factory magazine - primeira edição

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Factory Loja Colaborativa Música na tela As trilhas que mexem com as emoções Ao natural Cachos voltam a dominar a cabeça das mulheres Um lugar onde você encontra tudo Edição N o 1 7 de dezemdo de 2015 Magazine

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Revista de moda, cultura e comportamento brasiliense.

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Page 1: Factory Magazine - Primeira Edição

Factory

Loja Colaborativa

Música na telaAs trilhas que mexem com as emoções

Ao naturalCachos voltam

a dominar a cabeça das

mulheres

Um lugar onde você encontra tudo

Edição No 17 de dezemdo de 2015

Magazine

Page 2: Factory Magazine - Primeira Edição

6 Minhas duas Brasílias

8 Um doce de BrasíliaInspirado pelos monumentos da cidade, o chefe Felipe Vieira cria uma deliciosa sobremesa

10 A voz das ruasEntre traços e cores, arte urbana pode dizer mais do que imaginamos

14 A sintonia da capitalBandas brasilienses procuram as vantagens do audiovisual para interagir com o público

18 Ouvir, ver e sentirOs segredos de quem sabe mexer com as emoções por meio de músicas de filmes

22 A moda como ela éFilmes e livros para inspirar os amantes da moda

28 Cacheia eu, cacheia vocêCada vez mais brasilienses abandonam a chapinha e se rendem ao formato natural dos fios

32 Moda para todosLoja que segue modelo colaborativo é opção para produtores locais e conquista espaço no cenário brasiliense

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Page 3: Factory Magazine - Primeira Edição

38 Entre vitrines e cabidesPrimeiro e-commerce de Brasília busca ajudar o desenvolvimento da moda na capital

40 Em defesa da moda sustentávelEstilista Fernanda Ferrugem comenta sobre carreira, sustentabilidade e cenário do mercado fashion no Brasil e no Mundo

44 Capital Fashion Week e a moda brasilienseEntenda como funciona o maior evento de moda da região

50 MiscelâneaA combinação de tecidos e texturas criadas por Gabriela Palazzo

58 GloriosaA flor que rende muitos frutos para a estilista Andressa Castro

66 Uma mulher realA blogueira Vanessa Vasconcelos revela os desafios de ter um blog de moda na capital

70 Haute CoutureUm patrimônio cultural parisiense que mudou o mundo e o universo da moda

72 SteetStyle

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Page 4: Factory Magazine - Primeira Edição

Expediente

Colaboradores

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Patrícia MouraEditora-chefe

Repórter e diagramadora

Marina BarbosaRepórter

Kamila BragaRepórter

Nathália MeloRepórter

Thalyne CarneiroRepórter

Karoline Miranda Repórter

Lucas BrantFotógrafo

Vanessa CastroFotógrafa

Heloisa RochaFotógrafa

Rômulo JuracyFotógrafo

Thiago SoaresEdição de fotografia

Estúdio Fotíssima Trindade

Eduarda LinsRevisora

Daniel MangueiraConcepção do projeto gráfico

Leonardo ResendeAuxiliar de diagramação

Page 5: Factory Magazine - Primeira Edição

Montar uma revista não é tarefa fácil. Pensar nas matérias, entrevistar as pessoas, escolher as fotos e acompanhar todos os repórteres para que tudo saia bem são tarefas que demandam tempo e muita paciência. Mas mesmo com todas as dificuldades, ver o resultado de tudo que fizemos com muito esforço, amor e carinho para os leitores faz toda a tensão valer a pena.

A primeira edição da Factory Magazine está recheada de matérias e reportagens sobre moda, cultura e comportamento focadas na realidade do brasiliense que gosta de moda e quer saber um pouquinho mais sobre o assunto. Nesta publicação você encontra histórias sobre o espírito de empreendedorismo que paira sobre a capital, com a coragem de jovens estilistas que decidiram correr atrás de seus sonhos e trabalhar com o que gostam, fica sabendo como surgiu o maior evento de moda da cidade e como as lojas colaborativas têm se tornado tendência entre vendedores e compradores que buscam produtos diferenciados e de qualidade.

O objetivo da Factory é mostrar aos brasilienses o que nossa cidade tem de mais belo para nos oferecer, todo o potencial que pode ser explorado neste quadradinho, principalmente em relação à moda. Inspirar todos que amam Brasília, moda e cultura.

Não poderia deixar de agradecer todos que trabalharam e lutaram juntos para concretizar o lançamento da Factory. Uma equipe maravilhosa e que está guardada no coração desta editora, meus sinceros parabéns e muito obrigada. Espero que possamos continuar juntos nas próximas edições, crescendo e melhorando cada vez mais a nossa linda revista que acaba de nascer.

Por Patrícia Moura

Carta da editora

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Minha Brasília, ao contrário da cidade, não foi planejada. Ela me conta com uma tristeza no fundo dos olhos, que nunca conheceu o pai, e que a mãe a criou sozinha. Não que o planejamento faça diferença. Foi tão bem desenhada que nem Oscar Niemayer poderia ter feito melhor. Quando Dom Bosco disse que viu uma terra de onde corria leite e mel, só pode ter se confundido descrevendo uma cidade, e não essa ruiva.

Minha Brasília tem as curvas mais lindas que os arcos da ponte JK. Fico tão perdido que sempre parece a primeira vez em que dirigi nas tesourinhas. Não sei como sair dali. Seus olhos conseguem ser mais azuis que o céu mais limpo do dia mais seco na cidade, e juro por tudo que é mais sagrado que nunca achei no por do sol tom de vermelho mais bonito do que vejo no cachos pesados dela.

Quando coloca aquele vestido amarelo cor de ipê, dá uma volta pedindo aprovação e sorri. Não

sei como explicar que só nela ficaria lindo assim. Tão pequena, se estica mais do que o foguete do Parque quando quer algo fora do alcance das mãos. Tão doce e serena como o Paranoá, vira noite de tempestade depois de meses de seca. Venta, troveja, vira um caos para depois amanhecer bonita e brilhante como orvalho.

As tatuagens que ela carrega são tão bonitas em contraste com a pele branca que é impossível não olhar para os azulejos de Athos Bulcão e não lembrar dela. Como eles, só precisaram de um fundo branco, um desenho e um tom de cor para dar vida ao que já era bonito.

Cada canto, cada detalhe dessa cidade me lembra a ela. O meu amor, a mesma cidade que me encantou. Eu, paulistano, que só via cinza, trouxe ela para mim. Como não me apaixonar por ela todos os dias? Ou melhor, por elas. Minhas duas Brasílias. As duas senhoras do meu coração.

MINHAS

DUAS BRASÍLIAS

Por Thalyne Carneiro

Crônica

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Cultura

Brasília, cidade sonhada por Dom Bosco, onde o traço de Oscar Niemeyer predomina e o desejo de construção de Juscelino Kubitschek se torna realidade. Mais que uma capital, ela é a mistura de todos os estados brasileiros de norte a sul do País em um único lugar.

Os candangos, os primeiros moradores do distrito, trouxeram em suas bagagens as receitas e os temperos de outras regiões, fazendo com que aqui tenha de tudo um pouco, desde o frango com pequi dos goianos ao legítimo arroz carreteiro gaúcho. Do dendê baiano ao tucupi paraense. Talvez a presença da variedade da cozinha brasileira seja o motivo de Brasília não ter uma culinária com caráter expressivo.

Contudo, a sua peculiaridade está nos monumentos arquitetônicos, conhecidos internacionalmente, que já inspiraram inúmeros artistas na fotografia, na pintura e na escultura. Na gastronomia não foi diferente. Nesse sentido, o chefe Felipe Vieira busca apresentar a capital federal de um jeito distinto e bastante delicioso. Com a essência da fruta do cerrado, a mangaba, o sabor é o prato principal, e a arquitetura do Museu Nacional da República vem como uma deliciosa sobremesa.

UM DOCE DE BRASÍLIA

Inspirado pelos monumentos da cidade, o chefe Felipe Vieira cria uma deliciosa sobremesa

Por Marina Barbosa

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RECEITACremoso de mangabaIngredientes:28g de polpa de mangaba54g de açúcar52g de ovo13g de massa de gelatina (1,9g de gelatina + 13g

de água)44g de manteiga sem sal

Modo de preparo:Ferver em uma panela a polpa e metade da

quantidade do açúcar. Em seguida, acrescentar os ovos e o restante do açúcar misturados. Por último acrescentar a massa de gelatina e a manteiga. Colocar em forma de meia esfera e congelar.

Mousse de Chocolate Branco:Creme inglêsIngredientes:65g de creme de leite fresco65g de leite integral13g de açúcar refinado25g de gema de ovo¼ de fava de baunilha

Modo de preparo:Ferver em uma panela o creme de leite e o leite

para depois despejar sobre as gemas misturadas com o açúcar. Cozinhar até atingir 84ºC.

Mousse de chocolateIngredientes:120g de creme inglês168g chocolate branco180g de creme de leite fresco

Modo de preparo:Primeiro derreter numa panela o chocolate

branco para depois adicionar o creme inglês. Quando a mistura atingir 30ºC, adicionar o creme de leite batido a meio ponto (chantilly mole). Aplicar sobre o cremoso de mangaba e decorar com frutas.

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Antes mesmo de o sol aparecer, pessoas e carros já circulam pela cidade. Parado no trânsito, o motorista olha para o lado e percebe uma coisa que não estava ali antes, ou pelo menos ele achava que nunca esteve lá. Como uma coisa dessas passou desapercebido? E lá estava ela. Uma linda imagem estampada no muro, com cores tão vibrantes e harmoniosas que o deixaram impressionado. O trânsito começa a fluir, mas os pensamentos do motorista ficaram presos naquela imagem. Ele pensava: Um grito de liberdade? Vandalismo?

Expressão de pensamentos ou sentimentos? Revindicação de um espaço?

Esses são alguns dos muitos questionamentos que surgem quando pensamos no significado das intervenções urbanas, dos grafites e outras artes de rua. Pode ser que para quem vê diariamente essas manifestações na cidade não seja grande coisa, mas, para outros, as imagens ou frases colocadas nas paredes dizem muito sobre a cidade, os aspectos socioculturais de uma determinada região e até mesmo a própria existência.

A VOZ DAS RUASEm seus traços e cores, arte urbana pode dizer mais do que imaginamos

FOTO: DANIEL OLIVEIRA

Cultura

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FOTO: DANIEL OLIVEIRA

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Mikael Guedes, Omik, leva sua técnica para decorar ambientes internos.

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As intervenções urbanas são movimentos artísticos realizados em espaços públicos, que buscam interagir com as pessoas ou com o local onde são fixadas, contribuindo para, de alguma maneira, uma mudança social. Essas intervenções podem ser executadas com os mais variados suportes e de formas bastante criativas. A regra é impactar e surpreender.

Por sua vez, o grafite não possui necessariamente uma perspectiva social. O que também não quer dizer que a sua presença nas ruas seja banal. Não importa o suporte utilizado, a arte urbana pode ser um agente de transformação para quem a executa ou mesmo para quem tem a oportunidade de contemplá-la.

Daniel Morais, publicitário e grafiteiro, mais conhecido como Toys, é um exemplo entre diversos artistas de rua. Ele aprendeu as técnicas do grafite aos treze anos de idade. O que começou como um hobbie, hoje é sua ferramenta de trabalho. “Quando eu fui para a faculdade, entrei no mercado de

publicidade e ilustração. Eu peguei o que gostava de fazer e comecei a me profissionalizar. Pensar mais artisticamente, estudar mais, criar uma identidade visual, uma linguagem própria. Começou a dar certo. Hoje em dia eu estou vivendo disso e estão surgindo cada vez mais projetos”, relata.

Por meio da técnica que utiliza em seus grafites, Toys traçou caminhos que vão para além das ruas. Junto com Mikael Guedes e Thales Fernando, que assinam suas obras respectivamente como Omik e Pomb, montaram o Clube Mambe, um ateliê onde podem transformar seu talento e conhecimento acerca do grafite em ferramentas de trabalho.

Depois que Toys conseguiu realizar a própria exposição, ganhou destaque no mercado, e outros projetos foram surgindo. “O trabalho de um grafiteiro tem a rua como principal linguagem, mas quando chega à galeria já não é grafite. É arte. Quando você pega o que você faz na rua e leva para um ambiente totalmente diferente, outro público, você quebra os paradigmas”, explica o grafiteiro.

FOTO: DANIEL OLIVEIRA

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ParadigmasMas será que o grafite pode ser considerado

intervenção urbana? É arte ou vandalismo? Pedro Sangeon, artista plástico, ilustrador e criador do famoso personagem brasiliense Gurulino, explica que a pichação e o grafite como linguagem histórica não possuem diferença. Ambos são inscrições inseridas em paredes ou muros, porém “a pichação é a semente e o grafite é a flor”, completa o artista.

Assim, o grafite e as intervenções realizadas pela cidade se inserem no contexto da arte e da cultura urbana. “Na rua cabe tudo, todos, toda a arte. E tudo se mistura. O resultado disso para mim, desse mix, é o mais rico documento do cotidiano das cidades. Arte urbana me parece o termo que abarca melhor e une tudo o que se faz na rua” afirma Pedro.

Determinar o que é ou não é arte pode ser uma missão difícil, pois as questões de gostos e preferências estéticas estão relacionadas à subjetividade de cada pessoa. “Falar de arte é

totalmente complicado. Eu não sei definir arte até hoje. Acho que o grafite tem um poder que eu não vejo em muitas coisas, que é o de você reivindicar locais. Acho que arte é isso. Não fazer coisas bonitas, mas fazer as pessoas pensarem”, declara o grafiteiro Toys ao ser questionado se o grafite pode ser considerado arte.

Independente de definições, o importante mesmo é ouvir o que a cidade tem para nos dizer. É entender que os centros urbanos são grandes organismos vivos, mudam e são transformados por quem ali habita. “A gente tem muito amor pelo que faz. Queremos deixar o nosso nome, o nosso personagem lá, para tentar mudar o ambiente e fazer com que a galera perceba que a cidade é viva. Vão aparecer coisas nela. E quando a gente pinta, o grafite já não é mais nosso. Ele está sujeito a tudo. É um presente para cidade. O que vier ali depois que pintamos é a resposta da cidade”, conclui Toys.

FOTO: DANIEL OLIVEIRA

Por Patrícia Moura

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Daniel Morais, Toys, usa sua arte para enfeitar a cidade.

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Câmera nos tripés, iluminação ajustada, cenário pronto e todos os atores em seus devidos lugares. Já vai começar a gravação de mais um videoclipe. O diretor fala “luz, câmera, ação”. Em seguida o toque da claquete. Agora é para valer. Tudo tem que sair conforme o roteiro. Parece simples, mas gravar um videoclipe envolve muitos detalhes, que vão desde os objetos em cena até o posicionamento da luz no cenário para traduzir a mensagem da música. A situação descrita faz parte do contexto de muitas bandas brasilienses que buscam o suporte do material audiovisual para interagir com o público e divulgar os trabalhos realizados. Ao perceber o aumento do número dessas produções em Brasília, a Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV) e a Associação dos Produtores e Realizadores de Filmes de Longa-Metragem de Brasília (Aprocine) buscam criar uma agência-empresa, a DFCine, especializada em promover as produções e capacitar os profissionais do setor audiovisual da região.

Com o passar dos anos, Brasília adquiriu uma identidade multicultural no que diz respeito à música. Os gêneros vão desde o funk ao rock, do sertanejo ao rap, do pagode até o reggae. Quem ganha com essa diversidade são os brasilienses, por apreciar diferentes ritmos, melodias e arranjos que sintonizam os quatro cantos da capital. Mesmo assim, a cidade continua conhecida como a “Capital do Rock”, e as bandas desse estilo musical vêm se destacando pela qualidade dos videoclipes produzidos, obtendo prestígio no cenário local. Algumas delas são a Imaginária, a Lost in Hate, a We Are The Resistence e a Scalene.

A Imaginária é uma banda de rock formada pelos músicos Malmal Fernandes, PA Correia,

Tafas, Paulo Xavier e Pedro Xeneta. Ela existe desde 2008, contudo a gravação do primeiro videoclipe, da música Parte de mim, só aconteceu em 2013. Essa demora ocorreu devido à falta de dinheiro dos componentes para investir no produto audiovisual. “Lá no início da banda, há sete anos, era muito mais complicado fazer a gravação de um videoclipe de qualidade porque existiam poucas opções de produtoras trabalhando no ramo. Isso elevava muito os valores a serem pagos pelas bandas que, na maioria dos casos, tiram dinheiro do próprio bolso”, afirma Paulo Xavier, baixista da Imaginária.

Os componentes da banda acreditam que o lançamento dos videoclipes ajudou bastante na divulgação do som da Imaginária em Brasília. Com a utilização do recurso, eles obtiveram inúmeros benefícios, entre eles o interesse do público em conhecer o trabalho desenvolvido. “As bandas descobriram o quão é importante o uso do audiovisual atualmente. Hoje nós temos tanto acesso às coisas, e a rotatividade é tão grande, que têm que lançar material sempre. A facilidade que o YouTube nos trouxe também ajudou com o aumento do investimento em audiovisual pelas bandas”, revela Cadu Andrade produtor da banda Scalene e Lost in Hate.

Com a ascensão da internet, a facilidade em compartilhar conteúdos, principalmente em vídeo, tem sido cada vez maior. O alcance proporcionado pelo ambiente virtual tem feito com que as bandas façam produtos de alto nível e consigam, desse modo, atingir o público e gerar retorno financeiro. Esse contexto é aplicado à banda de rock hardcore Lost in Hate. Os membros dela optaram por investir na produção de videoclipes para divulgar os trabalhos. “No

A SINTONIA DA CAPITALBandas brasilienses procuram as vantagens do audiovisual para interagir com o público

Cultura

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FOTO: KAREN TÂMILYN

We Are The Resistance. Da esquerda para direita: Jonathan Vinagre, Victor Vogado, Pablo Emílio, Bruno César e Laérgele Vieira.

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mercado fonográfico, hoje em dia, a importância de um videoclipe é tão essencial quanto uma gravação de qualidade porque a maioria das pessoas procura por conteúdo musical no YouTube e se você não gera material desse tipo não consegue chegar a tantas pessoas. Com certeza depois do lançamento dos clipes tivemos um lucro considerável”, conta Raphael Kenji Matsunaga, guitarrista da banda.

A Lost in Hate foi criada no ano de 2007, em Taguatinga-DF. Os componentes são Guigows, Raphael Kenji, Wellington Mota, Fábio Alexandre e Bruno Duarte. A gravação do primeiro videoclipe da banda, em 2012, aconteceu na empresa em que Fábio trabalhava. O local era especializado em registrar festas de casamentos, por isso eles tiveram acesso a alguns recursos, como câmeras, tripés e softwares de edição. A montagem do cenário e dos equipamentos para a filmagem do clipe da música Cultura da autodestruição contou com o apoio de amigos. Após o lançamento do material, a Lost in Hate conseguiu apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF) para gravar o vídeo da canção

DIY, em parceria com o Luringa, profissional renomado do mercado audiovisual nacional, e Gustavo Bertoni da banda Scalene.

“A princípio gravar um videoclipe parecia ser uma coisa muito longe da nossa realidade, porque não tínhamos ideia de como poderíamos fazer algo sem dinheiro e nem contatos. Quando o Fábio entrou na empresa de filmagens de casamentos e debutantes, tivemos a oportunidade de fazer o nosso primeiro registro”, relembra Raphael. Para que o mercado profissional da área cresça, a DFCine tem como objetivo transformar Brasília no terceiro polo de produções audiovisuais do país, bem como orientar o desenvolvimento de produtoras e avaliar o preço cobrado por elas.

Nesse sentido estratégico, outro ponto que colabora com a finalidade da DFCine é a abertura de cursos profissionalizantes na área do audiovisual em Brasília. Dentre as universidades que oferecem a formação estão a Universidade de Brasília (UnB) com quatro estrelas no Guia do Estudante de 2015, Universidade Paulista (UNIP), Centro de Ensino Unificado de Brasília (UniCEUB) e a OZI

FOTO: KAREN TÂMILYN

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Laérgele Vieira, baterista da banda We Are The Resistance.

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Escola de Audiovisual. O aumento do número de profissionais seja técnico ou graduado decorrente do acesso ao ensino superior impulsiona o mercado de produções independentes na região, esse fator foi primordial para produzir o primeiro videoclipe da banda de rock brasiliense We Are The Resistance (WATR).

A WATR nasceu da vontade de tocar hardcore entre os amigos Bruno César, Jonathan Vinagre, Laérgele Vieira, Pablo Emílio Mattos e Victor Vogado em 2012. O nome da banda tem como referência o filme O Exterminador do Futuro cuja ideia central é a guerra das máquinas contra a resistência dos seres humanos. “É uma analogia que trouxemos para nossa realidade, no qual somos a resistência às máquinas, que estão no interior da nossa sociedade representada pelas organizações políticas, religiosas, científicas, tecnológicas e qualquer forma de manipulação”, relata Bruno, guitarrista da WATR.

A gravação do primeiro videoclipe da banda, em outubro de 2015, aconteceu em parceria com estudantes da Universidade Católica de Brasília. A

música escolhida para a filmagem foi Clapperboard, que apresentar a essência e a atitude dos membros da WATR ao público, além de uma autocrítica da cena hardcore às mazelas sociais. “Com influência de bandas como FC Five, Comeback Kid, Thrice, Bane, Defeater, Alexisonfire, a WATR busca fazer um som que nos agrade e que demonstre nossas condutas e aprendizados”, revela Bruno César. O audiovisual trilha um caminho promissor na capital do Brasil, a partir do estímulo de associações, como a Aprocine e a DFCine, promovendo o desenvolvimento da área em conjunto com os profissionais que desejam consolidar o seu trabalho.

Brasília possui um mercado musical favorável. Mesmo com a variedade de ritmos, a música na cidade sintoniza os quatro cantos do quadrado brasiliense há muito tempo. Entretanto, para captar o público, os artistas vêm utilizando os benefícios do videoclipe que a passos largos ganham visibilidade na capital e, felizmente, investimento no setor. Mais do que uma identidade Rock and Roll, é necessário profissionalismo e muita perseverança.

Por Karoline Miranda

FOTO: KAREN TÂMILYN

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Bruno César, guitarrista da banda We Are The Resistance.

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Você seria capaz de reconhecer a trilha sonora de filmes como E. T., Star Wars e Pantera Cor de Rosa, sem a presença de imagens? Sons desse tipo ficam por anos em nossa mente, em um toque de celular ou na boca do povo. Quem assiste filmes com boas trilhas, pode mergulhar nas histórias e sentir as mesmas emoções e angústias do personagem. Por sua vez, o diretor consegue saciar o desejo de deixar o público na cadeira do cinema até o fim da sessão, muitas vezes com um “gostinho de quero mais”.

O professor de cinema e pesquisador pela Universidade de Brasília (UnB), Ciro Marcondes, 34 anos, conta que o som, a música e o silêncio são elementos muito importantes do cinema, não

só por tornar a história mais real mas também por dar sentido ao filme. “O som traz a palavra viva à tona para o cinema, inserindo todo um novo código verbal, que era antes de menor importância no cinema mudo, fazendo do cinema falado um constante embate entre palavra e imagem”.

Em 2009, a musicoterapeuta Ana Carolina Steinkopf, 25 anos, participou de uma orquestra de filmes, que faz trilha sonora, no Festival de Verão da Escola de Música de Brasília. Ela conta que gostou muito da experiência e admira quem faz trilha sonora pelo fato de saber expressar com a música aquilo que a imagem quer falar.

Cultura

OUVIR, VER EOs segredos de quem sabe mexer com as emoções por meio de músicas de filmes

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FOTO: DIVULGAÇÃOFOTO: DIVULGAÇÃO

SENTIR

Page 19: Factory Magazine - Primeira Edição

Música por si só já é algo que mexe automaticamente com o corpo humano, pois “quando alguém ouve uma música, o batimento cardíaco se equipara com o batimento da música. Se a música é muito acelerada, o coração acelera, se for lenta, o coração, e consequentemente a respiração, fica mais calmo”, diz Ana Carolina. Mas é preciso ter cuidado ao associar a música à trilha sonora, pois são duas coisas diferentes.

O compositor Eugênio Matos, 56 anos, explica que quando alguém trata de música com o cinema, com a imagem ou com o audiovisual, já não é mais imagem e música, “é como se você combinasse dois líquidos que se transformam em outra coisa. Você joga o açúcar na água e agora não é mais açúcar nem água. Agora é água doce, é algo diferente”, pontua.

Processo de criaçãoPara criar uma trilha sonora de filme é preciso

passar por algumas etapas. “Inicialmente, é um mergulhar na história, compreender a trama, entender o que se passa dentro de cada personagem, através de roteiro e conversas com o diretor, porque

às vezes a gente lê o roteiro, mas ainda não sabe qual é a intenção do diretor, que tipo de mensagem quer passar”, explica o professor e compositor de trilha sonora, Eugênio.

Eugênio conta que depois de conversar e entender o que o diretor do filme quer passar para o público, o compositor vai começar a delinear o ambiente, a trama, os fatos, o drama de cada situação, de cada personagem, e tenta construir tudo isso com a música instrumental, a original. Assim, as primeiras ideias surgem, as chamadas melodias, que vão acompanhar situações que serão retratadas. Depois, as ideias são apresentadas, uma simulação do que seria a gravação final, para o diretor, que vai dizer o que gosta, se corta alguma parte ou muda.

Quando o diretor aprova o projeto final de trilha, é o momento de começar a gravação, mixagem e orquestração do que será gravado com instrumentos acústicos ou com orquestra, percussão, outros instrumentos, se for necessário piano, cordas, sopros, madeiras, flautas, também podem acrescentar vozes, canto em forma de coro, ou solo, e toda essa parte de arranjo.

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FOTO: DIVULGAÇÃOFOTO: DIVULGAÇÃO

Page 20: Factory Magazine - Primeira Edição

O produtor musical e compositor, Patrick de Jongh, ressalta que, na maioria das vezes, o diretor de um filme escolhe um compositor por uma afinidade artística, independentemente de qual vai ser o conceito da obra ou onde será realizada, “porque a trilha é como se fosse um personagem no filme”, diz.

“Quando o diretor encontra um compositor que completa a obra dele, a relação costuma ser duradoura”, completa Jongh. Um exemplo é a longa parceria entre o grande cineasta Steven Spielberg com o compositor John Williams, que realizaram e ainda realizam muitos trabalhos juntos, como os filmes: O Expresso Polar (1974), Tubarão (1975), Jurassic Park (1993), Cavalo de Guerra (2011), entre outros grandes filmes.

Até mesmo a fotografia do filme influencia na produção da trilha sonora. Patrick de Jongh diz que gosta de acompanhar, às vezes, as filmagens, porque se um filme for preto e branco a música vai ser de um jeito, com a fotografia muito saturada será de outro. Se o personagem do filme for uma pessoa nervosa por dentro, o compositor vai trabalhar a música para que seja intrínseca, que mostre o interior do personagem.

Festival Trilha Sonora O Festival Trilha Sonora, realizado pela primeira

vez este ano, entre os dias 7 e 11 de agosto, surgiu com o objetivo de valorizar a música, com o foco no cinema, na trilha sonora. “Celebrar o Festival não só com a música do cinema, mas também com a capacidade que ela tem de unir todo mundo”, diz o organizador do Festival, Gabriel Pinheiro.

Em 2007, Gabriel soube do Festival Cine Música, em Conservatória (RJ). Esse foi o ponto de partida para criar um evento cultural. Resolveu

concretizar depois de ver a empolgação e o incentivo de amigos. Ele mesmo fez a curadoria do Festival, incluiu filmes com a linguagem sonora baseada na diversidade e nos clássicos do cinema mudo e falado, como o conhecido “Le Voyage dans le lune”, traduzido para o português como “Viagem à Lua”, lançado em 1902, de autoria do cineasta Goerges Méliès.

“A trilha sonora tem o poder de sedução que é muito peculiar, por exemplo, uma pessoa que não tem o hábito de ouvir música clássica, não gosta, mas ela vai até o cinema e às vezes vê um filme como o Jurassic Park, Indiana Jones, De Volta para o Futuro, e se emociona com grandes orquestras tocando.”, ressalta Gabriel Pinheiro.

A analista de políticas sociais, Juliana Borim Milanezzi, 28 anos, participou do Festival e disse que foi uma oportunidade muito boa para as pessoas se conectarem com duas artes ao mesmo tempo. “O último filme com a trilha sonora ao vivo foi especial, delicado e me fez viajar no tempo. Um festival que coloca no centro a trilha sonora desperta sensações muito interessantes, porque a trilha sonora intensifica a empatia com os personagens e cria uma relação mais próxima com o filme. Uma boa trilha sonora é envolvente e te faz viver aquele momento. Amo festivais de cinema e espero ver esse todo ano em Brasília”.

Toda a programação do Festival foi gratuita e incluiu, além dos filmes, palestras e debates. Os organizadores usaram o método de financiamento coletivo, conhecido como crowdfunding, e conseguiram arrecadar R$ 865,00. Além disso, tiveram o apoio do Museu Nacional da República, do Teatro Brasília Shopping e da UnB, que disponibilizaram os locais para a realização de toda a programação do evento.

Por Kamila Braga

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Page 21: Factory Magazine - Primeira Edição

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FOTO: JOÃO PELLES

Gabriel Pinheiro (no centro da foto, de calça preta) diz que a ideia é que o Festival possa entrar no calendário de Brasília e ser um festival que acontece todos os anos.

Page 22: Factory Magazine - Primeira Edição

Yves Saint-Laurent (2014)A produção francesa traz com riqueza de

detalhes duas décadas da carreira de Yves Saint-Laurent, desde 1957, em Paris, quando assume a direção artística de umas das maiores marcas da alta-costura, Dior, até sua associação com Pierre Bergé para criar a grife Yves Saint Laurent. Sem deixar de lado, é claro, o romance vivido entre eles. Para os amantes da moda é uma ótima oportunidade de conhecer esse brilhante estilista.

O universo da moda vai bem mais além do que apenas luxo e glamour. Por trás de tudo isso há um árduo trabalho de diferentes profissionais, como estilistas, costureiros, fotógrafos, editores de revistas e muitos outros que colaboram para que esse mercado movimente milhões de dólares por ano. Pensando nisso, para que você fique por dentro desse mundo, a Factory preparou uma seleção de livros, filmes e documentários que retratam um pouco da realidade da moda dentro dos ateliês e redações mais conceituados.

A MODA COMO ELA ÉFilmes e livros para inspirar os amantes da moda

Cultura

Dior e Eu (2014)O documentário mostra o primeiro desfile

coordenado pelo estilista Raf Simons, contratado pela Dior após a demissão de John Galliano. A história se desenrola com base nas dificuldades encontradas por Raf ao ter que preparar o desfile da marca em apenas oito semanas. Este é um documentário que exibe as tensões por trás da elaboração de um desfile e o funcionamento de uma das casas mais famosas da alta-costura.

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Page 23: Factory Magazine - Primeira Edição

The September Issue (2009)Os bastidores da produção da principal

edição da Vogue estadunidense são exibidos

nesse documentário focado no cotidiano de

Anna Wintour, editora-chefe, que comanda

a revista há mais de 20 anos. O filme permite

conhecer em detalhes todos os processos

existentes na redação até a finalização da

Vogue. Um prato cheio para os admiradores

da moda.

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Annie Leibovitz: A Vida Através das Lentes (2008)Annie Leibovitz. Esse é um dos nomes mais famosos

no mundo da fotografia, principalmente quando falamos de imagens que retratam a beleza e o glamour na moda. No documentário, são mostrados alguns de seus trabalhos como fotógrafa para as mais famosas revistas americanas, como Vanity Fair, Vogue e Rolling Stone. Assim, o filme exibe seu processo criativo e suas experiências durante a carreira. Uma fonte de inspiração para os produtores e fotógrafos de moda.

Valentino: O Último Imperador (2008)Uma homenagem a Valentino Garavani,

o documentário retrata a época em que o

estilista anuncia sua aposentadoria após

45 anos de carreira. Para despedir-se das

passarelas, Valentino apresenta um desfile

memorável. Assim, o filme mostra um

pouco da vida e da carreira consolidada pelo

famoso estilista.

Page 24: Factory Magazine - Primeira Edição

A Era Chanel - Edmonde Charles-Roux

Chanel foi um dos grandes ícones da alta-costura que revolucionou a moda no século XX com sua postura moderna e inovadora. Esse é um livro fascinante sobre Coco Chanel, em que Edmonde Charles-Roux reúne cerca de quatrocentas fotografias, retratos e desenhos para contar a trajetória dessa grande mulher.

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In Vogue – Alberto Oliva e Norberto Angeletti

Apesar de ser em inglês e não possuir tradução, é um livro incrível sobre a história de uma das revistas mais influentes do mundo. Para quem tem o domínio da língua vale a pena conferir. Alberto Oliva e Norberto Angeletti trazem um compilado de capas, reportagens e fotografias de edições passadas da Vogue, bem como entrevistas e histórias sobre a produção da revista e como ela se tornou reconhecida mundialmente.

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Fundamentos de Design de Moda – Richard Sorger e Jenny Udale

Richard Sorger e Jenny Udale trazem alguns elementos fundamentais para o desenvolvimento do design de moda, desde a criação de um conceito até a finalização tridimensional de uma peça de roupa. Nesse livro, os autores falam dos tipos de tecidos, máquinas e métodos de fabricação. Além de apresentar diversas entrevistas e peças de grandes estilistas. Aos aspirantes de design e produção de moda é um excelente ponto de partida.

Sociologia da Moda – Frédéric GodartEntender as particularidades da indústria da

moda é conhecer todo processo envolvido por trás das passarelas e dos ateliês de grandes estilistas. Por isso, Frédéric Godart, em Sociologia da moda, aborda as diferentes faces da moda, levando em consideração fatores econômicos, geográficos, históricos e culturais. Esse é o livro perfeito para quem quer ter uma visão ampla e multidisciplinar sobre o mercado da moda.

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100 Anos de Moda – Cally BlackmanCom fotos que ilustram cada contexto histórico da moda, esse é um livro que fala desde a influência

das vanguardas artísticas e a entrada das mulheres no mercado de trabalho até os movimentos de grupos urbanos como criadores de tendências e a liberdade de estilo no século XXI. E, é claro, conta, também, com a presença de todos os estilistas que marcaram época, clássicos e contemporâneos, como Coco Chanel, Cristian Dior, Marc Jacobs e Karl Lagerfeld.

Por Patrícia Moura

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Valquíria Alcântara, 23 anos, nasceu com os cabelos encaracolados, mas desde os onze não largava o secador e a chapinha. Depois de quase 10 anos, decidiu que estava na hora de parar. “Comecei a alisar o cabelo muito cedo, na adolescência. Parei de alisar quando vi que estava prestes a perder meus cachos”. Segundo ela, a influência de outra ‘cacheada’ bem famosa também ajudou bastante na decisão: “Assim que a Thais Araújo adotou também os ‘enroladinhos’ parei para pensar que meu cabelo era muito parecido com o dela e que poderia ser tão bonito quanto” afirma.

Quem tem cabelo cacheado ou crespo sabe que não é fácil manter os fios lisos. Seja por escova, chapinha ou tratamentos químicos, são gastas várias horas e dinheiro para não ter que assumir o formato natural. Na maior parte das vezes, a pessoa gosta do cabelo como é, mas opta pela escova e/ou outros tratamentos por falta de apoio

ou medo de não poder usar o cabelo solto, pois crê que assim ele ficará desarrumado. Entretanto, por meio de campanhas, eventos e páginas que ganham muita visibilidade na internet e na mídia, como o “#SomosTodasFuá”, “Encrespa Geral” e “Em terra de chapinha quem tem cachos é rainha”, várias mulheres têm desistido de seguir o padrão e hoje voltam aos cachos mais confiantes e felizes.

Valquíria explica que são iniciativas como essas que dão incentivo para quem tem medo de assumir o cabelo como ele é. “Quando parei de alisar e escovar, instantaneamente as pessoas vieram falar que estava bem melhor, bem mais bonito”, relata. “Percebi que eu estava perdendo minha originalidade. Para me sentir bem, eu não preciso seguir um padrão ditado pela sociedade, de que cabelo bom e bonito é cabelo liso. Sem falar que é muito mais prático. Quando preciso sair, meu cabelo está pronto em alguns segundos”, pontua.

Cacheia eu, cacheia vocêCada vez mais brasilienses abandonam a chapinha e se rendem ao formato

natural dos fios

Comportamento

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Preconceito

Além da Valquiria, outras garotas passaram pelo dilema de alisar ou enrolar de vez o cabelo. Inúmeras mulheres precisam lidar com as críticas em relação ao penteado e, quando decidem mudar, ouvem que não está bom. “Muitos amigos meus me criticaram no começo, até hoje alguns ainda reclamam. Foram muitos comentários desnecessários, como ‘Você está muito estranha assim, volta a alisar!’ e ‘Porque você fez isso?’. Mas eu já tenho minha opinião formada e sei o que eu quero ser”, conta Alanna Rezende de 17 anos.

Segundo ela, ter os cabelos cacheados é ter liberdade. Depois de fazer relaxamento, progressiva e depender do secador e da chapinha, hoje, ela afirma que gosta mais dessa versão. “Decidi parar porque estava me prendendo à chapinha, sendo escrava de uma coisa material. Hoje amo meus cachos, tenho liberdade total, sou mais segura de mim e me gosto mais assim. Gosto de ser quem eu sou” explica a jovem.

A aceitação tem que partir da própria dona dos cachos. O “padrão” imposto pela sociedade é de um cabelo grande, liso. Se for para ter cabelo enrolado, que seja controlado e sem volume. Essa realidade faz com que várias mulheres, por mais que não queiram ter o cabelo liso, optem pela química, como a professora Anne Rangel, de 23 anos. “Quando criança, até a pré-adolescência, minha família religiosamente me levava pra fazer relaxamento no cabelo, pois ‘mantinha os cachos, mas abaixava o volume’”, ela conta. “Com 16/17 anos resolvi assumi-lo tal como é. O que não significa que não cuide dele com hidratações e finalizações. Tenho muito orgulho do meus cachos”.

Cuidados

Manter o cabelo cacheado, como qualquer tipo de cabelo, requer cuidados e atenção. Mas como ter uma rotina de ir ao salão quando muitas vezes o próprio cabelereiro faz pressão para mudar os fios? Foi exatamente isso que Adriana Oliveira, dona do Salão Cachos Brasil, pensou quando abriu seu empreendimento especializado em cabelos crespos e cacheados. “Quando comecei a fazer o curso de cabelereiros, percebi que a nossa raça era discriminada nos salões, começando pelo curso”, relata. “Ninguém quer mexer no nosso cabelo. Diziam que o meu cabelo não dava para fazer escova. E eu sabia que fazia. Eu fiquei tão chateada que eu disse assim: ‘quando eu começar a trabalhar, só vai ser com cabelo crespo!’”.

Ela manteve a promessa e por anos trabalhou em salões fazendo escovas e tratamentos químicos em pessoas que tinham o cabelo crespo ou cacheado. Depois de abandonar o salão para investir no ramo dos cosméticos, Adriana descobriu o que queria fazer: abrir um salão para esse público específico. “Eu já tinha a experiência do salão e com cosméticos. Resolvi juntar os dois e fiz uma parceria com uma marca de produtos para cabelos afros, então abri meu salão”.

Hoje, na Cachos Brasil, são atendidas em média 400 pessoas por mês, e esse número cresce mais a cada dia. “Quando a gente começou, chegamos ao mercado junto com a escova progressiva. Então a maioria das pessoas alisava o cabelo, e as outras resolviam manter os cachos quando olhavam para o nosso cabelo e reparavam que eram bonitos, não tinham nada de bagunçado”. E foi por esse boca a boca que oito anos depois o salão é um sucesso. “Agora que tomou mais

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força esse conhecimento de que o cabelo pode sim ficar bonito natural. Não é só uma moda, as pessoas têm mais informação”.

Mas Adriana avisa: para mudar é preciso paciência. “Quando se faz muita química e se usa muita chapinha e secador, a fibra do cabelo fica muito danificada. Para voltar ao natural é preciso muito tratamento e ir cortando o cabelo aos poucos, para quem não quer radicalizar”, explica. “Mas se a cliente quer o resultado mais rápido, ela pode cortar bem curtinho e ir cuidando enquanto cresce”, acrescenta.

“Para as meninas que realmente querem voltar ao cabelo natural e têm medo, eu dou a maior

força. Tem muitos vídeos na internet ensinando a passar por isso, como cuidar do cabelo e muitas coisas”, observa Alanna. “Vale muito a pena, me sinto revigorada e muito feliz com o meu ‘novo eu’”, conclui a jovem.

No fim, o que importa mesmo é a vontade de cada um se aceitar e se amar como é. Já diz o Emicida ao final de sua música Trepadeira: “Cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento. Grito bem alto sim. Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? Qual foi o otário, equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? Ruim pra que? Ruim pra quem?”. Para quem mesmo?

Por Thalyne Carneiro

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Adriana Oliveira, dona do salão Cachos Brasil.

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Foi em 2008 que surgiu a primeira loja colaborativa do Brasil. Com novos conceitos de comércio, movimento nas redes sociais e espaço para pequenos empreendedores, a Endossa nasceu na Rua Augusta, em São Paulo. Com mais três unidades e a quarta a caminho, chama a atenção por sua proposta diferenciada.

Funciona assim: diversas marcas dividem o espaço, e qualquer pessoa pode vender, basta se cadastrar em uma lista de espera no site. Os colaboradores alugam caixas nas quais expõem seus produtos.

Em três meses, a marca deve atingir um valor mínimo, o endosso, para permanecer na loja, caso contrário disponibilizará a caixa para o próximo vendedor. Além disso, o valor do aluguel das caixas varia de acordo com o tamanho delas e de Endossa

para Endossa também. Não é permitida a venda de drogas, bebidas, comidas e armas.

Pensando nas vantagens do modelo colaborativo, o brasiliense Victor Parucker viu oportunidades em Brasília. Após muitas negociações com os donos da marca, em 2012 foi inaugurada a primeira Endossa da capital. “Fiquei muito encantado com a ideia. A todo momento pensei que a loja tinha tudo a ver com a cidade”, diz.

Mesmo assim, ele teve dificuldades no início do negócio, mas as coisas melhoraram quando Luana Isidro e Maíra Belo se juntaram a ele na parte administrativa. Hoje, a unidade de Brasília conta com os três na gerência do negócio.

Victor conta que, por conta do alto custo de vida em Brasília, o modelo colaborativo da loja dá oportunidade para as marcas alugarem um espaço

MODA PARA TODOSLoja que segue modelo de negócio colaborativo é opção para produtores locais e

conquista espaço no cenário brasiliense

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a baixo custo e risco pequeno. “A Endossa depende muito das marcas que são produzidas na cidade”, afirma.

Para auxiliar os produtores locais, a loja disponibiliza espaço acessível, conta com redes sociais engajadas e serviço de consultoria. Além disso, a proposta empodera o cliente. “O nome vem daí. Quando você compra, escolhe um produto, está endossando a marca”, diz Maíra.

MercadoAinda que na criação da Endossa o foco não

tenha sido a moda, a direção que a loja tomou muda essa perspectiva. “Ela virou uma loja cool, tem tudo a ver com a moda, as pessoas gostam de coisas diferentes e, por isso, temos clientes assíduos”, afirma Luana.

Segundo o empreendedor e colaborador da loja Mayton Campelo, 28, a decisão de expor os produtos na Endossa fez seu negócio de óculos crescer. “A partir do momento que eu entrei realmente criei a identidade da marca, fiz a loja virtual, e-mail. Foi o ‘boom’ do Brechó do Óculos”, afirma.

A estudante de medicina Isabela Tamura, 21, visitou a loja poucas vezes, mas já se considera fiel. “Gosto de comprar na Endossa por conta da variedade de opções e a possibilidade de autoatendimento”. A jovem explica que o espaço é diferente de tudo o que já viu, com produtos inusitados que normalmente só poderiam ser encontrados em lojas virtuais.

“A ideia da Endossa é justamente dar oportunidade aos pequenos empreendedores, ao mercado local. Tem marcas mais amadoras, outras

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mais elaboradas”, afirmam os responsáveis. Eles contam que, por se tratar de um modelo democrático e colaborativo, as marcas viram parceiras, se juntam para fazer eventos, uma divulga a outra.

Quanto ao modelo de negócio colaborativo, Mayton é otimista e não vê defeitos: “Todo mundo ganha, sempre”. Ele afirma que, para os novos empreendedores, investir em loja colaborativa é o termômetro para perceber se a marca vende ou não. “Se o produto tiver uma saída boa, ou não, ele irá se adequar ao que o mercado está querendo, ou lançar algo com diferencial e criatividade”, diz.

Mayton e diversos colaboradores utilizam outros canais para divulgar seu negócio. Os responsáveis pela loja apoiam a iniciativa, pois, para eles, o importante é o crescimento das marcas. “Aqui não tem concorrência, é parceria”.

Obstáculos“Nós falamos a parte bonita da história,

mas existem muitas dificuldades”, diz Victor. Ele conta que durante os dois anos iniciais da loja na capital, houve vários prejuízos. Foi preciso tempo para construir a cultura

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Donos da loja Endossa em Brasília. Da esquerda para direita: Luana, Victor e Maíra.

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do negócio colaborativo em Brasília. O que ajudou a melhorar a situação, para os

responsáveis pela loja na captail, foi o cenário brasiliense, que se alterou nos últimos anos e há mais pessoas produzindo.

No entanto, contam que até hoje há dificuldades. “Se uma loja com apenas uma marca já é difícil gerenciar, imagine aqui que tem cerca de 100”, afirmam. Para eles, é importante que os colaboradores saibam da responsabilidade que têm em divulgar a própria marca.

Quanto à abertura de mercado em Brasília para

outros negócios colaborativos, os responsáveis são sinceros e dizem que, no momento, não há espaço. “É um modelo ainda muito diferente para a cidade. Imitações da Endossa é o que possivelmente aconteceria”.

A perspectiva para o futuro é positiva, e os responsáveis em Brasília acreditam que o motivo é o foco da loja em capacitar as marcas, ajudá-las a se profissionalizar, fazer os produtos de qualidade, preços competitivos, engajamento nas redes sociais. “Afinal, uma caixa feia e malcuidada dentro da loja é ruim para a imagem da Endossa”, finalizam.

Por Nathália Melo

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A moda é uma área de trabalho que encanta pelo seu universo glamoroso, repleto de flashes, lançamentos e sonhos. Muitos profissionais até tentam lançar suas produções no mercado para, posteriormente, serem reconhecidos pelo seu talento. Porém, nem todos conseguem realizar tais aspirações. Por isso o apoio, as dicas e os conselhos de pessoas que já conhecem a campo de atuação são fundamentais na hora investir no mercado da moda. Nesse cenário, as irmãs Thaís e Thainá Passos criaram o site Closet4BSB, com objetivo de incentivar o surgimento de novas empresas no setor em Brasília e também divulgar o trabalho dos profissionais existentes na região.

Thaís, 32 anos, formada em Relações Públicas, e Thainá, 28, graduada em Psicologia, perceberam que os brasilienses não conhecem os modelos, designers, estilistas e as marcas da capital. Pensando em fazer a diferença, elas decidiram unir os serviços relacionados à moda em uma plataforma virtual. “O Closet4BSB é um armário para Brasília. É um e-commerce que você tem tudo; você tem roupa, sapato, acessório, beleza, tem estética. É um guarda-roupa mesmo para tudo”, conta Thainá no dia do lançamento do site.

O Closet4BSB surgiu pela falta de um e-marketplace no mercado. As irmãs sempre participam e acompanham eventos de moda na capital, bem como trabalham na área por meio de blogs, um deles é o Balangandãs. Elas constataram que a carência de um suporte virtual para as marcas brasilienses poderia ser uma grande oportunidade de empreender. “Eu vi uma necessidade de inclusive

apoiar as marcas de Brasília, porque a gente compra muito mais as marcas de fora do que as próprias daqui. Explorar um pouco mais as marcas de Brasília com a junção de outras marcas famosas”, relata Thaís.

Desse modo, as irmãs investiram em oferecer uma estrutura pronta de e-commerce para os profissionais da moda e auxiliá-los desde a logística até a entrega dos produtos e serviços aos consumidores. “Eu acho que é uma plataforma diferente e que não existiu até hoje. Eu acredito que vai contribuir bastante, vai principalmente mostrar que Brasília tem muita criatividade e que as pessoas deveriam valorizar mais as marcas da capital”, aposta Julieta Pedrosa, membro participante do Closet4BSB com a marca Julie Joias Brasileiras.

Um dos associados ao Closet4BSB é Romildo Nascimento, estilista renomado da capital que possui nove anos de experiência no mercado da moda de Brasília. O seu sucesso aconteceu após a participação no Capital Fashion Week (CFW), em 2006, e no concurso Estilista Revelação do programa TV Xuxa, na Rede Globo. As coleções da marca Romildo Nascimento Modas são criadas no ateliê localizado no centro da Ceilândia e confeccionadas, em especial, nos tecidos jeans, moletom e renda. Segundo ele, a área da moda não cresce muito na região, pois tem como grande problema a falta de investimento na produção, o que motiva os profissionais brasilienses a migrarem para os polos de São Paulo, Fortaleza e Curitiba em busca de melhores condições de trabalho. Apesar das dificuldades enfrentadas durante o tempo

ENTRE VITRINES E CABIDESPrimeiro e-commerce de Brasília busca ajudar o desenvolvimento da moda na capital

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atuando no setor, Romildo acredita que contribuiu no desenvolvimento da moda em Brasília ao permanecer na cidade para nacionalizar aos poucos a sua marca e trazer visibilidade. Em relação à participação no Closet, ele espera conseguir vender muitas peças. “Eu quero que a minha marca seja a campeã de vendas. Esse é o meu objetivo”, avalia.

Com pouco tempo no mercado e membro do Closet4BSB, Amanda Costa, proprietária da marca de roupas Suprema Corte, reconhece que o projeto é bastante adequado ao novo comportamento do consumidor. Isso ocorre devido às pessoas procurarem atualmente fazer as suas atividades sem perda de tempo com trânsito, estacionamento caro e tumultos, como mostra a pesquisa O Caminho do Consumo, feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), apresentada no congresso E-commerce Brasil Operações e Negócios, em 2013. A análise revela que 93% dos brasileiros relacionam as compras on-line com a comodidade. “Eu acho que esse projeto tem tudo para ter uma visibilidade muito grande porque hoje em dia as pessoas gostam muito de ter o conforto da casa. Então poder comprar de casa, vendo exatamente aquele produto, com toda a descrição, e poder juntar ali não só a roupa, mas também o acessório”, afirma Amanda.

Os estilistas Romildo Nascimento e Amanda Costa foram selecionados para o projeto por um sorteio, bem como as marcas Specchio Mio, Alvareli Acessórios de Luxo, Julie Joias Brasileiras, Zug Hair and Makeup, entre outras. Para auxiliar todas as empresas de maneira correta, o Closet4BSB estabeleceu uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Esse apoio, além de orientar os proprietários das empresas envolvidas, também tem a finalidade de captar outras marcas brasilienses do segmento da moda. Por esse motivo, o Closet participa na parte de start up de algumas feiras realizadas pelo instituto como forma de colaborar com a melhoria do setor em Brasília.

Quem deseja trabalhar com a moda deve entender que no caminho de atuação pode haver algumas oportunidades, só resta ao bom profissional aproveitá-las da melhor forma possível. O Closet4BSB foi criado nesse intuito em que busca crescer com as marcas participantes, mas também oferecer toda uma estrutura eficaz de negócio, capaz de contribuir no desenvolvimento da área em Brasília, que ainda precisa de muitos recursos e investimentos para se consolidar como polo industrial do Brasil.

Por Marina Barbosa

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FOTOS: PATRÍCIA MOURA

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Fernanda Ferrugem é uma das personalidades no universo da moda brasiliense de mais expressividade e independência. Com mais de dez anos no mercado e dona de seu próprio ateliê, o Espaço Ferrugem, localizado no Guará II, ela expõe suas coleções, como vestidos longos, saias, acessórios e, atualmente, vestidos de noiva.

Inspirada pela mãe desde pequena, a estilista fez muito sucesso no Capital Fashion Week, em Brasília, e começa a ganhar maior projeção no mercado nacional.

De forma descontraída, Fernanda Ferrugem fala de sua experiência e conhecimento sobre o mercado de moda local e nacional, bem como sobre sua trajetória para se consolidar e se tornar estilista.

Além da entrevista, você confere também um ensaio, realizado pela fotógrafa Heloisa Rocha, da mais recente coleção de Fernanda.

Você sempre fala da importância e da

influência que sua mãe exerceu em sua vida para que se tornasse estilista. Como foi esse processo para que, de fato, você fosse uma estilista?

Minha avó e minha mãe já trabalhavam com costura. Minha avó era uma super costureira. Minha mãe, com dez anos de idade, já tinha aprendido tudo sozinha. Eu nasci naquele meio. Às vezes, eu até brinco [dizendo] que só faltava um estilista, porque minha família já tinha essa tradição de trabalhar com moda. Para mim, foi tudo muito natural. Eu nunca planejei muito as coisas, sabe? Eu já me sentia dentro. Já nasci nesse meio.

Você já fez algum curso? Uma faculdade?Nunca fiz. Foi desde pequenininha, pequena

mesmo. Minha mãe tinha um ateliê na nossa casa. Eu via, desde pequena, minha mãe mexendo ali, alfinetando as roupas... Eu já gostava de ajudá-la. Então, aprendi naturalmente.

Quais foram os maiores desafios encontrados para que você se consolidasse no mercado de moda de Brasília?

Os desafios são mão de obra. Todo mundo que trabalha com confecção vai te falar isso. Mão de obra está difícil. O desafio da venda também, apesar de Brasília ser um lugar muito bom de venda. As pessoas daqui tem um poder aquisitivo legal, gostam de novidade e estão abertas para novidade. Eu acho que o público brasiliense é muito aberto e a gente fez uma cena diferente do circuito Rio-São Paulo. Eu lembro que há cinco anos ninguém botava fé em Brasília. Hoje em dia, as coisas mudaram. Os desafios maiores são a mão de obra, vender e concorrer. Porque o mundo da moda é muito competitivo, tem muita oferta e [tudo] muito barato. Made in China está aí.

Quais as maiores mudanças que você percebe desde seu início do processo de criação de roupas até hoje?

Muita evolução. Hoje em dia eu olho e falo: nossa, como a gente melhorou. Não tinha noção, como eu disse, não fiz faculdade. Até que eu tinha noção, mas para vender [a roupa] tem que estar impecável. Você tem que abrir ela por dentro e

Estilista Fernanda Ferrugem comenta sobre carreira, sustentabilidade e cenário do mercado fashion no Brasil e no mundo

EM DEFESA DA MODA SUSTENTÁVEL

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o acabamento estar bem bacana. Hoje em dia prezamos muito por isso, mas na época que comecei não tinha muita ideia de acabamento. Olho as coisas e digo: Nossa, faria tudo diferente. Mas é bom. É um ramo em que estamos sempre aprendendo. Todo dia você aprende uma coisa. Ainda mais eu que trabalho sob medida, faço vestidos, até de noiva. É sempre um desafio. E com isso vamos aprendendo muito. É a nossa escola.

Quais as inspirações e referências você acha essencial que um estilista deva ter?

O estilista não deve ter preconceito. Pelo menos para mim, tem que ter a cabeça bem aberta para achar inspiração e várias coisas distintas. A rua me inspira muito, os meus filhos me inspiram, tudo, minha vida. Mas eu não sou de buscar inspiração dentro da moda. Eu até fujo disso.

Como você estuda as tendências de moda?Eu não gosto de tendências, eu não estou nem

aí para tendência. Para a gente que está trabalhando, já está dentro [da moda], é um inconsciente coletivo que acontece. Vou fazendo uma coisa e tem ligação com a outra. Essa ligação com tudo, com o universo, me leva muitas vezes a acertar no que está rolando. Acho que isso acontece com todo mundo que trabalha nessa área. Não é que nunca olhei revistas, eu adorava comprar. Mas depois de um tempo para cá que vi que eu poderia, que seria mais rico, mais legal o trabalho, se buscasse outras maneiras e não me deixasse ser muito influenciada.

Onde você busca inspiração para suas estampas? Elas são exclusivas?

Tenho lugares que não divulgo, são verdadeiros cemitérios de tecido. De lá, usei muita estampa vintage, retrô... Que parecem super modernas, mas são bem antigas. Geralmente, arrematamos para não correr risco. Mas é um lugar bem submundo, bem underground. É um cemitério de tecidos mesmo. Lá encontramos verdadeiros tesouros. Hoje em dia tenho o maior orgulho e satisfação de falar. Porque tem muito lixo e eu acho que a indústria têxtil e as confecções poluem bastante, é muito resíduo. Quanto mais sustentável der para ser, acho que o momento é esse. Eu já fiz [minhas estampas], agora,

por exemplo, eu vou fazer uma linha de estamparia própria, mas só uma parte da coleção. Serão os moletons, eu e uma fotógrafa, a Heloísa Rocha, que captura muitas cenas de Brasília. Vamos pegar umas fotos dela e fazer em estampas sublimadas. Uma coisa que já fiz no inverno passado, agora eu vou voltar com outras fotos. Mas faço pouquíssimas coisas de estamparia própria, muito pouco.

Você cria suas peças de roupa e tem um espaço próprio que pode vendê-las. Como você percebe o mercado de moda de Brasília?

Eu acho um mercado promissor, aberto. As pessoas são antenadas e abertas. Acredito que falta ousadia de quem está fazendo mesmo, de se jogar mais e não desistir nos primeiros cinco anos de negócio. É difícil, demora um tempo. Mas com ousadia, tentando ter uma coisa diferente no que você está fazendo, dá para conquistar muita coisa boa aqui em Brasília.

A cidade possui um mercado um tanto quanto restrito no sentido de empreendedorismo e moda. Você concorda com essa afirmação? O que você aconselharia aos jovens que buscam se destacar nessa área?

Eu não concordo. Eu acho que Brasília é uma cidade nova num solo muito fértil e está crescendo bastante. Tem muita gente vindo para cá. A cidade está mudada, cresceu. Então, como eu disse, eu acho que é a ousadia do empreendedor mesmo, de se jogar, de tentar fazer diferente. Porque tem público, sim. Essa afirmação, de dizer que aqui é difícil, que não tem público, isso já passou. Se você acredita que tem potencial, que pode fazer uma coisa bem legal, se joga. Porque Brasília está propícia a receber novos talentos, novas marcas. As pessoas adoram aqui.

A moda sustentável tem reverberado com muita força. Você, inclusive, já fez desfiles e produções desse tipo. Como você vê as questões sociais e ambientais da moda?

Acho que a salvação para moda agora é pensar na questão sustentável mesmo. O que fazer para aproveitar, ter menos resíduos. Quem entrar nisso, vai continuar e vai se dar bem. É o caminho.

Por Patrícia Moura

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Uma correria. Produtores, maquiadores, estilistas e modelos por toda parte. Ansiedade e tensão. As luzes da passarela diminuem gradativamente, a música começa a tocar, uma silhueta aparece em meio ao breu que se fez no salão. De repente, as luzes acendem de forma abrupta, e uma linda jovem desfila com firmeza e confiança entre os olhares atentos e admirados. Quem está na plateia muitas vezes não sabe em detalhes tudo o que acontece para que um evento de moda como esse seja finalmente concretizado.

O Capital Fashion Week, por exemplo, já está em sua 17a edição. Mas como foi que

tudo começou? Como o evento funciona? Qual a importância dos desfiles de moda para a Brasília? Essa são algumas dúvidas que poderão ser esclarecidas nesta reportagem sobre a história do evento e os impactos que ele tem causado no mercado da cidade.

Criado em 2005 pela empresária Márcia Lima, o evento contou com o apoio institucional do Governo, da Câmara Legislativa, da Federação das Indústrias, Fecomércio, Sebrae e Associação Comercial do DF. Desde sua primeira edição, o Capital Fashion Week mostrou seu potencial para fomentar e incentivar a produção de moda

CAPITAL FASHION WEEK E A MODA BRASILIENSEEntenda como funciona o maior evento de moda da região

Acontece em Brasília

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na capital. “Eu percebi que as pessoas faziam eventos de marcas de fora, era um sucesso e depois iam embora. E aí eu pensei: Vamos fazer alguma coisa nossa para sair desse foco da política? E alguma coisa que pudesse ficar para a cidade. Não adianta uma pessoa vir fazer aqui um evento e ir embora. É uma coisa que não rende para a cidade. Então, eu resolvi criar o Capital Fashion Week, um evento de moda, só com profissionais daqui”, conta Márcia.

Os desfiles são verdadeiras vitrines para os produtos brasilienses, mas quem acompanha o mercado da moda em Brasília sabe que o trabalho não acontece somente nos três dias de evento. Para que tudo isso ocorra é imprescindível o apoio e o envolvimento de pessoas nas mais diversas áreas, mas não pense que é fácil encontrar gente que entenda a importância da moda para a economia aqui no nosso quadradinho não.

Quando questionada sobre o funcionamento do evento e como Márcia encontra apoio para

realizá-lo, ela releva: “É super difícil. Eu estou na 17a edição e continua sendo extremamente difícil, porque às vezes as pessoas não têm essa visão da importância do setor da moda para a economia. Estive na China e percebi a importância que o governo dá para esses setores, os incentivos. E a gente realmente precisa contar com esse apoio. É sempre muito sofrido, mas eu acredito que é um trabalho de formiguinha, de conscientizar e ir atrás. Não podemos desistir”.

Por isso, as parcerias firmadas para a realização do Capital são fundamentais. Mesmo que não seja uma contribuição de recursos financeiros, a troca de serviços e conhecimento também valem na hora de por a mão na massa. Os estilistas e as marcas participantes do evento recebem, por exemplo, cursos e palestras para aprimorarem sua comunicação, produtos e serviços. Melhorando, assim, nos mais diversos níveis a qualidade do que eles têm a oferecer para a cidade. E esse é um trabalho realizado

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durante 365 dias do ano, para que as marcas e os estilistas possam estar preparados no dia dos desfiles para apresentar suas coleções e vendê-las como verdadeiros empresários.

Com os incentivos promovidos por meio do Capital Fashion Week, a moda na capital tem se destacado. “Eu acho que ela amadureceu rapidamente. As pessoas hoje em dia consomem moda made in Brasília com muito orgulho, têm consciência da

qualidade dos nossos produtos. As pessoas aqui têm muito talento, os estilistas realmente conseguem se posicionar de uma forma adequada. A gente está crescendo”, afirma Márcia. Mas, mesmo que toda essa articulação seja feita para incentivar o crescimento da moda na capital, o cenário enfrentado ainda não é dos melhores. Falta incentivo do governo, indústrias têxteis na região que possibilitem a criação e venda de

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peças a preços competitivos no mercado, e maior qualificação da mão de obra.

“Tudo que depende de investimento na economia criativa é muito complexo em Brasília. E a moda é a mais complexa dessas expressões criativas, porque você depende de insumos de boa qualidade e que não sejam caríssimos, de mão de obra especializada e politicas públicas. Brasília é uma cidade muito voltada ao serviço público, o que é quase incompatível com o

espírito de empreendedorismo da moda”, conta o coordenador do Curso de Design de Moda no Iesb, Marco Antônio.

Para que o mercado da moda funcione de forma efetiva, todas as áreas da cadeia produtiva e econômica devem funcionar de forma sistêmica e alinhada para gerir o segmento. Esforços isolados não serão suficientes. É preciso que uma postura proativa acerca das questões da moda seja adotada.

Por Patrícia Moura

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Miscelânea significa um conjunto de coisas diferentes. Esse é também o nome da coleção criada pela estilista e estudante de design de moda Gabriela Palazzo. Apresentados no concurso Novos Talentos da 17a edição do Capital Fashion Week, os looks da coleção trazem uma mistura de tecidos distintos, o jeans e o troller, que juntos se harmonizam na passarela.

Todo o envolvimento de Gabriela com o mundo da moda aconteceu de forma espontânea. Sempre que algo relacionado ao assunto cruzava o seu caminho era motivo de alegria e satisfação. “Essa paixão pela moda, mesmo sem ter contato, pois ninguém da minha família trabalha com isso, foi uma coisa bem natural. Qualquer contato que eu tinha com a moda, eu gostava. Me dava prazer. É o que gosto”, conta a estilista.

Na coleção Miscelânea, Gabriela utilizou o mix do jeans e do troller de seda para criar vestidos longos com hot pant, calças e

blusas de cortes femininos e delicados. Sua inspiração vem de diferenças e inf luências dos mais distintos meios que recebemos diariamente. A união de tudo isso é traduzido por meio de seus looks. “Essa coleção ref lete o meu olhar para moda. Eu acredito que a gente é um conjunto de inf luências. De várias partes, somos inf luenciados o tempo inteiro, convivemos com pessoas diferentes, andamos em ambientes diferentes e, somando uma coisinha com outra, acho que você vai se compondo. Foi isso que eu quis trazer para essa coleção. Aí eu resolvi usar o jeans e o troller, que são tecidos bem diferentes, mas que dão um resultado super bonito, bem diferente também”, revela Gabriela Palazzo.

Em parceria com o estúdio Fotíssima Trindade, a revista Factory apresenta um editorial com algumas das peças criadas pela estilista, onde o sensual e o confortável, o forte e o delicado se misturam.

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MISCELÂNEAA combinação de tecidos e texturas criadas por Gabriela Palazzo

Por Patrícia Moura

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A paixão pela moda aflorou cedo para a estudante de Publicidade e Propaganda Andressa Castro, que desde pequena gostava de testar combinações e vestir coisas diferentes. Porém, foi somente durante a faculdade que ela viu a possibilidade de se tornar estilista e concretizar a própria marca. Então, no ano de 2013 suas ideais começaram a tomar forma.

Por meio do contato que teve com algumas disciplinas durante o curso, a estudante criou coragem para planejar estratégias e criar uma linha de vestidos de festa exclusivos, além da sua marca e logomarca, com a ajuda das irmãs Vanessa e Nayara. “A ideia da marca surgiu há dois anos, quando eu decidi que queria ter uma marca de vestuário feminino e que isso seria meu trabalho. Eu e as minhas irmãs decidimos o nome. A Nayara sugeriu o nome Gloriosa, pois ela estava procurando nomes de flores que poderiam dar certo como nome da marca. E esse foi escolhido”, conta Andressa.

Apoiada pelas irmãs, Andressa trabalhou em sua primeira coleção. Mas, infelizmente, as coisas não saíram como o planejado. Por problemas com a costureira, os looks fabricados foram um completo desastre. “Na segunda vez ainda não foi perfeito, mas ficaram melhor que da primeira”,

ressalta. Mesmo com as dificuldades, ela não desistiu, continuou estudando para consolidar suas estratégias de negócios e conseguir parcerias melhores na produção das peças de roupas.

O empenho foi tanto que em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ela apresenta um plano de negócios completamente estruturado em ações de pequeno, médio e longo prazo, em que um e-commerce é criado para a venda de suas roupas.

Além disso, a estilista lança sua mais nova coleção “Candangas”, com peças inspiradas em Brasília. “Eu parei para observar os monumentos, os pontos turísticos, as cores e as formas mais presentes. Eu percebi que aqui, na maioria das construções, a base são as formas simples. Então, os vestidos teriam a presença dessas formas. As cores mais utilizadas foram o cinza, do asfalto, o branco, dos monumentos, e dourado, do cerrado”, explica Andresa.

Também se graduando em Publicidade, sua irmã gêmea Vanessa preparou como TCC, em parceria com o colega Lucas Brant, um editorial fotográfico com as roupas da nova coleção de Andresa, que é apresentado em primeira mão pela Factory Magazine.

GLORIOSAA flor que rende muitos frutos para a estilista Andressa Castro

Por Patrícia Moura

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Ao contrário de muitas blogueiras, Vanessa Vasconcelos não se formou em Moda, mas em Contabilidade, o que lhe rendeu bons conhecimentos para ajudar na realidade da vida de blogueira. Em 2013, ela deu início aos trabalhos com o blog Grifina, incentivado por seu marido ao perceber a interação de seus seguidores no Instagram durante o processo de sua reeducação alimentar.

Vanessa faz parte do recente desenvolvimento da moda na capital e, aos poucos, vai garantindo seu espaço em nível nacional. Mais do que ninguém, ela sabe que Brasília precisa de muito investimento no setor, por isso tenta ao máximo impulsionar o crescimento da moda na região com um trabalho de qualidade e que possibilite o crescimento dos profissionais da área.

Também chamada de Grifina, Vanessa conta sobre o significado da mulher real e do conceito com a sua trajetória de sucesso e mudanças pessoais mas também os bastidores da sua vida de blogueira na capital.

Como surgiu o nome Grifina?O nome Grifina é porque eu comecei com o

Instagram. Eu não comecei com o blog, tanto é

que meu Instagram ainda é o @vanzinhav, porque ele veio muito antes do Grifina, e depois eu não mudei o nome devido à identificação das pessoas com o nome Vanzinhav. Eu estava passando por um processo de reeducação alimentar e queria que isso entrasse no nome do blog. O –fina surgiu a partir da reeducação alimentar e –grif a partir da moda. Juntou o grife com fina, ficou Grifina. Foi essa a ideia.

Você diz no Grifina que ele é destinado a “mulheres reais”. Quem são essas mulheres?

Essas mulheres reais são mulheres que, como eu, jamais poderiam ser modelos de passarelas por não ter um biótipo próprio para a moda, que é a realidade da maioria das revistas, editoriais de moda e da passarela. Eu tenho 1m e 60 cm, visto 38 e meu quadril é de 100 cm. Jamais me encaixaria nos padrões para fazer umas fotos, e hoje em dia eu posso fazer fotos. Por que não? Por que eu não posso ser a garota propaganda de uma marca? Será devido aos meus 1m e 60 cm? Eu acho que essas mulheres reais não são esses padrões diferentes, mas aquela mulher que trabalha, tem mais de uma profissão, estava em casa fazendo o almoço, correu para arrumar o cabelo.

UMA MULHER REALA blogueira Vanessa Vasconcelos revela os desafios de ter um blog de moda na

capital e quais são as suas inspirações para fazer um ótimo trabalho

Fashionista

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O conceito das mulheres reais tem relação com a sua trajetória e mudanças profissionais?

Também. Eu acho que o fato de exercer outra profissão e conciliar com o blog me inclui muito nessa mulher real. Até mesmo se eu trabalhasse só com o blog, o fato de você fugir um pouco dos padrões estereotipados pela mídia e pela moda já nos inclui numa mulher real.

Hoje, as plataformas tecnológicas têm

que se aperfeiçoar frequentemente para que seu público não busque novidades em outros locais. Quais são as técnicas que você utiliza para atrair as leitoras diariamente?

Essa importância do conteúdo diário é fundamental. Por exemplo, o Grifina tem conteúdo diário tanto no blog quanto no Instagram, Facebook e agora no Snapchat. É buscar novos meios de atingir leitores através de novos aplicativos. O Snapchat é o que todo o mundo está buscando para se aproximar de seus leitores mesmo. O canal do Youtube, nós começamos este ano também. No ano passado nós não tínhamos maturidade suficiente para começar o Youtube, pois primeiro a gente queria fortalecer o blog e as outras redes sociais. Na verdade ser blogueira é uma ralação diária. A pessoa só vê o glamour, porém se ela visse o por trás da foto ou do evento em que a pessoa fica ali tirando foto, ou a hora que chegou um presente, o tanto que tem por trás, a parte administrativa, a elaboração de contrato, os nossos termos de compromisso com as marcas que tem que seguir a risca. Construir um blog envolve muita responsabilidade.

Quais são os seus futuros projetos para impulsionar o Grifina e atrair mais leitoras e ganhar mais reconhecimento no mercado?

Desde o início, eu e o Adolfo, nós temos um princípio de dar um passo de cada vez. A gente

procura não pensar, lógico que planejamos, almejamos muitas coisas para o futuro e até incrementar produtos ao Grifina. Enfim, nós pensamos em várias coisas, porém trabalhamos muito presente, ou seja, um passo de cada vez para não atropelar as coisas. Agora que o pessoal de Brasília está abrindo o leque para a moda e para os blogs, porque a maioria dos meus parceiros e clientes são de fora. A minoria é de Brasília. Agora que o pessoal daqui acordou para investir nos blogs.

O eixo Rio-São Paulo é a região mais forte na produção e industrialização quando o assunto é moda. Como é ser blogueira de moda em Brasília? Você tem facilidade ou dificuldade em encontrar informações novas para o seu público?

Eu tenho muita dificuldade de ser blogueira em Brasília. Com certeza São Paulo, Rio e até Goiânia, aqui do lado, a região Sul são muitos abertos à moda. Como eu falei, a maioria dos meus clientes são do Sudeste. Parceiros do blog, anunciantes, as pessoas que têm contrato comigo, a maioria é Sul e Sudeste, porque eles investem na blogueira. Eles querem e acreditam que a blogueira está vestindo a marca e dando retorno. As marcas de Brasília agora que estão começando a falar: “Nossa, a loja lá de São Paulo contratou a Vanessa. Olha! Então ela tem potencial. Vamos contratar também”. É preciso que o pessoal de fora nos valorize para o pessoal daqui acordar e querer nos contratar ou chamar para algum trabalho. O pessoal daqui de Brasília ainda tem uma péssima mania de fazer as coisas na base do favor, do coleguismo, ou então assim; só “fulaninha” da socialite. Eu tive que ir chegando e conquistando o meu espaço com o trabalho.

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No Brasil, existem muitas blogueiras, especialmente de moda. O que você acha que o público feminino procura em vocês?

O Grifina é recente. Ele é de dezembro de 2013 e completou agora um ano e meio. De lá pra cá, mais e mais blogs vão surgindo. Eu acho que, com o passar do tempo, as revistas, os estilistas foram ficando muito distantes das consumidoras finais, e a blogueira é meio que um intermédio entre a loja, o estilista e aquela consumidora final. Por exemplo, às vezes a pessoa está ali vendo na revista uma coisa linda e fica se perguntando onde comprar? Aonde achar? O que fica melhor para o meu corpo? Como usar esse lenço com aquela jaqueta? Acredito que o papel da blogueira é reaproximar o produto final à cliente. O produto é o que a cliente quer. Eu fiz umas fotos para a LezaLez, que é uma empresa de Santa Catarina. A marca publicou algumas fotos no Facebook, quando eu fui ler os comentários, tinha vários assim: “O corpo dela é igual ao meu”. “Olha! Ela tem muito seio”. “Ela tem bastante quadril”. As pessoas viam a modelo como representação da loja e identificavam que na loja não iria ter as roupas adequadas para o próprio corpo devido ao biótipo.

As empresas analisaram e viram que os blogs impulsionam vendas de seus produtos. Sobre as parcerias, qual foi a primeira grande marca que fez parceria com o seu blog? Você pode descrever essa atividade comercial no seu blog?

As primeiras grandes marcas que anunciaram no Grifina foram a Bepantol e a MAC.. Já de nível nacional tem a Colcci, a LezaLez, a Lança Perfume, o Boticário, tem tantas. Eu acho que a primeira grande marca foi a MAC, que fez a ação do Viva Glam. O evento acontece anualmente com blogueiras para vender, além de ser beneficente. Eu acho também que a Riachuelo, a C&A agora, para a Kim Kardashian. Em nível local, aqui em Brasília, têm várias também.

No ano passado, o Capital Fashion Week completou 10 anos. Nele, muitos estilistas, produtores e designers iniciaram sua carreira. Para você, qual a importância e as contribuições do evento no desenvolvimento de profissionais da indústria de moda em Brasília?

Uma semana de moda traz uma visibilidade muito grande. A gente não imagina, mas até a imprensa internacional estava aqui no CFW. Isso impulsiona a trazer uma visibilidade para o casting de modelos, para os estilistas. Por exemplo, ano passado, quem se destacou muito foi o Romildo Nascimento. Eu não o conhecia, depois disso eu o conheci no CFW, já vi vários outros trabalhos dele, inclusive pelo Brasil a fora. Acredito que o CFW seja uma vitrine. Atualmente, ele é feito todo ano, mas o São Paulo Fashion Week já é feito duas vezes ao ano. Quanto maior a frequência melhor será para todo mundo, como as marcas, a imprensa local, os blogs. Todos saem ganhando com o evento.

Alguma personalidade te inspirou quando você decidiu seguir no âmbito da moda?

Eu sempre olhei muito as blogueiras pioneiras, as da primeira geração, que é a Camila Coelho, Camila Coutinho do Garotas Estúpidas, Thássia Naves, Lala Rudge e a Chata de Galocha, esse é o meu top five. Eu me inspirei muito nessas cinco, não só nelas, pois eu vejo vários blogs, por fazer parte do ModaIt.com.br. Nessa plataforma tem uma penca de blogueiras que leio todos os dias. Já na moda em si quem me inspira é a Olivia Palermo e a Diane Von Fürstenberg. A Diane não é adepta a plásticas, e a frase que mais gosto dela é: “Eu prefiro ser uma rosa murcha a ser uma rosa de plástico”. Também me inspiro muito nessas mulheres da moda, em estilistas como a Helena Bordon e nesses grandes blogs.

Por Marina Barbosa

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As semanas de moda em Paris são representadas por desfiles grandiosos que movimentam milhões por ano em todo o mundo e alimentam o universo dos sonhos, luxo e glamour. As peças apresentadas são feitas sob medida por artesãos com uma incrível precisão cirúrgica, que costuram e bordam à mão tecidos finos e luxuosos. Todo esse padrão rigoroso é estabelecido e representado por marcas da alta-costura. Fazer parte desse distinto grupo não é fácil, mas, acredite se quiser, no passado, já foi bem mais difícil.

O termo haute couture (alta-costura) teve sua origem na França e foi utilizado pela primeira vez em 1858 pelo inglês Charles Frederick Woth, que fundamentou o conceito de sofisticação das roupas e, por isso, é considerado o pai da alta-costura.

Foi ele também que iniciou o uso de etiquetas em suas roupas para assinar e legitimar suas criações, criou a ideia de coleções por estação e realizou o primeiro desfile com manequins vivas, na época, denominadas sósias.

Somente em 1868 com o Sindicato da Alta-Costura, criado por um grupo de artesãos, que o termo passou a ser utilizado efetivamente para designar quais grifes fazem parte do seleto grupo e possuem, por excelência, extrema qualidade em suas criações.

Durante a Segunda Guerra Mundial, pertencer a esse grupo tornou-se ainda mais difícil. Uma série de regras foram criadas para proteger e preservar a alta-cultura na França, uma vez que Hittler tinha o desejo de levá-la para a Alemanha. Na época,

HAUTE COUTUREUm patrimônio cultural parisiense que mudou o mundo e o universo da moda

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Champs Elysées, uma das avenidas que formam o triângulo de ouro, onde se localizam as casas de alta-cosutura.

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fazer roupas sob medida e estar sediado em Paris não era suficiente para pertencer ao grupo. Entre as exigências estabelecidas, era necessário que o ateliê ficasse localizado no chamado Triângulo de Ouro, delimitado por três grandes avenidas: Avenue Montaigne, Avenue Georges V e Avenue Champs Elysées. Além disso, o artesão deveria ter um prédio próprio, com 20 funcionários e apresentar 50 looks por coleção.

Dessa forma, a alta-costura passou a ser considerada patrimônio cultural da França. É como se o termo tivesse sido patenteado pelos parisienses. Em outros países o termo não pode ser utilizado e nem traduzido para o idioma local. “Na Itália dá-se o nome de alta-moda. Na Inglaterra e nos Estados Unidos dá-se o nome High Fashion ou High Style. E, aqui no Brasil, não descobrimos uma expressão para adjetivar o nossa roupa artesanal, de extrema qualidade, com refinamento. Erroneamente, falamos alta-costura”, explica João Braga, professor de História e cultura de moda pelo Senac-SP.

Com o passar do tempo, essas exigências foram sofrendo algumas mudanças influenciadas por uma série de fatores que enfraqueceram o grupo, como o surgimento do prêt-à-porter e outras formas de

consumo da moda. Atualmente, existem as grifes consideradas permanentes e as “convidadas”, na qual o Sindicato analisa as propostas e, se a coleção de determinado designer atender às expectativas, ele é convidado a integrar o grupo. Porém, se em algum momento o que for apresentado não agradar, o convite é retirado.

Trabalhar com alta-costura é caro e envolve muito dinheiro, tanto na produção das peças quanto na venda. Hoje em dia a alta costura não vive exclusivamente de suas coleções, pois são poucos os clientes que podem bancar os valores das roupas exclusivas. Por isso, para se manter, as grifes trabalham com peças prêt-à-porter, perfumes, acessórios e maquiagens assinadas por elas.

É possível afirmar que a alta-costura, hoje, não passa de uma vitrine das marcas. Mas mesmo com as dificuldades, os representantes da alta-costura ainda influenciam a moda no mundo inteiro, pois as grifes lutam arduamente para manter vivo esse patrimônio cultural, surpreender e encantar seu público nas semanas de moda em Paris.

Por Patrícia Moura

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Charles Frederick Woth

Maison Yves Saint Laurent, na Avenue Champs Elysées

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A MODA DAS RUASA cada edição um editorial para você se inspirar na hora

de se vestir

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FOTO: ESTÚDIO FOTÍSSIMA TRINDADE

Entrar no closet. Olhar as roupas e sapatos guardados. Logo em seguida vem a seguinte con-clusão: Não tenho nada para vestir hoje. Dizer esse tipo de coisa faz parte da rotina de muitas pessoas que possuem dificuldade para encontrar um look confortável e fashion diante da imensa quantidade de peças presentes no armário.

Pensando nessas situações, tão comuns aos apaixonados por estilo, a Factory traz um editorial fotográfico realizado nas entrequadras de Brasília, inspirado no Street Style e na diversidade do guar-da-roupa jovem que muda e se adapta a cada oca-sião, seja para o trabalho, o dia a dia ou sair à noite para encontrar com os amigos.

Por Marina Barbosa

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FOTOS: ESTÚDIO FOTÍSSIMA TRINDADE

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FOTOS: ESTÚDIO FOTÍSSIMA TRINDADE

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