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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL NARRADOR- (Andando pela platéia, até parar de frente para as cortinas e conversar com o público) Natal é uma época do ano, onde comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus, enviado aqui para nos salvar. Jesus veio à esse mundo e nos pregou diversos ensinamentos, principalmente nos mostrando o amor e a paz e também o quanto é importante vivermos como irmãos. Será que realmente, ter muitos bens materiais é suficiente para manter uma relação de paz, amor e principalmente união com sua família? Será que a falta desses bens materiais interfere no dia-a-dia de uma família? Aliás, o que seria mais importante? A união, a paz e o amor que a família mantém? Ou então, as coisas materiais, que não passam muitas vezes de futilidades e por elas, acabamos causando tumulto, discussões e destruindo um clima saudável que deveria prevalecer em nossa casa. É Natal, tempo de pensar e repensar em tudo o que a gente fez; analisar se algumas coisas realmente valeram a pena; pensar em nossas atitudes erradas; pensar naquilo que muitas vezes deixamos de fazer por medo; imaginar o que fazer, o que mudar, no novo ano que começa. Fazer uma auto-análise. Sim, isso realmente pode nos ajudar. Na peça de hoje podemos observar tudo isso. Na história, contaremos como foi a noite de Natal de duas famílias totalmente opostas. Uma família sem muitas condições, mas unida de um lado. (Abre a cortina onde está localizado o cenário da família de classe inferior). Do outro lado, uma família com muitas posses, muito dinheiro, mas sem a essência de uma família de verdade. (Abre a cortina onde está a família de classe superior). O Narrador se dirige para atrás do palco. CENA 01- CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE INFERIOR/ NOITE CENÁRIO: Mesa de jantar bastante simples, com ocupação de quatro cadeiras. Na mesa uma jarra de água, com quatro copos americanos, direcionados em suas quatro dimensões e uma pequena árvore de Natal centralizada. Mais tarde outras partes da mesa serão ocupadas pelos alimentos trazidos pelo pai e pela avó. MÚSICA DE FUNDO: Então é natal! (Até o momento da primeira fala) AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

NARRADOR- (Andando pela platéia, até parar de frente para as cortinas e conversar com o público) Natal é uma época do ano, onde comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus, enviado aqui para nos salvar. Jesus veio à esse mundo e nos pregou diversos ensinamentos, principalmente nos mostrando o amor e a paz e também o quanto é importante vivermos como irmãos. Será que realmente, ter muitos bens materiais é suficiente para manter uma relação de paz, amor e principalmente união com sua família? Será que a falta desses bens materiais interfere no dia-a-dia de uma família? Aliás, o que seria mais importante? A união, a paz e o amor que a família mantém? Ou então, as coisas materiais, que não passam muitas vezes de futilidades e por elas, acabamos causando tumulto, discussões e destruindo um clima saudável que deveria prevalecer em nossa casa. É Natal, tempo de pensar e repensar em tudo o que a gente fez; analisar se algumas coisas realmente valeram a pena; pensar em nossas atitudes erradas; pensar naquilo que muitas vezes deixamos de fazer por medo; imaginar o que fazer, o que mudar, no novo ano que começa. Fazer uma auto-análise. Sim, isso realmente pode nos ajudar. Na peça de hoje podemos observar tudo isso. Na história, contaremos como foi a noite de Natal de duas famílias totalmente opostas. Uma família sem muitas condições, mas unida de um lado. (Abre a cortina onde está localizado o cenário da família de classe inferior). Do outro lado, uma família com muitas posses, muito dinheiro, mas sem a essência de uma família de verdade. (Abre a cortina onde está a família de classe superior).

O Narrador se dirige para atrás do palco.

CENA 01- CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE INFERIOR/ NOITE

CENÁRIO: Mesa de jantar bastante simples, com ocupação de quatro cadeiras. Na mesa uma jarra de água, com quatro copos americanos, direcionados em suas quatro dimensões e uma pequena árvore de Natal centralizada. Mais tarde outras partes da mesa serão ocupadas pelos alimentos trazidos pelo pai e pela avó. MÚSICA DE FUNDO: Então é natal! (Até o momento da primeira fala)

Sentados à mesa, Joãozinho está de cabeça baixa na mesa, enquanto sua Maria está séria, olhando para a frente. Alguns instantes. Joãozinho levanta a cabeça, aparentando estar com muito sono.

Joãozinho: Mãe, o papai está demorando muito... Já faz muito tempo que ele saiu. Será que aconteceu alguma coisa?

Maria: Claro que não filho. É que na Fábrica onde o papai trabalha, tem muitos empregados. E demora até conseguir receber o salário.

Joãozinho: Mas será que ele consegue receber o salário dele até a meia-noite? E se ele só conseguir uma hora da manhã?

Maria: Claro que sim filho! Ele já deve estar quase chegando! Esqueceu que ele tinha que passar no Mercado também?

Joãozinho: É mesmo. Ele tinha que comprar aquela cesta de chocolates, igualzinha a que eu vi naquele jornal velho que eu achei no porão.

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Maria: (Sem graça) É... Mas eu já te disse né filho, que aquele jornal é de 1993. Né? Talvez o papai não encontre aquele cesta!

Joãozinho: Ah, mas o papai sempre acaba conseguindo. Ele sempre dá um jeito... Papai é igual o Chapolim Colorado. Sempre dá um jeito, até mesmo pras situações mais difíceis.

Maria: Lembre-se filho, que para tudo nessa vida temos necessidade de muito esforço e trabalho duro. Nada cai do céu.

Joãozinho: Sim... Eu te entendo!

Maria: Entende?

Joãozinho: Sim, você quer dizer que por exemplo, pra eu conseguir ser professor um dia, eu vou ter que estudar muito, muito e muito ainda!

Maria: Isso! Só vai um pouco mais com calma né filho? Muitas vezes não é possível se ter tudo o que se quer.

Joãozinho: Sim! Mas eu consigo... E o papai também me ajuda! Mas hein mamãe, se eu não ganhar aquela cesta que eu vi no jornal, eu posso ganhar outra cesta, mas diferente que eu também fico feliz. Sendo uma cesta de Natal, pra mim é suficiente. Pode ser vermelha, ao invés de verde. Aliás, vermelha é bem mais bonita do que verde, não acha?

Maria: É... Acho que sim né filho?

Joãozinho: Sim. (Instantes) Hein mamãe, a vovó também saiu já tem um tempão e até agora não chegou. A senhora por acaso sabe onde é que ela foi? Ela não deu nenhuma satisfação.

Maria: Também não sei não filho. Ela só disse que ia sair, mas não falou o lugar nem nada.

Joãozinho: É, e também nem é muito a cara da vovó dar satisfação para ninguém.

Maria: Pois então!

Ouve-se uma batida na porta.

Joãozinho: Olha mamãe, deve ser o papai... Ou a vovó.

Maria: Espera que eu vou atender.

Ao levantar da cadeira, Maria quase cai no chão, pois sente uma dor em sua perna direita. Joãozinho levanta de imediato e apóia sua mãe.

Joãozinho: (assustado) Se machucou mamãe?

Maria: Não, não filho! Fique tranqüilo! Só foi mais uma daquelas fisgadas que eu sempre sinto!

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Joãozinho: Senta aqui mamãe, bebe uma água!

Joãozinho e Maria sentam novamente em suas respectivas cadeiras. Joãozinho coloca água em um copo para a mãe, que bebe um pouco.

Joãozinho: Quer que eu atenda a porta?

Maria: Não, não! Não precisa filho! Deixa que eu atendo!

(CONGELA)

O narrador sai do lado onde está localizado o cenário da casa da família de classe inferior. E anda em meio aos cenários enquanto fala.

NARRADOR: Maria sempre foi uma mulher guerreira. Sempre lutou para dar o melhor para seu filho, porém após um acidente, machucou a sua perna direita e por isso não consegue mais trabalhar. Apesar de viverem em quatro pessoas em uma casa humilde, e se manterem com apenas dois salários mínimos, eles tem uma coisa que muitas e muitas famílias nobres não possuem. União! Nem mesmo, as maiores dificuldades abalam as estruturas que os unem. Se enganou quem pensou que essa família (apontando para a família de classe superior), fosse o exemplo dessa peça! Muito pelo contrário...

O narrador entra do lado onde está localizado o cenário da família de classe superior.

CENA 02- CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE SUPERIOR- NOITE

CENÁRIO: A mesa é grande, com muitas ocupações. É forrada com uma linda toalha de Natal, e decorada com um jarro de flores. Logo ao centro tem uma garrafa de vinho, juntamente com três taças, direcionadas nas extremidades da mesa. Ao outro lado, um espaço vago para ser trago um frango assado mais tarde.

MÚSICA DE FUNDO: Hello Kitty. (Até o final da música, enquanto Sandrinha dança). Sandrinha vêm pela platéia desfilando, até chegar ao palco e fazer a coreografia da música, enquanto seus pais a olham horrorizados. Após o fim da coreografia, Dorotéia se levanta da cadeira, e escandalosamente levanta as mãos ao alto.

Dorotéia: (Desesperadamente, extremamente dramática) Oh Deus! Oh Deus! O que eu fiz para merecer tamanha decepção?

Dorotéia se ajoelha no chão.

Dorotéia: Minha filha se tornou uma perdida! Oh Deus, isso dói mais do que sentir uma faca apunhalada em meu ventre! Ventre do qual nasceu essa menina?

Sandrinha: Quer que eu peço pra Socorro trazer uma faca? (Grita) Oh Socorro! Oh socorro! Vem cá sua mulambenta!

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL Gervázio levanta-se da mesa e caminha até onde está sua esposa.

Gervázio: Não fique assim, minha esposinha! (Beija na testa) Eu também sinto o mesmo que você? Alguém me diz, onde foi que eu errei? Alguém me diz, o que eu fiz pra merecer uma coisa dessas?

Sandrinha: Já que você mencionou, merecia muito mais por ficar passando a perna naqueles mulambentos que trabalham na fábrica!

Socorro chega correndo. (Vem pela entrada ao lado do palco)

Socorro: Me chamou, Dona Patroinha?

Sandrinha: Chamei sim projeto de gente! Era pra você trazer uma faca pra minha mãe?

Socorro: Faca? Mas ainda nem tá na hora da ceia! Para que você precisa de faca Dona Patroôna?

Dorotéia: Eu não pedi faca nenhuma, traste!

Socorro: Mas a Dona Patroinha acabou de pedir!

Sandrinha: Ué, não foi você quem disse que uma facada no seu ventre doía menos do que ver eu dançando FUNK.

Os pais de Sandrinha levantam do chão.

Dorotéia: Não precisava levar ao pé da letra!

Sandrinha: Então pare de fazer drama mamãe. A novela das nove é menos dramática do que você!

Socorro: Aliás, que drama hein!

Dorotéia: Cala a boca traste! Ninguém pediu a sua opinião...

Socorro: Tá! Desculpa Dona Patroôna!

Gervázio: Pelo menos isso não podia ser pior! Apesar da nossa filha não gostar das nossas músicas clássicas, pelo menos ela dança FUNK e não ARROCHA!

Socorro: Peraí! Pode ir parando! (Grita) Tudo tem limite!

Os três olham assustados para Socorro.

Socorro: O que você tem contra o arrocha? É uma das melhores danças do país que eu vim...

Dorotéia: Que país?

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Socorro: Bahia! E pense muito antes de falar da minha dança preferidas.

Sandrinha se opõe ao pai e se direciona ao lado de Socorro.

Sandrinha: Você sabe dançar arrocha Maria do Socorro?

Socorro: Claro que sei! Vai dizer que você não sabe?

Sandrinha: Não! Me ensina?

Socorro: Claro! É facinho, olha só. (Fazendo a coreografia, enquanto Sandrinha observa) 180, 180, 360... 180, 180, 360!

Sandrinha: Caramba! É fácil mesmo! Vamos dançar então, com um sonzaço do DJ?

Socorro: Vamo borá! Ô chente!

Sandrinha: Vamo simbora então! Solta o som aê DJ.

MÚSICA DE FUNDO: O arrocha do poder. (Até o fim, do primeiro toque do refrão e congelamento de cena).

Sandrinha e Socorro dançam arrocha e se divertem muito enquanto dançam. Enquanto isso, Gervázio e Dorotéia deitam-se no chão chorando.

(CONGELA)

O narrador sai do lado onde está localizado o cenário da família de classe superior e anda em meio aos cenários enquanto fala.

NARRADOR: 180, 180, 360... É, até que parece um pouco animado não? Pois é (Senta na arquibancada). Mas por incrível que pareça, essa família já teve dias piores. Diante disso nos vemos obrigados a voltar à mesma pergunta do início. O que vale mais? Dinheiro ou união? Pergunta difícil né? Ou não... Depende apenas da pessoa que está respondendo. (Levanta da arquibancada) Nesse caso aqui, temos uma família totalmente desequilibrada. Um pai golpista, uma mãe fútil, uma filha rebelde e preconceituosa. A única maior exceção nessa casa é a Socorro, que modéstia parte, só é mais um complemento para o manicômio.

O narrador entra do lado onde está localizado o cenário da família de classe inferior.

CENA 03: CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE INFERIOR- NOITE

Maria se dirige à porta (segunda entrada). Ela abre a porta de onde entra sua mãe, Joana, carregando uma sacola.

Maria: Oh mamãe, demorou!

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Joana: Desculpa filha! Eu fui comprar umas coisas no mercado, mas você sabe como é movimentado, principalmente fim de mês... E ainda mais, dia de Natal! Tem muita gente fazendo compras.

Maria: Mas mamãe, não precisava! O José já não ia comprar as coisas?

Joana: Mas eu fiz questão ué. Eu também moro aqui, como aqui! Preciso ajudar em algumas coisas...

Maria: Aliás, você não viu o José não?

Joana: Não... E olha que eu fiquei um bom tempo lá, plantada naquela filha. Sinceramente é uma falta de respeito com pessoas da terceira idade. Deixam a gente lá em pé, esperando. Tinham que ter um atendimento prioritário também. Filha, tinha até mulher embuchada lá, esperando um tempão pra ser atendida. E fora outras que tinham neném no colo.

Maria: Realmente, a situação é muito precária mesmo! Joãozinho levanta da cadeira e vem caminhando até a porta, onde está sua mãe e sua avó.

Joãozinho: Foi ao mercado vovó? Joana: Sim, sim! E meu beijo, cadê?

Joãozinho: Ah, desculpa!

Joãozinho beija o rosto da sua avó.

Joana: Cuidou direito da sua mãe enquanto eu sai?

Joãozinho: Claro vovó! Ela até teve mais uma daquelas fisgadas na perna e...

Joana: De novo filha?

Maria: Não precisa se preocupar mamãe. Isso já é normal...

Joana: Não filha, não é normal! Você sabe que seu pai tinha a mesma coisa e depois no final deu no que deu...

Maria: Ta mãe, eu vou no médico... Assim que der! Agora a gente não tem condições pra isso.

Joana: Eu já te disse que eu consigo pelo SUS para você. Aquele vereador amigo meu, te ajuda. Não é uma cirurgia difícil!

Maria: Tá bem mamãe. Mas só vamos pensar nisso depois do Natal. Hoje é dia de alegria e não de preocupações!

Joana: Sim. Mas depois você não me escapa!

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Joãozinho: Vovó, já que você foi no mercado, você encontrou aquela cesta que eu pedi?

Joana: Aquela daquele jornal velho que você achou no porão?

Joãozinho: É!

Joana: Aquela com os detalhes verdes?

Joãozinho: É!

Joana: Mas a cesta é de 1993!

Joãozinho: Eu sei! Mas então, você achou ou não?

Joana: Ah, não achei não!

Joãozinho: Ah... Que pena!

Joana: Joãozinho, vamos sentar um pouquinho pra gente conversar?

Joãozinho: Ta!

Joana, Maria e Joãozinho caminham em direção a mesa e sentam em seus respectivos lugares.

MÚSICA DE FUNDO: (Tom baixo, apenas durante o diálogo entre os três) Mine!

Joãozinho: Pode falar vovó!

Joana: Olha, as vezes as coisas não são muito fáceis pra algumas pessoas! Requer muito esforço, pra conseguir poucas coisas!

Maria: E muitas vezes filho, nem se esforçando mais ainda é possível se ter tudo o que deseja!

Joãozinho: Mas vocês sempre não me disseram pra ter esperança, que um dia eu conseguiria ser professor?

Joana: Sim! E você vai conseguir... O que eu quero dizer é que tudo requer um tempo. É que as coisas demoram a acontecer. E você vai precisar se esforçar bastante!

Joãozinho: Sim. Isso eu já entendi!

Joana: Só que tem muitas coisas que as vezes não vem na hora que a gente quer! Tem coisas que só vêm quando é pra vir!

Joãozinho: Sim vovó! Mas o que você está querendo dizer com isso? Onde você quer chegar?

Joana: É que... João... É...

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Maria: Filho, sua avó está querendo dizer, que de repente seu pai não consegue trazer aquela cesta verde, com os detalhes vermelhos que você pediu!

Joãozinho: Mas eu já não disse que não tem problema. Também, pode ser uma cesta diferente...

Maria: Nem uma diferente filho! As coisas estão muito difíceis. Tem coisas que agora, nesse momento nós não temos condições de comprar.

Joãozinho: (Com a cabeça baixa) Ãh...

Maria: Filho, por favor! Não fica triste! Olha, eu te prometo que assim que eu tiver condições eu te dou todas as cestas que você quiser. Mas é que agora, nós estamos numa situação muito difícil.

Joana: Joãozinho, pensa que pelo menos a gente vai passar mais um natal em família.

Joãozinho: Tudo bem vovó!

Joana: Promete que não vai ficar triste?

Joãozinho levanta a cabeça e sorri.

Joãozinho: Não!

Maria se levanta da cadeira, um pouco emocionada, beija a testa de Joãozinho e o abraça com força.

Maria: Desculpa a mamãe filho! Mas é verdade. Assim que a nossa condição financeira estiver melhor, eu te dou uma cesta de chocolates, do jeito que você quer.

Joãozinho: Tudo bem!

(ABAIXA A MÚSICA DE FUNDO)

Joana: E olha (tirando as coisas da sacola), eu trouxe umas coisas gostosas. Eu trouxe maçã, biscoito recheado, uva e olha só, um frango que eu comprei na Padaria do Seu Manuel!

*O frango está embrulhado em um insulfilme

Joãozinho: Biscoito recheado? Eu adoro biscoito recheado!

Joãozinho pega o pacote de biscoito recheado.

Joãozinho: Posso comer agora?

Joana: Pode sim!

Joãozinho: Brigado vovó!

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL Joãozinho abre o pacote de biscoitos e começa a comer, com gula.

Maria: Mamãe, eu já estou ficando preocupada com o José. Já está tarde! E ele está demorando muito!

Joana: Ele já deve estar chegando filha! Fica calma! Não foi você quem disse que hoje é Natal e não é dia de preocupações?

Maria: É, você está certa!

Ouve-se uma batida na porta.

Maria: Deve ser ele!

Joana: Cuidado com a perna!

(CONGELA)

O Narrador sai do lado onde está localizado o cenário da família de classe inferior e anda em meio aos cenários enquanto fala.

NARRADOR: Como vocês podem perceber, nem mesmo uma decepção conseguiu abalar as estruturas dessa família, tamanho amor que eles tem entre si. As vezes é esse sentimento essencial em nosso dia a dia que bastaria para quebrar alguns desafetos, acabar com algumas intrigas. Portanto, nós como pessoas, cidadãos e principalmente irmãos, diante dos olhos de Deus, deveríamos começar a demonstrar um pouco mais desse sentimento lindo e expressá-lo em nosso dia a dia. Nunca deixe de dar um abraço em seus pais, seus irmãos, seus amigos, pois lembre-se que muitas vezes amanhã acaba sendo tarde para dizer aquilo que sente hoje!

O Narrador entra do lado onde está localizado o cenário da família de classe superior.

CENA 04- CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE SUPERIOR- NOITE

Gervázio, Dorotéia e Sandrinha estão sentados à mesa em seus respectivos lugares.

Gervázio: Filha, eu tenho que te dar o seu presente! Espera um minuto, enquanto eu vou buscar.

Gervázio levanta e vai para trás do palco.

Sandrinha: Você sabe o que é mamãe?

Dorotéia: Não faço a menor idéia filha!

Sandrinha: É claro que você sabe mamãe. Fala aê, antes que eu morra de curiosidade.

Dorotéia: Mas eu não sei!

Sandrinha: Sabe sim!

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Dorotéia: Eu não sei!

Sandrinha: Sabe sim!

Dorotéia: Não sei!

Sandrinha: Sabe sim!

Dorotéia: Não sei!

Sandrinha: Caramba, oh véia chata viu?

Dorotéia: Velha?

Sandrinha: Sim!

Dorotéia: Eu?

Sandrinha: Sim!

Dorotéia dá uma risada maléfica.

Dorotéia: Impossível! Eu estou no auge da juventude.

Dorotéia se levanta da cadeira, mas tem uma reação rápida de colocar a mão na coluna, já que sente dor.

Dorotéia: Ai! Ai, minha coluna!

Sandrinha levanta e anda em torno da mãe.

Sandrinha: Juventude? Ta mais pra auge da velhitude. É mamãe, está quase na hora de você deixar essa mansão e mudar pra outra casa.

Dorotéia: Que outra casa?

Sandrinha: Um asilo!

Dorotéia: Nunca se deve dizer uma coisa dessas para uma mãe. Me chamando de velha. Onde já se viu? Ao invés de concordar comigo.

Sandrinha: Então prova que você tá na flor da juventude.

Dorotéia: Como?

Sandrinha: Dança um FUNK aí e rebola até o chão.

Dorotéia olha para os lados, para ver se Gervázio não está vindo.

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Dorotéia: Mas bem rapidinho, antes do seu pai chegar.

Sandrinha: Tá bom! Solta o som aê DJ.

MÚSICA DE FUNDO: Danada vem quem vem! (Até o momento da chegada de Gervázio) Sandrinha começa rebolando até o chão, assim que a música toca. Sandrinha levanta.

Sandrinha: Vai mamãe! Dança aê!

Dorotéia começa a rebolar, lentamente e vai descendo até o chão. Ela sorri, empolgada pois pensa estar conseguindo.

Sandrinha: Vai mamãe. A Senhora tá quase conseguindo!

Quando está quase chegando ao chão Dorotéia trava, com as pernas semi abertas e coloca as mãos nas costas.

Dorotéia: (Grita alto) Ai!!!

Sandrinha: Que foi mamãe?

Dorotéia: Eu travei! Eu travei! Minhas costas... Ai, a minha coluna!

Gérvazio chega trazendo um notebook e olha horrorizado para Dorotéia.

Gervázio: (Grita) Dorotéia Cabral, o que você está fazendo ai, desse jeito?! Parece que está colocando um ovo!

Dorotéia: Cala a boca Gervázio e me ajuda aqui!

Gervázio: Eu não! Isso é trabalho da tampinha. (Grita) Maria do Socorro! Já pra cá.

Socorro chega correndo.

Socorro: O que foi Seu Patrãzão?

Gervázio: Ajude a Dorotéia a se levantar dalí!

Socorro: É pra já!

Socorro ia caminhar, mas pára ao ver a posição em que está Dorotéia.

Socorro: Jesus, Maria, José! O que você ta fazendo ai, desse jeito, Dona Patroôna?

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

Page 12: famlias_opostas_um_conto_de_natal.docx

PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATALSandrinha: É que a mamãe foi dançar FUNK até o chão e acabou não agüentando a pressão. Eu já disse que ela devia ir pra um asilo.

Socorro: Por que as pessoas insistem numa coisa que não adianta! Nem plástica esconde a idade!

Dorotéia: Cala a boca toquinho de amarrar jegue e me ajuda de uma vez, que eu não agüento mais ficar aqui desse jeito.

Socorro: Está bem Dona Patroôna!

Socorro pega Dorotéia e à puxa de uma vez. Dorotéia grita alto de dor.

Socorro: Desculpa Dona Patroôna. E olha, não faça mais isso! Isso não é papel de uma mulher de idade fazer!

Socorro vai para trás do palco.

Gervázio: Quando eu penso que a situação não tem como piorar, eu vejo que não tem mais jeito mesmo. Sinceramente eu devo ter atirado pedra na cruz mesmo!

Sandrinha: Você fez coisas bem piores. Quer que eu mencione mais uma vez papai?

Gervázio: Não, não! Fique quieta filha. Vai que tem algum policial aqui na platéia e ele me leva preso por fraude.

Sandrinha: Pelo menos aceleraria o processo...

Gervázio: Que processo?

Sandrinha: O processo onde eu herdo essa mansão de uma vez! A propósito, cadê o meu presente de Natal?

Gervázio: Aqui!

Gervázio entrega o notebook para Sandrinha, que começa a observá-lo todo.

Sandrinha: Isso daqui?

Gervázio: Sim!

Sandrinha: Não! Brigado! Pode ficar pra você...

Sandrinha devolve o notebook para seu pai.

Gervázio: Por que não?

Sandrinha: Por que não, ué!

Gervázio: Mas é um notebook?

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Sandrinha: E dái? Eu queria um netbook e não um notebook.

Gervázio: Mas você já tem cinco netbooks!

Sandrinha: Eu sei, mas eu gosto de netbooks e não notebooks. Eu faço coleção de Netbooks. E você sabia disso! Pode ficar com o note pra você...

Gervázio: Mas eu não preciso de mais um. Tem vários na fábrica!

Sandrinha: Me dá aqui então.

Sandrinha pega o notebook das mãos de seu pai.

Gervázio: O que você vai fazer?

Sandrinha: Jogar no chão, que nem eles fazem nas novelas! E quebrar em mil pedacinhos.

Assim que Sandrinha levanta o notebook para jogar no chão, Socorro chega correndo e entra em sua frente gritando e ela pára.

Socorro: Não! Não! Não faça isso Dona Patroinha! Não...

Sandrinha: Não fazer o que projeto de gente?

Socorro: Estragar esse notebook. Dá ele pra mim!

Socorro pega o notebook das mãos de Sandrinha e sai correndo para trás do cenário.

Socorro: (Grita, atrás do palco) Depois me passa a senha do seu WI-FI!!

Dorotéia: Ai, cansei! Gervázio, mande servir a ceia!

Sandrinha: Nada disso!

Gervázio: Por que não filha?

Sandrinha: Tem que esperar meu namorado chegar! Eu convidei ele para vim aqui jantar com a gente.

Dorotéia: Ah, aquele rapaz bonitão, que você trouxe aqui semana passada?

Sandrinha: Não mamãe, aquele lá é o Júlio, meu ex!

Dorotéia: Mas você terminou com ele quando?

Sandrinha: Hoje cedo!

Dorotéia: E já ta namorando outro?

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Sandrinha: Sim... Pra que esperar? A vida passa rápido mamãe. Não percebe você, que passou sua vida toda aturando o papai. Pobrezinha, sua cabeça não pesa não?

Gervázio repreende Sandrinha com o olhar.

Dorotéia: Minha cabeça? Por que?

Sandrinha: Por causa dos ch/...

Gervázio: Por causa dos chapéus... Os chapéus que eu sempre te dei!

Dorotéia: Ah sim... Mas os chapéus são leves. Não são um problema não.

Gervázio: Ah não liga não querida... Nossa filha só usou mais uma daquelas gírias de jovem.

Dorotéia: É... Mas enfim filha, qual é o nome dele?

Sandrinha: Júllio!

Gervázio: Ué, mas esse não era o nome do seu ex?

Sandrinha: O nome do meu ex era Júlio com um “L” só. O meu atual é Júllio com dois “Ls”.

Dorotéia: Mas pelo menos esse é bonitão igual ao seu ex?

Sandrinha: É obvio que sim mamãe. Os dois são irmãos gêmeos de mães diferentes!

Dorotéia: Ah ta! (Instantes) Ãh? Como isso é possível?

Sandrinha: Ai mamãe, chega de perguntas. Depois você vê com seus próprios olhos!

Gervázio: Então vamos nos sentar e esperar a chegada desse rapaz. Antes que sua mãe comece a dançar de novo!

Dorotéia: Não enche Gervázio!

Sandrinha, Gervázio e Dorotéia sentam em suas respectivas cadeiras.

Gervázio: Sinceramente, essa família está a beira da ruína. Só hoje eu tive que engolir você e aquela empregadinha dançando FUNK e ARROCHA! E sua mãe dançando FUNK até o chão então... Foi a cena mais terrível que eu já vi na minha vida! Acho que pra uma noite de Natal, isso não tem como ficar pior do que já está!

Dorotéia: Para de reclamar Gervázio!

Ouve-se uma batida na porta.

Sandrinha: Olha, deve ser o meu namorado! (Grita) O estrupício, pode deixar que eu atendo!

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Sandrinha levanta.

Sandrinha: E vocês parem de discutir, por favor!

Enquanto Sandrinha vai até a porta, os dois continuam...

Dorotéia: Você só sabe reclamar. Sandrinha abre a porta.

Gervázio: Mas é sério. Nada pode piorar essa noite!

Júllio entra segurando uma garrafa de cachaça e cantando. Ele não se agüenta em pé, tanto que acaba se apoiando nos ombros de Sandrinha.

Júllio: (Cantando) Baby, baby, baby, OH! Baby, baby, baby, OH! Olá/ Gente! Boa… Boa Noite!

Gervázio: Retiro o que eu disse! A noite podia piorar com um namorado bêbado da minha filha... E o pior de tudo, cantando JUSTIN BIEBER!

(CONGELA)

O Narrador sai do lado onde está localizado o cenário da família de classe inferior e anda pelos cenários enquanto fala.

NARRADOR: Uns tem pouco, outros tem demais! Não acha? Pois é! Só que as vezes essa mal divisão, acaba sendo culpa de um dos maiores males da humanidade: A ambição sem limites. Tem gente que para subir na vida não tem escrúpulos, não tem pena de explorar gente humilde. Me responda? Ficar guardando um dinheiro conquistado de uma maneira tão ridícula para depois ficar com a mente pesada. Acho que não né, não tem como ficar mente pesada, por que quem explora e abusa de pessoas inocentes, não tem o mínimo de consciência. Esse é o caso que podemos perceber pelo Gervázio. Ele é dono de uma fábrica, mas explora os empregados. E então, gente assim não merecia prestar contas à justiça. Não seria necessário, se as pessoas tivessem um pouquinho de percepção...

O Narrador se dirige para trás do palco, passando pelo lado onde está localizado o cenário da família de classe inferior.

CENA 05: CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE INFERIOR- NOITE

Maria se dirige à porta e a abre. Na porta está José, segurando uma sacola.

Maria: Oi amor, que bom que você chegou. Eu já estava preocupada!

José: (Abatido, triste) Desculpa a demora Maria!

José dá um beijo no rosto de Maria e entra. Ela fecha a porta.

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL

Maria: Aconteceu alguma coisa José? Você parece estar triste!

José: Um rombo de novo! O Gervázio descontou um valor enorme de novo de taxas e mais impostos!

Maria: Esse homem é um golpista!

José: O pior é que a gente não tem escolha. Ou aceita isso ou sai da fábrica. E todo mundo que trabalha lá, está numa situação parecido ou pior do que a nossa.

Maria: E se vocês fizessem greve? Todos os funcionários.

José: Ele manda todo mundo embora e coloca gente nova no lugar! Simplesmente... È um funcionário sair da fábrica que tem dez de olho no emprego dele.

Maria: Isso é revoltante!

José: Mas calma querida, fé em Deus, que as coisas melhoram!

Maria: Sim... Verdade! Ainda bem que você chegou a tempo para a ceia.

José: Mas eu não consegui comprar a cesta para o nosso filho. Só cheguei a conseguir uma caixa de bombons.

Maria: Eu e a mamãe já conversamos com o João. Ele entendeu!

José: Menos mal! Eu não saberia nem como dizer pra ele!

Maria: Não se preocupa não. Agora me responde, por que demorou tanto?

José: É que eu fui até o outro lado da cidade pra comprar a cesta pro João, mas tava caríssimo.

Maria: Ah sim! Agora vem amor... Vamos comemorar. Nada de tristeza.

José: Eu trouxe um refrigerante e uma caixa de bombons. E paguei a conta de luz e água.

Maria: Que bom! Vem José, senta aqui.

Maria e José caminham até a mesa e sentam em seus respectivos lugares.

José: Boa noite família!

Joãozinho: Boa noite papai!

Joana: Boa noite José!

José retira da sacola uma caixa de bombons.

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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José: Aqui filho... Eu não consegui comprar a cesta que você pediu, mas eu trouxe uma caixa de bombons maravilhosos.

Joãozinho: Brigado papai!

Joãozinho pega a caixa de bombons.

José: Só abra depois da ceia!

Joana: Aliás falta só um pouquinho. Filha serve o refrigerante pra gente. Já que aqui ninguém bebe bebida alcoólica mesmo, não tem nada melhor do que isso.

Maria: Sorte nossa! O álcool destrói famílias...

José entrega o refrigerante para Maria, que abre e serve nos copos. Cada um pega o seu copo na mão. Joana olha em seu relógio.

Joana: Vamos lá hein... Contagem regressiva.

Todos: Cinco... Quatro... Três... Dois... Um!

Os quatro brindam, se desejam feliz Natal e se abraçam. MÚSICA DE FUNDO: Então é Natal! (Até o fim da cena).

Após terminarem eles sentam-se novamente.

Joana: Agora me diz a verdade, a gente pode não ter muito, mas o pouco que nos temos é suficiente pra completar nossa felicidade. Aliás já somos completos assim, vivendo em família e juntos. Temos amor, carinho, paz e o suficiente pra viver. E principalmente, temos a nós mesmos! Isso sim significa ser uma família!

(CONGELA)

O narrador sai do lado onde está localizado o cenário da família de classe inferior.

NARRADOR: Ta aí, independente de qualquer coisa, essa família permance unida. Talvez em problemas maiores, eles buscariam uma maneira bem normal de resolvê-los e não procurariam discutir. Afinal, discutindo a gente vai resolver algum problema? Não! Com uma simples conversa, podemos resolver muitos problemas e sem criar mais conflitos. A calma é nossa amiga, sem dúvida alguma! Esse é o espírito do Natal, vivermos em comunhão, compartilhando experiências e nos unindo cada vez mais!

O Narrador se dirige para atrás do palco, entrando próximo onde está localizado o cenário da família de classe superior.

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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CENA 06: CASA DA FAMÍLIA DE CLASSE SUPERIOR- NOITE

Gervázio, Dorotéia, Sandrinha e Júllio estão sentados à mesa em seus respectivos lugares. Vale lembrar, que Júllio mantém seus olhos fixados em Gervázio, olhando-o com desconfiança. Sandrinha bebe o vinho que está servido em sua taça.

Gervázio: Enfim, quando vocês pretendem se casar?

Sandrinha cospe o vinho todo.

Sandrinha: Casar? Não mesmo! Nunquinha!

Júllio: Por que não amorzinho? Hein? Formaríamos uma família tão linda! Com filhos tão lindos.

Sandrinha: Não mesmo! Ainda mais que correríamos o risco de ter filhos bebúns assim como você. E só de pensar em ter uma criança melequenta grudada em mim dia e noite, já me embrulha o estômago!

Dorotéia: Falando em estômago... (Grita) Oh estrupício, pode trazer o frango... Já está quase na hora da ceia!

Júllio permanece com o olhar fixado em Gervázio e ele começa a desconfiar. Socorro, chega correndo e trazendo o frango em uma bandeja linda. Ela serve o frango na mesa e fica parada do lado. Dorotéia a repreende com o olhar.

Dorotéia: O que você está fazendo aí ainda estrupício? Vamos, Cho, Cho... Fora daqui! Aqui não é lugar de empregadinha não.

Socorro com a cabeça baixa volta para trás do cenário.

Dorotéia: Agora vamos fazer a contagem regressiva.

Todos pegam as taças na mão.

Todos: Cinco... Quatro... Três... Dois... Um!

No momento em que iam brindar, Júllio levanta rapidamente, coloca a taça na mesa e grita.

Júllio: (Grita) Ah!!! Lembrei de onde eu te conhecia sogrão!

Sandrinha: Você já conhecia o papai?

Júllio: Sim!

Dorotéia: Você já conhecia o meu marido?

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATALJúllio: Sim!

Gervázio: Você já me conhecia?

Júllio: Sim!

Sandrinha, Dorotéia e Gervázio: De onde?

Júllio: Eu vi você naquela Boate lá em Vitória. Você tava pegando uma novinha bonitinha que eu tava afim.

Dorotéia: Que história é essa Gervázio?

Gervázio: Esse cara é louco! Ele está bêbado...

Júllio: Eu posso estar bêbado, mas ainda não estou cego! E também tenho uma boa memória. Foi terça-feira da semana passada.

Dorotéia: Terça-feira da semana passada, você realmente saiu e ficou até tarde fora. Aliás, só voltou no outro dia de madrugada! Gervázio, seu cafajeste, você está me traindo?

Dorotéia levanta.

Sandrinha: É agora que o bicho pega!

Gervázio: Não Dorôzinha!

Socorro chega trazendo uma bandeja com dois pratinhos e tortas de chantilly.

Socorro: Aqui, eu via isso num seriado que passava na TV! Podem tacar um na cara do outro.

Dorotéia pega uma torta e taca na cara de Gervázio.

Dorotéia: Isso é pelas suas traições!

Gervázio levanta, pega uma torta e taca na cara de Dorotéia.

Gervázio: E isso é pelos seus chapéus.

Os dois começam a discutir. Sandrinha entra no meio da discussão, que se torna apenas muda. Socorro, fica só observando. Júllio pega a garrafa de vinho que está sobre a mesa, e caminha para a frente do palco, bebendo o vinho e cambaleando.

Júllio: Baby, baby, baby, OH! Baby, baby, baby OH!

(FECHA AS CORTINAS)

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH

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PEÇA: FAMÍLIAS OPOSTAS, UM CONTO DE NATAL O narrador sai do lado onde está localizado o cenário da família de classe superior.

Narrador: E aí? Em qual conclusão vocês chegaram? (Pausa) Então, esse é um caso muito comum em diversas famílias de hoje. Viver de aparências. Adianta um casal andar de mãos dadas na rua e depois chegar em casa e usar as mãos para violência. Ou mesmo ficar se chamando de amorzinho e depois se chamarem de diversos palavrões em casa. Pois é, assim que as coisas acontecem em muitas famílias. Famílias que as vezes possuem bem mais recursos, do que outras que não possuem quase nada. Então, estamos próximos do Natal, quase chegando no dia do nascimento de Jesus, o menino que veio ao mundo para nos salvar. Foi ele quem nos ensinou diversas coisas importantes, que hoje por futilidades deixamos de lado: Amor, paz, amizade e principalmente, vivermos como irmãos. Não seria tudo tão mais simples, se vivêssemos todos assim, (Abre a cortina, mostrando as duas famílias unidas em uma única mesa) como amigos, irmãos, sem algumas limitações? Esse seria o verdadeiro sentido de Natal. (Sobe no palco) Mas lembrem-se, o natal é um único dia no ano, porém o espírito dele, deveria permanecer por todos os seus 365 dias!

*CUMPRIMENTO DOS PERSONAGENS

AUTOR: PAULO HENRIQUE WALIKERS BARTH