familia raphael menezes juiz

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Aula 01 - Civil 6 - Direito de Família O Direito Civil é essencialmente patrimonial, é inclusive chamado por alguns dos ricos pois, realmente, toda a nossa vida, a vida de todas as pessoas, é pauta econômico, por uma conduta materialista, para a auisi!"o de #ens e $orma!"o de u &erdoem-me os espiritualistas, mas eu digo sempre ue ninguém $a' nada de gr voc(s ho)e est"o aui acompanhando minhas aulas é porue dese)am concluir o curso um #om emprego com um #om sal*rio% +nclusive nas doa! es e iste um interesse mate tanto ue uando a gente d* um dinheirinho pro porteiro do edi$ício, a gente espe a)ude a su#ir a $eira, ue ele lave nosso carro, etc% .nt"o este é o sentido da vida/ estudar, tra#alhar, se relacionar com as pes coisas, para ganhar dinheiro e $ormar um patrimônio, ue ser* trans$erido a nosso nossa morte% 2 disto ue cuida o Direito Civil, de regulamentar a nossa vida, a vida das 3osé e de 4aria% 5o Direito das O#riga! es estudam-se as normas ue reg pessoas com outras pessoas, e a maior $onte de o#riga!"o é o contrato% 5o Direito as normas ue regulam as rela! es das pessoas com as coisas, para aduirir propri das rela! es das pessoas com outras pessoas, através dos contratos, e das rela! es com as coisas, aduirindo-se propriedade, vai se $ormando um patrimônio a patrimônio ue ser* trans$erido a nossosherdeiros con$orme as regras do Direito d 5este raciocínio n s encontramos todo o Direito Civil, e ceto o Direito de Direito das O#riga! es, das Coisas e das 7ucess es de direito patrimonial privado, campo do Direito Civil onde os particulares se relacionam com os outros e disp em com ampla li#erdade, com grande autonomia% A autonomia é tanta ue a maioria das normas do Direito Civil s"o supletiva o#rigam as partes, servem apenas para completar os contratos em caso de lacunas 8 Além disso, o direito patrimonial é disponível, e de regra a gente pode $a'er o #ens% A inter$er(ncia do poder p?#lico é peuena no Direito Civil, e é por isso u reali'a pro ssionalmente muitas pessoas ue se sentem su$ocadas pelo @overno, por pauiderme ue scali'a muito, tri#uta muito, multa muito, mas o$erece pouco em t nosso país sa?de, educa!"o e até seguran!a s"o servi!os ue n s precisamos pagar apesar de recolhermos tantos impostos% 5este raciocínio o Direito de Família ca deslocado, pois a maior s"o imperativas8o#rigam as partes> e os direitos s"o indisponíveis irrenunci*veis alimentos, ver ats% 11 e 1%<0<>% O pro ssional precisa de muita sensi#ilidade par inclusive veremos adiante ue alguns autores o consideram parte do Direito &?#lic &rivado% 4as no $undo o Direito de Família integra o Direito Civil e, para n"o $u e iste muita uest"o patrimonial nas rela! es $amiliares, como veremos ao longo d FA4 +A Antes de come!armos a tratar do Direito de Família em si, vamos $alar um pou Conceito/ $amília é um grupo de pessoas ligadas entre si por rela! es resultantes do casamento, da uni"o est*vel e do parentesco 8E 9 do art% GG6, CF> conceito/ - rela! es pessoais/ decorrentes do a$eto, carinho, amparo, da conviv(ncia entre matrimonial, etc% 8art% GG:, CF>% - rela! es patrimoniais/ presta!"o de alimentos 816:9>, regime de #ens entre os c usu$ruto dos pais so#re os #ens dos lhos 816H:>, etc% &erce#am ue mesmo no Dire uest"o material econômica patrimonial é importante% - casamento, uni"o est*vel e parentesco/ a $amília resulta de um destes tr(s vínc é a prote!"o ue a lei d* a um homem e a uma mulher para viverem em comunh"o e $o $amília 81=11>% A uni"o est*vel é o casamento de $ato 81<G; e E ; do GG6, CF>% . o parentes tam#ém liga as pessoas, se)a este parentesco consangIíneo, a m 8e / cunhados> o 6 do art% GG<, CF>% O#s/ marido e mulher n"o s"o parentesmas côn)uges, ligados pelo casamento,ou companheiros conviventes caso vivam em uni"o est*vel%

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Apostila de Direito de familia

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Aula 01 - Civil 6 - Direito de FamliaO Direito Civil essencialmente patrimonial, inclusive chamado por alguns como o direito dos ricos pois, realmente, toda a nossa vida, a vida de todas as pessoas, pautada por um interesse econmico, por uma conduta materialista, para a aquisio de bens e formao de um patrimnio.Perdoem-me os espiritualistas, mas eu digo sempre queningum faz nada de graae se vocs hoje esto aqui acompanhando minhas aulas porque desejam concluir o curso para arranjar um bom emprego com um bom salrio. Inclusive nas doaes existe um interesse material por trs, tanto que quando a gente d um dinheirinho pro porteiro do edifcio, a gente espera que ele nos ajude a subir a feira, que ele lave nosso carro, etc.Ento este o sentido da vida: estudar, trabalhar, se relacionar com as pessoas e com as coisas, para ganhar dinheiro e formar um patrimnio, que ser transferido a nossos filhos aps a nossa morte. disto que cuida o Direito Civil, de regulamentar a nossa vida, a vida das pessoas, de Joo, Jos e de Maria. No Direito das Obrigaes estudam-se as normas que regulam as relaes das pessoas com outras pessoas, e a maior fonte de obrigao ocontrato. No Direito Real estudam-se as normas que regulam as relaes das pessoas com as coisas, para adquirirpropriedade. Pois bem, das relaes das pessoas com outras pessoas, atravs dos contratos, e das relaes das pessoas com as coisas, adquirindo-se propriedade, vai se formando umpatrimnioao longo da vida, patrimnio que ser transferido a nossosherdeirosconforme as regras do Direito das Sucesses. Neste raciocnio ns encontramos todo o Direito Civil, exceto o Direito de Famlia. Chama-se o Direito das Obrigaes, das Coisas e das Sucesses dedireito patrimonial privado, ou seja, o vasto campo do Direito Civil onde os particulares se relacionam com os outros e dispem dos seus bens com ampla liberdade, com grande autonomia. A autonomia tanta que a maioria das normas do Direito Civil sosupletivas, ou seja, no obrigam as partes, servem apenas para completar os contratos em caso de lacunas (ex: 490, 1375). Alm disso, o direito patrimonial disponvel, e de regra a gente pode fazer o que quiser com nossos bens.A interferncia do poder pblico pequena no Direito Civil, e por isso que o Direito Civil realiza profissionalmente muitas pessoas que se sentem sufocadas pelo Governo, por um Estado paquiderme que fiscaliza muito, tributa muito, multa muito, mas oferece pouco em troca, pois em nosso pas sade, educao e at segurana so servios que ns precisamos pagar a particulares, apesar de recolhermos tantos impostos.Neste raciocnio o Direito de Famlia fica deslocado, pois a maioria das suas normas soimperativas(obrigam as partes) e os direitos soindisponveis/irrenunciveis (ex: nome, filiao, alimentos, ver ats. 11 e 1.707). O profissional precisa de muitasensibilidadepara atuar nesta rea, inclusive veremos adiante que alguns autores o consideram parte do Direito Pblico e no do Direito Privado. Mas no fundo o Direito de Famlia integra o Direito Civil e, para no fugir regra, tambm existe muita questo patrimonial nas relaes familiares, como veremos ao longo do curso.FAMLIAAntes de comearmos a tratar do Direito de Famlia em si, vamos falar um pouco da famlia. Conceito: famlia um grupo de pessoas ligadas entre si por relaes pessoais e patrimoniais resultantes do casamento, da unio estvel e do parentesco ( 4 do art. 226, CF). Comentrios ao conceito:- relaes pessoais: decorrentes do afeto, carinho, amparo, da convivncia entre familiares, da vida matrimonial, etc. (art. 229, CF).- relaes patrimoniais: prestao de alimentos (1694), regime de bens entre os cnjuges (1639), usufruto dos pais sobre os bens dos filhos (1689), etc. Percebam que mesmo no Direito de Famlia a questo material/econmica/patrimonial importante.- casamento, unio estvel e parentesco: a famlia resulta de um destes trs vnculos. O casamento a proteo que a lei d a um homem e a uma mulher para viverem em comunho e formarem uma famlia (1511). A unio estvel o casamento de fato (1723 e 3 do 226, CF). E o parentesco tambm liga as pessoas, seja este parentesco consangneo, afim (ex: cunhados) ou por adoo ( 6 do art. 227, CF).Obs: marido e mulher no so parentes mas cnjuges, ligados pelo casamento, ou companheiros/conviventes caso vivam em unio estvel.Outra obs: no se cogita de casamento entre homossexuais em nosso pas, pois o CC bem claro no 1514 e a CF no 3 do 226, que casamento e unio estvel entre homem e mulher. Uma relao homossexual deve ser regulada pelo direito obrigacional como uma sociedade, e no pelo direito de famlia.A famlia se origina assim do casamento, da unio estvel ou do parentesco, sendo a base da sociedade, a clula-me (art. 226, caput, CF). Ningum consegue ser feliz no trabalho ou no lazer se no feliz na famlia. Diz a psicologia que as pessoas sofrem mais com uma crise familiar do que com a perda da liberdade. A priso seria menos grave para o equilbrio emocional das pessoas do que viver numa famlia instvel e desestruturada. Concordam? Reflitam!Em todos os pases modernos onde eclode uma grave crise, uma guerra civil (ex: Oriente Mdio), na famlia que as pessoas vo se organizar para se proteger e sobreviver. J era assim desde a pr-histria quando as pessoas se juntavam com seus familiares. A unio de vrias famlias formam as cidades, que eram as antigas tribos. E vrias cidades formam estados e pases. Por isso a famlia a clula-me, a base da sociedade.As primeiras famlias eram matriarcais porque o pai era desconhecido. Ao longo da histria as famlias se tornaram patriarcais, predominando a autoridade e a fora do varo. Atualmente ambos os cnjuges comandam a famlia ( 5 do 226, CF, e 1631).Natureza jurdica da famlia: no pessoa fsica pois formada por vrios indivduos; tambm no pessoa jurdica porque exigiria previso em lei (art. 44). Famlia assim no tem personalidade jurdica, no podendo ser parte numa relao jurdica. E o que a famlia? Umainstituio, como diz a CF a base da sociedade (226).Aula 02 - Civil 6 - Direito de Famlia (continuao)Conceito de DF: o conjunto de normas jurdicas aplicveis s relaes entre membros de uma mesma famlia, orientado por elevado interesse moral e bem estar social.Comentrios aoconceito:- as normas do Direito de Famlia so imperativas, ou seja, so obrigatrias, no sendo meramente supletivas como no Direito Obrigacional, onde a maioria das normas apenas supre a vontade das partes em caso de lacuna no contrato. Falamos disto na aula passada.- regulam a famlia, tambm j explicamos o que uma famlia na aula passada, oriunda do casamento, da unio estvel e do parentesco. Quanto ao parentesco pode ser consangneo, afim e adotivo. Falaremos de todos estes assuntos mais adiante.- felicidade: a moral e o bem estar que predominam nas relaes familiares concentram-se hoje na busca dafelicidade, por isso que atualmente se toleram mais de um parceiro, pessoas amigadas (= unio estvel), divrcio e atcasais homossexuais. Antigamente, na poca das avs de vocs, a influncia da Igreja na famlia e no Estado era muito forte, por isso a moral era mais rigorosa. Atualmente preciso ser feliz, este desejo que predomina na sociedade.Natureza jurdica do DF: ramo do Direito Pblico ou do Direito Privado?Para alguns autores o DF integra o Direito Pblico, pois muitas de suas relaes so fiscalizadas pelo Estado atravs do Ministrio Pblico. Os Promotores de Justia praticamente no atuam no direito patrimonial privado (Obrigaes, Reais e Sucesses), mas no Direito de Famlia tem relevante funo. No art. 226 da CF, caput e 3, 7 e 8, percebemos como o Estado procura proteger a famlia. Com relao ao ptrio poder, alimentos e bem de famlia se percebe tambm a preocupao do Estado, afinal crianas sem pais, pessoas necessitadas e famlias desabrigadas vo terminar sobrecarregando os servios sociais do Governo. A lei e o Estado procuram assim evitar tais situaes, obrigando os parentes a se ajudarem mutuamente, e ainda vedando a execuo do nico imvel da famlia. Veremos todos estes institutos ao longo do curso. Alm disso, as normas do DF so imperativas e seus institutos soirrenunciveis/indisponveis(ex: filiao, 11; alimentos, 1707), por isso que se aproxima tanto do Direito Pblico.Mas para a maioria dos autores (inclusive para mim) o DF integra o Direito Privado j que regula a famlia, que no umrgo/enteestatal. Ao contrrio, a famlia uma instituio particular onde, nas palavras de Slvio Venosa, a gente nasce, vive, ama, sofre e morre. O prprio CC probe o Estado de seimiscuir/interferirnas relaes ntimas da famlia (1513).Origem: os direitos de famlia tm origem no nascimento, na adoo ou no casamento. o chamado estado familiar, ou status de solteiro, de casado, de menor, de irmo, de rfo, etc.O status d tambm o direito a usar o nome da famlia o que, em ditaduras e monarquias, garante empregos e privilgios, mas atualmente no Brasil pertencer a esta ou aquela famlia no garante nenhuma situao jurdica especfica.Caractersticas do status de famlia: a)intransmissvel: o status no se transfere, no se vende, no se negocia, depende do nascimento, adoo ou do casamento, personalssimo, e por isso que a gente no escolhe nossos pais, irmos, cunhados, etc. A gente escolhe nossos amigos e nosso cnjuge, mas estes no so nossos parentes; b)irrenuncivel: o status depende da posio familiar, no se podendo, por exemplo, renunciar ao ptrio poder para deixar de sustentar o filho; c)imprescritvel: no se perde e nem se adquire pelotempo/usucapio; o fato do aluno chamar por anos a professora de tia no cria nenhum vnculo jurdico com a mesma; d)universalidade: compreende todas as relaes jurdicas decorrentes da famlia, afinala gente parente de algumpara as coisas boas e para as coisas ruins; alm disso o status exercido perante toda a sociedade; e)indivisibilidade: o status sempre o mesmo, no se pode ser casado de dia e solteiro de noite!!!!!; f)reciprocidade: o status se integra por vnculos entre pessoas que se relacionam, ento o marido tem uma esposa, o pai tem um filho,etc.Rumos do DF neste sc. XXI: a)estatizao: o Estado tem procurado assumir papis que antigamente eram exclusivos da famlia, como a alimentao, a educao e o planejamento familiar, especialmente nas famlias mais carentes (ver CF art. 226, 7 e art. 227). Eu vou mais alm, sem ensino pblico de qualidade (a faculdade pode ser privada, mas o ensino fundamental deve ser gratuito e bom) e sem controle da natalidade nosso Brasil no vai decolar, nesse sentido o referido 7 precisa ser revisto, bem como o 2 do 1565; b)retrao: admite-se que uma me solteira e seu nico filho sejam considerados uma famlia; a famlia segmentada( 4 do 226, CF); c)dessacralizao: para a Igreja a famlia s se forma com o sacramento indissolvel do casamento, mas com o afastamento do Estado e da sociedade da Igreja, tolera-se uma famlia fora do casamento, decorrente da unio estvel ou de pessoas divorciadas; d)democratizao: at o sculo passado s o pai mandava na famlia, hoje o poder comum do pai e da me ( 5 do 226, CF), e at os filhos so ouvidos e tm absoluta prioridade educao e convivncia familiar (227, CF). Nossa Lei Maior usa algumas vezes a palavra prioridade, mas acompanhada do adjetivo absoluta apenas neste art. 227, o que revela a preocupao do Estado com os menores. Lembro a vocs que, ao longo da histria, os filhos nunca foram consideradospoisa mortalidade e a natalidade eram muito altas, mas hoje diferente (1567). O que mantem uma famlia saudvel a unio do casal e no a autoridade paterna. E sem uma famlia equilibrada a criao e educao dos filhos fica comprometida. S hereditariedade no basta, necessrio um ambiente psicolgico favorvel para a formao de um cidado.Aula 03 - Civil 6 - CasamentoRefiro-me ao casamento civil e no ao religioso. At o sc. XIX o casamento era um s, pois o catolicismo era a religio oficial do Imprio brasileiro, mas com a Repblica e a separao da Igreja do Estado, o casamento pode ser s civil ou s religioso. O Juiz s casa no civil, mas o padre/pastor pode casar no religioso com efeito civil, e este o modo mais comum de se casar ( 1 do 1516). Ento os noivos se habilitam no cartrio civil e fazem a celebrao numa igreja com exclusividade, festa, recepo, etc. Se os noivos s desejam o casamento civil, vo se submeter a casamentos coletivos e desanimados no Frum. Conceito: casamento a proteo que a lei d famlia para a unio permanente do homem com a mulher a fim de se reproduzirem, criarem os filhos e viverem juntos com fidelidade, ajudando-se mutuamente.Comentrios ao conceito:- a lei protege a famlia, base da sociedade, atravs do casamento (226, caput, CF).- o casamento permanente/duradouro: antes era perptuo/indissolvel, at que a morte separasse os cnjuges, mas atualmente existe a possibilidade de divrcio nos termos do 6 do art. 226, CF. O casamento tende a durar anos, dcadas, mas no mais indissolvel.- homem com mulher: casamento exige unio do par andrgeno, no sendo possvel casamento de homossexuais. Os 3 e 5 do art. 226 da CF deixam claro que casamento entre homem e mulher. Unio entre gays e lsbicas tratada como um contrato, uma sociedade civil, regulada pelo Direito das Obrigaes, e no pelo Direito de Famlia. Nada impede, contudo, que mudanas na sociedade e na Constituio venham a admitir no futuro casamento entre homossexuais.- reproduo: um objetivo importante do casamento, mas no essencial, tanto que a lei permite casamento entre idosos ou entre pessoas estreis, bem como no anula casamento quando os cnjuges optam em no ter filhos. O casamento apenas legaliza a relao sexual para fins de reproduo.- criao dos filhos: reproduo no essencial, mas se tiverem filhos surgir a maior obrigao para um casal que a de criar e educar os filhos.- viver junto: o casal deve coabitar, morar no mesmo teto;- fidelidade: outra obrigao dos cnjuges, honestidade, respeito, considerao e fidelidade um para com o outro.- ajuda mtua: a assistncia recproca mais uma obrigao do casal, tanto ajuda material como espiritual, na fartura como na pobreza, na sade como na doena, na alegria como na tristeza (vide art. 1566, CC).O casamento assim ir formar um vnculo jurdico entre homem e mulher, que no sero parentes um do outro, mas cnjuges ou consortes, com direitos e obrigaes (1565).Natureza jurdica: para a Igreja Catlica o casamento um sacramento, ou seja, uma prova de f juntamente com o batismo, a primeira comunho, a crisma, a confisso, etc. J para o Direito o casamento umnegcio jurdicode Direito Privado, afinal o Direito de Famlia integra o Direito Civil.O negcio jurdico uma declarao de vontade para produzir efeito jurdico, podendo ser mais livremente posto pelas partes do que previamente imposto pela lei, ou seja, o negcio pode ser informal como a maioria dos contratos (art. 107). Mas h negcios jurdicos que so solenes, sendo mais previamente impostos pela lei do que livremente postos pelas partes (ex: casamento, testamento, alienao de imvel que exige escritura pblica, etc). Casamento assim umnegcio jurdico solene, mas no o equiparo a um contrato solene, pois o casamento tem uma grande face institucional e sociolgica, alm disso precisa de uma autoridade (o Juiz) para sua celebrao e dissoluo ( = divrcio), aspectos que um contrato no possui, pois pode ser dissolvido por um distrato sem interveno estatal. Depois revisem os fatos jurdicos, assunto de Civil I, escrevi alguma coisa sobre isso no nosso e-mail. Princpios do casamento so dois: 1) o da livre unio: antigamente as esposas eram compradas ou escolhidas pelo pai do noivo, hoje predomina a felicidade, ento no se deve casar por interesse, dinheiro, ou coao, mas sim por amor. Tanto que os nubentes precisam afirmar perante o Juiz que sua vontade livre e espontnea (1538 e p). Casamento negcio puro, no admite prazo ou condio. Imaginem o Juiz perguntar Joo que casar com Maria?, e o noivo responder depende, isto no possvel. 2) princpio da monogamia: s se pode casar uma vez, salvo se vivo ou divorciado. O casamento do bgamo nulo (1521, VI c/c o 1548, II). Mesmo sem cometer bigamia, o cnjuge no pode ter outra parceira (e vice-versa) por causa do dever de fidelidade (1566, I). Adultrio e bigamia so coisas diferentes, mas ambos so proibidos. Deveres conjugais: os cnjuges tm vrios deveres que devem ser ressaltados pelo Juiz quando da celebrao. Estas obrigaes constam no art. 1566. J falamos desses deveres quando comentamos o conceito de casamento acima. O inc V no constava do cdigo velho e eu acho dispensvel, afinal respeito e considerao esto implcitos em fidelidade e mtua assistncia. A principal obrigao a de criar e educar os filhos. Direitos dos cnjuges: a) direito ao parentesco afim, de modo que o casamento leva o cnjuge a ser parente por afinidade dos parentes consangneos do outro cnjuge (1595; observem que pelo 2 sogra para sempre, mesmo com o divrcio ou a viuvez; se voc se divorciar/enviuvar pode se casar com a cunhada, mas com a sogra jamais); b) direito ao nome ( 1 do 1565, o marido se quiser pode tambm usar o sobrenome da mulher, afinal os direitos e deveres so recprocos, 1511); c) direito a dispor dos bens, de modo que o cnjuge passar a ter direitos sobre os bens do outro (1639, 1647, I, 1667); d) direito emancipao caso o noivo seja menor de 18 anos (5, p, II, 1517, 1551); e) direito sucessrio, pois com o casamento o cnjuge passa a ser herdeiro necessrio do outro (1845 veremos isso no prximo semestre). Pressupostos do casamento: a) diversidade de sexos; b) consentimento livre e inequvoco; c) competncia do celebrante (Juiz Criminal, Federal ou Trabalhista no tem competncia); d) amor!Aula 04 - Civil 6 - Habilitao ao CasamentoO casamento e o testamento so os negcios jurdicos mais solenes do Direito Civil. O casamento at mais do que o testamento, tendo em vista a importncia social do matrimnio. Alm disso, uma habilitao solene leva os noivos a refletir sobre a seriedade e as responsabilidades do casamento (1528 e 1566).As formalidades para a habilitao so aquelas do art. 1525 ao 1532, depois leiam com calma estes artigos que tratam do processo para os noivos se habilitarem ao casamento, com os documentos que precisam apresentar, os prazos de tramitao, etc. Em suma, os noivos vo ao Cartrio do Registro Civil do bairro onde qualquer deles moram, informam ao Juiz que querem se casar, pagam as taxas devidas, juntam os documentos exigidos pela lei e declaram que no possuem impedimentos. O Juiz ento ouve o Promotor de Justia (1526) e, se ningum oferecer oposio ao pedido, o Juiz marcar a data para o casamento coletivo no Frum.Se os noivos preferirem se casar na Igreja, devem marcar a data com o padre/pastor levando a habilitao civil, e depois da celebrao religiosa comunicar o casamento ao Cartrio de Registro Civil ( 1odo 1516).As taxas que os noivos pagam ao Cartrio de Registro e no ao Juiz, afinal o Juiz j recebe do Estado, porm o cartrio uma atividade particular que precisa ser remunerada (1512 vejam que a lei se refere a celebrao gratuita, feita pelo Juiz, mas a habilitao feita pelo Cartrio paga). Os pobres, contudo, esto isentos de pagar taxas (pu do 1512).Durante a habilitao para o casamento so publicados editais para dar divulgao ao desejo dos noivos (1527), e neste prazo que terceiros podem se opor, alegando por exemplo que os noivos so parentes prximos, ou um deles j casado, etc (1529). Em caso de urgncia (ex: noiva grvida, motivo de viagem), o Juiz pode dispensar os editais (p do 1527).As testemunhas do casamento podem ser parentas dos noivos (inc. III, 1525), uma exceo ao 228, V, pois entende o legislador que os parentes, por uma questo de afeto, tm interesse na felicidade do casal, e no vo nunca mentir para comprometer o bem estar dos noivos.CELEBRAO DO CASAMENTOCom os papis prontos, estando os noivos devidamente habilitados (1531), devero comparecer no dia marcado perante o Juiz de Direito (1533 em alguns estados, mas no em Pernambuco, existe um Juiz de Paz com a funo de celebrar casamentos) e o Oficial do Cartrio de Registro Civil, bem como as testemunhas e demais interessados, afinal uma cerimnia pblica (1534). Com todos de p, o Juiz pergunta se os noivos comparecem de livre vontade, ouve o sim, autoriza a troca das alianas, lembra-os da importncia da famlia e adverte-os das obrigaes do 1566. Se um dos noivos titubear e o sim no for muito seguro, a cerimnia ser suspensa (1538 e p). Estando os noivos firmes, o Juiz profere ento as palavras mgicas da parte final do 1535. Nesta hora, mesmo que falte energia ou algum sofra um ataque cardaco, o casamento ter se realizado (1514). Em seguida todos assinam o livro de registro, os noivos j com os nomes de casados ( 1odo 1565 e 1536). Se o Juiz tiver amizade com os noivos, pode celebrar o casamento fora do Frum, em alguma casa ou clube, desde que na sua Comarca, na sua jurisdio ( 1odo 1534).FORMAS ESPECIAIS DE CASAMENTO1 casamento por procurao: foi comum na poca da segunda guerra mundial, quando os noivos viajavam s pressas e no tinham tempo de se casar, ento deixavam uma procurao para um amigo dizer o sim perante o Juiz. Hoje em dia raro, s me lembro do preso que costuma casar por procurao (1542). O procurador/mandatrio pode ser de qualquer sexo, no precisa ser do sexo do mandante. Vocs sabem que o contrato de mandato no cabe para atos materiais (ex: A no pode dar uma procurao a B para fazer prova em seu lugar), igualmente no casamento por procurao o mandatrio no vai consumar nada, vai apenas realizar o ato jurdico do consentimento, e nada de atos materiais...2 casamento sob molstia grave: aplica-se quando um dos noivos, ou os dois, est muito doente (1539). Este casamento til para garantir a herana do companheiro, entre pessoas que viviam juntas mas nunca se casaram, afinal cnjuge herdeiro necessrio (1845), convivente herda bem menos (1790 veremos isso no prximo semestre, mas percebam que no d para comparar casamento com unio estvel, afinal o casamento bem mais seguro). O noivo pode estar doente, mas precisa estar mentalmente sadio.3 casamento nuncupativo (ouin extremis): ocorre quando um dos noivos, ou os dois, esto em risco de vida (ex: presos numa caverna, num navio afundando, etc, 1540). No podendo o Juiz comparecer, o casamento ser feito perante seis testemunhas que depois faro a declarao oficial no Cartrio (1541). Se o casal escapar, dever posteriormente confirmar o casamento perante o Juiz ( 5odo 1541). Estes trs casamentos especiais so polmicos e do margem a fraudes, ainda bem que so raros.SUSSEES

Aula 01 - Unicap - Direito das SucessesO Direito Civil o direito dos ricos. J disse esta frase vrias vezes ao longo do extenso curso de Direito Civil. Tanto que mesmo no contrato de doao existe um interesse econmico (confiram aula 12 de Contratos). Dinheiro tem uma importncia grande na nossa vida, especialmente na velhice quando estamos mais vulnerveis. Das crianas os pais cuidam, mas os velhos em geral so um problema nas famlias, por isso importante voc estudar e trabalhar para juntar dinheiro quando estiver idoso. justamente desta arrecadao do patrimnio que cuida o Direito Civil. No Direito das Obrigaes estudamos que as pessoas se relacionam com outras pessoas e celebramcontratosem busca de conforto e lucro. No Direito Real estudamos que as pessoas se relacionam com as coisas, ocupando-as para adquirirpropriedade. A propriedade (ou domnio) o principal Direito Real. Pois bem, ao longo das dcadas celebrando contratos e adquirindo propriedade as pessoas formam umpatrimnio, esse o sentido da vida!E para onde vai esse patrimnio quando as pessoas morrem? Para seus sucessores. da transmisso desse patrimnio que cuida o Direito das Sucesses, assunto deste semestre.Vocs conhecem o princpio jurdico mors omnia solvit (a morte acaba com tudo)? Pois bem, esse princpio se aplica ao Direito Eleitoral, Penal e de Famlia, de modo que os direitos polticos, a punibilidade, o casamento e o poder familiar se extinguem com a morte. J no Direito das Sucesses com a morte que tudo comea, pois a vida terminou, mas o patrimnio do extinto subsiste e ser transferido a seus herdeiros.Conceito: Direito das Sucesses o ramo do Direito Civil cujas normas regulam a transferncia do patrimnio do morto ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento. A palavra sucesso significa substituir uma pessoa por outra, que vai assumir suas obrigaes e adquirir seus direitos.O direito de herana garantido constitucionalmente no art. 5, XXX, bem como o direito de propriedade no art. 5, XXII. Estes dois direitos esto intimamente ligados, pois se a propriedade de bens nos fosse negada, no teramos o que deixar de herana a nossos sucessores. E se s houvesse propriedade sem herana, as pessoas deixaram de trabalhar quando estivessem ricas. Mas por saber que poderemos deixar uma herana a nossos entes queridos, as pessoas seguem trabalhando apesar de j materialmente satisfeitas, estimulando a capacidade produtiva do ser humano, em benefcio da riqueza da famlia e da sociedade como um todo. A propriedade se perpetua atravs da herana.A sucesso em direito pode ser inter vivos ou mortis causa. Da sucesso entre vivos cuida o Direito das Obrigaes (ex: Joo compra uma casa a Maria e sucede Maria na propriedade daquele bem; vide tambm cesso de crdito na aula 19 de Obrigaes). A sucesso patrimonial em decorrncia da morte ser estudada neste semestre. Mas s a sucesso da pessoa fsica, pois a sucesso da pessoa jurdica interessa ao Direito Empresarial. Lembro que a sucesso no patrimnio, ou seja, no ativo e no passivo, de modo que o herdeiro, dentro das foras da herana, deve pagar as dvidas do hereditando (943, 1.792). O herdeiro no representa o morto, no seu procurador ou advogado, mas apenas o sucede nas relaes patrimoniais.Esse patrimnio (ativo e passivo) chama-se de esplio: trata-se do conjunto de direitos e deveres do falecido; o esplio uma massa patrimonial administrada pelo inventariante (1.991) sob condomnio dos herdeiros (p do 1.791).Como dito no conceito supra, a transmisso do patrimnio ao herdeiro se d em virtude de lei ou de testamento (art 1.786); no existe herana decorrente de contrato (art. 426) salvo na hiptese da antecipao da herana do art. 2.018, comum na sucesso de empresa familiar, quando o pai idoso orienta e transfere em vida seus negcios aos filhos.So assim espcies de sucesso:a) testamentria: Se houver testamento, a sucesso testamentria predomina sobre a sucesso legtima (1.788), dentro dos limites da lei (1.789 e 1.845). A liberdade de testar no assim absoluta, pois metade dos filhos, pais e cnjuge, s a outra metade que pode ser deixada para quem o testador desejar (1.857 e 1). Quem no possui herdeiros necessrios pode testar em favor de qualquer pessoa. No importam quantos sejam os herdeiros necessrios, um ou dez, a eles cabe metade da herana. Lembro que se o testador for casado pelo regime da comunho de bens, metade de seus bens pertence ao cnjuge, mas no por herana e sim por direito prprio, face ao condomnio entre marido e mulher. Ou seja, a metade dos bens de algum casado pelo regime da comunho na verdade corresponde a 25% de seu patrimnio.A sucesso testamentria pode ainda ser a ttulo universal ou a ttulo singular; nesta teremos a figura do legatrio que recebe legado e no herana. A herana o total ou uma frao indeterminada do patrimnio do extinto (ex: 1/3, 20% da herana, etc). J o legado de coisa certa (ex: a casa da praia, o anel de brilhantes, etc). Quem sucede a titulo universal herdeiro e responde tambm por eventuais dvidas do morto, dentro dos limites da herana (1.997); herdeiro adquire o ativo e responde pelo passivo. Quem sucede a titulo singular legatrio e no responde por eventuais dvidas, porm s recebe seu legado aps verificada a solvncia da herana ( 1 do art 1.923); j o herdeiro pode logo assumir a posse dos bens do extinto (o art 1.784 no se refere a legatrios, s a herdeiros). b) legtima: prevalece a disposio da lei se algum morre sem testamento, ou se o testamento for invalidado (1.829). O legislador presume que o falecido gostaria de proteger seu cnjuge e filhos, por isso eles so os primeiros da lista. Na nossa sociedade a sucesso legtima prevalece sobre a testamentria por trs motivos: 1 ) a gente nunca acha que vai morrer; 2) fazer um testamento pode ser caro, complicado e inconveniente, veremos isso em breve; 3) se a gente morre sem testamento, a lei j beneficia nossos filhos, que so nossos entes mais queridos, ento no h com o que se preocupar! A sucesso pode ser das duas espcies se o testamento no abranger todos os bens do hereditando (1.788). A sucesso legtima sempre a ttulo universal, no havendo legado se no h testamento. J a sucesso testamentria pode ser a ttulo universal ou a singular.Observao: como dito acima, nossa sociedade no tem o hbito de testar, mas pelo novo CC de 2002 o cnjuge e os filhos esto em igualdade (1.829 e 1.845), e isso pode aumentar o nmero de testamentos. Uma coisa voc deixar seus bens para os seus filhos, como na lei velha. Outra coisa deixar para seu cnjuge em condies de igualdade com os filhos, especialmente nos casamentos desgastados pelos anos. S o tempo ir dizer se agora as pessoas mal casadas vo ter a preocupao de testar, no para excluir, mas para pelo menos diminuir o quinho do cnjuge em benefcio dos filhos. Reflitam!la 02 - Civil 7 - Unicap - Direito das Sucesses (continuao)Lembrando o conceito de Direito das Sucesses: so as normas que tratam da transmisso do patrimnio do morto a seus sucessores, em virtude da lei ou do testamento; transmite-se o patrimnio, ou seja, eventuais dvidas tambm, mas o herdeiro s paga as dvidas at o limite dos bens recebidos (1.792).Princpios do DS:1) respeito a vontade do hereditando (1.899); esse princpio reflexo do art. 112 do CC que destaca a importncia da vontade nos negcios jurdicos (vide aula 5 de Contratos). O juiz e o testamenteiro devem se valer de testemunhas ao interpretar o testamento para tentar descobrir qual seria a vontade do extinto.2) atribuio da herana a parentes ou familiares do falecido: este princpio completa o anterior, de modo que se deve obedecer vontade do extinto, mas respeitando-se o quinho dos familiares, afinal a famlia a base da sociedade (1.789, 1.845, 1 do art. 1.857).3) igualdade entre os quinhes da herana ou princpio da diviso necessria: o Direito Romano admitia a varonia e a primogenitura, de modo que os filhos homens e mais velhos herdavam mais do que os filhos mais jovens e as mulheres; atualmente existe igualdade entre os filhos (art 2.003 do CC e 6 do art 227 da CF). Porm, se algum deseja beneficiar um filho mais do que o outro pode faz-lo via testamento e suportar as conseqncias do cime entre irmos (1.849 e 2.006)Fundamento do DS: o que justifica o direito de herana? a continuidade da vida atravs do patrimnio do morto que passa para seus familiares, estimulando o trabalho de todos. Mesmo as pessoas ricas continuam trabalhando porque sabem que vo garantir o futuro de seus filhos e netos.A doutrina socialista do sc. XX criticava a herana por no beneficiar os mais capazes e sim os mais sortudos, ou seja, os filhos dos ricos, fossem eles competentes ou no, que teriam dinheiro sem ter se esforado para tanto. Seria injusto algum enriquecer sem trabalhar, por isso os filhos dos ricos seriam acomodados, e no se preocupariam em estudar, apenas em esbanjar a vida. A concluso do socialismo a de que a herana seria um estmulo preguia, pelo que ela foi proibida na antiga Unio Sovitica e os bens seguiram para o Estado...Mas a histria provou o equvoco desse regime, pois o Estado burocrata, corrupto e pssimo administrador, sendo incapaz de gerar riqueza para distribu-la; a transferncia dos bens ao Governo s aumentou a corrupo e a ineficincia; alm disso houve uma atrofia na economia, deixando as pessoas de trabalhar por saber que o fruto do seu suor no ficaria para seus filhos; era melhor desperdiar o dinheiro ganho em vida, do que deix-lo para os polticos.Realmente, a manuteno da propriedade e da herana na vida privada um estmulo ao trabalho, produo de riqueza e ao desenvolvimento scio-econmico. Se o filho por acaso no merecer o patrimnio do pai, os polticos tambm no o merecem. No mundo moderno os pases mais ricos, com melhores ndices de desenvolvimento humano, so aqueles que defendem a propriedade e a herana.Mas lembro que os pais no so obrigados a deixar bens para os filhos, ou seja, os pais idosos devem viajar, viver, gastar como quiserem, afinal no se pode dispor de herana de pessoa viva, j que os filhos sempre podem morrer antes dos pais (426 pacta corvina).Porm, com o falecimento do ascendente o filho j pode negociar seu quinho/frao da herana, doando ou vendendo a terceiros , mesmo antes da partilha (1.793; exige escritura pblica pois a herana tida como coisa imvel, 80, II). Isto porque pelo princpio da saisine o herdeiro j dono do patrimnio no momento da morte do hereditando (1.784). A partilha vem para individualizar os bens dos sucessores (2.023), mas a propriedade se transfere pela saisine sob condomnio forado a todos os herdeiros.Abertura da Sucesso com a morte de algum que a sucesso se abre e as regras do direito sucessrio sero aplicadas para a transmisso do patrimnio aos herdeiros.Pressupostos para se abrir a sucesso: 1) a morte de algum (1.785) e 2) a vocao hereditria feita pelo falecido se deixou testamento, ou feita pela lei na ausncia de declarao de ultima vontade (1.788, 1.798).Essa morte precisa ser comprovada pela Medicina Legal com a expedio da certido de bito. Excepcionalmente admite-se sucesso nas hipteses de ausncia, com muito mais formalidades, conforme visto em Civil I (arts. 22 a 39; vide ainda a morte presumida do art 7).A transmisso patrimonial automtica, ou seja, no instante aps a morte os herdeiros j so proprietrios dos bens do extinto (1.784). Este dispositivo to importante que logo o primeiro artigo do cdigo no livro das sucesses. Os franceses chamam essa regra de princpio da saisine, ento mesmo que o herdeiro nem saiba ainda da morte do hereditando, ele j ser, por uma fico jurdica, juntamente com os demais herdeiros, condmino do patrimnio do falecido.O princpio da saisine importante para que os bens do esplio no fiquem acfalos e sejam considerados coisa abandonada (ver aula 12 de Direitos Reais), ou coisa sem dono (ver aula 11 de Direitos Reais), sujeita a ocupao por terceiros. verdade que para pagamento dos impostos, de eventuais dvidas e de partilha dos bens ser necessria a abertura de inventrio (ou arrolamento, veremos essa questo processual no final do curso), mas a propriedade em si, sob condomnio, se transfere desde logo aos herdeiros, sem formalidades e sem necessidade de praticarem qualquer ato (1.791).Face saisine, se o herdeiro morre instantes aps o hereditando, ele chegou a herdar, de modo que os herdeiros do herdeiro pagaro dupla tributao, pois houve duas transmisses patrimoniais. Quando num acidente morrem pessoas da mesma famlia, a Medicina Legal tenta comprovar quem morreu primeiro, mas no sendo possvel aplica-se a regra da comorincia do art. 8.A posse dos bens da herana deve ficar com o inventariante (1.991), mas at o inventrio ser ajuizado, a posse deve ficar com o cnjuge (1.797).De qualquer modo, eventual turbao ou esbulho aos bens do esplio pode ser combatida por qualquer herdeiro na condio de possuidor indireto (p do 1.791).

Aula 03 - Civil 7 - Unicap - Aceitao e Renncia da HeranaPelo nosso conhecido princpio da saisine a transmisso do patrimnio do hereditando aos sucessores automtica (1.784), mas ningum est obrigado a aceitar a herana. Ento por uma questo de tica, orgulho, problemas pessoais com o extinto, ou para no ter que cumprir um encargo, o herdeiro pode renunciar herana.Antigamente quando o herdeiro respondia pelas dvidas do falecido alm dos limites da herana, a renncia era mais comum. Atualmente, com a limitao do art. 1.792 a renncia se tornou rara, mas pode ocorrer. Aceitao: o ato pelo qual o sucessor manifesta sua vontade de receber a herana ou o legado.Espcies:a) expressa: feita por qualquer documento escrito;b) tcita: esta espcie a mais comum e o sucessor assume comportamentos tpicos de herdeiro (1.805), por exemplo: pedir ao Juiz para abrir o inventrio, nomear advogado para tratar dos documentos do morto, alienar seus direitos hereditrios, pagar o imposto de transmisso, etc. No significa aceitar a herana comparecer missa de stimo dia ou alimentar o cachorro do extinto ( 1 do 1.805);c) presumida: nesta ltima espcie um terceiro interessado fora o herdeiro a se manifestar se vai aceitar ou no (1.807), ex: um credor do herdeiro, ao tomar conhecimento da morte do pai dele, exige que o herdeiro se manifeste para que o credor, se for o caso, aceite a herana no lugar do herdeiro e possa satisfazer seu crdito (1.813); o silncio do herdeiro implica em aceitao da herana.Natureza jurdica da aceitao: negcio jurdico unilateral (depende da vontade do herdeiro) e puro (a aceitao simples), ou seja, por uma questo de segurana jurdica no pode o herdeiro impor condies, afinal a herana um todo universal, 1.808 e 91; ex: vedado s aceitar a herana se no tiver que pagar os impostos sobre os bens. Em sendo a sucesso testamentria e uma mesma pessoa ser herdeira e legatria, pode aceitar a herana e renunciar ao legado, e vice-versa ( 1 do 1.808). Ressalto que a aquisio dos bens no se d com a aceitao, mas pela saisine, e uma vez aceita a herana, no cabe retratao (1.804).Cesso dos direitos hereditrios: aberta a sucesso, mesmo antes de concluir o inventrio, o herdeiro j pode ceder seu quinho aos demais herdeiros sem importar em aceitao, mas tal transmisso deve ser gratuita ( 2 do 1.805), pois se o herdeiro aliena seu quinho a terceiros na verdade estar aceitando e depois transmitindo, sujeitando tal transao dupla tributao imposta pela Fazenda Estadual (1.793). Essaaceitao + cessochama-se de renncia in favorem, ou renncia translativa pois o herdeiro est especificamente beneficiando algum. A renncia simples aquela do 2 do 1.805.A cesso dos direitos hereditrios pode ser gratuita ou onerosa, de todo ou de parte do quinho da herana. O que se transfere no a qualidade de herdeiro, mas os direitos patrimoniais desse herdeiro. No se pode ceder bem determinado, pois quem herda um quinho no sabe exatamente o que integra essa frao do patrimnio do morto ( 2 do 1.793). S aps a partilha que se pode alienar coisa individualizada. Todavia, antes de ceder o quinho onerosamente a terceiros, deve o herdeiro oferecer aos demais co-herdeiros (1.795) at para facilitar a extino do condomnio (p do 1.791, ex: Joo morre e deixa dois filhos, se um filho vender seu quinho ao irmo no haver sequer necessidade de partilha, simplifica tudo).Aceitao pelos sucessores: pode ocorrer do herdeiro morrer antes de aceitar a herana, ento o herdeiro do herdeiro vai ter esse direito (1.809). Nada impede que o neto aceite a herana do pai mas renuncie do av (p do 1.809).Renncia da herana: a aceitao mais simples, de modo que a renncia exige mais formalidades, tratando-se de ato solene pelo qual o herdeiro abdica herana. A renncia exige forma escrita, e no qualquer escrito como na aceitao, mas documento pblico perante o Tabelio ou o Juiz (1.806). A renncia rara, pois quando o sucessor no deseja a herana ele simplesmente cede seu quinho aos demais herdeiros ( 2 do 1.805). A renncia tambm no pode estar sujeita a condies (1.808). O herdeiro casado no tem legitimidade para renunciar sem outorga do cnjuge (80, II e 1.647, I). O incapaz tambm no pode renunciar (104, I). O herdeiro insolvente que renuncia herana para prejudicar seus credores comete fraude, mas se o herdeiro tem bens para pagar seus credores pode renunciar sem problemas (1.813). No se pode renunciar a herana de pessoa viva, afinal nunca se sabe quem vai morrer primeiro. Como a aceitao, a renncia tambm irretratvel.Efeitos da renncia:1) efeito retroativo: a renncia retroage ao dia da morte do hereditando, de modo que o renunciante considerado como se nunca tivesse sido chamado sucesso.2) os filhos do renunciante no herdam em seu lugar: os filhos do renunciante no podero aceitar a herana do av no lugar do pai, passando os bens para seus tios e primos (1.811). Diferente da renncia se o pai tivesse morrido aps o av, ento os netos, por representao, seriam chamados a suceder. Para os netos herdarem do av, melhor o pai morrer do que renunciar, pois o renunciante tido pela lei como inexistente. A representao um instituto de Direito Cannico que visa proteger a famlia, sendo razovel que os netos herdem do av no lugar do pai pr-morto. Veremos mais detalhes de direito de representao em breve.3) o renunciante pode representar o hereditando na sucesso de terceiros (ex: Joo renuncia a herana de seu pai, mas pode representar o pai na herana do av, 1856).Na sucesso legitima a parte do renunciante vai para seus irmos, e no para seus filhos; se o renunciante no tiver irmos, transfere-se a herana para seus filhos mas no por direito de representao e sim por direito prprio (1.810).Na sucesso testamentria a parte do renunciante vai para o substituto previsto no testamento (1.947), mas testamento j raro, mais raro ainda o testador nomear um substituto, ento o comum o quinho do renunciante ir para os herdeiros conforme a sucesso legtima (1.829).Aula 04 - Civil 7 - Unicap - Herana Jacente e VacanteChama-se de jacente a herana quando no se conhecem os herdeiros que possam dela cuidar, assim o Juiz, para evitar a runa desses bens, nomeia um curador para arrecadar e administrar os bens do falecido (1.819). Concludo o inventrio sem o surgimento de herdeiros, a herana se torna vacante e os bens passam para o municpio (1.823 e 1.844).A jacncia uma fase provisria que culmina ou com a entrega dos bens aos herdeiros que vierem a surgir, ou com a declarao da vacncia e a transferncia ao Poder Pblico.Inicialmente os bens so transferidos ao municpio sob propriedade resolvel (vide aula 8 de Direitos Reais), mas aps cinco essa propriedade se torna plena, e nenhum herdeiro poder mais exigi-los (1.822). Esses cinco anos comeam a correr da declarao de vacncia da herana (1.820). Concludo o inventrio, qualquer discusso futura ser feita contra a Fazenda Municipal (1.158 do CPC).Indignidade e DeserdaoEstes institutos so diferentes, mas merecem ser estudados em conjunto pois tm o mesmo efeito.A regra geral a de que todos podem suceder (1.798, animais no podem herdar!), inclusive uma empresa pode suceder uma pessoa fsica (1.799, II). A exceo a essa regra so os casos de indignidade e deserdao.Em suma, para suceder basta estar vivo, ter legitimidade e no ser indigno/deserdado. Os casos de falta de legitimidade so aqueles do art 1.801 e 1.802. Os casos de indignidade e deserdao veremos agora.Indignidade: a privao do direito de suceder algum por t-lo ofendido ou a seus familiares (1.814). O indigno no tem afeto e nem solidariedade pelo extinto, pelo que sofre esta pena civil.Esse artigo exaustivo, no exemplificativo, de modo que no h outros casos de indignidade fora esses. Observem que o homicdio do 1814, I, s o doloso, o culposo no. O menor pode ser indigno, embora menor seja inimputvel, por isso indigno quem comete o fato, mesmo que no seja criminalmente culpado, at porque a responsabilidade civil independente da penal (935, vide artigo no site sobre Responsabilidade Civil). No inciso III vemos um caso de indignidade aps a morte do hereditando (ex: filho esconde o testamento que beneficiava um primo para herdar tudo sozinho).Caractersticas e efeitos da indignidade (obs: de regra estes efeitos soex tunc, ou seja, desde ento, retroagindo ao momento da abertura da sucesso):1 no automtica, precisando de sentena transitada em julgado (1.815 e p).2 o indigno fica obrigado a devolver os frutos da herana que porventura tenha auferido (p do 1.817), pois pelo princpio da saisine o herdeiro se tornou dono imediatamente aps a morte do hereditando; com a sentena de indignidade, que pode levar alguns anos para ser proferida, o indigno ter que devolver os frutos (ex: as crias dos animais da fazenda herdada).3 os efeitos da indignidade so pessoais, s atinge o herdeiro, at porque, tratando-se de uma pena, no pode ultrapassar a pessoa do infrator; assim os filhos do indigno recebero a herana face ao direito de representao (1.816); porm o indigno no poder fruir destes bens (p do 1.816 e 1.689). Lembro que para os filhos do excludo melhor a indignidade do que a renncia (1.811).4 este quarto efeito no ex tunc, mas ex nunc (a partir de agora), no retroagindo: so vlidas as alienaes onerosas feitas pelo indigno antes da sentena a terceiro de boa-f (1.817). Assim, no conflito entre a propriedade dos demais herdeiros e a boa-f do terceiro adquirente, o legislador optou por esta, por uma questo de segurana jurdica. De qualquer modo os demais herdeiros exigiro do indigno o equivalente, medianteao pessoal de perdas e danos. No cabe aos demais herdeirosao real sobre a coisavendida, no havendo direito de seqela sobre a coisa alienada ao terceiro de boa-f. Mas se a alienao foi gratuita ( = doao) cabe direito de seqela, afinal o terceiro no vai perder nada, vai apenas deixar de ganhar.Reabilitao do indigno: trata-se do perdo do indigno, podendo ser feita expressamente pelo hereditando (1.818). A reabilitao pode ser tcita nos termos do p.Deserdao: o efeito o mesmo da indignidade, punir quem ofendeu o extinto, pois o deserdado fica tambm excludo da sucesso. Vejamos as diferenas:1 - a indignidade vem prevista em lei como avontade presumidado extinto, atingindo qualquer herdeiro, j a deserdao declarada em testamento, avontade realdo falecido, e s atinge herdeiros necessrios (1.961, 1.845).2 - s vamos encontrar deserdao na sucesso testamentria (1.964), j a indignidade pode ocorrer tanto na sucesso testamentria como na legtima.3 os casos de deserdao, alm do conhecido 1.814, esto no 1962 e 1.963Herdeiro aparente: aquele que parece mas no . aquele que est na condio de herdeiro mas que, por um fato novo, deixa de s-lo. Conceito: herdeiro aparente o que, no sendo titular de direito sucessrio, tido como legtimo dono da herana por causa de erro invencvel. Ex: algum morre sem mulher e filhos, ento seus bens vo para um irmo; porm depois aparece um filho desconhecido do extinto que prova sua condio mediante exame de DNA; ter o irmo do extinto que entregar os bens recebidos para este seu sobrinho. E se o herdeiro aparente vendeu os bens recebidos? A soluo a mesma do item 4 acima, conforme p do 1.827.Aula 05 - Civil 7 - Unicap - Sucesso LegtimaConforme dito na aula 1, so duas as espcies de sucesso:a legtima e a testamentria. Nosso legislador disciplinou em maior nmero de artigos a sucesso testamentria, porm a sucesso legtima a mais freqente na sociedade, vamos conhec-la primeiro: Conceito: a sucesso legtima quando, na falta de testamento, defere-se o patrimnio do morto a seus herdeirosnecessrios e facultativos, convocados conforme relao preferencial da lei. Se houver testamento mas no abranger todos os bens, a sucesso legtima tambm ser aplicada (1.788).Esta relao preferencial da lei tem o nome devocao hereditriae beneficia os parentes prximos, por presumir o legislador que os familiares so as pessoas mais queridas do extinto (1.829). Na ordem natural das afeioes familiares o amor primeiro desce, em seguida sobe e depois se espalha.Os primeiros a herdar so os filhos e o cnjuge; se no houver filhos e cnjuge chamam-se os pais do extinto; estes so osherdeiros necessrios(1.845); finalmente convocam-se osherdeiros facultativos, que so os parentes colaterais irmos, tios, sobrinhos e primos at o quarto grau (revisem Parentesco, 1.594, 1.839). A companheira tambm herda, mas em situao inferior a da cnjuge, veremos isso na prxima aula, mas j tenham certeza que unio estvel menos do que casamento. E concubinato menos do que unio estvel (1.801, III e 1.727). E namoro menos do que concubinato. Concubina e namorada nada herdam.Se o hereditando no tiver cnjuge/companheiro ou sequer um parente de quarto grau, seus bens vo para o Municpio (1.844)Classes da vocao hereditria:a) descendentes: filhos, netos, bisnetos, etc., no tem limite, os mais prximos excluindo os mais remotos;b) ascendentes: pais, avs, bisavs, sem limite, os mais prximos excluindo os mais remotos;c) cnjuge: elevado pelo cdigo de 2002 condio de herdeiro necessrio, sendo chamado a suceder junto com os filhos (1829, I, falaremos mais da sucesso do cnjuge na prxima aula, mas confiram no site uma notcia de fev/2008 com o titulo dilogo sobre regime de bens).d) colaterais: s at o quarto grau, e os mais prximos (irmos) excluem os mais remotos (primos, 1.840).e) o Municpio: o poder pblico no herdeiro, ele chamado diante da ausncia de parentes, a fim de que os bens do falecido no se deteriorem (1.844).Regras da sucesso legtima para a vocao hereditria:a) s se convoca uma classe nova quando no h herdeiros na classe precedente, ento, por exemplo, no se convocam os ascendentes se h descendentes (1.836 e 1.838).b) na mesma classe os mais prximos excluem os mais remotos (1.833, ento no se chama o neto se existe filho, no se chama o av se existe pai, 1 do 1.836), salvo odireito de representaoque veremos abaixo.Modos da sucesso legtima:a) Direito Prprio: sucede-se por direito prprio quando se herdeiro da classe chamada, ento o filho herda do pai por direito prprio.b) Direito de Representao: sucede-se por direito de representao quando se toma o lugar de herdeiro pr-morto (1.851) ou indigno da classe chamada (1.816); ex: o filho morre antes do pai, ento o neto herda direto do av, representando o pai pr-morto. O dir. de representao tem origem no Direito Cannico e se justifica para proteger a famlia, trazendo herana o filho do herdeiro pr-morto ou indigno, equilibrando o patrimnio entre os descendentes (1.855). No justo que um neto no herde do av apenas porque seu pai morreu primeiro (1.854). Lembro que o filho do herdeiro renunciante no pode representar o pai (1.811). A representao exclusiva da sucesso legtima (o art. 1.851 usa a expresso a lei), pois na sucesso testamentria se o herdeiro morre, o legado ou herana no vai para seus filhos, mas sim volta ao esplio para beneficiar os herdeiros legtimos. S h representao na linha descendente em qualquer grau (1.852) ou na linha colateral at o terceiro grau (1.853, ex: Joo morre sem mulher, descendentes e ascendentes, ento sua herana vai para seus irmos; se um dos irmos j tiver morrido, seus filhos, sobrinhos de Joo, herdaro por direito de representao, 1.840)c) Direito de Transmisso: esse modo interessa Fazenda Estadual para fins tributrios, assim sucede-se por direito de transmisso quando se substitui o herdeiro pertencente classe chamada, depois da abertura da sucesso e ainda antes da concluso do inventrio (1.796); ex: Joo morre e durante o inventrio seu filho morre tambm, ento os netos viro suceder o pai e o av Joo, pagando dois impostos de transmisso (= bi-tributao), pois pelo princpio da saisine o patrimnio de Joo chegou a pertencer a seu filho antes de ir para os netos.Formas de partilha:a) por cabea: d-se em partes iguais entre herdeiros da mesma classe, ex: Joo morre e seus trs filhos vo herdar por direito prprio e por cabea 33% do patrimnio de Joo, por serem seus parentes mais prximos.b) por estirpe: herda-se por estirpe para os que sucedem em graus diversos por direito de representao, ex: Joo morre e tem um filho pr-morto que deixou dois netos, ento seus dois filhos vivos vo herdar por direito prprio e por cabea 33% do patrimnio de Joo, enquanto cada um de seus netos vai herdar por direito de representao e por estirpe 16,5% desse patrimnio (1.835). Aqueles que descendem por estirpe esto representando algum.c) por linhas: a partilha por linhas s ocorre quando so chamados os ascendentes, ex: Joo morre sem descendentes e cnjuge, seus pais igualmente j morreram, mas a av paterna est viva, e o av e a av materna tambm. Ento caber metade av paterna e metade aos outros dois avs maternos ( 1 e 2 do 1.836).Aula 06 - Civil 7 - Unicap - Sucesso do CnjugeNa sucesso legtima, por opo do legislador de 2002, o cnjuge se tornou herdeiro necessrio, sendo elevado mesma condio dos filhos e dos pais do hereditando (1.845). Antigamente o cnjuge era mero herdeiro facultativo. Esta foi uma grande inovao do Cdigo Civil e atinge os testamentos feitos antes de 2002, que tero que ser adaptados (1.787, 1.846).Ento se o hereditando casado, seu cnjuge ir herdar junto com os filhos, a depender do regime matrimonial de bens (1.829, I); ir herdar com os ascendentes se no h filhos (1.829, II); ou ir herdar sozinho se o extinto no deixou descendentes nem ascendentes (1838).Ressalto que o casal precisava estar vivendo junto na poca do falecimento, seno o cnjuge sobrevivente pode nada herdar (1.830).Esta opo do legislador em proteger mais o cnjuge tem por fundamento evitar situaes ocorridas no passado, quando o cnjuge vivo, j idoso, perdia o marido/esposa e ainda podia perder sua condio financeira, pois o patrimnio do extinto seguia apenas para os filhos.Porm, antes de prosseguirmos, preciso diferenciarmeaodeherana: quando algum enviva, a depender do regime de bens, uma parte do patrimnio do morto do sobrevivente por direito prprio e no por herana; ex: no regime da comunho parcial, que o mais comum na sociedade (1.640), metade dos bens do vivo no por herana, mas por integrar o condomnio do casal (1.658, 1.660, I). Ento, exclui-se a meao do sobrevivente e o resto herana para os herdeiros necessrios, inclusive o cnjuge!Assim o cnjuge sobrevivente, a depender do regime de bens, vai receber igual a seus filhos, ou se tiver mais de trs filhos pelo menos 25% da herana; se os filhos forem s do falecido, o cnjuge herda igual a eles, mesmo que sejam mais de trs filhos (1.832).Vejamos regime a regime:a) separao obrigatria de bens (1.641): o vivo no tem meao (1.687) e nem herana (1.829, I); s lhe cabe direito real de habitao (1.831, vide aula 7 de Reais na Coisa Alheia).b) separao convencional: o sobrevivente no tem meao (1.687) mas tem herana (1.829, I; obs: se seu cnjuge for rico, nunca se divorcie, espere enviuvar!)c) comunho parcial de bens: o vivo tem meao (1.658), mas caso se divorcie no tem direito aos bens do cnjuge (1.659, I); todavia, com a viuvez, o sobrevivente alcana estes bens por serem bens particulares do cnjuge (1.829, I, in fine). Se o falecido no deixou bens particulares o cnjuge nada herda, fica apenas com sua meao. Se o falecido s deixou bens particulares, e nada integra o patrimnio comum do casal, s haver herana e no meao.d) participao final nos aquestos: regime complicado, que pelas contradies da nossa legislao e pela sobrecarga da Justia, tem pouco uso prtico; todavia suas regras assemelham-se s da comunho parcial de bens.e) comunho universal: o vivo tem meao de tudo (1.667), ento no precisa herdar nada (1.829, I).Cnjuge concorrendo com ascendentes do hereditando: concorrendo com o sogro e a sogra o vivo ter direito a um tero da herana, independente do regime matrimonial de bens (1.829, II, 1.837, obs: cnjuge concorrendo com os avs do marido herda metade).Sucesso do Companheiro: Lembro que companheiro aquele que vive em unio estvel, sem impedimento para se casar, ento no confundam com o concubinato (1.727).O CC trata dessa questo no art. 1.790, dispositivo que est deslocado no CC, pois deveria estar perto do 1.829, dentro da sucesso legtima.O companheiro no vai herdar como o cnjuge casado, apesar do art. 1.725, face redao expressa do art. 1.790. Companheiro no herdeiro necessrio, s o cnjuge. Por essa proteo maior, o casamento uma instituio sempre forte na nossa sociedade.Morto o companheiro, o sobrevivente tem a meao mais a herana apenas sobre osbens adquiridos onerosamentedurante a unio estvel, no se beneficiando dos bens adquiridos gratuitamente (ex: doao ou herana do sogro).Concorrendo com filhos, o companheiro herda conforme incisos I e II do 1.790.Concorrendo com ascendentes ou colaterais at o 4 grau, o sobrevivente recebe a meao dos bens adquiridos onerosamente durante a unio estvel, e mais um tero da outra metade, ficando os parentes com os dois teros dessa metade, e mais todos os bens adquiridos fora da unio, e os bens gratuitos adquiridos dentro ou fora da unio (1.790, III).Se no houver nenhum parente, o companheiro no herda tudo, mas apenas os bens adquiridos onerosamente (vide caput do 1.790), indo para o Municpio o restante dos bens gratuitos e os onerosos de fora da unio estvel. Essa redao lamentvel da lei exclui uma pessoa de laos afetivos com o extinto em beneficio do poder publico...Consultem tambm as leis 8.971/94 e 9.278/96 que fazem referncia sucesso do companheiro.Sucesso dos colaterais: os colaterais no so herdeiros necessrios, e vo herdar quando no h descendentes, ascendentes e nem cnjuge. Se houver testamento, os colaterais podem ser totalmente excludos (1.850).Os mais prximos excluem os mais remotos, e o parente colateral mais prximo o irmo em 2 grau (revisem Parentesco em Direito de Famlia). Se o irmo for germano, ou seja, filho do mesmo pai e da mesma me do extinto, herdar o dobro do que eventual irmo unilateral (1.841).No havendo irmos, herdam os parentes em terceiro grau, prevalecendo os sobrinhos sobre os tios, por serem aqueles em geral mais jovens, a doutrina do sangue novo, presumindo-se que os sobrinhos vo viver mais tempo do que os tios do hereditando (1.843).Finalmente, no havendo parentes em 2 ou 3 grau, so chamados os tios- avs, sobrinhos-netos e primos, parentes em 4 grau do extinto, herdando todos igualmente.Sucesso do Municpio: No havendo parente algum, a herana vai para o Municpio (1.844). Todavia o poder pblico no herdeiro, ele chamado diante da ausncia de parentes, a fim de que os bens do falecido no se deteriorem; o princpio da saisine no se aplica ao Municpio, pois preciso aguardar a sentena de vacncia (1.820).Aula 07 - Civil 7 - Unicap - Sucesso TestamentriaConceito de Direito das Sucesses: o ramo do Direito Civil cujas normas regulam a transferncia do patrimnio do morto ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento. J estudamos a transmisso decorrente da lei, vamos agora conhecer a 2 espcie, que a sucesso testamentria:Lembro que, embora a sucesso legitima predomine na sociedade, nosso legislador regulamentou em maior numero de artigos a sucesso testamentria.A sucesso testamentria conduzida pelo testamento, sendo um principio de direito sucessrio o respeito vontade do extinto (vide aula 2). O testamento pode contemplar herdeiros, que sucedem a ttulo universal, e legatrios, que sucedem a ttulo singular (vide aula 1).Conceito de testamento:negcio jurdico solenepelo qual algum,nos termos da lei, dispe de seusbens,no todo ou em parte, para depois de sua morte (1.857).Digo negcio jurdico pois se trata de uma declarao de vontade que produz efeito jurdico; digo solene pois testamento no pode ser verbal, mas sim escrito, conforme espcies e formalidades previstas em lei.A liberdade de testar grande, mas a lei impe um limite em respeito famlia e aos herdeiros necessrios ( 1 do 1.857 e 1.846).Via de regra as disposies testamentrias so patrimoniais, versam sobre os bens do extinto, mas o testamento pode conter clusulas extra-patrimoniais, como por exemplo o reconhecimento de um filho ( 2 do 1.857, 1.609, III), a nomeao de um tutor para um filho menor (1.634, IV) ou determinaes sobre seu funeral.Caractersticas:- o testamento revogvel, pois o seu autor pode se arrepender, demorar a morrer, e querer mudar alguma disposio, ento a liberdade de revogar a mesma de testar (1.858). Inclusive no se admite renncia ao direito de revogar o testamento, at porque o testamento s produz efeito aps a morte do seu autor.- imprescritvel: um adolescente de 16 anos j pode testar (p do 1.860), ento mesmo que ele s venha a morrer aos noventa anos, se no for revogado seu testamento continua vlido embora redigido h 74 anos! E por que a capacidade de testar foi reduzida dos 18 para os 16 anos? Porque o testamento s produz efeitos aps a morte, ento se o testamento prejudicar o adolescente, ele j morreu mesmo.- testamento ato pessoal: s o hereditando pode testar, de modo individual e exclusivo, no se admitindo testamento por procurao (1.858). Um advogado/contador pode ajudar a redigir, mas o testador tem que estar presente. Tambm no se admite testamento feito por duas pessoas, inclusive para facilitar a mudana ou a revogao do ato (1.863).- testamento ato unilateral quanto s partes porque se forma apenas pela vontade do testador, independentemente da aceitao do herdeiro. Diz-se tambm unilateral quanto aos efeitos, semelhante a uma doao, pois no existe contraprestao, no existe vantagem para o testador, at porque ele j morreu quando o testamento passa a produzir efeitos. Todavia, semelhante s doaes, admite-se encargo nos testamentos (vide aula 13 de Contratos), mas o encargo no pode ser grande a ponto de criar uma obrigao excessiva para o herdeiro ou legatrio, podendo o Juiz reduzir o encargo exagerado.Capacidade para testar: como todo negcio jurdico, o testamento deve atender ao art. 104 do CC.Ento quem pode testar? Qualquer pessoa fsica desde que lcida e maior de 16 anos (1.860 e p). Pessoa jurdica no pode testar porque no est sujeita a morte, e sua extino ou falncia interessa ao Direito Empresarial. Se o testador enlouquecer aps redigir o ato, o testamento vlido (1.861). Testamento feito por incapaz nulo, e a nulidade para sempre (166, I e 169; depois revisemanulabilidadeque menos grave do que anulidade). Porm alguns autores acham que a nulidade pode prescrever, ou seja, mesmo o ato nulo pode produzir efeitos, por isso existe um prazo de cinco anos do art. 1.859, c/c o art. 1.126 do CPC. Reflitam! Quem pode adquirir por testamento? Quem pode ser institudo herdeiro e designado legatrio? De regra todas as pessoas, fsicas ou jurdicas (1.799, II e III). Animais no podem ser herdeiros ou legatrios, mas podem ser encargos (ex: deixo minha herana para Joo com o nus de cuidar do meu cachorro; leiam Quincas Borba de Machado de Assis). Pessoas no concebidas at a morte do testador no podem tambm adquirir por testamento (1.798), salvo as hipteses defideicomissoque veremos em breve (1.799, I e 1.925). Tambm no podem ser nomeadas herdeiras e legatrias aquelas pessoas semlegitimidadedo art. 1.801. A legitimidade um freio da capacidade, ento tais pessoas do 1.801 no so incapazes, apenas lhes faltam autorizao para herdar por razes morais e ticas. O deserdado tambm excludo da sucesso, veremosdeserdaoem breve.

Aula 08 - Civil 7 - Unicap - Formas de testamentoSo vrias as formas e espcies de testamento previstas em lei, cada uma com suas vantagens e desvantagens, pelo que a orientao do advogado ou do tabelio essencial para, caso a caso, verificar qual a melhor opo para seu cliente.Os testamentos tm formalidades exigidas pelo legislador por uma questo de segurana a fim de garantir a autenticidade do ato, a espontaneidade da manifestao e a sanidade do declarante, preservando a vontade do extinto. No se podem misturar as espcies, ou seja, preciso escolher uma delas e atender s exigncias da lei, vejamos: 1 testamento ordinrio: este pode ser usado pelas pessoas capazes em qualquer condio, e se divide em pblico, cerrado e particular (1.862);2 testamento especial: somente permitido a determinadas pessoas em situaes peculiares, e se divide em martimo, militar e aeronutico (1.886);3 codicilo;Comeando por este ltimo, o codicilo um testamentozinho, uma carta, um pequeno registro deixado pelo extinto, com poucas formalidades e tratando de bens de pequeno valor (1.881) da nomeao de testamenteiro ( a pessoa que vai cumprir o testamento, 1976 e 1.883), do reconhecimento de um filho, da deserdao de outro filho, do perdo do indigno (1.818, sublinhem ato autntico), ou finalmente da encomenda de missas (1.998). As expresses pouca monta e pouco valor referidas no art 1.881 so relativas e dependem, claro, do tamanho da herana, a ser examinado pelo juiz, em geral cerca de 10% do patrimnio do extinto. Um testamento pode revogar um codicilo, mas o contrrio no.Testamento ordinrio1 pblico: feito por qualquer tabelio do cartrio de notas do pas e anotado em livro prprio (1.864). Esta espcie mais segura contra destruio, extravio ou modificao pois consta do livro pblico do cartrio. Outra vantagem porque tal espcie redigida pelo tabelio, ou seja, profissional habilitado, com f pblica e experincia, que dificilmente vai errar e causar nulidade ao testamento. Por ter que ser lido em voz alta, esta espcie recomendada para os analfabetos, surdos e cegos (1.867). Desvantagens: pago, tem um custo j que o cartrio cobra para redigir o testamento; aberto, ou seja, todos podem ficar sabendo seu contedo, provocando cimes e frustraes de quem no foi contemplado, estando o testador ainda vivo.2 cerrado: conhecido como secreto ou mstico. Ao contrrio do pblico, no ditado pelo testador para o tabelio digitar, mas sim entregue j escrito ao tabelio paraaprov-lo. Essa aprovao aquela do art. 1.869, ou seja, um termo onde o tabelio confirma se tratar aquele documento da vontade autntica do hereditando. Sua maior vantagem o sigilo, afinal s o testador conhece seu teor. Sua desvantagem a possibilidade de extravio, pois o documento entregue ao testador que no mais estar vivo para dizer onde ele se encontra quando o testamento precisar ser aberto (1.874). Analfabetos e cegos no pode usar esta espcie, mas os surdos e mudos sim, desde que saibam ler (1.872).3 particular: a mais rpida, simples e fcil espcie de testamento, dispensando at o tabelio. aberto (1.876). O testador precisa ter algum conhecimento jurdico para no cometer ilegalidades que venham a anular o ato. No se esqueam de datar o testamento. Outra desvantagem que ele pode ser extraviado ou falsificado, j que no tem a interveno do cartorrio. Mais uma desvantagem: as testemunhas precisam sobreviver ao testador para confirmar a autenticidade do documento perante o juiz (1.878).3.1 testamento particular excepcional: admitido em situaes emergenciais de risco iminente de perder a vida, no havendo testemunhas disponveis, como num desastre, naufrgio, seqestro, preso numa caverna, dentro de um avio caindo, etc. (1.879). Tem que ser manuscrito. A doutrina o critica pois fcil de ser fraudado. Cabe ao juiz aceit-lo ou no.Testamento especialOs testamentos especiais so mais simples e fceis de fazer do que os testamentos ordinrios, com menos solenidades. Porm eles no so de livre escolha do cidado, s podendo o testador optar por eles se estiver numa situao especial. Outra caracterstica a de que os testamentos especiais prescrevem, ou seja, tm prazo de eficcia e precisam ser confirmados. J o testamento ordinrio pode ser celebrado por algum com 16 anos, e mesmo que s venha a morrer aos 90 anos, o documento ainda estar vlido aps 74 anos. Vejamos as espcies de testamento especial:1 martimo: para aqueles que esto com medo de morrer em alto-mar. Curioso que temos a vida toda para testar, vamos nos preocupar com isso logo quando entramos num navio? Inclusive porque as viagens martimas no so mais to longas, e mesmo a bordo temos telefone e internet (1.892). Bom, caso necessrio o comandante vai corresponder ao tabelio do cartrio de notas (1.888). Esse testamento precisa ser confirmado quando terminar a viagem, sob pena de caducidade (1.891).2 aeronutico: essa espcie no se justifica, pois em vos normais no h necessidade, podendo o testador aguardar algumas horas at o desembarque (1.889); e se o avio estiver em perigo, aplica-se o testamento particular excepcional acima. Talvez o legislador esteja pensando nas viagens espaciais, quando ficaremos anos viajando entre as estrelas... Ou ento para algum que passe mal dentro do avio e ache que vai morrer antes do pouso... Bom, reflitam!3 militar: feito por militares, mdicos, engenheiros, padres, reprteres, refns e prisioneiros em poca de guerra, em combate ou em cidades cercadas (1.893). Tal ato caduca caso no confirmado trs meses aps o testador deixar a zona de guerra, ou cessarem os combates (1.895).3.1 - o testamento militar admite a espcie nuncupativa, ou seja in extremis quando o militar ferido, agonizante, confia sua vontade oralmente a duas testemunhas... Depois as testemunhas tero que escrever o que ouviram do moribundo e entregar o documento ao comandante do batalho. Tal espcie muito fcil de ser fraudada, pelo menos rarssima (1.896).

Aula 09 - Civil 7 - Unicap - Disposies TestamentriasVamos comear a tratar do contedo interno do testamento. Estas disposies so as clusulas do testamento onde o falecido d destino a seus bens, instituindo herdeiros e legatrios. Nosso legislador do Cdigo Civil tenta ajudar o juiz e os herdeiros a interpretar, explicar e aplicar as clusulas do testamento.Regras gerais:- o que no estiver no testamento no tem validade, assim no adianta o nome do herdeiro constar de uma escritura pblica, de uma procurao, de uma declarao perante um juiz, etc., se no estiver no testamento.-a designao de legatrio sempre expressa, mas o herdeiro pode ser tcito (1.906, 1.966, 1.788)-o testamento pode ter clusulas extra-patrimoniais como j dito na aula 7 (ex: art. 14 e p).-respeito vontade do falecido (arts. 112 e 1.899); nos arts. 1.902 e 1.903 o legislador presume em regras detalhistas qual seria a vontade do extinto. - na dvida os sucessores herdam por igual (1.904).

Espcies de disposies:- simples: a clusula pura, sem imposio de qualquer condio ou restrio, possuindo eficcia imediata face ao princpio da saisine (ex: deixo 10% de meus bens para meu amigo Joo, 1.897). A legtima do herdeiro necessrio deve sempre ser simples.- condicional: depende de evento futuro e incerto (ex: deixo minha biblioteca para minha sobrinha se ela se formar em Direito; trata-se do direito eventual a um legado condicionado a acontecimento futuro e incerto; se a sobrinha morrer antes de se formar no ter herdado nada).- a termo ou prazo: uma disposio a termo, com prazo, s vale para legatrios (1.924), pois para herdeiros nula (1.898; ex: no se pode nomear algum seu herdeiro por dez anos, pois uma vez herdeiro, sempre herdeiro, mas um legado pode ser por prazo certo); enquanto a condio ou o termo no chegam, os bens ficam com os herdeiros legtimos; o nico caso de prazo para o herdeiro nofideicomisso, que veremos em breve; lembro que se um herdeiro for nomeado a prazo, fora dos casos de fideicomisso, esse prazo no ser considerado e a herana ser tida como simples.- modal: a clusula que tem encargo ou nus, ou seja, possui uma pequena contraprestao a ser cumprida pelo sucessor (ex: Quincas Borba); o encargo imposto nas liberalidades como nas doaes e testamentos. O descumprimento do encargo pode levar o herdeiro legtimo a pedir a anulao da herana a fim de benefici-lo. Condies e encargos ilcitos e imorais so nulos. Veja mais encargo na aula 13 de Contratos (1.938). A legtima do herdeiro necessrio no se sujeita a condio ou encargo.- motivada: o testador indica as razes pelas quais est beneficiando aquela pessoa (1.897, in fine). Tal motivao dispensada pela lei, o testador indica se quiser, porm eventual motivao equivocada pode anular a clusula testamentria (art. 140).Clusula de inalienabilidade (CI):O saudoso Orlando Gomes chama com razo essa clusula de anacrnica, violenta, polmica e antiptica. Trata-se de uma clusula restritiva que implica tambm em impenhorabilidade e incomunicabilidade, ou seja, se o testador deixar seus bens com essa clusula, tais bens no podero ser vendidos ou doados pelo herdeiro (inalienveis), no podero ser tomados pelo credor do herdeiro (impenhorveis), e nem se transmitiro ao cnjuge do herdeiro (incomunicabilidade, 1.911).Conceito: um meio de gravar o prprio bem em relao a terceiro beneficirio, que no poder dispor dele, gratuita ou onerosamente, recebendo-o apenas para us-lo e fru-lo.A CI no pode ser imposta aos bens do testador, pois no podemos gravar os nossos prprios bens, mas apenas os bens que transferimos a terceiros por doao ou herana. A CI no obrigatria, mas uma vez presente no testamento a propriedade sobre os bens herdados ou legados fica limitada. A CI dura no mximo uma gerao, ento no atinge os filhos do herdeiro. O herdeiro ou legatrio poder usar, alugar e emprestar estes bens, mas no poder vend-los, ou seja, tais bens ficaro fora do comrcio.Sub-rogao: excepcionalmente o juiz pode autorizar a venda, mas o produto da alienao continuar gravado ( 2 do 1.848 e p do 1.911). Assim trocada a coisa, o novo bem fica sub-rogado na inalienabilidade imposta pelo extinto. O art. 1.109 do CPC d muito poder ao juiz, mas preciso usar essa fora com razoabilidade.Pode a CI incidir sobre os bens da legtima (1.846), mas exige justa causa (1.848), cabendo os herdeiros questionar judicialmente a justia dessa causa, afinal o falecido pode estar apenas atrapalhando a vida de filhos que no pde excluir da herana. A causa deve ser clara e objetiva (ex: filho perdulrio, toxicmano), no se admitindo: deixo uma casa para meu filho com a CI pois no gosto da esposa dele...A CI precisa estar inscrita no Cartrio de Imveis para ter eficcia plena e ser de conhecimento pblico. Se os bens herdados forem mveis (ex: uma jia), a CI inoperante, pois os bens mveis, salvo os veculos, no se sujeitam a um registro organizado como os bens imveis.

Aula 10 - Civil 7 - Unicap - Clusula de Inalienabilidade (continuao)Fundamento: por que se justifica a CI?1 para respeitar a vontade do falecido, que um dos princpios do Direito das Sucesses.2 - para se criar um nus real sobre o bem herdado, protegendo herdeiros inexperientes e prdigos contra credores espertos ou um casamento ruim (1.848).Crticas: por que se condena a CI?1 porque prejudica o credor do herdeiro. O credor do falecido no se prejudica, afinal ningum pode gravar seus prprios bens com a CI. J o credor do herdeiro fica frustrado, pois o herdeiro no tinha bens para pagar sua dvida, e agora no pagar com os bens que recebeu do pai face impenhorabilidade, causando insegurana jurdica.2 premia um herdeiro incompetente, desorganizado, tolo, incapaz de cuidar de seus prprios negcios.3 limita a circulao de riquezas, viola a lei fundamental da economia poltica, por retirar um bem do comrcio.4 prejudica o genro ou nora do hereditando, qualquer que seja o regime de bens do herdeiro, face incomunicabilidade decorrente da inalienabilidade.Espcies de inalienabilidade:1)absoluta(em nenhuma hiptese o testador admite a venda) ourelativa(o extinto admite vender em alguns casos, a certas pessoas ou em certas condies previstas pelo mesmo, ex: pode vender a Joo, mas no pode a Jos; pode vender por motivo de sade, etc.);2)total(estende-se a todos os bens do testador) ouparcial(apenas sobre parte dos bens do hereditando);3)temporria(ex: durante dez anos, at o herdeiro fazer 50 anos, etc.) ouvitalcia(prazo mximo de uma gerao).Observaes: - o bem gravado com a CI no se sujeita a usucapio por terceiros para evitar fraudes;- a CI no impede a penhora do bem gravado por dvidas de tributos do prprio bem, assim pague o IPTU seno o governo toma!LegadoJ sabemos que so duas as espcies de sucesso: a testamentria (quando o falecido diz quem so seus herdeiros) e a legtima (quando na falta de testamento, a lei prescreve quem so os herdeiros).Na sucesso legtima s h herdeiros, mas na sucesso testamentria, alm de herdeiros, poderemos encontrar legatrios. J falamos disso na aula 1, mas lembro que o legatrio difere do herdeiro pois este herda uma frao a ttulo universal (ex: 10% da herana, 1/3 da herana), enquanto o legatrio sucede a ttulo singular, recebendo coisa certa (ex: uma jia, uma casa, uma cifra em dinheiro, um rebanho, um cavalo de raa, uma coleo de selos, uma loja comercial, aes, etc.).Conceito: disposio testamentria a ttulo singular pela qual o extinto deixa um ou mais objetos individualizados a qualquer pessoa, inclusive um herdeiro. Se o herdeiro tambm receber legado, ser chamado de prelegatrio (obs: o legado do herdeiro o prelegado). O herdeiro pode aceitar a herana e renunciar ao legado, e vice-versa ( 1 do 1.808).O legado personalssimo, ento se o legatrio morre antes do testador, no haver direito de representao em benefcio dos filhos do legatrio, at porque vimos na aula 5 que a representao exclusiva da sucesso legtima, e s pode existir legado na sucesso testamentria.Morrendo o legatrio antes do testador, o legado ser transferido aos herdeiros legtimos conforme 1.788. Admite-se todavia o substituto do legatrio (1.947), mas se testar raro, mais raro ainda prever-se um substituto para o legatrio faltoso.Aquisio do legado: a posse da herana transmite-se imediatamente com a morte face ao princpio da saisine (1.784), j o legado de coisa determinada que precisa ser pedida pelo legatrio aos herdeiros, exercendo seudireito de pedir( 1 do 1.923). Empossando-se indevidamente do bem, o legatrio comete o crime do exerccio arbitrrio das prprias razes, previsto no art. 345 do CP.Na prtica na partilha, ao final do processo de inventrio, que o legatrio recebe seu bem arcando com eventuais despesas (ex: impostos, frete, 1.936). Recebido o legado (ex: uma fazenda), seus frutos (ex: crias dos animais) sero do legatrio desde a morte do testador, pois a propriedade retroage, mas a posse no (1.923 e 2).Aula 11 - Civil 7 - Unicap - Legado (continuao)Repetindo o conceito da aula passada: disposio testamentria a ttulo singular pela qual o extinto deixa um ou mais objetos individualizados a qualquer pessoa (ex: uma jia, uma casa, uma cifra em dinheiro, um rebanho, um cavalo de raa, uma coleo de selos, uma loja comercial, aes, etc.).O legado assemelha-se a uma doao, s que o legatrio recebe o bem do herdeiro e no do doador j morto. O legado ser dos herdeiros legtimos caso o legatrio no aceite o bem (ex: uma fazenda hipotecada, cheia de dvidas trabalhistas, com servido predial, etc., 1.937).Como o legatrio sucede a ttulo singular, no responde pelas dvidas do extinto, dvidas que cabem aos herdeiros por sucederem a ttulo universal (no universo dos bens = patrimnio = ativo + passivo), mas o legatrio s recebe o bem se a herana for solvvel, afinalonde s h dvidas no h herana e nem legado. S com o inventrio, apurando-se o ativo e deduzindo-se o passivo do extinto, que se podem verificar as foras da herana.O testador pode indicar quem ser o herdeiro incumbido de cumprir o legado, chamado deonerado. Se o testador no indicar o onerado, caber a qualquer herdeiro pagar o legado na proporo do que herdar (1.934).Espcies de legado:a) legado de coisa prpria: o mais comum, afinal ningum pode dispor de mais direitos do que tem (1.912). Se a coisa legada foi vendida pelo testador antes de morrer, essa disposio perde o objeto (1.916).b) legado de coisa alheia: exceo regra anterior, pois o testador pode deixar uma coisa genrica que ele no tem para o legatrio, mas a coisa tem que ser incerta (243, ex: o falecido deixa um cavalo de raa para Joo, mas o falecido nunca teve cavalo, ento o herdeiro-onerado deve comprar esse cavalo para dar ao legatrio, 1.915, 1.929).c) sublegado com encargo: o testador determina ao legatrio que d uma coisa dele para ganhar outra (ex: o testador deixa uma casa para Joo se Joo der um carro a Jos; se Joo no der o carro no ganha a casa, 1.913; o testador impe um encargo ao legatrio; a casa o legado e o carro o sublegado; Joo o legatrio e Jos o sublegatrio).d) legado alternativo: o falecido deixa para o legatrio uma coisa ou outra, cabendo a escolha ao herdeiro-onerado (252 e 1.932).e) legado de coisa de certo lugar, ex: deixo para fulano meus quadros da casa de Gravat, 1.917; o legado dos quadros no implica no legado da casa, mas se o legado for de uma casa presume-se que so com os mveis, afinal a regra o acessrio seguir o principal; pergunta: se o falecido deixa para fulano uma fazenda, e aps testar adquire uma fazenda vizinha a esta, o legado ser das duas fazendas contguas? No, face ao 1.922.f) legado de direito real limitado (revisem Civil 5): ao invs da propriedade de um bem, o falecido deixa uma superfcie, habitao ou usufruto desse bem para o legatrio, e a propriedade-nua para outrem (1.921).g) legado de crditos e dbitos: o falecido pode deixar certa quantia em dinheiro para o legatrio (1.925), ou ento perdoar uma dvida do legatrio (1.918).h) legado compensatrio: o falecido deve mil a Joo e lhe deixa uma jia, pode se tratar de compensao da dvida se for expresso (1.919); se o credor no quiser a compensao, basta renunciar ao legado compensatrio e cobrar a dvida do esplio.i) legado de alimentos: o testador determina ao onerado que alimente algum, cabendo ao juiz fixar o valor (1.920, obs: esse o melhor conceito legal de alimentos, afinal a gente no quer s comida!); esse alimento pode ser em hospedagem ao invs de dinheiro (1.701).j) legado de cota condominial, ex: Joo e Jos tem um barco, e Joo deixa esse barco para Maria, ento se trata apenas de metade do barco, e Maria ser condmina do barco com Jos (1.914).Caducidade dos legados: a caducidade difere da nulidade do legado. A caducidade a perda da eficcia, a decadncia do legado. O legado foi celebrado validamente, porm pode deixar de existir.J a nulidade seria, por exemplo, o legado de substncia entorpecente, o testamento celebrado por um incapaz, (166, I e II), o legado a pessoa sem legitimidade (1.802 e 1.801), etc.So cinco os casos de caducidade previstos no art. 1.939 do CC, vamos coment-los:I ex: o falecido deixa madeira/mrmore para o legatrio, porm antes de morrer faz mveis/esttuas desse material. Se deixar uma barra de ouro, mas depois viraram jias, vale o legado? Se deixou um terreno nu, mas depois l construiu um edifcio, vale o legado? Reflitam!II j vimos isso acima no legado de coisa prpria acima; o falecido revoga tacitamente a clusula testamentria se vender a coisa legada.III ex: um jia legada caiu no mar, ocorre o perecimento j que o resgate impossvel; se houver culpa de algum para a perda cabe responsabilidade civil; no h perecimento de coisa genrica no legado de coisa alheia (246); revisem evico na aula 8 de Contratos.IV so os casos de indignidade.V a premorincia que no enseja direito de representao como dito acima (1.788).

Aula 12 - Civil 7 - Unicap - Direito de Acrescer e Disposies ConjuntasCorre quando numa mesma clusula o testador deixa bens para vrias pessoas (=disposio conjunta), e uma delas no quer ou no pode receber a herana ou legado (ex: renncia, premorincia, indignidade), hiptese em que a cota dos demais poder aumentar com essa cota vaga (=direito de acrescer, 1.941). Mas em algumas disposies conjuntas pode no haver direito de acrescer entre os co-herdeiros, mas sim o quinho do faltoso beneficiar os herdeiros legtimos. Lembro que no h direito de representao na sucesso testamentria.Pergunta-se: faltando algum numa disposio conjunta a cota vai para o co-herdeiro/co-legatrio ( = direito de acrescer), ou vai para os herdeiros legtimos? Resposta: preciso interpretar o testamento para responder.a) Presume-se que se o falecido, na mesma clusula, nomear vrios herdeiros para uma parte da herana, ou deixar a vrios legatrios o mesmo bem,sem quinho determinado,sem determinar a poro de cada um,ele pretendia instituir direito de acrescer para os demais se um deles viesse a faltar (ex: Ana deixa uma fazenda para Joo, Jose e Maria, ento se Maria renunciar ao legado, ou morrer antes de Ana, as cotas de Joo e Jos iro aumentar, 1.942, 1.943).b) Porm, no mesmo exemplo, se Ana deixa a fazenda para Joo, Jos e Maria,com quinho determinado,caracterizando a parte de cada um, deixando expresso que 1/3 para cada um, a morte de Maria implica na transmisso desses 1/3 para os herdeiros legtimos, sem direito de acrescer para Joo e Jos (1.944). Conceito: direito de acrescer uma substituio presumida na lei em virtude da qual o co-herdeiro ou co-legatrio recolhe a poro atribuda ao faltoso em disposio conjunta.Substituio: a lei admite a hiptese do testador ter um suplente para o herdeiro/legatrio faltoso, o que tambm exclui o direito de acrescer, mas se testar j raro, mais raro ainda testar prevendo substituto pros sucessores. A substituio vem do Direito Romano, quando a falta de herdeiro era considerada uma vergonha, mas no direito moderno esse instituto raro. Lembro que respeitando a legtima dos herdeiros necessrios, a liberdade de testar ampla. No havendo herdeiros necessrios, todo o patrimnio do hereditando pode ser deixado para quem ele quiser, afastando os familiares mais distantes (1.850). Realmente, melhor beneficiar seus amigos do que um primo que voc nem conhece. Por isso a lei admite substituto para esses amigos, a fim de realmente excluir os parentes distantes (1.947). Pode haver um s substituto para vrios herdeiros ou legatrios (1.948). O substituto sucede o testador, e no o substitudo, de modo que s h uma transmisso e uma tributao.Fideicomisso: uma espcie de substituio onde o substituto no herda no lugar do substitudo, masapso substitudo, beneficiando pessoas no concebidas ao tempo da morte do testador (ex: deixo minha casa de praia para o primeiro filho de minha sobrinha Ana, s que Ana uma criana, ento se um dia ela tiver um filho, esse concepturo ser o beneficiado, 1.952; enquanto o concepturo no vem, designo meu amigo Joo para cuidar da casa).Vamos assim identificar as pessoas no fideicomisso: a) fideicomitente: o morto/testador/hereditando; b) fiducirio: o amigo Joo; c) fideicomissrio: o concepturo, o filho de Ana; d) fideicometido: a coisa, a casa na praia (1.951).Conceito: instituto pelo qual o herdeiro ou legatrio (fiducirio) tem a obrigao de, a certo tempo, transmitir a herana ou legado a terceira pessoa (fideicomissrio). No fideicomisso h dois beneficirios: o fiducirio por um tempo, e depois o fideicomissrio. O fiducirio tem a propriedade da casa, mas resolvel (1.953), ou seja, sua propriedade se extingue se Ana tiver um filho.O fideicomisso parece mas diferente dadisposio em favor de prole eventualdo 1.799, I. Isto porque o fiducirio difere do curador do art. 1.800, pois este s administra, enquanto o fiducirio pode se tornar proprietrio pleno se o fideicomissrio no nascer.Se o fideicomissrio renunciar herana, a propriedade do fiducirio se torna plena (1.955). Se o fiducirio que renunciar herana, aplica-se at o advento do fideicomissrio o art. 1.800.Se o fiducirio vender o bem a terceiros, o negcio estar desfeito se o concepturo nascer, por isso nunca comprem uma casa sem verificar o registro no Cartrio de Imveis (1.359 e p do 1.953). O fideicomisso um recurso legal para satisfazer o testador que quer beneficiar pessoa inexistente ao tempo da abertura da sucesso. Confia o testador que o fiducirio vai cuidar da coisa e transferi-la oportunamente ao concepturo. De qualquer modo, para no complicar mais ainda, no se admite o fideicomisso alm do segundo grau, ou seja vedado um fideicomisso para o fideicomissrio (1.959, no exemplo acima seria ilegal um fideicomisso para beneficiar algum depois do filho de Ana).Em quanto tempo o concepturo tem que nascer? A princpio no h tempo, enquanto Ana tiver sade pode gerar, porm, para no tornar muito longa e instvel a propriedade resolvel nas mos do fiducirio, parte da doutrina entende aplicvel os dois anos do 4 do art. 1.800. Todavia, tal prazo muito curto e frustra a inteno do fideicomisso de beneficiar pessoa inexistente ao tempo da abertura da sucesso, por isso outra parte da doutrina no aplica tal dispositivo, inclusive porque est muito deslocado do captulo do fideicomisso. Reflitam!Elementos do fideicomisso: a)dupla vocao: o testador beneficia duas pessoas com o mesmo bem, porm em momentos distintos; b)ordem sucessiva: s se chama um beneficirio quando termina o prazo do outro; o fideicomissrio herdeiro do fideicomitente, porm recebe o bem do fiducirio; c)nus de conservar para restituir: o instituto se baseia na f/confiana do fideicomitente no fiducirio que entregar oportunamente a coisa em bom estado ao fideicomissrio.Usufruto: o fideicomisso beneficia pessoas no concebidas, por isso ele vira usufruto se o concepturo nascer antes da morte do testador (ex: no exemplo acima o testador demora a morrer, quando vem a falecer Ana j adulta e tem filho), ento a fim de que o fiducirio tambm tenha vantagem, a lei cria um usufruto em favor do fiducirio, com a propriedade-nua em favor do fideicomissrio, beneficiando a ambos (p do 1.952).

Aula 13 - Civil 7 - Unicap - Reduo das disposies testamentriasA legtima obrigatria, por essa razo o testador no pode deixar de contemplar os seus herdeiros necessrios (art. 1.846, vide 2 princpio na aula 2).Os herdeiros necessrios so os descendentes, os ascendentes e o cnjuge (1.845), e s podem ser afastados da herana nos casos j vistos de deserdao (1.961, revisem deserdao na aula 4).Ento, havendo herdeiros necessrios e havendo testamento, preciso ajustar o testamento para calcular o valor da metade da herana. Essa metade a legtima, e a outra metade a parte disponvel para quem o hereditando quiser, inclusive qualquer herdeiro necessrio (1.849, 1.847; a colao serve para conferir o valor das doaes feitas em vida do testador ao herdeiro a fim de igualar os quinhes, 2.002).Se o testador por descuido, m-administrao ou m-f prejudicar seus herdeiros necessrios no respeitando a legtima, caber a reduo do testamento; o testamento no anulado, apenas enxugado. O testador pode prever onde dever ser feita a reduo ( 2 do 1.967); caso contrrio a lei determina a reduo primeiro nas heranas e depois nos legados ( 1 do 1.967). O herdeiro sofre a reduo antes do legatrio pois herda a ttulo universal, cabendo ao herdeiro s o que sobrar do esplio depois de satisfeitos os credores do extinto, a legtima dos herdeiros necessrios e os legados.Esses clculos so feitos pela Justia atravs de um perito contador, mas s aps a morte do hereditando face ao pacta corvina do art. 426. Havendo acordo entre os herdeiros, essa reduo se faz dentro do inventrio, porm surgindo litgio a ao de reduo correr em processo prprio, visando reconhecer a parte excessiva para reintegr-la legtima.Doao inoficiosa: se mesmo reduzindo o testamento a legtima continuar desrespeitada, anulam-se