faculdade aiece, como uma delas iria iniciar o segundo grau e se preparar para a universidade,...
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1FACULDADE AIEC
Associação Internacional de Educação Continuada
Faculdade AIEC
PresidenteVicente Nogueira Filho Diretor FinanceiroFrancisco Cabral de Menezes Júnior Diretora AdministrativaLéa Postiga Nogueira Diretora de Graduação Ruth Alves Franklin Almeida Diretor de Pós-Graduação Alaciel Franklin Almeida Diretor de Pesquisa e AvaliaçãoBenito Nino Bisio
Ideias em Gestão é uma publicação da Faculdade AIECISSN 2236-8183
EditorVicente Nogueira Filho
Coordenação EditorialArtur Roman
Direção de ArteAna Cristina Almeida
Projeto GráficoHeto Carvalho
Revisão Ângelo Edval Roman Orly Marion Webber Milani
FinalizaçãoÂngela Roman
Fotos: capa e entrevista Fabi Caiado
Foto: editorial Cleber Medeiros
ImpressãoGráfica Infante – Curitiba - PR
Diagramação e arteLado A estúdio de criação | 41 [email protected]
Edição nº 12 – Julho/2013Tiragem: 5.000 exemplares
ContatoRevista Ideias em GestãoCLSW 105 - Bloco A - Edifício Espaço 105 - 1º andar Setor Sudoeste - CEP 70.670-431 - Brasília - DFTelefone: (61) 3403-0000E-mail: [email protected]
Os artigos publicados na Ideias em Gestão são de responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam necessariamente a opinião da AIEC.
ÍNDICE Apresentação
Editorial
Entrevista Antonio Joaquim Gomes Caiado Gerente Administrativo e Financeiro da Odebrecht Serviços no Exterior
Gestão contemporânea Microgestão – A armadilha do controle Edson Bündchen
Gestão da inovação Inovação = inspiração + transpiração Renata Iwamizu
Gestão de projetos “Até às quinhentas” Jérémie Nicoläe Dron
Gestão escolar Os desafios na gestão das escolas públicas Angela Luiz Lopes, Maria Maura Gomes Barbosa e Roberta Panico
Gestão da carreira Gestão efetiva da sua carreira: se você não faz, deveria! Wang Ching
Gestão ambiental A gestão ambiental no contexto da contradição humana Evandro Cyrillo Marques
Gestão de mídias sociais Mídias sociais e suas possibilidades mercadológicas Nayane Monteiro e W. Gabriel de Oliveira
Gestão da Segurança da Informação Protegendo a informação em um mundo digital André Mazeron
Gestão da cultura Índios do Acre: em busca das raízes Veronika Brunis
Gestão da sustentabilidade Desenvolvimento com prosperidade Altair Assumpção
EAD Universidade CAIXA: capacitando pessoas e desenvolvendo seres humanos Ana Telma Sobreira do Monte
E então... Artur Roman
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2 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
APRESENTAÇÃO
A Ideias em Gestão, revista da Faculdade AIEC, publica entrevista e artigos com experiências, pesquisas e
aprendizagens no universo organizacional e no mundo dos negócios.
Periodicidade: três edições por ano, em março, julho e novembro.
Tiragem: 5.000 exemplares.
Público-alvo: empresários, dirigentes e funcionários de organizações privadas e públicas, administradores
formados pela Faculdade AIEC, alunos da Instituição.
Distribuição: gratuita para o público selecionado em todas as regiões do Brasil.
Autores: empresários, dirigentes de empresas, profissionais com experiência de mercado, pesquisadores,
pensadores e professores da área de administração, convidados especiais, administradores formados na
Faculdade AIEC, professores, tutores e alunos.
Temas dos artigos: relacionados às diversas áreas da administração como Gestão de Pessoas, Educação
corporativa, Marketing, Finanças, Produção, Serviços, Comunicação, Contabilidade, Controladoria,
Logística, Responsabilidade socioambiental, Empreendedorismo, etc.
Natureza dos artigos: opinativo, reflexivo, descritivo ou analítico.
Tamanho dos artigos: até 9.000 caracteres (com espaços).
Para receber a Ideias em Gestão, escreva para [email protected]
Para acessar a versão virtual da Ideias em Gestão, visite o site www.aiec.br
Para submeter artigos, contate o Coordenador Editorial: [email protected]
Ao ilustrar esta edição com micromosaicos de Celita Alberti, Audrey Becker Koppe, Heloisa Monte Serrat Bindo
e Marisa Marini Giacomini, busquei, em algumas páginas, apresentar detalhes que permitissem ao leitor um olhar
mais próximo do minucioso trabalho de combinação das micropeças de vidrotil, smalti, pedras naturais e pastilhas
de vidro e de porcelana. Em outras páginas, procurei mostrar o belíssimo resultado das obras das artistas.
Ana Cristina Almeida – Diretora de Arte
3FACULDADE AIEC
Editorial
Cara leitora, caro leitor
As ilustrações desta edição foram elaboradas a
partir de fotos de micromosaicos de Celita Alberti
e de alunas, artistas de Curitiba. A riqueza de
detalhes e a multiplicidade de cores dos trabalhos
se harmonizam com a diversidade de temas
tratados nesta Revista.
Antonio Caiado, Gerente da Odebrecht Serviços no
Exterior, em uma entrevista instigante, compartilha
sua experiência profissional e familiar em quase 30
anos de atuação em mais de uma dezena de países.
Ana Telma, Superintendente da CAIXA, apresenta
os programas de capacitação da empresa,
com destaque para as iniciativas inovadoras de
aprendizagem colaborativa com a utilização da
tecnologia wiki. A crença da CAIXA na educação
a distância está demonstrada não apenas nos
programas que oferece, mas também pela
quantidade de funcionários formados na AIEC,
muitos deles gestores.
Se o artigo de Evandro alerta para a necessidade
de as empresas conciliarem competitividade com
responsabilidade social e ambiental, Altair nos
insere no universo da economia criativa e suas
possibilidades em um mundo que cada vez mais se
preocupa com sustentabilidade. Edson discute a
disfunção do excesso de controle nas organizações
em uma reflexão elaborada a partir de uma sólida
formação acadêmica, aliada a sua experiência
como alto executivo do Banco do Brasil.
Veronika contagia sua alma germânica de
brasilidade ao descrever a experiência em gestão
dos índios do Acre que encontraram formas
sustentáveis de preservação de sua cultura.
Jérémie nos conta sua aventura como gestor
de um programa de cooperação internacional
em Guiné-Bissau.
A coaching Wang Ching, de Brasília, aponta de
maneira didática como fazer a gestão da carreira
profissional.
A gestão escolar e educacional é tratada por
dirigente e técnicas da Comunidade Educativa
CEDAC, OSCIP que desenvolve projetos na área
de educação pública. Vem de Fortaleza o artigo de
Nayane e Gabriel sobre a importância da gestão
estratégica das redes sociais em projetos de
marketing.
Gostamos sempre de apresentar artigos de
profissionais que estudaram na AIEC. André,
aluno de Porto Alegre, nos alerta sobre a
necessidade de nos protegermos de crimes
cibernéticos. Renata, jovem empresária que
participou de nossa Pós-graduação em Minas,
narra sua dedicação exemplar para desenvolver
um produto revolucionário na área de confecção.
Ficamos felizes por estar contribuindo com a
formação de empreendedores, um de nossos
objetivos quando criamos a Faculdade AIEC.
Boa leitura!
Professor Vicente Nogueira Filho
Editor
4 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Entrevista
1. O senhor já atuou em projetos
da Odebrecht no Chile, Patagônia,
Malásia, Angola, Dubai, Líbia,
Gana, Guiné, Arábia Saudita,
Sudão e Abu Dabi e atualmente
está em Moçambique. São 26 anos
trabalhando fora do Brasil. Dessas
experiências, quais foram as mais
marcantes para o senhor e sua família?
Antonio Caiado - No final de 87, fui para a
Patagônia, Argentina, em minha primeira
experiência de trabalho, ainda sozinho, em
um país estrangeiro. A beleza do local com
suas plantações de maçã ficou marcada
em minha memória. Em 88, fui para o
Chile para a construção da hidroelétrica
de Pehuenche. A mobilização para
trabalhar e levar a família, além de
enfrentar um ambiente, cultura e clima
diferentes, sem dominar o idioma local, foi
um grande desafio. Minhas filhas tinham
cinco e três anos de idade. Foi um período
que nos marcaria para sempre, pois
aprendemos a respeitar a diversidade e
a buscar o entendimento e a convivência
com as diferenças. Não menos marcante
foi o tempo que vivemos na Malásia,
na Ilha do Borneo, região de cultura
muçulmana e chinesa.
- Gerente Administrativo e Financeiro da Odebrecht Serviços no Exterior
- Graduado em Engenharia Elétrica e Administração de Empresas, com formação na área de gestão de pessoas,
negócios, finanças e gerenciamento de projetos.negócios, finanças e gerenciamento de projetos.
ENGENHEIRO
BRASILEIRO QUE ATUA
PROFISSIONALMENTE
NO EXTERIOR HÁ MAIS
DE DUAS DÉCADAS
COMPARTILHA SUAS
EXPERIÊNCIAS E
APRENDIZAGENS.
5FACULDADE AIEC
“
”
Conhecer os lendários caçadores
de cabeças com suas tatuagens
espetaculares, cruzar o rio nos long boats
(ônibus fluvial), visitar as long houses
onde moram centenas de pessoas em
comum ao longo do rio, conhecer as
culturas dos Orang Ulus, Ibans e Bidyuhs,
suas danças e rituais representaram
grande experiência em nossas vidas.
2. Como foi o processo de adaptação
de suas filhas com essas mudanças?
Antonio Caiado - Minhas filhas
nasceram em Carajás, no Pará, quando
construíamos a infraestrutura do Projeto
Ferro Carajás. Acostumaram-se desde
cedo às mudanças e a escolas e amigos
diferentes de tempos em tempos. Não
tiveram, como a maioria das crianças, um
mesmo grupo de colegas e amigos que
as acompanhassem durante a infância e
juventude. As duas estiveram conosco
até o final de 97, quando fui para Angola,
que enfrentava um período de guerra
civil. Minhas filhas tinham 15 e 12 anos
e, como uma delas iria iniciar o segundo
grau e se preparar para a universidade,
julgamos que deixá-las no Brasil era a
melhor opção. A adaptação nesse retorno
ao País foi tranquila. A experiência e o
conhecimento obtidos com a convivência
com culturas diferentes lhes trouxeram
um ganho muito significativo. Gabrielle
formou-se em relações internacionais
e especializou-se em comércio exterior.
Trabalha na Odebrecht há oito anos e
atualmente está em Moçambique na
construção do Aeroporto Internacional
de Nacala. Fabianne formou-se em
educação física e trabalha com fotografia,
que é sua paixão, além de aulas de inglês
e dança.
3. A Odebrecht também desenvolve
obras em países do primeiro mundo?
Antonio Caiado - A empresa iniciou a
sua atuação pelos países com influência
geopolítica brasileira. Uma vez
consolidada essa estratégia, ampliou as
operações para a América do Norte e
Europa. A Odebrecht atua com sucesso
nos Estados Unidos há mais de 20 anos,
tendo em seu portfólio a construção do
Aeroporto de Miami, Metro Mover, obras
de emergência em Nova Orleans. E há
mais de 30 anos em Portugal, executando
obras como o Metrô de Lisboa e a
segunda travessia do Rio Tejo.
4. O que explica a presença da
Odebrecht no exterior há tantos
anos?
Antonio Caiado - As empresas
brasileiras têm expertise em grandes
obras civis, equiparando-se às melhores
do mundo. A Odebrecht incorpora
regularmente as mais novas técnicas de
construção e gerenciamento de projeto
do mundo. Essa atualização se realiza
com a participação em seminários,
feiras e cursos externos, e também
pelo intercâmbio interno entre as
equipes nas chamadas comunidades
de conhecimento, que se reúnem
periodicamente para intercâmbio de
experiências e compartilhamento das
inovações nos campos de atuação
da empresa. Um dos caminhos para
manter-se atualizada tem sido também
a celebração de parcerias com empresas
detentoras de novas tecnologias.
O
PROFISSIONAL,
QUANDO CHEGA
NO EXTERIOR E SE
CONSCIENTIZA DE
QUE ESTÁ LONGE
DA FAMÍLIA, DE
SEUS AMIGOS, DO
BAR DA ESQUINA,
EM UM LOCAL DE
CULTURA E IDIOMA
DIFERENTES,
PRATICAMENTE
‘PERDE O CHÃO’.
É PRECISO SE
REINVENTAR E
REAPRENDER A
VIVER.
6 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
5. Quais as vantagens e dificuldades
para um profissional brasileiro de sua
área atuar no exterior?
Antonio Caiado - O profissional,
quando chega no exterior e se
conscientiza de que está longe da família,
de seus amigos, do bar da esquina, em
um local de cultura e idioma diferentes,
praticamente “perde o chão”. A
adaptação da família ao novo ambiente,
escola diferente, novas amizades e
novos costumes são fatores também
de grande impacto. É preciso muito
esforço para superar as dificuldades
iniciais. A maioria dos grandes projetos
normalmente ocorre em regiões
inóspitas e com pouca infraestrutura.
É preciso se reinventar e reaprender a
viver. A competência técnica deixa de ser
o único ponto importante, pois torna-se
fundamental a capacidade de se adaptar
à nova realidade. Algumas vantagens
em atuar no exterior, além da parte
financeira e da possibilidade de adquirir
novas competências e aperfeiçoar
um novo idioma, é a possibilidade de
conhecer novos lugares, culturas e povos
diferentes.
6. Atualmente, o mercado de
construção civil no Brasil está
aquecido. Isso está dificultando o
recrutamento de profissionais para
trabalhar em obras no exterior?
Antonio Caiado - A disponibilidade de
mais vagas no Brasil traz ganhos salariais
para os profissionais. Para atraí-los
a trabalhar no exterior e motivá-los
ao desafio, você tem que oferecer
vantagens.
É importante observar, porém, que a
atuação das empresas brasileiras no
exterior se transformou nos últimos
anos. Um dos motivadores dessa
mudança é o custo envolvido. Elas
aprenderam a utilizar trabalhadores
de outros países, de forma que a
dependência da mão de obra brasileira
diminuiu muito. A Mendes Junior,
quando executou obras no Iraque nos
anos 80, mobilizou muita mão de obra
brasileira. No projeto do aeroporto
de Trípoli, na Líbia em 2008 e 2009,
chegamos a utilizar trabalhadores
de 22 nacionalidades, especialmente
tailandeses, vietnamitas, egípcios e
turcos. Hoje, no projeto Moatize, em
Moçambique, temos integrantes de 11
nacionalidades, porém a mão de obra
básica é totalmente moçambicana.
7. Como são os africanos como
trabalhadores?
Antonio Caiado - A história da
África está marcada por opressão,
colonialismo, exploração e racismo,
além da divisão territorial efetuada
pelos colonizadores, que não levou em
consideração as etnias, usos e costumes
das diversas tribos e culturas existentes.
Esse cenário levou praticamente todo
o continente a viver em guerra durante
longo período de tempo. Em vez de se
prepararem para um futuro melhor, as
comunidades tinham que lutar umas
contra as outras pela sobrevivência.
A mão de obra básica no interior dos
países africanos está voltada para a
agricultura de sobrevivência.
A HISTÓRIA
DA ÁFRICA ESTÁ
MARCADA PELO
COLONIALISMO,
EXPLORAÇÃO,
RACISMO E
GUERRAS. ACHO
IMPORTANTE,
PORÉM, DESTACAR
A DISPOSIÇÃO DOS
TRABALHADORES
AFRICANOS PARA
RECUPERAREM
O TEMPO QUE
FOI PERDIDO
NOS CONFLITOS
ARMADOS E A
VONTADE DE
CONQUISTAREM
MELHORES
CONDIÇÕES DE
VIDA.
7FACULDADE AIEC
“
”
Melhores índices de produtividade
ainda demandarão tempo, até que
as necessidades básicas - educação,
saneamento, saúde - sejam atendidas
e se desenvolva um trabalho contínuo
e permanente de capacitação. Acho
importante, porém, destacar a
disposição desses trabalhadores para
recuperarem o tempo que foi perdido
nos conflitos armados e a vontade de
conquistarem melhores condições de
vida.
8. Como a empresa lida com essa
situação?
Antonio Caiado - A Odebrecht
desenvolve um programa de capacitação
que, além da formação profissional,
orienta a pessoa para a vida, ensinando
noções básicas de saúde, higiene,
segurança do trabalho, psicologia do
trabalho, qualidade e trabalho em
equipe. Temos obtido bons resultados
com esse programa, que oferece
oportunidade de engajamento de
grande parte de jovens no mercado de
trabalho formal, com a possibilidade
de ganhos e melhoria da qualidade
de vida. Desenvolvemos também
programas de elevação de escolaridade,
de inclusão social e vários outros que
buscam qualificar a mão de obra da
região onde atuamos, de forma que
também seja minimizado o movimento
migratório interno no país que, às vezes,
prejudica uma determinada região pelo
crescimento abrupto e temporário.
Graças a esses programas e também
ao treinamento em serviço, os
trabalhadores, em dois anos, estão
qualificados e preparados. Os líderes das
equipes são orientados a desenvolver o
papel de educadores e preparadores de
profissionais para o futuro, pois estes
serão os responsáveis pela mudança
da estrutura profissional do país,
contribuindo de forma decisiva para o
desenvolvimento de suas comunidades.
9. Qual a imagem que se faz de nosso
país, nesses diversos países em que o
senhor viveu?
Antonio Caiado - Os brasileiros são
bem-vindos em praticamente todos
os países em que tive oportunidade de
trabalhar. Os presidentes Fernando
Henrique e Lula colocaram o Brasil
no cenário político mundial pelas
relações internacionais estabelecidas
e, principalmente, em suas incursões
no continente africano, incentivando
as trocas e o investimento de empresas
brasileiras. A identidade brasileira
ainda está muito ligada ao futebol e
ao carnaval, mas, nos últimos anos,
o Brasil, apesar de suas carências e
da necessidade urgente de reformas
estruturais, cresceu muito aos olhos do
mundo, sendo visto como uma potência
mundial, com grande capacidade de
empreender, de implementar mudanças
e também de influenciar os demais
países.
NO EXTERIOR,
A IDENTIDADE
BRASILEIRA AINDA
ESTÁ MUITO
LIGADA AO
FUTEBOL E AO
CARNAVAL, MAS,
NOS ÚLTIMOS
ANOS, O BRASIL,
APESAR DE SUAS
CARÊNCIAS E
DA NECESSIDADE
URGENTE DE
REFORMAS
ESTRUTURAIS,
CRESCEU MUITO
AOS OLHOS DO
MUNDO.
8 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão contemporânea
Desde que se tornou uma
disciplina estruturada, a
Administração vem passando
por transformações, grande parte delas
espelhadas nas chamadas “Escolas”,
sintetizadas na Escola Clássica,
evoluindo para a Escola de Relações
Humanas, Estrutural e Sistêmica,
esta última incorporando elementos
mais contemporâneos, tais como a
persistente complexidade, ambiguidade
de comportamentos, inovações e
rupturas em relação ao tradicional e ao já
estabelecido.
O ambiente contemporâneo, mais
plástico e mutante, afeta diretamente
o modo e a forma como os atores
organizacionais se comportam, impondo
a pesquisadores e homens práticos em
gestão um novo olhar sobre o modo
de tornar as organizações, sejam elas
públicas ou privadas, mais eficientes,
eficazes e efetivas.
Em toda essa evolução, o
comportamento do gestor teve papel
fundamental na definição, sustentação
ou declínio de determinada tendência.
Coube, sempre, ao gerente, absorver
as mudanças, assimilá-las, implementá-
las e ajustá-las aos diversos contextos
nos quais ocorriam as transformações.
É o gerente que, sendo influenciado
diretamente pela correnteza das
mudanças, tem a missão de temperar
o tradicional com o novo e produzir
resultados a partir de recursos sempre e
cada vez mais escassos.
A teoria na prática
Reconhecendo o papel de protagonista
do gestor moderno, o teórico canadense
Henry Mintzberg, na década de 70 do
século passado, no artigo The Manager’s
Job – Folklore and Fact, questionava
a visão de que gerentes organizam,
coordenam, planejam e controlam. Para
esse autor, a realidade daquela época
sugeria que os gerentes improvisavam
muito e buscavam adaptar-se às
mudanças, fazendo muita coisa ao
mesmo tempo e dedicando bem menos
tempo, do que dizia a teoria, ao pensar
racional e reflexivo.
IMPORTANTE FUNÇÃO
ADMINISTRATIVA,
O CONTROLE
EXAGERADO PODE
COMPROMETER A
QUALIDADE DA GESTÃO
E OS RESULTADOS DA
ORGANIZAÇÃO.
Edson Bündchen
9FACULDADE AIEC
“
”
Mais recentemente, sob o impacto
das novas tecnologias de informação
e comunicação, Mintzberg voltou ao
tema e ratificou o que havia observado
há quase 40 anos, ou seja, os gestores
continuam trabalhando da mesma
forma, não obstante as brutais
alterações no ambiente de negócios e as
mudanças tecnológicas ocorridas.
No Brasil, Paulo Roberto Motta chamou
de mito aquilo que Mintzberg havia
chamado de folclore. Motta descreveu
dez práticas de gestão observadas no
trabalho gerencial que contradizem
a ideia concebida em teoria. E as
conclusões aproximam-se muito das
conclusões do professor canadense,
especialmente naquilo que concerne ao
impacto do imprevisto, do não rotineiro,
sobre o dia a dia do administrador. É
sobre a realidade desse ator, do ponto
de vista de uma de suas práticas mais
essenciais, o controle, que tratarei a
seguir.
Realidade complexa
O gerente opera cercado por uma
complexa realidade e é acometido pelas
intermitentes mudanças no ambiente
em que atua. E precisa conciliar e
reproduzir padrões de eficiência num
cenário que muda rapidamente e que
inibe ações totalmente planejadas
e programadas, uma vez que a
previsibilidade dos eventos é cada vez
menor.
Nessas circunstâncias, muitos gerentes
têm caído na armadilha do excesso de
controle, na busca compreensível por
um mínimo de segurança em relação ao
aumento no volume de trabalho, pressão
por prazos e conquista de resultados.
É curioso perceber que, não obstante
a vasta literatura sobre o tema sugerir
a disfuncionalidade do excesso
de controle, ainda existe forte
predisposição para essa prática. Essa
preferência quase que instintiva pelo
controle é compreensível. O cientista
Edward O. Wilson demonstrou que
é ancestral a nossa propensão a ver
o mundo de maneira local, quer em
termos de espaço, quer em termos
de tempo, e isso tem tudo a ver com a
compulsão pelo controle, de sorte que o
mundo nos pareça menos ameaçador.
É importante notar que o controle no
mundo do trabalho é tão antigo quanto
antigo é o trabalho. De contornos
rudimentares nos primórdios da
organização social, o controle adquiriu
status científico com os estudos de
Frederick Winslow Taylor, engenheiro
mecânico estadunidense, e passou
a integrar definitivamente o padrão
recorrente da chamada moderna gestão.
Atualmente, poucos admitiriam
conceber um corpo de competências
em gestão esvaziado das noções de
controle, acompanhamento, feedback, e
todo o corolário que nutre a idéia de que,
se algo precisa ser feito, esse algo precisa
ser claramente delimitado para que haja
a correta verificação se as especificações
foram atendidas.
MINTZBERG
QUESTIONA A VISÃO
DE QUE GERENTES
ORGANIZAM,
COORDENAM,
PLANEJAM E
CONTROLAM.
PARA ESSE AUTOR,
OS GERENTES
IMPROVISAM
MUITO E BUSCAM
ADAPTAR-SE
ÀS MUDANÇAS,
FAZENDO MUITA
COISA AO
MESMO TEMPO E
DEDICANDO BEM
MENOS TEMPO,
DO QUE DIZ A
TEORIA, AO PENSAR
REFLEXIVO.
10 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
Humanização do controle
Assim compreendido,
não se está aqui
falando de controle
no sentido negativo com
que o termo por vezes tem
sido tratado por especialistas em
administração, justamente influenciados
pelos excessos, os quais prefiro chamar
de armadilhas. Está-se falando de uma
prática absolutamente indispensável
ao corpo de conhecimentos e práticas
consagradas da gestão eficaz, mas que,
paradoxalmente, torna-se disfuncional
pelo seu uso exagerado.
Combate-se, aqui, então, justamente o
excesso, a forma de acompanhamento
que anula a criatividade e sufoca a
iniciativa. Na perspectiva que proponho,
o controle se despe da roupagem
mais dura e inflexível e adquire uma
feição mais associada a práticas de
encorajamento, apoio e delegação de
poderes, elementos essenciais para
aquilo que chamo de humanização do
controle.
Chamo de armadilha o uso excessivo do
controle porque, em vez de aumentar
o conhecimento sobre o trabalho e
a produtividade dos empregados,
a microgestão pelo controle pode
provocar justamente o seu oposto
e sufocar a criatividade e a iniciativa
da equipe, uma vez que carrega a
pressuposição equivocada de que as
pessoas são incapazes de buscar a
superação de seus limites sem que haja
uma forte indução pelo monitoramento
por parte das chefias.
Essa desconfiança na capacidade
dos funcionários é notada e logo se
transforma no padrão recorrente,
ou seja, para que haja desempenho, é
preciso controle e, diante do controle,
a entrega se resume àquilo que é
pedido. Nas circunstâncias acima
apontadas, a armadilha está justamente
no desempenho esperado a partir de
um acompanhamento mais rígido sobre
a equipe. É a chamada profecia que se
autorrealiza.
Contradições criadoras e criativas
Nesse círculo vicioso, o excesso
de controle estabelece um piso de
desempenho, nunca um teto. Como o
controle foca na meta estabelecida e
não na meta possível, ele desperdiça
todo o potencial que determinadas
circunstâncias oferecem, ou seja, impede
que pessoas comuns realizem coisas
incomuns por negligenciar o verdadeiro
potencial humano que a sinergia de uma
liderança efetiva pode produzir.
Num ambiente assim, são possíveis e
observáveis os chamados “pactos de
mediocridade” tão comuns, infelizmente,
no mundo organizacional. Sair das
amarras da falta de confiança que nutre
seu filho dileto, o excesso de controle, é
um exercício constante ao qual deve se
entregar o gestor.
CHAMO DE
ARMADILHA O USO
EXCESSIVO DO
CONTROLE, QUE
PODE SUFOCAR
A CRIATIVIDADE E
A INICIATIVA DA
EQUIPE, UMA VEZ
QUE CARREGA A
PRESSUPOSIÇÃO
EQUIVOCADA DE
QUE AS PESSOAS
SÃO INCAPAZES
DE BUSCAR A
SUPERAÇÃO DE
SEUS LIMITES
SEM QUE SEJAM
INDUZIDAS E
MONITORADAS POR
SUAS CHEFIAS.
11FACULDADE AIEC
“
”
De outra parte,
empresas que buscam
melhores resultados,
precisam passar a tratar o
erro de um modo mais construtivo,
permitindo a formação de lideranças
focadas não somente no curto
prazo, mas que busquem fomentar
ambientes ricos em contradições
criadoras e criativas, onde o dissenso
necessariamente não seja disfuncional,
mas sintoma da necessária vitalidade
que todo o organismo precisa ter
para manejar seu metabolismo de
sobrevivência.
Apoio para fazer mais
Precisa-se, mais do que nunca, de mais
liderança e menos microgestão. Muito
embora esta última seja atraente em
tempos de turbulência por oferecer um
falso conforto – eu controlo, portanto
domino a situação –, a verdadeira
alternativa para enfrentar o presente e
o futuro é desenvolver ambientes nos
quais as pessoas consigam ir além do
que foi prescrito. Elas podem muito
mais, se forem lideradas a partir da
perspectiva de que cada funcionário,
individualmente e em grupo, pode
estabelecer novos patamares e
parâmetros de desempenho, desde que
tenha espaço, confiança e apoio para
fazer muito mais do que simplesmente o
solicitado.
POR QUE
AINDA O EXCESSO
DE CONTROLE
IMPERA EM MUITAS
ORGANIZAÇÕES?
POR QUE PARECE
TÃO DIFÍCIL
DESCENTRALIZAR
E DAR PODER ÀS
EQUIPES? OUSO
DIZER QUE ISSO
SE DÁ PELA FALTA
DE CAPACIDADE
E TAMBÉM DE
CORAGEM DOS
GESTORES.
Edson Bündchen
Superintendente Estadual do Banco
do Brasil em Goiás. Mestre em
Administração, MBA Executivo em
Gestão Avançada de Negócios e de
Agronegócios, Formação Geral para
Altos Executivos (FGV), Bacharel em
Administração.
Então, por que ainda o controle, ou
o seu excesso, impera em muitas
organizações? Por que parece tão difícil
descentralizar, delegar e dar poder
às equipes? Muito embora a resposta
não seja simples nem haja espaço no
presente texto para uma investigação
mais profunda, ouso dizer que isso se dá
pela falta de capacidade e também de
coragem dos gestores.
É muito tênue a linha que separa
a delegação de poder da perda de
controle, no seu sentido mais deletério.
Dessa forma, os gerentes não “dão o
salto”, não se entregam ao “estado de
fluxo” do qual fala Csikszentmihalyi e
não atravessam a “ponte” que os separa
dos liderados. Sem essa travessia, sem
esse novo olhar sobre as possibilidades
surgidas pelo ambiente no qual os
trabalhadores se desvencilham cada
vez mais dos grilhões do Fordismo\
Taylorismo, o controle continuará
disfuncional.
Entretanto, há exemplos promissores
de que lideranças baseadas no
compartilhamento do poder e na
construção coletiva das soluções
emergem em diferentes cantos do
planeta. Mais do que um sintoma
de novos tempos, o uso adequado
do controle nas organizações pode
significar um importante farol a iluminar
práticas por vezes já enferrujadas de
gestão e que precisam de um sopro
constante de renovação.
12 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão da inovação
12 IDEIAS EM GESTÃO
Tenho 30 anos e há dez iniciei
minha carreira profissional
no segmento têxtil. No ano
passado, lancei o Moovexx, conceito
inovador de construção de roupas e
acessórios que promete revolucionar
os padrões de conforto já existentes.
Patenteei e lancei o sistema na FENIN
2012 (Feira Nacional da Indústria
da Moda), uma das principais feiras
de negócios do segmento têxtil que
acontece semestralmente em Gramado
(RS). Desde então, o Moovexx vem
transformando minha vida profissional.
O objetivo deste artigo é compartilhar
com os leitores minha trajetória
profissional até chegar à concepção do
Moovexx. Creio que essa experiência é
um exemplo claro de que 90% de toda
criação é suor e só 10% inspiração.
Da Nutrição à Moda
Nasci em São Paulo e me mudei com
meus pais para o interior de Minas Gerais
com dois anos. Voltei a São Paulo para
cursar Nutrição na USP, mas desisti
ainda no primeiro ano para iniciar o
curso de Design de Moda na Faculdade
Santa Marcelina.
Sou apaixonada pela geometria e lógica
das formas. Já no 1º ano da faculdade, fiz
um estágio em modelagem e moulage.
No 2º ano, assumi o setor de modelagem
da indústria de calças masculinas do
meu pai em Iturama (MG). Viajava quase
700 km de ônibus toda sexta e domingo
à noite, pois estudava em São Paulo
e trabalhava nos finais de semana em
Minas com meu pai. A empresa, porém,
estava em dificuldades financeiras e o
encerramento dela foi inevitável.
DESENVOLVIMENTO DE
PRODUTO INOVADOR
IMPULSIONA
CARREIRA DE JOVEM
EMPREENDEDORA DA
ÁREA DE CONFECÇÕES.
Renata Iwamizu
13FACULDADE AIEC 13FACULDADE AIEC
“
”
Em busca de um alívio financeiro, me
inscrevi, com minha colega de curso,
Maria Luiza Passos, no “Soy Loco por
ti America”, concurso para jovens
estilistas, de âmbito nacional, realizado
pelo Brasília Shopping, com jurados do
porte dos estilistas Jun Nakao e Oscar
Metsavaht. Fomos vencedoras com o
tema “Simon Bolívar: Descobridor da
América Espanhola”.
Em 2003, fundei a minha firma, a KANZO,
comércio e indústria de confecções
masculinas, com sede em Iturama (MG)
e atuação nos estados de MG, SP, PR,
RS, MS, CE, PE e PA. Tive o cuidado
de escolher um nome parecido com
o da empresa de meu pai, pois ele era
respeitado no mercado, o que facilitaria
a aceitação do meu produto.
No 3º ano de faculdade, fui vencedora
de outra competição, promovida, desta
vez, pela Tavex (antiga Santista Têxtil),
com uma narrativa sobre a história do
jeans. Recebi como prêmio o patrocínio
para meu trabalho de conclusão de
curso e um convite para ingressar em um
programa de trainee da Tavex. Até hoje
mantenho vínculo profissional com a
multinacional, prestando serviços para a
área de pesquisa e tendências de moda.
Em 2007, após concluir um MBA em
Gestão Empresarial da Faculdade AIEC,
elaborei um plano de negócios baseado
no crescimento da KANZO e fui aceita
em uma incubadora de empresas em São
José do Rio Preto (SP), onde tive acesso
a consultorias especializadas, abrindo
margem para a recente abertura de uma
loja-showroom da KANZO.
O Moovexx
Não me considero uma artista, que fica
esperando a chegada da inspiração.
Nos momentos de criação, procuro
sempre desvendar as necessidades do
consumidor. No caso do Moovexx, meu
objetivo era atender bem a um público
masculino experiente e exigente, que
não consome por impulso nem sofre
para ter estilo. Esse público sinalizava:
conforto e qualidade precedem a
estética. O Moovexx foi a resposta a essa
demanda.
Você já parou para pensar quantas
horas do dia você passa sentado? E o
que acontece com o seu corpo quando
você se senta? A medida da sua cintura
é outra, bem diferente do tamanho da
calça que você comprou quando estava
de pé. Aparentemente convencionais,
os produtos Moovexx são especiais
porque possuem um sistema de
elástico embutido no cós da calça, que
acompanha o movimento do corpo. O
resultado é que design e conforto se
harmonizam, proporcionando bem-
estar durante todo o dia, esteja a pessoa
em pé ou sentada.
A editora de moda da revista VIP, Marília
Mello, escreveu na edição de novembro
de 2012: “Um sistema de elástico interno
que expande quando a pessoa se senta
e encolhe quando está de pé. Brilhante,
não?...O sistema batizado de Moovexx
faz com que a cintura se expanda cerca
de 6 cm, o equivalente a um tamanho e
meio a mais, sem que ninguém note...”.
OS PRODUTOS
MOOVEXX SÃO
ESPECIAIS PORQUE
POSSUEM UM
SISTEMA DE
ELÁSTICO EMBUTIDO
NO CÓS DA CALÇA,
QUE ACOMPANHA
O MOVIMENTO
DO CORPO. O
RESULTADO É
QUE DESIGN E
CONFORTO SE
HARMONIZAM,
PROPORCIONANDO
BEM-ESTAR
DURANTE TODO
O DIA, ESTEJA A
PESSOA EM PÉ OU
SENTADA.
14 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
14 IDEIAS EM GESTÃO
Moovexx na Itália e EUA
Fiz algumas reuniões internacionais
desafiadoras para apresentar o Moovexx.
Em Milão, mostrei minha criação para
Nicola Lamorgese, que ocupa um cargo
respeitável na Armani. Lamorgese fez
comentários muito positivos sobre o
conceito e o produto. Ficamos de voltar
a falar.
Estive também em Nova York para uma
reunião na sede da Brooksbrothers Inc.
com Mrs. Joanne Martorelli, gerente
de produto, e que convidou na ocasião
outros quatro profissionais para que
conhecessem o sistema. M. R. Shafran,
Technical Designer foi uma delas.
Ficaram visivelmente impressionados
com o produto Moovexx. Discutiram as
linhas de produção em que poderiam
aplicá-lo e pediram autorização para
filmar a calça para mostrar a outros
gerentes. Ainda não sei dizer no que isso
vai dar, mas adquiri confiança em relação
ao potencial do produto no mercado
brasileiro.
Resultados
Os produtos Moovexx já se tornaram os
mais vendidos da coleção desde o seu
lançamento, o que é surpreendente, pois
ainda não foi ultrapassado o período de
assimilação da ideia pelo consumidor
final. A marca KANZO, que foi a pioneira
no lançamento do sistema, encontra-se
em aumento de produção, faturamento e
número de clientes.
O Moovexx, porém, não se limita
à marca KANZO, nem mesmo ao
segmento masculino. O principal
diferencial desse empreendimento
vem sendo o pioneirismo. O projeto
já está sendo desenvolvido em outros
mercados, potencializando as chances de
sucesso. O intuito é aplicar o sistema em
diversas áreas: esportiva, feminina, moda
gestante, infantil e vestuário profissional.
No momento estou em negociações
com grandes marcas, não limitadas ao
segmento masculino, que foi o berço do
Moovexx. A perspectiva é promissora.
A primeira parceria já formalizada foi
com a CS, empresa fabricante de cintos
dirigida por Cesar Trucollo. Neste
ano, colocaremos o cinto Moovexx no
mercado. Nossa intenção é fortalecer
a atuação no mercado brasileiro e
internacionalizar o Moovexx.
Lições
Em meu caminho de desenvolvimento,
conheci muitas pessoas especiais. Foram
exemplos para mim, alguns “professores
pardais”, que criaram produtos
interessantíssimos informalmente e, por
indisposição ou falta de crença no que
desenvolveram, deixaram suas criações
“na gaveta”.
Acreditar na própria criação a ponto
de dispor do seu tempo e contar com o
apoio de todos os envolvidos no processo
para realizá-lo e apresentá-lo talvez seja
a parte mais árdua e, ao mesmo tempo,
prazerosa do trabalho. Para desenvolver
e transformar a ideia em produto, é
necessário sair a campo e batalhar para
mostrar o potencial da criação.
PENSAR
DIFERENTE É
TRABALHOSO E
MUITAS VEZES
NÃO TRAZ
RESULTADOS
IMEDIATOS. PARA
DIMINUIR RISCOS,
ACABAMOS NOS
ACOMODANDO,
POIS É MAIS
FÁCIL REPETIR
AQUILO QUE JÁ
FOI PENSADO
E DEU CERTO.
BUSQUEI INOVAR
PORQUE NÃO
ME CONTENTAVA
COM O
CONVENCIONAL.
15FACULDADE AIEC 15FACULDADE AIEC
“
”
Pensar diferente é trabalhoso e muitas
vezes não traz resultados imediatos.
Para diminuir riscos, acabamos nos
acomodando, pois é mais fácil repetir
aquilo que já foi pensado e deu certo.
Busquei inovar porque não me
contentava com o convencional.
Um exercício que me incentivou a
pensar diferente foi o trabalho feito
por muitos anos na Tavex. O meu papel
na equipe de pesquisa de tendências
em moda sempre foi o de encontrar
novas soluções de costura, formas ou
acabamentos que pudessem trazer
algum valor aos produtos, do ponto de
vista dos clientes. A gerente da área Sueli
Pereira foi fundamental para a formação
desse meu olhar pragmático e inovador.
Todos da equipe na KANZO, sem
exceção, confiaram no projeto e
colaboraram para tornar reais meus
sonhos e minhas ideias. Em especial
meu pai, que até hoje me incentiva e foi
o responsável por me direcionar para a
área têxtil.
Sempre respeitei todas as pessoas
que surgiram no meu caminho, tendo
a consciência de que tinham maior
conhecimento que eu sobre algum
assunto e, portanto, considerava-
os professores em minha formação
profissional.
Renata Iwamizu
Proprietária da KANZO, comércio e
indústria de confecções masculinas.
Designer de Moda, com MBA em Gestão
Empresarial pela Faculdade AIEC.
É NECESSÁRIO
FICAR ATENTA,
POIS O TEMPO
PODE SE TORNAR
UM VILÃO DA
INOVAÇÃO. TENHO
CONSCIÊNCIA
DE QUE O
CONSUMIDOR
DE HOJE NÃO
SERÁ O MESMO
DAQUI A DEZ
ANOS, QUANDO
AS EXIGÊNCIAS
ESTÉTICAS TAMBÉM
SERÃO OUTRAS.
Desafios e sensibilidade
Continua o desafio de aprender a
lidar com a ansiedade e ficar atenta ao
desenrolar dos anos, pois o tempo pode
se tornar um vilão da inovação. Tenho
consciência de que o consumidor de
hoje não será o mesmo daqui a dez anos,
quando as exigências estéticas também
serão outras.
Estou convicta de que, para crescer, a
empresa precisa ampliar seu público-
alvo e isso demanda investimentos.
Encontrar apoio de órgãos de fomento
que financiem o projeto tem sido outro
desafio. Ainda não encontrei órgãos
governamentais dispostos a colaborar
efetivamente com meu projeto de
inovação. Boas intenções existem, mas
não há, por exemplo, nenhuma linha de
crédito especial voltada para registro
de patente, ou mesmo para capital de
giro, que se mostra necessário diante
do crescimento repentino da imagem
da empresa. Instituições de apoio à
inovação tecnológica existem, mas não
focam nesta área específica.
A lista de desafios pode se multiplicar
sem muitos esforços, porém, o mais
relevante é a necessidade latente que
sinto de fazer mais, criar mais, inovar
mais. Percebo que a sensibilidade
aguçada potencializa as mulheres. Meu
lema tem sido: primeiro, aprenda a fazer
igual, mas não se contente; trabalhe para
criar e fazer diferente!
16 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão de projetos
Até às quinhentas” é uma
expressão em crioulo da Guiné-
Bissau, que resume de uma
forma pertinente e profunda o que foi
a experiência de gestão em cooperação
internacional que tenho o prazer de
compartilhar aqui. “Até às quinhentas”,
ou como chegar ao seu objetivo com
persistência, obstinação e, acima de
tudo, quando tudo parece em vão.
“Até às quinhentas”, ou como jovens
vivendo num grau de vulnerabilidade
extrema conseguem realizar proezas
(o que chamaríamos ingenuamente de
milagres), sem nunca desistir. É mais
ou menos essa a carga semântica que
a expressão resume e que também
simboliza a experiência que tive ao
gerenciar o Projeto “Jovens Lideranças”,
em Bissau, capital da Guiné-Bissau, na
África, em 2012: fui para ser o gestor e
voltei com aprendizagens profissionais e
pessoais indeléveis.
Purgatório
Inúmeras vezes embarquei no aeroporto
de Guarulhos em São Paulo, mas,
nesta, senti um grau de insegurança
que, se conseguiu abalar um pouco
minhas pernas, não deixou de me atrair
inexoravelmente. Muitas lembranças
atravessaram minha mente enquanto
a distância que me separava do meu
destino final se encurtava.
Uma escala de um dia em Lisboa,
como para me recordar de meu elo
europeu, pois sou nascido e criado na
França, de mãe brasileira e pai romeno.
Pensamentos se misturavam. Me
recordei dos valores que meus pais me
ensinaram e que me levaram até aquele
banco da praça da Glória, na capital
portuguesa. No caderno aberto, iniciei
a escrita do que seria a experiência mais
inspiradora da minha vida. Distraído pela
singular beleza da cidade, lembrei-me
da agente da Polícia Federal portuguesa,
que ao ver que meu destino era Bissau,
mudou radicalmente de expressão e
me olhou como se eu fosse passar pelo
purgatório.
EXPERIÊNCIA EM
GESTÃO DE PROJETO NA
GUINÉ-BISSAU MOSTRA
A COMPLEXIDADE
DE INICIATIVAS
DE COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL.
Jérémie Nicoläe Dron
“
17FACULDADE AIEC
“
”
Adaptação
Desembarquei na capital guineense no
dia 27/02/2012. Tinha lido e estudado
tudo sobre o projeto para o qual eu
tinha sido selecionado como gerente
executivo. Resumidamente, produto de
uma cooperação internacional entre
os Governos Brasileiro e Guineense,
por meio da Agência Brasileira de
Cooperação, o projeto envolvia atores
diversos nos dois países, como seus
Ministérios da Educação respectivos, a
UNESCO, duas organizações brasileiras
do terceiro setor (Fundação Gol de
Letra e Instituto Elos) e uma associação
juvenil do bairro São Paulo, em Bissau,
por intermédio da qual tudo tinha
começado.
O desenvolvimento das ações estava
previsto em duas linhas: construção
de uma escola de ensino formal e
extracurricular, e capacitação de
professores locais e de jovens para a
coordenação e execução de atividades
educacionais, esportivas e culturais.
O papel de gerente executivo era
fundamental para a continuidade
dos processos. Teria que lidar com
interlocutores estratégicos, como
o Embaixador do Brasil em Bissau, o
Ministro da Educação Guineense e
o Presidente da Câmara de Bissau.
Também atuaria em conjunto com
comunidades locais e engenheiros
responsáveis pela obra.
Ao chegar ao hotel, após uma longa e
esgotante viagem, fiquei surpreendido
por identificar uma influência
importante da cultura francesa, o que
iria ajudar a me aclimatar àquele novo
cenário de uma maneira mais amena.
Músicas francesas, canal francês na
televisão e até comidas e bebidas
das quais eu gostava, ou não, quando
criança. Isso se explica porque a Guiné
Bissau, ex-colônia portuguesa, é cercada
pelo Senegal e pela Guiné-Conakry, duas
ex-colônias francesas. Se um dos passos
mais importantes ao chegar num lugar
desconhecido é o de se adaptar, esse
contexto histórico e geográfico me foi
muito favorável.
Primeiro contato
Após uma noite de descanso, pela
manhã, fui conhecer a Embaixada do
Brasil, onde eu dividiria uma das salas
para desenvolver as atividades ligadas
ao projeto. Ali tive meu primeiro
encontro com o Embaixador e sua
equipe. Tomei rapidamente minhas
marcas nesse novo lugar de trabalho e
planejamos as próximas ações a serem
realizadas. A primeira delas seria a visita
à comunidade e à obra que já tinha se
iniciado havia algum tempo.
Saímos em direção à comunidade
São Paulo, onde iríamos encontrar
os jovens da Associação Amizade.
GUINÉ-BISSAU
É COMPOSTA POR
INÚMERAS ETNIAS
E AS TERRAS
CONSTITUEM
UMA DAS ÚNICAS
FONTES DE
RIQUEZAS. POR
ISSO, ANTES
DE SE UTILIZAR
UM TERRENO,
É OBRIGATÓRIO
CONVERSAR
E NEGOCIAR
COM O DONO
TRADICIONAL DA
TERRA, O ‘RÉGULO’,
UMA ESPÉCIE
DE AUTORIDADE
TRIBAL.
18 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
Estávamos visitando a obra quando
tive meu primeiro contato direto com
a complexidade histórica e étnica da
cultura guineense. Enquanto estávamos
levantando informações, começamos
a sentir uma curiosidade mais intensa
em relação à nossa presença. Ao nos
afastar do terreno, fomos abordados por
pessoas da comunidade, que iniciaram
uma disputa na língua local, o crioulo,
com o líder do grupo de jovens que
estava conosco.
Logo a discussão se tornou agressão
física e me encontrei no meio de
uma briga, tentando separar os
protagonistas. Diante daquela situação,
preferimos nos afastar do local. No
caminho de volta, ouviam-se gritos em
crioulo, alguns compreensíveis, que
ecoaram na minha mente durante algum
tempo: “branco”, “colonizador”.
Para entender o que aconteceu, é
preciso imaginar como funciona uma
nação onde justiça comunitária e do
Estado tentam coabitar da maneira
mais eficiente e pacífica possível. O país
é composto por inúmeras etnias e as
terras constituem uma das únicas fontes
de riquezas. Por isso, antes de se utilizar
um terreno, é obrigatório conversar
e negociar com o dono tradicional
da terra, o “régulo”, uma espécie de
autoridade tribal. Uma grande parte de
meu trabalho nas instâncias públicas de
Bissau seria, de fato, para legalização do
terreno da escola.
Aos poucos, dei início às tarefas
emergenciais. O processo de
legalização iria me pedir muita
paciência e obstinação, até ficar
quase três dias inteiros na Câmara
Municipal para publicação de um
documento fundamental. Preocupado
com a autonomia dos jovens da
Associação Amizade e convencido de
suas capacidades, fazia questão de
que estivessem comigo em todas as
etapas. Mas, enquanto tudo estava
caminhando bem, o peso histórico
e político da Guiné-Bissau iria voltar
estrondosamente.
O golpe
Quando minha companheira chegou,
estávamos no final de março. Eu tinha
trocado o hotel por um apartamento,
já prevendo a vinda dela. O país se
encontrava no meio de dois turnos de
eleições presidenciais, antecipadas
por causa da morte do então Chefe de
Estado, Malam Bacai Sanhá. O primeiro
turno havia sido realizado numa
aparente tranquilidade e idoneidade,
com a presença de observadores
internacionais. Os desacordos, porém,
começavam a surgir. Dois candidatos
iriam disputar a presidência: o então
primeiro-ministro, Carlos Gomes Junior,
o Cadogo, do Partido Africano para a
Independência da Guiné e do Cabo Verde
(PAIGC); e um dos líderes tradicionais da
oposição e ex-presidente de 2000 a 2003,
Kumba Yalá, do Partido para a Renovação
Social (PRS). Mas cinco candidatos
derrotados já começavam a reclamar de
falhas e fraudes no processo eleitoral.
NO DIA 12
DE ABRIL, NUM
CENÁRIO SURREAL,
UMA FRENTE DO
EXÉRCITO FEZ
DE REFÉNS O
PRIMEIRO MINISTRO
E O PRESIDENTE
INTERINO, E TOMOU
POSSE DOS MEIOS
DE COMUNICAÇÃO
NACIONAIS, QUE
CESSARAM DE
EMITIR SINAIS.
UM GOLPE TINHA
ACABADO DE
ACONTECER EM
GUINÉ-BISSAU!
19FACULDADE AIEC
“
”
O próprio Kumba Yalá clamava que não
iria disputar o segundo turno, previsto
para 29 de abril, nessas condições.
A máquina diplomática chegava aos seus
limites. Uma missão angolana, posta
em Bissau para garantir a segurança
no período eleitoral, se retirou. Já se
sentia uma movimentação diferente
nas ruas da cidade. No dia 12 de abril,
num cenário surreal, uma frente do
exército fez de reféns Cadogo e o então
Presidente interino Raimundo Pereira, e
tomou posse dos meios de comunicação
nacionais, que cessaram de emitir sinais.
Um golpe tinha acabado de acontecer e
logo um novo regime iria ser posto.
Após dois dias com toque de recolher,
fomos autorizados a sair de casa. Voltei,
então, à Embaixada para saber dos
próximos passos do projeto. Devido à
situação, o Brasil tinha rompido relação
diplomática com o novo governo de
Guiné-Bissau e, por isso, as atividades do
projeto encontravam-se suspensas.
Sem diálogo
Com a decadência das condições
de moradia (falta de água e luz em
particular), fomos obrigados a voltar
para o Brasil. A partir de então, passei
a exercer minhas funções como
gerente, até agosto, desde o Brasil,
com dificuldades significativas de
comunicação com Bissau.
Jérémie Nicoläe Dron
Gerente do Instituto de Responsabilidade
Social - Société Générale. Formado
em Física e História das Ciências.
Especializado em Elaboração e Gestão
de Projetos Sociais e em Gestão de
Organizações do Terceiro Setor.
ESSA
EXPERIÊNCIA ME
TROUXE UM
AMADURECIMENTO
PROFISSIONAL
FUNDAMENTAL, POIS
PUDE MENSURAR
A COMPLEXIDADE
DA GESTÃO DE
UM PROJETO DE
COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL,
NUM CENÁRIO
DESAFIANTE, COM
VÁRIOS INTERESSES
E FORÇAS EM
JOGO.
Nesse período, minhas tarefas foram
mais estratégicas em termos de
planejamento e administração. Entre
junho e julho foi possível realizar uma
missão em Bissau para liberação e
acompanhamento da colocação da
cobertura do prédio da escola. Mas isso
teve que ser feito sem nenhum contato
com instâncias oficiais guineenses, já que
o diálogo se mantinha rompido.
Sem previsão quanto a uma possível
retomada das relações entre os dois
países e, consequentemente, das
atividades do projeto, tive que tomar
uma decisão difícil: não renovei o meu
contrato, para poder abraçar novos
desafios profissionais.
Cerca de um ano se passou desde o
golpe, tempo em que pude mensurar
a complexidade de um projeto de
cooperação internacional. Essa
experiência representou para mim
um amadurecimento profissional
fundamental, pois tive que lidar com
gestão num cenário muito desafiante,
com vários interesses e forças em jogo.
Enquanto escrevo este artigo, as
atividades do projeto ainda não
retomaram. Continuo, na medida do
possível, em contato com os jovens
da Associação Amizade. Espero que o
país do grande Amilcar Cabral possa se
levantar e caminhar rumo à paz e pleno
desenvolvimento.
20 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
GESTOR ESCOLAR E
GESTOR EDUCACIONAL
DEVEM ARTICULAR
E EQUILIBRAR OS
ASPECTOS SOCIAL,
BUROCRÁTICO E
PEDAGÓGICO NA
ADMINISTRAÇÃO DAS
ESCOLAS E DAS REDES
DE ENSINO.
Angela Luiz Lopes
Maria Maura Gomes Barbosa
Roberta Panico
Gestão escolar
Escrever sobre as atividades e
competências de um gestor
escolar, aquele que gerencia
a escola, pode parecer um trabalho
simples. Afinal, todos que já passaram
pela escola sabem que o diretor precisa
garantir que aulas aconteçam, que os
professores estejam em sala de aula,
que a merenda seja servida, que os
horários de entrada e saída dos alunos
sejam adequados, etc. Ações dessa
natureza podem até parecer que já estão
bem instituídas, mas será que apenas
elas garantem uma boa gestão escolar,
visando à melhoria da qualidade do
ensino e aprendizagem dos alunos?
Podemos ampliar esta discussão para o
gestor educacional, aquele que gerencia
as redes de ensino. Será que apenas
assegurar que o calendário letivo seja
cumprido, que existam professores
lotados em todas as escolas, que não
falte merenda e transporte aos alunos
garante a qualidade do ensino e da
aprendizagem dos alunos?
Três aspectos da gestão em Educação
Atualmente, o trabalho do gestor, seja
ele educacional ou escolar, pode ser
dividido em pelo menos três aspectos:
social, administrativo e pedagógico, e é
fundamental que haja um equilíbrio entre
eles. Um gestor da área de Educação
não pode colocar foco somente nos
aspectos administrativos e burocráticos,
cumprindo legalmente os princípios,
normas e funções dos processos
relacionados a sua atividade. Não pode,
tampouco, pesar sua gestão apenas nos
aspectos sociais e assim transformar a
escola num espaço de assistência social,
esquecendo-se de que a função social
da escola é ensinar para que os alunos
aprendam.
21FACULDADE AIEC
“
”
Esse gestor precisa também assegurar
que os aspectos pedagógicos sejam
capilarizados para o processo de ensino
e aprendizagem dos alunos, cumprindo
assim o propósito social da escola de
garantir a equidade e oportunidade de
acesso a todos, pois a nossa sociedade,
como é organizada e segmentada,
não oferece oportunidades iguais aos
diferentes.
Queremos destacar, com esse exemplo,
que os processos de gestão escolar
e educacional devem integrar de
forma articulada os aspectos social,
administrativo e pedagógico. É sobre
essas questões que iremos discutir neste
artigo.
Desafios
A história da Educação no Brasil e as
novas demandas atribuídas à escola em
função das mudanças sociais têm nos
mostrado que o aspecto social ganhou
força e tem se tornado um grande desafio
para os gestores escolares.
Na década de 90, o governo federal
investiu em uma política de erradicação
da pobreza e diminuição das
desigualdades com programas como:
Benefício de Prestação Continuada
(1993), Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (1996) e Programa
Economia Solidária (1995). A partir do
ano 2000, assiste-se à implementação
e ampliação de uma rede de proteção
social com a criação de inúmeros
programas sociais: Bolsa-Escola (2001),
Bolsa Alimentação (2001), Auxílio-Gás
(2001), Cartão Alimentação (2003),
Programa Fome Zero (2003), Bolsa-
Família (2003).
A maioria desses programas buscou ter
como contrapartida a frequência da
criança na escola, visando melhorar os
índices de escolarização do País. Isso
desencadeou a necessidade de o gestor
escolar compreender as questões sociais
e econômicas, e assim ter condições
de identificar a realidade da população
frequentadora de sua escola.
Fazer esse levantamento e conhecer a
realidade de seus alunos permitem ao
gestor caracterizar sua comunidade,
identificar as principais dificuldades e
demandas e, a partir daí, estabelecer
metas de curto, médio e longo prazo, e
planejar ações no seu Projeto Político-
Pedagógico que potencializem a
aprendizagem dos alunos, pois esse é o
propósito da escola.
Gestão do tempo
A implantação de programas sociais
proporcionou o surgimento de
programas federais destinados
exclusivamente às escolas públicas, tais
como: PNLD - Programa Nacional do
Livro Didático, PNBE - Programa Nacional
da Biblioteca na Escola, PNAE - Programa
Nacional de Alimentação Escolar,
PNATE - Programa Nacional de Apoio
ao Transporte Escolar, entre outros, os
quais exigem do gestor a competência
para geri-los de forma integrada,
considerando as demandas sociais,
administrativas e pedagógicas que
asseguram o direito de aprendizagem a
todos os alunos.
UM GESTOR
NÃO PODE
FOCAR SOMENTE
OS ASPECTOS
ADMINISTRATIVOS,
TAMPOUCO,
APENAS OS
ASPECTOS SOCIAIS
E TRANSFORMAR
A ESCOLA NUM
ESPAÇO DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL.
É NECESSÁRIO
TAMBÉM QUE
OS ASPECTOS
PEDAGÓGICOS
SEJAM
CAPILARIZADOS
PARA O PROCESSO
DE ENSINO E
APRENDIZAGEM.
22 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
Por exemplo, se o gestor compreender
a necessidade social do Programa
Nacional do Livro Didático no seu
contexto escolar, assegurará as
questões administrativas de distribuição
a todos os alunos e acompanhará
pedagogicamente o uso regular desses
livros em sala de aula. Nesse sentido, a
atenção dos gestores para as questões
sociais, administrativas e pedagógicas
garante a eficácia dos programas
educacionais disponibilizados para a
escola.
Os programas educacionais têm
objetivos e propósitos claros em
relação à melhoria da qualidade social
da educação, como prevê o item 2.2
do parecer CNE/CEB n°5/2011 “(...)
encontrar alternativas políticas,
administrativas e pedagógicas que
garantam o acesso, a permanência e o
sucesso do indivíduo no sistema escolar,
não apenas pela redução da evasão, da
repetência e da distorção idade/série/
ano, mas também pelo aprendizado
efetivo.”
Esses programas, no entanto,
demandam ações no âmbito
administrativo e burocrático, que
tomam grande parte do tempo do gestor
e pouco ajudam para dar significado ao
desenvolvimento das ações nos seus
aspectos sociais e pedagógicos.
Diante desse cenário, como gerir os
programas educacionais para que, de
fato, apoiem a melhoria da educação
ofertada?
Atuação e função
Há uma diferença entre a atuação e a
função do gestor. A função refere-se
a um cargo ocupado quase sempre
por designação político-partidária.
Em grande parte dos municípios
brasileiros, quando muda a gestão
pública, muda-se o gestor escolar e
educacional.
A atuação do gestor é bem diferente
da função. Ela é legitimada pelas ações
e processos desencadeados e pelo
compromisso social e político com
a Educação. E para que, de fato, essa
atuação contribua para a melhoria
da aprendizagem dos alunos, é
necessária uma gestão competente
que contemple os três aspectos já
referidos: social, administrativo e
pedagógico.
Qual o lugar do gestor nesse contexto?
Como compatibilizar esses dois papéis?
A FUNÇÃO
DO GESTOR
REFERE-SE A UM
CARGO OCUPADO
QUASE SEMPRE
POR DESIGNAÇÃO
POLÍTICA, CUJO
OCUPANTE
NORMALMENTE
É SUBSTITUÍDO
QUANDO MUDA A
GESTÃO PÚBLICA.
A ATUAÇÃO
DO GESTOR
É LEGITIMADA
PELAS AÇÕES
E PROCESSOS
DESENCADEADOS
E PELO
COMPROMISSO
SOCIAL E
POLÍTICO COM A
EDUCAÇÃO.
23FACULDADE AIEC
Compromissos e resultados
As respostas às diversas questões
colocadas neste artigo são complexas
e demandam mais espaço do que aqui
dispomos. Gostaríamos, porém, de citar
o exemplo do município de Moju, no
Pará, em que a formação compartilhada
dos gestores educacionais e escolares
proporcionou a diferença na atuação
desses profissionais e legitimou suas
gestões.
O município de Moju faz parte do
Arranjo de Desenvolvimento da
Educação do Nordeste do Pará,
constituído com o apoio da Comunidade
Educativa CEDAC1 e da Fundação Vale.
Os Arranjos Educacionais constituem
um trabalho em rede, direcionado a
resultados que potencializam o regime
de colaboração entre União, Estado e
Município.
No final de dezembro de 2012, foi
apresentado o Memorial da Gestão da
Educação de 2005 a 2012, elaborado
pela Secretaria de Educação de Moju.
O memorial é uma espécie de relatório
das ações realizadas em determinado
período, com registro de dados e
informações, cujo objetivo é fazer
uma prestação de contas do realizado
e orientar o planejamento do período
seguinte, para garantir continuidade do
trabalho.
O memorial apresentou, entre outros
temas, a melhoria da infraestrutura,
o incentivo ao ensino e pesquisa, as
parcerias e convênios efetivados, os
bens e imóveis existentes e, por fim, as
lições aprendidas durante esse período,
preparando assim o caminho para a
nova gestão. Foi dado destaque à gestão
democrática da Educação no município
e salientados os resultados obtidos
graças à formação dos profissionais
dessa área e, em especial, aos encontros
de formação de gestores escolares.
O gestor escolar precisa garantir
que os programas educacionais
governamentais sejam implementados,
que as ações previstas sejam realizadas
e os recursos aplicados. Para isso,
deve gerenciar a escola de uma
forma sistêmica, fazendo com que
todos compartilhem desse mesmo
compromisso. Os investimentos na
capacitação desses profissionais,
e o município de Moju é apenas um
exemplo, têm mostrado que uma gestão
competente traz como resultado
a melhoria do processo de ensino-
aprendizagem e uma melhor formação
dos alunos, que é, afinal, o objetivo de
uma instituição de ensino.
Angela Luiz LopesCoordenadora pedagógica da área de gestão educacional da Comunidade Educativa CEDAC. Formada em
Geografia na USP.
Maria Maura Gomes BarbosaCoordenadora pedagógica da área de gestão escolar da Comunidade Educativa CEDAC. Presta consultoria pedagógica para a revista Gestão Escolar, da Fundação Victor Civita.
Formada em Pedagogia.
Roberta PanicoDiretora de Desenvolvimento Educacional da Comunidade Educativa
CEDAC. Formada em Pedagogia.
1 A Comunidade Educativa CEDAC é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, que concebe metodologias e estratégias, com o objetivo de apoiar e estimular a implementação de propostas no campo da Educação, seja na gestão de políticas públicas ou na formação de professores, diretores e supervisores. www.comunidadeeducativa.org.br
24 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão da carreira
A melhor forma de alcançar o
futuro desejado é ajudar a
construí-lo! Hoje, a sua carreira
é tudo o que sempre sonhou? O que a
sua carreira lhe proporciona? E o que
mais poderia lhe proporcionar?
Você tem a opção de deixar a vida levá-lo
ou fazer a gestão efetiva de sua carreira.
Podemos contar com a sorte ou ajudar
a sorte realizando ações proativas pelos
resultados de carreira que desejamos
ter. A gestão efetiva da carreira
significa assumir o controle de sua
vida profissional, permitindo que você
concentre os seus esforços e direcione o
seu foco aonde quer chegar.
O ponto de partida para uma boa
gestão de carreira é saber o que você
busca. Você tem uma visão de futuro
sobre o que gostaria de ser, ter e fazer
em um, cinco ou dez anos? Que tipo
de resultados você busca? O que você
gostaria de conquistar? O que lhe daria
satisfação, alegria e sentimento de
realização? Sem clareza do que você
quer, não há como chegar a um lugar que
o satisfaça.
Reflexão sobre sua história
Olhar para o futuro é essencial
para desenvolver uma jornada de
aprendizados e resultados. Mas a chave
para chegar ao futuro desejado pode
estar no presente e passado. Você sabe
responder quem é você? Quais suas
principais características e habilidades?
PLANEJAMENTO DA
CARREIRA ALINHA
INTENÇÕES E AÇÕES
E POSSIBILITA O
ATINGIMENTO
DOS OBJETIVOS
PROFISSIONAIS.
Wang Ching
25FACULDADE AIEC
“
”
O que você valoriza muito? Quais os
momentos mais felizes da sua vida? O
que o motiva e traz senso de urgência
para fazer acontecer? O que você faz
apenas por obrigação? Quais são os
momentos mais difíceis para você? O
que tornou esses momentos difíceis?
Uma reflexão sobre o seu histórico
profissional, sobre os êxitos e
problemas, ajudam a identificar
momentos importantes e como suas
características pessoais se manifestaram
nesses momentos. Invista no seu
autoconhecimento! Sem saber quem
é você, o caminho para chegar aonde
quer se torna bem mais longo, por não
aproveitar ao máximo o melhor do seu
potencial e não estar atento às possíveis
barreiras que podem estar, hoje, entre
você e seu objetivo. Quanto mais você
se conhecer, melhor saberá com o que
pode contar para chegar aonde deseja.
Agir proativamente
Se você não fizer a gestão da sua
carreira, poderá chegar o dia em que o
seu nível de insatisfação ultrapassará
o que consegue tolerar. Nesses
momentos, você vai querer acreditar
que o problema está no outro: mercado,
empresa, chefe e colegas. Vai preferir
acreditar que os outros não sabem
valorizá-lo ou que você não tem sorte.
E pode se precipitar tomando decisões
apenas para se “livrar” da situação
insatisfatória. Dessa forma, muda-se de
emprego e de empresa, mas aonde for,
em pouco tempo, sente-se insatisfeito
novamente.
Melhor do que agir quando seu nível
de insatisfação está intolerável é
fazer a gestão de sua carreira e agir
proativamente para ampliar seus bons
momentos profissionais. Quanto maior
satisfação com o que faz, maiores
chances de obter ótimos desempenhos.
E com desempenho superior, tudo o que
precisa é estar onde valorizam o que
você tem de melhor e saber ser notado!
Se você não está satisfeito com a sua
carreira, vale lembrar que o nosso tempo
de vida é um bem que não se repõe! Não
sabemos quanto tempo de vida teremos,
mas podemos escolher em que iremos
investi-lo. A gestão da carreira ajuda a
planejar esse investimento.
Momento da carreira
Agora que você já viu por que fazer a
gestão da sua carreira, vamos pensar em
que momento você se encontra?
1. Momento de escolha de carreira. Qual
o momento certo de escolher a carreira?
Difícil ter apenas uma resposta certa.
No entanto, quanto antes encontrá-
la, mais tempo terá para investir em
seu desenvolvimento profissional. Em
qualquer momento da vida profissional,
o autoconhecimento é importante. No
momento de escolha de carreira, saber
quem é você e o que busca fará toda
a diferença para ter uma carreira de
sucesso!
A GESTÃO
EFETIVA DA
CARREIRA SIGNIFICA
ASSUMIR O
CONTROLE DE SUA
VIDA PROFISSIONAL,
PERMITINDO
QUE VOCÊ
CONCENTRE OS
SEUS ESFORÇOS E
DIRECIONE O SEU
FOCO NO PONTO
AONDE QUER
CHEGAR. PORÉM,
SEM CLAREZA DO
QUE VOCÊ QUER,
NÃO HÁ COMO
CHEGAR A UM
LUGAR QUE O
SATISFAÇA.
26 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
2. Momento de desenvolvimento de
carreira. É quando você já está seguindo
a carreira que deseja, mas tem muito a
aprender e a crescer profissionalmente.
É um momento em que, comumente,
os profissionais acham que fazer
mais lhe trará maior reconhecimento
e os resultados desejados. Não é
necessariamente assim! Fazer mais
nesse momento da carreira tem a ver
com a sua necessidade de mostrar
que é capaz. O reconhecimento e os
resultados desejados, porém, podem ter
mais a ver com a perspectiva dos outros
(incluindo seu chefe) e com o que eles
valorizam, do que com o que você gosta
de fazer.
3. Momento de otimização dos
resultados de carreira. Nessa fase, você
já vivenciou experiências e tem maior
autoconhecimento e a consciência
do que pode lhe trazer resultados.
É o momento em que não se pensa
apenas em fazer muito, mas em focar
e direcionar esforços naquilo que tem
maior senso de urgência não somente
para sua carreira, mas para sua vida.
4. Momento de mudança de carreira.
Em geral, a mudança de carreira é
motivada pela insatisfação com o seu
trabalho e o sentimento de que é um
grande sacrifício levantar a cada dia e
ir trabalhar. E pode ser agravada com a
insatisfação com os resultados obtidos.
Quando a nossa carreira não nos satisfaz
mais e torna-se até um peso, tomamos
a coragem de buscar mudanças. Mas é
preciso cautela. É preciso avaliar todos
os impactos na sua vida e planejar essa
mudança.
É importante não se limitar a reclamar
do que não está bom, mas perguntar-se:
como ficaria bom? O que é necessário
acontecer para que eu trabalhe mais feliz?
5. Momento de pré-aposentadoria. Em
algum momento a nossa carreira para de
ter resultados crescentes e buscamos ao
máximo manter o patamar dos ganhos
alcançados, até o momento de parar
de trabalhar. Algumas pessoas veem a
aposentadoria como uma oportunidade
de finalmente trabalhar mais pelo
prazer. Outras pensam que finalmente
terão tempo para fazer o que quiserem.
O fato é que será uma mudança
significativa, bem aceita por alguns e
sofrida para outros. A preparação para
a aposentadoria é imprescindível! Todas
as suas referências podem mudar: as
pessoas com quem você passava maior
tempo, os lugares mais frequentados,
as tarefas prazerosas, o horário, a sua
percepção sobre seus papéis na família e
na sociedade... Pondere e planeje. Após
uma vida inteira, você merece o melhor!
Independentemente do seu momento
profissional, uma gestão efetiva de
carreira alinha suas ações com suas
intenções e proporciona melhores
resultados e maior satisfação.
Entrando em ação
Se você tem bom autoconhecimento
e sabe exatamente o que quer, tem
os mais valiosos recursos a seu favor!
Mas será necessário entrar em ação! O
quanto você está comprometido com os
resultados que almeja? O que você já está
fazendo para alcançar tudo o que deseja?
A autorresponsabilização por sua carreira
é o primeiro passo para ação!
SE VOCÊ NÃO
ESTÁ SATISFEITO
COM A SUA
CARREIRA, VALE
LEMBRAR QUE O
NOSSO TEMPO
DE VIDA É UM
BEM QUE NÃO
SE REPÕE! NÃO
SABEMOS QUANTO
TEMPO DE
VIDA TEREMOS,
MAS PODEMOS
ESCOLHER EM QUE
IREMOS INVESTI-
LO. A GESTÃO DA
CARREIRA AJUDA
A PLANEJAR ESSE
INVESTIMENTO.
27FACULDADE AIEC
“
”
Durante sua jornada de ação em busca
de resultados:
• Identifique áreas e empresas que
precisam de seus principais talentos e
podem valorizá-los.
• Busque as referências do que o
mercado procura para a carreira que
deseja.
• Evite carreiras, ambientes e tarefas que
podem exigir um esforço muito maior do
que você pode dar para obter um bom
desempenho.
• Procure um propósito maior que o
manterá motivado pelo maior tempo
possível.
• Esteja sempre aberto a oportunidades
de ser visto. Fazer o seu melhor é tão
importante quanto dar oportunidade
para que as pessoas saibam do que você
é capaz.
• Cuide da sua rede de relacionamentos.
Ela poderá ajudá-lo a chegar aonde
deseja. Lembre-se de incluir as pessoas
chaves onde você trabalha e os
profissionais referências no mercado.
• Procure participar de eventos em que
o tema ou o público importa para sua
carreira.
• Amplie continuamente seu
autoconhecimento e autopercepção.
• Busque o desenvolvimento e melhoria
contínua.
Wang Ching
Master Coach certificada pelo BCI - Behavioral
Coaching Institute . Especializada em coaching
empresarial e de carreira e pós-graduada
em Administração Financeira pela FGV.
A GESTÃO DA
CARREIRA PERMITIRÁ
A VOCÊ ALCANÇAR
OS RESULTADOS
DESEJADOS EM SUA
VIDA PROFISSIONAL
COM MENOR
INVESTIMENTO DE
TEMPO, ENERGIA
E DINHEIRO. E
FARÁ COM QUE
A SUA VIDA SEJA
MAIS ABUNDANTE
E SIGNIFICATIVA
EM TODOS OS
SENTIDOS!
Assumindo o controle
Para alguns, a carreira é fonte de
satisfação e aprendizado. Para outros,
trabalhar significa o sacrifício necessário
para ter a vida que deseja. Se a nossa
vida profissional é importante e
necessitamos dedicar a ela muito do
nosso tempo, cabe a pergunta: como
podemos extrair maior satisfação e
realização nessa atividade? Estamos
trocando o nosso precioso tempo
com o quê? O que é importante para
mim? Salário? Aprendizado? Desafio?
Reconhecimento? Contribuição? O que
mais? Conforme o nosso momento de
vida, podemos dar importância maior
ou menor a diferentes resultados. Como
você define o seu momento atual? O que
é mais significativo para você?
Fazer a gestão lhe proporcionará
caminhar na direção dos resultados
desejados em menor tempo, com menos
desperdício de energia e dinheiro. E fará
com que a sua vida seja mais abundante
e significativa em todos os sentidos!
E quem sabe acabará entendendo
porque, quando criança, sonhava ser
professor, médico, cantor, policial,
piloto, mecânico, músico... E quem sabe
realizará um grande sonho?
Assuma o controle da sua vida
profissional e obtenha os resultados
com os quais sempre sonhou! Se você
acredita em si mesmo, planeja sua
carreira e dispõe-se a agir, o sucesso
pessoal ou profissional que deseja
poderá ser alcançado!
28 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão ambiental
Neste limiar de milênio,
evidenciam-se as mais
extraordinárias mudanças
experimentadas pela humanidade,
sobretudo no campo das relações
do homem com o próprio homem e,
também, com a natureza. O planeta
subjuga-se à ação antrópica e tem a sua
resiliência enfraquecida na medida em
que o consumo recrudesce, motivado
pelo marketing empresarial, cuja função
primordial é o estímulo à aquisição de
produtos.
Paradoxalmente, o homem se torna,
cada vez mais, capaz de explotar os
recursos naturais e, ao mesmo tempo,
de refletir e agir sobre a mitigação dos
impactos dessas atividades. A Teoria ou
Hipótese de Gaia, proposta por James
Lovelock em 1972, compreende a Terra
como um grandioso ser vivo, que, para
se manter como tal, requer que seus
componentes (atmosfera, litosfera,
hidrosfera, etc.) estejam em constante
estado de homeostase.
Assim, o acúmulo de desarranjos nesse
ambiente de equilíbrio, induzido em
considerável medida pelo homem,
produz reações de difícil previsibilidade,
mas de fácil percepção por parte do mais
desatento dos indivíduos que habitam
este pequeno planeta localizado na
periferia da Via Láctea.
Humanoses
O comportamento de boa parte das
sociedades em relação aos recursos
do planeta resulta no que chamamos
de humanoses1. As cicatrizes deixadas
nos espaços terrestres, algumas
impossíveis de serem fechadas, vão aos
poucos transformando as paisagens
e ameaçando fortemente as gerações
atuais e, sobretudo, as ainda por virem.
Drew (1994) chama a atenção para os
ambientes florestais, como o amazônico,
em que o desmatamento pode causar
danos tão fortes que a cobertura vegetal
demoraria cerca de cem anos para ser
regenerada, e, dependendo do tamanho
da clareira aberta e da intensidade
de energia empregada, o ambiente
impactado nunca mais voltaria aos
padrões originais.
CONCILIAR
COMPETITIVIDADE COM
RESPONSABILIDADE
SOCIAL, AMBIENTAL,
ECONÔMICA E
CULTURAL TRAZ BONS
RESULTADOS PARA AS
ORGANIZAÇÕES E PARA
O PLANETA.
Evandro Cyrillo Marques
1 As “humanoses” representam os graves impactos deixados pelo homem no planeta. Trata-se de um neologismo aproveitando-se do sufixo “ose” que indica estado de doença, morbidez.
1 As “humanoses” representam os graves impactos deixados pelo homem no planeta. Trata-se de um neologismo aproveitando-se do sufixo “ose” que indica estado de doença, morbidez.
29FACULDADE AIEC
“
”
Algumas sociedades, segundo Diamond
(2007), sucumbiram por gerirem mal
os recursos naturais de seus territórios.
Assim foi com os Maias (México), os Rapa
Nuis (Ilha da Páscoa, Chile), os Vikings
(Escandinávia) e outros povos que
entraram em colapso quando a escassez
se fez presente.
Matrix
As alterações nas escalas local e
global já sugerem, na visão de alguns
geólogos2, que o planeta experimenta
uma nova época chamada antropocena,
sucedendo à holocena3 (marcada
pelo início da dominação do homem
e pela estabilização climática). No
antropoceno, a natureza em seu estado
puro, equilibrado, deixa de existir,
passando a se fundir com o homem,
que impõe suas indeléveis marcas na
superfície terrestre.
Possivelmente, o grande desafio da
humanidade daqui por diante seja
questionar o seu comportamento
consumista e refletir sobre as prováveis
consequências de seu modo hedonista e
imediatista de agir pouco comprometido
com o porvir.
Terão os irmãos Wachowsky, no
primeiro filme da trilogia “Matrix”,
exagerado ao comparar o ser humano
a um vírus que, ao aniquilar totalmente
o ambiente onde se instala, procura
imediatamente outro para fazer o
mesmo?
As organizações e a gestão do meio ambiente
Em nenhum outro momento da história,
o temário relativo ao meio ambiente
foi tão pregnante nos diversos meios
de comunicação, como na atualidade.
A sociedade tem imputado grande
relevância à questão ambiental e
cobrado ações mais proativas das
organizações produtivas na cogestão do
ambiente em que se inserem.
Desde o advento das conferências
mundiais sobre meio ambiente, a
começar com a de Estocolmo, em 1972,
as corporações têm sido chamadas
a debater e agir na minimização dos
impactos causados por suas atividades.
É notável, sobretudo nos países onde
a cidadania é mais vigorosa, como os
localizados na Europa, a preocupação
do consumidor em saber, não somente
sobre a origem dos produtos que
compra, mas também como se dão os
processos produtivos que os elaboram
e como a empresa se relaciona com
seus stakeholders. Essa nova visão
acerca do mundo empresarial criou uma
matriz distintiva que se junta a outros
anseios do mercado consumidor, como
qualidade, preço, idoneidade, etc.
OS
DESARRANJOS
INDUZIDOS
PELO HOMEM
PRODUZEM
REAÇÕES NA
NATUREZA
DE DIFÍCIL
PREVISIBILIDADE,
MAS DE FÁCIL
PERCEPÇÃO POR
PARTE DO MAIS
DESATENTO DOS
INDIVÍDUOS QUE
HABITAM ESTE
PEQUENO PLANETA
DA PERIFERIA DA
VIA LÁCTEA.
2 Texto publicado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, em 21/02/2013 (disponível em <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=85896>).
3 São seis as eras geológicas: Hadeana, Arqueana, Proterozoica, Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica. A presente era, a Cenozoica, é subdividida nos períodos Terciário e Quaternário, e este pelas épocas Pleistocena e Holocena.
30 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
Visão integradora e holística
Como forma de enveredar por essas
trilhas que compartilham do socialmente
justo e do ambientalmente correto,
muitas corporações têm amparado suas
estratégias organizacionais no viés da
Responsabilidade Socioambiental (RSA).
A antiga imagem da empresa voltada
exclusivamente para o lucro máximo no
curto prazo cede lugar a uma visão mais
integradora, de longo prazo, holística e
multirreferencial.
Novos modos de se relacionar com
a comunidade e com a natureza são
introduzidos no cotidiano das empresas,
criando um cenário favorável para uma
percepção mais próxima dos impactos
socioambientais, o que possibilita
incorporar na gestão empresarial a
visão de diagnóstico, tão importante
para o desdobramento de projetos
que objetivem reduzir desequilíbrios
provocados por determinada atividade
produtiva.
Em organizações em que essa
reflexão está amadurecida, toda a
estrutura percebe a importância da
sustentabilidade e a discussão em
torno da RSA adquire contornos
mais estratégicos, tornando-se eixo
para a perenidade da organização. É
fundamental que a empresa conheça
as políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento local, bem como o
funcionamento das parcerias público-
privadas, de modo a otimizar ações
que imputem ao meio ambiente e/ou
à sociedade um novo protagonismo
socioambiental.
Competitividade & ações sustentáveis
Um ponto comum em empresas que
demonstram preocupação com a
sustentabilidade é a maior ênfase
na visão de médio e longo prazos.
Conciliar competitividade com ações
sustentáveis, que almejem equidade
social, ambiental, econômica e cultural, é
desafiador. Entretanto, dados divulgados
recentemente por entidades, como
a Bolsa de Valores de São Paulo e a
Organização Internacional do Trabalho,
apontam que a adesão a práticas
sustentáveis tornam as empresas mais
rentáveis, lucrativas e competitivas.
Talvez o ponto de partida para uma
organização que pretenda se inserir
no universo da gestão ambiental (o
que nunca é tarde!) seja empreender
o ciclo que abriga conscientização,
sensibilização, conhecimento,
planejamento, ação, monitoramento e
avaliação, bem como perceber a gestão
como algo sistemático e que necessita
da aplicação de modelos já existentes,
ainda que adaptados à sua cultura
organizacional.
Nesse sentido, Barbieri (2007, p.
115) descreve cinco perspectivas
que diferenciam as empresas que
apresentam práticas sustentáveis:
1) Satisfazem suas necessidades
atuais utilizando os recursos de forma
sustentável.
É NOTÁVEL,
SOBRETUDO NOS
PAÍSES ONDE
A CIDADANIA É
MAIS VIGOROSA,
A PREOCUPAÇÃO
DO CONSUMIDOR
EM SABER SOBRE
A ORIGEM DOS
PRODUTOS
QUE COMPRA,
COMO SE DÃO
OS PROCESSOS
PRODUTIVOS QUE
OS ELABORAM E
COMO A EMPRESA
SE RELACIONA
COM SEUS
STAKEHOLDERS.
31FACULDADE AIEC
“
”
2) Mantêm um equilíbrio em relação
ao ambiente natural, valendo-se de
tecnologias limpas, reuso, reciclagem ou
renovação de recursos.
3) Restauram os danos causados por
suas operações.
4) Contribuem para a resolução dos
problemas sociais em vez de ampliá-los.
5) Geram renda suficiente para dar
continuidade às suas operações.
Ponto azul suspenso num raio de sol
O processo evolutivo das espécies
elevou o Homo sapiens a uma condição
emblemática em relação às demais. Os
sinais dessa distinção são inúmeros,
como, por exemplo, a capacidade de
perceber a sua história,
de raciocinar e de
sentir saudade. Mas
possivelmente é a
contradição humana
a manifestação
mais idiossincrática que a
sociedade carrega em si. O homem
é capaz de enviar foguetes ao espaço
sideral e, ao mesmo tempo, conviver
com o flagelo da miséria que atinge
um bilhão entre os sete bilhões de seus
semelhantes.
DADOS
DIVULGADOS POR
ENTIDADES, COMO A
BOLSA DE VALORES
DE SÃO PAULO E
A ORGANIZAÇÃO
INTERNACIONAL
DO TRABALHO,
APONTAM QUE A
ADESÃO A PRÁTICAS
SUSTENTÁVEIS
TORNAM AS
EMPRESAS MAIS
RENTÁVEIS,
LUCRATIVAS E
COMPETITIVAS.
As humanoses continuam a ocorrer
e os resultados do desequilíbrio são
visíveis em todos os biomas: efeito
estufa, degelo nos polos e no Alasca,
tempestades imprevistas, aquecimento
global, chuva ácida...
A pertinência da gestão ambiental
precisa ser ressaltada e replicada em
todos os segmentos produtivos e
em suas respectivas cadeias de valor.
Modelos de gestão não faltam. Basta
uma compreensão um pouco mais
aprofundada dessa realidade para
notar o quanto as gerações de agora
para a frente estão ameaçadas pelo uso
indiscriminado dos recursos naturais e o
quanto as corporações têm a contribuir
para amenizar os desdobramentos desse
impacto.
As pressões exercidas pela sociedade
civil podem, quem sabe, aos poucos,
fortificar a visão da sustentabilidade
socioambiental, em todos os setores,
inclusive o empresarial, e deixar mais
vulnerável à longevidade esse pálido
ponto azul suspenso num raio de sol,
como dizia Carl Sagan, que é o nosso
planeta Terra.
Evandro Cyrillo Marques
Graduado em Geografia. Mestre em
Geografia (Gestão e Estruturação do
Espaço). MBA em Gestão da Estratégia
de Negócios do Desenvolvimento
Regional Sustentável. Educador
Corporativo do Banco do Brasil.
ReferênciasBARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo:
Saraiva, 2007.
DIAMOND, Jared. Colapso. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.
DREW, David. Processos interativos homem-meio ambiente. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
perceber a sua história,
a manifestação
mais idiossincrática que a
sociedade carrega em si. O homem
é capaz de enviar foguetes ao espaço
sideral e, ao mesmo tempo, conviver
com o flagelo da miséria que atinge
um bilhão entre os sete bilhões de seus
semelhantes.
32 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão de mídias sociais
As inovações que as mídias
sociais trouxeram ao
comportamento dos
consumidores e aos modelos
econômicos vigentes abriram novas
possibilidades de renda, ampliaram
as vagas de emprego, além de
potencializarem marcas e transações
comerciais de maneiras surpreendentes.
Neste artigo, vamos discutir algumas
dessas possibilidades mercadológicas e
como é possível aproveitá-las.
É importante destacar qual o conceito
de mídias sociais que será abordado
aqui. Mídias sociais são quaisquer
espaços de divulgação de marca ou
ideologia através de redes sociais. Para
este nosso caso, serão abordados canais
midiáticos via internet, dentre os quais
se destacam principalmente blogs,
sites de rede social, aplicativos sociais e
instant messengers1.
Benefício de branding
Para as organizações, as mídias sociais
podem agregar um forte trabalho de
branding2, além de desenvolverem
diversas conversões de venda ou
resposta direta, com a geração de
leads3 comerciais, aumento de tráfego,
expansão de banco de dados, entre
outros.
Para um trabalho de branding, as
organizações podem fazer uso de sites
de rede social para reforçar seu conceito
de comunicação e a exposição da marca
na mente do consumidor. Com tais
reforços de identidade, a organização
pode inclinar usuários ao consumo de
suas marcas por gerar neles simpatia,
identificação com os produtos ou
símbolos midiáticos e até popularidade
com status quo. As organizações podem,
através das mídias sociais, obter ganhos
econômicos a médio e longo prazo,
mas principalmente share of mind4.
NÃO BASTA ESTAR NA
REDE, É NECESSÁRIO
ADMINISTRAR
ESTRATEGICAMENTE
OS ESPAÇOS VIRTUAIS
E O RELACIONAMENTO
COM OS
USUÁRIOS COM
PROFISSIONALISMO E
COMPETÊNCIA.
Nayane Monteiro W. Gabriel de Oliveira
1 Instant messengers: mensagens instantâneas utilizadas em bate-papos online.
2 Branding: atividades de gestão da imagem e da marca (brand) de uma empresa.
3 Leads: conceito utilizado em marketing digital, refere-se a pessoas que demonstraram algum interesse por um produto ou serviço da empresa e disponibilizam suas informações para eventual contato.
4 Share of mind: parcela de participação de uma marca na memória das pessoas.
33FACULDADE AIEC
“
”
Com o share of mind amplificado, as
organizações não apenas ganham
espaço na memória do seu target5, mas
também podem adquirir a preferência
no momento do consumo.
Benefício de resposta direta
Outro benefício, conforme citado, é o de
resposta direta. Esse modelo se refere
a convergir os esforços de marketing
para, por exemplo, geração de novos
contatos comerciais, aumento de
acessos nos ambientes online, ampliação
do engajamento de fãs e seguidores,
potencialização da base de dados de
prospects6, entre outros.
Para trabalhar com o foco de resposta
direta via mídias sociais, há de se montar
uma boa infraestrutura para recepção
e retenção de usuários visitantes,
além de trabalhar uma comunicação
convidativa que, por vezes, venha a
se valer de trocas de interesses para
obter grandes resultados. Um desses
exemplos de trocas seria oferecer
notícias diárias, e-books ou descontos
ao usuário interessado que preencha um
cadastro ou retransmita a mensagem
publicitária ao seu capital social (rede
de relacionamento), por exemplo, no
Facebook e Twitter.
Benefício de venda
Por fim, chegamos ao benefício de
venda. Sendo este o mais desejado por
organizações principiantes no trabalho
com mídias sociais, o modelo focado
em vendas é também o responsável
por muitas atuações ansiosas de
empresas na internet. Visando rápido
lucro financeiro, muitas organizações
desdenham do risco de publicar
mensagens comerciais apelativas ou
massivamente inconvenientes nas
mídias sociais.
Muitas vezes, sem analisar desejos e
necessidades de seu público-alvo nem
trabalhar mensagens coerentes com
a expectativa de seu target, algumas
organizações se atrapalham entre
divulgar conteúdo humanitário e
mensagens de frete grátis e descontos
imperdíveis. Há inclusive aquelas que
se perdem no posicionamento de
comunicação ao realizar no mesmo
canal, como o Twitter, atuações de
divulgação publicitária e SAC. Nesse
caso, é fato que o atendimento público
de SAC nos mesmos canais em que se faz
divulgação publicitária pode contaminar
negativamente o foco em venda. Para
não cair nesse erro, é necessário que
o modelo de atuação da organização
nesses espaços seja não só muito bem
traçado, mas, sobretudo, obedecido por
todas as esferas da organização.
É NECESSÁRIO
QUE O MODELO
DE ATUAÇÃO
NAS MÍDIAS
SOCIAIS SEJA
NÃO SÓ MUITO
BEM TRAÇADO,
MAS, SOBRETUDO,
OBEDECIDO
POR TODA A
ORGANIZAÇÃO.
5 Target: público alvo de uma empresa, produto, serviço ou de uma ação de marketing.
6 Prospects: clientes potenciais de uma empresa. É um público mais qualificado para a empresa do que os leads. As empresas buscam converter leads em prospects e estes em clientes consumidores.
34 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Formação contínua
O trabalho com mídias sociais envolve
formação humana, técnica e de gestão.
Para cada uma dessas formações,
existem nichos de atuação de acordo
com as áreas de mercado. Por exemplo,
uma atividade de mídias sociais
envolvendo moda requer formação
técnica sobre conceitos da área e
how-to7; formação humana sobre
comportamento do público da moda
e história desse setor; e formação de
gestão sobre tendências e mensuração
de resultados.
Profissionais de marketing e
comunicação têm vantagem na atuação
com mídias sociais por sua formação
envolvendo relacionamento, visão
midiática e linguagem. Contudo, tal
área não é restrita a eles, tendo em
vista que profissionais com outras
formações e experiências podem atuar
com mídias sociais até mesmo com mais
expressividade que um jornalista ou
publicitário.
A ideia é que se goste de atuar nas
mídias sociais antes de qualquer outra
formação. Em seguida, que se busque
qualificar sobre técnicas da plataforma
a ser trabalhada e gestão desses espaços
de relacionamento e divulgação. A
formação humana deve estar em
constante construção e atualização.
Mercado de trabalho
A área de mídias sociais não se restringe
apenas ao trabalho de relacionamento
com fãs e seguidores e ao
monitoramento de conteúdo publicado
por terceiros. Há trabalho também para
quem deseja montar a infraestrutura
dos ambientes e campanhas online e
para quem deseja otimizar ou analisar
os resultados das ações. Entram,
ainda, nos holofotes desse mercado,
atividades paralelas como de planner
digital8, arquiteto de informação para
sites e ambientes mobiles, designers de
interação, profissionais de webwriting9,
profissionais de search engine
optimization10, publicitários digitais
com foco em search engine marketing11,
profissionais de web analytics, entre
outros, inclusive o famoso analista de
mídias sociais.
Com salários ainda díspares, a
depender da empresa, o fato é que tais
profissões ganham mercado de maneira
exponencial a cada ano. O diferencial
entre tais profissionais está, muitas
vezes, na sua popularidade prévia na
internet, na sua formação ampla –
para além de apenas digital –, na sua
habilidade de inter-relacionamento,
além, obviamente, do domínio técnico
das ferramentas de trabalho.
“
”
O FOCO
ÚNICO EM
VENDAS E NO
LUCRO RÁPIDO É
O RESPONSÁVEL
POR ATUAÇÕES
EQUIVOCADAS
NA INTERNET,
COMO AS DE
EMPRESAS QUE
PUBLICAM NAS
MÍDIAS SOCIAIS
MENSAGENS
COMERCIAIS
APELATIVAS OU
MASSIVAMENTE
INCONVENIENTES,
SEM ANALISAR
DESEJOS E
EXPECTATIVAS DE
SEU PÚBLICO-
ALVO.7 How-to ou howto: material que orienta como fazer alguma tarefa.
8 Planner digital: profissional que desenvolve estratégias de promoção de uma marca no mundo digital.
9 Webwriting: conjunto de técnicas utilizadas na produção de conteúdo informativo para ambientes digitais.
10 Search engine optimization: ação de melhoramento de um site para ser mais facilmente encontrado pelas ferramentas de busca e se posicionar melhor em uma página de resultados de uma busca.
11 Search engine marketing: atividades de marketing que utilizam o search engine optimization.
35FACULDADE AIEC
“
”
Integração das mídias
Um dos principais equívocos de quem
trabalha com meios digitais é descartar
a importância do meio off-line e das
atividades tradicionais de mídia.
A televisão ainda lidera no espaço
midiático no mundo. Desconsiderar
sua importância, ao invés de pensar em
integrá-la, pode significar o fracasso de
campanhas online ou, simplesmente, a
limitação das ideias e de sua expansão.
Pensar digital é uma necessidade para
atuações mercadológicas. Todavia a
inserção dos meios digitais, sobretudo
os sociais, não apenas em campanhas
de marketing, mas também na própria
dinâmica social das pessoas, não
elimina a presença de mídias como
rádio, TV e impresso. A atual conjuntura
mercadológica caminha para a integração
das mídias, seja através da convergência
para o online, seja preservando seus
canais separadamente e interligando-se
apenas por widget12 e embed13.
Agregação coletiva
As possibilidades mercadológicas
das mídias sociais são tantas quanto
as formas de se fazer comunicação.
Devemos considerar que as mídias
sociais trouxeram uma nova realidade
em velocidade de difusão de
informações, amplitude exponencial,
nós e laços sociais, intensidade
de expressão dos consumidores,
rastreabilidade do rastro social deixado
pelos usuários, e mensuração e
monitoramento de resultados.
Se compreendermos os reais motivos
que levam os usuários a participarem
das mídias sociais e, principalmente,
quais as características desses espaços,
conseguiremos aproveitar não somente
as possibilidades mercadológicas
das mídias sociais, mas também seu
propósito filosófico e sociológico de
agregação e participação coletiva.
A UTILIZAÇÃO
DE MÍDIAS SOCIAIS
EM CAMPANHAS
DE MARKETING
NÃO ELIMINA A
PARTICIPAÇÃO
DO RÁDIO, TV E
MÍDIA IMPRESSA.
A CONJUNTURA
MERCADOLÓGICA
CAMINHA PARA A
INTEGRAÇÃO DAS
MÍDIAS.
Nayane Monteiro Profissional de marketing, professora, palestrante e consultora. Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Certificada Search Advertising Advanced pelo Google Adwords.
Mantém o blog emediata.com.br.
W. Gabriel de Oliveira Professor de Pós-Graduação, palestrante e consultor. Mestre em Administração com pesquisa em Marketing pela Universidade Federal do Ceará. Certificado Search Advertising Advanced pelo Google Adwords. Premiado nacionalmente nas áreas de empreendedorismo, inovação e design. Mantém o blog wgabriel.net.
12 Widget : contração das palavras windows e gadget (dispositivos eletrônicos portáteis) , significa interface gráfica e também é o nome dos pequenos aplicativos que ficam na área de trabalho do computador.
13 Embed é um tipo de comando em linguagem HTML que permite inserir áudio ou vídeo em um documento virtual.
36 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão da Segurança da Informação
A primeira imagem que surge
quando se fala em Segurança
da Informação é a do hacker
vandalizando o website da empresa.
Embora esse tipo de ameaça seja real, ela
não deveria ser a principal preocupação
das empresas. A maioria dos problemas
com segurança tem origem interna e
frequentemente é acidental.
Muitas organizações, porém,
independentemente de seu tamanho,
ainda encaram a Segurança da
Informação como algo pouco
relevante para o negócio. Embora a
informação seja um ativo cada vez mais
importante e os processos de negócio
mais dependentes da Tecnologia da
Informação, não está claro para muitas
organizações a relação entre o valor
desse ativo e o quanto a empresa deveria
investir na sua proteção.
O objetivo deste artigo não é gerar
alarme, mas chamar a atenção para a
importância de se avaliar os ativos de
informação, os riscos aos quais esses
ativos estão expostos e o custo para sua
proteção.
Espero, assim, estar contribuindo de
alguma forma para a tomada de decisão
sobre como mitigar esses riscos até o
patamar aceitável para a organização.
Três pilares da Segurança
Segurança é a área, dentro da Tecnologia
da Informação (TI), focada em apoiar
os objetivos do negócio através
da Confidencialidade, Integridade
e Disponibilidade da informação,
abordando pessoas, processos e
tecnologia. Ela nasce da compreensão
de que vários dos processos de negócio
dependem da TI, e que interrupções
ou perturbações nos Sistemas de
Informação podem causar impacto
significativo para a empresa.
Muitas vezes o impacto de uma violação
na segurança se faz sentir por muito
tempo. Além dos custos diretos de
remediação do problema, podem existir
custos indiretos ou de mensuração mais
complexa, tais como custos de imagem,
perda de receita futura, de liquidez, ou
até mesmo da qualidade de crédito.
EMPRESAS DEVEM
INVESTIR EM SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO
PARA SE PROTEGER DE
INVASÕES E CRIMES
CIBERNÉTICOS.
André Mazeron
37FACULDADE AIEC
“
”
Recentemente, a Amazon passou
por um período de 40 minutos de
indisponibilidade, causada por uma falha
técnica, e podemos imaginar a receita
perdida nesse período. Vamos olhar
mais atentamente para cada um dos três
pilares da Segurança.
A Confidencialidade visa garantir que
a informação seja acessada somente
por determinados usuários com o
devido direito e necessidade para tal.
E aqui já começam a aparecer os riscos
internos. Imagine o impacto se a folha
de pagamento da empresa vazar para
os colaboradores. Ou um vendedor
que, prestes a sair da empresa, copia
todos os dados de clientes e leva para
a concorrência. Essas são ameaças
reais, que se materializam todos os
dias. Até mesmo eventos triviais podem
comprometer a confidencialidade. Antes
que você diga que na sua empresa isso
nunca acontece, lembre se nunca enviou
ou recebeu algum e-mail direcionado
para o remetente errado. Já testemunhei
informação de bonificação da direção de
uma grande empresa ser enviada para
um endereço externo cujo nome era
similar ao do destinatário desejado.
A Integridade busca garantir
que os dados armazenados nos
sistemas de informação sejam
consistentes e confiáveis, a salvo
de alterações indevidas, sejam elas
internas ou externas, propositais ou
acidentais. Furtos de estoque podem
frequentemente estar associados a
crimes eletrônicos, via alteração indevida
de registros para mascarar o desvio.
Uma organização recentemente passou
por uma investigação policial, pois havia
uma quadrilha que atuava internamente,
aumentando as ordens de produção no
sistema, vendendo clandestinamente os
produtos produzidos a mais e apagando
as evidências das ordens de produção
fraudulentas.
Disponibilidade significa que as
informações poderão ser acessadas no
momento e local em que são necessárias.
Voltando ao tema de interrupções nos
processos de negócio, uma pesquisa
realizada há alguns anos mostrou
que somente 20% das organizações
acreditavam poder sobreviver a uma
interrupção drástica nas suas operações
por mais de uma semana. E se um evento
afeta o datacenter da sua empresa, você
tem um plano de contingência para
garantir que os processos essenciais
continuem a operar? Quando pensamos
em equipamentos eletrônicos,
lembramo-nos do risco de incêndio, mas
várias empresas já sofreram alagamentos
no seu datacenter.
EMBORA A
INFORMAÇÃO
SEJA UM ATIVO
CADA VEZ MAIS
IMPORTANTE E
OS PROCESSOS
DE NEGÓCIO MAIS
DEPENDENTES
DA TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO,
NÃO ESTÁ CLARO
AINDA, PARA MUITAS
ORGANIZAÇÕES, A
RELAÇÃO ENTRE O
VALOR DESSE ATIVO
E O QUANTO A
EMPRESA DEVERIA
INVESTIR NA SUA
PROTEÇÃO.
38 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
Avaliação de Impacto no Negócio
Uma parte da dificuldade da organização
em se preparar para esses eventos
nasce na dificuldade de comunicação
da área de TI com a alta administração
da empresa. Cabe à TI amadurecer seu
discurso, deixar de ser um centro de
custo, passar a preocupar-se também
em como colaborar na melhoria dos
resultados da organização e trazer uma
visão mais estratégica.
Se a empresa já tem um certo grau de
conscientização sobre a necessidade
de proteção da informação, o próximo
passo é entender onde está a informação
de maior valor para a organização e
que controles são necessários para sua
proteção. Um ponto de partida costuma
ser a realização de uma Avaliação de
Impacto no Negócio, um processo
estruturado que visa identificar os
processos de negócio junto com cada
unidade da empresa, definir a criticidade
de cada um e identificar riscos e formas
possíveis de mitigação desses riscos.
Uma das perguntas-chave sobre
cada processo a ser respondida pela
alta administração é: quanto tempo
o negócio suporta ficar sem este
processo? A tolerância ao risco irá
direcionar as ações que a TI tomará.
Evidentemente, processos de maior
criticidade irão demandar investimentos
maiores, mas frequentemente o
resultado da Avaliação de Impacto é
a descoberta de que alguns sistemas
possuem controles de segurança
além dos necessários, permitindo o
redirecionamento de recursos para
outros projetos da TI mais efetivos.
Um exemplo simples pode ser o backup.
A maioria das empresas faz backup dos
dados durante a noite. Mas e se ocorre
um problema no final da tarde? Todo
um dia de trabalho terá sido perdido.
Dependendo do sistema afetado, essa
perda pode ser irreparável. A falta de
alinhamento faz com que a TI acredite
estar fazendo o que a empresa espera e
o administrador ache que seu ambiente
está protegido. Na maioria dos casos,
este gap é descoberto no pior momento
possível.
Análises quantitativas de risco podem
ajudar a calcular financeiramente
o risco ao qual a organização está
exposta e o retorno esperado pelos
controles de segurança a serem
implementados. Considere que o
Brasil é um país relativamente a salvo
de terremotos, mas que um incêndio
é uma eventualidade preocupante. O
investimento necessário para proteção
do datacenter contra fogo pode ser
avaliado através da análise quantitativa
de risco. O risco aceito (terremoto) será
tratado via outros mecanismos, como
um seguro, por exemplo.
SE A EMPRESA
JÁ TEM UM
CERTO GRAU DE
CONSCIENTIZAÇÃO
SOBRE A
NECESSIDADE DE
PROTEÇÃO DA
INFORMAÇÃO, O
PRÓXIMO PASSO
É ENTENDER
ONDE ESTÁ A
INFORMAÇÃO DE
MAIOR VALOR E
QUE CONTROLES
SÃO NECESSÁRIOS
PARA SUA
PROTEÇÃO.
39FACULDADE AIEC
André Mazeron
Fundador da Leverage Informática,
empresa especializada em segurança da
informação. É certificado pelo instituto
ISC2 como CISSP (Certified Information
Systems Security Professional). Aluno
do 8º período da Faculdade AIEC, Polo de
Porto Alegre (RS). [email protected]
Panorama atual
Uma vez que está clara a justificativa
de proteção da informação, e que
muitos dos fatores têm causa interna
e/ou acidental, vamos olhar para os
fatores externos e o panorama atual.
No passado, a maior motivação para
um ataque era a fama adquirida pelo
invasor com a ação. Hoje, a maior parte
dos ataques externos tem motivação
financeira e quase sempre é realizada
por quadrilhas altamente especializadas.
Alguns analistas afirmam que o volume
financeiro movimentado pelo crime
cibernético já superaria o do tráfico
internacional de drogas. Uma verdadeira
economia do crime surgiu nos últimos
anos, em que o valor de dados de cartão
de crédito oscila de acordo com a
oferta e a demanda. Quando a Sony foi
invadida em 2011 e hackers roubaram
milhões de dados de cartão de crédito,
o custo de um cartão no mercado negro
despencou.
Nas mesmas redes do submundo é
possível adquirir pacotes de software
para realização de ataques sem grande
conhecimento técnico, contando
até mesmo com suporte técnico do
fornecedor, ou alugar redes de milhares
de computadores infectados para
tirar qualquer site do ar via excesso de
tentativas de acesso.
O cibercrime deixou de ameaçar
somente os ativos digitais. A grande
preocupação da indústria da segurança
é a proteção de sistemas industriais
SCADA1, que podem ser alvos de vírus
que manipulam os controles, gerando
dano físico nas máquinas. Foi a técnica
utilizada pelos Estados Unidos e
Israel para destruir as centrífugas de
enriquecimento de urânio do Irã.
Um recente trabalho de pesquisa
mostrou que equipamentos médicos
podem ser afetados. Acompanhei
uma demonstração de uma bomba de
insulina sendo comandada remotamente
pelo pesquisador, que modificou a dose
injetada.
Além do crime organizado, algumas
nações têm feito intenso uso de hackers
para roubo de propriedade intelectual
de empresas ocidentais, com grande
impacto futuro na competitividade
dessas organizações.
Felizmente, existem ações e mecanismos
para se proteger dessas ameaças e é
possível a organização lidar de forma
satisfatória com esses riscos. Neste
artigo, buscamos apresentar algumas
dessas possibilidades.
1 SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition - Sistemas de Supervisão e Aquisição de Dados): sistemas informatizados utilizados para monitorar, supervisionar e controlar processos produtivos complexos.
“
”
HOJE, A MAIOR
PARTE DOS CRIMES
CIBERNÉTICOS
TEM MOTIVAÇÃO
FINANCEIRA E É
REALIZADA POR
QUADRILHAS
ESPECIALIZADAS.
ANALISTAS
AFIRMAM QUE
O VOLUME
FINANCEIRO
MOVIMENTADO
PELO CIBERCRIME
JÁ SUPERARIA
O DO TRÁFICO
INTERNACIONAL DE
DROGAS.
40 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão da cultura
O estado do Acre fica no fim
do mundo, certo? Na região
amazônica, divisa com o Peru,
sinônimo de atraso cultural, político e
econômico?
Não foi bem isso que encontrei nas
minhas viagens recentes para lá. Me
surpreendi com a aparência limpa,
moderna e acolhedora da capital, Rio
Branco. Rodoviária, aeroporto, hospitais,
prédios públicos e, principalmente,
a Universidade da Floresta, onde se
desenvolvem pesquisas e projetos
que valorizam os tradicionais povos da
floresta.
Desde o assassinato do líder seringalista
Chico Mendes, em 1988, o estado
ganhou destaque pela demarcação de
Reservas Extrativistas (Resex), onde os
habitantes trabalham em cooperativas,
almejando qualidade de vida e
sustentabilidade.
A partir de então, aconteceu, dentro
dessas cooperativas, um novo
movimento de resgate da identidade
indígena. Antropólogos e sociólogos
se surpreenderam com o fato de os
antigos “caboclos seringueiros”, outrora
assassinados, escravizados, explorados
e humilhados, de repente ganharem
uma nova identidade e autoestima. A
postura desses brasileiros atraiu a atenção
de organizações internacionais pelo
seu engajamento na área da proteção
ambiental, bem como em relação a
questões de saúde e de soluções pacíficas
para a vida social.
Nova geração
Várias lideranças indígenas já foram
convidadas para participar de encontros
importantes na Europa, até com a
chanceler alemã Angela Merkel. O líder
espiritual tibetano, o Dalai Lama, mandou
uma comitiva para a aldeia Nova Esperança
do povo dos Yawanawá. Essa aldeia ganhou
destaque pela história contada por seu
cacique carismático, o Biraci Brasil, que é a
mesma de outros povos da região:
AUTOESTIMA E
REVALORIZAÇÃO
DA IDENTIDADE
INDÍGENA EM RESERVAS
EXTRATIVISTAS
PROMOVEM O
RENASCIMENTO
SUSTENTÁVEL
DE CULTURAS
TRADICIONAIS DOS
POVOS DA FLORESTA.
Veronika Brunis
41FACULDADE AIEC
“
”
FOMOS
CATEQUIZADOS
À FORÇA POR
RELIGIOSOS,
IMPEDIDOS DE
FALAR NOSSA
LÍNGUA E
HUMILHADOS A
RESPEITO DA
NOSSA APARÊNCIA,
DAS NOSSAS
TRADIÇÕES,
CRENÇAS E
RITUAIS. COM A
DEMARCAÇÃO DA
NOSSA TERRA,
EXPULSAMOS OS
MISSIONÁRIOS E
PROCURAMOS AS
NOSSAS RAÍZES.
(CACIQUE BIRACI
BRASIL)
“Meu povo estava praticamente
extinto, consequência das matanças
(‘correrias’) durante o ciclo da
borracha. Quem sobrou foi obrigado
a trabalhar para os seringueiros, em
condições extremamente injustas,
praticamente como escravos. Fomos
catequizados à força pelos padres e
missionários, impedidos de falar nossa
língua e humilhados a respeito da nossa
aparência, das nossas tradições, crenças
e rituais. Com a demarcação da nossa
terra, expulsamos os missionários e
procuramos as nossas raízes. Tinha
uns poucos pajés escondidos nas
profundezas da floresta. Além disso,
encontramos ajuda e orientações com os
Huni Kuin - povo vizinho extremamente
tenaz e guerreiro que nunca perdeu sua
cultura. Outros povos parentes como
os Kuntanawa estão sendo orientados
pelos Ashaninka - descendentes dos
Inka, com presença maior no Peru e
altamente realistas e exigentes nos seus
contatos com os brancos. Hoje, temos
uma nova geração de pajés, inclusive
mulheres (uma novidade!). É a nossa
espiritualidade que nos dá a força, a
coerência e a visão correta.”
Os líderes indígenas estão ganhando
prêmios nacionais e internacionais pelos
seus projetos públicos, com destaque
para o jovem articulador do movimento
indígena, Haru Kuntanawa, que possui
habilidade em relação aos meios de
divulgação eletrônicos.
Turismo etnorreligioso
Existe um novo fenômeno que se
chama “turismo etnorreligioso”,
principalmente para participação em
festivais culturais indígenas. Entrou
em voga também, nas grandes cidades,
a “vivência de pajelança indígena”.
Acontece em um final de semana,
geralmente em um sítio, onde se pode
entrar em contato com as medicinas
sagradas e os rituais ancestrais dos
povos da floresta amazônica.
As propostas desses encontros
são surpreendentemente atuais:
autoconhecimento e crescimento
pessoal, cura das mazelas da civilização,
momentos de convívio social fraterno,
vivências autênticas de espiritualidade e
aumento da consciência, conexão com
a natureza e rompimento de limitações
físicas, emocionais e espirituais.
Quando visitei os Yawanawá, em
outubro de 2012, cheguei um dia antes
do começo do festival e fui recebida
com muita atenção e cordialidade
por um povo que veste roupas, não
pinta o corpo, fala o português e come
arroz e feijão. Logo percebi a ausência
absoluta de bebidas alcoólicas (exceto
a tradicional Caiçuma em eventos
especiais), a ausência do cigarro, a
ausência relativa da televisão e uma
vida comunitária intensa. Não ocorreu
nenhum ato de violência, de assédio, de
furto ou roubo durante minha estadia.
Pelo contrário, objetos perdidos foram
atenciosamente devolvidos ao dono. Me
chamou a atenção, ainda, a ausência de
pessoas obesas e a aparência saudável,
forte e muito bonita dos jovens, todos
eles educados e respeitosos.
42 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
SAÍ DO
FESTIVAL INDÍGENA
SENTINDO UMA
IMENSA GRATIDÃO
PELAS VIVÊNCIAS
RENOVADORAS E
SURPREENDENTES.
MEU CONCEITO
SOBRE O ÍNDIO
MUDOU. ENXERGUEI
A CONTRIBUIÇÃO
DOS POVOS DA
FLORESTA COM
BASE NA SUA
CONSCIÊNCIA
ESPIRITUALIZADA
SOBRE A
NATUREZA E O
SER HUMANO.
“
”
Vivências renovadoras
Com o início do festival, o cenário se
animou. A maioria dos presentes -
índios e visitas - estava vestida com a
obrigatória saia de palha e com o corpo
pintado. A pintura, além de proteger
contra o sol, identifica a pessoa diante da
comunidade, mas principalmente diante
dos espíritos do povo, garantindo força
e proteção.
Iniciaram-se as cantorias, as danças
tradicionais, as brincadeiras esportivas,
os rituais noturnos, a aplicação de
medicinas para o corpo e para o espírito,
e caminhadas guiadas para lugares
sagrados na floresta. Uma semana de
encontros incríveis e transformadores.
Saí do festival com um sentimento
de imensa gratidão pelas vivências
renovadoras e surpreendentes que
pude desfrutar. Meu conceito sobre
o “índio” mudou por completo.
Enxerguei a contribuição extremamente
importante que os povos da floresta
estão desenvolvendo com base na
sua consciência espiritualizada sobre
a natureza e sobre o ser humano e a
unidade de todos.
Os antigos rituais renovados,
especialmente o ritual com o sagrado
chá Ayuasca, facilitam uma reconexão
com as raízes ancestrais ao tempo em
que se funde com o movimento mundial
conhecido como New Age.
Essa Nova Era se caracteriza pela
procura de uma consciência clara
e cordial, unificando a ciência e
a espiritualidade, unificando a
humanidade, e pela preocupação
com o bem-estar de todos os seres, o
que leva a um novo conceito de ética
socioambiental.
Força misteriosa
Quero fechar meu relato com uma
vivência que eu tive em um desses rituais
que ocorrem em um clima de silêncio,
respeito, paz e concentração profunda
em relação a tudo o que ocorre dentro e
fora da pessoa.
Depois de um longo silêncio, o pajé
começou a entoar os cânticos sagrados
na língua nativa, com voz calorosa,
clara, mas indescritivelmente rica em
nuances, timbres e sutilezas fonéticas.
Percebi toda a vitalidade da natureza
atuando nessa sonoridade poderosa,
fazendo crescer, florescer e frutificar.
Em seguida, percebi como esses
cânticos, sempre repetidos nos rituais,
atuam sobre a configuração vital dos
participantes, presenteando os ouvintes
com a força misteriosa guardada em
segredo por milênios pelos povos da
floresta. Pude experimentar uma força
de ressurreição energética, o que
resultou em uma forte identificação com
o movimento indígena atual. Será que o
milagre do desenvolvimento no estado
do Acre está ligado a esses rituais?
43FACULDADE AIEC
“
”
SERIA UMA
PROVOCAÇÃO
EXCESSIVA
DESCREVER
OS ‘ÍNDIOS
CONSCIENTES’
COMO UMA
NOVA GERAÇÃO
DE ZELADORES
DA NATUREZA E
EXEMPLO PARA
TORNAR O BRASIL
REALMENTE UMA
LIDERANÇA MUNDIAL
EM ECONOMIA
SUSTENTÁVEL?
Hoje, me considero como “índia
alemã”, pois nutro um afeto profundo
pelos povos que encontrei no Acre: os
afetuosos Yawanawá, os Huni Kuin, com
sua autenticidade mais bem preservada,
os Kuntanawa, com sua dinâmica incrível
e diversificada, os Ashaninka, com
seu Xamanismo poderoso, eficiente e
didático. Compartilho as preocupações
ambientais, admiro seu estilo de vida
valente e desapegado, mas também
entendo suas dificuldades em relação
aos desafios e perigos da civilização.
Como ajudar?
Os principais desafios do momento,
no meu entender, resultam do
desconhecimento da missão verdadeira
desses povos por parte da sociedade
brasileira. Conforme amplamente
divulgado nas mídias, existem inúmeras
ameaças aos territórios já demarcadas
em prol de um “progresso civilizatório”
duvidoso: projetos de novas
hidrelétricas, o avanço da agropecuária,
retirada irregular de madeira, novas
descobertas de petróleo, ouro,
minérios...
Seria uma provocação excessiva
descrever os “índios conscientes”
como uma nova geração de zeladores,
orientadores e exemplos para tornar o
Brasil realmente um país de liderança
mundial em economia sustentável?
Veronika Brunis
Euritmista e professora Waldorf formada
na Alemanha. Trabalha como docente do
curso Antropomúsica, em Itatiba (SP),
e como pesquisadora, conferencista e
facilitadora de seminários.
Como ajudar? Primeiro pela informação
correta! A imagem divulgada sobre “o
índio” ainda retrata principalmente um
folclore ligado a um passado sinônimo
de atraso mental e econômico. Como
consequência, os próprios índios têm
dificuldade de escapar às tentações de
“se tornar branco”, almejando todos os
bens de consumo divulgados nas mídias.
Os encontros interculturais como os
descritos neste artigo podem levar a um
respeito verdadeiramente humano e
a uma apreciação da essência da outra
cultura, sem perder de vista que se
precisa sempre de discernimento para
conhecer também os perigos de um
universo ainda desconhecido.
Alerto contra o uso indiscriminado das
Medicinas da Floresta, que necessitam
do contexto correto e de todos os
cuidados quando se lida com questões
de saúde, como dietas, abstinências,
repousos, contraindicações, posologia,
etc. Os jovens indígenas, por sua vez,
precisam de um acompanhamento
responsável, cordial e tolerante por
parte dos professores, para facilitar
o diálogo com a “nossa” cultura,
sem erradicar essas identidades tão
diversificadas e preciosas.
44 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
Gestão da sustentabilidade
Muito se tem falado sobre
sustentabilidade, embora não
seja um assunto novo. Afinal
nossos ancestrais aproveitavam cem por
cento do que caçavam: comiam a carne,
se vestiam com as peles e fabricavam
utensílios e armas com os ossos dos
animais. Viviam em harmonia com a
natureza, tirando dela apenas o que era
necessário para sua sobrevivência. À sua
maneira, portanto, eram sustentáveis.
O mundo mudou e cresceu, baseado
principalmente no modelo de
desenvolvimento capitalista. Olhando
para as evidências, esse modelo, me
parece, precisa ser reinventado. Não
dá mais para pensar o mundo baseado
apenas em crescimento econômico.
Precisamos pensar em prosperidade.
Crescimento econômico tem como sua
principal medida o PIB – Produto Interno
Bruto, que é a soma de todos os bens e
serviços produzidos por um país. Já a
prosperidade leva em conta a qualidade
dessa riqueza e como ela impacta nossas
vidas no sentido de progresso social,
educacional, da saúde, financeiro e
político.
Mais do que meio ambiente
Depois de ter trabalhado mais de 30 anos
no setor financeiro, foi nos 13 últimos
em que fiquei no Banco Real/AbnAmro
que essa realidade da sustentabilidade
ficou mais evidente e tangível.
Conseguimos introduzir no sistema
bancário brasileiro, a duras penas, mas
com enorme sucesso, essa visão e jeito
de fazer negócio.
EMPRESA ARTICULA
CONEXÕES
ENTRE EMPRESAS,
COMUNIDADES,
EMPREENDEDORES E
INVESTIDORES PARA
PROMOVER NEGÓCIOS
SUSTENTÁVEIS.
Altair Assumpção
45FACULDADE AIEC
“
”
NÃO DÁ MAIS
PARA PENSAR O
MUNDO BASEADO
APENAS EM
CRESCIMENTO
ECONÔMICO.
PRECISAMOS
PENSAR EM
PROSPERIDADE.
CRESCIMENTO
ECONÔMICO
TEM A VER COM
A PRODUÇÃO
DE RIQUEZAS.
PROSPERIDADE
LEVA EM CONTA A
QUALIDADE DESSAS
RIQUEZAS E COMO
ELAS IMPACTAM
NOSSAS VIDAS.
Com os relacionamentos construídos,
com mais pessoas e empresas engajadas
no tema, com escolas procurando se
aparelhar para essa nova realidade,
minha inquietação crescia, pois
enxergava inúmeras oportunidades
e o banco, por ser uma corporação,
tinha seus limites. Assim, muitas boas
oportunidades eram desperdiçadas.
Em abril de 2011, saí do banco e me
associei a Marcelo Torres que, pela
mesma razão, havia saído do banco e
criado a consultoria Sustainable Hub.
Em seguida, também egresso do banco,
veio juntar-se a nós Antonio Lombardi.
Desde então, temos trabalhado para
mostrar que sustentabilidade é muito
mais do que meio ambiente. Para nós,
sustentabilidade é ciência, é equilíbrio, é
crer que se pode fazer mais com menos.
Inovações em sustentabilidade
Para saber o que estava acontecendo na
Europa com relação à sustentabilidade,
fizemos algumas viagens para a Suíça,
Itália e Inglaterra. Nesses países, a
escassez de recursos naturais é grande,
o que faz com que as pessoas cobrem
dos governantes e das empresas uma
conduta mais correta e menos danosa ao
meio ambiente.
Chamou minha atenção um aplicativo
para smartphones que permite
identificar, através de um código
na embalagem de produtos no
supermercado, de onde eles vieram e
qual a pegada de carbono até chegar à
gôndola do estabelecimento. Assim, o
consumidor pode comparar os produtos
e decidir qual deles impactou menos
o meio ambiente até chegar ali. É uma
ferramenta de decisão de compra.
Outra boa surpresa foi um selo de
eficiência para imóveis, como se fosse
o selo Procel1 para eletrodomésticos,
que temos aqui no Brasil. Toda casa
possui um selo desses que atesta a
sua eficiência em termos de consumo
de energia e água. Esse selo valoriza o
imóvel na hora da venda. Quanto mais
eficiente é o imóvel, menos despesa
para o proprietário ao longo da vida.
Vimos esses selos em anúncios de
uma imobiliária na pequena cidade de
Annemasse, na fronteira da França com
a Suíça.
Mas, para mim, o maior exemplo vem
de Londres. A maioria das belas casas
vitorianas, que dão à cidade um toque
de elegância, são casas ineficientes,
úmidas e pouco agradáveis para morar
nos dias de hoje. O governo inglês
está promovendo um ambicioso
projeto de retrofit (atualização) dessas
moradias para torná-las mais eficientes
e confortáveis, incorporando novas
tecnologias de construção sustentável.
1 O Selo Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) permite ao consumidor identificar os produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética. Também estimula a fabricação e a comercialização de produtos mais eficientes, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico e a preservação do meio ambiente.
46 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
INSPIRADA NA
FORMA COMO
OS ECOSSISTEMAS
NATURAIS
FUNCIONAM,
A ECOLOGIA
INDUSTRIAL
BUSCA ENTENDER
E MELHORAR
O SISTEMA
DE PRODUÇÃO
INDUSTRIAL E
ASSIM MINIMIZAR
A PERDA DE
MATERIAL NO
PROCESSO DE
PRODUÇÃO E
CONSUMO E
REDUZIR OS
IMPACTOS NO
MEIO AMBIENTE.
A única coisa que não pode ser
alterada são as fachadas, para manter a
história e os aspectos culturais dessas
construções.
Resultados
O resultado da viagem foi que
estabelecemos parcerias importantes
com empresas como SOFIES (Solutions
For Industrial Ecosystems), empresa
de consultoria suíça especializada em
meio ambiente e desenvolvimento
regional que atua baseada nos princípios
da ecologia industrial. Inspirada na
forma como os ecossistemas naturais
funcionam, a ecologia industrial busca
entender e melhorar o sistema de
produção industrial e assim minimizar
a perda de material no processo de
produção e consumo e reduzir os
impactos no meio ambiente.
Também nos articulamos com o BRE
(Building Research Establishment),
empresa fundada no Reino Unido
em 1917 e que é hoje o maior centro
de inovação e pesquisa de novas
tecnologias em construções do
mundo. O BRE criou a certificação para
edificações em 1999 com o selo BREEAM
(BRE Environmental Assessment
Method). Trata-se de um dos métodos
mais abrangentes e reconhecidos de
avaliação do desempenho ambiental
de um edifício e do impacto das
construções no meio ambiente.
Fazendo conexões
Em função desse nosso relacionamento
com o BRE, fomos indicados por eles,
em 2011, como uma das empresas com
quem o então prefeito de Portland,
EUA, Sam Adams, deveria conversar
quando estivesse no Brasil para a C402.
Tivemos uma reunião excelente, tanto
que assinamos um memorando de
entendimento para sermos o Bureau
da cidade de Portland para o Brasil.
Portland é a segunda cidade mais
sustentável dos EUA, depois de São
Francisco.
Nosso trabalho é fomentar os negócios,
trazendo empresas de lá que querem
iniciar negócios no Brasil, assim como
levar empresas brasileiras para se
instalarem em Portland e organizar
missões de empresários brasileiros.
O objetivo dessas viagens é que os
empresários brasileiros possam ver e
vivenciar um dos melhores exemplos
de administração pública, em que
o trabalho integrado entre o setor
privado, o setor público, universidades
e a comunidade operam verdadeiros
milagres.
2 C40 é uma rede de 40 megacidades do mundo que desenvolvem ações para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Elas se reúnem a cada dois anos para debaterem as mudanças climáticas no planeta. Em 2011, o encontro foi em São Paulo. Essas 40 cidades abrigam cerca de 50% da população mundial, consomem 75% da energia mundial e produzem 80% dos gases com efeito de estufa. No Brasil, fazem parte da C40, as cidades do Rio, São Paulo e Curitiba. http://www.c40cities.org
47FACULDADE AIEC
Outra parceria que temos é com a
New Ventures Brasil, aceleradora de
empreendedorismo de inovação e
sustentabilidade. Nesse programa,
ajudamos empreendedores, através de
mentoring, aulas com especialistas em
finanças, controles, marketing, vendas,
etc., a tornar seus empreendimentos
mais atraentes aos investidores. Esse
é um trabalho muito bacana porque
nos permite passar adiante o que
aprendemos e praticamos.
Uma das coisas que sempre fizemos
muito bem foram as conexões,
especialmente em função das relações
desenvolvidas durante o tempo em que
trabalhamos no mercado financeiro.
Para nós, é muito fácil conectar quem
precisa com quem tem recursos, uma
solução com um problema, uma ideia
com um desenvolvedor. Por essa razão,
batizamos nossa empresa de Sustainable
Hub. No mercado nacional passamos a
nos identificar como SHUB.
Desafios
Em que pese o tema sustentabilidade
estar sendo cada vez mais debatido,
estar presente quase que diariamente na
imprensa e na conversa entre as pessoas,
muito empresário ainda encara esse
assunto como algo sem relevância e que
gera muito mais custos que benefícios.
Nosso desafio tem sido o de tentar
mudar essa percepção, mostrando a
esses empresários que sustentabilidade
é o novo normal. Agrega valor não só à
marca, mas também pode tornar sua
empresa mais eficiente e produtiva.
Não tem como pensar o mundo e as
relações sem levar em conta as variáveis
econômicas, sociais e ambientais.
Em 2013, nosso foco está no
crescimento da nossa relação com a
cidade de Portland. Além das viagens
de estudos para o setor privado que
já organizamos, vamos oferecer esse
serviço também para o setor público,
especialmente para cidades onde
novos prefeitos foram eleitos e têm,
em sua plataforma de governo, o
desenvolvimento sustentável como
prioridade. O objetivo é proporcionar
a esses prefeitos e a seu secretariado
a oportunidade de conhecer in loco
a experiência de uma administração
municipal extremamente bem sucedida.
Nosso outro desafio é lançar o BRE –
Brasil até o segundo semestre. Temos
plena convicção de que o BRE – Brasil
dará uma enorme contribuição para o
setor da construção civil brasileira.
Bom, para encerrar, digo a vocês que
tudo na vida tem seu momento. O
nosso momento atual é mágico, porque
percebo que estamos fazendo algo que
agrega valor, que pode mudar a vida
das pessoas e deixar um legado. E isso é
muito gratificante. E sustentável!
“
”
EM QUE
PESE O TEMA
SUSTENTABILIDADE
ESTAR SENDO CADA
VEZ MAIS DEBATIDO,
MUITO EMPRESÁRIO
AINDA ENCARA
ESSE ASSUNTO
COMO ALGO SEM
RELEVÂNCIA E QUE
GERA MAIS CUSTOS
QUE BENEFÍCIOS.
NOSSO DESAFIO
TEM SIDO TENTAR
MUDAR ESSA
PERCEPÇÃO.
Altair Assumpção
Sócio do Sustainable Hub. Formado em
Administração de Empresas.
48 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
EAD
Para que serve uma universidade
corporativa? Qual o impacto
dos programas de educação
corporativa? Será que a universidade
corporativa contribui para os resultados
de uma empresa?
Essas perguntas são frequentes, quando
se pensa em implantar uma universidade
corporativa. Com a CAIXA não foi
diferente. A Universidade CAIXA (UC)
nasce em 2001 com o propósito de
promover a educação e a aprendizagem
dos empregados e parceiros
estratégicos para a realização da missão
da CAIXA. Um grande desafio para uma
Empresa com 94 mil empregados, que
atende a mais de 5 mil municípios e
possui uma rede de parceiros com mais
de 36 mil correspondentes bancários.
A UC ocupa lugar estratégico na
Empresa, uma vez que as ações
educacionais têm por premissa
contribuir para o fortalecimento
do papel da CAIXA como agente
governamental estratégico na
implementação das políticas públicas,
para a valorização do desenvolvimento
contínuo e a profissionalização
dos colaboradores internos de
forma integrada com os objetivos
organizacionais. Entre as diversas
iniciativas de desenvolvimento da
Universidade CAIXA, a ação educacional
Visão Integrada do Cliente, lançada
em 2008, foi fundamental para auxiliar
a Empresa no momento de crise
financeira mundial, contribuindo para
um incremento de 50% no mercado de
crédito CAIXA entre os anos de 2009 e
2010.
UNIVERSIDADE CAIXA
DESENVOLVE OS
EMPREGADOS, APOIA
NEGÓCIOS E CONTRIBUI
PARA A EMPRESA
DESEMPENHAR SEU
PAPEL COMO AGENTE
GOVERNAMENTAL
ESTRATÉGICO.
Ana Telma Sobreira do Monte
49FACULDADE AIEC
“
”
Novas tecnologias de apoio à educação
Para o desafio de capacitar uma
quantidade substantiva de empregados e
parceiros, espalhados em todo território
nacional, a UC conta com grandes
aliados: o Portal UC, intranet e o portal
dos parceiros. Essas plataformas de
e-learning são de suma importância para
se fazer educação na CAIXA, na medida
em que os cursos com metodologia EAD
possibilitam a realização de capacitações
com qualidade, velocidade e um
excelente custo/benefício.
O Portal está programado na plataforma
Zope/Plone e estamos integrando o
Moodle a ela, para as ações a distância
com tutoria. Acreditamos que a tutoria,
com as ferramentas adequadas, pode ser
uma opção a algumas ações presenciais
e possibilitar que mais pessoas sejam
capacitadas.
A Universidade conta com um núcleo
de desenvolvimento de ações de EAD
responsável pela prospecção de novas
formas de construir conhecimentos.
Para adequar a linguagem dos
treinamentos a um perfil de empregado
já acostumado com a linguagem
web, a UC criou o Blog de Educação
Corporativa, na Intranet da CAIXA,
com artigos que discutem questões
relativas à educação nas empresas,
tais como as formas de planejar o
desenvolvimento, dicas de português e
programas da CAIXA para a capacitação
dos empregados. O Blog fornece um
contato direto com os empregados em
uma linguagem cada vez mais comum
entre eles.
Aprendizagem colaborativa
A Universidade CAIXA, por meio da
Gerência de Gestão do Conhecimento,
lançou em janeiro de 2010 a
Wikiversidade CAIXA, a fim de incentivar
e apoiar a aprendizagem colaborativa
na Empresa. A Wikiversidade reúne
informações úteis à operacionalização
de produtos, processos e serviços
CAIXA, auxiliando o empregado de
forma ágil, simples e objetiva no
exercício de suas atividades. O conteúdo
é construído pelos empregados, de
forma colaborativa, validado pelas áreas
gestoras dos produtos e a atualização é
contínua e aberta à colaboração de toda
a Empresa.
A Wikiversidade CAIXA disponibiliza seu
conteúdo na forma de cadernos, que
funcionam como um passo a passo para
auxiliar os empregados na execução de
suas atividades, com dicas, melhores
práticas e informações sobre serviços
relatadas pelos empregados, numa
linguagem acessível e aderente ao
cotidiano desses profissionais.
Em 2011, a Universidade CAIXA
lançou a Wikivídeos, ferramenta
que permite aos empregados
compartilharem informações sobre
como operacionalizar produtos,
processos e serviços CAIXA. São vídeos
simples e curtos (em torno de cinco
minutos) feitos pelos colegas que
atuam diretamente com as atividades
abordadas e trazem dicas e sugestões
que podem agilizar o trabalho e melhorar
o desempenho dos empregados.
A UNIVERSIDADE
CAIXA NASCE
EM 2001 PARA
PROMOVER A
APRENDIZAGEM
DOS EMPREGADOS
E PARCEIROS
ESTRATÉGICOS PARA
A REALIZAÇÃO DA
MISSÃO DA CAIXA.
UM DESAFIO PARA
UMA EMPRESA
COM 94 MIL
EMPREGADOS,
QUE ATENDE A
MAIS DE 5 MIL
MUNICÍPIOS E COM
MAIS DE 36 MIL
CORRESPONDENTES
BANCÁRIOS.
50 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
“
”
Em termos numéricos são: 61.461
usuários ativos, 2.228.619 acessos,
84.344 edições, 26 Wikivídeos
publicados, 27 cadernos publicados na
Wikiversidade CAIXA e 11.125 verbetes
na enciclopédia CAIXA até o final de
2012.
A UC visa, para 2013, à consolidação da
Rede Social de Conhecimentos CAIXA
(Conhecenet), que é uma ferramenta
destinada à construção de comunidades
de aprendizagem e colaboração, com
foco em geração e compartilhamento de
conhecimento entre os empregados. Ela
permitirá a criação de páginas pessoais
pelos empregados, e o registro de
experiências e conhecimentos. Haverá
comunidades em que os empregados
poderão associar-se de acordo com
as áreas de conhecimento de sua
preferência, com temáticas criadas
pelos empregados e relacionadas a
um assunto de interesse coletivo. Isso
demonstra que a teoria das redes sociais
pode servir para o contexto educacional.
Todas essas iniciativas estão em um
portal virtual disponível para acesso na
intranet. Dessa forma, a Universidade
CAIXA, além de transformar o
conhecimento tácito em explícito,
também valoriza e reconhece os
talentos individuais, oportunizando a
contribuição do seu ativo mais precioso:
seus empregados.
Trilhas de Aprendizagem
A Universidade CAIXA tem adotado
estratégias que sinalizam a relevância
da capacitação e da busca do
autodesenvolvimento.
Nesse sentido, houve a necessidade de
iniciar um processo de mudança cultural
interna, reforçando para o empregado
a corresponsabilidade pelo próprio
desenvolvimento.
Atualmente, o empregado que almeja
ascensão profissional na Empresa
sabe que é imprescindível investir
em capacitação continuada, uma
vez que essa postura é valorizada e
reconhecida nos processos de seleção
interna. Assim, o empregado ganha
autonomia para verticalizar suas
competências por meio da ferramenta
Trilhas de Aprendizagem, que são
estruturas adotadas para organizar
ações educacionais e outras estratégias
que, integradas, apontam caminhos
de aprendizagem aos empregados em
suas trajetórias de formação na CAIXA.
As trilhas orientam o empregado a
desenvolver competências específicas,
associando uma ação educacional aos
conhecimentos que ela desenvolve. Isso
deixa claro ao participante o que ele
está desenvolvendo com aquele curso
e o que mais ele precisa desenvolver
para completar o seu caminho, ou seja,
finalizar a sua trilha.
Além disso, em nosso sistema de
avaliação e métricas, onde são apuradas
as metas e os resultados de cada
unidade, um dos vértices é a Gestão de
Pessoas, e nesse critério está inserida
a capacitação. Assim, a capacitação
compõe, juntamente com os resultados
econômicos e financeiros, o resultado
global da unidade.
A UC ESTÁ
CONSOLIDANDO A
REDE SOCIAL DE
CONHECIMENTOS
CAIXA, DESTINADA
À CONSTRUÇÃO
DE COMUNIDADES
DE APRENDIZAGEM,
COM FOCO EM
GERAÇÃO E
COMPARTILHAMENTO
DE CONHECIMENTO
ENTRE OS
EMPREGADOS. ISSO
DEMONSTRA QUE
AS REDES SOCIAIS
PODEM SERVIR
PARA O CONTEXTO
EDUCACIONAL.
51FACULDADE AIEC
“
”
Reconhecimento
Essas propostas possibilitaram aos
empregados a percepção de que cuidar
da carreira é um processo que exige
aprimoramento contínuo. Ao longo de
2012, foram, em média, 110 horas de
capacitação por empregado, totalizando
10,2 milhões de horas, entre ações do
portfólio, evento externo e convênios,
sendo 8.111.756 (79,4%) de horas
EAD e 77.371 (0,8%) EAD com tutoria,
658.795 (6,4%) mista e 1.367.959
(13,4%) presenciais. Além de 984,5 mil
participações e 86,2 mil participantes em
cursos da Universidade CAIXA.
A CAIXA vem se destacando como
empresa pública pioneira na implantação
de projetos na área de capacitação, e
a Universidade CAIXA teve seu valor
reconhecido por meio de prêmios e pela
confiança de grandes parcerias. Das
premiações, podemos citar algumas
recebidas ao longo de 2011, 2012 e até
março de 2013:
- Referência Nacional no prêmio
“E-Learning Brasil 2011/2012”, da
FENADVB – Federação Nacional das
Associações dos Dirigentes de Vendas e
Marketing do Brasil.
- 2º Lugar no prêmio de “Melhor
Programa Corporativo de e-Learning
do Ano”, da International Quality e
Productivity Center – IQPC.
- 25 Melhores Práticas em e-Learning do
Brasil 2011, da Revista Gestão & RH.
- 1º lugar no prêmio “Ser Humano
Brasília 2011”, da ABRH-DF - Associação
Brasileira de Recursos Humanos do
Distrito Federal.
O MODELO
PEDAGÓGICO DA
UC SINALIZA PARA
UMA APRENDIZAGEM
FOCADA NA
INTERAÇÃO E NO
DESENVOLVIMENTO
DE UM
PENSAMENTO
CRÍTICO E
INOVADOR, O QUE
IMPLICA RESPEITO
AOS VALORES
CORPORATIVOS E
ÀS PESSOAS, POIS
ESTAS FAZEM A
DIFERENÇA NOS
NEGÓCIOS DA
CAIXA.
Ana Telma Sobreira do Monte
Superintendente Nacional de
Desenvolvimento Humano e Profissional
da CAIXA. Assistente social, graduanda
em Psicologia, pós-graduada em Dinâmica
de Grupo e Administração de RH.
- 3º lugar “Best Corporate University,
Excelência em Universidade
Corporativa”, da International Quality e
Productivity Center – IQPC.
- 3° lugar na categoria “Best overall
Corporate University”, do prêmio
internacional The GlobalCCU - Global
Council of Corporate Universities
Awards 2013.
Quem faz a Universidade CAIXA?
A UC é uma realidade que se faz no dia
a dia por todos os empregados. E tem
muitos desafios pela frente, em razão
das exigências do mercado financeiro
e da inovação requerida pela dinâmica
dos dias atuais. O Modelo Pedagógico
da UC está pautado no pensamento de
Lev Vygotsky, David Ausubel, Carl Rogers
e Paulo Freire, o que sinaliza para uma
aprendizagem focada na interação e no
desenvolvimento de um pensamento
crítico e inovador na Empresa. Essa
forma de pensamento implica um
respeito aos valores corporativos e
às pessoas que fazem a diferença nos
negócios da CAIXA.
Temos a clareza de que o
desenvolvimento de competências
corporativas é um processo subjetivo
e que passa pelo comportamento
humano. A amplitude do conceito de
universidade está adequada ao que
UC pretende ser: um instrumento
para o desenvolvimento, não só de
empregados, mas de seres humanos.
52 IDEIAS EM GESTÃO | NO 12 | JUL/2013
A administração é uma ciência sem caráter.
Empresta referenciais de qualquer outra área
do conhecimento sem qualquer pudor. Isso é
muito bom, pois a possibilidade de trabalhar
com conceitos teóricos diversos, sem o
constrangimento de estar violando limites
disciplinares, enriquece a análise, amplia o
diagnóstico e melhora a compreensão dos
fenômenos organizacionais.
Para as empresas, muitos desafios continuam
sendo os mesmos daquelas organizações
que surgiram com a Revolução Industrial,
especialmente a redução de custos e
maximização dos lucros. Alteraram-se,
porém, através dos tempos, os conceitos
de “custo” e de “lucro”. O custo ecológico
e social de um empreendimento não estava
entre as preocupações de um empresário há
50 anos.
Infelizmente, o pensamento de muitos
executivos e empresários está ainda
contaminado com a ideia de que o mercado
é um campo de batalha onde se defrontam
inimigos em uma acirrada luta. Nessa
guerra, o meio ambiente e os trabalhadores
representam apenas recursos a serem
utilizados.
E não são poucos os exemplos de empresas
que estimulam seus gestores a fazerem
digestão de pessoas, em vez de gestão de
pessoas, para cumprirem suas metas.
A situação em que se encontra o mundo
hoje exige que as empresas parem de
procurar inimigos fora de seus estreitos
limites ideológicos. É urgente que as
organizações, independentemente de seu
negócio, transcendam os objetivos imediatos
da conquista mercadológica e dos lucros
financeiros e lancem um olhar responsável
às condições do planeta, de seu país, de sua
comunidade, chegando até as condições de
trabalho em seus domínios.
A vocação transdisciplinar, aliada à disposição
para se livrar do peso dos “paradogmas”
epistemológicos, têm permitido aos estudos
de administração enriquecer as práticas de
gestão e atualizá-las constantemente para
atender as demandas de um mercado cada
dia mais dinâmico e de uma sociedade cada
dia mais complexa. E esses estudos têm
mostrado: o que era lucro no passado pode
ser prejuízo hoje e uma tragédia no futuro.
Até novembro!
Artur Roman