fascículo 7: o papel e a função do ministério público de servir ao cidadão e à comunidade

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07 O papel e a função do Ministério Público Como buscar o Ministério Público O Ministério Público no Ceará O Ministério Público de Contas junto aos Tribunais de Contas e o Ministério Público Estadual O papel e a função do Ministério Público de servir ao cidadão e à comunidade Socorro França Leilyanne Brandão Feitosa Fiscalize seu município Exerça sua cidadania UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância ® www.controlesocial.fdr.com.br Universidade Aberta do Nordeste e Ensino a Distância são marcas registradas da Fundação Demócrito Rocha. É proibida a duplicação ou reprodução deste fascículo. Cópia não autorizada é Crime.

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O TCM/CE disponibiliza na íntegra o material de seu curso à distância "Controle Social das Contas Públicas". Aprenda a exercer sua cidadania e fiscalizar o município onde você mora.No sétimo fascículo o tema é: "O papel e a função do Ministério Público de servir ao cidadão e à comunidade"

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O papel e a função do Ministério Público

Como buscar o Ministério Público

O Ministério Público no Ceará

O Ministério Público de Contas junto aos Tribunais de Contas

e o Ministério Público Estadual

O papel e a função do Ministério Público de servirao cidadão e à comunidade

Socorro FrançaLeilyanne Brandão Feitosa

Fiscalize seu municípioExerça sua cidadania

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância®

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Universidade Aberta do Nordeste e Ensino a Distância são marcas registradas da Fundação Demócrito Rocha.É proibida a duplicação ou reprodução deste fascículo. Cópia não autorizada é Crime.

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Filósofa e cientista política alemã, Hannah Arendt (1906-1975) é considerada a maior estudiosa da formação dos regimes totalitários – além de ter sentido pessoalmente os efeitos do stalinismo e do nazismo. Entre suas principais obras estão As origens do Totalitarismo, Eichman em Jerusalém, quando cunhou a expressão “a banalidade do mal”.

• Explicitar a importância da Constituição Federal de 1988 para tornar o Ministério Público um dos mais importantes protagonistas do Estado Social.

• Explorar como funciona o Ministério Público e como utilizá-lo.• Apresentar as atribuçiõesdo Ministério Público de Contas junto aos Tribunais de Contas e

refl etir sobre sua relevância para o exercício da democracia.

Objetivos

O papel e a função do Ministério Público

O Ministério Público foi consagrado pela Constituição Federal de 1988 como função essencial à administração da justiça. Recebeu a ele-vada missão de defender a ordem jurídica, os direitos sociais e indi-viduais indisponíveis, tendo a natural vocação de defender todos os direitos que abrangem a noção de cidadania, que na clássica defi nição de Hannah Arendt, uma das mais célebres fi lósofas do século XX, signifi ca “direito a ter direitos”.

Surge assim o Ministério Público como instituição desvinculada de quaisquer dos poderes republicanos (Executivo, Legislativo e Judiciá-rio), com o claro objetivo de manter os seus membros livres de qualquer interferência de autoridades ou grupos econômicos, fortalecendo-os na concretização das promessas veiculadas na Constituição e nas leis.

É certo que o Ministério Público, muitas vezes, serviu de braço ins-titucional do regime militar, tendo em vista que, àquela época som-bria, o Procurador-Geral da República monopolizava o controle de constitucionalidade de leis e atos normativos em face da Constituição da República. Não se tinha, verdadeiramente, um Ministério Público na concepção de um defensor da sociedade, mas um defensor de uma legalidade que, não raro, traduzia os anseios da elite militar que go-vernou o Brasil de 1964 a 1985.

Bem expressa essa verdade Hugo Nigro Mazzili, um dos maiores estudiosos da instituição do Ministério Público:

Em rigor, portanto, o Ministério Público pode existir seja num regime autoritá-rio, seja num regime democrático; poderá ser forte tanto num como noutro caso; porém, só será verdadeiramente independente num regime democrático, porque não convém a governo totalitário algum que haja uma instituição ainda que do próprio Estado, que possa tomar, com liberdade, a decisão de acusar até mesmo os próprios governantes ou de não processar os inimigos destes últimos. (Apud PEDRO RUI DA FONTOURA PORTO, p. 159)

Portanto, sendo a democracia o único regime compatível com a dignidade humana, e sendo o Ministério Público um de seus maiores e ardorosos vigilantes, não se pode admitir que a instituição seja cria-

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da ou remodelada para servir a interesses ditatoriais, massacrando os direitos fundamentais da pessoa humana.

É para servir à cidadania que existe o Ministério Público. Para exercitar essas nobres funções, com a necessária serenidade

e altivez, aos membros do Ministério Público Nacional foi defi nida uma pauta mínima de garantias, a fi m de que homens e mulheres que o compõem não sejam constrangidos no enfrentamento das causas econômicas e políticas que fragilizem os avanços sociais alcançados pelas lutas democráticas.

Nesse contexto, o Ministério Público aparece como um dos mais importantes protagonistas do denominado Estado Social. Este Estado procura concretizar as liberdades públicas, a partir da regulação de atividades estatais e privadas, em especial no que tange à ordem eco-nômica e social, para assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social como vem expressado, em fortes tintas, no Título VII, da Constituição Federal eternizada por Ulysses Guima-rães como “Constituição Cidadã”.

Assim, o Ministério Público recebeu a missão de propor as ações penais públicas, representando a sociedade nos processos de: • Punição dos infratores da legislação criminal. • Proteger os direitos relacionados à infância e juventude.• Velar pelos interesses das pessoas idosas e defi cientes.• Fiscalizar, de maneira permanente, o processo de criação e fun-

cionamento das fundações e entidades de interesse social.• Buscar mecanismos que viabilizem a proteção. • Recuperação do meio ambiente, do patrimônio histórico, cultu-

ral e paisagístico.Também lhe foi conferida a atribuição de zelar pelo patrimônio públi-

co, propiciando a adequada destinação dos recursos fi nanceiros e orça-mentários no atendimento das necessidades básicas da população.

Nesta concepção, a sociedade é parceira imprescindível do processo de controle das atividades da Administração Pública, através de seg-mentos civis organizados. Utiliza dos mecanismos de controle social disponíveis, dentre eles a provocação ao Ministério Público para que investigue e promova a responsabilização de autoridades públicas que se omitem na execução das políticas públicas a que estão constitucional-mente obrigados. Atua também junto aos agentes que desviam recursos públicos em proveito próprio ou de outrem, enriquecendo de forma ilí-cita, às custas do sacrifício tributário a que está obrigada a população que paga tributos e preços públicos para formação da receita estatal.

A Carta de 1988 prevê, em seu artigo 71, a existência de órgão do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas, com a missão de fi scalizar e promover, perante aquelas cortes de contas, providências com o objetivo de zelar pela correta aplicação dos dinheiros públicos,

Entre os direitos fudamentais estão a liberdade de expressão, o direito de associação, liberdade de credo, liberdade de imprensa e outras liberdades públicas sufocadas pelos regimes autoritários.

O Ministério Público Nacional compreende seus diversos ramos: Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e Ministérios Públicos estaduais.

A Constituição Federal de 1988 foi chamada de Constituição Cidadã, quando da sua promulgação, em 5 de outubro, pelo presidente da Assembléia Nacional Constituinte, o deputado paulista Ulysses Guimarães (1916-1992).

As necessidades básicas são: acesso aos serviços de saúde, inclusão na rede ofi cial de educação, direito ao saneamento básico, previdência de qualidade, segurança pública e outros direitos sociais.

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os atos dos agentes que manejam recursos públicos. Dentre suas atri-buições estão a emissão de manifestação em parecer prévio sobre as contas prestadas anualmente pelos agentes públicos e nos julgamen-tos de tais contas; avaliar a economicidade, legalidade, moralidade, impessoalidade e efi ciência.

As parcerias entre o Ministério Público ordinário e o Ministério Pú-blico junto ao Tribunal de Contas propiciam a formulação de políticas preventivas, visando evitar o mau uso ou dilapidação de recursos pú-blicos. Tal iniciativa se dá pela formulação de recomendações, realiza-ção de seminários e ajuizamento de ações tendentes a bloquear recur-sos para garantia a sua fi el destinação ou mesmo para afastar gestores que praticam atos de desonestidade, conceituados como improbidade administrativa, de acordo com as disposições da Lei Federal Nº 8.429 – Lei da Improbidade Administrativa (Veja íntegra no site do curso).

A missão maior do Ministério Público é primar pela justiça social, um conceito simples que pode ser traduzido pela fórmula secular concebida por Aristóteles (384-322 a.C.), no sentido de tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, ou seja, o valor su-premo da vida humana é a justiça, e ela deve ser feita, como única condição de vida em sociedade. É preciso fazer brotar nas consciên-cias populares que todo e qualquer cidadão possui o direito de buscar a proteção judiciária, sendo que o acesso à Justiça não se restringe ao direito de peticionar ao juiz ou de circular livremente nas dependên-cias dos fóruns e tribunais, mas de ver apreciada com justiça e, por-tanto, com isonomia, a sua pretensão, como bem acentua José Afonso da Silva: “Cada sentença há que constituir um tijolo nessa construção da sociedade justa” (In Poder Constituinte e Poder Popular).

Conhecer as atribuições do Ministério Público constitui tarefa de todos os segmentos da sociedade. A instituição, por sua vocação de zelar pelos direitos sociais, pode contribuir, de maneira radical, para a transformação da sociedade, exigindo dos poderes públicos que imple-mentem as políticas básicas de sobrevivência e dignidade do cidadão.

Esses direitos, ditos prestacionais, que o Estado deve oferecer aos cidadãos de maneira irrestrita, como bem acentua o publicista alemão Dietrich Murswiek, podem ser classifi cados em quatro classes:a) Prestações sociais em sentido estrito, tais como a assistência social,

aposentadoria, saúde, fomento da educação e do ensino, etc.b) Subvenções materiais em geral, não previstas no item anterior.c) Prestações de cunho existencial no âmbito da providência social

(...), como a utilização de bens públicos e instituições, além do fornecimento de gás, luz, água, etc.

d) Participação em bens comunitários que não se enquadram no item ante-rior, como, por exemplo, a participação (no sentido de quota-parte), em recursos naturais de domínio público. (Apud Marcos Maselli Gouvêa)

Ao Ministério Público cabe fortalecer a cidadania, enfrentando todas as adversidades e forças que tencionam desestabilizar o sistema democrático, amesquinhando as conquistas do povo.

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De acordo com essa classifi cação, o Estado Social – embora não possa ser considerado um Estado paternalista e pródigo – é, no en-tanto, um Estado preocupado com o bem-estar de seu povo. A Re-pública Federativa do Brasil é um Estado que se auto-intitulou como Democrático de Direito e, por isso, abraçou como fundamento a ci-dadania e a dignidade da pessoa humana.

Essa ampla carta de intenções, entretanto, há de ser fi scalizada, para que sejam mantidos a ordem pública e o bem-estar da popu-lação. Nesse cenário, o Ministério Público aparece com a fi nalidade de zelar pela concretização desses valores, chamando para si essas árduas tarefas.

Quando o Ministério Público processa alguém pela prática de um crime, além de estar postulando a punição do transgressor da lei pe-nal, está, também, buscando a proteção da sociedade que não pode conviver num antro de impunidade ou mesmo de vingança privada – aquela exercida pelas próprias mãos da vítima ou de terceiros.

Quando o Ministério Público pede ao Poder Judiciário que decrete a prisão preventiva ou temporária de alguém está, de igual forma, protegendo a sociedade, tendo em vista que, em certas ocasiões, a liberdade do delinquente há de ser sacrifi cada em prol da paz social.

Sempre que o Ministério Público ajuíza uma ação civil pública, os interesses que tenciona proteger são aqueles denominados sociais ou individuais indisponíveis. Ao lado dessas tradicionais funções, o Ministério Público também está presente em todo e qualquer proces-so em que haja interesse de incapazes (criança, adolescente, defi cien-te mental) ou mesmo interesse público a ser protegido, atuando como fi scal da lei. No desempenho dessa função, cabe ao Ministério Públi-co envidar todos os esforços para que a legislação seja respeitada e o direito do cidadão protegido tendo, por isso, o poder de recorrer aos tribunais contra decisões que não entreguem o justo direito.

Porém, não se deve pensar o Ministério Público como órgão atre-lado ao Poder Judiciário, pois o seu raio de atuação é bem mais amplo que simples autor processual ou fi scal da lei dentro de um processo.

Tornou-se cena comum buscar-se o Ministério Público como uma espécie de ouvidor da sociedade, com vocação natural de receber reclamações contra os Poderes Públicos e tentar encontrar os meios administrativos para recompor o direito violado, seja formulando re-comendações, seja celebrando termos de ajuste de condutas em que as autoridades comprometem-se, em prazo predeterminado, a agir ou deixar de agir, para que satisfaçam o interesse da coletividade.

Nessa era de explosão de litigiosidade (tudo que é discutido em juí-zo), o custo de acesso à Justiça tem sido um desestímulo para a solução de controvérsias, levando muitas vezes, a própria sociedade a eleger as suas formas naturais de composição dos confl itos, mesmo que, em mui-

Como Estado Democrático de Direito tem a obrigação de garantir a todos os que residem em solo nacional o direito à vida privada, à intimidade, à honra, à imagem; o direito à moradia, à saúde, à educação, ao trabalho, à participação na vida política da nação, dentre outros.

De fato, exerce o Ministério Público essa função de principal ouvidor da sociedade, e ao lado da imprensa exerce um valioso controle social.

Interesses sociais são: defesa da criança e do adolescente, defesa da pessoa defi ciente, dos idosos, das fundações, da educação pública, da saúde pública, do meio ambiente, do patrimônio artístico, paisagístico e cultural, dos sítios antropológicos e arqueológicos, do patrimônio público, dos serviços de relevância pública (oferta de água, energia, saneamento público, coleta regular de lixo, etc.), do consumidor, da ordem econômica e de muitos outros direitos que dizem respeito à coletividade.

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tos casos, contrarie a lei e a ordem pública. Devem, assim, as instituições públicas, amparar a sociedade na correta condução de seus desígnios, modulando o grau de intervenção, a partir do interesse público.

Deve-se buscar sempre o ideal de Justiça, e como assinala Agnes Heller (1998) “é preciso aprender o hábito de ser justo”, ou seja, é preciso conscientizar a sociedade sobre a necessidade de respeitar a dignidade alheia para que se alcance a almejada paz social.

O cidadão há de ser senhor de seu destino, e, nessa tarefa de eman-cipação, tem no Ministério Público um precioso aliado, o qual, além de possuir a vocação de protagonizar a transformação da sociedade pela Justiça social, detém em suas mãos os mecanismos que podem propiciar essa mudança.

Um acordo celebrado entre pessoas e referendado (validado) pelo Ministério Público tem valor de verdadeira sentença e pode ser exe-cutado em caso de descumprimento por qualquer dos acordantes, como prevê o artigo 585, II, do Código de Processo Civil.

No exercício desse mecanismo de composição de confl itos, o Minis-tério Público deve fomentar a criação de núcleos de mediação, geren-ciando o processo de capacitação de conciliadores e facilitadores entre moradores da própria comunidade que poderão atuar como árbitros e pacifi cadores sociais, desobstruindo as pautas judiciais já hipertrofi a-das pelo número excessivo de processos e rituais burocráticos que com-prometem a credibilidade do conceito de justiça, contribuindo para reforçar o pensamento do grande jurista Ruy Barbosa (1849 –1923), no sentido de que “Justiça tardia é injustiça qualifi cada e manifesta”.

Desde que a Constituição da República, pela via da Emenda Cons-titucional Nº 45/2004, inseriu dentre os direitos fundamentais do ci-dadão brasileiro o princípio da celeridade processual (art. 5º), nasceu para o Ministério Público o dever de velar pela rápida e pacífi ca so-lução das contendas.

A professora Lília Maia de Morais (2004) explica o poder da me-diação na vida comunitária:

É um mecanismo de resolução de controvérsia pelas próprias partes, cons-truindo estas uma decisão ponderada, efi caz e satisfatória para ambas. Essa decisão construída possui o mediador como facilitador dessa construção por meio do restabelecimento do diálogo pacífi co. As partes, no processo de mediação, detêm a gestão de seus confl itos e, consequentemente, o po-der de decidir, tendo o mediador como auxiliar, diferentemente da jurisdi-ção estatal em que o poder de decidir cabe ao Estado” (p.24)

Se de um lado o Ministério Público é, por excelência, a instância natural de controle social dos Poderes Públicos, o cidadão pode ser o vigilante, a testemunha, o parceiro, o construtor dessa simbiose. que Sendo o alvo de atenção do trabalho da instituição ministerial é cor-reto concluir que cada partícipe da sociedade é um elo precioso da

O gênio baiano Ruy Barbosa referiu-se ao mal da corrupção na política: “(...) a política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios defi nidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou o conjunto das funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada. (Apud Élcio D’Angelo e Suzi D’Angelo, 2003, p.93)

Celeridade seja no âmbito do Poder Judiciário, seja lançando mão de mecanismos extrajudiciais que desestimulem a busca incontida de fóruns e tribunais que, muitas vezes, acirram a litigiosidade, em face da ainda corrente cultura do exagerado e irrazoável temor às autoridades judiciárias que têm o dever de agir com urbanidade, respeito e imparcialidade para com o jurisdicionado (cidadão).

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corrente que fortalece a cidadania.O Ministério Público é dividido em entrâncias que podem ser con-

ceituadas como níveis de jurisdição levando em conta a complexidade, o tamanho da população, o número de processos etc, e instâncias que re-presentam o grau de hierarquia jurisdicional onde atua, ou seja, em pri-meiro grau perante juízos (varas, juizados especiais, fóruns) ou segundo grau perante tribunais. Os membros que atuam perante a 1ª instância são denominados de promotores de Justiça e aqueles que ofi ciam em 2ª instância são conceituados como procuradores de Justiça.

No âmbito Estadual, a Chefi a do Ministério Público é exercida pelo Procurador-Geral de Justiça; na esfera Federal, pelo Procurador-Geral da República.

Como buscar o Ministério PúblicoDesburocratizar o acesso do cidadão ao Ministério Público é esti-

mular a busca de um mecanismo de pacifi cação permanente, tendo em vista que o encontro “face a face” entre o promotor de Justiça que tem a obrigação constitucional de residir na Comarca e o cidadão é momento precioso de produção de novas consciências voltadas para uma cultura de participação popular nos destinos da nação.

A forma mais singela de buscar-se o Ministério Público é mediante comparecimento do interessado à Promotoria de Justiça ou às diversas Procuradorias de Justiça, onde terá o seu pleito apreciado e devidamen-te solucionado, mediante instrumentos à disposição da instituição.

O fl uxograma na página 112 representa o caminho que percorre o cidadão para ver solucionada a sua demanda pelo Ministério Público. Este pode agir como mediador de confl itos, buscando, assim, solucio-nar o litígio mediante acordo de vontades, evitando que a demanda seja renovada no Poder Judiciário, congestionando as pautas judiciais, com-prometendo, sobremaneira, a celeridade e a efetividade da Justiça.

Assim, o Ministério Público não deve se encarcerar em gabinetes, mas cumpre-lhe a nobre missão de estimular, no âmbito territorial das próprias comunidades, discussões críticas acerca do papel de cada cidadão na elei-ção das prioridades que devam ser executadas pelos poderes públicos.

O Ministério Público do Estado do Ceará tem iniciado esse processo de diálogo permanente com a comunidade, a partir da instituição do Progra-ma de Incentivo à Implementação de Núcleos de Mediação Comunitária e a da instalação de comitês de prevenção e combate à corrupção eleitoral.

Em decorrência da denominada “Reforma do Judiciário”, capita-neada pela Emenda Constitucional Nº 45, de 2004, tornou-se obriga-tória a instituição de ouvidorias no âmbito do Poder Judiciário e do Ministério Público, a fi m de que fosse estabelecida uma linha direta entre o cidadão e as mencionadas instituições.

Mediação que não se confunde com arbitragem. No primeiro caso, o mediador não decide o confl ito, mas facilita-o; na arbitragem o árbitro põe fi m à controvérsia, decidindo-a.

Emancipar as consciências dos cidadãos é a mais audaciosa e decisiva função do Ministério Público, exigindo dos Poderes Públicos que cumpram os seus deveres constitucionais de reduzir os níveis de pobreza da população, oportunizando a todas as pessoas o acesso universal a uma rede de saúde de qualidade e de educação e demais aspectos que alicerçam o majestoso edifício da cidadania.

A participação na vida institucional do País não pode se resumir em direito de votar e ser votado, mas deve ser compreendida como a perene possibilidade de infl uenciar na escolha das políticas públicas, em busca do bem-comum, como por exemplo, direito a saúde de qualidade, direito de inclusão no mercado de trabalho, direito à educação formal, direito à segurança pública dentre outros.

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InícioComparecimento

ao MPAudiência com o Membro do MP

Abertura deprocedimento

Instaura inquérito civil

Havendo elementos, ingressacom ação

civil pública

Provoca o PoderJudiciário

Lavra e homologao acordo

Encaminha o caso para Defensoria Pública ou

tenta a conciliação

Ingressa com ação

Promoção de audiência para tentativa de

conciliação

Homologa o acordo impondo sanção

para caso de descumprimento

Analisa a naturezado Direito

Tenta o ajustamentode conduta

Análise dapretensãopelo MP

Há interessecoletivo

O Direito édisponível?

Há acordo?

Ajustamentode conduta

teve sucesso?

sim

sim

sim

não

sim

não

não

não

Fluxograma de uma Demanda ao Ministério Público

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Esse canal permanente de diálogo revela-se um valioso meio de aper-feiçoamento do Ministério Público através do controle social do próprio cidadão, já que, através dele, pode formular reclamações contra a atua-ção de membros da instituição, apresentar elogios, propor medidas de aperfeiçoamento de serviços e buscar a celeridade das demandas.

A ouvidoria do Ministério Público não é instância correcional (pu-nitiva) de promotores e procuradores de Justiça, mas uma espécie de intermediário que facilita o acesso da comunidade aos mecanismos de funcionamento do órgão. Em suma, recorrer ao Ministério Público é tarefa das mais simples, não necessitando de qualquer ritual.

O Ministério Público no Estado do CearáEmbora de triste constatação, a corrupção na Administração Pública é

fenômeno crônico mundial, um vício que não conhece fronteiras e se veri-fi ca tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, como o Brasil. A diferença está na forma de enfrentar e punir esses escân-dalos que são responsáveis, em grande parcela, pelas misérias humanas.

Encampando esse compromisso universal de combater a enfermi-dade da corrupção na Administração Pública, o Brasil fez registrar em sua Constituição o dever de probidade (honestidade) dos agentes públicos no tratamento da coisa pública, prevendo sérias e graves pe-nas para aqueles que se aventuram em desviar, em proveito próprio, recursos destinados à satisfação das necessidades da população.

E para zelar pelo patrimônio público, a instituição eleita, priorita-riamente, para buscar a punição dos infratores e a recuperação dos recursos desviados, é o Ministério Público que reúne em suas mãos poderosos instrumentos processuais para reprimir todos os atos que atentam contra a Administração Pública.

Mediante denúncia, o Ministério Público pede o processamento cri-minal de agentes que praticarem crimes contra a Administração Pú-blica de acordo com o catálogo de infrações previstas nos artigos 312 a 327, do Código Penal Brasileiro, e, em se tratando de crimes da mesma espécie, praticados por prefeitos municipais, nas condutas delituosas previstas no Decreto-lei Nº 201, de 27 de fevereiro de 1967.

Mas não é só. O Ministério Público, também, põe o seu braço forte para responsabilizar os gestores públicos por atos de desonestida-de, utilizando-se, para tanto, da Lei de Improbidade Administrativa que prevê penas de suspensão de direitos políticos por até 10 anos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens do agente público, o ressarcimento dos recursos desviados aos cofres públicos, proibição de contratos com o Poder Público.

A título de exemplo, seguem algumas condutas consideradas como improbidade administrativa:

Confl itos que podem ir além dos direitos sociais da coletividade ou direitos indisponíveis (menores e incapazes, questões de acidente como de trabalho, direito à saúde, pessoa idosa etc).

A corrupção recebe muitos outros nomes: improbidade administrativa, imoralidade, enriquecimento ilícito, rapinagem, desvio, mamata, “negócio da China”, vampirismo, compadrio, troca de favores, suborno, depravação, surrupiagem, desonestidade, maracutaia, falta de decoro, mau-caratismo etc

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a) Atos que causam enriquecimento ilícito: recebimento de van-tagens ilegais para facilitar qualquer interesse de terceiros, utili-zação em obra ou serviço particular de veículos e equipamentos públicos, receber vantagens (propinas) para tolerar a prática de crimes ou contravenções, receber vantagens para falsear dados sobre perícias de obras públicas, aumento desproporcional do patrimônio do agente público e outras condutas que importem em enriquecimento ilícito.

b) Atos que causem prejuízo aos cofres públicos: facilitar a apro-priação de recursos públicos por terceiros, concessão de benefí-cios ilegais, irregularidades em licitações, realizar despesas não autorizadas em lei, deixar de conservar o patrimônio público, dentre outras condutas.

c) Atos que afrontem os princípios da Administração Pública (le-galidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciên-cia): praticar ato visando fi m proibido em lei, retardar ou deixar de participar ato a que está obrigado, devassar sigilo, negar pu-blicidade aos atos ofi ciais, deixar de prestar contas no prazo legal dentre outras condutas.As ações de improbidade administrativa contra prefeitos e outros

agentes públicos, pelo Ministério Público, são manejadas perante o juízo da Comarca onde ocorreu o ato desabonador, tendo em vista que somente em matéria criminal é que os chefes de Executivos Mu-nicipais possuem foro privilegiado nos Tribunais de Justiça.

Almejando sistematizar a atuação do Ministério Público do Esta-do do Ceará, no combate aos crimes contra a Administração Públi-ca praticados por autoridades com privilégio de foro, foi instituída a Procuradoria de Combate aos Crimes contra a Administração Pública (PROCAP), com o fi m de ingressar com ações penais referentes a fatos praticados por prefeitos, secretários de Estado e outras autoridades que detenham a prerrogativa de serem processadas no Tribunal de Justiça.

A PROCAP, além de ser responsável pelo ingresso e acompanha-mento de ações perante o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, presta apoio logístico às Promotorias de Justiça do Patrimônio Públi-co de Fortaleza e do interior do Estado.

Entre 2006 e 2008, a PROCAP registrou intensa movimentação procedimental, entre inquéritos policiais, denúncias e ações civis pú-blicas envolvendo crimes contra a administração pública e atos de improbidade administrativa praticados por gestores públicos.

O Ministério Público, nos mais diversos municípios cearenses, atuou de maneira fi rme e decisiva, seja prevenindo atos de desvios de recursos públicos, mediante formulação de recomendações, seja ingressando com ações postulando a condenação de agentes públicos pela prática de crimes ou atos de improbidade administrativa. Aguar-

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da-se a pronta-resposta do Poder Judiciário para restaurar a ordem jurídica violada, a fi m de que a sociedade possa crer nas instituições republicanas e esperar dias melhores para as gerações vindouras.

Importa registrar que essa atuação vigorosa do Ministério Público estadual possui um precioso aliado que é o Ministério Público que ofi cia junto ao Tribunal de Contas. Esta instituição independente exerce a função de fi scal da lei perante as cortes de contas, tendo ain-da a iniciativa de promover ações no âmbito daqueles tribunais, para preservar e restaurar a moralidade da gestão, velando pelo respeito à legalidade, à legitimidade e economicidade dos atos públicos.

O Ministério Público junto às Cortes de Contas, portanto, fortalece o controle social da gestão pública, já que é a instituição que acompa-nha a regularidade do exercício do próprio Tribunal de Contas, de-fendendo a ordem jurídica, mediante adoção de Administração e dos cofres públicos, sendo obrigatória a sua participação nos processos de prestação de contas dos agentes públicos, nos atos de admissão de pessoal, de concessões de aposentadoria, reformas e pensões, deven-do ainda buscar a recomposição dos recursos públicos desfalcados.

O congraçamento dessas instituições torna-se mais vigoroso quando os segmentos sociais podem intervir e estabelecer parcerias objetivando conhecer como e onde são aplicados os recursos públi-cos, quais as prioridades da comunidade (orçamento participativo), verifi car a ocorrência de desvios de fi nalidade, superfaturamento de obras e aquisições de materiais, sinais exteriores de riqueza dos ges-tores públicos e outras irregularidades. O cidadão pode exercitar, de perto, a vigilância contínua da Administração Pública, solicitando a atuação do Ministério Público, sempre que houver suspeitas de mau-uso dos dinheiros públicos.

Utilizando-se de seu direito constitucional à informação, pode o cidadão requerer dos órgãos públicos quaisquer esclarecimentos acerca da aplicação dos recursos, resultando daí que, como defensor da sociedade, o Ministério Público necessita da colaboração de todos os cidadãos comprometidos com a construção do verdadeiro Estado Democrático de Direito que é o Estado de Justiça Social e da abolição de classes de privilegiados.

Devemos, assim, sonhar e acreditar na construção de uma socie-dade mais fraterna e mais feliz, e, felicidade, como nos legou Platão em sua obra As Leis, “consiste em viver com justiça”.

Veja no site do curso a relação de feitos que tiveram a decisiva participação do Ministério Público.

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O Ministério Público de Contas juntoaos Tribunais de Contase o Ministério Público Estadual

Leilyanne Brandão Feitosa

Detentor de destacada atuação dentro dos Tribunais de Contas (TCs), o Ministério Público de Contas, embora sendo órgão de natu-reza especial, tendo em vista a especifi cidade do trabalho do próprio Tribunal, possui, em sua essência, função idêntica à dos demais ór-gãos do Ministério Público do Estado e da União, mas com atribui-ções diversas. A natureza institucional do Ministério Público junto aos TCs é consagrada pelo art.130 da Constituição Federal.

De logo, observa-se que a especialidade do Ministério Público de Contas é diferencial marcante em relação ao Ministério Público Co-mum. Os vocábulos empregados pelo Estatuto Maior, “especial” e “comum”, não são nem poderiam ser uma “supervalorização”, mui-to menos uma subvalorização da instituição.

Ao contrário, embora ambas descendam do mesmo tronco e pilar, qual seja, o princípio do Estado Democrático de Direito, a diversida-de de suas atribuições condizem com a diversidade de titulação.

Desta forma, a instituição Ministério Público é única enquanto pro-tetora da defesa da sociedade. Porém, ainda que a essência da institui-ção seja a mesma, a diferença das atribuições do Ministério Público de Contas o coloca em sua posição específi ca, cuja atividade é direcionada à fi scalização legal quanto à aplicação orçamentária, fi nanceira, opera-cional e patrimonial dos recursos públicos, ou seja, o Ministério Públi-co de Contas é fi scal da lei dentro do exame das Contas Públicas.

O que são contas públicas e quem tem obrigação de prestá-las?

São contas contábeis, contas técnicas, não são contas morais da pessoa do gestor. Então todos os registros matemáticos (contábeis/fi nanceiros), ou seja, receitas e despesas públicas são o que, em con-junto, integram as contas públicas.

Têm obrigação de prestar contas todos aqueles que detêm, de al-guma forma, dinheiro, bens e valores públicos. Citamos:No Poder Executivo: Presidente da República e seus ministros; gover-nadores de Estado e do Distrito Federal; prefeitos Municipais e seus secretários, respectivamente.No Poder Legislativo: Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, das Assembleias Estaduais e das Câmaras Municipais.

Esta especifi cidade é a fi scalização contábil, orçamentária, fi nanceira, operacional e patrimonial das administrações pública.

Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura.

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No Poder Judiciário: Presidentes do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores, dos Tribunais Federais e dos Tribunais Estaduais e demais ordenadores de despesas.

A Constituição Federal de 1988 outorgou aos membros do Minis-tério Público de Contas os mesmos direitos, garantias, prerrogativas, deveres, vedações e a forma de investidura no cargo dos membros do Ministério Público Comum. Destarte, são instituições democráticas iguais, porém, com deveres específi cos.

Assim sendo, na atualidade, há um esforço para atuação organiza-da dessas instituições, todas constitucionalmente autorizadas a zelar pelos interesses da coletividade e, portanto, voltadas a melhor servir à sociedade.

Em verdade, o Ministério Público de Contas é dotado de completa autonomia em relação ao Ministério Público ordinário, não sujeitan-do seus procuradores à chefi a hierárquica do procurador Geral de Justiça, mas ao procurador Geral escolhido dentre eles mesmos, se-gundo disposto na Lei Orgânica de cada Corte.

Por seu turno, enfatiza-se de modo veemente que as diferenças en-tre as atuações do Ministério Público dos Estados e da União (comum) e as do Ministério Público de Contas são oriundas de organização cons-titucional, em que o constituinte originário entendeu ser esta a melhor forma de organizar o Estado Democrático de Direito Brasileiro.

Quanto à sua composição, o Ministério Público de Contas junto aos Tribunais de Contas é formado por procuradores denominados procuradores de Contas, todos independentes, advindos de rigoroso concurso de provas e de títulos, com competências típicas em conso-nância com a Constituição Federal.

A atuação administrativa dos Tribunais de Contas engloba vistoria das contas anuais de Governo dos chefes do Poder Executivo, análise e acompanhamento da execução da receita e despesa das contas de gestão dos responsáveis por valores públicos (ditos ordenadores de despesa), bem como a tomada das contas quando não prestadas no prazo legal assinalado.

O papel do Ministério Público de Contas é emitir parecer jurídico, levando em conta tanto a adequação do procedimento administrativo às normas legais, bem como observando se foi assegurado ao gestor público “investigado” direito à ampla defesa e ao contraditório. É seu dever também a análise propriamente dita dos fatos e irregularida-des verifi cadas na prestação ou tomada de contas, sugerindo, a partir daí, a aplicação das penalidades cabíveis.

Como curador da lei, o Ministério Público de Contas opina em todos os processos que tramitam nos TCs, fi scalizando a legalidade e formalidade dos mesmos, inclusive comparecendo a todas as sessões de julgamento – seja do Pleno ou de uma das Câmaras do Tribunal.

Alcides Freire

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Curso Controle Social das Contas Públicas118

Deve ter como fi m mediato a garantia de uma atuação administra-tiva dentro dos parâmetros legais e a prestação de serviços públicos condizentes com as necessidades sociais, pautada nos princípios da moralidade, efi ciência e economicidade.

Além da função de fi scal da lei, característica do Ministério Públi-co de forma geral, o Ministério Público de Contas possui legitimida-de para requisitar documentos e informações para melhor instruir os feitos administrativos. Pode ainda apresentar quaisquer dos recursos previstos em lei, questionando decisões tomadas dentro dos processos sob a tutela administrativa e controladora do Tribunal de Contas.

Outro trabalho do Ministério Público de Contas é o de efetuar Re-presentações a outros Poderes da República, tendo por objetivo infor-mar esses órgãos acerca das ações e irregularidades apuradas pelos TCs, a fi m de que sejam analisadas e tomadas as medidas necessárias.

Essas Representações são realizadas de acordo com a gravidade da irregularidade praticada, podendo ser sanções de imputação de débito, nota de improbidade administrativa (Lei Nºs. 8.429/92), crime de responsabilidade (Decreto-lei Nº. 201/67), crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168 – A, Código Penal Brasileiro), dentre outros ilícitos previstos nas Leis Federais Nº. 10.128/00 e 9.983/00.

Estas sanções poderão ter repercussões no Poder Judiciário em nível cri-minal, civil e eleitoral. A iniciativa para propor as ações cabíveis e a conse-quente responsabilização dos agentes públicos envolvidos comumente per-tence à Procuradoria Geral de Justiça ou à Procuradoria Regional Eleitoral.

É bom deixar claro que nada impede que as Representações se-jam feitas a outros Poderes ou órgãos ministeriais. A comunicação é feita dependendo da origem dos recursos e do tipo do ato adminis-trativo analisado.

O controle e a fi scalização empreendidos pelos Tribunais de Contas, com a devida intervenção do Representante do Ministério Público de Contas, constituem-se não só do exame da legalidade dos atos adminis-trativos praticados, mas também da apreciação da motivação, moralida-de e proporcionalidade do mesmo, sempre em função da utilização mais efi caz e econômica possível dos recursos e bens públicos. O objetivo é buscar a justiça social, além de conferir aos atos de governo e de gestão das Administrações maior lisura, probidade e transparência.

Neste ponto, o papel exercido pelo Ministério Público de Contas se dá por meio da emissão de Pareceres jurídicos de caráter eminentemente opinativo, endereçados ao Tribunal de Contas, a quem pertence a compe-tência constitucional para julgamento, caso se trate de contas de gestão, ou para emissão de Parecer Prévio, a ser julgado pelo Poder Legislativo competente, quando a matéria tratar de contas de Governo.

Desse modo, torna-se fácil a percepção de que o trabalho empre-endido pelo Ministério Público de Contas, em parceria com o Tribu-

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nal de Contas e a Procuradora-Geral de Justiça, na análise quanto à legalidade, efi ciência, probidade e supremacia do interesse público no que diz respeito às despesas, se constitui em garantia efetiva dos direitos sociais do cidadão, previstos nos artigos 6º c/c o Título VIII (“Da Ordem Social”) da Constituição Federal.

Otimizar recursos públicos, acompanhar irregularidades que possam comprometer a efetivação de políticas sociais de real interesse da socie-dade e facilitar a concretização de uma maior transparência, probidade, legitimidade e participação popular nas administrações públicas, é a constante preocupação do agir do Ministério Público de Contas.

Pode-se dizer que o trabalho exercido pelo Ministério Público de Contas possui uma função de caráter pedagógico, voltado ao adminis-trador público, ao fi rmar entendimentos que contribuem para um atuar administrativo mais probo e efi ciente, como também quando sugere a aplicação de sanções em face das pechas apontadas, inibindo que a mes-ma prática irregular seja reiterada nas prestações de contas seguintes.

O teor público do processo administrativo instaurado sob a tutela dos Tribunais de Contas, do qual faz parte o parecer da Procuradoria de Contas, possibilita ao cidadão comum tomar ciência da gestão dos recursos públicos envolvidos, viabilizando um controle social mais participativo sobre a administração estatal e materializando o Princí-pio da Soberania Popular, previsto no art. 1º, § único da Constituição Federal: “Todo o poder emana do Povo, que o exerce por meio de re-presentantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituição”.

Percebe-se a descrença do País em relação aos seus representantes (políticos) e demais Poderes. A indignação é notória diante dos desca-labros praticados, noticiados pela imprensa. Dessa forma, o Ministério Público de Contas junta-se ao cidadão para coibir referidas práticas. Participar é preciso. Por isso, é imperativo que todos conheçam seus di-reitos e que lutem pelos mesmos. O desconhecimento é arma poderosa para os maus intencionados manipularem o que pertence ao povo.

Por isso, é pertinente lembrar o teor de princípios fundamentais no Estado Democrático de Direito: o da soberania popular e o da cidadania preconizados no artigo 1º da Constituição Federal. Arremate-se sugerin-do aos novos controladores sociais capacitados por este curso que, ladea-dos pelo Ministério Público de Contas e Ministério Público Comum, po-dem sempre, por meio de Ação Popular (art. 5º, LXXII, CF), exercerem participação efetiva no controle das Contas Públicas, transcrevendo:

O propósito de justiça que o Ministério Público de Contas persegue é viabilizar a aproximação da sociedade com o poder público, para que o povo faça realmente valer seus interesses e garanta, de forma clara e inequívoca, que o poder realmente lhe pertence.

Conheça a íntegra de todos estes dipositivos legais no site do curso www.controlesocial.fdr.com.br

Art. 5º. (...) LXXIII: qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, fi cando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

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• O Ministério Público foi consagrado pela Consti-tuição brasileira de 1988, como função essencial à administração da justiça. Assim, ele aparece como um dos mais importantes protagonistas do Estado democrático de direito, zelando pelo patrimônio público no atendimento das necessi-dades básicas da população. Se o Ministério Pú-blico é a instância natural de controle social dos

poderes públicos, cabe ao cidadão uma partici-pação ativa na vigilância atuando como parceiro no fortalecimento da cidadania. Já o Ministério Público de Contas tem sua atuação direcionada à fi scalização legal no que tange à aplicação orça-mentária, fi nanceira, operacioanal e patrimonial dos recursos públicos, no âmbito dos três pode-res – Executivo, Legislativo e Judiciário.

PORTO, PEDRO RUI DA FONTOURA, in DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS, Livraria do Advogado, Porto Alegre-RS, 2006.

SILVA, JOSÉ AFONDO DA, PODER CONSTITUINTE E PODER POPULAR , Editora Malheiros, São Paulo-SP, 2002.

GOUVÊA, MARCOS MASELLI - O Controle Judicial das Omissões Administrativas

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Morais, Lília Maia de - JUSTIÇA E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS, DelRey, Belo Horizonte-MG, 2004.

D`Ângelo, Elcio; e D’Angelo, Suzi - O Princípio da Probidade Administrativa e a Atuação do Ministério Público, LZN Editora, Campinas-SP, 2003,.

1. Defi na as funções do Ministério Público2 Quando e como se deve buscar o Ministério

Público3. Como você explicaria a posição do Ministério

Público de Contas em relação ao Ministério Pú-

blico Comum, e quais as atividades exercidas pelo Ministério Público de Contas junto aos Tribunais de Contas?

4. Em que consiste “Prestar Contas” e a quem é determinado esse dever?

Referências

Avaliação

Realização Apoio

Síntese

Coordenadora do Curso: Adísia Sá

Coordenadora Editorial: Laurisa Nutting

Coordenadora Pedagógica: Ana Paula Costa Salmin

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