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FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO CARLOS ANDRÉ FONTENELE MARQUES REABILITAÇÃO DOS APENADOS BRASILEIROS: REALIDADE OU UTOPIA? FORTALEZA - CE 2014

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FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO

CARLOS ANDRÉ FONTENELE MARQUES

REABILITAÇÃO DOS APENADOS BRASILEIROS: REALIDADE OU

UTOPIA?

FORTALEZA - CE

2014

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CARLOS ANDRÉ FONTENELE MARQUES

REABILITAÇÃO DOS APENADOS BRASILEIROS: REALIDADE OU

UTOPIA?

Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação de conteúdo do Professor José Péricles Chaves.

Fortaleza - Ceará

2014

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CARLOS ANDRÉ FONTENELE MARQUES

REABILITAÇÃO DOS APENADOS BRASILEIROS: REALIDADE OU

UTOPIA?

Monografia apresentada à banca examinadora e à Coordenação do Curso de Direito da Faculdade Cearense, adequada e aprovada para suprir exigência parcial inerente à obtenção do grau de bacharel em Direito.

Fortaleza (CE), 13 de agosto de 2014. José Péricles Chaves Professor Orientador da Faculdade Cearense Ana Maria Tauchmann Rocha Professora Examinadora da Faculdade Cearense Valdir Cavalcante de Paula Passos Professor Examinador da Faculdade Cearense José Júlio da Ponte Neto Coordenação do Curso de Direito da Faculdade Cearense

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AQUI FICA A ATA DE DEFESA DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE

CURSO - TCC

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Dedico aos meus avós Zilda de Araújo

Fontenele e ao meu avô Moacir Barros

Fontenele (in memorian), pois sem eles

eu não teria vencido mais essa batalha,

pois minha criação foi baseada nos seus

princípios e ensinamentos, eles foram a

coluna mestra na construção da minha

vida. Aos meus Pais que me colocaram

no mundo e em especial minha mãe que

nunca me deixou faltar nada, e sempre

soube me ensinar o caminho correto das

coisas, a minha esposa Jéssica Barbosa,

que sempre segurou a barra nas horas

mais difíceis e me deu um presente

enviado por Deus, meu filho Arthur

Marques. Aos amigos de sala que levarei

para toda uma vida, Neto, Gabriel,

Rosana, Carina, Maria, Elissandra, Lira, e

João Nogueira.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por sempre ter me guiado pelos melhores caminhos, e por ter me proporcionado essa felicidade de ter me formado em Direito.

Agradeço também a minha mãe Leuliane Fontenele Marques por ter me

educado muito bem e sempre ter me dado forças quando, por algum momento, pensei em desistir.

Não posso aqui deixar de agradecer três pessoas que foram de total e

fundamental importância não só para minha formação, mas por terem sido grandes amigos durante o curso, e por fazerem parte da minha vida pessoal, Francisco Gabriel Melo, Raimundo Berlarmino Neto e Rosana Cândido.

Sem esquecer os professores que me proporcionaram um excelente

ensinamento, como, por exemplo, o professor Péricles, a professora Mabel, professor Alexandre Carneiro, a professora Ana, professor Valdir Passos e Professor Hugo Linard.

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“Nunca deixe ninguém estragar seus

sonhos, nunca baixe a cabeça diante de

uma derrota, pois somente você sabe o

tamanho da força que existe dentro de você,

e o tamanho da vontade que você tem de

vencer. Dessa forma, aprenda a ficar mais

forte com a derrota, saiba que a vitória está

mais próxima a cada derrota, e nunca perca

a fé em Deus, pois ele sempre saberá o

caminho certo a se guiar. Como já dizia

Robin Hood "Lutar, lutar, lutar e relutar, até

que cordeiros virem leões”.

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RESUMO

Este trabalho objetiva analisar a reabilitação do sistema prisional brasileiro. Seus

objetivos específicos consistem em apresentar a evolução histórica das penas

privativas de liberdade no cenário mundial e nacional; analisar a Lei no 9.714/98 em

seus conceitos, aspectos históricos, legislação pertinentes e espécies de penas

alternativas e analisar o processo de reabilitação dos apenados. Parte-se da

hipótese de que as penas alternativas possuem vantagens e desvantagens, tanto

para o apenado como para a sociedade, haja vista ser um processo que envolve

pessoas com diferentes comportamentos e que podem reagir de forma diferente

quando submetidos a ela. Constata-se que a Lei no 9.714/98 implantou modificações

significativas nas penas previstas no Código Penal como um meio de deixar a pena

privativa de liberdade exclusiva para os crimes mais graves e às pessoas mais

perigosas, com delitos considerados de maior periculosidade, capaz de oferecer

maior risco à sociedade caso fique “solto”, no convívio social. Todavia, nem sempre

é possível aplicar as penas alternativas, fazendo-se necessário analisar a

culpabilidade dos apenados, seus antecedentes, conduta social e personalidade,

haja vista que a aplicação desta medida deve trazer benefícios a todos os

envolvidos, ou seja, o culpado, a sociedade e ao Poder Judiciário. Assim, devem

funcionar como um mecanismo eficaz de prevenir o aumento da criminalidade, que

este apenado torne-se ainda mais violento devido ao convívio com presos de maior

criminalidade, tendo um caráter educativo e útil à sociedade.

Palavras Chave: Pena privativa de liberdade. Pena alternativa. Reabilitação do

apenado.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the rehabilitation of the Brazilian prison system. Its

specific objectives are to present the historical evolution of custodial sentences in the

national and world stage; analyze the Law 9.714/98 in its concepts, historical

aspects, relevant legislation and species of sentencing alternatives and analyze the

process of resocialization of convicts. Part is the hypothesis that alternative

sentences have advantages and disadvantages for both the convict and society,

considering to be a process that involves people with different behaviors and can

react differently when exposed to it. It appears that Law 9.714/98 implemented

significant changes to the penalties provided for in the Penal Code as a means of

letting the deprivation of liberty solely for the most serious crimes and the most

dangerous people with offenses considered most dangerous, capable of offer greater

risk to society if you become "unstuck" in social life. However, it is not always

possible to apply alternative sanctions, making it necessary to examine the culpability

of convicts, their background, social behavior and personality, given that this

measure should bring benefits to all parties involved, ie the culprit, society and the

judiciary. So, should serve as an effective mechanism for preventing the increase of

crime, this convict to become even more violent due to contact with prisoners of

higher crime with an educational and useful to society character.

Keywords: Pen-custodial. Pena alternative. Rehabilitation of the convict.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS: DA ORIGEM E EVOLUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .............................................. 14 2.1 Evolução histórica da pena privativa de liberdade .............................................. 14 2.2 Conceito de pena ................................................................................................ 22 2.3 Conceito de Execução Penal .............................................................................. 23 2.4 Da pena de prisão ............................................................................................... 24 3 PENAS ALTERNATIVAS NA LEI Nº 9.714/98 ....................................................... 27 3.1 Conceitos ............................................................................................................ 27 3.2 Aspectos históricos ............................................................................................. 28 3.3 Legislação pertinente .......................................................................................... 29 3.4 Cominação e aplicação ....................................................................................... 32 3.5 Pressupostos objetivos e subjetivos .................................................................... 33 3.6 Espécies de penas alternativas ........................................................................... 34 3.7 Pena alternativa convertida em pena privativa de liberdade ............................... 39 4 PROCESSO DE REABILITAÇÃO (RESSOCIALIZAÇÃO) DOS APENADOS ........ 41 4.1 A prestação de serviços à comunidade ................................................................ 43 4.2 Pena de limitação de fim de semana ................................................................... 47 4.3 Penas alternativas x penas privativas de liberdade: impactos sociais ................. 50 4.4 O comportamento da sociedade frente ao apenado ............................................ 54 5 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 58 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 61

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1 INTRODUÇÃO

No atual cenário do Direito Penal brasileiro, uma das principais temática

abordadas refere-se ao processo de reabilitação do apenado, como uma própria

necessidade de valorização do ser humano e da evolução das penas em todo o

país.

Em 1984, o Brasil passou por uma intensa reforma em seu sistema penal

como uma consequência natural das mudanças sociais ocorridas, desencadeando a

implantação de outros tipos de penas, ou seja, as penas alternativas como uma

forma de tentar reinserir o apenado em uma sociedade mais justa, capaz de aceitá-

lo de modo menos discriminatório.

Desse modo, este foi o primeiro passo dado rumo à valorização do apenado

enquanto pessoa na tentativa de reduzir sua criminalidade, sua violência, dando

mais valor a sua efetiva recuperação e reintegração social, dando-lhe valor como um

ser social capaz de aprender, produzir, ser útil ao próximo efetivando-se como um

real agente de transformação social.

As penas alternativas surgiram como um meio de não deixar o apenado com

a alcunha de ex – presidiário denominação esta que o marcaria para o resto de sua

vida e, muito provavelmente, dificultando conseguir emprego, podendo sofrer

preconceito social, além dele mesmo poder sentir-se inferiorizado perante os

demais. Ou seja, diversas oportunidades podem ser perdidas quando um indivíduo

passa a ser conhecido como um ex - presidiário, pois uma vez assim conhecido

tende-se a associá-lo a um comportamento não ético, criminoso, violento, dentre

tantas outras características que a mente humana permitir pensar.

Todavia, as penas alternativas tendem a não ser benéficas apenas ao

apenados, mas também ao Poder Judiciário e à sociedade como um todo.

No âmbito do Poder Judiciário, traz benefícios à medida que pode reduzir a

lotação dos presídios e todas as suas consequências, tais como: possíveis

rebeliões, brigas entre presos, não promoção da ressocialização, alto custo de

manutenção, fugas, entre outros.

Para a sociedade, a pena alternativa pode trazer benefícios à medida que

promove uma reinserção mais adequada do apenado, fazendo com que ele atue em

atividades em prol da própria comunidade, não o afasta de sua família, não o faz

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perder sua liberdade, continuando apto a gerar sua própria renda e seu sustento,

além de fazer uma adequação efetiva das penas de acordo com seu grau de

criminalidade, não prendendo pessoas que cometeram delitos de pequeno porte e

que são passíveis de controlar sua criminalidade e violência, não voltando a cometer

novos crimes, pois não estariam em convívio diário com criminosos que estão

privados de sua liberdade por crimes maiores, tais como: assassinato, estupro,

roubo, sequestro, entre outros.

Dessa forma, por meio da aplicação das penas alternativas, o Poder

Judiciário brasileiro acredita ser uma nova metodologia de educar os infratores:

continuar defendendo o interesse social e combatendo a criminalidade vigente. São

medidas alternativas de “pagar pelo que deve” sem perder sua liberdade e receber a

alcunha de “preso” ou “presidiário”. É nesse contexto que se defende a aplicação

das penas alternativas em benefício de todos e não como uma medida determinada

pelo Estado sem ter um objetivo focado, haja vista que deve ser um meio de

preservar o direito da dignidade da pessoa humana e evitar o excesso de crimes que

assola o país.

Ciente da importância que este tema possui, indaga-se: qual a importância

das penas alternativas para a reabilitação do apenado?

Para tanto, seu objetivo geral é analisar a reabilitação do sistema prisional

brasileiro.

Seus objetivos específicos consistem em: a) apresentar a evolução histórica

das penas privativas de liberdade no cenário mundial e nacional; b) analisar a Lei no

9.714/98 em seus conceitos, aspectos históricos, legislação pertinentes e espécies

de penas alternativas; c) analisar o processo de reabilitação dos apenados.

Parte-se da hipótese de que as penas alternativas possuem vantagens e

desvantagens, tanto para o apenado como para a sociedade, haja vista ser um

processo que envolve pessoas com diferentes comportamentos e que podem reagir

de forma diferente quando submetidos a ela.

Em sua estrutura a monografia fundamenta-se em uma pesquisa bibliográfica

e documental, empreendendo uma análise qualitativa, descritiva e exploratória com

dados secundários, realizando uma análise a partir dos principais autores que

abordam a privação de liberdade, penas alternativas e reabilitação dos apenados.

A monografia possui, além da introdução e conclusão, três capítulos de

referencial teórico.

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Inicialmente, tem-se a introdução em que se apresentou a temática do estudo,

sua justificativa de abordagem, problemática, objetivos, hipóteses, resumo da

metodologia e estruturação do trabalho.

O primeiro capítulo teórico deste estudo apresenta a privação de liberdade da

pessoa humana em sua origem e evolução, abordando-a desde o período primitivo

até os dias atuais e sua inserção no cenário nacional.

Em seguida, no segundo capítulo, apresenta-se a Lei no 9.714, de 25 de

novembro de 1998, a partir de seus conceitos, aspectos históricos, legislação

pertinente, cominação e aplicação, além de seus pressupostos objetivos e

subjetivos, abordando suas espécies e possibilidades de aplicação.

O terceiro capítulo apresenta o processo de reabilitação dos apenados por

meio da prestação de serviços à comunidade, pena de limitação de fim de semana,

seus impactos sociais e o comportamento da sociedade frente ao apenado.

Encerra-se o trabalho com suas principais conclusões, alcance da proposta

inicial, limitações e sugestões para estudos vindouros, a fim de que este possa ser

aperfeiçoado em diferentes vertentes de análise.

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2 ASPECTOS HISTÓRICOS DOS SISTEMAS PENITENCIÁRIOS: DA ORIGEM E EVOLUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

Esta sessão do trabalho destina-se a uma análise histórica sobre a origem e

evolução das penas, que no começo eram empregadas como forma de punição e

repreensão, sem o menor caráter ressocializador, assemelhando-se, inclusive, a um

processo de violência e tortura.

É importante compreender que as penas evoluem em conjunto com a

evolução humana, saindo do simples aspecto punitivo e vingativo para, nos dias

atuais, adotar uma conjectura mais social, humanizadora e de reabilitação do

apenado. A mente humana ainda não criou nenhum instrumento capaz de substituir

integralmente a pena de prisão. Ela se faz necessária em muitas oportunidades.

2.1 Evolução histórica da pena privativa de liberdade

A pena surgiu com o propósito de coibir ações delituosas, como forma de

punir quem agisse contra a lei. O direito de punir com o passar dos tempos se

manifestou de várias formas, a mais atual foi criada como meio ressocializador.

Conforme Teles (2006, p. 181) “a pena surge como necessária reação de

defesa dos interesses dos indivíduos, e, mais tarde, também, do grupo, do clã, da

tribo, que precisava ser protegida”. As penas surgiram basicamente para estabelecer

limites das ações humanas, surgiram para proteger os indivíduos em geral contra

ações delituosas. Em complemento ao tema abordado, Bessa (2007, p. 17) comenta

que:

Nos primórdios da civilização, a sociedade era quase plenamente regulada pela religião e pelos tabus estabelecidos por esta. A própria ordem política se confundia coma religiosa, não havendo, em regra, nítidos limites entre estas duas searas. Os líderes políticos, inclusive, representavam a figura dos deuses na Terra. A pena era aplicada, algumas vezes, como uma resposta a alguma infração aos ditames religiosos.

As penas antigamente eram ditadas quase que exclusivamente pela religião.

O Estado estava diretamente ligada à religião, prova disso é que se acreditava que

cometendo algum crime os deuses os puniriam, a punição tanto vinha dos

governantes como dos deuses, visto serem os governantes representantes dos

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deuses na terra. A análise dos primeiros tipos de penas é feita por Teles (2006, p.

281) afirmando que:

[...] eram manifestações de vinganças individuais, extremamente severas e absolutamente desproporcionais, arbitrárias e excessivas. O próprio ofendido ou alguém por ele, geralmente um seu parente de sangue, exercia o direito de punir, impingindo ao agressor do interesse a pena que bem entendesse, em qualidade e quantidade.

As prisões eram utilizadas não como pena, mas como forma de vingança.

Bessa (2007, p. 16) aduz que “a pena, em seus primórdios (antes, portanto, da

formação do Estado), assumia aspectos vingativos, já que o homem era dominado

pelos instintos, reagindo contra toda ação que ameaçasse ou pusesse em risco sua

vida”.

A vingança era usada como a própria lei, vez que essa não existia. Então se

um indivíduo cometia crime contra outro, ou contrariasse a vontade de outro ele ou

era morto ou castigado, e um dos meios de castigo era a prisão. Nessa fase, a pena

de morte em caso de guerra declarada desproporcional ao crime atingia não só o

criminoso como também toda sua família, pois a vingança poderia ser feita de várias

formas. Essa fase, como aludido por Bessa (2007, p. 17), é a “fase da vingança

privada”.

Teles (2006, p. 282) afirma que “quando o agressor não pertencia ao grupo, à

tribo, a resposta penal era, nos primórdios, a vingança de sangue - sua morte”.

Bessa (2007, p. 17) em consonância acrescenta:

[...], o infrator deveria ser expulso do grupo (chamada “expulsão da paz”), passando a viver isolado, enfrentando as dificuldades inerentes à ausência do convívio com os seus semelhantes. [...]. Sendo o agressor de outro grupo social, o revide do grupo agredido assumia grandes proporções, o que acabava por gerar uma grande guerra entre os dois grupos.

Em consequência dessas reações desproporcionais, Teles (2006, p. 281)

afirma que “constituía um grave prejuízo para o próprio grupo, cuja força dependia, e

muito, de um grande número de indivíduos fortes, aptos para a guerra contra as

outras tribos e os outros que se formavam”. Devido a isso o mesmo autor acrescenta

que “já com as primeiras penas surge a necessidade de limitá-las em benefício do

grupo social. [...]” (TELES, 2006, p. 281). Para benefício da própria sociedade houve

a necessidade de se limitar as penas, haja vista sua desproporcionalidade que por

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consequência acabava por provocar o enfraquecimento do grupo ou até mesmo a

dissolução. Posteriormente, surgiu a Lei de Talião, já que as desproporcionalidades

de castigos eram enormes. Bittencourt (2001 apud BESSA, 2007, p. 61), destaca a

importância dessa fase:

Com a evolução social, para evitar a dizimação das tribos, surge a lei de talião, determinando a reação proporcional ao mal praticado: olho por olho, dente por dente. Esse foi o maior exemplo de tratamento igualitário entre infrator e vítima, representando, de certa forma, a primeira tentativa de humanização da sanção criminal.

A Lei de Talião, que ficou conhecida “pelo chavão” olho por olho, dente por

dente, trouxe uma maneira de equiparar o crime com o castigo, pois conforme fosse

o dano do crime seria aplicada a pena.

A penalidade, segundo essa lei, seria idêntica ao crime praticado.

Juntamente com essa surgiu a compensação como uma forma do infrator ser

absolvido pelo crime, bastando somente um pagamento em pecúnia, objetos de

valor ou gado. Ambos os institutos foram acolhidos pelo Código de Hamurabi. Nas

palavras de Kosovski (2000, p. 54), esses bens “deveriam corresponder quer a uma

espécie de ressarcimento pelo dano causado”. Era uma forma de compensar, como

o próprio nome diz, a ofensa suportada pelo ofendido. Lyra (1995, p. 13) faz

algumas considerações sobre a Lei de Talião e o instituto da composição:

O Talião, aplicado apenas aos atentados contra a pessoa da mesma raça, constituiu importante conquista, estabelecendo proporcionalidade entre ação e reação. O instituto da legítima defesa e outras retaliações guardam vestígios do Talião. Outro progresso, no período da vingança privada, foi a composição (compositivo). O ofensor compra a impunidade ao ofendido, ou seus representantes, com dinheiro, ou gado, ou armas, utensílios, à maneira das indenizações da vida, e, mesmo, da honra em vigor nos nossos dias (multas, dote à ofendida nos crimes sexuais, reparação do dano em geral).

Em estudo, Bessa (2007, p. 18) acrescenta que tanto em Roma quanto na

Grécia, há incidência da Lei de Talião. Ele cita que em Roma essa incidência está na

“Lei das Doze Tábuas, do século V a.C, veicula no n. 11 da Tábua VII: ‘Sé alguém

fere alguém, que sofra a Lei de Talião, salve se houver composição’” e na Grécia em

uma passagem da Bíblia, “em Levítico 24, 17; “todo aquele que fere mortalmente um

homem será morto” (BESSA, 2007, p. 18).

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Na Idade Antiga com a queda do Império Romano, e sua conquista pelos

povos germânicos, apesar de ainda sofrer influência da Lei de Talião, predominou a

influência divina, em que imperou outra forma de execução das penas, a chamada

vingança divina. Nessa época, apesar de ainda existir a vingança como essência de

penalizar, esta passa a derivar do caráter divino que era atribuído aos governantes

ou sacerdotes que eram considerados enviados dos deuses para os representarem

na terra. Passou o delito a ser ofensa direta aos deuses. Valioso se faz expor a

citação de Dias (2010, on line):

Estado e Igreja, se confundiam ao exercer o poder, mas houve uma evolução no sentido da prisão-pena, agora vista sob duas ópticas: custódia e eclesiástica, utilizada para punir clérigos faltosos, com penas em "celas ou a internação em mosteiros" com a finalidade de fazer com que o recluso meditasse, refletisse e se arrependesse da infração cometida. Nesta fase histórica surgiu a privação de liberdade como pena. O cárcere era tido como penitência e meditação, o que originou a palavra “penitenciaria”.

A punição era aplicada pelos sacerdotes, já que eram munidos de autoridade

tanto divina quanto estatal. Conforme Bessa (2007, p. 19) “acreditava-se que eram

os deuses que estavam, na verdade, punindo”. As penas eram aceitas sem maiores

alardes, devido à imensa influência e poder que a Igreja exercia sobre o povo, com

vistas disso, acreditava-se fielmente que os preceitos e decisões dessa eram

verdadeiros e corretos, sem qualquer objeção até mesmo pelo medo dos “castigos

dos deuses” (BESSA, 2007, p. 19).

Acerca dessa fase, Bittencourt (2004, p. 36) aduz que “esta fase, que se

convencionou chamar fase da vingança divina, resultou da grande influência

exercida pela religião na vida dos povos antigos”. A crença religiosa dos povos

antigos era de proporção grandiosa. As pessoas tinham medo do que os deuses

poderiam fazer ou achar delas, tinham medo de serem castigadas. A Igreja

contribuía para esse medo ser maior, pois era cômoda a existência dessa crença

para manter o poder em suas mãos.

Ressalta-se aqui a grande influência da Igreja sobre a forma de punição.

Segundo a Igreja o criminoso tinha que pagar pelo seu crime perante os homens e

os deuses, pois ele seria julgado por dois tribunais o terreno e o divino. Essa época

foi marcada por inúmeras crueldades e desigualdades como, por exemplo, o fato de

membros das classes dominantes de alto poder aquisitivo ter tratamento e

julgamento diferenciado, pois estes eram protegidos pela lei.

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A Idade Média foi marcada pelo livre arbítrio de governantes que julgavam as

pessoas de acordo com sua classe social. Houve grande retrocesso, em face da

grande influência da igreja. Teles (2006, p. 283) fomenta que “em toda a Idade

Média, todavia, a brutalidade e a crueldade das penas ainda constituem a tônica”. As

penas mesmo nessa época continuaram a ser cruéis e em nome dos deuses.

Mirabete (2010, on line) é um dos teóricos que analisam a evolução penal, mais

precisamente o período medieval ao afirmar que:

As sanções penais eram desiguais, dependendo da condição social e política do réu, sendo comuns o confisco, a mutilação, os açoites, a tortura e as penas infamantes. Proscrito o sistema de composição, o caráter público do Direito Penal é exclusivo, sendo exercido em defesa do Estado e da religião. O arbítrio judiciário, todavia, cria em torno da justiça penal uma atmosfera de incerteza, insegurança e verdadeiro terror.

Com base na citação, percebe-se uma diferença de classes, em que a de alto

escalão tem a lei a seu favor e a plebe tem a lei contra ela, ou seja, dependendo do

poder aquisitivo existiam verdadeiras barbáries, injustiças, onde a pena era aplicada

de uma forma para um e de outra forma para outro. O direito medieval na fase da

intimidação e expiação era considerado como pluralista, por sofrer influências do

direito Romano, Germânico e do Canônico, englobando em suas práticas atos cruéis

como forma de intimidação que eram aplicados de acordo com a classe social do

acusado, conforme mencionado anteriormente.

Sobressai-se, mais uma vez, a força que a Igreja detinha, tanto religiosa como

política, era seguido os preceitos e segmentos que ela determinava, a justiça que

prevalecia era a divina, tão óbvio é que até os modelos de prisões atuais seguem

basicamente a finalidade das dessa época, quando os criminosos ficavam presos

em masmorras ou qualquer lugar que se adequasse a uma prisão. A igreja,

novamente, consegue evidenciar sua maestria, criando a expiação que era uma

forma de remissão dos pecados.

Ressalta-se, entretanto, que no período medieval a pena foi marcada pela

crueldade e misticismo até surgir o pensamento de Santo Tomás de Aquino. Bueno

e Constanze (2010, on line) destacam que ele acredita no fato de a lei se apresentar

sobre três aspectos:

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a) Lex Divina: era a vontade de Deus, em que a violação de preceitos religiosos era sancionada com a pena divina. b) Lex Naturalis: era a manifestação da vontade divina, com a violação de ordem natural sendo castigada com sanções naturais. c) Lex Humana: era a lei positiva, sendo que toda violação de caráter humano, tinha a penalidade correspondente reprimida pelos poderes humanos: o Espiritual e o Temporal. Santo Tomás de Aquino considerou a pena uma justiça comutativa, de utilidade moral. Desenvolveu a teoria do livre arbítrio como condição da responsabilidade penal e a doutrina da “voluntariedade do ato”, composta pelos seguintes elementos: - INTENTIO, ELECTIO, CONSENSUS, USUS E FRUITIO.

A partir dessa concepção da Lei como Divina, Natural e Humana, obteve-se

uma maior praticidade na concepção exata de certo ou errado, auxiliando na

consolidação e aplicação coerente do Direito Penal. Com o pensamento de Santo

Tomás de Aquino, Teles afirma que:

[...] elimina-se, também a exigência de que a pena devesse ser, necessária e absolutamente, proporcional ao crime praticado – o que implicaria a adoção obrigatória da pena de morte para todo e qualquer homicídio. Além disso, constrói-se, a partir daí, a necessidade de que a pena tenha, igualmente, caráter utilitário. Em outras palavras, deveria revestir-se de uma finalidade, que, como não poderia deixar de ser, só poderia ter um fundo ético e moral (TELES, 2006, p. 283).

Mesmo com o pensamento de Santo Tomás de Aquino, a Idade Média ainda

foi marcada pelas penas cruéis. Saindo da vingança divina para a pública, surge a

presença de um soberano como aplicador da lei, visando uma maior estabilidade do

Estado. Todavia, mesmo com essa evolução as penas ainda continuavam sendo

muito cruéis devido ao fato de que a Igreja tinha muita influência sobre o Estado,

pois ele era o representante de Deus na terra e dele partiriam todas as leis.

O poder do Estado surgiu pela necessidade da sociedade evoluir, para que

ordens fossem ditadas, estabelecer punições que fossem adequadas ao crime e

acabar com a matança desenfreada que existia nesse período. Surgiu um chefe

maior que iria impor regras e proibir atos que não fossem regulados por ele.

Complementando o tema, Duarte (1999, on line) realiza uma análise sobre a

vingança pública, crimes ao Estado e à sociedade, mencionando que:

Com uma maior organização social, especialmente com o desenvolvimento do poder político, surge, no seio das comunidades, a figura do chefe ou da assembléia. A pena, portanto, perde sua índole sacra para transformar-se em um sanção imposta em nome de uma autoridade pública, representativa dos interesses da comunidade. Não era mais o ofendido ou mesmo os sacerdotes os agentes responsáveis pela punição, mas o soberano (rei,

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príncipe, regente). Este exercia sua autoridade em nome de Deus e cometia inúmeras arbitrariedades. A pena de morte era uma sanção largamente difundida e aplicada por motivos que hoje são considerados insignificantes. Usava-se mutilar o apenado, confiscar seus bens e extrapolar a pena até os familiares do infrator. Embora a criatura humana vivesse aterrorizada nessa época, devido à falta de segurança jurídica, verifica-se avanço no fato de a pena não ser mais aplicada por terceiros, e sim pelo Estado.

Analisando o contexto percebe-se que a crueldade apenas passou a ser feita

por mãos diferentes, já que deixou de ser feita pelo ofendido e passou a ser feita

pelo Estado representado por seu soberano.

Segundo Duarte (1999, on line), “embora a criatura humana vivesse

aterrorizada nessa época, devido à falta de segurança jurídica, verifica-se avanço no

fato de a pena não ser mais aplicada por terceiros, e sim pelo Estado”. A

humanidade, com essa evolução, passou a ter certa segurança com relação às

penas aplicadas, pois quem as definiria seria o Estado, mesmo que as penas

continuassem a ser muito cruéis tinha-se uma ideia de proteção jurídica. Bruno emite

sua opinião sobre o assunto afirmando que:

Esses excessos e injustiças na punição degradam os costumes, embrutecendo os indivíduos e provocando sentimentos de revolta contra a lei e autoridade. [...] Assim se explica o fenômeno aparentemente paradoxal, que a história tantas vezes registra, de que, enquanto cresce a crueldade da maneira de punir, aumenta no mesmo grau a abundância dos crimes (DUARTE, 1999, on line).

No que se referem à prisão, as usadas pela Igreja eram para punir os

pecadores, ou seja, criminosos. Eram bem semelhantes às carcerárias, pois eram

usadas principalmente para assegurar que o preso comparecesse ao tribunal no

qual ocorreria o julgamento para serem julgados e cumprissem as penas que lhes

fossem devidas caracterizando-se como uma prisão cautelar muito parecida como a

atual prisão preventiva, assim tendo a mesma função da carceragem atual. Esse

modelo antigo de prisão eclesiástica influenciou o sistema atual.

O Período Moderno também chamado de humanitário foi marcado nos

séculos XVII e XVIII pela crescente importância da classe burguesa que comandava

o desenvolver do capitalismo, também foi marcada pela crescente pobreza. Por toda

a Europa, nos séculos XVI e XVII, cresceram as condições de pobreza e de miséria,

tendo como consequência um aumento na criminalidade, mediante punição com

penas cada vez mais rigorosas e conforme as necessidades dos detentores.

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Esse período além de ter sido marcado pela importância que a classe

burguesa adquiriu com o comando do capitalismo, também foi marcado pelo grande

aumento da pobreza desencadeado por esse elo, que em decorrência disso houve

um grande índice de criminalidade, de guerra e de contravenção religiosa, e foi por

esses motivos que a pena de morte deixou de ser adequada, pois com o enorme

aumento de delitos haveria um grande derramamento de sangue. Mirabete analisa o

tema, afirmando que:

É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado Período Humanitário do Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal no fim do século XVIII. É nesse momento que o homem moderno toma consciência crítica do problema penal como problema filosófico e jurídico que é. Os temas em torno dos quais se desenvolve a nova ciência são, sobretudo, os do fundamento do direito de punir e da legitimidade das penas (MIRABETE, 2010, on line).

Em observação, verifica-se que a principal função da reforma das leis tinha

como propósito acabar com as penas demasiadas cruéis e construir prisões

organizadas para que o apenado pudesse cumprir sua pena, e dentro da prisão se

ressocializar através de trabalho, educação e disciplina que seriam usados como

forma de prevenção para diminuir os delitos e a ociosidade. Outro estudioso que

analisa o tema é o professor Bessa (2007, p. 22), ao mencionar que:

É nessa quadra histórica que começa a sair de cena a punição aplicada sobre o corpo dos sentenciados. É a alma destes que se deve dirigir a aflição causada pela pena. Apenar alguém passa a significar, nesse momento, a perda de um bem ou direito, que pode ser, porém, a própria vida do condenado.

Em conformidade Teles (2006, p. 283) acresce que “desse tempo em diante,

as penas vão sendo humanizadas. Alguns Estados Nacionais abolem, outros

restringem a pena de morte. Eliminam-se em grande parte as penas corporais,

torturas, suplícios, trabalhos forçados etc., e as infamantes. [...]”. Nesse contexto

abolindo-se as penas corporais e de morte, a pena de privação de liberdade passou

a ser a mais viável e racional para se punir legalmente o infrator, passando a ser

construída uma nova espécie de pena, ou seja, a de prisão.

A pena que antes tinha caráter meramente retributivo, passa a assumir a

função de prevenção, em que o preso será ressocializado, e se torna um meio de

garantia social, através da reeducação ao apenado. Essa forma de tratar o direito

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penal, englobando e enfatizando todos os aspectos da criminalidade, desde o motivo

do crime, aos fatores sociais que incidiram para que o fato ocorresse, influenciou

para o surgimento de um novo ramo do direito: a criminologia.

O movimento de reforma do Direito Criminal teve um grande avanço durante a

segunda metade do século XVIII. Segundo o estudo de Miotto (1995, p. 37),

preocupados com as condições das penitenciárias, destacaram-se três teóricos. São

eles: “Cesare Bonesane Marquês de Beccaria, John Howard e Jeremy Bentham”.

Conforme o explanado, a reforma do sistema penitenciário resultou na

proteção do preso, tendo essa proteção resultado da necessidade e exigência de se

respeitar a dignidade humana moralmente. Após ter passado por significantes

transformações, a pena de prisão foi eleita como a melhor forma de punir o infrator

da norma. Entretanto, desde o seu surgimento não surtiu os efeitos esperados.

2.2 Conceito de pena

Define-se pena como a forma pela qual se punirá um indivíduo que agir em

contrário ao que a Lei estabelece. No entendimento de Teles (2006, p. 293), “[...] é a

consequência jurídica da existência do crime, a sanção característica da violação da

norma penal incriminadora”. E ainda complementa fazendo uma observação:

A todo fato ilícito corresponde uma sanção. O ilícito é a violação do dever imposto pelo direito positivo, sob a ameaça da sanção. Quem causa um dano deve repará-lo, ressarcindo o titular do bem danificado. Quem viola um direito, igualmente. O ilícito penal é uma espécie de ilícito jurídico, cuja sanção é a pena. Quem comete um crime deve sofrer a pena (TELES, 2006, p. 293).

Deduz-se que pena é a forma pela qual um indivíduo infrator da norma penal

será punido. È uma sanção prevista em lei, onde o indivíduo causador de ilícito

penal terá que repará-lo mediante pena restritiva de liberdade.

Nucci (2006, p. 359) entende ser pena “uma sanção imposta pelo Estado,

através da ação penal, ao criminoso, cuja finalidade é a retribuição ao delito

perpetrado e a prevenção a novos crimes”.

Compartilhando do mesmo entendimento, Marques (1996, p. 103) entende

ser pena “[...] sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao

inderrogável

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As penas mais graves, especialmente as privativas de liberdade, por mais que se destinem a encarcerar o apenado, não deixam, em verdade, de refleti-se em toda sua família. Mães, filhos, irmãos e amigos do apenado sofrem, psíquica e fisicamente, as consequências da prisão do apenado. Infelizmente, apesar da vontade do preceito constitucional, a pena de prisão sempre alcançará outras pessoas, dada a violência de sua execução, o sofrimento impingindo ao agente do crime e a desumanidade e crueldade com que é executada.

Mesmo sendo a pena personalíssima conforme preceituado pela Constituição

Federal em seu art. 5º, XLV, em que deixa claro que a pena só deve atingir ao

acusado e somente a ele, não podendo se estender a outras pessoas é difícil seguir

fielmente essa característica, pois seus efeitos, mesmo que indiretamente, atingem

as pessoas próximas ao acusado. As penas acabam afetando todo um conjunto de

pessoas que de alguma forma estão ligadas ao condenado, mesmo que apenas por

pertencerem ao mesmo grupo de amigos daquele.

2.3 Conceito de Execução Penal

A Execução penal é o momento de cumprimento do que foi estabelecido

como pena pela decisão judicial. Torrens (2000, p. 39) posiciona-se “a fase de

Execução Penal, que o Estado promove como titular de interesses públicos é

atividade executiva de extrema importância, porque visa obter agora a finalidade da

pena”. Busca efetivar todas as decisões da sentença. O art. 1º da lei das execuções

fiscais sublinha que “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de

sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração

social do condenado ou do internado”. Assim, entende-se que a lei tem como

escopo a educação para que possa ressocializar o apenado e reinseri-lo na

sociedade.

Lira (1991 apud TORRENS, 2000, p. 39) diz que “é pela execução penal em

última análise que vive a lei penal. Antes daquela, o criminoso não sente a pena”.

Refere-se à importância da execução penal para a devida aplicação e análise da lei

penal, é através dela que a pena pode ser individualmente aplicada e se buscar o

restabelecimento do apenado.

Jorge (2007, p. 3) acerca da natureza jurídica da execução penal faz o

seguinte comentário: “discute-se na doutrina a natureza da execução penal, alguns a

colocando como ramo do Direito Administrativo, vinculada assim ao Poder

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Executivo, e outros a enquadrando exclusivamente no Poder Judiciário, ficando

vinculada às decisões proferidas pelos juízes togados”.

Conforme aludido por Torrens (2000, p. 40), tem-se que “é, portanto, na

execução que o Direito Penal vive: porque á na execução, com a individualização da

pena, que se cuida indubitavelmente de se obter a reformulação da conduta do

apenado, trazendo-o ou procurando trazê-lo para os padrões de normalidade

condizentes com o interesse social”. Busca-se, na Execução Penal, efetivar a pena

devida em conformidade com a lei, proporcionalmente, e nem mais nem menos cruel

que o que se mereça.

2.4 Da pena de prisão

A pena privativa de liberdade nasceu no período humanitário, com a

finalidade de ressocializar o apenado, lhe fornecendo educação, saúde, trabalho e

condições dignas de habitação. Essa pena surgiu como uma forma de humanizar as

penas, mas o sistema na realidade nunca surtiu o efeito esperado, pois faltam todos

os requisitos, indo da saúde a educação, é negado ao preso não somente a

liberdade, mas também todos os direitos básicos inerentes a todo ser humano.

A pena privativa de liberdade cumpre duas funções: a função preventiva e a

função retributiva, onde a primeira tem como escopo a de que a prevenção geral é

tanto mais eficiente quanto mais certa da punição, e a segunda é a de que a

finalidade da pena é a retribuição ao crime praticado, ou seja, o restabelecimento da

ordem infringida pelo delito, na medida em que a pena deve ser proporcional ao

delito cometido.

Sobre as finalidades da pena restritiva de liberdade, o leque já é maior que as

funções, posto que trás o enfoque a reeducação, retribuição, reabilitação e a

prevenção. Em sustentação dessa retórica têm-se posicionamentos de autores como

Estevão Luís Lemos Jorge, Rogério Greco e Guilherme de Souza Nucci e o

professor Leandro Bessa. Sobre a finalidade de retribuição posiciona-se Roxin (2001

apud GRECO, 2008, p. 489):

A teoria da retribuição não encontra o sentido da pena na perspectiva de algum fim socialmente útil, senão em mediante a imposição de um mal merecidamente se retribui, equilibra e espia a culpabilidade do autor pelo fato cometido. Fala-se aqui de uma teoria ‘absoluta’ porque para ela o fim

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da pena é independente, ‘desvinculando’ de seu efeito social. A concepção da pena como retribuição compensatória realmente já é conhecida desde a antiguidade e permanece viva na consciência dos profanos com certa naturalidade: a pena deve ser justa e isso pressupõe que se corresponda em sua duração e intensidade com a gravidade do delito, que o compense.

A finalidade retributiva vem de muitos séculos passados, se observado

historicamente percebe-se que as prisões sempre tiveram o sinônimo de castigo, por

muito tempo foram utilizadas apenas para “guardar”, buscando impedir fugas antes

do julgamento e para retribuir como forma de punição pelo crime cometido. Sobre a

finalidade preventiva cabe o pensamento de Damásio de Jesus (2010, p. 563) “tem

finalidade preventiva, no sentido de evitar a prática de novas infrações”. E o mesmo

autor ainda a divide em geral e especial definindo-as:

Na prevenção geral o fim intimidativo da pena dirige-se a todos os destinatários da norma penal, visando a impedir que os membros da sociedade pratiquem crimes. Na prevenção especial a pena visa o autor do delito, retirando-o do meio social, impedindo-o de delinquir e procurando corrigi-lo (JESUS, 2010, p. 563).

Essas direções têm como finalidade prevenir e punir respectivamente, onde

um destina-se a todos e o outro a um indivíduo específico. Nessas direções relata

Nucci (2006, p. 359):

Temos quatro enfoques: a)geral negativo, significando o poder intimidativo que ela representa a toda a sociedade, destinatária da norma penal; b)geral positivo, demonstrando e reafirmando a existência e eficiência do Direito Penal; c)especial negativo, significando a intimidação ao autor do delito para que não torne a agir do mesmo modo, recolhendo-o ao cárcere, quando necessário e evitando a prática de outras infrações penais; d)especial positivo, que consiste na proposta de reabilitação do apenado, para que volte ao convívio social, quando finalizada a pena ou quando, por benefícios, a liberdade seja antecipada.

A finalidade da prisão visa tanto punir por meios ressocializadores, quanto

prevenir crimes. Essas finalidades se dividem em prevenção geral negativa que é

uma forma de intimidação, geral positiva, que promove a integração social, especial

negativa, que é o encarceramento e a especial positiva, que é penalizar para que o

infrator não cometa futuros delitos. Sobre as finalidades de reabilitação e educativa,

Wiliam Wanderley Jorge (2001 apud JORGE, 2007, p. 4) diz que:

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Acredita-se, hoje, que a pena de prisão tenha cumprido sua missão histórica; já não se destina mais à grande tarefa de reeducar e ressocializar o apenado, quando cumprida em estabelecimentos fechados. Não cura, corrompe. Têm-se dito que o problema da prisão é a própria prisão.

A finalidade maior da implantação da pena restritiva de liberdade como forma

de punição era a ressocialização, mas o que se vê no sistema atual é o desvio de

finalidade, posto que nada ao que se destina a prisão é executado, não há se quer

respeito aos direitos básicos de todo ser humano. Não se pode falar em ressocializar

com o que o sistema atual oferece e nesse contexto Bessa (2007, p. 35) expressa

que “[...], a questão da reabilitação é mais um indicativo da falência da pena privativa

de liberdade”. A prisão serve somente para abrigar delinquentes que com o passar

do tempo e a revolta deles se tornarão mais perigosos do que o dia em que

entraram.

Apesar da falência do sistema prisional, muitos autores conforme exposto por

Bessa (2007, p. 35) ainda vêem a prisão como um mal necessário, são eles:

“Bitencourt, Pierre Júnior, Kuehne e Barros Leal”. O autor cita alguns autores em

forma de elucidar que apesar do sistema carcerário ser deficiente, não se pode de

imediato extingui-lo, visto ser como já dito um mal necessário.

O sistema prisional mesmo que não atinja a eficácia esperada não pode ser

desconsiderado, já que esse meio de punição ainda é o mais adequado, visto a falta

de outro. O que se espera são soluções para o sistema, e essas advêm da aplicação

dos preceitos legais.

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3 PENAS ALTERNATIVAS NA LEI Nº 9.714/98

Esse capítulo aborda as penas alternativas por meio de seus conceitos,

características, aspectos históricos, legislação pertinente, cominação e aplicação,

bem como seus pressupostos objetivos e subjetivos, tipos das penas alternativas e

quando elas podem ser convertidas em penas privativas de liberdade.

3.1 Conceitos

Antes de apresentar o conceito técnico-jurídico do termo “penas alternativas”,

é importante destacar que esta expressão foi adotado popularmente como uma

forma de divulgar por meio dos vários grupos sociais existentes, o avanço da antiga

lista de penas restritivas as quais estão contidas no Código Penal no art. 43.

Sznick (2000, p. 31) e Machado (2008, on line), a partir dessa ampliação,

passou a fazer parte das punições a prestação de serviços comunitários ou, se for o

caso, a entidades públicas, a perda de bens e valores, prestação pecuniária, como

também a limitação de fim de semana e interdição temporária de direitos.

O dia 11 de junho de 1984 pode ser considerado um marco na história do

Poder Judiciário brasileiro, haja vista que nesta data ocorreu a implantação da Lei no

7.210 instituindo a Lei de Execução Penal (LEP), trazendo avanços antes não

vivenciados no Brasil. A partir de então foram introduzidas, no cenário nacional, as

penas alternativas definidas como restritivas de direito.

Em 25 de novembro de 1998, passou a vigorar a Lei nº 9.714, tendo como

objetivo, propor alguns avanços nas penalidades privativas do sistema do Brasil. Na

percepção de Capez (2005, p. 371) entende-se que:

As penas alternativas constituem toda e qualquer opção sancionatória oferecida pela legislação penal para evitar a imposição da pena privativa de liberdade. Ao contrário das medidas alternativas, constituem verdadeiras penas, as quais impedem a privação da liberdade. Compreendem a pena de multa e as penas restritivas de direito.

Assim sendo, o mencionado autor ainda afirma que as penas alternativas

também são denominadas de substitutivos penais ou medidas alternativas, são

considerada medidas de punição para aqueles infratores que cometeram algum tipo

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de delito, que de acordo com a lei, são infrações de menor seriedade, que não se

justifica colocar na mesma cela com delituosos de alto grau de periculosidade.

Embora alguns pensem ao contrário, as penas alternativas buscam inibir as

práticas de delito, por se tratarem de uma ação que visa punir e recuperar o infrator.

Observando-se que a sociedade como o próprio Estado fazem parte dessa ação de

reintegração, pois as penalidades podem envolver uma limitação de certos direitos,

ou ainda trabalho gratuitos para a sociedade.

Um dos fatores importantes apontado na aplicação da pena alternativa é que

o infrator, mesmo que tenha cometido um delito leve, será punido, no entanto, não

ficará em contato com outros de maior gravidade. Ao ser aplicada essa medida de

punição, o apenado não será obrigado a se afastar da sua família, nem da

sociedade, além de poder continuar exercendo suas atividades profissionais e refletir

sobre sua conduta.

3.2 Aspectos históricos

A análise inicial sobre os aspectos históricos das penas alternativas remete o

leitor à atual Rússia, ao ano de 1926, quando foi implantada a prestação de serviços

à comunidade como uma pena privativa de liberdade.

Continuando com a evolução histórica do tema, segundo Bitencourt (1999, p.

134) e Machado (2008, on line), no ano de 1948, a Inglaterra foi outro país a

concordar com a aplicação das penas alternativas, sendo estabelecido

exclusivamente para menores, a prisão em finais de semana.

Os mencionados autores ainda acreditam que em meios a década de 1960, a

Bélgica adotou a decisão de um tribunal que serve de paradigma para solução de

casos análogos de fim de semana. Esse tipo de penalidade era aplicado aos

detentos em que as punições correspondessem a um período menor que um mês.

Seguindo essa proposta de punição, o Principado do Mônaco aderiu ao

movimento instituindo uma maneira de aplicar a pena de forma fracionada, que se

referiam as detenções semanais. A performance obtida com esse tipo de punição,

proposta pelos ingleses, veio comprovar as diversas vantagens existentes da

aplicação da pena alternativa, como forma, principalmente de ressocializar o infrator.

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Diversos países, após perceberem esse sucesso, passaram a adotar as

penas alternativas. Claro que cada país procurou adequar as suas necessidades,

contudo, baseada na proposta de sucesso da Inglaterra.

A exemplo desses países podem ser citados: a Austrália, no ano de 1972,

Luxemburgo, que aderiu a proposta no ano de 1976, no ano seguinte Canadá. Em

1982 foi a vez de Portugal e Dinamarca e no ano de 1983, França. O Brasil só

passou a aplicar verdadeiramente as penas alternativas no ano de 1984, a partir da

reforma penal em 11 de julho de 1984.

3.3 Legislação pertinente

No Brasil, as penas alternativas, mesmo que de forma tímida foi incluída no

ano de 1940 no Código Penal Brasileiro. Com a sua instituição, a principal forma de

punição era a obrigatoriedade da multa, além da interdição temporária dos direitos

de cidadão. Juntamente com essa interdição, o apenado perdia o direito de exercer

função pública.

Segundo Jesus (2010, p. 145), anos depois, com a reformulação da parte

geral do Código Penal, que se deu a partir da aplicação da Lei nº 7.209/84, no art.

32 foram estabelecidas novas formas de penalidade como. A primeira deles se

refere à restrição da liberdade, a segunda a limitação dos direitos e a terceira o

apenado deve pagar uma multa. Em complemento ao tema Mirabete (2004, p. 250)

comenta que:

Abandonou-se, no Código Penal, com a reforma operada pela Lei n° 7.209, a distinção entre penas principais (reclusão, detenção e multa) e acessórias (a perda de função pública, as interdições de direitos e a publicação da sentença), declarando-se, no art. 32, que as penas são: I – privativas de liberdade; II – restritivas de direito; III – multa.

Percebeu-se então, que a partir dessa lei, posteriormente houve uma

sucessão de novas leis, no intuito de melhorar e adequar às penalidades a realidade

da sociedade. Nesse sentido, os que apresentam resultados mais satisfatórios foram

a Lei nº 9.099/95 dos Juizados Especiais, que entrou em vigor no dia 26 de

setembro de 1995 e a Lei nº 9.714/98 que se referem às penalidades alternativas, a

qual passou a vigorar a partir do dia 25 de novembro de 1998.

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O autor ainda menciona que com a missão de fazer cumprir o dispositivo

descrito no art. 98, da Constituição Federal de 1988, o legislador editou as novas

premissas dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de forma mais notável, em que

os infratores de menor gravidade não seriam mais detidos e sim receberiam

penalizados de acordo com a aplicação da pena privativa de direito ou pagar uma

multa.

Nessa busca da valorização humana, foram concretizadas várias ações a

partir das bases apresentadas pelos documentos da Organização das Nações

Unidas (ONU) que defendiam a defesa dos direitos do cidadão. Em complemento ao

tema, Mendonça e Pessoa (2008, on line) comentam que:

Já no I Congresso da ONU, foram adotadas as Regras Mínimas para Tratamento de Reclusos, que foi um dos primeiros textos a tratar das pessoas que cumprem pena de prisão. Em diversas resoluções oriundas dos Congressos da ONU destacam a necessidade não somente de reduzir o número de reclusos, mas, sobretudo, de explorar melhor a possibilidade de soluções alternativas à prisão. No VIII Congresso, em 14.12.1990, recomendou-se a aplicação de Regras Mínimas sobre Penas Alternativas, as denominadas Regras de Tóquio.

Assim sendo, pode-se dizer que as Regras de Tóquio se apresentam como

um documento contando instruções completa de como podem ser usadas as ações

não-privativas de liberdade. Nessa linha, vale enfatizar que esse manual dispõe uma

explanação de todas as etapas do processo da Justiça Penal em que consiste em

normas orientadoras das políticas de aplicação tanto das formas de penalidades

como também de medidas alternativas à prisão.

De modo geral, observa-se que as Regras de Tóquio estabelecem um

caminho de essencial importância para elevar o nível de eficiência às

argumentações da sociedade ao que foi infringido. É importante frisar também que a

principal finalidade desta regra refere-se a aplicação de medidas não-privativas de

liberdade, além de assegurar o direito e dignidade do cidadão, mesmo que este seja

considerado um infrator.

Outro fator considerado fundamental no ponto de vista das Regras de Tóquio,

diz respeito à participação efetiva da sociedade na prática das medidas corretivas,

pois a partir dessa participação, amparando e auxiliando o próprio Estado nas

aplicações penais, percebe-se um melhoramento tanto da concepção como da

própria aceitação dessas penalidades alternativas.

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Esse ponto de vista, conforme os mencionados teóricos, justifica-se também

pelo fato de que a sociedade pode perceber mais de perto os resultados alcançados,

resultado dessas medidas despenalizadoras, o que garante ainda um melhor

conceito no âmbito penal. Com esse tipo de penalidade, é proporcionado ao infrator

que este permaneça integrado aos seus familiares, assim como ao seu ambiente de

trabalho. Essa medida faz com que ele tenha amplie seu senso de responsabilidade

social, assim como respeito ao seu próximo, ajudando a repensar nos seus atos que

o levaram a essa situação.

Nessa mesma linha de raciocínio, em 18 de dezembro de 1996 é submetido

por Nelson Jobim, o então Ministro da justiça, o Projeto de Lei nº 2.684/96, baseado

nas considerações de Fernando Henrique Cardoso, que durante esse período era o

atual Presidente da República.

Após cansativos debates para elaboração e aprovação da lei, o resultado final

da proposta tinha como objetivo alterar alguns artigos do Código Penal Brasileiro, ou

seja, adequar às penalidades descritas nos artigos 43 a 45, 55 e 77.

De acordo com Bitencourt (1999), o Projeto de Lei original, após ser aprovado

pelo Congresso Nacional, ainda que com alguns vetos, veio transforma-se na Lei nº

9.714/98.

Cardoso (2004, p. 92) ainda comenta que, ao analisar a proposta da Lei nº

9.714/98, ocorreu o desenvolvimento de uma expectativa no que se refere à redução

dos altos níveis de reincidência. A percepção que se tinha com aplicação dessa lei

era que a mesma promovesse a reabilitação dos infratores e, portanto amenizar o

problema que atingi todo o país, que é a superlotação nos presídios. Em

complemento ao tema Mendonça e Pessoa (2008, on line) afirmam que:

É cada vez mais forte o pensamento de que a prisão pode converter os delinquentes em criminosos ainda piores, e que, por essa razão, a cadeia deve ser reservada àqueles que praticam delitos mais graves e sejam perigosos. A prisão, que por si mesma é dispendiosa, acarreta outros custos sociais. O Brasil enfrenta o problema da superpopulação carcerária e, em consequência disto torna-se impossível dar condições aos presos para que ao voltar à liberdade, levem a vida sem infringir a lei.

Diante desse cenário, Bitencourt (1999, p. 105) e Machado (2008, on line)

acreditam que a melhor saída é aplicar penas e medidas não privativas de liberdade,

de modo que as penalidades sejam aplicadas de acordo com o delito cometido,

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possibilitando assim uma reabilitação mais construtiva frente à comunidade em que

esta inserida.

Ainda ressaltam que, em 12 de julho de 2001, passou a vigorar a Lei nº

10.259/01, que em seu art. 2º, parágrafo único, determinou que as infrações de

menor gravidade, a pena não poderia ultrapassar o limite de dois anos ou multa.

Nota-se com essa determinação que as penas e medidas alternativas foram

ampliados, que anteriormente, de acordo com a Lei nº 9.099/95, previa somente um

ano de punição. Dessa forma, com essa elevação de período de punição, as penas

alternativas podem ser perfeitamente aplicadas a uma percentual maior de crimes,

os quais estão previstos na legislação penal do país.

3.4 Cominação e aplicação

As penas alternativas são sanções autônomas e substitutivas das penas

privativas de liberdade, sendo necessário após a análise das circunstâncias

catalogadas caput do art. 59 do Código Penal Brasileiro realizada pelos juízes, seja

estabelecido como a pena será aplicada. Em análise ao tema, Melo (2010, on line)

afirma que:

Ao determinar a quantidade final da pena de prisão, se esta não for superior a 4 anos ou se o delito for culposo, o juiz, imediatamente, deverá considerar a possibilidade de substituição. Caso tal substituição não for possível, ante à análise dos requisitos, analisar-se-á, então, a possibilidade de suspensão condicional da pena (instituto que será estudado posteriormente).

Jesus (2010) e Machado (2008, on line) são autores que destacam a

importância de se considerar o fato de que a referida substituição somente será

admissível a partir do momento em que forem aprovadas todas as condições do art.

44 do Código Penal Brasileiro (CPB). Para eles, de posse das condições

necessárias para a obtenção de certo objetivo, o juiz poderá dar continuidade à

substituição, haja vista que se refere a um direito subjetivo do apenado.

Independente de como está prescrito na parte geral do CPB, as penas

alternativas são aplicadas, sendo suficiente para tal aplicação, o cumprimento pleno

dos requisitos os quais são considerados fundamentais para a substituição.

Seguindo essa linha de raciocínio Jesus (2010, p. 44) comenta que:

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Essas reprimendas são aplicadas na sentença condenatória do procedimento comum (CPP, art. 387), na transação penal dos Juizados Especiais Criminais (art. 76 da Lei 9.099/95) e na sentença condenatória do procedimento sumaríssimo do Juizado Especial Criminal (art. 81 da Lei 9.099/95).

Ainda sobre o tema, os teóricos analisados concordam que a multa é um tipo

de penalidade com abordagem diferente, isto é, merece ser tratada como exceção

do caráter substitutivo em que, algumas vezes, sua aplicação pode ser manifestada

de forma direta, a partir do momento em que esta ameaça a norma incriminadora.

3.5 Pressupostos objetivos e subjetivos

Para que possa existir a troca de uma pena privativa de liberdade para uma

alternativa, é primordial haver a implementação de pressupostos objetivos e

subjetivos, devendo estes estar concomitantemente presente, uma vez que, caso

falte qualquer um deles, a substituição não será permitida.

Segundo Cardoso (2004, p. 92), de acordo com o art. 44 do Código Penal, no

inciso I, estão previstos os seguintes pressupostos: “quantidade da pena privativa de

liberdade e natureza e forma de cometimento do crime”.

Sobre o primeiro pressuposto, ou seja, a quantidade da pena privativa de

liberdade, o autor considera que foi estabelecido um limite temporal, o qual deverá

constar na sentença. Para os casos de crime doloso, é delimitado um limite de

quatro anos, seja qual for a pena atribuída.

Contudo, esse critério não foi empregado para os crimes culposos, em que a

aplicação da conversão da pena privativa de liberdade por pena alternativa não vai

ter nenhuma relação do quantum da pena estabelecida.

Outra hipótese existente diz respeito a forma como o crime foi cometido, ou

seja, a sua natureza. Nesses casos, acredita o mencionado teórico para que seja de

fato executada a pena alternativa, o crime cometido não pode representar uma

grave ameaça à pessoa, pois caso seja identificado essa gravidade, a substituição

terá sido afetada.

Assim, como frisa Capez (2005, p. 59), “o crime culposo, mesmo quando

cometido com emprego de violência, como é o caso do homicídio culposo e das

lesões corporais culposas, admite a substituição por pena privativa. A lei, portanto,

se refere apenas à violência dolosa”.

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Concordando com Capez (2005, p. 347) Machado (2008, on line) afirma que

na hipótese subjetiva, a primeira delas refere-se à relação existente da reincidência,

ou seja, o infrator mesmo após o julgamento, comete algum outro tipo de delito,

podendo ser em seu país ou no exterior. Nesse sentido, percebe-se que esta

prevista no Código Penal, art. 44, inciso III, a reincidência específica, em outras

palavras, dois delitos dolosos, do mesmo gênero, cometido pelo já então infrator.

Para que se proceda à substituição da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, o réu não poderá ser reincidente em crime doloso. Caso o crime novo ou o anterior seja culposo, não se verificará tal óbice, bem como, se os dois delitos forem da modalidade culposa.

Os referidos teóricos ainda destacam que o caso do segundo pressuposto

subjetivo se refere às circunstâncias envolvidas, as quais estão diretamente ligadas

ao apenado, ou seja, a culpabilidade do infrator, seus antecedentes criminais, assim

como a sua conduta social, além da avaliação da sua personalidade. Nessa mesma

linha, são analisadas se as razões, assim como as reais circunstâncias são

suficientes para justificar essa substituição.

3.6 Espécies de penas alternativas

As penas alternativas são regidas pela Lei n° 9.714/98. De acordo com Capez

(2005), no Código Penal estão descritos os seguintes tipos de penas alternativas: a)

Prestação Pecuniária, b) Perda de Bens e Valores, c) Prestação de Serviços à

Comunidade ou a Entidades Públicas, d) Interdição Temporária de Direitos e, e)

Limitação de Fim de Semana, os quais serão descritos a seguir.

a) Prestação Pecuniária

Capez (2005) destaca que de acordo com a definição inicial do art. 45, I, do

Código Penal Brasileiro, a pena que se refere à prestação pecuniária, estabelece

que o infrator realize um pagamento em dinheiro a vítima, ou ainda aos seus

dependentes da vítima, ou se for o caso a alguma entidade pública ou mesmo

privada.

Com relação ao valor do pagamento, Jesus (2010, p. 123) comenta que este

não pode ser inferior a um salário mínimo, como também não pode ser um valor

superior a 360 salários mínimos. O valor definido pelo juiz, ira depender do valor do

prejuízo da vitima e dependendo como se deu o fato, poderá ser pago a vista ou

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parcelado. Essa pena tem como objetivo, compensar os danos causados a vítima,

como forma de repará-lo. Dessa forma, ao ser fixado o valor da pena, este será

destinado ou à vítima ou se for o caso, aos seus dependentes. Vale ressaltar que,

caso não existe uma vítima, ou ainda dependentes, o valor da pena estabelecido

será destinado a uma entidade pública ou privada, desde que essa instituição tenha

cunho social.

Machado (2008, on line) assegura que está prevista no parágrafo 2º do

Código Penal, no art. 45, um abatimento do valor destinado ao pagamento da pena

de prestação pecuniária, como também, caso exista um consenso, o pagamento

pode ser efetivado de outra forma.

Em complemento ao tema, Jesus (2010, p. 56) explica que “esse pagamento

pode ter natureza pecuniária, restritiva de direitos ou liberdade, de obrigação de

fazer ou não fazer, como por exemplo, reposição de árvores e doação de cestas

básicas”. Conforme o autor, é importante frisar que a prestação pecuniária, ainda

que se assemelhe, é totalmente diferente da pena de multa, haja vista que uma

exprime uma ação de reparação de danos e a outra de retributivo.

b) Perda de Bens e Valores

A pena em que prever a perda de bens e valores, esta prevista no art. 45,

parágrafo 3º do Código Penal Brasileiro, o qual estabelece que os pertences do

infrator sejam destinados ao Fundo Penitenciários Nacional. Para fixar o valor da

pena, será levado em consideração o prejuízo causado a vítima pelo infrator, ou

ainda o provento pelo agente ou por terceiros, sendo sempre prevalecido o valor

mais elevado. De acordo com Mirabete (2004, p. 78) percebe-se que:

Os bens passíveis de serem restringidos por tal sanção são todos os bens corpóreos, móveis ou imóveis, e incorpóreos que possuem conteúdo econômico, enquanto os valores são todos os papéis e títulos suscetíveis de valor econômico, como por exemplo, um título de crédito e ações.

Machado (2008, on line) e Mirabete (2004) acreditam que para esses fins, foi

estabelecido pela legislação penal o Fundo Penitenciário Brasileiro, como sendo o

principal “destinatário dos bens ou valores arrecadados com aplicação da pena”

(MIRABETE, 2004, p. 78). Contudo, caso exista algum dispositivo legal, poderá ser

transferido a alguma outra entidade.

c) Prestação de Serviços à Comunidade ou a Entidades Públicas

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Os doutrinários que analisam este tipo de pena alternativa acreditam que ao

aplicar a “prestação de serviços à comunidade”, percebe-se que este incide na

aplicação penal ao infrator, em que o mesmo irá prestar serviços gratuitos a

sociedade, podendo ser em escolas públicas, orfanatos, hospitais, ou algum outro

programa comunitário. De acordo com Capez (2005), as tarefas as quais o apenado

terá que desempenhar, é estabelecido de acordo com suas aptidões, e que não

interfiram na sua rotina normal de trabalho.

Conforme levantamentos já realizados sobre esse tipo de pena, Capez (2005)

e Machado (2008, on line) destacam que ela vem se mostrando como a mais eficaz,

no que se refere ao processo de resocialização do infrator, por se tratar de uma

penalidade voltada para educação e respeito ao próximo, sendo a conduta do

infrator influenciada com essas atividades sociais.

Conduto, vale enfatizar que, essa penalidade somente é aplicada para

aqueles infratores cuja condenação é superior a seis meses, conforme previsto no

art. 46 do Código Penal. Em complemento ao tema, Foucault (2007, p. 190) comenta

que:

Tal medida é cumprida na proporção de 01 (uma) hora de serviço por 01 (um) dia de condenação. Logo, as tarefas a serem realizadas têm uma duração de 07 (sete) horas semanais, devendo ser exercidas em horário compatível com outras obrigações do apenado, conforme dito anteriormente.

É importante frisar ainda que, caso a pena aplicada seja superior a um ano, é

de sua livre escolha substituir por um tempo menor, contudo, jamais deverá ser

inferior à metade da pena privativa de liberdade pré-fixada.

Um fator importante a ser considerado nesse tipo de pena, refere-se à família

do infrator, ou seja, mesmo cumprindo a sua pena, o infrator continuará próximo de

sua família, da sociedade, e, sobretudo, continuará exercendo suas atividades

profissionais. Nessa linha de raciocínio, pode dizer que a tarefa imposta ao infrator,

vem se apresentando de grande importante para sociedade como para ele mesmo,

como enfatiza Foucault (2007, p. 197):

A ordem que deve reinar nas cadeias pode contribuir fortemente para regenerar os condenados; os vícios da educação, o contágio dos maus exemplos, a ociosidade originaram crimes. Pois bem, tentemos fechar todas essas fontes de corrupção; que sejam praticadas regras de sã moral nas casas de detenção; que, obrigados a um trabalho de que terminarão

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gostando, quando dele recolherem o fruto, os condenados contraiam o hábito, o gosto e a necessidade de ocupação; que se dêem respectivamente o exemplo de uma vida laboriosa; ela logo se tornará uma vida pura; logo começarão a lamentar o passado, primeiro sinal avançado de amor pelo dever.

Diante do exposto, percebe-se que apesar de ser uma punição, todos saem

ganhando com esses serviços gratuitos, em que a comunidade se beneficia com a

mão-de-obra qualificada, economizando assim a verba com aquele profissional.

d) Interdição Temporária de Direitos

A próxima pena alternativa a ser analisada refere-se à interdição temporária

de direitos, a qual busca proibir certos tipos de abusos, assim como desrespeito aos

deveres tanto funcionais quanto profissionais, que dizem respeito a cada atividade.

Vale ressaltar que essa penalidade gera grandes reflexos na economia.

Dessa forma, Capez (2005) e Machado (2008, on line) afirmam que a

interdição temporária de direitos, objetiva fazer com que o infrator não permaneça

praticando ações ou atos, pelos quais o levaram a cometer um delito. Essa prática

faz com que o infrator não mais cometa crimes, diminuindo dessa forma, os casos

de reincidência.

Contudo, para que seja aplicada da melhor forma possível, essa penalidade

está dividida em, conforme art. 47 do CP:

I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandado eletivo; II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, licença ou autorização do poder público; III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; e

IV - proibição de frequentar determinados lugares.

Com relação à proibição do exercício de cargo, função, ou atividade pública,

bem como de mandado eletivo. Bitencourt (2004, p. 144) afirma que:

É indispensável que a infração penal tenha sido praticada com violação dos direitos inerentes ao cargo, função ou atividade. Não é necessário, porém, que se trate de crime contra a Administração Pública; basta que o agente, de alguma forma, tenha violado os deveres que a qualidade de funcionário público lhe impõe.

Os doutrinários, ao abordarem o assunto, afirmam que o infrator, após o

cumprimento de sua pena, caso não exista nenhum outro tipo de impedimento no

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âmbito administrativo, terá o direito garantido de retornar as suas atividades

profissionais normalmente.

No que se refere à proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que

dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público.

Somente será aplicada se o infrator no da infração estiver exercendo a atividade ou

profissão. Em complemento ao tema, Mirabete (2004, p. 187) acrescenta que:

Algumas profissões exigem autorização do poder público ou habilitação especial, ou seja, requerem inscrições em Conselhos Regionais (advogados, médicos, engenheiros), cursos superiores, registros especiais, as quais são controladas pelo poder público.

Faz-se necessário frisar que, o infrator somente será afastado de suas

atividades ou ainda da sua profissão da qual cometeu o crime. Assim sendo, caso

exerça outras atividades, estas não serão afetadas.

A suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo é um tipo de

pena que poucas pessoas conhecem formalmente, possuindo uma abordagem

bastante específica, haja vista que somente recai em casos de motoristas infratores

de trânsito, dependendo das circunstâncias de sua ocorrência e do parecer do juiz

que analisa todos os fatores envolvidos no delito.

Mirabete (2004, p. 187) afirma que o principal objetivo de aplicação desta

pena é afastar o motorista infrator do “volante do veículo”, a fim de que ela não

realize novas condutas negligentes ou imprudentes, cometendo com essas ações

delitos culposos. Assim, objetiva-se diminuir o número de acidentes e, de um modo,

geral, a violência no trânsito que tantas vítimas faz.

Bitencourt (2004, p. 148) ressalta que proibição de visitar determinados

lugares foi inclusa por meio da publicação da Lei n° 9.714/98, estando também

presente no art. 47, inc. IV, do Código Penal brasileiro. No entanto, esta proibição

não deve ocorrer aleatoriamente, devendo estar vinculada a condutas indevidas do

infrator. O autor complementa o assunto dizendo que:

Precisa-se ter presente que, para se justificar a proibição de frequentar determinados lugares, é indispensável que exista, pelo menos em tese, uma relação de influência criminógena com o lugar em que a infração penal foi cometida e a personalidade e/ou conduta do apenado e que, por essa razão, pretende-se proibir a frequência do infrator beneficiário da alternativa à privativa de liberdade (BITENCOURT, 2004, p. 149).

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Assim sendo, o juiz tem o dever de registrar na sentença aplicada ao infrator

o local ou se for o caso os locais os quais o apenado estará proibido de frequentar.

e) Limitação de fim de semana

A limitação de fim de semana é outra restrição contida no art. 48 do Código

Penal, representando uma pena privativa de direitos do cidadão que, segundo Jesus

(2010, p. 95), estabelece ao condenado o dever de ficar durante cinco horas, aos

sábados e domingos, em asilo ou outro tipo de estabelecimento da mesma categoria

para concretização dessa sanção. Jesus (2010, p. 96) complementa o assunto

dizendo que:

A referida pena alternativa objetiva fracionar as penas privativas de liberdade de curta duração, evitando que o apenado seja submetido ao cárcere, mantendo-o em casas de albergado ou estabelecimento adequado, durante dez horas do final de semana, sem prejudicar as atividades laborais e o convívio familiar e social do apenado.

Vale ressaltar que os teóricos pesquisados acreditam que enquanto o infrator

permanecer na casa de albergado, os mesmo terão a liberdade de ministrar cursos,

realizar palestras ou dependendo do grupo, atividades lúdicas. Criando esse tipo de

interação, evidencia-se a importância do resultado dessa punição, ao ser

desenvolvido o caráter educativo, e principalmente no que se refere à

ressocialização.

Nessa linha, é importante frisar que devido à falta de estabelecimento

adequados para aplicação da pena, em alguns casos, faz com que o infrator não

execute sua pena de forma apropriada, ou dependendo da situação nem seja

cumprida.

Diante desse cenário, a partir da reforma realizada no ano de 1984, foi

concedida a União, Estados, Distrito Federal um prazo para que fosse providenciada

a construção de estabelecimento para esses fins. No entanto, frente à crise

econômico-financeira presente na maioria dos estados do país, além do descaso

com a administração pública, essa necessidade até os dias atuais, ainda não foi

suprida, o que acaba inviabilizando o resultado esperado com aplicação dessa pena.

3.7 Pena alternativa convertida em pena privativa de liberdade

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A pena alternativa convertida em privativa de liberdade é uma das

possibilidades que precisa ser analisada detalhadamente pelo legislador pátrio, a fim

de não cometer erros ou injustiças.

Sobre este assunto, Jesus (2004, p. 103) comenta que “a conversão ocorre

em ralação a todas as penas alternativas previstas nos arts. 43 a 48 do CP, desde

que admitem a transmutação, salvo a multa”. O mencionado autor continua

analisando que na primeira situação em que pode ocorrer a conversão de pena

privativa de direitos para privativa de liberdade, diz respeito ao descumprimento não

justificado da restrição atribuição ao apenado.

Assim, ao constatar o descumprimento, será marcada uma audiência para

ouvir o infrator. Nesse momento, o mesmo terá que explicar o porquê do

descumprimento da pena, que posteriormente será decido pelo juiz sobre a

conversão, de acordo coma Lei de Execução Penal. Já sobre o segundo

pressuposto, Capez (2005, p. 176) esclarece que:

Sobrevindo condenação à pena privativa de liberdade por outro crime, poderá ocorrer a conversão da pena alternativa em privativa de liberdade. Caso não haja incompatibilidade e for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior, o juiz poderá deixar de aplicar a conversão com esteio no art. 44, § 5º, CP.

Assim sendo, o art. 181 da LEP define os motivos especiais que levam a

conversão da pena privativa de direitos em privativa de liberdade, fundamentando-se

no art. 45 do Código Penal.

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4 PROCESSO DE REABILITAÇÃO (RESSOCIALIZAÇÃO) DOS APENADOS

A análise inicial da palavra ressocialização, remete o leitor a procurá-la nos

tradicionais dicionários de Língua Portuguesa, todavia, não é encontrada, fazendo-

se necessário recorrer a fontes on line, constatando-se ser a junção do sufixo “re”

com a palavra “socializar”, onde se conclui ser “tornar a socializar(-se)”, conforme

apregoa o site Dicionário Eletrônico, sem autor específico.1 Por esse motivo, nesta

pesquisa o termo reabilitação será utilizado como sinônimo de reabilitação.

De todo o modo, destaca-se que esta dificuldade em se obter um conceito

formal do que venha a ser a reabilitação deve-se a fato de ser um termo

relativamente novo e focado no âmbito do Direito Penal. Kloos (2012, on line) é um

dos pesquisadores que reconhecem a dificuldade em analisar este tema por

reconhecer que:

Na maioria dos casos, falamos em reabilitação e reeducação de quem sequer foi socializado ou educado, quase sempre estamos falando de pessoas que foram literalmente excluídas da sociedade, não quando foram encarceradas, mas sim em todo o trajeto de suas vidas, pessoas que não tiveram muitas oportunidades, nem tampouco conseguiram manter a dignidade de vida e acabaram por enveredar no mundo marginal, sem ter a real consciência das consequências nefastas de seus atos, para si e para a sociedade em geral.

Diante do exposto, observa-se que a questão da reabilitação do preso, em

geral, só se dará se for respeitada a finalidade primordial da pena: a reeducação e a

prevenção de novas transgressões, ou seja, a manutenção do preso na penitenciária

requer diagnóstico e prognóstico corretos para minimizar os efeitos da criminalidade,

garantindo-se a ordem social.

Conforme Foucault (2007, p. 343), Rosseau acredita que o “homem é produto

do meio”, e também verdade que a sociedade servirá de instrumento de correção às

distorções do caráter do homem (Hobbes), de nada adiantará falar em recuperação

do indivíduo criminoso sem antes procurar compreender o mundo à sua volta.

Resalta-se a importância de acompanhamento psicológico, religioso, a

capacitação para o trabalho, o acompanhamento efetivo pelo juiz da execução e

1 Sem autor específico. Ressocializar. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/ressocializar/>. Acesso em: 27 maio 2014.

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também a participação de instituições privadas e públicas para a efetiva reeducação

do preso.

Para se alcançar a eficácia na reabilitação do apenado é fundamental a

junção de esforços entre as várias instituições públicas, privadas, além dos

segmentos sociais, incluindo os órgãos responsáveis pela gestão penitenciária, visto

que para se alcançar a diminuição do sistema carcerário é necessário que o

problema seja sendo por completo, pois este reside na própria sociedade.

Foucault (2007, p. 342) continua sua análise afirmando que, em consonância

com essa questão, a sociedade contemporânea aponta que a dessocialização

acontece antes mesmo do indivíduo ser preso, e que as penas ao invés de

ressocializar, aumentam a criminalidade, isso ocorrendo pela má aplicação da lei.

Imperioso, implementar uma política criminal que foque na parte “doente” da

sociedade, a fim de que o Estado exerça corretamente sua função de atender às

reais necessidades do cidadão que por falta dessa muitas vezes se socorrem nas

organizações criminosas. Sendo de fundamental relevância que a sociedade

participe ativamente no processo de reabilitação do apenado, buscando proteger o

Estado Democrático de Direito.

Segundo Bitencourt (1999), no Brasil, um dos problemas que mais preocupam

a sociedade é saber o que fazer com o indivíduo que cometeu um delito, como

deverá ser punido o infrator, se a pena será justa e eficaz, posto que o apenado terá

que sair da prisão recuperado, apto para voltar ao convívio social e não mais

delinquir após o cumprimento de sua pena. Todavia, o que se vê habitualmente no

Brasil são instituições penitenciárias que mais são escolas preparatórias para o

crime, posto não desempenharem seu papel de reeducar e ressocializar o apenado.

Fatos que comprovam o aludido são os grandes índices de rebeliões, fugas e

reincidências dos apenados brasileiros. Em observação a esses fatos, percebe-se a

defasagem do sistema penitenciário nacional, assim como as penas

equivocadamente aplicadas. Em decorrência disso, urge a necessidade de se

buscarem meios alternativos para que os presos sejam alojados em instituições

apropriadas que o tratem como ser humano que incorreu em erro, mas que buscará

através de reflexão não mais agir em desacordo com a lei, podendo então voltar ao

“seio” da sociedade.

Alvim (2012, on line) analisa o tema afirmando que um exemplo de uso de

meios alternativos é a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado

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(APAC).2 Um exemplo de funcionalismo no Brasil é a unidade de Itaúna (MG), onde

o preso é tratado com respeito, o de uma forma diferenciada dos demais presos.

Nessa unidade, os índices de fugas, rebeliões e mortes são raríssimos, nela se

aplicam regimes de cumprimentos de pena, tais como: o semi-aberto para

procedimentos efetivos de profissionalização, o aberto sem acompanhamento de

agentes penitenciários e policiais para a volta ao convívio social, e o fechado para

recuperação do apenado.

4.1 A prestação de serviços à comunidade

Nesse processo de busca pela reabilitação dos apenados, a prestação de

serviços à comunidade é uma destas possibilidades. De acordo com análise de

Vizentini (2003, p. 93), a pena de prestação de serviço à comunidade consiste na

atribuição de serviço gratuito ao apenado. É uma pena de caráter personalíssimo,

pois ninguém além do próprio preso pode prestar esse serviço. Salienta-se que essa

pena não gera vínculo empregatício e, tampouco, permite o instituto da remição.

Encontra-se preceituada essa sanção no art. 46 e incisos do Código Penal:

Art. 46 - A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a 6 (seis) meses de privação da liberdade. § 1º - A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado. § 2º - A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. § 3º - As tarefas a que se refere o §1º serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de 1 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. § 4º - Se a pena substituída for superior a 1 (um) ano, é facultado ao condenado cumprir apena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.

Com o artigo acima expõe, a prestação de serviços à comunidade é aplicada

somente em condenações superiores a 6 (seis) meses de privação de liberdade,

fazendo com que o apenado realize atividades não remuneradas em órgãos

2 A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) é uma entidade civil de Direito Privado, com personalidade jurídica própria, que se dedica à recuperação e reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade, dispondo, para isso, de um método de valorização humana, portanto, de evangelização.

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públicos, escolas, creches, asilos, hospitais, casas de repouso, entre outros. A sua

designação para cada local ocorre de acordo com suas habilidades e que não

coincidam com suas atividades profissionais convencionais.

Segundo Gomes e Molina, nos termos do art. 46, § 3º, as atividades a serem

realizadas devem ser serão atribuídas de acordo com suas aptidões e horários de

disponibilidade. Devem ser condizentes cm suas aptidões, sua situação, suas

habilidades, sua cultura, religião etc. Complementam dizendo que:

Nisso reside o princípio da individualização da pena (CF, art. 5º, inc. XLVI), que deve ocorrer tanto no plano da cominação como no da aplicação e execução. As tarefas atribuídas, de outro lado, devem ser condizentes com os direitos fundamentais da pessoa: impossível a imposição de qualquer obrigação ofensiva à dignidade humana. [...] (GOMES; MOLINA, 2007, p. 93).

Conforme os autores supracitados, essa medida deve ser cumprida como já

dito anteriormente na proporção de uma hora de serviço por uma hora de pena. Em

consequência, os serviços devem ser realizados em permanência de 7 (sete) horas

semanais, essas devendo ser realizadas em horários diversos das horas de

trabalhos normais do condenado e necessitando de adequação dessas aptidões.

Os autores continuam sua análise dizendo que a prestação de serviços à

comunidade não é tida como emprego, nem gera relação empregatícia, bem como

não pode ser considerada trabalho forçado, pois sua natureza fundamenta-se na

gratuidade, concordância da pessoa e autêntica utilidade social.

Essa pena alternativa com o passar do tempo vem se mostrando a melhor

forma e mais eficaz meio de reabilitação do preso, visto ser uma pena educativa,

onde induz o apenado a repensar suas ações e não uma pena sancionadora, que

vise apenas punir por punir. Outro fator importante para essa pena ser imensamente

eficaz são os convênios entre a Vara de Execução de Penas Alternativas (VEPA) e

as instituições recebedoras, mediante tratamentos individualizados.

Mendonça e Pessoa (2008, on line) analisam esse tema dizendo que:

Diferentemente do que ocorre nas penas privativas de liberdade, inúmeros são os benefícios alcançados pela prestação de serviços à comunidade, tais como: a possibilidade de ampliação do círculo de amizades; a aquisição de novos conhecimentos; aprendizado de novas profissões; oportunidade de ajudar o próximo e aos mais necessitados; sensação de utilidade e importância à sociedade; reflexão acerca de seus atos; ajuda aos familiares; aquisição de senso de responsabilidade, dentre outros.

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Diante do exposto, observa-se como a pena de prestação de serviço a

comunidade é benéfica ao apenado, visto que com sua realização o preso passa a

se acostumar novamente a viver em comunidade e se portar de forma lícita,

passando com essa experiência a conquistar novas amizades, experiências e

aprendizados, aumentando sua vontade de remissão e de ser um novo indivíduo a

partir dali.

É importante acrescentar a constatação de que os apenados com o exercício

de prestação de serviço aos mais carentes sentem-se estimulado pelo fato de poder

ajudar pessoas que estão em uma situação igual ou pior que a sua. Com esse

trabalho, os apenados não se sentem discriminados, ao contrário, sentem-se

importantes, fazendo-os esquecer seus passados delituosos e muitos relatam serem

mais bem tratados nas instituições que prestam serviço que no seio familiar.

Em complemento ao tema, Machado (2008, on line) acrescenta que:

Além das vantagens já expostas, a comunidade ou entidade social também estão sendo beneficiadas pela mão-de-obra gratuita e, muitas vezes, qualificada do apenado, economizando a verba que seria utilizada para custeio daquela atividade. Ademais, o Estado também aufere vantagens com tal medida, pois, ao economizar o elevado montante necessário para manter um preso encarcerado, esta pecúnia poderá ser utilizada em outros setores, tais como saúde, educação, etc.

De acordo com mencionado autor, a economia que o Estado faz com a

aplicação das penas alternativas é imensa, pois como se sabe para manter um

preso o valor é excedente ao de um estudante universitário. Contudo, feita essa

economia, surge o precedente para esse dinheiro ser revertido para outros setores

que necessitem. E outro fator benéfico tanto para o Estado quanto para o apenado é

a formação de profissionais qualificados.

Na pena tipificada pelo art. 46 do CP, a gratuidade dos trabalhos tem caráter

retributivo, é determinada por tempo certo, limitado, e será analisado as aptidões do

preso de forma que o trabalho a ser prestado não desvirtue muito da atividade que

costumeiramente exerce e nem prejudique em na sua execução. A prestação de

serviço a comunidade tem como escopo fazer com que o apenado compense a

sociedade pelos danos que provocou. Essa pena difere muito da pena de trabalhos

forçados, onde os indivíduos se submetem a atividades que, muitas vezes, são

dolorosas.

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Os apenados submetidos às penas restritivas de direito mostraram menor

reincidência que os submetidos à reclusão em sistema penal tradicional, surge então

a necessidade de se aprimorar os métodos alternativos, dentro da realidade

brasileira.

Machado (2008, on line) considera que o apenado submetido à pena privativa

de direito na maioria das vezes são delinquentes de menor grau de violência. Ao

exercer atividades comunitárias, ele cresce como indivíduo na sua espiritualidade,

pois o trabalho dignifica o homem, o que não acontece na reclusão, tendo em vista o

convívio com presos de maior periculosidade e viver em um ambiente prejudicial que

não ajuda a ressocializar.

O condenado, com pena alternativa de prestação de serviço a comunidade,

que possui um emprego ou estudo, não é obrigado a deixá-lo em consequência da

pena, pode conciliar os dois horários sem que um interfira no outro, fato que não

ocorreria se a pena fosse de detenção. Caberá ao juiz da execução determinar qual

entidade o condenado deverá prestar serviço, como exposto pelo art. 149 da Lei de

Execuções Penais (LEP):

[...] Art. 149. Caberá ao Juiz da execução: I - designar a entidade ou programa comunitário ou estatal, devidamente credenciado ou convencionado, junto ao qual o condenado deverá trabalhar gratuitamente, de acordo com as suas aptidões; II - determinar a intimação do condenado, cientificando-o da entidade, dias e horário em que deverá cumprir a pena; III - alterar a forma de execução, a fim de ajustá-la às modificações ocorridas na jornada de trabalho. § 1º o trabalho terá a duração de 8 (oito) horas semanais e será realizado aos sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho, nos horários estabelecidos pelo Juiz. § 2º A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento. [...]

A entidade escolhida deverá apresentar mensalmente relatório acerca das

atividades do apenado como indicado pelo art. 150 da LEP.

[...] Art. 150 - A entidade beneficiada com a prestação de serviços encaminhará mensalmente, ao juiz da execução, relatório circunstanciado das atividades do condenado, bem como, a qualquer tempo, comunicação sobre ausência ou falta disciplinar. [...].

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O beneficiário da prestação de serviço a comunidade se descumprir

injustificadamente, dar-se-á conversão em prisão segundo o art. 44, § 4º da LEP, e

se o descumprimento for justificável, não incorrerá em prisão.

4.2 Pena de limitação de fim de semana

Essa pena encontra-se prevista nos arts. 43, VI e 48 do Código Penal e

consiste em recolher o apenado em casa do albergado, pelo tempo de cinco horas

ao dia durante o sábado e o domingo. É uma espécie de prisão fracionada, visto o

condenado ficar privado de liberdade durante os finais de semana, e assim

acrescenta-se essa ser uma sanção restritiva de direito e não de liberdade, que é

cumprida apenas nos sábados e domingos. Arts. 43, VI e 48 do Código Penal

Brasileiro - CPB:

Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I – prestação pecuniária; II – perda de bens e valores; III – (VETADO) IV – prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; V – interdição temporária de direitos; VI – limitação de fim de semana. Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em casa do albergado ou outro estabelecimento adequado.

Em observação a essa questão Souza Filho e Pereira (2007, p. 136)

comentam que:

Observa-se que essa modalidade de pena, tem uma preocupação visivelmente educativa, visto que durante o seu cumprimento, o albergado poderá assistir palestras, assistir cursos ou quaisquer outras atividades sócio-educativas, desde que tais ações sejam efetivamente proporcionadas pelo poder público. Além de atribuir-lhe atividade educativa, o que está de acordo com os objetivos reeducadores da sanção penal, evita que o apenado permaneça no ócio por tantas horas, entre outros condenados.

Embora essa modalidade de pena tenha sido criada com a função de

reeducar, é bastante difícil se concretizar, posto o grande custo para o Estado,

sendo que este já procura com as penas alternativas diminuir os valores gastos com

os apenados.

Apesar da não aplicação dessa sanção, Perez (1982, on line) aponta as

vantagens do instituto como sendo:

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a) a permanência do condenado junto à sua família, ocorrendo o seu afastamento apenas nos dias dedicados ao repouso semanal; b) a possibilidade d reflexão sobre o ato cometido, no isolamento a que é mantido o condenado; c) a permanência do apenado em seu trabalho, evitando, assim, dificuldades materiais para a família, decorrentes da ausência do chefe; d) ausência dos malefícios advindos do contato do apenado com condenados mais perigosos, o que fatalmente ocorreria, na hipótese de execução da pena de forma contínua em isolamento celular; e) o abrandamento da pena acessória de “rejeição social” que normalmente marca o condenado recolhido a um estabelecimento penitenciário; f) a oportunidade de se apenar determinados delinquentes, chamados de “colarinho branco”, que por via de regra se furtam à ação da justiça.

Vantagens existem muitas, mais a falta de investimento, até mesmo em

decorrência da própria lei que deixou abertura para isso acontecer na passagem do

texto que fala sobre a possibilidade de essa pena ser cumprida em outro lugar

equivalente.

Destaca-se que, nos dias atuais, a pena de limitação dos fins de semana

quase não é aplicada devido ao fato de não existirem locais adequados para que as

pessoas fiquem neste período, principalmente pelo descaso da Administração

Pública.

Em continuidade ao estudo em questão, destaca-se que de acordo com a Lei

no 7.210 que trata da Lei de Execução Penal, a casa do albergado é um local de

baixa ou mínima segurança, voltando-se à execução de penas de regimes abertos e

de limitação de fim de semana.

Acerca da finalidade da casa do albergado, segundo o site da Secretaria de

Estado de Justiça e Direitos Humanos (SEJUS – AM) é:

I - Acolher, no período noturno e nos dias santos e feriados o condenado até 04 (quatro) anos de privação da pena de liberdade; o condenado a mais de 04 (quatro) anos e até 08 (oito) anos, após o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena em regime semi-aberto; o condenado a mais de 08 (oito) anos que tenha cumprido 2/6 (dois sexto) em regime mais rigoroso; II- Acolher os condenados a pena privativa de direitos consistentes na limitação de fim de semana (prisão de fim de semana); III - Proceder e/ou dar continuidade ao tratamento e reeducação dos sentenciados, através do trabalho, da orientação profissional, da religião, autodisciplina e do senso de responsabilidade, visando à reabilitação dos mesmos; IV- Receber o condenado que estiver trabalhando, ou que comprove a possibilidade de fazê-lo e, quando apresentar, pelos antecedentes ou pelo resultado de exame a que foi submetido, condições de ajustar-se com

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autodisciplina e senso de responsabilidade, ao trabalho, fora do estabelecimento penal e sem vigilância. 3

Tanto no Estado do Amazonas, como visto anteriormente como os demais

Estados num todo têm que desenvolver as atividades apontadas pela lei, mas no

habitual não acontece, como também comentado anteriormente o Estado não

investe em cursos ou palestras, se contrapondo ao próprio regulamento, isso em

busca de diminuir os custos carcerários. Mas no caso do Estado do Amazonas - AM,

eles procuram através de recursos próprios, de convênios e em conjunto com a

Secretaria de Justiça oferecer esses cursos e palestras, buscando a maior

efetividade da casa.

Já o Estado do Ceará, destaca Machado (2008, on line), especificamente em

Fortaleza, no que se atine à casa do albergado, que se destina a efetivação do

cumprimento da pena de limite de fim de semana, a única existente localizada no

município de Pacatuba inaugurada na década de 90, na gestão do Governo Ciro

Gomes está desativada, e para não ficar desabitada funciona lá um escritório da

sede da Secretaria da Justiça e Cidadania.

Machado (2008, on line) continua sua análise destacando o convênio formado

pela Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará (SEDUC) e a Vara de

Execuções de Pena Alternativas (VEPA) vêm executando eficazmente essa

modalidade de pena no Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Paulo

Freire, no qual o apenado assiste aulas de várias matérias inclusive de ética e moral,

totalizando cinco horas aula durante o sábado e cinco horas aula durante o domingo

e também recebem vale transporte facilitando a locomoção, e recebem merenda,

almoço ou café da manhã dependendo do horário de sua permanência no CEJA.

Gomes e Molina (2007, p. 99) emitem sua opinião sobre a sanção de

limitação de fim de semana:

Na prática essa pena substitutiva, até hoje, tem sido um fracasso porque não existe casa do albergado na grande maioria das comarcas. Se de um lado é inegável a inexistência desses estabelecimentos penais (por fala de iniciativa do executivo, sobretudo), de outro, grande parte da inoperosidade dessa pena deve-se ao próprio judiciário por que a lei faculta seu cumprimento em outro estabelecimento adequado. [...]

3 AMAZONAS, Governo do Estado do. Secretaria de Justiça do Estado do Amazonas. Sistema prisional: casa do albergado. Disponível em: <http://www.sejus.am.gov.br/programas_02.php?cod=0846>. Acesso em: 30 abr. 2014.

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Partindo dessa afirmação, muitas jurisprudências afastam a possibilidade que

a não aplicação da casa do albergado seja substituída pelo cumprimento em cela

especial ou casa do apenado. A lei específica que o local deve ser adequado, ou

seja, de fácil acesso, higiênico e não agressivo a dignidade humana. Em caso de

descumprimento injustificado aplica-se o art. 44, § 4º. Também o art. 181 da LEP,

que prevê espécies de conversão.

4.3 Penas alternativas x penas privativas de liberdade: impactos sociais

É perceptível o fracasso das penas privativas de liberdade e do sistema

penitenciário brasileiro tendo em vista a grande diferença da teoria desse sistema e

o que se aplica. Dentre os inúmeros problemas causadores desse fracasso,

destacam-se a superlotação, o tratamento desumano, entre outros. Esses entre

tantos outros fatores fazem com que os apenados se revoltem, e assim se rebelem,

se amontoem e não se regenerem, e nem se ressocializem como é o esperado e

preceituado, pela lei como forma de inconformismo pelo sistema vigente.

Notório se faz acrescentar que a pena privativa de liberdade foi criada pra

punir os indivíduos que delinquissem, mas essa punição deveria ser precedida de

respeito à vida e a dignidade humana, o que não se aplica nos presídios, onde todo

e qualquer direito são esquecidos e desrespeitados, ferindo a Carta Política no

tocante aos direitos fundamentais que caiba a ele.

As penas privativas de liberdade ficaram para trás e em seu lugar entraram as

penas alternativas, essa substituição foi tida como necessária, posto a ineficácia

daquelas penas, observou-se que sua finalidade não era alcançada, que seu

objetivo não era cumprido, em atenção a isso ficou evidente a necessidade de

mudança na lei.

Com a alteração do art. 43 e incs. do Código Penal feita pela Lei no 9.714/98

(Lei das Penas Alternativas Substitutivas), resultou da ampliação do sistema penal

alternativo brasileiro, que já tinha sido muito incrementado pela Lei no 9.099 (Lei dos

Juizados Especiais Criminais). Com o advento dessa última lei o país passou a

conta visivelmente com dois sistemas: o clássico e o alternativo.

Machado (2008, on line) afirma que com essa mudança da lei, observa-se

uma maior preocupação do legislador nacional para com o problema da reabilitação

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dos presos, os quais submetidos a maus tratos retornavam a conviver na sociedade

mais corrompidos, acometidos de sentimento ruins, “com sede” de vingança contra a

sociedade e o Estado, retornando a infringir a lei.

Com o passar do tempo, a questão das penas privativas de liberdade foram

sendo questionadas, visto que sua aplicação, de “punir por punir” não estava

logrando êxito, os apenados não se ressocializavam, não se redimiam pelos seus

atos delituosos, as ocorrências de fugas eram constantes, e o mais preocupante a

reincidência alcançava índices alarmantes.

Apesar dos enormes pontos negativos sobre a aplicação das penas privativas

de liberdade, não se exclui a responsabilidade do Estado sobre essa questão, sendo

que o sistema usado pelos sistemas prisionais é defasado, os policiais não recebem

formação adequada, o tratamento carcerário é desumano, a alimentação não é de

boa qualidade, os alojamentos são sujos e superlotados.

Em contrapartida, as penas privativas de liberdade, passaram-se a ser

aplicadas as penas alternativas, onde sua aplicação trouxe inúmeras melhoras para

o judiciário, nesse tocante tem-se: índices reduzidos de reincidência, fuga, além de

diminuir consideravelmente os custos para o Estado.

Vale destacar que ainda nos dias atuais, no sistema prisional brasileiro os

apenados não são separados pelo grau de periculosidade, pela idade, instrução ou

condição processual. Além disso, nas prisões praticamente não há assistência

médica, odontológica, entre outros, estimulando, ainda mais, as frustrações dos

presos e desrespeitando os direitos humanos.

Em consonância, as penas alternativas significam um grande avanço das

formas de coibir as infrações, através dos quais o condenado cumpre sua sanção

em liberdade, sem que necessariamente tenha que sofrer agressões da segregação,

continuando engajado na sociedade sem sofrer discriminações.

Souza Filho e Pereira (2007, p. 140) opinam sobre o assunto, dizendo que:

A pena alternativa dá à sociedade uma oportunidade do ressarcimento dos prejuízos decorridos do delito, visto que o apenado estará prestando um serviço social à comunidade como forma de punição por uma infração cometida. A eventual manutenção do condenado em prisão domiciliar pode gerar, na sociedade, uma impressão de impunidade ou banalização do sistema judiciário, em virtude do não acompanhamento da pena.

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A sociedade pode tomar parte desse processo por meio de uma maior

interação e criação de meios de auxílio ao prestador de serviço, a fim de beneficiar a

todos os envolvidos, tanto no decorrer quanto após o cumprimento da pena. Em

acréscimo ao estudo, Pinho (2008, on line) expressa-se dizendo que:

Embora muitos reconheçam a impossibilidade de extinção das penas privativas de liberdade – prisão – que são necessárias aos crimes de grande potencial ofensivo (homicídio doloso, latrocínio, sequestro, estupro, etc.), percebe-se que a modalidade de pena que mais traz benefícios é a prestação social alternativa, onde o criminoso, em vez de ficar preso, é obrigado a prestar um serviço à comunidade.

O benefício maior dessas penas é que a maior parte dos beneficiados por

elas se regenera, ao contrário das penas restritivas de liberdade, o que se comprova

pelos baixos índices de reincidência alcançados por processos educativos que visam

sua volta na sociedade.

Analisando as duas modalidades de penas, observa-se como as penas

privativa de liberdade não obtiveram o êxito esperado como meio reeducativo, de

conformidade com os propósitos do novo sistema criminal. Ficou evidenciado que os

presos submetidos a penas restritivas de liberdade reincidiam em demasiada

quantidade, enquanto que os apenados submetidos ao sistema alternativo

reincidiam em quantidade muito inferior. Em atenção a isso, teve-se a necessidade

de aperfeiçoar o sistema penal alternativo, dentro da real realidade vivida no Brasil.

Os impactos sociais trazidos pelas penas privativas de direito foram os piores

possíveis, a sociedade presenciou e vivenciou o enorme aumento da criminalidade e

com ela o sentimento de fracasso penal.

A defasagem carcerária somada à falta de preparo dos policiais, e a omissão

da sociedade e principalmente do Estado formam o retrato da realidade penal no

Brasil. E devido a esses fatos a sociedade sentiu um impacto grande, talvez mais

devido sua ausência em virtude de procurar intervir junto ao Estado para uma

política criminal, mais justa e adequada, já que a que estava sendo usada não

mostrava resultado ao contrário os presos saiam piores do que quando entraram e

com isso tornando a delinquir e às vezes com mais violência, isso decorrência da má

aplicação da lei e sua não funcionalidade.

Com tantas contribuições nocivas que as penas privativas de liberdade

trouxeram, sentiu-se a necessidade daquela lei ser mudada, assim como foi. Mas,

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para que esse advento da lei tenha a eficácia esperada é preciso que se entrelacem

a sociedade e o Estado na busca desse objetivo comum.

No Brasil, atualmente, o sistema criminal tem-se dirigido à

desinstitucionalização da execução penal, transferindo o dever de reeducação

incumbido ao agente penitenciário e o controle e segurança para o grupo

responsável alternativo.

Machado (2008, on line) diz que o exemplo de Fortaleza, capital do Estado do

Ceará, onde se criou a 1ª Vara Especializada de Execução de Penas Alternativas, é

preciso que se desenvolvam projetos capazes de realmente implementarem o que a

Lei no 9.714/98 prevê: substituição das penas restritivas de liberdade por

alternativas. Complementa afirmando que:

Como vem ocorrendo na citada cidade nordestina, bem como em todo o Estado do Ceará, é preciso que Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e outras unidades da Federação cuidem de bem aproveitar o diploma legal, objetivando participar da cura do grave problema da criminalidade (MACHADO, 2008, on line).

O impacto social trazido pelas penas restritivas de direito, foi, sobretudo na

questão do desafogamento carcerário trazido pela aplicação de sanções alternativas

para penas de curta duração, permitindo que o apenado cumpra sua sanção junto a

sua família e continue no seu emprego, com isso evitando a superlotação dos

presídios. Outro benefício obtido com essa medida que afeta diretamente a

sociedade, é a diminuição da reincidência, pois em cumprimento a essa modalidade

de sanção os apenados passam por um verdadeiro processo de ressocialização.

Santis (2010, p. 48), em observação ao tratado, comenta que:

[...] a iniciativa do Conselho Nacional de Justiça de trabalhar para a conscientização da sociedade quanto à sua responsabilidade na reabilitação dos presos e egressos e, principalmente, o incentivo à participação de instituições públicas e privadas no que toca à oferta de vagas de emprego a capacitação, contribui para uma reinserção saudável, apesar de muitos crerem tratar-se de utopia e, portanto, incapaz de concretizar-se no plano da realidade.

Fazem-se necessário a cominação de forças entre a sociedade, as entidades

públicas e privadas em busca da funcionabilidade da ressocilaização, sendo que

esses são os maiores interessados que isso aconteça. Todavia, para que aconteça a

devida ressocilaização, a comunidade em especial deve oferecer cordialidade

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juntamente com oportunidade de emprego, pois esse é o mais importante ponto de

partida para que não ocorra a reincidência tão temida e indesejada.

4.4 O comportamento da sociedade frente ao apenado

Com o sistema carcerário se portando de forma inconsequente e com

descaso, quem acaba por sofrer as consequências é a sociedade, posto que ela

espera um apenado ressocializado e recebe um apenado pior do que quando entrou

na prisão.

A princípio, para que se aborde essa questão com mais clareza, é necessário

que se faça um questionamento, analisando se depois de cumprida a pena, o

condenado retorna à sociedade com as “portas” de emprego abertas para ele. É

visível que não, talvez por medo da sociedade, por insegurança, mas o correto a

afirmar é que os presos que são ressocializados tem suas vidas modificadas para

sempre, pois mesmo cumprindo sua pena perante a lei e os homens ao retornarem

ao convívio junto à sociedade sofrem desenfreadas discriminações, essas podendo

ser de várias formas, indo de negação de emprego a olhares maldosos. Frente a

essa realidade, será que o ex-presidiário tem saída? Será que tem meios de se

mudar isso?

Expectativas são muitas de não reincidência, mas enquanto a falta de

emprego existir, principalmente para os ex-apenados, a probabilidade de isso

acontecer é muito grande, tanto pela revolta da descriminação, quanto pela

necessidade deles próprios e de suas famílias, pois todos impreterivelmente têm

famílias e muitas vezes elas dependem deles para sobreviverem, e em decorrência

vem à volta a delinquência. A sociedade e o Estado enquanto não se unirem para

combater o crime e ou a reincidência elas continuaram a acontecer em larga escala,

não importará a existência de sanções alternativas, posto que só a aplicação delas

não basta, elas precisam de ajuda, que é o investimento do Estado e a participação

positiva da sociedade frente ao apenado.

Diante das considerações feitas neste capítulo, acredita-se que, para a

inclusão social do apenado, é necessário que sejam efetivadas três medidas:

mudança do sistema prisional, onde a reabilitação seja cumprida conforme a lei;

incentivos fiscais para as empresas que contratem ex-detentos e a reforma do

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Código Penal, com inserção de penas ainda mais severas para o ex- detento que

reincidir.

A sociedade é uma das maiores incentivadoras para a reincidência, visto sua

discriminação descabida e cruel, fazendo com que os apenados criem um

sentimento de revolta e procurem seu sustento por meios alternativos que é o crime,

pois não encontra emprego devido sua condição de ex detento.

Essa situação se agrava mais devido ao total descaso do poder público, no

tocante a educação e profissionalização em quanto o preso paga sua sanção. Além

da premissa de ex-condenado o fator educação e despreparo profissional dificultam

ainda mais a situação, sendo o fato de ser ex- presidiário já lhe tira muitas chances

de se empregar, a falta de educação dificulta mais e a não profissionalização exclui

totalmente as possibilidades de emprego.

A partir do referencial teórico coletado, pode-se observar que enquanto o

Estado não tentar conscientizar a sociedade, investindo em propagandas

esclarecedoras ou em outras formas de conscientização a sociedade continuará

presa ao mito de que uma vez delinquente sempre delinquente. Sendo que esse

ditado não é de total veracidade como se comprova através das penas alternativas

implantadas justamente para isso, para ressocializar o preso e assim ele possa viver

socialmente sem voltar a delinquir.

Nenhum programa alternativo pode lograr êxito sem a colaboração da

comunidade, sem a cooperação entre os órgãos governamentais e não

governamentais nacionais e internacionais, assim como pessoal qualificado para

lidar com os apenados e estrutura adequada do sistema prisional. Por outro ângulo,

o programa como um todo deve constantemente ser avaliado e quando necessário

revisado.

Com a implantação das penas restritiva de direito, pelo menos uma parte da

sociedade passou a conviver com os apenados, por exemplo, os funcionários das

instituições e os atendidos por elas. Com esse convívio trazido pelas penas

alternativas a sociedade desmistificou o fato de o ex-preso ser uma pessoa que

sempre será errada, trouxe uma forma de interação entre sociedade e apenado, e

assim formando um singelo laço de afeição entre ambas as partes.

A sociedade como analisada ainda é muito preconceituosa ou ainda é muito

temerosa, esse fato, tanto um como o outro é aceitável como correto, pois a

população, em decorrência de tantas desgraças e violências tem receio em viver

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junto a um indivíduo que já cumpriu pena, já que esse, já tendo delinquido uma vez

outra será normal, mas necessário se faz a presença do Estado para que esses

casos se desintegrem no tempo e passem a fincar na mentalidade social que todos

são suscetíveis a erros e a acertos, e em decorrência merecem outra chance para

que possam se redimir frente à sociedade ferida por deu delito.

Com as penas alternativas como já falado anteriormente veio uma melhora

consubstanciada no tocante a reabilitação do preso, visto estas proporcionarem

tratamentos mais corretos e humanos, além de influenciarem tanto o preso para

trabalhar, ajudar ao próximo e refletir sobre seus erros, quanto à sociedade enxergar

como é possível a recuperação e o convivo.

Uma forma proposta de reintegração do preso é o monitoramento, visando

tranquilizar mais a sociedade. Esse é um meio alternativo de vigilância dos

apenados, onde os apenados serão monitorados através de pulseiras ou

tornozeleiras eletrônicas e serão aplicados aos condenados que cumprem pena em

regime aberto e os do regime domiciliar.

Essa proposta já está em Lei no Estado de São Paulo (Lei Paulista nº 12.906,

de 14 de abril de 2008) e já existe nos Estados Unidos, mas no restante dos

Estados, inclusive no Ceará, ainda se encontram em tramitação vários projetos de

Lei.

O Conselho Nacional de Justiça – CNJ 4 aprovou, através de vídeo

conferência, a pena de monitoramento no Ceará que se destina a apenados

submetidos ao sistema domiciliar e aberto que, geralmente, saem durante o dia e

voltam aos albergues à noite. Essa aprovação, entre tantas outras, se destina a

modernização do sistema penal.

De acordo com matéria publicada a 18 de janeiro de 2010 pelo Tribunal de

Justiça do Ceará (TJCE, 2010, on line), os mutirões são compostos pelos Grupos de

Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário no Ceará criados em dezembro

de 2009 pelo presidente do TJCE, objetivando a realização de reuniões com

instituições públicas e privadas para que destinem vagas de trabalho para ex -

presidiários e cumpridores de penas alternativas, objetivando a criação de uma rede

social que se comprometa com esses indivíduos possibilitando-os a terem uma nova

4 Conselho Nacional de Justiça. Legislação. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/>. Acesso em: 30 maio 2014. (a)

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chance de adquirirem cidadania já que pagaram por seus crimes e mobilizar a

sociedade para ajudar no combate a reincidência.

Em complemento a esta análise, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ,

2012b, on line) menciona que:

Os mutirões carcerários coordenados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já libertaram 20.068 pessoas em todo o país. As liberdades são consequências da revisão de 105.211 processos, nos quais as equipes dos mutirões encontraram condições legais para liberação dos presos. Além das liberdades, os mutirões também concederam outros benefícios aos detentos como redução de pena, transferência de unidade, mudança de regime de prisão, trabalho extramuros, entre outros. Somando-se os benefícios e as liberdades, os mutirões resultaram em 33.462 pessoas beneficiadas.

A partir dessa citação constata-se que o CNJ tem a intenção que todos os

Estados façam mutirões e acompanhem as prisões periodicamente, inclusive dos

apenados provisórios que em muitos Estados correspondem a mais da metade dos

condenados.

Além dos mutirões realizados em Fortaleza-ce o Ministro Gilmar Mendes

assinou um termo de cooperação entre órgãos do Ceará para a criação de mais uma

Casa de Justiça e Cidadania, que se destinam a formar grupos voluntários voltados

a promover ações participativas do indivíduo na solução de seus problemas. A Casa

de Justiça e Cidadania é um projeto que aproxima à comunidade do Judiciário,

permitindo que a justiça se mostre para o cidadão.

A partir dessas medidas, observa-se um movimento do Poder Judiciário em

tentar atuar, efetivamente, na reabilitação dos presos, haja vista ser esta uma das

principais formas de desafogar os presídios nacionais, evitar novos crimes, além de

promover melhorias efetivas na segurança pública do país, pois os apenados

tenderiam a não voltar à criminalidade.

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5 CONCLUSÃO

No desenvolvimento desta pesquisa, pode-se verificar que, ao longo dos

séculos, as penas privativas de liberdade foram mudando, adequando-se às

necessidades da própria sociedade. Assim, no início viu-se não existir sequer esse

tipo de pena, onde as pessoas poderiam pagar com a própria vida de acordo com a

gravidade do crime cometido.

Depois, passou-se a submeter os delinquentes ao arbítrio dos

governantes que associavam as penas à dor humana, com verdadeiros espetáculos

em praça pública, demonstrando aos demais que eles não deveriam entrar no crime,

pois seriam recriminados da mesma forma.

Somente a partir da Idade Média, mas exatamente na Moderna, foram

implantadas medidas de trabalho e disciplina como uma forma de tirar os apenados

da ociosidade, pois a pena de morte não era uma medida eficaz de combater a

miséria e a criminalidade que assolava a sociedade daquela época. A partir de

então, começaram a implantar diversas medidas na tentativa de reconhecimento dos

direitos humanos mesmo quando condenadas por algum crime, pois, de qualquer

modo, é preciso preservar o Princípio da Dignidade da pessoa Humana em qualquer

uma de suas vertentes.

Mesmo com todas as evoluções que ocorreram, ainda nos dias atuais, o

sistema penal está defasado, fazendo-se necessária uma grande reforma

sistemática para que tenha a função que se almeja. Devido a essa precariedade

está se buscando formas alternativas para punir os delinquentes já que os direitos a

liberdade e igualdade estão sendo violados e ferindo a Carta Magna, e com isso

está regredindo ao período primitivo onde se aplicava a pena de tortura.

As penas alternativas não deixam a marca indelével de ex-presidiário,

onde dificultam demasiadamente a reabilitação do indivíduo, visto que as

oportunidades de emprego são remotas e seu convívio social será difícil, isso já pelo

estigma de ser ex-detento. Constata-se o fracasso do sistema penitenciário moderno

de servir como meio reeducativo.

Com entendimento que as penas de reclusão devem ser aplicadas aos

delinquentes de grande periculosidade, além dos benefícios atrás elencados,

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salientam que a aplicação de penas alternativas descongestionará o sistema

carcerário, diminuindo por demasia a quantidade de revolução nos presídios.

As penas alternativas, além de trazerem benefícios para o apenado, no

tocante à volta ao convívio social, trarão benefícios maiores para o Estado, no que

se refere a gastos públicos, ou seja, o Estado terá uma grande economia, já que o

custo de um preso é maior que a de um aluno universitário e poderá suprimir a

contradição que existe entre segurança e reeducação.

As penas alternativas de punição representam a forma mais adequada de

prevenir a reincidência penal, devido a sua função reeducativa, pois se espera com

esse método alcançar o ápice da socialização do apenado, para que esse posto em

liberdade cumpra sua pena sendo vigiado pelo Estado e pela população.

Mesmo com as medidas alternativas, ainda continua tendo um grande

déficit devido à dimensão da crise penal, isso devido ao constante descumprimento

dos direitos humanos. Tanto o Estado quanto à sociedade precisão se rebelar e

caminharem juntas em busca de um sistema penal correto e justo, pois apenas com

a união das partes mais fortes do mundo é que se consegue acabar com muitos

absurdos habituais na atualidade.

Pode-se constatar que a Lei no 9.714/98 implantou modificações

significativas nas penas previstas no Código Penal como um meio de deixar a pena

privativa de liberdade exclusiva para os crimes mais graves e às pessoas mais

perigosas, com delitos considerados de maior periculosidade, capaz de oferecer

maior risco à sociedade caso fique “solto”, no convívio social.

Todavia, nem sempre é possível aplicar as penas alternativas, fazendo-se

necessário analisar a culpabilidade dos apenados, seus antecedentes, conduta

social e personalidade, haja vista que a aplicação desta medida deve trazer

benefícios a todos os envolvidos, ou seja, o culpado, a sociedade e ao Poder

Judiciário. Assim, devem funcionar como um mecanismo eficaz de prevenir o

aumento da criminalidade, que este apenado torne-se ainda mais violento devido ao

convívio com presos de maior criminalidade, tendo um caráter educativo e útil à

sociedade.

No contexto desta análise, concernente à problemática inicialmente

levantada constatou-se que as penas alternativas são importantes à reabilitação do

apenado à medida que não o tira do convívio familiar e social, de seu ambiente de

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trabalho, não lhe confere a alcunha de ex-presidiário, além de concretizar os

avanços implantados no âmbito do Direito Penal brasileiro.

Além disso, é a oportunidade de o Estado ter pessoas realizando

atividades de prestação de serviços a órgãos ou instituições públicos, trazendo

benefícios sociais em diferentes oportunidades. Assim, o apenado possui um

acompanhamento do Estado e da própria sociedade que esperam dele uma real

reintegração, uma nova concepção educativa e social, de cidadão ético e ciente de

seus direitos e deveres enquanto ser integrante de uma comunidade.

Assim, por meio da aplicação da referida lei, o sistema penal brasileiro

assumiu um maior compromisso com o apenado, dando-lhe uma segunda chance de

conviver em sociedade sem ter que se submeter ao regime privativo de liberdade,

além de tentar reduzir as superlotações dos presídios que, ao longo dos anos, estão

se transformando em verdadeiras escolas do crime e pessoas que cometeram

delitos considerados “leves” não precisaria submeter-se a uma pena tão “pesada”

quanto se ver privado de sua liberdade, de pessoas que ama, de seu trabalho,

enfim, de sua vida enquanto ser livre e digno de viver em comunidade.

Entretanto, constatou-se não ser fácil ressocializar apenados, pois é

preciso que eles também estejam dispostos a isso, sem quererem voltar a delinquir,

aceitam o cumprimento da pena alternativa como uma forma de pagar o mal que fez

à sociedade, evitando novos delitos e que seja realmente capaz de se regenerar.

Com isso, a hipótese inicialmente levantada foi confirmada, pois a aplicação das

penas alternativas possui vantagens e desvantagens, tanto para o apenado como

para a sociedade, haja vista ser um processo que envolve pessoas com diferentes

comportamentos e que podem reagir de forma diferente quando submetidos a ela.

Ciente de que este trabalho alcançou a proposta inicialmente delineada,

mas que ainda pode ser aperfeiçoado em outras vertentes de análise, deixa-se

como sugestão para estudos futuros, uma pesquisa complementar a esta, aplicando-

se um instrumento de coleta de dados, provavelmente o questionário ou roteiro de

entrevistas, com alguns doutrinários no assunto, identificando e analisando suas

principais opiniões e percepções sobre a importância das penas alternativas ao

processo de reabilitação do apenado.

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