explicação jurisprudencial sobre o artigo 130 caput

Superior Tribunal de Justia

RECURSO ESPECIAL N 1.073.702 - PR (2008/0158193-9) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRARECORRENTE : KENJI SATAKE - ESPLIOREPR. POR : OTVIO KENITI SATAKE - INVENTARIANTEADVOGADO : FRANCISCO EDUARDO DE OLIVEIRA RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL ADVOGADO : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. SIMILITUDE FTICA. JUNTADA DO INTEIRO TEOR. DEFICINCIA. TRIBUTRIO. ITR. RESPONSABILIDADE PELO RECOLHIMENTO. ALIENANTE OU ADQUIRENTE. TTULO TRANSLATCIO DA PROPRIEDADE. PROVA DE QUITAO. ART. 130 DO CTN.

1. No se conhece do recurso especial, quanto divergncia, se o paradigma indicado no guarda similitude ftica com o aresto recorrente ou no colacionado o seu inteiro teor.

2. O art. 130 do CTN foi claro ao ressalvar a responsabilidade do adquirente de bem imvel em relao aos crditos tributrios quando conste do ttulo de transferncia a prova de sua quitao, o que se faz pela apresentao de certides de quitao das Fazendas Pblicas federal, estadual e municipal.

3. Nos termos do art. 205 do CTN, a certido negativa de dbito o meio de que dispe o adquirente para fazer prova da quitao de tributos incidentes sobre o imvel adquirido, o que no afasta a possibilidade de posterior constituio do crdito tributrio cujo fato gerador j tenha ocorrido. Desse modo, subsiste a responsabilidade tributria do alienante, antigo proprietrio.

4. Recurso especial conhecido em parte e no provido.

ACRDO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, negar-lhe provimento nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.

Braslia, 17 de maro de 2009(data do julgamento).

Ministro Castro Meira Relator

Documento: 865072 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 14/04/2009 Pgina 1 de 7


RECURSO ESPECIAL N 1.073.702 - PR (2008/0158193-9) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRARECORRENTE : KENJI SATAKE - ESPLIOREPR. POR : OTVIO KENITI SATAKE - INVENTARIANTEADVOGADO : FRANCISCO EDUARDO DE OLIVEIRA RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL ADVOGADO : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

RELATRIO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de recurso especial fundado nas alneas "a" e "c" do inciso III do art. 105 da Constituio da Repblica e interposto pelo Esplio de Kenji Satake contra acrdo da Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 4 Regio, assim ementado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ITR. ALIENAO DO IMVEL. RESPONSABILIDADE POR SUCESSO.

1. A teor do disposto no art. 130 do CTN, os crditos tributrios relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domnio til ou a posse de bens imveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestao de servios referentes a tais bens, ou a contribuies de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do ttulo a prova de sua quitao.

2. Tendo sido apresentada certido negativa de dbito no ato de transferncia do imvel, subsiste a responsabilidade do proprietrio original (fl. 83).

Opostos embargos de declarao, foram rejeitados (fls. 95-97).

O recorrente aponta contrariedade ao art. 130, do CTN, bem como divergncia jurisprudencial, no intuito de demonstrar ser parte ilegtima para figurar no plo passivo da execuo fiscal.

Segundo entende, a obrigao de pagamento do imposto sobre a propriedade territorial rural-ITR constitui uma obrigao de carter propter rem, subsistindo em face do prprio imvel e seu efetivo proprietrio, podendo ser exigida somente deste, e nunca do alienante (fl. 102). Defende, ainda, (a) a inviabilidade da exceo suscitada no acrdo recorrido, tendo em vista que a certido negativa de dbito no serve como prova de quitao do tributo; e que (b) quando da constituio do crdito tributrio, em 24.07.97, no era mais proprietrio do imvel.

As contra-razes foram apresentadas s fls. 122-123.Admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte. o relatrio.



RECURSO ESPECIAL N 1.073.702 - PR (2008/0158193-9)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. SIMILITUDE FTICA. JUNTADA DO INTEIRO TEOR. DEFICINCIA. TRIBUTRIO. ITR. RESPONSABILIDADE PELO RECOLHIMENTO. ALIENANTE OU ADQUIRENTE. TTULO TRANSLATCIO DA PROPRIEDADE. PROVA DE QUITAO. ART. 130 DO CTN.

1. No se conhece do recurso especial, quanto divergncia, se o paradigma indicado no guarda similitude ftica com o aresto recorrente ou no colacionado o seu inteiro teor.

2. O art. 130 do CTN foi claro ao ressalvar a responsabilidade do adquirente de bem imvel em relao aos crditos tributrios quando conste do ttulo de transferncia a prova de sua quitao, o que se faz pela apresentao de certides de quitao das Fazendas Pblicas federal, estadual e municipal.

3. Nos termos do art. 205 do CTN, a certido negativa de dbito o meio de que dispe o adquirente para fazer prova da quitao de tributos incidentes sobre o imvel adquirido, o que no afasta a possibilidade de posterior constituio do crdito tributrio cujo fato gerador j tenha ocorrido. Desse modo, subsiste a responsabilidade tributria do alienante, antigo proprietrio.

4. Recurso especial conhecido em parte e no provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Inicialmente, verifico que o recurso especial no comporta conhecimento pela alnea c do permissivo constitucional.

Considera-se existente o dissdio pretoriano quando, da realizao do cotejo analtico entre os acrdos paradigma e recorrido, verifica-se a adoo de solues jurdicas diversas a litgios semelhantes.

No caso dos autos, o recorrente apontou como paradigmas dois acrdos proferidos pelo Tribunal Regional Federal da 1 Regio. Sucede que, em relao ao primeiro, a AC n 1997.01.00.044000-0/MT, no existe similitude ftica com o acrdo recorrido. Quanto ao segundo, a AMS n 2003.39.01.000402-8/PA, no foi juntado ao recurso cpia do seu inteiro teor.

Com efeito, na hiptese vertente, restou consagrado no acrdo regional que no ttulo de transferncia ficou consignada a apresentao de certido negativa relativa ao imvel sobre o qual incidiu o ITR. Como se sabe, tais certides ressaltaram o direito da Fazenda constituir o crdito ainda no apurado no caso, a certido foi expedida em 07.01.97, enquanto o dbito apenas foi inscrito em 20.11.97 (fl. 82), para cobrana de dbito de ITR, exerccio de 1994.

J o acrdo proferido nos autos da AC n 1997.01.00.044000-0/MT trata da responsabilidade por dbito relativo a ITR posterior alienao do imvel, quando o antigo proprietrio no comunica a venda ao INCRA, mediante entrega de Declarao Anual para Cadastro de Imvel Rural (fl. 111).



Trata-se, portanto, de situaes distintas, seja em razo do momento da ocorrncia do fato gerador do dbito se anterior ou posterior alienao , seja em relao referncia apresentao de certido negativa no ttulo de transferncia.

No que toca ao segundo paradigma, a AMS n 2003.39.01.000402-8/PA, como j dito, no foi colacionado o inteiro teor do acrdo, estando ausente o seu relatrio, nem foi citado repositrio oficial, autorizado ou credenciado, em que tenha havido a sua publicao. Por tal razo, fica obstado o seu conhecimento (RISTJ, art. 255, 1, a e b).

Nada obstante, devidamente preenchidos os pressupostos de admissibilidade recursal em relao alnea a do permissivo constitucional, passo ao exame do recurso.

A soluo da controvrsia parte da anlise do disposto no art. 130, do Cdigo Tributrio Nacional que assim dispe:

Art. 130. Os crditos tributrios relativos a impostos cujo fato gerador seja a propriedade, o domnio til ou a posse de bens imveis, e bem assim os relativos a taxas pela prestao de servios referentes a tais bens, ou a contribuies de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste do ttulo a prova de sua quitao (original sem grifos).

Discute-se, portanto, a responsabilidade pelo pagamento do imposto sobre a propriedade territorial rural-ITR, exerccio 1994, se do proprietrio ou do adquirente, tendo em considerao que o primeiro alienou o imvel em 1997, ano em que tambm se deu a constituio do crdito.

O Tribunal de origem pronunciou-se da seguinte forma:

O Agravante pretende afastar a responsabilidade pelo pagamento de ITR, exerccio 1994, do imvel de matrcula 3.632, do 1 Cartrio de Registro de Imveis da Comarca de Canarana - MT, considerando que alienou o referido bem em 02.07.1997.

..........................................................................................................................No caso em foco, discute-se acerca do ITR, imposto cujo fato gerador a

propriedade, o domnio til ou a posse de imvel, aplicando-se, pois, os ditames do artigo 130 do CTN.

Consoante se observa da cpia da escritura pblica de compra e venda (fls. 42-45), constou expressamente:

'Declaram mais, que os imveis se acham livres e desembaraados de toda e qualquer servido, dvida e nus, inclusive hipotecas legais e convencionais, bem como quites de impostos e taxas. (...) Foram-se apresentados: I)- Certido atualizada do imvel descrito sob o n 1. 2) Certido atualizada do imvel descrito sob o n 2. 3) e 4)- Certides de Quitaes de Tributos e Contribuies Federais Administrados pela Secretaria da Receita Federal , em nome de KENJI SATAKE, relativamente aos imveis com reg. Imvel cd. 901.342.107.611-9 e 901.474.410-7, datadas de 07.01.97, com prazo de validade de seis meses, e em nome de DEOLINDO SATO E OUTROS, referente imvel registro imvel cd. Rec. 459.8941.8 - 901.474.000.612.0, rea 14.366,8 ha, aqui arquivadas em xerocpias autenticadas e da mesma forma acompanham o traslado desta .'



Verifica-se que no ttulo de transferncia ficou consignada a apresentao de certido negativa relativa ao imvel sobre o qual incidiu o ITR. Como se sabe, tais certides ressalvam o direito da Fazenda constituir crdito ainda no apurado - no caso, a certido foi expedida em 07.01.97, enquanto o dbito somente foi inscrito em dvida ativa em 20.11.97.

Assim, o adquirente no pode ser responsabilizado pelo pagamento do tributo, cabendo sua exigncia do proprietrio original, no caso, do Agravante.

..........................................................................................................................Ante o exposto, voto por negar provimento ao agravo de instrumento (fl. 81-83v).

A Corte de origem, portanto, partindo da premissa de que no ttulo de transferncia ficou consignada a apresentao de certido negativa relativa ao imvel sobre o qual incidiu o ITR, aplicou na soluo da questo a parte final do art. 130, do CTN, que ressalva a responsabilidade do adquirente em relao ao crditos tributrios quando conste do ttulo a prova de sua quitao.

O recorrente, por sua vez, assim argumenta: (a) que se est diante de uma obrigao de carter propter rem, que subsiste sempre na

figura do adquirente; (b) a inviabilidade da exceo suscitada no acrdo recorrido, tendo em vista que a

certido negativa de dbito no serve como prova de quitao do tributo; e (c) que, quando da constituio do crdito tributrio, em 24.07.97, no era mais

proprietrio do imvel.Tais argumentos, porm, no merecem prosperar diante da regra contida no dispositivo

acima transcrito. A norma evidencia o propsito de ressalvar a responsabilidade do adquirente de bem imvel em relao aos crditos tributrios quando conste do ttulo de transferncia a prova de sua quitao, o que se faz pela apresentao de certides de quitao das Fazendas Pblicas federal, estadual e municipal.

Alm disso, certo que a referida exceo vem resguardar o adquirente em relao aos crditos tributrios cujos fatos geradores ocorreram em data anterior alienao, j constitudos ou no, pois no existe dvida que, quanto aos posteriores, aquele j assume a figura de sujeito passivo da exao.

Acerca da matria, escreveu Hugo de Brito Machado:

Outra questo relevante diz respeito ao efeito da ressalva geralmente inserida nas certides de quitao de tributos. Ressalva segundo a qual poder a Fazenda Pblica credora cobras quaisquer dbitos que venham a ser futuramente apurados.

Sobre este assunto j escrevemos:

'As certides de quitao fornecidas pela Fazenda Pblica sempre ressalvam o direito de cobrar crditos tributrios que venham a ser apurados. Essa ressalva, porm, no retira da certido o efeito que lhe atribui o art. 130 do Cdigo Tributrio. Se retirasse, alis, ela no teria nenhum sentido, pois o adquirente ficaria sempre na incerteza, sem segurana para fazer o negcio. A ressalva constante dessas certides prevalece apenas no sentido de poder o fisco cobrar crditos tributrios que porventura venha a apurar, contra o contribuinte, pois a



certido de quitao, mesmo com a ressalva, impede que se configure a responsabilidade tributria do adquirente do bem.'

Realmente, se entendermos que a ressalva em referncia autoriza a cobrana dos tributos no futuro apurados, relativos a fatos geradores ocorridos antes do ato de transmisso da propriedade, teremos inutilizado inteiramente as certides de quitao para os fins do disposto no art. 130 do Cdigo Tributrio Nacional. E no razovel admitir-se o total esvaziamento daquela norma pelo intrprete (In: Comentrios ao Cdigo Tributrio Nacional. v. II. So Paulo: Atlas, 2004, pp. 535-536).

Por fim, quanto serventia da certido negativa de dbito como prova de quitao, na verdade, esse o meio de prova legalmente previsto para tal finalidade, que no fica abalado pela possibilidade de posterior constituio do crdito tributrio cujo fato gerador j tenha ocorrido. Assim dispe o art. 205, do CTN:

Art. 205. A lei poder exigir que a prova da quitao de determinado tributo, quando exigvel, seja feita por certido negativa, expedida vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informaes necessrias identificao de sua pessoa, domiclio fiscal e ramo de negcio ou atividade e indique o perodo a que se refere o pedido.

Nesse sentido, leciona Robinson Sakiyama Barreirinhas:

O adquirente para afastar a possibilidade de responder pelo dbito, nos termos do art. 130 do CTN, deve precaver-se. Deve conseguir certides negativas referentes a todos os tributos relacionados e fazer constar a descrio de tal fato no instrumento translativo do bem (escritura pblica do imvel, em regra).

Tomada tal cautela, caso tenha havido erro do fisco ao emitir a certido (e haja dbito anterior em aberto), o adquirente no pode ser responsabilizado. Tambm no caso de o fisco constituir posteriormente um crdito tributrio referente a fato gerador anterior alienao do imvel, o adquirente no poder ser responsabilizado (In: Manual de Direito Tributrio. So Paulo: Editora Mtodo, 2006, p. 310).

Desse modo, conclui-se pela responsabilidade do antigo proprietrio, ento alienante, pelo pagamento do Imposto Territorial Rural-ITR, exerccio 1994, em razo de enquadrar-se o caso vertente na ressalva contida na parte final do art. 130, do CTN, no existindo dvidas quanto validade da certido negativa de dbito como prova de quitao de tributo, para efeito de salvaguardar o adquirente do imvel.

Ante o exporto, conheo em parte do recurso especial e nego-lhe provimento.

como voto.



ERTIDO DE JULGAMENTOSEGUNDA TURMA

Nmero Registro: 2008/0158193-9 REsp 1073702 / PR

Nmeros Origem: 199870010128729 200704000032184 9820128722

PAUTA: 17/03/2009 JULGADO: 17/03/2009

RelatorExmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA

Presidente da SessoExmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA

Subprocurador-Geral da RepblicaExmo. Sr. Dr. EUGNIO JOS GUILHERME DE ARAGO

SecretriaBela. VALRIA ALVIM DUSI

AUTUAO

RECORRENTE : KENJI SATAKE - ESPLIOREPR. POR : OTVIO KENITI SATAKE - INVENTARIANTEADVOGADO : FRANCISCO EDUARDO DE OLIVEIRARECORRIDO : FAZENDA NACIONALADVOGADO : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

ASSUNTO: Execuo Fiscal - Dvida Ativa - Certido

CERTIDO

Certifico que a egrgia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

"A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.

Braslia, 17 de maro de 2009

VALRIA ALVIM DUSISecretria


explicação jurisprudencial sobre o artigo 130 caput

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