faculdade de tecnologia senai cimatec · o rômulo e pollyana, responsáveis pelo laboratório de...

114
FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E TECNOLOGIA INDUSTRIAL LEANDRO GUIA DAMASCENO RESISTÊNCIA DO POLICARBONATO AO ENVIRONMENTAL STRESS CRACKING (ESC) SOB A INFLUÊNCIA DE CONCENTRADORES DE TENSÃO EM CONTATO COM O ÁLCOOL ISOPROPÍLICO E METANOL Salvador 2010

Upload: duongminh

Post on 19-Jan-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

LEANDRO GUIA DAMASCENO

RESISTÊNCIA DO POLICARBONATO AO ENVIRONMENTAL STRESS CRACKING (ESC) SOB A INFLUÊNCIA DE

CONCENTRADORES DE TENSÃO EM CONTATO COM O ÁLCOOL ISOPROPÍLICO E METANOL

Salvador

2010

Page 2: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

2

LEANDRO GUIA DAMASCENO

RESISTÊNCIA DO POLICARBONATO AO ENVIRONMENTAL STRESS CRACKING (ESC) SOB A INFLUÊNCIA DE

CONCENTRADORES DE TENSÃO EM CONTATO COM O ÁLCOOL ISOPROPÍLICO E METANOL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão e Tecnologia Industrial, Faculdade Tecnologia SENAI CIMATEC como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão e Tecnologia Industrial.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Barros

Salvador 2010

Page 3: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

3

Ficha catalográfica

A ser elaborada pela Biblioteca da Faculdade de Tecnologia SENAI Cimatec

S581

Damasceno, Leandro Guia Resistência do Policarbonato ao Environmental Stress Cracking

(ESC) sob a Influência de Concentradores de Tensão em Contato com o Álcool Isopropílico e Metanol / Leandro Guia Damasceno - Salvador, 2010.

44f; il.; color. ESC; polímeros; policarbonato; mecânica da fratura; concentrador

de tensão; carga constante.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Barros Co-orientador: Dra. Andrea Lopes Latado Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Tecnologia SENAI Cimatec,

2010.

1. ESC. 2. Polímeros. 3. Policarbonato. 4. Mecânica da Fratura. 5. Concentrador de tensão. 6. Carga constante.

CDD 658.78

Page 4: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

4

LEANDRO GUIA DAMASCENO

RESISTÊNCIA DO POLICARBONATO AO ENVIRONMENTAL STRESS CRACKING (ESC) SOB A INFLUÊNCIA DE

CONCENTRADORES DE TENSÃO EM CONTATO COM O ÁLCOOL ISOPROPÍLICO E METANOL

Page 5: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

5

Dedico este trabalho aos meus pais

e a minha querida esposa.

Page 6: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

6

AGRADECIMENTOS

Este espaço é reservado primeiramente para agradecer a Deus por me abençoar,

dando-me saúde, paz e força, elementos fundamentais para que eu conseguisse

terminar esta pesquisa.

Agradeço aos meus orientadores, o Prof Dr. Alexandre Barros e a Drª. Andrea

Latado pela presteza, atenção e paciência ao longo deste período. A todos os

ensinamentos passados que servirão para a vida acadêmica, profissional e pessoal.

O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI

CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios de tração e de

tração com carga constante realizados.

Ao laboratório de qualidade Lear pela realização dos entalhes nos corpos de provas,

mais precisamente a Henrique Lins pela liberação dos equipamentos.

Deixo meu sincero agradecimento a Ford Motor Company por financiar parte dos

estudos. Não posso deixar de agradecer aos colegas e amigos da turma de

Mestrado que estive mais próximo durante a jornada acadêmica, a Fernanda Silva, e

aos meus amigos de trabalho Nadilma Costa e Reginaldo Nascimento por todo

apoio dado.

Não devo esquecer-me de agradecer especialmente a minha esposa, Virginia

Damasceno, pela motivação, compreensão e amor, principalmente nos momentos

que não pude lhe dar a atenção necessária por está dedicado as pesquisas.

Agradeço de coração aos meus pais, Evandro e Marina, por todo apoio dado em

minha vida. Sucesso e conquistas totalmente influenciados por eles. E ao meu irmão

Marcio pelo companheirismo de amigo desde sua existência

Page 7: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

7

RESUMO

A substituição de materiais feitos de vidros e metais por materiais poliméricos está

crescendo de forma significativa nas indústrias. A fratura sob tensão ambiental

(environmental stress cracking ou ESC) é um fenômeno responsável por diversas

falhas de produtos plásticos em serviço, que consequentemente tem implicações

enormes nas indústrias e economia gerando grandes insatisfações aos

consumidores finais. O ESC é a falha devido à ação conjunta de uma tensão, que

pode ser interna ou externa, e um fluido em determinados polímeros, principalmente

nos polímeros amorfos. Esta combinação é responsável por causar a ruptura frágil e

repentina do produto polimérico. O policarbonato é um termoplástico amorfo de alta

transparência, mais leve que o vidro e de boa resistência mecânica. Este polímero

possui uso bastante diversifivado em sua cadeia produtiva, tornando-o cada vez

mais utilizado pelas indústrias. Na indústria este tipo de polímero é usado para a

fabricação de inúmeras peças, desde as lentes de iluminaçao de automóveis a

lentes de óculos. Estas peças requerem constantes solicitações mecânicas (tensões

residuais e externas) e podem estar em contato com agentes químicos dos mais

variados, podendo falhar repentinamente ao longo de sua vida. O mecanismo de

fratura sob tensão ambiental ou Environmental Stress Cracking no policarbonato é

comum para este tipo de polímero fazendo com que as peças falhem em serviço

com tensões muito inferiores à tensão de escoamento do material. Outro fator muito

importante para a fratura do policarbonato pelo mecanismo de ESC são as áreas

concentradoras de tensão, geradas pelos desenhos, formas, espessuras das

paredes e cantos vivos que a peça possui. Esta Dissertação de mestrado tem como

objetivo avaliar a resistência do policarbonato sob a influência de um concentrador

de tensão em contato com o álcool isopropílico e metanol utilizando os conceitos da

mecânica da fratura.

Palavras-chave: ESC; polímeros; policarbonato; mecânica da fratura; concentrador

de tensão; carga constante.

VII

Page 8: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

8

ABSTRACT

The replacement of glass and metals for polymers is growing significantly in

industries. Environmental stress cracking (ESC) is one of the phenomena

responsible for many failures of plastic products in service, which consequently has

great implications for the industries and the economy, generating dissatisfaction

among final customers. ESC is a failure that occurs when a combined action of

stresses, internal or external, and a fluid gets in contact with a polymer, especially if

the polymer is amorphous. This combination is responsible for causing a brittle and

sudden fracture of the polymeric product. Polycarbonate is an amorphous

thermoplastic polymer of high transparency, lighter than glass and that has good

mechanical strength. The production process of this polymer is very flexible, which

makes it each day more used by the industries. In the industry this type of polymer is

used for manufacturing many different parts, including head and tail lamp lenses for

cars and lenses for glasses. These parts are exposed to constant mechanical efforts

(residual and external stresses) and may be in contact with many different chemical

agents that may cause a failure during its life time. The mechanism of Environmental

Stress Cracking in polycarbonate is common for this type of polymer, leading the

parts to failure even when under much lower stresses than its yield stress. Another

very important factor that contributes to the fracture of polycarbonate through ESC

are the stress concentration areas generated by designs, shapes, wall thicknesses

and sharp edges that may exist in the plastic part. This dissertation has the objective

of evaluating the resistance of polycarbonate under the influence of a stress and in

contact with isopropyl alcohol and methanol, using fracture mechanics concepts.

Keywords: ESC; polymers; polycarbonate; fracture mechanics; stress concentration;

constant load.

VIII

Page 9: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Causas de falhas em serviço (Hemais, 2003) ......................................24

Tabela 02 – Tabela para o Bell Teste (Turnbull et al, 2000) ....................................49

Tabela 03 – Ensaios de tração para diferentes entalhes .........................................88

Tabela 04 – Ensaios de tração e influências dos agentes .......................................89

Tabela 05 – Força constante. Tempo de falha para o álcool isopropílico...... ...........91

Tabela 06 – Força constante. Tempo de falha para o metanol ................................92

Tabela 07 – Análise da peça para o ensaio de GPC...............................................103

Tabela 08 – Resultados obtidos por GPC ...............................................................103

IX

Page 10: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

10

LISTAS DE FIGURAS

Figura 01 – Imagens de fratura por ESC (Wright, 1996) ..........................................18

Figura 02 – Fratura de uma lente de iluminação automotiva ...................................18

Figura 03 – Fórmula estrutural do policarbonato ......................................................24

Figura 04 – Interação da tensão, material e agente (Turnbull et al, 2000) ...............27

Figura 05 – Variação da tensão do policarbonato exposto ao álcool isopropílico por

72 horas comparadas com o ar. (Al Saidi et al, 2003) ..............................................28

Figura 06 – Microscopia ótica do policarbonato: (a) em álcool isopropílico por 72 h

com 1,64% de deformação e (b) em metanol por 72 horas com 1,64% de

deformação (Al Saidi et al, 2003) .............................................................................29

Figura 07 – Etapas das falhas causadas por ESC (Jansen, 2004) ..........................30

Figura 08 – Etapas do processo de ruptura do polietileno (Lustiger e Markham,

1983). .......................................................................................................................33

Figura 09 – Formação de vazios (Lustiger,1986) .....................................................33

Figura 10 – Etapas de deformação dúctil do polietileno (Lustiger e Markham, 1983)...

..................................................................................................................................33

Figura 11 – Ensaio de tração com carga constante no PMMA: Tensão X Deformação

para iniciar a fratura em diferentes taxas de temperatura (Wright, 1996).. ...............35

Figura 12 – Ensaio de tração com carga constante para o ESC: variação da

deformação (Wright, 1996) .......................................................................................36

Figura 13 – Variação da resistência do policarbonato ESC em contato com etileno

glicol para diferentes tensões (Al Saidi et al ,2003) ..................................................37

Figura 14 – Comportamento de absorção do policarbonato em metanol, etileno glicol

e álcool isopropílico (Al Saidiet al ,2003) ..................................................................38

Figura 15 – Influência do agente para a resistência ao ESC no PET (Sanches, 2006).

..................................................................................................................................42

Figura 16 – Exemplo de tensões residuais em peça de policarbonato ....................43

Figura 17 – Desenhos de peças com concentradores de tensão (Hosford, 2005) ...44

Figura 18 – Ensaio de flexão dois pontos (Sianhkali et al, 2004) .............................46

Figura 19 – Ensaio de flexão três pontos (Al Saidi, 2003) ........................................47

Figura 20 – Ensaio de flexão quatro pontos (Turnbull et al, 2000) ...........................48

Figura 21 – Ensaio auto-carregamento tênsil (Turnbull et al, 2000) .........................49

Figura 22 – Bell Test para materiais flexíveis ((Turnbull et al, 2000) ........................50

X

Page 11: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

11

Figura 23 – Teste do Cantiléver (Turnbull et al, 2000) .............................................51

Figura 24 – Teste tênsil sob carga constante (Turnbull et al, 2000) .........................52

Figura 25 – Comparação do tempo de falha do agente e do ar (sem agente)

(Turnbull et al, 2000) ................................................................................................53

Figura 26 – Ensaios dinâmicos (Turnbull et al, 2000) ..............................................54

Figura 27 – Exemplo de ESC em ensaios dinâmicos (Turnbull et al, 2000) .............54

Figura 28 – Concentrações de tensões introduzidas por entalhes e mudança gradual

de seção: (a) desenho da peça. (b) fotografia foto-elástica (Pilkey, 2008) ...............55

Figura 29 – Ensaio de tração com entalhes; (a) análise de elementos finitos; (b)

fotografia foto-elástica; (c) corpo de prova (Pilkey, 2008) ........................................56

Figura 30 – Fratura frágil do polímero (Ashby e Jones, 2007) .................................58

Figura 31 – Fratura dúctil do polímero (Ashby e Jones, 2007) .................................58

Figura 32 – Concentração de tensão em placa com furo elíptico (Janssen et al,

2002). ........................................................................................................................61

Figura 33 – Placa com orifício elíptico (Janssen et al, 2002). ...................................61

Figura 34 – Gráfico ilustrativo das energias associadas com o aumento do

comprimento da trinca central numa placa (Janssen et al, 2002). ...........................62

Figura 35 – Modelo de um corpo de prova (placa) de espessura t com uma trinca

central de tamanho 2a (Janssen et al, 2002).. ..........................................................63

Figura 36 – Trinca em uma placa infinita, sob carga unixial .....................................65

Figura 37 – Ensaio de tração em uma placa com trinca ..........................................65

Figura 38 – Esquema da variação da energia de um corpo em função do acréscimo

da trinca ....................................................................................................................69

Figura 39 – Modos de carregamento básico de uma trinca (Anderson, 1995) .........70

Figura 40 – Ensaio da Integral J (Bahram, 2001) .....................................................71

Figura 41 – Desenho esquemático do dispositivo de ensaio com corpo de prova tipo

viga em balanço. (Janssen et al, 2002) ....................................................................72

Figura 42 – Gráfico de K com relação ao tempo de fratura. (Janssen et al, 2002) ..73

Figura 43 – Alteração de K com a propagação da trinca (Janssen et al, 2002) .......73

Figura 44 – Ensaio de TTF em liga de titânio Ti-6AI-4V ...........................................74

Figura 45 – Limitações da aplicação da fórmula de KI .............................................76

Figura 46 – Corpo de prova com um entalhe (Meyers e Chawla, 2009) ..................76

Figura 47 – Tipo de corpo de prova e orientação das cadeias .................................77

Figura 48 – Curva tensão deformação para o policarbonato Makrolon AL2647 .......78

Figura 49 – Projetor de perfil Mitutoyo PJ–A3000 ....................................................79

XII

XI

Page 12: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

12

Figura 50 – Graminho Mitutoyo digital ......................................................................79

Figura 51 – Lâmina orbital de corte Eduley ..............................................................80

Figura 52 – Detalhe do entalhe no corpo de prova ..................................................82

Figura 53 – Corpo de prova embebido no agente químico ......................................82

Figura 54 – Ensaio de tração sem entalhe................................................................86

Figura 55 – Ensaio de tração para diferentes entalhes ............................................87

Figura 56 – Ensaio de tração para corpo de prova com entalhe de 2 mm. ...............88

Figura 57 – Influência dos agentes no ensaio de tração ..........................................89

Figura 58 – Força constante em relação ao tempo de falha para o álcool isopropílico.

..................................................................................................................................90

Figura 59 – Força constante em relação ao tempo de falha para o metanol ...........92

Figura 60 – Detalhe da fratura; (a) corpo de prova em contato com o álcool

isopropílico e (b) corpo de prova em contato com o metanol ...................................93

Figura 61 – Ensaios de tração com carga constante. Deformação em relação ao

tempo da fratura para o policarbonato em contato com o metanol ..........................94

Figura 62 – Ensaios de tração com carga constante. Deformação em relação ao

tempo da fratura para o policarbonato em contato com o álcool isopropílico............95

Figura 63 – Ensaio TTF no policarbonato em contato com o álcool isopropílico ......97

Figura 64 – Ensaio TTF no policarbonato em contato com o metanol .....................97

Figura 65 – Propagação da trinca no policarbonato em contato com os agentes

químicos. ...................................................................................................................99

Figura 66 – Detalhe da região da trinca e das fraturas ...........................................101

Figura 67 – Análise das tensões residuais provocadas pelos cantos vivos ............101

Figura 64 – Foto ilustrativa moldade em PC e analisada por GPC .........................102

Figura 64 – Curvas de DPM das diferentes regiões da amostra LCP081364 e da

amostra LCP081365 ..............................................................................................103

Figura 70 – Análise das fraturas por MEV: (a) superfície da fratura, (b) fratura frágil,

(c) possível início da fratura, (d) fratura semelhante a marcas de praia..................105

Figura 71 – Melhoria no desenho. Alívio de concentração de tensão .....................105

XII

Page 13: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

13

SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................. VII

ABSTRACT ............................................................................................................. VIII

LISTA DE TABELAS ................................................................................................. IX

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. X

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................15

1.1 Definição do Problema ........................................................................................16

1.2 Objetivo ...............................................................................................................18

1.3 Limitações... ........................................................................................................19

1.4 Questões de Pesquisa... .....................................................................................20

1.5 Motivação e Relevância do Trabalho ..................................................................20

1.6 Organização da Dissertação de Mestrado ..........................................................22

2 REVISÃO DA LITERATURA – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................24

2.1 Policarbonato ......................................................................................................24

2.2 Environmental Sress Cracking (ESC)..................................................................25

2.3 Fatores que Influenciam o Mecanismo de ESC .................................................34

2.3.1 Temperatura...............................................................................................34

2.3.2 Nível de Tensão ........................................................................................ .35

2.3.3 Parâmetros de Solubilidade do Polímero e do Agente ...............................37

2.3.4 Densidade e Grau de Cristalinidade do Polímero ......................................39

2.3.5 Peso Molecular e Distribuição do Peso Molecular do Polímero .................41

2.3.6 Volume Molar do Agente Causador de ESC ..............................................42

2.3.7 Tensões Residuais do Processo de Injeção...............................................42

2.3.8 Desenho do Produto...................................................................................43

2.4 Métodos para Análise de ESC ............................................................................44

2.4.1 Ensaios Sob Deformação Constante..........................................................45

2.4.1.1 Flexão...............................................................................................45

2.4.1.2 Auto-carregamento Tênsil ................................................................48

2.4.1.3 Bell Test para Materiais Flexíveis.....................................................49

2.4.2 Ensaios Sob Tensão Constante .................................................................50

2.4.1.1 Teste do Cantiléver ..........................................................................50

2.4.1.1 Teste Tênsil Sob Carga Constante...................................................51

2.4.3 Ensaios Dinâmicos .....................................................................................53

2.5 Mecânica da Fratura ...........................................................................................55

XIII

Page 14: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

14

2.5.1 Comportamento da Trinca e Critério de Griffith..........................................61

2.5.2 Utilização da MFLE no Estudo da Fratura Assistida pelo Ambiente...........69

2.5.3 Fator de Intensidade de Tensão Crítica .....................................................74

3 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................77

3.1 Polímero Utilizado e Técnica de Obtenção dos Corpos de Provas ....................77

3.2 Agentes Químicos ..............................................................................................78

3.3 Materiais e Equipamentos ...................................................................................79

3.4 Ensaio de Tração ...............................................................................................80

3.5 Ensaio de Tração com Carga Constante ...........................................................81

3.6 Técnicas de Obtenção do Entalhe e Método de Contato com Agente Químico..81

3.7 Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV ......................................................83

3.8 Cromatografia de Permeação em Gel – GPC ....................................................83

4 RESULTADOS OBTIDOS.....................................................................................85

4.1 Influência do Entalhe nos Ensaios de Tração .....................................................85

4.2 Influência dos Agentes nos Ensaios de Tração...................................................88

4.3 Ensaio de Tração com Carga Constante – Força em Relação ao Tempo de

Fatura........................................................................................................................90

4.4 Ensaio de Tração com Carga Constante – Deformação em Relação ao Tempo

de Fratura .................................................................................................................93

4.5 Ensaio de Fratura Assistida pelo Ambiente – TTF (Time-to-Falilure) ..................96

4.6 Aplicações Prática da Questão de Pesquisa – Fratura de Lente de Policarbonato

em Serviços.............................................................................................................100

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................106

5.1 Contribuições ...................................................................................................108

5.2 Atividades Futuras de Pesquisa .......................................................................108

REFERÊNCIAS.......................................................................................................110

XIV

Page 15: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

15

1 INTRODUÇÃO

A substituição de materiais tradicionais por materiais poliméricos pelas indústrias

está crescendo de forma significativa ao longo de vários anos, mas apenas nas

últimas décadas é que o ritmo dessa substituição se acelerou. A indústria

automobilística é uma das grandes precursoras desta mudança. Diversas razões,

tanto econômicas, quanto tecnológicas, influenciaram o andamento dessa crescente

aplicação de polímeros. O aumento do consumo de petróleo trouxe uma

preocupação para o problema da escassez de combustível e para a vulnerabilidade

do uso indiscriminado de recursos naturais de fontes não-renováveis. Este evento é

considerado como um dos marcos decisivo para tomada de posição quanto à

construção de automóveis e produtos mais eficientes, seguros, confortáveis e que

consumissem menos combustível. A preocupação ambiental está cada vez mais

forte para a tomada de decisão de compra de veículos e produtos menos poluentes.

Contudo, foi somente após a superação de limitações tecnológicas, com o

desenvolvimento de polímeros de alto desempenho, que os plásticos passaram a

fazer parte essencial das indústrias.

Hoje, considerando-se o volume dos materiais, são usados mais plásticos do que

aço na construção de um veículo, devido ao grande número de aplicações que os

polímeros encontraram nesse produto (Hemais, 2003).

De acordo com a APC – American Plastic Council, a média de 30 quilos de

polímeros empregada por veículo na década de 70 passou a representar cerca de

180 quilos no final da década de 90, e estima-se que nos próximos cinco anos esse

valor ultrapasse os 200 quilos.

Os plásticos têm demonstrado um alto índice de confiabilidade e muitas vantagens

sobre os materiais tradicionais que vieram a substituir, tais como o aço, o alumínio e

o vidro, por exemplo. Além de permitir maior flexibilidade de projeto e economia na

produção, sua baixa densidade é essencial para a redução do consumo de

combustíveis, uma vez que a substituição de materiais diversos por cerca de 100

quilos de plástico, em um carro pesando 1 tonelada, trará uma economia de

combustível de 7,5%. Aproximadamente, para 100 quilos de peças plásticas

utilizadas em um veículo, 200 a 300 quilos de outros materiais deixam de ser

consumido, o que se reflete em seu peso final. Assim, um automóvel com uma vida

útil de 150 mil quilômetros poderá economizar 750 litros de combustível devido à

utilização dos plásticos (Hemais, 2003).

Page 16: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

16

Dados norte-americanos informam que, como são produzidos naquele país 15

milhões de carros/ano, quase 20 milhões de litros de gasolina são economizados, e

4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono deixam de entrar na atmosfera

devido ao uso de peças plásticas (ALC - Automotive Learning Center, 2009).

No que se refere especificamente a itens de segurança, os polímeros possibilitam a

fabricação de peças com propriedades de absorção de impacto, air-bags, proteções

contra impacto lateral (que não lascam ou fraturam) e cintos de segurança,

diminuindo de forma marcante os casos fatais em acidentes.

De uma forma geral, pode-se depreender que a principal vantagem advinda do uso

de plásticos se refere à economia, tanto de combustível quanto de investimentos em

produção. Por outro lado, existe a possibilidade de sofisticação do design, o uso de

formas e soluções menos tradicionais. Quanto às desvantagens apontadas, elas se

referem a itens que são comuns à maioria dos materiais plásticos. Mas é um erro

achar que componentes de metal podem ser simplesmente substituídos por

materiais mais novos sem repensar o projeto. As características dos polímeros

podem mudar drasticamente com a variação de temperatura e com o agente

químico que poderá estar em contato. Polímeros são menos rígidos, menos fortes e

menos tenazes do que a maioria dos metais, portanto o novo componente requer

elaboração cuidadosa de um novo projeto, pois projetos feitos em polímeros podem

falhar em serviço, trazendo consequências catastróficas quando em contato com

agentes químicos para o consumidor final.

1.1 Definição do Problema

Centenas de materiais poliméricos estão disponíveis ao consumidor para diversos

tipos de aplicações em diversas condições de serviços. Os polímeros são materiais

preferidos para a manufatura das peças por causa de sua facilidade de fabricação e

de seu peso relativamente baixo quando comparado com metais e vidros. Estes

atributos traduzem uma excelente economia. Entretanto, ocasionalmente surgem

problemas, tendo por resultado a fratura das peças poliméricas, podendo resultar em

danos ou em ferimento significativo aos consumidores. Um exemplo são os pedais

de acelerador, freio e embreagem de alguns automóveis que estão sendo

substituídas por materiais poliméricos, onde qualquer tipo de falha poderá levar a um

grande risco para o proprietário do automóvel.

Page 17: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

17

As peças, em geral, falham em regiões concentradoras de tensão; ou seja, áreas

nas quais estão localizados os esforços mecânicos.

O Environmental Strees Cracking (ESC) é um processo lento de crescimento de

trincas, resultante da contínua aplicação de carga, em temperatura próxima à

ambiente e na presença de um agente ambiental agressivo. Este tipo de falha é

caracterizado pela presença de fissuras macroscópicas e também como uma

estrutura fibrilar formada antes da fissura real.

O ESC pode ser definido como o fenômeno de formação de vazios que provoca

fissuras, internas ou externas, causado pela solicitação mecânica com valores

inferiores à tensão de ruptura do material, em um intervalo de tempo curto e na

presença de um agente ambiental (Munaro, 2007).

Este fenômeno é considerado responsável por 20 a 30% das falhas de materiais em

serviço, principalmente para polímeros amorfos em estado vítreo (Jansen, 2004),

que é o caso do policarbonato.

O policarbonato é um polímero amorfo muito aplicado nas indústrias e que está

sujeito a solicitações mecânicas (externas, devidas à aplicação de tensão em

serviço, e/ou internas, por tensão residual do processo), a agentes químicos

(agentes de limpeza, lubrificantes, óleos, graxas, etc.) e/ou a agentes ambientais

(umidade, temperatura, radiação solar, etc.). Esses fatores atuando sinergicamente

levam os polímeros a sofrerem falhas causadas pelo fenômeno de ESC. A

resistência ao ESC é uma importante propriedade dos polímeros, pois determina o

tempo de vida útil de uma peça que trabalha sob condições de exposição a esses

fatores (Wright, 1996).

Defeitos na superfície do material causam concentradores de tensão e facilitam a

formação de pré-fissuras (estrutura formada antes da fissura – crazes), acelerando,

portanto, o processo de ruptura frágil. Tais defeitos incluem entalhes, vazios,

inclusões e heterogeneidades. O mecanismo básico do ESC pode ser descrito como

a formação de pequenos vazios que coalescem formando regiões planares,

tornando-se assim fissuras que podem se propagar até a ruptura do material

(Wright, 1996).

Antes da formação da fissura é observada a formação de pré-fissuras,

representadas esquematicamente na Figura 01. A presença de fibrilas no interior

das pré-fissuras (crazes) torna os materiais capazes de suportar a carga mecânica,

ao contrário das fissuras verdadeiras. Conforme crescem, as pré-fissuras atingem

um ponto crítico, dando origem à fissura (Wright, 1996).

Page 18: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

18

Figura 01 - Imagens de fratura por ESC (Wright, 1996).

A Figura 01 apresenta o processo de ruptura causada pelo mecanismo de ESC em

polímeros. A imagem obtida por microscopia eletrônica de varredura mostra a

microestrutura de uma pré-fissura com fibrilas rompidas, dando início a uma fissura.

A Figura 02 mostra uma lente de iluminação automotiva fabricado em policarbonato

que falhou em serviço devido o contato com agente químico nos pontos de fixação

da peça (pontos de concentração de tensão).

Figura 02 – Fratura de uma lente de iluminação automotiva.

1.2 Objetivo

Esta dissertação tem como objetivo principal avaliar a resistência do policarbonato

ao Environmental Stress Cracking (ESC) sob a influência de concentradores de

tensão em contato com o álcool isopropílico e metanol, através do estudo da

mecânica da fratura; ou seja, avaliar a susceptibilidade do policarbonato a fissuras

Page 19: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

19

sob a presença de um entalhe e simultaneamente em contato com os agentes

químicos citados.

A utilização da mecânica da fratura ainda é pouco utilizada para os polímeros.

Portanto, como objetivos específicos, esta dissertação tem:

• fazer uma revisão bibliográfica sobre o mecanismo de ESC e mecânica da

fratura voltada aos polímeros;

• avaliar a sensibilidade ao entalhe para o mecanismo de ESC no

policarbonato em contato com agentes químicos (metanol e álcool

isopropílico);

• obter o tempo de propagação de trinca em função do fator intensidade de

tensão (K) do policarbonato sob a ação dos agentes e

• identificar o valor de intensidade de tensão que não gera a fratura.

O propósito desta dissertação é aplicar conceitos da mecânica da fratura para o

mecanismo de ESC em polímeros. Assim, paralelamente aos objetivos mencionados

acima, esta dissertação visa também à aplicação de uma metodologia de ensaio,

específica da mecânica da fratura, que permita a avaliação da resistência ao ESC

dos materiais empregados, de forma a atingir os objetivos específicos enumerados

anteriormente.

1.3 Limitações

A natureza exploratória desta pesquisa não pode ser generalizada para todos os

tipos de polímeros, pois o policarbonato é um polímero amorfo que apresenta

comportamento extremamente frágil nas regiões de concentração de tensão. Logo, o

método aplicado nesta dissertação não deve ser aplicado para polímeros com

comportamentos dúteis nas regiões de concentração de tensão.

A influência da temperatura é um fator significativo para todo tipo de fratura em

polímero, uma vez que flutuações de temperatura podem mudar completamente os

resultados dos ensaios. Os ensaios desta dissertação foram realizados em

temperatura ambiente (23 °C); portanto, não é foco da mesma avaliar a influência da

variação de temperatura para o mecanismo de ESC no policarbonato.

Existem diversos tipos de agentes químicos que podem estar em contato com peças

de policarbonato, com propriedades químicas e físicas diferentes, os quais afetam

diferentemente o tempo que uma peça levará para falhar em serviço. Os resultados

Page 20: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

20

desta dissertação são exclusivos para o policarbonato em contato com o álcool

isopropílico e com o metanol.

O tempo de ensaio pode ser ampliado para aumentar a certeza que o corpo de

prova não irá falhar com maiores tempos de ensaio.

1.4 Questão de Pesquisa

As propriedades mecânicas compreendem a totalidade das propriedades que

determinam a resposta dos materiais às influências mecânicas externas. São

manifestações da capacidade de esses materiais desenvolverem deformações

reversíveis e irreversíveis e resistirem à fratura.

Essas características fundamentais dos materiais são geralmente avaliadas por

meio de ensaios, que indicam diversas dependências tensão-deformação.

Entretanto, esses ensaios sozinhos são insuficientes para descrever completamente

os materiais poliméricos em fraturas causadas pelo ESC.

De acordo com o objetivo geral da pesquisa, esta dissertação tem como hipótese

responder a seguinte pergunta:

• É possível utilizar a mecânica da fratura para identificar um fator de

intensidade de tensão no policarbonato em contato com o álcool isopropílico e

o metanol em que não ocorre a falha pelo mecanismo de ESC?

1.5 Motivação e Relevância do Trabalho

A redução de peso está se tornando cada vez mais importante nos setores

industriais, principalmente no setor automobilístico. Projetos de engenharia

anteriormente baseados em materiais convencionais (materiais ferrosos, porcelanas,

vidros e madeiras) têm sido cada vez mais substituídos por materiais não

convencionais em função da redução de massa. Polímeros sintéticos, desenvolvidos

ao longo do século XX, têm um papel fundamental neste tipo de substituição.

Os materiais poliméricos vêm demonstrando inúmeras vantagens sobre os materiais

tradicionais, tais como o aço, o alumínio e o vidro, por exemplo. Além de permitir

maior flexibilidade de projeto e economia na produção, sua densidade é essencial

para a redução de consumo de combustíveis para as indústrias automotivas.

Page 21: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

21

Nos últimos anos, devido a razões tecnológicas, econômicas e ambientais, os

materiais de engenharia passaram por diversas transformações e substituições,

sendo que os polímeros passaram a ocupar um lugar de destaque como um dos

materiais mais utilizados pelas indústrias. O policarbonato é o polímero que está

substituindo peças projetada em vidro, acrílico e metal na indústria, crescendo cada

vez em aplicações que necessitam de um alto grau de transparência, resistência ao

calor e solicitações mecânicas. A utilização de um polímero amorfo em aplicações

em que existem uma tensão mecânica (aplicada ou residual) e o contato com um

agente químico pode levar à fratura frágil do polímero causada pelo mecanismo de

ESC. O Environmental Stress Cracking é a causa de diversas falhas dos materiais,

representando um custo significativo para as indústrias em geral. Sendo assim, a

análise da influência de concentradores de tensão em peças poliméricas que podem

estar em contato com agentes químicos é de grande relevância, não somente para a

comunidade acadêmica, mas também para a sociedade em geral.

Para as indústrias, que estão reformulando suas estratégias para sustentar suas

vendas e lucros, nesse cenário global e competitivo de hoje, evitar a fratura por ESC

torna um diferencial competitivo para as organizações. A fratura por ESC em

polímeros gera um grande desperdício para as organizações, pois toda peça falhada

em serviço durante o período de garantia é substituída, impactando

significativamente nos custos e nas satisfações dos consumidores finais.

Como cada vez mais o uso de polímeros cresce nas aplicaçõpes de engenharia é de

fundamental importância conhecer os fatores que geram esse tipo de falha em

serviço.

O motivo da escolha do álcool isopropílico e o metanol estão associados à literatura

científica, a qual evidencia agressividades diferentes para o mecanismo de ESC

quando em contato com policarbonato, e, também pelo fato de serem agentes de

fácil acesso a comunidade em geral, tornando o polímero estudado mais suscetível

a esta falha.

Outro impacto da fratura por ESC em polímeros é a imagem da organização, que

tem como sonsequência a perda de vendas devido à insatisfação dos clientes.

Produzir peças com qualidade, livres de falhas e defeitos que comprometam a

funcionabilidade e características do produto é uma vantagem competitiva que cada

vez mais está sendo buscada pelas organizações líderes de mercado.

A segurança dos consumidores é uma prioridade para toda organização. Peças

fabricadas em polímeros não podem falhar em serviço comprometendo a segurança

Page 22: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

22

dos consumidores finais. Por este e os demais motivos citados anteriormente o tema

dessa dissertação tem relevância significativa para a comunidade em geral,

principalmente para as grandes organizações.

A partir dos estudos levantados nessa dissertação, conhecimento do fator de

intensidade de tensão que não gera a falha nos polímeros, será possível reduzir os

custos industriais, bem como, melhorar a satisfação dos consumidores finais

tornando o produto mais competitivo no atual cenário global.

1.6 Organização da Dissertação de Mestrado

Em linhas gerais a dissertação está dividida em cinco capítulos. No primeiro

capítulo, a Introdução, é apresentado o polímero e os agentes químicos escolhidos,

assim como o objetivo geral e objetivos específicos. São apresentados os aspectos

mais relevantes da pesquisa, ressaltando os impactos científicos e tecnológicos da

pesquisa para a comunidade acadêmica e profissional. Nesta seção são informadas

as limitações definidas antes e durante o desenvolvimento da pesquisa. Neste

capítulo, é possível entender a importância dos polímeros para as indústrias, bem

como a relevância do estudo para as indústrias, uma vez que existem poucos

trabalhos publicados que contemplem os conceitos da mecânica da fratura para o

mecanismo de ESC em polímeros.

O segundo capítulo apresenta o referencial teórico do estudo. O capítulo inicia com

uma explicação do policarbonato e sua importância. A teoria sobre o mecanismo de

ESC também é abordada neste capítulo, conceituando o fenômeno e apresentando

os diversos tipos de ensaios existentes. Os principais fatores que influenciam o ESC

em polímeros fazem parte deste capítulo. Na segunda parte deste capítulo são

apresentados os conceitos de mecânica da fratura voltada para polímeros. Esta

parte do segundo capítulo é de extrema importância, pois o estudo da mecânica da

fratura é pouco utilizado para as falhas em peças plásticas quando comparada com

os metais. Conceitos importantes são abordados nesse capítulo, como o fator de

intensidade de tensão e os métodos de ensaio (mecânica da fratura linear elástica e

mecânica da fratura elasto-plástica).

O terceiro capítulo explica a metodologia aplicada para os estudos. Nessa parte são

apresentados os materiais e métodos utilizados para os ensaios de resistência do

policarbonato ao ESC.

Page 23: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

23

A técnica de obtenção dos corpos de provas e o método de confecção dos entalhes

são contemplados nesse capítulo, assim como o método utilizado para manter

contato do agente químico com o corpo de prova durante os ensaios de tração e de

tração com carga constante.

No quarto capítulo encontram-se os resultados obtidos. Esse capítulo mostra os

resultados encontrados através da análise da mecânica da fratura. Nesse capítulo

estão às curvas da influência do álcool isopropílico e do metanol para o mecanismo

de ESC no policarbonato. São apresentados os gráficos de tração e de tração com

carga constante realizados comparando os resultados entre os diferentes agentes.

São apresentados de forma prática os benefícios dos estudos da resistência do

policarbonato ao ESC, mostrando uma peça de policarbonato com grande

ocorrência de fratura. As melhorias de processo e redução de concentração de

tensão nessa peça são apresentadas nesse capítulo.

As considerações finais estão no quinto capítulo. É apresentado o apanhado geral

sobre o trabalho de pesquisa feito, no qual são sintetizadas reflexões da

metodologia usada, resultados obtidos, confirmação da questão de pesquisa

estabelecida e outros aspectos importantes da pesquisa. São descritos os impactos

(tecnológicos, sociais e econômicos) que a pesquisa causa. Ao final, são

apresentados potenciais trabalhos futuros de forma que complementem esta

dissertação.

Page 24: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

24

2 REVISÃO DA LITERATURA – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Policarbonato

O Policarbonato é um polímero de alto grau de transparência, pertencente à classe

dos poliésteres, de composição química C16H14O3, como se observa na forma

estrutural apresentada na Figura 03. Pode-se dizer que este polímero possui

considerável flexibilidade em sua cadeia, pois embora seja naturalmente amorfo ele

pode lentamente adquirir grau de cristalinidade, quando mantido em torno da

temperatura de transição vítrea (Hemais, 2003).

Figura 03 – Fórmula estrutural do policarbonato

Por ser um plástico de engenharia, o policarbonato tem grande importância em suas

aplicações. Os plásticos de engenharia apresentam módulo de elasticidade elevado

a temperaturas relativamente altas para os polímeros, com ampla oportunidade de

substituição dos materiais tradicionais por terem peso reduzido, facilidade de

fabricação, processamento, eliminação de tratamento anti-corrosivo, alta resistência

ao impacto, bom isolamento elétrico, menor custo de fabricação e transformação e

custos de acabamento reduzidos (Hemais, 2003).

Devido à viscosidade do policarbonato e consequentemente sua alta temperatura de

processo, o policarbonato requer muitos cuidados devido às tensões residuais do

processo de fabricação. Sua grande aplicação na vida atual e no desenvolvimento

acelerado das conquistas tecnológicas caracteriza a civilização contemporânea. Em

projetos envolvendo construções de baixo peso, o uso do policarbonato, retém

vantagens características, como resistência a corrosão, baixo custo de

processamento, liberdade de projeto, contribui para uma economia sustentável e

oferece vantagens na economia de energia, reduzindo esforços ou aumentando

velocidades em aplicações envolvendo movimento de massa (Hemais, 2003).

Page 25: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

25

2.2 Environmental Stress Cracking (ESC)

Um dos principais problemas de peças poliméricas são as falhas inesperadas em

serviço. Durante a história de peças, este é um problema que tem importunado os

polímeros e tem impedido a sua expansão em áreas críticas. Uma das principais

razões para este é a potencial complexidade dos mecanismos de interação que

geram as falhas. Como as compreensões destes mecanismos estão melhorando, as

ocorrências destas falhas diminuem, mas continua a ser uma preocupação

constante. Falha no serviço é mais comumente caracterizada relativamente a uma

falha por fadiga ou por degradação química (Jansen, 2004).

Uma vez que as causas tenham sido identificadas, elas são muitas vezes atribuídas

a fatores isolados, como tensão residual, ataque químico, ou degradação por

temperatura. As combinações desses fatores podem ser as causas de falhas que

são mais difíceis de prever e analisar. Um estudo publicado no Reino Unido sobre

falhas comerciais e industriais com materiais poliméricos tem procurado categorizar

as causas das falhas, em cada caso (Wright, 2001). Isso nem sempre é uma tarefa

fácil como em muitos casos, interagindo com diversos mecanismos. Por exemplo, se

um componente de policarbonato falhar por propagação da trinca devido às

flutuações e condições de carga, a causa seria atribuída à fadiga. No entanto, se

houve também ocasional contato com um fluido químico e em seguida uma fratura,

também pode ser uma falha por tensão ambiental ou Environmental Stress Cracking

- ESC (Arnold, 1996). A proporção de falha dos materiais poliméricos do estudo

realizado é dada na Tabela 01 abaixo:

Tabela 01 – Causas de falhas em serviço (Arnold, 1996).

Tipo de Falha % Ocorrência ESC 25 Fadiga 15 Ruptura devido a entalhes 14 Fluência 8 Ataque químico 7 Ataque UV 6

A partir deste estudo, fica claro que os efeitos ambientais desempenham um papel

significativo no processo de falhas de polímeros.

Page 26: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

26

O ESC é o tipo mais comum de fratura em polímeros podendo levar a falhas

catastróficas, uma vez que fratura ocorre com tensões muito abaixo da tensão de

escoamento do material (Jansen, 2004).

A fratura em polímeros sob a ação de um agente químico é um fenômeno conhecido

como Environmental Stress Cracking - ESC. Esta falha é definida por Werner et al.

(1988) como um fenômeno no qual um polímero é degradado por um agente

químico enquanto está sob o efeito de uma tensão mecânica. Já Jansen (2004) a

define como uma ação simultânea de tensão e do contato com um fluido específico,

que provoca uma falha prematura.

Para entender adequadamente o mecanismo de falha por ESC, vale correlacionar

com a fratura por fluência no ar. Na ausência de interação química, a fratura é

associada com tensão estática por longo período de tempo (Challa, 1993). Fluência,

também chamada de fadiga estática, é um tipo de fratura frágil em que tensão

contínua resulta no desentrelaçamento molecular dentro das cadeias poliméricas. A

fluência é um mecanismo de falha que envolve uma série de passos distintos. O

primeiro passo é a iniciação de vazios, a segunda é o crescimento de vazios que

leva à iniciação de uma trinca, e finalmente a fratura. A fluência é uma falha comum

nos plásticos em temperatura ambiente, mas raras em metais. É um resultado das

propriedades de visco-elasticidade dos materiais poliméricos. O agente químico

torna este processo de fratura ainda mais crítico para os polímeros (Jansen, 2004),

pois ele acelera a fratura.

Jansen (2004), Turnbull (2000) e Wright (1996) afirmam que entre 20 e 30% de

todos os problemas de falhas em peças poliméricas é causada por ESC. A causa

desse tipo de falha é a ação conjunta e sinérgica de uma tensão, que pode ser

interna ou externa, e de um agente químico. Tais agentes provocam a ruptura frágil

e repentina do produto. A Figura 04 mostra a interação da tensão, material e agente

químico para o mecanismo de ESC.

Page 27: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

27

Figura 04 – Interação da tensão, material e agente (Turnbull et al, 2000).

O ESC, para Turnbull et al, (2000), descreve o procedimento acelerado de uma falha

em um material polimérico devido à consequência de uma ação combinada da

exposição ao ambiente e à tensão. A probabilidade de falha depende das

características do material, da exposição ambiental e das condições da natureza e

magnitude da tensão, como ilustrado na Figura 04. O ESC em plásticos é mais

comum quando expostos a líquidos, geralmente orgânicos, mas também pode ser

induzida pela exposição ao ar livre (fluência). A falha ocorre muitas vezes devido à

exposição involuntária a um fluído secundário, em vez do fluido para o qual o

polímero foi projetado (Turnbull et al, 2000). Quando a peça polimérica é desenhada,

o projetista já prevê alguns fluidos com que a mesma irá ter contato durante sua

vida, porém é completamente impossível prever a exposição das peças a fluidos

secundários que podem ter contato por diversos motivos, para os quais a peça não

foi projetada.

O mecanismo mais aceito de ESC é que o líquido atua em regiões tensionadas do

polímero, plastificando ou reduzindo a energia superficial localmente, o que facilita a

formação de microfibrilações (vazios ou crazes). Os crazes evoluem para trincas,

que consequentemente provocarão a falha frágil do produto em condições de tensão

bem inferiores ao que ocorreria, caso não houvesse a contribuição do ambiente ativo

(Arnold, 1998).

Jansen (2004), Turnbull (2000) e Wright (1996) afirmam que o efeito do agente não

é de causar um ataque químico no polímero; é um fenômeno puramente físico onde

não há redução significativa no peso molecular dos polímeros falhados. No

mecanismo de ESC o agente químico não promove a quebra das cadeias.

Page 28: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

28

As fontes de tensões podem ser residuais, tensões de montagem e fabricação, ou

devidas a aplicações induzidas de concentradores de tensão. Os concentradores de

tensões podem ser causados por mudança de seções das peças, cantos vivos ou

até defeitos na estrutura do polímero (Lustiger, 1986).

A tensão pode envolver uma componente dinâmica devido a vibrações e oscilações

térmicas ou de pressão. Em muitas aplicações, as solicitações podem ser

multiaxiais. Tensões residuais podem ser particularmente importantes porque muitas

vezes não são contabilizadas ou quantificadas adequadamente no projeto de

engenharia (Turnbull et al, 2000).

Para Cho et al, (1998), o ESC em polímeros causa grandes problemas na prática,

porque ocasiona vários danos, reduzindo a vida de peças poliméricas que não

deveriam falhar em serviço.

Al Saidi et al, (2003) estudou o mecanismo de Environmental Stress Cracking no

policarbonato amorfo em contato com álcool isopropílico, éter, etileno glicol e

metanol. Foi utilizado o ensaio de flexão em três pontos onde os resultados

mostraram que a variação da tensão e a imersão do polímero em um agente pode

ser um bom indicador de como se comporta o polímero. A resistência do polímero foi

monitorada em função do tempo, em diferentes valores de tensão. O tempo para o

ESC foi definido como o ponto em que a resistência de um polímero imerso em um

determinado solvente se afasta do valor equivalente da amostra no ar (Al Saidi et al,

2003).

Figura 05 – Variação da tensão do policarbonato exposto ao álcool isopropílico por

72 horas comparadas com o ar. (Al Saidi et al, 2003).

Page 29: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

29

Na Figura 05 é possível entender a influência da variação de tensão para o

policarbonato em contato com o álcool isopropílico. Quanto maior a tensão no corpo

de prova imerso, mais rápida será a fratura por ESC, uma vez que o aumento da

tensão facilita à difusão do agente químico nas regiões amorfas do polímero, e

consequentemente a redução das ligações secundárias das moléculas.

Al-Saidi et al. (2003) em seu trabalho mostra a diferença das fissuras nos corpos de

provas para os 3 tipos de agentes (etileno glicol, metanol e álcool isopropílico) no

corpo de prova de policarbonato.

Figura 06 – Microscopia ótica do policarbonato: (a) em álcool isopropílico por 72 h

com 1,64% de deformação e (b) em metanol por 72 horas com 1,64% de

deformação (Al Saidi et al, 2003).

A resistência à fratura dos materiais poliméricos é baixa quando comparada com a

dos metais. Para qualquer fratura, é impossível que a mesma ocorra se não houver

a presença de tensão, uma vez que a fratura é um mecanismo de alívio de tensões

(Sanches, 2006).

Com baixos níveis de tensão, as deformações resultantes são relativamente

pequenas, o material se deforma elasticamente e a energia de deformação elástica

é armazenada. Com tensões maiores, o material pode apresentar outros

mecanismos de absorção de energia, tais como deformação plástica e consequente

geração de fissuras (So e Broutman, 1988).

Jansen (2004) afirma que no fenômeno de Evironmental Stress Cracking o efeito do

fluido não é o de causar um ataque químico ao polímero. O conhecimento do

mecanismo de ocorrência de ESC em polímeros é importante uma vez que, a partir

deste conhecimento, é possível encontrar soluções para o problema. No caso de

termoplásticos amorfos, a ocorrência de fissuras se manifesta como regiões lineares

de deformação plástica localizada, que se formam perpendicularmente à tensão

Page 30: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

30

aplicada. Para que ocorra o desenvolvimento de fissuras, a partir de uma matriz

amorfa, é preciso que seja imposta de alguma forma, uma mobilidade molecular

considerável em uma estrutura na quais as cadeias poliméricas são essencialmente

rígidas (Sanches, 2006).

Muitos fatores podem acelerar este processo, incluindo a concentração de tensões

(sensibilidade ao entalhe), aumento da temperatura, cargas cíclicas e contatos

específicos com fluidos. Assim o ESC é responsável pela redução do tempo de

iniciação da fratura devido à ação especial de fluidos. Em uma micro-escala, as

superfícies dos polímeros têm uma alta densidade de concentração de tensões e

defeitos (Marshall, 1985). No Environmental Stress Cracking o fluido é

preferencialmente absorvido nos sítios do polímero sob alta tensão dilatacional, tais

como: sítios com tensão residual resultante do processamento, fissuras ou

extremidade de uma trinca. Após ser absorvido, este fluido diminuirá as interações

entre as cadeias poliméricas, causando um efeito localizado de plastificação ou de

desentrelaçamento das cadeias. Nesta microrregião plastificada ocorrerá uma

concentração da relaxação da tensão, provocando uma propagação da fissura. A

propagação, com o aumento da fissura, favorecerá a absorção de mais fluido nesta

região, e o efeito será lenta e gradualmente intensificado até se formar uma fratura

ou uma falha. Este processo é esquematizado na Figura 07 (Jansen, 2004).

Figura 07 – Etapas das falhas causadas por ESC (Jansen, 2004).

A tensão em um ponto localizado do polímero pode ser causada por efeitos internos

Existe um campo de tensão,

próximo a uma trinca ou

defeito

O fluido é absorvido nesse

campo de tensão e plastifica

localmente o polímero.

Crazes iniciam e crescem no

campo de tensão plastificado

Crazes crescem no novo campo

plastificado

As trincas continuam até a

fratura.

Contato com o líquido

agressivo.

Trincas são iniciadas e

propagam além do campo

inicial. Uma nova região

plastificada é criada.

Page 31: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

31

ou externos ao mesmo. Como efeitos de tensão internos (ou tensão residual) pode-

se citar, por exemplo, o caso do processamento de peças ocas por extrusão e sopro,

onde o sopro e o resfriamento rápido do molde associado ao fechamento do mesmo

sobre o parison resultam em pontos residuais de tensão nas bordas inferiores da

peça. Também no caso de peças processadas por injeção, pode haver tensões

residuais causadas pela geometria do molde, número de pontos de injeção

insuficientes ou mal posicionados e ciclo de resfriamento mal dimensionado

(DePaoli, 2008).

Os efeitos de tensão externa são mais fáceis de localizar e de identificar, e ocorrem

com grande frequência. Jansen (2004) citou como exemplos a tensão existente em

encaixes, em roscas de vedação (tanto em tampas como em conexões de

tubulações) e em peças com insertos metálicos. Um exemplo clássico é a ocorrência

de Environmental Stress Cracking em conexões de plástico rosqueadas, que são

lubrificadas com óleo em spray ou com um vedante, antes de serem instaladas. O

poli(acrilonitrila-co-butadieno-co-estireno), ABS, é muito usado para produzir

conexões hidráulicas por moldagem por injeção, e este polímero pode ser

intumescido por alguns tipos de óleos. Só a tensão aplicada à rosca, ou a aplicação

isolada de um lubrificante ou vedante, não causa nenhum efeito de degradação ao

ABS, mas a associação destes dois fatores causa ESC, provocando a fratura da

rosca depois de um tempo bastante curto.

O mecanismo proposto por Gent (1970) tenta explicar como ocorre essa mobilidade

molecular. Em polímeros amorfos, durante o processo de desenvolvimento de

fissuras intrínsecas, que ocorrem na ausência de um ambiente acelerador, observa-

se a formação de volumes livres em determinadas regiões do polímero submetido à

tensão. Isto ocorre porque as forças intermoleculares entre as cadeias poliméricas

adjacentes são relativamente pequenas em relação à tensão de escoamento (yield

stress) do material. À medida que o volume livre localizado na vizinhança dessas

cadeias aumenta a mobilidade molecular também aumenta, e o material se torna,

assim, mais flexível. Embora as mesmas forças intermoleculares sejam superadas

durante o escoamento, uma característica importante relacionada ao aparecimento

de fissuras é que elas se iniciam nos pontos de defeitos, onde a tensão está

concentrada.

Quando um ambiente específico atua como agente causador de fissuras, ele tende a

enfraquecer essas forças intermoleculares ainda mais. Assim, este ambiente atua

como um solvente ou um plastificante, lubrificando as cadeias poliméricas de tal

Page 32: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

32

forma que elas possam deslizar umas sobre as outras e acelerar o processo de

fissura. O efeito global de um plastificante é diminuir a temperatura de transição

vítrea (Tg) do polímero. Quando a Tg cai para abaixo da temperatura em que o

material está sendo empregado, ocorre o rompimento na região da fissura (Yeh et al,

1994).

No caso do polietileno, embora a ocorrência de ESC se manifeste em ambientes nos

quais os efeitos de plastificação não são tão evidentes, o mesmo mecanismo

proposto anteriormente, em geral, também se aplica. Entretanto, como o polietileno

é semicristalino, a ação do ambiente é limitada às regiões amorfas (Lustiger, 1986).

Lustiger e Markham (1983) explicam de forma esquemática simplificada o que

geralmente ocorre durante o ESC no polietileno. Se uma carga tênsil for aplicada

perpendicularmente à face da lamela semicristalina, pode-se observar que as

moléculas emaranhadas nas regiões amorfas que ligam as lamelas adjacentes

sofrerão um estiramento (Figura 08). Em um determinado ponto, no entanto, elas

não poderão mais ser estiradas. Sob a ação de uma carga permanente e de

intensidade relativamente baixa, as moléculas emaranhadas começam a se

desembaraçar, sob o efeito plastificante do ambiente, e falha interlamelar começa a

tomar forma. Entretanto, à medida que ocorrem falhas interlamelares em regiões

adjacentes, caracterizadas pelo aparecimento de vazios, o material é submetido a

tensões muito maiores (Figura 09).

Uma deformação dútil pode ocorrer a essas altas tensões, resultando na formação

de fibras à medida que a lamela se quebra em unidades menores (Figura 10). É

importante ressaltar, no entanto, que em alguns casos, sob a ação de cargas de

baixa intensidade por períodos mais prolongados, pode ser observada uma

superfície de fratura totalmente isenta de fibras. A explicação sugerida para este fato

é que, sob essas condições, ocorre exclusivamente a falha interlamelar, sem a

deformação dútil entre as lamelas. Em tais circunstâncias, presume-se que ocorra o

rompimento total do material, sem a ocorrência de fissuras prévias (Chan e Williams,

1983).

No caso do náilon, as fissuras ocorrem na presença de sais inorgânicos de vários

metais, tais como cloreto de zinco e de cobalto. Foi constatado que o rompimento

total do material ocorre devido à quebra das ligações de hidrogênio à medida que o

agente causador de ESC é atraído pelos grupamentos amida dipolar. Os prótons do

grupamento amida N-H se ligam com a água do ambiente ou com as moléculas

hidratadas do halogeneto metálico. Outros tipos de halogenetos metálicos, tais como

Page 33: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

33

cloretos de lítio e de magnésio formam constituintes solvatados, doadores de próton,

que atuam como solventes. Neste último caso, o mecanismo típico descrito

anteriormente para termoplásticos amorfos torna-se também pertinente (Dunn e

Sansom, 1969a; 1969b).

Figura 08 - Etapas do processo de ruptura do polietileno (Lustiger e Markham,

1983).

Figura 09 – Formação de vazios (Lustiger, 1986).

Figura 10 – Etapas de deformação dúctil do polietileno (Lustiger e Markham, 1983).

Page 34: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

34

2.3 Fatores que Influenciam o Mecanismo de ESC

Com os polímeros cada vez mais sendo aplicados em soluções de engenharia, é

fundamental conhecer os fatores que influenciam o ESC, uma vez que as falhas

podem causar diversos danos à sociedade. Por este motivo é que os diversos

parâmetros que podem influenciar na resistência ao ESC de polímeros têm sido

estudados nos últimos anos. Além do tipo da resina, tipo de tensão aplicada ao

polímero e tipo de agente químico, Jansen (2004) destaca como os principais

elementos: as estruturas amorfas, o peso molecular e o grau de cristalinidade.

Outros parâmetros também já foram estudados, no entanto como o ESC é causado,

na maioria das vezes, por agentes secundários (agentes com os quais não foi

previsto o contato), fica muito difícil prever todos os potenciais agentes com que o

polímero terá contato durante todo o seu ciclo de vida.

A seguir serão apresentados os principais fatores que influenciam este fenômeno,

de acordo com a literatura.

2.3.1 Temperatura

Os polímeros fundem quando aquecidos, apresentando-se em geral como uma

massa irregular, com cadeias macromoleculares emaranhadas em maior ou menor

grau. Quando essa massa é deixada em repouso, dependendo da velocidade de

resfriamento, as cadeias assumem as conformações mais favoráveis, formando

regiões de estruturas ordenadas, cristalina, descontínua, geralmente lamelar,

interligadas por seguimentos dessas cadeias (Soni e Geil, 1979).

A temperatura de fusão cristalina, Tm, é aquela em que as regiões ordenadas dos

polímeros, isto é, os cristalitos e esferulitos, se desagregam e fundem. A transição é

de primeira ordem, endotérmica; envolve mudança de estado e está associada às

regiões cristalinas. Nos termoplásticos, a temperatura máxima de fusão é inferior a

300°C; os plásticos termorrígidos não apresentam fusão, porém sofrem

carbonização por aquecimento.

A transição vítrea está associada à região amorfa dos polímeros. A transição vítrea é

de segunda ordem e representa a temperatura em que a mobilidade das cadeias

moleculares, devido à rotação de grupos laterais em torno de ligações primárias, se

torna restrita pela coesão intermolecular. Abaixo da temperatura de transição vítrea,

Page 35: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

35

Tg, desaparece a mobilidade da cadeia macromolécula e o material torna-se mais

rígido. Em geral, o aumento da temperatura tende a tornar os polímeros mais

suscetíveis ao ESC. Temperaturas mais altas podem causar uma redução da

viscosidade e da tensão superficial do agente, e isto pode ser a causa da maior

ocorrência de fibrilas a temperaturas mais altas (Soni e Geil, 1979).

A Figura 11 mostra a influência da temperatura para o mecanismo de ESC. Quanto

menor a temperatura mais o corpo de prova têm a capacidade de deformar e resistir

à tensão sem a ocorrência de fratura (Wright, 1996)

% deformação para iniciar a fratura % deformação para iniciar a fratura

Figura 11 – Ensaio de tração com carga constante no PMMA: Tensão X Deformação

para iniciar a fratura em diferentes taxas de temperatura (Wright, 1996).

Todos os polímeros apresentam um espectro de comportamento mecânico, desde

elástico-frágil em baixas temperaturas, passando por plástico e viscoso-elástico até

viscoso em altas temperaturas. Metais e cerâmicas também têm uma faixa de

comportamento mecânico, todavia, como seus pontos de fusão são altos, a variação

de temperatura é muito mais desprezível. Com os polímeros é diferente: entre -20°C

e +200°C, um polímero pode passar por todos os estados mecânicos, tornando-o

suscetível a falhas em condições de variação de temperatura.

2.3.2 Nível de Tensão

Como o ESC é caracterizado pela falha do material na presença de um agente

quando submetido a um determinado nível de tensão, pode-se dizer que, à medida

Page 36: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

36

que essa tensão aumenta, a falha do material ocorrerá mais rapidamente. Isto

ocorre devido à maior facilidade de absorção do agente pelo polímero, quando

tensionado (Arnold, 1998).

A tensão de flexão também promoverá o desentrelaçamento, porém em menor

escala, favorecendo o mesmo processo. Somente a tensão por compressão é que

não provocará o desentrelaçamento, portanto não irá favorecer o ESC. No caso da

tensão residual, ou seja, tensão resultante dos processos de moldagem é mais difícil

individualizar o efeito. As tensões residuais podem estar associadas com uma baixa

cristalinidade localizada ou podem ser combinadas com tensões externas. Nos dois

casos, o intumescimento com o fluido no sítio de tensão residual irá disparar o

mecanismo de ESC (Cho et al, 1998).

Wright (1996) fez testes de tração com carga constante variando a deformação.

Quanto maior a deformação menor o tempo para iniciar o mecanismo de ESC.

ArAgente Químico

Tempo (segundos)

Def

orm

ação

(%

)

ArAgente QuímicoArAgente QuímicoArAgente Químico

Tempo (segundos)

Def

orm

ação

(%

)

Figura 12 – Ensaio de tração com carga constante para o ESC: variação da

deformação (Wright, 1996).

A influência do etileno glicol para o mecanismo de ESC no policarbonato foi

explicada por Al Saidi et al (2003) para diferentes níveis de tensão. A tensão foi

variada em 5 níveis e medido o tempo de fratura para cada tensão.

Page 37: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

37

Tempo de Fratura (seg)

Ten

são

(M

Pa)

0,54 % tensão 0,48 % tensão 0,37 % tensão 0,33 % tensão 0,28 % tensão-

Tempo de Fratura (seg)

Ten

são

(M

Pa)

0,54 % tensão 0,48 % tensão 0,37 % tensão 0,33 % tensão 0,28 % tensão-

Figura 13 – Variação da resistência do policarbonato ao ESC em contato com etileno

glicol para diferentes tensões (Al Saidiet al, 2003).

2.3.3 Parâmetro de Solubilidade do Polímero e do Agente

Alguns autores estabeleceram correlações entre o grau de tensão (ou de

deformação) crítico para a ocorrência de fissuras em um polímero exposto a um

agente causador de ESC e o equilíbrio de solubilidade do polímero neste agente

(Sweet e Bell, 1978; Bernier e Kambour, 1968; Devins e Reed, 1971; Kambour et al.,

1972; Kambour et al., 1973; Imai e Brown, 1976).

Kambour (1973) e Kambour et al. (1973; 1974) demonstraram que existe uma

correlação geral entre a tensão ou a deformação crítica e o parâmetro de

solubilidade de vários polímeros expostos a uma grande variedade de agentes.

Os agentes causadores de ESC tendem a enfraquecer as forças intermoleculares

entre as cadeias poliméricas (Vincent e Raha, 1972).

Um líquido com parâmetro de solubilidade próximo ao do polímero geralmente

solubiliza esse polímero. Similarmente, esse polímero, quando exposto à atmosfera

desse solvente e submetido à tensão, pode apresentar falhas, caracterizadas

inicialmente pela ocorrência de pequenas fissuras e posteriores fraturas (Kambour et

al, 1974).

Embora a correlação entre o parâmetro de solubilidade do solvente e o parâmetro de

solubilidade do polímero forneça informações bastante úteis para a previsão da

ocorrência ou não de ESC, a utilização apenas desse parâmetro para esse objetivo

pode ser insuficiente (Jacques e Wyzgoski, 1979).

Page 38: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

38

O processo de ESC ocorre aparentemente por meio do enfraquecimento das

ligações intermoleculares, permitindo assim que as extensões e os alinhamentos

moleculares ocorram a um nível de tensão mais baixo.

A solubilidade depende fundamentalmente da interação das moléculas do soluto

com as do solvente. Quando as moléculas do solvente são mais afins com as do

polímero do que com elas próprias, podem penetrar entre as cadeias

macromoleculares, gerando interações de caráter físico-químico. Forças

intermoleculares, como pontes de hidrogênio, ligações dipolo-dipolo ou mesmo

forças de Van der Waals, permitem a dispersão, a nível molecular, dos polímeros,

isto é, a sua dissolução (Kambour et al, 1974)

As moléculas do metanol penetram com mais facilidade no policarbonato do que o

etileno glicol e o álcool isopropílico. Um estudo mostra um maior aumento de peso

para os corpos de provas imersos no metanol do que no etileno glicol e no álcool

isopropílico (Al Saidi et al, 2003).

Tempo de imersão (dias)

Mu

dan

ça d

e P

eso

(%

)

Metanol Etileno Glicol Álcool Isopropílico

Tempo de imersão (dias)

Mu

dan

ça d

e P

eso

(%

)

Metanol Etileno Glicol Álcool Isopropílico

Figura 14 – Comportamento de absorção do policarbonato em metanol, etileno glicol

e álcool isopropílico (Al Saidi et al 2003).

Polímeros pouco polares, como os poli-hidrocarbonetos, são mais sensíveis aos

solventes do mesmo tipo (isto é, da mesma natureza química), que têm afinidade

pelo material e penetram entre as moléculas macromoleculares, afastando-as. O

mesmo ocorre com polímeros polares, que são sensíveis a solventes polares.

Page 39: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

39

Quando as macromoléculas são mais afins com elas próprias do que com as do

solvente, elas não se dissolvem (Kambour et al., 1974).

2.3.4 Densidade e Grau de Cristalinidade do Polímero

Quando a macromolécula é muito cristalina, os cristalitos dificultam a penetração

dos solventes, aumentando a insolubilidade do material.

A permeação de moléculas pequenas através de materiais poliméricos se dá nas

regiões amorfas onde as cadeias macromoleculares estão mais afastadas. A

presença de domínios cristalinos diminui bastante a permeabilidade. Por exemplo, a

borracha butílica (copolímero de isobutileno e isopreno) é mais impermeável a

gases, sendo usada em câmaras de ar de pneus. Essa característica é devida à

cristalinidade desenvolvida no material quando sujeito à tração.

Tanto os polímeros amorfos quanto os cristalinos mostram susceptibilidade ao ESC,

porém, na maioria das vezes, os polímeros amorfos mostram uma maior tendência a

esse tipo de falha. A maior incidência de falha de polímeros amorfos ao

environmental stress cracking em relação aos semicristalinos é atribuída ao maior

volume livre, facilitando a difusão do agente químico entre as regiões

intermoleculares (Wright, 1996).

Uma importante propriedade dos materiais poliméricos que deve ser considerada no

estudo da resistência ao ESC, é o grau de cristalinidade. Diferentemente de

moléculas de baixa massa molar ou de metais, os polímeros não formam sólidos

cristalinos ou amorfos, eles formam sólidos com uma fase cristalina e outra amorfa.

A relação estequiométrica entre elas é chamada de grau de cristalinidade, que é

expresso em porcentagem. Nestas fases cristalinas pode-se ter a formação de

cristalitos com diferentes morfologias, por exemplo: esferulitos ou lamelas (Wright,

1996).

Um exemplo clássico de processo de cristalização em polímeros é o que se observa

durante um ensaio de tração com um corpo de prova de polipropileno, PP. Ao estirar

o corpo de prova com uma baixa velocidade de deslocamento do travessão do

equipamento de ensaios, observa-se o estreitamento da parte central do corpo de

prova de maneira diferenciada com o resto, fenômeno conhecido como “formação de

pescoço”. Neste estreitamento ocorre a formação de uma fase esbranquiçada que

vai se tornando mais rígida. Esta fase esbranquiçada se forma devido ao

Page 40: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

40

alinhamento das cadeias do PP levando a um alto grau de ordenamento molecular

localizado, ou seja, a formação de uma fase cristalina mais rígida (Runt, 1986).

O grau de cristalinidade pode ser controlado pela taxa de resfriamento do molde

durante o processamento ou pelo uso de aditivos chamados de agentes nucleantes,

como por exemplo, o talco. O grau de cristalinidade afeta diversas propriedades

finais de um polímero, como transparência à luz, propriedade de barreira a gases e

propriedades mecânicas de tração e impacto.

O coeficiente de difusão de gases geralmente é maior na fase amorfa dos materiais

poliméricos do que na fase cristalina. Desta maneira, é fácil entender que polímeros

com mais baixo grau de cristalinidade serão mais susceptíveis ao Environmental

Stress Cracking do que polímeros com alto grau de cristalinidade (Chou e Farah,

1994).

Alguns processos de degradação são favorecidos nas regiões mais próximas da

superfície do polímero. Quando o polímero é formulado, espera-se que os aditivos

estabilizantes estejam uniformemente distribuídos e dispersos na massa polimérica.

Assim, um processo de degradação superficial causará um consumo maior de

aditivos nesta região. Se a migração de aditivos para a superfície da massa

polimérica for inibida por um maior grau de cristalinidade o efeito estabilizante será

amenizado. A maior mobilidade das cadeias poliméricas na fase amorfa (acima da

Tg) também favorecerá as reações radicalares, acelerando os processos de

degradação (Turnbull e Maxwell, 2004).

Para a grande parte dos polímeros, o grau de cristalinidade pode ter uma influência

significativa sobre as propriedades mecânicas, até para a resistência ao ESC, uma

vez que ele afeta diretamente a extensão das ligações secundárias intermoleculares.

Nas regiões cristalinas, onde as cadeias moleculares se encontram densamente

compactadas em um arranjo ordenado e paralelo, existe uma grande quantidade de

ligações secundárias entre os segmentos de cadeias adjacentes. Estas ligações

secundárias estão muito menos presentes nas regiões amorfas, em virtude do

desalinhamento das cadeias.

A difusão de líquidos para o interior de um polímero depende da natureza química

do fluido e da existência de volume livre da massa polimérica. O volume livre

também depende do grau de cristalinidade. Assim o grau de cristalinidade irá afetar

a absorção de fluidos pelos polímeros. Um maior grau de cristalinidade causa um

aumento da densidade do polímero, menor espaço livre para a absorção do fluido, e

consequentemente maior resistência ao ESC (Jansen, 2004).

Page 41: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

41

Moléculas de cadeia linear podem se cristalizar. O polietileno de alta densidade é

um exemplo. As moléculas não têm nenhum grupo lateral nem ramificações.

Durante o esfriamento, ligações secundárias tendem a reunir as moléculas em

aglomerados paralelos que não são perfeitamente cristalinos, nem amorfos. Até

mesmo o mais cristalino dos polímeros, o polietileno de alta densidade, é somente

80% cristal.

2.3.5 Peso Molecular e Distribuição de Peso Molecular do Polímero

De uma maneira geral, o aumento do peso molecular melhora a resistência dos

polímeros ao ESC. Contudo, os polímeros comerciais são polidispersos; logo, a

distribuição de peso molecular é também um fator crítico. Como o índice de fluidez é

inversamente proporcional ao peso molecular, é aconselhável que se trabalhe com

polímeros que tenham um baixo índice de fluidez, a fim de se obter uma maior

resistência ao ESC. No entanto, em tais casos, deve-se considerar a dificuldade de

processamento de materiais de baixa fluidez, o que constitui um inconveniente que

pode limitar a utilização desse tipo de material. Em termoplásticos amorfos, o

aumento do peso molecular não apresenta efeito considerável na resistência ao

ESC (Arnold, 1996).

Com relação ao náilon, embora aparentemente o peso molecular médio não exerça

um efeito significativo, a remoção de frações de baixo peso molecular por meio de

extração com água melhora sensivelmente a resistência ao ESC (Dunn e Sansom,

1969a; 1969b).

Para copolímeros de estireno e acrilonitrila, a deformação crítica, ou seja, a

deformação necessária para que ocorram os primeiros indícios de fissuras, é

independente do peso molecular, até mesmo para os copolímeros de pesos

moleculares extremamente altos. Entretanto, foi observado que nos estágios

subsequentes ao desenvolvimento das fissuras, o peso molecular exerce uma

influência bastante significativa. Assim, quando o material é submetido a uma

deformação acima de sua deformação crítica, ocorre a falha que será mais rápida

quanto menor for o peso molecular (Henry, 1974).

Page 42: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

42

2.3.6 Volume Molar do Agente Causador de ESC

Além da diferença entre os parâmetros de solubilidade do polímero e do agente, um

dos parâmetros que deve ser considerado na avaliação da resistência de

termoplásticos ao ESC é o volume molar do agente causador de ESC.

Quanto maior o volume molar do agente, mais difícil será sua penetração entre as

cadeias adjacentes do polímero, mesmo que haja compatibilidade entre os

parâmetros de solubilidade do agente e do polímero (Jacques e Wyzgoski, 1979).

No caso de agentes com volume molar alto, a tensão externa aplicada exerce um

efeito bastante significativo na absorção do agente (Brown et al., 1988). A Figura 15

mostra a influência de alguns agentes para a resistência ao ESC do poli (tereftalato

de etileno) (Sanches, 2006):

Figura 15 – Influência do agente para a resistência ao ESC no PET (Sanches, 2006).

2.3.7 Tensões Residuais do Processo de Injeção

As operações de processamento em polímeros ocorrem em condições não-

isotérmicas, nas quais o material fundido passa por uma complicada história térmica

até a solidificação. Materiais poliméricos são usualmente moldados no estado

fundido, seguido por taxa rápida de resfriamento, abaixo da temperatura de

transição vítrea, ou de fusão. Em operações de moldagem seguidas por

Page 43: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

43

resfriamento, os materiais são sujeitos, simultaneamente, às ações mecânicas e

térmicas, desde quando fluídos até o estado sólido (Arnold, 1998).

As ações mecânicas causam tensões nos fluidos, as quais são congeladas durante

o seu resfriamento; por outro lado, o resfriamento rápido induz a tensões térmicas.

Devido às diferenças entre taxas de resfriamento após fusão, na superfície e no

interior, podem ocorrer tensões de tração na superfície e tensões internas de

compressão, por exemplo, na fase inicial de resfriamento. No estágio final do

resfriamento, a compressão no interior é maior que na superfície, o que resulta em

tensões internas de tração e tensões superficiais de compressão. Estas tensões,

decorrentes da taxa de resfriamento e não homogêneas são chamadas de tensões

térmicas. Durante a solidificação, o produto pode conter estas tensões não aliviadas;

em virtude da natureza visco-elástica do polímero fundido, estas tensões são

chamadas de tensões residuais. O desenvolvimento de tensões residuais em

produtos poliméricos durante o processamento é decorrente então dos dois efeitos:

das tensões térmicas, por gradiente de temperatura, e das forças externas. Estas

tensões residuais podem comprometer o desempenho de produtos poliméricos

causando fratura por ESC quando expostos a agentes químicos (Kambour, 1973).

Figura 16 – Exemplo de tensões residuais em peça de policarbonato.

2.3.8 Desenho do Produto

Tradicionalmente, o termo engenharia está relacionado com a criação de algum

objeto de utilidade, o que em geral envolve toda uma sequência de atividades,

desde o início da concepção do produto, até a sua produção propriamente dita,

passando pelo projeto preliminar, detalhamento, análise, planejamento da produção,

produção e controle de qualidade e assistência ao usuário.

Page 44: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

44

No caso específico de produtos industriais, que são solicitados por cargas e esforços

durante a operação, ou mesmo quando da armazenagem, um dos pontos mais

críticos do projeto é o correto dimensionamento para suportar as cargas que irão se

desenvolver.

Pontos de concentração de tensão em um projeto são alguns dos contribuidores

importantes para o mecanismo de ESC. Alguns concentradores de tensão são

característicos do projeto, porém um dos principais objetivos deve ser a redução

desses concentradores. Os principais concentradores de tensão devido ao desenho

do produto são os entalhes, cantos vivos, ranhuras, vazios próximos às

extremidades, textura da superfície, mudanças bruscas de seção e espessuras de

parede da peça. Até certo ponto estas características estão sob o controle dos

projetistas e seu efeito pode ser reduzido.

Figura 17 – Desenhos de peças com concentradores de tensão (Hosford, 2005).

Componentes mecânicos, em função da necessidade de se introduzir detalhes

construtivos, são definidos pelas características funcionais do produto. Alguns

exemplos são ilustrados na Figura 17. Os pontos assinalados como críticos são os

pontos onde a tensão que solicita o material atinge um máximo, ou seja, é o ponto

onde ocorre de forma mais acentuada o efeito de concentração de tensão (Hosford,

2005).

2.4 Métodos para Análise de ESC

Para o ESC os ensaios de avaliações são derivados dos ensaios mecânicos

tradicionais. A diferença principal está na necessidade da realização de testes em

Page 45: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

45

um ambiente agressivo para o polímero, ou seja, o corpo de prova deve estar em

contato com o agente durante o ensaio. Em um dos trabalhos pioneiros de

investigação minuciosa de ESC, Bernier e Kambour (1968) utilizaram um aparato de

flexão três pontos para avaliação da deformação crítica para início de crazes. Eles

variavam a deformação imposta aos corpos-de-prova de um dado polímero até um

valor limite, acima do qual começavam a surgir crazes visíveis na superfície

deformada. Em um trabalho seguinte, Kambour et al. (1972) utilizaram um suporte

elíptico para determinação da deformação crítica para crazing, o que foi considerado

uma evolução, quanto à rapidez e economia de corpo-de-prova, pois o suporte

elíptico impunha várias deformações ao longo do comprimento de um único corpo-

de-prova, e assim possibilitando uma rápida obtenção do valor de deformação

crítica.

Na atualidade os ensaios são divididos de acordo com a forma de aplicação do

esforço: deformação constante; carga constante; ensaios dinâmicos (controle da

taxa de deformação ou de tensionamento); carregamento biaxial; ensaios cíclicos;

baseados em mecânica de fratura. Algumas técnicas auxiliam no estudo de ESC,

como por exemplo, microscopia ótica e eletrônica e cinética de absorção do fluido

(Kambour et al., 1972).

2.4.1 Ensaios Sob Deformação Constante

Os ensaios de ESC sob deformação constante são muito usados na indústria. Os

equipamentos necessários são comparativamente simples e baratos. Consiste em

aplicar uma deformação constante a uma amostra de polímero, submetê-la a um

ambiente agressivo e monitorar o tempo de falha. Uma limitação desse tipo de

ensaio é a redução da tensão com o tempo, devido a processos internos de

relaxação no polímero. Há diferentes formas de realização de ensaios sob

deformação constante, pois são possíveis diversos aparatos para aplicação da

deformação (Turnbull, 2000).

2.4.1.1 Flexão

Nos ensaios de flexão são usados corpos-de-prova retangulares. Deve-se ter

Page 46: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

46

cuidado com o acabamento superficial e com a orientação, caso os corpos-de-prova

sejam obtidos a partir de placas ou peças prontas. As deformações induzidas nos

ensaios de flexão variam ao longo do comprimento e da espessura do corpo-de-

prova. As tensões elásticas podem ser calculadas a partir de equações usadas na

teoria de vigas (Turnbull, 2000).

A amostra de teste deve ser posta em contato com o fluido ativo logo após fixação

no suporte. O acompanhamento do ensaio é feito por inspeção visual em intervalos

regulares até a obtenção do tempo de início de crazes ou trincas. Outra forma é a

determinação da deformação mínima abaixo da qual não se observa a formação de

crazes ou trincas para um determinado tempo de ensaio. Uma recomendação é a

repetição do ensaio, para cada condição de deformação, por pelo menos 5 vezes. A

seguir são descritos alguns tipos de ensaio de flexão.

Flexão Dois Pontos – A falha iniciará na parte central externa do polímero, pois a

tensão é máxima nessa região. A tensão máxima na superfície pode ser

determinada pela equação 2.01:

L = (K t E / σmax) sen -1 (H σmax / K t E) 2.01

onde: L é o comprimento do corpo-de-prova; H é o comprimento da região do

suporte onde o corpo-de-prova será fixado; t é a espessura do corpo-de-prova; k é

uma constante empírica igual a 1,28; E é o módulo e σmax é a tensão máxima. A

razão (E/σmax) é o inverso da deformação máxima imposta. A Figura 18 mostra um

teste de flexão dois pontos (Sianhkali et al., 2004).

Figura 18 – Ensaio de flexão dois pontos (Sianhkali et al, 2004).

Page 47: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

47

Flexão Três Pontos – Há uma modificação em relação ao aparato de flexão dois

pontos, pois neste caso a carga e a deformação no corpo-de-prova são aplicadas

por um componente extra, localizado no ponto médio entre os suportes da

extremidade. A principal vantagem é o maior controle da deformação imposta ao

polímero. Outra vantagem é o menor controle do comprimento da amostra, que não

depende do tamanho do suporte como no caso do ensaio de flexão dois pontos. Em

alguns casos pode-se monitorar a variação de tensão, desde que o componente

adicional possua uma célula de carga acoplada, como descritos nos trabalhos de Al

Saidi et al. (2003) e Cho et al. (1998).

A tensão e a deformação máximas são geradas no ponto médio entre os suportes

externos e diminuem linearmente até zero nos suportes externos. O valor da tensão

máxima pode ser obtido a partir da equação 2.02:

σ = (6 E t δ) / H² 2.02

Onde: H é a distância entre os suportes externos; t é espessura do corpo-de-prova;

δ é a deflexão do corpo-de-prova da região central; E é o módulo elástico. A Figura

19 mostra um teste de flexão três pontos (Al Saidi, 2003).

Figura 19 – Ensaio de flexão três pontos (Al Saidi, 2003).

Flexão Quatro Pontos – A diferença em relação ao aparato de flexão de três

Page 48: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

48

pontos é que a tensão na superfície do corpo-de-prova entre os dois suportes

internos é constante e uniforme. Isso é vantajoso especialmente quando existem

heterogeneidades micro-estruturais ou superficiais. É necessário testar vários

corpos-de-prova para uma dada condição de deformação, para que os resultados

sejam estatisticamente confiáveis.

O valor da tensão máxima pode ser obtido a partir da equação 2.03:

σ = (12 E t y) / (3H² - 4 A²) 2.03

Figura 20 – Ensaio de flexão quatro pontos (Turnbull et al, 2000).

Os valores de y, t, A e H são apresentados na Figura 20.

2.4.1.2 Auto-carregamento Tênsil

Este ensaio não é comum para testar produtos plásticos, mas tem a vantagem de

gerar um padrão de tensão simples e uniforme. Deformações constantes são

aplicadas por meio de suportes rígidos. Um desafio importante é evitar que a ruptura

ocorra na região de fixação do corpo-de-prova. Logo após a fixação da amostra no

suporte, deve-se imergir o conjunto no fluido de teste e inspecionar em intervalos

regulares, sem interrupção do teste, o tempo para início de crazes ou trincas. Os

corpos-de-prova devem ser inspecionados a intervalos regulares, sem interromper o

ensaio. O tempo necessário para a falha aparecer após o corpo-de-prova exposto

pode ser usado como uma medida da resistência ao ESC. Em alternativa, o ensaio

pode ser continuado até um determinado período de tempo já decorrido. Para

determinar a reprodutibilidade dos resultados, os testes devem ser repetidos cinco

vezes para cada condição (Turnbull et al, 2000).

Page 49: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

49

Figura 21 - Ensaio auto-carregamento tênsil (Turnbull et al, 2000).

2.4.1.3 Bell Test para Materiais Flexíveis

Este ensaio foi desenvolvido originalmente para os laboratórios Bell e atualmente é

descrito na norma ASTM D1693. É indicado para materiais flexíveis como o

polietileno e deve ser utilizado com o propósito de controle de qualidade. O corpo-

de-prova tem formato retangular, comprimento de 38 mm e 13 mm de largura. Em

uma das faces faz-se uma ranhura de 19 mm e profundidade que varia de acordo

com a espessura do corpo-de-prova (Turnbull et al, 2000).

.

Tabela 2 – Tabela para o Bell Teste (Turnbull et al, 2000).

Espessura do corpo de prova (mm)

Profundidade da ranhura (mm)

3 – 3,3 0,50 – 0,65 1,75 – 2 0,30 – 0,40

Para cada condição de teste são necessários 10 corpos-de-prova. Após a

construção da ranhura os corpos-de-prova são dobrados na forma de U, com a

ranhura na face externa, e mantida assim em um suporte, seguida da imersão em

um tubo de vidro contendo o fluido de teste. Faz-se a inspeção visual

periodicamente para determinação do tempo de falha de 50% das amostras. A

Figura 22 ilustra um corpo-de-prova e um conjunto imerso em um recipiente

contendo o líquido ativo.

Page 50: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

50

Figura 22 - Bell Test Para Materiais Flexíveis ((Turnbull et al, 2000).

2.4.2 Ensaios Sob Tensão Constante

Esses ensaios se caracterizam pela manutenção da carga aplicada sobre a amostra

durante o ensaio. Isso faz com que seja eliminada a relaxação de tensão comum

nos ensaios realizados à deformação constante. O material pode ser testado até

ocorrer à fratura ou surgir algum craze observável, dependendo do critério de falha

adotado. Os resultados podem ser usados para propósitos de classificação ou para

fornecer dados para projeto e predição de tempo de falha.

Ao se comparar materiais diferentes ou grades diferentes de um mesmo material,

deve-se considerar a magnitude da razão entre a tensão aplicada e a tensão de

escoamento do material. Os resultados são comumente apresentados como o tempo

de falha em função da razão entre a tensão aplicada e a tensão de escoamento

(Turnbull et al, 2000).

2.4.2.1 Teste do Cantiléver

Consiste em um ensaio de flexão sob carga constante. A tensão máxima, σ, ocorre e

pode ser estimada pela equação 2.04, ao se assumir o comportamento elástico

linear:

Page 51: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

51

σ = (6 F l) / (W t²) 2.04

Onde: F é a carga aplicada; W é a largura; l é o comprimento; t é a espessura do

corpo-de-prova.

O fluido é normalmente colocado na superfície com auxílio de um tecido umedecido,

embora possa também ser usado um recipiente para imersão total do conjunto.

Periodicamente faz-se a inspeção visual para observação de crazes. São ideais que

sejam feitas pelo menos 5 determinações para uma dada condição de

carregamento.

Figura 23 - Teste do Cantiléver (Turnbull et al, 2000).

2.4.2.2 Teste Tênsil Sob Carga Constante

Neste ensaio o corpo-de-prova sob investigação é submetido a uma carga tênsil

constante, comumente por meio de um peso morto suspenso em uma das

extremidades. A outra extremidade do corpo-de-prova é presa ao suporte. A

geometria da amostra é geralmente a mesma usada em ensaios de tração

convencionais.

Como medida da resistência ao ESC pode ser usada o tempo de surgimento de

crazes ou trincas a partir do momento de contato com o fluido, ou o valor de tensão

abaixo do qual não se formam crazes ou trincas em um tempo de ensaio

especificado (tipicamente 30 dias). O teste deve ser repetido pelo menos 5 vezes

para uma tensão particular aplicada, ou duas vezes sobre uma faixa de no mínimo 3

diferentes tensões.

Page 52: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

52

A suscetibilidade do polímero ao ESC pode ser determinada pela comparação da

deformação no ensaio realizado no ar com a realizada no fluido de teste. A influência

do fluido pode ser detectada por um aumento distinto na taxa de mudança da

deformação por fluência em relação à do ensaio realizado no ar. O aumento na taxa

de deformação coincide com a iniciação de crazes no corpo-de-prova e é designado

de deformação de separação.

Os ensaios de tração com carga constante tênsil têm como principais desvantagens

o custo e a escolha do valor de tensão que forneça resultados confiáveis dentro de

um intervalo de tempo razoável. Fluidos que apresentam interação média a

moderada com polímeros tendem a ser menos bem caracterizados do que os que

apresentam interações severas. Paradoxalmente, são as interações menos severas

que tendem a produzir falhas mais significativas, pois tenderão a ocorrer após algum

tempo de uso (Wright, 1996).

Tempo

Peso

Contra Balanço

Corpo de Prova

Tempo

Peso

Contra Balanço

Corpo de Prova

Figura 24 - Teste tênsil sob carga constante (Turnbull et al, 2000).

Page 53: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

53

ArAgente

Tempo para Falha ( Segundos)

Ten

são

(MP

a)

ArAgente

Tempo para Falha ( Segundos)

Ten

são

(MP

a)

Figura 25 – Comparação do tempo de falha do agente e do ar (sem agente)

(Turnbull et al, 2000).

2.4.3 Ensaios Dinâmicos

Recentemente, ensaios de ESC em que há o aumento gradual da tensão ou

deformação têm sido realizados, e os resultados comparados com os já

empregados. Pode-se controlar a taxa de aplicação de tensão ou de aumento da

deformação sobre o corpo de teste. São ensaios de curta duração. Pode-se dizer

que são ensaios de tração em que as amostras estão confinadas no fluido durante o

teste. Deve-se dar atenção à fixação das amostras para evitar escorregamento do

corpo-de-prova das garras, devido ao fluido. Outros cuidados compreendem evitar

que a ruptura ocorra nas garras, devido à concentração de tensão neste local, e

alinhar o corpo-de-prova para garantir o carregamento axial.

O foco do ensaio em polímeros é o início de crazes, que está associado à separação

entre as curvas do ensaio realizado em ambiente de ESC e o realizado no ar. A

separação tensão/deformação tende a ter boa repetibilidade e reprodutibilidade, o

que não acontece com o tempo de falha que tende a ter alta variabilidade.

A definição do ponto de separação depende da perspectiva pelas quais as curvas

tensão-deformação são vistas e do nível de ruído dos parâmetros. Para evitar

julgamento subjetivo, Turnbull et al. (2000) definiram o ponto de separação como

Page 54: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

54

aquele em que a inclinação da curva tensão-deformação do ensaio realizado sob o

fluido de ESC reduz para 75% da inclinação da curva do ensaio realizado no ar. Os

ensaios por eles realizados eram com controle da taxa de deformação.

Wright (1996) apresentou um equipamento e resultados obtidos de um teste em que

houve controle do aumento da tensão aplicada. O ensaio foi chamado de tração com

carga constante monotônica.

Figura 26 - Ensaios dinâmicos (Turnbull et al, 2000).

Ten

são

Deformação

Ten

são

Deformação

Figura 27 – Exemplo de ESC em ensaios dinâmicos (Turnbull et al, 2000).

Page 55: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

55

2.5 Mecânica da Fratura

Para todo e qualquer processo de falha que um dado componente venha a sofrer, o

ponto de início da falha está localizado em um local onde o nível de solicitação

ultrapassou o nível de resistência. Esta situação ocorre seja por uma baixa

resistência localizada naquele ponto, seja por um aumento local na solicitação que

atua no material, na forma de uma tensão ou uma deformação (Anderson, 1995).

As fórmulas de tensão utilizadas em determinados projetos estruturais são baseadas

em estruturas tendo uma seção constante ou uma seção com mudança gradual.

Tais condições são quase nunca atingidas em regiões de tensão em condições reais

de serviços. A presença de cantos vivos, defeitos superficiais, reduções de seções e

linhas de emendas resultam em concentradores de tensões, conforme Figura 28 e

Figura 29. Esta concentração de tensão é responsável por diversas falhas de

materiais em serviços (Pilkey, 2008).

Figura 28: Concentrações de tensões introduzidas por entalhes e mudança gradual

de seção: (a) desenho da peça. (b) fotografia foto-elástica (Pilkey, 2008).

Page 56: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

56

Figura 29: Ensaio de tração com entalhes; (a) análise de elementos finitos; (b)

fotografia foto-elástica; (c) corpo de prova (Pilkey, 2008).

A fratura pode ser definida como a criação de novas superfícies dentro de um corpo

através da aplicação de tensões externas ou residuais (Pilkey, 2008).

Como o uso de polímeros está crescendo cada vez mais nas indústrias, a mecânica

da fratura vem ganhando destaque não somente no campo dos metais, mas também

na área dos materiais poliméricos. A fratura em polímeros também pode ser

catastrófica, a depender do tipo de aplicação da peça.

O desenvolvimento dos estudos a respeito da mecânica da fratura iniciou quando os

processos usuais de cálculo estrutural se tornaram insuficientes para explicar falhas

de estruturas solicitadas por níveis de tensões abaixo dos admissíveis. O principal

ponto do estudo da mecânica da fratura é o comportamento do material quando

contém uma trinca que por sua vez gera uma concentração de tensão (Anderson,

1995).

O processo de ruptura do material ocorre pelo crescimento da trinca. Essa trinca

pode ser um defeito inerente ao material, decorrente do processo de fabricação,

como trincas do processo de injeção, defeitos de linhas de emendas, falhas internas

devido a bolhas de ar, etc. Em outros casos a fissura pode se desenvolver devido a

uma solicitação dinâmica, como na nucleação de trincas de fadiga, ou estática,

como as tensões geradas por pontos de fixações de peças (Turnbull et al, 2000).

Page 57: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

57

O uso cada vez mais generalizado da mecânica da fratura se deve ao fato de que

esta permite quantificar de uma forma bastante precisa os níveis admissíveis em

que um componente com trincas pode operar, sem que venha a falhar. Este aspecto

é extremamente importante em peças de elevado custo de fabricação até peças de

mais simples aplicações, que estão sujeitas à ocorrência de defeitos, podendo gerar

insatisfações dos clientes (Pilkey, 2008). Devido aos processos de fabricação,

utilizados normalmente, é quase impossível assegurar que não ocorram defeitos

internos no material. Quando o controle de qualidade detecta um defeito de tamanho

significativo, a decisão de rejeitar, ou não, o componente, passa a ser uma decisão

com um peso econômico bastante elevado, devido ao custo do componente. Por

outro lado, quando o controle de qualidade não detecta qualquer defeito, isto não

significa que o componente esteja isento de defeitos, pois estes podem passar

despercebidos. Testes de sobrecarga podem ser utilizados para fornecer uma idéia

de qual o tamanho máximo de defeitos que o componente pode eventualmente

conter. Nestas situações é que a mecânica da fratura encontra plena aplicação,

tornando possível uma decisão conscienciosa sobre o procedimento a adotar, para

refugar ou não uma peça, por exemplo, principalmente no campo dos metais

(Kinloch e Young, 1988).

Outra situação igualmente importante surge quando a estrutura deve ter o seu peso

reduzido a um mínimo, elevando, portanto, as tensões de operação. Sob uma carga

dinâmica ou estática é certo que este nível de tensão provoca o desenvolvimento de

trincas de fadiga e de tração com carga constante, que vão crescendo até levar à

falha final do produto. A mecânica da fratura é utilizada de uma forma vantajosa

nesses casos, pois permite prever a velocidade de crescimento das trincas (Ashby e

Jones, 2007).

É possível classificar os materiais que sofrem fratura frágil (brittle), como os vidros

que estilhaçam, ou dúcteis (ductile), extensíveis, como os metais puros, tais como o

alumínio, que apresenta elevada deformação antes da falha. Os polímeros têm

ambos os tipos de comportamento, dependendo de suas estruturas e condições de

ensaio, como temperatura ou velocidade. Eles passam por fratura apresentando

várias formas de curvas tensão-deformação. Os polímeros vítreos tendem a ser

quebradiços, falhando sob baixas deformações e com pouca deformação plástica.

Por outro lado, polímeros semicristalinos são dúcteis, especialmente entre Tg e Tm,

e passam por estiramento antes da falha final (Turnbull et al, 2000).

Page 58: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

58

Figura 30: Fratura frágil do polímero (Ashby e Jones, 2007).

Figura 31: Fratura dúctil do polímero (Ashby e Jones, 2007).

Borrachas vulcanizadas são capazes de ser estiradas elasticamente até altas

extensões, mas irão rasgar, a menores deformações, se pré-existir um corte na

amostra (concentração de tensão). A transição dúctil-frágil, por exemplo, por

redução de temperatura do ensaio, o comportamento típico de aço, é muito comum

em polímeros; PMMA, com Tg em torno de 105°C, a baixa temperatura, tem fratura

Page 59: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

59

frágil, mas quando a temperatura de ensaio é aumentada acima da ambiente, o

polímero passa por escoamento e a fratura passa a dúctil. Este tipo de transição

frágil-dúctil é explicado porque a fratura frágil e a deformação plástica são processos

que têm diferentes dependências da temperatura. Como a tensão de escoamento é

reduzida a um valor crítico, ela torna-se maior que a tensão para causar fratura

frágil. A temperatura, na qual isto ocorre, é chamada de temperatura de transição

dútil-frágil (Silva, 2003).

Também a velocidade de ensaio afeta as propriedades mecânicas tanto quanto a

temperatura: náilon, com Tg em torno de 40-50°C, pode ser estirado à temperatura

ambiente com relativamente baixa velocidade, mas torna-se quebradiço quando esta

é aumentada. A temperatura na qual ocorre a transição dúctil-frágil para um

polímero particular é sensível estrutura do polímero bem como à presença de

defeitos e entalhes, sendo aumentada por reticulação e por cristalinidade. Ambos os

fatores tendem a aumentar a tensão no escoamento sem afetar a tensão de ruptura

significativamente. Os plastificantes reduzem a tensão no escoamento; fissuras ou

entalhes produzem o efeito de reduzir à resistência à tração do material e também

de aumentar a temperatura da transição dútil-frágil. Assim a presença de um entalhe

pode causar uma falha de maneira frágil do polímero (Silva, 2003).

Materiais poliméricos são amplamente utilizados na engenharia, e em todas as

aplicações, sendo a ocorrência de fratura uma das maiores preocupações.

O projeto convencional na engenharia baseia-se em evitar falhas por colapso

plástico. A propriedade normalmente especificada em códigos de engenharia é a

tensão de escoamento convencional ou, em componentes mecânicos, a faixa de

dureza. Desta forma a tensão de projeto será a tensão que levaria o componente ao

colapso plástico dividido por um fator de segurança. Este fator de segurança pode

ser de 1,5 para vasos de pressão fabricados em aço laminado, de 4 para aplicação

similar com aço fundido e variando de 5 até 10 para cabos de aço. Conforme este

procedimento, o fator de segurança não considera a possibilidade de fratura por um

modo alternativo como a fratura frágil. Geralmente é aceito que o fator de segurança

evita a ocorrência de fraturas frágeis. Entretanto, na prática, tem-se verificado que

isto nem sempre é verdadeiro. Existem situações em que falha de componentes

ocorre a partir de trincas com tensões aplicadas abaixo da tensão de projeto

(Kinloch e Yong, 1988). O ESC é um tipo de fratura que ocorre nos polímeros,

principalmente amorfos, em tensões muito abaixo da tensão de escoamento do

material, ou seja, muito abaixo de qualquer fator de segurança.

Page 60: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

60

Em termos de engenharia, este é um tipo de fratura frágil incentivada por

concentradores de tensões que agem, normalmente, no sentido de restringir a

deformação plástica. Em serviço é comum a ocorrência de trincas junto a regiões de

altas tensões (Pilkey, 2008). Os tipos de concentradores de tensões mais comuns

para os polímeros são:

• reduções de seções;

• cantos vivos;

• defeitos de injeção (bolhas e vazios);

• orientação das moléculas;

• linhas de solda e

• canal de injeção.

Quando se fala em metais, normalmente estes defeitos são detectados e avaliados

quanto as suas dimensões por técnicas de ensaios não destrutivos. O objetivo da

mecânica da fratura é a de determinar se um defeito tipo trinca irá ou não levar o

componente a fratura catastrófica em tensões normais de serviço, permitindo, ainda,

determinar o grau de segurança efetivo de um componente trincado. O grande

mérito da mecânica da fratura é o de possibilitar aos projetistas valores quantitativos

de tenacidade do material, permitindo projetos que aliem segurança e viabilidade

econômica (Williams, 1984). A mecânica da fratura quando aplicada ao mecanismo

de ESC permite a operação segura de componentes com concentradores de tensão

que não irão gerar a fratura em condições de serviços.

É evidente que a presença de uma trinca afeta a resistência de um componente.

Desta forma, durante o crescimento da trinca, a resistência estrutural vai sendo

reduzida. O controle de fratura tem o objetivo de prevenir a fratura devido a defeitos

e trincas frente a carregamentos em serviço (Kinloch e Yong, 1993).

Uma forma de prevenir a fratura é fazer com que a resistência não caia abaixo de

determinado limite. Isto significa que deve ser evitado que as trincas atinjam

tamanhos críticos; logo a mecânica da fratura possui dois problemas a serem

resolvidos:

• calcular o tamanho de defeitos admissíveis (determinar como o tamanho da

trinca afeta a resistência global) e

• calcular o tempo de operação em segurança (definição do tempo necessário

para uma determinada trinca alcançar o tamanho crítico).

Page 61: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

61

2.5.1 Comportamento da Trinca e Critério de Griffth

Inglis em 1913 foi o primeiro a quantificar os efeitos da concentração de tensão ao

analisar entalhes elípticos em placas planas. Nesta análise Inglis obteve uma

expressão que determina a tensão na extremidade do maior eixo da elipse, Figura

32. Considerou que as tensões no entalhe não eram influenciadas pelo contorno da

placa, ou seja, a largura muito maior que 2a e o comprimento muito maior que 2b.

σmáx = σo (1 + 2 √a / b) 2.05

Figura 32 – Concentração de tensão placa com furo elíptico (Janssen et al, 2002).

Figura 33 – Placa com orifício elíptico (Janssen et al, 2002).

De acordo com a equação 2.05 o efeito da concentração das tensões é maior

quanto mais afiado for o entalhe, ou seja, quanto menor for o raio de curvatura da

elipse. Mais a concentração de tensão para um raio nulo no entalhe, neste caso

chamado de uma trinca, tende a infinito. Isto sugere que a ruptura ocorreria numa

tensão nominal aplicada próxima a de zero, o que evidentemente não acontece na

realidade. Inglis apenas resolveu o problema do entalhe, mas não explicou porque

Page 62: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

62

as peças não quebravam. Foi Griffith que deu o passo seguinte para um melhor

entendimento das trincas.

A idéia de Griffith é de que, se uma tensão é aplicada e ultrapassa certa tensão

crítica, a trinca irá se propagar. Em termos do balanço energético, a propagação

ocorrerá se a perda de energia potencial elástica devido à presença da trinca for

suficiente para prover toda a energia requerida para o crescimento da trinca, o que

pode ser obtido por um balanço entre a energia de deformação elástica e a de

superfície gerada.

Em um corpo frágil carregado e com um crescimento gradual da trinca, as alterações

energéticas são provenientes apenas das novas superfícies geradas pela separação

da microestrutura e da energia potencial do corpo. A energia de superfície Us é

representada pela energia absorvida pelo crescimento da trinca, sendo que a

energia de deformação elástica é liberada ao longo da trinca nas regiões adjacentes

à nova superfície fraturada. Como a energia de superfície Us tem um valor constante

por unidade de área ela se apresenta de forma linear com o crescimento da trinca,

enquanto a energia elástica liberada no crescimento da trinca é uma parábola

negativa, como visto na Figura 34.

Figura 34 – Gráfico ilustrativo das energias associadas com o aumento do

comprimento da trinca central numa placa (Janssen et al, 2002).

Page 63: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

63

Figura 35 – Modelo de um corpo de prova (placa) de espessura t com uma trinca

central de tamanho 2a (Janssen et al, 2002).

Conforme a Figura 35, considerando-se um corpo de prova (chapa) com espessura t

e com uma trinca central de tamanho 2a, submetida a uma tensão constante, tem-se

as seguintes equações relativas às energias da chapa deformada:

• Energia de superfície por unidade de área, Us:

Us = 2 (2 a t T) = 4 a t T 2.06

• Energia potencial liberada devido à trinca, Ua:

Ua = - π a² t σ² / E 2.07

• Energia total, Ut:

Ut = Uo + Ua + Us 2.08

Onde Uo é a energia potencial elástica da placa sem a trinca central. Observando-se

A Figura 34 nota-se que a condição crítica para se propagar a trinca é o ponto

máximo da curva de energia total Ut, onde dU/da = 0, ou seja:

D(Us + Uo + Ua) / da = 0 2.09

Como Uo é constante, ou seja, dUo / da = 0, então:

Page 64: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

64

(d / da) (-π a² t σ² / E + 4 a t T) = 0 2.10

Obtendo-se: σ = (2 T E / π a) ½ 2.11

Como T = Ƴ, onde Ƴ é a energia de superfície, então a equação torna-se

σ = (2 Ƴ E / π a) ½ 2.12

Assim, a propagação da trinca ocorre quando a energia de deformação elástica é

maior que a energia específica de superfície, o que se pode escrever como:

π a² t σ² / E > Ƴ, ou seja, σ > (Ƴ E / π a) ½ 2.13

Dessa forma, a propagação da trinca ocorrerá se a perda de energia potencial

elástica é suficiente para prover toda a energia requerida para o crescimento da

trinca, ou seja:

dU/da = dW/da ou G = R 2.14

Onde G é igual à razão de liberação de energia elástica, R é igual à resistência à

propagação da trinca e W é igual o trabalho das forças externas na placa.

Assumindo-se que a energia requerida para produzir uma trinca é a mesma para

cada incremento, isto é, R é constante. Assim, o critério de propagação acima pode

ser reescrito como G = GIC, onde GIC é a taxa de liberação de energia elástica

crítica.

Outra forma de avaliar o critério de Griffth está a partir das análises seguintes. A

Figura 36 mostra uma trinca de comprimento 2a, situada em uma placa infinita

(geometria de Griffith). O modelo considera um material elástico linear.

Considerando a variação da energia do sistema quando a trinca sofre um aumento

infinitesimal, da. A energia necessária para provocar a propagação da trinca,

consumida pelo material ao romper as ligações atômicas, deve ser fornecida de

alguma forma. Esta energia, dissipada pela ruptura do material, chamada de energia

de superfície, é consumida para criar novas superfícies livres no material e é o

Page 65: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

65

produto da energia de superfície, por unidade de área, γ, pelo acréscimo da área da

trinca, dA. As outras parcelas de energia são determinadas a partir da consideração

de que é possível obter-se as curvas de carga versus deslocamento para o corpo

trincado, para as condições de trincas de comprimento a e (a + da). As curvas

resultantes deste ensaio estão esquematizadas na Figura 37.

Figura 36 – Trinca em uma placa infinita, sob carga unixial (Bahram, 2001).

Figura 37 – Ensaio de tração em uma placa com trinca (Bahram, 2001).

Se para os dois tamanhos de trinca o deslocamento for fixado e mantido constante,

por exemplo, em u1, com o aumento da trinca de a para a + da, haverá uma redução

da energia elástica de deformação, de 1/2 P1 u1, para 1/2 P2 u1, já que o corpo, com

a trinca maior, se comporta como fosse uma mola mais flexível em relação ao corpo

com a trinca menor. O aumento da trinca diminui a rigidez da placa fazendo com que

a força exercida sobre a placa se reduza de P1 para P2. Sob estas condições, o

Page 66: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

66

aumento da trinca libera a energia elástica 1/2 (P1 - P2) u1, que pode ser

transformada em energia de superfície, absorvida pelas novas faces geradas pelo

avanço da trinca.

Para os dois tamanhos de trinca, ao considerar a condição de carregamento

constante, o corpo com a trinca maior, funcionando como uma mola mais fraca,

sofrendo um deslocamento maior que quando tinha a trinca menor e a energia

elástica de deformação armazenada é maior. Desta forma a variação da energia

potencial é dada pela variação da energia complementar, como segue:

P1 (u2 – u1) – 0,5 P1 (u2 – u1) = 0,5 P1 (u2 – u1) 2.15

Com deslocamentos iguais a energia de deformação decresce de:

0,5 (P1 – P2) u1 2.16

Com cargas iguais a energia potencial total decresce de:

0,5 P1 (u2 – u1) 2.17

Chamando

dP = P1 – P2 e du = u2 – U1 2.18

Pode-se escrever a variação de energia de deformação e a variação de energia

potencial como a equação 2.19 e 2.20 e a relação u e P é dada pela equação 2.21.

dU = - 0,5 u dP 2.19

dV = -0,5 P dU 2.20

U = C P 2.21

Onde C é uma constante para um dado comprimento de trinca, denominada de

flexibilidade do sistema, o inverso da rigidez. Como a variação do comprimento da

Page 67: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

67

trinca tende a zero, da = 0, o valor de C é igual para as trincas de comprimento a e

(a + da), logo:

du = C dP 2.22

Com estas duas últimas expressões, as equações da variação da energia podem ser

reescritas como:

- 0,5 u dP = - 0,5 C P dP 2.23

- 0,5 P du = - 0,5 P C dP 2.24

O que prova que os dois conceitos são equivalentes quando o acréscimo da trinca é

pequeno. Assim, para um aumento infinitesimal do comprimento da trinca, a redução

da energia elástica de deformação de um corpo trincado, com condições de

deslocamento constante, é igual à redução da energia potencial sob condições de

carga constante. A partir disto, Griffith propôs que a força crítica, necessária para

propagar uma trinca, é relacionada com o equilíbrio entre a energia liberada, com o

aumento da trinca, e a energia necessária para criar novas superfícies (Bahram,

2001). Assim, pode-se dizer que a energia dU, que é liberada pelo material, na

forma de energia de deformação, quando ocorre o crescimento da trinca, pode ser

consumida, no todo ou em parte, pela energia de superfície dS, necessária para

provocar a ruptura do material. Na condição de propagação com o deslocamento

mantido constante, portanto com o trabalho das forças externas nulo, tem-se que, se

dU < dS 2.25

a trinca tem um comportamento estável, já que a energia liberada é menor que a

necessária para propagação, e se

dU > dS 2.26

a condição de instabilidade é atingida e ocorre a propagação da trinca. Na condição

de igualdade entre dU e dS ocorre um equilíbrio instável para a trinca. Do critério dU

= dS, para uma dada dimensão da trinca, Griffith determinou a tensão nominal de

falha, ou tensão crítica, para o estado plano de tensões, como sendo:

Page 68: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

68

σcr ² = 2 E Ƴ / π a 2.27

Onde σcr, E, Y e a respectivamente são a tensão crítica, o módulo de elasticidade, a

densidade de energia de superfície e a dimensão característica da trinca.

A densidade de energia de superfície representa o consumo de energia pelo

material para romper as ligações atômicas, por unidade de área exposta, sendo

considerada uma propriedade do material. Esta é uma energia que deve ser

entregue ao material, para conseguir quebrar as forças de ligação. É, portanto uma

parcela dissipativa, ao contrário da energia de deformação. A energia de superfície é

dada pela equação a seguir, onde a é toda a área de material exposto pela presença

da trinca.

S = ∫A Ƴ dA 2.28

A equação de Griffith mostrou boa concordância com resultados experimentais,

especialmente para materiais frágeis, como vidros e cerâmicas. Em termos de uma

aplicação prática, a equação 2.28 mostra a dependência entre a tensão crítica e o

tamanho da trinca, o que é verificado experimentalmente. O uso dos conceitos,

como expostos, não é usual, sendo o uso da mecânica da fratura feito com novas

definições, como a do fator de intensidade de tensão. Para tal, inicialmente a

equação 2.27 deve ser reescrita como:

σcr ² π a = 2 E Ƴ 2.29

onde o termo da esquerda contém informações relacionadas com a geometria e a

carga, enquanto que o termo da direita representa as propriedades do material.

Page 69: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

69

Figura 38 – Esquema da variação da energia de um corpo em função do acréscimo

da trinca (Bahram, 2001).

2.5.2 Utilização da MFLE no Estudo da Fratura Assistida pelo Ambiente

A mecânica da fratura fornece os conceitos e equações utilizadas para determinar

como as trincas crescem e quanto podem afetar a resistência de estruturas

dividindo-se em mecânica da fratura linear-elástica (MFLE) e a mecânica da fratura

elasto-plástica (MFEP) (Anderson, 1995).

A primeira normalmente é utilizada em situações em que a fratura ocorre ainda no

regime linear-elástico. Isto pode ocorrer para materiais de altíssima resistência

mecânica ou mesmo em materiais com resistência moderada desde que

empregadas em uma espessura razoável. É a espessura que ditará se o regime é o

estado plano de deformação (estado triaxial de tensões) em que a mecânica da

fratura linear-elástica é aplicável ou o estado de tensão plana (biaxial de tensões)

em que a mecânica da fratura elasto-plástica é aplicável (Pilkey, 1963). Apesar da

complexidade que envolve a mecânica da fratura a mesma pode ser aplicada no

controle de fratura desde situações bem simples como: um pára-choque, em que

deve ser escolhido um polímero com tenacidade apropriada para possíveis impactos

gerados em condições de serviço, até situações de alta complexidade tecnológica

como: um foguete, que no desenvolvimento de borrachas de vedações de

tubulações de combustíveis deve ser entendido toda influência de concentradores

de tensão em contato com os agentes químicos.

O polímero escolhido deve ser capaz de suportar ambientes agressivo

quimicamente para não causar falhas catastróficas durante a operação do sistema.

Page 70: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

70

Para a MFEL, o parâmetro de medida da tenacidade a fratura é dado pelo fator de

intensidade de tensão K, expresso como função da geometria do corpo de prova

utilizado e do carregamento aplicado, ou ainda pela taxa de liberação de energia, G.

Este conceito é válido para uma classe de problemas, onde os corpos de provas

trincados apresentam deformação plástica reduzida na ponta da trinca, podendo ser

utilizado para caracterizar.

Dividindo-se os modos de carregamento possíveis de uma trinca chega-se a três

formas, conforme Figura 39:

Figura 39 – Modos de carregamento básico de uma trinca (Anderson, 1995).

Para uma faixa de materiais que apresentam alta ductilidade, como uma boa parte

dos polímeros, a ocorrência de intensa deformação plástica nas regiões ao redor da

ponta da trinca inviabiliza o uso da análise elástica. Para estes materiais, a análise

feita por meio da MFEP, sendo a Integral J, neste caso, o parâmetro de medida da

tenacidade a fratura.

Page 71: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

71

Corpo de Prova

Medição Abertura da Trinca

Corpo de Prova

Medição Abertura da Trinca

Figura 40 – Ensaio da Integral J (Bahram, 2001).

Comparado com os metais, o estudo da mecânica da fratura aplicada aos polímeros

está ainda no início. A análise prévia do comportamento das fraturas em polímeros

deve ser feita antes de qualquer conclusão, uma vez que a metodologia

desenvolvida para os metais nem sempre explicam o comportamento do polímero

devido ao seu comportamento visco-eslástico. Os ensaios para a determinação da

tenacidade a fratura, sob deformação plana, KIC, e Integral J têm sido bastante

aplicados aos polímeros com notável sucesso (Williams, 1984). Os procedimentos

utilizados nos ensaios são geralmente semelhantes aos aplicados aos metais.

Quando um polímero contendo uma trinca é submetido a algum tipo de

carregamento, uma zona plástica é formada na ponta da trinca. Para os polímeros

termorrígidos esta zona assemelha-se à zona plástica formada nos metais, sendo a

deformação por cisalhamento o mecanismo de escoamento dominante. Para os

termoplásticos, o predominante escoamento por Crazing (bandas concentradas de

microvazios) (Bahram, 2001).

Para os casos de fratura assistida pelo ambiente, embora haja duas décadas tenha

sido demonstrada a importância da abordagem baseada na mecânica da fratura, até

o momento não existe uma norma referendando os procedimentos de ensaios

utilizados.

Page 72: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

72

As práticas usuais são de utilizarem-se os mesmos tipos de corpos de prova

recomendados pela norma para determinação do valor de Kıc. Eventualmente, a

pré-trinca de fadiga pode até ser suprimida. Brown e Beachen em 1965 utilizaram

um corpo de prova do tipo viga em balanço (Figura 41) usando carga constante.

Uma célula de corrosão, envolvendo a área pré-trincada, permitia a ação do meio

agressivo. A propagação subcrítica de trinca era acusada pela deflexão do braço de

aplicação de carga (Janssen et al, 2002).

O método utilizado nesta dissertação é similar aos métodos utilizados para os metais

para avaliar o fenômeno de corrosão sob tensão, embora para o mecanismo de ESC

não exista a fratura causada pela quebra das cadeias moleculares.

Dada a geometria do corpo de prova e o tamanho da pré-trinca, para cada

carregamento imposto, tem-se um valor do fator de intensidade de tensões

correspondente. Os valores de K aplicados versus o tempo de fratura (se esta vier a

ocorrer) são inseridos em gráficos do tipo da Figura 42 onde se verifica que o corpo

de prova aparentemente rompe com um valor de K bem inferior ao valor de Kıc do

material. Na verdade, o que ocorre é que o valor de Kıc do material pode

permanecer inalterado. É que, para um determinado valor de K inicial, por

assistência do meio ambiente, há crescimento subcrítico de trinca. Este crescimento

subcrítico de trinca virá a aumentar o valor do fator de intensidade de tensões efetivo

(Kef), visto que a carga permanece constante, mas a seção remanescente é,

gradativamente, diminuída (Janssen et al, 2002).

Figura 41 – Desenho esquemático do dispositivo de ensaio com corpo de prova tipo

viga em balanço. (Janssen et al, 2002).

Page 73: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

73

Figura 42 – Gráfico de K com relação ao tempo de fratura. (Janssen et al, 2002).

Assim, para um determinado K inicial, a propagação subcrítica de trinca faz com que

haja um aumento de K com o tempo, até que atinja o valor de Kıc do material,

acarretando, então, a fratura final do componente (ver Figura 43).

Figura 43 – Alteração de K com a propagação da trinca (Janssen et al, 2002).

É evidente que, quanto maior o valor de K inicial aplicado menor será o tempo

necessário para levar a peça à fratura. Além disto, constata-se que há um patamar

de K abaixo do qual não ocorre crescimento subcrítico de trinca (KIEAC do material,

onde EAC é - "Environment Assisted Cracking").

O termo fratura assistida pelo ambiente (EAC) engloba qualquer fenômeno de

interação do ambiente com uma peça solicitada mecanicamente. Assim, efeitos de

corrosão-tensão, fragilidade por hidrogênio, fragilidade por metal líquido, são

analisados todos sob a mesma metodologia, acompanhando os seus efeitos sobre

Page 74: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

74

ensaios de laboratório, com a grande vantagem de poderem-se utilizar os resultados

diretamente em projetos ou, pelo menos, para estabelecer programas de inspeções

altamente confiáveis. Logo para o mecanismo de ESC no policarbonato será

utilizado o mesmo princípio.

A fratura por carga constante (Sustained load fracture) é um termo geral utilizado

para crescimento da trinca numa tensão frequentemente bem abaixo da tensão de

escoamento do material. A deformação e fratura por tração com carga constante

constituem um grande problema para as indústrias.

O Time-To-Failure – TTF (tempo para falha) é um ensaio bastante utilizado na

MFEL, em que o corpo de prova com um determinado fator de concentração de

tensão é exposto em um ambiente agressivo e monitorado o tempo que o mesmo irá

falhar. O ensaio de TTF a carga permanece constante para avaliação do tempo de

ruptura do material, se esta vier a acontecer. São feitos diversos ensaios com vários

concentradores de tensão, a fim de poder mensurar qual o concentrador de tensão

não existe o crescimento da trinca com o passar do tempo. Na Figura 44 pode ser

observado um resultado do ensaio de TTF.

Figura 44 – Ensaio de TTF em liga de titânio Ti-6AI-4V (Janssen et al, 2002).

2.5.3 Fator de Intensidade de Tensão Crítica

As tensões calculadas nos diversos componentes e peças estruturais, pelo uso das

expressões da mecânica dos sólidos, são valores nominais, ou seja, são válidos

apenas se for satisfeita uma série de condições (Meyers e Chawla, 2009), que na

grande maioria dos casos reais não ocorre, pois as regiões mais prováveis de falha

são as que contêm seções com alterações da geometria. O fator crítico de

Page 75: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

75

intensidade de tensão é um parâmetro importante no campo da mecânica da fratura

quando lidando com falhas estruturais resultante do crescimento instável da trinca.

São tão importantes quanto os valores críticos em análise estrutural, como a tensão

de escoamento ou a tensão de ruptura de um material. O valor crítico do fator de

intensidade de tensão em que a propagação de uma trinca instável acontece é

chamado de tenacidade a fratura. Em geral, o valor crítico de K é dependente da

espessura do corpo de prova, onde em laboratório é possível ver a diminuições do

valor de K com o aumento da espessura. Para uma seção espessa de um dado

material em que a deformação plástica na ponta da trinca é desprezível (estado

plano de tensões), o fator de intensidade de tensão crítico é designado por Kıc

(Meyers e Chawla, 2009).

Os critérios de falha para uma trinca instável no estado plano de tensões pode ser

escrita:

K ≥ Kıc 2.24

As expressões definidas por Griffith consideram situações totalmente diversas para

definir Kı, já que as expressões partem de uma geometria onde a trinca, na

realidade, é uma elipse e o processo de limite transforma a geometria para uma

trinca. Por outro lado, o fator de intensidade de tensão calculado por Kı = σo √(π a) é

válido apenas para a geometria de uma placa infinita com um carregamento

ortogonal à fissura, ou seja, para a chamada geometria de Griffith. Para outras

configurações geométricas, distintas desta, como as mostradas na Figura 45, a

formulação apresentada não é válida. Desta forma, o cálculo de Kı deve partir da

definição geral, conforme a equação 2.25.

Kı = Y σo √(π a) 2.25

O valor de Kı, Y, a e σo são respectivamente: fator de intensidade de tensão para a

geometria, fator geométrico, tamanho característico da trinca e tensão nominal da

peça.

Page 76: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

76

Figura 45 - Limitações da aplicação da fórmula de K I (Meyers e Chawla, 2009).

Assim, uma vez conhecido o fator geométrico para a configuração da peça,

localização do defeito e tipo de carregamento, o uso da equação 2.26 torna imediato

o cálculo do fator de intensidade de tensão.

Para corpos de provas que possuem entalhe em somente um dos lados, conforme a

Figura 46 é utilizada a equação 2.26 para calcular o valor de KI:

2.26

Figura 46 – Corpo de Prova com um entalhe (Meyers e Chawla, 2009).

Onde W é a espessura do corpo de prova, a é o tamanho característico da trinca e σ

é a tensão no corpo de prova.

Page 77: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

77

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Polímero Utilizado e Técnica de Confecção dos Corpos de Provas

Para o desenvolvimento desta dissertação foi utilizado o policarbonato Makrolon

AL2647 da empresa Bayer. Este material foi especialmente desenvolvido pelo

fabricante para uso de iluminações automotivas que oferecem propriedades ópticas

melhores e uma pureza mais alta. Recebido sob a forma de grânulos em pacote de

25 kg.

O Policarbonato Makrolon AL2647 é produzido de acordo com os requisitos da SAE

J 576 – EUA (três anos de desgaste) para iluminação automotiva.

Para não serem gerados defeitos nas amostras de corpo de prova, que poderiam

criar campos de concentração de tensão indesejados, antes do processo de injeção,

os grânulos permaneceram por 12 horas em uma estufa a 120 °C. A umidade dos

grânulos não ultrapassou 0.02% para o processo de injeção.

O processo utilizado para confecção dos corpos de provas foi o processo de injeção.

Neste processo de moldagem por injeção, os grânulos dos polímeros são

comprimidos por uma rosca, aquecidos até a fusão e esguichados em um molde

bipartido. Os corpos de provas moldados foram esfriados abaixo da Tg. A

temperatura do processo de injeção para confecção dos corpos de prova foi 300 °C.

O molde dos corpos de prova tem a capacidade de fabricar 4 corpos de provas ISO

527 – 2 tipo 1 A por ciclos no sentido longitudinal conforme Figura 47.

Figura 47 – Tipo de corpo de prova e orientação das cadeias.

Page 78: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

78

A orientação das cadeias do polímero é paralela à direção de força do ensaio. Nesta

dissertação todos os corpos de provas foram orientados de forma semelhante, pois

o escopo desta dissertação não visa avaliar a influência do grau de orientação das

moléculas do policarbonato.

A temperatura das condições de ensaio também é um fator significativo para a

resistência do polímero ao mecanismo de ESC. Todos os ensaios foram realizados

em temperatura ambiente de 23 °C.

Figura 48 – Curva tensão deformação para o policarbonato Makrolon AL2647.

3.2 Agentes Químicos

Um dos objetivos desta dissertação é avaliar a influencia de agentes químicos para

o mecanismo de ESC no policarbonato sob a influência de concentradores de

tensão. Para os ensaios foram selecionados dois agentes, que de acordo com a

literatura, influenciam a fratura por ESC no policarbonato. Os agentes escolhidos

foram o Álcool isopropílico P.A. (iso-propanol - CH3H8O) e o álcool metílico (metanol

– CH3OH) ambos fabricados pela VETEC.

Page 79: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

79

3.3 Materiais e Equipamentos

Além dos materiais e equipamentos comumente encontrados nos laboratórios de

pesquisa do SENAI CIMATEC, foram utilizados também nesta dissertação os

seguintes aparelhos:

Paquímetro Mitutoyo com sensibilidade de 0,05 mm.

Microscópio eletrônico de varredura (MEV), Laboratório Centro de Caracterização e

Desenvolvimento de Materiais, UFSCar/UNESP.

Analisador de cromatografia de permeação em gel (GPC), Laboratório Centro de

Caracterização e Desenvolvimento de Materiais, UFSCar/UNESP.

Máquina automática de injeção de plástico ROMI 100T, modelo Primax 100R.

Câmera fotográfica digital SONY.

Máquina universal de ensaios mecânicos, capacidade máxima 1000 Kgf (10 KN),

modelo DL.

Lâmina orbital de corte Eduley

Projetor de perfil Mitutoyo PJ–A3000

Graminho Mitutoyo digital, resolução de 0.01 mm e capacidade de 0 a 300 mm.

Figura 49 – Projetor de perfil Mitutoyo PJ–A3000.

Figura 50 – Graminho Mitutoyo digital.

Page 80: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

80

Figura 51 – Lâmina orbital de corte Eduley.

3.4 Ensaio de Tração

O ensaio de tração é um dos ensaios mais utilizados na determinação das

propriedades mecânicas da maioria dos materiais. No ensaio de tração, um corpo de

prova com formas e dimensões padronizadas é submetido a uma força de tração

uniaxial que tende a esticá-lo ou alongá-lo. As extremidades do corpo de prova são

fixadas nas garras de uma máquina de ensaio que aplica esforços crescentes na

sua direção axial. Durante o ensaio, são medidas a força e a deformação

correspondente. Em geral, o ensaio é realizado até a ruptura do corpo de prova.

Os ensaios de tração para avaliação da influência do entalhe ao mecanismo de ESC

desta dissertação foram realizados numa máquina universal de ensaios mecânicos,

laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC, providas de garras pneumáticas e

célula de carga de 1 KN. Os ensaios foram realizados de acordo com a norma

ASTM D 1708 – Stardard Test Method for Tensile Properties of Plastics by Use of

Microtensile Specimens.

Page 81: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

81

A temperatura de ensaio foi de 23°C com velocidade de deslocamento de 5 mm/mim

e distância entre as garras de 110 mm. Para cada ensaio foram utilizadas 05

amostras de corpo de prova com o objetivo de reduzir a variação do sistema de

medição.

3.5 Ensaio de Tração com Carga Constante

Define-se ensaio de tração com carga constante como sendo a deformação que

ocorre no material sob tensão constante em função do tempo. Assim como nos

metais, a temperatura de ensaio exerce uma enorme influência no fenômeno.

Portanto para este ensaio a temperatura foi de 23°C.

O esforço aplicado ao policarbonato também influi nos resultados do mecanismo de

ESC. Quanto maior a tensão aplicada, maior será a velocidade de propagação da

trinca. Para o ensaio de tração com carga constante, o corpo de prova foi tracionado

com velocidade de 5 mm/min até atingir a tensão requerida. O corpo de prova foi

tracionado até atingir uma tensão constante (valor abaixo da tensão de escoamento

do material) durante um período de 8 horas ou até sua ruptura.

Os ensaios foram realizados em corpos de provas com entalhes de 2 mm em

diferentes condições de cargas para os diferentes agentes. Os valores de cargas

selecionados para os ensaios são apresentados no capítulo seguinte.

3.6 Técnicas de Obtenção do Entalhe e Método de Contato com Agente

Químico

Na mecânica da fratura estuda-se quanto o material suporta uma tensão sem

propagação de trinca de modo instável. Os principais fatores que devem ser

considerados para o projeto de um material para situações com presença de trincas

são:

• a máxima tensão de trabalho que o material deverá suportar e

• o máximo tamanho de trinca admissível.

Page 82: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

82

Os entalhes dos corpos de provas foram realizados com uma lâmina orbital de corte

no laboratório da Lear Corporation em Camaçari, Bahia. Foram feitos entalhes de 1

mm, 2 mm, 3 mm, 4 mm e 5 mm.

Figura 52 – Detalhe do entalhe no corpo de prova.

Para reduzir a variação do tamanho dos entalhes foram utilizados outros

equipamentos para garantir precisão dimensional. Todo entalhe a ser feito era

marcado com o graminho mitutoyo digital no corpo de prova. Logo em seguida era

confeccionado o entalhe com a lâmina orbital de corte. Após o corpo de prova ser

entalhado, o mesmo era colocado no projetor de perfil para analisar a qualidade do

entalhe e sua dimensão. Qualquer problema dimensional ou com a superfície do

entalhe, o corpo de prova era descartado.

Essas preocupações foram levadas em consideração com o objetivo de reduzir a

variação no sistema de medição e no processo do entalhe.

Conforme Sanches (2006) publicou em seu trabalho sobre o mecanismo de ESC no

PET, esta dissertação utiliza o mesmo método para contato do agente com o corpo

de prova.

Para avaliar a interação dos agentes com o policarbonato, os corpos de provas

foram envolvidos por algodão embebido respectivamente no álcool isopropílico e no

metanol nas regiões concentradoras de tensão (entalhes).

Figura 53 – Corpo de prova embebido no agente químico.

Page 83: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

83

Todas as amostras, na região do entalhe, foram mantidas em contato com os

agentes por no mínimo 24 horas antes de cada ensaio, tempo definido como

suficiente para as moléculas dos agentes penetrarem nas cadeias poliméricas do

policarbonato por difusão.

3.7 Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV

A microscopia eletrônica de varredura (MEV) é utilizada em várias áreas do

conhecimento, incluindo a análise de falhas em materiais poliméricos. O uso desta

técnica vem se tornando mais frequente por fornecer informações detalhadas, com

aumentos de até 300.000 vezes. Essa técnica permite a observação e a

caracterização de diferentes tipos de materiais, a partir da emissão e interação de

feixes de elétrons sobre uma amostra, sendo possível caracterizá-los do ponto de

vista de sua morfologia e sua organização estrutural. O MEV apresenta intervalo

bastante abrangente na sua escala de observação, variando da ordem de grandeza

de milímetro (mm) ao nanômetro (nm), o que possibilita verificar, por exemplo,

estruturas anatômicas de uma planta. A utilização do MEV como técnica

complementar mostra-se de grande importância e versatilidade, tanto para o estudo

da micro-estrutura, possibilitando a obtenção de imagens com alta resolução, como

também para o estudo de propriedades do material e sua análise química.

3.9 Cromatografia de Permeação em Gel - GPC

Para validar a análise do mecanismo de ESC é necessário ter certeza que a peça

falhada não sofreu ataque químico. Entre os métodos modernos de análise, a

cromatografia ocupa um lugar de destaque devido a sua facilidade em efetuar a

separação, identificação e quantificação das espécies químicas. Dentre estes

métodos encontra-se a cromatografia de permeação em gel (GPC), utilizada para

determinar as massas molares médias e a distribuição de massas molares dos

polímeros. As análises de GPC foram realizadas pelo Laboratório Centro de

Caracterização e Desenvolvimento de Materiais, UFSCar/UNESP.

Várias propriedades dos polímeros que são importantes em termos de sua

processabilidade e aplicações estão diretamente relacionadas com as massas

Page 84: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

84

molares específicas. Isto ocorre porque as propriedades mecânicas, químicas e

outras são drasticamente afetadas pela massa molar média e especialmente pelas

frações de baixa e alta massa molar. O método pode ser aplicado a uma grande

variedade de agentes químicos e polímeros.

Page 85: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

85

4 RESULTADOS OBTIDOS

Nos tópicos que sucedem são apresentados e discutidos os resultados das análises

dos ensaios baseados na mecânica da fratura, bem como dos diversos ensaios de

tração e tração com carga constante realizados, visando à avaliação da resistência

do policarbonato ao mecanismo de ESC em contato com o álcool isopropílico e

metanol sob a influência de concentradores de tensão.

4.1 Influência do Entalhe nos Ensaios de Tração

Para o ensaio de tração sem entalhe, o corpo de prova de policarbonato possui um

comportamento mecânico completamente diferente quando comparado com os

corpos de provas de policarbonato com entalhe. As características da curva do

ensaio de tração para o corpo de prova sem entalhe, Figura 54, é semelhante ao da

Figura 31, com três regiões com comportamento mecânico diferentes. Na primeira

parte da curva sob deformação baixa o polímero é elástico linear, a uma deformação

de aproximadamente 3%, o policarbonato sofre escoamento e então estira. Os

emaranhados amorfos do policarbonato se desdobram, e se alinham. O processo

começa em um ponto de fraqueza, e um segmento do comprimento de referência se

estira como o gargalo formado por estricção em um corpo de prova de metal, até

que a taxa de estiramento é suficiente para provocar o alinhamento das moléculas.

A estricção se propaga ao longo de todo o corpo de prova até que a mesma fique

estirada (moléculas alinhadas).

O policarbonato estirado é mais resistente na direção do estiramento. É por isso que

a estricção se propaga em vez de simplesmente causar a fratura. Próximo a ruptura

do corpo de prova, a curva tensão deformação volta a subir devida a conclusão do

estiramento por completo tornando o policarbonato mais resistente neste momento.

É por este motivo que a tensão quando se aproxima da ruptura do corpo de prova

ela aumenta.

Page 86: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

86

Figura 54 – Ensaio de tração sem entalhe.

Já as curvas de tensão deformação dos corpos de prova de policarbonato sob a

influência de diferentes entalhes, Figura 55, possuem um comportamento diferente,

de comportamento dútil para comportamento frágil. As curvas apresentadas na

Figura 55 são representativas para os ensaios, pois à medida que o entalhe

aumenta o fator de concentração também aumenta, reduzindo a tenacidade à fratura

do corpo de prova. As propriedades mecânicas de resistência a tração determinadas

nestes ensaios, são apresentadas em forma gráfica.

Page 87: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

87

Figura 55 – Ensaio de tração para diferentes entalhes.

Estes ensaios foram realizados em corpos de provas de policarbonato sem contato

com os agentes químicos, pois os objetivos desses ensaios iniciais foram de avaliar

a influência do entalhe no policarbonato.

Os corpos de provas entalhados possuem concentradores de tensão na ponta do

entalhe mudando completamente o comportamento do policarbonato, de fratura dútil

para fratura frágil. Logo todos os corpos de provas de policarbonato com entalhe

acima apresentaram comportamento linear elástico da fratura sem regiões de

deformações plásticas com valor de KIC igual a 3,2 MPa√m. À medida que o entalhe

cresce o corpo de prova têm uma redução na taxa de deformação e na tensão de

ruptura do policarbonato.

A Figura 56 mostra o comportamento dos corpos de provas com entalhe. A

concentração de tensão faz com que o corpo de prova falhe sem que ocorra

deformação plástica aparente na ponta do entalhe. A concentração de tensão

impede a deformação plástica do corpo de prova não havendo alinhamento das

moléculas do policarbonato.

x

x

x

x

x

Page 88: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

88

Figura 56 – Ensaio de tração para corpo de prova com entalhe de 2 mm.

A deformação do corpo de prova sem entalhe para um corpo de prova com entalhe

de 01 mm se comparados, existe uma redução de 95% no alongamento até a

ruptura. Nas regiões de entalhes que geram concentradores de tensão, não é

possível ver zonas claras (esbranquiçadas) do policarbonato na região da fratura,

tornando este tipo de falha catastrófica em serviço.

A Tabela 03 mostra a influência dos entalhes para os corpos de provas do

policarbonato sem contatos com agentes.

Tabela 03 – Ensaios de tração para diferentes entalhes.

Corpo de Prova Força de Ruptura (N)

Alongamento (%) Desvio Padrão Força de Ruptura (N)

Tração CP 01 mm 2030,6 3,6 45

Tração CP 02 mm 1542,4 2,6 32

Tração CP 03 mm 1019,6 1,9 24

Tração CP 04 mm 724,3 1,2 17

Tração CP 05 mm 574,2 1,1 15

4.2 Influência dos Agentes nos Ensaios de Tração

Para avaliar a influência do álcool isopropílico e metanol nos ensaios de tração

foram utilizadas 03 configurações para os corpos de provas. As configurações de

ensaio podem ser vista na Tabela 04:

Page 89: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

89

Tabela 04 – Ensaios de tração e influências dos agentes.

Nomenclatura Tipo de Ensaio

Tração CP 02 mm Ensaio de tração com entalhe de 02 mm e sem contato com agente químico

Tração CP ISO 02 mm Ensaio de tração com entalhe de 02 mm e contato com o álcool isopropílico

Tração CP MET 02 mm Ensaio de tração com entalhe de 02 mm e contato com o metanol

Em geral, as forças de ruptura obtidas para os ensaios realizados na presença do

metanol e álcool isopropílico apresentam valores médios ligeiramente menores do

que os valores para o policarbonato com entalhe de 02 mm. É notável que o metanol

e álcool isopropílico influencie para a diminuição da resistência do policarbonato ao

mecanismo de ESC.

Quando comparados com o corpo de prova com entalhe e sem agente, a força de

ruptura para os corpos de prova com entalhe e em contato com os agentes diminui,

pois o entalhe concentra a tensão na ponta da trinca e facilita a penetração das

moléculas dos agentes. Para os corpos de provas em contanto com os agentes a

força de ruptura cai devido ao escorregamento das moléculas por difusão dos

agentes químicos no policarbonato.

Figura 57 – Influência dos agentes no ensaio de tração.

Analisando a Figura 57, pode-se perceber que o metanol é mais agressivo que o

álcool Isopropílico, o que já era esperado devido às moléculas do metanol penetrar

com mais facilidade no policarbonato do que o álcool isopropílico. A força de ruptura

x x

x

Page 90: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

90

média do corpo de prova em contato com o álcool isopropílico é 1477,2 N, já para o

corpo de prova em contato com o metanol a força de ruptura cai para 1174,4 N.

4.3 Ensaios de Tração com Carga Constante – Força em Relação ao Tempo da

Fratura

Os ensaios de tração com carga constante foram realizados para os corpos de

provas com entalhe de 02 mm sob carga constante até a ruptura do policarbonato ou

até o tempo de 8 horas de ensaios. As forças em Newton selecionadas para os

ensaios de tração com carga constante foram de 1024, 896, 768, 640, 512, 384 e

256.

Os primeiros ensaios foram avaliados a força em relação ao tempo da fratura para o

policarbonato em contato com o álcool isopropílico. Neste ensaio pode-se evidenciar

que, quanto maior a força mais rápida será o crescimento da trinca e

consequentemente a fratura do corpo de prova. A Figura 58 mostra de forma clara a

influência da carga em relação ao tempo da fratura.

Figura 58 – Força constante em relação ao tempo de falha para o álcool isopropílico.

x

x

x

Page 91: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

91

O tipo de fratura por carga constante ocorre em condições de força abaixo da região

de escoamento do material. Para as três primeiras cargas foi possível perceber o

tempo de falha dos corpos de prova em contato com o álcool isopropílico, já para os

níveis de força igual ou abaixo de 640 Newtons não houve a fratura do

policarbonato, ou seja, não houve crescimento significativo da trinca durante o

período de ensaio estabelecido. O valor de força igual ou abaixo 640 Newtons não

gera a fratura pelo mecanismo de ESC no corpo de prova de policarbonato com

entalhe de 02 mm em contato com o álcool isopropílico.

A Tabela 05 mostra os tempos para ocorrência da fratura para as determinadas

cargas do policarbonato em contato com álcool isopropílico:

Tabela 05 – Força constante. Tempo de falha para o álcool isopropílico.

Tipo de Ensaio Força (N) Tempo (s) Desvio Padrão Tempo (s)

Carga Constante 1024 N 1024 1235 38 Carga Constante 896 N 896 2070 41 Carga Constante 768 N 768 2206 45 Carga Constante 640 N 640 Não houve fratura - Carga Constante 512 N 512 Não houve fratura - Carga Constante 384 N 384 Não houve fratura - Carga Constante 256 N 256 Não houve fratura -

Para os ensaios com os corpos de provas em contato com o metanol, o

comportamento foi mais agressivo do que o corpo de prova em contato com o álcool

isopropílico. Além das fraturas acontecerem mais rápidas para os corpos de provas

em contato com o metanol para as mesmas condições de carga, o corpo de prova

em contato com o álcool isopropílico suporta uma maior carga sem que ocorra a

fratura. Enquanto a força que não apresenta ruptura no policarbonato em contato

com o metanol é de 512 N.

Page 92: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

92

Figura 59 – Força constante em relação ao tempo de falha para o metanol.

A Tabela 06 mostra os tempos para ocorrência da fratura para as determinadas

cargas do policarbonato em contato com o metanol.

Tabela 06 – Força constante. Tempo de falha para o metanol.

Tipo de Ensaio Força (N) Tempo (s) Desvio Padrão Tempo (s)

Carga Constante 1024 N 1024 514 18 Carga Constante 896 N 896 538 23 Carga Constante 768 N 768 1293 28 Carga Constante 640 N 640 2271 31 Carga Constante 512 N 512 Não houve fratura - Carga Constante 384 N 384 Não houve fratura - Carga Constante 256 N 256 Não houve fratura -

Conforme o ensaio de carga constante mostra, o metanol é mais agressivo para o

mecanismo de ESC do que o álcool isopropílico. Nas mesmas condições de ensaios

variando apenas os agentes químicos o corpo de prova em contato com o metanol

sofre fratura mais rápido do que o álcool isopropílico. Para todas as faixas de cargas

selecionadas onde houve as fraturas, os corpos de prova em contato com o metanol

fraturaram mais rápido.

x

x

x

x

Page 93: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

93

De acordo com a Figura 60, para os ensaios de tração com carga constante o

comportamento da propagação da trinca é diferente quando comparados com os

metais. O contato com o agente químico faz com que apareçam diversas trincas

próximas a região do entalhe. Não existe a propagação de uma única trinca iniciada

na ponta do entalhe, mais a propagação de diversas trincas na região de

concentração de tensão. Na região de fratura é possível perceber a deformação

plástica do material para ambos os corpos de provas em contato com os agentes

químicos. O metanol mostra ser mais agressivo também pela característica da

fratura, à medida que o corpo de prova em contato com este agente apresenta muito

mais deformação plástica e formações de crazes na zona de fratura. O álcool

isopropílico também apresenta uma deformação plástica e formação de crazes,

porém com intensidade menor.

Figura 60 – Detalhe da fratura; (a) corpo de prova em contato com o álcool

isopropílico e (b) corpo de prova em contato com o metanol.

4.4 Ensaios de Tração com Carga Constante – Deformação em Relação ao

Tempo da Fratura

Em muitas situações práticas as tensões que se desenvolvem no material são

relativamente baixas, não levando o material a nenhum modo de falha que

comprometa a sua resistência mecânica. No entanto a peça ou estrutura pode vir a

falhar por uma concentração de tensão, onde a mínima deformação pode passar a

ser muito grande, acima de um máximo admissível. Nestes casos se torna

necessário atuar sobre a rigidez do projeto ou reduzir a concentração de tensão.

Este caso pode ocorrer facilmente quando se adotam seções relativamente esbeltas

Page 94: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

94

para suportar a carga, que age em uma direção. Ocorre, no entanto que cargas

adicionais, como devido a uma excentricidade, podem surgir em direções diferentes,

levando a deslocamentos inaceitáveis.

No ensaio de carga constante, onde é avaliada a deformação do corpo de prova em

relação ao tempo de fratura, é possível perceber os níveis de deformações críticas

para que ocorra a fratura.

A Figura 61 mostra os ensaios realizados com corpos de provas em contato com o

metanol para diferentes níveis de carga.

Figura 61 - Ensaios de tração com carga constante. Deformação em relação ao

tempo da fratura para o policarbonato em contato com o metanol.

É possível verificar que a deformação crítica média para o corpo de prova em

contato com o metanol é de 1,3 mm, ou seja, toda carga que ocasione uma

deformação do corpo de prova igual ou superior a 1,3 mm levará a fratura do

policarbonato em contato com o metanol com o tempo de serviço da peça. Os

ensaios que a carga gerou deformações inferiores a 1,3 mm não apresentaram

ruptura no espaço de tempo estabelecido.

x

x x x

Page 95: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

95

Para o corpo de prova com entalhe se deformar é necessário que haja crescimento

da trinca, logo a deformação de um corpo de prova com entalhe indica de forma

indireta o tamanho e crescimento da trinca.

Para os ensaios realizados com corpos de provas em contato com o álcool

isopropílico para diferentes níveis de carga foi possível identificar uma deformação

crítica menor do que a do metanol, uma vez que a difusão das moléculas do álcool

isopropílico no policarbonato é menor do que a difusão do metanol restringindo sua

deformação antes da ruptura. Nos ensaios com o metanol a uma formação maior de

crazes próximo ao entalhe, fazendo com que os corpos de prova em contato com

este agente deformem mais do que com o álcool isopropílico, portanto, no metanol

há um escorregamento maior das moléculas devido à maior difusão do agente no

policarbonato.

Figura 62 - Ensaios de tração com carga constante. Deformação em relação ao

tempo da fratura para o policarbonato em contato com o álcool isopropílico.

A área de deformação plástica do corpo de prova em contato com o álcool

isopropílico é menor do que o corpo de prova em contato com o metanol.

x

x

x

Page 96: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

96

4.5 Ensaio de Fratura Assistida Pelo Ambiente - TTF (Time-To-Failure)

Conforme mencionado em capítulos anteriores, o método utilizado nesta dissertação

foi semelhante aos métodos utilizados para os metais, para avaliar o fenômeno de

corrosão sob tensão embora para o mecanismo de ESC não exista a quebra das

ligações atômicas.

Foram utilizados os mesmos corpos de provas e configurações para os ensaios de

carga constante em relação ao tempo de fratura. Os valores de K aplicados versus o

tempo de fratura (para os corpos de provas que apresentaram a fratura) foram

inseridos em gráficos, Figura 63, onde se verifica que o corpo de prova

aparentemente rompe com um valor de K bem inferior ao valor de Kıc do material.

Na verdade, o que ocorre é que o valor de Kıc do material pode permanecer

inalterado. É que, para um determinado valor de K inicial, em decorrência de

agressividade do metanol e do álcool isopropílico, há crescimento subcrítico de

trinca. Este crescimento subcrítico de trinca virá a aumentar o valor do fator de

intensidade de tensões efetivo (Kef), visto que a carga permanece constante, mas a

seção remanescente é, gradativamente, diminuída.

Pelos resultados, ficou evidente que, quanto maior foi o valor de K inicial aplicado

menor será o tempo necessário para levar a peça à fratura. Além disto, constata-se

que há um patamar de K abaixo do qual não ocorre crescimento subcrítico de trinca

(KIEAC do material, onde EAC é - "Environment Assisted Cracking") que para o álcool

isopropílico foi um valor igual 1,74 MPa√m e para o metanol foi um valor 1,39

MPa√m.

Page 97: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

97

Figura 63 – Ensaio TTF no policarbonato em contato com o álcool isopropílico.

Figura 64 – Ensaio TTF no policarbonato em contato com o metanol.

Page 98: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

98

O TTF foi o ensaio utilizado para determinados fatores de concentração de tensão

onde o corpo de prova em contato com metanol e álcool isopropílico foi monitorado o

tempo que falharam. Neste ensaio a carga foi mantida constante para avaliação do

tempo de ruptura do material, se esta vier a acontecer.

Como também já era esperado ao analisar o comportamento do corpo de prova em

contato com o metanol com o corpo de prova em contato com o álcool isopropílico

percebe-se que o metanol para este ensaio também é mais agressivo que o álcool

isopropílico.

Com o ensaio de TTF é possível concluir que existem fatores de concentração de

tensão, onde mesmo que o policarbonato esteja em contato com o metanol e álcool

isopropílico não existirá o crescimento da trinca, ou seja, o policarbonato não irá

falhar em serviços devido ao mecanismo de ESC e que o valor de KIEAC para o

metanol é maior do que o valor de KIEAC para o álcool isopropílico. Peças fabricadas

em policarbonato em contanto com o metanol estão muito mais sujeitas a falhas pelo

mecanismo de ESC do que peças em conato com o álcool isopropílico.

Este ensaio mostra de forma inédita para o policarbonato que uma peça pode ter

contato com um agente químico a determinados níveis de tensão que a mesma não

irá falhar em serviço. No desenvolvimento de produtos é necessário que se conheça

o valor de concentração de tensão, para assim projetar peças livre de falhas para

eventuais contatos com agentes químicos que a mesma poderá ter contato.

Page 99: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

99

Concentrador de tensão

Agente químico é absorvido

Crescimento de múltiplas trincas

Trincas se propagam além do

campo inicial.

Figura 65 – Propagação da trinca no policarbonato em contato com os agentes

químicos.

A Figura 65 mostra o comportamento da propagação da trinca no policarbonato sob

tensão em contato com o metanol. Não existe a propagação de uma única trinca na

ponta do entalhe, mas na verdade surgem diversas trincas secundárias na região de

Page 100: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

100

concentração de tensão, portanto, quando forem utilizados os conceitos de

mecânica da fratura deve-se tomar cuidado com o método a ser testado. A

propagação da trinca para o corpo de prova em contato com o álcool isopropílico é

semelhante, porém com formação de trincas secundárias menores. Analisando as

fratura pode-se evidenciar primeiramente o agente é absorvido pela zona de

concentração de tensão, em seguida há uma criação de vários vazios na ponta e

próximo ao entalhe. Esses vazios por sua vez viram diversas trincas que se

propagam até gerar a fratura catastrófica do policarbonato.

4.6 Aplicações Prática da Questão de Pesquisa – Fratura de Lente de

Policarbonato em Serviços

O policarbonato é um polímero extensivamente utilizado em aplicações que tem

como requisitos uma alta resistência mecânica e térmica, associado à transparência

e um bom acabamento superficial. Uma das aplicações modernas desse material

são as lentes de iluminações automotivas (luzes internas, faróis e lanternas).

Todos os produtos estão sujeitos a diversos agentes químicos, os quais podem

afetar significativamente o comportamento mecânico ao longo de sua vida útil.

O proprietário de um veículo sempre tem a preocupação de deixá-lo limpo. A

limpeza é feita com agentes de diferentes composições químicas que em contato

com áreas de concentração de tensão levará a falha do polímero pelo mecanismo

de ESC. A ruptura de peças poliméricas por ESC causa grandes insatisfações para

os consumidores finais, além de gerar um alto custo de serviço com a troca de

produtos.

A Figura 66 mostra o desenho e reigião de fratura por ESC de uma peça com altos

custos de garantia e insatisfação do cossumidor final. Por motivo de

confidencialidade o nome da empresa e detalhes funcionais da peça não será

apresentado.

Page 101: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

101

Figura 66 – Detalhe da região das trincas e fraturas

O alto valor de custo em garantia e as grandes reclamações dos consumidores finais

tornam-se um inibidor para o negócio prejudicando as vendas e lucros de uma

organização. A questão de pesquisa foi baseada também no estudo da falha

apresentada na Figura 66 que tinha uma ocorrência em torno de 1500 unidades de

defeitos por ano. A cota em destaque é muito importante para o mecanismo de ESC

devido o aumento de tensão nas regiões da fratura do policarbonato. Se as peças

forem produzidas com esta cota menor do que ela é especificada por desenho, a

peça sofrerá mais esforço nas regiões de fixações quando forem encaixadas. No

estudo realizado das peças retornadas de garantia (peças que falharam em serviço)

esta cota apresentava menor do que foi especificada.

As regiões de falhas possuem contatos com agentes químicos e estavam cheias de

concentradores de tensão, ou seja, todas as peças foram desenhadas para terem

cantos vivos, o que é um grande contribuidor para a fratura por ESC.

A técnica de luz polarizada em polímeros transparente permite visualizar as áreas de

concentração de tensão conforme pode ser visto na Figura 67.

Regiões da fraturaRegiões

da fratura

Figura 67 – Análise das tensões residuais provocadas pelos cantos vivos

Page 102: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

102

Como em muitos casos o mecanismo de ESC é confundido com outros fenômenos,

principalmente por degradação química, para o estudo da questão de pesquisa

foram realizadas análises do peso molecular e análise da superfície de fratura.

Esta análise teve como objetivo determinar as massas molares médias e as curvas

de distribuição de massas molares (DPM) de duas peças moldadas em

policarbonato (PC) por cromatografia de permeação em gel (GPC) de baixa

temperatura. A determinação e comparação desses parâmetros estruturais indicarão

se houve (ou não) alguma reação química (degradação) entre a graxa utilizada e o

polímero. As análises foram realizadas pelo CCDM - Centro de Desenvolvimento e

Caracterização de Materiais.

As amostras foram identificadas pelo Laboratório CCDM (Centro de

Desenvolvimento e Caracterização de Materiais como LCP081364 e LCP081365.

As regiões da amostra LCP081364 de onde se retirou material para ser analisado

por GPC – Cromatografia de Permeação em Gel podem ser vistas na Figura 68. Os

números indicam as regiões da amostra LCP081364 selecionadas para serem

analisada por GPC.

Figura 68 – Foto ilustrativa moldada em PC e analisada por GPC.

A razão de se utilizar material retirado de cinco regiões distintas da amostra

LCP081364 foi procurar monitorar a influência da graxa sobre o polímero, isto é, se

a graxa estava promovendo ataque químico (degradação) do policarbonato. Os

critérios utilizados para seleção destas cinco regiões foram os seguintes.

Page 103: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

103

Tabela 07– Análise da peça para o ensaio de GPC

Área da Peça Análise da Peça Região 01 Área que apresentou ruptura completa e presença de graxa na região. Região 02 Região com nítida presença de graxa. Região 03 Região sem qualquer contato com a graxa. Região 04 Região próxima à ruptura e com presença de graxa Região 05 Região oposta ao local onde se verificou ruptura e apresentava presença de graxa

As curvas de distribuição de massa molares (DPM) das diferentes regiões da

amostra LCP081364 e da amostra LCP081365 podem ser observadas na Figura 69.

A tabela 08 apresenta os dados obtidos por GPC.

Figura 69 – Curvas de DPM das diferentes regiões da amostra LCP081364 e da

amostra LCP081365

Tabela 08 – Resultados obtidos por GPC

Código da Amostra

Mn (g/mol)

Mp (g/mol)

Mw (g/mol)

Mz (g/mol)

Mz/Mw Polidispersão

LCP081364 -1 27362 42817 43787 63020 1, 439228 1, 600306 LCP081364 -2 29753 43499 44294 61835 1, 396021 1, 488749 LCP081364 -3 28685 43157 44014 62181 1, 412755 1, 534416 LCP081364 -4 28249 44544 45373 65646 1, 446793 1, 606212 LCP081364 -5 29319 43157 44749 63409 1, 416987 1, 526266

LCP081365 32568 46345 48441 67527 1, 394006 1, 487372

Os valores das massas molares médias das regiões da amostra LCP081364 são

praticamente os mesmos quando comparados com a amostra LCP081365. Portanto

Page 104: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

104

os resultados de GPC indicam que não houve ataque químico da graxa no

policarbonato, isto é, a graxa não provocou degradação no polímero.

Quando existe degradação química de um polímero, as ligações primárias

(covalentes) se rompem reduzindo assim o peso molecular quando comparados.

As regiões de falha e que ficaram em contato com a graxa da amostra LCP081364

foram analisadas por MEV. O objetivo desta análise foi de verificar se houve a

formação de micro trincas nas regiões que ficaram em contato com a graxa. A

presença de micro trincas nesta região indicaria que a graxa provocou um ataque

químico no policarbonato.

(a) (b)

(c) (d)

(a) (b)

(c) (d)

Figura 70 – Análise das fraturas por MEV: (a) superfície da fratura, (b) fratura frágil,

(c) possível início da fratura, (d) fratura semelhante a marcas de praia

A partir das análises da fratura feitas pelo MEV, pode-se perceber que a quebra

inicia na superfície das peças que possuem o canto vivo, região concentradora de

tensão. A falha tem características de fratura frágil, o mesmo tipo de fratura causada

pelo mecanismo de ESC.

A região de fratura desta peça era localizada nos pontos de fixação com tensões

constantes que por projeto possuíam cantos vivos (regiões de concentração de

tensão). Toda a fratura em serviço era localizada nos cantos vivos da peça que

estavam em contato com o agente químico.

Para resolver este problema foram modificadas as áreas concentradoras de tensão

eliminando os cantos vivos por áreas com raios de 0,5 mm gerando uma distribuição

e alívio de tensões conforme Figura 71.

Page 105: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

105

Figura 71 – Melhoria no desenho. Alívio de concentração de tensão

Após a implementação desta modificação no processo não foi observado nenhuma

fratura após um período 12 meses de utlização das peças pelos consumidores

finais.

Como ações adicionais foram criadas controles de medição para a cota que estava

influenciando a fratura por ESC. A cada lote de fabricação são medidas 05 peças

para certificar que não houve variação de processo podendo afetar a intensidade de

tensão na área de fixação do policarbonato.

Em termos globais, foi criado um documento de desenvolvimento de produto que

serve como base de dados para futuros projetos. Este documento fala sobre o

mecanismo de ESC, e que toda peça de policarbonato em contato com agentes

químicos não deve ter concentradores de tensão (cantos vivos) quando forem

projetadas. Todo engenheiro que for fazer um novo projeto de peça em

policarbonato terá que avaliar a influência dos concentradores de tensão em

contatos com agentes químicos para que não ocorra a falha pelo meanismo de ESC

nas mãos dos conssumidores finais.

Com este estudo foi possível comprovar a teoria e os estudos realizados nesta

dissertação. Existe um fator de concentração que mesmo quando o policarbonato

tiver contato com o agente químico a produto não falhará em serviço.

Em termos organizacionais foi possível reduzir os custos industriais em 85%

causados pela troca de peças em serviços além do ganho de vendas devido o

aumento da satisfação dos consumidores finais.

Page 106: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

106

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os resultados dos experimentos realizados nesta dissertação de

mestrado é possível concluir:

1. Os ensaios de tração para diferentes entalhes mostram que o comportamento do

policarbonato muda de acordo com a agressividade do concentrador de tensão.

O corpo de prova de policarbonato sem o entalhe possui fratura dútil com

diversas formações de crazes próximas a fratura, porém quando é introduzido o

concentrador de tensão o comportamento da fratura muda para frágil restringindo

a formações de crazes nos ensaios de tração. Quando o entalhe é introduzido no

corpo de prova de policarbonato não é possível perceber deformação plástica no

corpo de prova nos ensaios de tração sem o contato com o agente químico.

2. Confirmado a agressividade superior do metanol quando comparado com o

álcool isopropílico para o mecanismo de ESC no policarbonato. As moléculas de

metanol penetram com mais facilidade do que as moléculas do álcool isopropílico

nos corpos de provas de policarbonato tornando o mesmo mais suscetível ao

mecanismo de ESC.

3. A concentração de tensão acelera o mecanismo de ESC no policarbonato. Nos

ensaios carga constante, quanto maior o concentrador de tensão menor será o

tempo para acontecer à fratura e menor será a deformação do corpo de prova.

Os efeitos de concentração de tensão utilizados foram comprovados, pois nos

entalhes maiores a fratura no corpo de prova era mais rápida do que nos corpos

de provas com entalhes menores.

4. Para a avaliação do mecanismo de ESC é fundamental que as condições

estabelecidas para os ensaios sejam bem definidas e seguidas, à medida que os

resultados podem ser mascarados pela escolha do método errado ou por falta de

repetibilidade do sistema de medição. Para avaliar o mecanismo de ESC devem

ser pré-fixados os parâmetros a serem estudados, de forma que se obtenha o

mínimo ou nenhuma variação que interfira nos resultados.

5. Todos os ensaios realizados são possíveis perceber a influência do agente para

o mecanismo de ESC. O comportamento do policarbonato em contato com os

agentes químicos selecionados nesta dissertação muda completamente quando

comparado aos ensaios sem contato com os agentes. O álcool isopropílico e o

metanol são agressivos para o policarbonato e peças que venham a ter contato

Page 107: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

107

em regiões de concentração de tensão está suscetível a falhar em serviço devido

ao mecanismo de ESC.

6. O contato do metanol e álcool isopropílico reduz a vida útil do policarbonato sob

a influência de concentradores de tensão.

7. Os valores de tensão crítica, obtidos nos ensaios de carga constante, foram

expressivos para a avaliação do mecanismo de ESC do policarbonato.

8. O tempo de ruptura de uma peça de policarbonato em contato com o metanol é

menor do que o tempo de ruptura de uma peça de policarbonato em contato com

o álcool isopropílico, pois, todos os ensaios de carga constante, os corpos em

contato com o metanol fraturou primeiro.

9. Não são todos os métodos aplicados na mecânica da fratura para os metais que

podem ser aplicados para os polímeros, uma vez que o mecanismo de ESC gera

a formação de diversos crazes na ponta da trinca. A fratura não é gerada pelo

crescimento único e exclusivo de uma trinca, e sim de diversas. A formação de

diversos crazes foi observada nos ensaios de tração com carga constante,

mesmo para corpos de provas com entalhe, portanto não é possível avaliar o

aumento do KI devido o aumento da trinca.

10. Existe um nível para o fator de concentração de tensão que não gera a fratura

pelo mecanismo de ESC no policarbonato. Através dos ensaios de carga

constante foi possível conhecer o fator de concentração que não existe

crescimento significativo da trinca. Com este tipo de ensaio é possível previnir

diversas falhas em serviços geradas pelo mecanismo de ESC.

11. O valor de KIEAC para o corpo de prova de policarbonato em contato com o

metanol é igual a 1,39 MPa√m e para o álcool isopropílico é igual a 1,74 MPa√m.

Com estes dados pode-se concluir que o metanol é mais agressivo que o álcool

isopropílico. Peças de policarbonato em contato com o álcool isopropílico

suportam maiores concentrações de tensão sem a ocorrência de falha pelo

mecanismo de ESC do que peças em contato com o metanol.

12. É possível reduzir os custos e melhorar a qualidade do produto com a redução

do fator de intesidade de tensão em uma peça de policarbonato em contato com

agentes químicos.

Page 108: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

108

5.1 Contribuições

Esta dissertação teve uma grande contribuição para a comunidade acadêmica, à

medida que a mesma utilizou conceitos da mecânica da fratura, ainda pouco

explorados nos polímeros, para explicar o mecanismo de ESC no policarbonato. A

literatura nacional ainda é muito escassa para assuntos relacionados ao mecanismo

de ESC e conceitos de mecânica da fratura em polímeros, logo esta dissertação

aborda essas áreas de pesquisa para agregar valor e servir como referências para

futuros trabalhos acadêmicos e profissionais.

Para as indústrias esta dissertação serve como base de pesquisa para identificar um

valor de concentração de tensão em que as peças de policarbonato não sofra fratura

por ESC. Com este estudo é possível reduzir os custos gerados por falhas de peças

em serviços, uma vez que os projetistas podem desenvolver produtos com

concentração de tensão reduzida.

Para o estudo de pesquisa específico, esta dissertação contribuiu com a eliminação

de falhas por ESC em serviço de uma lente de policarbontato. Essa eliminação de

desperdício melhorou a satisfação dos clientes aumentando o lucro e vendas da

organização. O mesmo conceito aplicado nesta dissertação poderá ser utilizado em

diversas peças de policarbonato que falham em serviço reduzindo os custos gerados

pelas falhas.

5.2 Atividades Futuras de Pesquisa

Os ensaios e resultados apresentados nesta dissertação, como nos trabalhos

acadêmicos de forma geral, não têm como objetivo esgotar os assuntos abordados.

Esta dissertação tem um escopo e objetivo definido, não podendo abranger todos os

assuntos sobre o tema que é grande e vasto. O tema de estudo gera discussões e

questionamentos e, consequentemente, suscita a necessidade inerente a todo

pesquisador de conhecer com maior profundidade do tema estudado. Os objetivos

específicos e gerais desta dissertação estão explanados nas considerações finais.

Ao decorrer desta dissertação surgiram alguns questionamentos que estão

identificados a seguir, que servem de sugestão para futuros trabalhos de pesquisa:

Page 109: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

109

1. Estudar a influência de outros fatores que contribuem para o mecanismo de ESC

no policarbonato (temperatura de ensaio, parâmetros de solubilidade do polímero

e do agente, densidade e grau de cristalinidade e grau de orientação das

moléculas).

2. Utilizar a metodologia desenvolvida nesta dissertação para avaliar a influência de

outros tipos de agentes químicos e outros polímeros.

3. Realizar ensaios de carga constante em tempos maiores para caracterizar

melhor o comportamento do policarbonato para o mecanismo de ESC para os

corpos de provam que não apresentaram falha.

4. Utilizar recursos do MEV (microscópio eletrônico de varredura) para explicar a

superfície de fratura dos corpos de provas de policarbonato.

5. Fazer ensaios de tração com carga constante com variação menor da tensão

constante, a fim de identificar valores diferenciados mais precisos para o KIEAC

Page 110: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

110

REFERÊNCIAS

AL SAIDI, L.F.; MORTENSEN, K.; ALMDAL, K. Environmental stress cracking resistance. Behaviour of polycarbonate in different chemicals by determination of the time-dependence of stress at constant strains. Polymer Degradation and Stability, v. 82, 451-461, 2003. ALC (Automotive Learning Center) (2008) Plastic applications in cars. Disponível em www.plastics-car.com. ANDERSON, T, L. Fracture Mechanics: Fundamentals and applications. Texas: CRC Press, 1995. ANDREWS, E.H. Developments in Polymer Fracture. London: Applied Science, 1979. APC (American Plastic Council) (2008) Plastic vehicles: making inroads in the automotive world, Maio 2008. Disponível em www.americanplasticscouncil.org.] ARNOLD, J.C.; LI, J.; ISAAC, D.H. The effects of pre-immersion in hostile environments on the ESC behavior of urethane-acrylic polymers. Journal of Materials Processing Technology, v. 56, 126-135, 1996. ARNOLD, J.C. Environmental stress cracking in glassy polymers. Trends in Polymer Science, v. 4, n. 12, 403-408, 1996. ARNOLD, J.C. The effects of diffusion on environmental stress crack initiation in PMMA. Journal of Materials Science, v. 33, 5193-5204, 1998. ASHBY, M.F; JONES D.R.H. Engenharia de materiais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. American Society for Testing and Materials. ASTM D-1693: Standard Test Method for Environmental Stress-Cracking of Ethylene Plastics, Philadelphia, v. 08.01, 1994. ASTM D 2561-70 – Environmental stress-crack resistance of blow-molded polyethylene containers. American Society for Testing and Materials. ASTM D 5397-95: Standard test method for evaluation of stress crack resistance of polyolefin geomembranes using notched constant tensile load test. BAHRAM, F. Fracture of metals, composites, welds, and bolted joints: application of LEFM, EPFM, and FMDM theory. Massachusetts: Klumer Academic Publishers, 2001.

Page 111: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

111

BERNIER, G.A.; KAMBOUR, R.P. The role of organic agents in the stress crazing and cracking of PPO. Macromolecules, 1, 393-400, 1968. BROWN, H. R.; KRAMER, E. J.; BUBECK, R. A. Environmental craze propagation: a model and some experimental observations. Proceedings of the 77th International Conference on Deformation, Yield and Fracture of Polymers, 100-104, 1988. CHAN, M.K.V.; WILLIAMS, J.G. Slow stable crack growth in high density PE. Polymer, 24, 234-244, 1983. CHALLA, S.; PROGELHOF, R.C. Predicting creep rupture of PC from tensile creep data, Antec’ 93. Conference Proceedings vol.II, 1421-1424, 1993. CHO, K.; LEE, M.S.; PARK C.E. The effect of freon vapour on fracture behaviour of styrene-acrylonitrile copolymer – I. Craze initiation behaviour. Polymer, v. 36, n. 6-7, 1357-1361, 1998. CHOU, C.J.; FARAH, H. Stress-solvent failure of polycarbonate and blends. Antec'94. Conference Proceedings vol. III, 3276-3279, 1994. DE PAOLI, M.A. Degradação e Estabilização de Polímeros. Editora Artliber, 286 pp8, 2008. DEVINS, J.C.; REED, C.W. Solubility equilibrium and ESCR correlation in polymer systems, Ann. Conf. on Electr. Insul. and Diel. Phenom, Natl.Acad.Sci., 86, 1971. DUNN, P.; SANSOM, G.F. The stress cracking of polyamides by metal salts – Part I: Metal halides, J. Appl. Polym. Sci, 13, 1641-1655, 1969a. DUNN, P.; SANSOM, G.F. The stress cracking of polyamides by metal salts – Part II: Mechanism of cracking”, J. Appl. Polym. Sci, 13, 1657-1673, 1969b. FRIEDRICH, K. Crazes and shear bands in semi-crystalline thermoplastics. In: Advances in polymer science, editado por Cantow, H.J., Springer-Verlag, pp. 1952-1953, 1983. GENT, A. N. Hypothetical mechanism of crazing in glassy plastics. J. Mater. Sci, 5, 925-932, 1970. HEMAIS, Carlos A. Polymers and the automobile industry. Polímeros, vol.13, n. 2, ISSN 0104-1428, 2003. HENRY, L.F. Prediction and evaluation of the susceptibilities of glassy thermoplastics to environmental stress cracking”, Polym. Eng. Sci, 14, 167-176, 1974. HOSFORD, W.; Mechanical Behavior of Materials. Cambrige: Cambridge University Press, 2005

Page 112: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

112

HOUGH, M.C.; WRIGHT, D.C. Two new test methods for assessing environmental stress cracking of amorphous polymers. Polymer Testing, v. 15, 407-421. 1996. IMAI, Y.; BROWN, N. Environmental crazing and intrinsic tensile deformation in poly (methylmethacrylate) - Mechanical behaviour. J. Mater. Sci., 11, 417-424, 1976. JACQUES, C.H.M.; WYZGOSKI, M.G. Prediction of environmental stress cracking of polycarbonate from solubility considerations. J. Appl. Polym. Sci., 23, 1153-1166, 1979. JANSEN, J.A. Environmental stress cracking – The plastic killer. Advanced Materials & Processes, junho, 50-3. 2004. JANSSEN, M; ZUIDEMA, J; WANHILL, R.J.H. Fracture mechanics. 2. Ed., New York, 2002. KAMBOUR, R.P. A review of crazing and fracture in thermoplastics. J. Polym. Sci. Macromol, Rev. 7, 1-154, 1973. KAMBOUR, R.P.; ROMAGOSA, E.E.; GRUNER, C.L. Swelling, crazing and cracking of an aromatic copolyether-sulfone in organic media. Macromolecules, 5, 335-340, 1972. KAMBOUR, R.P.; GRUNER, C.L.; ROMAGOSA, E.E. Solvent crazing of ‘dry’ polystyrene and ‘dry’ crazing of plasticized polystyrene. J. Polym. Sci.,Polym. Phys, New York, 11, 1879-1890, 1973. KAMBOUR, R.P.; GRUNER, C.L.; ROMAGOSA, E.E. Bisphenol-A polycarbonate immersed in organic media - swelling and response to stress. Macromolecules, 7, 248-253, 1974. KINLOCH, A.J.: YONG, R.J., Fracture Behaviour of Polymers. 1. ed. New York: Elsevier, 1993. KINLOCH, A.J. and YOUNG, R.J., Fracture Behavior of Polymers. Elsevier, Oxford, 1988. LUSTIGER, A.; MARKHAM, R.L. The importance of tie molecules in preventing polyethylene fracture under long term loading conditions. Polymer, 24, 1647-1654, 1983. LUSTIGER, A. Environmental stress cracking: the phenomenon and its utility. In: Failure of Plastics, editado por W. Brostow & R.D.Corneliussen, Hanser Publishers, Munich, capítulo 16, p.314-315, 1986. MARSHALL, J.M. Environmental stress cracking of thermoplastics. Polymer Engineering Directorate Major Review Meeting, paper 18, 7-12, 1985.

Page 113: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

113

MEYERS, M.A; CHAWLA K.K. Mechanical Behavior of Materials. New York: Cambridge University Press, 2009. MUNARO, M. Desenvolvimento de blendas de polietileno com desempenho aperfeiçoado para utilização no setor elétrico. 2007. 66p. Tese de Doutorado em Engenharia e Ciências dos Materiais – Univesidade Federal do Paraná. Curitiba. 2007. PILKEY, W.D., "Peterson's Stress Concentration Factors," John Wiley & Sons, 3nd ed, New York, 2008. RUNT, J.P.; “Crystallinity Determination”. In: “Encyclopedia of Polymer Science and Engineering”, Mark, H.F.; Bikales, N.M.; Overberger, C.G.; Menges, G. (ed.); Wiley Interscience, New York, 1986, vol. 4, p. 482 SANCHES, N.B, Avaliação dos parâmetros que influenciam na resistência de poli(tereftalato de etileno) a fissuras provocadas por tensão sob ação de agentes químicos. 2006. 179p. Dissertação – Universidade Federal do Rio de janeiro, Rio de janeiro, 2006. SIANHKALI G. A. et al. Investigating the role of anionic surfactant an polymer morphology on the environmental stress cracking (ESC) of high-density polyethylene. Polymer Degradation and Stability, 89, 442-453, 2004. LUSTIGER, A.; MARKHAM, R. L. The importance of tie molecules in preventing polyethylene fracture under long term loading conditions. Polymer, 24, 1647-1654, 1983. SILVA, R. V. Compósito de resina poliuretano derivada de oleo de mamona e fibras vegetais. 2003. 136 p. Tese de Doutorado em Ciência e Engenharia de Matérias – Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003. SO, P. K.; BROUTMAN, L. J. – Fractography. In: Engineering Materials Handbook Engineering Plastics, ASM International, v. 2, p. 805-810, 1988. SONI, P.L.; .GEIL, P.H. Environmental stress cracking of polyethylene: temperature effect”, Journal of Applied Polymer Science, 23, 1167-1179, 1979. SWEET, G.E.; BELL, J.P. Chemical degradative stress cracking of poly (ethylene terephthalate) fibers. Journal of Polymer Science: Polymer Physics, Ed. 16, 2057-2077, 1978. TURNBULL, A; MAXWELL, A.S. Influence of small fluctuating loads on environment stress cracking of polymers. Polymer Testing, 23, 419 -22, 2004.

Page 114: FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAI CIMATEC · O Rômulo e Pollyana, responsáveis pelo laboratório de polímeros do SENAI CIMATEC pela injeção dos corpos de provas e todos os ensaios

114

TURNBULL, A.; MAXWELL, A.S.; PILLAI, S. Comparative assessment of slow strain rate, 4-pt bend and constant load test methods for measuring environment stress cracking of polymers. Polymer Testing, v. 19, 117-129. 2000. VINCENT, P.I.; RAHA, S. Influence of hydrogen bonding on crazing and cracking of morphous thernoplastics. Polymer, 13, 283-287, 1972. WILLIAMS, J.G. Fracture Mechanics of Polymers, Ellis Honvood, Chicester, 1984. WILLIAMS, J.G: A LFEM Standard for Measuring Kc and Gc for Plastics, Testing Protocol, 1989. Williams, J.G., Fracture Mechanics of Polymers. Ellis Horwood, Chichester, 1987. WRIGHT, D.C., Environmental Stress Cracking of Plastic, Rapra Technology Limited, United Kingdom, 1996 WRIGHT, D.C. Failure of plastics and rubber products. Sherewsbur: Rapra Technology, y, 2001 YEH, J.T.; CHEN, J.H.; HONG, H.S. Environmental stress cracking behavior of short-chain branch polyethylene in Igepal solution under a constant load, J. App. Pol. Sci., 54, 2171-2186, 1994.