falácia

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Falácia 1 Falácia O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro [1] . Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam de ser falsos por causa disso. Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima, psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas na própria argumentação e para analisar a argumentação alheia. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos e as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas [2] . É importante observar que o simples fato de alguém cometer uma falácia não invalida toda a sua argumentação. Ninguém pode dizer: "Li um livro de Rousseau, mas ele cometeu uma falácia, então todo o seu pensamento deve estar errado". A falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela ocorre, o que significa que só esse argumento específico será descartado da argumentação, mas pode haver outros argumentos que tenham sucesso. Por exemplo, se alguém diz: "O fogo é quente e sei disso por dois motivos: 1. 1. ele é vermelho; e 2. medi sua temperatura com um termômetro". Nesse exemplo, foi de fato comprovado que o fogo é quente por meio da premissa 2. A premissa 1 deve ser descartada como falaciosa, mas a argumentação não está de todo destruída. O básico de um argumento é que a conclusão deve decorrer das premissas. Se uma conclusão não é consequência obrigatória das premissas, o argumento é inválido. Deve-se observar que um raciocínio pode incorrer em mais de um tipo de falácia, assim como que muitas delas são semelhantes. Lista de falácias por categoria Falácias da ambiguidade Equívoco Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto. Ex.: Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças. Joga-se com os significados das palavras. A palavra "humanos" possui vários sentidos, pode ser um tipo de primata (sentido biológico) ou uma boa pessoa (sentido moral), mas a falácia usa a palavra sem considerar a diferença de sentido.

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Page 1: Falácia

Falácia 1

FaláciaO termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa enganar. Designa-se por falácia um raciocínio erradocom aparência de verdadeiro[1]. Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente inconsistente, semfundamento, inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que alega. Argumentos que se destinam àpersuasão podem parecer convincentes para grande parte do público apesar de conterem falácias, mas não deixam deser falsos por causa disso.Reconhecer as falácias é por vezes difícil. Os argumentos falaciosos podem ter validade emocional, íntima,psicológica, mas não validade lógica. É importante conhecer os tipos de falácia para evitar armadilhas lógicas naprópria argumentação e para analisar a argumentação alheia. As falácias que são cometidas involuntariamentedesignam-se por paralogismos e as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-sepor sofismas[2].É importante observar que o simples fato de alguém cometer uma falácia não invalida toda a sua argumentação.Ninguém pode dizer: "Li um livro de Rousseau, mas ele cometeu uma falácia, então todo o seu pensamento deveestar errado". A falácia invalida imediatamente o argumento no qual ela ocorre, o que significa que só esseargumento específico será descartado da argumentação, mas pode haver outros argumentos que tenham sucesso. Porexemplo, se alguém diz:"O fogo é quente e sei disso por dois motivos:1.1. ele é vermelho; e2. medi sua temperatura com um termômetro".Nesse exemplo, foi de fato comprovado que o fogo é quente por meio da premissa 2. A premissa 1 deve serdescartada como falaciosa, mas a argumentação não está de todo destruída. O básico de um argumento é que aconclusão deve decorrer das premissas. Se uma conclusão não é consequência obrigatória das premissas, oargumento é inválido. Deve-se observar que um raciocínio pode incorrer em mais de um tipo de falácia, assim comoque muitas delas são semelhantes.

Lista de falácias por categoria

Falácias da ambiguidade

Equívoco

Usar uma afirmação com significado diferente do que seria apropriado ao contexto.Ex.: Os assassinos de crianças são desumanos. Portanto, os humanos não matam crianças.Joga-se com os significados das palavras. A palavra "humanos" possui vários sentidos, pode ser um tipo de primata(sentido biológico) ou uma boa pessoa (sentido moral), mas a falácia usa a palavra sem considerar a diferença desentido.

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Falácia 2

Anfibologia

Ocorre quando as premissas usadas no argumento são ambíguas devido à má elaboração sintática.Ex.:1. Venceu o Brasil a Argentina.2.2. Ele levou o pai ao médico em seu carro.Quem venceu? Que carro?

Ênfase

Acentuar uma palavra para sugerir o contrário.Ex.: Hoje o capitão estava sóbrio (sugerindo embriaguez).Pronuncia-se a palavra "sóbrio" com muita força para sugerir que ele é um alcoólatra.É uma ironia.

Apelo a motivos

Apelo à força

Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça para impor a conclusão.Ex.: Acredite no que eu digo, não se esqueça de quem é que paga o seu salário.O oponente pode perder a coragem de enfrentar seu chefe porque pode perder o emprego.

Apelo à consequência

Considerar uma premissa verdadeira ou falsa conforme sua consequência desejada.Ex.:1.1. Você deve ser bom com os outros ou irá para o Inferno.2.2. Você nada tem a perder sendo religioso porque, se Deus existe, você será recompensado.A premissa é tida como válida somente porque a conclusão nos agrada ou assusta.

Apelo ao medo

Apelar ao medo para validar o argumento.Ex.: Vote no candidato tal, pois o candidato adversário vai trazer a ditadura de volta.É uma variação do apelo à consequência.

Argumentum ad misericordiam (apelo à misericórdia)

Consiste no recurso à piedade ou a sentimentos relacionados, tais como solidariedade e compaixão, para que aconclusão seja aceita, embora a piedade não esteja relacionada com o assunto ou com a conclusão do argumento. Doargumento ad misericordiam deriva o argumentum ad infantium - "Faça isso pelas crianças". A emoção é usada parapersuadir as pessoas a apoiar (ou intimidá-las a rejeitar) um argumento com base na emoção, mais do que emevidências ou razões.[3][4]

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Falácia 3

Argumentum ad antiquitatem (apelo à antiguidade)

Afirmar que algo é verdadeiro ou bom somente porque é antigo ou "sempre foi assim".Ex.: Devemos seguir a Bíblia porque é um livro que atravessou os séculos intacto.

Argumentum ad novitatem (apelo à novidade)

Argumentar que o novo é sempre melhor, sem uma justificativa.Ex.: Na filosofia, Sócrates já está ultrapassado. É melhor Sartre, pois é mais recente.

Argumentum ad ignorantiam (apelo à ignorância)

Tentar provar algo a partir da ignorância quanto à sua validade.Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus existe, logo ele não existe.Ou o contrário.Ex.: Ninguém conseguiu provar que Deus não existe, logo ele existe.

Apelo ao preconceito

Associar valores morais a uma pessoa ou coisa para convencer o adversário.Ex.: Uma pessoa religiosa como você não é capaz de argumentar racionalmente comigo.A pessoa é estigmatizada por ser religiosa, considerada inferior ao oponente.

Apelo à multidão

É a tentativa de ganhar a causa por apelar a uma grande quantidade de pessoas.Ex.: Inúmeras pessoas acreditam em Deus, portanto Deus existe.

Apelo à emoção

Recorrer à emoção para validar o argumento.Ex.: Apelo ao júri para que contemple a condição do réu, um homem sofrido, que agora passa pelo transtorno de serjulgado em um tribunal.O advogado quer que o júri absolva o réu por compaixão.

Apelo ao ridículo

Ridicularizar um argumento como forma de derrubá-lo.Ex.: Se a teoria da evolução fosse verdadeira, significaria que o seu tataravô seria um gorila.Espera-se que o oponente desista da sua convicção porque ela parece ridícula.

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Falácia 4

Apelo à vaidade

Provocar a vaidade do oponente para vencê-lo.Ex.: Não acredito que uma pessoa culta como você acredita nessa teoria.O oponente, por ser muito culto, pode se sentir envergonhado de defender essa teoria "absurda".

Erros categoriais e de regras gerais

Composição

É o fato de concluir que uma propriedade das partes deve ser aplicada ao todo.Ex.: Todas as peças deste caminhão são leves; logo, o caminhão é leve.

Divisão

Oposto da falácia de composição. Supõe que uma propriedade do todo é aplicada a cada parte.Ex.: Você deve ser rico, pois estuda em um colégio de ricos.

Acidente

Trata-se de querer aplicar uma regra geral a todos os casos, ignorando as exceções.Ex.: Devemos usar um protetor solar por causa da radiação UV, então devemos usá-lo hoje à noite, na praia.

Inversão do acidente

Trata-se de querer usar uma exceção como se fosse uma regra geral.Ex.: Se deixarmos os doentes terminais usarem maconha, deveremos deixar todos usá-la.

Falácias causais

Falsa causa

Afirma que, apenas porque dois eventos ocorreram juntos, eles estão relacionados.Ex.: Nota-se uma maior frequência de erros de português em sala de aula desde o início das redes sociais e o uso dointernetês. O advento das redes sociais vem degenerando o uso do português correto.Falta mostrar uma pesquisa que o comprove.

Depois disso, por causa disso

Consiste em dizer que, pelo simples fato de um evento ter ocorrido logo após o outro, eles têm uma relação de causae efeito. Porém, correlação não implica causalidade.Ex.: O Japão rendeu-se logo após a utilização das bombas atômicas por parte dos Estados Unidos. Portanto, a paz foialcançada devido à utilização das armas nucleares.

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Falácia 5

Inversão de causa e efeito

Considerar um efeito como uma causa.Ex.:A propagação da SIDA foi provocada pela educação sexual.Na verdade, foi exatamente o contrário. A epidemia de SIDA levou ao incremento da educação sexual como formade prevenção.

Terceira causa

Ignorar a existência de uma terceira causa, não levada em conta nas premissas.Ex.: Estamos vivendo uma fase de elevado desemprego, que é provocado por um baixo consumo.Há uma causa tanto para o desemprego como para o baixo consumo.Ex.: A Alemanha está em crise, que é provocada pelos banqueiros judeus.Existem outros motivos para a crise (ter perdido a Primeira Guerra pode ser uma terceira causa).

Causa diminuta

Apontar uma causa pouco importante.Ex.: Fumar causa a poluição do ar em Edmonton.A causa maior é a poluição industrial e dos automóveis.

Causa complexa

Supervalorizar uma causa quando há várias ou um sistema de causas.Ex.: O acidente não teria ocorrido se não fosse a má localização do arbusto.Houve muitas outras causas.

Non-sequitur

Non sequitur (não se segue que)

Tipo de falácia no qual a conclusão não se sustenta nas premissas. Há uma violação da coerência textual.Ex.: Que nome complicado tem este futebolista! Deve jogar muita bola.A conclusão de que ele joga muito bem nada tem a ver com a premissa de seu nome complicado.

Afirmação do consequente

Essa falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional da seguinte forma:

Se A, então B.

B

Então A.

Ex.: Se há carros, então há poluição. Há poluição. Logo, há carros.Afirma-se o consequente e depois se afirma o antecedente da condicional. O antecedente é o que vem depois de "se"(A) e o consequente é o que vem depois de "então" (B).A poluição não necessariamente é causada por carros.

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Falácia 6

Negação do antecedente

Essa falácia ocorre quando se tenta construir um argumento condicional da seguinte forma:

Se A, então B.

Não A

Então não B.

Ex.: Se há carros, então há poluição. Não há carros. Logo, não há poluição.Nega-se o antecedente e depois se nega o consequente.A falta de carros não acarreta necessariamente a falta de poluição.OBS: os modos certos de argumentar são os contrários, afirmar o antecedente e depois afirmar o consequente ounegar o consequente e depois negar o antecedente.

Inconsistência

Construir um raciocínio com premissas contraditórias.Ex.: John é maior do que Jake e Jake é maior do que Fred, enquanto Fred é maior do que John.Qual é o maior?

Falácias da explicação

Invenção de fatos

Consiste em mentir ou apresentar informações imprecisas.Ex.: A causa da gripe é o consumo de arroz.

Distorção de fatos

Mascarar os verdadeiros fatos.Ex.: O segredo da minha força são os cabelos.É omissão de informação.

Teoria irrefutável

Informar um argumento com uma hipótese que não pode ser testada.Ex.: Ganhei na loteria porque Deus quis assim.Tal teoria foi utilizada inúmeras vezes durante a Idade Média

Explicação incompleta

Ex.: As pessoas tornam-se esquizofrênicas porque as diferentes partes dos seus cérebros funcionam separadas.

Explicação superficial

Usar classificações para tirar conclusões.Ex.: A minha gata Elisa gosta de atum porque é uma gata.O gato deve gostar de atum somente porque é um gato, é uma questão de categoria.

Petitio principii (petição de princípio)

Demonstrar uma tese partindo do princípio de que já é válida.Ex.: É fato que a Bíblia é infalível, portanto todos devem buscar nela a verdade.

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Falácia 7

Que premissas levam à conclusão de que a Bíblia é infalível e permitem que se use essa conclusão como uma novapremissa?Trata-se de usar uma premissa sem dizer de onde ela saiu.

Conclusão irrelevante

Obter uma conclusão que não decorre obrigatoriamente das premissas.Ex.: A lei deve estipular um sistema de cotas nas eleições para que as mulheres possam ocupar mais cargos políticos.Os cargos são dominados por homens e não fazer algo para mudar essa situação é inaceitável. Necessitamos de umasociedade mais igualitária.As cotas não são a solução única e obrigatória do problema.

Deus das lacunas

Responder a questões sem solução com explicações sobrenaturais e/ou que não podem ser comprovadas.Ex.: Os passageiros do avião sobreviveram porque Deus interveio no acidente.Deus supre a falta de explicações, as lacunas.

Erros de definição

Definição muito ampla

Ex.: Uma maçã é um objeto vermelho e redondo.Mas o planeta Marte também é vermelho e redondo.

Definição muito restrita

Ex.: Uma maçã é um objeto vermelho e redondo.Mas há maçãs que não são vermelhas.

Definição circular

Definir um termo usando o próprio termo que está sendo definido.Ex.: A Bíblia é a palavra de Deus porque foi inspirada por Deus.A circularidade consiste em repetir a premissa na conclusão.

Definição contraditória

Definir algo com termos que se contradizem.Ex.: Para serem livres, submetam-se a mim.

Definição obscura

Definir algo em termos imprecisos ou incompreensíveis.Ex.: Vida é a borboleta sublime que bate suas asas dentro de nós.

Falácias da dispersão

Falsa dicotomia

Também conhecida como falácia do branco e preto ou do falso dilema. Ocorre quando alguém apresenta umasituação com apenas duas alternativas, quando de fato outras alternativas existem ou podem existir.Ex.: Se você não está comigo, então está contra mim.

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Falácia 8

Reductio ad absurdum (redução ao absurdo)

Consiste em averiguar uma hipótese, chegando a um resultado absurdo, para depois tentar invalidar essa hipótese.Essa técnica é utilizada muitas vezes sem ter o caráter falacioso, inclusive para provar teorias. Só é falaciosa quandoo raciocínio desenvolvido pela pessoa utiliza falsas premissas.Ex.:A: Você deveria respeitar a crença de C porque todas as crenças são de igual validade e não podem ser negadas.B: Eu recuso que todas as crenças sejam de igual validade.B: De acordo com sua declaração, essa minha crença é válida, como todas as outras crenças.B: Contudo, sua afirmação também contradiz e invalida a minha, sendo exatamente o oposto dela.Aparentemente B mostrou que a afirmação de A é contraditória, porém A possivelmente quis dizer apenas que todasas crenças são subjetivamente válidas, ou seja, B fez uso de uma premissa falsa, uma premissa que não foi lançadapor A.

Bola de neve

Elaborar uma sucessão de premissas e conclusões que conduzem ao absurdo.Ex.: Se aprovarmos leis contra as armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as armase então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado totalitário. Portanto,não devemos banir as armas automáticas.

Pergunta complexa

Insinuação por meio de pergunta.Ex.: Por que você bate na sua mulher?São duas peguntas numa só:1.1. Você bate na sua mulher?2.2. Por que você faz isso?Insinua-se que o homem bate na sua mulher.

Reductio ad Hitlerum (redução ao hitlerismo)

Invalidar um argumento pela comparação com Hitler ou o nazismo.Ex.: Hitler acreditava em Deus, então os crentes não devem ser boas pessoas.

Argumentum ad nauseam (repetição nauseante)

É a aplicação da repetição constante e a crença incorreta de que, quanto mais se diz algo, mais correto está.Ex.: Se Joãozinho diz tanto que sua ex-namorada é uma mentirosa, então ela é.Espera-se convencer o oponente com a saturação da sua mente pelo argumento.

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Falácia 9

Argumentum verbosium (prova por verbosidade)

Tentativa de esmagar os envolvidos pelo discurso prolixo, apresentando um enorme volume de material.Superficialmente, o argumento parece plausível e bem pesquisado, mas é tão trabalhoso desembaraçar e verificarcada fato comprobatório que pode acabar por ser aceito sem ser contestado.É mais uma tentativa de saturar a mente do oponente.

Meio-termo

Recorrer ao meio-termo sem razão.Ex.: Não temos relógio, mas alguns dizem que são dez horas e outros dizem que são seis horas, então é maisacertado supor que são oito horas.O meio-termo pode ou não ser falacioso, depende do contexto. Além disso, a exclusão do meio-termo pode tambémser uma falácia.

Inversão do ônus da prova

O argumentador transfere ao seu opositor a responsabilidade de comprovar o argumento contrário, eximindo-se deprovar a base do seu argumento original.O ônus da prova inicial cabe sempre a quem faz a afirmação primária positiva.Ex.: Dragões existem porque ninguém conseguiu provar que eles não existem.No caso acima, o ônus da prova recairá sobre quem fez a afirmação de que dragões existem.Ex.: Dragões não existem porque ninguém conseguiu provar que eles existem.Ausência de evidência não significa evidência de ausência, no entanto o ônus da prova permanece subentendido paraquem afirma que dragões existem, enquanto não houver a defesa da tese primária positiva, pois não é necessário nempossível provar que algo não existe se não há demonstração positiva de que exista.Ou seja, quem afirma uma coisa deve prová-la para que uma refutação seja tentada.

Falácia genética

Consiste em aprovar ou desaprovar algo baseando-se unicamente em sua origem.Ex.: Você gosta de chocolate porque seu antepassado do século XVIII também gostava.Aponta-se a causa remota como o fator de validade.

Dicto Simpliciter (generalização inadequada)

Ocorre quando o tamanho da amostra é pequeno demais para sustentar uma generalização.Ex.: Minha namorada me traiu. Logo, as mulheres tendem à traição.É semelhante à inversão do acidente.

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Falácia 10

Argumentum ad hominem

Ataque pessoal

Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, ele ataca a pessoa que fez o enunciado.Ex.: Se foi um burguês quem disse isso, certamente é engodo.O argumento está errado porque foi dito por um "canalha".

Apelo ao rico (ad crumenam)

Essa falácia consiste em pregar que a riqueza ou o sucesso material torna as pessoas corretas.Ex.: O barão é um homem bem sucedido na vida. Se ele diz que isto é bom, há de ser.

Apelo ao pobre

Oposto ao ad crumenam. Essa é a falácia de assumir que, apenas porque alguém é mais pobre, então é mais virtuosoe verdadeiro.Ex.: Joãozinho é pobre e deve ter sofrido muito na vida. Se ele diz que isso é uma cilada, eu acredito.

Apelo à autoridade

Argumentação baseada no apelo a alguma autoridade reconhecida para comprovar a premissa.Ex.: Se Aristóteles disse que o Sol gira ao redor da Terra em uma das esferas celestes, então é certamente verdade.É como se um especialista pudesse acertar em tudo o que diz, mesmo sendo algo fora da sua área de especialidade.Essa falácia consiste em usar as opiniões de especialistas em áreas nas quais eles são leigos, como um físico sepronunciando sobre antropologia. A opinião dele só vale dentro da física.No caso acima, Aristóteles não tinha meios de testar essa teoria astronômica, no tempo dele não havia recursos paraisso. Entretanto, as teses dele em metafísica certamente podem ser consideradas porque não dependem deinstrumentos e experimentação, somente do raciocínio típico de um filósofo.

Argumentum ad lapidem

Desqualificar uma afirmação como absurda, mas sem provas.Ex.: João, ministro da educação, é acusado de corrupção e defende-se dizendo: "Esta acusação é um disparate".Baseado em quê? Onde estão as evidências em contrário?

Apelo à autoridade anônima

Trata-se de fazer afirmações recorrendo a supostas autoridades, mas sem citar as fontes.Ex.: Os peritos dizem que a melhor maneira de prevenir uma guerra nuclear é estar preparado para ela.Que peritos?

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Falácia 11

Estilo sem substância

Validar um argumento por sua beleza estética ou pela elegância do argumentador.Ex.: Trudeau sabe dirigir as massas com muita habilidade. Ele deve ter razão.

Expulsão do grupo (falácia do escocês)

Fazer uma afirmação sobre uma característica de um grupo e, quando confrontado com um exemplo contrário,afirmar que esse exemplo não pertence realmente ao grupo.Ex.:1.1. Nenhum escocês coloca açúcar em seu mingau.2.2. Ora, eu tenho um amigo escocês que faz isso.3.3. Ah, sim, mas nenhum escocês "de verdade" coloca.Ou se diz que o "verdadeiro socialismo" não poderia ter causado opressão como no regime stalinista.A falácia não ocorre se há uma justificativa para o argumento.

Espantalho

Consiste em criar ideias reprováveis ou fracas, atribuindo-as à posição oposta.Ex.:1.1. Deveríamos abolir todas as armas do mundo. Só assim haveria paz verdadeira.2. Meu adversário, por ser de um partido de esquerda, é a favor do comunismo radical e quer retirar todas as suas

posses, além de ocupar as suas casas com pessoas que você não conhece.O outro é convertido num monstro, num espantalho, uma figura fácil de odiar e na qual todos querem bater visto quesua maldade foi "comprovada". É dessa forma que se faz uma pessoa odiar alguém ou alguma coisa, bastaassociá-los a outra pessoa ou coisa que todos odeiam. Leva-se a pessoa a odiar o outro por associação.É uma demonização do oponente.

Egocentrismo ideológico

Realizar um argumento de forma parcial e tendenciosa.Ex.: O liberalismo é o ideal, pois Smith disse que...A pessoa só consegue pensar de seu ponto de vista.

Bulverismo

Argumentar partindo do pressuposto de que o oponente já está comprovadamente errado.Ex.:1. Você está dizendo que a Bíblia é correta? Nem vou discutir com você, parei. Sabemos que a ciência

comprovadamente explica tudo corretamente.2.2. Se você não acredita que a Bíblia é infalível, já perdeu o argumento, pois é óbvio que ela é.É um egocentrismo ideológico, não se consegue considerar os pontos de vista do outro.

Page 12: Falácia

Falácia 12

Falácia da falsa proclamação de vitória

Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bonsargumentos.É uma bravata contra o oponente para intimidá-lo.

Outras falácias

Círculo vicioso

É a tentativa de provar uma conclusão com base em uma retroalimentação, o efeito reforçando a causa.Ex.:1.1. A inflação diminui o poder dos salários, temos que aumentar os salários, mas, fazendo-o, teremos que aumentar

os preços para pagá-los, o que aumentará a inflação.2.2. A polícia me passou uma multa porque não gosta de mim. E a prova de que eles não gostam de mim é terem me

passado uma multa.Uma coisa leva à outra.

Complexo do pombo enxadrista

Proclamar vitória, dando a entender que venceu a discussão, sem ter conseguido realmente apresentar bonsargumentos.É uma bravata contra o oponente para intimidá-lo. É parecida com a falsa proclamação de vitória.

Esnobismo cronológico

Ocorre quando o pensamento, a arte ou a ciência de um período histórico anterior é tido como inevitavelmenteinferior, quando comparado com os equivalentes do tempo presente.Ex.: A é um argumento antigo, da época em que as pessoas também acreditavam em B. Se B é claramente falso, Atambém é falso.É um apelo à tradição ou à antiguidade.

Evidência anedótica

Refere-se a uma evidência informal na forma de anedota (conto, episódio, derivado do grego anékdota, significando"coisas não publicadas") ou de "ouvir falar". A evidência anedótica é chamada de testemunho.Ex.: Há provas abundantes de que Deus existe e de que continua produzindo milagres hoje. Na semana passada, lisobre uma menina que estava morrendo de câncer. Sua família inteira foi à igreja e rezou e ela se curou.É um mero boato.

Falácia da pressuposição

Consiste na inclusão de uma pressuposição que não foi previamente esclarecida como verdadeira, ou seja, na falta deuma premissa.Ex.: Você já parou de bater na sua esposa?É uma pergunta maliciosa porque se divide em duas. A primeira seria "Por que você bate na sua esposa?", é isso oque se pretende dizer aos ouvintes.É semelhante à pergunta complexa.

Page 13: Falácia

Falácia 13

Falácia da probabilidade condicionada

Ocorre quando se expõem estatísticas e probabilidades sem oferecer o contexto necessário para sua interpretação,confundem-se probabilidades condicionais, invertendo-as ou tratando-as como se fossem incondicionais.Ex.: Os jurados foram expostos à chance de o marido vir a matar a mulher porque ele a espancava, quando o dadorelevante, diante do fato consumado (a esposa já tinha sido assassinada), era "qual a chance de a mulher ter sidomorta pelo marido, dado que ele a espancava?". A chance de ser morta por um marido espancador é de 1 em 1.000,de qualquer forma muito mais alta que o risco de uma mulher ser morta por um marido que não a espanca ou por umestranho qualquer na rua, mas era a pergunta errada.

Falácia de validação pessoal (efeito Forer)

Avaliar algo ou alguém com critérios genéricos, dando a entender que essa avaliação é individual.Seria como avaliar alguém em função de ser comunista, como se todos os comunistas fossem iguais.

Falácia nomotética

Consiste na crença de que uma questão pode ser resolvida simplesmente dando-lhe um novo nome, quando, narealidade, a questão permanece sem solução.Ex: Renomear o criacionismo como design inteligente.

Falácias tipo "A" baseado em "B" (conclusão sofismática)

Ocorrem dois fatos. São colocados como similares por serem derivados ou similares a um terceiro fato.Ex.:1. O islamismo é baseado na fé.2. O cristianismo é baseado na fé.3.3. Logo, o islamismo é similar ao cristianismo.É uma falsa aplicação do princípio do silogismo. Pode-se visualizar como três conjuntos, o cristianismo e oislamismo são dois conjuntos dentro do conjunto fé, mas isso não significa que aqueles dois conjuntos possuemintersecção.

Ignoratio elenchi (conclusão sofismática)

Consiste em utilizar argumentos que podem ser válidos para chegar a uma conclusão que não tem relação algumacom os argumentos utilizados.Ex.: Os astronautas do Projeto Apollo eram bem preparados, todos eram excelentes aviadores e tinham boa formaçãoacadêmica e intelectual, além de apresentarem boas condições físicas. Logo, foi um processo natural os EstadosUnidos ganharem a corrida espacial contra a União Soviética, pois o povo americano é superior ao povo russo.Só a conclusão é discutível, as premissas são verdadeiras.É uma falácia de conclusão irrelevante.

Page 14: Falácia

Falácia 14

Plurium interrogationum

Ocorre quando se exige uma resposta simples a uma questão complexa.Ex.: O que faremos com esse criminoso? Matar ou prender?É um falso dilema.

Red herring (nariz vermelho ou de palhaço)

Falácia cometida quando material irrelevante é introduzido no assunto discutido para desviar a atenção e chegar auma conclusão diferente.Ex.: Será que o palhaço é o assassino? No ano passado, um palhaço matou uma criança.O fato de um palhaço ter matado uma criança não significa nada, não interfere no caso em questão.

Apelo ao lucro

Considerar uma premissa verdadeira ou falsa conforme sua consequência financeira.Ex.:1. Se o aquecimento global for verdade, então muitos cientistas vão ganhar dinheiro para pesquisas e muitas

empresas vão lucrar milhões para produzirem energia de fontes que não emitem dióxido de carbono. Portanto, oaquecimento global não é verdade.

2. Se o aquecimento global for verdade, então países pobres ou em desenvolvimento vão ter prejuízo por nãoexplorarem suas jazidas de petróleo e carvão. Portanto, o aquecimento global não é verdade.

A premissa é válida ou inválida porque a conclusão vai trazer lucro ou vai trazer prejuízo financeiro. É umainsinuação maliciosa de que as teorias são feitas para causar lucros ou prejuízos às pessoas.É uma forma de ataque pessoal porque insinua que o oponente tem algo a ganhar com seu argumento. Esse ganhopessoal pode não ser financeiro, é comum insinuar que o oponente tem motivos pessoais para defender umargumento, mas todo argumento deve ser analisado conforme a adequação da conclusão às premissas.

Falso axioma

Consiste em fazer uma afirmação duvidosa parecer uma verdade incontestável.Ex.: Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher.

Falsa analogia

Duas coisas sem relação são comparadas.Ex.: Os empregados são como pregos: temos que martelar a cabeça para que cumpram suas funções.

Exigência de perfeição

Pede-se mais do que o necessário para resolver um problema.Ex.: A egiptóloga Fulana de Tal é uma principiante, obteve o doutorado há pouco tempo, tem limitada experiência:não pode julgar um descobrimento tão importante.

Page 15: Falácia

Falácia 15

Tu quoque (tu também)

Consiste em admitir um erro que os outros também cometem, como se fosse uma desculpa.Ex.: Você também foi acusado de crime de corrupção.

Falácia da conversão

Ex.:1.1. O mendigo pede.2.2. Logo, quem pede é mendigo.Não respeita as leis da oposição. Pode-se imaginar o conjunto mendigos dentro do conjunto pedintes, mas podehaver pessoas dentro do conjunto pedintes que não fazem parte do conjunto mendigos. Além disso, a negação de quetodo mendigo pede é que algum mendigo não pede.

Falácia da oposição

Ex.:1.1. É falso que todo homem é sábio.2.2. Nenhum homem é sábio.Não respeita as leis da oposição. A premissa significa que algum homem não é sábio e o contrário disso é que todohomem é sábio.OBS: algum é a negação (oposição, contrário) tanto de todo como de nenhum.

Ligações externas• Como evitar falácias [5]

• Guia das falácias [6]

• Descrição de 42 tipos de falácias [7] (em inglês)• Falácias e paradoxos [8]

Referências[1] Falácias e Paradoxos, afilosofia.no.sapo.pt (http:/ / afilosofia. no. sapo. pt/ 11. falacia. htm)[2] Falácias e Paradoxos, afilosofia.no.sapo.pt (http:/ / afilosofia. no. sapo. pt/ 11. falacia. htm)[3] Logical Fallacies and the Art of Debate (http:/ / www. csun. edu/ ~dgw61315/ fallacies. html#Argumentum ad misericordiam)[4] Introduction to Logic Argumentum ad Misericordiam. (http:/ / philosophy. lander. edu/ logic/ misery. html)[5] http:/ / www. pucrs. br/ gpt/ falacias. php[6] http:/ / criticanarede. com/ falacias. htm[7] http:/ / www. nizkor. org/ features/ fallacies[8] http:/ / afilosofia. no. sapo. pt/ 11. falacia. htm

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