família substitui o uso do agrotóxico por uma vivência com a produção orgânica

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1414 Setembro/2013 Piracuruca Família substitui o uso do agrotóxico por uma vivência com a produção orgânica Estar ao lado e ouvir a história de vida da família de seu José Vieira de Sousa, o Zé Ceará, é aprender a lição de que, quando a vida apresentar dois lados, é preciso saber fazer a escolha certa. Nesta hora quem tem sabedoria levará vantagens. O registro a seguir conta a história de uma família que produzia frutas e hortaliças com muito agrotóxico, e que com o passar dos anos mudou-se de lugar, de vida e mudou por completo também o hábito e a maneira de produzir no seu quintal. Essa é um pouco da história de seu Zé Ceará, de 54 anos, dona Odete e seus dois filhos, Cleildo Sousa e Hamilton da Costa. Uma das 10 famílias do assentamento Cruz Data Sítio, localizado a 08 km da sede do município de Piracuruca, região norte do Piauí. Seu Zé trabalha na agricultura familiar desde os cinco anos de idade. Na fase adulta iniciou um trabalho com uma pequena produção de frutas no município de Tianguá - CE utilizando muito agrotóxico na plantação com a ilusão de obter melhor resultado nas culturas. O produto do cultivo do Sr. Zé era trazido junto com a produção de outros agricultores da região para vender em algumas cidades do Piauí. Num determinado momento de sua vida, Zé Ceará precisou passar por uma cirurgia. Depois disso, a primeira orientação médica foi a de que ele interrompesse imediatamente o contato com agrotóxicos. Seu Zé Ceará iniciava uma nova vida. Do agrotóxico ao orgânico. Meu filho eu tinha dois passos pra dar, um pra morte e outro pra vida, escolhi o da vida e hoje conto esta história, diz. O casal, junto com seus dois filhos, resolveu procurar terras para morar e trabalhar na região norte do Piauí. Foi nessa fase da vida que a família conheceu um técnico agrônomo na região, que o incentivou a produzir frutas e hortaliças de maneira totalmente orgânica. Mas ainda faltava a terra própria para trabalhar. Veio então um convite muito especial.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1414

Setembro/2013

Piracuruca

Família substitui o uso do agrotóxico por uma vivência com a produção orgânica

Estar ao lado e ouvir a história de vida da família de seu José Vieira de Sousa, o Zé Ceará, é aprender a lição

de que, quando a vida apresentar dois lados, é preciso saber fazer a escolha certa. Nesta hora quem tem

sabedoria levará vantagens. O registro a seguir conta a história de uma família que produzia frutas e

hortaliças com muito agrotóxico, e que com o passar dos anos mudou-se de lugar, de vida e mudou por

completo também o hábito e a maneira de produzir no seu quintal. Essa é um pouco da história de seu Zé

Ceará, de 54 anos, dona Odete e seus dois filhos, Cleildo Sousa e Hamilton da Costa. Uma das 10 famílias

do assentamento Cruz Data Sítio, localizado a 08 km da sede do município de Piracuruca, região norte do

Piauí.

Seu Zé trabalha na agricultura familiar desde os cinco anos de idade. Na fase adulta iniciou um trabalho com

uma pequena produção de frutas no município de Tianguá - CE utilizando muito agrotóxico na plantação

com a ilusão de obter melhor resultado nas culturas. O produto do cultivo do Sr. Zé era trazido junto com a

produção de outros agricultores da região para vender em algumas cidades do Piauí. Num determinado

momento de sua vida, Zé Ceará precisou passar por uma cirurgia. Depois disso, a primeira orientação

médica foi a de que ele interrompesse imediatamente o contato com agrotóxicos. Seu Zé Ceará iniciava uma

nova vida. Do agrotóxico ao orgânico. Meu filho eu tinha dois passos pra

dar, um pra morte e outro pra vida, escolhi o da vida e hoje conto esta

história, diz.

O casal, junto com seus dois filhos, resolveu procurar terras para morar e

trabalhar na região norte do Piauí. Foi nessa fase da vida que a família

conheceu um técnico agrônomo na região, que o incentivou a produzir

frutas e hortaliças de maneira totalmente orgânica. Mas ainda faltava a

terra própria para trabalhar. Veio então um convite muito especial.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí

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O mesmo técnico que inicialmente havia incentivado

seu Zé Ceará a participar dos cursos de orientação

para produzir frutas e hortaliças orgânicas comunicou

que caso a família estivesse de acordo, poderia fazer

parte, juntamente com mais nove famílias, de um

assentamento na região, resolvendo de vez o

problema da falta de terra para trabalhar e produzir.

Fato este ocorrido no ano de 2009.

Parte das famílias do assentamento Cruz Data Sítio

vinha da experiência de tentar criar gado, uma

realidade bem presente no semiárido e uma cultura

também não adaptável à região. Foi a partir desta

vivência de seu Zé e dona Odete que outras famílias

também passaram a ver a produção orgânica e a criação de pequenos animais com outros olhos.

A família passou a ser incentivadora no assentamento para a produção de frutas e hortaliças saudáveis.

Hoje as famílias produzem frutas e legumes orgânicos, criam pequenos animais e estão entre as principais

fornecedoras de produtos orgânicos nas feiras de quatro municípios da região. Além de feiras, elas

também fornecem alimentos para algumas escolas do município através do PAA – Programa de Aquisição

de Alimentos do Governo. Tudo iniciado e incentivado através do exemplo da família de seu Zé Ceará.

Atualmente, seu Zé e sua família produzem em uma área total de 6,5 hectares, durante todo o ano. Utilizam

somente adubo e defensivos orgânicos desenvolvidos no próprio assentamento. A área em que a família

trabalha está dividida para o cultivo de maracujá, pimentão, macaxeira, caju, milho verde, banana, cheiro

verde, mamão, feijão e pimentinha. Tudo é plantando de forma consorciada o que traz maior economia e

agilidade.

A família de seu Zé e dona Odete fatura, em média, 2 mil e quinhentos reais por mês de sua área produtiva.

Uma renda que os faz sonhar em dobrar a produção e melhorar a vida. Para Hamilton da Costa, filho mais

novo do casal tudo isso tem sido a oportunidade certa pra eles não necessitarem ir para o sul do país

mantendo-se próximo da família: Aqui a gente trabalha e ganha nosso sustento, diz. Os dois filhos de dona

Odete e Zé Ceará nunca precisaram ir para São Paulo.

O assentamento ainda não é contemplado pelos programas realizados pela Asa Brasil, um sonho ainda

buscado pelas famílias. A água consumida no local é de poços tubulares, por isso tem muitas limitações

para o uso da água de forma planejada e racional. Segundo o agricultor, quando chegar mais água para o

cultivo, um outro sonho começará a ser realizado que é a duplicação de sua produção.

Perguntado de onde vem tanta disposição e sabedoria, seu Zé Ceará é rápido na resposta: Meu pai sempre

dizia que Deus prepara o inverno pra nós, cada um precisa entender o recado e se preparar para não passar

necessidade na falta da chuva.

Dando mais um exemplo de vida, a família agora

inicia uma nova experiência na região. A de

conservar sementes nativas, no Piauí batizadas de

Sementes da Fartura. A família pretende ser uma

multiplicadora deste movimento no semiárido.

Seu Zé Ceará, dona Odete e sua família tornaram-

se exemplo de perseverança e preservação da

vida, símbolo de um semiárido viável, e

multiplicadores de ações sustentáveis. Do mundo

com agrotóxico para uma vida de produção

orgânica.

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