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FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO JURUENA ESPECIALIZAÇAO EM GESTÃO EM SAÚDE PÚBLICA APROVADA NOTA: 8,5 A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA ROSANE TEREZINHA TECH DA LUZ [email protected] ORIENTADOR: PROF. DR. ILSO FERNANDES DO CARMO JUINA/2015

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FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO

JURUENA

ESPECIALIZAÇAO EM GESTÃO EM SAÚDE PÚBLICA

APROVADA

NOTA: 8,5

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA

ROSANE TEREZINHA TECH DA LUZ

[email protected]

ORIENTADOR: PROF. DR. ILSO FERNANDES DO CARMO

JUINA/2015

FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ADMINISTRAÇÃO DO VALE DO

JURUENA

ESPECIALIZAÇAO EM GESTÃO EM SAÚDE PÚBLICA

A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICA

ROSANE TEREZINHA TECH DA LUZ

ORIENTADOR: PROF. DR. ILSO FERNANDES DO CARMO

"Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Gestão em Saúde Pública."

JUINA/2015

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família,

amigos e professores pela dedicação a

mim dispensada nesses anos de estudo.

AGRADECIMENTO

Agradeço ao Criador do Universo, à minha família, amigos e professores por

estarem presentes nessa caminhada, cada qual com seu papel importante na minha

formação cidadã e acadêmica.

RESUMO

Neste texto tratamos sobre a participação e inserção dos assistentes sociais

nos processos de trabalho desenvolvidos no Sistema Único de Saúde. Trata-se dos

resultados de uma pesquisa realizada junto aos serviços públicos de saúde, em

Juína – MT. A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi à pesquisa

bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa em materiais disponíveis na

internet e a pesquisa de campo com visitação in loco. A análise bibliográfica foi feita

em livros e artigos científicos que abordam o tema aqui descrito. A análise

documental foi feita através de pesquisa na internet e consultas na legislação do

setor de saúde pública, também foram utilizadas informações que estão disponíveis

nos sites do Ministério da Saúde. Busca-se, com o relato das situações a seguir,

identificar a origem da manifestação dos agravos à saúde humana relacionados ao

trabalho em questão. Neste trabalho busco identificar o papel do Assistente Social

na gestão pública como agente colaborador no processo de saúde das comunidades

dos PSFs do município, buscando identificar como está sendo o tratamento dos

PSFs nos bairros e quais são os principais entraves que os profissionais encontram;

os usuários o que eles mais buscam e como vêem a qualidade do serviço de saúde

oferecido. tendo em vista tudo isto surgiu a necessidade de aprofundarmos nossos

conhecimentos sobre o assunto para demonstrar a toda a comunidade e também

como requisito como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização

em Gestão Pública.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde. Família. Coletiva. Lei. Serviço Social.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................06

CAPÍTULO I

Referencial Teórico.............................................................................................08

1.1 – O Serviço Social e a Saúde........................................................................08

CAPÍTULO II

Metodologia..............................................................................................................14

CAPÍTULO III

Análise e Discussão de Dados...........................................................................16

3.1 - A Inserção do Serviço Social na Saúde Coletiva Em Juína....................16

3.1.1 O início do trabalho do assistente social em Juina................................16

3.2 – O Serviço Social e a Saúde Coletiva Em Juína.......................................22

3.3 – Sistematização dos Dados Coletados......................................................31

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................41

ANEXOS....................................................................................................................44

INTRODUÇÃO

Neste texto tratamos sobre a participação e inserção dos assistentes sociais

nos processos de trabalho desenvolvidos no Sistema Único de Saúde. Trata-se dos

resultados de uma pesquisa realizada junto aos serviços públicos de saúde em

Juina – MT.

Ao refletir sobre o assunto observa-se que, paradoxalmente, enquanto

ampliava-se o discurso sobre as fragilidades ou indefinições da prática profissional,

também se verificava um aumento significativo de contratações de assistentes

sociais nos serviços públicos de saúde. Enquanto o discurso dos profissionais

atribuía ao voluntarismo e ao empirismo da ação profissional a responsabilidade por

uma possível desqualificação técnica do Serviço Social, o cotidiano institucional

deixava patente a existência de um conjunto de demandas que revelavam a utilidade

da profissão na dinâmica dos processos coletivos de trabalho nos serviços de

saúde.

Assim, o que de relevante se colocou foi a constatação de que, enquanto os

assistentes sociais subestimavam a utilidade e o conteúdo das suas práticas, cada

vez mais as instâncias de gerenciamento dos serviços de saúde, em todos os níveis

de complexidade do sistema de saúde, apontavam para a necessidade da ação dos

profissionais na composição das equipes dos serviços públicos de saúde. Mas será

necessário a presença e o trabalho de assistentes Sociais entre a equipe? Será que

o Sistema de saúde ganhará com este profissional dentro de sua equipe?

Neste trabalho busca-se identificar o papel do Assistente Social na gestão

pública como agente colaborador no processo de saúde das comunidades dos PSFs

do município, buscando identificar como esta sendo o tratamento dos PSFs nos

bairros e quais são os principais entraves que os profissionaisencontran-se; os

usuários o que eles mais buscam e como vêem a qualidade do serviço de saúde

oferecido, tendo em vista tudo isto surgiu a necessidade de aprofundarmos nossos

conhecimentos sobre o assunto para demonstrar a toda a comunidade e também

como requisito como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização

em Gestão Pública.

Para o alcance dos objetivos, o trabalho foi estruturado três capítulos. No

primeiro capitulo abordaremos um breve referencial teórico do assunto e a

colaboração de autores sobre o referido tema em discussão. Já no segundo capítulo

estaremos abordando sobre a forma metodológica de como foi conduzido os

trabalhos e a aquisição dos dados a serem apresentados nos demais capítulos. Por

fim, no terceiro capitulo estaremos realizando os tratamentos dos dados coletados e

fazendo a analise de todo o material coletado e diagnosticando os resultados foram

positivos ou não.

07

CAPITULO I

REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O SERVIÇO SOCIAL E A SAÚDE

A Política de Saúde no Brasil, como intervenção estatal, segundo BRASIL

(1997), só ocorre no século XX. Com a crise política da época foram desencadeadas

estratégias e novos discursos de poder, como exemplo a Reforma Carlos Chagas de

1923, que tenta ampliar e estender os serviços de saúde em todo o país.

Na década de 1930, segundo BRASIL (1997), são aprofundadas algumas

iniciativas de organização do setor da saúde que foram iniciadas no fim do século

anterior, com a emergência do trabalho assalariado decorrente da divisão do

trabalho na sociedade capitalista e o surgimento das questões sociais.

Segundo BRAVO (2007), diz que,

(...) As questões sociais em geral e as de saúde em particular, já colocadas na década de 1920, precisavam ser enfrentadas de forma mais sofisticada. Necessitavam transformar-se em questão política com a intervenção estatal e a criação de novos aparelhos que contemplassem, de algum modo, os assalariados urbanos, que se caracterizavam como sujeitos importantes no cenário político nacional, em decorrência da nova dinâmica de acumulação. (p.91).

Ainda segundo BRAVO (2006), foi formulada uma política de caráter

nacional, mas organizada em dois subsetores de saúde pública e previdenciária,

com a criação de serviços com ênfase em campanhas sanitárias, serviços de

combate às endemias, a formação de técnicos em saúde pública e a criação dos

Institutos de Aposentadorias e Pensões de origem contecionista, com legislação

demarcando a diferença entre previdência e assistência social. Estes serviços,

apesar das pressões para privatização continuaram sendo fornecidos desta forma

até a década de 1960.

O período da ditadura militar é marcado pelo desenvolvimento econômico e

social, que ampliou e aprofundou os problemas estruturais do país.

Em face da “questão social” no período 64/74, o Estado utilizou para sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de acumulação do capital. (BRAVO (2007, p.93).

Em razão também das vivências da sociedade no processo de

democratização política que superou o regime ditatorial, mas não superou o

conservadorismo e a crise econômica que vem persistindo até os dias atuais.

A política nacional de saúde enfrentou durante este período até a década de

1980, segundo BRASIL (1997), reivindicações e pressões populares que culminaram

com a construção do projeto de reforma sanitária que foi fato marcante na

preparação e realização da 8ª conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em

Brasília em 1986, com o temário: A Saúde como direito inerente a personalidade e à

cidadania, reformulação do Sistema Nacional de Saúde e financiamento setorial.

Desta conferência saíram diversas propostas como: a universalização do

acesso, a concepção da saúde como direito social e dever do estado, a

reestruturação do setor através da estratégia do sistema unificado, a

descentralização, o financiamento e a democratização do poder, através dos

conselhos.

Nesta década, segundo BRASIL (1997), a política de saúde teve um caráter

politizado que pode ser analisado nas mudanças das normas constitucionais (que

contou com a participação e mobilização efetuadas no movimento sanitário) e das

práticas institucionais (fortalecendo o setor público) que culminaram com a criação

do SUS - Sistema Único de Saúde em 1988.

Apesar de todos esses avanços, eles continuam somente no papel, o SUS

não foi capaz de responder ou melhorar a saúde da população, os conflitos

continuam, a população se afastou por não ver resolutividade na atenção à saúde, e

o sistema tem fragilidades que dão brechas ao aumento das privatizações no setor.

Note-se que nos serviços de saúde, a inserção dos assistentes sociais no conjunto dos processos de trabalho destinados a produzir serviços para a população é mediatizada pelo reconhecimento social da profissão e por um conjunto de necessidades que se definem e redefinem a partir das condições históricas sob as quais a saúde pública se desenvolveu no Brasil. Considere-se que a partir dos anos 90, com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), mudanças de ordens tecnológica, organizacional e política passaram a exigir novas formas de organização do trabalho na saúde, determinadas pela hierarquização por nível de complexidade, descentralização e democratização do sistema, imprimiram novas características ao modelo de gestão e atenção e, portanto aos processos de trabalho. (COSTA, 2006, p.08).

Na década de 1990 e até os dias atuais assistimos a política de saúde sendo

influenciada pelo neoliberalismo, “responsável pela redução dos direitos sociais e

09

trabalhistas, desemprego estrutural, precarização do trabalho, desmonte da

previdência pública, sucateamento da saúde e educação.” (BRAVO, 2007, p.100).

O SUS tem sido desrespeitado enquanto política de saúde pública e social

construído por sujeitos coletivos e o projeto privatista pautado na contenção de

gastos, garantindo um mínimo a quem não pode pagar. “O atual governo continua

dando ênfase na focalização, na precarização, na terceirização dos recursos

humanos, na falta de financiamento e a falta de vontade política." (BRAVO, 2007,

p.104).

Como podemos perceber, longe de avanços, temos desafios postos nesta

conjuntura para superar as tantas desigualdades geradas em nosso país e uma das

bandeiras é a luta pelo fortalecimento do Projeto de Reforma Sanitária, ainda no

papel. Vamos ver então quais são as contribuições do serviço social na saúde.

No Brasil, segundo BRASIL (1997), a saúde viveu grandes avanços desde

os anos de 1930, o sistema amadureceu em função das ações implementadas pelo

Estado e também dos estímulos dados a expansão da saúde no setor privado. Em

relação à trajetória do Serviço Social na saúde, este espaço ocupacional surge com

a profissão por ter grande demanda e ser considerado o maior mercado de trabalho

dos assistentes sociais inclusive na atualidade. Sofreu influências do modelo

biomédico e médico clínico e as primeiras alterações desse modelo ocorreram em

meados da década de 70, acompanhando as mudanças na direção social da

profissão com a construção do projeto ético político, aproximando-se do projeto de

reforma sanitária apenas na década de 90.

O serviço social surge como profissão no Brasil, segundo BRASIL (1997),

nos anos de 1930 e 1940, atrelada à ideologia dominante e a doutrina social da

Igreja católica, baseado e sustentado no pensamento conservador católico, com um

caráter missionário.

Segundo CASTRO (2007),

... os elementos que colaboram para o surgimento do Serviço social têm origem na Ação Católica – intelectualmente laica estritamente ligada à hierarquia católica – que propugna, com visão messiânica, a recristianização da sociedade através de um projeto de reforma social (p. 47).

O profissional de Serviço Social, neste contexto assume uma prática de

cunho educativo e conservador voltado aos bons costumes e a boa conduta da

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família operária, garantindo a reprodução do sistema capitalista e das relações

sociais que sustentam o trabalho alienado, contribuindo para o controle das classes

operárias e legitimação do Estado.

A influência do Serviço Social na área da saúde se deu nos anos de 1930 a

1945, mas foi a partir de 1945 que se deu o alargamento e a expansão do Serviço

Social do setor da saúde em consonância com a expansão do Serviço Social no

Brasil. (BRAVO, 2007).

A conjuntura de 30 a 45 caracteriza o surgimento da profissão no Brasil, com influência européia, e a área da saúde não foi a que concentrou maior quantitativo de profissionais, apesar de algumas escolas terem surgido motivadas por demandas do setor. A formação profissional também se pautou, desde o seu início, em algumas disciplinas relacionadas à saúde. A expansão do serviço social no país, entretanto, ocorre a partir de 1945, relacionada com as exigências e necessidades de aprofundamento do capitalismo no Brasil e as mudanças que ocorreram no panorama internacional, em função do término da 2ª Guerra Mundial. (BRAVO e MATOS, 2006, p.198).

A fim de lidar com as expressões da “questão social” emergentes da época

em razão das novas estratégias de controle da repressão do estado e exigências

das empresas particulares, os assistentes sociais se vêem na necessidade de

buscar uma formação mais especializada:

A necessidade de formação técnica especializada para a prática de assistência é vista não apenas como uma necessidade particular ao movimento católico. Tem-se presente essa necessidade, enquanto necessidade social que não apenas envolve o aparato religioso, mas também o estado e o empresariado. A visão da possibilidade de profissionalização do apostolado social é dada de forma sutil, na medida em que se encarece a necessidade de colaboradores para as obras particulares e se prevê a demanda de pessoal permanente para as instituições oficiais e patronais, reconhecendo nessas duas instancias as únicas socialmente habilitadas a possibilitar esse empreendimento. (IAMAMOTO; 2007:184).

O reconhecimento dos técnicos especializados em trabalho social vão aos

poucos sendo valorizados dentro das grandes instituições particulares e do governo,

demonstrando a especificidade e competência de um profissional de serviço social.

(IAMAMOTO, 2007). Neste momento acontece uma forte aceleração na formação de

assistentes sociais através de vários cursos intensivos e profissionalizantes e

promoção de bolsas de estudos.

Mas devido ao desenvolvimento econômico das emergentes mudanças

ocorridas no contexto social, os assistentes sociais buscavam novas teorias, ações e

práticas inovadoras voltadas à modernização profissional. O crescimento do número

de profissionais do serviço social requisitados para a área da saúde apresentou,

11

segundo BRASIL (1997), grande êxito em conseqüência da Organização Mundial de

Saúde - OMS, que reformula o conceito de saúde em 1948 enfatizando a

importância da presença do assistente social no campo da saúde junto a outros

profissionais na atenção médica e social.

Segundo BRAVO e MATOS (2006, p.201) “O Serviço social sofreu profundas

transformações, no pós 64, que tiveram rebatimento no trabalho do assistente social

na área da saúde”. Os profissionais adquirem uma base científica mais sólida e com

referência a teoria marxista.

(...) A produção marxista supera os equívocos das primeiras aproximações, o ethos profissional é auto representado pela inserção do assistente social na divisão sócio-técnica do trabalho, como trabalhador assalariado e cidadão. A formação profissional recebe novos direcionamentos, passando a contar como um currículo explicitadamente orientado para uma formação critica e comprometida com as classes subalternas. (BARROCO, 2008:168).

A teoria marxista, segundo BARROCO (2008), é quem fornece as bases

para a compreensão crítica do significado da profissão, introduzindo o debate das

lutas de classes que influenciam a prática do Serviço Social com uma nova

orientação social, representada através do projeto hegemônico da categoria, do

código de ética e da preocupação com a formação profissional; explicitando o

compromisso político da prática voltada para a necessidade e garantia dos direitos

aos usuários e trabalhadores.

Em função dos ideais neoliberais que se propagavam pelo mundo, os anos

1990 foram marcados pela disputa do projeto privativista passou a exigir dos

assistentes sociais que se fizesse, entre outras coisas, uma seleção socioeconômica

dos usuários e uma ação fiscalizadora aos usuários dos planos de saúde. Já o

projeto da reforma sanitária apresentou como demandas aos assistentes sociais a

busca pela democratização do acesso aos dispositivos de saúde, atendimento

humanizado e acesso democrático às informações, proporcionando o estimulam e a

participação cidadã. (BRAVO, 2007).

A trajetória dos assistentes sociais na saúde no ano de 2007 é demarcada

pelo confronto de estudo teórico e a prática intervencionista. Desse modo o

profissional na área de saúde traz em seu contexto expressões mais negativas do

que positivas a prática profissional.

12

Cabe ao serviço social articular ações que defendem o aprofundamento do

sistema Único de Saúde- SUS possibilitando estratégias para reforçar e criar

experiências de serviços que atestam o direito social à saúde.

É dessa maneira sob esse prisma que BRAVO (2007), descreve a atuação

competente do assistente social na saúde, colocando que o profissional do serviço

social deve estar inserido no movimento dos trabalhadores na luta pela efetivação

do SUS, facilitando o acesso dos usuários aos serviços de saúde, motivando a

participação popular nas decisões e fomentar a necessidade de reciclagem

profissional sempre que precisar.

13

CAPÍTULO II

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a elaboração deste trabalho foi à pesquisa

bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa em materiais disponíveis na

internet e a pesquisa de campo com visitação in loco.

A análise bibliográfica foi feita em livros e artigos científicos que abordam o

tema aqui descrito. A análise documental foi feita através de pesquisa na internet e

consultas na legislação do setor de saúde pública, também foram utilizadas

informações que estão disponíveis nos sites do Ministério da Saúde, Busca-se, com

o relato das situações a seguir, identificar a origem da manifestação dos agravos à

saúde humana relacionados ao trabalho em questão.

Da mesma forma, não se trata de apresentar dados estatísticos, mas discutir

as condições de gestão em saúde que interferem na saúde dos usuários e o papel

do SUS neste processo.

O método utilizado foi a observação da realidade empírica de três situações

que versam sobre as condições de trabalho e seus reflexos para a saúde,

materializadas, neste estudo, por meio de entrevistas abertas sem roteiro prévio,

mas com referencial temático definido. A escolha das situações privilegiou os

possíveis efeitos das condições adversas do tema a ser trabalhado, nem sempre

transparentes, como uma questão de saúde pública. Estudo do tipo descritivo-

analítico, com abordagem qualitativa, desenvolvido em Juina, nas Unidades de

Saúde.

A população do estudo constituiu-se de gestores, gerentes e usuários do

sistema de saúde.

Como instrumento de coleta de dados utilizou-se a entrevista com gerentes

das Unidades de Saúde do município, os primeiros usuários abordados que

aceitaram participar do estudo; um representante do Conselho Municipal de Saúde;

um Diretor de escola do bairro, um técnico em Enfermagem; um representante da

Secretaria Municipal de Saúde. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados

foram a entrevista individual semi-estruturada dirigida aos gestores e gerentes e a

Técnica de Grupo Focal, aplicado entre os usuários.

Segundo WESTPHAL et al (1996), o Grupo Focal é uma técnica de pesquisa

que permite a obtenção de dados de natureza qualitativa a partir de sessões grupais

em que 6 a 15 pessoas que compartilham um traço comum, discutem vários

aspectos de um tema específico, tendo como foro facilitador, a expressão de

características psicossociológicas e culturais.A técnica consiste em uma reunião em

que inicialmente nomeia-se um moderador e um observador. O moderador tem o

papel de conduzir a reunião e deve propor questões para os participantes

discutirem. O observador é encarregado de captar as informações não verbais

expressas pelos participantes, ajudar o moderador, ao final, a analisar os possíveis

vieses ocasionados por problemas na condução da reunião. As questões

norteadoras são lançadas ao grupo, que vai emitir suas opiniões. Por se tratar de

estudo que envolve seres humanos, os pesquisadores atenderam aos pressupostos

da Portaria 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

A coleta de dados foi gravada mediante permissão dos participantes e

posteriormente seu conteúdo foi transcrito e analisado conforme BARDIN (1977,

p.105), por considerar que “fazer uma análise temática, consiste em descobrir os

núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença, ou freqüência de

aparição pode significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.”

15

CAPÍTULO III

ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS

3.1 A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE COLETIVA EM JUÍNA

Para se investigar a questão básica formulada neste estudo, qual seja: como

ocorreu o processo de inclusão do Serviço Social na área da Saúde Coletiva e quais

foram os seus fatores determinantes em Juina – MT, e validar ou não as hipóteses

apresentadas, precisamos conhecer e analisar como se desenvolveram a Saúde

Coletiva e o Serviço Social na cidade. Esta análise está baseada na pesquisa

documental e nas entrevistas com os atores sociais envolvidos.

3.1.1 O INÍCIO DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL EM JUINA

De acordo com os depoimentos obtidos, podemos compreender, que até

início da década de 1990, possivelmente não existiu nenhum assistente social que

tenha exercido a profissão em Juina. Podemos considerar essa data como marco

inicial da profissão no município:

“... eu sou de Juina, meu pai e meu avô também são e isso é raro! Formei-me em 2010 na Escola de Serviço Social da Universidade de Tocantins( UNITINS). O motivo que levou-me a fazer Serviço Social foi praticamente o curso não constar matemática...O Serviço Social não tinha matemática...eu então escolhi o Serviço Social mais ou menos sem saber o que era(...).Logo no princípio, eu não encontrei nenhum trabalho desenvolvido por assistente social(...)depois eu fiquei conhecendo uma irmã de caridade que trabalhava na L.B.A., mas foi por pouco tempo...” (Entrevistada nº 1).

“Formei-me em Serviço Social na Universidade de Tocantins( UNITINS) em julho de 2011 tao logo formei, vim para Juína...Eu comecei as primeiras atividades como assistente social formada foi aqui em Juina(...)Era eu no CEAPS, outra assistente social na L.B.A. e outra no SESI(referindo-se à entrevistada nº1)...mas era assim...tínhamos só nós na cidade...” (Entrevistada nº 2).

As práticas profissionais desenvolvidas situavam-se no campo da indústria,

através do SESI-Serviço Social da Indústria e no campo comunitário através da

Secretaria do Estado do Trabalho e Ação Social/CEAPS:

“... ao formar eu já estava empregada no Hospital Municipal (...) vim transferida do Hospital Municipal para o Departamento de Recursos Humanos (...). (Entrevistada nº 1).

“... a assitente social que trabalhava no Centro de Convivência atendia somente a casos. Eu já gostava mais de grupos (...) aqui tinha o Centro Social (...) Neste Centro Social tinha uns cursos, cursos de corte e costura, trabalhos manuais, culinária... biblioteca...Tinha várias coisas no centro social... treinamento... Cada mês surgia uma dúvida na turma aí eu entrava com os treinamentos sobre aquele assunto.(...) Em quase todos os cursos eram moças solteiras então elas queriam saber de namoro, namorado, o quê podia fazer. Então eu organizei um treinamento sobre isso(...). (Entrevistada nº 1).

“... foi um programa do Estado que foi implantado e instalado em várias cidades. Quando eu vim já havia uma assistente social aqui coordenando esse projeto. Eu não me lembro o nome dela. Ela mudou-se para outra cidade(...) Naquela época a estrutura do CEAPS era a seguinte: existia uma coordenação técnica e uma coordenação administrativa, então eu vim para fazer a coordenação técnica, que era um cargo de assistente social específico. A coordenação administrativa podia ser de qualquer outra pessoa que a diretoria ou a Prefeitura seja lá quem indicasse ou contratasse. A coordenação técnica era para Juina, zona urbana e zona rural, por exemplo, conselho comunitário da zona rural...”.(Entrevistada nº 2).

“A criação dos PAIF ( Programa de Apoio a Famílias), em Juina vem no sentido de preparar o município para os programas especiais que estavam contidos dentro do plano qüinqüenal do Estado. Aqui em Juina eu vim para o PAIF para acompanhar e desenvolver projetos. Todos previam as ações de desenvolvimento de comunidade e de mobilização comunitária sendo feita pelo assistente social”. (Entrevistada nº 6).

As práticas profissionais relatadas mostram um reconhecimento por parte

das diretrizes das instituições onde tais práticas eram desenvolvidas - portanto por

parte das estruturas de poder - quanto à necessidade de um profissional do Serviço

Social em atender demandas que se configuravam no âmbito da questão social

emergente. Segundo IAMAMOTO (1998), o Serviço Social tem na questão social a

base de sua fundação como especialização do trabalho e conceitua questão social

como sendo:

...o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum : a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantêm-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. (p. 27).

Este reconhecimento surge gradativamente a partir de início da década de

1990 quando da contratação de um assistente social para atuar na Secretaria de

Assistência Social e de um outro profissional que atuava na Prefeitura Municipal de

Juina. Havia, portanto, interesse local na prestação de serviços assistenciais

qualificados à categoria de industriários existente no município. Esse interesse

certamente não ocorria apenas por parte do município e sim em âmbito nacional

17

dado à organização econômica e política vigente. Esses espaços de trabalho estão

ligados a órgãos nacionais ou estaduais com atuação na cidade.

Este fato, coerente ao que nos mostram IAMAMOTO e CARVALHO (1983),

sobre a fundação, através de decreto-lei, da L.B.A - Legião Brasileira de Assistência,

e do SESI no país, na década de 1940, consolida a intenção do município em

responder às exigências econômicas locais na ordem da organização capitalista

nacional:

Será atribuído ao SESI, estudar, planejar e executar medidas que contribuam para o bem estar do trabalhador da indústria. Estarão claramente explicitadas, entre as funções da nova instituição a de ser gerida pela corporação empresarial, a defesa dos salários reais do operariado – através da melhoria das condições de habitação, nutrição e higiene – assistência em relação aos problemas domésticos decorrentes da dificuldade da vida, pesquisas e atividades educacionais e culturais, visando à valorização do homem e os incentivos à atividade produtora (IAMAMOTO; CARVALHO,1983, p. 274).

De acordo com FALCÃO (1989), o modo de produção capitalista organizou

um novo modo político que passou a permear as relações sociais. Nos países

capitalistas surgiram diversas maneiras de o Estado promover suas formas de

proteção social, estas políticas compõem o chamado Estado do Bem Estar Social ou

Estado Providência.

... a seguridade social em seu sentido amplo e irrestrito apresenta-se como peça fundamental e estratégica nos pactos que a classe dominante estabeleceu com os diversos segmentos da sociedade e, em especial, com a classe trabalhadora. Em certa medida, foi a seguridade social, consagrada enquanto pacto, fator preponderante que garantiu a esta revolução passiva, sua margem de vitória nos países capitalistas avançados (FALCÃO,1989, p.113).

Porém, nos países capitalistas de Terceiro Mundo, as formas de o Estado

organizar seu sistema de proteção social o caracterizam basicamente como Estado

assistencial cuja travessia para o Estado Providência passa a ser feita,

paulatinamente a partir da Constituição de 1988.

Não se manifestou na fala das entrevistadas uma estreita articulação entre

suas práticas, desenvolvidas tanto no campo de trabalho quanto na organização

profissional e o Movimento de Reconceituação, proposto por um determinado

segmento da categoria em nível nacional.

Este Movimento, imbuído de diferentes formas de abordagens e de

contradições conforme já explicado nesse trabalho através de YAZBEK (2000), e

NETTO (2004), tinha, como principal objetivo modernizar o Serviço Social atribuindo-

18

lhe um outro perfil que não estritamente religioso e conservador. As possíveis

causas desta não manifestação são atribuídas à existência de um reduzido número

de assistentes sociais no município que atuavam, além de tudo, em instituições

distintas. Atribui-se também à característica de vanguarda que eventualmente

alguns movimentos profissionais adquirem, principalmente aqueles que se incluem

na contestação do sistema vigente, e que nem sempre contam com a maioria dos

profissionais apesar de serem estes movimentos responsáveis por momentos de

avanços e reconhecimentos da profissão e, por fim, a vigência, na época, de um

governo militar autoritário que coibia intenções de transformação social (fato este

que influenciou sobre as bases de ensino dos cursos de Serviço Social)

principalmente quando manifestadas por profissões que têm a intervenção social

como característica predominante.

Nos depoimentos, percebemos um cuidado por parte das entrevistadas em

definir o método ou a forma de abordagem utilizada durante o exercício da profissão

baseada principalmente nos atendimentos individual e grupal.

Dentro de uma perspectiva de modernização da profissão, a nomenclatura

Serviço Social de caso, de grupo e de comunidade passou a ser substituída, a partir

da década de 1970, por abordagem individual, grupal e comunitária entendendo-se

que não deveria utilizar-se de um Serviço Social próprio para cada segmento e sim

de diferentes abordagens que se fizessem necessárias, dependendo do caso

apresentado. Propõe-se desta forma que o Serviço Social não intervenha junto ao

público de forma fragmentada uma vez que o indivíduo, enquanto ser social, deve

ser considerado a partir das diversas influências, construções e manifestações que

fazem parte da sua história de vida. VIEIRA (1981), analisa que o Serviço Social de

caso (ou com indivíduos) originou-se nos Estados Unidos na década de 20 e tinha

como objetivo desenvolver a personalidade da pessoa buscando um ajustamento

consciente desta em seu ambiente. Porém, relata não adiantar que um indivíduo

seja atendido dentro dos princípios da abordagem individual caso esta seja feita de

forma isolada e estanque. Daí a importância da interface com as abordagens grupal

e comunitária uma vez que o indivíduo atendido encontra-se localizado em uma

determinada convivência grupal a qual interage com os aspectos comunitários. Esta

autora utiliza-se do conceito de abordagem de Serviço Social de Grupo que,

também, originou-se nos Estados Unidos na década de 20, baseada no documento

19

elaborado no Seminário de Araxá, em 1967, o qual considera o Serviço Social de

Grupo:

...um processo de Serviço Social que, através de experiências propositadas, visa capacitar os indivíduos a melhorarem o seu relacionamento social e enfrentarem de modo mais eficaz seus problemas pessoais, grupais e comunitários. (VIANA, 1981, p. 116).

GENTILLI (2001), posteriormente analisando as críticas que tais abordagens

receberam, argumentou quanto à postura que profissionais do Serviço Social,

militantes e contestatórios adotaram frente às abordagens evidenciadas :

...perseguiam implacavelmente os profissionais que atuavam nas organizações por meio dos processos tradicionais da profissão (caso e grupo), considerados como importados e inadequados às realidades latino-americanas. (p. 91).

FALEIROS (2006), analisando os enfrentamentos ideológicos existentes no

interior da categoria afirmou, que:

...precisamos sair das dicotomias que marcaram a profissão nos anos 70 e nos anos 80. São dicotomias excludentes. Temos vários exemplos dessa invenção das dicotomias (...) Assim para o Serviço Social havia no horizonte duas possibilidades: ou a adaptação à ordem ou a revolução(...) Para sermos coerentes com a revolução tínhamos que jogar fora trabalho social com indivíduo, que era visto como forma de ajustamento, e fazer o trabalho com movimentos sociais (...) (p. 86).

As características do Serviço Social desenvolvido nesta fase foram conforme

observado, construídas de acordo o processo de desenvolvimento social, político e

econômico do país os quais contribuíram fundamentalmente com a organização da

forma de pensar e agir da profissão.

A questão social, apresenta-se ao assistente social, independente de sua

orientação ideológica, de formas variadas que requerem do profissional também

formas diferenciadas de intervenção pautadas em estratégias e instrumentalidades

próprias. Em Juina, os enfrentamentos ideológicos citados, embora possam ter

ocorrido, não foram determinantes de modo a criar um marco na história da

profissão neste período.

Compreende-se, através dos depoimentos, que nesta fase inicial, os

profissionais conduziam suas ações pautando-as em instrumentais construídos a

partir de seu conhecimento prático teórico, das possibilidades institucionais e da

realidade sócio econômica da época.

Além dos serviços de saúde em Juina não ter nos últimos anos apresentado

avanços significativos do ponto de vista da organização, principalmente pela não

20

implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, no município como

ademais no restante do Estado, ainda se observa um processo de reversão em

relação às conquistas, durante as Ações Integradas de Saúde (AIS). A retração do

Estado de Mato Grosso na participação e financiamento, a indefinição da União com

relação a repasse de recursos, normatização na relação com a rede contratada, a

insuficiência de recursos, pouca racionalidade, deficiência gerencial, partidarismo na

área da saúde, clientelismo; certamente, foram fatores decisivos para que persista

paralelismo de ações, ociosidade, baixa resolutividade, etc.

Esse documento evidencia características de avanços e retrocessos no

processo de construção da Saúde Coletiva no município.

Nas transcrições abaixo se percebe não só a proposta de um trabalho

interdisciplinar - no qual o papel da assistente social passa a ter destaque -, como

também a vontade política de se enfrentar a nível municipal um dos problemas

nevrálgicos para a implantação do SUS, qual seja a questão dos recursos humanos,

buscando apoio em instituições relacionadas com o movimento sanitário.

“...em 94 eu sou contratado através de concurso, como psicólogo, e fui chamado para assumir o setor de Recursos Humanos (R.H.) junto com outra assistente social (...) A gente começa então a trabalhar em uma lógica de investimentos em R.H. Havia uma lógica de contratação de um número grande de profissionais de várias áreas(...)que eu me lembro, nessa época tinha 2 ou 3 assistentes sociais.” (Entrevistado nº 5).

“...a lógica de contratação de assistentes sociais foi uma lógica de contratação em bloco. Pensava-se em assistentes sociais, psicólogos, enfermeiras, médicos...”. (Entrevistado nº 5).

Entende-se, portanto, que a consolidação da inserção do assistente social

na Saúde Coletiva em Juina partiu da iniciativa de uma gestão da saúde pública

municipal cuja base de formação originou-se na década de 1990 a partir da

organização da medicina social. Este fato contribuiu significativamente para a

compreensão de que o trabalho de atenção à saúde deve ser desenvolvido de forma

conjunta e, posteriormente, adequou-se às diretrizes e exigências da Constituição de

1988. Tal inserção justifica-se pela necessidade de composição de equipe. Não foi

uma inserção com objetivos de se trabalhar individualmente e sim dentro de uma

perspectiva de um projeto municipal de saúde, dentro de uma proposta de Saúde

Coletiva.

“... tinha um punhado de postinho de atendimento (no início de 2000) que ficava fazendo repetitivamente ações curativas sem uma profundidade, sem

21

um norte, sem um objetivo principalmente de atingir a Saúde Coletiva...os funcionários ficavam sentadinhos esperando o doente e ninguém saia a um passo da porta para impedir que a doença atingisse um cidadão, uma comunidade ou uma família. O nosso postulado era fazer isso. Dentro dessa perspectiva a gente quis colocar uma equipe ativa e não uma equipe passiva, uma equipe ativa com integração instituição- comunidade. Por que eu fui atrás das assistentes sociais? Por que tinha que haver uma relação muito grande com a comunidade. Tinha que haver busca ativa”. (Entrevistado nº4).

Uma das principais formas de se trabalhar o impedimento de uma doença é

atuando de forma preventiva sobre ela. A existência do profissional do Serviço

Social dentro de uma perspectiva de atuação de acordo com a acima descrita

justifica-se a partir da realização de um trabalho de caráter preventivo e de

promoção de saúde por intermédio de uma melhor interação entre instituição e

comunidade, através da “busca ativa”.

Ainda que haja distintas definições de promoção da saúde e prevenção,

entende-se que a promoção da saúde não se dirige a uma determinada doença ou

desordem, mas servem para aumentar a saúde e o bem estar gerais e a prevenção

exige uma ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural da doença

a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença. (CZERESNIA, 2003, p.

45).

Esse foi um dos principais objetivos da inserção do profissional do Serviço

Social na Saúde Coletiva do município de Juina sistematizada e oficializada através

de concurso.

3.2– O SERVIÇO SOCIAL E A SAÚDE COLETIVA EM JUINA

A trajetória de inserção do Serviço Social especificamente na área da saúde

no município de Juina iniciou-se no Hospital Municipal, na década de 1990,

conforme nos apontam os dados obtidos através de entrevistas e pelo fato de não

haver sido encontrado documentos que nos indiquem outra data de inserção da

categoria na área da saúde.

“...eu assumi o Serviço Social do Hospital Municipal em 1998. O que a gente fazia ?. As pessoas que trabalhavam, que tinham carteira assinada e então tinham vínculo com a Previdência Social tinham o direito a assistência médica, hospitalar, ambulatório, internação e todas as seguridades...E tinha as pessoas que não eram contribuintes. Eram os indigentes, não tinham direito a nada. Mas a gente não falava indigente, falava N.P. (Não Pagante). Como o Hospital Municipal tem uma função filantrópica, o N.P entrava na filantropia. Ele não tinha gasto nenhum. Eram muito bem atendidos. Faziam

22

cirurgia e ficavam internados em enfermarias de quatro leitos. As parturientes faziam pré-natal no hospital. Tinha menos gente, era mais tranqüilo(...). Na época a função do Serviço Social era atender e orientar os não pagantes”. (Entrevistada nº 6).

Agravando esta situação, a opção política, nos primórdios da implantação do

SUS, pela prioridade da atenção dispensada aos serviços de alta complexidade em

detrimento dos demais, permite analisar que existem questões chave na

organização do SUS que impedem uma dinâmica funcional regular diferente do que

se encontra proposto em seus princípios básicos organizativos. Esta diferenciação

respalda-se no trato financeiro destinado a cada nível de atenção à saúde. Pode-se

compreender que a ordem neoliberal, que tem como principal característica a

retração do Estado em função do avanço da livre organização do mercado,

conforme explicada no capítulo 2 deste trabalho a luz de determinados autores, influi

sobre a qualidade dos serviços prestados no sentido de que a política pública (no

caso, a nível local) não adquiriu formas consistentes de atender as demandas como

um todo dentro do mesmo padrão de qualidade em função da ordem financeira.

Apesar disso, no que diz respeito à orientação aos pacientes em buscar atendimento

na atenção básica (nível primário de atendimento/principal porta de entrada do

paciente no SUS) é instituída após a organização do SUS uma outra forma de

acesso do público aos hospitais cuja lógica incide diretamente sobre o Serviço

Social hospitalar. Antes de buscar espontaneamente os serviços hospitalares o

paciente primeiramente passa a recorrer ás Unidades Básicas de Saúde para de lá

ser referenciado para os atendimentos secundários (como, por exemplo,

Policlínicas) ou terciários (Hospitais).

“...após o S.U.S. o atendimento que o Serviço Social presta ao paciente mudou. O paciente já vem encaminhado. Buscamos descontos para os que não podem pagar exames que não são autorizados pelo S.U.S., fazemos visitas domiciliares, atendimento a pacientes internados, orientações previdenciárias, referenciamos pacientes para os postos de saúde...”. (Entrevistada nº 6).

Diferentemente do Serviço Social desenvolvido em unidades hospitalares,

que tem como principal objetivo atender o paciente e ou familiares quando estes já

se encontram acometido por alguma doença instalada, com exceção dos partos, que

não cabe à atenção primária tratar, o Serviço Social definido para atuar em

Unidades Básicas de Saúde (U.B.S.), após implantação do SUS deve priorizar seu

planejamento voltado para ações de prevenção e promoção da saúde.

23

A partir da lógica de reorganização da atenção básica instituída o assistente

social passa a atender nas U.B.S. os pacientes até então considerados não

pagantes que eram atendidos em hospitais, mas que deixam de ser intitulados não

pagantes e passam a ser reconhecidos como cidadãos que têm direito ao serviço.

Esta lógica implicou na transferência dos procedimentos de nível primário, (como

consultas com pediatra, clínico geral, ginecologistas e obstetras inclusive pré natal ,

imunizações, curativos, exames básicos) dos hospitais para as U.B.S. as quais

também implantaram outros serviços para além destes, como, por exemplo, a

atenção psicoterápica.

De acordo com BRAVO e MATOS (2006), existe dificuldade, por parte do

profissional, em reconhecer o espaço a ele destinado e criado por iniciativa das

articulações sócio-ocupacionais em função do processo interno de amadurecimento

da categoria. Para tanto, fez-se necessário que o profissional reeducasse sua

prática de intervenção ajustando-a a novas demandas. A forma como o profissional

não apenas exerceu, mas ainda exerce este processo reeducativo, constante em

sua prática, dá-se através da maneira como a categoria se recicla (através

principalmente de cursos de especialização), se organiza e se manifesta.

Importantes formas de organização da categoria ocorrem através dos debates

promovidos durante os diversos encontros profissionais, como, por exemplo, os

Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais (CBAS), e através das entidades

representativas, como o CRESS (Conselho Regional de Serviço Social), o CFESS

(Conselho Federal de Serviço Social) e inclusive a ENESSO (Executiva Nacional de

Estudantes de Serviço Social). As manifestações são evidenciadas não somente

através dessas formas de organização como também da produção literária que

passou largamente a ser desenvolvida a partir da década de 1980. As mudanças

nas demandas apresentadas pelo público aos assistentes sociais no cotidiano de

seu fazer profissional também lhe exigem mudanças em sua forma de intervir

propondo-lhe uma reciclagem advinda do seu dia-a-dia. As instituições formadoras

também são responsáveis pelo processo de reeducação constante em nossa

formação, como podemos evidenciar a seguir.

Por outro lado, agregando às justificativas dos autores citados, encontra-se

na formação acadêmica do assistente social uma outra possibilidade de se explicar

o descompasso entre o processo de amadurecimento profissional e os espaços

24

ocupacionais, que demandam desse profissional iniciativas nem sempre

correspondidas. O último currículo mínimo vigente desde 1982 e que norteou a

formação acadêmica de todos os profissionais do Serviço Social entrevistados,

necessitou, após longo período de discussão interna, ser substancialmente alterado.

Neste sentido são criadas novas Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social

com base em um novo Currículo Mínimo aprovado em Assembléia Geral

Extraordinária da categoria em 8 de novembro de 1996 e até hoje vigente. Em 20 de

dezembro deste mesmo ano foi promulgada a Lei de Diretrizes Básicas (L.D.B.) nº

9.394/96, segundo BRASIL (1996, 94). “tornando oportuno o processo de

normatização e definição de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social no

espírito da nova Lei.”

Estas novas diretrizes, dentro de uma compreensão mais inovadora,

segundo BRASIL (1996, 184), foram definidas de acordo com o processo de

reestruturação da profissão construído durante as décadas de 1980 e 1990 que

compreendem as novas formas de qualificação profissional como fator importante no

enfrentamento às demandas apresentadas pela nova questão social.

Percebe-se, portanto, que o perfil inicial de atuação do profissional do

Serviço Social na área da Saúde Coletiva, em Juina, estava baseado em

dificuldades de incorporar em sua pauta de atuação, um trabalho de caráter

preventivo e promocional pertinente a um determinado modelo de política pública

cuja discussão ainda não havia sido suficientemente amadurecida dentro do

processo de formação acadêmica através da proposta curricular. Esta irá

efetivamente ocorrer a partir de 1996.

Embora não seja o objetivo desse trabalho estudar sobre o processo de

inserção de outras profissões na área da Saúde Coletiva, é importante refletir que

este modelo de atenção a saúde proposto pela Lei nº. 8.080 incentiva não somente

o profissional do Serviço Social a rever sua prática assim como os demais

profissionais da área da saúde contemplados na resolução do Conselho Nacional de

Saúde nº. 2.18/97 considerando, que eram predominantes, conforme já elucidado,

as ações de caráter curativo por parte destas profissões até a resolução e

implementação da referida Lei.

Nesta revisão do modelo de assistência a saúde produzida após a

implantação do SUS, em que se propõe rever a prática dos profissionais envolvidos

25

com a saúde, uma função que não era exercida pelos assistentes sociais até então

em Juina passa a ser feita: a gerência de unidades básicas de saúde.

Tradicionalmente prerrogativa de médicos e, no máximo enfermeiras, é

implementada pelo gestor do SUS na cidade, levando a que o profissional tenha

uma valorização na sua função profissional, estimulando também que o assistente

social se recicle, se reestruture, amplie sua visão, competência e atuação. No

entanto, o reconhecimento desta capacidade do assistente social não se reflete

numa isonomia salarial com os demais profissionais.

A entrevistada seguinte, ao relatar alguns problemas relativos ao

reconhecimento do funcionalismo público no município de Juina, aborda

enfaticamente a questão da falta de isonomia salarial entre os profissionais de nível

superior.

“...um deles é o desestímulo do profissional de nível superior, como o assistente social e o fisioterapeuta, por exemplo, que possuem um salário inferior a outros profissionais”. (Entrevistada nº 12).

É compreensível que um dos desestímulos profissionais ascenda do não

reconhecimento de seu trabalho manifestado nas diferenças salariais entre

profissionais do mesmo nível de formação acadêmica. Categorias, gradativamente

têm buscado de maneira coletiva e organizada formas de promover essa mudança.

Houve (e ainda há) uma tentativa por parte do Serviço Social quando da

origem de sua inserção na Saúde Coletiva, que pode ser considerada bem sucedida,

em se promover práticas preventivas no sentido de se ajustar à uma demanda de

consolidação de um modelo de política pública municipal. Objetivando atender tal

expectativa os profissionais necessitaram criar formas de adequação de seu

conhecimento teórico prático-interventivo às exigências da nova ordem de atenção

aos usuários principalmente em unidades básicas de atendimento.

Em contraposição a esse estímulo, o não reconhecimento da isonomia

salarial por parte da gestão pública municipal, explicitada através de um PCCS-

porque não instituiu a igualdade salarial para os profissionais de nível superior

conforme mostram as entrevistas e os anexos, evidencia um fato que sugere que os

critérios de justiça que norteiam a organização salarial dos funcionários públicos

municipais, não somente da área da saúde, sejam repensados.

26

Além desta luta por um tratamento mais justo em relação ao seu trabalho, a

partir da década de 1990, um novo desafio se apresenta aos assistentes sociais, e

especificamente, aos assistentes sociais em Juina: sua inserção nas equipes

mínimas do Programa de Saúde da Família (PSF).

Baseado na observação de NETTO (2004), o mercado de trabalho surge

para os agentes profissionais através das diretrizes que regem a lógica do mercado

e não a partir dos marcos e anseios inerentes à profissão. Dentro desta perspectiva,

o setor público, as empresas e o terceiro setor organizam para o Serviço Social um

campo de trabalho através do qual ele passa a intervir na questão social utilizando-

se de instrumental técnico próprio. É desta forma que o Serviço Social, em Juina,

tem sido gradativamente inserido no mercado de trabalho, o qual tem ampliado cada

vez mais essa possibilidade principalmente através da esfera pública municipal.

No que diz respeito à área da Saúde Coletiva, tal incorporação depende de

uma intenção política local, pois a municipalização da gestão da saúde permite ao

gestor municipal a decisão pela inclusão de variados tipos de profissionais de saúde

no seu sistema. Dentro dessa perspectiva, é possível que surja um outro campo de

trabalho para o assistente social em Juina, isto é, sua inserção nas equipes de PSF,

sobre a qual discutiremos a seguir.

A emergência do PSF como política prioritária no Brasil está contextualizada

no bojo do processo de reforma do setor saúde ao longo das duas últimas décadas.

Para o Ministério da Saúde, o PSF é uma estratégia que visa atender ao indivíduo e

a família de forma integral e contínua, desenvolvendo ações de promoção, proteção

e recuperação da saúde, tendo como objetivo a reorganização da prática

assistencial centrada no hospital, passando a enfocar a família em seu ambiente

físico (BRASIL, 1997).

Segundo LEVCOVITZ (1996), o PSF é definido como:

...um modelo de atenção que pressupõe o reconhecimento de saúde como um direito de cidadania, expresso na melhoria das condições de vida; no que toca a área da saúde, esta melhoria deve ser traduzida em serviços mais resolutivos, integrais e principalmente humanizados. (p 38).

Segundo CAMPOS (1997), por modelo de atenção entende-se:

...um conceito que estabelece intermediações entre o técnico e o político. Como uma dada concretização de diretrizes de política sanitária em diálogo com um certo saber técnico. Uma tradução para um projeto de atenção à saúde de princípios éticos, jurídicos, organizacionais, clínicos, socioculturais

27

e da leitura de uma determinada conjuntura epidemiológica e de um certo desenho de aspirações e de desejos sobre o viver saudável. Modelo, portanto, seria esta coisa tensa, que nem é só política e tampouco só tecnologia (p. 62 ).

ESCOREL (2002), argumenta que a formulação do PSF incorpora os

princípios básicos do SUS – universalização, descentralização, integralidade e

participação popular – desenvolvidos a partir de equipes de saúde que trabalham

com definição de território de abrangência, adiscrição de clientela, cadastramento e

acompanhamento da população.

O PSF teve início a partir de uma formulação do Ministério da Saúde, em

1991, do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), que tinha a

finalidade de contribuir para a redução das mortalidades infantil e materna,

principalmente nas regiões Norte e Nordeste, e reduzir as internações hospitalares,

através da extensão de cobertura dos serviços de saúde para as áreas mais pobres

e desvalidas de recursos. Isto em um momento em que o país apresentava altos

custos nas internações hospitalares e redução nos recursos destinados a saúde.

A expansão do PSF para todo o país, no entanto, se tornou possível

somente a partir de 1995, com a definição de mecanismos e patamares de

financiamento e com a proposição da Norma Operacional Básica (NOB1), de 1996.

Ela criou incentivos financeiros federais calculados e transferidos em base per capita

aos municípios através do Piso de Atenção Básica (PAB). Este Piso consiste em um

montante de recursos destinados ao custeio de procedimento da atenção básica sob

responsabilidade municipal, transferido de forma regular e automática aos

municípios habilitados com base na sua população. Este recurso aumentou a

autonomia de gasto para a maioria dos municípios, permitindo a municipalização de

fato das ações básicas e a expansão das redes de serviços, entre os quais o

Programa de Saúde da Família, pois, além de um PAB fixo, os municípios que se

interessaram em implantar o Programa tiveram o acréscimo do PAB variável como

estímulo para implantar o Programa de Saúde da Família e aumentar o percentual

de população coberta por este Programa, conforme nos relata BRAVO (2006).

Coincidindo com esta expansão do PSF em nível nacional, foi aprovada pelo

Conselho Nacional de Saúde a Resolução n° 218/97, já citada, que passou a

reconhecer a importância de vários profissionais como profissionais da saúde, entre

os quais, ressalta-se em função deste estudo: os assistentes sociais.

28

Em função desta conjuntura favorável (expansão das equipes do PSF e dos

profissionais na sua composição) e da situação estrutural dada pela Constituição

Federal que no capítulo da saúde define o direito à integralidade dos serviços de

saúde como um dos seus princípios, uma série de profissionais que estavam fora

deste mercado de trabalho específico - PSF – tais como dentistas, psicólogos,

fisioterapeutas e, também, assistentes sociais procuram lutar politicamente pela sua

incorporação as equipes de PSF.

Do ponto de vista da formação e prática profissional, os assistentes sociais

apresentam estas condições, como bem o demonstra o trabalho de COSTA (2000),

onde em síntese, a autora afirma que:

... o assistente social se insere, no interior do processo de trabalho em saúde, como agente de interação ou como um elo orgânico entre os diversos níveis do SUS e entre este e as demais políticas setoriais, o que nos leva a concluir que o seu principal produto parece ser assegurar - pelos caminhos os mais tortuosos - a integralidade das ações (COSTA, 2000, p. 39 ).

O município conta com cursos de graduação regular em Serviço Social em

duas instituições universitárias, sendo que uma delas possui uma atuação de grande

presença na área da saúde, desenvolvendo práticas de interdisciplinaridade e

extensão seja na graduação ou pós-graduação.

Estas instituições e seus profissionais formados ou em formação podem,

através de sua prática, contribuir para o ganho de espaço dos assistentes sociais na

Saúde Coletiva de Juina. Certamente uns dos grandes interessados nesta

discussão, a qual apresenta um forte caráter político, são os próprios profissionais

do Serviço Social.

A luta pela conquista de sua inserção nas equipes de PSF tem sido

desenvolvida pela categoria em nível nacional, mas ainda não manifestada no nível

municipal. Trazer esta discussão, para o município de Juina é um desafio que

depende também da capacidade de mobilização e articulação dos assistentes

sociais com a gestão pública municipal, com a população – através dos Conselhos,

com os órgãos representativos da categoria, como o CRESS, o CFESS e a

ENESSO e com as instituições universitárias formadoras. Este desafio também é um

convite.

Mesmo tendo muitos avanços, o programa e as equipes de saúde da família

ainda tem aspectos a serem analisados, como as tendências atuais das políticas

29

sociais e a priorização do atendimento tendo a família como objeto de trabalho, esse

enfoque tem como objetivo desinstitucionalizar os centros de internação levando os

doentes para o seio de sua família e também diminuir custos. Ou seja, este

profissional, assistente social, que também compreende a educação em saúde

juntamente com outros profissionais pode colaborar para um projeto interdisciplinar

que proporcione a abordagem educacional da saúde, aprimorando um diálogo entre

o conhecimento popular e científico, além de promover o protagonismo dos usuários

da saúde. “(…) o Serviço Social é uma profissão que tem a dimensão pedagógica

como um traço constitutivo da sua intervenção na realidade.” (VASCONCELOS,

2009, p.321).

Para atuar frente a realidade das dinâmicas familiares, as equipes devem

estar em constante preparo e nisso inclui-se o conhecimento especializado sobre a

temática familiar, para que além de trabalharem com a promoção e prevenção em

saúde, compreenda-se a dinâmica familiar e comunitária atrelada a educação em

saúde. Conforme ACOSTA e VITALLE “(…) essas exigências do saber profissional

das equipes remetem a reflexão da necessidade de novas especialidades nas

equipes” (ACOSTA e VITALLE, p.173).Frente a necessidade de novas áreas de

atuação junto a Estratégia Saúde da Família, nos reportamos a VASCONCELOS

(2009, p.315) o qual observa que:

“(…) à composição das equipes básicas, polemizando quais categorias profissionais de nível superior deveriam inserir-se nas mesmas para que a Saúde da Família pudesse efetivamente alcançar os objetivos a que se propõe.” e seguindo a percepção crítica deste autor, nos aprofundaremos em uma analise do quanto a equipe mínima ou básica se faz capaz de superar o velho modelo médico assistencialista biologisante da doença, alias o próprio Ministério da Saúde expõe que Saúde da Família não se limita a um atendimento básico de saúde, concorda-se portanto com este autor que diz adiante: “(…) somente profissionais de cunho biologicista não conseguem contemplar todos os aspectos do processo saúde-doença” (VASCONCELOS, apud MIOTO e ROSA, 2009. p.316).

O assistente social não compõe a equipe mínima da estratégia saúde da

família, porém as famílias são o grupo de enfoque para sua atuação profissional,

visto que é nelas que se encontra maior vulnerabilidade social e nelas que o

Ministério da Saúde implanta as equipes. Conforme BENATTI (2009), aborda que a

vulnerabilidade social não limita-se somente a comprovação de renda, mas também

a composição familiar, as condições de saúde e acesso a serviços médicos,

educacional, de trabalho, leis e políticas.

30

3.3 SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS COLETADOS

Para a realização da intervenção acadêmica, inicialmente buscou-se

contatar com o responsável pela Equipe Estratégia Saúde da Família, apresentado o

plano de intervenção e solicitando a contribuição da Secretaria Municipal de Saúde

para a implantação do projeto de intervenção intitulado “A inserção do assistente

social na estratégia saúde da família”.

Para a realização da intervenção que tinha como objetivo principal,

demonstrar a importância da inserção do Assistente Social no Programa Estratégia

da Saúde da Família, foi necessário a realização de três reuniões explicativas e

dialogas envolvendo todos os profissionais da Saúde da Família do município,

aplicando-se dois questionários, um no primeiro momento de intervenção com os

profissionais e outro ao final das intervenções.A intervenção possibilitou um contato

e explanação sobre a atuação do Serviço Social na área da saúde para 77 membros

da equipe saúde da família.

Vale ressaltar que para a aplicação dos questionários, os quais tinham por

objetivo traçar um perfil sobre o conhecimento do trabalho do Assistente Social junto

ao ESF antes e após a intervenção, buscou-se uma amostra de três profissionais de

cada nível técnico, sendo: médicos, enfermeiros, dentistas, auxiliar de enfermagem,

auxiliar de consultório dentário e agente comunitário de saúde, totalizando dezoito

profissionais.

Dentre os profissionais 90% deles aceitaram participar da intervenção,

respondendo os questionários. No primeiro questionário, perguntou-se aos

profissionais se eles conheciam o trabalho do assistente social na área da saúde,

sendo que as respostas foram: 70,50% responderam que conhecem o trabalho do

Assistente Social na área da saúde e 39,50% não conhecem. Ainda para contemplar

esta questão, indagou-se os profissionais sobre quais as opiniões sobre a

intervenção do Assistente Social junto ao ESF, uma vez que, o profissional

Assistente Social encontra-se inserido no programa do Município.

“Acho o trabalho de fundamental importância, pois a equipe de saúde consegue muitas vezes focar somente a doença. Com o trabalho da assistente social a equipe consegue perceber a família de forma holística. (Marcos – enfermeiro)”;

“As visitas realizadas pela assistente social visam orientar as pessoas sobre condições de vida (habitação, higiene, relação familiar) e que podem melhorar as condições de saúde. (Pedro – auxiliar de enfermagem)”.

31

Dentre as falas fica claro o entendimento e reconhecimento do trabalho do

Assistente Social frente ao ESF de Juina, entendendo que a intervenção do

profissional vem a contribuir para além do trabalho preventivo e curativo,

entendendo a partir da segunda fala, a necessidade de se trabalhando as relações

sociais que permeiam a família e que também são de ordem de saúde pública.

Questionou-se os profissionais se eles entendiam necessário a inserção do

Assistente Social no Programa Estratégia Saúde da Famílias, as respostas

foram:“Todos os trabalhos quando desenvolvidos em equipe os resultados são

melhores, saúde e assistência social devem andar juntas. (Pedro – agente

comunitário de saúde)”;“Sim, foi idéia da nossa equipe na última conferência.

(Valquíria – auxiliar de gabinete dentário)”.

Frente a fala dos entrevistados, reportamo-nos a COHN (2002, p,27), o qual

fala que pensar em saúde é:

(…) como conciliar as profundas desigualdades sociais que marcam a sociedade brasileira com a democracia, num contexto de crescente invisibilidade social, da desvalorização da políticas sociais, (…), e exatamente quando se propõe a universalização desses direitos sociais.

E esse é o espaço de atuação do serviço social, atuar na garantia de

direitos, nesta caso, a garanti de direitos referente a saúde, visando melhorar o

atendimento e acesso da população usuária. Outro ponto que merece destaque é a

segunda fala, a qual demonstra a importância das Conferências Municipais, espaços

de discussão, avaliação e aprimoramento das políticas públicas.

Questionou-se ainda os profissionais se os mesmos possuíam dificuldades

do seus afazeres profissionais, onde 56,25% responderam que não há dificuldades,

e 43,75% responderam que encontram dificuldades. A análise que realizamos frente

a estes dados é que no cotidiano profissional as demandas explicitas por vezes são

camufladas, seja pelo não entendimento profissional ou pelo próprio usuário que

encobre seus problemas. Nesse sentido, VASCONCELOS coloca que:

(…) se já é difícil, numa realidade tão complexa, apreender, sinalizar e priorizar demandas explicitas, as que são aparentes, a necessidade de se abstrair da aparência da realidade trabalhada, dificulta ainda mais a sinalização, apreensão e priorização das demandas implícitas, demandas ocultas, [...] (2002. p.179).

Podem portanto, as demandas estarem implícitas em problemas internos

relacionados ao usuário ou a família, como: de relacionamento, psicológico,

desconhecimento dos direitos sociais. Sendo que frente a estas situações, como o

32

assistente social possui um conhecimento técnico e metodológico para identifica o

que permeia no contexto social familiar, pode contribuir para a resolução da

problemática.

Como outro questionamento, solicitou-se para que os profissionais

apontassem as três demandas mais importantes, entre as citadas, vinte e uma

características diferentes, 57,1% destas relacionam-se a capacidade técnica de

intervenção profissional do assistente social, dentre estas: “Falta de informação da

população sobre cuidados com a saúde. (Paulo, enfermeiro)”;“Falta de

comprometimento de hipertensos e diabéticos no tratamento. (Márcia,

médica)”;“Empenho e ética de alguns profissionais.” (Antonio, agente comunitário de

saúde).

Ao analisar estas respostas percebe-se que a educação em saúde atende a

questão social e o interesse social, sendo um dos espaços mais ricos de atuação do

assistente social na saúde. “A educação social não se efetiva a não ser relacionada

à educação pessoal”. (VASCONCELOS, 2002, p.430). Porém, a educação em

saúde se faz importante para o desenvolvimento saudável, envolve mais que

aspectos físicos, mas também deve compreender a saúde política, econômica,

cultural, para que então se encontre a saúde social, que pode então amenizar estas

demandas citadas pelos profissionais, e aperfeiçoar os serviços.

Ainda referente as demandas profissionais, questionou-se os profissionais

sobre quais as demandas mais freqüentes no cotidiano do ESF, em que os usuários

apresentam para os profissionais, vinte e oito respostas diferentes, destas, 64,28%

correspondem a patologias físicas e 35,71% a questão social.

Analisarmos essas diferenças de percentuais remete a uma análise sobre

essas demandas que vão além de diferenciar patologias físicas ou sociais, aliás,

estão interligadas intimamente, pois se faltam aos cidadãos o trabalho, educação,

saneamento básico, habitação, alimentação adequada, etc., falta-lhes a saúde, não

ocorre o desenvolvimento necessário para que estes cidadãos se mobilizem ou

articulem coletivamente para reivindicar o que lhes falta e perceber que tem poder

através do conhecimento e que leva a ações democráticas, até para consigo

mesmos, para com a saúde individual e dessas famílias. Como cita

VASCONCELOS:

33

(…) realizar um trabalho profissional com os usuários como sujeitos de direito, contribuindo para o acesso à saúde como um direito social, exige dos assistentes sociais captar o que há de social relacionado à questão da saúde, para além da dor, do sofrimento, da informação pontual para resolver problemas emergenciais e da doação, de educação básica em saúde, [...]. (2002, p.450).

Nesta citação analisa-se mais uma vez o objetivo deste trabalho que é

demonstrar a importância da inserção do assistente social nas equipes de saúde da

família, com seu olhar diferenciado, não mais importante, mas integrador para

auxiliar na resolução da problemática da comunidade em que as equipes estão

atuantes, e que responderam este questionário.

Após a segunda e terceira abordagem com os profissionais em reunião

pública, quando apresentou-se o significado da profissão; das demandas que os

profissionais podem estar apresentando para o Assistente Social conforme sua

capacidade técnica; e da socialização de informações com folder; aplicou-se o

segundo questionário, com o intuito de perceber em suas respostas, as novas

descobertas frente a profissão de Serviço Social, visto que esta foi a primeira vez

que tiveram informação de tal assunto.

Para a elaboração deste segundo questionário observou-se as respostas do

questionário anterior, ou seja, dos 39,5% que não conhecem o trabalho do

Assistente Social, 100% deles no segundo questionário responderam positivamente

sobre a necessidade de uma socialização e ou divulgação de informações sobre o

que é a profissão de Serviço Social na área da saúde.

Dentre os profissionais que já conheciam o trabalho do Assistente Social

questionou-se sobre as percepções das competência e atuação do assistente social

na dinâmica diária do ESF. Dos respondentes, 66,66% disseram que identificaram a

atuação do Serviço Social na rotina diária do ESF, já 33,33% responderam que não.

Neste momento torna-se importante ressaltar a necessidade de esclarecimentos

sobre as mais variadas área de atuação, uma vez que, em muitos momentos os

profissionais não são reconhecidos por desconhecimento de suas funções e ou

atuações. Sendo que após o conhecimento sobre suas atribuições em muitos

momentos os profissionais são requisitados.

Frente ao conhecimento sobre as competências do Assistente Social,

questionou-se os profissionais em quais situações o Assistente Social pode estar

atuando no atendimento das famílias, enquanto integrante da equipe ESF.

34

“Na escola, com criança e adolescentes e familiares excluídas pela própria

comunidade tendo alcoólatras, doentes mentais” (Joana, auxiliar de enfermagem);

“O Assistente Social tem papel importante nos problemas familiares dos

pacientes onde esses problemas fogem do alcance das equipes de saúde.” (André,

dentista).

“Levantamento socioeconômicos, orientações, encaminhamentos,

desenvolvendo projetos para o bem da coletividade.” (Carlos, médico).

Frente a fala dos profissionais, fica claro o entendimento sobre a atuação do

assistente social no ESF, o qual tem o papel de trabalhar com as demandas sociais,

envolvendo a família no seu contexto sócio-histórico, atrelado estes a educação da

saúde pública

Frente a atuação do Assistente Social questionou-se os profissionais sobre

quais as contribuições que o mesmo pode trazer para o ESF.

“Principalmente com orientações que fogem da alçada da saúde, ou que o

profissional da ESF não tem embasamento legal para resolver” (Paula, auxiliar de

consultório dentário);

“Junto com a equipe ESF, nas famílias carentes e atendendo as

necessidades particulares de cada um.” (Márcia, auxiliar de consultório dentário);

“Somar junto as equipes ESF com o intuito de melhor atender todas as

famílias.” (Janaina, dentista).

“Contribuem para melhorar o quadro multiprofissional e consequentemente a

qualidade do atendimento ao paciente.” (José, enfermeiro).

Observando os princípios e diretrizes do SUS, da “universalidade, equidade,

integralidade, descentralização, controle social, hierarquização dos serviços” (Lei

8.080/90 e 8.142/90), percebe-se a necessidade de inclusão de profissionais com

diferentes conhecimentos, por trabalharem e ou executarem os serviços, os

respondentes colocam tais considerações, ou seja, pela complexidade que é fazer

cumprir tais diretrizes na atenção à saúde da população.

É como bem coloca Vasconcelos ao analisar a Resolução número 218/97

que reconhece algumas profissões da área da saúde:

35

(…) para tanto, pautou-se na preocupação com a integralidade da atenção e a participação social; na importância da ação interdisciplinar, no âmbito das diferentes profissões de nível superior para o avanço no que tange à concepção de saúde (VASCONCELOS, 2009. p.313).

A ESF é uma ação que o Ministério da Saúde cria para reorganizar o SUS e

dar ênfase a suas diretrizes, para tanto os técnicos são a peça chave para que isso

ocorra. Neste viés VASCONCELOS (2009, p. 321), afirma que o Serviço Social

contribuiu historicamente na área da saúde, entendendo a saúde como condições

determinadas pelas condições de vida, tornando-se necessário uma formação

cidadã com a participação de controle social.

36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O que se discutiu neste trabalho foi à relação Serviço Social-Saúde Coletiva

tendo como campo de estudo o município de Juina/MT. Após a pesquisa realizada

junto a alguns documentos sobre o tema e o trabalho desenvolvido no campo de

estudo, concluiu-se que o Serviço Social e a Saúde Coletiva tiveram origens em

épocas diferentes: o Serviço Social, no Brasil, surgiu na década de 1930, tendo

como referência, uma prática assistencialista. Durante as décadas que se seguiram

foram mudando seus referenciais ético-políticos e ideológicos; a Saúde Coletiva

surgiu, no Brasil, na década de 1970, como uma tentativa de se contrapor a uma

prática na área da saúde que tinha uma visão estritamente biologicista do fenômeno

saúde-doença.

Esses dois processos confluíram seus objetivos através da Constituição de

1988. A partir desta Constituição, o conceito de saúde ganhou uma dimensão muito

mais ampla que a visão biologicista dominante até então. Com uma definição do

fenômeno saúde–doença dentro de uma abordagem abrangente, onde a saúde seria

fruto não só de fatores assistenciais, mas de práticas preventivas, que por vezes, se

encontram fora do âmbito estrito da saúde, o Serviço Social encontra, no campo

teórico, um espaço maior para se fazer presente.

Na efetivação desta prática, desta nova concepção de saúde torna-se

imperiosa a presença de profissionais de outras áreas além de outras profissões que

até então se encontravam em posições privilegiadas, tais como a Medicina, a

Enfermagem e a Odontologia. Assim, as funções desenvolvidas pela Nutrição,

Psicologia, Fisioterapia, Educação Física e Serviço Social passaram a ser

consideradas importantes para a prática da saúde, de acordo com os novos

princípios e os seus profissionais, a partir de 1997, passaram a ser reconhecidos

pelo Conselho Nacional de Saúde como “profissionais da saúde”.

A concretização do processo de inserção do Serviço Social na área da

Saúde Coletiva, não ocorreu somente por Decretos ou Leis. As condições prévias

existentes nas distintas realidades de saúde do Brasil tiveram um papel

determinante nesta concretização.

Em Juina, estas condições prévias, seja no campo ideológico ou do poder

concreto já existiam e por isso, esta confluência de objetivos e práticas,

concretizaram-se antes mesmo do reconhecimento legal e institucional do assistente

social como profissional de saúde. Neste sentido, confirmamos a primeira hipótese e

as condições a ela inerentes. Esta situação singular ocorrida em Juina provocou

uma transformação da prática do assistente social, que passou a exercer funções

que até então não realizava. Isso ocorreu no setor administrativo quando passa a

assumir a coordenação da área de planejamento do sistema de saúde municipal,

bem como, na gerência de Unidades de Saúde quando passa a coordenar

Policlínicas ou Unidades Básicas de Saúde e no campo da atenção direta ao usuário

quando sua prática se transforma fazendo com que as ações preventivas e de

promoção de saúde passaram a merecer uma atenção prioritária. Neste sentido,

entendemos que a segunda hipótese também foi confirmada.

Porém, para além da confirmação das hipóteses, o que mais contribuiu com

o indiscutível processo de aprendizagem construído no decorrer dessa pesquisa, foi

poder entender como ocorreu a trajetória do Serviço Social e da Saúde Coletiva no

município através de depoimentos de profissionais que atuam ou já atuaram nessa

área. Mais que entender foi possível sentir que os fatos possuem uma seqüência

cronológica absolutamente interligada. Para que se possa correlacioná-los com as

estruturas teóricas e com os documentos é importante também absorvê-los

empiricamente.

Outra questão que também se apresentou como um fator importante no

decorrer desse trabalho foi compreender as perspectivas de avanços possíveis para

a profissão. O Serviço Social, Juina, conseguiu avançar e diversificar sua prática em

direção aos objetivos da Saúde Coletiva, mas os profissionais ainda não têm a

mesma valorização salarial que outras categorias profissionais, como médicos e

enfermeiros. Parte deste tratamento diferenciado dado a enfermeiros e,

principalmente, médicos é explicado pela prática desses dois profissionais dentro de

um modelo que se sustenta na concepção biologicista do processo saúde – doença.

Tal modelo, constituído há mais de cem anos, consolidou-se nos corações e mentes

de dirigentes e sociedade civil. No entanto, tal modelo fragmentou a prática de

saúde trazendo como conseqüência uma visão do homem como um conjunto de

aparelhos e sistemas orgânicos e não como um Ser integral, único, indivisível e

38

social. Decorre dessa concepção o sucesso da atenção à saúde (no que diz respeito

ao desenvolvimento da atenção clínica a partir dos avanços da ciência) e também

seu insucesso (no que diz respeito aos problemas decorrentes de uma visão

fragmentada do homem e da dificuldade em se garantir à população grande parte de

serviços de saúde que lhes são de direito).

É dentro dessa contradição que o modelo de saúde baseado na

integralidade do ser humano, dialeticamente, é criado. É dentro desta contradição

que algumas categorias de profissionais de saúde – entre os quais se encontram os

assistentes sociais - poderão adquirir mais espaço e valorização salarial na prática

da Saúde Coletiva e de seus profissionais como por exemplo o o profissional de

Serviço Social. Esta contradição apresenta-se como uma importante questão a ser

enfrentada pela categoria na continuidade da construção de uma prática de Saúde

Coletiva não só em Juina, mas em todo o país. Daí a necessidade de um trabalho

integrado das distintas representações da categoria nos âmbitos federal, estadual e

local e o trabalho conjunto com as demais outras categorias profissionais

(psicólogos, fisioterapeutas, entre outros) que, no momento, encontram-se, também,

em condições desfavoráveis quanto ao seu reconhecimento no trabalho na área da

Saúde Coletiva. Este movimento integrado poderá ser o instrumento das mudanças

desejadas.

Um dos novos campos de afirmação do assistente social dentro das políticas

de saúde e este seria o avanço mencionado é o PSF, atual e principal estratégia

política a nível nacional e local. Pela sua formação e prática o assistente social pode

e deve ter um papel muito importante na concretização desta política.

Estrategicamente, o trabalho da categoria dos assistentes sociais para

ocupar o espaço no PSF deve seguir as diretrizes traçadas anteriormente. Ou seja,

um trabalho político da categoria nos níveis federal, estadual e local e um trabalho

integrado com as demais categorias que pleiteiam sua presença no PSF. Cabe

dizer, que tal postura política não pode ser entendida como apenas uma estratégia

de conquista de mercado de trabalho, mas também pelo cumprimento de um dos

princípios do SUS, qual seja o da Integralidade de Atenção da Saúde, entendida

como direito que todo o cidadão tem à assistência total que necessita e em todos os

níveis do sistema.

39

Dessa maneira e através desse movimento e dessa prática o assistente

social estará contribuindo para a consolidação do modelo de assistência à saúde

proposto pelo SUS, e em contra partida, estará recebendo a contribuição desse

sistema para a sua consolidação como um profissional da saúde, que irá contribuir

significadamente para os gestores de saúde pública em saúde.

Este trabalho não finda com esta pesquisa somente, pois se tratando de

saúde pública, há muito que se discutir, pois não é simplesmente ter uma equipe

multidisciplinar nos PSFs que o assunto está liquidado, o campo para novos estudos

é muito amplo.

40

REFERÊNCIAS

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ANEXOS

ENTREVISTA

01-Por que escolheu ser Assistente Social?

02-Por que escolheu a área da saúde para atuar?

03-Como eram os trabalhos antes de ter Assistentes Sociais atuando na área de

saúde em Juína?

04-Como ocorreu sua inserção como Assistente Social no quadro de servidores

do Município de Juína?

05-Como surgiu as equipes de trabalho?

06-Como esta equipe atua e qual seu objetivo?

07-Quais procedimentos são realizados pelos Assistentes Sociais dentro do

Hospital Municipal de Juína?

08-Quais as principais dificuldades encontradas pelos profissionais dentro do

Município e sua demanda?