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Maicon Roger Tiago Oliveira Rafael de Andrade José Danilo Rangel Vinícius Gomes da Silva mais q ue diz er , tran smitir . EXPRESSõES! Edição 03

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Maicon Roger

Tiago Oliveira

Rafael de Andrade

José Danilo Rangel

Vinícius Gomes da Silva

mais que dizer, transmitir.EXPRESSõES!

Edição 03

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*Capa; josé danilo rangel e vanessa galvão, lembrando os tempos de modelagem.

BEIJO uma forma de nos transmitir.

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ÍNDI

CE

José Danilo RangelAs águas estão subindo...............................................................................................11

O fazer poético.........................................................................................................15

Das regulamentações.................................................................................................27

10 dicas para aguentar o ônibus.................................................................................29

Rafael de AndradeMujiques....................................................................................................................06

Apresentação.............................................................................................................21

Dostoievski: a humanidade de um homem ridículo...........................................................22

Tiago OliveiraViver a dor................................................................................................................10

Maicon RogerCaminhos.....................................................................................................................26

EXTRA......................................................................................................................31DO LEITOR................................................................................................................32

AO LEITOR................................................................................................................33

PREÂMBULO.............................................................................................................04

................................

Vinícius Gomes da SilvaLetra................................................................................................................20

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PREÂ

MBULO................................O que é, afinal de contas, expressar? É por pra fora. Sentimentos, pensamentos, sensações.E fazemos isso de maneiras muito várias e diversas no decorrer dos nossos dias. Mesmo sem querer. Se estamos felizes, sorrimos. Se estamos tristes, andamos cabisbaixos. Queremos passar algo? Falamos, gesticulamos, escrevemos.Mas nenhum destes muitos recursos apareceude repente, como mágica. Cada um passou por um processo de desenvolvimento, um conjunto de transformações, ensaios, tentativas, até se tornar o que é hoje. Hoje, entretanto, vamos além. Não paramos no falar, ou no gesto, ou no verbo de alguma forma registrada, sempre que expressamos algo, dividimos com o mundo uma 

parte de nós, um pedaço, transmitimo-nos.

Nós, da revista EXPRESSõES, com muito esforço cotidiano, com muitos ensaios e experimentações,aprendendo um pouco por vez, sempre que organizamos a bagunça que é a ideia em estado bruto, sempre que lidamos com nossas emoções,sempre que esclarecemos nossos pensamentos e os transformamos numa edição, buscamos exatamente isto:

mais que dizer, transmitir! 

Setembro de 2011 

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Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

 Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa

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Conto

mujiquesRafael de Andrade

Mujique era a denominação dada ao camponês

russo, normalmente antes do país adotar o regime

socialista (1917). Ela indica um certo grau de

pobreza, uma vez que a maioria do mujiques eram

servos (chamados de almas na Rússia) antes das

reformas agrícolas de 1861.

Wikipédia

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Esta vila é formada por muitos camponeses,proletariados que não possuem, em sua maioria,formação intelectual alguma, mas que não se 

sabe por qual força, acreditam ser o que há de mais inteligente em toda região.

Nove quilômetros separam a capital desta pequena vila. As pequenas

casas que compõem o cenário rural desta região são intercaladas comgrandes azendas, criadouros de gado e por balneários onde se lavamalgumas gentes. Este cenário representa pereitamente toda característicadesta região. Enquanto a carne vaga em ônibus para o abatedourode todo dia, onde a máquina consome a vida, que já não é grande oupreciosa, outros ricos, bem pobres de espírito e intelectualidade, cantamseus males para prossionais – do inerno ou dos céus -, os que não estãonem no abatedouro nem com o machado nas mãos, vagam por entresbanhos, carnavais e bares inestados de intelectuais de esquerda e nossaelite artística e intelectual, estes que ao lerem meus escritos sentem coçaras orelhas e uma pontada na no lado esquerdo do estômago, estes queeu amo. Estes, cujo nome eu não pronuncio mais por ojeriza do que pormedo, escrevem sua literatura e seus sambas como quem escreve um‘querido diário’, contam suas experiências medíocres (e que outro tipode experiência poderia ter nesta terrinha, um ‘artistazinho’?) e trocamseus nomes por João, por Antônio, qualquer nome que não seja o deles,caracterizando assim uma conssãosocial transormada em arte! Maravilhados rios e matas desta região varonil.O que mais me oende dos deensoresdesta arte ‘daqui’ é que em suas casas,

deendem a leitura dos clássicos, dosoriginais, do que já oi concluído pelosgrandes e tomam a literatura comoum ato que pode ser realizado sem aleitura de uns russos e ranceses, especialmente de um Dostoiévski oude Balzac. Cansado de tagarelar – pois homens como nós só podemtagarelar, não somos homens de ação - sobre rutas da região, cidades,bois, “cultura” e tudo que possa azer propaganda de um ladrão qualquertendo como pano de undo “a região”, resolvi investigar pessoalmenteum enômeno interessante que se passava nesta tal “vila”, cujo nome eu

não irei pronunciar completamente, pois ainda temo por meus lhinhos,mas tudo começa com U. e seguem outras letras.Esta vila é ormada por muitos camponeses, proletariados que nãopossuem, em sua maioria, ormação intelectual alguma, mas que nãose sabe por qual orça, acreditam ser o que há de mais inteligente emtoda região. Credito toda esta “pomposidade” ao nome que a cidadecarrega, algo que gira em torno do universal e do regional, como seseus cidadãos pudessem carregar em suas costas os dois mundos assimenvolvidos. A elite política, econômica e mental da vila é ormada por

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Ele achou de bom grado queimar a casa de uns homens na cidade, raptar crianças, vendê-las aos comerciantes de escravas por apenas 

sessenta e três por cento do peso de suas almas, como sinal de protesto.

homens ormados intelectualmente, preocupados em salvar os pobresou em aumentar a orça de seu prestígio.

O ato que tive a oportunidade de presenciar oi que em decorrência damudança de ano, alguns espertos empreendedores da capital diminuíramem trinta e sete por cento o preço da ‘alma’, que já era mal paga, algo emtorno de cinco ou seis moedas redonduchas por dia. Um simples cálculode cabeça ez com que duas dúzias de moradores da vila se revoltasseme na ocasião, eu tava passando pela vila e ui tragado pela visão daquelapequena turba se reunindo em torno de umas garraas de cerveja. Assim,sentei para ver a reunião.Pude logo ver que de todos os que estavam ali, apenas um ou doisrealmente sabiam o que estavam alando. Um destes iniciou seu discurso

armando que neles consistia a rente revoltosa de toda a cidade econrmou a importância histórica daquele momento e quando a palavra‘histórica’ oi pronunciada, pude perceber algumas meninas suspiraremno canto da sala, como um pequeno orgasmo político que todosprocuravam. Permaneci calado com meu livro debaixo dos braços e dequando em quando, alguém voltava o olhar para minha pessoa e pensava

no íntimo: “eis um espião” e com medode represálias, eu balançava a cabeçaarmativamente toda vez que aqueleum pronunciava ‘história’, ‘cultura’ ou‘revolução’, as palavras mágicas. Assumi

esta atitude para me misturar à pequenaturba, pois com exceção de dois, todosse resumiam a balançar a cabeçaarmativamente e dar uns pequenos

gritos de – aparente – revolta.Quando o segundo homem alou, perdi totalmente a cabeça. Ele achoude bom grado queimar a casa de uns homens na cidade, raptar crianças,

  vendê-las aos comerciantes de escravas por apenas sessenta e três porcento do peso de suas almas, como sinal de protesto. Pensei no inícioque se tratava de uma brincadeira e por isto soltei leves gargalhadas,

esquecendo do medo que tinha anteriormente, quando todos me olharamcom certa violência. Meus risos cessaram e as cabeças se voltaram parao segundo homem. Este homem, que não tem nome, não tinha barba etinha o cabelo muito bem arrumado e alinhado com sua roupa, comotodo bom alador.Então, me levantei e tentei argumentar contra aquele plano maluco.O caminho do intelectual não é este, podemos causar conrontos edestruição apenas usando de nossas palavras, armei. As palavras não

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Notei na face dos revolucionários uma apatia maior que a do gado indo para o abate, sementender o que realmente ocorria no momento – ou em toda sua finita vida -, os homens fardados obedeciam ao rei gordo enquanto 

  jogavam gasolina em primos e irmãos, apenas obedecendo.

azem nada – disse o primeiro homenzinho – nossas orças vêm denossos braços que carregam madeira todos os dias para aquecer a roupa

de nossos senhores. Então parou e pensou um pouco na besteira quepronunciara em alto tom. Pensei então em argumentar a avor de umplano voltado para as ciências econômicas, como calcular o valor deuma alma, comparar com o valor da alma em outras cidades ao redordo mundo (que eu já não sabia se existiam). Então os gritos começarame pude ouvir em um canto da sala alguém me chamar de reacionário.Argumentaram todos que não haveria como levantar esta questão, poisquem mandava no preço das almas eram eles mesmos, os poderosos.Levantaram-se com a intenção de protestarem violentamente e eu ossegui, mesmo sendo empurrando por alguns no caminho. Na praça

da cidade, ocuparam alguns veículos e colocaram ogo, a polícia oichamada para o conronto e a gritaria oi geral. Os revolucionários jáse encontravam vitoriosos quando um gordo bem vestido, portandouma coroa na cabeça e um livro em uma das mãos chegou com seugrande carro. Levantou uma das mãose os policiais pararam. Levantou olivro e a maioria dos revolucionáriosparou, com a língua tocou sua coroae todos pararam, se deitando no chão.Permaneci em pé admirando aquelagura que, com apenas alguns gestos,

silenciara toda revolta e ele me olhoudiretamente nos olhos, não entendendoporque eu não me curvara.Os policiais começaram a jogargasolina nos homens deitados enquanto eu me aastava. Notei na acedos revolucionários uma apatia maior que a do gado indo para o abate,sem entender o que realmente ocorria no momento – ou em toda suanita vida -, os homens ardados obedeciam ao rei gordo enquanto

 jogavam gasolina em primos e irmãos, apenas obedecendo. De longe via umaça e o cheiro de carne assada enquanto aquela pequena turba era

assassinada, morrendo em silêncio, sendo ignorada pela história e tendocomo único registro, o apreço deste reacionário porco chauvinista,

 vejam a ironia em tudo isto.Enquanto os vinte e quatro corpos queimavam no solo da vila, outros

  vinte e quatro homens vinham da cidade para jurar lealdade ao rei,tendo como primeira tarea jogar na ossa o corpo destes traidores,anal, recebiam alimentação, transporte e o mínimo de conhecimento earte, o suciente para reproduzir a ideia de quem é mais poderoso e poristo, deve mandar.

Raael de Andrade

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   S   E   E   N   C   O   N

   T   R   A   N

   D   O 

Viver a dor

Tiago Oliveira

O pior que pode acontecer conosco é estar preso ao

passado, pois assim não conseguimos ter um presente,

muito menos um futuro, isso nos mostra que temos

que viver a dor, suportá-la, passarmos por ela pois,

lá na frente vai ter alguém para nos guiar. O pior é

que, quando você está vivendo no passado você acha

que tudo vai ser como antes, você age como antes,e não percebe que as coisas mudaram, e por que

isso acontece? Por que sempre tem algo que te faz

lembrar o passado, as pessoas que estavam lá, estão

presentes hoje. Mais não ache que isso é só com você

pois, chega uma época que todos nos sentimos assim,

e sabe qual é o pior? Ninguém pode te salvar, é só

você, você entra numa briga entre seu inconsciente

e sua vontade, apesar de que minha mãe sempre me

falou que vontade dá e passa, nesse momento ela (avontade) vai tá agindo como se fosse uma advogada,

lutando pelo seu direito de viver uma história. Mesmo

que a pessoa que você queira não esteja presente, não

entre em pânico, pois, talvez não fosse à pessoa para

você, então saia dessa baixa autoestima e tenha uma

vida alegre, com pessoas boas ao seu redor. Afnal,

amigos são para isso.

NAS PALAVRAS

Ninguém pode te salvar,é só você...

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Poesia

as águas estão subindoJosé Danilo Rangel

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confança,

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Luíz Vaz de Camões

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A construção das barragens no Madeira

Alagará uns cinquenta mil hectaresDa terra da tão amigerada beira,Ou seja, os bichos estão perdendo os lares.

Já se antecipando ao grande alagamento,Alguns dos seres moradores do barroVão deixando, pouco a pouco, o lar barrento,Num caminhar que é, no mínimo, bizarro.

Por isso, vemos chegando à área urbana,

Espantada pela enorme obra adventícia,A mais pegajosa, verde e kaianaOrdem migratória que se tem notícia.

São cobras e calangos e rãs e sapos,Que tirando os pés e corpos do atoleiro,Murmurando e prometendo alguns sopapos,Chegam ao asalto, ao concreto, ao umaceiro.

Já podemos vê-los subir pela praçaDa errovia, ao sol cão do meio-dia,

Embora um tanto cômica a sua desgraça,Ela causa menos risos que empatia.

Olhai, que desajeitados são,Quem tem pernas não as vai usando bem,Porém, apesar da enorme inaptidão,Pior estão aquelas que não as tem.

Os sapos saem primeiro da umidadeDos charcos e ao custo de bastante esorço

Já pisam a principal via da cidade,Que erve como um demoníaco dorso.

Pendulando os violões e as nédias panças,Pra lá e pra cá e pra lá e pra cá,Eles vêm, cantarolando as esperanças:“Que o mundo mude, a gente resistirá!”.

Os outros bichos vêm vindo logo atrás,

Divididos. Estes vêm amedrontados,Como esperando um barulho, um boom, um zásQue lhes mostre quanto estão desamparados.

Aqueles, cheios de esperanças e sonhos,Assistem o passamento das horasAnsiosos e agitados e risonhos,Contando cada segundo das demoras.

Uns outros, nem sabem o que sentir

Diante da transormação que se esboça,Não sabem se é certo chorar ou sorrir,Sem poder decidir, buscam por quem possa.

No undo, estamos entre bem e apreensivos,Pelo uturo que ainda se desenhaPara Porto Velho, e não sem motivos.É o Progresso e não há quem o detenha.

Mudam-se os governos, mudam-se as vontades,Mudam-se empresas, mudam-se as lideranças,

Com o desenvolvimento das cidadesMuda-se até o que se espera de mudanças.

Falta hospital para atender a demanda,A polícia em greve, os ônibus também,Mas a economia se desenrola e anda,Nosso Comércio nunca esteve tão bem.

E todo aquele caso cons operáriosDa Odebrecht? Como mesmo começou?

Foi uma briga ou por causa dos salários?Ou oi a própria empresa que conspirou?

Não sei o porquê, mas como é que oi eu lembro,Os comerciantes echando as portas,Em pouco, vazia a Sete de Setembro,E suas vicinais do mesmo modo, mortas.

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Por toda a cidade uma quietude, um receio...

Nas ruas vazias um temor agigantadoFazia seu lento e assolador passeio:Haveria ou não o motim anunciado?

E isso é porque o rio ainda nem oi desviado,Dizem uns - e quando tudo estiver pronto?Será assim, cada um por si, no seu quadrado?A ordem e o caos disputando ponto a ponto?

Outros deendem que em pouquíssimos meses

Estaremos melhor que o nosso habitual:“Isso já aconteceu bastantes vezes,Com progresso, há conusão, é natural.

Primeiro, a bagunça generalizada,Que é coisa normal do desenvolvimento,Depois, a cidade desorganizadaVai, por si mesma, ao restabelecimento.”

Porto Velho mudou e continua mudando,Havia postes e muitas casas de madeira,

E também gangs, onde me ui criando,Havia assaltos eitos com petequeiras.

Revisito um tempo já passado, quando,Lá na praça do baú, um monte de genteReunia-se pra ver como era, uncionando,A máquina instalada recentemente.

Era uma máquina de Coca-Cola. Sério!Muita gente, em torno dela, aglomerada,

Como diante de um antástico mistério,Abria a boca a cada lata a ser lançada.

Não é mais assim. Hoje a tecnologiaFaz parte do cotidiano local,Não é tão impressionante hoje, em dia,O aparelho antes tratado como o tal.

Porto Velho está mudada e vai mudando,

A invasão cede lugar ao condomínio,Não sei quantos prédios estão levantando,E é isso o que, hoje, causa algum ascínio.

Crescem, perto do Tribunal de Justiça,Grandes estruturas de concreto e aço.Depois que a questão militar já não viça,As construções ocupam aquele espaço.

Enquanto isso, junto à prodigalidade,

No mesmo processo a que damos graças,Mantém-se em grande expansão a quantidadeDe gente morando pelas ruas e praças.

Sujos, doidos, aleijados, marginais,Eis os vultos que se incrustam na paisagemQue boa parte dos órgãos municipaisPretende limpa de toda vadiagem.

Tem mais, muito mais coisas acontecendoÉ a Ceron que se torna Eletrobrás,

Os maus números do trânsito crescendoRápidos como o de placas e sinais.

Regularização dos mototaxistas,Sobe até o preço do que é de graça,Nos sinais, temos muitos malabaristas,Concorrência pra bailarina da praça.

A cultura erve, a noite ervilhoca,São saraus, peças, conerências, movimentos,

Boates, pubs, muita maconha, muita coca,Muito de tudo pra todos os segmentos.

O jornal nacional cotidianamenteNos olha, ala dos nossos hospitais,Exibem-nos num estado deprimente,Com doentes pelo chão berrando ais!

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A cidade, a rotina consolidada,

Às palmas inquietas da transormaçãoMostra-se de tanto a tanto mais mudada,Sorendo os eeitos da transmutação.

E cada gesto que sua ace altera,Cada movimento da alteraçãoA nossa vida tempera e destempera,Trazendo elicidade ou decepção.

Quando o Urso Branco passava na Globo,Com a bizarra pompa da rebelião,

Todo mundo assistia, temeroso e bobo,Mas não chegava a ir além disso, não.

Com o caso do Cassol e os deputados,A mesma coisa, matéria do antástico,“Governador denuncia apropinados”,Ficamos indignados, caso bombástico

E o que oi que a maioria de nós ez?Viu a conusão na rente da Assembleia,

Pela TV, e, não pela primeira vez,Aprendemos a conviver com a ideia.

Agora não. Não dá pra ngir que nadaAcontece, porque, aqui, o que acontece,Como num lago onde uma pedra é lançada,Gera uma onda, que repercute e cresce.

Continuadamente vemos novidadesQue nos causam receios, ou esperanças,

A nós, concidadãos de tod’as idades,Que vamos sendo pegos pelas mudanças.

Muda o governador, e é pé na bundaDe muita gente, porém, para outra gente,Há comemorações, a alegria abunda,Estão todos empregados, de repente.

Todo mundo, hoje em dia, tem moto ou carro,

Que quer dizer - mais veículos rodando,Que quer dizer - o trânsito está bizarro,Que quer dizer - muita gente se estropiando.

Temos um Shopping Center! Vai me dizerQue os teus velhos hábitos de compradorNão mudaram nem um pouco? Vai dizerQue não sentiu a dierença de valor?

E a gente nova que desembarca aquiCotidianamente? Vindos não sei de onde,

Sei o que na História, há tempos, eu já vi:Incha a população, o entorno responde.

Palestrantes vindos de muitos lugares,E de ministérios e secretarias,Ocupam, com seus sotaques e seus ares,Os púlpitos de nossas academias.

Dizem: nós já sabíamos que o uturoDo Norte era grande, tínhamos visões.

Pouco antes de “o trabalho será duro,Vendemos planos, metas e soluções”.

Não sei, não. Realmente não sei aindaOnde vai dar todo esse fuxo de eventos,Pode ser que numa Porto Velho linda,Pode ser que em dias e noites turbulentos.

É tanto de tudo, coisas boas e ruins,Que nem ouso dizer será assim, ou assado,

Mas posso garantir - buscar meios e nsÉ muito melhor do que car parado.

De resto, é o de sempre: tenha precaução,Tenha saúde, seja eliz, seja orte...O mundo tá de boca aberta, se nãoQuer ser mastigado, se liga. Boa sorte!

José Danilo Rangel

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Talvez possa parecer estranho que passados tantos

anos de seus primeiros poemas, o autor continue

se interrogando e discutindo consigo mesmo sobre

um ofício que já deveria ter aprendido e dominado.

Mas o autor deve confessar que, infelizmente,

não pertence a essa família espiritual para quema criação é um dom, dom que por sua gratuidade

elimina qualquer inquietação sobre sua validação,

e qualquer curiosidade sobre suas origens e suas

formas de dar-se.

 João Cabral de Melo Neto

D3C0d1f1C4Nd0

o fazer poéticoJosé Danilo Rangel

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á dois modos principais de seconsiderar aqueles que demonstram

grandes habilidades. Em primeiro lugar,atribui-se a um dom a causa da aptidãoimpressionante. A outra forma consisteem eleger o treino como responsávelpela evolução de uma habilidade até onível superior, quando as capacidadesapresentadas fazem queixos cair e bocaslançar longas exclamações de admiração.Podemos colocar da seguinte forma -para uns existem gênios por dom, paraoutros, os gênios por esforço. Supermane Batman são os maiores exemplos

destes tipos de perspectiva. De um lado,está Superman com seu poder derivadoda interação entre nosso sol amareloe sua fisiologia alienígena. Do outro,Batman, que através de seus esforços secapacitou, tornando-se Batman.

Não pretendo dissolver a questãosobre haver ou não talento, ou dom,nem defender que tudo no homem éconstruído a partir de sua relação como meio, ainda mais porque parece havermais questões ideológicas que lógicas no

confronto destas perspectivas. Se há ounão talento, se tudo é ou não construído,é para o momento coisa secundária,pois, sendo sim ou não a resposta paraos casos acima, o fato é que todas ashabilidades podem ser desenvolvidas,podem migrar de um nível inferior paraoutro, mais elevado, assim como podemfazer o caminho inverso, deixar deexistir, bastando para isso um tempo deinatividade. O exato conteúdo de minhaatual pretensão, entretanto, consisteem demonstrar que, embora muitodiversa de muitas outras atividadesque admitimos como resultante deaprendizagem, a atividade poéticaconstitui-se predominantemente de atose atitudes específicas e gerais de mesmanatureza, ou seja, que são aprendidase, embora nem todas conscientes,boa parte delas estão sempre sujeitasà manipulação deliberada. Defendo,portanto, que poetar é passível deaperfeiçoamento, assim como de

desaparecimento, conforme haja ou nãotreino.

Não creio haver escritor que,completamente guiado pela inspiração,pelo dom, como o boneco pelo titeiro,passe por todo o processo de criaçãosem que chegue ao seu conhecimentoqualquer um dos atos necessários daprodução textual. Da mesma forma,não creio que exista um outro tipo,o contrário, um escritor plenamenteconsciente de cada minúsculo gesto desua atividade literária. Enfim, entre tera ideia e depô-la sobre o papel muita

coisa acontece dentro e fora dos limitesda consciência. Não estou dizendo,também, que ambos os lados têm razão.Sou daqueles que não acreditam naexistência de dons e mesmo que entendaa participação de elementos além doterritório da consciência na atividadeliterária, defendo haver predominânciade atividade consciente no refinopaciente e laborioso da massa disformeque é a ideia de um texto mais quebastante para se fundamentar a relação

entre a prática e o aprimoramento daescrita.

Assumir ou não tal relaçãoparece ser questão menos objetiva, quesubjetiva.

Olhando por dentro cada uma dasposturas, a do dom e a da aprendizagem,vemos isso com mais nitidez. Comeste escopo, classifiquemos os poetassegundo sua própria classificação dofazer poético, separando-os em doisgrupos. No primeiro, estão aqueles quedefendem o dom, o talento, ou qualquercoisa além deles (como a loucura, a dor,anjos ou demônios) como a própriaforça motriz e guia determinante dofazer poético. No segundo grupo, estãoseus opostos, aqueles que acreditamque escrever poesia é como qualqueratividade intelectual, regida pela razãoe plenamente consciente. Para estes,escrever seria, na verdade o produtoexclusivo de instrução, a saber, dos meios

Superman é o representantemaior do gênio por dom, seupoder está além de seus esorços,

  vem gratuitamente do nosso solamarelo.

Batman, por outro lado, é opersonagem que melhor caracterizao gênio por esorço, pois ele setorna Batman a partir de contínuosinvestimentos ísicos e mentais.

expressões SET 2011 | 16

H

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Entendo que poesia é negócio de granderesponsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor de cotovelo,alta de dinheiro ou momentânea tomada de contatocom as orças líricas do mundo, sem se entregar aostrabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura,da contemplação e mesmo da ação.

Carlos Drummond de Andrade

e modos literários. Assim, basta que euconheça-os e pronto - escrevo bem.

Se eu admito que a razão de serum bom poeta está além de mim, ou seja,numa força qualquer que transcende

minha condição, seja a angústia, sejao talento, seja qualquer outra coisa,admito também não ter controle sobreo que faço, considerando que o que façonão deriva de atividades conscientes,mas de motivações diversas e paramim mesmo obscuras. Não sou de fatodono do que escrevo, sou apenas umaferramenta através da qual se filtramenergias por mim desconhecidas. E seeu quiser mais? E se eu quiser ir emfrente? Como faço? Não faço. Espero atéque meu dom resolva isso por mim. Seele simplesmente desaparecer tudo queposso fazer é lamentar o seu sumiço.Contudo, o bom deste modo de ver (euma das razões porque ele continuapopular) é que vendo a coisa assim, possome sentir especial, como fosse premiado,abençoado, pra ser mais exato. Tenho odom de escrever e por isso sou melhorque o mais gente.

Por outro lado, quando entendoque o fazer poético não se diferencia

nem mesmo de atividades básicas,como chutar uma bola, entendo assim,que tenho controle sobre os atosdesempenhados, que há deliberação noescrever, que posso, portanto, melhorarse me dispuser a me instruir mais.

Este tipo de visão tem muito sucessoentre os presunçosos, pois sendo donoe responsável por exatamente tudo queescrevo, diz-me a minha vaidade, mereçoexatamente cada microscópico elogio,afinal, fui eu quem aqui cheguei pormeus meios próprios e, acima de tudo,sozinho. Daí que não aceito dizerem queparte do que escrevo não é exatamenteproduto de uma atividade da qual estoucompletamente cônscio.

A segunda postura se destacada primeira por, pelo menos, aceitar apossibilidade de evoluir de um grau paraoutro, mais adiantado, aproxima-se aela, contudo, no exagero dos própriospressupostos em contraposição aos daatitude sua rival. Para o que escrevesob o signo da instrução a presençade movimentos fora do âmbito de seucontrole influindo no ato criativo sefor aceita, não o será tão facilmente.Escrever é para este tipo de autor umaatividade sua, sobre a qual ele intenta odomínio total – um sonho comparávelao de não ter controle algum. Este tipode autor talvez entenda, mas não intentaaceitar que escrever envolve muito maisque escrever, aproveitando, por exemplo,coisas do temperamento dos seus

adeptos. Não aceitar isso é deixar delado uma abundante fonte de reflexão e,portanto, ter a atividade literária, apesarde pensada, mal pensada.

Admitir a presença de guias

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conscientes assim como subconscientestraz a possibilidade de se pensar o quese escreve a partir de outros âmbitosde atuação e frequência, ampliando oalcance da reflexão, por conseguinte, seusresultados. Somos todos participantesda história, produtos e produtores do

nosso meio, se o autor entende isso, podeponderar sobre si e seu papel de maneiramuito mais abrangente que negando arealidade de suas interações ambientais,conseguindo, talvez, autonomia, talvez,pressupostos, talvez apenas a consciênciado que faz e de por que faz.

Quanto ao escrever em si,conceber a participação de processosmentais automáticos se articulandoa processos mentais controlados noato da escrita dá conta de responder a

questão sobre os componentes ativosdo fazer poético no momento em quese escreve, sem ficar sobre o muro, mastomando partido do desenvolvimentoda habilidade e não do miraculosoaparecimento. Processos automáticose processos controlados são conceitosda psicologia cognitiva, cuja elucidaçãopara o intento do presente texto nãoprecisa ir além do que automático econtrolado querem dizer no dicionário.Para ficar mais claro: automático querdizer automático e por controladoentenda-se controlado.

Admite-se que uma grande partedos processos mentais conscientementecontrolados, quando apresentados comalta frequência, tornam-se automáticos,ao que se dá o nome de automatização, ou

procedurização. Um bom e bem comumexemplo de automatização é andar debicicleta. No início, temos consciênciade cada mínimo movimento elaboradosobre a bicicleta, depois de um tempo detreino, entretanto, andar de bicicleta é,em boa parte, automático. Na verdade,

andar de bicicleta também é um ótimoexemplo da combinação de processosautomáticos e controlados. Enquantopedalamos, não ficamos cônscios detodos os movimentos executados comoquando estamos aprendendo, agora,decidir aonde vamos e por onde vamos,se dobramos à esquerda ou à direita,constitue um processo controlado.

Digo isto para isto dizer: escreveré como andar de bicicleta. É só subir epedalar, mas prestando atenção onde

se quer ir. De tanto repetir e repetir oato de escrever, de praticar os processosmentais envolvidos no escrever, algunsdeles acabam por se tornar algo alémda nossa consciência. Assim, quandovisto, até mesmo pelo próprio escritor,tomada num dado momento, como nãotivesse nem antecedentes, nem história,a habilidade parecerá algo surgido donada. O que não é, mas é uma habilidadedesenvolvida, ou seja, ponto pra quementende isso.

Embora pareça defender a práticacontinuada como definidora da evoluçãode uma aptidão até graus elevados, nãodefendo. Afinal, falamos todos os diase nem por isso, o contínuo exercícioda fala não faz mais que consolidarnosso modo de falar, com seus erros e

Torce, aprimora, alteia, limaA rase; e, enm,No verso de ouro engasta a rima,Como um rubim.

Quero que a estroe cristalina,Dobrada ao jeitoDo ourives, saia da ocinaSem um deeito:

Olavo Bilac

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Culto ao Gênio por Vaidade

Porque pensamos bem de nós, masno entanto não esperamos de nós quepossamos alguma vez azer o esboço deuma pintura de Raael ou uma cena talcomo a de um drama de Shakespeare,persuadindo-nos de que a aculdadepara isso é maravilhosa, acima de todasas medidas um raríssimo acaso, ou, seainda temos sentimento religioso, umagraça do alto. Assim, nossa vaidade,nosso amor-próprio, propiciam o cultodo gênio: pois somento quando esteé pensado bem longe de nós, como

um miraculum, ele não ere (mesmoGoethe, o sem inveja, denominavaShakespeare sua estrela da altura maislongínqua; a propósito do que, sepoderia lembrar o verso: “As estrelas,essas não se desejam“). Mas, semlevar em conta essas insinuações denossa vaidade, a atividade do gênionão aparece de modo algum comoalgo undamentalmente dierente daatividade do inventor mecânico, doerudito em astronomia ou história, do

mestre de tática. Todas essas atividadesse explicam quando se tem em mentehomens cujo pensar é ativo em umadireção, que utilizam tudo comomaterial, que sempre consideramsua vida interior e a de outros comempenho, que por toda parte vêemmodelos, estímulos, que nunca secansam de combinar seus meios. Ogênio também nada az a não seraprender, primeiro, a pôr pedras, em

seguida a edicar, procurar sempre pôrmaterial e sempre modelar nele. Todaatividade do homem é complicada atéo miraculoso, não somente a do gênio:mas nenhuma é um “milagre”. – Deonde então a crença de que somente emartistas, oradores e lósoos há gênio?De que somente eles têm “intuição”?(com o que se atribui a eles umaespécie de óculos milagrosos com que vêem diretamente dentro da essência!).Os homens, evidentemente, só alamdo gênio ali onde os eeitos do grande

intelecto lhes são mais agradáveis, eeles, por sua vez, não querem sentirinveja. Denominar alguém “divino”quer dizer: “aqui não precisamosrivalizar”. Depois: tudo que está pronto,pereito, é admirado, tudo o que vema ser é subestimado. Ora, ninguémpode ver, na obra do artista, como ela  veio a ser; essa é sua vantagem, poispor toda parte onde se pode ver o vir-a-ser há um certo arreecimento. Aarte consumada da exposição repele

todo pensamento do vir-a-ser; tiranizacomo pereição presente. Por isso osartistas da exposição são consideradosgeniais por excelência, mas não oshomens de ciência. Em verdade, aquelaestima e esta subestimação são apenasuma inantilidade da razão.

Friedrich W. Nietzsche,Humano, Demasiado Humano

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impropriedades. Ninguém se torna um orador,apenas falando todos os dias. A prática é parteimportante da internalização e do domíniode certos meios. Mesmo assim, para escrever,especialmente poesia, é preciso algo mais queinvejar o ourives como Bilac.

Ressalto - esse algo mais não vem pormágica.

Escrever é produto de aprendizagens -uma geral e outra, específica. Por aprendizagemgeral reconheça-se o resultado da interaçãocom o meio. É o resultado de cada experiênciavivida formando não apenas o escritor, mastodo o indivíduo em volta caracterizadocomo tal. Por aprendizagem específica,ou instrucional, entenda-se a maneira deassimilar conhecimento através de instruções,como na escola. Esta é uma categorização um

tanto arbitrária e serve apenas para assinalarque nem uma nem outra aprendizagem é adefinidora da qualidade de um escritor, mas asduas. Pode-se dizer que a experiência fornece omaterial, a técnica, a forma de modelá-lo. Porfim, concordo com Drummond, “entendo quepoesia é negócio de grande responsabilidade,e não considero honesto rotular-se de poetaquem apenas verseje por dor de cotovelo, faltade dinheiro ou momentânea tomada de contatocom as forças líricas do mundo, sem se entregaraos trabalhos cotidianos e secretos da técnica,da leitura, da contemplação e mesmo da ação”.

José Danilo Rangel

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Olhando pro céu posso perceber você sorrir Ê, cabeça não dá mais, vai explodir Sem você não aguento mais, eu quero é paz Agora é tarde e tudo ficou pra trás E não adianta mais eu confessar, você foi embora E eu estático a esperar E não adianta mais eu entender, você se foi Não sei se espero mais por você Não sei como escapar da nostalgia Fiquei em estado extremo de afasia Tentando sobreviver sem você Não há nada que me faça compreender Por que você se foi? E nem me explicou? Simplesmente me abandonouNão quero mais nenhuma explicação porque não há.Você despedaçou o meu coração.

Vinícius Gomes da Silva 

Letra

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 APRESENTA

ÇÃOAfirmo com aquela falta de modéstia que os artistas possuem (que mais tem a ver com a imensa capacidade de sonhar com

arrogância) que nossa intenção se aproxima da Literatura Mundial de Goethe, o ex-alemão e agora mundial escritor. A Weltliteratur representa a iniciação de uma literatura mundial, como ele mesmo afirmou: “a poesia da humanidade”.

A literatura em Rede visa o surgimento de uma literatura que ultrapasse as barreiras nacionais em prol da rede poética mundial. É 

um chamado para o “intercâmbio literário e artístico” a partir de traduções, resenhas e apresentações dos grandes clássicos e do que Baudelaire chamou de “novos poetas”, das novas produções.

O que se divulga e propaga é a diferença, o único em cada poesia ou prosa, respeito à singularidade, pela poesia, pela propagação da arte. Os conflitos sempre existirão no mundo,mas o que pinta o cinza da modernidade é a 

arte. Pela literatura em rede, pela literatura mundial.

Rafael de Andrade 

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dostoievski:a humanidade de um homem ridículoRafael de Andrade

Teria muito gosto em acompanhá-los no vosso

riso... não precisamente nesse riso à minha custa,

mas sim pelo carinho que me inspiram, se não me

fzesse tanta pena vê-los. É pena que não saibam a

 verdade. Oh, meu Deus! quanto custa isso de ser um

só a saber a verdade! Mas isto não compreendem

eles. Não, nunca compreenderiam isto.

Dostoiévski

Literatura em Rede 

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conto oi publicado originalmentena revista “Diário de um Escritor” editadopelo próprio Dostoiévski. A revista serviacomo espaço para resenhas, críticas, novaspublicações e outras intenções literáriasdo autor.

O narrador do conto é um homemridículo e um louco, mais um homemdo subsolo. Quanto mais estudava,

mais percebia ser ridículo, ao ponto dedesprezar o mundo e “tanto az” se esteexistisse ou não, se tornara indierentepara tudo. Nasceu com o pensamento deser ridículo e quanto mais se inseria na

“humanidade” mais percebia que ele e ahumanidade são ridículos.

Por sua total descrença, ele resolveque irá se matar e tem isso como certo.Voltando de um encontro na casa deum engenheiro, decide que será naquelanoite. No caminho encontra com umagarotinha que pede ajuda para sua mãe,mesmo sem ajudar, o narrador sente dor e

remorso pelo ato. Chegando a casa, refeteque se matar seria destruir o mundo que jánão possuía valor algum, “o mundo é umatributo da consciência”. Pensando na dorque sentiu e pensando nestas questões,adormece e tece seu sonho ridículo.

No sonho, ele atira em seu peitosendo logo em seguida transportadonum caixão. Clama pela “orça superior”e blasema (o velho debate de Fiódor:crer em um deus que odeia: debate quese seguirá por toda narrativa até o m:o amor acima de tudo é deus acima detudo, escondido): nem todo sorimentose comparará ao desprezo que sentirá. Onarrador passa a viver um sonho ondeum ser que apaticamente o leva por uma

  viagem. Nesta, o sol, o mundo, tudose repete e a personagem se vê rente auma Terra “igual a nossa”, inclusive oscontinentes, os menores detalhes.

Encontrou-se numa ilha “parecidacom um arquipélago grego”, onde aspessoas não oram manchadas pelo“pecado original” e aparentementebuscavam ajudá-lo. O ato interessanteé que estes homens viviam de ormaharmoniosa entre si e com a natureza, nãotendo a voracidade e a doença da terraoriginal, da nossa Terra.

O que ez o narrador ter consciência

de que não era um sonho que vivia, mas

O sonho de um homem ridículo – Son Smirchnôvo Tchieloviêka, de Fiódor Dostoiévski (1877) – tradução

de Vadim Nikitin, Editora 34.

Mas como eu posso transformar a Terra em paraíso?

O

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uma espécie de realidade consiste nointeressante ato de que ele corrompeuaquele belo sistema social. A rase queencerra a quarta parte do conto “O atoé que eu... perverti todos eles!” sintetizaesta parte, sintetiza o elemento viróticoda vida moderna, desta ome voraz quedomina tudo, que acaba por devorar opróprio homem.

Ele corrompeu a todos. Mentira,  volúpia, crueldade, vergonha (quetransormaram em virtude), honra (deonde surgiram as bandeiras e as guerras),o meu e o teu, a escravidão voluntária,tudo surgiu daí. No meio deles surgiu aciência. Quando se tornaram criminosos,a justiça, os códigos e a guilhotina, emnome da igualdade e raternidade.

Quiseram ser como antes, no

paraíso. Desejaram proundamente,

construíram templos para este desejoe sabendo de sua impossibilidade seprostraram diante deste desejo. Comtudo isso, amaram a si mesmos acima dequalquer coisa.

Nesta humanidade cada vezmais parecida com a nossa, os racoshumilhavam os mais racos. Do templo

  jorrou sangue, da nação justa nasceua guerra. No m, apenas o suicídio eo sorimento. Passaram a alar que osorimento é bom, pois nasceu da razão.A nova Terra tinha homens ridículoscomo o narrador se sentia no inicio danarrativa.

Ao nal, o narrador descobre que ohomem em sua plenitude é bom e tudoaquilo que “inventamos” é mal. O temploé uma violência, amar é a principal ideia,

a boa ideia. Vivemos em um mundo

O fato é que eu... perverti todos eles!

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onde as leis da elicidade é superior àprópria elicidade. A humanidade, sobesta perspectiva, criou para si estesinstrumentos de dor e sorimento, parao bem de ninguém. A religião surgecomo um paliativo para esta dor sem m.Anal, o bem está naquela criancinha quelhe serviu como guia para a consciênciade tudo isto.

Esta criança é uma trama. Apareceno meio do texto e impede o suicídio

do narrador aparecendo novamenteao nal como guia. Ela representa que,de alguma orma, ainda podemos nossalvar. Representa que a partir da criançapodemos compreender como um mundo“bom” se torna “mal” ou “humano”graças aos nossos processos. A criançarepresenta o éden perdido que deve serbuscado.

Raael de Andrade

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Sonho de

um homem ridículoFiódor Dostoiévski

(fragmento)

Mas a verdade dizia-me ao ouvidoque eu mentia, salvava-me doerro e dirigiu-me para o caminhoreto. Mas não consegui sabercomo é que alcançaram o Paraíso,pois não consigo exprimi-lo porpalavras. Perdi as palavras nosonho. Pelo menos todas as palavrasnecessárias, as mais precisas. Masisso não importa; eu caminhareipor esses mundos e anunciarei aboa nova, uma vez que vi com osmeus próprios olhos, ainda quenão possa exprimir o que vi. Mas éisto precisamente que não podemcompreender os trocistas. “Teveum sonho, como ele próprio diz;um delírio ebril, uma alucinação.”Ah! Isso é sensato? E cam todosinchados. Um sonho? Mas que éum sonho? Não será a nossa vidaum sonho? Esperem, que vou dizer-  vos ainda mais. Bem, admitamos

que isso nunca venha a realizar-se eque este paraíso não chegue nuncaa ser uma realidade (eu próprioadmito isto!); bem, pois, apesar detudo, continuarei anunciando a boanova. E, no entanto, como isso seriasimples! Num dia, numa só hora,tudo mudaria. Ama a Humanidadecomo a ti mesmo! Isto é tudo;isto é tudo e nada mais é preciso;saberás depois como hás de viver.E, além disso, só há uma verdade...uma verdade antiga, antiqüíssima,mas que é preciso repetir uma emil vezes, e que até agora não searraigou nos nossos corações. Oconhecimento da vida está acimada vida; o conhecimento da lei daelicidade... está acima da própriaelicidade... Eis aí aquilo contra quese deve lutar. E eu lutarei contra isso!Se todos quisessem, tudo mudariasobre a Terra num momento.

Em resumo: aquela pequenina salvou-me, pois, devidoàquelas perguntas, adiei a minha morte.

* imagens extraídas do curta metragem “sonhode um homem ridículo”, baseado no contohomônimo de Dostoiévski, direção e animaçãode Alexandr Petrov.

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Poesia

CaminhoMaicon Roger 

Que caminho é esse? Que parece ter um objetivo concreto,mas que na sua direção tudo é abstrato.Desvios dantescos em seus motivos,tracejos incoerentes com os “meus quereres” intuitivos.

Uma estrada sinuosa, estreita que muita vezes parece distorcer o destino previsto.Será que fui eu que escolhi tal rumo? Que nesse passeio Alguém me guiou? Mas eu não queria isto! 

Se me orientou,porque não me aconselhou a olhar por onde caminhar? Porque agora não sei se estou no sentido certo,não sei se vou chegar.Na verdade não sei que direção tomar.Acho que se Alguém me guia, esse só me ensinou a andar.

Enxergar e sentir seria mais importante, acho eu,numa jornada de cegos onde realmente quem tem um olho é rei.Posso estar sendo injusto com Quem me ajudou a chegar a tal ponto,todavia há outros pontos mais suaves onde permanecerei.

Onde estou está difícil de se manter, por isso parado não vou ficar.Vejo bem distante um lugar tranquilo...acho que posso escolher pra lá chegar,

Só tenho de dá um jeito de reaprender andar como me ensinaramSaber andar é importante! Isso me provaram.

O resto eu vou ter que aprender sozinho! Mas chego lá.Tchau pra quem fica! Na lama eu não vou ficar! 

Caminhos

Maicon Roger

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das regulamentaçõesJosé Danilo Rangel

Crônica 

Proibida a entrada sem camisa.

Proibido a permanência de menores depois das 22h.

Senhores clientes, favor não abrir as embalagens.

Não estacione - garagem.

Não pise no vaso, por favor.

(avisos comuns)

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Meu pai sempre comia as uvas do supermercado.No supermercado. Elas, rechonchudas elustrosas, deliciosamente úmidas, cavam

sobre um daqueles balcões rerigerados, de modo tal quequalquer um que por ali passasse sentia imediata vontade

de comer algumas. Quando íamos azer compras, meupai transormava a vontade em ato. Aproximava-se comaquela naturalidade desnatural de todos os que disarçamseus intentos, respirava undo, olhava para cima, para olado, então, erguia um cacho, erguia outro, dava umaolhada desinteressada, como quem pensa se vai comprar,depois, dava uma examinada meticulosa, primeiro nosdois cachos, depois em cada um, como osse um expertconsiderando todas as características do produto, e,nalmente, metia a mão. Pegava uma ou duas uvas e jogava-as na boca. Nisso se iam uns bons minutos, meupais ia analisando e abocanhando, era o seu rito. Semprecalmo, com cara de nem-aí, mas vigilante, esperando omomento de parar, ele ia comendo as uvas. Quando olanche começava a chamar a atenção, dava uma voltano supermercado e, passados uns minutos, voltava paraperto das uvas. Às vezes, quem estava por perto, vendo-ocomer tão à vontade, indagava, impressionado: Podecomer, é? Ao que meu pai respondia com toda a certezado mundo: claro, é pra provar! E agora, dois indivíduoscomiam uva de graça. Em pouco, dez indivíduos“provavam” a uva. Um pouco mais de tempo e não haviauva “pra provar”.

Eu vi a cena se repetir algumas vezes, assim comoo dia em que, ao chegar no balcão das uvas, meu pai se

deparou com uma placa não muito grande, onde se lia,em letras vermelhas: “Senhores clientes não ingiram asuvas: AGROTÓXICOS!”. Neste dia, meu pai hesitouum momento, mas, talvez considerando que aquilo erasó um jeito de lhe tirar a reeição, não deixou de meter amão nos cachos de uva. A cena oi engraçada, pois paraalcançar as uvas ele passou o braço sobre a placa, dizendoem tom de incredulidade: agrotóxicos... tá bom...Naquele dia, reparei que o número de pessoas a seguir oseu exemplo, oi bastante reduzido. Umas semanas maistarde, o supermercado Rocha e Costa só expunha suasuvas dentro daqueles recipientes de isopor e envolvidas

por plástico, ou seja, completamente protegidas do meupai e de seus possíveis adeptos.O contado acima serve apenas para ilustrar a

relação entre a estipulação do regulamento proibitivo(não comer uvas) e o evento que será transormadoem alvo de regulamentação (comer as uvas expostas nosupermercado), porque ela contém a regra primeira dodesenvolvimento das proibições seja lá o que e ondeelas proíbam. Será que os mandamentos anteciparamos problemas? Será que eles ordenaram “não matarás!”antes do primeiro homicídio, para evitá-lo? Ou seriapara evitar os próximos? Ou aquele outro “não cobiçarása mulher do próximo!” será que com isso se intentava

evitar o primeiro destes episódios? Certamente não, oprimeiro se reere ao comportamento homicida e ooutro ao comportamento adúltero, um problema para

a organização de muitas comunidades, eis porque aproibição.

Podemos denir uma lei geral: toda proibição éposterior ao ato prejudicial e tem a simples unção deeliminar sua ocorrência ou, pelo menos, diminuir a sua

requência. A comprovação do conceito está presente emcoisas muito mais cotidianas. Quando você entra nummercado e encontra uma placa com o seguinte aviso:“proibido entrar sem camisa” ou “proibida a entrada deanimal (ou de animais, isso parecer depender dos editoresdo mercado)”, você não pensa que aquele aviso só está aliporque um ou mais indivíduos entraram sem camisa norecinto, ou acompanhado por um ou mais animais? Você vai ao banheiro de um restaurante e encontra escrito àcaneta esereográca num papel amassado xado não sesabe com o que na parede “não pise no sanitário”, e issonunca te levou a pensar que aquilo só está ali porque umpessoal já pisou no vaso?

Mas o “não aça!” não é a única aceta daregulamentação, há também o seu oposto, o “aça!”.O “aça!” tem a mesma raiz do “não aça!”, um atogerando algo que num contexto se mostra prejudicial,tendo por maior nalidade, evitar este algo prejudicial,coisa que o “aça!” consegue por meio dierente do “nãoaça!”. Enquanto o “não aça!” procura inibir um ato,por este ser errado, o “aça!” procura estimulá-lo, poreste ser certo. O aviso nos ônibus em geral: “ale com omotorista somente o indispensável”, está lá à toa? Comcerteza, não. Imagine um motorista de tempos atrás, cujodivertimento no trabalho era bater aquele papo gostoso

com os passageiros. Num dia, ele tem que azer o balãomais rápido que o normal por conta de um pequenoatraso na saída, então, acelera, e, como conhece a maioriados passageiros da sua linha, aproveita pra conversarsobre a vida, o universo, ulanos, beltranos, o preço doeijão, da carne e tudo mais. Conversa vai, conversa vem,famengo ganha ou perde, não sei quem ez o gol, outrodeveria ter eito... POW! E o noticiário da TV tem umacidente envolvendo um ônibus para transmitir. Maisuns destes acidentes e alguém tem a ideia de azer aplaca e axá-la sobre a cabeça do motorista.

Uma vez eu ui a uma Lan House onde, depois

de azer o logon numa das máquinas, um aviso aparecia.O conteúdo sugeria, basicamente, que tomar banho eescovar os dentes antes de sair de casa era uma boa ideia.Baseado na sugestão imaginei que tipo de atitude porparte dos requentadores do lugar justicariam um avisodo gênero. Não demorei muito imaginando. Noutralan, encontrei numa aixa xada à base do monitor:PROIBIDO ACESSAR SITES PORNOGRÁFICOS.Dá pra imaginar por que, não dá?

 José Danilo Rangel

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Aguentar o ônibus

10 dicas para

01. Não vá, fique!Não é à toa que já zeram o que zeram com os ônibus em Porto Velho, usando ogo, paus e pedras, nem diícil imaginar porque omovimento, na verdade, o torpe gestículo politizado , “porrada no busão” tinha essa nome. Uma vez, um doido com um pedaço depau zanzava pela Sete, ali na altura da Campos Sales, e, passando por uns quinze carros, quando chegou na rente do ônibus, nãoteve hesitações, meteu-lhe a paulada no parabrisa. Pra ver que até doido em Porto Velho, detesta coletivo. Não sem razão. Andar deônibus em Porto Velho, hoje em dia, é uma aventura, uma desventura. Ônibus é terra sem lei, parece que o que preconiza os bons

hábitos e costumes não vale porta móvel adentro, é cada um por si, tem gente que grita, gente que ede, gente que acotovela, queempurra... Já vi transportarem gatos, cachorros, uma cadeira e um ventilador dentro de ônibus. Enm, pense muito antes de sair.Melhor ainda, se puder que em casa.

02. Abandone seus tabus!Ao que parece, algumas pessoas pegam ônibus para aliviar carência, para sentir um pouco do bom e velho calor humano. Pensoassim, porque é diícil imaginar que as pessoas se esreguem umas nas outras de orma tão vívida sem haver dolo. Se você é daquelesque não acham de bom tom certo tipo de interação corporal, achando haver hora, local e climas apropriados para a execução dosmesmos, prepare-se, pois ao subir num ônibus, você estará adentrando o reino do contato ísico não programado.

03. Deixe o nariz e os ouvidos em casaSempre há um cheiro que toma o lugar de destaque, ou um barulho. Ultimamente vemos os DJs de busão com suas caixas de som daBolívia. O que mais acho engraçado é que a invenção provavelmente não tinha como nalidade azucrinar passageiros de ônibus, oinventor deve ter pensado “Caramba, seria muito legal ter caixas de som portáteis, com entrada USB, eu poderia ir pra todo canto elevar as músicas que mais gosto para compartilhar com meus queridos amigos do coração”. Portanto, deixe alguns sentidos em casa,talvez onde você vá não seja mesmo preciso usá-los.

04. Uso os cotovelos!Você está perto da roleta, há um denso aglomerado de gente entre você e seu destino, a porta de saída, sua parada está quasechegando, ou melhor, o ônibus está quase chegando na sua parada. Você está todo espremido porque os passageiros atrás de vocênão sabem que você não é almoada. O que azer? Pedir licencinha? Por avorzinho? Não. Nada disso. Não é a palavra gentil o meiocapaz de mudar a multidão de lugar, é preciso o uso da coerção. Use os cotovelos.

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05. Alongue!A dierença entre o ônibus e a máquina de lavar é que a máquina de lavar não tem rodas. Se enchessem o primeiro com água e sabãoe o zesse rodar um tantinho que osse, teriam roupas muito melhor esregadas, tanto e de tantas ormas ele sacoleja. Parece que

motoristas de ônibus para trabalhar nas empresas de Porto Velho precisam ter no currículo, pelo menos, um ano de experiênciacomo Piloto de Fórmula 1. Freadas súbitas, curvas em alta velocidade e manobras equivalentes, são ou não são habilidades básicas deum Senna? Isso quer dizer que você vai precisar estar com a musculatura preparada para segurar, rmar, enm, alongue para evitardores musculares depois do passeio.

06. Mantenha a distância!Choveu? Não espere o ônibus próximo à pista, pois, um dos pequenos prazeres dos motoristas, inclusive os de ônibus, consiste emsapecar lama em quem está próximo à pista. Então você pensa “não, eles são legais”. Pode ser verdade. Mas imagine passar horas ehoras dando volta num circuito preestabelecido azendo paradas regulares, obedecendo às leis de trânsito e sempre atento, pois nóssabemos como está o trânsito hoje em dia, um tanto disso, todos os dias é capaz de deixar até a pessoal mais legal do mundo com umpouquinho de hostilidade, não acha? Também não acha que essa pessoa mais legal do mundo vai se abster do prazer de enlamearalguém? Se concorda com o raciocínio, mantenha a distância. Se não, tente a sorte.

07. Saia com muita antecedência!Aqui, a regularidade com que os ônibus passa é a seguinte, todos os dias passa. Essa é a certeza que podemos ter. Claro, houve aquelagreve e durante ela, nenhum ônibus ez o seu balão. Mas oi uma exceção. O problema é que saber que o ônibus passará com certezanaquele dia não é o suciente pra nos programar e como às vezes ele muito antes, ou muito depois, demora muito menos ou muitomais para azer a sua rota, para garantir a pontualidade, sugiro o tempo mínimo de duas horas de antecedência. Quer chegar aocentro às oito, saia às seis de casa.

08. Compre uma cadeira dobrável!A dica oito deriva da dica sete. Considerando o tempo que o ônibus pode demorar para vir e que nos bairros poucas são pontos deônibus com estrutura apropriada, e que nem sempre estamos dispostos a sentar na calçada, ou em tijolos, ou em raízes de árvores, ouem outras superícies, o melhor é comprar uma daquelas cadeiras dobráveis. Assim, não haverá problema para esperar ônibus algumem parte alguma de Porto Velho, seu lugar sempre estará garantido.

09.Leve um ventilador!

Eu lembro de um tempo quando os ônibus daqui tinham ar-condicionado, az muito tempo. Eram lindos. Não vemos mais nenhumdeles passando. Os que restaram são os que dependem da rerigeração heólica, ou seja, do vento. Ou você abre as janelas, oucertamente vai suar até a morte dentro do coletivo. Meu conselho é: leve seu próprio ventilador.

10. Não aguente - PROTESTE!Quando digo proteste, não digo para você pegar toda a hostilidade que tem guardada e descarregar quebrando coisas ou pessoas, digopara azer isso cotidianamente. Você acha ruim o ato de os cobradores serem mal educados, os atrasos, os motoristas dirigindo comoloucos? Proteste. No ônibus mesmo, vá na televisão, ou pelo menos apóie movimentos que buscam por isso (não antes de vericar aintegridade do movimento).

José Danilo Rangel

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EXTRA

................................A história da humanidade não seria a mesma sema história dos meios de expressão, cujo início se perde entre as espessas névoas de um passado remotíssimo. Sabe-se, entretanto, que os homens e mulheres pintavam paredes de cavernas,iniciando aí o registro e também um meio de expressão. De lá pra cá muita coisa aconteceu.

Entre elas o computador. Além de escrever,pintar, atuar, atualmente, contamos com a tecnologia e o seu sem número de possibilidades para nos exprimir. Com um computador, você 

pode editar uma imagem, uma música. Usufruímos de um ferramental muito amplo para expor o que quisermos expor. Dario optou por fazer umvídeo. Aproveitando a música da Lady Gaga,Judas, a letra, principalmente, uma série de efeitos visuais, e mais um tanto considerável da velha combinação do imaginar e do fazer, ele 

faz jus ao título do vídeo “brincando com as palavras”.

Confira no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=dVHVl0qnMNw 

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DO LEI

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RESERVADO

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 AO LE

ITORA internet mudou a forma de o público lidar como artista. Primeiro, porque diferente de outras mídias, o usuário da Web pode escolher o que quer ver e a hora que quer ver. Também porque a internet é atualmente o meio mais democrático de exposição, oferecendo a todos os artistas a possibilidade de expor sua arte. Acontece,contudo, que este artista, representante da descentralização das mídias, não pode competir com os veículos de comunicção tradicionais semo apoio do seu público. Portanto, se você gostar de algo na internet, curta, comente, divulgue,participe, isso vai fazer com que os artistas de que você continuem produzindo.

Para nós, da revista Expressões, é fundamental a 

participação do público. Para que possamos definir a essência de nossa personalidade editorial, tanto quanto para a divulgação do nosso trabalho.

Enfim, contamos com você leitor. E não só para medir nossos meios, ou ajudar na disseminação,mas também para a própria construção do conteúdo da revista. Tem um ensaio, uma crônica, uma poesia? Quer ver o seu trabalho aqui? Entre em contato:

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EXPRESSõES! – mais que dizer, transmitir.

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