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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL PAMYLLA SUELEN LIRA SILVA SERVIÇO SOCIAL E ÉTICA PROFISSIONAL: CONJUNTURA, AVANÇOS E CONTRADIÇÕES DOS PROCESSOS DE TRABALHO NAS CLÍNICAS DE INTERNAÇÃO DO INSTITUTO DR. JOSÉ FROTA Fortaleza Ceará 2013

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

PAMYLLA SUELEN LIRA SILVA

SERVIÇO SOCIAL E ÉTICA PROFISSIONAL: CONJUNTURA, AVANÇOS E CONTRADIÇÕES DOS PROCESSOS DE TRABALHO

NAS CLÍNICAS DE INTERNAÇÃO DO INSTITUTO DR. JOSÉ FROTA

Fortaleza – Ceará 2013

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PAMYLLA SUELEN LIRA SILVA

SERVIÇO SOCIAL E ÉTICA PROFISSIONAL: CONJUNTURA, AVANÇOS E CONTRADIÇÕES DOS PROCESSOS DE TRABALHO

NAS CLÍNICAS DE INTERNAÇÃO DO INSTITUTO DR. JOSÉ FROTA

Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientador: Profª. Esp. Richelly Barbosa de Medeiros

Fortaleza – Ceará

2013

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

S586c Silva, Pamylla Suelen Lira

O Serviço Social e ética profissional: conjuntura, avanços e

contradições dos processos de trabalho nas clínicas de internação

do instituto Dr. José Frota / Pamylla Suelen Lira Silva. Fortaleza

– 2013.

72f. Orientador: Prof.ª Ms. Richelly Barbosa de Medeiros.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Saúde Pública. 2. Serviço Social – Projeto ético-político.

3. Ética profissional. I. Medeiros, Richelly Barbosa. II. Título

CDU 36+614:174

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PAMYLLA SUELEN LIRA SILVA

SERVIÇO SOCIAL E ÉTICA PROFISSIONAL: CONJUNTURA, AVANÇOS E CONTRADIÇÕES DOS PROCESSOS DE TRABALHO

NAS CLÍNICAS DE INTERNAÇÃO DO INSTITUTO DR. JOSÉ FROTA

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Data da aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Profª. Esp. Richelly Barbosa de Medeiros (Orientadora).

Universidade Federal do Ceará

_____________________________________________________

Profª.Esp. Aniely Silva Brilhante

Faculdade Cearense

____________________________________________________

Profª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes

Faculdade Cearense

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Dedico esse trabalho especialmente à

minha mãe, pelo exemplo de garra e

perseverança. Minha fiel intercessora,

minha primeira melhor amiga, meu

exemplo de mulher.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, o autor da minha vida, aquele que guia os meus

passos, me protege e me livra de todo o mal. Toda honra, toda glória e o fruto do

louvor que saem dos meus lábios é somente para Ele.

Aos meus pais, Mario Wilson da Silva e Alexsandra Lira, por serem exemplos

valorosos, por todo o amor, carinho e confiança. Pelo apoio e conselhos. Pela

sabedoria que me surpreende a cada dia, mesmo sabendo que esta vêm de Deus.

Aos meus irmãos, Italo Marcelo por ficar triste quando estou triste e se alegrar com

minhas alegrias, a minha irmã Renata Cristina minha princesinha, por suportar

momentos de estresses e que apesar de ter somente nove aninhos, me colocar no

colo e enxugar minhas lágrimas quando pensei em desistir e me dizer palavras de

conforto e incentivo, a meu irmãozinho meu pequeno João Davi, pelos sorrisos e

travessuras que me traziam tanta alegria nos momentos de apreensão e ao meu

irmão Iago Nobre, que mesmo com a distância não deixa de me amar e considerar.

Ao meu amado noivo, Hamon Ravick Ximenes de Oliveira, presente de Deus para

minha vida, por toda possível e impossível compreensão e paciência, por me dar

tanto carinho quando mais precisei, por me incentivar e fizer desse só mais um dos

muitos motivos que tenho pra te amar tanto, casar contigo e passar todos os dias da

minha vida ao seu lado. Te amo!

A Minha vovó Delzir Lira, por ser mãe duas vezes e aos meus familiares por tanto se

orgulharem dessa vitória. Por isso declaro que ela também é de todos vocês. Tenho

muito orgulho de fazer parte dessa família.

A minha madrasta, que sempre foi como uma amiga me aconselhando e apoiando,

além de ter me dado um lindo irmãozinho meu pequeno Davi.

Aos meus sogros Silvio Cesar e Jucileide Ximenes e aos meus cunhados Anna

Coutinho e Samuel Ximenes, por todo apoio e por me receberem tão bem nessa

linda família. Amo vocês!

A minha melhor amiga Victorya Vieira, apesar da vida nos levar caminhos distintos,

o amor e a consideração da nossa amizade permanece intacta por isso vou te levar

comigo pra onde quer que eu vá.

A minha amiga, Bel Costa, por está ao meu lado nos momentos mais importantes da

minha vida. Sua amizade é muito importante para mim.

Ao meu grupo de amigos da igreja, pelas intercessões, orações, palavras vindas do

coração de Deus para me incentivar. Sintam-se todos abraçados na pessoa da

minha querida amiga Brena Sandy.

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A minha coordenadora querida Claudene Nobre, por ser um exemplo diário de uma

assistente social compromissada com a profissão, mesmo que indiretamente

atuante. Obrigada por todo o apoio e incentivo!

As minhas amigas da Gastroclínica, por fazerem os meus dias de labor os melhores

possíveis, vocês são companheirissimas!

A minha orientadora, Richelly Barbosa de Medeiros, por acreditar que eu

conseguiria, por ter sido tão compreensiva e ter me ajudado a transpassar as

dificuldades que apareciam no percurso desse trabalho. Sempre levarei comigo seu

exemplo de profissionalismo e compromisso como Assistente Social.

A minha banca examinadora, Professora Virzângela Sandy, que me acompanha

desde a disciplina de estágio, conhecendo bem a minha aproximação com o campo

de estudo dessa pesquisa e a Professora Aniely Brilhante, por aceitarem esse

convite. Minha gratidão!

A todas as minhas amigas e colegas de curso que fizeram parte da minha

construção profissional, sem vocês não teria conseguido. Dentre estas em especial

aquela que está ao meu lado em todos os momentos, Sarah Raquel Pinheiro,

obrigada pelo companheirismo amiga.

A todos que compõem a equipe de docentes da Faculdade Cearense, pela

competência, e dedicação ao ensinar e formar novos profissionais.

Não poderia deixar de agradecer a minha querida supervisora de estágio Honorina

Rosalmeida, por todo o exemplo de profissional que és me fazendo ter orgulho

dessa profissão que é tão bonita. E por fim, agradeço a toda a equipe do Serviço

Social do IJF, por me receberem tão bem. Aprendi muito com cada um dos

profissionais, levarei cada exemplo de profissionalismo para minha jornada.

Com todo o meu carinho, muito obrigada!

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Um novo começo não significa um novo

fim. O que define se existirá ou não um novo

fim, melhor ou pior, são suas atitudes ao

longo do percurso.”

Incontingentemente Contingente

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RESUMO

A reflexão ética nos retrata ao enfrentamento das contradições evidenciadas na realidade social e que demandam um posicionamento ético-politico profissional, que no caso do Serviço Social está relacionado ao seu Projeto Ético-Político. A finalidade desta pesquisa é discutirmos sobre a ética profissional e sua materialização na atuação das profissionais de Serviço Social nas clínicas de internação do Instituto Doutor José Frota (IJF). A pesquisa foi de abordagem qualitativa e de tipo explicativa, cuja coleta de dados ocorreu através de um levantamento bibliográfico e em campo. Os estudos teóricos se direcionaram para as seguintes categorias: Serviço Social e saúde, questão social, saúde publica e Projeto Ético-político do Serviço Social. No contexto empírico, realizamos observação direta não participante do cotidiano profissional e aplicamos entrevistas semiestruturada com as assistentes sociais. Os resultados nos permitem concluir que as assistentes sociais do IJF, especificamente as que realizam seus processos de trabalho nas clínicas de internação, possuem uma atuação subsidiada pela ética profissional, embora diversos sejam os desafios postos aos valores humano-genéricos defendidos.

Palavras chave: Saúde Pública, Serviço Social, Projeto Ético-político do Serviço

Social, Ética Profissional

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ABSTRACT

The ethical reflection portrays us to confront the contradictions evident in the social reality that demand a professional ethical- political positioning, which in the case of social work is related to its Ethical-Political Project, also mediated by the theoretical-methodological, technical and operational knowledge and subsidized by the directions of critical social theory of Marxist matrix. The purpose is to discuss research on professional ethics and its materialization in the performance of professional social work in a health care facility. The research approach was qualitative and explanatory type in which data collection occurred through a literature survey and field. The theoretical studies were focused on the following categories: Social Services and health, social issues, public health and ethical -political project of Social Service. In the empirical context do the direct non-participant observation and interviews as well. This observation occurred in inpatient units of the hospital, with the aim of understanding the relationships between professionals (social workers) and users. The interviews social workers from inpatient units were applied. The results allow us to consider the statement about the intrinsic relationship that called Project Ethical-Political Social Services has to the main theme, Professional Ethics.

Keywords: Social Services, Professional Ethics, Project ethical-political, Public

Health.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

INTRODUÇÃO.........................................................................................................13

1. A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL...................................18

1.1. Do período Getulista (Era Vargas) à Ditadura Militar: as ações focalistas, fragmentadas e seletistas da saúde pública e da medicina previdenciária......................................................................................................18

1.2. A Ditadura Militar no Brasil: repressão e mudanças conjunturais no âmbito da saúde pública..................................................................................................................23

1.2.1. A redemocratização e as reivindicações do Movimento de Reforma Sanitária no Brasil: conquistas e desafios.....................................................25

1.2.2. O Sistema Único de Saúde e a contra-reforma do contexto neoliberal.......................................................................................................27

1.3. O Instituto Doutor José Frota: instituição pública de referência norte-nordeste em assistência em traumas..................................................................29

2. O SERVIÇO SOCIAL NA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR À SAÚDE..................32

2.1. A inserção do Serviço Social na área da saúde: perspectivas e contexto histórico................................................................................................................32

2.1.2. Legislações que norteiam o trabalho do assistente social na saúde.............................................................................................................36

2.2. Serviço Social do IJF: breves considerações sobre os seus 50 anos de história..................................................................................................................38

3. O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL E OS DESAFIOS DA ÉTICA PROFISSIONAL NA ÁREA DA SAÚDE.....................................................45

3.1. A ética profissional e o Serviço Social brasileiro: dilemas, equívocos e avanços................................................................................................................45

3.2. A possibilidade e as contradições postas à materialização da ética profissional nas clínicas de internação do IJF.....................................................51

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................61

APÊNDICES............................................................................................................65

DECLARAÇÃO DE CORREÇÃO ...........................................................................72

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABRASCO – Associação Brasileira de Saúde Coletiva

AVC – Acidente Vascular Cerebral

CAPS – Centro de Assistência Psicossocial

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CEP – Código de Ética Profissional

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CF88 – Constituição Federal de 1988

CIHDOT – Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos

CNS – Conselho Nacional de Saúde

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

DEATEC – Departamento de Apoio Técnico

DNERU – Departamento Regional de Endemias Rurais

IAP´s – Instituto de Aposentadoria e Pensões

IJF – Instituto Doutor José

INERU – Instituto Nacional de Endemias Rurais

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

LOPS – Lei Orgânica da Previdência Social

LOS – Lei Orgânica de Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

PEP – Projeto Ético-Político

SALTE – Saúde/ Alimentação/ Transporte/ Energia

SESP – Serviço Especial de Saúde Pública

SESP – Serviço Estadual de Saúde Pública

SUS – Sistema Único de Saúde

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UTI – Unidade de Tratamento Intensivo

TRM – Trauma Raquimedular

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INTRODUÇÃO

A finalidade com a pesquisa é discutirmos sobre a ética profissional e sua

materialização na atuação dos profissionais de Serviço Social na área da saúde.

Essa temática possui intrínseca relação com o denominado Projeto Ético-político do

Serviço Social. Esclarecemos que este resulta de um construto sócio-histórico da

categoria, afinado com a proposta de uma atuação baseada em uma análise crítica

da realidade (CFESS, 2009).

O Projeto Ético-político do Serviço Social emerge em meio à recusa ao

conservadorismo profissional. Netto (2002) assinala que essa intenção de ruptura se

situa no final da década de 1970, devido à aproximação da categoria com a teoria

marxista. Essa apropriação instigou os assistentes sociais a se debruçaremos sobre

assuntos como; Estado, cultural, trabalho, antagonismo de classe, entre outros; isso

com o propósito de compreenderem a totalidade social e suas contradições.

(IAMAMOTO, 2010).

Segundo Braz (2001), o Projeto Ético-político do Serviço Social reconhece

a profissão em meio às transformações da sociedade. Iamamoto (1982), no bojo das

discussões na década de 1980, aponta os assistentes sociais como agentes de

reprodução das relações sociais, em forte tensão entre as demandas do capital e as

da classe trabalhadora. Essa definição reafirma-se na contemporaneidade,

considerando a atual conjuntura social, econômica, cultual e política da sociedade

brasileira.

Assim, cada vez mais, diante das adversidades postas ao enfrentamento

das expressões da questão social, objeto de intervenção do assistente social; é

iminente a construção de mediações possíveis à efetividade do Projeto Ético-

político. Acrescenta Iamamoto (2006, p.12) sobre a problemática, que os paradoxos

do presente requerem:

Um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. Requer ir além das rotinas

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institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, as tendências e possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho.

Portanto, a ética profissional exige não só o esforço pelo aprimoramento

intelectual, mas como também a tentativa de materializar valores e visões de mundo

assumido pela categoria do Serviço Social em prol da classe trabalhadora. É

importante salientarmos que quando se trata de espaço sócio-ocupacional os seus

determinantes não apenas referem-se à totalidade social, mas também envolvem as

relações e a dinâmica intra-institucionais (ROZENDO, 2007).

Netto (1995) destaca que os projetos profissionais representam a

autoimagem de uma profissão. Assinala, inclusive, que eles “elegem os valores que

a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções [...]”

(NETTO, 1995, p. 95). Para Braz (1996), no que tange ao Serviço Social, essa

discussão envolve: 1) a produção de conhecimentos no interior do Serviço Social, 2)

as instâncias político-organizativas da profissão e 3) sua dimensão jurídico-política.

Barroco (2008), mas estritamente sobre a ética profissional, explicita que

essa perfaz três dimensões importantes: 1) a esfera teórico-metodológica, 2) a moral

prática e 3) a esfera normativa. Considerando a referida concepção, estruturamos

nossa pesquisa com base na verificação real das citadas esferas no exercício dos

processos de trabalho das assistentes sociais no Instituto Dr. José Frota (IJF),

dialogando assim com o Projeto Ético-político da categoria.

Nosso interesse pela pesquisa no IJF insurgiu devido à experiência do

estágio curricular obrigatório, exigência curricular do curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense (FAC). Estagiamos por três semestres e tivermos a

oportunidade de observar que a atuação das assistentes sociais da Unidade de

Saúde é transversal a todos os espaços da instituição, tendo em vista as expressões

da questão social que repercutem sobre o processo saúde-doença.

O Instituto Dr. José Frota é um Hospital terciário de urgência e

emergência do estado do Ceará, referência regional em traumas. O mesmo está

localizado no Centro de Fortaleza/CE. A instituição possui a missão de “Proporcionar

assistência à saúde em urgência e emergência e atendimento terciário às vítimas de

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trauma do Estado de Ceará" e tem por visão "Ser um centro de Excelência e

referência nacional em assistência à saúde de urgência e emergência no Trauma” 1.

Portanto, diante de todas as considerações, nos instigamos em

problematizar de forma geral: como se materializa a ética profissional na atuação

das assistentes sociais nas unidades de internação do IJF? Outrossim, formulamos

os seguintes questionamos em específico: de que modo as expressões da questão

social se apresentam no cotidiano da atuação profissional? Como as assistentes

sociais organizam os seus processos de trabalho nas clínicas de internação? Por

fim, quais os desafios à efetivação da ética profissional nesse âmbito Institucional?

Determinamos as unidades de internação por entendermos que há uma

maior continuidade e sistematicidade do exercício profissional, haja vista a pouca

rotatividade dos usuários e em se tratando das demandas complexas subjacentes.

Esclarecemos que no IJF o Serviço Social ainda atua na emergência, momento em

que ocorre o pronto-atendimento da população, no Centro de Tratamento de

Queimado (CTQ) e nas denominadas clínicas fechadas - Unidade de Terapia

Intensiva (UTI) e Sala de Recuperação (SR).

Sobre os percursos metodológicos desta pesquisa situamos que a

abordagem foi qualitativa, pois “[...] muito mais do que descrever um objeto, busca

conhecer trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos” (MARTINELLI, 1999,

p.25) e consubstancia uma dimensão política e crítica reflexiva dada na dialética das

partes que se envolvem no processo. Destarte, a nossa apreensão perfaz a

compreensão sobre os fenômenos sociais que envolvem o objeto da pesquisa, de

forma a entendê-los qualitativamente.

Quanto ao tipo da pesquisa, esta é explicativa, pois, conforme Gil (2008)

identifica os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos

fenômenos. Segundo o autor esse é o tipo que mais aprofunda o conhecimento da

realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. Por isso, é o tipo mais

complexo e delicado. Portanto, o nosso propósito com esta pesquisa não se resumiu

a descrição da atuação profissional no IJF, mas a tentativa se voltou para explicá-la

ou refleti-la, principalmente nos subsidiando nas teorias correspondentes ao

assunto. 1 A missão e a visão estão disponíveis em: http://www.ijf.ce.gov.br. Acesso em: 23/11/2013.

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Realizamos uma pesquisa bibliográfica com ênfase nas seguintes

categorias: Saúde Pública, Serviço Social e Saúde, Questão Social e Projeto Ético-

Politico do Serviço Social. Gil (2008) explica que a pesquisa bibliográfica é realizada

através de materiais já produzidos por outros pesquisadores. Segundo o autor

(2008), esse tipo de levantamento propicia conhecimentos diversos, que

amadurecem o olhar sobre o fenômeno em estudo. Ademais, para Gil (2008), a

principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao

investigador a cobertura de uma gama de informações, muito mais ampla do que o

próprio objeto da pesquisa diretamente.

Na pesquisa de campo, como técnicas de coleta de dados, recorremos à

aplicação de entrevistas semi-estruturadas com as assistentes sociais que atuam

nas unidades de internação. Além disso, utilizamos observação direta, não

participante. A observação foi realizada em aproximadamente três semanas,

direcionada às demandas e aos processos de trabalho das assistentes sociais2,

empreendidas nas clínicas de internação da Instituição.

Em se tratando da observação, Pinto (2009, p. 103) salienta que esta “[...]

descobre contradições entre o discurso e a realidade. [...] descobre novos enfoques

ou novas pautas. [...] reconhecer mais detalhes, mais informação, o que enrique o

texto”. Portanto, é possível considerar que, embora breve, observar cientificamente

a realidade da atuação profissional das pesquisadas nos permitiu construir uma

relativa aproximação entre os discursos e o fenômeno propriamente dito (empírico).

No que se refere à entrevista semiestruturada, Gil (1999, p. 120) aponta

que ela “[...] apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de

pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo do curso”. O

universo desta pesquisa é de 42 assistentes sociais e a amostra é de 13

profissionais. Tivemos por critério selecionar apenas as que atuam nas unidades de

internação e as que tivessem disponibilidade em participar. Do total de assistentes

sociais das clínicas (15), 2 encontravam-se de licença no período das entrevistas.

As informações coletas foram analisadas através do método dialético, que

aborda a questão da dinâmica da sociedade e das contradições da realidade social.

2 Referimo-nos no feminino por serem todas desse gênero, conforme verificaram mais adiante na exposição do

perfil profissional.

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Para Minayo (1996, p. 24), “[...] a dialética [...] propõe abraçar [...] o modo de

conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações que traduzem o

mundo dos significados”. Ou seja, tentamos apreender os fenômenos tendo em vista

as suas contradições, o real e os significados que envolvem o empírico analisado.

Como resultado este trabalho foi dividido primeiro capítulo A Historia das

Políticas de Saúde no Brasil. Neste momento, abordamos as ações focalistas,

fragmentadas e seletivas da saúde pública e da medicina previdenciária, do período

Getulista (Era Vargas) à Ditadura Militar. Abordamos nesse contexto histórico a

repressão e as mudanças ocorridas no âmbito da saúde, com ênfase também na

Reforma Sanitária e nas conquistas e desafios do Sistema Único de Saúde (SUS).

No segundo capítulo, O Serviço Social na Assistência Hospitalar à Saúde

abordou o Serviço Social e sua inserção na atenção hospitalar, assinalando algumas

discussões teóricas que envolvem a temática e apresentando os parâmetros para a

sua atuação nessa área, produzido pelo Conselho Federal do Serviço Social

(CFESS, 2010). Apresentamos as principais legislações que norteiam o exercício

profissional e por fim elencamos breves considerações sobre os 50 anos de história

do Serviço Social do IJF.

No último capítulo, O Projeto Ético-Político do Serviço Social e os

Desafios da Ética Profissional na Área da Saúde, debateram acerca da ética

profissional na história da profissão, apontados alguns dos seus dilemas, equívocos

e avanços. Além disso, damos ênfase ao tema sobre a ética profissional e acerca do

Projeto ético-político do Serviço Social, com a finalidade de refletir sobre os avanços

e desafios que envolvem a realidade do estudo – as clínicas de internação do IJF.

Consideramos que a coleta e analise dos dados propiciou o entendimento

sobre o que nos propomos a investigar, apesar de algumas limitações resultantes de

fatores adversos. Uma das mais significativas adversidades vivenciadas no processo

de pesquisa foi o tempo, ter que associar a coleta de dados, as leituras e a produção

científica com outras disciplinas do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense

(FAC). Ademais, esta situação para nós foi agravada devido a problemas de saúde

enfrentados no decorrer do semestre. Todavia, acreditamos ter alcançado os

objetivos do estudo.

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1. A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL

1.1 Do período Getulista (Era Vargas) à Ditadura Militar: as ações focalistas,

fragmentadas e seletistas da saúde pública e da medicina previdenciária

No período de 1930 a 1945 o Brasil vivenciou um período que

compreendido como “Era Vargas”. O presidente Getúlio Vargas assumiu em uma

época de profundas mudanças, principalmente econômicas, sociais e políticas, se

caracterizando por demarcar uma transição efetiva de um país oligarca a um de

cunho reformista urbano-industrial. (VICENTINO; DORIGO, 2005 apud MONTEIRO

2013). Essa realidade passa a ser a conjuntura das primeiras décadas do século XX.

Vicentino e Dorigo (2005 apud MONTEIRO 2013) afirmam que surgiram

no cenário das grandes capitais brasileiras, principalmente a partir de 1920, uma

série de movimentos da classe trabalhadora. Apontam (2005) ainda que estes

emergem tendo por atores, principalmente, os imigrantes, que já possuíam

experiência nos movimentos trabalhistas e anarquistas europeus (IDEM).

Conh (1996) assinala que nesse momento no Brasil a saúde passa a ser

configurada como expressão da questão social, por também estar no centro das

reivindicações trabalhistas da época. Além disso, Bravo (2008) descreve um quadro

epidemiológico de doenças infectocontagiosas que comprometia diretamente a

economia do país. Ademais, evidencia-se a necessidade de reabilitar a força de

trabalho adoecida, para o retorno à atividade laborativa (CONH, 1996).

Como resultado dessa confluência de determinantes, mas principalmente

em decorrência das reivindicações políticas da classe trabalhadora, em 1923 é

sancionada a Lei Eloy Chaves. (CONH, 1996). Através desse ato normativo, de

acordo com Paim (2009), são criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões

(IAP’s), que davam seguimento a uma lógica de seguro social, em que tinham direito

a ações de saúde apenas os trabalhadores formais urbanos. Essa modalidade

passa a ser conhecida como medicina previdenciária.

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19

Com a Consolidação das Leis do Trabalho, ocorrida na referida “Era

Vargas” são instituídos outros direitos, como o salário mínimo, as horas a serem

trabalhadas e outras medidas de cunho social; todos difundidos de forma populista e

paternalista. (BRAVO, 2008). Ainda acerca dos IAP’s, Conh (1996) afirma que eram

mais elaborados e organizados, de caráter nacional, agregando mais profissões.

Cavalcante e Zucco (2002) salientam que isso resultou em um aumento das

diferenças entre a saúde pública e a de caráter curativo, com ênfase em medidas

pontuais, fragmentadas e imediatistas.

Os marinheiros foram os primeiros a aderirem ao modelo doas IAP’s,

posteriormente os comerciários, bancários, industriários, entre outros (PAIM, 20009).

Os trabalhadores contribuíam com os IAP’s através dos descontos em folha de

pagamentos de salários (MENDES, 1995). Conh (1996) reflete que o ônus da

previdência sempre recaiu sobre o trabalhador, pois o Estado embute os valores

destinados à previdência social nos impostos e os empresários nos produtos.

É importante salientarmos que a mudança do sistema agrário-comercial

para industrial acarretou profundas transformações sociais, principalmente de um

estilo de vida rural para um urbano-industrial. Marca também esse processo uma

crescente exploração da força de trabalho industrial, fenômeno que leva ao

agravamento da questão social (DELFHINO, 2010). Logo, as exigências se voltam

para que as instâncias governamentais se articularem, a fim de garantirem respostas

políticas às exigências da classe trabalhadora organizada (IDEM).

Segundo Yasbek (2010), a questão social se legitima no pensamento

dominante, na década de 1930, isso por sua força perante a pressão dos operários.

Esclarece Yasbek (2010, p. 10): “Em síntese, o Estado brasileiro buscou administrar

a questão social desenvolvendo políticas e agências de poderes estatais nos mais

diversos setores da vida nacional, privilegiando a via do Seguro Social”. A autora

(2010) ainda reflete que as políticas sociais públicas conquistadas não eram as

únicas respostas do Estado às expressões da questão social, mas através exercia

práticas coercitivas e policialescas.

Dos anos de 1930 a 1964, a política de saúde tinha um caráter nacional e

organizava-se em Saúde Pública, Saúde do Trabalhador e Medicina Previdenciária.

(PAIM, 2009). A medicina previdenciária atendia aos serviços de saúde dos

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trabalhadores assalariados, ou seja, destinava-se àqueles que eram contribuintes da

previdência social, inseridos no mercado formal de trabalho. De acordo com

Cavalcante e Zucco (2002), a ênfase na atuação desse subsistema (medicina

previdenciária) era centrada na especialização clínica e na medicina hospitalar.

As ações saúde pública estavam relacionadas com as condições

sanitárias mínimas para as populações urbanas e rurais (mais pontuais) (PAIM.

2009). Eram executadas a fim de minimizar o quadro de epidemias, principalmente

até a década de 1950 (IDEM). Nessa perspectiva, baseado no modelo assistencial

campanhista, a saúde era tratada de forma policialesca, principalmente como caso

de policia e não como expressão da questão social (BRAVO, 2008). Paim (2009)

associa a atenção prestada a operações militares, nomeada de polícia sanitária.

Bravo (2008) ratifica que as principais ações de saúde pública nas

décadas de 1930 e 1940, davam ênfase às campanhas sanitárias, no combate

específico de endemias e epidemias. Na época esse quadro repercutia

indiretamente sobre a produção industrial e promoviam um forte impacto econômico

e político (IDEM). Assim, sanitaristas como Oswaldo Cruz e Belizário Penna se

tornaram no Rio de Janeiro, através do método disciplinar, exemplos na luta contra

os considerados problemas de saúde urbanos. (PAIM, 2009).

O quadro epidêmico na primeira metade do século XX era generalizado,

tendo como prevalência a febre amarela, a peste e a varíola. As medidas de

enfrentamento versavam sobre: saneamento dos portos, vacinação obrigatória e

limpeza das cidades (PAIM, 2009). A população reagiu em diversos momentos às

imposições do Estado, como referências citam “a revolta” contrária à vacinação

obrigatória na década de 1920 no Rio de Janeiro (IDEM). A partir de 1940, Paim

(2009) pontua que as estratégias do governo transitaram da repressão para a

persuasão, mas ainda muito distantes do conceito de educação em saúde.

Em 1942 é criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP),

responsável por ações sanitárias em regiões afastadas do país, mas com interesse

estratégico para a economia, como a região de produção de borracha na Amazônia

(RONCALLI, 2003). O Brasil se tornou no período da 2º Guerra Mundial um forte

fornecedor dessa matéria prima para os Estados Unidos da América (EUA),

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estreitando relações políticas e econômicas. (IDEM). Inclusive, Paim (2009) aponta

que a atenção em saúde exercida pelos EUA passa ser referência no Brasil.

No Ceará a saúde pública, em um longo período da história, “[...] se

efetivou de forma diferenciada ou subsumida no que tange a outras províncias ou

regiões brasileiras, devido a fatores, antes de tudo, políticos e econômicos.

(BARBOSA 1994 apud MEDEIROS 2009, p. 60). Medeiros (2009), no entanto,

citando Barbosa (1994), faz menção à iniciativa do sanitarista Rodolfo Teófilo, que

sem nenhuma contribuição do governo cearense conseguiu extinguir por anos a

varíola no estado, tendo muitas vezes esse próprio governo como opositor. A

metodologia adotada por Teófilo era oposta à exercida no Rio de Janeiro na época,

pois centrava-se na educação em saúde, obtendo longos e melhores resultados

(IDEM).

Em síntese, a saúde pública no Brasil caracteriza-se por medidas

centralizadas, pelo mandonismo, pela focalização e fragmentação (BRAVO, 2008;

PAIM, 2009; MENDES, 1995). Para Paim (2009), não ocorria, embora ambas sobre

a ingerência presidencial, nenhuma articulação entre saúde pública e medicina

previdenciária. Esta, conforme o autor (1999), ainda congregava as marcas do

clientelismo, do populismo e do paternalismo, deixando resquícios até hoje na nossa

cultura.

Na década de 1940, agora durante o governo Dutra, houve a

promulgação da Constituição Federal de 1946, defensora das ideologias liberais,

que subsidiou a posterior criação do Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte

e Energia) (POTYARA 2000). A lógica era um misto entre desenvolvimentismo

econômico e minimização dos considerados problemas sociais (IDEM). No entanto,

Potyara (2000) não menciona avanços significativos, haja vista que a reforma

privilegiou os principais pilares da proposta, o setor de transportes e o de energia.

Em 1950 foi aprovada a Lei 1.920, que instituiu o Ministério da Saúde,

posteriormente órgãos como o Departamento Nacional de Endemias Rurais

(DNERU), que teve por objetivo unificar diversos programas existentes na época no

campo (POTYARA, 2000). Em 1954, a União criou a Escola Nacional de Saúde

Pública – Lei n.º 2.312, que dispunha sobre normativas gerais para o

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estabelecimento de estratégias em defesa e proteção da saúde (IDEM). Mesmo com

essas iniciativas, as intervenções ainda centravam-se em campanhas epidêmicas.

Fonseca (2007) elucida que no governo Kubitschek (1956-1961) se

manteve o que o autor denominou de sanitarismo desenvolvimentista, ou seja, com

intervenções de saúde que incidiam sobre o desenvolvimento econômico. O

diferencial, de acordo com Fonseca (2007), era a concepção da necessidade atribuir

maiores responsabilidades ao município na organização dos serviços de saúde.

Evidenciaram-se nesse período resultados importantes relativos à regressão do

quadro de epidemias, dando lugar as tidas doenças da modernidade, como o câncer

etc. (PAIM, 2009).

Entre 1964 e 1974 no Brasil a realidade política, social, econômica e

cultura se alteram em decorrência da Ditadura Militar3. No que tange à medicina

previdenciária, Conh (1996) afirma que aconteceu a junção dos IAP’s no Instituto

Nacional de Medicina Previdenciária (INAMPS). Bravo (2008) explicita duas

características básicas: o aumento dos recursos da previdência social e a exclusão

dos trabalhadores na gestão desta, mantendo-lhes apenas o papel de financiadores.

De acordo com Fausto (1997) esse período no Brasil, relativo aos anos da

Ditadura Militar, ficou conhecido pela abolição dos direitos constitucionais, forte e

repressiva prática da censura; bem como pela repressão e a perseguição política.

Fonseca (2007) aponta a redefinição dramática das forças políticas no poder, tendo

o golpe militar de 1964, estagnado os anseios por reforma, retrocedendo o Estado a

medidas centralizadoras. Para José Paulo Netto (2004, p. 16), esse golpe significou,

Uma tentativa de adequar os padrões de desenvolvimento nacionais e de grupos de países ao novo quadro do inter-relacionamento econômico; golpear e mobilizar os protagonistas sociopolíticos, habilitados a resistir a esta reinserção mais subalterna no sistema capitalista; e por fim, controlar qualquer tendência revolucionária ou socialista.

Barbosa (1997) salienta que esse contexto do chamado “anos de

chumbo” teve reflexos imediatos no setor saúde do Ceará, pois a Secretaria de

Saúde do estado passou por desestruturação e descrédito, devido à política 3 O golpe militar ocorrido no dia 31 de Março de 1964, teve como objetivo a deposição do presidente

da república João Goulart (1961-1964), conhecido como Jango, eleito na mesma eleição em que Janio Quadros (FAUSTO 1997).

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governamental voltada para a medicina curativa. Aos poucos, conforme o autor

(1997), os recursos passaram a ser destinados, sobretudo, a hospitais e ao

clientelismo que levou a contratação indiscriminada de funcionários, sem a mínima

capacitação e com salários aviltantes. O fato é que esses traços sempre marcaram a

realidade da saúde pública no Ceará, acentuando-se inclusive nesse período.

A seguir, trataremos de outras nuanças que envolvem a saúde pública no

Brasil, referente ao período da Ditadura Militar, apresentando determinantes

importantes, entre eles os que culminaram com as propostas de mudanças

empreendidas pelo Movimento de Reforma Sanitária, nas décadas de 1970 e 1980.

1.2 A Ditadura Militar no Brasil: repressão e mudanças conjunturais no

âmbito da saúde pública

Segundo Bravo (2006, p. 06), “[...] a ditadura militar significou para a

sociedade brasileira, em sua totalidade, a afirmação de uma tendência de

desenvolvimento econômico-social e político que originou um modelo de um novo

país”. Como já foi reportado anteriormente, nessa conjuntura o Estado utilizou em

sua intervenção o binômio repressão-assistência, ampliando a política assistencial e

ainda burocratizando e modernizando a mesma (IDEM). Aumentou, assim, o seu

poder regulador sobre a sociedade (IDEM).

A Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), promulgada em 1960,

propôs que os benefícios que eram oferecidos pelos IAP’s fossem unificados entre

as classes de trabalhadores, formando assim o Instituto Nacional de Previdência

Social (INPS) (CONH, 1996). A maior preocupação dos trabalhadores era com a

acumulação de dinheiro comparada à prestação dos serviços previdenciários, isso

fazia com que os trabalhadores pressionassem o sistema previdenciário e a LOPS

foi então conquistada dentro desse contexto (IDEM apud MONTEIRO 2013).

A criação do INPS propiciou a unificação dos diferentes benefícios ao

nível do IAP’s. Segundo Braga (1986) essas modificações também culminaram em

uma grande soma de recursos, na medida também que grande parcela da classe

trabalhadora urbana, crescente, se tornou contribuinte e beneficiaria. O elevado

número de contribuições, associado ao crescimento econômico da década de 1970,

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fez com que a política de seguro social brasileira registrasse um volume elevado de

recursos financeiros (BRAGA, 1986).

A necessidade de manter um regime de cerceamento de liberdade

político, aliado a exigência de sua reprodução ideológica, incentivou o estado em

ampliar o benefício de assistência médica previdenciária. (OLIVEIRA; TEIXEIRA

1986). Paim (2009) elucida que o governo militar investiu em diversas instituições

hospitalares, inclusive na construção das mesmas para o repasse à iniciativa

privada. Logo, o que se efetivou foi a edificação de um sistema médico-industrial,

com estreita articulação entre o público e o privado. (NICZ, 1982).

Nicz (1982) apresenta que o crescimento no numero de leitos hospitalares

privados chegou a 500% no período de 1964 a 1984. O mote da atuação do estado

envolveu principalmente a atenção curativa aos trabalhadores urbanos, através do

INPS. Essa assistência incorporou a lógica da medicalização da vida, assumindo

algumas características capitalistas, também com expansão das tecnologias em

saúde. (IDEM). Bravo (2006) afirma que a saúde pública foi subsumida em relação à

medicina previdenciária, principalmente após sucessivas reestruturações.

Segundo Oliveira e Teixeira (1986), nessa conjuntura passam a ser

implantado no país o modelo de valorização do produto privado. Os autores (1986,

p. 207) identificam como importantes particularidades desse momento:

Extensão da cobertura previdenciária de forma a abranger a quase totalidade da população urbana, incluindo, após 73, os trabalhadores rurais, empregadas domésticas e trabalhadores autônomos; Ênfase na prática médica curativa, individual, assistencialista e especializada, e articulação do Estado com os interesses do capital internacional, viam indústrias farmacêuticas e de equipamento hospitalar; Criação do complexo médico-industrial, responsável pelas elevadas taxas de acumulação de capital das grandes empresas monopolistas internacionais na área de produção de medicamentos e de equipamentos médicos [...]

Além disso, apontam Oliveira e Teixeira (1986 p. 207) outras

determinações importantes, a saber:

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Interferência estatal na previdência, desenvolvendo um padrão de organização da prática médica orientada para a lucratividade do setor saúde, propiciando a capitalização da medicina e privilegiando o produtor privado desses serviços; Organização da prática médica em moldes compatíveis com a expansão do capitalismo no Brasil, com a diferenciação do atendimento em relação à clientela e das finalidades que esta prática cumpre em cada uma das formas de organização da atenção medica.

Em 1975, o modelo econômico implantado na Ditadura Militar entra em

crise. E com a crise cresce as desigualdades sociais, os agravos à saúde, dentre

outras expressões da questão social. (BRAVO, 2008). O modelo de saúde

previdenciária passa a mostrar suas deficiências. O setor médico privado que se

beneficiou do modelo médico-privatista durante quinze anos a partir de 64, tendo

recebido neste período volumosos recursos do setor público e financiamentos

subsidiados; cresceu, desenvolveu e se consolidou (OLIVEIRA E TEIXEIRA, 1986).

1.2.1 A redemocratização e as reivindicações do Movimento de Reforma

Sanitária no Brasil: conquistas e desafios

No final da década de 1970 e na década de 1980 emerge o Movimento de

Reforma Sanitária Brasileiro (MRS), que era composto por diversos atores políticos

nacionais. Entre esses sujeitos coletivos somaram-se entidades da sociedade civil,

organizações de bairro, estudantes, profissionais da saúde, centros científicos etc.

(PAIM, 2009). A finalidade era reivindicar melhorias no setor saúde, tendo em vista

ampliar a atenção dispensada à população. (IDEM).

O MRS questionava as condições de vida da população e o modelo

instituído pela previdência social, seletista e focalista. Essas problematizações

postas em evidência no espaço nacional culminaram em paralelo com a

redemocratização brasileira, em que as maiores reivindicações consistiam na

liberdade civil e política. (PAIM, 2009). A saúde era considerada como uma das

áreas mais dramáticas, haja vista a exclusão historicamente vivenciada pelos

usuários. (BRAVO, 2008).

O movimento tinha o objetivo de difundir o acesso aos serviços,

reproduzir uma consciência sanitária e trazer à população a compreensão de que a

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saúde é um direito de todos e dever do Estado. (PAIM, 2009). O Centro Brasileiro

de Estudos em Saúde (CEBES) foi um dos primeiros difusores do ideário de

universalização da atenção em saúde no país, tendo apresentado a proposta em um

Congresso Nacional em 1979. (BRASIL 2006). Em 1980 a população em geral, em

especial a organizada politicamente, engrossa os pilares de difusão das exigências.

No início da década 1980 o chamado déficit da previdência social

corroborou para o fortalecimento do argumento de que essa política não dava conta

dos interesses amplos dos brasileiros. (MONTEIRO, 2013). Além do mais, juntou-se

a essa insatisfação o aumento do desemprego, a queda da arrecadação, a recessão

e o crescimento da dívida pública (IDEM). Diante disso, Lessa (2003, p. 69) afirma

que o Movimento Sanitário propunha:

Mudanças no seio da saúde (determinantes sociais, históricos e econômicos), na forma de organizar os serviços (universalidade, equidade, descentralização (e no fazer ético-político dos profissionais, buscando redesenhar o processo de participação social nas decisões sobre o sistema de saúde.

Em marco de 1986, foi realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde,

organizada pelo MRS. Contou com a participação de cerca de quatro mil e

quinhentas pessoas, dentre as quais mil delegados. (PAIM, 2009). Nesse momento

entidades representativas da população (moradores, sindicatos, partidos políticos,

profissionais da saúde, estudantes etc.) criaram um espaço legítimo de debate sobre

os problemas de saúde e avançaram na formulação de propostas alternativas ao

modelo até então vigente no Brasil, o médico-previdenciário (IDEM).

A questão da Saúde transcendeu ao setorial, abrangendo a sociedade de

um modo geral, instigando a proposta de um sistema de saúde único, isso nos

diversos âmbitos que envolvem a concepção sanitária (BRAVO, 2009). Esse

processo passa a ser entendido como práticas relativas às dimensões econômicas,

política, ideológica e simbólica, podendo ser efetivado como conquistas na

conjuntura da transição democrática e no período pós-constituinte (PAIM, 2008).

Nessa dinâmica que perfaz o Brasil da época, em 1987 a Assembleia

Constituinte tornou-se uma arena de emergência de diversos interesses. Os

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representantes da população objetivavam materializar na Constituição Federal de

1988 os princípios defendidos pelo MRS, entre eles o da universalização, da

integralidade, da igualdade e da participação social. (BRAVO, 2008). Porém, os

representantes da iniciativa privada também conquistaram ganhos, entre eles o

espaço da atenção complementar e suplementar em saúde. (PAIM, 2008)

1.2.2. O Sistema Único de Saúde e a contrarreforma do contexto neoliberal

A Constituição Federal Brasileira (CF88), através dos artigos 196 a 200,

afirma ser a saúde um direito de todos os brasileiros e um dever do Estado. A

política de saúde, a de assistência social e a de previdência social são os pilares da

Seguridade Social. Essas conquistas foram resultado das reivindicações do MRS,

como tratamos anteriormente. Nessa nova lógica, a saúde se desvincula da

previdência social, se tornando uma política pública universal, atendendo

independente de origem, raça, gênero, orientação sexual, religião etc. (PAIM, 2009).

No início da década de 1990, através da Lei Orgânica de Saúde (LOS),

ocorreu a regulamentação do estabelecido pela CF88 equivalente à saúde,

instituindo o Sistema Único de Saúde (SUS). Outrossim, a Lei 8.142/90 também

complementou as normativas necessárias a materialização da saúde públicas. A

primeira estabeleceu e esclareceu os princípios e as diretrizes gerais, elencando as

competências das três esferas de governo, municípios, estados, Distrito Federal e

União (BRASIL, 1990). A segunda trata do financiamento e da participação social no

SUS (PAIM, 2009).

Logo, o anseio dos anos de 1990 seria o de efetivar as conquistas legais,

todavia as contradições da ideologia neoliberal impuseram limites, que, segundo

Behring e Boschetti (2010), se direcionaram em favorecer as privatizações e o

mercado. O Estado assumiu o discurso de minimização dos gastos, alegando uma

constante crise econômica e social. (IDEM). Essas mudanças são contrárias às

proposições do SUS, enfraquecendo-o e esvaziando-o de sentido, instigando sua

total precarização.

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Com o desenvolvimento do neoliberalismo na década de 1990, a

seguridade social foi atingida com processos de desconstrução dos princípios

previstos na Carta Magna. (BRAVO; MATOS, 2001). As políticas sociais tornaram-se

seletivas e focalizadas, baseadas a partir das direções econômicas internacionais

que visam privilegiar o atendimento dos interesses do capital. Bravo e Matos (2001)

assinalam que três importantes gestões se encarregaram de pôr em prática de início

as contra reformas neoliberais: a gerência presidencial do Fernando Collor de Melo

(1990-1992) e as duas do Fernando Henrique Cardoso (1995-1998/1999-2002).

Todavia, é relevante salientarmos que já em 1988 o Brasil tornou-se

signatário do “Consenso de Washington”. Ou seja, enquanto a população

conquistava a ampliação de direitos através da CF88, assinava-se um acordo

financeiro com os organismos internacionais (Banco Mundial e Fundo Monetário

Internacional), que incidia sobre as conquistas mencionadas. (IDEM). A finalidade

era que o país aplicasse medidas como redução dos gastos públicos, privatizações

estatais, disciplina fiscal, reforma tributária, entre outros (CONH, 1996).

Collor de Melo, ao assumir o primeiro mandato presidencial da nova fase

democrática brasileira, tratou de implementar as medidas supracitadas, alusivas ao

ajuste neoliberal. Bravo e Matos (2001) associam esse momento a um verdadeiro

boicote à instauração do SUS. Começou a existir um liame tenso entre o projeto de

reforma sanitária e o projeto privatista neoliberal, ora um, ora outro avançando. O

primeiro através da pressão dos movimentos sociais para implementar a CF88 e o

segundo em decorrência das exigências internacionais já referenciadas. (IDEM).

No governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), alavancou efetivamente

o neoliberalismo, repercutindo sobre o âmbito saúde. O Ministério da Saúde, através

da administração de Adib Jatene, nos dois primeiros anos presidenciais não exerceu

nenhuma ação significativa para o setor (IDEM). Em seguida, observou-se um

número expressivo de privatizações e ampliação da medicina suplementar em

saúde. O discurso que prevaleceu foi o de responsabilização da sociedade civil em

se tratando das políticas sociais públicas, a fim de minimizar a intervenção estatal.

Uma tentativa de reação às investidas do projeto neoliberal dos anos

1990 no Brasil, para alguns, foi a eleição do Presidente Luíz Inácio Lula da Silva,

conhecido também como Lula. O mesmo assumiu por eleição dois mandatos

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presidenciais, 2003-2006/2007-2010. No entanto, Bravo e Menezes (2010), em suas

análises sobre a gestão, concluem que houve uma continuação das contrarreformas

neoliberais do FHC. Todavia, também é possível verificar mudanças positivas,

pensando inclusive na correlação de forças existente no panorama político.

Dilma Roussef, sucessora de Lula na presidência (2011- atual), e tinha

como uma de suas propostas de campanha priorizar a defesa do SUS, além de

destacar parcerias com setor privado de saúde (INGLEZ 2012). Assim, o balanço

inicial evidenciou segundo Bravo e Menezes (2011, p.24), ainda “[...] políticas e

programas focalizados, a parceria com o setor privado e cooptação dos movimentos

sociais”. Essa é a conjuntura que perpassa o setor saúde na atualidade, a qual

permeia também a política de saúde no Ceará e, em específico, no IJF, enquanto

unidade hospitalar pública, de urgência e emergência em traumas.

1.3. O Instituto Doutor José Frota: instituição pública de referência estadual

em assistência em traumas

Traçaremos neste tópico algumas informações sobre o IJF, com o objetivo

de fomentar o entendimento sobre a Instituição campo da pesquisa. De início,

resgatamos novamente que a unidade de saúde é um hospital público municipal que

integra a rede de serviços SUS, de nível terciário. A atenção terciária equivale aos

tratamentos e cuidados de alta complexidade em saúde, com densidade tecnológica

superior o da atenção secundária (SALES, 2007).

Relembramos que o Hospital tem como missão “Proporcionar assistência

à saúde em urgência e emergência e atendimento terciário a vitima de traumas no

Estado do Ceara”. 4 De acordo com o relatório de gestão de 2010 (2010, p. 145)5

somou no referido ano um total de “[...] 148.353 atendimentos ambulatoriais, dos

quais 108.730 provenientes da capital, 39.301 do interior do Estado e 147 de outros

Estados. As internações realizadas totalizaram 13.851, sendo 7.284 provenientes da

capital e 6.567 do interior”.

4 Disponível em: http://www.ijf.ce.gov.br/index.php/o-ijf/missaovisao. Acesso em: 08/11/2013.

5 Disponível em: www.sms.fortaleza.ce.gov.br. Acesso em 11/09/2013.

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O mesmo é considerado, como explicitado nos dados anteriormente

citados, referência estadual em traumas, assistindo a população da capital e de

outros municípios do estado Ceará e até de outros estados. Conta com um

orçamento, como salienta o Relatório de Gestão mencionado (2010, p.165), de R$

41.692.131,00, em relação às despesas correntes em todas as fontes por Unidade

Orçamentária. Valor superior às despesas pagas por todas as Secretarias

Executivas Regionais de Fortaleza, que totalizaram aproximadamente 14 milhões6.

Se compararmos as despesas do IJF com as da atenção básica, ainda

verificaremos que estas são inferiores, totalizando em 2010 o valor de R$

40.375.940,27. (IDEM). Dessa forma, ratifica-se que a atenção de alta complexidade

congrega a maioria dos investimentos no setor saúde no município de Fortaleza,

sendo o IJF a principal unidade executora dos gastos. Diversos autores apontam a

necessidade de ampliar os recursos da atenção primária, porém ainda prevalece a

cultura curativa em detrimento da preventiva e promocional (PAIM, 2009).

O total absoluto do orçamento em 2013, de acordo com o Balanço de

Gestão do Município7, inclusive com os gastos em recursos humanos, totalizou R$

179.066.235, 45. Novamente, o dado ratifica que a assistência hospitalar assume

uma significativa quantia dos recursos públicos (MEDEIROS 2009). Esse fato, entre

outros, equivale a correlação entre o hospital contemporâneo e a própria dinâmica

de reprodução do capital, a qual as instituições hospitalares também pertencem

(RIBEIRO, 1993 apud MEDEIROS, 2009).

O Hospital é subdividido em 8 pavimentos e cinco anexos. No segundo

pavimento estão as 10 Unidades de Internação, que contemplam as seguintes

especialidades: neurologia, traumatologia, pediatria, neurocirurgia, clínica médica e

vascular, cirurgia plástica, cirurgia plástica e bucomaxilofacial; cirurgia geral, plástica

e traumatologia, bem como unidade de terapia intensiva (UTI) adulta e pediátrica.

(MEDEIROS, 2009). É nestas unidades que se desenvolve a atuação profissional

das assistentes sociais participantes deste estudo.

6 A análise foi produzida em relação a tabela intitulada Percentual de Execução Orçamentária de outras Despesas

Correntes (exceto em relação aos recursos humanos) em todas as fontes por Unidade Orçamentária, na relação de

Despesa estimada com a Despesa Paga. Calculamos as despesas pagas. 7 Fonte: Balanço de Gestão do Município [de Fortaleza] 2013. Disponível no site da Secretaria de Finanças de

Fortaleza: www.sefin.fortaleza.ce.gov.br Acesso em: 27/12/2013

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Além dessas unidades de internação, o IJF possui uma unidade de

emergência no primeiro andar e um Centro de Tratamento de Intoxicações

(CEATOX). Outro serviço é o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ),

referência nordeste no atendimento a esse tipo de trauma. De acordo com dados da

Secretaria Municipal de Saúde8, o IJF possui no total 453 leitos, dispondo inclusive

de um centro de imagens, salas de pequenas cirurgias; sala de reanimação e

unidade para pacientes em estado grave e estabilizados (Risco I e Risco II).

Como afirma Medeiros (2009), os acidentes e a violência são os principais

vetores dos cuidados prestados pelo IJF, tornando-o esteio de um quadro que se

intensifica ao longo dos anos. As principais demandas são os diversos tipos de

violência, entre elas a que acontece no trânsito. De acordo com o Mapa da Violência

dos Municípios Brasileiros9 – 2013, o Ceará ocupa a décima quarta posição com

maior número de óbitos por acidentes de trânsito (dados referentes ao ano de 2011).

Quanto à violência, o Ceará é a décima primeira cidade e Fortaleza é o

oitavo município com maiores números de homicídio na população total conforme

dados de 2011 (CEBELA, 2013). Como bem coloca Medeiros (2009), o IJF lida em

seu cotidiano com diversas formas de expressão da questão social, que se

apresentam como agravos externos à saúde pública.

As mais evidenciadas expressões da questão social como explicitam os

dados coletados também em nossas observações de campo e em relatórios do

Serviço Social da Unidade Hospitalar, são as violências que envolvem as mulheres,

geracionais (crianças, adolescentes, jovens e idosos), tentativas de suicídio,

violência urbana e rural etc. Trataremos melhor dessas questões aos discutirmos no

próximo capítulo as demandas do Serviço Social no IJF.

O IJF apresenta seus indicadores os subdividindo entre acidentes de

trânsito, causas naturais, transtornos mentais, perfuração por arma branca e de

fogo, entre outros. O seu site oficial 10 elenca que em 2013 realizou 52.635

atendimentos. Os mais numerosos correspondem à violência no trânsito,

8 Disponível em: http://www.sms.fortaleza.ce.gov.br. Acesso em: 11/09/2013.

9 Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br Acesso em: 27/12/2013.

10 www.ijf.fortaleza.ce.gov.br Acesso em 09/11/2013.

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32

principalmente acidentes de motocicleta (9.102), agressão física (2.377), perfuração

por arma de fogo (2. 084) e quedas (9.397).

São em meio a esses índices, referenciados acima, que se subjazem as

expressões da questão social também já mencionada. Por exemplo, o termo

genérico para agressões físicas pode comportar violência contra a mulher, contra a

criança ou idosos. Ademais, as quedas também podem congregar negligência

contra esse público. A perfuração por arma de fogo é denotativa da violência urbana

incidente, antes de tudo, sobre a juventude urbana.

Como as expressões da questão social são objeto de intervenção do

assistente social e tendo em vista que essa profissão é o sujeito da pesquisa,

discutiremos em seguida como a categoria se insere no campo da saúde. Essa

temática também contempla Serviço Social do IJF, suas demandas e desafios em

contexto contemporâneo.

2. O SERVIÇO SOCIAL NA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR À SAÚDE

2.1 A inserção do Serviço Social na área da saúde: perspectivas e contexto

histórico.

O maior espaço sócio ocupacional atualmente para a categoria de

assistentes social, sem dúvida é a área da saúde. Segundo Cavalcante e Zucco

(2002), esse crescimento da inserção do Serviço Social na política de saúde foi

resultado de um processo sócio-histórico relevante, de um período de diversas

décadas. Para compreendê-lo, é necessário abordamos a história do Serviço Social,

sua institucionalização e expansão em meio à sociedade capitalista brasileira.

A origem da profissão está ligada à prestação de assistência aos pobres,

devido às consequências da Revolução Industrial e do surgimento do capitalismo no

Brasil (ESTEVÃO, 1998 apud MONTEIRO, 2013). Ainda segundo Estevão (1998),

enquanto o Estado tinha o objetivo de impor a paz política, afastando de si à

responsabilidade social, a Igreja fazia caridade, assumindo essa atribuição.

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33

Segundo Netto (1996), as protoformas que embasaram o Serviço Social,

em relação à formação profissional do assistente social no Brasil foram: a Doutrina

social da Igreja (com estudos baseados no tomismo e no neotomismo), o positivismo

(com a estrutura funcionalista) e o tecnicismo (com sua origem no Serviço Social

Americano, em que a tendência técnica é supervalorizada e autônoma). Essas

características marcam a profissão até a década de 1970. É possível ainda

identificar resquícios dessas ideologias até hoje no seio da categoria. (NETTO,

1996).

O Serviço Social, desde seu surgimento, apesar de não ser tão

expressiva inicialmente, sempre se aproximou do campo da saúde (BRAVO &

MATOS, 2009). Conforme aponta Iamamoto e Carvalho (2011, p. 194), quanto à

inserção dos assistentes sociais no campo identificado como médico “[...] as

iniciativas eram extremamente embrionárias e estavam ligadas também inicialmente

à puericultura11 e a profilaxia de doenças transmissíveis e hereditárias”.

Nesse período, a partir da quarta década do século XX, a atuação

profissional era caracterizada por um viés assistencial e controlador, o que favorecia

o desenvolvimento industrial e consequentemente do capitalismo monopolista,

disciplinando o individuo e o adequando aos padrões vigentes na sociedade

(MIRANDA; CAVALCANTE, 2007).

Segundo Lessa (2003), o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo foi o primeiro a inserir assistentes sociais no seu

quadro profissional, isso em 1943. Vale salientar que o Serviço Social implantado

nos hospitais, a priori era considerado uma profissão paramédica, pois, conforme

Carvalho (apud LESSA, 2003, p.67), as doenças

Em geral trazem complicações psíquicas, sociais e econômicas que comprometem por muito tempo o equilíbrio da vida, senão de toda a família. Daí a necessidade da Assistente Social para auxiliar o médico, na sua função verdadeiramente humana de consolar quando cura apenas algumas vezes e aliviam muitas outras.

A ação pioneira do Serviço Social no Hospital das Clínicas da Faculdade

de Medicina de São Paulo, em 1943, denominado Serviço Social Médico, se efetivou

11

Atenção ligada ao desenvolvimento do ser humano, principalmente o infantil.

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34

mediante a racionalidade técnica, subsidiada pela discussão teórica do Serviço

Social de caso, grupo e comunidade. (BRAVO 2006). A reprodução das ações nas

décadas de 1940 e 1950 contemplava a lógica que permeava a categoria de um

modo geral, seus discursos tecnicísticas, focalistas e assistencialísticas. (IDEM).

Devido à medicina previdenciária, a partir de 1945, o campo da saúde

passa a ser o maior espaço socioocupacional para assistentes sociais (BRAVO &

MATOS, 2009). Todavia, esse campo para o assistente social se consolida

realmente na década de 1960 quando foi criado o Instituto Nacional de Previdência

Social (INPS) (IDEM). Houve a ampliação significativa das instituições vinculadas ao

INPS, em decorrência antes de tudo do crescimento econômico no período da

Ditadura Militar, que já abordamos no capítulo anterior. (IDEM).

Rememoramos que na década de 1960 ocorreu a unificação dos IAP’s no

INPS, em que nessa instância o assistente social tinha como público os

trabalhadores em geral assistidos pela previdência social (IDEM). Sendo assim, as

ações do Serviço Social eram voltadas para os dependentes, beneficiários e

segurados do INPS, na realização de programas sociais em planejamentos,

administração e execução de supervisão (COELHO, 2007 apud MONTEIRO, 2013).

Vale destacarmos que foi exatamente em meio a essa função dos IAP’s

em INPS que o Serviço Social foi oficializado enquanto curso de formação superior,

pela Lei nº 1889 de 1953 (FALEIROS, 1981). O Movimento de Reconceituação do

Serviço Social também se inicia em 1960. Este surge não apenas no Brasil, mas sim

na América Latina, tendo como precursor o Chile (OMENA, 2004). Esse Movimento

representa para a categoria processos de ruptura com o conservadorismo, em meio

a retrocessos e avanços, na construção de uma nova identidade profissional, que só

se efetiva de fato no final de 1980 (FALEIROS, 1981).

Outros momentos importantes merecem destaque, a saber: o Encontro

Regional de Escolas de Serviço Social no Nordeste em 1964, que representou como

sendo a primeira manifestação de critica ao Serviço Social tradicional (CASTRO,

2010). Já no ano 1979, foi realizado o chamado Congresso da Virada, III Congresso

Brasileiro de Assistentes Sociais (NETTO, 1996). Segundo o CFESS (2009, p.01),

esse Congresso teve o objetivo de “descortinar as novas possibilidades de análise

da vida social, da profissão e dos indivíduos com os quais o Serviço Social trabalha”.

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Um novo projeto de sociedade passa a ser construído a partir do fim do

regime ditatorial (CFAS, 1986). A categoria profissional passa a repensar suas

posições éticas, comprometendo-se com valores universais e com as lutas e os

movimentos sociais das classes subalternas (IDEM apud MONTEIRO 2013). Em

meados da década de 1980, as práticas profissionais, assim como as relações

sociais vieram se modificando, no entanto ainda coexistindo com o tradicionalismo.

Lessa (2011) registra a existência de duas vertentes que incidiam sobre o

trabalho das assistentes sociais na área da saúde nessa conjuntura em destaque, a

psicossocial e a de matriz histórico-estrutural. Bravo (1996 apud Lessa, 2011, p.83)

esclarece:

A histórico-cultural apresenta como questões centrais o compromisso com a classe trabalhadora, sendo importante desmistificar o caráter paternalista das ações desenvolvidas pela Instituição, no sentido de contribuir para o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre os direitos de cidadania [...]. Na psicossocial, foram salientados como eixos norteadores da ação: as necessidades emergentes da clientela no que se prefere à promoção, recuperação da saúde e reintegração social; a identificação e tratamento de problemas psicossociais.

Ou seja, não há uma ruptura abrupta, onde as assistentes sociais se

eximem de práticas conservadoras a partir de 1980, mas processos de

transformação ou mudança de pensamento e análise da realidade. Foi assim que,

como salienta Lessa (2011), o marxismo assume a hegemonia no âmbito da

profissão, através de múltiplos determinantes.

Bravo (1996), citada por Lessa (2011), declara que o Serviço Social não

participou do Movimento de Reforma Sanitária brasileiro, isso porque, segundo a

mesma, a categoria estaria muito envolvida no período da redemocratização com as

reflexões inerentes à profissão. Contudo, Lessa (2011) nos chama a atenção para a

necessidade de relativizarmos essa constatação, pois no Ceará há fortes evidências

dessa participação das assistentes sociais nas reivindicações referentes à saúde.

A partir do novo conceito de saúde elaborado na CF88, o Serviço Social

começa a se legitimar na área, tornando-se uma das categorias necessária para

atuar junto com uma equipe multiprofissional. Cavalcante e Zucco (2002, p. 282)

evidenciam:

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A inserção do Serviço Social tem se tornado necessária na promoção, proteção e recuperação da saúde em diferentes níveis do SUS derivada da adoção do conceito ampliado de saúde, que compreende o processo saúde-doença como decorrente das condições de vida e de trabalho.

O Serviço Social, no limiar dos anos de 1990, passou a resignificar

hegemonicamente suas ações no campo da saúde, direcionando-as para a sua

defesa como direito (MONTEIRO 2013). Para Costa (2009) o campo da saúde é o

que mais se amplia como espaço socio-ocupacional para o Serviço Social, isso em

decorrência da extensão da divisão sociotécnica do trabalho nesse campo e

questões problemáticas existentes hoje no SUS, incidentes sobre o direito à saúde,

tais exemplos são a burocratização, a escassez de recursos e o modelo biomédico.

Portanto, conforme Bravo e Matos (2009) são essas contradições

existentes no SUS que vão se colocando como demandas ao assistente social.

Lessa (2011), em se tratando dos desafios contemporâneos à profissão, estabelece

como necessário desnaturalizar a precarização dos serviços prestados à população,

as mudanças no mundo do trabalho, as contrarreformas neoliberais, a pré-noção da

subalternização do usuário, tido como paciente; a cultura hospitalocêntrica etc.

O enfrentamento dos paradoxos atuais requer dos assistentes sociais

investimento na compreensão da conjuntura, na articulação com outras categorias

profissionais, na produção de ações pedagógicas e políticas junto aos usuários,

entre outros. (LESSA, 2011). A máxima deve ser a defesa de um SUS universal,

equânime, integral e participativo, atentando para as dimensões materiais e

subjetivas que envolvem os espaços em que a categoria esteja inserida na saúde.

2.1.2 As Legislações que norteiam a atuação do assistente social na

saúde

Segundo a ABEPSS (apud CFESS, 2009), o Serviço Social no processo

de ampliação, renovação e consolidação do seu Projeto Ético-político, tem como

marcos regulatório o Código de Ética Profissional de 1993, a Lei que regulamenta a

profissão e as Diretrizes Curriculares. É importante situarmos que a profissão

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construiu a hegemonia contemporânea, com base na teoria marxista, também

mediante o seu arcabouço jurídico-legal.

O chamado Projeto Ético-político da profissão se fortalece através da luta

da categoria em defesa de uma prática profissional comprometida com os direitos

das classes dominadas, para tanto articulando as dimensões: teórico-metodológica,

técnico-operativa e ético-política (BARROCO, 2008). Afirma o CFESS (2009, p. 22):

Com o desenvolver do Projeto, a profissão ficou em evidência, pois se tornaram conhecidos seus objetivos e propósitos; sua pratica estruturada num Projeto de Profissão, pois o Projeto ético-político da profissão, construído nos últimos anos, pauta-se na perspectiva da totalidade social e tem na questão social a base de sua fundamentação.

O Código de Ética do Serviço Social de 1993 (CE93) resultou da revisão

do de 1986, em que a categoria assume um novo posicionamento diante da questão

social, respaldado pela defesa da classe trabalhadora. (BARROCO, 2008). O CE93

representou a sintonia do Serviço Social com novas concepções e visões de mundo,

pautados por uma ética humano-genérica, ou seja, na defesa de princípios como a

democracia, a justiça social, a cidadania, a construção de uma nova ordem

societária e a recusa de todas as formas de discriminação. (CFESS, 1993).

A Lei de Regulamentação da Profissão, também de 1993, estabelece as

competências e as atribuições privativas dos assistentes sociais. Essa normatização

contribui para a compreensão sobre a atuação dos profissionais nos diversos

campos sócio-ocupacionais, bem como se torna, junto com outras ferramentas

legais, um meio de negociação na legitimação da categoria. Na área da saúde, tanto

o Código, quanto a Lei de Regulamentação são aparatos legais importantes.

Além de legislações especificas do Serviço Social, é imprescindível que

os profissionais se apropriem das que envolvem as políticas sociais públicas, entre

elas as referentes ao SUS: as Leis Orgânicas (8.080/90 e 8.142/90), as normas

operacionais e outras diretrizes. Citamos também a resolução de n° 218/1997,

reconhecida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), em que apresenta o

assistente social como um dos treze profissionais de saúde de nível superior. A

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38

resolução n° 338/1997 do CFESS também reafirma o assistente social como

profissional da saúde.

Outras regulamentações equivalem à própria CF88, os Estatutos da

Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), do Idoso (10.741/03), da Pessoa com

Deficiência (7.6699/06), a Lei Maria da Penha (11.340/06) e demais da mesma

ordem. Esse conhecimento permite ao profissional fomentar o controle social pelos

usuários, criar estratégias de resistência diante do projeto privatista e potencializar a

aproximação da saúde com outras políticas sociais, através da intersetorialidade.

Outros significativos instrumentos são as resoluções do Conjunto

CFESS/CRESS, que visam tratar de questões que inquietam a profissão,

sinalizando nortes legais, resultados de exaustivas discussões coletivas. Entre as

produções do CFESS que fundamentam a atuação do Serviço Social, destaca-se os

“Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde”, que tem por

finalidade, como elucida o CFESS (2010, p. 12):

[...] responder [...] a um histórico pleito da categoria em torno de orientações gerais sobre as respostas profissionais a serem dadas pelos assistentes sociais às demandas identificadas no cotidiano de trabalho no setor saúde e àquelas que ora são requisitadas pelos usuários dos serviços, ora pelas empregadoras desses profissionais no setor [...]

O documento dos Parâmetros produz uma visão de totalidade sobre os

principais processos de trabalho na política de saúde. De início, aborda o significado

atribuído às conquistas que culminaram no SUS, a realidade contemporânea na

disputa entre o projeto de reforma sanitária e o privatista, e a história do Serviço

Social na saúde. (CFESS, 2010). A iniciativa foi produto do grupo de estudos

instituído pelo CFESS em 2008, denominado “Serviço Social na Saúde” (IDEM).

Como ações definidas destacaram-se: 1) atendimento direto aos usuários,

2), mobilização, participação e controle social; 3) investigação, planejamento e

gestão; 4) assessoria, qualificação e formação profissional. (CFESS, 2010). No

atendimento direto ao usuário, são apontados os subitens: ações socioassistenciais,

socioeducativas e as de articulação com a equipe de saúde. (IDEM).

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Nos Parâmetros, o CFESS (2010) destaca que as ações desenvolvidas

pelos assistentes sociais devem transpassar o caráter emergencial e burocrático,

tendo um viés socioeducativo. Salienta ainda que o profissional deva transparecer

clareza das suas atribuições e competências para estabelecer prioridades de

estratégias para resolucionar às demandas trazidas pelos usuários.

2.2. O Serviço Social do IJF12: considerações sobre a sua realidade atual

Em 1963 foi implementado o setor de Serviço Social do Instituto Dr. José

Frota. Este ano o mesmo realizou 50 anos de história, o que evidencia uma inter-

relação com a própria história de inserção da categoria na atenção em saúde do

estado do Ceará.

Atualmente, a sua missão é a garantia do direito à saúde, contando com

uma equipe de 42 profissionais, sendo 32 assistentes sociais e 10 auxiliares

administrativos. O trabalho funciona em regime de plantão, com atendimento

24horas, somando em 2013 uma média de 18.000 (dezoito mil) atendimentos por

mês, segundo estatísticas elaboradas pela gestão do setor.

O profissional de Serviço Social atua nas unidades da Unidade Hospitalar,

a saber: emergência, clínicas de internação, Sala de Recuperação, Unidade de

Terapia Intensiva (UTI), Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), Centro

Cirúrgico, além de assistir o ambulatório de retorno dos usuários. Atende ainda

usuários externos que adentram ao IJF, explicitando demandas espontâneas, como

pessoas em situação de rua.

O Serviço Social tem atuação significativa na Comissão Intra-hospitalar

da Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), por sua tradição na

questão da entrevista para doação de córneas e múltiplos órgãos. Nesta atividade, o

assistente social contribui com a captação de órgãos, oferecendo apoio, acolhimento

e informações à família no momento da decisão sobre a retirada dos tecidos e/ou de

órgãos, baseadas na legislação que regulamenta o transplante no país.

12

As informações presentes neste tópico foram coletadas em documentos institucionais, produzidos pelo Serviço Social do IJF.

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A atuação do Serviço Social é transversal a todos os setores da

Instituição, realizando a mediação entre as famílias e a equipe multiprofissional,

assegurando informações, orientações, apoio aos usuários e encaminhamentos a

outras políticas sociais públicas. Entende que a saúde perfaz uma série de

determinantes sociais e econômicos, como estabelece a Lei Orgânica 8.080/90. O

Serviço Social é a porta de entrada e acolhimento das principais demandas sociais

dos usuários.

Como pressuposto das intervenções profissionais, as assistentes sociais

do IJF visam identificar o contexto e as condições de vida e de trabalho dos

usuários, bem como os determinantes e condicionantes dos traumas em saúde. Em

face do enfrentamento das expressões da questão social, articula-se com as redes

de atenção e proteção social, além de estabelecerem parcerias com as

organizações da sociedade para possibilitar respostas que o poder público ainda

não assegura. Acrescenta uma das assistentes sociais entrevistadas, a seguir:

Acho que a assistentes sociais têm feito um trabalho bastante articulado com três políticas: que é a própria saúde dentro da própria rede, com a assistência e com a previdência. Eu consigo perceber a materialização dessas três políticas. Elas demandam, elas clamam uma intervenção. Então pra que eu possa te elencar exatamente quais são as atividades sócio assistenciais, eu teria que citar vários serviços, programas e projetos, como por exemplo, a questão da assistência, dos encaminhamentos, o acesso aos direitos previdenciários auxilia reclusão, auxilio doença e vários outros (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº1).

O setor desenvolve suas atribuições profissionais considerando o caráter

transversal da política de saúde pública, tendo por base as ações estabelecidas nos

“Parâmetros para a Atuação dos Assistentes Sociais na Política de Saúde” (CFESS,

2010). Quando às ações socioassistenciais, no atendimento direito aos usuários,

podemos referenciar a gerência de situações relativas ao acesso-exclusão aos

serviços prestados pelo IJF, além do acompanhamento ao familiar dos pacientes

internados, objetivando fortalecer os vínculos para garantia dos cuidados em saúde.

O CFESS (2010, p. 42) expõe como as principais expressões da questão

social no que corresponde a necessidade das ações socioassistenciais pelo Serviço

Social:

Entretanto, novas contradições são criadas com a contrarreforma na saúde, que tentam não viabilizar o SUS constitucional, acarretando, no cotidiano

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dos serviços, diferentes questões operativas: demora no atendimento, precariedade dos recursos, burocratização, ênfase na assistência médica curativa, problemas com a qualidade e quantidade de atendimento, não atendimento aos usuários.

O IJF não está alheio à referida conjuntura, onde cotidianamente se

vivencia a superlotação, muitas vezes até a negligência quanto aos direitos do

cidadão. Logo, diante de tais situações, as assistentes sociais necessitam pôr em

movimento uma série de estratégias e articulações, a fim transpor o caráter

emergencial e burocrático, o que é extremamente desafiador no ambiente hospitalar.

Nesse momento, observamos em campo que as profissionais nas clínicas

de internação do IJF aplicam formulário de entrevista, para avaliação

socioeconômica dos usuários, democratizam informações sobre a Instituição e sobre

a rede de atenção em saúde, assim como sobre outras políticas sociais; conhecem a

dinâmica institucional e se articulam para a ampliação aos serviços prestados.

Apesar dos desafios, existe uma sistematização dessas rotinas no cotidiano do IJF.

Como a Unidade Hospitalar lida com muitas situações de violência e

negligência é importante mencionarmos os encaminhamentos que o Serviço Social

realiza para os Conselhos Tutelares, para as Promotorias, entre elas à de Defesa da

Saúde Pública, para as Defensorias Públicas etc. No que se refere a essas

situações de violências podemos citar a contra crianças e adolescentes e contra

idoso, em que são preenchidas as notificações de maus-tratos e dado o devido

encaminhamento. Esse trabalho é de extrema importância para movimentar a rede

de atenção jurídica destinada à proteção da população em vulnerabilidade social e

físico-emocional.

Outras duas nuanças do atendimento direto ao usuário são as ações

socioeducativas e as de articulação com a equipe de saúde (CFESS, 2010). As

socioeducativas são inerentes aos processos de trabalho do Serviço Social. No IJF

são utilizados para tanto folder, informativos, banners e a linguagem, principal

instrumento da profissão, como afirmam Iamamoto e Carvalho (2011). É

extremamente fundamental a atualização do conhecimento e a estimulação da

consciência crítica dos usuários diante da realidade e seus paradoxos.

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Essas ações [socioeducativas] consistem em orientações reflexivas e socialização de informações realizadas por meio de abordagens individuais, grupais ou coletivas ao usuário, família e população de determinada área programática. Devem-se constituir em eixo central da atuação do profissional de Serviço Social e recebem também a denominação de educação em saúde. (CFESS, 2010, p. 54-55).

Devido, entre outros aspectos, a dinâmica intensa de usuários,

identificamos a necessidade de um investimento maior por parte das assistentes

sociais na realização de grupos de educação em saúde. Porém esses acontecem,

mesmo que ainda de forma pontual, não assumindo sistematicidade nas clínicas.

Um dos maiores desafios, contatado no período em que estagiamos e nos

dias em que realizamos a observação direta, foi a articulação com a equipe de

saúde. O IJF ainda é uma Instituição de forte presença das relações de poder, mais

precisamente do poder biomédico, por não ter se distanciado plenamente da cultura

curativa, que marca a história da atenção em saúde no Brasil. Existe uma equipe

multiprofissional, no entanto ainda sem características interdisciplinares. Tais ações

são fragmentadas, exercidas por profissionais em específico e não como rotina.

Outra questão que necessitamos abordar corresponde à qualificação e a

formação das assistentes sociais pesquisadas. A entrevistada nº 2 aponta:

[...] a gente está participando de uma qualificação sobre direitos previdenciários. Inclusive amanhã à tarde a gente vai ter mais um módulo, é bem interessante. E quanto a isso a gente da contemplado sim, está acontecendo cursos (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 2).

Esse curso referido estava sendo, no momento de realização das

entrevistas, proporcionado à equipe do Serviço Social, resultado da sua própria

iniciativa em atualizar-se acerca da previdência social, já que lidam constantemente

com esse tipo de orientação. As principais informações versam sobre auxílio

doença, Benefício de Prestação Continuada (BPC), licença, pensão, entre outros.

Foi possível constatar nas falas das assistentes sociais participantes

deste estudo o conhecimento sobre o SUS e seus princípios. Quando indagadas

sobre os desafios enfrentados para a materialização dos mesmos, algumas

responderam:

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Assim, vários são os princípios, mas acho que os mais difíceis são o da integralidade, como já mencionei, e o da universalidade. Universalizar nosso atendimento, considerando tudo àquilo que já citei, como uma demanda muito grande e uma oferta de serviço bastante simplificado/ escasso. Então, acho que a universalidade é um grande desafio, pois infelizmente teremos que utilizar um ou outro princípio [...]. Como a questão da equidade, onde vamos priorizar aqueles que ‘nada tem’, ainda mesmo sabendo que todos têm direito de acesso a saúde (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 09).

Acredito que um dos desafios de se materializar os princípios do SUS, são justamente as políticas de corte neoliberal, já que o SUS está na contramão dos interesses econômicos capitalistas e neoliberais, o SUS defende o desenvolvimento dos serviços públicos e a saúde como um direito; a política neoliberal defende a privatização ou terceirização destes mesmos serviços e a saúde como uma mercadoria (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 11).

Acima, as profissionais ratificaram alguns dos assuntos que tratamos no

capítulo anterior desta produção científica, principalmente em se tratando das

contrarreformas do Estado e seus impactos sobre o SUS. Ressaltaram a dificuldade

em universalizar a atenção em saúde e as contradições em garantir o atendimento

de todos, independentemente da situação socioeconômica. A entrevistada nº11

apontou que visualiza no IJF as prerrogativas neoliberais, tornando evidente o

embate entre o projeto de reforma sanitária e o projeto privatista na Instituição. É

importante esse olhar sobre a realidade, que demonstra a atualização das mesmas.

Nessa perspectiva, os resultados da coleta de dados provenientes das

entrevistas demonstraram que as assistentes sociais possuem uma concepção

ampliada acerca da saúde. Estas a definiram para além das questões biomédicas

ou curativas, conseguindo associá-las aos seus condicionantes e determinantes

sociais. Citamos três falas das entrevistas, a saber:

A saúde segundo a Constituição Federal é direito de todos e dever do Estado, uma política de direito de todos. E é nossa função como Assistentes Sociais garantir a totalidade da saúde (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 02).

Considerando a saúde, eu particularmente percebo a saúde em uma perspectiva única para a integralidade, de perceber o individuo na sua essência biopsicossocial. Não se pode considerar o individuo como uma questão da saúde, especificamente da doença. Então, essa tentativa de saúde, eu particularmente percebo vinculado ainda ao movimento sanitarista. Em minha opinião, existe uma dificuldade muito grande das pessoas em relação a perceber o individuo em sua totalidade. O que geralmente prevalece é essa visão do sujeito que está doente, até dentro do próprio serviço social. Que na verdade, acho que a gente, enquanto

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categoria dentro da unidade hospitalar, nosso grande desafio é fomentar essa nova perspectiva da saúde; é difundir dentro das categorias profissionais essa dimensão da saúde de perceber o individuo em sua totalidade. Uma coisa que não é fácil, que não é cultivada, que embora exista teoricamente vários estudiosos nesse cenário, há uma dificuldade de materializar isso no cotidiano. O que se percebe na prática é essa visão fragmentada do individuo. E se você percebe o individuo dessa forma, não se pode dar uma resposta totalitária a suas necessidades (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 04).

Minha compreensão sobre saúde não se limita somente a ausência da saúde física, mas também a psicológica, o social e a emocional dos usuários, sejam os pacientes, sejam os acompanhantes (Assistentes Social, entrevistada nº 06).

Embora tenha sido afirmado pelas entrevistadas que existe uma série de

contradições que perpassam o cotidiano do IJF, sob a égide de um Estado

neoliberal, muitas profissionais salientaram os avanços relativos à saúde pública no

Ceará, tendo como referência a própria Unidade Hospitalar. Vejamos:

O IJF é um hospital de alta complexidade e aqui no Ceará não tem nenhum outro hospital particular ou público com uma estrutura como a do Instituto Dr. José Frota. Ele é o hospital mais completo que existe. Então entendo que é extrema sua importância, nenhum outro hospital cobre o que o IJF cobre (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 01).

Nos atendimentos, é possível perceber que até mesmo algumas pessoas que teriam condições de ter acesso à saúde privada, têm buscado o IJF [...] eu, particularmente, me consultaria no IJF [...] eu acredito que o serviço traumatológico do IJF é o melhor de fortaleza (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 04).

O IJF, sem sombra de duvidas é o melhor hospital especializado em trauma do nosso estado. Entretanto, ter os melhores profissionais, os melhores equipamentos e suportes técnicos não são o suficiente para a garantia do melhor atendimento. Infelizmente temos que enfrentar uma excessiva demanda que compromete os serviços aqui prestados (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 08).

Prontamente, fundamentamos que o Serviço Social esta em busca da sua

legitimação no IJF, isso mediante a sua capacidade de dar respostas às demandas

postas, a sua organização dos seus processos de trabalho e, antes de tudo, pela

sua imagem construída social e profissionalmente. A complexidade da dinâmica

hospitalar, bem como a conjuntura, torna desafiadora a atuação das assistentes

sociais, que resistem na perspectiva de garantia e ampliação dos direitos dos

usuários. Sobre o assunto, destacam:

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A principal atribuição do Serviço Social do IJF é a garantia de direitos. É identificar uma realidade vivenciada pelos usuários e a partir daí visualizar o leque de possibilidades de encaminhamentos, de acompanhamento. Garantir direitos não só dentro da instituição, mas também em articulação com a rede socioassistencial (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 05).

[...] a nossa grande competência, enquanto dever é de garantir os direitos sociais. E como garantimos isso? Fazendo valer todos aqueles valores macros: de justiça social, de ética dos direitos sociais, do acesso a saúde em sua forma realmente totalitária, ou seja, em toda a sua dimensão biopsicossocial. Então, acho que isso realmente é o nosso dever, mas isso não é privativo. No entanto, enquanto compromisso ético-politico nós temos o dever de fomentar essa discussão, ainda que todos compartilhem de forma antagônica. (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 08).

Logo, concluímos, diante de tais ações desenvolvidas pelo Serviço Social

do IJF, que a atuação das assistentes sociais coaduna com os Parâmetros

direcionados ao exercício profissional na área da saúde (CFESS, 2010), estes

registrados em planejamentos e outros documentos. A seguir, nossa reflexão se

destinará a compressão sobre o lugar da ética profissional nesse contexto.

3. O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL E OS DESAFIOS DA

ÉTICA PROFISSIONAL NA ÁREA DA SAÚDE

3.1 A ética profissional e o Serviço Social brasileiro: dilemas, equívocos e

avanços na histórica e na contemporaneidade

A formação da ética profissional do Serviço Social em sua gênese,

considerada como tradicional ou mesmo conservadora, é marcada em seu processo

histórico de ruptura pela via da militância (BARROCO, 2008). De início, a profissão

vai se constituindo por mulheres da burguesia, que se reuniam a partir do

engajamento com a igreja católica. Na época, como afirma Barroco (2008), o Serviço

Social se pautava pela manutenção da “ordem” e resolução dos problemas sociais.

A atuação do Serviço Social na sua origem no Brasil era limitada, tendo

por objetivo ajustar os indivíduos ao considerado como normal (IAMAMOTO E

CARVALHO, 2011). Portanto, como pontua Iamamoto (1992, p.20):

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A profissão não se caracteriza apenas como nova forma de exercer a caridade, mas como forma de intervenção ideológica na vida da classe trabalhadora, com base na atividade assistencial; seus efeitos são essencialmente políticos: o enquadramento dos trabalhadores nas relações sociais vigentes, reforçando a mútua colaboração entre capital e trabalho.

Como princípios e diretrizes ético-morais, o que a profissão defendia com

base no tomismo e no neotomismo era o respeito à lei de Deus, ao bem comum, à

dignidade da pessoa humana, à caridade cristã (BARROCO, 2008). As pessoas que

não se enquadrassem nos padrões morais católicos eram denominadas de

desajustadas, cabendo ao assistente social traçar um “plano de disciplinamento”.

(IDEM).

A primeira formulação do Código de Ética do Serviço Social ocorreu no

ano de 1947 (CE47). Este representou uma resposta à exigência de configuração de

uma axiologia, ou seja, um estudo de um conjunto de valores com os quais os

profissionais se comprometiam, com o objetivo de regulamentar o exercício

profissional (BRITES; SALES, 2000). O CE47, em sua elaboração e texto, é reflexo

da ideologia que sustentava a atuação do Serviço Social na época:

Cumprir os compromissos assumidos, respeitando a lei de Deus, os direitos naturais do homem, inspirando-se, sempre em todos seus atos profissionais, no bem comum e nos dispositivos da lei, tendo em mente o juramento prestado diante do testemunho de Deus. (CFESS, 1947).

Não havia a celebração de enfrentamentos sociais e profissionais, visto

que o Serviço Social das damas da sociedade buscava favorecer o crescimento

capitalista e industrial. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2011). Assim, na verdade, o que

se reproduzia era o controle pela moralização dos costumes e responsabilização dos

sujeitos pelas desigualdades sociais que assolavam a sociedade naquele período.

(IDEM). Barroco (2008) adiciona que o que se prezava, antes de qualquer coisa, era

a dignidade nas relações humanas e o conformismo diante das contradições sociais.

Portanto, a ética profissional não era tratada como expressão de valores

humano-genéricos, o que se construiu foi uma moralização associada ao termo. Na

década de 1960, como já expusemos em momentos anteriores, na América Latina

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surge o Movimento de Reconceituação (MR), que no Brasil se configurou como de

extrema importância na efetivação de uma análise interna acerca do Serviço Social.

Netto (2007) afirma que o MR assumiu três momentos nos debates

brasileiros: 1) modernização conservadora; 2) reatualização do conservadorismo e

3) intenção de ruptura. Barroco (2008) afirma que os Códigos subsequentes ao de

1947, o de 1965 (CE65) e de 1975 (CE75) se pautaram na primeira vertente, que é

dotada de um caráter modernizador, funcionalista e tecnicista. São representativos

desse momento os documentos de Araxá (1967) e Teresópolis (1970).

Logo, o MR propiciou que o Serviço Social passasse a discutir seus

pressupostos, seus objetivos profissionais e os seus processos metodológicos, no

entanto no decorrer das décadas de 1960 e 1970 o que vai prevalecer são

discussões tradicionais, de bases teóricas acríticas e a-históricas. O CE75 é um

exemplo dessa constatação, como explicitam Brites e Sales (2000 p.34-35):

No Código de Ética de 1975, aprofundaram-se, sobretudo, os vínculos teóricos metodológicos do Serviço Social com o estrutural-funcionalismo, expressando o adensamento da lógica racionalista, cientificista, asséptica e a-histórica, como parâmetros técnico-operativos ao desencadeamento da prática profissional.

Essa tal ética conservadora só passa a sofrer mudanças, em face das

alterações conjunturais, em uma época em que Barroco (2008) descreve como

propícia, devido à dinâmica da sociedade. Logo, os questionamentos de caráter

ético, denotativos de uma reflexão que aproximasse a categoria de valores

universais, só ensaia a acontecer no final da década de 1970, com a apropriação

pelo Serviço Social da teoria marxista, embora de início também perpassada de

equívocos. (IDEM). Nessa discussão, Barroco (2008, p.103) define:

Consideremos que a construção de uma nova mentalidade, nos anos 70, vincula-se a duas dimensões da vida profissional: a da vida cotidiana, espaço da singularidade e do enfrentamento de conflitos éticos e de questionamentos em face do papel feminino, do preconceito e do moralismo, o que põe condições para uma reflexão crítica, capaz de midiatizar os questionamentos empíricos; e a dimensão das intervenções práticas – a participação cívica e política – capaz de vincular a profissão a projetos sociais democráticos, permitindo a ampliação de uma consciência ético-política e a construção de uma moralidade fundada na liberdade.

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No mesmo período em que o Serviço Social se aproxima das discussões

marxistas, a sociedade no final de 1970 e na década de 1980, despertava através da

reivindicação pela redemocratização. Ademais, segundo Medeiros (2009), no Brasil

tais movimentos contestatórios potencializaram também mudanças internas na

Igreja Católica, principalmente desencadeada pela juventude que a representava.

Como aponta Barroco (2008, p. 106):

A aproximação entre a juventude e a Igreja propicia a emergência de um ethos militante caracterizado pela recusa ética da ordem social burguesa, entendida como um sistema injusto. È nessa perspectiva que se evidenciam as tentativas de vinculação entre o pensamento cristão e o marxismo.

Para Netto (2007), apesar de a Ditadura Militar ter sido expressão de uma

repressão violenta aos movimentos sociais e quaisquer formas de oposição, esta

também foi espaço de ampliação dos campos sócio-ocupacionais do Serviço Social.

O autor (2007) salienta que nesse âmbito ocorreu a sua inserção acadêmica e nesse

contexto se edificou as suas revisões teórico-metodológicas e ético-políticas.

Destacamos que o mais relevante consistiu em explicitar diferentes projetos

profissionais, distanciando-se da homogeneização de outrora. (NETTO, 2007).

Surge no seio da universidade, na experiência nos anos de 1972 a 1975,

o chamado método de BH, construído na cidade de Belo Horizonte. Netto (2007,

p.261) elucida:

[...] os jovens profissionais reunidos em Belo Horizonte explicitam uma crítica teórico-prática ao tradicionalismo profissional e propõem [...] em seu lugar uma alternativa global: uma alternativa que propõem romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano da concepção e da intervenção profissional e no plano da formação.

Ainda que esse método traga como característica uma perspectiva de

transformação, é visível sua pontualidade, com relação à prerrogativa da

reatualizaçao do conservadorismo (MEDEIROS 2009). A própria aprovação do

CE75, é expressão dessa contramão, onde se apresenta como valor central da

profissão a pessoa humana, como princípio personalista, objeto e fim da vida social.

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Nessa construção da ética profissional do Serviço Social, insurge um

grande acontecimento que propiciou o aprofundamento do movimento de renovação

do Serviço Social, o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, no ano de 1979.

Esse evento ficou mais conhecido como “Congresso da Virada”, pelo seu aspecto de

contestação e vontade de transformação da profissão. Assinala Barroco (2008, p.

167-168) sobre esse momento histórico:

A partir desse marco, no contexto da reorganização política da sociedade civil, em defesa da redemocratização e da ampliação dos direitos civis e sócio-políticos, os valores ético-políticos inscritos no projeto profissional de ruptura, adquirem materialidade, o que se evidencia na organização política da categoria, na explicitação da ruptura com o tradicionalismo profissional e no amadurecimento da reflexão de bases marxistas.

O Código de Ética de 1986 (CE86) configurou-se como um dos

dispositivos sistematizadores das discussões e debates acerca dos novos

paradigmas e posições assumidos pelo Serviço Social – expressão formal da ruptura

ética com o tradicionalismo (BARROCO, 2008). Barroco (2008) assinala o peso da

influencia marxiana e gramsciana nesse processo, não apenas no que tange ao

novo código, acima assinalado, mas também na reformulação curricular de 1982.

Em se tratando dos equívocos cometidos, Medeiros (2009) informa que

esses residiam na perspectiva mecanicista de atribuir aos (às) assistentes sociais a

condição de intelectuais orgânicos do proletariado, sem uma análise mais profunda

e autêntica das mediações a que Gramsci atribui a esse papel. Essas ainda foram

marcas do marxismo althusseriano, primeira análise difundida no Serviço Social

acerca das discussões empreendidas por Marx. (BARROCO, 2008).

Apesar da profissão de posicionar pela defesa da classe trabalhadora no

CE86, sob orientação marxista, assinala Barroco (2008, p. 175), “[...] não consegue

superar a visão presente no marxismo tradicional: a que reduz a ética aos interesses

de classe [...]”. Portanto o problema não é em si o compromisso com a classe

trabalhadora, mas o modo como este é explicito no CE86. Como aponta Barroco

(2008, p. 177),

O Código de 1986, expressa uma concepção ética mecanicista; ao derivar, imediatamente, a moral da reprodução econômica e dos interesses de classe, não apreende as mediações peculiares e dinâmicas da ética. Ao vincular, mecanicamente, o compromisso com a classe trabalhadora, sem

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estabelecer a mediação dos valores próprios à ética, reproduz uma visão tão abstrata quanto a que pretende negar.

Diante do exposto, evidenciou-se a necessidade de revisão do texto

elaborado no referenciado Código, tendo em vista as mudanças a que vinham

vivenciando a população brasileira (redemocratização) e o amadurecimento acerca

das discussões sobre os valores ético-morais. É aprovado então o Código de Ética

em 1993 (CE93), atual, tendo como umas das justificativas:

[...] Objetivar com mais rigor as implicações dos princípios conquistados e plasmados naquele documento, tanto para fundar mais adequadamente os seus parâmetros éticos quanto para permitir uma melhor instrumentalização deles na prática cotidiana do exercício profissional. (CFESS, 1993, p. 02).

O CE93 lança mão de uma séria de princípios que demarcam o

posicionamento do Serviço Social em favor de valores emancipatórios, condizentes

com uma visão humano-genérica para si dos homens em suas relações sociais.

(PAIVA; SALES, 2006 apud MEDEIROS, 2009). Ademais, garante parâmetros de

atuação, com vistas a normatizar a conduta dos (as) assistentes sociais quanto à

qualidade dos serviços prestados à população e outros – assinalado o que lhes é

vedado, seus deveres e direitos.

Em se tratando da política de saúde, é possível ratificarmos que as

proposições enunciadas no Projeto Ético-político do Serviço Social e consolidadas

no CE93 tem relação com os princípios que demarcam o Movimento de Reforma

Sanitária brasileiro. Ambos se posicionam em defesa da universalização do acesso

aos serviços públicos, por meio de ações efetivas do Estado, já que sua

implementação destina-se a amenizar as diferenças e injustiças provenientes das

contradições que permeiam a sociedade do capital, ampliando o exercício da

cidadania. (BRAVO, 2008).

De acordo com Netto (2006), os valores, as ideias, a ética e política, que

caracterizam o Projeto Ético-político do Serviço Social assinalam o compromisso

com os interesses da classe trabalhadora brasileira, contrapondo-se ao projeto

neoliberal. O autor (2006) ainda aponta que é um desafio muito grande para a

categoria dos assistentes sociais a defesa de um novo tipo de sociedade, haja vista

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a realidade atual, de fortes ofensivas do capital, embora isso acabe legitimando

ainda mais essa concepção de mundo progressista da profissão.

Segundo CFESS (2009), face aos compromissos do conjunto CFESS-

CRESS, com os princípios e diretrizes do SUS e a preocupação histórica com a

atuação do assistente social na saúde, afirma-se a necessidade da articulação entre

a atenção às requisições profissionais e o Projeto Ético-político da profissão. A

finalidade é que se produzam respostas profissionais qualificadas aos usuários e às

instituições, contrapondo-se às abordagens tradicionais e pragmáticas.

No âmbito da saúde aponta-se a necessidade de o assistente social fugir

das armadilhas das concepções pessimistas e maniqueístas, que não identificam as

potencialidades e não permitem análise das contradições (CFESS, 2009). Portanto

há a necessidade de se romper com a prática rotineira, burocrática e acrítica,

buscando investigar a realidade social dos usuários, apoiando-se nos referenciais

teóricos, ético e políticos da profissão e, no caso do campo da saúde, no Projeto de

Reforma sanitária (IDEM).

3.2 A possibilidade e as contradições postas à materialização da ética

profissional nas clínicas de internação do IJF

O que é Ética Profissional? Esse questionamento foi feito às profissionais

do IJF, a fim de verificarmos o significado atribuído por estas a essa categoria.

Segue abaixo três das principais falas:

Ética profissional é a gente ter conhecimento do código de ética do Assistente Social e fazer cumprir o Projeto ético-político na nossa prática (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 03).

Ética, pela palavra, é o estudo da moral, onde nos reportamos à questão de valores. Então, ética, para mim, é fundamentalmente alguns valores. E nós, por exemplo, temos nossos valores individuais, que foram decorrentes de toda a nossa história enquanto sujeito. Mas na verdade existem valores universais, e como profissionais nós temos que perseguir esses valores universais, que especialmente são os valores que estão na constituição, os valores dos direitos humanos, enfim, esses valores que estão agregados e tipificados no nosso código de ética. A questão da ética profissional é

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basicamente o respeito a esses valores universais e especialmente aos que estão compilados no nosso código de ética (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA, Nº 06).

Ética, é uma reforma íntima, uma reforma do ser. E a ética profissional é uma reforma nas profissões a partir de dispositivos legais, de valores e de projeto político. Se eu sou comprometida com o usuário, se a minha formação política e ideológica está voltada, digamos assim, para a promoção do meu usuário eu tenho então um posicionamento ético diferenciado. Se o meu compromisso é com capital, então eu vou agir de outra forma. Eu só acho que nós precisamos fazer isso de forma consciente. Eu respeito perfeitamente os compromissos ético-políticos de acordo com as categorias profissionais e os interesses políticos. Um exemplo prático, se eu sou comprometida com o capital, se eu sou uma assistente social comprometida com esses valores, que a minha prática seja realmente concernente a isso. Que eu não tente, por exemplo, fazer um arranjo profissional mesclando uma coisa a outra. Mas se eu sou comprometida com o usuário, é evidente que o meu fazer profissional vai ser voltado à promoção do acesso aos direitos e eu vou confrontar com o capital (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 09).

Todas as profissionais entrevistadas se reportaram ao CE93 como

importante para a efetivação da ética profissional. Como podemos ver no exposto na

primeira e última fala citadas, o Projeto Ético-Político se apresenta como um norte

no exercício da reflexão ética, principalmente por representar valores importantes e

universais. Para Barroco (2008), ética profissional é uma dimensão da profissão

vinculada organicamente às dimensões: teórica, técnica, política e prática. Suas

especificidades são dadas pelas particularidades das ações ético-morais.

Barroco (2008) reporta que a moral envolve a dimensão normativa,

enquanto que a ética se expande para o espaço de realização da liberdade. Ou seja,

é mediante essa concepção de ética profissional que a autora explicita que esta

perfaz três dimensões importantes no âmbito do Serviço Social: 1) a esfera teórico-

metodológica, 2) a moral prática e 3) a esfera normativa (IDEM). Assinala ainda

(2008) que tais componentes são imprescindíveis ao exercício profissional

comprometido com valores defendidos hegemonicamente pela categoria.

Em se tratando da esfera teórico-metodológica, esta diz respeito, em

relação à ética profissional, a orientações filosóficas e estratégias empreendidas

através de processos de trabalho que sirvam de base para a compreensão e

reprodução social de valores e princípios humano-genéricos (BARROCO, 2008).

Portanto, o que é relevante no âmbito dessa discussão é os assistentes se

apropriarem do conhecimento, da capacidade reflexiva e da ação crítica.

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A esfera moral-prática tem intrínseca sintonia com a esfera teórico-

metodológica, e envolve os comportamentos, a interiorização dos valores e do

exercício crítico, a fim que estes se efetivem no cotidiano (IDEM). As pessoas, em

seu processo de socialização primária e secundária, incorporam normas do que é

certo e errado socialmente, todavia muitos delas podem coadunar com “desvalores”,

por representar alienação ou preconceito. Cabe ao sujeito ético se apropriar da sua

capacidade de valorização do ser humano genérico. (CHAUI, 2000). Os assistentes

sociais também se enquadram nessa configuração e necessitam se rever

constantemente e incorporar isso no plano da atuação profissional (prático-moral).

A esfera normativa expressa apenas formas de contribuir com a dinâmica

de materialização da ética profissional, ou seja, é considerada uma forma de

estabelecer parâmetros para a categoria e inclusive respaldá-la legalmente

(BARROCO, 2008). O Código de Ética (1993), a Lei de Regulamentação da

profissão (1993), as resoluções do conjunto CFESS/CRESS, entre outros, são

exemplos desse aparato normativo, que necessita ser apropriado e implementado.

São formas também de exteriorização do posicionamento do corpus do Serviço

Social, principalmente em volta dos dilemas da profissão e dos conjunturais (IDEM).

O Serviço Social como profissão tem fundamentos ético-políticos, cujas

determinações históricas são dadas pelas demandas que a legitimam na divisão

social e técnica do trabalho e pelas respostas da categoria aos desafios

contemporâneos (BARROCO, 2010). Com relação a essa discussão, indagamos nas

entrevistas se as profissionais possuem uma dimensão política e dimensão ética na

atuação nas clínicas de internação da instituição. Seguem os relatos abaixo:

Talvez do ponto de vista didático. Mas, eu percebo, por exemplo, se nós estamos falando com o mundo da subjetividade e dos valores, eu acho que isso está em crise. Acredito que a dimensão política permeia a dimensão ética e vice-versa, não há como fazer uma separação do ponto de vista operacional. Então evidentemente que o meu projeto político, como eu já disse anteriormente, vai me conduzir a um agir ético diferenciado. Aqui entra então as concepções ideológicas e as correntes, se eu de repente sou uma profissional com a visão, por exemplo, funcionalista, meu fazer ético com certeza vai expressar essas correntes ideológicas. Se de repente a minha posição está mais voltada a uma dimensão ética, materialista, histórica, toda essa concepção de uma sociedade para além desse capital, que eu acredito que é possível, e aqui já estou dizendo, mais ou menos, qual é a minha corrente, o meu fazer ético também vai ser diferenciado. Agora, eu não tenho um elemento, do ponto de vista doutrinário, sociológico (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 06).

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Sem dúvida! Entretanto existe a questão de “eu conheço fulano de tal”, e isso vai além do que nós podemos intervir. Se há uma fila de espera, por exemplo, e o usuário conhece uma pessoa, um médico, um diretor quem sabe, eu não tenho com intervir nisso. Ai perpassa a questão da ética com relação aos outros que aguardam a tal fila. Portanto isso é para além do que podemos intervir como ponta (ASSISTENTE SOCIAL, Nº 08).

No que diz respeito à dimensão ética materializo em meu exercício profissional respaldado nos princípios do nosso código de ética e quanto à dimensão política há sim, mas sempre sendo apartidária (ASSISTENTE SOCIAL, Nº 10).

As falas, de um modo geral, ressaltaram a relação da ética profissional

com o cotidiano de trabalho. A entrevistada nº6 ressaltou conhecimento sobre a

discussão, inclusive fazendo paralelo a princípios defendidos pelo Serviço Social. A

assistente social faz alusão inclusive a sua concepção ideológica de matriz marxista,

apontando que isso lhe propicia acreditar em outro tipo de sociedade, conforme um

dos princípios do CE93. A fala da entrevistada de nº10 também faz alusão o aparato

normativo como importante enquanto referência para a ética profissional.

O último relato, da entrevistada nº 08, aponta a cultura ainda clientelista, o

famoso “jeitinho brasileiro”, como negativo à ética profissional e como parte da

dinâmica institucional. Para Holanda (1997) essa “conduta de favores” faz parte da

cultura brasileira, repercutindo diretamente no serviço público. Em sua obra “Raízes

do Brasil”, ainda na década de 1930, o autor apontava as fortes marcas do “homem

cordial” sobre a realidade brasileira, em um liame tênue entre público e privado.

Barroco (2010) ressalta que a ética se objetiva na intervenção

profissional. Em suma, teoricamente a mesma se efetiva em um dado contexto

histórico, como resultado da liberdade, capacidade e potencialidades do coletivo de

assistentes sociais e da atuação em específico. Barroco (2010) elucida que não se

pode perder de vista nesse processo o ideário emancipatório, buscando alargá-lo

em suas bases sociais e políticas em todos dos espaços e em defesa dos usuários.

Outro relevante questionamento que elencamos na nossa entrevista com

as profissionais foi sobre a compreensão sobre o Projeto Ético-político do Serviço

Social. As falas versaram quer sobre os compromissos da profissão com o referido

Projeto, quer em se tratando dos desafios em efetivá-lo. Citamos algumas, a saber:

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O Projeto ético-político do Serviço Social tem um compromisso com a classe trabalhadora, tem um compromisso de classe, ele tem um direcionamento marxista, porém existe um respeito a pluralidade, tem a questão do respeito a diversidade humana, compromisso com a igualdade, enfim (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 03).

Acredito que ele é muito inovador. O nosso código realmente, do ponto de vista teórico, sinaliza para a emancipação do sujeito. Acho que ele precisa ser melhor difundido, melhor apropriado e aí eu volto, por exemplo hoje, como está a formação. Porque quando já estamos na pratica, não que eu esteja dizendo que exista uma separação entre teoria e prática, pois não existimos mesmo, nós nos modificamos nessa analise, nessa relação que a gente constrói no cotidiano, ou que pelo menos devemos construir no cotidiano. Mas a discussão teórica acadêmica é altamente importante e eu, particularmente, se voltarmos para o serviço social, eu percebo que nos últimos momentos existe uma formação muito precária dos profissionais e altamente precarizada no quesito discussão do projeto ético-politico, principalmente no ensino a distância, como hoje vem se materializando e eu digo isso porque já tive a oportunidade infeliz de orientar colegas, por exemplo, futuras colegas que atuarão como profissional e sequer tem essa reflexão, é altamente superficial, e não depende de receita. É isso que estou querendo dizer. Se não temos uma discussão sociológica e filosófica bastante aprofundada, se não conseguimos ter uma leitura de realidade mais ampla, mais totalitária, então nós não temos a capacidade critica de analisar e nem fazer esse projeto ético-politico acontecer (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 05).

Todo assistente social, que se preze, ou pelo menos pra se sentir realmente aceito no seio profissional, está sempre falando do projeto ético-politico. Mas o que significa esse projeto ético-politico no seu fazer profissional? Que contribuição você está dando, do ponto de vista concreto, para fazer esse projeto ético-politico acontecer nas relações e no cotidiano? Porque ele não acontece isoladamente, ele acontece na sua intervenção, na sua relação com o usuário, na relação com o seu colega, na sua relação com o seu chefe, enfim, na sua relação social. Como você pensa a sociedade? Como você pensa esse mundo para além do sistema capitalista? Na verdade, as pessoas estão muito acomodadas, eu recebo meu dinheiro e ponto. Dessa maneira, esse projeto vai acontecer? Não. O que estou fazendo para contribuir com esse processo de transformação social? Hoje em dia ninguém fala mais nisso. Antes, na época da minha formação, transformação social era o nosso “norte”. Não que fossemos fazer, mas isso era a grande referência (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 07).

A primeira entrevistada supracitada (nº03) expôs sua concepção

relacionada aos princípios mencionados no CE93. A entrevistada nº 05 associa o

Projeto Ético-político à ética profissional, isso em se tratando do cotidiano de

atuação dos assistentes sociais. Elencou como desafio o conhecimento sobre o

assunto por outros profissionais e o estabelecimento da relação entre teoria e

prática. Nessa mesma perspectiva, a assistente social pesquisada de nº07 suscita

uma série de questionamentos, a fim de problematizar como as discussões estão

acontecendo para o seu fortalecimento e atualização das suas possibilidades reais.

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Netto (2001) afirma por sua vez, que o Projeto para ser efetivado implica

num compromisso dos profissionais com a “competência” alicerçada no

aperfeiçoamento intelectual permanente. Só é possível viabilizá-lo a partir de uma

formação acadêmica qualificada com base em referenciais teórico-metodológicos,

críticos e sólidos que sejam capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade

social. (NETTO, 2001). Netto (2001) ainda afirma que o Projeto em questão deve se

sustentar na ressignificação da profissão e na permanente renovação do ethos

profissional em face da ratificação da direção social crítica, atualmente hegemônica.

Em se tratando da materialização do Projeto Ético-político do Serviço

Social no IJF, fazemos menção a seguinte fala da entrevistada nº11:

[...] Então é um “norte”, é direcionamento. Acho que projeto político acontece sim nas mentes e nos corações de quem acredita em uma sociedade para além da que estão As pessoas, às vezes, me perguntam por que ainda estou no serviço social. Porque eu acredito nisso. Eu não tenho mais as estratégias de lutas que eu tinha, mas também não me sinto uma pessoa que aderiu ao sistema vigente. Mas os fatores sociais, econômicos, familiares, fazem a gente repensar a nossa prática. Em alguns momentos, como eu disse, precisamos retroceder, mas eu estou no serviço social porque eu acredito na nossa contribuição, acredito que somos sujeitos nesse processo de transformação, assim como tantos outros. No entanto, pela nossa compreensão de mundo, eu acho que nós podemos dar uma contribuição maior. E penso que estamos dando, pelo menos eu acredito que estou dando, se não aqui na saúde publica, mas eu acho que o envolvimento com a assistência me faz me reconhecer nesse processo com mais propriedade. Então acredito que no meu exercício profissional isso acontece, pelo menos, para mim, acontece. (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 11).

É possível associarmos os elementos tratados pela assistente social

acima com a discussão de Iamamoto (1999), que afirma ser o grande desafio atual

torná-lo um guia executável para o exercício profissional, o que exige dos

profissionais um radical esforço de integrar o dever ser com sua implementação

prática. Iamamoto (1999) sugere que os profissionais disponham, dentre outros

atributos, de senso crítico sofisticado e de capacidade propositiva para desenvolver

ações direcionadas a democratização social.

Por fim, na última indagação do nosso roteiro de entrevista fomentamos

os discursos sobre os desafios vivenciados pela profissão, principalmente em se

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tratando da ética profissional e de forma mais ampla no que tange ao Projeto Ético-

político do Serviço Social. Vejamos alguns depoimentos, a saber:

Acho que o grande desafio, não do projeto ético-politico, mas é a questão da eterna luta de classes, por mais que você não a visualize, pelo menos, no cotidiano em alguns momentos sem uma analise mais acentuada da questão, a gente tende a não perceber mais essa questão. Mas nessa relação capital do trabalho, ela é muito intensa, então o grande desafio da materialização desse projeto é o próprio sistema capitalista. São as relações sociais que o permeia, que dificulta muitas vezes até esse olhar do profissional, que muitas vezes a gente precisa olhar de outra forma para sobreviver. Eu sempre digo, quando falo do usuário do Bolsa Família, nós Assistentes Sociais estamos quase sendo beneficiadas do Bolsa Família. Então, daqui a pouco nós seremos os próprios usuários da política de assistência. Então, diante dessa situação, da precariedade das relações de trabalho, da questão do acesso ao trabalho com vínculos legais, de acesso a direitos, de garantias trabalhistas, que a gente não tem. Os profissionais vivem em uma relação tão precária, que muitas vezes não conseguem, por exemplo, materializar isso no cotidiano. Porque diante dessa relação de poder, esse profissional, ele se coloca em um local de sobrevivência, e aí ele cede. Não estou dizendo que isso é certo, mas estou apenas constatando um fato. Às vezes, em diálogos, com as colegas, agente não concorda, a gente pensa que é diferente, a gente, às vezes, até orienta que seja diferente, mas aí volta para a questão da vontade política. Os nossos empregadores pensam dessa forma, e você está dentro de uma relação tumultuada, uma relação sem amparo algum trabalhista. Se você não reproduzir os interesses do capital, muitas vezes você se vê de uma forma que você tem só a sua força de trabalho para garantir a tua sobrevivência. Então quer dizer que para nós mudarmos isso, é preciso mudar uma série de questões, é preciso que direitos profissionais sejam garantidos, é preciso de uma melhor qualificação também. Agora, uma forma, uma estratégia para superar esse desafio é com o conhecimento. Mas às vezes, por conta da política neoliberal, não que o profissional não queira esse conhecimento, mas às vezes ele não tem acesso. Ele não tem possibilidade porque ele está inserido nessas relações precárias de trabalho. Eu, por exemplo, faço mestrado e só Deus sabe como. Eu tenho que me virar em estar, às vezes, em três lugares ao mesmo tempo prestando serviço em um local e em outro para poder pagar o mestrado à noite, estudar às vezes de madrugada. E não é fácil, pois o meu projeto era está no doutorado, meu projeto já eram outras questões, mas por questões objetivas e materiais, você tem que atrasar alguns sonhos. Então, na verdade não é falta de vontade do profissional. Mas o conhecimento sim, essa busca incessante pelo conhecimento é uma estratégia bastante eficaz nesse processo. E há quem diga que a partir do ensino e da pesquisa você não consegue uma promoção social, no entanto eu afirmo que isso não é totalmente verdade. Pois tudo o que consegui na vida, embora não seja muita coisa, foi através do estudo. Então eu sou uma defensora, acho que é preciso estimular o estudo, acho que deveríamos ser liberadas para estudar. Isso deveria fazer parte dos planos de cargos e carreiras, quando tivesse. Mas essa política, por exemplo, da qualificação permanente, da formação continuada, ela deve ser uma bandeira de luta, não só da categoria profissional, mas da própria política de formação. É preciso ser estimulado, é preciso ser discutida a importância disso para poder sensibilizar os empregadores (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 02).

Um deles é o sigilo profissional, é algo que realmente me dói aqui. Pois não temos um espaço físico adequado, somos oito assistentes sociais por

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plantão para quatro salas, portanto equivale a duas por sala, comprometendo assim o sigilo profissional, comprometendo a escuta qualificada. Não temos capacidade humana para abraçar isso. E as formas de resistência eu nem sei ao certo, acho que é dialogando com a realidade. A questão da demanda é atendo bem ou atendo muito? (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 04).

Acredito que um dos grandes desafios é do ponto de vista profissional já que o projeto implica o compromisso com a competência, com o aprimoramento profissional preocupando-se com auto-formação permanente e uma constante postura investigativa e é justamente nessa postura investigativa que para mim há o grande desafio, visto que atuamos em uma instituição hospitalar com regimes de plantão o que compromete uma fiel aproximação com o usuário, tendo assim como forma de enfrentamentos desse desafio a articulação com a equipe e com a rede socioassistencial para uma melhor eficácia no nosso atendimento, tudo isso garantido ao usuário pelo projeto ético-político (ASSISTENTE SOCIAL, ENTREVISTADA Nº 07).

Podemos enumerar que como desafios foram mencionados pelo total de

assistentes sociais entrevistadas: 1) a conjuntura e as repercussões da luta de

classes; 2) os impactos da precarização do mundo do trabalho sobre os assistentes

sociais; 3) a qualificação profissional; 4) a infraestrutura inadequada para a

realização dos atendimentos, principalmente comprometendo o sigilo profissional e

5) o compromisso individual. Assim, diversos elementos foram expostos e

necessitam ser refletidos pela equipe de Serviço Social, tendo como pressuposto

não naturalizá-los, construindo respostas e estratégias individuais e coletivas ao seu

enfrentamento.

Enfim, como afirma Medeiros (2009), é preciso à apropriação, a

materialização não só do Código de Ética do Serviço Social, mas do Projeto Ético-

político como projeção da atuação profissional, no sentido do mesmo tornar-se

proeminente na formação de sensibilidades voltadas a sua legitimação cotidiana. O

nosso desafio é se pautar na valorização da justiça social, da liberdade, da

cidadania, etc., ou seja, nas pequenas e grandes ações cotidianas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho expomos os resultados da pesquisa que teve como

objetivo principal compreender como se materializa a ética profissional na atuação

das assistentes sociais nas clínicas de internação do Instituto Dr. José Frota.

Uma das dificuldades apresentadas foi à questão do regime de plantão na

instituição, que dificultava uma melhor análise da atuação para compreender a

materialização da ética profissional no exercício das profissionais que atuam nas

clínicas de internação. Os dados coletados demonstram que as assistentes sociais

têm uma dimensão ética em seu exercício profissional. Entretanto alguns desafios

citados dificultam a materialização da mesma.

A observação participante em campo, na sala do serviço social e nas

clinicas de internação, foi extremamente importante para a conclusão da pesquisa,

pois nos permitiu uma maior aproximação com a atuação das assistentes sociais, a

fim de atingir os objetivos da pesquisa.

Os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois foi possível

compreender como as assistentes sociais estão materializando os princípios do

código de ética da categoria, tendo em vista os desafios enfrentados nos processos

de trabalho nas clinicas de internação e impostos pela própria instituição.

Consideramos como resultado da pesquisa a evidência da importância

que as profissionais dão a materialização do Código de Ética Profissional na sua

atuação, tendo como norteadores os princípios que há no código, assim como

também a intrínseca relação que este tem com o Projeto ético-político da profissão.

Em parte, alguns preceitos do projeto ético-político da profissão podem

ser concretizados, apesar das barreiras que se apresentam, tendo em vista que este

é um projeto revolucionário para o modelo atual de sociedade capitalista,

conservador e neoliberal. Para tanto, é necessário que os profissionais realizem

constantemente uma análise teórico-crítica da realidade em que estão inseridos,

atuando em prol de seus usuários e rompendo com as práticas conservadoras que

ainda permeiam o seu trabalho.

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As construções elaboradas ao longo do processo de aprendizado

nasceram a partir das experiências, dos sentimentos e dos estudos da própria

acadêmica e evidenciam a existência de algumas considerações importantes. Diante

de todo o processo de construção da monografia, foi possível fazer a indispensável

relação entre a teoria e a prática, entre a investigação e a intervenção, entre as

dimensões políticas, técnicas e éticas.

O Serviço Social do IJF, tendo em vista a sua história e a relevância dos

seus processos de trabalho; é uma referência para a categoria no campo da saúde

no estado do Ceará. Podemos também explicitar que este vivencia um cotidiano

marcado por relações de poder e pelas consequências advindas da política

neoliberal, como precarização e focalização dos serviços prestados à população.

Contudo, ultimamos que as assistentes sociais da Unidade, em meio a avanços e

retrocessos, resistem na luta pela materialização da ética profissional e, de forma

mais ampla, pela efetivação do Projeto Ético-político do Serviço Social.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Entrevista nº: ____ Data: ___/___/___ Duração:______ Gravação: ______

I. PERFIL PROFISSIONAL

1. Local de residência: ( ) Fortaleza ( ) Interior

2. Idade:______ 3. Sexo:___________

4. Ano de conclusão do curso de Serviço Social:___________

5. Universidade:________________________________________

6. Instituição a qual trabalha:_____________________________________

7. Cargo que exerce:__________________________________

8. Desde:__________ 11. Forma de ingresso:____________________

II. ASPECTOS QUE CARACTERIZAM A INSTITUIÇÃO

1. Em se tratando de uma instituição de saúde esta que você exerce seu papel profissional. Qual a sua compreensão sobre saúde?

2. Para você qual a importância atribuída ao IJF na assistência à saúde da população?

3. Em sua opinião, quais os desafios vivenciados pela instituição em materializar os princípios do SUS?

II. PARTICULARIDADES DO SERVIÇO SOCIAL NA INSTITUIÇÃO

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1. Quais as atribuições e as competências que caracterizam o exercício profissional das assistentes sociais no IJF?

2. Quais são as principais ações socioassistenciais desenvolvidas pelas assistentes sociais do IJF?

3. No que se refere às ações em equipe. Como essas ações se estabelecem no IJF? E como elas legitimam o fazer profissional do Serviço Social?

4. Como se estabelecem as ações socioeducativas orientadas pelo Serviço Social no IJF?

5. Há ações voltadas para a mobilização e participação social de usuários e familiares no Serviço Social do IJF?

6. Em sua opinião, há uma contribuição efetiva do profissional de Serviço Social no IJF na gestão e no planejamento das ações de intersetoralidade aqui desenvolvidas?

7. Há atividades de assessoria, qualificação e formação profissional dentro do setor de Serviço Social do IJF?

III. ETICA PROFISSIONAL E SERVIÇO SOCIAL

1. O que você compreende sobre Ética Profissional?

2. Você acredita que no seu exercício profissional há uma dimensão política e uma dimensão ética?

3. Qual sua compreensão sobre o projeto ético-politico do Serviço Social?

4. Em sua opinião, tal projeto se materializa em seu exercício profissional?

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5. Quais os desafios enfrentados para materializar o projeto ético-politico no seu exercício profissional? E qual as formas de resistências que você se apropria para transpor esses desafios?

Fortaleza, ____ de ____________ de _______

_____________________________________

RESPONSÁVEL PELA PESQUISA

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APÊNDICE B

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa: “A

materialização da ética profissional na atuação das assistentes sociais nas unidades de

internação do Instituto Dr. José Frota”.

A finalidade com a pesquisa é discutirmos sobre a ética profissional e sua materialização na

atuação dos profissionais de Serviço Social na área da saúde. Essa temática possui

intrínseca relação com o denominado Projeto Ético-político do Serviço Social. Esclarecemos

que este resulta de um construto sócio-histórico da categoria, afinado com a proposta de

uma atuação baseada em uma análise crítica da realidade (CFESS, 2009).

O objetivo da pesquisa é compreender como se materializa a ética profissional na atuação

das assistentes sociais nas unidades de internação do Instituto Doutor José Frota.

Os procedimentos de coleta de dados serão da seguinte forma: Na pesquisa de campo

utilizaremos de técnicas e instrumentos, como entrevistas semi-estruturadas para a coleta

de dados, assim como a observação direta, em que nesta iremos observar de quais formas

as profissionais materializam a ética profissional em seu exercício profissional. Os sujeitos

da pesquisa serão assistentes sociais. O universo da nossa pesquisa atualmente são 42

profissionais e a nossa amostra será 15 profissionais atuantes nas unidades de internação

da instituição. É importante destacar que o período de observação será janeiro/13, contados

após autorização dada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto Dr. José Frota, para a

execução da pesquisa.

GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE

SIGILO: Você será esclarecido (a) sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. Você

é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a

qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar

qualquer penalidade ou perda de benefícios.

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Os pesquisadores irão tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os

resultados da pesquisa serão enviados para você e permanecerão confidenciais. Seu nome

ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você

não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Uma

cópia deste consentimento informado será arquivada no Curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense e outra será fornecida a você.

CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO POR EVENTUAIS

DANOS: A participação no estudo não acarretará custos para você e não será disponível

nenhuma compensação financeira adicional Não há despesas pessoais para o(a)

participante em qualquer fase do estudo. Também não há compensação financeira

relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo

orçamento da pesquisa.

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DECLARAÇÃO DA PARTICIPANTE OU DO RESPONSÁVEL PELA PARTICIPANTE:

Eu, _______________________________________ fui informada (o) dos objetivos da

pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em

qualquer momento poderei solicitar novas informações e motivar minha decisão se assim o

desejar. A professora orientadora Richelly Barbosa de Medeiros e a aluna orientanda

Pamylla Suelen Lira Silva certificaram-me de que todos os dados desta pesquisa serão

confidenciais.

Também sei que caso existam gastos adicionais, estes serão absorvidos pelo orçamento da

pesquisa. Em caso de dúvidas poderei chamar a estudante Pamylla Suelen Lira Silva ou a

professora orientadora Richelly Barbosa de Medeiros no telefone (85) 9645-2498 ou (85)

8791.9883 respectivamente ou o Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Dr. José Frota

localizado na Rua Barão do Rio Branco n 1836, Centro Fortaleza/Ce.

Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de

consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as

minhas dúvidas.

De acordo com a Carta Circular nº. 003/2011CONEP/CNS

1. O sujeito de pesquisa ou seu representante, quando for o caso, deverá rubricar todas

as folhas do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE– apondo sua

assinatura na última página do referido Termo.

2. O pesquisador responsável deverá da mesma forma, rubricar todas as folhas do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE– apondo sua assinatura na

última página do referido Termo.

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D E C L A R A Ç Ã O

Eu, Verônica Sandréa Leite Medeiros, RG LP. CO2611/07, Nº 210 livro: CLE – 04 folhas 105, graduada em Língua Portuguesa e especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, declaro ter realizado a análise e correção ortográfica da Monografia, tendo como título: “Serviço Social e ético profissional: Conjuntura, avanços e contradições dos processos de trabalho nas clínicas de internação do Instituto Dr. José Frota”, da aluna: Pamylla Suelen Lira Silva do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FaC.

Atesto que o trabalho encontra-se bem redigido, em português conciso e adequado, gramaticamente correto, estando apto para o uso que a referida instituição julgue conveniente.

Maracanaú, 05 de Fevereiro de 2014.