exú elebó

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    s Elebo

    EBO

    Para melhor compreenso do porque da necessidade deoferendas aos deuses vamos aqui discorrer sobre o mito dacriao de s, princpio dinmico e princpio da existnciaindividualizada.A anlise de s se impe como imprescindvel paracompreenso da ao ritual e do sistema comototalidade. Princpio dinmico e de expanso de tudo oque existe, sem ele todos os elementos do sistema e seu

    devir ficariam imobilizados, a vida no se desenvolveria.Segundo as prprias palavras de If, cada um tem seuprprio s e seu prprio Olrun, em seu corpo ou cadaser humano tem seu sindividual, cada cidade, cada casa(linhagem), cada entidade, cada coisa e cada ser tem seuprprio s, e mais, se algum no tivesse seu s emseu corpo, no poderia existir, no saberia que estavavivo, porque compulsrio que cada um tenha

    seu s individual. Em virtude da maneira como s foicriado porOldmar, ele deve resolver tudo o que possaaparecer e isso faz parte de seu trabalho e de suasobrigaes. Cada pessoa tem seu prprios; e ele devedesempenhar o seu papel, de tal modo que ajude a pessoapara que ela adquira um bom nome e o poder dedesenvolver-se.Oldmar fez scomo se fosse um medicamento de poder sobrenatural prprio para

    cada pessoa. Isto quer dizer que cada pessoa tem mo seu prprio remdio de poder

    sobrenatural podendo utiliz-lo para tudo o que desejar. sexerce as mesmasfunes para todos os ebora. S os seres humanos no podem ver seu sparticular.

    Os ebora; osrs e todos os Irnmal podem ver-se a si prprios, acompanhados de

    seu s, fato que lhes permite executar tudo o que tem necessidade, de acordo com as

    maneiras especficas e os deveres de seu s.

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    Nos ritos de oferendas ambos comem juntos; o nome decada s acompanhante conhecido, invocado e cultuadojunto ao rs, como elemento indestrutvelmente ligado aele. A histria conta que nas remotas

    origens,Oldmar e rsnl estavam comeando acriar o ser humano. Assim criaram s, que ficou maisforte, mais difcil que seuscriadores.Oldmar enviou s para vivercom rsnl; este colocou-o entrada de sua morada e oenviava como seu representante para efetuar todos ostrabalhos necessrios. Foi ento quernml desejosode ter um filho, foi pedir um a rsnl. Este lhe diz que

    ainda no tinha acabado o trabalho de criar seres e quedeveria voltar um ms mais tarde. rnml insistiu,impacientou-se querendo a qualquer preo levar um filhoconsigo. rsnl repetiu que ainda no tinha nenhum.Ento perguntou: Que aquele que vi entrada de suacasa? aquele mesmo que ele quer.rsnl lhe explicouque aquele no era precisamente algum que pudesse sercriado e mimado no iy. Mas rnml insistiu tanto

    que rsnl acabou por aquiescer. rnml deveriacolocar suas mos em s e , de volta ao iy, manterrelaes com sua mulherYebr, que conceberia um filho.Doze meses mais tarde, ela deu luz um filho homem e,porque sl dissera que a criana seriaAlgbra,senhor do poder, rnml decidiu chama-la Elgbara;assim desde que, rnml pronunciou seu nome, acriana,s mesmo, respondeu e disse:

    Iy, y me, meNg o je eku eu quero comer presA me respondeu:Omo naa je filho, come, come,

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    Omo naa je filho, come, comeOmo lokn Um filho como contas de coralvermelho,

    Omo ni de Um filho como cobreOmo ni jngndnrngn Um filho como alegria inestinguvel,

    A um se y, mu srun Uma honra apresentvel, que nosAra eni representar depois da morte.Ento rnml trouxe todos os pres que podeencontrar. No dia seguinte a cena se reproduziu:

    Mo romo na Visto que consegui ter um filho

    Aji logba aso o que acorda e usa duzentas vestimentasdiferentes,

    Omo ma Filho, continue a comerNo quarto dia, disse que queria comer carne. Sua mecantou como de hbito e seu pai trouxe-lhe todos os

    animais quadrpedes que pode achar; at que no ficouum s, s no parou de chorar.No quinto dia, ele disse:y y me, meNg je Eu quero com-laA me repetiu sua cano: filho come, filho come, come e

    foi assim que s engoliu sua prpriame. rnml alarmado, correu a consultaros Babalwo, que lhe recomendaram fazer a oferenda deuma espada, de um bode e de quatorze mil cauris; eleassim o fez.No sexto dia depois de seu nascimento, sdisse:

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    Bb, Bb Pai, PaiNg ju Eu quero com-lornml cantou a cano da me e quando este se aproximou, rnml lanou-seem sua perseguio com a espada e sfugiu. Quandornml o reapanhou,comeou a seccionar pedaos de seu corpo, a espalh-los, e cada pedao transformou-

    se em um Yang.rnml cortou e espalhou duzentos pedaos e eles setransformaram em duzentos Yang. Quando o pai sedeteve, o que restou de slevantou-se e continuoufugindo.

    Isto repetiu-se nos nove run que ficaram assim povoadosde Yang. No ltimo run, depois de ter sidotalhado, s decidiu pactuar comrnml : este nodevia mais persegui-lo; todos os Yang seriam seusrepresentantes ernml poderia consulta-los cada vezque fosse necessrio envia-los a executar os trabalhos queele lhes ordenasse fazer, como se fossem seus verdadeirosfilhos. s assegurou-lhe que seria ele mesmo quem

    responderia por meio dos Yang (pedaos de laterita) cadavez que o chamasse.rnml perguntou-lhe sobre a me que havia sido devorada, e ele devolveu sua meao pai e acrescentou:

    rnml ki o maa ksi oun

    Bi ba fee gba gbogbo won nkanBi eran ati eye

    Ti un je ti iyP un m rn n lwlti gb pad fn lti owo won Omo ariy.rnml deveria chama-loSe ele queria recuperar a todos e

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    Cada um dos animais e das avesQue ele tinha comido sobre a terraEle (s) os assistiria paraReav-los das mos da humanidade.

    Dessa histria rica em informaes, queremos destacar arelao que o tan estabelece entre o povoamento ou onascimento de descendentes, com a voracidade agressivado recm-nascido e a devoluo ulterior de tudo o que foiengolido devido ao pacto. Particularmente a restituioda me-smbolo, Ybr, y + bi + ir: a me que dnascimento a filhos de todo tipo, o ventre-continente da

    humanidade.A restituio da me e de tudo o que tinha sido ingeridoatravs de oferendas no s restabelecea harmonia, mastransforma o descendente no smbolo de fecundidade e detransmisso do agbra, a fora simbolicamente contidano ad-irn (cabaa que contem a fora que se propaga).Por este motivo s tambm chamado Elebo, senhordas oferendas.se- tw, representante direto de s, simboliza um de seusaspectos mais importantes, o de ser encarregado detransportar as oferendas, jse-ebo, evidenciando seucarter de s Elebo , oproprietrio, o que controla, o queregula o ebo, a oferenda ritual.Por ser a nica entidade para quem so abertas as portasdo run, quando a relao run-iyfica abalada e a secaameaa destruir inteiramente a terra, o descendente o

    nico que pode transportar, fazer aceitar o ebo e,conseqentemente, trazer a chuva, fertilizar a terra,restabelecendo ao mesmo tempo a relao run-iy.s o resultado da interao de um par: nasceu do ventre e do se de sun Olori y-

    mi Aj do poder supremo feminino, e do se dos 16 Irnmal gb Od, do podersupremo masculino.

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    ( Afs) O VERBO Sua importncia

    A transmisso oral do conhecimento considerada na tradio

    iorub como o veculo do as, o poder, a fora das palavras, que

    permanece sem efeito em um texto escrito. O conhecimento

    transmitido oralmente tem o valor de uma iniciao pelo verbo

    atuante, uma iniciao que no est no nvel mental da

    compreenso, porm na dinmica do comportamento. tambm

    difcil traar uma linha de demarcao entre o assim chamadosconhecimento cientfico e prtica mgica.

    Isto ocorre devido importncia dada, em uma cultura

    tradicionalmente oral como a iorub, encantao,of,

    pronunciada no momento de preparao ou aplicao das diversas

    receitas medicinais, ogn.Neles (of) encontramos a definio

    da ao esperada de cada um dos elementos que entram na

    receita.

    Essas encantaes (jogo de palavras) tm uma grande importncianas civilizaes de tradio oral. Sendo pronunciadas em oraes

    solenes, podem ser consideradas como definies e com

    freqncia so as bases sobre as quais o raciocnio construdo.

    Na cultura africana tradicional, saber o nome de uma pessoa ou

    coisa significa que elas podem, at certo ponto, ser controladas.

    Conseqentemente, entre os iorubas a preparao de remdios e

    trabalhos mgicos deve ser acompanhada de encantaes

    (of) com o nome das plantas, semas quais esses remdios etrabalhos no agiriam. Palavras para que possam agir, devem

    serpronunciadas. Entre os iorubas, os of so frases curtas nas

    quais muito freqentemente o verbo que define a ao esperada, o

    verbo atuante, uma das slabas do nome da planta ou do

    ingrediente empregado. Como exemplo vamos usar um trabalho

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    feito para encontrar onde ficar, tedo. Ele indica a oferenda a ser

    feita e a encantao apropriada: um pilo (od) usado para

    encontrar onde acampar (d); folhas de tt para encontrar onde

    descansar (t); folhas gbgb para encontrar onde morar

    (gb). Freqentemente, o verbo atuante de uma preparao omesmo para todas as folhas nela empregadas, e a mesma slaba

    encontrada em cada um dos nomes. o caso, por exemplo, de

    uma receita para tratar lepra (ogn t) em que a slabapa

    encontrada nos nomes das folhas ik pupa, oparun e rpa, e na

    encantao, que tambm a mesma para as trs: ba mi pa

    rn t, ajude-me a matar a lepra.

    O verbo atuante da frmula propiciatria tambm pode ser

    encontrado em mais de uma slaba do nome da planta.Quandoprgn usada em trabalhos para se obter boa

    sortewre orre, o elo criado a partir depr, com

    o of prgn pe rere w, prgn chame a sorte (rere) para

    c; mas quando usada em trabalhos para agradar as

    feiticeiras ww yn ymi, o elo se baseia em gn, com

    o of prgn n k ay mi gn, prgn manda que a

    minha vida seja reta (gn).

    Um babalaw raramente emprega os nomes dos odus em suaforma original, dando preferncia aos nomes derivados dele

    foneticamente, s vezes por acrscimo de um prefixo e um sufixo,

    que lhe conferem uma significao particular. Dessa maneira o

    babalaw tem maior facilidade para encontrar o simbolismo e o

    contexto das histrias (tn) e remdios classificados naquele odu.

    Eis alguns exemplos:

    gnd dtambm pode ser denominado gnd gd gbn, gnd-

    corta-o-fundo-do-caracol, em aluso tranqilidade, uma vez que o lquidoque flui da concha do caracol usado na preparao de um tranqilizante.

    Nos trabalhos para se obter favores das feiticeirasyn ymi, o

    odu s mj, torna-se s elye, s-dono-do-pssaro, e ogb

    gnd torna-se ogb ymi.

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    Vimos assim a importncia da verbalizao de nossos desejos ou

    necessidades. justo e necessrio que se observe ou relembre

    que: Palavras para que possam agir, devem ser pronunciadas. Eis a

    uma oportunidade:

    OGB RET ou OGB ALHR OW (ogb-dono-da-casinha-

    de-dinheiro)

    Deve-se pilar ew prgn e im oj pupa (enxofre vermelho),

    misturar com sabo da costa e lavar-se com o preparado, dizendo

    o of:

    Asr paj.Ada grgr paj.

    Oro apaj m ye ohn.

    Prgn n pe irmol ltde run wy.

    Prgn w lo r pe aj tmi w ltde run.

    Ele-que-corre para chamar riquezas

    Ele que apressa furiosamente para chamar riquezas

    Fala, chame riquezas sem falhar Prgn que chama irnmol do alm para a terra

    Prgn, agora v e chame minha riqueza do alm.

    ONIL

    Onil era a filha mais recatada e discreta deOldmar.Vivia trancada em casa do pai e quase ningum a via; quase nem se sabia de sua

    existncia.

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    Quando os orixs seus irmos se reuniam no palcio do grande pai para as grandes

    audincias em que Oldmar comunicava suas decises, Onil faziaum buraco no cho e se escondia, pois sabia que as reunies sempre terminavam em

    festa,

    com muita msica e dana ao ritmo dos atabaques.

    Onil no se sentia bem no meio dos outros. Um dia o grande deus mandou os seus

    arautos avisarem: haveria uma grande reunio no palcio e os orixs deviam comparecer

    ricamente vestidos, pois ele iria distribuir entre os filhos as riquezas do mundo e depois

    haveria muita comida, msica e dana.

    Por todo os lugares os mensageiros gritaram esta ordem e todos se prepararam com

    esmero para o grande acontecimento. Quando chegou por fim o grandedia, cada orix dirigiu-se ao palcio na maior ostentao,

    cada um mais belamente vestido que o outro,pois este era o desejo de Oldmar. Iyamojchegou vestida com a espumado mar,

    os braos ornados de pulseiras de algas marinhas, a cabea cingida por um diadema de

    corais e prolas, o pescoo emoldurado por uma cascata de madreprola.

    Ossescolheu uma tnica de ramos macios, enfeitada de peles e plumas dos mais

    exticos animais.

    Osaniyn vestiu-se com um manto de folhas perfumadas.gn preferiu uma couraa de ao brilhante, enfeitada comtenras folhas de palmeira.sn escolheu cobrir-se de ouro, trazendo nos cabelos as guas verdes dos rios.

    As roupas de smar mostravam todas as cores, trazendo nasmos os pingos frescos da chuva.Oya escolheu para vestir-se um sibilante vento e adornou os cabelos com raios que

    colheu da tempestade.

    Sang no fez por menos e cobriu-se com o trovo.

    sal trazia o corpo envolto em fibras alvssimas de algodoe a testa ostentando uma nobre pena vermelha depapagaio.E assim por diante.

    No houve quem no usasse toda a criatividade para apresentar-se ao grande pai com a

    roupa mais bonita.

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    Nunca se vira antes tanta ostentao, tanta beleza, tanto luxo.

    Cada orix que chegava ao palcio deOldmar provocava um clamor deadmirao,

    que se ouvia por todas as terras existentes.

    Os riss encantaram o mundo com suas vestes. Menos Onil.

    Onil no se preocupou em vestir-se bem.

    Onil no se interessou por nada.

    Onil no se mostrou para ningum.

    Onil recolheu-se a uma funda cova que cavou no cho.

    Quando todos os riss haviam chegado,Oldmar mandou que fossem acomodadosconfortavelmente, sentados em esteiras dispostas ao redor

    do trono.Ele disse ento assemblia que todos eram bem-vindos. Que todos os filhos haviam

    cumprido seu desejo e que estavam to bonitos que ele no saberia escolher entre eles

    qual seria o mais vistoso e belo.

    Tinha todas as riquezas do mundo para dar a eles, mas nem sabia como comear a

    distribuio.

    Ento disse Oldmar que os prprios filhos, ao escolherem oque achavam o melhor da natureza, para com aquela

    riqueza se apresentar perante o pai, eles mesmos jtinham feito a diviso do mundo.Ento Iyamoj ficava com o mar,sn com o ouro e os rios.

    A ssdeu as matas e todos os seus bichos,

    reservando as folhas para saniyn.

    Deu a Oya o raio e a Sang o trovo.Fez sal dono de tudo que branco e puro, de tudo que o

    princpio, deu-lhe a criao.Destinou a sumar o arco-ris e a chuva.

    A gn deu o ferro e tudo o que se faz com ele, inclusive aguerra.E assim por diante.

    Deu a cada ris um pedao do mundo, uma parte da natureza, um governo particular.

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    Dividiu de acordo com o gosto de cada um. E disse que a partir de ento cada um seria o

    dono e governador daquela parte da natureza.

    Assim, sempre que um humano tivesse alguma necessidade relacionada com uma

    daquelas partes da natureza, deveria pagar uma prenda aoris que a

    possusse. Pagaria em oferendas de comida, bebida ououtra coisa que fosse da predileo do ris.Os rss, que tudo ouviram em silncio, comearam a gritar e a danar de alegria,

    fazendo um grande alarido na corte.

    Oldmar pediu silncio, ainda no havia terminado.Disse que faltava ainda a mais importante das atribuies.

    Que era preciso dar a um dos filhos o governo da Terra, o mundo no qual os humanos

    viviam e onde produziam as comidas, bebidas e tudo o mais que deveriam ofertar

    aos rss.

    Disse que dava a Terra a quem se vestia da prpria Terra.

    Quem seria? perguntavam-se todos?

    " Onil ", respondeu Oldmar." Onil?" todos se espantaram.

    Como, se ela nem sequer viera grande reunio?

    Nenhum dos presentes a vira at ento.

    Nenhum sequer notara sua ausncia.

    "Pois Onil est entre ns", disse Oldmar e mandou que todosolhassem no fundo da cova, onde se abrigava, vestida de terra, a discreta e recatada

    filha.

    Ali estava Onil, em sua roupa de terra.

    Onil , a que tambm foi chamada de Il, a casa, o planeta.

    Oldmar disse que cada um que habitava a Terra pagassetributo a Onil,pois ela era a me de todos, o abrigo, a casa.

    A humanidade no sobreviveria sem Onil.

    Afinal, onde ficava cada uma das riquezas queOldmar partilhara comfilhos rss?"Tudo est na Terra", disse Oldmar.O mar e os rios, o ferro e o ouro,

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    Os animais e as plantas, tudo" , continuou; at mesmo o ar e o vento, a chuva e o arco-

    ris, tudo existe porque a Terra existe, assim como as coisas criadas para controlar os

    homens e os outros seres vivos que habitam o planeta, como a vida, a sade, a doena e

    mesmo a morte.

    Pois ento, que cada um pagasse tributo aOnil,

    foi a sentena final de Oldmar.Onil, ris da Terra, receberia mais presentes que os outros,pois deveria ter oferendas dos vivos e dos mortos, pois naTerra tambm repousam os corpos dos que j no vivem.Onil, tambm chamadaAiy, a Terra, deveria ser propiciada sempre, para que o mundo

    dos humanos nunca fosse destrudo.

    Todos os presentes aplaudiram as palavras deOldmar.Todos os riss aclamaram Onil.Todos os humanos propiciaram a me Terra.

    E ento Oldmar retirou-se do mundo para sempre edeixou o governo de tudo por conta de seus filhos riss.

    Ancestralidade

    Na Cultura Jeje-Nag ,a vida no se finda com a morte.

    tnwa, o nome dado ao processo divino de existncia nica: A continuidade da vida.

    Oludumar , O Supremo Deus Yorub no momento do nascimento ofereceaos homens um conjunto de foras sagradas que possibilita avida.So elas:

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    ARA: O corpo fsico vindo da Lama.

    ES: Elementos do organismo humano.

    OKAN: Corao fsico e espiritual rgo que centraliza o poder de vida e sede da

    inteligncia, do pensamento e da ao.

    OJIJI: Essncia Espiritual.

    M: O Sopro Divino de Vida.

    OR: A Individualidade e a Identidade.

    D: O Destino e o caminho a ser percorrido.

    S: Fora que movimenta a vida.RS: Guardio de cada existncia humana.

    Todos estes aspectos no morrem Voltam as suas origens, isto , ao Orun, pois

    pertencem aOlorun e s ele pode liber-las. Estas foras divinas animaram os

    antepassados, os ancestrais, as razes mes do as oris, ao partirem doAiye, e voltam

    aoAiye para animar seus descendentes e discpulos. A ancestralidade confirma a

    imortalidade, pois a vida continua no Orun como ancestrais. DoOrun a ancestralidade a

    tudo assiste. No culto de Oris, ancestrais significa (Aqueles que um dia tiveram a

    energia de vida noAiye e que cuja energia de vida repassada s novas geraes,

    garantindo a continuidade da vida e do culto aos deuses africanos), como concluso a

    vida presente depende da vida passada de nossos ancestrais.

    O CULTO DOS EGUNGUNS

    Atravs do culto aos ancestrais, os Egun ouEgungun possvelreconstruir origens, etnias, memria. Essa memria, enraizada namultiplicidade da herana negro-africana, expande com foratotal, um ethos que passando a diversidade de suas expressesmanifestas Nag, Jeje, Angola, Cango, etc. permite revelar

    estruturas, valores, normas, denominadores comuns onde aquesto da ancestralidade mtica e histrica, marca a existnciade uma forte comunalidade. na memria e no culto aosantepassados que essa comunalidade se afirma (MESTRE DIDI)

    Egungun ou Egun, esprito ancestral de pessoa importante,

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    homenageado noCulto aos Egungun, esse culto feito em casasseparadas das casas de Orisa. No Brasil o culto principal Egungun praticadona Ilha deItaparcano Estado da Bahia mas existem casas em outros Estados.Os nags, ento, cultuam os espritos dos "mais velhos" de

    diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentroda comunidade e com a sua atuao em prol da preservao e datransmisso dos valores culturais. E s os espritos especialmentepreparados para serem invocados e materializados querecebem o nome Egun, Egungun, Bab Egun ou simplesmenteBab (pai), sendo objeto desse culto todo especial.Porque o objetivo principal do culto dos Egun tornar visvel oesprito dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veculo, um

    elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo emque mantm a continuidade entre a vida e a morte, o cultomantm estrito controle das relaes entre os vivos e mortos,estabelecendo uma distino bem clara entre os dois mundos: odos vivos e o dos mortos (os dois nveis da existncia)Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentese fiis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimniase festas, com vestes muito ricas e coloridas, com smbolos

    caractersticos que permitem estabelecer sua hierarquiaOs Bab-Egun ou Egun-Agb(os ancestrais mais antigos) sedestacam por estar cobertos de bzios, espelhos e contas e porum conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que chamado Abal, alm de uma espcie de aventalchamado Bant, e por emitirem uma voz caracterstica, gutural oumuito fina. OsAparakso Egun mais jovens: notmAbalnemBant e nem uma forma definida; e so ainda

    mudos e sem identidade revelada, pois ainda no se sabe quemforam em vida.

    Acredita-se, ento, que sob as tiras de pano encontra-se umancestral conhecido ou, se ele no reconhecvel, qualquer coisaassociada morte. Neste ltimo caso, o Egungunrepresentaancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e so os

    http://www.orixas.com.br/wiki/Culto_aos_Egungunhttp://www.orixas.com.br/wiki/Culto_aos_Egungunhttp://www.orixas.com.br/wiki/Orix%C3%83%C2%A1http://www.orixas.com.br/wiki/Brasilhttp://www.orixas.com.br/w/index.php?title=Itapar%C3%ADca&action=edithttp://www.orixas.com.br/w/index.php?title=Itapar%C3%ADca&action=edithttp://www.orixas.com.br/wiki/Bahiahttp://www.orixas.com.br/wiki/Culto_aos_Egungunhttp://www.orixas.com.br/wiki/Orix%C3%83%C2%A1http://www.orixas.com.br/wiki/Brasilhttp://www.orixas.com.br/w/index.php?title=Itapar%C3%ADca&action=edithttp://www.orixas.com.br/wiki/Bahia
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    mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardisque so da tica e da disciplina moral do grupo.No smbolo "Egungun" est expresso todo o mistrio datransformao de um ser deste mundo num ser do alm, de sua

    convocao e de sua presena no Aiy (o mundo dos vivos).Esse mistrio (Aw) constitui o aspecto mais importante do culto.

    II-If : O Bero Religioso dos Yorubas, deOdduw a Sng

    Il-If a origem do Mundo

    A cidade de Il-If considerada pelos yorubaso lugar de origem de suas primeiras

    tribos. lf o bero de toda religio tradicional yoruba (a religio dos rs, o Candombl

    do Brasil), um lugar sagrado, aonde os deuses l chegaram, criaram e povoaram o

    mundo e depois ensinaram aos mortais como os cultuarem, nos primrdios da

    civilizao. Il-If o "Bero da Terra".

    "Em um tempo onde os Deuses e Heris andavam na terra com os Homens."

    OldmarEld O senhor da criao que exalta a responsabilidade por toda a criao, e que Ele

    existe por si mesmo.

    Aly O senhor da vida, lembra a condio de eternidade e poder sobre a vida.

    Elm O senhor do Em, o que d o poder da respirao e a tira quando julga

    necessrio.

    Olj n O senhor do dia de hoje, significando que Deus est presente em todos os

    acontecimentos dirios.

    Olrun O rei do cuOba Adkdj O senhor da justia, aquele que senta em silncio e aplica a justia.

    Olrun Algbra O Onipotente, aquele que pe e dispe

    Olmnokn O onisciente, auqele que conhece todos os coraes, que tudo v e ouve

    Atrekiy Transcendente, aquele que cobre o mundo e faz todos sentirem sua

    presena.

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    Oba Mimo O rei puro, que sagrado e enfatizado mais pela suabenevolncia do que pela sua severidadeOlrun Olore O Deus compassivo, que olha por todos combondade e misericrdia.

    Oldmar o ser superior dos yorubas, que vive num universo paralelo ao

    nosso, conhecido como rn, por isso Ele tambm conhecido comojlrn

    e Olrun "Senhor ou Rei do rn", que atravs dos rss por Ele criados,resolve incumbir um dos rs funfun (do branco), rnsnl, (o granders) o primeiro a ser criado, tambm chamado de rs-nle de Obtl,

    de criar e governar o futuroiy : a Terra, do nosso universo conhecido.

    Ele lhe entrega op-Iw(a sacola da existncia) o qual contm todas as

    coisas necessrias para a criao, e aclamado comoAlblse, "Senhor

    que tem o poder de sugerir e realizar". Como a tradio mandava, para

    todos, antes de iniciar a viagem ele foi consultar o orculo de If, com

    rnml, outro rs funfun, e este lhe orientou a fazer alguns

    sacrifcios a divindade s, mas se ele j era orgulhoso e prepotente,

    mais ainda ficou, se recusou e nada fez, mas foi avisado que infortnios

    poderiam ocorrer.

    rsnl, de posse dop-Iw, pe-se a caminhar pelo rn, para chegar

    "porta do espao", at ento um vazio, que viria a ser oiy. Ele o

    rs que usa um cajado ritual conhecida comopsr, durante o caminho,

    com muita sede, ele se defronta com o igi-p(rvore do dendzeiro) e com

    o seu psr, perfura o caule da rvore da qual comea a "jorrar o emu"

    (vinho de palma), e pe-se a beber, a tal ponto, que cai totalmente

    embriagado no p da palmeira e dorme profundamente. O infortnio comea

    acontecer.

    OdduwOutro rs funfun, o segundo criado porOldmar, por conceito

    "irmo mais novo" de rsnl, ficou enciumado, porque Oldmar tinha

    entregado a rsnlop-Iw, e o estava seguindo pelos caminhos do

    rn, esperando que ele cometesse algum deslize, o que de fato aconteceu.

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    Odduw, encontrando-o naquele estado, apodera-se dop-Iwe leva-o at

    Oldmar, narrando o acontecido, e, por este fato, Oldmar delega a

    Odduw o poder de criar oiy e por punio incumbe a rsnlde

    somente criar e modelar os corpos dos seres humanos no rn, sob sua

    superviso e o probe terminantemente de nunca mais beber o emu.

    Odduw ento, cumpre a tradio e faz as obrigaes, para se tornar o progenitor

    dos Yorubas, do Mundo : Olfin Odduw, o futurojliy.

    Desde ento a relao tempestuosa entreOdduw e Obtlse perpetuou,

    ora em disputas, discrdias, controvrsias e de outras formas, mas sempre

    munindo a eterna rivalidade.

    Odduw chegando aoiy, cria tudo o que era necessrio e delega

    poderess divindades que o seguiram, conhecidos como osgb, para governarem a

    criao, e volta ao rn, e s retornaria quando tudo estivesse realmenteconcludo. rsnl, que tinha ficado no rn com seus seguidores, j

    havia moldado corpos suficientes para povoarem o inicio do

    mundo, vai ento

    para oiy, com seus seguidores, os Funfun; fato que ocorre

    antes da

    volta de Odduw para oiy.Quando Olfin Odduw retorna aoiy, funda a cidade de Il-

    If, e vem a

    ser o primeiro Oba (rei) do povo yorubano com o titulo de "Oba ni",

    ou

    seja, o primeiro ni de If, e a cidade se torna a morada dos deuses e

    dos novos seres.

    Durante todo este tempo, Odduw que j estava casado com y Olkun,

    divindade feminina, responsvel e dona dos mares, tem dois filhos, o

    primognito, a divindade gn e uma filha de nome sdl. O tempo passa,

    e Odduw, que era uma divindade negra, porm albina, incumbe seu filho

    gn de ir para a aldeia de gtn, vizinha deIf, conter uma rebelio.

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    gn, divindade negra, senhor do ferro, parte para sua misso erealiza ointento, trazendo consigo Lakanje, filha do rebelde vencido. Ora, Lakanjeera esplio de Odduw, o nide lf, portanto intocvel, mas Lakanje era

    muito bela e extremamente sensual e gn no resistiu aos seus encantos e

    com ela teve vrias noites de amor, durante sua viagem de volta. Chegando

    a lf, ele entrega os esplios da conquista, inclusive Lakanje, a seu pai

    Odduw, que tambm no resistiu aos lindos encantos da mortal Lakanje e

    por ela se apaixona e acabaram por casar-se.gn nada tinha contado a seu

    pai dos fatos ocorridos e logo aps o casamentoLakanje est grvida,

    desta gravidez nasce um filho de nome Odde.

    S que o destino foi fatdico, Odde nasceu metade negro, como a pele de

    gn e metade branco, como a pele do albinoOdduw, revelando assim, a

    traio de gn para com a confiana do seu pai, esta situao gerou muita

    discusso entre Odduw e gn, mas a principal foi "quem tinha razo",

    ou, quem teria mais "genes" no filho em comum,Odde, e cada um se

    posicionava com a seguinte frase : "a minha palavra triunfou" ou "a minha

    palavra a correta", que aglutinada rnmyn e foi assim que ele

    passou a ser chamado e conhecido.

    Com Lakanje, uma das muitas esposas deOdduw, ou com outras, teve ou j

    tinha mais seis filhos, outros dizem dezesseis, uns, um nmero maior

    ainda, enfim, alguns dos filhos destas esposas, geraram as linhagens dos

    ObasYorubanos, uns foram os precursores de sete das principais tribos, ou

    mais, que deram origem civilizao dosyorubas, e religiosamente

    falando, todos os povos do mundo. Os filhos, netos ou bisnetos de Odduw,

    os deuses, semideuses e/ou heris, formaram a base da nao yoruba,

    portanto Olfin Odduw jliy aclamado como "O Patriarca dos

    Yorubas".

    Obtl (rsnl) ,que tambm j estava noiy com sua comitiva, mas

    devido a grande rivalidade com Odduw, foi expulso de Il-If e funda a

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    cidade de gb e se torna o primeiro Ob gbchamado tambm de Bb gb,

    pai dos gbs. Numa sociedade polgama,rsnl um caso raro de

    monogamia, pois a divindade Yemowo foi sua nica esposa e no tiveram

    filhos.

    rnmynAps grandes vitrias, rnmyn torna-se o brao direito de seu pai em

    Il-If, pois seus outros irmos foram povoar regies distantes, menos

    Oblfan gbgbdirin. Odduw ordena ento que rnmyn conquisteterras

    ao norte de If, mas rnmyn no consegue cumprir a tarefa e sai

    derrotado e, com vergonha de encarar seu pai, no volta mais a If, com

    isso funda uma nova cidade e lhe d o nome deOy, tornando-se o primeiro

    Oba Alfin Oy. (Tentando subir uma colina o seu cavalo deslizou, todos gritaram

    y que significa ele deslizou. rnmynconstruiu aa cidade com o nome de y(significando lugarescorregadio). Uma outra citao sobre o nome da cidade de y revelaque y Oromuko, umoutro filho deOddw muitodoente, tomou caldo quente feito de uma erva ooyo, o quelhe valeu o ttulo de Oloyo e que ele conservou e que foi

    dado cidade em que era rei, Oyo.Casado com Mormi, uma bela mortal, nativa de f ,que se tornou maistarde uma herona em Il-If, na qual tem um filho, querecebe o nome de

    Ajak. Aps algum tempo, rnmyn investe em novasconquistas e volta aguerrear contra a Nao dos Tapas, onde havia sido

    derrotado, mas destavez consegue uma grande vitria sobre Elmpe, na pocarei dos Tapas. Porsua derrota, Elmpe entrega-lhe sua filhaToros, para quese case comele. Retornando a Oy, rnmyn casa-se com Torose

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    com ela tem umfilho, chamado de Olufnrn que viria a serdenominado Sng, um mortal,nascido de uma me mortal e um pai semideus, portanto com ascendentes

    divinos por parte de pai.

    Aps este perodo com inmeras vitrias, a cidade de Oy torna-se um

    poderoso imprio, rnmyn, prestigiado e redimido de sua vergonha, volta

    para Il-If, deixando em seu lugar, em Oy, o prncipe coroado, seu filho

    Ajak, que torna-se o segundoAlfin Oy.

    Em uma de suas conquistas, a da cidade deBenin, anterior a fundao de

    Oy, rnmyn termina com a dinastia deOgso, o ento rei, expulsando-o

    e assumindo o trono, tornando-se o primeiroObabnn, e inicia sua

    dinastia tendo um filho, chamado wk, com uma mulher do local. Antes de

    deixar a cidade, ele torna wk como seu sucessor no trono do Benin.

    (Atual cidade na Nigria, antigo Reino do Benin, no confundir com a

    Repblica do Benin, antigo pas chamadoDaom.)

    Durante sua longa ausncia em Il-If, Oblfon gbgbdirin ,seu irmo

    mais velho, se tornou o segundo nide If, aps o reinado de Odduw.

    Quando Oblfon morreu, e ningum sabia do paradeiro de rnmyn, o povo

    de If aclamou Oblfon Alymore como sucessor direto de seu pai.

    Quando rnmyn chega em If, Oblfon Alymore j reinava como o

    terceiro nide If, mas com um fraco reinado. Enfurecido com o povo de

    If que haviam aclamadoAlymore, e que o tinham chamado para combater

    possveis inimigos, o poderoso guerreiro colrico, comete varias

    atrocidades e s para, quando uma anci grita desesperada queele estdestruindo seus "prprios filhos", o seu povo. Atnito, elefinca no choseu as (escudo) que imediatamente se transforma em uma enorme laje de

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    pedra ,num lugar hoje chamado de "ta Als" ,e decide ir embora e nunca

    mais voltar If.

    Quando rumava para fora dos arredores de If,em Mp, foi interceptado

    pelo povo que o saudavam como ni de If e suplicavam por sua volta. Ele

    ento satisfeito e envaidecido ,atende ao povo e finca no cho seu p

    (seu basto de guerreiro) transformando-o em um monlito de granito:

    p rnmyn) selando assim o acordo com o povo e volta em uma

    procisso triunfante ao palcio de If.

    Sabendo disso, Oblfon Alymore abandona o palcio e se exila na cidade

    de lr. rnmyn ascende ao trono e se torna o 4 ni de If at sua

    morte. Oblfon Alymore, retorna do exlio e reassume como o 5 ni de

    If e reina desta vez, com sucesso at a sua morte.

    AjakOAlfin Oy, o Oba Ajak, meio irmo deSng, era muito pacifico,aptico e no realizava um bom governo.

    Sng, que cresceu nas terras dos Tapas (Nupe), local de origem de

    Toros, sua me, e mais tarde se instalou na cidade de Kso, mesmo

    rejeitado pelo povo por ser violento e incontrolvel, mas sendo tirnico,

    se aclamou como Oba Kso. Mais tarde, com seus seguidores, se estabeleceu

    em Oy, num bairro que recebeu o mesmo nome da cidade que viveu, Kso e

    com isso manteve seu titulo de Oba Kso.Sng percebendo a fraqueza de

    seu irmo e sendo astuto e vido por poder, destronaAjake torna-se o

    terceiroAlfin Oy.

    Ajak, tambm chamado de Dad, exilado, sai de Oy para reinar numa cidade

    menor, Igboho ,vizinha de Oy, e no poderia mais usar a coroa real de

    Oy. E, com vergonha por ter sido deposto, jura que neste seu reinado vai

    usar uma outra coroa (ade), que lhe cubra seus olhos envergonhados e que

    somente ir tir-la quando ele puder usar novamente o ade que lhe foi

    roubado. Esta coroa que Dad Ajakpassa a usar, rodeada por vrios fios

    ornados de bzios no lugar das contas preciosas doAde Realde Oy, e esta

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    chama-seAde Baynni Dad Ajakento se casa e tem um filho

    que se chamaAganju, que vem a ser sobrinho de Sng.

    Sng reina durante sete anos sobre Oy e com intenso remorso das inmeras

    atrocidades cometidas e com o povo revoltado, ele abandona o trono de Oy

    e se refugia na terra natal de sua me em Tapa. Aps um tempo, suicida-se,

    enforcando-se numa rvore chamada de yn (yn) na cidade de Kso. Com o

    fato consumado, Dad Ajakvolta Oy e reassume o trono, retira ento o

    Ade Baynnie passa a usar oAde Alfin, tornando-se ento o quarto

    Alfin Oy. Aps sua morte, assume o trono seu filhoAganju, neto dernmyn e sobrinho de Sng, tornando-se o quintoAlfin Oy.ComAganju, termina o primeiro perodo da formao dos povos yoruba e aps

    seu reinado se d inicio ao segundo perodo, o dos reis histricos. Vimos

    : "De If at Oy, de Odduw aAganju, passando porSng."

    SngO que notamos nesse primeiro perodo yorubano, que na realidade, o que

    se fala de Sng, e a sua histria nos Candombls do Brasil, e de outros

    acima descritos, incorreto, levando os fiis a crer em fatos irreais.

    Inicialmente, averiguamos que Odduw umrs funfun masculino e nico,

    o pai do povo yorubano e no uma simples "qualidade" de rsnlou

    seja, so divindades totalmente distintas, inclusive, no se suportavam,

    pelos fatos vistos; e que tambm y Olkun, um rs feminino e a Dona

    do Mar, portanto da gua salgada, quem governa os oceanos e no o rs

    Yemoj, "Senhora do rio Yemoje do rio Ogun", divindade de gua doce, e

    muito menos me de gn e de outros filhosrs ela atribudos. Notar a

    acentuao diferente no nome do rs gn e do rio, pois so palavras

    distintas.

    Quanto a Sng, demonstramos que foi um mortal em sua vida noiy,

    portanto quando morreu, tornou-se um egn, pois seus pais eram mortais. O

    que ocorreu em sua vida, foi que uma de suas esposas, e a nica que o

    acompanhou em sua fuga de Oy, era a divindade Oya, loucamente apaixonada

    por ele, e no instante de sua morte ela o pega com o seu poder de rs e

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    o conduz diretamente a Oldmar, e por insistncia de Oya, Ele o

    "ressuscita" como uma divindade, j que em vida, Oya, perdida de amores,

    ensina-lhe vrios segredos dos rs, principalmente o segredo do fogo que

    pertencia somente a Oya, que ela lhe ensina e lhe d este poder e outros,

    por paixo. Esta afirmao facilmente notada, pois Sng anica divindade do

    panteo que assentada de forma material completamente diferente, isto ,

    em madeira, numa gamela sobre um pilo, sua roupa ritual composta de

    vrias tiras de panos, coloridas e soltas, caindo sobre as pernas, que

    lembra perfeitamente o tipo de roupa usada pelos Bb Egngn (ancestrais)

    e seu animal preferido para sacrifcio tambm o mesmo dos egn, dos

    mortos comum, o carneiro; existem tambm outras mincias, que aqui no cabe

    mencionar.

    Nos Candombls, citamAjakeAganjucomo sendo "qualidades" de Sng, que

    agora sabemos isto no possvel, pois,Ajak seu meio irmo eAganju( seu reinado

    foi longo e prspero, teve a faculdade de domesticar animais selvagens e rpteis

    venenosos; tinha em casa um Leopardo manso), filho de Dad Ajak, portanto seu

    sobrinho, notriamente pessoas mortais e completamente distintas, que fazem parte da

    famlia de Sng, mas no tiveram a honra de tornarem-se rs, mas so ancestrais

    ilustres. Tambm no Brasil, faz-se uma cerimnia chamada de "Coroa de Dad" ou "Ad

    Baiyani". que a coroa levada ritualmente em uma charola durante as festas do ciclo

    deSng chamada de Banniou lyamasse, que representa a me de Sng. Ora,

    sabemos que quem usou este ade foi,Ajak, apelidado deDad, de quem Sng lhe

    roubou o trono, e que a me de Sng foi Toros, filha de Elmpe, rei dos Tapa, e que

    ela no tem nenhuma importncia teolgica, somente histrica, por ter sido me de

    umAlfin.

    Sociedade Ogboni

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    Resumo: RESUMO: O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo

    possui um conjunto de peas de metal fundido usados por uma instituio tradicional dos

    iorubs, Nigria, de carter poltico-religioso chamada associao gbni. Os objetos

    dos gbniso normalmente feitos de liga metlica, referidos nas publicaes como

    "bronzes", sendo edanum tipo especfico desses objetos. O objetivo deste artigo

    apresentar um estudo dos edandessa coleo em que sistematizamos os dados

    documentais, histricos e etnogrficos correspondentes e os obtidos atravs da anlise

    formal, funcional e simblica das peas. Isso conduziu caracterizao das

    esculturas edanda coleo gbnido MAE, definindo-as como uma categoria especifica

    de produo tcnica, mas sobretudo estilstica e iconogrfica dos iorubs.

    UNITERMOS: frica: Iorub Arte africana: estilstica Escultura

    em metal Iorub: associao gbni Mitologia: Il Museus:

    estudo de colees.

    Apresentao

    O Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de So Paulo

    possui um importante, e indito, conjunto de objetos de metal

    fundido usados pela associao gbni1 dos iorubas,2 Nigria. Essa

    associao uma instituio poltico-religiosa tradicional,

    estreitamente relacionada ao culto a Il("Terra" ou "territrio", naforma de uma poderosa divindade feminina). As peas

    dos gbni so, em maioria, antropomrficas, e, freqentemente

    referidas nas publicaes como "bronzes".3

    Todas as esculturas dessa associao podem ser, genericamente,

    chamadas de edan, mas adotamos a definio simplificada

    apresentada por Morton-Williams (1960: 369), segundo quem o

    objeto edan "() consiste essencialmente de duas imagens de

    lato (ou bronze) uma de um homem nu, a outra de uma mulhernua unidos por uma corrente, e cada uma montada num espeto

    curto de ferro (raramente de bronze)".4 Assim,

    consideramos edan os objetos apresentados naTabela I.5 Devemos

    ainda acrescentar que, como o seu sinnimo, ll, edan um

    substantivo feminino (cf. Lawal 1995: 41-43 e Morton-Williams

    http://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela1.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela1.html
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    1960: 369), e que se trata, conceitualmente, de um objeto unitrio,

    ainda que formado por duas estatuetas.6

    As demais esculturas da associao gbni tm caractersticas

    semelhantes, mas no apresentam corrente, nem o pino de ferro.

    Em vez disso, tm uma base plana, ps grandes ou pernasajoelhadas, o que as sustenta na vertical, razo pela qual,

    presumivelmente, so usadas em altar, sendo algumas delas, por

    vezes, chamadas de onil ouajagbo. O objeto de que tratamos

    neste artigo se distingue dessas outras esculturas gbni,

    principalmente, porque cada membro possui o seu; um objeto

    sagrado que pode ser visto por no iniciados; e, pode ser retirado

    do santurio onde ocorrem as reunies dos membros gbni

    o ild.7 tambm, segundo a bibliografia consultada, o objeto que empregado para os usos mais diversificados dessa associao.

    Por conseguinte, ele se tornou seu emblema.

    O objetivo deste artigo apresentar uma caracterizao

    dos edan do acervo do MAE, sistematizando dados documentais,

    histricos e etnogrficos correspondentes e os obtidos atravs da

    anlise formal, funcional e simblica. Dividimos este artigo em trs

    partes: 1. Discusso bibliogrfica; 2. Estudo etno-morfolgico dos

    objetos que est subdividido em quatro itens constitutivos:histrico das peas; classificao funcional; anlise estilstica;

    anlise iconogrfica; e, 3. Concluso.

    1. Discusso bibliogrfica

    1.1 Da associao gbni

    O territrio iorubano composto por vrios reinos, onde os direitos

    sobre o uso da terra so patrilineares. O termo yoruba foi difundido

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    a partir do sculo XIX para designar os povos que, alm da mesma

    lngua, tinham a mesma cultura e tradies originrias de Il-If,

    onde, segundo os mitos, o primeiro rei iorub, Odduw,

    estabeleceu-se, vindo do leste.

    Apesar disso, essas cidades nunca tiveramuma centralizao poltica e esses povosno se chamavam entre si por um niconome.Aqui no Brasil, os escravos de origemiorub foram mais conhecidos pornag eem Cuba porlucumi. Aps a partilha colonialda frica (Congresso de Berlim de 1884-85), esses povos ficaram divididos e hojeesto localizados em cinco pases: amaioria no sudoeste da Nigria, uma parte

    na Repblica Popular do Benim (ex-Daom)e alguns grupos no Togo, em Gana e SerraLeoa (cf. Verger 1981: 11-16; Adky1999: 13-57). Veja o mapa ilustrativo.

    Mapa Parte do territrio iorub (Adaptado de Verger 1995)

    A associao gbni,8 tambm chamada desgb, , como j mencionamos, uma

    instituio com funes religiosas, judiciais e polticas. Ela uma espcie de assemblia

    de ancios da cidade, unidos ritualmente, que regem um importante culto estruturado a

    partir da cosmogonia dos iorubs o culto a Il, que, s vezes, tida como mais

    poderosa do que os orixs, e at me de todas as deidades iorubanas (cf. Morton-

    Williams 1960: 364 e Lawal 1995: 41-43).

    No se sabe ao certo quando essa associao foi criada, mas Ulli

    Beier (apud Costa e Silva 1996: 569) afirma que ela deve ter sido

    uma "ressonncia" de uma religio anterior s mudanas polticas

    efetuadas pela chegada de Odduw (o "primeiro rei", ou

    "fundador da sociedade") e seus descendentes aqueles que

    instituram o culto dos orixs. De acordo com Costa e Silva, os

    sacerdotes gbni conservaram o poder e o prestgio dentro do

    novo sistema porque sabiam pacificar Il e mant-la frtil. Os

    sacerdotesgbni, no segredo de suas reunies, teriam continuado

    a praticar sua f, cuidar da ordem e estabilidade social e da

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    manuteno dos velhos costumes. Por isso, conforme o autor, "os

    novos reis viram-se obrigados a prestar homenagem aos oniles, ou

    donos da terra".

    Notamos a semelhana desses dados com os colhidos e publicadospor Morton-Williams (1960: 364), que segundo a tradio, " a Terra

    () existiu antes das divindades e o culto gbni antes da realeza.

    A Terra a me a quem os mortos retornam. A Terra e os

    ancestrais, no as divindades (orixs), so as fontes da lei moral".9

    O texto mais antigo a que tivemos acesso sobre a

    associao gbni do Coronel Ellis, que data de 1894. Nessa

    obra, ele j aponta dois aspectos dessa associao que foram

    questo de controvrsia durante todo o sculo XX e sobre os quais,at hoje, no h consenso entre os africanistas: a denominao de

    "sociedade secreta" e a ambivalncia de sua competncia que

    compreende, ao mesmo tempo, assuntos religiosos e seculares.

    Ellis (1894: cap. V, 2 ) v a gbni como uma instituio tirnica:

    "acredita-se popularmente que os membros possuam um segredo

    do qual deriva seu poder, mas o nico segredo parece ser o de

    uma poderosa e inescrupulosa organizao".10 Frobenius(apud Morton-Williams 1960: 362), explorador e viajante alemo,

    partilhava concepes semelhantes quando, em 1913,

    caracterizou a gbni da cidade de Ibadan como uma "Companhia

    de Decapitao Ltda".11

    Esses dois autores reproduzem as ideologias evolucionistas

    reinantes na virada do sculo XIX para o XX, acreditando que as

    sociedades europias estavam num estgio "superior" de

    civilizao. Deste modo, todas as prticas culturais que seafastavam do padro ocidental, principalmente os assuntos

    concernentes ao Cristianismo, eram prontamente consideradas

    como prova da "inferioridade" de tais povos, e, conseqentemente,

    essas prticas culturais eram desprezadas, estando, nessa poca,

    seus praticantes sujeitos perseguio severa do governo colonial.

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    Arewa e Stroup assinalam opinies diferentes quando se referem

    s idias de Webster, que v essa associao como "o ltimo

    desenvolvimento da sociedade tribal", e tambm de Dennett, que

    sugere "um aspecto senatorial" para essa associao, o qual

    protegeria o interesse pblico do despotismo do oba(rei) (Webster,Dennett apud Arewa e Stroup 1977: 274-276).

    William Bascom (apud Morton-Williams 1960: 362 eapud Arewa e

    Stroup 1977: 274-276) refuta a classificao de "sociedade

    secreta" e afirma que, sociologicamente, a associao

    semelhante a outros grupos ou associaes religiosas iorubs

    como dosEgngn eAgemo. Ele acredita que essa classificao

    imprpria e advenha da distino rigorosa que as culturasocidentais fazem entre a Igreja e o Estado. E, mesmo que

    considere a associao gbni como religiosa, admite o papel

    poltico que ela tem na organizao social iorub.

    Morton-Williams (1960: 362), por sua vez, acredita que ela seja

    uma tpica "sociedade secreta" pelos seguintes motivos: seus

    membros tm poderes seculares porque proclamam poderes

    msticos, o que lhes outorga privilgios em relao aos noassociados; acredita, tambm, que ela seja seletiva, que exige

    algumas qualidades e feitos dos que pleiteiam integr-la; e, ainda,

    que seus dirigentes tenham o direito de impor sanses queles

    que revelam seus segredos e procedimentos ou quebram os

    acordos firmados.

    Essa associao tem poderes maiores que os do oba, pois so seus

    sacerdotes que fazem os funerais e o processo de entronizao,cujos ritos so fundamentais na instaurao, legitimao e

    manuteno da ordem social e poltica . H um festival anual na

    Nigria, em que o Basrun, chefe doy Misi12 joga If13 para saber

    se o duplo espiritual do oba ainda suporta sua estadia na Terra.

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    Estando inapto para governar, o oba levado a cometer suicdio,

    fazendo-se envenenar (Morton-Williams 1960: 364).

    A gbni possui dois graus de iniciao e participao: o "jnior"

    ou We-we-wee o "snior",Ologboni ou Alowo. Um membro que

    entra no We-we-we no faz parte dos rituais secretos at ser umgraduado quando, ento, recebe o ttulo de Ologboni.

    Um Ologboni especialmente nomeado comoApn, sendo ele o

    responsvel pelas funes judiciais do culto. H um pequeno grupo

    de mulheres existentes na associao, bem menos numeroso em

    relao ao dos homens, elas nunca presidem os rituais. So

    chamadas Erel e representam os interesses das mulheres da

    cidade nas reunies (Morton-Williams 1960: 365-370). O ttulo

    de Erel aparece no Brasil atribudo dirigente da associaofeminina Guld que tambm existiu na Bahia at os anos 1930

    (Carneiro 1967: 64).14

    De acordo com Lawal (1995: 37), pode-se dizer, em sntese, que a

    associao gbni cultua o "esprito da Terra", Il, para assegurar

    a sobrevivncia humana, a paz, a felicidade, a estabilidade social

    da comunidade, a prosperidade e a longevidade. Isso dissolve,

    definitivamente, a impresso pejorativa com que ela foi descrita

    pela antiga etnografia.

    A maior parte de nossas informaes vieram de Peter Morton-

    Williams, que fez pesquisas na cidade de y, Nigria, em 1948, e

    as publicou em 1960. Foi quem primeiro descreveu a

    associao gbni com maiores detalhes, delineando seu papel

    poltico e descrevendo rituais e crenas religiosas que sustentam a

    sua funo no poder secular. Destacam-se, porm, outros autores

    de referncia cuja leitura foi de grande importncia para nossotrabalho: Dennis Williams, que, entre 1962 e 1963, fez entrevistas

    com membrosgbni e com osAkedanwaiye (artesos

    especializados em edan), estudando os objetos em campo e em

    colees, tais quais as da Universidade de Ibadan e do Museu

    Nigeriano de Lagos; L.E. Roache, que pesquisou durante os anos

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    de 1968 e 1969 na rea rural de Ijebu-Ode, Nigria; e, finalmente,

    Babatunde Lawal, que pesquisou durante os anos de 1966 e 1991

    em diversas cidades da Nigria, utilizando a tradio oral para

    interpretar questes polmicas como o significado do lado

    esquerdo e o gnero de Il (cf. item 2.4).

    No MAE, alguns folhetos em que se reproduzem informaes sobre

    as peas da coleo gbniapresentam dados da pesquisa inicial

    de Marianno Carneiro da Cunha.15

    1.2 Da confeco e utilizao do edangbni

    A matria-prima e a linguagem esttica

    A escultura gbni se diferencia da escultura feita para os orixs.

    Primeiramente, h diferena no material usualmente empregado.

    Enquanto as estatuetas de orixs, ou de outras entidades dos

    iorubs, seriam feitas de fibras, ferro ou madeira -16materiais

    facilmente degradveis -, a grande maioria das

    estatuetas gbni feita com ligas de cobre um material

    relativamente mais durvel (Williams 1964: 161).17

    Segundo Elbein dos Santos (1993: 39-41), o cobre e suas ligas soportadores de ax18 e esse metal faz parte do grupo do "sangue

    vermelho" do reino mineral. Mesmo que a pertinncia etnolgica

    ou vernacular dessa classificao seja refutada por Verger (1982:

    8), no de todo improcedente a suposio de que a essas ligas

    seja atribudo, assim como por grande parte da humanidade, pelos

    iorubs, um significado maior, por causa da cor, do brilho e at da

    tecnologia demandada no apenas para a extrao e manipulao

    de minrios, mas tambm pela sofisticao da tcnica deelaborao artstica do metal.

    Williams (1964: 139) caracteriza a esttica do edancomo icnica,

    linear "projeo no escultural de um desenho em cera",

    hiertica e arquetpica. Isto porque se trata de figuras humanas

    aparentemente tridimensionais, pelo volume, mas detalhadas, via-

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    de-regra, apenas de frente, reforando sua imobilidade corporal

    mas feitas de serenas expresses caractersticas (cf. destaque da

    Foto 2). Segundo ele, essas caractersticas contrastam com a

    abstrata, arquitetnica, descritiva e humanstica figurao dos

    orixs. Esse autor ainda afirma que essas diferenas so devidas adistintas funes: enquanto as formas estticas das estatuetas

    usadas no culto dos orixs apenas "simbolizam o esprito", a

    arte gbni sacralizada e adorada como se fosse o "envlucro do

    esprito".

    O arteso e sua obra

    O escultor de edan chamadoAkedanwaiye, que poderia ser

    traduzido, segundo Williams, como "aquele que trazo edan ao iy" o mundo material. Geralmente ocupada por um

    ancio, essa profisso evitada pelos jovens pois est associada

    impotncia e perda de filhos. Alm disso, acredita-se que

    homens viris podem alterar a forma sagrada da imagem. Isso no

    tolerado, pois ela deve ser fundida com todos os atributos que a

    torne um cone.

    A confeco de um edan relatada por Williams (1964: 143-145).Ela exige uma evocao contnua de um orix

    auxiliar.19 Freqentemente, acredita-se que esse escultor adquire

    poderes superiores e, por isso, as pessoas comuns o temem. A

    sucesso dessa arte geralmente de pai para filho, mas

    oApn quem, em ltimo caso, define quem ser

    umAkedanwaiye. tambm oApn quem certifica se a imagem

    est dentro dos padres aceitveis no culto, podendo rejeit-la.

    As fases de confeco podem ser ilustradas pela Foto 1,compondo-se de seis etapas:

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    Foto 1 Ilustrao das etapas de fabricao de uma das imagens do edan pela tcnica

    da cera perdida

    a) a providncia de um basto, normalmente de ferro,20 usado na

    estrutura da pea como eixo axial;

    b) a modelagem da imagem em argila; nessa etapa,oAkedanwaiye mantm uma viglia de trs dias e noites, durante

    os quais a imagem mantida no fogo para secar. Depois disso, ele

    faz libaes, simbolizando a importncia suprema da imagem, em

    sua forma de argila, associada com a Terra;

    c) o revestimento da imagem de argila com uma camada de cera;

    d) a elaborao dos detalhes de superfcie da imagem na cera,ltima etapa da modelagem que precede a fundio, em que so

    feitos sacrifcios adicionais. Intensas invocaes so feitas em

    nome do orix auxiliar da feitura, e nos intervalos so quebrados

    obis (nozes de cola, usadas tambm para a comunicao com o

    mundo espiritual) para se assegurar que o processo est indo bem;

    e) a fundio: o calor derrete a cera, que escorre por um orifcio na

    parte superior da pea de argila e o lugar, antes ocupado por cera,agora preenchido com a liga metlica derretida. Essa pea ,

    ento, embrulhada em um pano branco limpo e colocada para

    secar em um lugar seguro. Isso feito no ocaso do sexto dia;v f) a

    revelao da imagem: na manh do stimo dia o molde

    removido e o edan retirado. Isso deve ser feito de forma muito

    cuidadosa e sem fora. A imagem lavada e polida com um pano

    branco. O iniciado providencia miolo de um po de gros tpico

    (ikuru) que amassado em cima do novoedan. O obi lanadonovamente pelo arteso para se certificar que o objeto est pronto

    para ser levado para a casa do iniciado. Se a resposta favorvel,

    novo sacrifcio feito sobre as imagens junto com pimentas. Um

    pouco mais tarde, elas so mastigadas peloAkedanwaiye, que

    "fala" com o objeto fundido por intermdio do obi. No pr-do-sol,

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    finalmente, ele embrulhado em outro pano branco, junto com o

    seu molde, para ser levado ao santurio. L, lavado peloApn.

    O Olwo, o oficiante principal do culto, declara, ento, que

    o edan est pronto. J em sua casa, o iniciado enterra o molde

    num lugar secreto escolhido, onde o edan passar o resto de suavida (a descrio se refere aos edan de uso pessoal cf. item 2.2).

    Mas, embora deixado nesse lugar, o edan removido para

    propsitos ritualsticos, exclusivamente. lavado periodicamente

    com suco de lima e algumas ervas para conter a oxidao do

    metal e ser limpo do sangue sacrificial.

    A escultura e seu uso

    Como dissemos anteriormente, as esculturas gbnitm mltiplos

    usos. A literatura relata que o edanpode ser usado, por exemplo,

    para: prever o futuro; curar doenas; afastar "maus espritos";

    julgar cidados; enterrar defuntos, entre outros usos. Oedan o

    elo que une a comunidade a Il.

    Vale a pena destacarmos alguns rituais associados a essa

    escultura depois de sua confeco.

    a) Rito de entrada ao grau snior, segundo Morton-Williams (1960:

    368-369).

    O ingressante deve trazer os animais para o sacrifcio. Ele se

    inclina e toca o edan com a testa e os lbios antes de os animais

    serem sacrificados e antes de o sangue ser vertido sobre

    ele. Il (entidade simbolizada pelo edan) saudada e o iniciante instrudo pelo Olwo que conclui o rito com uma orao para a

    cidade, como sempre feito quando um sacrifcio vertido sobre a

    escultura. Uma corda com trs cauris (bzios) enfileirados

    amarrada ao redor do pulso esquerdo do ingressante e deve ficar

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    l at o terceiro dia. Ela apertada to fortemente que deixa uma

    cicatriz escura no pulso esquerdo, o sinal da iniciao.

    b) O mesmo rito anterior, relatado por Williams (1964: 145).

    No ild, um banho preparado para o iniciado numa bacia com

    gua na qual imersa uma escultura edanrecm fundida,

    previamente purificada por sangue de pombo e ervas medicinais.

    A cabea, mos, ps e genitais do iniciado so lavados pelo Olwo.

    Depois ele enrolado num pano branco da cintura para baixo.

    O Olwo invoca bnos para o ingressante, que passa o resto do

    dia evocando fora e pureza. Mais tarde, Il consultada, por meio

    do obi, para saber se os ritos foram apropriados e se o iniciado foiaceito. Se o rito no for apropriado, mas o iniciado for aceito,

    necessrio fazer outro ritual mais elaborado, com sacrifcios mais

    numerosos. Quando o rito apropriado e o candidato aceito

    por Il, faz-se uma reunio tarde onde todos os membros do

    culto danam, especialmente o iniciado, que dana freneticamente

    e invoca virtudes para si. A bacia do banho em que ele foi

    purificado continua no ildcoberta por um pano branco, em que

    fica a parte do seu dote associao gbni. Os ritos de orao epurificao continuam por dezesseis dias, depois dos quais o

    iniciado considerado um membro snior, umOlogboni.

    c) Rito de eleio de oficiante do culto segundo Morton-Williams

    (1960: 369).

    Quando um membro gbni eleito para uma funo de oficiante

    do culto, o edan posto em suas mos peloApn na presenados iniciados reunidos. Enquanto ele segura a escultura, dito que

    apesar de ele agora possuir o ttulo, nunca poder contar o que

    acontece no ild.

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    d) Brigas entre cidados com derramamento de sangue rito

    relatado por Morton-Williams (1960: 366).

    Na cultura iorub o derramamento de sangue humano no cho

    sacrlego, a menos que se trate de sangue sacrificial. Quando duaspessoas brigam e algum ferido, derramando sangue no cho,

    mesmo que a ferida no seja grave, considera-se ter havido a

    profanao de Il. Essa informao chega diretamente ao

    conhecimento do chefe judicial dagbni, oApn, pelo povo ou

    mesmo pelo oba to grave considerada a situao.

    Imediatamente ele manda um mensageiro levar um edan, o qual

    colocado ao lado do sangue derramado. OApnconvoca os outros

    oficiais gbni e ancios para se reunirem no ild, onde osadversrios so trazidos. OApn ouve a disputa e faz um

    julgamento tentando reconciliar as partes. Ambos pagam uma

    multa e providenciam animais para o sacrifcio. O sangue vertido

    sobre o edan. Se ficar evidente que uma das partes est mentindo

    e a disputa no puder ser satisfatoriamente reparada, uma

    provao imposta: o edan colocado em uma bacia de gua (em

    algumas outras localidades adicionado tambm um punhado de

    terra). Os disputantes so obrigados a beb-la. Tem-se que oinfrator (ou culpado) morrer dentro de dois dias.

    e) Quando da ofensa entre cidados, outro rito relatado por

    Morton-Williams (1960: 366).

    Algum que tenha sido seriamente ofendido por outra pessoa e

    que no queira estar envolvido numa disputa longa, cansativa e

    que envolva outras pessoas, e at feitiaria, pode apelar para aassociao gbni. Se o assunto trivial, oApn manda os

    disputantes procurarem seus chefes comunitrios ou os chefes de

    linhagem. Se o problema realmente srio, ele envia seu edan,

    convocando ambas as partes ao ild. O malfeitor precisa fazer um

    pesado pagamento em dinheiro e animais para o sacrifcio. Uma

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    esculturaedan trazida para fora e os animais so sacrificados

    sobre ela.

    f) Quando da disputa entre os iniciados Ologboni, ainda segundo

    Morton-Williams (1960: 366-367).

    Um Ologboni pode acusar outro de roubo ou de perseguir sua

    esposa. Em y, na reunio gbni que se segue acusao, uma

    escultura edan trazida para fora do ild e posta no cho. O

    acusado questionado sobre a acusao. Se ele concordar que

    verdadeira, oApn tentar restaurar as boas relaes. Se ele

    negar a acusao, precisa declarar na frente do edan: "Se eu for

    inocente, eu no sofrerei nenhum dano. Se eu fiz o que eles estodizendo, morrerei em dois dias". OApn balana um sino de

    bronze consagrado e todos os presentes gritam "Ax!". Na regio

    Egbado dos iorubs, as partes so postas para beber a gua em

    que a estatueta imersa.

    g) Morton-Williams (1960: 366) tambm se refere a rituais quando

    ocorre abuso de poder.

    A associao gbni tambm pode mandar uma

    escultura edan para outros homens nobres da cidade, que julgue

    estar ultrapassando os limites de seus direitos e privilgios.

    O edan, colocado na porta da casa desses homens, impede que

    algum cruze o porto principal, sendo um marco de vergonha,

    que sinaliza a atitude inconveniente do morador. O edans pode

    ser removido quando o culpado reconhecer sua falta com

    a gbni e fizer o pagamento de uma pesada multa, que consisteem animais para serem sacrificados sobre as imagens.

    h) Williams (1964: 146) refere-se a um rito funerrio

    dos Ologboni usando o edan.

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    A escultura edan tambm desempenha um papel importante nos

    ritos morturios dos membros da associao. O corpo entregue

    ao oficiante que preside a volta do "esprito" do defunto para o

    "tero" de Il. Os parentes compram animais, cujo sangue alm de

    essncias materiais so vertidos sobre o cadver. So feitasmarcas ao redor do pulso esquerdo do corpo. Isso significa a

    remoo dos segredos concedidos durante a vida. Durante esse

    rito o edan fincado na terra ao lado das tmporas do cadver,

    enquanto a corrente que liga as duas partes da escultura repousa

    sobre a cabea. O edan s retirado para o enterro, ele nunca

    sepultado junto com o defunto. Aps o sepultamento, o edan volta

    aoild.

    i) H, finalmente, um rito que marca o casamento

    dosOlogboni relatado por Morton-Williams (1960: 367).

    Um membro gbni idoso, que teme ser envenenado por uma de

    suas esposas, possivelmente subornada por um rival, pode casar-

    se com uma jovem, mandando suas outras mulheres viverem em

    outro lugar. A nova esposa deve cozinhar e cuidar dele sozinha. Ele

    a leva ao ild e, l, parte em dois um obi; com a ponta do edan eleapanha um pedao e o oferece para ela, pegando o outro para si

    mesmo. Os dois comem cada qual a sua parte, sendo, assim,

    considerados unidos ritualmente como as duas figuras que

    compem a escultura edan, e dito para ela que se o trair

    certamente morrer ou ficar louca.

    . Estudo etno-morfolgico dos objetos

    2.1 Histrico das esculturas edan da coleo ogbonidoMAE-USP21

    A primeira pea dessa coleo (Foto 2) foi comprada em 1972 da Galeria Segy de Nova

    York, especializada em arte africana. Essa galeria, na pessoa de Ladislas Segy, manteve

    correspondncia com o MAE nessa fase inicial de constituio do acervo, vendendo

    peas que atendessem aos critrios estabelecidos pelo Museu. Da associao gbnis

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    foi adquirida essa pea.22 Os demais edan foram trazidos da frica pelo Prof. Dr.

    Marianno Carneiro da Cunha, que foi leitor da Universidade de If, na Nigria entre 1974

    e 1976.23 As peas foram compradas em entrepostos de venda de arte tradicional no

    perodo dessa

    - objetos simblicos: elementos que acompanham as figuras, como por exemplo,

    amuletos, bastes, coroas e emblemas;

    - gestual: nota-se a posio corporal (em p, sentado, de joelhos) e

    a posio dos membros; e,

    - material: cor e qualidade do metal ou liga usados.

    d) observaes: campo em que foram anotadas referncias de

    esculturas semelhantes, alm do estado de conservao da pea,como os defeitos encontrados, e, dados relativos superfcie

    metlica . Esse tipo de objeto, por suas caractersticas materiais,

    est sujeito a alterao qumica (corroso), o que justifica a

    deteriorao em que a coleo gbni se encontra, sendo

    necessrio identificar sua origem e sua gravidade, para adotar

    meios adequados de interrupo desse processo e de proteo

    futura.26

    Aps os desenhos procedeu-se a uma diviso inicial das mesmas.Separamos as peas em "grupos" e "sub-grupos" por critrios

    morfolgicos. As categorias preliminares encontradas podem ser

    vistas naTabela III.

    Com aTabela III, procuramos orientar o estudo bibliogrfico, de

    maneira que as pesquisas feitas at o momento sobre a

    associao gbni fornecessem subsdios tericos para se atingir

    os objetivos desse trabalho.

    Notamos que a maioria das esculturas (77%), formada por casais(pares masculino-feminino, no caso das peas de corpo todo, e

    pares que no exibem os sexos, como so as esculturas s com a

    cabea). Esses pares esto, na maioria das vezes (69%), ligados

    por corrente. Mesmo as estatuetas que no possuem corrente tm

    argolas, sugerindo a unio de uma imagem outra por uma

    http://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela3.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela3.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela3.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela3.html
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    corrente provavelmente perdida (exceo apenas do edan 8). Isso

    ocorre porque a presena e ligao do masculino e do feminino

    tm significado religioso.

    Segundo as informaes que Morton-Williams (1960: 369-372)obteve, a Terra, assim como sua contraparte, o "cu" (Olorun), no

    representada por nenhum smbolo na arte iorub, entretanto ela

    personificada no edan. As imagens, segundo ele, representam

    um Ologboni e uma Erel servindo ao seu mistrio,Awo.27 Williams

    (1964: 142) afirma que "o par, masculino e feminino simboliza a

    unio do cu e da terra na qual a existncia humana baseada".28

    No sabemos se correto dizer que Il seja a contraparte

    de Olorun, como inferem os dois autores. Elbein dos Santos (1993:56) afirma que " comum referir-se terra

    como iy subentendendo-se queIl, a terra, no compreende a

    totalidade do iy e que ao falar-se de run, no se trata apenas

    do cu, mas de todo o espao sobrenatural".

    Como escreve a mesma autora, a traduo de Olorunpor "cu"

    pode levar a enganos. Sabemos que iy erun so os dois planos

    da existncia. O iy o mundo material, concreto (a terra, asguas e, inclusive, o cu, que se chama snm). O run uma

    concepo abstrata, o mundo espiritual, transcendente, e no

    pode ser localizado em nenhuma parte do iy , pois ele " um

    mundo paralelo ao mundo real que coexiste com todos os

    contedos deste. Cada indivduo, cada rvore, cada animal, cada

    cidade etc. possui um duplo espiritual e abstrato no run;

    no run habitam pois todas as sortes de entidades sobrenaturais

    (), ou, ao contrrio, tudo o que existe no run tem sua ou suasrepresentaes materiais no iy "( Elbein dos Santos 1993: 54).

    Drewal (apud Lawal 1995: 45) interpreta as imagens

    do edan referindo-se especificamente ao par como os fundadores

    originais da comunidade, uma espcie de "Ado e Eva" dos

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    iorubs. Porm, Lawal refuta essa interpretao e concorda com a

    explicao de Morton-Williams (1960: 369) de que nenhuma figura

    representa um indivduo especfico, mas o masculino se refere ao

    papel do Olwo, como sacerdote-chefe dos gbni, e a feminina

    representa o papel dasErel. Lawal ainda acrescenta queo edan precisa estar em par para ser eficaz no culto. Segundo as

    palavras de um ancio gbni entrevistado por ele, "() o

    masculino vai junto com o feminino", 29ressaltando que a

    perpetuao do ciclo da existncia depende da unio dos sexos; e

    "o bem vai junto com o mal",30 significando que o cosmos iorub

    um delicado e inseparvel balano entre o bem e o mal. O

    feminino na cultura iorub indica positividade, complacncia; o

    masculino indica negatividade, rigidez. O fato de o conjunto todo(as duas imagens ligadas pela corrente) simbolizar Il, e no

    apenas a figura feminina, no quer dizer que essa divindade seja

    andrgina, mas sim que uma divindade completa; ela , ao

    mesmo tempo, "() firme e delicada, boa e m, generosa e

    perigosa.() Ela quem d a vida e quem recebe o morto, a Me

    de Todos e ainda a criadora da feitiaria"31 (Lawal 1995: 45-46).

    Agora que discutimos as interpretaes relativas unicidade da

    escultura edan, vejamos o que os autores escrevem a respeito dasesculturas que se apresentam s com a cabea e as que possuem

    o corpo inteiro. O grupo de edan que estamos analisando possui 54

    % das peas com corpo completo e 46 % delas com a

    representao apenas da cabea.

    Morton-Williams (1960: 369) relata que cada ild tem pelo menos

    dois edan que ficam sob responsabilidade doApn. Um maior

    que o outro e mais bem detalhado na execuo. Ele nunca saido ild. Os outros podem ser simplificados a um par de cabeas

    diretamente sobre os pinos de ferro (sem o corpo) e ligadas por

    uma corrente. So eles que seus mensageiros carregam. Essas

    peas so as nicas que podem ser vistas por no iniciados (com

    exceo dosgb tambores gbni) e as nicas que podem sair

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    do ild. Aps a iniciao, cada membro gbnirecebe um edan,

    que depois de sacralizado se torna um talism chamado ibowo,

    que protege o seu dono contra feitiaria usando o poder dos

    orixs.

    Williams (1964: 146) tambm relata o uso de edancomo amuleto.

    Segundo ele, esse edan semelhante aos outros, apesar de ser

    mais rstico, ter tamanho menor (entre 5 e 8 cm) e poder ser

    confeccionado tambm em chumbo, marfim ou eventualmente em

    madeira. Esse tipo de edan levado com o sacerdote,

    especialmente durante as viagens para ele ser reconhecido como

    membro gbni em outras casas de culto.

    Roache (1971: 53) tambm encontrou edan sendo usado como

    amuleto, devido seus poderes apotropaicos. Ele considera esse

    tipo de edan, via-de-regra, uma miniatura que tem cerca de 3 cm

    de altura, constitudo apenas pelas cabeas.

    A cabea, entre os iorub, a parte mais importante do corpo.

    chamada ori, que, segundo Ribeiro (1995: 191) significa

    "literalmente, cabea fsica. Esta , entretanto, smbolo da cabeainterior chamada ori inu, que constitui a essncia do ser e controla

    totalmente a personalidade do homem, guiando e ajudando a

    pessoa desde antes do nascimento, durante toda a vida e aps a

    morte. pois, a centelha divina no humano. Ori que recebe de

    Deus [Olorun] o destino, por ocasio do nascimento da pessoa".

    A partir dessa anlise bibliogrfica, e considerando nosso material

    emprico, deduzimos que existem pelo menos trs classesfuncionais para as esculturasedan. Suas caractersticas so

    agrupadas naTabela IV.

    A classificao se baseou na forma e tamanho do objeto. Porm, o

    que define a classe de edan o uso que fazem dele, mais que seu

    tamanho ou forma. possvel que imagens simples e pequenas

    http://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela4.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela4.html
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    sejam usadas dentro do ild e que imagens grandes e elaboradas

    sejam usadas nos cultos fora dele. O tamanho da pea, por si s,

    no expressa o menor ou maior poder da escultura, mas pode ser

    o reflexo do poderio poltico-econmico do reino iorub a que

    pertence. Desta forma, nos impossvel precisar que tipo de usoas peas edan do MAE tiveram, pois a documentao das mesmas

    no tem nenhuma indicao sobre isso. Essa classificao,

    portanto, serve como um instrumento de representao e

    ilustrao das diversas formas, possibilidades de usos e crenas

    que a escultura edan possui.

    2.3 Anlise estilstica

    A partir da observao das peas, dos desenhos e das fotografias,

    construmos modelos para os elementos presentes nas estatuetas.

    Eles esto agrupados naTabela V. NaTabela VI, condensamos os

    dados da tabela anterior, apresentando um mapa geral de todos os

    tipos de elementos presentes. Lembramos que, por serem

    modelos, podem sofrer algumas variaes de tamanho e de

    acabamento, de acordo com a pea. Os desenhos dos modelos

    foram tomados das vistas que do melhor visualizao doselementos caractersticos recorrentes. Na maioria dos casos, o

    desenho foi tomado de frente da figura humana. Quando usamos

    outras vistas, elas vo mencionadas na prpria tabela. Os

    desenhos daTabela V foram elaboradas em trao digital por

    Ademir Ribeiro Junior, a partir das fotografias tomadas por Wagner

    Souza e Silva, destacando elementos significativos resultantes da

    anlise estilstica (cf. Nota 5).

    A partir do exame das Tabelas V e VI, podemos apontar algumasobservaes que caracterizam as esculturas analisadas:

    a) as correntes so todas de ligas de cobre. A literatura consultada

    confirma que essas ligas so as mais usadas, mas registra tambm

    que, raramente, alguns edan apresentam corrente de ferro

    (Williams 1964: 157-160);

    http://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela6.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela6.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela6.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela6.html
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    b) a argola, usada para unir a imagem corrente, lisa e fica

    posicionada no topo da cabea, num plano perpendicular ao plano

    da face (exceo apenas dosedan 9 e 10, que possuem argolas na

    nuca, e do edan2, que possui a argola num plano paralelo ao plano

    da face);

    c) exceto o edan 13, todas as esculturas apresentam algum adorno

    na cabea, considerando-se tambm, como adorno, a forma de um

    cabelo artisticamente penteado (como o caso dos edan 8, 9 e

    10). Esses adornos possuem formas que sugerem um movimento

    para o alto. Isso pode ser observado no formato cnico das coroas

    dos edan 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8 e 9; no formato helicoidal das coroas

    presentes nas figuras doedan 9; no formato cuneano do cabelo dasfiguras doedan 8; e, no formato cnico e tranado do cabelo da

    figura do edan 9. Destacamos que o cabelo da pea 9 muito

    semelhante a um tipo de escultura de altar dos gbni, encimada

    com pontas como dois chifres. Morton-Williams (1960: 370,

    prancha IIa), apresenta um exemplar do Museu Nigeriano, que tem

    cerca de 76 cm de altura, e chamada onil ou ajagbo isto para

    apontar, aqui, um exemplo de recorrncia de elementos das

    estatuetas de altar nos edanpropriamente ditos;

    d) os elementos fisionmicos (olhos, nariz, boca e orelhas) esto

    presentes em todas as estatuetas (com exceo da orelha, que,

    quando presente, muitas vezes est voltada para trs, no sendo

    vista, normalmente, de face). Isso ocorre por causa da importncia

    que a cabea tem em relao s outras partes do corpo (cf. item

    2.2), mas tambm pela valorizao da parte frontal da maioria

    delas;

    e) todas as figuras das esculturas possuem olhos grandes e o

    globo ocular projetado para fora. Isso uma caracterstica muito

    marcante da figurao humana na arte gbni;

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    f) todas as figuras possuem a boca aberta. Isso pode ser uma

    referncia palavra. Nas tradies africanas a palavra falada tem,

    alm de um valor moral fundamental, um carter sagrado

    vinculado sua origem divina e s foras ocultas depositadas nela.

    Alm disso, a fala teria o poder de colocar em movimento forasque esto contidas dentro do homem, sendo, assim, a

    materializao ou exteriorizao das vibraes dessas foras. Por

    ter um valor to significativo e importante, a palavra no usada

    desnecessariamente e sem prudncia (Hampt B 1982);

    g) a barba um elemento que simboliza a sabedoria e a

    longevidade. De fato, os sacerdotes gbni so ancios grandes

    conhecedores da cultura iorub, pois so iniciados no jogo de If egrandes depositrios da tradio oral. A barba no um bom

    parmetro para a identificao do gnero das figuras porque as

    femininas tambm podem ser esculpidas com esse elemento

    (cf. edan 2);

    h) todas as figuras femininas, que apresentam a figurao humana

    completa, possuem seios, e tm as mos estendidas em gesto de

    oferecimento (cf. item 2.4);

    i) quanto ao gestual e aos objetos, observamos as caractersticas

    abaixo:

    - quando as figuras do edan no esto fazendo o gesto

    tpico gbni (mo esquerda sobre a direita) ou segurando os

    seios, no caso das femininas, elas portam alguns objetos nas

    mos;

    - as figuras masculinas seguram dois tipos de objetos; um

    relacionado ao gnero masculino um faco ou um porrete que

    fica na mo direita (o lado direito masculino para os iorubs); o

    outro tipo relacionado ao gnero feminino uma cabaa com

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    ala ou uma espcie de bornal -, que fica na moesquerda (lado

    tido como feminino);

    - as figuras femininas, por outro lado, seguramapenas um objeto,

    que sempre relacionado ao gnero feminino (bacia, colher oudois bastes);

    j) as marcas corporais ou escarificaes podem ser sinais

    iniciticos (como os dois smbolos da lua crescente) ou marcas de

    identidade tnica (como os riscos no rosto);

    l) os adereos da cintura ocorrem tanto nas esculturas que

    detalham apenas a cabea quanto nas que se apresentam decorpo inteiro;

    m) a vagina geralmente sutil (um vinco no baixo-ventre) ou pode

    nem ser evidenciada, enquanto o pnis aparece em todas as

    figuras masculinas de corpo todo, e exageradamente grande;

    n) as figuras do edan quase sempre esto sentadas (exceto

    o edan 8, no qual as figuras esto em p). A posio sentada associada em vrios lugares da frica ao chefe, por isso, tambm

    uma insgnia de poder e autoridade uma postura freqentemente

    associada ao rei;

    o) a maioria das estatuetas possui pinos de ferro. Enquanto 5

    figuras (22% num total de 23 imagens) possuem pinos de ligas de

    cobre, 18 figuras (78 %) possuem pinos de ferro. Morton-Williams,

    na sua definio estrita de edan, menciona que tambmhedan com pino de "bronze", ainda que raramente (cf. Nota 4); e,

    finalmente

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    p) observamos que muitos dos elementos do edanpossuem formas

    inspiradas no imaginrio gbni que iremos examinar a seguir.

    Antes porm, enfatizamos aqueles que merecem destaque:

    - os quatro tipos de nariz encontrados nas imagens tendem a ter abase triangular, provavelmente inspirados na simbologia

    importante, como veremos, que o nmero trs possui entre

    os gbni;

    - os braos das figuras femininas, quando seguram os seios, ficam

    numa posio que lembra duas parbolas opostas, ou um duplo

    sinal da lua crescente;

    - a barba presente nos edan 1, 2, 3, 5 e 11 delineada de modo a

    lembrar, tambm, o smbolo da lua crescente; isso ocorre, ainda,

    com o par de orelhas das figuras presentes nos edan 4, 5, 6 e 11;

    - as coroas, tendendo a uma forma cnica, delineiam um falo,

    especialmente as coroas dos edan 1 e 11.

    2.4 Anlise iconogrfica

    A unicidade do casal ligado pela corrente, o realce dos sexos e a

    importncia da cabea j foram abordados quando da classificao

    funcional (cf. item 2.2), que, como vimos, est vinculada, do ponto

    de vista morfolgico, sobretudo a esses trs fatores. Agora nos

    ocuparemos em analisar a significao de outros smbolos

    recorrentes nas peas.

    s o lado esquerdo

    A preponderncia do lado esquerdo (s) sobre o lado direito (tn)

    est representada no gestual tpicogbni que coloca a mo

    esquerda sobre a direita com os punhos cerrados e o polegar

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    escondido (cf.Tabela VII). Eles sadam Il fazendo esse gestual

    trs vezes na altura do abdome, enquanto dizem uma saudao

    (Morton-Williams 1960: 372). Os iniciados tambm se

    cumprimentam com a mo esquerda e se movem para a esquerda

    enquanto danam ao som das batidas dos gb (tambores) dentrodo templo ou santurio ild (Lawal 1995: 43).

    Segundo Elbein dos Santos (1993: 70), "de maneira geral, o que

    masculino considerado como pertencendo direita e o que

    feminino como pertencendo esquerda" . Mas em Drewal

    (apud Lawal 1995: 43-44), consta que o lado esquerdo nas

    estatuetas gbni no est relacionado ao feminino, mas sim ao

    sagrado, e por conseqncia, aos assuntos potencialmente

    perigosos.

    Lawal discorda dessa acepo, recorrendo tradio oral,

    sobretudo aos versos do If, para afirmar que Il uma divindade

    feminina e que o lado esquerdo, s, representa o escondido, o

    suave, o poder espiritual feminino, enquanto o lado direito, tun,

    representa a fora fsica masculina, a rigidez (cf. um confronto

    entre essas duas concepes em Salum 1999: 168-170). Por isso, a

    mo esquerda metaforicamente conhecida entre os iorubscomo a "mo da paz" ou a "mo do segredo".32 Com esses novos

    dados, ele conclui que, na iconografia gbni, o lado esquerdo

    representa o feminino e o lao entre me e filho e entre os "filhos

    da mesma me" (Omo y), como os

    membros gbni costumeiramente se denominam.

    importante lembrar que, genericamente e universalmente,

    formas cncavas ou massas com reentrncias so associadas

    vagina e tidas como femininas. Fenmeno semelhante ocorre comas "cavernas" ou "grutas", e com a "terra". Na iconografia do

    Cristianismo primitivo comum vermos a Virgem Maria dando

    luz no interior de uma gruta, e no em um estbulo.

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    No romance "O mundo se despedaa" do escritor nigeriano Chinua

    Achebe (cf. Achebe 1983) fica evidenciado o papel central do culto

    terra tambm para os ibs. Tratando da questo, ainda que

    literariamente, o autor revela como a terra personifica-se em

    divindade feminina e como esse culto foi desestruturado peloscolonizadores. Considerando a proximidade geogrfica e cultural

    dos ibs com os iorubs, esse paralelo vem reforar a

    profundidade do significado de Il, como "territrio" ou

    "divindade", na compreenso do imaginriogbni.

    Eta o nmero trs

    O nmero trs muito recorrente na iconografiagbni. Podemosv-lo representado nos elementos triplos ou em forma triangular.

    ATabela VIII mostra alguns arranjos possveis, mas h muitos

    outros encontrveis, de forma idealizada, nos elementos de estilo

    (cf., por exemplo, as construes de coroas e narizes, ou

    estruturas das correntes e escarificaes daTabela V).

    De acordo com os autores consultados, a unio do masculino e do

    feminino na imagem do edansimboliza a formao do "terceiro".

    Seria como aquele gerado pela complementaridade de partes,aquele que se segue a progenitura, ou o devir, reiterando os

    laos entre passado, presente e futuro. Essa trade se estabelece

    quando um Ologboni visto com as duas figuras humanas no

    peito, usando o edan pendurado no pescoo, como mostra a

    renomada foto de William Fagg (Blier 1997:97, f. 78).

    O terceiro elemento Il, o mistrio, o prprio segredo

    compartilhado (Morton-Williams 1960: 373) que tem razesancestrais. Para Lawal (1995: 44), "o nmero trs (eta), ()

    significa poder dinmico (agbra), ambos fsico e metafsico. () A

    terceira parte Il/edan a fora da ligao da promessa,

    companheirismo, contrato, obrigao, ou responsabilidade

    moral".33

    http://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela8.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela8.htmlhttp://www.arteafricana.usp.br/codigos/artigos/003/tabela5.html
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    Esse nmero, segundo Morton-Williams (1960: 373), tambm est

    presente na concepo iorub dos trs estgios da existncia

    humana: a sada do run para viver no iy e eventualmente se

    tornar um esprito em Il. Os iorubs tambm acreditam na

    existncia de trs componentes "espirituais": m(arespirao);ara-run (um componente que retorna para o runpara

    renascer), e imole (que se torna um ancestral).

    Elbein dos Santos (1993: 71) aponta que trs so tambm as

    foras que constituem o universo e tudo o que existe: w,

    princpio da existncia,Ax, princpio da realizao, eb,

    princpio orientador. E, nos terreiros nags da Bahia a que se

    refere a autora, o nmero trs tambm est ligado terra: "todaao ritual no terreiro est indissoluvelmente ligada terra;

    desde Olorun, passando por todos os orixs at os ancestrais,

    todos so saudados e invocados no incio de cada cerimnia

    derramando um pouco de gua trs vezes sobre a terra" (idem:

    57).

    Os smbolo da lua crescente

    Drewal (apud Lawal 1995: 47) interpreta o smbolo da lua

    crescente como a abstrao de um pssaro, que um dos

    emblemas das "