face morena - vol 5 - coleção memórias da figueira

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    ndice para catlogo sistemtico:1. Contos: Literatura Brasileira - CDD-869.93

    Copyright - ELIO EUGENIO MLLER

    [email protected] - [email protected]

    FACE MORENAColeo Memrias da Figueira - Volume: V

    ISBN: 978-85-98219-53-0

    Direitos reservados segundo legislao em vigorProibida a reproduo total ou parcial

    sem a autorizao do autor.

    EDITORA AVBLwww.editora.avbl.com.br

    e-mail: [email protected]

    MLLER, Elio Eugenio

    Face Morena Coleo Memrias da Figueira Volume: V Elio Eugenio Mller -- Curitiba/PR.Editora AVBL, 2011. -- Bauru/SP

    316p. il. 14,8 X 21 cm.

    ISBN: 978-85-98219-53-0

    1. Contos: Literatura Brasileira. I. Ttulo.

    08-07-11 CDD-869.93

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    FACE MORENAColeo Memrias da Figueira

    Volume: V

    A miscigenao na Colnia de Trs Forquilhas

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    NDICE

    - AGRADECIMENTOS 8- PALAVRAS AO LEITOR 9

    - FACE MORENA 1 PARTE 17

    - MISCIGENAO CULTURAL E MISCIGENAO (...) 18-Precisamos proceder qual o caramuru... 18- A germanidade corre risco na Colnia? 24- Um corrido nos irmos Farofa 28

    - O NOVO CASAMENTO DE MAJOR VOGES 34- A festa de casamento no Stio da Figueira 37

    - FESTA DA SOCIEDADE DOS CAVALEIROS DO VALE 42- Lembrando a histria do Ritterverein 44- O desenvolvimento da Sociedade de Cavaleiros 46- Os piquetes de gachos 47- A cavalhada dos aorianos 49- Torneios festivos entre piquetes 52

    - A MORTE TR GICA DE JOO PATRULHA 53- O velrio foi realizado na casa do falecido 55- Um enterro bem concorrido 55

    - FAZENDEIROS DE ORIGEM ALEM NA SERRA 58- Eleitores em Lagoa Vermelha 67- Filhos ilustres de Lagoa Vermelha 68

    - FILHOS QUE FORAM ESTUDAR FORA DA COLNIA 69

    - MORRE O LTIMO CAVALARIANO FARROUPILHA 75- Amizade acima das idias divergentes 79

    - A IMPORTNCIA DA ATIVIDADE DO SUBDELEGADO 82- A formao da nova Escolta Policial 84- Cada casa que cuide bem de suas cabritas... 88

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    - Um filho que confia nos pais 93- A situao dos pretos da casa pastoral 97

    - PEDRO BAIANO MORRE VARADO BALA 102

    - O CISCO EM OLHO ALHEIO 110- Reunio de reconciliao na casa pastoral 111- Feitio vira contra o feiticeiro! 116

    - A SOCIEDADE DOS ATIRADORES (...) 119

    - O COMPADRE DOM PEDRO 123

    - O vnculo Voges e Mittmann estreitado 124- A poltica divide famlias 125

    - A MORTE DO FILHO CAULA DO PASTOR 127- Pesado luto do Coral e da Banda 129- Mestre Tietboehl ajuda o pastor no ofcio fnebre 131- O fretro saiu a p at o cemitrio 132

    - MAPA DOS FREGUEZES DO ARMAZEM DE (...) 135

    - TROPEIROS, PORQUEIROS E OUTROS TIPOS 140- A Fazenda de Bananeiras dos Ludovicos 142- Os primeiros donos de engenho no Vale (...) 143- As estradas e as trilhas no vale 145

    - A MORTE DE WILHELM SCHMITT 146- Um velrio no templo 148- A cerimnia fnebre 150

    - A NAVEGAO PELO RIO TRS FORQUILHAS 155- Os primrdios da navegao lacustre 156

    - FACE MORENA 2 PARTE 158

    - UMA REFLEXO SOBRE AES VIVEIS 159- Medidas eficientes s vieram no sculo XX 161

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    - ACISO EXPE A DOR DA POPULAO 167- Um perfeito entrosamento militar e civil 169- Formulrio para a reflexo sobre aes viveis 170- Picucha conta histrias 176- A problemtica do hospital fechado 183- Um Ofcio ao Comandante da Operao ACISO 183- Hbitos alimentares, analfabetismo e educao 187- Centenrio do fim da Guerra do Paraguai 189- Uma visita ao Sr. Masaharu Aso 193- Michiyo Aso atua como intrprete 195- Humor na roda do chimarro 196

    - Acompanhando o trabalho do mdico 108- Dados estatsticos da ACISO 200

    - A ATENO DO CORONEL AZAMBUJA 205

    - A EXECUO DOS PRIMEIROS PROJETOS 217- Jardim de Infncia em Itati 217- Posto de Sade de Itati 218- Associao para o Desenvolvimento de Itati 219

    - Assistncia aos pequenos agricultores 221- A preservao das guas do Rio Trs Forquilhas 223- Implantao da 5 a 8 sries 224- Recadastramento Rural do INCRA 226- Cursos profissionalizantes 232- Campanha para instalao de rede (...) 233- 1 Exposio Agroindustrial 234- Criao do Centro de Assistncia Rural de Itati 235- Aulas de Ingls na Escola Pastor Voges 239- A figueira que fala 240

    - QUANDO OS SINOS CHAMAM 241- Masaharu Aso veio a Itati em 1968 247

    - FESTAS NA COLNIA JAPONESA DE ITATI 249- Festa do Bom Odori 251- Dia do Undokai 252

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    - FESTAS DA COMUNIDADE DO VALE 254- Monumento ao Imigrante em Itati 254- Casamento de Paulo Brehm e Ayako Ouchi 255

    - A EFETIVA INTEGRAO DOS JAPONESES 259- Vencendo obstculos 259- A mentalidade japonesa 260- O suave perfume das flores 261- A arte milenar do Ikebana 262- A miscigenao 263- A naturalizao e a cidadania 263

    - A CONGREGAO LUTERANA JAPONESA 266- Batismos na Igreja 267-No mais nos sentimos ss... 269- Trs datas comemorativas 274- O fenmeno Dekasegui 276

    - FAMLIAS JAPONESAS DE ITATI 277- Masaharu Aso 277

    - Ryohei Shimomura 279- Tadao Ouchi 281- Hiroshi Takimoto 282- Yoshishi Kanno 283- Otozo Sato 285- Ichiro Abe 286- Famlia Miyazaki 287- Shigehisa Cho 289

    - CONCLUSO 290- NOTAS EXPLICATIVAS 296- FIGURAS em FACE MORENA 308- FONTES DE CONSULTA 313- COLEO MEMRIAS DA FIGUEIRA 316

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus fonte da vida e de toda a boainspirao, que me permitiu a realizao desta obra. Queestas memrias sirvam como um instrumento para aedificao do Seu Reino sobre a terra.

    Doris, minha esposa, pelo permanente incentivo,como companheira valorosa, ao longo destes 40 anos depesquisa e trabalho, que me ajudou a localizar e dar vidaaos personagens, muitos dos quais parentes dela, queviveram esta saga contada em "Memrias da Figueira".

    Profa. Dra. Solange T. de Lima Guimares (SolKarmel), amiga e conselheira, pela avaliao da obra eorientao.

    Ao publicitrio Rodrigo Sounis Saporiti pelaorientao, na fase inicial, para a escolha do formato

    literrio da obra.

    escritora Maria Ins Simes, Presidente daAcademia Virtual Brasileira de Letras - AVBL, pelaorientao na fase de publicao do livro.

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    PALAVRAS AO LEITOR

    Os leitores que receberam a oportunidade de ler osquatro primeiros volumes desta Coleo Memrias daFigueira puderam tomar conhecimento do valor que temosatribudo centenria figueira que pode ser vista em nossoStio, em Itati RS, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul.A figueira marcou este trabalho literrio, como fonte deinspirao e de ensinamentos.

    Ao trabalhar na redao de FACE MORENA, o quinto

    volume desta Coleo, novamente a figueira falou comigo.Ela repetiu o ensinamento j anteriormente enfatizado, arespeito da acolhida e aconchego que ela oferece a todos deigual modo... A figueira acolhe sem fazer discriminao dequalquer espcie. Seja o rico ou o pobre, seja o letrado ou oanalfabeto, seja o preto ou o branco, seja o homem de fou seja o incrdulo, seja o bom ou o mau, ela, a figueira,no estabelece critrios e no faz distines concedendo suasombra, proteo e acolhida a todos de igual modo. Ela nosdiz que apesar de diferentes os homens so, para ela, todosiguais.

    Sentado sob os galhos acolhedores da figueiraimaginei o rosto do ndio, o rosto do branco e o rosto doafricano e depois o rosto do asitico, como merecedores deaconchego. Em outras palavras eram os portugueses eaorianos, os caingangues e os guaranis, os alemes e os

    italianos, e o povo de origem nipnica, sendo tratados comoiguais apesar de suas diferenas culturais, tnicas oureligiosas. A lio da figueira fez com que o meupensamento vagasse rumo ao passado de minha vida, at otempo da minha infncia e adolescncia, na minha terranatal.

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    Recordei do meu torro natal, uma regio ondetambm ocorrera uma colonizao germnica, surgida porvolta de 1898, nos campos cruz-altenses, onde o meu av

    fora um dos pioneiros que migrou de Cerro Branco Cachoeira do Sul RS, para Salinas, que depois sechamaria Neu-Wrttemberg, hoje Panambi RS. O meu avErnesto Leopoldo Guilherme Mller era filho desta terra, umbrasileiro. Falava o alemo fluentemente da mesma maneiracomo falava o portugus.

    Em minhas recordaes, me vi entrando na escolapara aprender as primeiras letras. Veio minha lembrana

    a figura do diretor da nossa escola, cujas ordens e disciplinaeu haveria de seguir durante dez anos seguidos de minhainfncia e mocidade. Tratava-se do professor HermannWegermann que, na Alemanha, fora um oficial aviadoralemo da Lufftwaffe, na poca da II Guerra Mundial. Eleque um dia tivera seu avio abatido. Gravemente feridoconvalesceu lentamente, com muito tempo para pensar emeditar. Ele fora um militar profissional, competente e quenutria amor sua Ptria. Mas ele entendeu que a sua terranatal estava sob o domnio do nazismo, uma ideologiadesumana e totalitria. Quando sentiu as foras voltando aoseu corpo, convidou esposa e filhos e, decidiu voltar scostas para a Alemanha dominada e fanatizada. Decidiuemigrar ao Brasil, escapando do horror daquele teatro dadestruio e da ausncia de liberdade para pensar e ser.

    Chegou em Panambi RS sem grandes recursos

    financeiros. Mas ele trazia consigo uma esmerada formaoacadmica militar como aviador de ESCOL. Era homemfirmado na tica e na rgida disciplina dos cadetes daLufftwaffe. Foi acolhido e convidado a assumir a direo doColgio onde mais tarde eu, meus amigos e meus irmosviramos a estudar.

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    Ns, estudantes, fomos marcados pela orientaosegura e convincente do diretor Wegermann. semelhanada figueira, ele, um dia, assim falou para mim: - Todos

    somos iguais perante Deus, iguais perante nosso Criador eSenhor. Todos somos iguais debaixo deste cu, onde a luzdo sol foi feita para iluminar a todos de igual modo. Todostemos a mesma responsabilidade perante a Ptria, queDeus nos concede. No acredito que a cor da pele, ou a cordos olhos faam alguma raa existente sobre a terra sersuperior a outras. No aceito que a crena religiosa permitaque se despreze aqueles que crem de outro modo ou depessoas que nem crena mais tem ou nunca tiveram.

    Mas esta no foi nica lio recebida do DiretorWegermann. Foram lies sem conta, que dariam paraescrever um livro. Um fato que ainda merece registro quedurante o perodo em que trabalhei no Jornal OPanambiense, na minha terra natal, tive que entrevistar, umdia o Diretor Wegermann, que estivera visitando os ndiosda Amaznia. Como jovem que aprecia aventuras fiqueiencantado quando ele contou que esteve, por muitos dias,entre os ndios vivendo com eles nu e se alimentando com oque eles comiam. Ele contou: - A lio que trago e quegostaria de levar ao pblico que ficou evidente que cadacultura tem o seu valor e a sua riqueza. A cultura indgena repleta de ensinamentos valiosos... Temos muito a aprenderdeles... Todos os povos teriam muito a aprender uns dosoutros. Somos todos diferentes... No existem duas pessoasou dois povos iguais, na face da terra!.

    Dobrei a folha de apontamentos da entrevista que eufazia, guardei-a no bolso, e solicitei: - ProfessorWegermann creio que melhor que o senhor escreva esteseu relato a prprio punho, ou o grave numa fita, para serpublicado em nosso jornal. E, ele assim procedeu, demodos que recebi a entrevista gravada, para ser utilizada

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    pela nossa equipe de redao, para publicaes de matriasem diversas edies.

    Dediquei um espao para falar das lies do meudiretor de escola, pois que eram semelhantes e, ao mesmotempo opostos aos ensinamentos recebidos da figueira emItati RS.

    E sob este duplo enfoque que eu olhei o passado, ahistria da Colnia Alem de Trs Forquilhas. Pgina apspgina foi brotando, FACE MORENA, o quinto volume daColeo Memrias da Figueira.

    Foi sob este olhar que eu observei novas facetas queat ento haviam escapado da percepo de outrosescritores que escreveram sobre a histria da Colnia Alemde Trs Forquilhas.

    O leitor ver queFACE MORENA no tem s algo aver com a cor da pele ou a cor dos olhos das pessoas.

    FACE MORENA tem algo a ver com usos e costumes,com hbitos e crenas, com chimarro e churrasco, combombachas, botas e esporas.

    FACE MORENA tem algo a ver com a lngua falada,com o trabalho na lavoura, a atividade nos engenhos e afaina nos alambiques e nas casas de farinha (atafonas).

    FACE MORENA tem algo a ver com o pensamento,com o jeito de ser e com a mentalidade de um povo.

    FACE MORENA trata da presena de elementoshumanos de diferentes origens seja do ndio brasileiro, sejao povo de origem portuguesa e aoriana, seja a raaafricana sofrida e escravizada, todas as raas que viveram,ainda esto representadas no sangue que corre nas veias do

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    povo que existe na rea geogrfica da Colnia AlemProtestante de Trs Forquilhas (surgida em 1826).

    Lembramos que a Colnia Alem Protestante de TrsForquilhas, um ncleo colonial tnico, fora formado por umnmero bastante reduzido de famlias alems. Um nmero

    j reduzido que diminuiria ainda mais, pela convocao devoluntrios para a Guerra Cisplatina, alm da desistncia defamlias, durante o perodo da Revoluo Farroupilha, quepreferiram retornar a So Leopoldo.

    Faltaram na Colnia, profissionais liberais (pedreiros,

    marceneiros, alfaiates, carpinteiros, ourives). A liderana daColnia foi busc-los, a princpio, em Torres e nas reasprximas. Eram em geral os chamados nativos desta terra,que vinham para logo novamente sair.

    Outro fator na fase inicial da colonizao, foram asdificuldades encontradas na atividade agrcola. No primeirovolume da Coleo Memrias da Figueira, em DE PS E AFERROS, falei que o cultivo da cevada, do trigo e similares,que os imigrantes haviam conhecido e das sementes queeles haviam trazido da Europa, no deram resultadossatisfatrios. Passaram bem cedo a adotar a agriculturapraticada na regio. No lugar do trigo veio o milho, no lugarde legumes a mandioca (aipim). Adotaram tambm ocultivo da cana de acar, para o fabrico de rapadura,acar mascavo e cachaa.

    Os colonos sabiam construir moinhos, para fazerfarinha. Mas nada entendiam de engenhos de cana deacar, de atafonas (casas de farinha) e alambiques decachaa. Isto foi um novo motivo para buscar gente comexperincia. Os brasileiros de origem portuguesa e aorianaeram especialistas no ramo. Quem estuda a histria dePortugal toma conhecimento que os portuguesesaprenderam as noes mais importantes sobre o fabrico do

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    acar de cana (acar mascavo) com os mouros. Destaforma os portugueses e por extenso os aorianos, tornar-se-iam em mestres desse mister, tambm na Colnia Alem

    Protestante de Trs Forquilhas. Viriam particularmentefamlias de origem aoriana procedentes de Florianpolis eLaguna e outros de Porto Alegre, Viamo e Rinco dosIlhus (So Leopoldo), migrando at a regio do LitoralNorte, do Rio Grande do Sul.

    Na Colnia, os construtores de engenhos de cana deacar, de origem lusitana, eram colocados entre osprofissionais mais valorizados e mais importantes para a

    vida e o progresso da Colnia.

    Deve tambm ser mencionado o tropeirismo. Otrabalho do tropeiro era essencial bem como era essencial ainstalao de pousos e currais ao longo dos caminhos dastropas, no litoral e na Serra.

    A influncia da populao nativa de Torres e regioseria pois considervel, j desde o princpio, levando oscolonos alemes a aprenderem os rudimentos da lnguanacional, mnimos e suficientes para se comunicaremmelhor e no propsito da insero nas atividades comerciaise industriais da regio.

    Na Colnia era bem vindo todo aquele que tivessealguma capacidade ou conhecimento profissional nos ramosacima citados, desenvolvendo-se um forte esprito de

    hospitalidade, um esprito de acolhida, sem distino de corda pele ou de crena religiosa. Surgiu uma humanadiversidade ou plurietnia na Colnia de Trs Forquilhas,dando lugar a um produto cultural novo, traduzido, a partirde ento, como uma Colnia de Todas as Gentes.

    Desde o princpio da colonizao alem (1826)ocorreu uma forte influncia dos bugres (ndios) residentes

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    na regio. Eles revelaram a importncia da higiene pessoal,do banho no rio e do valor da gua, particularmente nestasterras bem mais quentes que da Europa. Do bugre

    receberam muitas noes sobre o uso de ervas e razespara o tratamento dos mais diferentes males e doenas.

    Convm incluir a influncia africana, que a partir de1846 passara a estar presente, na condio de escravos,em diversas casas de colonos alemes. A influncia, emparticular, das mulheres de cor seria na culinria, no jeitode comer e de falar, no tocante a crenas, magias ecurandeiragens (dos afrodisacos e das curas). A presena

    da mulher africana, vivendo dentro das casas para fazer otrabalho domstico e, diversas delas, feitas objeto sexual deseus senhores faria desmoronar a idia da raa pura.Alterar-se-ia a vida social e cultural desses imigrantes,dando lugar sociedade pluricultural, na Colnia Alem deTrs Forquilhas.

    Os anos passaram. Quem sabe foram cinquenta ousessenta anos. Face Morena tornou-se presena marcantena Colnia Alem de Trs Forquilhas. Tanto os lusos, osbugres e os afro-descendentes partiram em busca de umaafirmao. Desejavam assumir espaos na liderana local,em particular para uma atividade na esfera poltica eadministrativa. Um socilogo, em palestra que assistimos naEscola Superior de Teologia, em So Leopoldo o mesmotraduziu este processo com o termo empowerment (termosociolgico ainda sem traduo ao portugus) na idia de

    uma potencializaro na busca de poder scio-poltico eeconmico.

    Chegamos dcada dos anos 80, do sculo XIX.Fermentavam ideais republicanos e surgiu o PartidoRepublicano Riograndense (PRR).

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    Comearam a ser escritas pginas de deciso, decoragem e de firmeza, no que tange s convices deordem ideolgica e poltica. O imigrante germnico de credo

    protestante,reprimido e discriminado, desde a sua vinda aoBrasil, decidiu jogar-se na luta, sem pensar nasconseqncias.

    FACE MORENA fala de lutas, de sangue, de corageme de covardia, de honra e de baixeza.

    O passado parece querer invadir o presente e,tambm o oposto, como se o presente tivesse ficado retido

    em algum ponto do passado, de uma situao mal resolvidapara todos os riograndenses e por extenso para o povobrasileiro.

    Ficamos envolvidos com essas questes, que noschamam a um posicionamento, na expectativa de ver novostempos para a nossa sociedade.

    Desejo a todos uma boa leitura, ou leitoremsalutem, conforme diziam os romanos.

    Itati - RS, 1 de maio de 2011.

    Elio Eugenio Mller

    Membro da Academia Virtual Brasileira de Letras - AVBL

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    MISCIGENAO CULTURAL E MISCIGENAOTNICA

    Precisamos proceder qual o Caramuru...

    - Precisamos conhecer, o melhor que pudermos, alngua, os costumes e a cultura em geral do povobrasileiro.. - Disse o pastor Voges. Ele estava reunido comas lideranas da Colnia Alem de Trs Forquilhas.

    Wilhelm Schmitt, genro do falecido ComandanteSchmitt pediu a palavra e depois de fazer uma verdadeirapose acadmica, com impostao de voz, falou: - Nesteponto concordo com o Voges, pois se quisermos ver osnossos filhos encontrando um lugar na vida poltica eadministrativa da nossa nova Ptria, eles tero que dominarmuito bem a lngua nacional. Hoje quero agradecer aquipelas medidas do pastor, quando, por exemplo, trouxe oProfessor Nascimento para ns, para lecionar na Escola daComunidade. Foi devido a isso que os meus filhos puderamseguir os estudos em Porto Alegre e sero, talvez, doutoresem direito ou no mnimo bons mestres em algumaprofisso.

    Wilhelm Schmitt gostava de discursar no mesmoestilo do falecido Comandante Schmitt, porm insistia em se

    expressar em lngua alem.O professor Christian Tietboehl reclamou: - Senhor

    Schmitt, h quantos anos venho tambm dizendo isto, emapoio s medidas implantadas pelo nosso pastor, na buscade um bom ensino em nosso vernculo. Diante dissopergunto-lhe, senhor Schmitt, porque no exercita tambma lngua nacional para se pronunciar, uma vez que em

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    nosso meio se encontram pessoas que quase nadaentendem da nossa lngua de Goethe?.

    Schmitt levantou-se enrubescido e respondeu: -Caro mestre Tietboehl, acredito que todos que aqui seencontram sabem da minha dificuldade com a lnguanacional. Confesso que no consigo me expressar com adevida clareza no uso do portugus. Sugiro que o pastorVoges faa a gentileza de traduzir as minhas palavras aosque no compreenderam o que eu falei....

    Entre outros de origem luso brasileira estava ali

    presente o professor Serafim Agostinho do Nascimento queaprendera com o pastor Voges um vocabulrio elementar dalngua alem, para melhor poder se comunicar com seusalunos. Ele pediu a palavra, dizendo: - Compreendo muitobem o estado de nimo do senhor Schmitt uma vez queenfrento uma dificuldade semelhante, porm oposta. Pormais que eu queira jamais conseguirei me expressar contento, na lngua alem. Tenho constatado que pessoasficam segurando o riso quando tento dizer algo em alemo.Noto que o mesmo ocorre quando o senhor Schmitt tenta secomunicar conosco na nossa lngua nacional....

    Pastor Voges revelou satisfao com o rumo dodebate. Entre ambos os lados, dentre os germanistas e osnacionalistas estabelecia-se um consenso, para as medidasque ainda se faziam necessrias no trato dessa questo dainsero da Colnia de Trs Forquilhas no cenrio poltico e

    administrativo da Provncia.O pastor voltou novamente ao tema do encontro

    KULTUR UND RASSENMISCHUNG (MISCIGENAOCULTURAL E TNICA). Voges gostava de contar histrias eassim falou: - Em nossa escola, temos apresentado aosalunos a histria de Caramuru e de Paraguau. A classe dosmaiores at encenou diante dos pais, este episdio ocorrido

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    no tempo inicial da colonizao portuguesa no Brasil. Foi-nos apresentado que Caramuru aprendeu a lngua e ocostume dos ndios, a partir de sua unio com a ndia

    Paraguau. Aqui na Colnia aconteceu algo semelhante maso oposto quando o nosso ndio Manoel dos Santos seapaixonou pela alem Magdalena Menger Strach. Ele decidiuaprender a lngua alem, pois foi morar na casa da mulher,no seio da nossa Colnia Alem. E hoje vemos o ndioManoel falando a lngua alem bem melhor do que muitosimigrantes e, at o gtico aprendeu a escrever. Digo agoraque pena que a Magdalena no aprendeu a lnguaguarani....

    Voges sorriu e fez uma pausa, olhando o ndioManoel dos Santos, bem disposto sentado na primeiracarreira de bancos e, Voges continuou: - Todos nssabemos que o ndio Manoel no fala mais a lngua guarani,por no t-la mais praticado. Porm ele foi alfabetizado nalngua nacional quando menino, no Baluarte Ipiranga, emTorres, por ordens do Coronel Paula Soares. Uma coisaelogivel que Manoel, quando casou e tiveram filhos, teveinteresse de ensinar a lngua nacional para todos de suacasa. Hoje os filhos do casal so para ns um timoexemplo para a Kultur und Rassenmischung, pois sobilnges e dominam bem ambas as lnguas em uso nanossa Colnia.

    Wilhelm Schmitt comeou a ficar inquieto erepentinamente levantou-se, falando com muita nfase: -

    Pastor Voges, no sou um homem de muitos rodeios.Quando discordo de alguma coisa eu digo isso logo.Concordo com a Miscigenao Cultural que vital para onosso desenvolvimento social e poltico. Porm ficorevoltado no mais profundo do meu ntimo com a suapostura to pacfica diante de uma questo to delicadacomo o para ns o zelo pela pureza da nossa raagermnica. Afirmo com veemncia que precisamos zelar

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    pela nossa lngua e raa, para no perdermos os nossoscostumes e a nossa f evanglica....

    Fez-se um grande silncio e os olhos dos presentesvoltaram-se para o pastor. Como haveria ele de sair dessaenrascada diante de uma colocao to forte e incisiva deWilhelm Schmitt?

    Entretanto Schmitt continuando em p, falou: -Alm do mais quero aproveitar para abordar outrapreocupao uma vez que o Major Adolfo Felipe Voges, lderpoltico e chefe do Partido Liberal da Colnia est em nosso

    meio. Ele que me desculpe pelas palavras que agora precisodizer, pois sei que no posso e no devo me calar. Quandoaqui falamos a respeito da miscigenao cultural e tnicapor que no nos esforamos para tambm proporcionar aonosso povo de origem alem a opo de integrar o PartidoRepublicano Riograndense? Este Partido est sendoorganizado com muita coerncia e ainda ser o condutor detoda a nossa vida poltica riograndense... Mas o que vejo?Parece-me que todos os moradores esto se filiando aoPartido Liberal s por que o filho do pastor o seu chefelocal?.

    Ouviu-se um burburinho de vozes, tomando conta dorecinto todo. Pessoas falavam uns com os outros em vozbaixa, em forma de comentrio sobre o assunto levantado.Novamente todos os olhos se voltaram ao pastor Voges,esperando por suas palavras sempre oportunas e

    conciliadoras.Voges levantou-se com muita tranqilidade e passou

    a falar: - Senhores, no falo em nome do meu filho masapenas em meu nome. Eu sei que o meu filho usar dapalavra mais adiante e haver de responder ao senhorSchmitt. Neste primeiro momento quero dizer que o PRR jexiste em nossa Colnia e tem um lder que est radicado

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    na direo do Pntano do Espinho no rumo das terras deareia. Trata-se de uma pessoa por demais conhecida, masque no aceita sentar conosco para um dilogo,

    simplesmente por que no se conforma com a nossapresena neste vale. verdade e digo que o senhor Schmittnos alerta para um fato importante. Precisamosacompanhar com ateno o andar da carruagem do nossocenrio poltico riograndense. Precisamos estar atentos paracom tudo o que acontece na Capital da nossa Provncia e nasede da nossa Comarca de Conceio do Arroio. Nodescarto a importncia de no futuro alguns dos nossos filhosou netos estarem tambm presentes na liderana do Partido

    Republicano Riograndense, o que por ora no possvel,pelo simples fato que o atual lder desse partido no temdemonstrado interesse em ver descendentes de alemes sefiliando ao mesmo. Alerto tambm que o senhor WilhelmSchmitt no estava ainda conosco, aqui no Brasil, quandorompeu a Revoluo dos Farrapos. Em meio ao choque deidias e depois tambm no choque de foras blicas, nsnos vimos na necessidade de assumir uma posio deneutralidade. Na poca sugerimos aos moradores que,aqueles que desejassem, se apresentar como soldados,fossem para este ou para aquele lado. Tivemos imigrantes ecolonizadores de Trs Forquilhas tanto nas foras caramurusbem como nas foras farroupilhas. Na qualidade depregador da nossa Parquia Evanglica de So Pedro deAlcntara de Trs Forquilhas, independente das minhasconvices pessoais e ntimas, assumi um papel deconciliador. Deixamos claro que somos homens livres... E

    isto continua vlido, tambm hoje. O senhor Schmitt caso oqueira fazer tem a total liberdade, de procurar o TenenteCoronel Souza Neto, chefe do PRR, e se filiar quele partido,se assim o quiser e tenho certeza que todos havero derespeitar sua deciso. Apenas serei firme e enrgico, comosempre fui, para que uma pregao poltico-partidria novenha a nos dividir em focos de inimizade ou que seestabeleam confrontos destemperados. Sugiro que cada

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    qual mea as suas palavras ao tratar da questo poltico-partidria. sabido que, onde reina o respeito mtuo oentendimento ser a conseqncia natural.

    Um profundo silncio caiu sobre o recinto. Somenteagora Wilhelm Schmitt sentou-se, passando a estabelecerum dilogo com o professor Tietboehl, sentado ao seu lado.O professor, tambm vinha revelando, ultimamente,interesse pela ideologia pregada pelo PRR.

    Levantou-se ento o Major Voges que disse: - Omeu pai falou com muita sabedoria, como sempre o faz e

    nada tenho a acrescentar ao que ele disse. Ele tem razoquando admoesta para mantermos o respeito mtuo. Porisso declaro que no de meu interesse levantar umadiscusso poltico-partidria neste recinto, pois este no oassunto de debate para o qual fomos convidados. No menego a comparecer a uma reunio para estabelecermos umdebate sobre a questo poltica brasileira, ou melhordizendo, da poltica mais prxima que ocorre em nossaProvncia de So Pedro do Rio Grande do Sul. Aproveitopara expressar aqui a minha considerao e respeito pelosenhor Schmitt, at em memria do nosso grande esaudoso lder Comandante Schmitt, sempre sbio e firmeem suas palavras. Expresso aqui o meu respeito por todosque tenham assumido uma posio poltico-partidriacontrria minha como deve ser o caso do senhor Schmitte, talvez o caso de outros lderes locais. Tenho a firmeconvico que o pluripartidarismo saudvel at para

    jamais pensarmos em estabelecer qualquer tipo de poderditatorial....

    Para a surpresa de todos, Major Voges saiu de seulugar e dirigiu-se at a cadeira de Wilhelm Schmitt e lheestendeu a mo. Schmitt jamais esperou por tal atitude edenotando surpresa e constrangimento, levantou-se eapertou a mo do major, dizendo: - Tambm lhe devo

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    considerao... Por isto, no coloque sobre a balana o meumodo rude de falar, ao expressar meu pensamento e dasidias que me vo no ntimo....

    Schmitt abraou o Major Voges. O pastor aproveitouo momento para anunciar uma pausa, comunicando que umbom caf com cuca estava servido, pela gentileza de donaElisabetha e de Me Maria.

    Grandes mesas estavam postas vendo-se bules ecafeteiras para servir caf com leite, viam-se cucas, po del, po, manteiga, schmier de frutas para um lauto caf da

    tarde.

    A germanidade corre risco na Colnia?

    Quando pastor Voges reiniciou o encontro, sugeriuque se levasse em considerao a preocupao levantadapelo senhor Wilhelm Schmitt com respeito preservao daraa e lngua germnicas, na Colnia de Trs Forquilhas. Elesugeriu: - Antes de debatermos a idia colocada porWilhelm Schmitt desejo apresentar subsdios que elaboreisobre a realidade da miscigenao racial, em particular combase no meu registro de casamentos, realizados nestaigreja. Acredito que estas informaes so necessrias paraque evitemos palavras precipitadas, que sejam capazes deferir pessoas que no so da etnia germnica e hoje

    pertencem nossa comunidade de f. So pessoas queaceitamos e as consideramos bem vindas em nosso meio.So pessoas acolhidas com carinho e que tem comunhoconosco na f e pelos sacramentos.

    Wilhelm Schmitt levantou-se e comentou: -Agradeo ao pastor pela ateno s minhas palavras, poisque a minha preocupao legtima quanto germanidade

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    (Deutschtum) que se encontra em risco na Colnia de TrsForquilhas. Pelos experimentos do grande cientista GregorMaendel, sabemos que um grupamento racial no manter

    a sua origem gentica quando o mesmo se abre para amiscigenao..

    FIGURA 01:Colonos e liderana comunitria discutindo,acaloradamente, a questo da germanidade.Fonte: Gravura do autor, 2011.

    O professor Tietboehl interveio, dizendo: - Acreditoque o pastor Voges foi muito claro quando sugeriu quedeveramos primeiro dar a ele a oportunidade de apresentarum quadro estatstico dos casamentos mistos (inter-raciais)por ele realizados em nossa igreja. Todos sabem que em

    nosso meio temos pessoas de origem indgena, africana,aoriana e luso-brasileira.

    Diversas vozes foram ouvidas em burburinho e,finalmente o professor Nascimento se levantou, dizendo: -

    Tambm sou professor, igual ao que me antecedeu e creioque posso servir de exemplo para todos. Sou luso-brasileiroe quando para c vim demonstrei a maior considerao pelo

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    povo de origem germnica e por seus costumes. Prova disto que venho me esforando para aprender a lngua alem,com aulas ministradas pelo prprio pastor. Os anos esto

    passando e at agora no consegui falar corretamente essalngua complicada, talvez por simples dificuldade pessoalpara a aprendizagem de outras lnguas. Considero comosendo muito natural que uma pessoa de origem germnicaprefira utilizar a sua lngua materna por lhe ser conhecida,assim como eu, prefiro o portugus. Concordo com o senhorSchmitt que essa tal de germanidade da qual fala realmenteest em risco, pois representam uma minoria rodeada porum povo que apenas fala a lngua nacional. Penso que a

    germanidade est em risco, mas no por causa da Escolado Pastor Voges e no por causa de alguns cultosbilnges que ele realiza em datas especiais. E, no apenas o alemo que est com a sua lngua em risco. Omesmo ocorre para as demais minorias como os ndios e osafricanos. Entre os negros conheo apenas Me Maria queainda domina a lngua yorub e dentre os ndios conheo amulher do Paraguaio Gross, uma ndia guarani do Paraguaique ainda domina a sua lngua.

    Professor Nascimento foi interrompido por vivas eaplausos, pois no compreenderam que a questo dagermanidade (Deutschtum) que Wilhelm Schmitt levantaraestava muito mais centrada na questo da preservao daraa ariana, do que cultural e lingstica. Por desconhecer overdadeiro sentido do termo germanidade (Deutschtum) oprofessor Nascimento tinha colaborado para mudar o rumo

    da discusso.Wilhelm Schmitt permaneceu em silncio, pensativo,

    algo que era incomum no caso dele, diante de questes queele defendia.

    Pastor Voges retomou a conduo do debate,apresentando um quadro estatstico, nominal, de pessoas

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    que ingressaram na Comunidade atravs de casamentointertnico, informando quais as famlias que bem cedoaceitaram a miscigenao racial citando Menger, Gross,

    Witt, Becker, Feck, Klippel e Eberhardt.No entanto o pastor no manteve o debate sobre a

    questo da miscigenao racial. Passou a comentarassuntos muito mais pertinentes miscigenao cultural,quando disse: - Sabemos que uma poltica deabrasileiramento est em andamento, por decisogovernamental e isso tem muito a ver conosco. Precisamosnos situar dentro desta realidade, para que ns mesmos

    venhamos a conduzir as nossas aes, seno seremosmanobrados por autoridades que tentaro se intrometer emnossa vida comunitria. Fui o primeiro imigrante de TrsForquilhas que buscou carta de naturalizao. J em 1854iniciei com o processo que teve xito e no me arrependode ter assim procedido, pois portas se abriram para mim.Graas a essa deciso me foi dado ocupar o cargo deadministrador, concomitantemente, das Colnias de TrsForquilhas e de So Pedro das Torres. Por diversos anosocupei este cargo, recebendo inclusive remunerao poreste servio prestado. Porm agora a minha preocupaono mais comigo, mas sim com os nossos filhos e netos,brasileiros legtimos. Devemos nos perguntar como elestero uma adequada insero na realidade social e polticada nossa Colnia1, da Comarca e da Provncia. O nossosonho deve ser o de ver os nossos filhos e netos no apenascomo eleitores, mas que, em nvel de igualdade participem

    em pleitos como candidatos para cargos eletivos da esferapoltica, para cargos pblicos na Colnia e na Comarca....

    O pastor fez uma pausa e depois continuou: - Fazalguns anos ingressei como scio correspondente doInstituto Geogrfico do Brasil. Poder algum querer sabero que um pregador da palavra de Deus tem a ver com talatividade? Na verdade no o pregador, mas sim o cidado

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    que reside na pessoa do pastor que o faz participar deassuntos que tem a ver com a vida do povo. Na qualidadede professor lecionei em diversas oportunidades j em So

    Leopoldo, quando da vinda ao Brasil e em outras ocasiesaqui em Trs Forquilhas. Certo dia manuseando material deensino que me enviavam deparei com um mapa da nossaProvncia. E qual no foi a minha surpresa quando verifiqueique os desenhistas haviam colocado o rio Trs Forquilhas demaneira errada, como que desaguando diretamente noOceano Atlntico. Aproveitei a minha ligao com o InstitutoGeogrfico alertando a respeito do erro no mapa. Elesprontamente acataram a minha informao e entraram em

    contato com o livreiro, para que fosse feita a correodevida. Tenho recebido algumas publicaes do Institutoque esto disposio em minha biblioteca, caso algumprofessor tenha interesse de fazer consultas. Em minhabiblioteca, para informao, tenho literatura alem e emportugus....

    O pastor foi interrompido por vivas e aplausos. Eleconseguira desviar, por completo, o rumo da discusso,contornando a questo da preservao da raa alem(germanidade) que Schmitt desejara colocar em foco. ParaVoges interessava antes de mais nada a questo daintegrao tnica e cultural das famlias, na vida dacomunidade, at por causa de casamentos, unies e simplesajuntamentos inter-raciais que se avolumaram nos ltimostempos.

    Um corrido nos irmos Farofa

    A reunio de lideranas da Comunidade de TrsForquilhas findou e, aos poucos, fez-se silncio no templo.Pastor e filho permaneceram sentados em torno da mesa,avaliando o encontro.

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    Dona Elisabetha acompanhada por Me Maria decidiucolocar um pouco de ordem no local. Ela mostrou

    curiosidade e aproximando-se do marido, quis saber: -Carlos, por que o Wilhelm Schmitt, ao sair daqui, me falouque as palavras rudes que ele utilizara, no viessem trazerestorvo para a amizade que ele nos devota.

    O pastor e seu filho Adolfo Felipe se entreolharam,mostrando grande interesse pelas palavras de DonaElisabetha. De modo resumido deram detalhes sobre areunio e destacaram que duas coisas deviam estar

    preocupando o Schmitt: - Em primeiro lugar, devia ser aquesto da germanidade (Deutschtum) no zelo pelamanuteno da pureza racial dos imigrantes alemes. Emsegundo lugar, poderia ser a questo poltica, no desejo dosenhor Schmitt, de ver a formao do PRR na sede daColnia..

    Formou-se um animado dilogo e Dona Elisabethaperguntou: -Falando em zelo para manter a pureza alem,sabiam do corrido que o Wilhelm deu nos irmos Farofa,que estavam interessados pelas filhas dele?.

    O espanto ficou desenhado no rosto dos dois homense o pastor retrucou: -Nada disso chegou aos meus ouvidose estou curioso agora....

    Dona Elisabetha passou a relatar o acontecido,

    dizendo: - Faz algumas semanas que os Kellermannorganizaram uma domingueira pelo aniversrio de um dosfilhos. Era uma festinha s para os jovens da vizinhana eas filhas Bininha e Lisbetcha, do Schmitt, tambm foram,em companhia da me delas. At agora no descobri comoforam aparecer l os irmos Farofa, de Trs Pinheiros, paraparticiparem da domingueira. Talvez eles sejam amigos deum dos filhos do Kellermann. Eles enturmaram-se logo e

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    passaram a danar com as moas presentes. Danaramtambm com as filhas do Schmitt. Foram talvez duasmarcas... As moas agradaram-se desses dois, e no podia

    ser diferente, pois que so considerados os melhoresdanarinos de toda a nossa regio....

    O pastor e o filho se entreolharam e Me Maria noconteve o riso, vendo o espanto dos dois homens.

    Dona Elisabetha continuou: - O que deve teracontecido, enquanto Bininha e Lisbetcha danavam com osFarofa que uma delas, na ingenuidade, convidou os dois

    para lhes fazerem uma visitinha, no sbado seguinte. Elasestavam encantadas com os trajes gauchescos dos rapazes,das lindas bombachas e botas bem torneadas, alm doleno branco no pescoo. Os dois bem falantes que sabemelogiar e entreter uma moa....

    O pastor e seu filho outra vez se entreolharam emais uma vez Me Maria no conseguiu esconder o quantoela se divertia com a atitude de espanto dos dois.

    Dona Elisabetha continuou: - Ns bem sabemoscomo as filhas do Schmitt tambm sabem se vestir bem,so cultas e dominam bem a lngua nacional, pois quefreqentaram as aulas do professor Nascimento. Pelo jeitoos irmos Igncio Farofa ficaram encantados com adesenvoltura das duas alemzinhas, loiras e bembranquinhas, fato que deve ter despertado a ateno dos

    dois. Eles no sabiam ainda da fama de Schmitt, que talvez o homem mais enrgico da Colnia, exageradamenteexigente quanto a um possvel casamento das filhas.Chegando o sbado tarde, l vieram os dois irmos rumo sede da Colnia para visitarem as moas. Enquanto isso,as duas se enfeitavam, colocando seus lindos vestidos deseda e ajeitando os cabelos..

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    O pai, que se preparava para sair a cavalo para umrpido giro pelas lavouras onde alguns pees colhiam milho,vendo o movimento e desconfiado de alguma coisa, alertou

    as filhas: Bininha e Lisbetcha, cuidem de no dar sala paragente que no tenha sido por mim recomendada.

    Os rapazes, que chegaram descontrados e alegres,deixaram os cavalos bem presos e foram fazer a visitaprometida. Possua cada qual um belo cavalo, bemencilhado, com enfeites de prata nas rdeas e na sela.Entraram naquela sala de visitas finamente ornamentadacom lindas cortinas e diversos quadros na parede. Devem

    ter se admirado com o grande relgio de parede que,ruidosamente, marcava as horas. Sentaram-se tranqilos,mantendo uma animada conversa com as possveisnamoradas.

    De repente, os quatro jovens, reunidos na sala,fizeram silncio. Ouviam-se as passadas fortes do dono dacasa. Com botas de montar e rebenque na mo, ele invadiuo recinto. Dirigiu-se severamente s filhas, falando emlngua alem, dizendo: Lisbetcha und Bincha, was habe IchEuch beide empfohlen? (O que foi que eu recomendei avocs duas?).

    Ele bateu ento ruidosamente o rebenque contra asbotas. Os dois irmos no entenderam a conversa do velho.Entretanto, o recado escrito na fisionomia de Wilhelm erabem claro e, por isso, saram porta a fora, de um salto e

    quase se derrubaram mutuamente ao descer as escadas.O primeiro a chegar at os cavalos foi mais atento e

    lembrou-se de desamarrar a montaria, para sair em galopedisparado. J o outro, estava muito nervoso, subiu direto nocavalo, tocou-lhe as esporas e foi parar no cho. O jovemteve que acalmar o animal e solt-lo do palanque, paraento largar-se estrada afora.

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    FIGURA 02 Um dos jovens Farofa foi parar no cho.Fonte: Gravura do autor, 2010.

    Dona Elisabetha terminou o relato e com satisfaoolhava para marido e filho, ambos dominados pelo espanto.

    O pastor levantou-se lentamente e em tom pensativodeclarou: - Interessante esta histria que esclarece umpouco sobre a cabea quente de nosso amigo Wilhelm. Masainda sou de opinio que quando ele se referiu s palavrasrudes proferidas aqui em nossa reunio, ele estavapensando na questo da atividade poltico partidria emnossa Colnia....

    Major Voges tambm se levantando, disse: -Sou damesma opinio, pois ele foi muito agressivo ao se referir minha atividade de liderana na conduo do Partido Liberalna Colnia.

    O pastor recolheu os papis espalhados sobre amesa, colocando-os numa pasta e seguiu casa pastoral

    juntamente com Elisabetha e Me Maria, pois que j

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    passava da hora da janta e de um justo descanso. O filhoAdolfo Felipe morava do outro lado da rua, diante dotemplo. Era vivo, pois a sua esposa Wilhelmine Wetter

    falecera. A sua casa porm estava bem cuidada, uma vezque me Maria lhe cedera uma filha, a Nega Amlia, servialmuito eficiente que com agilidade dava conta de todas astarefas e lida domstica.

    Chegando em casa, Major Voges tambm encontrouo jantar pronto, apenas esperando sua chegada.

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    O NOVO CASAMENTO DE MAJOR VOGES

    A primeira esposa de Adolfo Felipe Voges, aWilhelmine Wetter falecera em outubro de 1879, aosquarenta e oito anos de idade. Ela passara por longo tempode sofrimento. No havia mdico com formao regular, naregio. Na Colnia de Trs Forquilhas s clinicavamcurandeiros e xaropeiros, como era o caso do professorSerafim Agostinho do Nascimento e do professor AugustSonntag (o Augusto Xaropeiro).

    Major Voges chegou a buscar o velho CornlioJacobs, estabelecido com sua Clnica de Cura prximo aoSangradouro de Cornlios, junto da Lagoa dos Quadros. Maseste igualmente nada conseguiu detectar e passou aministrar analgsicos para minorar as dores da enferma.

    Wilhelmine faleceu em 1879 e, quase trs anosdepois o vivo Major Voges procurou os seus pais para umaconversa mais ntima e disse: -Faz vinte e cinco anos quecasei com a Wilhelmine. Ela era uma rf, pois o pai deWilhelmine havia sido morto pelos Farrapos. Mas a me delafoi mulher de muita coragem e reconstruiu a vida e criou asfilhas com muita dedicao. Em Wilhelmine encontrei umamulher de muito valor e era virtuosa, semelhante ao quelemos, descrito nos Provrbios. Um profundo amor nosuniu. Devo a vocs que me foi permitido desposar aWilhelmine. Tive uma esposa que me acompanhou com

    muita dedicao, cuidando do lar e at me ajudando atrsdo balco, da casa comercial que vocs me confiaram. Eu eWilhelmine conseguimos constituir uma famlia grande ebem unida. Esto a nossos filhos Carl Leopold, nascido em01.07.1858; a Luiza Henrietha de 25.06.1860; o CarlFriedrich de 04.02.1863; a Antonietta de 09.01.1864; oFriedrich de 07.03.1865 e a Matilda de 19.03.1868. O meuprimognito foi estudar em Taquari e agora no mais quer

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    retornar pois meu irmo que l est estabelecido o convidoupara ficar. A Henrietta a nica que casou at agora. Unidacom o Joo Pedro Jacoby Neto, ela se dedica com muito

    empenho ao comrcio deles. Tenho porm filhos e filhas queainda esto por casar....

    Pastor Voges concordou: - verdade... Vocsconstruram uma linda famlia que vo continuar eperpetuar a nossa presena e o nosso trabalho naColnia....

    O filho continuou: - O que me traz aqui para esta

    conversa para dizer que no gostaria de continuaramargando esta viuvez. to ruim ter que viver s, depoisde ter experimentado o que uma boa vida conjugal..

    Dona Elisabetha e o pastor escutavam a conversa dofilho com muita ateno. Sabiam que algum motivo muitoespecial devia t-lo trazido para essa conversa mais ntima.A suposio estava correta pois Adolfo Felipe enfatizou: -

    Quero comunicar-lhes que encontrei um novo amor..

    Um breve silncio se estabeleceu e que foiinterrompido por Dona Elisabetha: - Filho, nem podesimaginar o quanto esta notcia nos alegra. Estamos curiosospara saber o nome desta mulher e at ver se j aconhecemos... Certamente ela pertence a alguma dasfamlias aqui da nossa Colnia?.

    Adolfo Felipe sorriu e explicou: - Creio que vocsat a conhecem bem melhor do que eu. Ela tambm estviva... Somente agora descobri que os caminhos de duaspessoas podem dar muitas voltas e no final aindareceberem a surpresa de um encontro, para serem unidospelo amor..

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    O pastor sorriu e em tom de humor exclamou: -Filho, porque nos torturas com tanto suspense. Diga logo onome desta mulher!.

    Adolfo Felipe sorriu tambm e explicou: - Trata-sede uma moa que um dia eu no quis, quando os pais delaa propuseram a vocs, para o casamento comigo. Elaentrou em meu caminho, agora... Nestes dias, durante aFesta do Kerb, os nossos olhos se encontraram. Ficamoshoras a conversar em torno de uma mesa, durante ogostoso churrasco que estava sendo servido. Lembramos danossa infncia e da nossa mocidade, dos tempos difceis e

    das horas de alegria, que marcaram as nossas vidas e avida de toda a nossa Colnia. Ela contou como elaconhecera o Carl Jacoby e se fixaram ali no Stio daFigueira, dedicados ao progresso da Colnia. Vocs sabemmelhor que eu, o Carl Jacoby foi uma verdadeira autoridadecomo competente Juiz da Paz e conselheiro do povo. Maseles no tiveram filhos... Ela pediu que o cunhado WilhelmSchmitt cedesse para ela, a Bininha, para viver com eles noStio da Figueira. A Bininha, na verdade, se criou como sefosse uma filha dela e no de Wilhelm e Brbara..

    Elisabetha murmurou alguma coisa que Adolfo noentendeu. Devia ser um comentrio ou alguma lembranasobre a Bina Rosina e a Bininha, como ficaram conhecidas aPhilipina e a Felisbina, tia e sobrinha.

    Adolfo Felipe continuou: - Em nossa conversa em

    torno da mesa ficamos lastimando a nossa viuvez. Em certomomento, ela e eu, dissemos juntos, a uma s voz: Asolido maltrata... Rimos muito e pensei logo que quandoum homem e uma mulher comeam a dizer as mesmaspalavras, ao mesmo tempo, ento alguma energia estquerendo uni-los. Os nossos olhos se encontraram e euconsegui ler que nos olhos de Philipina estavam desenhadosa admirao e o amor pela minha pessoa. Senti at um

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    calafrio na espinha... Entendi que ela era uma mulher muitoespecial que me entendia sem que eu tivesse que falaralguma coisa. Depois at permanecemos conversando sobre

    banalidades e at sobre a poltica da Colnia. Constatei queela comunga os mesmos ideais que eu professo. Ela seenquadra muito bem dentro dos planos do Partido Liberal.Pensei ento o quanto lastimvel que as mulheres notm permisso de participar em nossa atividade poltica.Constato que a Philipina teria muita fora e grandeinfluncia com a populao da Colnia. Descobri que elatem a coragem de enfrentar o prprio cunhado dela, oWilhem Schmitt, nos arroubos inflamados de que ele

    acometido s vezes. Philippina me contou, como elaenfrentou o Wilhelm e exigiu que ele parasse com atitudesdescabidas de descortesia contra uma pessoa que strabalha e luta pelo progresso da Colnia de TrsForquilhas. E, parece que o Wilhelm passou a atend-la,deixando de intolerncias contra a minha pessoa... Vejo quea Philipina no ficou apenas com a fisionomia da me dela.Ela tambm herdou esse gostoso esprito jocoso, fazendohumor com todas as coisas e tendo assim este dom mgicode acabar de vez com discusses bobas e animosidadessem sentido que amua tantas pessoas....

    O pastor e Dona Elisabetha abraaram o filho dedisseram juntos: - Aceitamos a tua escolha com alegria epedimos que Deus os abenoe.

    A festa de casamento no Stio da Figueira

    No demorou muito veio a notcia para toda aColnia. Haveria uma grande festa para a unio dos vivosAdolfo Voges e Philipina Schmitt (a Bina Rosina).

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    A beno ocorreu no templo, mostrando um pastorfeliz e orgulhoso, em poder abenoar, mais uma vez, esteseu filho.

    A festa foi realizada no Stio da Figueira, residnciada noiva Bina Rosina, um local onde, nos primrdios daColnia residira o competente mdico Dr. Elias Zinckgraf.

    Sob os acordes da Banda de Msica a festa foienvolvente. A cerveja engarrafada corria vontade, acomida era servida para atender os mais diferentes gostos,desde o churrasco de gado, bem como o Eisbein (pernil de

    porco) e outras gostosuras da cozinha alem e gacha.

    Em certo momento, depois do caf da tarde,sentados sombra da figueira, Philippina tomou a palavrae, no tom jocoso herdado da me Justin, falou ao marido,porm para todos ouvirem: -Adolfo Felipe, voc conseguiutrazer de volta a importncia que este lugar sempre teve navida de nossa Colnia, desde o Dr. Elias. Daqui o meumarido poder agora chefiar o Partido Liberal, para reuniros correligionrios sombra desta figueira, para inspir-lospara bons projetos e importantes planos para odesenvolvimento da Colnia de Trs Forquilhas..

    FIGURA 03:Adolfo Felipe Voges e Bina Rosina Schmitt.Fonte: Arquivo da Famlia Voges.

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    Este, at podia ser um sonho secreto de Bina Rosina,que ela estivesse expressando em alta voz. Porm MajorVoges desde o princpio fora sempre claro e firme em sua

    deciso de permanecer em sua morada, diante do templo,um lugar privilegiado na agora sede da Colnia. AdolfoFelipe tomou a mo da esposa com carinho e sorrindo,falou: -Quem sabe um de meus filhos quando casar venhaa atender este seu propsito, pois amanh certamentealgum ter que assumir o meu lugar na conduo dosinteresses da Colnia. Acredito que o seu sonho aindapoder vir a ser concretizado, mas por aquele que quiserme suceder....

    Wilhelm Schmitt que no perdia nada do que eraconversado, muito atento, aproveitou a primeiraoportunidade para tambm fazer uso da palavra. Com umlargo sorriso no rosto, colocou-se diante do casal e, em tomsolene, mas com um fundo de humor, disse: - Caracunhada Bina Rosina, eu acredito que as suas palavrasforam certas, em quase tudo, menos em um ponto. Daminha parte, acredito que aqui seria um timo lugar paraestabelecermos o comando do nosso Partido RepublicanoRiograndense....

    O mestre da Banda professor Christian Tietbhllevantou-se e fazendo coro com Wilhelm Schmitt e maisainda para mexer com o noivo, disse: - Amigo AdolfoFelipe, eu devo confessar que o nosso amigo Wilhelm tevemais uma vez uma daquelas idias geniais... Todos o

    admiramos como pessoa estudiosa e muito culta que sabemuito bem do que fala, quando abre a boca para sepronunciar....

    Wilhelm Schmitt interrompeu o professor, no odeixando concluir a gozao sobre Major Voges e, com umolhar srio, declarou: -Se a minha cunhada e o Major noforem muito exagerados no preo, quero comprar esta

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    propriedade, no para fazer um centro poltico, mas umlugar de trabalho para o meu filho Christovam. Todosdevem j estar sabendo que ele veio de retorno para a

    Colnia e chegou com a certeza que ser nomeado EscrivoDistrital2da nossa localidade....

    Agora se formou um momento de silncio, pois abrincadeira de Bina Rosina tomara um rumo inesperado einteressante. Pastor Voges e Dona Elisabetha tambmestavam ali, escutando a conversa animada. O casal estavasentado junto ao tronco da rvore, protegidos do vento quecomeara a soprar com intensidade, dando sinais que o

    tempo comeava a mudar e a chuva poderia vir em seguida.O pastor levantou-se e a sua figura to conhecida tomouconta da ateno de todos. Mesmo j octogenrio falou comvoz firme e audvel: - Amigos, diante do rumo que abrincadeira de humor tomou, parece que um bommomento para falarmos com seriedade sobre um assuntoto importante para a nossa Colnia. A vinda do Christovamvai marcar histria na nossa localidade. Mas seria penadeixar esse valoroso jovem aqui neste ponto longe da nossaatual sede, que fica no Ncleo da Igreja. Eu quero oferecerao Christovam as salas onde h dezenas de anos atrsfuncionava o meu comrcio. J faz muitos anos que tudo foitransferido para a casa do meu filho Adolfo Felipe. Acreditoque as minhas salas so mais indicadas para servirem deCartrio. Uma vez que o local ao lado da nossa igreja,podemos aproximar o templo com o Cartrio, o que sermelhor para todo o povo, para noivos, para pais de crianas

    que nascem ou para quem precisa registrar um bito....O pastor volveu o olhar para o jovem Christovam

    Schmitt discretamente sentado num canto de uma dasmesas, continuou: - Prometo ao Christovam de cobrarapenas uma pequena taxa para o uso daquelas salas, poispara mim e para Elisabetha, melhor ser que os aposentos

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    sejam utilizados, do que t-los assim fechados, acumulandopoeira....

    A surpresa ficou desenhada no semblante de WilhelmSchmitt, diante de uma oferta to surpreendente, vinda dopastor. Mas quem fez uso da palavra foi o seu filhoChristovam Schmitt, que respondeu ao pastor: - A minhafelicidade muito grande ao poder contar com tantagenerosidade. Sou ainda um homem solteiro e aqueleespao ser para mim muito mais do que fui capaz deimaginar, pois ali poderei morar e trabalhar. Sou de opinioque o nosso querido pastor Voges pensa e enxerga bem

    mais longe do que todos ns juntos. O que ele acabou depropor com certeza o melhor ponto para o nosso Cartrio.Agradeo de todo o corao pela bondade do pastor e deDona Elisabetha e aceito a oferta de bom grado....

    Puderam ser ouvidos vivas e, a festa continuou aindamais animada. O mestre da banda ficou contagiado pelocalor da alegria e conduziu seus msicos a executar umavalsa e na seqncia outras msicas populares alems.

    Os felizes noivos levantaram e deram alguns passosde dana, diante da casa, sobre a calada de laje dearenito.

    Foi o sinal esperado pelos jovens que animadosbuscaram as moas em diferentes pontos para convid-las adanar.

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    FESTA DA SOCIEDADE DOS CAVALEIROS DOVALE

    O domingo amanhecera limpo e claro. Bem cedo,famlias inteiras em carretas de boi, a p ou no lombo deum cavalo vieram Igreja onde pastor Voges e esposa osaguardavam. Quem chamava a ateno de todos eram oscavaleiros com seus trajes especiais apenas usados nos diasde torneio e competio da Sociedade dos Cavaleiros doVale, conhecida como Ritterverein.

    O culto neste dia, como sempre acontecia em dias decompetio, foi breve, com apenas dois cnticos e umamensagem do pastor. Certamente no devia ser chamadode culto dominical, mas de momento de reflexo. O pontoalto foi a beno que o pastor proferiu, voltada emparticular aos competidores.

    Os cavaleiros foram os primeiros a sair. Dirigiram-sedireto ao local onde haviam guardado as lanas. Montaramcom elegncia e em seguida enfileiraram-se, em duascolunas, diante do Major Adolfo Felipe Voges, o patrono daSociedade. Ele os saudou em alta voz, dizendo: - Que avitria seja da lealdade de todos, nesta competio doscavaleiros do vale.

    E todos responderam em unssono: - vitria dalealdade, vivaaaa!- E agitaram as lanas vigorosamente.

    O traje dos cavaleiros era vistoso, camisa branca ecolete verde, cala escura, botas e esporas e um chapuvistoso. Cada qual procurava apresentar a sua melhorvestimenta e o melhor cavalo, bem encilhado eornamentado.

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    Major Voges tomou a frente da coluna. Atrs deleapresentou-se o porta-bandeira, conduzindo a bandeira daColnia. Logo mais vinham alguns integrantes da Banda de

    Msica regidos pelo Mestre Cristiano Tietbhl com acordesde uma marcha da cavalaria. Em seguida se apresentarampara a marcha todos os cavaleiros com as lanaslevantadas, ornadas com bandeirolas que esvoaavam aovento. A coluna da direita usava bandeirola azul e daesquerda bandeirola vermelha. E, finalmente, vinham ascarroas lotadas de mulheres, crianas e velhos e outroscaminhando a p. A distncia a ser percorrida era pequena,apenas uns 500 metros at a potreiro de Cristiano

    Eberhardt, que ali passara a residir nas antigas terras dopai, Miguel Barata, o veterano das duas guerras, daCisplatina e dos Farrapos.

    FIGURA 04: Foto do Major Adolfo Felipe Voges,Patrono do Ritterverein, da Colnia de Trs Forquilhas.

    Fonte: Arquivo fotogrfico da Famlia Voges Doris Voges Bobsin.

    Cristiano Barata e seus familiares e mais algunsvizinhos haviam feito preparativos para receberem oscavaleiros. Refeies podiam ser adquiridas servidas noengenho e nos galpes que distavam a poucos metros do

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    local da competio. Entretanto, a maioria dos cavaleirospreferia que esposa e outros familiares trouxessem acomida, por simples questo de economia.

    Lembrando a histria do Ritterverein

    Fora em 1855 que o Major Adolfo Felipe Vogesconstatara a destreza de diversos militares prussianos nolombo de um cavalo. Tomou ento a iniciativa de propor afundao de um Ritterverein (Sociedade de Cavaleiros). O

    professor Cristiano Tietboehl que j criara uma Banda deMsica foi o primeiro a aderir e assinou a lista de cavaleiros,sendo seguido de Jacob Steinmetz, Peter Erling, CarlosRickroth, Wilhelm Schmitt, Mathias Grassmann, AugustoRodolfo, Luis Gaspar, Frederico Dicksen e MaximilianoKrausen. Alguns filhos de imigrantes alemes do ncleo daigreja tambm se apresentaram desejosos de ver eaprender as atividades hpicas, os torneios e ascompeties. Porm o que mais os atraa era o grande Bailedo Rei, que passara a ser realizado anualmente, para acoroao dos vencedores dos torneios.

    O primeiro ano de atividades da sociedade fora gastoquase todo em ensaios e demonstraes para o treinamentodos cavaleiros. Os integrantes foram preparados para aprincipal competio denominada de Corrida da Argola.

    Uma trave em formato da letra L ao contrrio, maisparecendo uma forca, fora levantada num ponto especial,com uma argola presa na pequena trave superior, com fitavermelha e azul.

    Essa atividade hpica era tradicional, herdada domeio militar, ou seja, da arma cavalaria europia, tanto da

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    Prssia, bem como da Alemanha, de Portugal, da Frana, daustria e da Itlia.

    Outra atividade trazida da tradio dos cavaleiros daAlemanha era o Leno sobre o Solo que tambm exigiagrande destreza no lombo de um cavalo. O leno tinha queser colhido galope, com um giro sobre a sela, com umbrao esticado para o cho, em busca do leno.

    FIGURA 05: Corrida da Argola, herdadada cavalaria europia.

    Fonte: Gravura do autor, 2011.

    Os torneios eram bem organizados. Era umaverdadeira festa de cavaleiros, que trazia famlias inteiras

    dispostas a apreciar a destreza dos homens, pois no haviaainda um espao para as mulheres, nestas disputaseqestres.

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    O desenvolvimento da Sociedade de Cavaleiros

    Aps 1870, os veteranos da Guerra do Paraguaiquase todos se integraram nas atividades dos Cavaleiros doVale. Baiano Candinho demonstrou grande interesse naCorrida da Argola, tendo intensa participao nascompeties. Mais tarde ao longo dos anos tambm outrosdescendentes de imigrantes alemes vieram integrar-se Sociedade sendo enumerados: Henrique Knig, neto dopadeiro imigrante Paul Knig, os irmos Martin e GeorgKlein, os irmos Joo e Guilherme Knewitz, Carlos Frederico

    Voges Sobrinho (filho do Major Voges) e Jacob Voges filhodo pastor, Augusto dos Santos, neto do Esteban Patrulha,os irmos Joo e Felipe Sparremberger, Jorge Strassburg,Luis Brando Feij, concunhado de Baiano Candinho por tercasado com a irm de Maria Witt, os irmos FredericoMaximiliano e Jos Jacob Tietbhl, Frederico Schtt, JooMartin Klippel e os irmos Frederik e Jacob Becker, JohannPhilipp Mittmann e Christovam Schmitt neto do pioneiro eimigrante Comandante Schmitt.

    A atividade da Sociedade dos Cavaleiros do vale foisofrendo gradativamente a influncia dos tropeirosserranos. Foi introduzido o Tiro de Lao e o Tiro deBoleadeira, para atender as expectativas dos associados epoderem competir com integrantes de piquetes, que foramsurgindo em diversos pontos da Colnia. Essa gradativamudana nas modalidades das competies dos torneios

    deve-se a questes de ordem bem prtica. Constataram quea corrida da argola havia sido muito importante no passado.A cavalaria tinha interesse em adestrar a tropa paraaprimorar a pontaria no uso de uma lana. Aqui no Brasil,finda a Guerra do Paraguai, foi rapidamente perdendoatrao. Em seu lugar apareceu o tiro de lao uma atividadeque fazia parte do trabalho rotineiro de pees e tropeiros ede criadores de gado e cavalos, que tinham a necessidade

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    de laar reses xucras ou gado fugido, durante as tropeadasou mesmo no dia-a-dia da vida no campo.

    FIGURA 06: Tiro de lao.Fonte: Gravura do autor.

    Os piquetes gachos

    Paraguaio Gross foi o primeiro a estabelecer umpiquete para competies hpicas, situado logo depois dalomba, no princpio da estradinha que levava ao ncleo doChapu. Esse Piquete de Paraguaio Gross recebeu a adesode seus irmos, da famlia Engel, dos Knewitz, dos Vieira,dos Cardoso, dos Barros e dos Nunes. A novidade neste

    piquete foi a participao de uma mulher, a ndia paraguaiaLuisa Abela Delore Gross esposa do veterano ParaguaioGross. Ela passou a competir em lugar do marido quandoeste foi se tornando invlido pelas seqelas advindas daparticipao na Guerra do Paraguai. Os competidoresdiziam: - Essa mulher xucra, que no conversa comningum!. - A verdade que ela no aprendera a falar nem

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    o portugus e nem a lngua alem. Ela se comunicava assimsomente atravs do marido, algo que todos estranhavam.

    No Baixo Josaphat prximo ao Arroio Barata, naregio do Rio do Pinto, foi criado o Piquete do Josaphat. Opiquete foi organizado pelos irmos Carlos e Pedro Triesch.Integraram-se ao grupo o Wilhelm Brusch, conhecido comoGuilherme Fatas, os irmos Joo e Jos Baiano, os primosCristiano e Joo Jacob Menger, netos de Joo Patrulha, olaguneiro Manoel Luis da Rocha, o Wilhelm PeterSchwartzhaupt, conhecido como Pedro Juarte, e seu irmoJorge Henrique Schwartzhaupt, Maurcio de Oliveira Mello,

    conhecido como Maneco Melo e seu irmo Manoel deOliveira Mello, Friedrich Marques Pereira de Souza, o RicoMarques, Joo Sabino dos Cabeleiras, os Cndido e algunsdos Witt. Nesse piquete tambm foram aceitas algumasmulheres, destacando-se a tropeira Maria Witt, mulher deBaiano Candinho, e as irms Triesch, igualmente tropeirasde longa data. Baiano Candinho abandonara a participaona tradicional Sociedade dos Cavaleiros do Vale(Ritterverein) e juntamente com a esposa passou a integraro Piquete do Josaphat, onde tambm se encontrava o seuirmo Pedro e os companheiros baianos Joo e Jos.

    Estes dois piquetes reforaram a prtica das novasmodalidades para as competies e torneios de cavaleiros.Adotaram com exclusividade o tiro de lao e o tiro comboleadeira, desprezando a corrida da argola e o leno sobreo solo que era praticado pelos integrantes do tradicional

    Ritterverein da sede da Colnia, desde a fundao destaprimeira sociedade eqestre do vale do rio Trs Forquilhas.

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    A cavalhada dos aorianos

    Depois de 1880 surgiu mais um grupo de cavaleiros,no vale, que vieram trazendo, alguns costumes aorianos,na rea conhecida como Trs Pinheiros. O descendente deaorianos Dado Bittencourt com o apoio dos filhos deaoriano Quadros, Joo Antonio Espndola conhecido como

    Joca Espndola, Porfrio Martins Espndola tambmconhecido pelos apelidos de Martin Piedade ou Bom Martin,Jos Cardoso de Aguiar, Jos Silveira, Souza Neto daFazenda do Pantno3 e os luso-brasileiros Irmos Farofa,

    estabeleceram a prtica da Cavalhada. Os ex-militaresprussianos Mathias Grassmann e Frederico Dicksen comsuas famlias, mais os rapazes do Kellermann da ColniaAlem e gente da famlia Mittmann tambm se integraramnas atividades.

    A Famlia Quadros cedeu um espao no potreiro daSesmaria dos Quadros para os ensaios, as exibies decavaleiros e a realizao de torneios. Essa Sesmaria dosQuadros vinha desde a Lagoa dos Quadros, na regiodesignada por Terras de Areia, atravessava o Arroio Bonitoe chegava at o fundo dos Trs Pinheiros, extremando como que fora a Sesmaria do Silveira Marques, prximo da reaonde, dentre outros, tambm haviam se estabelecido osirmos Farofa, dedicados criao, de cavalos, muares egado.

    O principal torneio era o da Corrida da Argolinha. Oque diferia da atividade desenvolvida pela Sociedade deCavaleiros do Vale (Ritterverein) era o formato da trave ouargoleira que consistia no de um poste mas de dois, maisaltos, com uma trave por cima. Nessa trave erampenduradas no uma ou duas mas uma dezena de argolas.Faziam tambm dois grupos, os azuis que representavam oscristos e os vermelhos que representavam os mouros.

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    FIGURA 07:A argoleira, trave com argolas dos aorianos.Fonte: Gravura feita pelo autor, 2011.

    Por influncia dos aorianos as datas festivas nalocalidade dos Campos dos Quadros4, na Sanga Funda e emTrs Pinheiros, passaram a ser a Festa do Reizado e a Festado Divino, com a realizao da tradicional cavalhada onde oBittencourt sempre era coroado Rei da Festa. Por isto ficouconhecido pelo apelido de Rei Dado e, sua esposa era a

    Rainha Dida. Essa alcunha o casal Bittencourt j trouxeraquando da vinda do Rinco dos Ilhus5, onde eles secriaram nos costumes e vivenciando as festas aorianas.

    At mesmo um trono era montado em cada diafestivo, onde o casal de soberanos sentava durante odesenrolar da Cavalhada.

    Na poca da Festa do Reizado, alm da Cavalhada,

    no podia faltar o Terno de Reis, cujos integrantespassavam de casa em casa para anunciar o nascimento doDeus Menino para pedir a beno divina para cada famliavisitada.

    Nem todos os aorianos com o mesmo sobrenometinham parentesco direto entre si, como foi o caso dos

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    Souza Neto, dos Bittencourt, dos Espndola, dos Silveira,dos Santos e dos Cunha.

    No caso dos Bittencourt, o ramo mais conhecido eat hoje representado por descendentes no vale do rio TrsForquilhas de Justino Silveira de Bittencourt6 que eracasado com Maria Jos Silveira dos Santos. Eles eram paisde Ariosvaldo Silveira de Bittencourt.

    Os filhos de Ariosvaldo Silveira de Bittencourt foramAdoniro, Terezinha, Adelma, Olga, Alcione (SoniBittencourt), Anildo e Arionildo.

    No caso dos Souza Neto, a famlia hoje maisfortemente representada no vale do rio Trs Forquilhas dadescendncia de Joo de Souza Neto, nascido em 1861 emSinimbu - Barra do Ouro, e que se casou com Maria CarolinaSteinmetz em 1892. Portanto, no eram ligados a nenhumparentesco direto com os aorianos Souza Neto, do Pntanodo Espinho.

    Joo de Souza Neto era filho de Albino de SouzaNeto e de Anna Ricarda de Jesus, imigrantes que vieram deArcos-de-Val-de-Vez, da Ilha dos Aores - Portugal.

    Em relao ao sobrenome Quadros o mais conhecidotornou-se o sesmeiro Quadros, em cuja homenagem surgiuat o nome da Lagoa dos Quadros. A sesmaria dele ia desdea Lagoa e alcanava os fundes da localidade de Trs

    Pinheiros. Porm outros Quadros que no eram parentesdestes tambm apareceram no vale do rio Trs Forquilhas.

    Diversas famlias dos Bittencourt, de Souza Neto, dosCunha, dos Quadros ou de Espndola, com o passar dosanos foram perdendo o conhecimento de suas origens, semsaber dos diferentes sobrenomes, comuns na escrita masque no representavam laos verdadeiros de parentesco.

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    Torneios festivos entre piquetes

    Os quatro piquetes, se assim pudermos denominaros centros de competies hpicas, surgidos na Colnia deTrs Forquilhas passaram a realizar encontros espordicospara disputas e torneios festivos.

    O Ritterverein dos imigrantes alemes, na sede daColnia, encontrou uma grande afinidade com o torneio dasCavalhadas da tradio aoriana. Em comum eles tinham aCorrida da Argola.

    Quando estes dois grupos passaram a promoverencontros, incluram tambm a Corrida do Leno. Pormresistiam incluso do Tiro de Lao e do Tiro de Boleadeirasob o argumento que a prtica era dispendiosa. Eranecessrio disponibilizar reses vivas, sujeitas a acidentes eat morte, durante as competies. E uma rs mortaequivalia a prejuzo que precisava ser assumido pelosconcorrentes.

    Enquanto isso os piquetes do Josaphat e doParaguaio Gross no enfrentavam tal dificuldade para aprtica do Tiro de Lao, pois era comum que interessadosviessem para doar algumas reses para os torneios. O povodo Josaphat tinha grandes rebanhos de gado. Fazendeirosda Serra se apresentavam para ajudar o Piquete doJosaphat, para supri-los com as reses que se fizessem

    necessrias para a realizao de torneios.O Ritterverein da tradio alem e a prtica da

    Cavalhada da tradio aoriana se aproximaram, enquantose distanciavam dos piquetes de Josaphat e do ParaguaioGross.

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    A MORTE TRGICA DE JOO PATRULHA

    Uma triste notcia correu rapidamente atravs daregio do Baixo Josaphat, informando que o experientetropeiro e cavaleiro Joo Patrulha Menger havia sido feridogravemente por uma chifrada de touro.

    Apesar da idade, o Patrulha Menger sempre fora umteimoso. Sempre fizera questo de participar do trabalhocampeiro de rotina. Gostava de escolher as situaes maisarriscadas, para ensinar os jovens sobre a maneira mais

    segura de conter uma rs xucra ou mesmo para enfrentarum touro enfurecido.

    Naquele dia ele se encontrava no seu campo, ondeaparentemente no se previa nenhum perigo iminente. Elese antecipara aos pees na perseguio a uma rs xucra.Depois de hav-la laado com maestria, desceu do cavalo,no propsito de amarrar o animal numa rvore prximapara ser recolhida mais tarde pelos pees que estavam parachegar. Mas ele no notou um touro, oculto pelos arbustos.O perigoso animal fizera uma curva rpida surpreendendo-opelas costas. Quando o Patrulha girou o corpo levou umachifrada inesperada que o pegou na virilha, levantando-o noar por alguns segundos. O touro, sacudiu a cabea com oJoo Patrulha preso ao chifre direito.

    Quando Patrulha tombou sobre o solo, conseguiu

    tirar a pistola da cintura e desfechou um tiro bem no meiodos chifres do animal que j vinha retomando o ataque. Otouro soltou um mugido surdo e enveredou por entre osarbustos, tombando numa valeta prxima, estrebuchando.

    Quando os pees chegaram ouviram o relato sobre omodo como ele fora pego, de surpresa, pelo touro. Olevaram s pressas para casa.

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    FIGURA 08: Chifrada na virilha.Fonte: Gravura do autor.

    A esposa constatou que o marido tivera uma artriada virilha esquerda perfurada. O chifre havia penetradoapenas alguns centmetros na carne. Mas o problema noera este. A gravidade consistia na artria que foraperfurada. O sangramento era persistente e nada servia

    para estanc-lo. No existiam recursos disponveis para umferimento desta natureza.

    Assim que o primeiro estafeta foi passando paraavisar os vizinhos sobre o grave acidente sofrido por JooPatrulha, j outro vinha atrs para dizer que o valorosotropeiro e cavaleiro no resistira ao ferimento e viera afalecer. Morreu ainda com bom vigor fsico, bem ativo echeio de coragem e com grande disposio, bem no estiloque sempre lhe foram peculiares.

    A notcia da morte de Joo Patrulha Menger logochegou sede da Colnia de Trs Forquilhas. O pastorVoges foi avisado para o encaminhamento do cerimonialfnebre marcado para a manh do dia seguinte.

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    O velrio foi realizado na casa do falecido

    Alta madrugada colocaram-se a caminho com ocortejo fnebre, pois a jornada era de diversas horas, com ocaixo sendo levado num carro de bois, at o Cemitrio doPasso, nico da Colnia naquela poca.

    O povo acorreu em massa, pois o falecido era bemconhecido e bem quisto por todos. Lembravam das tantasvezes que ele comandara a segurana nas festas da Igreja.Outros lembravam de sua participao em torneios da

    Sociedade dos Cavaleiros do Vale. E o povo do Josaphatrecordava do empenho de Joo Patrulha em favor datranqilidade, ordem e segurana nos caminhos da Serra,inibindo assaltos ou roubos. Invariavelmente a conversagirava em torno das tantas qualidades do falecido, suahonestidade e nobreza, sua coragem e firmeza diante deperigos e dificuldades, seu senso de honra e de justia e asua dedicao em favor dos mais desvalidos, da ajuda aosenfermos para encaminh-los ao socorro mais prximo.

    A sua influncia sobre os serranos era reconhecida,naquele meio rude e hostil, onde os filhos se criavamanalfabetos (no havia escola naquele ermo) e muitas vezesfaltavam ainda formao adequada vinda dos lares. Assim aconvivncia entre os vizinhos sempre estava a risco, comenfrentamentos e brigas, que tinham que ser contidas pelaao enrgica de Joo Patrulha. A voz firme de Patrulha

    intimidava at os briges mais afoitos.

    Um enterro bem concorrido

    Os momentos marcantes na vida das famlias era amorte de um ente querido, bem como o eram os

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    nascimentos e os casamentos. Estes dois ltimos eramconsiderados ocasies de prazer, de festa. J os velrioseram tidos como uma hora do dever, de apresentar conforto

    e consolo aos familiares enlutados. Era comum ouvir: -Primeiro o dever, depois o prazer! Primeiro enterrar odefunto e depois cuidar da hora da alegria..

    Pastor Voges esmerou na cerimnia fnebre. Comum sermo tocante conseguindo que o choro forte dasmulheres cessasse.

    A Banda de Msica sob a regncia do Mestre

    Christian Tietboehl marcou presena executando umamarcha, tradicional entre os cavaleiros do vale, comumentetocada em dias festivos de torneios.

    Ao final da cerimnia fnebre o Major Adolfo FelipeVoges aproximou-se da cova, acompanhado de perto pelaporta bandeira da Sociedade de Cavaleiros do Vale(Ritterverein).

    Major Voges falou: -Ontem a nossa Colnia perdeuo ltimo integrante da antiga Patrulha Serrana, criada em1835, pelo Coronel Francisco de Paula Soares. Os patrulhasserviram o povo durante os dez anos da RevoluoFarroupilha, ajudando a manter a segurana das trilhas daSerra do Pinto. Em 1845 eles foram desmobilizados, maseles permaneceram estabelecidos no Josaphat. Todossabem o que isso representou no s para o povo serrano,

    mas tambm para todos ns que precisvamos seguir pelastrilhas e caminhos do Pinto e do Josaphat. Quero aquienfatizar que o Joo Patrulha morreu do jeito como elesempre viveu, enfrentando a lida pesada, no trato com obicho xucro, fosse gente ou animal. Ele sabia melhor do quequalquer outra pessoa dominar com firmeza e competnciaas piores dificuldades. Mas, nesta ltima vez ele foisuperado pela bravura de um touro selvagem. Foi um

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    acidente fatal... E, um acidente sempre quer nos ensinaralgo ou nos alertar para algo... Com certeza temos muito aaprender com tais acidentes da vida. As pessoas que se

    dedicam a cuidar de ns podem faltar de repente... O nossoPatrulha morreu to de repente, de modo inesperado, emmeio ao trabalho... Quem estar em condies de assumir aseu lugar, para cuidar do bem-estar dos mais fracos e dosnecessitados de socorro? Esse foi o esprito que norteou ospatrulhas: cuidar do bem-estar dos mais fracos e dosnecessitados de socorro. Esse esprito no deveria morrer,

    jamais! O esprito de servio e de dedicao aossemelhantes, que norteou os patrulhas, deve ficar em nosso

    meio para sempre! Somos conclamados a tambmcultivarmos a honra, no preito coragem, no incentivo paraa honestidade e na luta permanente pelo que direito detodos e direito de cada um. E, para concluir, convido onosso porta bandeira para que agora chegue at aqui paraque ns cavaleiros do Ritterverein prestemos ao JooPatrulha Menger a nossa homenagem especial e a nossadespedida derradeira, com os votos que receba o merecidodescanso em nosso Senhor..

    Aproximou-se um neto de Joo Patrulha, o JacobMenger, conduzindo a bandeira do Ritterverein. Coube paraele, inclinar trs vezes a bandeira do Ritterverein, tocandotrs vezes o caixo.

    Major Voges falou: - Que a vitria seja da lealdadede todos ns!.

    Aqueles cavaleiros do vale que haviam trazido assuas lanas, as agitaram ruidosamente. Estavam ornadascom flmulas que drapejavam ao vento. Em unssono elesresponderam saudao dizendo: - vitria da lealdade,vivaaa!.

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    FAZENDEIROS DE ORIGEM ALEM NA SERRA

    Bem cedo os colonizadores da Colnia Alem de TrsForquilhas buscaram por novas terras acatando as ltimasrecomendaes que o Comandante Philipp Peter Schmittlhes legara, meses antes de sua morte.

    Colonos que quisessem ir em busca de terraspropcias para a prtica da pecuria, no precisavam viajarmuito. Boas terras ficavam ao norte da Colnia. Bastavasubir a Serra do Pinto ou o Morro da Fumaa e l se

    descortinavam imensas reas de campo. Eram terrasconhecidas como Cima da Serra e englobavam desde o AltoJosaphat, o Cambar, Lagoa Vermelha, Vacaria e, a oeste,bem prximo se encontrava os campos de So Francisco dePaula.

    Muitos dos imigrantes alemes ou seus descendentesque, s vezes, acompanhavam na conduo de tropas,conheceram aquela regio e passaram a sonhar em sededicarem criao de gado, cavalos e muares.

    Dentre os primeiros novos fazendeiros e criadores degado se encontram os nomes Krmer, Hoffmann, Klippel,Witt, Schtt, Brehm, Dresbach, Brusch, Voges, Schmitt,Klein, Menger, Jacoby, entre outros.

    O primeiro imigrante que se tornou fazendeiro bem

    sucedido foi certamente o suo Christian Friedrich Kramer,vindo do Canto de Berna. O Kramer chegou com bonsrecursos financeiros. Veio casado com Anna MargarethaDrescher e consta que estavam acompanhados de um casalde filhos nascidos na Sua. Kramer adquiriu uma fazendaem Lagoa Vermelha, na Comarca de Vacaria. Tiveram aotodo dois filhos e cinco filhas, que se tornaram bonspartidos para algum casamento. Quando os Krmer desciam

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    at a Colnia Alem de Trs Forquilhas, para participaremdas festas do Kerb e da Colheita, cortejar as filhas do casalque era por demais notrio. O filho Carl Louis Kramer casou

    com Wilhelmine Catharina Hoffmann e adquiriu umafazenda em Cambar, na Comarca de Vacaria. Tiveram seisfilhas e quatro filhos. O irmo dele Carl Louis Krmer casoucom Wilhelmine Hoffmann. A irm Brbara casou comAndreas Hoffmann, que instalou casa comercial prximo aorio Santa Rita. Foi acometido pela tuberculose e orientadopelo sogro viajou Sua em busca de tratamento mdico.A tentativa de tratamento foi sem xito vindo a falec