monografia raphael hermano

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 CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO – UNICEUMA COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO CURSO DE DIREITO – CAMPUS II RAPHAEL PENHA HERMANO O CONTRATO DE ESTÁGIO E SUAS PECULIARIDADES EM RELAÇÃO A OUTROS CONTRATOS AFINS São Luís – MA 2010

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO MARANHÃO – UNICEUMA

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

CURSO DE DIREITO – CAMPUS II

RAPHAEL PENHA HERMANO

O CONTRATO DE ESTÁGIO E SUAS PECULIARIDADES EM

RELAÇÃO A OUTROS CONTRATOS AFINS

São Luís – MA

2010

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RAPHAEL PENHA HERMANO 

O CONTRATO DE ESTÁGIO E SUAS PECULIARIDADES EM

RELAÇÃO A OUTROS CONTRATOS AFINS

Monografia apresentada ao Curso de Direito do

Centro Universitário do Maranhão –

UNICEUMA, como requisito parcial para

obtenção do Grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Especialista Hilza Maria Feitosa Paixão

São Luís – MA

2010

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RAPHAEL PENHA HERMANO

O CONTRATO DE ESTÁGIO E SUAS PECULIARIDADES EM RELAÇÃO A

OUTROS CONTRATOS AFINS

Monografia apresentada ao Curso de Direito do

Centro Universitário do Maranhão –

UNICEUMA, como requisito parcial para

obtenção do Grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em / / 

BANCA EXAMINADORA

 ______________________________________________________ Profª. Esp. Hilza Maria Feitosa Paixão (Orientadora)

 ______________________________________________________ 1º Examinador

 ______________________________________________________ 2º Examinador

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Aos meus avós (in memorian), Clóvis Hermano e Maria da

Conceição Hermano pela luta em favor da vida.

A minha bisavó Filomena Garcia (in memorian), um exemplo de

mulher cristã. 

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AGRADECIMENTO

Sou grato a Deus, por me fortalecer nos momentos de

fraquezas e pelas muitas vitórias alcançadas e que, ainda, hei

de conquistar.

Agradeço, em especial, aos meus pais, Wilson José Hermano

e Marluce Penha Hermano, aos quais devo tudo o que sou e

por dedicarem suas vidas a me proporcionar o melhor.

As minhas irmãs, Sandreane Penha Hermano Arrais e

Serlyjane Penha Hermano Nunes, sou agradecido pelaconfiança que me foi conferida.

Não poderia deixar de agradecer a minha noiva e eterna

namorada Alessandra Maria Virgínia Freire Cunha pelo

companheirismo e dedicação, bem como por me ensinar a

amar.

Regozijo-me pela vida dos meus sobrinhos Viviane, Letícia e

Enzo pelos momentos de descontração.Os meus sinceros agradecimentos a todos os meus familiares

e amigos que sempre torceram por mim, em especial a

Professora Hilza Paixão pelas orientações na realização deste

estudo.

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“É imprescindível que o estágio se realize em local que tenha 

condições de proporcionar experiência prática na linha de 

formação, bem como de complementar o ensino.” 

Eduardo Gabriel Saad  

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RESUMO 

O contrato de estágio e suas peculiaridades em relação a outros contratos afins.

Observa-se juridicamente o contrato de estágio com os demais contratos de

trabalho. Destacam-se as principais características e discriminam-se os requisitos

essenciais da relação jurídica do estágio, bem como sua classificação, remetendo à

edição da Lei n° 11.788/2008. Define-se o conceito, a natureza jurídica, o objetivo e

a finalidade para qual o estágio foi instituído, apresentando-se os posicionamentos

doutrinários e jurisprudenciais sobre o tema. Discorre-se sobre a obrigatoriedade do

contrato de estágio em preencher todos os requisitos essenciais estipulados na leivigente de estágio, demonstrando-se as causas em que o vínculo de emprego

resultará caracterizado.

Palavras-chave: Estágio. Contrato de trabalho. Vínculo de emprego. 

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ABSTRACT

The internship agreement and its peculiarities in relation to other related contracts.

The internship agreement is legally noticed with other labor contracts. This study

highlights the main features and discriminate the essential requirements of the legal

relationship of the internship, as well as classification, leading to the enactment of

Law No. 11.788/2008. It defines the concept, the legal nature, the purpose and the

object for which the internship was set, presenting the doctrinal and jurisprudential

positions on the issue. It talks about the obligation to the internship agreement to fill

all essential requirements set forth in current law internship, demonstrating thecauses in which the link will result in jobs characterized.

Keywords: Internship. Work contract. Employment link.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Ac. – Acórdão

AL – Alagoas

Art. – Artigo

CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola

CFE – Conselho Federal de Educação

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

DF – Distrito Federal

DJ – Diário da JustiçaDJMG – Diário da Justiça de Minas Gerais

DJPB – Diário da Justiça da Paraíba

DJPR – Diário da Justiça do Paraná

DOE SP – Diário Oficial do Estado de São Paulo

DOU – Diário Oficial da União

IEL – Instituto Euvaldo Lodi

LEE – Lei de Estágio de EstudantesNR – Norma Regulamentadora

Nº – Número

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

P. – Página

RO – Recurso Ordinário

TRT – Tribunal Regional do Trabalho

§ – Parágrafo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10

2 BREVE HISTÓRICO .................................................................................. 12

3 CONTRATO DE TRABALHO ................................................................... 16

3.1 Conceito .................................................................................................... 16

3.2 Características ......................................................................................... 17

3.3 Diferença entre Contrato Civil e Contrato de Trabalho ........................ 18

3.4 Distinção entre Relação de Trabalho e Relação de Emprego ............. 19

4 RELAÇÃO JURÍDICA DE ESTÁGIO ........................................................ 204.1 Conceito .................................................................................................... 20

4.2 Natureza Jurídica ..................................................................................... 22

4.3

4.4

Objetivo e Finalidade ...............................................................................

Características .........................................................................................

23

24

4.5 Requisitos ................................................................................................. 30

4.5.1 Formais ...................................................................................................... 30

4.5.2 Materiais ..................................................................................................... 324.6 Classificação ............................................................................................ 33

4.7 Direitos e obrigações das Partes Inerentes ao Contrato de Estágio .. 34

4.7.1 Estagiário ................................................................................................... 34

4.7.2 Instituição de Ensino .................................................................................. 35

4.7.3 Concedente ................................................................................................ 37

4.7.4 Agentes de Integração ............................................................................... 39

5 DISTINÇÃO DO CONTRATO DE EST GIO E OUTROS CONTRATOSAFINS ........................................................................................................ 40

5.1

5.2

5.3

Contrato de Emprego ..............................................................................

Trabalho em Domicílio ............................................................................

Contrato de Aprendizagem .....................................................................

41

41

42

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 43

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

O nascituro do Direito do Trabalho deu-se para o povo, uma vez que seu

escopo maior é a garantia e proteção dos direitos dos trabalhadores, ante sua

vulnerabilidade. No Brasil, não foi diferente, este Ramo do Direito, instituiu-se sob a

égide dos trabalhadores brasileiros. Contudo, o Direito do Trabalho passou por

deveras modificações até chegar-se a Consolidação das Leis do Trabalho no ano de

1943, que vige atualmente.

No entanto, este estudo, por tratar da relação jurídica de estágio, não tem

amparo legal no Direito do Trabalho, salvo ocorra o desvirtuamento para o qual sedestina o estágio, tendo em vista que este é fruto do Direito Civil e tem o intuito de

proporcionar ao estudante o devido aprendizado na área em que se dispôs a

exercer, demonstrando na prática, em situações do cotidiano, a teoria aprendida em

sala de aula.

Todavia, este trabalho, não se restringe a explorar o estágio, pois tem

como foco demonstrar as fraudes que mascaram o contrato de estágio, resultando

na configuração do vínculo empregatício entre estagiário e o concedente, uma vezque, embora a relação de estágio preencha os cinco requisitos que caracterizam a

relação de emprego (pessoa física, pessoalidade, onerosidade, habitualidade e

subordinação), há uma diferença singular entre ambas, que consiste na formação e

educação do estudante. Sendo assim, o contrato de estágio deve atingir a finalidade

para o qual fora instituído.

Nesse contexto, que envolve os absurdos decorrentes do contrato de

estágio, nasce a obrigatoriedade do Direito do Trabalho em intervir nestas relaçõescom o intento de proteger o estagiário, que, em virtude de sua vulnerabilidade,

acaba exercendo as funções de um trabalhador comum, porém sem remuneração

alguma ou quando do recebimento de bolsa auxílio, esta tem um valor ínfimo, tendo

em vista que não existe previsão legal dispondo sobre quanto deve ser o seu valor

mínimo.

Deste modo, surge a responsabilidade da instituição de ensino em

fiscalizar as atividades exercidas pelo estagiário na unidade concedente, com o fito

de inibir qualquer anormalidade na relação de estágio.

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Ademais, a Lei n° 11.788 de 25 de setembro de 2008, trouxe uma série

de requisitos que visam coibir as possíveis fraudes realizadas pelas empresas

quando da contratação do estagiário. Logo, como havia a possibilidade de configurar

o vínculo de emprego por desrespeito à lei, as empresas dificultaram a concessão

de vagas de estágio aos estudantes. Ante sua peculiaridade, constata-se o grau de

relevância do tema estágio.

Outrossim, o contrato de estágio não gera vínculo empregatício algum,

salvo se houver o desrespeito a legislação vigente, ou seja, os requisitos inerentes a

relação de estágio devem ser obedecidos, sob pena de configuração do vínculo de

emprego, cabendo ao concedente arcar com o pagamento de todas as verbas

trabalhistas, como se o estagiário empregado fosse.Por derradeiro, o presente estudo visa distinguir o contrato de estágio dos

demais contratos de trabalho vislumbrando os pontos de maior discussão, que serão

particularizados nas considerações finais.

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2 BREVE HISTÓRICO

Os alunos estagiários foram citados pela primeira vez no art. 4º do

Decreto nº 20.294, de 12 de agosto de 1931, em acordo firmado entre o Ministério

da Agricultura e a Sociedade Nacional de Agricultura, esta acolheria os estagiários

nas escolas e por cada aluno matriculado receberia uma dotação anual (MARTINS,

2010, p.4).

Assim dispõe o referido artigo:

Art. 4º - A Sociedade Nacional de Agricultura, mediante acordo com oMinistério da Agricultura, admitirá, na Escola, alunos estagiários e internos,recebendo uma dotação anual por aluno matriculado, logo que, para essefim, exista verba própria.

Na década de 40 surgiram os chamados “trabalhos escolares” inclusos

nas Leis Orgânicas de Ensino Industrial (Decreto-lei nº 4.073/42) e Comercial

(Decreto-lei nº 6.141/43), que serviam como instrumento de complementação e

formação do ensino (MARTINS, 2010, p.4).

No Brasil o estágio nas empresas foi disciplinado, a priori, com a

regulação da Portaria Ministerial nº 1.002/67, que consoante inteligência do art. 3º

“os estagiários contratados através de Bolsas de Complementação Educacional não

terão, para quaisquer efeitos, vínculo empregatício com as empresas, cabendo a

estas apenas o pagamento da Bolsa, durante o período do estágio”. Sendo assim,

constata-se que a referida Portaria já excluía a caracterização do vínculo de

emprego entre estagiário e empresa. No entanto, a Portaria feria o princípio da

legalidade, uma vez que criava direitos e obrigações não previstos em lei (SAAD,1977 apud  MARTINS, 2010, p.4-5). Ademais, por não haver previsão legal, a

Portaria não poderia narrar que não havia vínculo empregatício entre estagiário e

empresa. (DONATO, 1977 apud MARTINS, 2010, p.5).

A norma supracitada trouxe ainda outros requisitos elencados no art. 2º,

alíneas a, b, c e d, in verbis: 

Art. 2

º

- As empresas poderão admitir estagiários em suas dependências,segundo condições acordadas com as Faculdades ou Escolas Técnicas, efixadas em contratos-padrão de Bolsa de Complementação Educacional,dos quais obrigatoriamente constarão.

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a) a duração e o objeto da bolsa que deverão coincidir com programasestabelecidos pelas Faculdades ou Escolas Técnicas;b) o valor da bolsa, oferecida pela empresa;c) a obrigação da empresa de fazer, para os bolsistas, seguro de acidentespessoais ocorridos no local de estágio;

d) o horário do estágio.

Em 10 de outubro de 1969, a Resolução do Conselho Federal de

Educação (CFE) nº 9, estabeleceu a formação pedagógica das áreas de licenciatura.

(SANTOS, C., 2009).

Posteriormente, o Decreto nº 66.546, de 11 de maio de 1970, propiciou a

introdução de programas de estágios destinados aos estudantes das áreas de

engenharia, tecnologia, economia e administração, no âmbito dos órgãos e

entidades públicos e privados (MARTINS, 2010, p.5).

Com o advento da Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, diretrizes e

bases foram fixadas para o ensino de 1º e 2º graus, o art. 6º desta lei dispunha que

“as habilitações profissionais poderão ser realizadas em regime de cooperação com

as empresas.” Além disso, determinou no parágrafo único do artigo supracitado, que

não haveria vínculo de emprego entre empresas e estagiário, ainda que houvesse

remuneração e, ainda, o aluno exerceria a atividade específica estipulada no

convênio com o estabelecimento (MARTINS, 2010, p.5).

Já no ano de 1972 foi editado, em 13 de janeiro, o Decreto nº 69.927, que

criou o Programa Bolsa de Trabalho, dispondo em seu art. 9º que só será

considerado estagiário, sem vínculo de emprego, quando as atividades exercidas

nas entidades ou órgãos tiverem correlação na sua formação escolar. Em 26 de

maio de 1975, com o surgimento do Decreto nº 75.778 houve a regulamentação do

estágio dos estudantes de ensino superior e de ensino profissionalizante de segundo

grau no serviço público federal (MARTINS, 2010, p.5-6).Com a Lei nº 6.494, publicada em 07 de dezembro de 1977, ocorreu a

regulamentação do estágio, posteriormente, esta norma foi ajustada pelo Decreto nº

84.497, de agosto de 1982, onde identificou-se a cópia de alguns dos pontos

constantes na Portaria nº 1.002/67, mencionada acima. (MARTINS, 2010, p.6).

Juscelindo Vieira Santos (2006) constatou que ocorria um subemprego

aberto e disfarçado na contratação dos estagiários, uma vez que em muitos casos

ocorria a desvirtuação da finalidade do estágio.

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A Lei nº 6.932/81 estabelecia o estágio para médicos residentes, onde o

art. 4º predispunha a autonomia destes quanto à Previdência Social (MARTINS,

2010, p.7).

Com o advento da Lei nº 8.859, de 23 de março de 1994, algumas

alterações foram notórias na Lei nº 6.494/77, concernente a alusão feita aos alunos

com necessidades especiais e a modificação do § 3º do art. 1º, que determinou o

imprescindível planejamento, acompanhamento e avaliação do estágio em

consonância com os currículos, programas e calendários (MARTINS, 2010, p.7).

Outra norma que também trouxe alterações significativas à Lei dos

Estágios de 1977 foi a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que conforme o art.

82 possibilitava que as instituições de ensino estabelecessem normas quedisciplinassem o estágio no ensino médio ou superior (MARTINS, 2010, p.7).

O § 1º, art. 1º da Lei nº 6.494/77 sofreu alteração em virtude do art. 6º

constante na Medida Provisória 2.164-41, editada em 2001, uma vez que deixou de

permitir o estágio em cursos supletivos (MARTINS, 2010, p.8).

O art. 6º da Medida Provisória supracitada, assim determinava:

Art. 6º - O § 1º do art. 1º da Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de 1977, passaa vigorar com a seguinte redação:§ 1º Os alunos a que se refere o caput  deste artigo devem,comprovadamente, estar freqüentando cursos de educação superior, deensino médio, de educação profissional de nível médio ou superior ouescolas de educação especial. (NR)

Por derradeiro, a Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008, alterou a

redação do art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e culminou na

completa revogação das Leis nos 6.494/77 e 8.859/94, bem como na do art. 6º da

Medida Provisória 2.164-41, de 2001, de acordo com o art. 22 da lei sobredita(MARTINS, 2010, p.8), que assim determina:

Art. 22 – Revogam-se as Leis ns. 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei n. 9.394,de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6º da Medida Provisória n. 2.164-41,de 24 de agosto de 2001.

A Lei de Estágio de Estudantes (LEE), vigente, tratou de forma específica

cada um de seus 6 (seis) capítulos, dividido-os em: da definição, classificação e

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relação de estágio; da instituição de ensino; da parte concedente; do estagiário; da

fiscalização e das disposições gerais. (PACHECO, 2009, p.13).

Decerto, esta lei ocasionou deveras mudanças na relação de estágio,

como: limitação da carga horária dos estudantes, a possibilidade de vale-transporte

e bolsa-auxílio tanto para estagiários obrigatórios como para não obrigatórios e

férias remuneradas de até 30 (trinta) dias. (SANTOS, C., 2009).

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16

3 CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO

O estudo sobre o contrato individual de trabalho funda-se em diagnosticar

os elementos e características que o integram, bem como o seu alcance, com o

intuito de discernir qual a sua relação jurídica distinguindo-o dos demais contratos,

em especial do contrato de estágio.

3.1 Conceito

O contrato individual do trabalho, consoante inteligência do art. 422 da

CLT, consiste no acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego.

No entanto, este conceito é muito restrito, tendo em vista a amplitude da relação

 jurídica no contrato de trabalho.

“Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga a prestar

uma atividade em proveito e sob a direção de outra pessoa, a qual por sua vez seobriga a retribuir-lhe” (RODRIGUEZ, 1982, p.17).

Para Délio Maranhão (2002, p.236), o contrato de trabalho stricto sensu  

pode ser descrito da seguinte forma:

É o negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (empregado) se obriga,mediante o pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar trabalhonão eventual em proveito de pessoa, física ou jurídica (empregador), aquem fica juridicamente subordinado.

“O negócio jurídico expresso ou tácito mediante o qual uma pessoa

natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica ou ente despersonificado a uma

prestação pessoal, não eventual, subordinada e onerosa de serviços” é a definição

dada para o contrato de trabalho por Mauricio Godinho Delgado (2008, p.491).

Deste modo, a junção dos elementos caracterizadores da relação de

emprego, quais sejam: acordo tácito ou expresso, onde uma pessoa física presta

serviços à outra pessoa física ou jurídica, de forma habitual, subordinada, contínua emediante o pagamento de salário (onerosidade) resultarão no contrato de trabalho.

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17

3.2 Características

Ao contrato de trabalho são inerentes algumas características vitais, uma

vez que, na voz de Alice Monteiro de Barros (2008, p.233-234), consiste “num

contrato de direito privado, sinalagmático, de execução continuada, consensual,

intuitu personae  em relação ao empregado, oneroso e do tipo subordinativo”. No

entanto, há o acréscimo por parte de alguns autores da alteridade (ALONSO OLEA,

1973 apud BARROS, 2008, p.234) que “traduz a noção de que a prestação laboral

do tipo empregatício corre por conta alheia ao prestador” (DELGADO, 2008, p.497).

Para Sergio Pinto Martins (2008, p.89), “o contrato de trabalho temnatureza contratual”, sendo assim, resume-se a um contrato de direito privado.

Outrossim, infere-se sinalagmático, tendo em vista a existência de direitos

e obrigações para ambas as partes. Todavia, o pacto laboral deve ser visto em sua

totalidade, não se restringindo a apenas algumas das obrigações, uma vez que, em

alguns casos, a remuneração é paga, embora a prestação de serviço tenha sido

interrompida (BARROS, 2008, p.234).

Ademais, a luz do raciocínio de Vólia Bomfim Cassar (2010, p.523), asprestações perduram por todo o pacto laboral, daí o modo de execução continuada

ou trato sucessivo, isto é, ao passo que o contrato prossegue, as prestações são

pagas gradativamente ao tempo de seu vencimento. Portanto, a realização ocorre

por meio de uma sucessão de atos

Concernente ao seu caráter consensual, o contrato de trabalho decorre

da vontade das partes, não há exigências de formalidades, tendo em vista a

possibilidade de convencionar-se tacitamente, bastando o mútuo consentimento daspartes contratantes (MARTINS, 2008, p.92).

A pessoalidade no contrato de trabalho limita-se ao empregado, uma vez

que, este não pode ao seu alvedrio se fazer substituir por outrem na execução de

seu mister, exceto eventualmente ou com o consentimento do empregador

(BARROS, 2008, p.234). Portanto, o caráter intuitu personae limita-se ao empregado

não contemplando a figura do empregador, que pode ser sucedido em qualquer

momento da relação contratual. Sendo assim, conforme leciona Sergio Pinto Martins

(2008, p.91), em face da pessoalidade na prestação do serviço, é impossível ser

pactuado apenas entre pessoas jurídicas.

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18

No que tange a onerosidade do contrato de trabalho, existe uma

contraprestação pelo serviço prestado e vice-versa (CASSAR, 2010, p.522).

Portanto, há contribuição recíproca entre empregado e empregador, onde este por

meio de parcelas salariais recompensa aquele por seu trabalho prestado. Entretanto,

insta salientar o entendimento de Alice Monteiro de Barros (2008, p.236), caso o

trabalhador atue de forma voluntária, sem a percepção de remuneração alguma, não

existirá o contrato de emprego.

A subordinação jurídica no contrato de trabalho, nas palavras de Sergio

Pintos Martins (2008, p.91), consiste em o empregado exercer “sua atividade com

dependência ao empregador”, isto é, no poder diretivo do empregador, o empregado

submete-se a este, cumprindo ordens ligadas ao cargo para o qual fora contratado,em contrapartida há a obrigação da percepção de salário ante a prestação do

serviço.

Por derradeiro, a alteridade consiste em o empregado realizar suas

atividades por conta alheia. A figura do empregado não se confunde com a do

empregador, os resultados obtidos e riscos relativos a prestação de serviço são de

responsabilidade deste (MARTINS, 2008, p.91-92).

3.3 Diferença entre Contrato Civil e Contrato de Trabalho

Os ditames do contrato civil regem-se por equilíbrio entre as partes, basta

a concordância de vontade dos pactuantes para que os efeitos jurídicos passem a

surgir. Entrementes, no contrato de trabalho os efeitos jurídicos nascem, apenas, nomomento da execução de suas obrigações. Além disso, neste as partes não estão

em “pé de igualdade”, pois o empregado figura no polo mais fraco da relação.

Nesse sentido necessário se faz mencionar o entendimento de Orlando

Gomes (1995, p.118 apud  BARROS, 2010, p.519), “o contrato de trabalho, é a

convenção pela qual um ou vários empregados, mediante certa remuneração e em

caráter não eventual, prestam trabalho pessoal em proveito e sob direção do

empregador”.

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Por outro lado, distinto do que ocorre no contrato civil, onde os

contratantes equiparam-se num mesmo patamar, ou seja, há equivalência entre as

partes que realizam o acordo.

3.4 Distinção entre Relação de Trabalho e Relação de Emprego

Para melhor entender em que consiste a relação de trabalho, se faz

necessário a explicação do contrato de atividade, que segundo aduz Jean Vincent

(1935, p.27 apud GOMES e GOTTSCHALK, 2005, p.131), são “todos os contratosdos quais a atividade pessoal de uma das partes constitui o objeto da convenção ou

uma das obrigações que ela comporta”. Portanto, infere-se deste enunciado que o

contrato de atividade concebe o gênero relação de trabalho. Ademais, “a relação de

emprego, do ponto de vista técnico-jurídico, é apenas uma das modalidades

específicas da relação de trabalho juridicamente configuradas” (DELGADO, 2008,

p.286).

A relação de emprego nasce da composição de cinco elementos: pessoafísica, somente esta poderá ser considerada empregada, uma vez que no

ordenamento jurídico não existe a possibilidade de pessoa jurídica figurar como

empregado; pessoalidade, isto é, o empregado tem o dever legal de prestar serviços

a outrem pessoalmente, não podendo se fazer substituir; habitualidade ou não

eventualidade, a prestação do serviço se dá continuamente e não de forma

esporádica; onerosidade, pelo serviço realizado corresponde uma remuneração e,

por derradeiro, subordinação jurídica, o empregado está sujeito às ordens doempregador que se efetiva pela prestação do serviço.

Deste modo, o Direito do Trabalho só será posto em prática se a relação

de trabalho contiver todos os elementos que compõe a relação de emprego, caso

contrário, caberá ao Direito Civil dirimir a questão.

Ademais, insta salientar que a relação de trabalho por ser gênero, não

abrange apenas a relação de emprego stricto sensu , como fora exposto, mas

também a lato sensu (MONTOYA MELGAR, 2003, p.35), que engloba o profissional

liberal, o autônomo, o avulso, dentre outros.

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4 RELAÇÃO JURÍDICA DE ESTÁGIO

Cumpre salientar a relevância em estudar os pontos vitais da relação

de estágio, uma vez que, é o meio pelo qual se distingue o contrato de estágio dos

demais contratos de trabalho.

4.1 Conceito

A palavra estágio tem diversas denominações em todo o mundo

(MARTINS, 2010, p.9), dentre elas são as mais conhecidas: trainee em inglês, muito

usada por algumas empresas no Brasil; em italiano o estagiário é denominado

stagista e como becario em espanhol.

Sergio Pinto Martins (2010, p.10) aduz que o “estágio é o negócio jurídico

celebrado entre o estagiário e o concedente, sob a supervisão da instituição de

ensino, mediante subordinação ao primeiro, visando a sua educação profissional.”Portanto, consiste numa relação jurídica entre o estudante, maior

interessado nesta relação, haja vista sua busca pela experiência na área que se

dispôs a exercer; a empresa que disponibiliza os meios para a materialização do que

fora aprendido em sala de aula e a instituição de ensino que tem o objetivo de

supervisionar e fiscalizar toda a relação de estágio.

Vólia Bomfim Cassar (2010, p.319):

Considera-se estagiário o estudante que, sem vínculo de emprego, prestaserviços a uma pessoa jurídica, que lhe oferece um procedimento didático-profissional, que envolve atividades sociais, profissionais e culturais, atravésda participação em situações reais de vida e de trabalho, sob acoordenação da instituição de ensino, estágio curricular.

Nos dizeres de Aristeu de Oliveira (2009, p.6), “tem-se no estágio um

agente de integração que proporciona ao estudante instrumentos que facilitem sua

passagem do ambiente escolar para o mundo do trabalho”.

Deste modo, se extrai destes conceitos que o estágio é o meio pelo qual o

estudante seguindo um roteiro “didático-pedagógico” (art. 3º, do Decreto nº

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87.497/82) coloca em prática suas habilidades, que estavam apenas na teoria,

servindo de elo para sua inserção no ambiente de trabalho.

Outrossim, o art. 2º, do diploma supracitado, assim determinava:

Art. 2º - Considera-se estágio curricular, para os efeitos deste Decreto, asatividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadasao estudante pela participação em situações reais de vida e trabalho de seumeio, sendo realizada na comunidade em geral e junto a pessoas jurídicasde direito público ou privado, sob a responsabilidade e coordenação dainstituição de ensino.

Além destas prerrogativas, o estágio, segundo inteligência do art. 1º, da

Lei nº 11.788/08, consiste em “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido

no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de

educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação.”

Destarte, o estágio deve cumprir sua destinação, ou seja, oferecer ao estudante as

ferramentas didático-pedagógicas para o seu aprendizado.

No projeto pedagógico do curso deve fazer parte o estágio, haja vista sua

integração no itinerário formativo do educando, conforme elenca o § 1º do art. 1º da

lei acima. Além disso, “o estágio visa ao aprendizado de competências próprias da

atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento

do educando para a vida cidadã e para o trabalho”, segundo leciona o § 2º, art. 1º da

referida lei.

A corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento

 jurisprudencial a seguir:

CONTRATO DE ESTÁGIO – DESVIRTUAMENTO – RECONHECIMENTODE VÍNCULO EMPREGATÍCIO. Hipótese em que se evidencia odesvirtuamento do contrato de estágio, ante a ausência de documentoscomprobatórios de que o trabalho desenvolvido pela autora, por longotempo, se deu efetivamente com o objetivo de propiciar a complementaçãoescolar. No caso, impõe-se reconhecer a existência de vínculoempregatício, o qual não pode ser considerado nulo, já que o ingresso dareclamante ocorreu durante a vigência da Constituição Federal de 1967. Nocontexto, deve a reclamada promover a averbação do tempo de serviço nosassentamentos da reclamante e a promover a devida assinatura da carteirade trabalho. TRT 13ª Região – Ação Civil Pública 01023.2009.011.13.00-0 –Acórdão da Segunda Turma – Relatora Juíza Herminegilda Leite Machado.DJPB 12/03/2010.

CONTRATO DE ESTÁGIO – REQUISITOS ESSENCIAIS – NÃOCUMPRIMENTO – CONSEQÜÊNCIAS. O contrato de estágio visaproporcionar experiência prática na linha de formação do estagiário e deveser planejado, executado, acompanhado e avaliado de acordo com os

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currículos, programas e calendários escolares (art. 1.º, §§ 2.º e 3.º, da Lei6.494/77). Evidenciado que as tarefas executadas não se mostram aptaspara preencher os requisitos curriculares, portanto, inaptas para atender osobjetivos do estágio e não tendo havido planejamento, execução eacompanhamento pela instituição de ensino nos moldes legais,

descaracterizado está o contrato de estágio se apresentando, emergindocom todas as nuances o contrato de emprego. TRT 10ª Região – RO00921.2006.016.10.00.7 – Acórdão Primeira Turma – Relatora Juíza CileneFerreira Amaro Santos – DOU 29/06/2007 – Justiça Seção 3 – p.17.

ESTÁGIO – REQUISITOS. O diferenciador entre o estágio e a relação deemprego é que naquele o objetivo principal é a complementação doensinamento escolar: O estagiário busca aplicar em situações concretas oque aprende na escola, razão pela qual a atividade do estagiário tem deestar relacionada com o seu currículo, sob pena de ser reconhecida anulidade da contratação. TRT 15ª Região – RO 0238.2005.132.15.00.9 –(1475/06) – 2ª Câmara – Relatora Juíza Regina Dirce Gago de FariaMonegatto – DOE SP 20/01/2006, p.26.

O estagiário não é considerado empregado, desde que respeitados os

requisitos dispostos na Lei nº 11.788/08. Portanto, trata-se de um trabalhador

subordinado não convencional, uma vez que preenche todos os requisitos da

relação de emprego, mas com certas peculiaridades, dentre elas está a participação

dos três pólos da relação: estagiário, concedente e instituição de ensino.

Deste modo, por ser o meio de incluir o estudante no mercado de trabalho

visando sua formação profissional, o estágio deve ser tratado distintamente dasdemais relações de trabalho.

4.2 Natureza Jurídica

O estudo da natureza jurídica de um instituto consiste em uma análise deseus pontos semelhantes, com o escopo de encaixá-lo no ramo do Direito, visando

sua inserção no ordenamento jurídico (MARTINS, 2010, p.13). Portanto, tem-se por

necessário o exame da natureza jurídica do estágio, para identificar em qual lugar

este instituto pode ser encaixado.

Segundo leciona Octavio Bueno Magano (1992, p.150-151) o estágio visa

à incorporação dos estudantes junto à sociedade, ou seja, é uma forma de

integralização do aluno com o meio social.

O contrato de estágio, se preenchidos os requisitos da Lei nº 11.788/08,

não gera vínculo empregatício, uma vez que é pactuado por pessoas civis, isto é,

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não existe relação de emprego entre as partes. Ademais, no estágio impera a

contraprestação, onde o estagiário recebe a formação profissional por meio da

prestação de seus serviços. Portanto, é a possibilidade do estudante colocar em

prática, nas situações reais que enfrentará em seu cotidiano, o que aprendera em

sala de aula.

Neste contexto, nasce a diferença entre a relação de trabalho comum e a

formação profissional do estudante. Logo, o contrato de estágio tem natureza civil

(SANTOS, J., 2006), posto que, apresente requisitos de um contrato de trabalho,

sua predominância característica é a formação profissional do estagiário.

Por conseguinte, o contrato de estágio tem cunho de ensino

profissionalizante, uma vez que busca formar e educar o estudante para inseri-lo nomercado de trabalho, possibilitando maior habilidade quando em sua jornada

profissional.

4.3 Objetivo e Finalidade

O objetivo e a finalidade do estágio encontram-se expressos no art. 1º, §

2º da Lei vigente de Estágio, que assim aduz: “o estágio visa ao aprendizado de

competências próprias da atividade profissional e à contextualização curricular,

objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho”.

Em consonância com Aristeu de Oliveira (2009, p.6):

O estágio direciona ao aprendizado de capacidade reconhecida na atividadeprofissional e ao encaminhamento de ideias no contexto curricular, tomandocomo objetivo o desenvolvimento do educando para a vida e para o trabalhoe maior conhecimento de seus direitos de cidadania.

No mesmo sentido, segue entendimento jurisprudencial:

VÍNCULO EMPREGATÍCIO – ESTAGIÁRIO. Desvirtuada a finalidade doestágio, tal como previsto na Lei nº 6.494/77 e no decreto--lei nº 87.497/82,é possível a configuração de vínculo de emprego quando presentes ospressupostos insertos no art. 3º da CLT. TRT 12ª Região – 2ª Turma – RO

05001-2003-001-12-00-2 – (06021/2004) – Relatora Juíza Ione Ramos – julgado em 01/06/2004.

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CONTRATO DE ESTÁGIO – DESVIRTUAÇÃO – RELAÇÃO DEEMPREGO. Quando as atividades do período de estágio ocorrem semqualquer correlação com o curso freqüentado pelo trabalhador e semsupervisão da sua escola, não propiciando a complementação do ensino eda aprendizagem, sem qualquer finalidade integrativa entre o curso e as

funções exercidas, tem-se que o contrato se deu em desacordo com osprincípios e finalidades da Lei 6.494/77 e do Decreto nº 87.497/82,sendo nulo de pleno direito a teor do art. 9º da CLT, já que evidente oobjetivo de desvirtuar e impedir a aplicação dos preceitos atinentes aocontrato de trabalho, cujo reconhecimento se impõe. TRT 3ª Região – RO01305-2003-023-03-00-7 – 3ª Turma – Relator Juiz Sebastião Geraldo deOliveira – DJMG 20/03/2004. 

Portanto, analisando-se de forma pormenorizada estes dispositivos,

conclui-se que o objetivo do estágio é a inserção do estudante na sociedade e no

trabalho. Enquanto, que sua finalidade é o aprendizado da atividade profissional peloeducando e a condução de suas ideias na vida curricular.

4.4 Características

Nas palavras de Zéu Palmeira Sobrinho (2008), tendo em vista que o

estágio tem algumas características semelhantes as da relação de emprego que são

pessoalidade ou intuitu personae, onerosidade, trato sucessivo e subordinação, urge

a necessidade de estudá-las para entender suas semelhanças e diferenças dos

demais contratos afins, em especial o contrato de trabalho.

No entanto, há algumas características peculiares no contrato de estágio,

quais sejam: solene, adequado, triangular ou tripartite e de atividade (SOBRINHO,

2008). Acrescenta, ainda, Sergio Pinto Martins (2010, p.17-18) que deve haver

adequação, pacto acessório e um animus contrahendi .

A corroborar o sobredito, insta mencionar a seguinte jurisprudência:

ESTÁGIO – INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS DE REGÊNCIA – RELAÇÃODE EMPREGO – CONFIGURAÇÃO. Nos termos da Lei nº 6.494/77 e doDecreto nº 87.497/82, a formalização do contrato de estágio, com a devidainterveniência da instituição de ensino, identifica-se com requisitonecessário para sua validade (artigo 104, III, do Código Civil). Inexistentenos autos a solenidade legalmente prevista para o contrato de estágio etampouco comprovada a vivência da atividade didático-pedagógica, nostermos concebidos pela lei, não se cogita da configuração de estágiocurricular. Recurso conhecido e desprovido. TRT 10ª Região – RO625200800310001 DF – Ac. da 3ª Turma – Relator Desembargador DouglasAlencar Rodrigues – julgado em 08/10/2008 – publicado em 17/10/2008.

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CONTRATO DE ESTÁGIO – FORMALIDADES. O Contrato de Estágio,regido pela Lei nº 6.494/77, é do tipo solene, de modo que estabelececondições formais e materiais necessárias à configuração desse contrato,cuja inobservância implica na caracterização do vínculo de emprego.Recurso patronal improvido. TRT 19ª Região – RO 1629200000519003 AL

 – Relator Desembargador Inaldo de Souza – publicado em 20/09/2001.

CONTRATO DE ESTÁGIO – FORMALIDADES. O contrato de estágio,regido pela Lei n. 6.494/77, é do tipo solene, de modo que a existência determo de compromisso regularmente firmado é indispensável à validade doajuste, na forma do art. 82 do CC. TRT 19ª Região – RO 770199906119002AL – Relator Desembargador Pedro Inácio – publicado em 20/07/2000. 

Em suma, no contrato de estágio devem estar presentes todas as

características que o configuram para que não ocorra fraude à lei e,

consequentemente, resulte a caracterização do vínculo empregatício.

A) Pessoal ou intuitu personae 

O caráter pessoal ou intuitu personae  no contrato de estágio tem o

mesmo fundamento do contrato de trabalho, onde o prestador de serviço não pode

ser substituído por outrem. A única singularidade é que a prestação de serviços é

realizada pelo estudante e não por um empregado.

Deste modo, constata-se que o estagiário deve cumprir pessoalmente e

com zelo suas atividades, sem a possibilidade de se fazer substituir por outrem.

B) Oneroso

A relação de estágio só resultará em onerosidade se houver a celebração

do estágio não obrigatório, consoante inteligência do art. 12 da Lei nº 11.788/2008,

in verbis:  

Art. 12 – O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma decontraprestação que venha a ser acordada, sendo compulsória a suaconcessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio nãoobrigatório.

Portanto, se o estágio for não obrigatório caberá à unidade concedente

disponibilizar bolsa ou outra contraprestação ao estagiário, bem como auxílio

transporte. “A intenção do legislador, ao instituir o direito de remuneração lato sensu  

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para o educando em estágio obrigatório, foi coibir a banalização do pacto gracioso”

(SOBRINHO, 2008).

Ademais, foi o meio encontrado para estimular o estagiário no

desempenho de suas atividades, uma vez que este auxílio em pecúnia o ajudará na

compra de livros e na alimentação, bem como o auxílio transporte no seu

deslocamento para o estágio.

C) Trato sucessivo

O contrato de estágio não se esgota em apenas um ato, mas semelhante

o que ocorre no contrato de trabalho, as prestações se exaurem período a período,daí a ideia de execução continuada.

Portanto, há uma sucessão de atos, ou seja, ao passo que o estagiário

frequenta o campo de estágio adquire na prática o aprendizado.

Nesse diapasão, leciona Zéu Palmeira Sobrinho (2008):

Cuida-se de contrato que tem por objeto uma relação permanente, ou seja,não se exaure em atos transitórios, mas em atos que devem ser realizados

em lapso temporal suficiente à materialização dos fins educativos previstosna proposta pedagógica da instituição de ensino. O estágio se vincula auma proposta de execução, acompanhamento e avaliação conforme umplanejamento que deve ser viabilizado no tempo.

Corrobora este entendimento a jurisprudência do Egrégio Tribunal

Regional do Trabalho da 2ª Região, nos seguintes termos:

CONTRATO DE ESTÁGIO DO ESTUDANTE – REQUISITOS. A Lei 6.494,de 07.12.1977 exige que o contrato de estágio, afastando as obrigaçõestrabalhistas, tenha início concreto após a efetiva freqüência às aulas e queseja proporcionado complementação do ensino e aprendizado. Inexistecontrato de estágio antes do início do primeiro ano letivo, ainda quematriculado o estudante no curso superior. Não bastam meros requisitosformais, para que o Judiciário chancele o chamado contrato de estágio, masa efetiva presença de todos os requisitos de ordem técnica, como a efetivafreqüência às aulas e complementação da aprendizagem, medianteplanejamentos desta, consoante programa escolar. Recurso ordinárioprovido para reconhecer o vínculo empregatício, sob o amparo da CLT,presentes todos os demais elementos constitutivos deste. TRT 2ª Região –5ª Turma – Ac. 20070859730 – RO 02671-2002 – Relator Juiz FernandoAntonio Sampaio da Silva – julgado em 02.01.2007.

Sendo assim, o início do estágio deve necessariamente ocorrer com a

frequência real do estudante às aulas para que o contrato goze de plena validade.

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D) Subordinação

Assim como na relação de emprego, a subordinação é característica do

contrato de estágio, uma vez que o estagiário obedece às ordens do concedente.

Ademais, tem jornada e horário a cumprir, estipulados pelo tomador de serviços

dentro dos limites previstos em lei. Entretanto, embora haja subordinação, não existe

vínculo de emprego entre as partes

Além disso, embora haja semelhança desta característica entre estes

institutos, a diferença consiste na relação jurídica entre a unidade concedente e o

estagiário, onde este presta serviços com o intuito de aprendizagem, seguindo um

procedimento didático-pedagógico, isto é, as atividades no campo de estágioresultam na complementação do aprendizado do estudante. Doutro modo, o

empregado comum, pela prestação de serviço, recebe a contraprestação na forma

de salário.

Nesse raciocínio, Zéu Palmeira Sobrinho (2008), esclarece que:

Na relação de estágio, os poderes de direção e disciplinar devem serexercidos em cooperação pela escola e pela instituição concedente. Ao

estagiário, além do dever de boa-fé, cabe desenvolver as atividades ecumprir as ordens que lhe são atribuídas, sob pena de cometer infraçãodisciplinar.

Deste modo, constata-se que o estagiário está subordinado a unidade

concedente, mas também à instituição de ensino, tendo em vista que ambas

supervisionam o desempenho das atividades exercidas pelo estudante.

E) Solene

Esta é uma das características peculiares do contrato de estágio, pois

diferente do que ocorre no contrato de trabalho que sua celebração pode ser tácita

ou expressa, aqui só existe a possibilidade de acordo formal mediante termo de

compromisso, conforme aduz o art. 3º, inciso II, da Lei nº 11.788/2008, in verbis: 

Art. 3º (...)

II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parteconcedente do estágio e a instituição de ensino; (...)

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Além de ser constituído formalmente por meio do termo de compromisso,

o contrato de estágio, na sua execução, também comporta o caráter solene, uma

vez que como elencado na lei vigente de estágio, art. 7º, inciso IV, do aluno é

exigido a apresentação de relatório, no prazo não superior a seis meses, à

instituição de ensino e, ainda, conforme dispõe os incisos VI e VII do art. 9º da

mesma lei, o concedente deve “manter à disposição da fiscalização documentos que

comprovem a relação de estágio”, bem como enviar à instituição de ensino, no prazo

não superior a seis meses, relatório com as atividades do estagiário, sempre dando

vista a este.

A ratificar o acima expendido, é de todo oportuno delinear a seguinte

 jurisprudência:

CONTRATO DE ESTÁGIO – PRORROGAÇÃO. O contrato de estágionecessariamente deve ser escrito, pois o art. 3º da Lei nº 6.494/77 alude otermo de compromisso. Assim, não se pode ter por correta a prorrogaçãotácita do contrato, mas apenas expressa. No contrato tácito haveria aimpossibilidade da interveniência da instituição de ensino. TRT 2ª Região –RO 18419200290202003 – Ac. unânime da 2ª Turma – Relator Juiz SergioPinto Martins – julgado em 29/08/2002 – DOE SP 19/11/2002, p.21.

Ante o exposto, é cediço que o contrato de estágio não deixa brecha paraque sejam firmados acordos tácitos, uma vez que sua celebração e execução estão

revestidas de uma série de formalidades.

Portanto, caso seja pactuado tacitamente, o estágio não terá validade e

resultará na configuração do vínculo de emprego.

F) Adequado

No dizer de Sergio Pinto Martins (2010, p.17), “o estágio deve ser

realizado em condições próprias para a formação do estagiário”.

Ademais, a LEE dispôs sobre as condições primordiais para a formação

do estagiário. O art. 7º, inciso I, leciona sobre “as condições de adequação do

estágio à proposta pedagógica do curso”, já o inciso II do mesmo artigo aduz que

sejam avaliadas “as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação à

formação cultural e profissional do educando” e para comprovar a preocupação do

legislador em oferecer as melhores condições ao estagiário, determina o inciso II do

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art. 9º que devem ser oferecidas “instalações que tenham condições de proporcionar

ao educando atividades de aprendizagem social, profissional e cultural”.

Assim, extraem-se destes dispositivos que o campo de estágio deve ser

propício à formação e educação do estudante, isto é, cabe à unidade concedente

disponibilizar todos os meios necessários, sejam estruturais e funcionais, para

garantir melhor produtividade ao educando.

G) Triangular ou tripartite

O nascituro do contrato de estágio, segundo a Lei nº 11.788/08, depende

necessariamente da presença de três sujeitos: educando, unidade concedente einstituição de ensino, desta relação decorre a característica triangular ou tripartite.

Assim, não é possível a contração sem a presença destas três figuras,

uma vez que, caso haja acordo entre a unidade concedente e o estudante, sem a

influência da instituição de ensino, resultará em vínculo empregatício, pois se tratará

de uma relação de emprego e não de estágio. Além disso, se uma das partes deixa

de cumprir com sua obrigação legal, o contrato poderá ser rescindido.

No entanto, o art. 9º, §§ 1º e 4º, da Lei nº 8.906/1994, possibilitou aobacharel em direito a realização do estágio profissional com o intuito de prepará-lo

para inscrever-se na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Logo, salvo a exceção supracitada, a relação de estágio nasce,

impreterivelmente, na presença de três pólos: estagiário, unidade concedente e

instituição de ensino.

H) De atividade

O escopo do contrato de estágio, nos termos do art. 1º da lei vigente de

estágio é preparar o educando para o trabalho dentro de um ambiente que o permita

vivenciar práticas reais do dia a dia. No mesmo sentido, o § 2º do referido artigo,

aduz que “o estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade

profissional e à contextualização curricular”.

Ratifica esse entendimento, (SOBRINHO, 2008):

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A despeito da sua finalidade predominantemente pedagógica, o contrato deestágio é um pacto de atividade, eis que a sua execução demanda odispêndio de labor pessoal do estagiário, que poderá envolver o trabalhotécnico, manual ou intelectual.

Não obstante, o art. 10 da lei sobredita, fez referência a “jornada de

atividade”.

Destarte, em virtude de ter como finalidade a formação e educação do

estudante, o contrato de estágio consiste em um contrato de atividade, uma vez que

não há vínculo de emprego e, por isso, o estagiário é considerado um trabalhador

atípico.

4.5 Requisitos

A configuração do estágio acontece por meio de uma série de requisitos

precípuos a este instituto, divididos em requisitos formais e materiais.

4.5.1 Formais

A lei 11.788/2008 determina em seu art. 3º, incisos I, II e III, quais são os

requisitos formais para caracterizar uma relação de estágio, são eles:

Art. 3º - O estágio, tanto na hipótese do § 1o

do art. 2o

desta Lei quanto naprevista no § 2o do mesmo dispositivo, não cria vínculo empregatício dequalquer natureza, observados os seguintes requisitos:I – matrícula e freqüência regular do educando em curso de educaçãosuperior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especiale nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional daeducação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino;II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parteconcedente do estágio e a instituição de ensino;III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelasprevistas no termo de compromisso.

O primeiro requisito formal consiste em o estudante está devidamentematriculado e, ainda, frequentando uma instituição de ensino.

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No que tange ao termo de compromisso, assim dispõe Sergio Pinto

Martins (2010, p.42):

Será o compromisso documento obrigatório para se verificar a inexistênciado vínculo de emprego. Chama-se acordo de cooperação o ajustecelebrado entre a pessoa jurídica de direito público ou privado e a instituiçãode ensino a que pertence o estudante.

Além dos requisitos supracitados, no contrato de estágio deve haver a

compatibilidade das atividades oferecidas pela unidade concedente e as dispostas

no termo de compromisso.

Assim, ausentes um destes requisitos no contrato de estágio, ou ainda,

caso haja desobediência a alguma das obrigações expressas no termo de

compromisso, o vínculo empregatício resultará configurado, conforme o determinado

no § 2º do referido artigo.

Nesse passo, têm decidido alguns Tribunais:

CONTRATO DE ESTÁGIO – REQUISITOS LEGAIS AUSENTES (LEI Nº6.494/77) – VÍNCULO DE EMPREGO RECONHECIDO. A caracterização deestágio depende da configuração de requisitos formais e substanciais, nos

termos da Lei nº 6.494/77. Verificado que a celebração de "Acordo deCooperação e Termo de Compromisso de Estágio" ocorreu após um ano deprestação de serviços, tem-se por não atendido o requisito formal impostopelo art. 3º da norma legal citada, afastando-se, por conseguinte, o caráterpedagógico das atividades desempenhadas. O Termo de Cooperaçãoposteriormente firmado não transmuda a natureza da relação empregatícia já formada. O contrário até seria admissível, quando o estagiário passa àcondição de empregado, mas incabível, ante as circunstâncias indicativasde inalterabilidade das condições substanciais de trabalho, reconhecer queo empregado passou, pela mera subscrição contratual, à qualidade deestagiário. O princípio da continuidade da relação de emprego convergepara a invalidação do contrato de estágio firmado posteriormente. Vínculode emprego reconhecido durante todo o período contratual. Recurso

ordinário do Reclamado a que se nega provimento. TRT 9ª Região – 1ªTurma – RO 1146/2006 – Relator Juiz Ubirajara Carlos Mendes – DJPR11/05/2007.

VÍNCULO EMPREGATÍCIO – ESTAGIÁRIO – ÔNUS DA PROVA.INVERSÃO – NÃO DESINCUMBÊNCIA. Alegando a reclamada fatoimpeditivo do direito do autor em ver reconhecido o vínculo empregatício,atraiu para si o ônus de provar o preenchimento dos requisitos exigidos pelaLei 6.494/77 (contrato de estágio), haja vista que o ordinário se presume e oextraordinário se prova. Não apresentando Termo de Compromisso deEstágio firmado pelas partes intervenientes, tem-se que não se desincumbiudo ônus que lhe competia, a teor do disposto no art. 818 da CLT e art. 333,II, do CPC, revestindo-se a contratação de nulidade, acarretando o

reconhecimento do vínculo empregatício nos moldes como preconizado noart. 3º da CLT. TRT 15ª Região – 4ª Turma – RO 574/2004 – Relator JuizRenato Buratto – DJ 18/08/2005.

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VÍNCULO DE EMPREGO – ESTÁGIO. A Lei nº 6.494/77 estabelece comorequisitos para a contratação de estágio que os estudantes estejamregularmente matriculados em curso de ensino médio ou superior, que oestágio propicie a complementação do ensino e da aprendizagem e que arealização do estágio se dê mediante termo de compromisso celebrado

entre o estudante e a parte cedente, com interveniência da instituição deensino. Inexistindo termo de compromisso, bem como seguro contraacidentes pessoais, há que se ter em conta o princípio da primazia darealidade, segundo o qual a relação objetiva evidenciada pelos fatos definea verdadeira relação jurídica estipulada pelos contratantes. TRT 12ª Região – RO 00691-2003-014-12-00-0 – (06185/2004) – 1ª Turma – Relator JuizAmarildo Carlos de Lima – julgado em 07/06/2004.

Ademais, o § 1º, do art. 3º, da LEE determina a obrigatoriedade do

acompanhamento pelo professor orientador da instituição de ensino, bem como do

supervisor do campo de estágio nas atividades desenvolvidas pelo educando.Vale ressaltar também que, salvo o estagiário portador de deficiência, o

estágio não poderá ser cumprido num prazo superior a 2 (dois) anos na mesma

unidade concedente, segundo leciona o art. 11 da supracitada.

Portanto, em regra, o contrato de estágio não gera vínculo de emprego,

desde que preenchidos todos os requisitos acima expostos.

4.5.2 Materiais

A unidade concedente deve disponibilizar local propício ao aprendizado

prático de formação profissional, social e cultural do educando, avaliando-o

conforme currículos, programas e calendários escolares.

Corrobora esse entendimento, Rogério Rangel (2003, p.24):

Atendidos os requisitos formais do estágio como: termo de compromisso,interveniência obrigatória da instituição de ensino universitário, contrato debolsa quando oneroso, seguro de acidentes de trabalho, prazo de duração;e atendidos os elementos materiais como: aluno matriculado e freqüente,local que propicie experiência prática de formação profissional, vinculaçãoentre as atividades desenvolvidas no local do estágio e a proposta curricularde formação teórica profissional, o estágio estará alcançando os seus fins.Do contrário, emerge a figura genérica e hegemônica da relação deemprego. 

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Sendo assim, para que a unidade concedente possibilite a formação do

estudante, por meio de experiências práticas, deve oferecer toda uma estrutura

física, bem como um profissional especializado na área de atuação do educando.

4.6 Classificação

Consoante inteligência do art. 2º, da Lei nº 11.788/08, quanto a sua

obrigatoriedade, o estágio “poderá ser obrigatório ou não obrigatório, conforme

determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e doprojeto pedagógico do curso”.

A) Obrigatório

Segundo o comando incerto no § 1º, do art.º 2º, da Lei nº 11.788/08, o

“estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga

horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma”.Deste modo, entende-se por estágio obrigatório, aquele em que o

educando indispensavelmente deve fazer, uma vez que é pressuposto para a

conclusão e obtenção do diploma. Além disso, faz parte da grade curricular do curso

que se propôs a estudar.

B) Não obrigatório

Como dispõe o § 2º, do art. 2º da lei supracitada, o “estágio não-

obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga

horária regular e obrigatória”.

Portanto, infere-se deste dispositivo, que o estágio não obrigatório é o

meio de complementar a formação e educação do estudante, uma vez que não está

predisposto na grade curricular do curso, ou seja, resume-se em uma atividade

extracurricular acrescentada à carga horária regular e obrigatória.

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4.7 Direitos e Obrigações das Partes Inerentes ao Contrato de Estágio

Os sujeitos que compõem o contrato de estágio são: o estagiário, a

instituição de ensino e a unidade concedente. Entretanto, acrescenta-se a estes os

agentes de integração, que são o elo entre a unidade concedente e a instituição de

ensino.

Outrossim, em todas as relações jurídicas existem direitos e obrigações a

serem cumpridos, no contrato de estágio não é diferente, por conseguinte, abaixo

serão analisados quais os direitos e obrigações de cada integrante desta relação.

4.7.1 Estagiário

O estagiário é um dos sujeitos mais importantes do contrato de estágio,

uma vez que todos os acontecimentos desta relação ocorrem em função dele. Além

disso, o estágio tem o objetivo de formar e educar o estudante.Como leciona Sergio Pinto Martins (2010, p.30), “estagiário é a pessoa

que presta serviços subordinados ao concedente, mediante intervenção da

instituição de ensino, visando a sua formação profissional”.

As obrigações essenciais do estagiário são (SOBRINHO, 2008):

Cumprir a proposta pedagógica da instituição de ensino e o plano deestágio; submeter-se ao trabalho de orientação; obedecer às ordens do

superior hierárquico no âmbito da instituição concedente, desde que asmesmas não sejam manifestamente ilegais; cumprir as normas referentes àsaúde e à segurança do trabalho; apresentar o relatório descritivo de suasatividades, quando este for obrigatório; agir com lealdade e colaboração noambiente de estágio; e ser assíduo e pontual.

Posto isso, cabe ao estagiário cumprir com pontualidade, assiduidade e

honestidade as atividades constantes no plano de estágio, bem como, sujeitar-se às

ordens e as determinações do supervisor de estágio na unidade concedente,

respeitar as normas de saúde e segurança do trabalho e, ainda, no caso de estágio

obrigatório, exibir relatório discriminando seus afazeres.

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No entanto, ao estagiário são assegurados alguns direitos dispostos na

Lei nº 11.788/2008, tais como: seguro contra acidentes pessoais (art. 9º, IV), assim

como a aplicação da legislação relacionada à saúde e segurança do trabalho (art.

14), ambos visando resguardar o educando de qualquer acidente decorrente da

relação de estágio e, ainda, cabe ao estudante receber certificado de realização de

estágio emitido pelo concedente, quando de seu desligamento, pormenorizando as

atividades desenvolvidas (art. 9º, V), com intuito de acrescer o seu currículo.

Além disso, a jornada de trabalho será compatível com o horário escolar

(art. 10, I e II), sendo de 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais para

estagiários de educação especial e para os que estejam terminado o ensino

fundamental e para os estudantes do ensino superior, do ensino médio regular e daeducação profissional de nível médio, o horário será de 6 (seis) horas diárias e 30

(trinta) horas semanais.

Ademais, tratando-se de estágio não obrigatório, o estagiário receberá

bolsa de estudo e auxílio transporte (art. 12), mas não há estipulação em lei de quais

sejam os valores mínimo e máximo.

Por fim, há a possibilidade de recesso de 30 (trinta) dias em caso de

estágio igual ou superior a 1 (um) ano que deve coincidir com as férias escolares,para o estagiário que receba bolsa ou outra contraprestação o recesso deverá ser

remunerado (art. 13, § 1º).

Destarte, o educando deve zelar por suas obrigações para não incorrer no

seu desligamento da unidade concedente, bem como, exercer seus direitos,

denunciado os casos de usurpação de sua condição de estagiário.

4.7.2 Instituição de Ensino

As instituições de ensino, públicas ou privadas, cuidam da supervisão do

estágio, suas obrigações estão dispostas no art. 7º, incisos de I a VII, da Lei nº

11.788/08, in verbis: 

I – celebrar termo de compromisso com o educando ou com seurepresentante ou assistente legal, quando ele for absoluta ou relativamenteincapaz, e com a parte concedente, indicando as condições de adequação

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do estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade daformação escolar do estudante e ao horário e calendário escolar;II – avaliar as instalações da parte concedente do estágio e sua adequaçãoà formação cultural e profissional do educando;III – indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio,

como responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades doestagiário;IV – exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a6 (seis) meses, de relatório das atividades;V – zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando oestagiário para outro local em caso de descumprimento de suas normas;VI – elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dosestágios de seus educandos;VII – comunicar à parte concedente do estágio, no início do período letivo,as datas de realização de avaliações escolares ou acadêmicas.

Deste modo, constata-se que o contrato de estágio só será válido se a

instituição de ensino celebrar o contrato de estágio com o concedente e o estagiário

ou seu representante legal, no caso de incapaz, e ainda, tem a obrigação de

fiscalizar o que fora pactuado. No termo de compromisso estarão dispostos o horário

do estágio, o calendário escolar, a formação do educando e a proposta pedagógica

do curso.

Outrossim, é responsabilidade da instituição de ensino avaliar o ambiente

onde o estágio será realizado, assim como, indicar professor orientador que

acompanhará as atividades realizadas pelo estudante.

Ademais, o fato de supervisionar o estágio faz com que a instituição de

ensino tenha maior controle nas atividades realizadas pelo educando, uma vez que

existe a obrigatoriedade de apresentação de relatório por um período não superior a

6 (seis) meses. Além disso, evita que o concedente explore o estagiário impondo

uma jornada exorbitante e desvirtue o fim para o qual foi destinado o estágio.

No mais, cabe a instituição de ensino elaborar normas complementares e

aprimorar os métodos de avaliação do educando, bem como, relatar a unidadeconcedente a data de início do ano letivo e da realização das avaliações.

Pelo exposto, constata-se que o único direito da instituição de ensino é a

faculdade de celebrar ou não convênio com os entes públicos ou privados, de

acordo com o elencado no art. 8º da lei sobredita. Outrossim, o parágrafo único do

referido artigo, aduz que mesmo havendo celebração de convênio de concessão de

estágio, o termo de compromisso é obrigatório.

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4.7.3 Concedente

No que tange a unidade concedente, antes de descrever quais são seus

direitos e obrigações, é importante saber quem pode ser considerado concedente. O

art. 9º, da Lei 11.788/2008, tratou de solucionar esta dúvida, dispondo o seguinte:

Art. 9o As pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administraçãopública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como profissionaisliberais de nível superior devidamente registrados em seus respectivosconselhos de fiscalização profissional, podem oferecer estágio, (...)

Logo, a lei acima abriu um leque para informar quem poderia oferecer

estágio, o que não era possível, como por exemplo, que os profissionais liberais

devidamente registrados concedessem oportunidades de estágio, uma vez que na

Lei 6.494/77 não havia a previsão de pessoa física como parte concedente no

contrato de estágio.

Após a identificação de quem pode conceder estágio, insta ressaltar as

obrigações impostas a estes entes, que se encontram dispostas nos incisos doartigo 9º, da lei vigente de estágio:

I – celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e oeducando, zelando por seu cumprimento;II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educandoatividades de aprendizagem social, profissional e cultural;III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ouexperiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso doestagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiáriossimultaneamente;

IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cujaapólice seja compatível com valores de mercado, conforme fiqueestabelecido no termo de compromisso;V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realizaçãodo estágio com indicação resumida das atividades desenvolvidas, dosperíodos e da avaliação de desempenho;VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem arelação de estágio;VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis)meses, relatório de atividades, com vista obrigatória ao estagiário.Parágrafo único. No caso de estágio obrigatório, a responsabilidade pelacontratação do seguro de que trata o inciso IV do caput deste artigo poderá,alternativamente, ser assumida pela instituição de ensino.

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A unidade concedente tem como primeira obrigação celebrar o termo de

compromisso com a instituição de ensino e o estagiário. Outrossim, deverá

proporcionar ao educando, para a realização de suas atividades, ambiente que

auxiliem a sua formação, assim como, disponibilizar um supervisor do seu quadro de

funcionários, na área de formação do estagiário, para instruí-lo e supervisioná-lo.

Além disso, o estagiário receberá da unidade concedente seguro contra

acidentes pessoais, conforme valores dispostos no termo de compromisso e

conforme os ditames do mercado e caso o estágio seja obrigatório a instituição de

ensino poderá assumir esta obrigação alternativamente.

Ademais, estarão à disposição da fiscalização os documentos que

comprovem a relação de estágio, bem como, caberá ao concedente enviar relatório,num prazo não superior a 6 (seis) meses, com vista ao estagiário, descrevendo as

atividades realizadas por este e, ainda, em caso de desligamento do educando, este

receberá relatório, emitido pelo concedente, onde estarão descritas todas as

atividades, período e avaliações realizadas.

Por conseguinte, cabe ao concedente cumprir com cada uma destas

obrigações, sob pena de rompimento do convênio com a instituição de ensino e,

ainda, configurar o vínculo de emprego com o estagiário.Não obstante, todas essas obrigações, cabe a unidade concedente zelar

por um número máximo de estagiários, de acordo com o seu quadro estrutural de

funcionários, segundo determina o art. 17, incisos, da Lei nº 11.788/08, in verbis: 

Art. 17 – O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoaldas entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintesproporções:I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;

II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) deestagiários. 

Deste modo, insta esclarecer que o parâmetro supracitado está

relacionado aos empregados da unidade concedente, os terceirizados não são

incluídos para efeitos de cálculo, uma vez que, o caput do artigo em epígrafe faz

referência, “ao quadro de pessoal das unidades concedentes”, isto é, serão

contabilizados, para efeitos proporcionais, somente os empregados do concedente.

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O intuito de estipular um número máximo de estagiários, correspondente

ao quadro de funcionários do concedente, foi coibir a ação das empresas em

substituir o trabalhador comum, já qualificado profissionalmente, que custa mais

caro, por uma mão de obra mais barata, no caso o estagiário.

Entretanto, consoante inteligência do § 4º do artigo sobredito, os estágios

de nível médio e superior não serão alcançados pelo caput deste artigo. Além disso,

o § 5º aduz que serão disponibilizados 10% (dez por cento) das vagas de estágio

para portadores de deficiência.

Portanto, como direito inerente a unidade concedente é o fato de a

obrigação disposta no inciso IV, do art. 9º, da LEE, ser assumida pela instituição de

ensino em caso de estágio obrigatório,

4.7.4 Agentes de Integração

As unidades concedentes e as instituições de ensino têm a faculdade de

estabelecer convênios ou não com os agentes de integração públicos ou privados,isto é, estes não são parte obrigatória na relação jurídica do estágio.

Corrobora este entendimento o art. 5º da Lei nº 11.788/08, que assim

aduz:

Art. 5º - As instituições de ensino e as partes cedentes de estágio podem, aseu critério, recorrer a serviços de agentes de integração públicos eprivados, mediante condições acordadas em instrumento jurídicoapropriado, devendo ser observada, no caso de contratação com recursos

públicos, a legislação que estabelece as normas gerais de licitação.

Ademais, como agentes de integração no Brasil citam-se o Centro de

Integração Empresa-Escola (CIEE) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

Nas palavras de Sergio Pinto Martins (2010, p.28), “o agente de

integração não participa, como regra, da relação entre estudante-escola e

concedente”. Sendo assim, serve apenas de elo entre quem dispõe de vagas para

conceder estágio e a instituição de ensino.

Todavia, embora não sejam sujeitos obrigatórios no contrato de estágio,

quando da celebração do convênio com a instituição de ensino e o concedente,

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devem respeitar, de acordo com os incisos, do § 1º, do artigo citado acima, os

seguintes termos:

§ 1o Cabe aos agentes de integração, como auxiliares no processo deaperfeiçoamento do instituto do estágio:I – identificar oportunidades de estágio;II – ajustar suas condições de realização;III – fazer o acompanhamento administrativo;IV – encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais;V – cadastrar os estudantes.

Além destas obrigações, o § 2º, também do art. 5º, da Lei nº 11.788/08,

veda a “cobrança de qualquer valor aos estudantes, a título de remuneração pelos

serviços referidos nos incisos deste artigo”. Porém, esta vedação restringe-sesomente aos estagiários, possibilitando aos agentes de integração cobrarem valores

das instituições de ensino e dos concedentes do estágio.

Não obstante, todas essas determinações, ainda existe a possibilidade de

responsabilização civil dos agentes de integração, caso indiquem estagiários para

desempenharem atividades que são incompatíveis com o cronograma curricular do

curso ou indiquem estagiários matriculados em cursos ou instituições para as quais

não há previsão de estágio curricular, segundo o disposto no § 3º, do artigosobredito.

Ante o exposto, constata-se que o único direito cabível ao agente de

integração é a possibilidade de cobrar valores, para suas manutenções, somente

dos concedentes e das instituições de ensino, uma vez que, ao estagiário é vedada

qualquer cobrança.

5 DISTINÇÃO DO CONTRATO DE ESTÁGIO E OUTROS CONTRATOS AFINS

O contrato de estágio como elencado acima se reveste de algumas

características peculiares. Ademais, por ser uma espécie de contrato de trabalho

não amparado pelo Direito do Trabalho, insta salientar a relevância em abordar o

contrato de emprego, trabalho em domicílio e contrato de aprendizagem, uma vez

que existem semelhanças entre as relações jurídicas destes e a relação jurídica do

estágio.

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5.1 Contrato de Emprego

No que tange ao contrato de emprego, o contrato de estágio assemelha-

se a este no que diz respeito as suas características, quais sejam: pessoa física,

pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação.

Entrementes, além destas características, o estágio tem escopo

pedagógico, ou seja, busca a formação profissional do educando. Outrossim, ao

estagiário como contraprestação de suas atividades é cabível uma bolsa, enquanto

que ao empregado lhe é assegurado um salário.

Vólia Bomfim Cassar (2010, p.321), tratando sobre o assunto sobredito,assim dispõe:

O contrato de estágio diferencia-se do contrato de trabalho porque noestágio, embora exista a pessoalidade, subordinação, continuidade econtraprestação, requisitos comuns, pois também presentes no contrato detrabalho, no estágio o escopo principal é a formação profissional doestagiário, tendo finalidade pedagógica e de aprendizado.

Em suma, entre o contrato de estágio e o contrato de emprego existe umalinha tênue, motivo pelo qual quando da contratação de um estagiário, devem ser

cumpridos todos os trâmites e requisitos dispostos na Lei 11.788/08 para que não

haja a configuração do vínculo de emprego.

5.2 Trabalho em Domicílio

Nas palavras de Sergio Pinto Martins (2008, p.159), o trabalho em

domicílio distingue-se do contrato de estágio, tendo em vista que a prestação laboral

daquele se dá em habitação própria ou da família e como contraprestação recebe

salário de seu empregador.

Ademais, ainda que a prestação do serviço ocorra fora das dependências

da empresa, existe o vínculo de emprego do trabalhador em domicílio, uma vez que,

este se encontra subordinado ao empregador.

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No entanto, o estagiário exerce suas atividades dentro do ambiente de

trabalho da unidade concedente, onde é supervisionado por um profissional

qualificado na área de sua formação e pelo professor supervisor da instituição de

ensino.

Portanto, a diferença consiste na prestação laboral em domicílio, o que

configura a relação de emprego, fato inexistente na relação de estágio.

5.3 Contrato de Aprendizagem

Dentre os contratos que se assemelham ao contrato de estágio, recai

maior atenção ao contrato de aprendizagem, uma vez que como bem leciona Sergio

Pinto Martins (2010, p.12), ambos têm como característica a “educação da pessoa”,

além disso, o prazo para tais é de no máximo 2 (dois) anos, art. 428, § 3º e art. 11

da Lei 11.788/08.

Todavia, embora o contrato de aprendizagem tenha caráter educativo, o

aprendiz tem vínculo de emprego com o tomador de serviço, pois, consoante adicção do art. 428, da CLT, trata-se de um “contrato de trabalho especial”. No

entanto, entre o estagiário e o concedente não existe vínculo empregatício, desde

que respeitados os requisitos da Lei nº 11.788/2008.

Além disso, o aprendiz, exceto deficiente (art. 428, § 5º, da CLT), tem

limite de idade preestabelecido em lei entre 14 (quatorze) e 24 (vinte e quatro) anos

(caput do art. 428) diferente do que ocorre com o estagiário que independe da idade

para o desempenho de suas atividades.A corroborar o sobredito, assim aduz Vólia Bomfim Cassar (2010, p.321):

“não se deve confundir o estagiário com o trabalhador aprendiz. O primeiro não será

empregado quando cumpridos os requisitos da Lei nº 6.494/77, já no segundo caso,

o aprendiz sempre será empregado regido pela CLT”.

Pelo exposto, constata-se que o aprendiz celebra contrato de trabalho e,

por conseguinte tem amparo legal no Direito do Trabalho, enquanto que no contrato

de estágio não há vínculo de emprego, salvo ocorra o descumprimento das

determinações constantes na Lei nº 11.788/08.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente estudo, buscou-se discorrer sobre a generalidade dos

aspectos inerentes a relação de estágio, consoante o disciplinado tanto na

Consolidação das Leis do Trabalho quanto no ordenamento jurídico especializado

que trata da matéria, a exemplo da Lei nº 11.788, de 25 de setembro de 2008 (Lei de

Estágio de Estudantes) e Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes

e Bases da Educação) que consistem num resistente aparato jurídico nas demandas

direcionadas ao judiciário, para a solução dos conflitos concernentes ao contrato de

estágio.A matéria é de extrema relevância para todos aqueles que estão na ponta

mais vulnerável da relação de estágio, uma vez que, ante a necessidade da

formação e educação profissional, cultural e social do educando, este tem explorada

sua mão de obra, tendo em vista que é mais barato, para a unidade concedente,

manter um estagiário de boa qualificação, que recebe bolsa de estudo sem valor

mínimo estipulado em lei, a um empregado, que não pode receber menos de um

salário mínimo mensal e ainda lhe são assegurados outros direitos, conformedeterminados no ordenamento jurídico pátrio.

Decerto, é bem sabido que alguns empregadores burlam a lei para se

beneficiar da mão de obra barata do estagiário, mas também é comum que a

finalidade do estágio é adimplida por outros empregadores, que ao oferecem vagas

aos estudantes, destinam a estes todo o suporte para seu aprendizado.

Neste contexto, de deveras divergências quanto ao desrespeito à lei que

disciplina o estágio de estudantes, constata-se a preciosidade de uma análise maisaprofundada sobre todas as características e requisitos desta matéria. Portanto,

insta diferenciar a relação contratual do estágio dos demais contratos afins, em

especial o contrato de emprego, pois este resultará caracterizado se não houver

obediência aos requisitos constantes na Lei nº 11.788/08, quando da contratação do

estagiário.

No que tange as características do contrato de estágio que se

assemelham aos outros contratos, frisa-se a pessoalidade, onerosidade, trato

sucessivo e subordinação. No entanto, cumpre ressaltar o caráter solene, triangular

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ou tripartite, de atividade e a adequação, onde estas são características precípuas

do estágio.

Concernente aos requisitos, insta salientar os formais que consistem na

frequência e matrícula do aluno junto à instituição de ensino, o termo de

compromisso celebrado entre o educando, a unidade concedente e a instituição de

ensino e a compatibilidade entre o determinado no termo de compromisso e as

atividades desenvolvidas no estágio. Como requisitos materiais verifica-se que o

concedente deve disponibilizar ao estagiário local que propicie sua formação

profissional, cultural e social, bem como avaliá-lo conforme currículos, programas e

calendários escolares.

Portanto, constata-se que todos os requisitos supracitados devemobrigatoriamente ser obedecidos por todos que compõe a relação de estágio, sob

pena de resultar na caracterização do vínculo de emprego entre o estagiário e a

unidade concedente.

Ademais, ainda que existam várias semelhanças entre o contrato de

estágio e outros contratos, verificam-se sensíveis diferenças entre os sujeitos destes

institutos, dentre elas, há de se destacar que como contraprestação de seu labor o

empregado percebe salário, enquanto, que o estagiário pode receber bolsa deestudo pelo exercício de suas atividades. Além disso, a diferença que merece maior

ênfase consiste no fim para o qual o estágio foi criado, pois o escopo desta relação

 jurídica é o aprendizado e não, somente, a contraprestação na forma de pecúnia.

Deste modo, em face da possibilidade de ocorrer logro no contrato de

estágio, identifica-se o papel preponderante da instituição de ensino em fiscalizar a

relação entre o estagiário e a unidade concedente, observando todos os pontos

estipulados na lei vigente de estágio, fazendo com que esta seja plenamentecumprida.

Todavia, embora não resultarem na configuração do vínculo empregatício

os demais direitos do estagiário devem ser respeitados, tais como: jornada máxima

de atividade, que é de 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais para

estagiários de educação especial e para os que estejam terminado o ensino e de

fundamental e de 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais para os

estudantes do ensino superior, do ensino médio regular e da educação profissional

de nível médio; bolsa de estudo e auxílio transporte no caso de estágio não

obrigatório; seguro contra acidentes pessoais sob a responsabilidade do

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concedente; recesso no caso de estágio com duração igual ou superior a 1 (um)

ano, dentre outros descriminados na Lei nº 11.788/08.

Em suma, a lei que disciplina o estágio de estudantes buscou coibir toda

e qualquer forma de exploração do estagiário causada por fraude à lei, uma vez que

o estágio serve não só para a formação profissional do estudante, mas

principalmente para o seu crescimento como homem, visando seu melhor, quando

de sua efetiva inserção no mercado de trabalho.

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