalas e suas respectivas médias,

especificamente desenhadas para o fator impacto:

Tabela 5 - Média por escala fator impacto

Fator Escalas Média

Impacto

1 Formalização do Impacto 3,000

2 Comprometimento do investidor 3,000

3 Escalabilidade, profundidade e mudança sistêmica 3,222

4 Trade off entre retorno financeiro e impacto 2,778

Média Fator Impacto 3,000

Fonte: a autora.

74

Na escala 1, que mede a formalização do impacto, nenhuma organização

apontou para o primeiro grau da escala, em que o impacto seria apenas um dos

objetivos, não prioritariamente. Dois investidores alegaram que faz parte de suas

condições preliminares de investimento a busca pelo impacto e, portanto, sentem-se

enquadrados no grau 5 da escala, em que a geração de impacto faz parte das

obrigações dos executivos e um dos entrevistados alegou que sua organização está

estruturando um novo fundo e que a blindagem da missão fará parte das obrigações

contratuais com os investidos, conforme defende Allman (2015) em que a

remuneração pode ser vinculada ao atingimento de objetivos de impacto.

Os 7 entrevistados que selecionaram o grau 2 da escala foram unânimes em

dizer que não existe investimento em negócios que não se comprometem de maneira

integral à entrega de impacto, em linha com Drexler, Noble e Bryce (2013) e Freirich

e Fulton (2009) em que negócios com resultados positivos não-intencionais não são

considerados investimentos de impacto. Ao mesmo tempo, sugerem que negócios em

estágio inicial, que são o foco de seus investimentos, ainda não tem condições de

garantir de forma legal ou contratual algum tipo de impacto e nem mesmo em seus

term sheets. A média na escala obtida de 3,000 representa que a maioria das

organizações preferem negócios que incluem impacto como objetivo principal em um

negócio com fins lucrativos.

Os entrevistados foram também questionados sobre qual o comprometimento

oferecido pela organização gestora de fundos de impacto, fazendo referência à escala

2. Todos entrevistados responderam e demonstraram estar plenamente

comprometidos com o sucesso do negócio de impacto, sendo que 100% oferecem

suporte não-monetário: “costumamos atuar muito próximo, esse cara que tá lá

empreendendo, precisa ter um ecossistema envolta dele que irrigue, adube essa terra

de forma suficiente que ele possa fertilizar e prosperar, então a gente tenta prover o

máximo possível” (entrevistado D), corroborando que com a estrutura sugerida na

figura 1, que contempla uma etapa de pós investimentos totalmente dedicada a estes

esforços em conjunto entre investidor e investido. Os investidores sentem o alto nível

de comprometimento com seus negócios também “é um casamento a gente vai ficar

com a empresa muitos anos então a gente está com a empresa na tristeza e na alegria

empreendedores ouvindo ele vendo como pode ajudar explorando sinergias”

(entrevistado G).

75

Um dos entrevistados alegou que não faz parte de sua estratégia ser investidor

único, em sua visão, quando há mais de um investidor interessado no negócio este

fato valida a tese de investimentos desenhada pelo gestor do fundo. Tese de

investimentos é o conjunto de parâmetros que descrevem a abordagem de atuação

de cada fundo e as características específicas desejadas (PERONI, 2015). Outro

ponto de destaque encontrado nesta questão foi o ponto sobre a participação

acionária, que é desejada pelos investidores sobretudo valorizando a permanência do

fundador do negócio: “não temos interesse em participação majoritária por reconhecer

que tem importância maior é do empreendedor” (entrevistado H).

Todos estes pontos de vista quando adequados à escala 2, atingem uma média

3,000 no fator impacto, na faixa intermediária da escala, tendendo à liderança em

projetos procurados por outros investidores.

Quando questionados sobre o foco de seus investimentos com relação à

população beneficiária apenas três organizações mencionam este fator como parte

de sua tese de investimento, sendo que duas manifestaram que seus impactos devem

atingir exclusivamente o meio ambiente e uma investe somente em negócios liderados

por mulheres ou com o público feminino como principal beneficiário.

As demais organizações alegaram que a sociedade como um todo pode se

beneficiar desse impacto, desde que seja intencional, a fim de gerar escala e manter

a sustentabilidade dos negócios, totalmente alinhado com as principais características

dos investimentos de impacto que são intencionalidade dos negócios e expectativa de

retornos financeiros (DREXLER et al., 2013). Na tabela 6 estão detalhadas todas as

citações realizadas pelos entrevistados, sendo que muitos mencionaram mais de uma

população alvo.

76

Tabela 6 - Públicos-alvo mencionados

Ocorrências Citações

Base da pirâmide 1

Classes C, D e E 2

Meio ambiente 2

Mulheres 2

Refugiados 1

Sociedade em geral 6

Fonte: a autora.

Para completar a escala 3, foi analisado em toda a entrevista se a organização

de fato se preocupa com a mudança sistêmica em suas ações e se foi mencionado o

foco em geração de escala. A escala é algo muito importante para os investidores de

impacto, segundo Martin e Osberg (2007) entende-se por negócio de impacto aquele

que gera valor em grande escala na busca de transformação social: “A gente está

buscando aqui empresas disruptivas que tenham escalabilidade, que tenham

tecnologia, que tenham retorno financeiro e que tenham impacto” (entrevistado G).

Assim, o resultado médio para a referida escala foi de 3,222 demonstrando que

a maioria das organizações tem um foco em escala ou em impacto, sendo ainda um

caminho a percorrer a busca por ambos simultaneamente.

Para calcular a escala 4, uma nova questão em que o entrevistado deveria

refletir sobre qual a decisão em caso de um possível conflito entre impacto e retorno

financeiro. A escala parte de um grau em que o foco é a manutenção do retorno

financeiro, independente de quanto impacto seria prejudicado, passando pelo

equilíbrio entre ambos resultados, em que se abriria mão tanto de impacto quanto de

retorno financeiro, em nome do equilíbrio, até a outra extremidade da escala, em que

a premissa é manter o impacto, ainda que a perda financeira tenha que ser absorvida,

a média na escala obtida por esta pergunta foi de 2,778.

Este resultado reflete que os entrevistados ficam entre a busca da preservação

do resultado financeiro (grau 1) e o equilíbrio em caso de conflito de resultados (grau

3). Ou seja, ainda não há uma visão de preservação do impacto, explicitando o longo

caminho a ser percorrido pelo mercado brasileiro de impacto com relação ao trade off

de resultado financeiro e impacto, contrariando a expectativa em que ambos os

77

resultados tem a mesma importância (FREIRICH; FULTON, 2009; CARRAGHER,

2013; HÖCHSTÄDTER; SCHECK, 2015).

Apenas uma organização que admite a absorção plena da perda financeira em

busca de impacto “a gente ficaria com impacto previamente estabelecido até a perda

financeira, porque existem decisões difíceis, sempre que possível a gente faz de tudo

para ter impacto” (entrevistado A). Já 70% dos entrevistados afirmam que a busca

pelo equilíbrio é a principal condição para manutenção dos negócios em sua carteira.

Divergindo dos demais entrevistados, uma organização “garante o retorno, como são

empresas em estágio inicial, estão lutando pela sobrevivência, então a questão

financeira acaba sendo mais preponderante momentaneamente, no início como o foco

é sobrevivência, retorno financeiro vem primeiro” (entrevistado C), neste caso a

garantia financeira imediata pode garantir um posterior impacto.

Ao final do bloco sobre impacto, os entrevistados foram questionados qual a

principal razão para se manter um fundo de investimento de impacto em que uma

organização menciona que “a principal razão é com certeza impacto, pois se não fosse

assim seríamos um fundo de venture capital como outro qualquer, um fundo

tradicional” (entrevistado A), diferenciando investimentos de impacto pela força de seu

valor combinado, proposto por Bugg-Levine e Emerson (2011), em que há uma fusão

indivisível de elementos, não apenas uma adição de partes separadas.

Dois entrevistados pediram licença para sair da posição de representante da

organização e falar em nome de sua própria experiência, demonstrando uma ligação

bastante pessoal e emocional com os investimentos de impacto.

4.2 RISCO

No bloco dedicado ao risco, os entrevistados mostraram-se diretos e firmes nas

respostas, demonstrando muito conforto com o tema. Uma justificativa para tal

comportamento é a relação risco e retorno já ser anteriormente conhecida e utilizada

nos investimentos tradicionais, uma vez que risco e retorno são as principais variáveis

na maximização do lucro de uma empresa, pois a combinação destes determina a

variação do resultado (GITMAN, 2010).

Com perguntas compondo 4 escalas, os resultados médios obtidos para cada

um deles estão apresentados abaixo, na tabela 7:

78

Tabela 7 - Média por escala fator risco

Fatores Escalas Média

Risco de impacto

5 Modelos de Negócios 4,222

6 Risco de deslocar outros impactos 3,111

7 Risco de não ter impacto 4,000

Risco financeiro 8 Apetite ao risco financeiro 3,667

Risco 3,750

Médias Risco de Impacto 3,778

Risco Financeiro 3,667

Fonte: a autora.

Em linha com o referencial teórico, o fator risco representa tanto o risco sobre

o resultado financeiro como também o risco sobre a geração de impacto. Para

investigar como os investidores de impacto lidam com ambos assuntos, foram

apresentadas as escalas 5, 6 e 7 voltadas para o risco de impacto e a escala 8

investigando o risco financeiro.

4.2.1 Risco de impacto

Sobre como os investidores podem prevenir o risco de não ocorrer a entrega

de impacto por meio de modelos de negócios, avaliado pela escala 5, teve resultado

atingido de 4,222 demonstrando claramente que os investidores tendem a exigir uma

modelagem de negócios completa ou a Teoria de Mudança, extremamente engajados

com a mitigação dos riscos de impacto. Conforme Clark et al. (2004), a viabilidade e

credibilidade dos resultados de curto e longo prazo dos impactos sociais possa ser

compartilhada com confiança e com isso possibilitar o melhor uso dos recursos.

Para 20% dos entrevistados o modelo de negócio deve estar envolvido de

forma integral na entrega do impacto: “para investir isso é primordial impacto, tem que

estar intrínseco ao modelo de negócios” (entrevistado A).

Os demais entrevistados alegam que por meio da definição correta de um

público-alvo o impacto estará ligado ao modelo de negócio, esta preocupação é válida

pois, de acordo com Martin e Osberg (2007), para que um negócio seja considerado

de impacto o público alvo deve ser uma população desatendida, negligenciada ou

altamente desprivilegiada. Os entrevistados também mencionaram a geração de valor

79

agregado por meio do modelo de inovação, também há o entendimento do

compromisso perante o impacto: “se somos investidores de venture capital isso

significa que investimos em empresas que estão em fase inicial e por isso a inovação

é um importante elemento para esse que negócio obtenha sucesso no mercado como

um todo, e não apenas por ser um negócio de impacto” (entrevistado H).

A Teoria de Mudança foi mencionada por 4 dos 10 entrevistados em variadas

perguntas, com argumentação semelhante sobre a ferramenta ser uma maneira

efetiva de apresentar e acompanhar o impacto pretendido pelos negócios e com os

quais o investidor compromete-se ao aportar seu investimento. Todos também citam

que a Teoria de Mudança (ou também conhecida por tese de mudança) como principal

direcionador acerca do impacto ao longo do ciclo de vida do investimento e mesmo

que já elaborada anteriormente, é construída ou revisada nas atividades de pós

investimento, última fase do processo de investimento em que são executadas

atividades que visam ao estabelecimento controles para proteger o investimento

(TYEBJEE; BRUNO, 1984), como é o caso da Teoria de Mudança.

Para o cálculo da média na escala 6, sobre o risco de impacto pretendido

interferir em outro impacto ou se esse não é um item relevante para o investidor. Um

entrevistado afirmou que sua organização não observa esse critério, pois entende

que, uma vez validando a geração de impacto do negócio, seja por seu modelo de

negócio ou pela tese de mudança, o impacto está dado, interferindo em algum outro

benefício paralelo ou não: “os problemas da sociedade são diversos, tem lugar para

todo mundo fazer impacto ou não” (entrevistado B). A média alcançada nesta escala

foi de 3,111 o que demonstra os investidores de impacto em sua maioria verificam e

preferem que não exista interferência do benefício sobre outro impacto pré-existente,

em busca de mitigar o alerta apresentado por Drexler e Noble (2014) e também

Ebrahim et al. (2014) da possibilidade de deslocar outros impactos ou até mesmo

prejudicar, interferindo na geração agregada de benefícios à comunidade.

Já na escala 7, sobre como prevenir que os resultados de impacto não deixem

de ocorrer, a questão versou sobre o acompanhamento dos resultados. Todos os

entrevistados alegaram que os resultados são monitorados de perto e de forma

periódica, confirmando um dos principais aspectos relativos aos investimentos de

impacto: para os investimentos de impacto, a mensuração de impactos é uma prática

central de gestão e não apenas uma reflexão posterior, utilizada para divulgação

externa e marketing (BUGG-LEVINE; EMERSON, 2011).

80

Conforme detalhado na tabela 8, os entrevistados puderam citar mais de um

tipo de monitoramento, duas organizações utilizam a avaliação padrão do GIIRS e

duas organizações possuem o selo obtido pelo Sistema B, que também organiza os

resultados de forma sistemática e para as organizações para atender e manter o selo

devem reportar o monitoramento de seus indicadores frequentemente: “A gente usa

várias formas, uma das formas mais claras ou mais evidentes é o sistema B onde as

empresas são certificadas” (entrevistado I).

Os sistemas padronizados contribuem para o amadurecimento da questão de

impacto no Brasil, pois mitigam algumas questões como as abordagens

fragmentadas, falta de comparabilidade e a ausência de análises e benchmarks para

o mercado de investimento de impacto (BOURI, 2011). Outras 4 organizações citaram

que realizam avaliação qualitativa própria, ou seja, que internamente avaliam o

atingimento de resultados, principalmente em reuniões periódicas de apuração de

resultados, em visitas técnicas realizadas nas localidades beneficiadas e também por

busca de casos particulares que representam e exemplificam o impacto obtido pelo

negócio: “temos nosso próprio conjunto de indicadores, temos nossa própria rotina

junto aos indicadores de desempenho, então revisamos nossa longa lista de

indicadores uma vez por ano, solicitamos à nossas empresas que preencham um

relatório bastante detalhado” (entrevistado E).

Tabela 8 - Categoria monitoramento impacto

Ocorrência Citações

Acompanhamento por indicadores 10

Avaliação qualitativa própria 4

Avaliação padrão GIIRS 2

Avaliação padrão Sistema B 2

Fonte: a autora.

Para esta escala que monitora o risco de não ter impacto, a média alcançada

foi de 4,000 demonstrando que as organizações efetuaram pelo menos um controle,

dentre estes: estudo científico, controle de amostra, evidências que demonstrem a

81

geração de impacto, contrariando Chell (2007) em que a busca por resultados

financeiros poderia corromper a organização de busca pelo impacto.

4.2.2 Risco financeiro

Para encerrar o bloco de perguntas sobre risco, a escala 8 investiga o risco

financeiro dos investimentos de impacto teve média obtida de 3,667 demonstrando

um apetite ao risco acima do mercado e também a consciência sobre a alta incerteza

dos negócios investidos por diversos motivos como falta de histórico neste tipo de

investimentos:

Você está brincando, eu estou na fronteira do risco total, a gente está falando de startups [...] com modelo de negócio completamente incerto [...] e estou falando de inovação, de criar mercado, estou falando de estágio inicial, estou falando de lacuna de competência de capital, você quer mais risco que isso? (Entrevistado D)

Esse excerto só confirma o ponto de vista apurado em Berk, Demarzo e Harford

(2010) sobre quando o investidor assume um risco certamente exigirá um retorno à

altura e, portanto, quanto maior o risco maior a expectativa de retorno.

Nenhum entrevistado posicionou o apetite ao risco de sua organização abaixo

de ajustado à mercado. A maior incidência de citações (60% das respostas) refere-se

por apetite ao risco acima do mercado, mesmo nas menções de apetite ao risco

ajustado ao mercado, os entrevistados afirmaram que suas organizações possuem

um “Eu diria moderado, talvez de moderado a alto” (entrevistado E). Ou seja, é

possível afirmar que 80% das organizações se posicionam com apetite ao risco alto.

4.3 RETORNO FINANCEIRO

Nas questões voltadas para retorno financeiro, não se notou nenhum tipo de

hesitação ou desconforto por parte dos entrevistados, pela expectativa de falar sobre

suas estratégias de retorno. Este bloco é composto por 4 perguntas que desenham

duas escalas e seus resultados estão demonstrados abaixo na tabela 9:

82

Tabela 9 - Média por escala fator retorno financeiro

Fator Escalas Média

Retorno Financeiro

9 Faixas de retorno financeiro 4,000

10 Intenção sobre o Retorno Financeiro 3,556

Média Fator Retorno Financeiro 3,778

Fonte: a autora.

A primeira pergunta deste bloco versava sobre a faixa de taxa de retorno interno

anual que melhor refletia o posicionamento de sua organização. Não houve

desconforto por parte dos participantes na resposta desta questão e todos

prontamente indicaram uma faixa, dois entrevistados sugeriram uma nova faixa que

melhor representa sua estratégia, de 15% a.a. até 20% a.a. faixa sugerida pelo

entrevistado E de 20% a.a. até 25% a.a., faixa sugerida pelo entrevistado G. Todos

os entrevistados indicaram os graus 4 ou 5 da escala, demonstrando uma expectativa

de retorno geral superior a 11% a.a., em linha com os resultados apresentados por

Drexler et al. (2013) em que 70% de sua amostra de investidores de impacto tem

expectativa de retorno acima de 11%.

A escala 9 obteve uma média 4,000 demonstrando o foco dos investidores de

impacto na expectativa do retorno financeiro entre 11% a.a. e 20% a.a., faixa atribuída

ao grau 4. Ou seja, não deixam de lado a busca por resultados ajustados às taxas de

mercado, rejeitando a ideia de Silby (2011) de que há fatores que podem limitar o

potencial de retorno como focar em mercados relacionados à base da pirâmide,

negócios em fase experimental ou sem propriedade intelectual.

O retorno financeiro foi abordado por meio de uma questão quantitativa, acima

descrita e também por uma questão qualitativa, centro da próxima escala, na qual

abordava-se a intenção do investidor de impacto com relação ao retorno financeiro

pretendido, quando comparado a um benchmark de mercado.

Os entrevistados foram unânimes na seleção da intenção sobre o retorno

sempre próximo ou acima do mercado. Nesta questão eles não foram direto ao ponto,

por exemplo, houve três respostas que inicialmente alegaram que não era possível

determinar o que é mercado:

83

Bom, vou ver se eu consigo responder a sua pergunta, eu pessoalmente não

acredito em TIR nesse tipo de investimentos, isso vem de altos investidores

quando eles estão gerindo os investidores eles precisam colocar os

investimentos nas mesmas métricas [...] é difícil saber por que às vezes você

pode investir num negócio e fazer 2x em um ano e um outro negócio 5x em

5 anos, o que é melhor? (Entrevistado F)

A média obtida nesta escala foi de 3,556 demonstrando que as organizações

realmente se dividem entre intenções de retorno próximo às taxas de mercado (grau

3) e retorno acima das taxas de mercado (grau 4), proporcionalmente alinhado à figura

10, em que Mudaliar (2016) pesquisa a intenção sobre o retorno.

Por fim, quando questionados qual seria o benchmark que a organização

utilizava, apenas uma organização cravou o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA)

mais 17% (IPCA+17%), alguns alegam que não há possibilidade de estabelecer um

benchmark diante de um mercado em atual instabilidade econômica, outros atribuíram

a dificuldade pela natureza dos investimentos ser em negócios em estágio inicial.

Apesar de não compor especificamente uma escala, a seleção de um benchmark,

mesmo com dificuldades é importante, pois é difícil discutir retorno sem um contexto,

por isso, um benchmark é necessário (ALLMAN, 2015).

4.4 CONSOLIDAÇÃO

Por meio da média obtida em cada fator, chegou-se a uma representação

gráfica dos graus de impacto, risco financeiro, risco de impacto e retorno baseados na

amostra desta pesquisa, apresentado abaixo na figura 12:

84

Figura 12 - Representação gráfica dos resultados

Fonte: a autora.

No gráfico é possível notar que os fatores de risco tiveram alto grau entre as

organizações entrevistadas, ou seja, neste fator há uma maior clareza de como efetuar

o acompanhamento, com maior peso de exigências e obrigações.

O fator retorno financeiro atingiu 3,778 na escala atribuída pelas organizações

com relação a este aspecto, sendo possível notar que sobre este fator de decisão nos

investimentos há uma grande expectativa por parte dos investidores, validando a

expectativa de altos retornos para investimentos de impacto de Saltuk et al. (2011) e

também pelo fato dos investidores ainda estarem muito baseados nos negócios

tradicionais.

O fator impacto obteve 3,000 como grau atribuído pelas organizações

entrevistadas, ficando em último lugar entre os fatores de decisão nos investimentos

de impacto analisados, este resultado mostra que a busca pelo impacto existe sim,

porém ainda tem um longo caminho rumo à maturidade entre os investidores, com

uma grande oportunidade com relação principalmente à formalização da busca por

resultados, proposta por Drexler et al. (2013).

85

Resumindo, pode-se assumir que a prioridade dos investidores de impacto no

Brasil, dentre os fatores é retorno financeiro e risco de impacto, seguido por risco

financeiro e impacto, nesta ordem.

86

87

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema investimento de impacto vem ganhando muita força ultimamente,

mesmo assim ainda há um grande espaço para avanços. Foi reforçado pela Força

Tarefa de Finanças Sociais a necessidade de estudos sobre os investimentos de

impacto, definições, delimitações, funcionamento, a fim de dar mais visibilidade e

consistência à atividade do investidor de impacto. Acerca da problemática dos

diferentes fatores de decisão nos investimentos de impacto e se estes enfrentam

algum tipo de trade off ou não, a presente pesquisa tratou de olhar para o investimento

de impacto e a composição risco, retorno e impacto.

A fim de responder à questão de pesquisa sobre como o investidor de

impacto, no Brasil, gerencia sua carteira de investimento os fatores de decisão

nos investimentos: retorno, risco e impacto, uma vasta literatura subsidiou a

compreensão da problemática. Buscou-se a definição e contextualização do tema, em

que as contribuições de Yunus (1998), Martin e Osberg (2007) e Porter e Kramer

(2011) foram importantes para trazer os principais aspectos sobre o tema.

O referencial teórico sobre investimentos de capital de risco aporta conteúdos

sobre private equity e venture capital e os processos de seleção dos investimentos

permite o entendimento mais claro do funcionamento de um fundo de investimento na

prática com as contribuições de Allman (2015), Ribeiro e Tironi (2007) e Tyebjee e

Bruno (1984).

A tese de investimentos, compreendida com as contribuições de Peroni (2015)

e Drexler et al. (2013) traduz o perfil do fundo de investimento, aproximando-se do

tema de impacto nos negócios por meio da Teoria de Mudança apresentada por Clark

et al. (2004), Anderson (2005) e Brandão et al. (2014), como a principal ferramenta

voltada para o delineamento do perfil dos investimentos de impacto.

Quando se trata da relação risco, retorno e impacto, a literatura contribui, por

exemplo, com Freirich e Fulton (2009) para impacto, Damodaran (2004) em retorno

financeiro e para risco os trabalhos de Ribeiro e Tironi (2007) em riscos financeiros e

Drexler e Noble (2014) para riscos de impacto.

Essa carga teórica subsidia a investigação da presente pesquisa, visando

atender aos objetivos propostos inicialmente, por meio de um estudo de natureza

exploratória, com pesquisa qualitativa e coleta de dados por meio de entrevistas

semiestruturadas que serão analisadas por meio da análise de conteúdo baseada em

88

Bardin (2002) e assim obter escalas de medida para cada um dos fatores risco, retorno

e impacto, que compõem os investimentos de impacto.

Na busca de atender o objetivo central desta pesquisa sobre investigar como

o investidor de impacto gerencia o fator impacto além da relação risco e retorno

tradicionalmente utilizados pelos investidores, foi possível constatar que os

investidores estão bastante acostumados a lidar com a relação risco e retorno, e assim

tendem a ter maior expectativa nesses dois aspectos e mais facilidade para buscar

tais resultados e também para implantar mecanismos que garantam seu atingimento.

Pelos resultados analisados na presente pesquisa, constatou-se que a prioridade

entre os três fatores, em ordem da mais prioritária para a menos privilegiada é retorno,

risco e impacto. No entanto, as organizações demonstraram que o fator impacto faz

parte do dia a dia de um fundo de investimento e que é indispensável para que os

recursos dos investimentos de impacto cheguem até o negócio.

A escala voltada para impacto atingiu 3,000 ou seja, exatamente no ponto

intermediário de uma escala que varia de 1 a 5, demonstrando um espaço para

amadurecimento no tema com relação aos investimentos voltados para impacto no

Brasil, principalmente no que tange à formalização da busca por impacto nos modelos

de negócios e ferramentas de remuneração. Na escala que atende ao risco de

impacto, o resultado atingido foi de 3,778 demonstrando que os investidores de

impacto já estão mais evoluídos no controle e mitigação de resultados voltados para

o atingimento de impacto, como também para a busca dos resultados financeiros, uma

vez que a escala atingida em risco financeiro foi de 3,667 valor este bastante próximo

ao obtido na média para risco de impacto. Por fim, a média geral da escala que

calculou retorno financeiro atingiu um valor de 3,778 sendo esta a média mais alta,

representando uma alta exigência de retorno financeiro por parte das organizações,

validando a definição de investimentos de impacto que busca não só a geração de

impacto, mas também almeja taxas de retorno financeiro ajustadas ou maiores que as

de mercado.

Para os investidores o fator impacto é inegociável, sem este não há

investimento de impacto, esta faz parte do processo de estruturação de um fundo

tanto quanto risco e retorno. A diferença entre esses fatores está apenas em como o

investidor trata cada um destes, questão melhor esclarecida ao analisar o atingimento

de cada objetivo proposto inicialmente para a presente pesquisa.

89

Apurou-se também que, por meio das entrevistas, as organizações como um

todo possuem alta expectativa com relação à geração de impacto em seus

investimentos.

Para eles, os impactos esperados são viáveis e somente negócios com a

intenção de criar impacto em sua essência são considerados em seus portfólios. No

entanto, o grau de impacto esperado pelos investidores ainda não é tão alto quanto o

atingido em risco e retorno de acordo com os graus atingidos na análise dos dados,

em uma escala variando de 1 a 5, em que impacto atingiu 3,000 e para risco

consolidado e retorno os valores, respectivamente, de 3,750 e 3,778.

Uma justificativa para tal fato talvez seja por ser este fator muito recente, os

investidores ainda estão aprendendo a lidar com seus aspectos e peculiaridades,

enquanto as demais já são tradicionalmente conhecidas pelos investidores, portanto,

com maior histórico e repertório sobre o qual os fundos de investimento sabem atuar,

já se desenvolveram e talvez tendo atingido uma maturidade no tema.

Para analisar como o investidor exige o compromisso com o impacto do

negócio foi possível verificar que, apesar dos investidores estrangeiros já estarem

preocupados em blindar a missão do negócio de impacto, a fim de protegê-la de

possíveis desvios durante a busca simultânea por resultados financeiros e de impacto,

o mercado brasileiro ainda não enxerga tal necessidade como uma preocupação. Ao

contrário, muitas organizações apontaram que tal amarração poderia sobrecarregar o

empreendedor ou burocratizar algo que já estaria intrínseco ao negócio, buscando

garantir a entrega deste resultado de impacto muito mais pelo modelo de negócio do

que por mecanismos formais ou contratos jurídicos. Uma ferramenta que contribui

para a evolução do compromisso com a entrega de impacto pelos negócios de impacto

é a confecção da Teoria de Mudança, sendo esta uma maneira que os investidores

demonstraram se sentirem confortáveis pela descrição detalhada que a ferramenta

exige e que na maioria das vezes pode ser cocriada entre empreendedores e

investidores, imprimindo ainda mais transparência nas entregas dos negócios.

Percebeu-se ainda uma resistência quanto à cobrança do compromisso com

impacto por parte dos investidores, como se fosse causar algum tipo de incômodo ao

empreendedor formalizar a entrega de impacto em algum documento ou até implantar

mecanismos de remuneração ou bonificação por resultados atingidos. Deste modo,

perante aos mecanismos amplamente discutidos e pouco a pouco estabelecidos no

exterior para blindar a missão (TASKFORCE, 2014a) e comprometer-se com impacto,

90

ainda há um caminho a ser percorrido pelos investidores de impacto no Brasil rumo à

maturidade no que corresponde ao compromisso com impacto.

Por fim, ao identificar como o investidor exige a remuneração do capital

investido dos negócios de impacto, foi possível perceber que, em sua maioria, as

organizações não fazem distinção entre investimentos tradicionais e investimentos de

impacto. Isto quer dizer que, um investidor de impacto, tende buscar os mesmos níveis

de resultados financeiros que estariam buscando em um investimento tradicional, não

considerando concessões em troca de impacto ou suspeitando que os negócios de

impacto não sejam capazes de gerar retorno financeiro e ao mesmo tempo causar

impacto, consistente com o ideal de atingir objetivos distintos simultaneamente,

apresentado por Bugg-Levine e Emerson (2011) em seu conceito de valor combinado

e reforçado por Rodin e Brandenburg (2014) que defende a presença de um objetivo

duplo no coração do investimento de impacto.

Justamente por compreenderem a complexidade dos negócios de impacto,

estes fundos de investimentos voltados para impacto compreendem seu papel como

o de pioneiros do movimento no Brasil, a fim de provar que é possível obter os mesmos

níveis de retorno que seriam obtidos com outros tipos de investimento e com isso

estimular que mais investidores façam parte e consequentemente mais recursos

financiem os negócios de impacto: “Ser pioneiro tem muita responsabilidade. Há que

ser cauteloso e transparente. Não é que, se falharmos, o setor ou a ideia não irá

florescer, mas isso pode levar algum tempo” (BATTILANA et al., 2017, p. 12).

Até mesmo o fator risco ganha um novo significado em se tratando de fundos

de investimento de impacto, pois, além de lidar com as questões relativas ao risco

financeiro, aqui há o risco de não gerar impacto, com o qual o investidor deve não

apenas contar, como buscar prevenir e mitigar, uma vez que a geração de impacto é

condição sine qua non para a existência de um fundo de investimento de impacto,

possibilitando portanto a verificação do comportamento do risco diante dos

investimentos de impacto.

Com tais esclarecimentos sobre investimentos de impacto e seus fatores de

decisão risco, retorno e impacto, espera-se que o presente estudo aproxime o tema

da universidade, ampliando pouco a pouco os horizontes da área no país e

estimulando novas discussões teóricas sobre tema. Faz-se necessário recordar que

os resultados obtidos se limitam ao universo apreciado pela presente amostra,

91

podendo ser replicada ou estendida a outras organizações de investimento de impacto

no Brasil.

As implicações práticas desta pesquisa residem na oferta de possibilidades

para as organizações de investimentos de impacto no Brasil evoluírem nos fatores

risco, retorno e impacto. Principalmente acerca de impacto, dado que as escalas

elucidam um caminho rumo à maturidade no tema, por exemplo, a formalização da

busca pelo impacto, remuneração atrelada ao atingimento de resultados e uma

clareza maior acerca das decisões em caso de conflito entre os resultados financeiros

e de impacto, à luz das melhores práticas aplicadas por investidores ao redor do

mundo.

Dentre as limitações na presente pesquisa, vale ressaltar que as organizações

com operações em investimentos de impacto atualmente no Brasil compõem um

universo maior que o obtido nesta amostra, caso outras organizações participassem

os resultados poderiam ser diferentes. Outra restrição, condizente com a situação

atual dos desempenhos e saídas nos fundos de investimento de impacto, limitando a

análise de resultados já realizados. Por fim, é possível pontuar uma limitação quanto

à metodologia, uma vez que “os resultados obtidos pelas técnicas de análise de

conteúdo não podem ser tomados como prova definitiva” (BARDIN, 2002, p. 81).

Pesquisas futuras terão a oportunidade de aprofundar principalmente as

questões voltadas para o estudo do comportamento da relação risco e risco diante da

nova variável impacto, mais precisamente a questão do risco de não se obter impacto,

que apesar de ser inerente a qualquer negócio, nos negócios de impacto interfere

tanto na obtenção do benefício pretendido bem como da geração de faturamento para

o negócio, que intrinsecamente depende do impacto. Outra sugestão pertinente

relaciona-se com a questão de objetivos múltiplos e sua governança.

No campo das finanças vale enfatizar que, em breve, saídas dos investimentos

de impacto serão mais frequentes e com isso estudos futuros poderão utilizar essa

base de dados realizados para fins de comparação com o mercado de PEVC

tradicional.

92

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

APÊNDICE A – RESULTADOS OBTIDOS

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