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FACULDADE DE DIREITO PROFESSOR DAMÁSIO DE JESUS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO PROCESSUAL PENAL Erika Maria Pigatin INQUÉRITO POLICIAL Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-graduação São Carlos - SP 2017

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  • FACULDADE DE DIREITO

    PROFESSOR DAMÁSIO DE JESUS

    CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

    EM DIREITO PROCESSUAL PENAL

    Erika Maria Pigatin

    INQUÉRITO POLICIAL

    Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-graduação

    São Carlos - SP

    2017

  • FACULDADE DE DIREITO

    PROFESSOR DAMÁSIO DE JESUS

    CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

    EM DIREITO PROCESSUAL PENAL

    Erika Maria Pigatin

    INQUÉRITO POLICIAL

    Trabalho de Conclusão apresentado ao

    Curso de Pós-graduação Lato Sensu em

    Direito Penal da Faculdade de Direito

    Professor Damásio de Jesus como

    requisito à obtenção do título de Pós-

    graduado em Direito Processual Penal.

    Orientador: Profa. Ma. Thaise Oliveira

    Pimentel.

    São Carlos - SP

    Maio de 2017

  • Erika Maria Pigatin

    INQUÉRITO POLICIAL

    TERMO DE APROVAÇÃO

    Esta monografia, apresentada no final do

    Curso de Pós-graduação Lato Sensu, da

    Faculdade Professor Damásio de Jesus, foi

    considerada suficiente como requisito

    parcial para obtenção do Certificado de

    Conclusão. O examinado foi aprovado

    com a nota .

    São Carlos, 31 de Maio de 2017.

  • Erika Maria Pigatin

    INQUÉRITO POLICIAL

    BANCA EXAMINADORA:

    ____________________________________

    Orientador: Profa. Ma. Thaise Oliveira Pimentel

    ____________________________________

    Membro da Banca

    ____________________________________

    Membro da Banca

    São Carlos

    Maio de 2017

  • Dedico a todos que de alguma forma

    contribuíram para que eu chegasse até aqui.

    Aos amigos, aos filhos que sempre

    estiveram ao meu lado.

    Em especial, a Carlos Massari, grande

    amigo, que sempre deu incondicional apoio.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus,

    Aos familiares e amigos que me deram forças.

    A todos os professores, que durante o curso contribuíram para esta conquista.

  • RESUMO

    O Inquérito Policial é um procedimento administrativo inquisitório e preparatório,

    presidido por uma autoridade policial judiciária. Consiste de um conjunto de diligências para

    apuração da materialidade e autoria de uma infração penal no sistema jurídico brasileiro, a fim

    de fornecer elementos de informação para que o titular da ação penal possa ingressar em

    juízo. Sendo sempre presidido por delegados de polícia, o Inquérito Policial tem como

    objetivo principal realizar a investigação preliminar a fim de juntar indícios de autoria e

    materialidade de uma infração. Desta forma, o inquérito policial é caracterizado como uma

    fase pré-processual. A grande característica do inquérito policial é ser uma peça inquisitória

    onde ainda não cabe a ampla defesa e do contraditório. É o primeiro contato que ocorre entre

    a infração penal e o poder público. Nessa fase, os delegados de polícia fazem uso da técnica

    pericial para reunir provas acerca do ato delitivo que poderão vir a ser, ou não, consideradas

    na prolação da sentença pelos Magistrados. O inquérito policial procura elementos

    esclarecedores para servir como base para outras fases seguintes do direito de punir do

    Estado, ou seja, a ação penal. A finalidade é entender como é realizada a persecução penal

    pela polícia judiciária, antes de ser iniciada a ação penal. Trazer o conceito, finalidade,

    características, tipos de ações, início e destinatários do Inquérito Policial.

    O presente trabalho almeja evidenciar a importância do Inquérito Policial para o

    esclarecimento das diversas infrações penais. Comtempla uma vasta pesquisa bibliográfica e

    inclui a definição dos principais conceitos para qualificar o tema quanto a sua aplicabilidade.

    Todo o conteúdo do trabalho foi discorrido e revisado através dos ensinamentos, pensamentos

    e fundamentos de doutrinadores da área.

    A expectativa é de que o tema selecionado possa trazer um entendimento valorativo e

    vultoso para o decurso dos estudos dos acadêmicos em Direito, uma vez que este trabalho foi

    fundamentado de maneira ampla para a fácil compreensão da relevância do inquérito policial

    e sua finalidade.

    Palavras-chaves: Inquérito policial. Peça inquisitiva. Procedimento criminal. Procedimento

    acusatório. Inquérito pré-processual.

  • ABSTRACT

    The Police Inquiry is an inquisitorial and preparatory administrative procedure,

    presided over by a judicial police authority. It consists of a set of investigations to determine

    the materiality and the author of a criminal offense into the Brazilian legal system, in order to

    provide elements of information so that the holder of the criminal action can enter into court.

    Always presided over by police delegates, it aims to gather proof of materiality and criminal

    authorship. In this way, the Police Inquiry is characterized as a pre-procedural phase. The

    great feature of the Police Inquiry is to be an inquisitive piece where it is not yet the case for

    ample defense and contradiction. It is the first contact that occurs between the criminal

    infractions with the public power. At this stage the police delegates make use of the expert

    technique to gather evidence about the criminal offense that may, or may not, be considered in

    the delivery of the sentence by the Magistrates. The police inquiry seeks clarifying elements

    to serve as a basis for other subsequent stages of the State's right to punish, that is, the

    criminal action. The purpose is to understand how is carried out the criminal prosecution by

    the judicial police, before the criminal action is initiated. This must to bring the concept,

    purpose, characteristics, actions types, initiation and recipients of the Police Inquiry.

    The present work aims to highlight the importance of the Police Inquiry for the

    clarification of several criminal offenses. It includes a wide bibliographical research and

    includes the definition of the main concepts to qualify the subject as its applicability. The

    whole content of the work was discussed and revised through the teachings, thoughts, and

    foundations of area specialists.

    The major expectation is that the selected topic can bring a valuable and very large

    understanding to the course of the studies of law scholars, since this work was broadly

    grounded for the easy understanding of the relevance of the police inquiry and its purpose

    Keywords: Police investigation. Inquisitive part. Criminal procedure. Inquisitional procedure.

    Pre-procedural investigation.

  • Sumário

    1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9

    2 INQUÉRITO POLICIAL .......................................................................................... 10

    2.1 Origem do Inquérito Policial .................................................................................. 12

    2.2 Conceito de Inquérito Policial ................................................................................ 13

    2.3 Inquérito Policial e Termo Circunstanciado ............................................................ 14

    2.4 Finalidade do Inquérito Policial ............................................................................. 14

    2.5 Competência .......................................................................................................... 15

    2.5.1 Competência por Prevenção ............................................................................... 16

    2.5.2 Competência Especial ........................................................................................ 16

    3 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL ............................................. 17

    4 PROCEDIMENTOS CRIMINAIS ............................................................................ 19

    4.1 Escrito ................................................................................................................... 19

    4.2 Sigiloso .................................................................................................................. 19

    4.3 Dispensável ........................................................................................................... 21

    4.4 Oficioso ................................................................................................................. 21

    4.5 Discricionário ........................................................................................................ 22

    4.6 Oficial.................................................................................................................... 22

    4.7 Indisponível ........................................................................................................... 23

    4.8 Inquisitorial ........................................................................................................... 23

    4.9 Temporário ............................................................................................................ 24

    4.10 Autoritariedade................................................................................................... 25

    5 NULIDADES .............................................................................................................. 26

    6 NOTITIA CRIMINIS .................................................................................................. 27

    7 INFORMATIO DELICTI ........................................................................................... 28

    8 DELATIO CRIMINIS ................................................................................................. 29

    9 DA AUTORIDADE COMPETENTE........................................................................ 30

    10 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES ........................................................................ 31

    11 INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL ...................................................... 32

    12 INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAS ........................................................................... 35

    12.1 As comissões do Parlamento de Inquérito ........................................................... 36

  • 13 PRAZOS PARA A INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO .......................................... 39

    14 INDEFERIMENTO DA INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL ............. 40

    15 FORMALIDADES ..................................................................................................... 41

    16 RITO ........................................................................................................................... 41

    17 DAS DILIGÊNCIAS .................................................................................................. 42

    17.1 Identificação Criminal ........................................................................................ 44

    17.2 Indícios .............................................................................................................. 46

    18 MUDANÇAS INTRODUZIDAS PELA LEI 13245/2016 ......................................... 46

    19 VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL ......................................... 48

    20 DOS VÍCIOS .............................................................................................................. 49

    21 INDICIAMENTO ...................................................................................................... 50

    22 INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS CONTRA AUTORIDADES COM

    PRERROGATIVA DE FORO .......................................................................................... 54

    23 ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL .................................................. 55

    24 MOTIVOS ENSEJADORES DE ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO

    POLICIAL ......................................................................................................................... 57

    25 DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL .......................................... 59

    26 REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS............................................................. 60

    27 DO DIREITO DE DEFESA DO INVESTIGADO .................................................... 62

    28 A CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL ...................................................... 64

    29 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 65

    30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 66

  • 9

    1 INTRODUÇÃO

    O presente trabalho possui a intenção de criar uma reflexão sobre o tema abordado,

    com relação ao estudo conceituado em torno do Inquérito Policial, sua característica,

    finalidade, diligências e princípios.

    O objetivo desse trabalho é demonstrar através de pesquisas e estudos, todas as fases

    do Inquérito Policial, por meio de criteriosa análise da doutrina, jurisprudência e também a

    legislação brasileira.

    O Inquérito Policial é um procedimento policial administrativo, constituído pelo

    decreto imperial 4.824/1871, que está reproduzido no Código Processual Penal do Brasil

    como procedimento investigativo fundamental para a polícia judiciária brasileira. Ele

    investiga suposto crime e antecede a ação penal, sendo assim, classificado como pré-

    processual.

    O Inquérito Policial é integrado através de provas de autoria e materialidade do crime,

    determinadas por investigadores de polícia e peritos criminais. Fica sempre redigido sob a

    tutela do escrivão de polícia e presidido pelo delegado de polícia.

    O Inquérito Policial é instrução provisória, preparatória, designada a reunir provas à

    investigação da prática de uma infração penal e sua autoria. O Inquérito tem por natureza

    jurídica, como será demonstrado no decorrer desse trabalho, tratar-se de um procedimento

    administrativo.

    O Inquérito Policial é uma peça escrita, instrumental, obrigatória, sigilosa,

    dispensável, inquisitiva, informativa e indisponível.

    Tem como principal finalidade aglomerar elementos que informem a autoria e

    materialidade do fato delituoso. Tem também como finalidade fornecer elementos probatórios

    ao magistrado, uma vez que este analisa de maneira livre e fundamentada, as provas mesmo

    sendo produzidas sem o contraditório judicial.

    O Inquérito Policial sempre servirá como base para uma futura ação penal. Não existe

    ordem a ser seguido quanto às diligências, existindo somente um rol exemplificativo da

    forma.

  • 10

    2 INQUÉRITO POLICIAL

    O inquérito policial antecede a ação penal. É um procedimento administrativo

    persecutório, informativo e prévio. Tem como finalidade comprovar a materialidade e indícios

    de autoria de um crime.

    No inquérito policial não existe litígio, por não existir autor e réu. Existe apenas a

    figura do acusado ou investigado. Em razão da natureza inquisitória, também verificamos a

    ausência do contraditório e da ampla defesa. Isso se deve ao fato da polícia judiciária

    desempenhar simples função administrativa e não jurisdicional.

    A polícia militar também conhecida como de segurança ou ostensiva, tem como

    objetivo impedir a ocorrência de crimes. Já, as policias civil e federal tem como finalidade

    investigar a ocorrência de infrações penais. Sendo assim, a polícia judiciária, presidida por

    seus delegados, é responsável pelo inquérito policial.

    No entanto, de acordo com o parágrafo único do artigo 4º do Código Processual Penal,

    outras autoridades poderão também presidir o inquérito, como ocorre nos casos de Comissões

    Parlamentares de Inquérito conhecidas como CPIs, nos casos de inquéritos Policiais Militares,

    os IPMs, ou ainda, nos casos de investigadores particulares. Em CPIs e IPMs, a investigação

    ficará a cargo da própria chefia da instituição, já nos casos de investigadores particulares, é

    aceito pela jurisprudência, desde que respeite sempre as garantias constitucionais e a não

    utilize de provas ilícitas.

    A competência raticione loci, estabelece a atribuição para presidir o inquérito, ou seja,

    de acordo com o lugar onde foi consumado o crime. Dessa maneira a investigação sempre

    acontecerá no local onde ocorreu o ato criminoso. A atribuição do delegado é determinada

    pela circunscrição policial, exceto quando se tratar de crimes onde existam delegacias

    especializadas, como é o caso da delegacia da mulher e da delegacia de tóxicos, entre outras.

    Os destinatários do inquérito policial são o Ministério Publico ou o querelante, por

    serem autores da ação penal. O Ministério Público será destinatário quando a ação penal for

    de iniciativa pública e, por sua vez, será o querelante quando a ação penal for de iniciativa

    privada. Excepcionalmente, o juiz poderá ser o destinatário do Inquérito quando se encontrar

    perante cláusula de reserva de jurisdição.

    O inquérito policial só será dispensável quando existirem provas suficientes da

    materialidade e indícios de autoria do crime. No entanto se não existir elementos cabais, o

  • 11

    inquérito policial fica indispensável, de acordo com o que dispõe o artigo 39, § 5º do Código

    Processual Penal.

    O inquérito policial, de acordo com o artigo 155 do Código Processual Penal, é

    somente um reforço de prova, se tornando nulas sentenças condenatórias fundamentadas

    exclusivamente nas provas produzidas no inquérito.

    O inquérito policial se apresenta nas formas: escrita, sigilosa, unilateral e inquisitiva.

    Existem dois tipos de instauração. Pode ser de oficio, quando se tratar de ação penal pública

    incondicionada, ou por requisição da autoridade judiciária ou Ministério Público, a pedido da

    vítima, de seu representante legal ou ainda mediante a requisição do Ministério da Justiça.

    A notitia criminis inicia o inquérito policial, ou seja, quando o delito é noticiado às

    autoridades. O boletim de ocorrência, conhecido popularmente como B.O., não é uma

    maneira técnica de dar início ao inquérito, porém se destina ao delegado e é utilizado na

    representação ou requerimento, caso o crime seja de ação penal de iniciativa privada.

    Quanto à denúncia ou delação anônima, a delatio criminis apócrifa, apesar de o

    anonimato ser vedado constitucionalmente, vem sendo defendida favoravelmente pelo

    Supremo Tribunal de Justiça em termos de sua validade, devendo sempre ser utilizado com

    cautela.

    A portaria (ato de oficio onde o delegado irá instaurar o inquérito), o auto de prisão em

    flagrante (onde o delegado formaliza a prisão em flagrante), o requerimento do ofendido ou

    de seu representante legal (a vítima ou outra pessoa requerente, sempre em caso de ação penal

    de iniciativa privada) e a requisição do Ministério Público ou do Juiz são peças inaugurais do

    inquérito policial.

    A decretação de incomunicabilidade do inquérito policial é decretada exclusivamente

    pelo juiz, por no máximo três dias. Em nenhuma hipótese, a autoridade policial poderá

    determiná-la de ofício. No entanto, o defensor terá livre comunicação com o preso, de acordo

    com o que dispõe o parágrafo único do artigo 21 do Código Processual Penal.

    Conclusas as investigações, o delegado remete o ofício ao juiz. Desta maneira, depois

    de saneado, o juiz encaminha ao promotor que, por sua vez, pede o arquivamento ou oferece

    denúncia.

    O prazo de conclusão do inquérito policial, de acordo com o artigo 10, caput, e §3º do

    Código Processual Penal, será de dez dias quando o réu se encontrar preso e de trinta dias

    quando o réu se encontrar em liberdade. No entanto, quando o réu estiver em liberdade esse

    prazo poderá ser prorrogado por mais uma vez, com a devida autorização judicial. Já na

    Polícia Federal, o prazo é de quinze dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis por mais

  • 12

    quinze dias. Em crimes de tráfico de drogas o prazo é de trinta dias, se o réu estiver em

    liberdade. Esse prazo também é prorrogável para mais trinta dias, de acordo com a disposição

    da Lei 11.343/2006.

    O arquivamento do inquérito policial paralisa as investigações por falta de justa causa,

    ou seja, falta de materialidade e de indícios de autoria, por ser o fato atípico ou pela extinção

    da punibilidade. É sempre realizado pelo Ministério Público. O juiz jamais poderá utilizar de

    ofício para arquivar inquéritos, sem que o Ministério Público se manifeste neste sentido.

    Com o desarquivamento, ocorre a retomada das investigações até então paralisadas,

    isso ocorre sempre pelo surgimento de alguma prova nova.

    2.1 Origem do Inquérito Policial

    O inquérito policial teve inicio na Grécia Antiga. Dentre os atenienses, era comum a

    prática investigatória para apurar a honestidade familiar e individual dos que eram eleitos

    como magistrados. Dentre os romanos, existia uma delegação de poderes fornecidos pelos

    magistrados a vitima ou aos seus familiares, a fim de que se investigassem o crime e

    encontrassem o delituoso, assim os tornando acusadores. Essa delegação era conhecida como

    inquisitio. Tempos depois, a inquisitio aprimora o seu procedimento e concede também

    poderes ao acusado para investigar meios para unir elementos que pudessem comprovar sua

    inocência. Subsequentemente, o Estado tomou para si este direito de investigação, delegando

    para os agentes públicos essa função.

    Nas ordenações Filipinas não existiam os inquéritos policiais. No entanto, o mesmo foi

    originário de Roma, na idade média, e teve referências também na legislação portuguesa e

    com aplicação também no Brasil.

    Com o surgimento do Código de Processo Penal em 1832, foram desenhadas normas a

    respeito das funções dos Inspetores de Quarteirões. Porém, estes não possuíam a atividade de

    Polícia Judiciária, pois não se tratava de um inquérito policial. Existia somente dispositivos

    que traçavam informações sobre o procedimento.

    Com o advento da Lei nº 2.033 de 20 de setembro de 1871, regulamentada pelo

    Decreto nº 14.824 de 28 de novembro de 1871 (artigo 4º, § 9º), nasceu o ordenamento à

    denominação de Inquérito Policial em seu artigo 42, com a seguinte definição “O Inquérito

    Policial consiste em todas as diligências necessárias para o desenvolvimento dos fatos

  • 13

    criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a

    instrumento escrito” (PICOLLIN, 2007).

    2.2 Conceito de Inquérito Policial

    O inquérito policial pode ser conceituado como um procedimento administrativo de

    caráter investigatório, que tem como finalidade a colheita de elementos suficientes para

    subsidiar a propositura de uma ação penal.

    Podemos extrair do conceito acima que o Inquérito policial não é um processo. Trata-

    se de um procedimento administrativo informativo que tem com objetivo dar ao titular da

    ação penal indícios suficientes para a propositura da mesma. Não incidem no inquérito

    policial as garantias de ampla defesa e contraditório aplicadas ao processo penal.

    Podemos então afirmar que na fase do inquérito policial não há acusações e defesa. Há

    unicamente a apuração dos fatos conduzidos pelo órgão especializado com a finalidade de

    apurar uma infração penal e sua autoria. Uma vez que o inquérito policial é apenas um

    procedimento informativo, casuais vícios em sua confecção não acarretam nulidade à ação

    penal que vier a ser instaurado baseado nele. Esses vícios podem manchar o próprio ato,

    acarretando consequência, como por exemplo, ter como nulo o reconhecimento de pessoa

    quando concretizado em desacordo com os ditames legais. Porém, não invalidam o inquérito

    policial todo, nem mesmo a ação penal.

    Por esse motivo, o valor probatório do inquérito policial vem a ser relativo, ou seja,

    não é admissível fazer condenação em provas colhidas unicamente no inquérito policial e não

    reproduzidas em juízo. Devemos deixar claro que determinadas provas, tais como perícias em

    geral, normalmente não carecem de serem repetidas em fase judicial, já que são oficiais e

    permitem contestação no processo. Caso assim queira, o acusado pode apontar alguma

    irregularidade.

    Podemos dizer então que, quando ocorre uma infração penal, o Estado deve, por meio

    da polícia civil, perseguir provas iniciais acerca da autoria e, também, da materialidade a fim

    de fornecê-las ao titular da ação penal, ou seja, o Ministério Público ou ofendido. Depois que

    o Ministério Público ou ofendido avalie as provas, decidirá se oferece ou não a denúncia ou

    queixa-crime. Se oferecida a denuncia, o inquérito policial acompanhará a ação penal, sempre

    anexada aos autos, para que o juiz possa julgar se existem indícios suficientes de autoria e

    materialidade para recebê-las. Assim, podemos afirmar que o destinatário imediato do

  • 14

    inquérito policial é o titular da ação, ou seja, o Ministério Público ou o ofendido. Já o

    destinatário mediato é o juiz.

    2.3 Inquérito Policial e Termo Circunstanciado

    O inquérito policial é instaurado para a investigação de delitos penais onde a pena seja

    superior a dois anos. Mas, quando se trata de infrações com menor potencial ofensivo, o

    artigo 69 da Lei nº 9.099/95, determina a lavratura do termo circunstanciado.

    As infrações de menor potencial ofensivo e as contravenções penais, artigo 69 da Lei

    nº 9099/95, tem com pena máxima não superior a dois anos. Quando for observado que a

    infração de menor potencial ofensivo é complexa, tornando inviável sua investigação

    mediante termo circunstanciado, será, nesse caso excepcionalmente, instaurado o inquérito

    policial que posteriormente será remetido ao Juizado Especial Criminal.

    Nos termos do artigo 41 da Lei nº11. 340/2006, popularmente conhecida como Lei

    Maria da Penha, todas as infrações penais que envolvam violência doméstica, ou ainda,

    familiar contra a mulher, serão apuradas através do inquérito policial, mesmo que a pena

    máxima não seja superior a dois anos.

    2.4 Finalidade do Inquérito Policial

    Embora muitas vezes as sentenças condenatórias tenham como base apenas o inquérito

    policial, por lei, este não tem como função determinar ou não a condenação de qualquer

    sujeito que venha a ser apontado por ter cometido infração penal. Deve o inquérito policial, de

    acordo com a lei, somente ser uma peça informativa ao Ministério Público. Descritiva, em

    termos de, qual o tipo de infração penal se caracteriza, quem seria seu possível autor e

    possuidora de provas, nos quais foram reunidas no decorrer das investigações policiais contra

    o acusado.

    A finalidade do inquérito policial é a apuração da existência de uma infração penal

    punível, desvendando seus responsáveis. Não tendo assim, por finalidade, determinar a

    condenação do indivíduo que tenha sido apontado como culpado.

    De nenhuma maneira poderá ser recusada a diligência capaz de elucidar fatos da

    ocorrência. Faz-se sempre necessário que a autoridade policial considere se é necessária a

    remessa ao juízo.

  • 15

    Fazendo uso de todos os elementos investigatórios que integra o inquérito policial, ele

    tem que demonstrar ao órgão da acusação os elementos essenciais de um crime, dando ensejo

    à ação penal.

    2.5 Competência

    A competência é o poder fornecido pela lei a determinado sujeito, a fim de que esse

    exerça certa atividade.

    De acordo com o que dispõe o artigo 4º do Código Processual Penal, é de competência

    da polícia judiciária, que é exercida através de autoridades policiais no território de suas

    respectivas circunscrições, a investigação das infrações penais e suas autorias.

    Os inquéritos policiais são presididos por delegados das Polícias Federais ou

    Estaduais, de acordo com o que prevê o artigo 144, §4º da Constituição Federal. Esses

    delegados são responsáveis pela segurança pública e também pela preservação da ordem

    pública, mesmo não sendo portador de jurisdição, característica que é inerente ao poder

    judiciário. Como deixa clara a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (BRASIL,

    1996)

    A Autoridade Policial, no exercício da função de polícia judiciária, não exerce

    jurisdição, não lhe sendo vedado lavrar auto de prisão em flagrante relativamente à

    infração penal ocorrida em local diverso de sua sede funcional. - o Inquérito

    Policial, inclusive o auto de prisão em flagrante, É um procedimento de natureza

    administrativa, não implicando nulidade a circunstancia de haver sua lavratura ter

    sido comunicada a juízo sem jurisdição no local do crime.

    A atuação da autoridade policial divide-se, primeiramente, entre a União e os Estados,

    seguidos da divisão de circunscrição da área da unidade policial, dentro de um Município ou

    Distrito.

    A competência pode ter origem, também, a partir do local onde foi consumada a

    infração penal (ratione loci), como está descrito nos artigos 5º e 6º do Código Penal.

    Competência essa, exclusiva e indelegável. Porém, pode ser distribuída de acordo com a

    natureza da infração. Como exemplo, quando temos delegacias especializadas em

    determinada matéria, nesse caso estamos falando da ratione materiae.

    Conforme o disposto no artigo 4º, parágrafo único do Código de Processo Penal, as

    autoridades administrativas também possuem competência legal para a tarefa de investigação,

    não sendo assim, competência exclusiva das autoridades policiais.

  • 16

    Exemplos clássicos são as sindicâncias e os processos administrativos de infrações

    perpetradas por policiais militares e as investigações dirigidas por membros do Poder

    Legislativo, em caso das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Essa modalidade de

    investigação, por órgãos diversos da polícia judiciária, traz à tona discussões acerca da

    possibilidade do Ministério Público investigar e instruir o seu procedimento administrativo

    pré-processual.

    2.5.1 Competência por Prevenção

    Esse tipo de competência, em via de regra, é muito aplicada pela Polícia Civil do

    Estado de São Paulo, especialmente por determinação do artigo 5º, I, do Código Processual

    Penal, em face do princípio da obrigatoriedade, não há como protelar a inauguração da

    investigação policial, diante da notícia de um delito. Posto que, existem diversas normas

    administrativas que regulamentam as possibilidades fáticas ocorridas na prática diária de

    Polícia Judiciária.

    No momento em que chega ao conhecimento do Delegado de Polícia, numa unidade

    que não atenda aquela abrangência territorial, este por obrigação tem de registrar o ocorrido.

    Nessa situação, o Delegado de Polícia elaborará o registro e remeterá o boletim de ocorrência,

    junto com todas as peças que tenham relação ao fato, à unidade policial interessada, de acordo

    como o artigo 13, I, da Portaria DGO-18/98.

    Caso o Delegado de Polícia apure que o ocorrido deva realmente ser investigado por

    unidade diversa, em razão da área territorial ou da matéria, terá de, em despacho

    fundamentado, remeter os autos de Inquérito Policial ao Juízo competente, indicando a

    remessa do procedimento à unidade de polícia que pertencer à investigação policial.

    2.5.2 Competência Especial

    O Delegado de Polícia é a autoridade policial com competência para agir em vários

    casos de crimes. É um caso exclusivo, entendimentos inerentes aos fundamentos da prisão em

    flagrante e de política criminal, uma vez que, perante de situação flagrancial, o Delegado de

    Polícia e seus agentes deverão prender quem que nessa situação esteja, mesmo que não seja a

    competente para a sequência nos autos, de acordo com entendimento desinente do exame do

    artigo 301, casado com o artigo 304, § 1º do Código Processual Penal.

  • 17

    Essa forma de competência especial, poderá ou não, ser compatível com a regra de

    prevenção, devendo o Delegado atendente, mesmo que não possua competência para

    continuar nos autos até a finalização do Inquérito Policial, preparar o auto de prisão em

    flagrante delito.

    Essas regras encontram-se fundamentadas nos artigos 290 e 308 do Código Processual

    Penal, nas quais podemos verificar que a autoridade policial competente para a realização da

    lavratura do respectivo auto, será o do lugar onde for efetivada a prisão, contrariando dessa

    forma a geral, de que é a do local do crime. Conforme a Recomendação da DGP-2/90, em

    consonância com os já mencionados artigos, não existindo autoridade policial no lugar onde

    ocorrer a prisão, o preso será apresentado à autoridade do lugar mais perto.

    3 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

    As características próprias do inquérito policial devem ser sempre conduzidas pela

    polícia judiciária, tanto pela Polícia Civil, quanto pela Polícia Federal. A presidência do

    inquérito fica por conta da autoridade policial, os delegados da polícia civil e os delegados da

    polícia federal, que são auxiliados por equipes de investigadores de polícia, como escrivães e

    agentes policiais, entre outros. Conforme o artigo 2º, §1º, da Lei n.12.830/2013 (BRASIL,

    2013)

    Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe à condução da

    investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da

    autoria das infrações.

    A Constituição Federal destaca o tema em seu artigo 144, §1º, da Constituição

    Federal, fazendo previsão das diretrizes que a Polícia Federal deve seguir ao apurar as

    infrações penais praticadas contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,

    serviços ou de interesse da União, de suas empresas públicas ou de suas entidades

    autárquicas. Como também, devem apurar as infrações perpetradas em desfavor interestadual

    ou internacional, estabelecendo repressão uniforme, baseado no que a lei descreve. Dessa

    maneira, ficando sobre responsabilidade da polícia federal apurar todos os delitos de

    competência da Justiça Federal, assim como, os crimes de âmbito eleitorais.

    O mesmo artigo 144, em seu §4º, da Constituição Federal, trata do tema das Polícias

    Civis (de cada Estado), presididas por delegados de polícia de carreira. Nele, é descrito que

  • 18

    Polícias Civis devem ter função de polícia judiciária, apurando infrações penais, exceto as

    infrações no âmbito militar e as de competência da União. Os delegados são concursados, não

    existindo mais a nomeação de delegados de polícia, sem concurso, por autoridades policiais.

    Os membros do Ministério Público, de acordo com o artigo 26, IV, da Lei n.

    8.625/1993, podem participar das investigações do inquérito. Podendo, também, instaurar

    seus procedimentos investigatórios criminais da promotoria. Sendo assim, uma vez instaurado

    inquérito policial na Polícia Civil, o responsável por presidir sempre será o delegado de

    polícia e em nenhuma hipótese, o órgão do Ministério Público.

    Conforme a Súmula n. 234 consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça “A

    participação de membro do Ministério público na fase investigativa criminal não acarreta seu

    impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia” (CRAVEIRO, 2014).

    Ou seja, se um promotor de justiça participar das apurações do inquérito policial, não

    fica impedido de propor a ação, por não ser considerado, por esse motivo suspeito ou

    impedido.

    Caso ocorra crime na esfera militar, deverá ser instaurado o inquérito policial militar,

    que é de responsabilidade das Forças Armadas ou Polícia Militar (de acordo com o autor da

    infração). Do mesmo modo não será instaurado inquérito policial, se a infração for atribuída a

    membro do Ministério Público ou juiz de direito, situações em que a investigação ficará por

    conta da própria chefia da Instituição do Judiciário.

    Uma característica de extrema importância é no que tange o sigilo do inquérito

    policial. O inquérito policial deve ser sempre sigiloso para que o delegado de policia possa

    promover as diligências necessárias para a elucidação dos fatos sem que haja qualquer

    prejuízo, como por exemplo: a destruição, a ocultação de provas, ou ainda a influência sobre

    as testemunhas, entre outros. Porém isso não se aplica ao Ministério Público, ao Judiciário

    nem tão pouco ao advogado legitimado para tal. De acordo com o artigo 20 do Código de

    Processual Penal “a autoria assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou

    exigido pelo interesse da sociedade” (SANNINI NETO, 2015). Esse assunto será abordado no

    decorrer do trabalho, onde estudaremos as novidades trazidas pela Lei nº 13.245/2016.

  • 19

    4 PROCEDIMENTOS CRIMINAIS

    4.1 Escrito

    Todos os atos do inquérito policial devem ficar reduzidos a termo, ou seja, escrito,

    para que exista segurança em relação ao seu conteúdo. Por se tratar de um procedimento

    administrativo, o inquérito policial tem por objetivo o provimento de elementos de

    informação suficiente para que o titular da ação penal ingresse em juízo. Por isso esses

    elementos devem ser fornecidos de maneira escrita, conforme o estipulado pelo artigo 9º do

    Código Processual Penal “Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,

    reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade” (BRASIL,

    1941a).

    Contudo, a Lei n.11.719/2008, trouxe a possibilidade do depoimento do indiciado, do

    ofendido e de testemunhas por meios de recursos de gravação magnética, estenotipia, digital

    ou de técnica similar, incluindo audiovisual, para ter o máximo de fidelidade das informações

    (artigo 405, §1º, do Código Processual Penal). E permitindo que, em autos do inquérito

    policial, sejam utilizados recursos audiovisuais, sem a necessidade de posterior redução a

    termo (artigo 405, §2º, do Código Processual Penal). Mesmo que boa parte dos atos

    inquisitórios seja escrito (artigo 9º, CPP), podemos salientar que em virtude do artigo 405,

    §§§ 1º e 2º, do CPP, tal procedimento não é necessariamente escrito.

    4.2 Sigiloso

    Diferente do que ocorre com os atos processuais, os quais a Constituição Federal em

    seu artigo 5ª, LX, busca o princípio da publicidade, o inquérito policial é um procedimento

    sigiloso como determina o artigo 20 do Código Processual Penal “A autoridade assegurará no

    inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”

    (BRASIL, 1941b).

    Podemos observar que este dispositivo tem como objetivo evitar que, a publicidade

    das provas juntadas ou aquelas que a autoridade pretende obter, prejudique a investigação da

    infração. Tal sigilo, no entanto, não abrange a autoridade judiciária, nem mesmo o Ministério

    Público.

  • 20

    Tal norma teve sua eficácia fragilizada com o advento do artigo 7º, inciso XIV, da lei

    n.8.906/1994 (BRASIL, 1994; estatuto da ordem dos advogados), modificado mais uma vez

    através da Lei n.13.245/2006, que preconiza o direito do advogado (BRASIL, 2016)

    Examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo

    sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos

    ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade podendo copiar peças e tomar

    apontamentos, em meio físico ou digital.

    Devemos ressaltar que, a Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal,

    determina (BRASIL, 2009a)

    É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos

    de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão

    com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de

    defesa.

    Tal súmula é clara sobre o acesso dos defensores as provas já documentadas, já

    incorporadas aos autos. Não existe tal prerrogativa em relação às provas em andamento,

    evidentemente para não torna a diligência inócua. O mesmo artigo 7º, §11º, do Estatuto da

    OAB, faz ressalvas sobre o poder que a autoridade policial tem para delimitar o acesso dos

    advogados aos elementos de provas em fase de investigação e ainda não documentados nos

    autos, quando existir algum tipo de risco de comprometimento da eficiência, das eficácias ou

    da finalidade das investigações. Conforme acima referido, algumas investigações produzidas

    no decorrer das diligencias necessitam de sigilo absoluto, por cautela, para que não sejam

    frustradas suas finalidades ou de ainda não colocar em risco a vida dos policiais nelas

    entranhados, como acontece quando o agente policial é infiltrado, ou ainda, de inteligência de

    investigações criminosas (artigo 23, caput, da Lei n. 12.850/2013) ou de interceptação

    telefônica (artigo 8º da Lei n. 9.296/1996).

    O defensor poderá se fazer presente no interrogatório do indiciado e também na

    produção de provas testemunhais, porém, fica impedido de fazer reperguntas, devido ao

    caráter inquisitório do inquérito policial. A presença do defensor, durante a oitiva das

    testemunhas, fornece grade aos depoimentos, uma vez que é corriqueiro que os réus, logo

    após terem confessado o delito diante ao delegado, declarem em juízo que o documento foi

    adulterado, ou ainda, que foram forçados a confessar por meio de violência. Com a presença

    do advogado no interrogatório extrai do acusado a credibilidade nesse tipo de acusações.

  • 21

    4.3 Dispensável

    É dispensável. Não é obrigatória a existência do inquérito policial e nem essencial para

    a deflagração de uma ação penal. No Código Processual Penal, há vários dispositivos que

    admitem que a denúncia ou queixa sejam desencadeadas sendo baseadas nas chamadas peças

    de informação, que na realidade podem ser qualquer tipo de documento que prove os indícios

    de materialidade e autoria de uma infração penal.

    O artigo 28 do Código Processual Penal é enfático mencionando que se o Ministério

    Público não entende que existem elementos necessários para o oferecimento da denúncia,

    deverá requer ao juiz o arquivamento do inquérito policial ou das peças de informação.

    Porém, se o Ministério Público entender que as provas contidas nas peças de informação não

    são suficientes, mas que novas informações de convicção podem ser conseguidas pela

    autoridade policial em investigação, poderá requisitar a instauração de inquérito policial,

    remetendo as autoridades policiais às peças que estão em sua posse.

    Da mesma forma, o artigo 39, §5º do Código Processual Penal, faz previsão que o

    Ministério Público tendo em mãos documentos que habilitem a deflagração imediata da ação

    pública condicionada, dispensará o inquérito policial.

    Por derradeiro o artigo 40 do Código Processual Penal, faz previsão que os juízes e,

    também, os tribunais deverão encaminhar cópias e documentos ao Ministério Público, se os

    autos ou papéis que conhecerem no desempenho da jurisdição observem a ocorrência de

    crimes de ação pública.

    O ministério Público poderá oferecer denúncia assim que receber as tais peças ou

    poderá ainda pedir novas diligências complementares se julgar necessário ou ainda requisitar

    a instauração de inquérito policial, remetendo à autoridade policial as peças que se encontram

    em sua posse.

    4.4 Oficioso

    Se chegar ao conhecimento da ocorrência de prática de um delito que seja de ação

    penal pública incondicionada, a autoridade policial deverá agir de oficio fazer a instauração

    do inquérito policial, independente da vontade do ofendido ou de seu representante legal.

  • 22

    Nos casos de crimes que são de ação pública condicionada à representação e de ação

    penal de iniciativa privada, somente poderá ser instaurado o inquérito policial após a prévia

    manifestação do ofendido ou de seu representante legal.

    4.5 Discricionário

    É sempre a autoridade policial que conduz as investigações, elaborando diligências de

    forma discricionária, de acordo com as particularidades de cada caso. Os artigos 6º e 7º do

    Código Processual Penal delineiam diligências podem ou não serem aceitas no decorrer do

    inquérito policial.

    Tal discricionariedade, contudo, não requer descrever que existe liberdade absoluta na

    atuação da autoridade policial, necessitando atuar sempre conforme os termos e limites da lei.

    No entanto, temos investigações que são dotadas de obrigatoriedades, como é o caso de

    delitos que deixam vestígios, onde é obrigatório o cumprimento de realização do exame de

    corpo de delito, direto ou indireto, conforme está previsto no artigo 158 do Código Processual

    Penal.

    Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

    Ademais, no decorrer do inquérito, o ofendido ou seu representante legal e o indiciado

    poderão solicitar qualquer diligência, que será realizada ou não, a juízo da autoridade,

    conforme artigo 14 do Código processual Penal.

    Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer

    qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

    Apesar de o inquérito policial ser oficioso não perde a característica de sua

    discricionariedade, já que aquele somente diz respeito à obrigatoriedade de sua instauração

    por parte do delegado de polícia.

    4.6 Oficial

    A oficialidade está disposta no artigo 144, §4º, da Constituição Federal e diz que “Às

    polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a

  • 23

    competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,

    exceto os militares” (BRASIL, 1988), onde deixa claro que o inquérito policial é conduzido

    sempre pelo Estado, na figura do delegado de polícia, ficando vedada pessoa comum conduzir

    as investigações.

    4.7 Indisponível

    É uma importante característica do inquérito policial, pois depois da instauração do

    inquérito policial pelo delegado de polícia, este em momento algum poderá arquiva-lo como

    está disposto no artigo 17 do Código Processual Penal, uma vez que o arquivamento é

    veiculado através de uma decisão judicial, logo após requerimento prévio feito pelo titular da

    ação penal à autoridade judiciária.

    Sendo assim, mesmo que o Delegado de Polícia constate no decorrer da investigação

    que os fatos apurados não constituem crime, esse, em nenhum momento poderá determinar o

    arquivamento do Inquérito Policial. Nessa situação, diante da indisponibilidade do Inquérito

    Policial, deverá então o Delegado de Polícia produzir o relatório e encaminhar ao juízo

    competente. O magistrado por sua vez, precisará abrir vista ao membro do Ministério Público.

    Devemos salientar que o magistrado não pode determinar o arquivamento de um

    Inquérito Policial sem a prévia manifestação do Ministério Público, que é sempre o titular

    privativo da ação penal pública. Compete ao Ministério Público a avaliação da desnecessidade

    ou então da inviabilidade da continuidade das investigações. Sendo assim, o arquivamento do

    Inquérito Policial unicamente pode ser definido por decisão judicial, sempre a requerimento

    do Ministério Público.

    4.8 Inquisitorial

    O inquérito sempre será presidido por autoridade policial de maneira discricionária,

    cabendo a essa determinar as investigações que julgar necessárias, de acordo com o artigo 14

    do Código Processual Penal.

    No inquérito policial não há observância do contraditório e da ampla defesa, por se

    tratar de um procedimento de natureza administrativa e não de processo judicial ou

    administrativo, uma vez que do inquérito não há resultado de qualquer sanção. Isso não

  • 24

    significa que o indiciado não tenha direito fundamentais resguardados, uma vez que é

    garantido a ele o silêncio, direito de ser assistido por um advogado, entre outros.

    Existe uma corrente doutrinária, porém minoritária, que afirma a possibilidade de

    ampla defesa ainda na fase inquisitorial, pois, não podemos falar em contraditório no decurso

    da investigação, uma vez que nessa fase ainda não existe acusação formal, seja porque para

    alguns doutrinadores, sequer existe um procedimento, não podemos afirmar que não se acolhe

    o direito de defesa, já que esta tem espaço em todos os crimes e em qualquer tempo, e estado

    da causa.

    Contudo, no inquérito que propor à expulsão do estrangeiro, sempre será obrigatório à

    observância do contraditório e da ampla defesa, uma vez que tal procedimento instaurado

    após anterior requisição do Ministro da Justiça e concretizado pelo Departamento de Polícia

    Federal, como dita os termos do artigo 102 do Decreto nº 86.715/1981.

    4.9 Temporário

    O inquérito policial não é ad eternum. Sendo assim, existe prazo para sua conclusão,

    que varia de acordo com a natureza da infração penal perpetrada.

    Em regra, os crimes que tem competência da Justiça Estadual, o prazo de conclusão do

    inquérito deverá seguir o artigo 10 do Código Processual Penal, que é de dez dias se o

    indiciado foi preso em flagrante, ou se encontrar preso preventivamente. No caso de réu em

    liberdade, com fiança ou sem fiança, o prazo será de trinta dias.

    Se o acusado estiver em liberdade, o prazo para a conclusão poderá ser prorrogado se

    o fator de difícil esclarecimento, devendo o delegado de polícia requer ao juiz a devolução

    dos autos, para próximas diligências, que serão realizadas no prazo estipulado pelo juiz,

    conforme artigo 10, §3º, do Código Processual Penal.

    Se o crime praticado for de competência da Justiça Federal, o prazo para a conclusão

    do inquérito policial será de quinze dias, prorrogável por igual período, desde que haja pedido

    fundamentado da autoridade policial e mediante autorização judicial, se o indiciado estiver

    preso, artigo 66 da lei nª 5.010/1966. Se o indiciado estiver em liberdade, no silêncio da

    referida lei, é aplicado o prazo previsto no artigo 10 do Código Processual Penal, que será de

    trinta dias.

  • 25

    Nos crimes praticados contra a economia popular, o prazo para a conclusão do

    inquérito será de dez dias, independentemente de o indivíduo estar preso ou em liberdade,

    artigo 10, §1º da Lei n.1.521/1951.

    Se o inquérito policial for de competência da Justiça Militar, o prazo deverá ser

    concluído em vinte dias, se o acusado estiver preso, prazo esse contado a partir do dia em que

    se executar a ordem prisional. Se o acusado estiver em liberdade, o prazo será de quarenta

    dias, contados a partir da data de instauração do inquérito. Nesse caso podendo ser prorrogado

    por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídas as

    investigações já iniciadas, ou caso haja necessidade de diligência, indispensável ao

    esclarecimento do fato, artigo 20, caput, e §1º do Código Processual Penal Militar.

    Já nos crimes previstos na Lei nº 11.343/2006, o prazo de conclusão do inquérito

    policial será de trinta dias, se o indiciado se encontrar preso, e noventa dias se estiver em

    liberdade. Os dois prazos poderão ser dobrados pelo juiz, desde que ouvido o Ministério

    Público, mediante requisição justificada do delegado de polícia.

    Por derradeiro, se decretada a prisão temporária, o inquérito deverá ser concluído em

    cinco dias, prorrogáveis por mais cinco dias em caso de comprovada necessidade, conforme

    artigo 2º da lei nº 7.960. Em caso de crimes hediondos ou equiparados, o prazo será de trinta

    dias prorrogáveis por mais trinta dias em caso de comprovada necessidade, conforme o artigo

    2º, §4º, da Lei nº 8072/1990.

    4.10 Autoritariedade

    O Inquérito Policial é sempre presidido pela autoridade pública, o Delegado de

    Polícia, conforme artigo 144, §§1º e 4º, inciso I e IV da Constituição Federal. Esse

    entendimento vem recentemente consagrado no artigo 2º, § 1º, da Lei n. 12.830/13 (BRASIL,

    2013)

    § 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da

    investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto

    em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, de materialidade e da

    autoria das infrações penais.

    Além do artigo 3º da Lei n. 12.830/2013, “O cargo de delegado de polícia é privativo

    de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado mesmo tratamento de protocolar que

  • 26

    recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os

    advogados” (BRASIL, 2013).

    5 NULIDADES

    A nulidade torna o ato jurídico ineficaz pela ausência de uma das condições

    necessárias. O Código do Processo Penal estabelece que nenhum ato poderá ser declarado

    nulo se a eventual nulidade não vincular prejuízo tanto para a acusação quanto para a defesa.

    Igualmente, o ato processual não será declarado nulo quando não existir influído na

    apuração da decisão da causa ou na verdade substancial. O inquérito policial somente será

    passível de nulidade se qualquer um dos atos de sua composição estiver viciado.

    O Código Processual Penal aponta as situações em que os atos do inquérito policial

    são passiveis de nulidade.

    O artigo 564 elenca todas as situações onde ocorrerá a nulidade, entre outros casos, se

    a parte for ilegítima ou se houver carência de alguns procedimentos ou termos, tais como, a

    deficiência ou ausência da denúncia, da queixa, da representação, dos processos de

    contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante.

    A ausência do exame de corpo de delito em crimes que deixam vestígios, salvo a

    ressalva do artigo 167 do Código Processual Penal onde há o desaparecimento dos vestígios,

    porém contem a prova testemunhal suprindo-lhe a falta; gera a nulidade. A ausência da

    intercessão do Ministério Público, em todos os termos da ação por ele diligenciada, e também

    nas propostas feitas pela parte ofendida, nos casos dos crimes de ação pública, assim como, a

    ausência de formalidade que conste como elemento essencial dos atos, podem ser passiveis de

    nulidade.

    A afirmativa de que os vícios do inquérito policial viciam o processo criminal não é

    pacifica. Para alguns autores, o inquérito não é parte do processo judicial. Sendo assim,

    mesmo no caso de existir nulidades no inquérito policial, tais vícios não contaminará a ação

    penal. Nesse caso, poderá existir a ilegalidade nos atos inerentes ao inquérito policial,

    podendo ser imprescindível o desfazimento do ato e de outros atos a ele conexo. Porém, tal

    fato não contaminará diretamente o processo todo, uma vez que o inquérito policial tem

    caráter informativo. No entanto, se no inquérito policial existir algum tipo de ausência de

    formalidade essencial, este poderá ser considerado nulo, ficando nulos também os demais atos

    decorridos daquele ato viciado.

  • 27

    Há doutrinadores que afirmam que se o ato viciado do inquérito policial for ecoando

    no processo, poderá esse ato contaminar não só a ação, mas também a sentença que considerar

    tal ato nulo. Cabe sempre ao magistrado competente fazer uma análise minuciosa do inquérito

    policial e, também, da denúncia. Sempre com a finalidade de examinar se foram efetuadas

    diligências sem o cuidado de observar os ritos determinados pelo Código Processual Penal.

    Da mesma maneira, este deverá observar se as garantias e os direitos dos indiciados foram

    respeitados.

    Em caso de constatação de nulidade do ato, deverá ser decretado a nulidade do mesmo

    e desentranhá-lo do caderno processual. Compete ainda ao juiz da causa, analisar se outros

    atos não foram contaminados, tornando-se nulos. Em caso positivo, os mesmos deverão

    também ser desentranhados e desprezados dos autos.

    Existem algumas irregularidades que podem ser sanadas a posteriori, como por

    exemplo, as omissões da denúncia, da representação, da queixa, da portaria, ou ainda, o auto

    de prisão em flagrante. Esse saneamento pode ser investido a qualquer tempo, porém, antes da

    sentença final.

    6 NOTITIA CRIMINIS

    O conhecimento é entendido como notitia criminis, automático ou instigado, de

    provável fato típico pela autoridade policial, instante em que o responsável, ou seja, delegado

    de policial deve dar destaque a persecução penal principiando as averiguações a cerca dos

    fatos. Que deve ser qualificada da seguinte maneira:

    a) Cognição direta, espontânea, imediata ou informal: a partir do momento em

    que for do conhecimento de fato criminoso por meio de jornais, através de

    suas atividades rotineiras, por intermédio de investigações concretizadas,

    por meio da própria polícia judiciária, através da denuncia da denuncia

    anônima, pelo ocasional corpo de delito, por meio de comunicação da

    polícia Militar do Estado, entre outros. Também é informal, pois o boletim

    de ocorrência tem validade jurídica própria, é de extrema valia para o Poder

    Judiciário, transcrevendo a comunicação oral do noticiante do delito na

    unidade policial, gerando com os dados referentes às providências

    preliminares praticadas;

  • 28

    b) Cognição indireta mediata qualificada ou provocada: nessa conjuntura, a

    autoridade é noticiada do criminoso por meio de qualquer ato jurídico de

    comunicação formal;

    c) Cognição coercitiva: decorre das prisões em flagrante, quando o preso é

    apresentado perante o delegado competente. Por meio da qual o Delegado

    de Polícia não tem alternativa, ou seja, dar início ao Inquérito Policias, a

    peça onde consta a notícia do delito já contempla procedimento

    inquisitório. Note-se que é coercitiva, pois constitui o próprio fundamento

    do mencionado auto.

    Devemos destacar que o Termo Circunstanciado pode ser tido também como uma

    maneira coercitiva de conhecimento, já que o procedimento legal que substitui o auto de

    prisão em flagrante delito, no momento em que o acusado se pactuar a comparecer em juízo,

    por intermédio da assinatura do termo respectivo, nos casos de crimes de menor potencial

    ofensivo.

    Existem outras maneiras de cognição são a delação e a informação referenciada, que

    são sucedidas da notícia da autoria do delito recebidas pelo Delegado de Polícia por

    intermédio das informações proporcionadas pelas partes durante as oitivas das testemunhas,

    estaremos perante das informações referenciadas.

    Nesse seguimento, salientamos que terão prioridade na tramitação do Inquérito

    Policial e o processo criminal em que o indiciado, acusado, vítima ou réu, vítima ou

    testemunha protegidas pelos programas especiais de proteção a vítima e testemunha

    ameaçadas, de acordo da Lei nº 12.483, de 8 de setembro de 2011.

    7 INFORMATIO DELICTI

    Ocorre o informatio delicti no momento em que a notitia criminis dá ensejo ao

    inquérito policial. A informatio delicti tem como objetivo de formar a desconfiança do delito,

    a qual incide no na denuncia ou queixa, tão somente na probabilidade da existência do delito

    consequente de provável pratica de fato típico, que se instituirá no fundamento da denuncia

    que principia a ação penal.

  • 29

    8 DELATIO CRIMINIS

    A delatio criminis, encontra-se elencada no parágrafo 3º do artigo 5º do Código

    Processual Penal (BRASIL, 1941f)

    § 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração

    penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à

    autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará

    instaurar inquérito.

    Como podemos perceber na redação do artigo supra, o legislador deixou ao cidadão o

    poder de levar ao conhecimento do Delegado de Polícia a notitia criminis. Simples faculdade,

    pois se alguém deixar de fazer tal comunicação nenhuma sanção sofrerá.

    É evidente que não se trata de denúncia anônima, uma vez que essa denúncia, de

    acordo com Aloisi e Mortara “não é uma denúncia no significado jurídico do termo, pelo que

    não pode ser tomada em consideração na lei processual penal” (Romano, 2015).

    Na realidade, o Código Penal Brasileiro erigiu à categoria de crime a conduta daquele

    que dá ensejo a investigação criminal ou ainda processo judicial contra alguém, imputando-

    lhe crime que tem ciência de sua inocência, como poderiam os denunciados avocar a

    responsabilidade o autor da delatio criminis se a mesma pudesse ser feita de maneira

    anônima? Se esse tipo de delatio anônima fosse admitido, a sociedade viveria em constante

    sobressalto, já que qualquer um do povo poderia sofrer o vexame de uma injusta, inverídica

    delação e absurda, por simples ódio, capricho, vingança ou qualquer outro sentimento

    inferior. Por esse motivo que o Código Penal Brasileiro, não admite tal modalidade de notitia

    criminis.

    O Código Penal Brasileiro admite sim que façam delações à polícia conforme o artigo

    5º em seu parágrafo 3º, desde que não sejam anônimas e que sejam feitas verbalmente e por

    escrito. Podemos concluir então, que a delatio deve ser por escrito e ainda assinada.

    Devemos salientar que o artigo 340 do Código Penal pune, com detenção, qualquer

    pessoa que venha a ensejar uma ação da autoridade anunciando a ocorrência de contravenção

    penal ou crime que tem ciência de não se ter verificado. Nesse caso, o ordenamento penal é

    repressivo e pune a denunciação caluniosa e a falsa comunicação de crime ou contravenção,

    parece evidente não se deve admitir o anonimato na notitia criminis.

    Existe ainda, a Delatio Criminis Obrigatória, que vem a ter algumas exceções, como

    por exemplo, a prevista no artigo 66 da Lei de contravenções Penais (Brasil, 1941g)

  • 30

    Art. 66. Deixar de comunicar à autoridade competente:

    I – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício de função pública, desde que a ação penal não dependa de representação;

    II – crime de ação pública, de que teve conhecimento no exercício da medicina ou

    de outra profissão sanitária, desde que a ação penal não dependa de representação e

    a comunicação não exponha o cliente a procedimento criminal.

    Outra exceção está prevista no artigo 45 da Lei n.6.538 de 22 de junho de 1978

    (Brasil, 1978) é

    Art. 45º - A autoridade administrativa, a partir da data em que tiver ciência da

    prática de crime relacionado com o serviço postal ou com o serviço de telegrama, é

    obrigada a representar, no prazo de 10 (dez) dias, ao Ministério Público Federal

    contra o autor ou autores do ilícito penal, sob pena de responsabilidade.

    Assim como, também, a exceção trazida no artigo 269 do Código Penal o qual diz

    “Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória

    [...]” (Brasil, 1940).

    Com o grande aumento da criminalidade, tornou-se comum, nas grandes cidades, o

    “Disque-Denúncia”, através do qual é possível delatar infratores e infrações. Esta é uma

    medida extrema, para ajudar o Estado colocar em prática a sua função repressiva. No entanto,

    mesmo nessas hipóteses, cumpre ao Delegado de Polícia proceder à investigação com grande

    discrição e, no caso de existir um fumus boni juris da delatio, instaurar o inquérito policial.

    9 DA AUTORIDADE COMPETENTE

    A autoridade competente é aquela cujo fundamento em lei, faz parte da estrutura do

    Estado e órgão do poder público, instituído em particular para investigar as infrações penais,

    agindo por iniciativa própria, mercê de ordens e normas expedidas de acordo com sua

    discrição.

    De acordo com a previsão contida no artigo 144, I, §4º, da Constituição Federal e o

    artigo 4º, caput, do Código Processual Penal, o Delegado de Polícia é a autoridade que detém

    atribuição especifica para presidir as investigações criminais através do Inquérito Policial no

    âmbito do Polícia judiciária dos Estados e também da União.

    Como regra, a competência para a instauração do inquérito policial será do Delegado

    de Polícia (Autoridade Policial), na circunscrição onde acontecer o fato típico penal (crime),

    conforme determina o artigo 4º do Código Processual Penal ao estabelecer que “A polícia

  • 31

    judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas

    circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria” (BRASIL,

    1941c). Este artigo teve sua redação modificada pela Lei nº 9.043, de 9 de maio de 1995

    (BRASIL, 1995), onde a expressão “jurisdição” foi substituída pela palavra “circunscrição”.

    É extremamente importante observar, que o inquérito policial é um procedimento

    persecutório de caráter administrativo, cuja natureza é meramente informativa, e, dessa forma,

    não poderá ser nulo, se por algum motivo for praticado por autoridade incompetente. Na

    verdade, nada impede que o Delegado de Polícia de uma circunscrição averigue crime

    perpetrado em outra, que não seja de sua competência. Dessa maneira, podemos afirmar que a

    falta de observância da competência, no que diz respeito à autoridade que preside o inquérito

    policial é simplesmente relativa, não deixando margem a anulação da investigação.

    10 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES

    O boletim de ocorrência tem validade jurídica própria, tendo imensa validade para o

    Poder Judiciário, devendo ser feito antes do inicio do Inquérito Policial, o artigo 6º do Código

    Processual Penal dita o roteiro que deve ser seguido para a elaboração dos atos que antecedem

    o Inquérito Policial.

    Devemos salientar a Resolução SSP-382/99, que descreve orientações para o

    atendimento de locais de crime por policiais civis e militares. O Delegado de Polícia, se o fato

    for grave, deverá, sempre que possível, solicitar as perícias e tudo mais que for necessário,

    fazendo uso dos meios de comunicação disponível com a finalidade de não protelar as

    diligências mais urgentes. Em casos de crimes contra a vida, o Delegado de Polícia deverá

    elaborar o auto de recognição visuográfica, sem prejuízo do exame do local de crime,

    efetivado por peritos.

    Oportuno dizer o vezo de alguns policiais, prestarem socorro aos já mortos,

    prejudicando assim o local do crime. É pertinente que o Delegado de Polícia não permita que

    se percam os vestígios que ainda existirem, e requisite perícia para o local, cuja preservação

    sempre deve ser realizada.

  • 32

    11 INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

    Conforme o artigo 5º, II, do Código Processual Penal, Todo Inquérito Policial se inicia

    com o despacho do Delegado de Polícia, através de sua instauração ou portaria.

    Isso acontece pois, o requerimento ou a requisição, não tem condão de deflagrar o

    Inquérito Policial, uma vez que o procedimento nasce a partir do despacho do Delegado de

    Polícia.

    Não existe regra estipulada de tempo para que se inicie o Inquérito Policial. No

    entanto, pelos princípios da oficialidade e da obrigatoriedade, elencados no artigo 5º, I, do

    Código Processual Penal, o Inquérito Policial tem inicio a partir das investigações, em

    especial nos crimes de ação pública incondicionada, salvo quando não dependa de perícia,

    cujo o objeto venha interferir diretamente na prova da materialidade do delito.

    A instauração do inquérito policial sempre será de acordo com o tipo de ação penal:

    a) Ação Penal Privada: de acordo com o artigo 5º, §5º, do Código Processual

    Penal, se o crime for de ação privada, o delegado de polícia só poderá

    instaurar o inquérito policial se tiver recebido um requerimento, escrito ou

    ainda verbal, do ofendido ou de seu representante legal. Finalizado o

    inquérito policial, os autos deverão ser remetidos ao juízo competente,

    esperando a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal. Entretanto

    devemos observar o prazo para que os autos do inquérito sejam concluídos

    e o oferecimento da queixa, sempre analisando o prazo decadencial do

    artigo 38 do Código Processual Penal;

    Conforme pensamento de Capez e Colnago (2010, 600p.) acerca do artigo 35 do

    Código Processual Penal

    Pode existir ilegalidade nos atos perpetrados no decorrer do curso do inquérito

    policial, a ponto de originar seu desfazimento através do judiciário, pois os atos que

    neles foram praticados estão submissos à disciplina dos atos administrativos em

    geral.

    No entanto, não podemos afirmar que houve a contaminação da ação penal em face de

    imperfeições acontecidas na prática dos atos do inquérito policial, uma vez que este é uma

    simples peça de informação e como tal, sempre será à base da denúncia.

  • 33

    b) Ação Penal Pública Condicionada: conforme o artigo 5º, §4º, do Código

    Processual Penal, se o crime for de ação penal pública condicionada, o

    inquérito nos crimes em que a ação pública depende de representação não

    poderá ser iniciado sem ela.

    No entanto, a Ação Penal, mesmo sendo pública, poderá ser condicionada à

    representação da vítima ou também a requerimento do Ministro da Justiça:

    i. mediante representação do ofendido ou de seu

    representante legal: nesse tipo de caso, o delegado de polícia e o

    Ministério Público poderão fazer a requisição da instauração do

    inquérito policial, somente mediante a representação. Essa

    requisição é uma simples manifestação de vontade da vítima ou de

    seu representante legal. O ofendido somente poderá fazer o

    oferecimento da representação se já for maior de dezoito anos, no

    caso de a vítima ser menor, a prerrogativa ficará por conta de seu

    representante legal.

    ii. mediante requisição do Ministro da Justiça: essas

    requisições são para casos de crimes cometidos por estrangeiro

    contra brasileiros, fora do território brasileiro; crimes cometidos

    contra a honra do chefe de governo estrangeiro; crimes cometidos

    contra a honra do Presidente da República, e de algumas outras

    hipóteses elencadas na Lei de Imprensa e no Código Penal Militar.

    Essa requisição deve ser proposta ao chefe do Ministério Público, que poderá oferecer

    a denúncia ou também requisitar investigação criminal.

    c) Ação Penal Pública Incondicionada: prevista no artigo 5º, I, II, §1º, §2º e

    §3º, do Código Processual Penal, que nesse caso poderá ser:

    i. por meio de oficio: A autoridade policial deverá instaurar

    o inquérito policial por meio de portaria, assim que tomar

  • 34

    conhecimento de fato imputado como crime. Nessa portaria deverá

    apresentar as circunstâncias em que o fato ocorreu. Ficando

    impedido de instaurar inquérito policial se não existir justa causa.

    ii. por meio de despacho ordenatório, que acontece em

    casos de requisição da instauração do inquérito policial pelo

    representante do Ministério Público ou do Magistrado, quando se

    der mediante mero despacho, o delegado de polícia determina o

    cumprimento dessa requisição, ou seja, gera a instauração do

    inquérito policial. Nesse caso fica dispensada a produção de

    portaria, conforme artigo 5º, II, do Código processual Penal.

    De acordo com o artigo 5º do Código Processual Penal estabelece que o inquérito

    policial seja instaurado de ofício. Essa instauração pode se consolidar por meio de dois atos

    de ofício ou pela atuação em flagrante de delito ou com a edição de uma portaria.

    A atuação em flagrante delito acontece:

    Se o agente for surpreendido no exato momento em que perpetua a infração penal; se o

    agente acabou de cometer a infração penal, quando perseguido pela autoridade policial, pelo

    ofendido ou ainda por qualquer pessoa do povo e se encontrado logo após a ocorrência da

    infração penal, com armas, objetos, instrumentos ou ainda papéis que indiquem ser o agente

    da infração. Nessa situação deve o autor ser apresentado ao Delegado de Polícia competente

    pela referente circunscrição, o qual ouvirá o condutor, as testemunhas e também o suposto

    autor, tomando conhecimento da ocorrência de um crime, suas circunstâncias e ainda, a sua

    autoria. Depois de ultrapassadas todas essas etapas, tudo deve ser reduzido a termo a escrito.

    Na Portaria, ocorrerá um ato interno administrativo, o qual é editado pelo Delegado de

    Polícia para ser executado pelo Escrivão e pelos Agentes de Polícia, com o intuito de

    obedecer ao procedimento da Administração Pública Policial, assim como o comportamento

    funcional dos agentes.

    A Portaria constitui um ato decisório de atribuição peculiar da autoridade policial, no

    qual ele deve descrever as razões fáticas e jurídicas que subsidiam a instauração do inquérito

    policial.

    São requisitos da Portaria:

  • 35

    a) a exposição objetiva do fato tido como criminoso unido com a indicação

    da fonte da notícia da infração penal (o conhecido boletim de ocorrência,

    requisição do Ministério Público ou do juiz, requerimento do ofendido,

    notícia de jornal, entre outros);

    b) a indicação por meio de minucioso estudo técnico-jurídico sobre os fatos

    anteriormente descritos do crime praticado, consignando, se esse for o

    caso, aos motivos que impossibilitam a formação desse juízo preliminar;

    quando for possível apontar os elementos indiciários de participação ou

    autoria; decidir as diligências imprescindíveis para uma minuciosa

    apuração da infração penal e constar a data da instauração do

    procedimento, para um controle exato sobre o seu prazo de duração.

    Em suma o inquérito policial pode ser deflagrado por: a) portaria; b) auto de prisão em

    flagrante; c) representação do ofendido ou requisição da vítima; d) requisição do juiz ou do

    Ministério Público; e) requisição do Ministro da Justiça.

    12 INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAS

    O inquérito policial em regra é policial, ou seja, é produzido pela Polícia Civil. No

    entanto, o parágrafo único do artigo 4º do Código Processual Penal (Brasil, 1941c) estabelece

    que “a competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a

    quem por lei seja cometida a mesma função”. Notamos, dessa maneira, que o artigo deixa

    vislumbrar a existência de inquéritos extrapoliciais, ou seja, produzidos por autoridades outras

    que não as policiais, porém esses inquéritos tem a mesma finalidade dos inquéritos policiais.

    Observamos que o conteúdo do parágrafo único do artigo 4º relata que a

    responsabilidade de apurar as infrações penais é tanto de autoridades administrativas como da

    polícia judiciária. Na realidade, o parágrafo único somente quis ressalvar a competência de

    outras autoridades administrativas para conduzirem os inquéritos.

    Desse modo, nos crimes perpetrados contra a saúde pública, em algumas infrações que

    ocorrem nas áreas alfandegárias, as autoridades administrativas têm total liberdade para

    elaborar inquéritos que no futuro podem servir de base para uma denúncia.

  • 36

    Uma vez que uma autoridade administrativa, sem poder que a lei confere à Polícia

    Civil, ou a certas autoridades administrativas, produzir um inquérito administrativo com a

    finalidade de apurar a responsabilidade de um determinado funcionário, caso seja constatada a

    existência não de uma mera irregularidade funcional, mas sim de um verdadeiro ilícito penal,

    essa autoridade, tem o dever pelos canais competentes, entrega-lo ao Ministério público para

    o oferecimento de denúncia. Nesse sentido devemos observar os artigos 143 aos 173 da lei nº

    8.112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civil da União, das Autarquias e das

    Fundações Públicas Federais).

    Devemos observar também os inquéritos que são instaurados nos Tribunais para a

    apuração de eventuais infrações penais, que aconteceram em suas dependências. Conforme a

    Súmula 397 do Supremo Tribunal Federal e os artigos 43 e 58, dos Regimentos Internos do

    STF e STJ, respectivamente, com a mesma redação.

    Temos ainda os inquéritos policiais militares (IPM), que são as investigações

    praticadas pelas autoridades militares para a apuração de existência de crime da alçada da

    Justiça Militar e suas respectivas autorias. No entanto se ao término das investigações, a

    autoridade responsável entender que se trata de competência da Justiça Comum, a autoridade

    remete, se for o caso, ao órgão do Ministério Público, para que esse ofereça a denúncia

    embasada nas informações já colhidas no inquérito policial- militar.

    12.1 As comissões do Parlamento de Inquérito

    A Lei n. 1579 de março de 1952, dispõe as Comissões Parlamentares de Inquérito, e

    de acordo com a Constituição Federal de 1988, existem limites para a atuação das Comissões

    Parlamentares de Inquéritos, que podem ser divididos em limites materiais e formais. Esse

    poder de investigar fornecido ao legislativo é amplo, contudo não é irrestrito, porém tem

    legitimidade e eficácia, no entanto é de extrema importância observar alguns aspectos

    procedimentais para a sua realização. Desta maneira, a Constituição estabelece requisitos

    formais, substanciais e temporais que tornam essa investigação restrita ao âmbito da produção

    legislativa e do poder de fiscalizar do Legislativo sobre os outros Poderes da República.

    A Comissão Parlamentar de Inquérito é um instrumento pertencente ao Poder

    Legislativo, que é dotado da atribuição constitucional de fiscalizar e investigar desmandos do

    aparelho estatal, agindo no controle da administração púbica e principalmente no interesse da

    coletividade. Esse modo de fiscalização institucional teve início ainda na época do Império,

  • 37

    nas investigações em repartições públicas, produzidas pelas Assembleias Legislativas. Não

    sabemos precisar o período da instalação das Comissões Parlamentares de Inquérito com a

    finalidade de investigar a atuação do Poder Executivo.

    Para que se instaure uma Comissão parlamentar de Inquérito, no Senado Federal, na

    Câmara dos Deputados ou ainda no legislativo estadual, é preciso que seja obedecido os

    seguintes requisitos: requerimento de um terço dos membros das respectivas Casas

    Legislativas que irão investigar o fato (requisito formal); que exista fato determinado

    (requisito substancial); que exista um prazo determinado para seu funcionamento (requisito

    temporal); e que todas as informações apuradas nas investigações sejam encaminhadas ao

    Ministério Público, se esse for o caso.

    Os poderes de investigação das Comissões Parlamentares de Inquérito são próprios

    das autoridades judiciais, dessa maneira devendo apurar um fato determinado e que tenha um

    tempo certo. Ela pode ter criação no âmbito de cada uma das casas, ou seja, (Câmara ou

    Senado) através de requerimento de um terço de seus respectivos parlamentares, ou ainda do

    Congresso Nacional, através do requerimento de um terço dos Senadores e um terço dos

    deputados. As Comissões Parlamentares de Inquérito podem ainda convocar pessoas para

    depor, fazer a oitiva das testemunhas, requisitar documentos e definir diligências, além de

    tomar outras medidas. Terminada as investigações, a Comissão Parlamentar de Inquérito

    envia à Mesa, um relatório com as devidas conclusões, para que o Plenário conheça da

    matéria, que poderá apontar para a apresentação de um projeto de lei.

    Para a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito se faz necessário um

    número de assinaturas em seu requerimento. De acordo com a doutrina majoritária basta o

    requerimento ser subscrito por um terço dos membros da casa legislativa que será

    automaticamente criada. No caso do número mínimo de assinaturas não seja obtido, o autor,

    se assim entender, poderá submeter a proposta de Comissão Parlamentar de Inquérito à

    apreciação do Plenário, que decidirá a respeito da sua aprovação e da constituição ou não da

    Comissão.

    A instauração de Comissões Parlamentares de Inquérito é concretizada pelo presidente

    da Casa Legislativa que as tiverem constituída, cabendo a ele o comprometimento da

    fiscalização dos requisitos, antes de decidir a lavratura do ato constitutivo de Comissão

    parlamentar de Inquérito.

    Porém, existe uma apreciação prévia que o Legislativo deve realizar acerca dos seus

    atos, para que se preserve a imagem de representante popular e fiscalizadora dos interesses

    públicos. As formalidades dos atos administrativos devem ser observadas, tendo como

  • 38

    inspiração o princípio da legalidade introduzido no artigo 37 da Constituição Federal, a qual

    todos os entes estatais estão submetidos.

    Se existir algum requisito procedimental que não atenda os parâmetros impostos pela

    Constituição, o presidente do Poder Legislativo em questão tem o dever de indeferir e remeter

    ao primeiro subscritor do requerimento, uma vez que é ele o interessado na apuração do fato,

    para que ele faça uma revisão e se adeque aos requisitos constitucionais de criação de uma

    Constituição Parlamentar de Inquérito.

    Se o titular do Poder Legislativo, verificar que todos os requisitos mínimos necessários

    para a constituição de Comissão de Inquérito foram respeitados, ele determinará a publicação

    do requerimento, que poderá ser no Diário oficial ou ainda no placar da casa legislativa onde

    ficam fixados tais avisos.

    Os partidos políticos deverão indicar os membros de comissão, observando a

    proporcionalidade de representações de partidos ou de blocos de parlamentares. Os nomes

    indicados pelos partidos políticos deverão ser designados pelo Presidente da respectiva Casa

    Legislativa. Conforme artigo 58, §1º da Constituição Federal e o artigo 78, do Regimento

    Interno do Senado Federal, que serve padrão para as demais normas regimentais das Casas

    Legislativas do país.

    Caso o titular da presidência se negar a instaurar a Comissão Parlamentar de Inquérito

    que obedecer a todos os requisitos legais, os vice-presidentes respectivos adotarão essas

    providências, na ordem de sucessão, ou ainda os membros da Mesa Diretora que os

    substituírem, de maneira regimental, à semelhança dos procedimentos a serem perpetrados na

    publicação de projetos de leis que irão da sa