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Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Licenciatura em Sociologia
1º Ano
• Realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação Sociológica
Coimbra, Janeiro de 2004
Ana Filipa Alves de Oliveira N.º20040593
Índice
1. Introdução ........ . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . 1
2. Desenvolvimento
2.1. Estado das Artes
2.1.1. Breve análise sobre o tema em discussão .............. 3
2.1.2. Grupos sociais mais afectados...... . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . 4
2.1.3. Tipos de violência doméstica ....... . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . 6
2.1.4 Causas, motivos e consequências da
violência doméstica ....... .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . 9
2.1.5. Legislação e medidas públicas sobre
violência doméstica ....... .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. 11
2.1.6. Estatísticas recentes ...... .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. 14
2.1.7. Principais Organizações Não Governamentais ..... 15
2.2. Desenvolvimento da Pesquisa.......... . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. 18
3. Ficha de Leitura ....... .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . .. 21
4. Avaliação Página Web......... . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. 25
5. Conclusão ........ . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. 27
6. Referências Bibliográficas ....... . . .. . . .. . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . .. . . .. 29
ANEXO I
Artigo: “Globalização e Violência Doméstica”, de Sílvia
Portugal. Publicado na Revista Crítica de Ciências
Sociais, N.º 57/58, Junho/Novembro 2000.
ANEXO II
Página da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
(APAV).
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 1
1. Introdução
No âmbito da disciplina semestral do 1.º Ano do curso de
Sociologia, Fontes de Informação Sociológica, e no seguimento de
um regime de avaliação contínua, que, para aprovação à cadeira
consiste na elaboração de um trabalho de pesquisa escrito, propus
realizar investigação acerca de um tema que infelizmente não é
apenas um problema dos dias actuais. Assim como não é somente
um problema especialmente nacional. Refiro-me concretamente à
violência doméstica.
A violência doméstica é um fenómeno social que atravessa os
tempos e que tem características semelhantes em qualquer t ipo de
civil ização. Este modo de violência caracteriza-se por uma grande
transversalidade. Tanto ocorre em países bastante desenvolvidos,
como ocorre em países menos desenvolvidos. Manifesta-se entre
os grupos sociais menos favorecidos, mas também entre os mais
favorecidos.
Foi tendo em conta a importante dimensão do tema que me
submeti a um extenso processo de pesquisa, e que no seguimento
do trabalho vou tentar expor e explicar que este fenómeno, para
além de ser punido como crime, é no entanto um flagelo de
conduta social que afecta inúmeras famílias.
Depois desta breve introdução, elaboro o “Estado das Artes”
do tema, que consiste numa parte do desenvolvimento da
investigação. No Estado das Artes analiso em primeiro lugar o que
é a violência doméstica, em que consiste e quais os grupos sociais
mais afectados. Depois, e sem poder deixar de os mencionar neste
trabalho, investigo sobre os tipos de violência doméstica existentes
(sub tema este que considero bastante importante, não t irando, no
entanto, aos outros sub temas a sua grande relevância). No
seguimento da análise dos t ipos de violência doméstica pesquiso
sobre causas e motivos que originam e quais as suas
consequências.
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 2
Entrando assim numa “recta final” do Estado das Artes não
poderia deixar de colocar no meu trabalho art igos legais, tanto da
Consti tuição da República Portuguesa como do Código Penal
Português, que constituem uma forma de punição para quem
comete determinados crimes de violência doméstica.
Por f im, i lustro o trabalho com as últ imas estatísticas sobre
violência doméstica, tendo como fonte a Associação Portuguesa de
Apoio à Vít ima (APAV) e as principais ONG´s nacionais e
internacionais que actuam neste domínio.
Na parte do Desenvolvimento encontramos o “Processo de
Pesquisa”. Nesta parte do trabalho vou quase detalhadamente
explicitar todo o processo de investigação, no qual obtive todo o
material necessário para conseguir elaborar este relatório.
Como forma de complemento a “Ficha de Leitura” refere-se a
um texto publicado na Revista Crítica de Ciências Sociais por
Sílvia Portugal e com o tí tulo “Globalização e violência doméstica”.
Para concluir analisei o site daquela que, no meu entender é
uma das mais importantes ONG´s deste domínio a: Associações
Portuguesas de Apoio à Vítima (APAV). Com essa análise tento
referir e caracterizar as secções de maior relevância do site.
Sem mais demora, convido o leitor a continuar a sua atenta
leitura sobre o trabalho acerca de violência doméstica.
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Violência Doméstica 3
2. Desenvolvimento
2.1 Estado das Artes
2.1.1. Breve análise sobre o tema em discussão
Iniciando aqui o “Estado das Artes”, vou então, tendo em conta
toda a informação que obtive no processo de pesquisa,
desenvolver o tema “violência doméstica”.
O que é a violência doméstica?
Esta pergunta será talvez a pergunta mais pertinente para
começar a desenvolver este tema.
Segundo várias fontes entendemos como violência doméstica
todo o abuso f ísico, mental, sexual e emocional (como por
exemplo: maus tratos, abusos sexuais, crimes passionais, incesto,
ameaças, entre muitos outros) que uma pessoa tem para com outra
(NIWAF, s.d.).
Este fenómeno acontece no seio da família e incide
fundamentalmente sobre crianças, idosos e mulheres. Assim
podemos então caracterizar a violência doméstica como um grave
problema universal que atinge milhares de pessoas,
independentemente do sexo, idade, religião, nível social,
económico ou até mesmo cultural.
Frequentemente o termo “violência doméstica” é usado para
descrever um tipo de violência específica que, segundo alguns
autores é o resultado de agressão física e/ou emocional.
Segundo associações como a APAV (Associação Portuguesa
de Apoio à Vítima) e CIDM (Comissão para a Igualdade e para os
Direitos das Mulheres) as vítimas ainda não estão suficientemente
protegidas em Portugal, sendo que a demorada Justiça continua a
prejudicar a mulher visto ser esta o principal alvo em violência
doméstica.
Em suma, podemos então verif icar que “a violência doméstica
é um tipo de violência que ocorre entre os membros de uma mesma
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 4
família ou então que parti lhem o mesmo espaço de habitação”
(CIDM, 2003).
2.1.2. Quais os grupos sociais mais afectados
A violência mais comum é exercida sobre as mulheres.
Segundo o Conselho da Europa “a violência contra as mulheres no
espaço doméstico é a maior causa de morte e invalidez entre
mulheres dos 16 aos 44 anos, ultrapassando o cancro, acidentes
de viação…” (CIDM, 2003).
Por um lado, sendo as mulheres apontadas como o número de
vítimas mais prováveis, não podemos deixar de referir outras
vítimas muito comuns neste tipo de violência. Falo de crianças,
idoso e deficientes.
O tipo de violência exercida perante estes grupos sociais
(crianças, idosos e deficientes) assume várias formas, que vão de
maus tratos e espancamentos até ao abuso sexual, violação,
ameaças, intimidação e prisão domicil iária das vítimas.
No entanto não podemos ignorar que a maioria dos casos de
violência doméstica é exercida para com as mulheres. Mulheres
essas que na maioria são agredidas pelos próprios maridos e
companheiros.
Ao longo do tempo, part icularmente nos países mais
desenvolvidos, as mulheres têm vindo a ser formalmente mais
protegidas. Foram assim criadas inúmeras associações que lutam
em prol dos direitos das mulheres. Como exemplo nacional temos a
APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vít ima) e a CIDM
(Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres), não
sendo este últ imo considerado como associação visto ser uma
Comissão que foi criada pelo Decreto-lei n.º 166/91, de 9 de Maio,
que sucedeu à Comissão da Condição Feminina, institucionalizada
pelo Decreto-Lei n.º 485/77, de 17 de Novembro (CIDM, 2003).
A CIDM tem como objectivos fundamentais e permanentes:
“Contribuir para que as mulheres e os homens gozem das mesmas
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 5
oportunidades, direitos e dignidade; Alcançar a
corresponsabilidade efectiva das mulheres e dos homens em todos
os níveis da vida familiar, profissional, social, cultural, económica
e polít ica; Contribuir para que a sociedade reconheça a
maternidade e a paternidade como funções sociais e assuma as
responsabil idades que daí decorrem.” (CIDM, s.d.).
A violência doméstica é um flagelo social que afecta
maioritariamente mulheres. No ano de 2003 foi criado o II Plano
Contra a Violência Doméstica.
Este Plano foi elaborado por um grupo de trabalho constituído
por pessoas com conhecimentos nesta área. Focaliza
principalmente a violência exercida sobre as mulheres. Tendo em
conta fontes especializadas nomeadamente, um relatório do
Conselho da Europa sabemos que “… semanalmente morrem mais
de cinco mulheres por razões directas ou indirectamente
relacionadas com actos de violência doméstica” (CIDM, 2003). A
afirmação transcrita do II Plano Nacional Contra a Violência
Doméstica, relaciona os dados internacionais com os indicadores
disponíveis em Portugal (embora apenas indicativos e ainda a
necessitar de confirmação mais r igorosa) que nos permite ter uma
noção da realidade “… que nos ofende na nossa dignidade humana
enquanto portugueses.” ( idem, 2003).
Voltando ao II Plano Nacional Contra a Violência Doméstica,
este está organizado em 7 capítulos, que se desdobram em várias
medias concretas, e tem como principal objecto o estudo da
violência doméstica contra as mulheres.
Este Plano pretende assim mudar a situação actual existente,
marcando uma viragem no combate árduo contra este tipo de
violência.
Passo agora a citar as principais medidas concretas deste
Plano:
i) Informação, sensibil ização e prevenção;
i i) Formação;
i i i) Legislação e a sua aplicação;
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iv) Protecção da vítima e integração social;
v) Investigação;
vi) Mulheres imigrantes;
vi i)Avaliação.
Analisando as medidas concretas do Plano, podemos concluir
que a questão da violência doméstica em Portugal é uma
preocupação ainda recente. É preciso l idar com o problema da
violência doméstica de uma forma profissional, para que se possa
tirar conclusões e fazer projecções objectivas.
2.1.3. Tipos de Violência Doméstica
Para podermos entender a violência doméstica devemos ter
em mente alguns conceitos sobre a dinâmica e as diversas faces
da mesma.
Vamos então aqui analisar os vários t ipos de violência
doméstica que se denominam como: violência f ísica, violência
psicológica, violência verbal, violência económica e violência
sexual.
A violência f ísica consiste no uso da força por parte de quem
agride, deixando ou não marcas evidentes na vítima. Neste tipo de
violência a agressão é directa e a vítima é necessariamente
alguém muito próximo (cônjuge, fi lhos, pais, sogros) do agressor.
São comuns neste tipo de agressão “murros”, “agressões com
qualquer t ipo de objectos” e “queimaduras por objectos ou l íquidos
quentes”. Este tipo de agressões pode levar mesmo ao “homicídio”
(Ballone, 2003).
No entanto não são somente mulheres, crianças e idosos
vítimas de violência f ísica. Segundo dados obtidos também os
homens são vitimados por este tipo de violência. A violência física
exercida perante este grupo social não é normalmente praticada
directamente, mas sim de forma indirecta, ou seja, como os
homens na sua grande maioria dispõem de uma maior força física,
os agressores (geralmente mulheres) contratam terceiros para
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 7
executar algo que elas não conseguem fazer. A maior parte das
vezes quem executa este tipo de trabalhos são “parentes da
mulher ou profissionais contratados para tal efeito” (Ballone,
2003), ou, por outro lado, quando é a própria mulher a fazê-lo, esta
toma a vít ima em surpresa como por exemplo quando está a
dormir.
Outro tipo de violência doméstica existente e não menos
importante que a anterior é a violência psicológica.
A violência psicológica ou agressão emocional, é por vezes tão
ou mais prejudicial que a violência f ísica. Este t ipo de violência é
“caracterizada por rejeição, depreciação, descriminação,
humilhação, desrespeito e punições enxaguadas” (idem, 2003). É
um tipo de violência que não deixa marcas f ísicas visíveis, mas
que, por outro lado fere emocionalmente o estado psíquico
deixando assim cicatrizes irredutíveis para o resto da vida.
Neste tipo de violência o grupo social que “mais sofre” ( idem,
2003), é o dos homens, isto porque, perante este tipo de violência
os principais agressores são as mulheres. Estas adoptam
comportamentos histéricos para que assim possam mobilizar a
outra parte e “satisfazer a necessidade de atenção, carinho e de
importância” ( idem, 2003). A intenção do agressor é de chamar a
atenção do resto da família tendo como “chamariz alguma doença,
dor, problema de saúde, etc.…” ( idem, 2003).
Outra forma muito comum de violência psicológica ou
emocional é “fazer o outro sentir-se inferior, dependente, culpado
ou omisso”. Neste tipo de agressão tanto são homens como
mulheres os principais agressores.
Por f im, para entendermos bem a agressão emocional, as
ameaças de violência física, morte, bem como comportamentos
menos usuais no recinto familiar (como partir todo o t ipo de
objectos, rasgar documentos entre outros objectos pessoais)
podem também ser entendidos como uma grave forma de violência
doméstica psicológica.
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Violência Doméstica 8
Continuando assim com as diferentes faces da violência
doméstica passamos para a violência verbal. A violência verbal dá-
-se normalmente na continuação da violência psicológica. Quer isto
dizer que normalmente uma vítima de violência psicológica sofre
também de violência verbal, devido ao agressor conjugar as duas
numa só. Passo a explicar: quando o agressor se dirige à vít ima,
aquele, no culminar da discussão, está a agredi-la de forma verbal
para que assim possa inferioriza-la e amedrontá-la, logo é evidente
que de uma só maneira está a praticar dois tipos de violência muito
grave. Por um lado está a agredi-la verbalmente, por outro regista-
se também violência psicológica, devido às palavras que está a
dir igir à ví tima.
Lógico que, nem sempre a vítima sofre dos dois t ipos de
violência, mas a verdade é que ambas estão muito associadas.
Pode no entanto existir violência psicológica sem existir violência
verbal, isto quando, por exemplo, uma pessoa é vít ima de
enclausuramento, muita das vezes o agressor não chega a agredir
a vi tima verbalmente, dá-se simplesmente ao trabalho de a fechar
em determinado espaço, para que esta não possa sair. Já o
contrário é muito dif íci l de acontecer. Isto é, existir somente
violência verbal, sem existir violência psicológica. Já que a
violência verbal leva sempre ao ferimento do orgulho e auto-estima
da vítima o que leva por consequente à violência psicológica. Em
suma, um outro tipo de violência verbal e psicológica diz respeito
às ofensas morais. As ofensas morais são comuns entre os casais
que se insinuam mutuamente com vista a por vezes alcançar a
maior atenção do outro.
Para completar a investigação sobre os diferentes faces da
violência doméstica, temos mais dois tipos que, sendo também
muito importantes, são por vezes esquecidos e pouco debatidos
(principalmente na sua vertente relacional), falo então de violência
sexual e violência económica.
A violência sexual é resumidamente “forçar a relação sexual,
obrigar a práticas sexuais”. Este t ipo de violência é muito
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frequente nos homens, que são os principais agressores e que tem
como vít imas a esposa e muita das vezes os f i lhos (ultimamente os
principais registos de casos de violação sexual de menores ocorre
nos seio da família e é causada em parte pelo pai, t io ou mesmo
parente próximo…).
Por f im, a violência económica baseia-se na total dependência
monetária, o que pode levar por parte do agressor à violência
f ísica. Isto verif ica-se quando uma pessoa já não tem saída, e vira-
-se contra a família para assim poder arranjar dinheiro para, por
vezes, sustentar vícios.
Segundo Madalena Alarcão (2000) e Elza Pais (1998),
concluímos que o processo de violência doméstica obedece a
ciclos: primeiro a agressão, de seguida a reconcil iação por parte
do agressor para com a vit ima que resulta de um pedido de perdão
e a garantia que não se volta a repetir, depois um período pacífico
entre vít ima e agressor. Depois deste ciclo retoma-se tudo
novamente, voltando outra vez à vaga de agressões!
2.1.4. Causas, motivos e consequências da violência
doméstica
Tendo a violência doméstica uma dimensão tão grande em
qualquer sociedade, temos então de estudar quais as causas e
motivos que levam um indivíduo a agir de modo incorrecto para
com os outros, sendo eles muitas das vezes unidas por fortes laços
familiares.
Muita das vezes a violência doméstica inicia-se no seio da
família devido a problemas exteriores, como por exemplo
problemas com álcool, droga, doenças graves, entre outros.
Fazendo, normalmente o homem, parte do principal grupo
agressor e as mulheres o grupo vit imado, várias medidas têm de
ser tomadas para que assim se possa iniciar um combate eficaz à
violência doméstica.
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Violência Doméstica 10
Como exemplo de uma iniciativa tomada para combater este
t ipo de f lagelo social, temos o Dia Internacional para a Eliminação
da Violência Contra as Mulheres. Este dia foi designado pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, e tem como objectivo
sensibil izar todas as populações para este fenómeno e também
para que assim se possa cada vez mais afirmar os direitos das
mulheres como sendo iguais aos direitos dos homens, ou seja,
consagrar os Direitos Humanos como Universais, o que, por vezes,
não acontece em muitos países.
A violência conjugal é causada especificamente por uma série
de factores que, podem não levar à violência física, mas sim à
violência verbal ou psicológica, o que é o mesmo que dizer que o
principal objectivo do agressor é o de poder controlar a vít ima.
Estamos então perante um conjunto de motivos que levam a
que o agressor tome determinadas atitudes, que actualmente em
muitos países, são punidas por Lei.
Como já t inha referido anteriormente, os motivos que levam a
determinados actos de violência são, por vezes, do foro exterior ao
indivíduo que comete a agressão, como o consumo exagerado de
álcool e drogas; alterações de comportamento derivado de doenças
crónicas; distúrbios mentais, entre outros problemas/motivos que
podem surgir.
Partindo agora para as consequências da violência doméstica,
podemos dizer que estas podem acontecer dentro de qualquer
família, o que gera assim graves problemas futuros, tanto para a
vítima como para as pessoas mais próximas.
Os indivíduos agredidos, para além de ficarem com sérios e
graves problemas no seu desenvolvimento pleno e integral, podem
também ficar com gravíssimas sequelas que podem assim ficar
para o resto da vida.
Analisando um site brasileiro, tive acesso a uma notícia da
jornalista, Bianca Justino, que falava sobre consequências de
violência doméstica, e que cujo t ítulo era “Violência doméstica,
precisa de poli ticas públicas para ser combatida” (Justino, 2003),
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pude retirar de lá algumas consequências muito graves que
resultam de todo o t ipo de violência doméstica. Segundo a notícia,
este t ipo de violência pode levar a: “taquicardia, depressão,
insónias, pressão alta, palpitações e até DST´s…”. Para concluir
“Infelizmente a violência doméstica está impregnada em qualquer
sociedade e não escolhe classe social, mas as suas consequências
podem ser evitadas se o sistema de saúde abrir espaço…” (Idem,
2003).
Logo podemos concluir que o resultado da violência doméstica
pode levar a sérios problemas a nível humano, mas com a ajuda de
entidades próprias e especiais esses sérios e graves problemas
podem ser minimizados.
2.1.5. Legislação e medidas públicas sobre violência
doméstica
“O combate à violência doméstica, pela complexidade de
situações que estão na sua origem, só terá sucesso quando a
sociedade assentar num modelo organizativo diferente…” (CIDM,
2003).
Este pequeno excerto retirado do II Plano Nacional Contra a
Violência Doméstica diz-nos que, o combate a este tipo violência
só será minimizado com a conjugação de esforços por parte de
toda a comunidade. A legislação surge então em Portugal na
década de noventa, do século XX, direccionada para vít imas de
violência doméstica. “Portugal, passou assim, a dar resposta não
só a um problema social cuja consciencialização dos seus efeitos
nas vít imas e nas famílias onde ocorre é crescente, como foi ao
encontro de um conjunto de recomendações Europeias
desenvolvidas neste domínio…” (Dias, s.d.).
Analisando novamente o II Plano Nacional Contra a Violência
Doméstica, capítulo terceiro “Legislação e a sua aplicabil idade”,
verif icamos que este é o excerto direccionado para a legislação
portuguesa existente, e a sua devida aplicação.
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Violência Doméstica 12
Assim, esta parte do Plano diz-nos que: “Apesar de
salvaguardados no nosso ordenamento jurídica desde 1976, a
igualdade de direito entre as mulheres e os homens será objecto
de uma continuada atenção que poderá implicar, em determinadas
circunstâncias, a revisão de lei. O poder judicial e as forças de
segurança são, entre outros, parceiros imprescindíveis do Governo
na garantia da aplicação das normas existentes. Trata-se de
garantir a integridade f ísica e moral de mulheres, crianças e
idosos/as e outras pessoas vulneráveis que são vít imas de
violência doméstica…” (CIDM, 2003)
QUADRO N.º 1 – LEGISLAÇÃO SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
LEGISLAÇÃO
Código Penal Artigo 152. º Maus-tratos e infracção das regras de segurança Artigo 153.º Dos crimes contra a liberdade pessoal (Ameaça) Artigo 158. º Dos crimes contra a liberdade pessoal (Sequestro) Artigo 200. º Proibição de permanência, de ausência e de contactos
Lei n. º 61 / 91 de 13 / 08 / 1991 Garante protecção adequada às vítimas de violência Resolução do Conselho de Ministros n. º 49 / 97
Aprovação do Plano Global para a Igualdade de Oportunidades
Resolução da Assembleia da República n. º 31/ 99
Regulamentação da legislação que garante protecção às mulheres vítimas de violência
Resolução do Conselho de Ministros n. º 55 /99
Aprova o Plano Nacional contra a Violência Doméstica
Lei n. º 107/99
Criação da rede pública de casas de apoio a mulheres vítimas de violência
(Fonte: Isabel Dias, s.d.)
Analisando o quadro n.º1, podemos concluir que os Artigos
152.º, 153.º e 200.º do Código Penal não incidem exclusivamente
sobre casos de violência doméstica, constituem assim disposições
legais que podem ser aplicadas neste âmbito (Mulheres
portuguesas do século, 2004). Os dois primeiros artigos são
aplicáveis aos crimes contra l iberdade pessoal, já o artigo 200.º
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pode ser decretado para afastamento do agressor da residência
(Dias, s.d.).
A lei n.º 61/91 de 1/08/1991 garante a protecção adequadas
das vítimas de violência, e constitui “o avanço mais signif icativo ao
nível do tratamento autónomo das mulheres vítimas de violência…”
(Idem, s.d.).
Para completar a tabela exponho agora a últ ima Resolução do
Conselho de Ministros que saiu aquando o II Plano Nacional Contra
a Violência Doméstica: “Resolução do Conselho de Ministros n.º
88/2003”, e diz-nos que “… a violência doméstica… É um crime
público com dimensões alarmantes na sociedade portuguesa e que
não se restringe a Portugal…” (CIDM, 2003)
Concluindo “A violência doméstica é uma forma de crime de
maus-tratos, constituindo crime público punível, no mínimo, com
pena de prisão de 1 a 5 anos quando se trata de cônjuges,
podendo ser aplicadas penas acessórias para afastamento do
agressor”, Código Penal – artigo 152.º (Dias, s.d.).
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2.1.6. Estatíst icas Recentes
Para i lustrar o meu trabalho, recorri ao site da APAV, que
posteriormente analiso (fazendo assim uma avaliação crít ica
deste). No site da Associação Portuguesa de Apoio à vít ima, obtive
os mais actuais dados estatísticos sobre o tema em questão e que,
de seguida passo a expor.
1.Crimes de violência doméstica segundo sexo da vítima/utente
Violência doméstica Feminino Masculino Ignorado Total
N % N % N % N %
Maus tratos físicos 2058 28.5 158 2.2 18 0.2 2234 30.9
Maus tratos psíquicos 2112 29.2 189 2.6 16 0.2 2317 32
Ameaças/Coacção 1453 20.1 102 1.4 7 0.1 1562 21.6
Difamação/Injúrias 676 9.3 53 0.7 - - 729 10.1
Subtracção de menores 33 0.5 7 0.1 - - 40 0.6
Violação da obrigação de alimentos 60 0.8 6 0.1 - - 66 0.9
Violação 94 1.3 2 0.02 - - 96 1.3
Abuso sexual
Outros em meios domésticos
77 1.1
63 0.9
11 0.2
37 0.5
- -
1 0.01
88 1.2
101 1.4
Total 6626 91.6 565 7.8 42 0.6 7233 100
Fonte: APAV (s.d.)
2. Perfil do autor do crime
Perfil do autor do crime
Sexo Masculino
Idade Entre os 36 e os 45 anos de idade
Profissão Trabalhadores da produção das industrias extractivas ou
de construção
Antecedentes Criminais (Crimes
anteriores)
Ofensas à integridade física
Relação com a Vítima Cônjuge/companheiro
Dependências Álcool
Crimes mais Frequentes Violência Doméstica (maus tratos físicos e psíquicos)
Fonte: APAV (s.d.)
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Violência Doméstica 15
3. Dependências do autor do crime
Dependências N %
Álcool 966 70.7
Estupefacientes 255 18.7
Fármacos
Jogo
67
49
4.9
3.6
Outras Dependências 30 2.1
Fonte: APAV (s.d.)
Retirando assim os dados que considero mais importantes das
estatísticas do site da APAV podemos concluir que no universo da
violência doméstica os principais agressores são os homens; as
vítimas são em maioria mulheres e os principais t ipos de agressão
são maus-tratos f ísicos e psíquicos. O perfi l do agressor revela que
na idade entre os 36 e os 45, que eles se concentram com
características físicas superiores à da vít ima e que habitualmente
tem uma relação muito próxima desta. Para concluir (e como já
t inha referido anteriormente) existe varias razões exteriores ao
agressor que o levam a determinados comportamentos como, por
exemplo, o álcool, que é a principal dependência que um agressor
tem.
2.1.7. Principais Organizações Não Governamentais
(ONG´s)
Como forma de conclusão do “Estado das Artes” achei
pertinente referir algumas das principais ONG´s nacionais e
internacionais, que cooperam neste área.
Começando por referir as ONG´s nacionais temos a APAV
(Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) que é umas das
principais associações com maior influência no nosso país. “A
APAV é uma entidade formadora acreditada pelo INOFOR –
Despacho nº 17 153/2003 de 19 de Agosto, com competências para
a concepção, organização e desenvolvimento de intervenções
formativas (APAV, 2004). As acções de formação que fazem parte
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 16
do presente Plano de Formação Externa 2004 versam temas da
actualidade social e do âmbito da vitimologia, tomando em
consideração as necessidades de formação, os interesses,
expectativas dos indivíduos, dos grupos e de outras
organizações…” (APAV, 2004).
De seguida temos a AMCV (Associação de Mulheres Contra a
Violência) que tem como principal f inalidade ajudar as vít imas de
violência doméstica”. A Associação de Mulheres contra a Violência
(AMCV) é uma organização não governamental cuja finalidade
últ ima é agir contra a violência exercida sobre as mulheres e
crianças, nomeadamente nas formas de violência doméstica,
violação e abuso sexual…” (AMCV, s.d.).
A Amnistia Internacional, secção portuguesa, também é
considerada uma Organização Não Governamental, que zela pelos
direitos humanos e em consequência os direitos das mulheres. “A
visão da Amnistia Internacional é a de um mundo em que cada
pessoa desfruta de todos os Direitos Humanos consagrados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos e noutros padrões
internacionais de Direitos Humanos.” (A.I., s.d-a)
Por f im, e não sendo uma Organização Não Governamental,
temos a CIDM (Comissão para a Igualdade e para os Direitos das
Mulheres), que foi “criada pelo Decreto-Lei n.º 166/91, de Maio,
sucede à Comissão da Condição Feminina, insti tucionalizada pelo
Decreto-Lei n.º 485/77, de 17 de Novembro…”. Esta comissão tem
como fundamental objectivo o de “contribuir para que mulheres e
homens gozem das mesmas oportunidades, direitos e dignidade…”
(CIDM, s.d.).
Passando agora para ONG´s internacionais, e segundo a
minha pesquisa, temos as seguintes:
• BRASIL: “CEJAM (“organização não governamental neutra, sem
conotações pol i t icas ou rel igiosas” (SaúdePrev, 2004))
Site: http://www.saudeprev.com.br/viol_parcerias.php
• IRLANDA: “NIWAF (Northern Ireland Womem´s Aid Federation)
Site: http://www.niwaf.org/
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Violência Doméstica 17
• MALÁSIA: “WAO (Women's Aid Organisation, organização não
governamental , independente, sem conotações rel igiosas. Tem
como objectivo criar protecção às mulheres, que são vi t imadas
com este t ipo de violência).
Site: http://www.wao.org.my/
• FRANÇA: “Campagne européenne de sensibi l isation contre la
violence à l ’égard des femmes” (Campanha criada pelo governo
francês que tem em vista a igualdade entre mulheres e homens)
Site: http://europa.eu.int/comm/employment_social/equ_opp/violence_fr.html
• INGLATERRA: “Amnesty International” (Esta ONG é considerada
uma das pioneiras do que diz respei to aos Direi tos Humanos, e
tem sedes em quase todos os países (AI, s.d-b)).
Site: http://www.amnesty.org/
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Violência Doméstica 18
2.2 Desenvolvimento da Pesquisa
Concluindo o “Estado das Artes”, início agora a descrição
“Processo de Pesquisa” deste trabalho.
O processo de pesquisa que uti l izei para a elaboração deste
relatório é constituído por várias etapas, que ao longo deste
desenvolvimento vou demonstrar, tentando assim explicar passo a
passo todos as etapas que percorri para obter uma vasta
informação acerca do tema.
Começo por explicar a escolha do tema. Este, foi escolhido
devido à real importância que tem nos nossos dias, e também por
achar que seria um tema muito interessante para pesquisar onde
poderia encontrar um leque diversif icado de documentos, art igos,
estatísticas, leis entre muitos outros… E tal aconteceu.
Tendo o tema definido comecei a minha investigação na
Biblioteca da FEUC, uti l izando a base de dados que me permitiu
aceder a todos os l ivros existentes (embora escassos) que se
relacionavam com a temática que abordo. Consultei os l ivros que
achei mais apropriados para a minha pesquisa. Entre eles:
Prevenir a violência doméstica trabalhando em rede, (Cruz, 2001)
que nos fala de como a violência doméstica pode ser combatida
tendo em conta um trabalho em rede; A violência Conjugal na Ilha
da Madeira (Cruz et al, 2002) que, nos dá um retrato dos números
existentes no arquipélago madeirense em relação à violência
conjugal. Uma revista científ ica que consultei foi a Revista Crít ica
de Ciências Sociais n.º 57/58, “Globalização, confl itualidade e
violência”, tendo encontrado um artigo denominado “Globalização e
Violência Doméstica” (Portugal, 2000) no qual posteriormente farei
uma ficha de leitura sobre esse artigo.
De seguida passei então para a investigação através de outro
t ipo de fonte, tão importante quanto os l ivros e revistas científ icas,
que é a Internet. A Internet é muito uti l izada como fonte de
investigação, visto que nos dá acesso aos mais diversif icados
temas, art igos, assuntos, etc.… da actualidade (e não só).
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 19
Na Web comecei por uti l izar dois grandes motores de busca.
Esses dois grandes motores de busca que uti l izei para a pesquisa
foram o Google e o Alta Vista.
Para além dos motores de busca recorri às grandes base de
dados portuguesas, como a da Bibl ioteca Nacional, Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra, e por fim no Porbase.
Acedi ao site da Bibl ioteca Nacional e do Porbase, como
forma de curiosidade, para ter uma noção das publicações
existentes que englobam a violência doméstica. Uti l izando os
comandos Sirius e Ipac, com a palavra-chave violência doméstica,
pode verif icar que existiam publicações interessantes mas que
sendo se dif íci l acesso, não as pude consultar. Limitei-me a uti l izar
dados existentes na Biblioteca da FEUC e dos sites que continham
informações específicas sobre o tema.
Iniciei assim a minha pesquisa, numa primeira fase em busca
de imagens, para poder assim ilustrar a capa do trabalho. Recorri
aos dois motores de busca e no Google na “secção” de imagem
com a palavra (que considero palavra-chave em todo o processo de
busca) violência doméstica, obtive 615 registos de imagens que de
certa forma tinham a ver com violência doméstica. No AltaVista
também encontrei uma grande quantidade de registos, 663, que
correspondiam ao tema abordado.
Depois de encontrar uma imagem apropriada para a capa do
trabalho, iniciei a pesquisa na Web sobre o tema. Começando
assim com uma pesquisa simples e uti l izando a palavra-chave
(violência doméstica) obtive no Google 303.000 registos e no
AltaVista 13.272 registos. Os registos obtidos eram na sua maioria
português, existindo também muitos registos em espanhol. É lógico
que quando pesquisamos algo na Internet nem toda a informação é
considerada adequada para a nossa pesquisa, existindo muito
ruído, que leva a que o processo seja mais demorado e
pormenorizado.
Com vista a diminuir o ruído e a aumentar os dados, uti l izei as
aspas, na palavra violência doméstica, obtendo assim um menor
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Violência Doméstica 20
número de registo tanto no Google como no AltaVista, 247.000 e
8.246 respectivamente. Aqui obtive então uma grande informação,
principalmente informação no formato PDF (como por exemplo:
actas, planos…).
Passando agora para a pesquisa avançada e uti l izando os
Operadores Booleanos, obtive bastante informação acerca de
“Direitos das Mulheres”, ou seja, Leis ou Decretos-lei que
defendem os direitos das mulheres. Util izei então nos dois motores
de busca, e na parte da pesquisa avançada as palavras: “Violência
Doméstica” and “Direitos das Mulheres”, onde obtive 3700 registos
no Google e 498 no AltaVista. Depois uti l izei as palavras:
“Violência Doméstica” and “Organizações Não Governamentais”,
para conseguir obter informações sobre organizações nacionais e
internacionais, mas, tanto no Google como no AltaVista, (embora
os registos encontrados fossem bastantes) poucos eram aqueles
que correspondiam à minha busca. Tive então de uti l izar motores
de busca estrangeiros, como o Google.com ou Google.fr para
conseguir encontrar informação acerca de ONG´s internacionais,
no qual encontrei as necessárias para i lustração do trabalho.
Outra forma que uti l izei para conseguir informação foi uti l izar
os comandos “Páginas semelhantes” e “Preferências”.
Para finalizar o processo de pesquisa recorri também a
informação retirada da Internet em forma de notícia, como por
exemplo artigos de jornais que encontrei: “IPJ discute violência
doméstica” (A Cabra.net, 2004); “Sobre o Plano Nacional Contra a
Violência Doméstica” (Cruz, 2002); “Mulheres vít imas de violência
doméstica vão ter acesso privi legiado a apoio jurídico” (Sanches,
2004).
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Violência Doméstica 21
3. Ficha de Leitura
A presente f icha de leitura remete-se a um artigo publicado na
Revista Crítica de Ciências Sociais, N.º 57/58, Junho/Novembro
2000, com o título “Globalização e Violência Doméstica”, de Sí lvia
Portugal. O artigo tem como palavra-chave: violência doméstica. A
área científica a que o capítulo pertence é a sociologia e a sub-
área científ ica é a da sociologia da família. Também é importante
referir o n.º de páginas da publicação: 341; e o n.º páginas do
artigo de Sílvia Portugal: 24.
Sílvia Portugal, tem, como principal objectivo apresentar
algumas notas de reflexão acerca do tema. Pretende equacionar
conteúdos relevantes da dimensão e das características deste t ipo
de violência, que afecta toda a sociedade. Todo o artigo remete a
uma análise aprofundada da questão, e à tentativa de explicação
de tal fenómeno. A autora questiona qual o conceito apropriado
para definir este t ipo de violência; analisa dados nacionais e
internacionais para i lustrar o artigo, e faz referência às polít icas
públicas também como referencia os principais órgãos polít icos da
UE e da ONU.
No artigo, Sílvia Portugal, refere inúmeros autores, focando
Barbara Musumeci Soares; Boaventura Sousa Santos; Elza Pais
entre outros. Refere ter usado textos teóricos, fontes de
informação e dados sobre o tema.
Este artigo foi escolhido tendo em conta a análise que foi feita
anteriormente, e que de certo modo serve de complemento para
todo o processo de pesquisa.
Segundo a autora, o presente “artigo apresenta algumas notas
de reflexão, suscitadas por uma breve incursão na bibl iografia
existente sobre as questões de violência na família e no espaço
doméstico”. A autora pretende, por um lado fazer uma análise da
Família e da Vida Famil iar olhando portanto para o lado mais
sombrio, confl i tuoso, de opressão e violência; e também por outro
lado “… questionar o impacto de um processo como a Globalização
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 22
ao nível das relações interpessoais, si tuadas no espaço
doméstico…” (pp. 231).
Util izando fontes basicamente portuguesas e brasileiras, Sílvia
Portugal faz inicialmente uma abordagem sobre uma autora
brasileira, Bárbara Musemesi Soares, onde esta nos diz que sendo
a violência doméstica um tema que apresenta uma grande
diversidade de textos, estes por vezes tornam-se repetitivos.
Existindo assim muita l i teratura “Segundo o mesmo modelo
exposit ivo, mesmos conceitos, ideias e informações…” (pp. 232).
Podemos também acrescentar que, Sílvia Portugal faz referencia a
um trabalho seu, que tem como tí tulo “Retórica e acção governativa
na área das polít icas de famíl ia desde 1974”.
Como tinha mencionado no início da ficha de leitura, Sí lvia
Portugal, divide o seu artigo em dois subtítulos. Em primeiro lugar
“De que falamos quando falamos de Violência Doméstica” e em
segundo lugar “Polít icas públicas e Violência Doméstica. Combater
o invisível”.
Numa primeira parte a autora remete-se a falar de conceitos
sobre o tema-chave. Foca também, o termo violência doméstica
como sendo “cada vez mais usados pelos poderes públicos –
polí t icos e jurídicos…”. Sobretudo no que diz respeito à violência
exercido sobre as mulheres (pp.234).
A reflexão que Sílvia Portugal faz sobre a violência doméstica
é que “não existe uma definição universal” do termo, sendo assim
um assunto muito complexo, que varia no tempo e no espaço,
sendo susceptível à discussão em cada sociedade, isto porque
cada sociedade tem a sua cultura, e como não existem culturas
homogéneas logo é possível ver a violência como uma
transgressão a um sistema de valores definido num determinado
momento social (Lourenço e Lisboa apud Portugal; Pais apud
Portugal).
Desde os tempos mais remotos, mulheres e crianças eram
brutalmente mal tratadas pelos homens da família, permanecendo
calados, sem que ninguém os questionasse. As primeiras ideias de
FEUC Fontes de Informação Sociológica
Violência Doméstica 23
violência doméstica no seio da famíl ia remetem-se a “agressões e
maus-tratos a crianças…”. Sílvia Portugal faz referência a uma
autora, Maria Amélia Azevedo, que caracteriza este flagelo social
em seis períodos distintos.
Como é do senso comum, o termo violência doméstica ainda
hoje afecta muitas mulheres, que com receio das consequências,
não denunciam os crimes de que estão a ser vi timadas. “Foi
através da explosão dos Movimentos Feministas na segunda
metade deste século…” que a voz das mulheres começou entoar na
sociedade moderna. Começou-se assim a defender os Direitos para
a Igualdade das Mulheres e inicio das denúncias públicas de
crimes contra as mulheres (Ferreira da Silva apud Portugal: 238).
Passando agora para uma análise mais estatística do artigo, a
autora evidencia os principais dados sobre violência doméstica.
Começa por nos dizer que a casa é o lugar mais perigoso das
nossas sociedades e os parentes são os principais agressores…”.
“Nos EUA 1/7 das mulheres são vítimas de agressões… diariamente
4 mulheres são assassinadas pelos cônjuges… (Soares, 1999:184-
185 apud Portugal: 240). Em Portugal diz-nos que a casa é o
principal local para as agressões e que estas são na maior parte
do tipo físicas.
Numa de conclusão referencia Bárbara Musumeci Soares, que
nos diz que nos dias de hoje a violência também se alastra aos
homens, sendo por vezes vit imados. No entanto estes apresentam
as queixas em menor número.
Em suma e para concluir uma primeira parte da ficha de leitura
a autora pretende dar a entender as explicações do fenómeno de
violência doméstica. A conclusão a que chega é que se podem
“categorizar em dois grupos”. O primeiro tendo em conta factos
internos e o segundo de factos externos. Com o objectivo de
explicar as razões de determinados comportamentos a autora
invoca autores como Ferreira e Silva (1995) e Foreman e Dallos
(1994).
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Violência Doméstica 24
“Polít icas públicas e violência doméstica: combater o invisível”
(pp.247). É sobre este assunto que Sílvia Portugal fala numa
segunda parte do artigo.
Aqui, a autora, remete-se a falar das polí t icas internacionais
que cooperam no campo da violência doméstica. Dá-os a conhecer
um historial das organizações internacionais, ONU e EU, e as
iniciativas globais destas.
Outro assunto abordado é o da legislação e aplicação da lei,
onde refere os órgãos de segurança pública, e a falta de medidas
efectivas de polí tica que concretizem os objectivos legislativos.
Para concluir “… combater a violência doméstica passa em
grande parte por tornar visível o que é invisível, por tornar público
o que é privado. … Sem programas de acção que intervenham
nestes domínios, a adesão às resoluções das instâncias
internacionais não passa de declarações de princípios que visam
sobretudo aproximar o espaço nacional dos jogos globais da
polí t ica internacional.” (Portugal, 2000)
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Violência Doméstica 25
4. Avaliação da Página da Web
A página Web que escolhi para completar o trabalho, é uma
página correspondente a uma Associação que já referi diversas
vezes neste relatório e que, considero umas das mais importantes
(senão a mais importante) organização não governamental, sem
fins lucrativos de Apoio à Vítima de Violência Doméstica. Refiro-me
então à APAV, cujo site é: www.apav.pt/home.html.
Iniciando assim a avaliação, podemos verif icar que quando
acedemos ao site, este dispõe de uma página bastante completa, e
de fácil acesso a todos os ícones disponibil izados.
Logo no momento em que se entra na página, deparamo-nos
com uma visão completa do site e com a proclamação do slogan
(referente ao Dia Internacional Contra a violência Contra as
Mulheres) que é o seguinte “Já que não pode sentir o que elas
sentem, ouça o que elas ouvem. Dia 25 de Outubro. Dia
Internacional Contra a violência Contra as Mulheres”.
O número de telefone da linha de apoio à vítima é também um
dado que aparece ao longo de toda a página.
Tendo como principal objectivo ajudar as vítimas de violência
doméstica, o site da APAV está dividido por várias secções, de
fácil acesso, onde se pode obter toda a informação necessária
sobre a Associação; os contactos necessários para que a vít ima ou
outra pessoa possa fazer queixa sobre o crime; a formação da
APAV, que inclui o “Plano de Formação Externa”; também
publicações&projectos, que põe a par as vitimas de todos os
artigos publicados, e todos os projectos em vista (estes dados são
disponibil izados em formato PDF).
Na qualidade de Organização Não Governamental, sem fins
lucrativos, a APAV disponibil iza no site várias secções
correspondentes a voluntariado, donativos e mecenato.
Os links disponibil izados na página são uma mais valia, visto
que a partir desses l inks podemos aceder a qualquer outro site de
Associações e Comissões que estão intimamente relacionados com
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Violência Doméstica 26
a APAV e que de certa forma tem os mesmos objectivos, os de
cooperar entre si e combater a Violência Doméstica. O site da
APAV remete-nos para uma grande diversidade de sites que
correspondem a organizações Europeias e não só, que são
consideradas semelhantes, o que permite ter uma maior
informação acerca da violência doméstica.
Para finalizar esta avaliação, podemos dizer que esta página
Web está muito bem concebida, visto ser de fácil navegabil idade
para todas as pessoas, permitindo assim um rápido e eficaz acesso
por parte da população. Não podendo também deixar de referir que
todos os dados nela inserido, como estatísticas, artigos entre
outros são de porte gratuito, podendo qualquer cidadão fazer o
download gratuitamente.
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Violência Doméstica 27
5. Conclusão
Como forma de conclusão de todo este processo de
investigação, acerca de um tema que não sendo dos dias
modernos, se tornou numa grande problema internacional,
podemos dizer que a violência doméstica, para além de ser um
crime punível, é sobretudo um flagelo social. Um drama humano
que afecta milhares de famílias por todo o Mundo, sobretudo
mulheres, crianças e idosos.
Para entendermos este f lagelo social de uma perspectiva
sociológica seria importante relacionar, a violência doméstica com
as ideologias da família. As ideologias da família, tem sofrido
grandes alterações ao longo dos tempos. O conceito de famílias
tradicionais teve um grande abalo social, surgindo portanto
famílias monoparentais, onde o mito da família idealizada,
começou a ser posto em causa.
A violência doméstica assume vários t ipos de abuso: violência
física; verbal: emocional; psicológica; sexual e económica.
É de salientar que sendo as mulheres as principais vit imas e
os homens os principais agressores, por vezes assistimos ao
inverso, sendo os homens maltratados na maioria verbalmente e
emocionalmente. A violência física contra os homens é menos
frequente, mas não deixa de existir.
Deparamo-nos com um quadro horrendo onde a violência é a
protagonista, e onde por vezes as principais forças de intervenção
não conseguem alcançar os agressores, visto que muitas vít imas
não denunciam os crimes. No entanto temos de referenciar o papel
de todas as organizações que colaboram neste campo. O conjunto
de iniciativas realizada em prol da diminuição da violência
doméstica.
Então, como forma de conclusão de um trabalho de
investigação sociológica, podemos compreender as dimensões
deste fenómeno, e perceber que cada vez mais existem novas
modalidades de combate à violência, mas que por vezes, a
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Violência Doméstica 28
insuficiência das acções desenvolvidas, explicam a persistência da
violação dos Direitos Humanos.
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Violência Doméstica 29
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• Wikipédia.org, (2004) “Pesquisa”. Página consultada em 18
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ANEXO I
ANEXO II