experiências capa atacama céu · gares tão distantes quanto rússia, polônia, canadá, bélgica...

10
95 TAM NAS NUVENS 94 TAM NAS NUVENS EXPERIENCES CÉU A MISSãO ESPECIAL DO DESERTO DO ATACAMA, NO NORTE DO CHILE, é ESPACIAL: FAZER AS PESSOAS SE CONECTAREM à TERRA SENDO TOCADAS PELAS ESTRELAS THE SPECIAL MISSION OF ATACAMA DESERT, IN NORTHERN CHILE, IS SPACIAL: TO HELP PEOPLE CONNECT WITH THE EARTH BY BEING TOUCHED BY THE STARS TEXTO/TEXT CINDY WILK FOTOS/PHOTOS ADRIANO FAGUNDES TãO PERTO DO O telescópio do Hotel Explora em ação e, na página oposta, a casa do francês Alain Maury: dá para entender por que o céu do Atacama virou atração turística The telescope at the Hotel Explora in action and, on the opposite page, the home of Frenchman Alain Maury: it’s easy to understand why the skies of Atacama have become a tourist attraction Experiências Capa Atacama SO CLOSE TO THE HEAVENS

Upload: others

Post on 14-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

95 tam nas nuvens94 tam nas nuvens experiences

céuA missão especiAl do deserto do AtAcAmA,

no norte do chile, é espAciAl: fAzer As pessoAs se conectArem à terrA sendo tocAdAs pelAs estrelAs

The special mission of aTacama DeserT, in norThern chile, is spacial: To help people connecT wiTh The earTh by being

ToucheD by The sTars texto/text cindy wilk fotos/photos adriano fagundes

tão perto do

o telescópio do hotel explora em ação e, na página oposta, a casa do francês Alain maury: dá para entender por que o céu do Atacama virou atração turística The telescope at the hotel explora in action and, on the opposite page, the home of frenchman alain maury: it’s easy to understand why the skies of atacama have become a tourist attraction

Experiências capa Atacama

so close to the heAvens

Page 2: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

97 tam nas nuvens96 tam nas nuvens experiences

não existe na face da ter-ra lugar mais perto do céu do que o Deserto do Atacama, no Chile. A prova é quase visível a

olho nu. De onde eu e o fotógrafo Adriano Fagundes estamos agora enxergamos a montanha que abriga o Platô de Chajnan-tor, a 5 mil metros de altitude, onde funcio-nam desde março as 66 antenas do Ataca-ma Large Millimeter/submillimeter Array, ou simplesmente — e quase poeticamente — Alma. Na base da montanha, ao longe, pode-se ver a vila científica que acolhe os 1.500 funcionários e pesquisadores euro-peus, norte-americanos, asiáticos e chile-nos, bem como todos os laboratórios a par-tir de onde são operados os radiotelescópios que captam sinais de galáxias longínquas.

Escolher o Deserto do Atacama para montar o maior projeto astronômico mun-dial não foi um tiro no escuro. Há décadas o Chile é uma janela para o céu — mais ao sul daqui, os arredores de La Serena e de Antofagasta concentram as principais ba-ses internacionais para telescópios ópticos. Já para radiotelescópios como os do Alma, a conjunção de altitude e quase nenhuma umidade do Atacama, com cerca de 300 noites sem nuvens por ano e acesso privi-legiado a corpos celestes do Hemisfério Sul, apontou o caminho certo. E também para outros observatórios que até fazem con-tribuições científicas, mas que se encarre-gam especialmente da missão de mudar a visão que os turistas têm do céu. Um deles é o SpaceObs, do astrônomo francês Alain Maury, a 15 minutos do centro de San Pe-dro de Atacama, onde estamos agora.

mal os últimos rastros de sol somem no horizonte avermelhado, uma das cúpulas se abre como uma dama-da-noite deixando escapar a extremidade de um telescópio apontado para o alto. “Esse aí pertence ao Instituto de Astrofísica de Andalucía, na Espanha”, conta Alain, que hospeda uma dúzia de telescópios operados remotamente por centros de pesquisa e astrônomos amadores de lu-gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um círculo, aguardando o ônibus de turismo — que acaba de chegar. Há 13 anos no Chile, para onde veio a fim de trabalhar num observatório em La Serena, e há dez no Atacama, o pioneiro no turismo astronômico abriu a empresa em 2003. “Todos diziam que os turistas não estão interessados em ciência.”

Dois grupos se formam. Um deles, em francês, é guiado por Alain; o outro, em inglês, fica a cargo de Les Nagy, um canadense que produz documentários sobre astronomia. O laser verde aponta a sonda espacial Hubble, que parece vir para abrir a interessante aula básica sobre astronomia que se segue.

alugam-se corpos celestes estas cúpulas protegem telescópios acionados por gente que está do outro lado do mundocelestiAl bodies for rent • These domes protect telescopes controlled by people on the other side of the world

A conjunção de altitude, pouca umidade e 300 noites claras por ano faz do Atacama uma janela para o céuthe combination of high altitude, low humidity and 300 clear nights per year makes atacama the perfect window to the sky

There’s no place on the face of the Earth that’s closer to the sky than Atacama Desert in Chile. The proof is almost visible to the naked eye. From the spot where photographer Adriano Fagundes and I are standing, we see the mountain that shelters the Chajnantor Plateau, 16,400 feet [5,000 m] in altitude, where, since March, there are 66 antennas for the Atacama Large Millimeter/Submillimeter Array — or simply, almost poetically, Alma [literally “soul”]. At the mountain base, from afar one can see the scientific vil-lage that’s home to 1,500 workers and researchers — who come from Europe, North America, Asia and Chile — along with all of the laboratories where the radio telescopes capture signals from far away galaxies.

The choice of Atacama Desert to mount the largest astronomical project in the world was not a shot in the dark. For decades, Chile has served as a window to the sky — to the south of here, near La Serena and Antofagasta, are some of the main international bases for optical telescopes. And for radio telescopes like the ones at Alma, the combination of the altitude and near zero humidity in Atacama — with around 300 cloudless nights per year and privileged access to the celestial bodies of the Southern Hemisphere — made the choice clear. The desert also houses other observatories that sometimes make scientific contributions, but that mostly set out to change how tourists see the sky. One of these observatories is SpaceObs, owned by French astronomer Alain Maury, 15 min-utes from the center of San Pedro de Atacama, where we are now.  

With the last traces of the sun barely fad-ing from the red horizon, one of the domes opens up like a night-blooming jasmine, letting the end of a telescope come through, pointing to the sky. “That one belongs to the Institute of Astrophysics of Andalusia in Spain,” says Maury, who houses a dozen telescopes controlled remotely by research centers and astrophiles in places as far away as Russia, Poland, Canada, Belgium and Panama. His own 10 telescopes stay out in the night dew, displayed in a circle, await-ing the tour bus — which has just arrived. He has been in Chile for 13 years; he came to work at the observatory in La Serena and has been working for 10 years in Atacama. A pioneer in astronomical tourism, he opened his business in 2003. “Everyone said that tourists weren’t interested in science.”

Two groups form. One of them, in French, is guided by Maury; the other, in English, is led by Les Nagy, a Canadian who makes documentaries about astron-omy. The green laser touches the Hubble Space Telescope, which seems to come to open the interesting lesson in basic astron-omy that follows.

After a session of observation with the naked eye, it’s time to use the telescopes. Each visitor is pointed to a planet, a nebula

lua

Buracos na

holes in the moon

antenas ligadaso Alma só deve abrir para visitação em 2014. enquanto isso, restam o bom tour virtual e os vários vídeos acessados por meio do site do observatório. AntennAs turned on • alma is slated to open for visitors in 2014. in the meantime, there are various videos and a good virtual tour available on the observatory’s website.

Alma — almaobservatory.org

o observatório do explora: único hotel da região que possui telescópio exclusivo para hóspedes The explora observatory: the only hotel in the region that has an exclusive telescope for guests

Atacama

Page 3: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

98 tam nas nuvens experiences

Depois da observação a olho nu, chega a vez dos telescópios. Cada qual é direciona-do para um planeta, uma nebulosa ou um conjunto de estrelas diferente. Vejo Satur-no com os anéis e quatro luas. O interna-cional grupo composto por argentinos, australianos, uma sueca, um polonês e até uma vietnamita circula livremente entre os equipamentos. E Les Nagy corre de um para outro como se fosse um circuito de academia, para caçar novamente determi-nado astro no visor. Nunca senti a terra se mover como hoje.

Estamos na quinta noite após o auge da lua cheia, mas o astro não havia nascido até pegarmos o ônibus de volta a San Pe-dro. A rigor, a noite não é das melhores, daí a ideia de aproveitar bem esse lapso de breu entre o nascer da noite e o da lua. Antes do boom de turismo espacial no Atacama, Alain guiava grupos apenas durante a metade mais escura do mês. Mas isso mudou. “Os turistas gostam de fotografar a lua através da lente”, diz. Por experiência própria, só posso concordar. Na noite anterior, havíamos feito o tour do Observatório Ahlarkapin. Na falta de mais de um telescópio e de explica-ções mais científicas, a lua ganhou a noi-te com louvor e estrelinhas. Para turistas, além desses dois observatórios há um particular, mantido pelo Hotel Explora. E, mesmo em noite de lua, só vi um céu comparável àquele em dia de lua nova no meio do Saara.

or a different group of stars. I see Saturn with its rings and four moons. The international group, composed of Argentine, Australian, Swedish, Polish and Vietnamese tourists, circulates freely among the equipment. And Nagy runs from one to the other as if he were in a gym circuit, to hunt for each heavenly body in the view finder. I never felt the earth move like I did today.

We’re on the fifth night after the peak of the full moon, but it didn’t appear until we caught the bus back to San Pedro. It’s not the best of nights, so the idea is to take advantage of the brief break between the sunset and moonrise. Before the space tourism boom in Atacama, Maury guided groups only during the darkest half of the month. But this has changed. “Tourists like to photograph the moon through the lens,” he says. From personal experience, I have to agree. The night before, we took a tour of the Ahlarkapin Observatory. Since we didn’t have enough telescopes or scientific explanations, the moon was the star of the night. Aside from these two observatories for tourists, there’s a private one at the Hotel Explora. And, even on moonlit nights, I only saw a similar sky in the middle of the Sahara Desert.

Quando comecei os tours astronômicos, em 2003, diziam que turistas não se interessavam por ciência”“when i began giving astronomical tours in 2003, people said that tourists weren’t interested in science

um dos telescópios do francês precursor em tours astronômicos: com este aparelho é possível ver saturno com seus anéis e quatro de suas 61 luas one of the telescopes owned by the frenchman, a pioneer in astronomical tours: with this equipment it’s possible to see saturn with its rings and four of its 61 moons

Alain Maury

Atacama

Page 4: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

101 tam nas nuvens100 tam nas nuvens experiences

marcianoAlô, alô,

lagoa de cejarcejar lagoon Moon Valleychaxa lagoon

death Valley

lagoa chaxa Vale da lua

guatin Vale da Morte

desertos estão longe de ser iguais entre si ou entediantes se comparados a eles mesmos. O que têm em comum e de incomum é o drama. São paisagens extremas, que nos lembram que a vida no planeta pode ser mais dura do que um dia de sombra, ceviche e pisco sour. Os 181.300 quilômetros quadrados do Atacama, que compreende o norte do Chile e ultrapassa as fronteiras da Argen-tina e da Bolívia, chegando até o Peru, guardam cenas tão distin-tas como imponentes vulcões — há 2.500 apenas na parte chilena, 150 deles ativos — e singelas lagoas, repletas de flamingos. Vulcões emolduram a Lagoa Chaxa, cercada pelo leitoso Salar de Atacama, e as azul-esverdeadas Meñiques e Miscanti, já no Altiplano. E mesmo um árido vale cheio de cactos desemboca nas mais deliciosas pisci-nas quentinhas, como as Termas de Puritama. Já as águas da Lagoa de Cejar, tão salgadas que fazem boiar, refrescam do sol implacável.

Esta é a lista dos lugares em que o deserto é generoso. Porém, é onde o planeta se mostra mais cruel que nos sentimos mais fora dele. A sudoeste de San Pedro, o Vale da Lua exibe raras formações escul-pidas pelas condições extremas. Mas é ao ver do alto o vale contíguo que a historiadora carioca Maria Luiza Barreto Delleur acha seu lugar no espaço. “Dou uma olhadinha em Marte toda noite”, relata, refe-rindo-se aos vídeos espaciais transmitidos pela sonda Curiosity. “E é exatamente assim”, aponta para o avermelhado Vale da Morte. Diz-se que o padre jesuíta belga Gustavo Le Paige quis batizar o local de Vale de La Mars, mas os atacamenhos entenderam “de La Muerte”.

Deserts are far from being identical or boring when compared one to another. What they have in common, and what’s so uncom-mon, is the drama. They’re extreme landscapes that remind us that life on Earth can be tougher than a day of shade, ceviche and pisco sour. The 70,000 square miles [181,300 square km] of Ata-cama, which covers northern Chile and passes over the borders of Argentina and Bolivia, arriving in Peru, are home to such distinct scenes as imposing volcanoes — there are 2,500 on the Chilean side alone, 150 of which are active — and simple lagoons filled with flamingos. Volcanoes frame the Chaxa Lagoon, surrounded by the milky Salar de Atacama, and the blue-green Meñiques and Miscanti lagoons, on the plains. And even an arid valley full of cacti opens up to delightful thermal pools, like the Termas de Pu-

ritama. Meanwhile, the waters of the Cejar Lagoon, so salty that they keep one afloat, are refreshing under the hot sun.

This is the list of the places in which the desert is generous. Still, it’s where the planet shows its cruelest side and we feel more outside of it. Southwest of San Pedro, Moon Valley exhibits rare forma-tions sculpted by the extreme conditions. But it’s upon seeing the contiguous valley from above that Rio-born historian Maria Luiza Barreto Delleur finds her place in space. “I take a look at Mars every night,” she relates, referring to the space videos broadcast by the telescope Curiosity. “And it’s just like that,” she says, pointing to the reddish Death Valley. They say that the Belgian Jesuit priest Gustavo Le Paige wanted to baptize the spot Vale de la Mars, but the people understood “de la Muerte.”

o vale da Morte se parece tanto com a superfície marciana a ponto de ter sido usado pela nasa para testar sondas death Valley looks so much like the surface of Mars that nasa used the place to test space telescopes

viagem astralo Atacama atrai um tipo muito particular de viajante. Gente como a historiadora maria luiza, que veio atrás de cenários únicos que lembram marte e de registros históricos em forma de petróglifosAstrAl journey •atacama attracts a particular type of traveler. people like historian Delleur, who came to see unique landscapes that look like mars and historical petroglyphs

hello, Martian

Atacama

Page 5: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

103 tam nas nuvens102 tam nas nuvens experiences

a paisagem extraterrestre parece nos fazer lembrar a todo momento das profundezas do nosso próprio planeta. Seja to-mando um pisco sour num hotel de luxo observando o majestoso vulcão Licancábur, seja levantando da deliciosa cama do mesmo hotel de luxo às 4h30 para fazer um programa que todo mundo tem de fazer: assistir ao sol nascer por detrás da paisagem apoca-líptica dos Gêiseres do Tatio, onde colunas de água fervente es-capam do solo e chegam a 12 metros de altura. Já no Altiplano, a 4.300 metros, a temperatura quase sempre é negativa a essa hora da manhã. Para amainar o desconforto, os tours costumam incluir um café da manhã ali mesmo, com pacotes de leite achocolatado aquecidos nas águas fumegantes que jorram do chão.

The extraterrestrial landscape seems to always serve as a reminder of the depth of our planet. Be it drinking a pisco sour in a luxury hotel observing the majestic Licancabur Volcano or getting up from the comfortable bed in the same luxury hotel at 4:30 a.m. to do something that everyone must experience: seeing the sun rise over the backdrop of the apocalyptic landscape of the Tatio Gey-sers, where columns of boiling water escape from the ground and spray up to 39 feet [12 m]. On the high plains, at 14,100 feet [4,300 m], the temperature is almost always below freezing at this time of morning. To lessen the discomfort, the tours generally include breakfast there, with packages of chocolate milk heated up in the steaming waters that burst out of the ground.  

In 1998, the Hotel Explora created a new form of tourism in Ataca-ma. A concept that involves exploring inhospitable places, but with all the comfort necessary to turn the experience into a luxury tour. That means, for example, walking for two hours among the cacti, but then having a picnic with wine and snacks upon arriving at the destination: some delightful thermal springs. The idea is to not wor-ry about anything. Everything is included in the package — meals, day trips, picnics, drinks (even alcohol) and shuttle service. The chain also has hotels in Patagonia and Rapa Nui. The original, in Ata-cama, is an excellent option and stands out for the seriousness with which the exploration trips are taken — there are exclusive itinerar-ies and excellent guides. Also all-inclusive, the Tierra Atacama, a lot newer, invests in modern architecture and excellent cuisine. Kunza is the newest of the three. It has charming rooms and offers the op-tion of paying for excursions separately. All are a 10 minutes’ walk from the center of San Pedro. More expensive and exclusive than the above-mentioned hotels, the Awasi is a member of the Relais & Châ-teaux chain and has only eight suites.

uma das várias piscinas do explora: o hotel esparrama-se pelos 17 hectares de um local conhecido como larache, habitado no passado por tradicionais famílias atacamenhasone of the many pools at explora: the hotel covers 17 hectares of a place known as larache that was once inhabited by traditional local families

san pedro tem uma centena de hotéis, mas se destacam os que incluem até mesmo piqueniques durante os passeios san pedro has a hundred hotels, but the ones that stand out are those which offer picnics on the trips

transe

terra em

desertoBoa vida

earth in trance

Good life in the desert

Em 1998, o Hotel Explora inaugurou uma nova forma de fazer turismo no Atacama. Um conceito que envolve a experiência de explorar lugares inóspitos, mas com todo o conforto para tornar a aventura luxuosa. Isso significa, por exemplo, caminhar duas horas entre os cactos, mas desfrutar um piquenique com vinhos e quitutes ao chegar ao ponto final: deliciosas piscinas termais. A ideia é não se preocupar com nada. Tudo está incluso no paco-te — refeições, passeios, piqueniques no caminho, bebidas (até mesmo alcoólicas) e traslados. A rede hoje tem hotéis também na Patagônia e em Rapa Nui. O original, do Atacama, segue como ótima opção e se destaca pela seriedade que atribui às explorações — há roteiros exclusivos, guias excelentes. No mesmo esquema all inclusive, o Tierra Atacama, bem mais novo, investe na ar-quitetura modernosa e em uma gastronomia caprichada. O Kunza é mais recente que os outros. Tem quartos charmosos e dá a opção de pagar os passeios à parte. Os três ficam a dez minutos a pé do centro de San Pedro. Mais caro e exclusivo que os anteriores, o Awasi é membro do Relais & Châteaux e dispõe de apenas oito suítes.

Explora — explora.com

Kunza — hotelkunza.cl Awasi — awasi.com

no

o hotel tierra Atacama exibe arquitetura arrojada, e suas 32 suítes dão vista para o vulcão licancábur. inaugurado há cinco anos, tem sistema all inclusive e gastronomia caprichada VolcAno in siGht • The hotel Tierra atacama has bold architecture and 32 suites with views of the licancabur Volcano. opened five years ago, it has an all-inclusive system with great food options

vulcão à vistao hotel tierra Atacama exibe arquitetura arrojada, e suas 32 suítes dão vista para o vulcão licancábur. inaugurado há cinco anos, tem sistema all inclusive e gastronomia caprichada VolcAno in siGht • The hotel Tierra atacama has bold architecture and 32 suites with views of the licancabur Volcano. opened five years ago, it has an all-inclusive system with great food options

vulcão à vistao hotel tierra Atacama exibe arquitetura arrojada, e suas 32 suítes dão vista para o vulcão licancábur. inaugurado há cinco anos, tem sistema all inclusive e gastronomia caprichada VolcAno in siGht • The hotel Tierra atacama has bold architecture and 32 suites with views of the licancabur Volcano. opened five years ago, it has an all-inclusive system with great food options

Tierra Atacama — tierraatacama.com

vulcão à vista

Tierra Atacama — tierraatacama.com

Atacama

Page 6: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

104 tam nas nuvens experiences

A pequena Vila de socaire e, no alto, guanacos. Ao lado, a guia carolina, uma das participantes do projeto de resgate da cosmologia ancestral atacamenha, em parceria com o Alma The small village of socaire and, up top, the guanacos. side photo, the guide yufla, one of the participants in the project for renewing the cosmological ancestry of atacama, in partnership with alma

Gente terra

ViVEr no dEsErTo mAis sEco do planeta é para os fortes. Bem o caso dos lican-antai, ou em kunza, a língua local, “a gente desta terra”, como se autodenominam os atacamenhos. O homem che-gou ao Atacama há aproximadamente 13 mil anos, como provam os cerca de cem sítios arqueológicos descobertos pelo padre Le Paige, que passou 25 anos investigando a região e encontrou 375 mil objetos e mais de 3 mil sepulturas. Essa história ancestral está exposta no Museu Arqueológico Gustavo Le Paige, no centro de San Pedro, e nos petróglifos de lugares como o Vale do Arco-Íris, um dos passeios oferecidos por hotéis e agências de turismo. E até, indiretamente, na fauna local. Lhamas e alpacas, por exemplo, são o resultado vivo de manipulações genéticas empíricas, fruto da domesticação dos selvagens guanacos.

Os lican-antai são um povo que sempre dominou a arte de sobreviver no deserto, mas sofreu grandes golpes de outras cul-turas. Entre os anos de 500 e 900, o Atacama passou a integrar o estado Tiwanaku. Depois, foi engolido pelo Império Inca e, após 1540, massacrado pelos espanhóis.

daearth people

Living in the driest desert on the planet is for the strong. This applies to the Likan Antay, or in Kunza, the local language, “the people from this earth,” as the locals call themselves. Man arrived in Atacama approximately 13,000 years ago, as the near one hundred archaeological sites in the re-gion discovered by Father Le Paige prove. Le Paige spent 25 years exploring the region and found 375,000 objects and more than 3,000 tombs. This ancestral history is on display at the Museum of Archaeology Gustavo Le Paige, in the center of San Pedro, and in the petroglyphs in places like Rainbow Valley, one of the excursion destinations offered by hotels and travel agencies. And it can even be found, indirectly, in the local fauna. Llamas and alpacas, for example, are the living result of empirical genetic manipulations, the fruit of the domestication of the wild guanacos.

The Likan Antay have always mastered the art of surviving in the desert, but have suffered great blows from other cultures. Between the years 500 and 900, Atacama became part of the state of Tiwa-naku. Later, it was swallowed up by the Inca Empire and, after 1540, massacred by the Spanish.

Atacama

Page 7: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

106 tam nas nuvens cover

A arte pré-colombiana é a inspiração para o artista jesus Valencia, de concepción, há 15 anos em san pedro. feitas de bronze e cobre reciclados, suas esculturas podem custar até 3.500 dólares.

Reciclagem de museuMuseum recycling

o turismo e a mineração fizeram com que a juventude atacamenha trocasse os vilarejos por cidades maiores tourism and mining forced young atacameños to leave the villages for larger cities

Hoje, não há muito mais de 5 mil atacamenhos espalhados por vi-larejos ao longo do Rio Loi que, nas últimas décadas, foram esvazia-dos pela mineração ou pelo turismo. O que acontece agora é um mo-vimento de resgate cultural. Um exemplo disso é Carolina Patrícia Yufla, nascida no vilarejo de Toconce, atualmente com 30 pessoas. Seu avô era um célebre Yatiri, como são chamados os sábios, e a avó até hoje pastoreia lhamas. Os seis irmãos trabalham com minério ou turismo — como ela, que é guia do Explora. “Quero aprender para voltar ao meu povoado e trabalhar com turismo”, diz. Recentemente, Carolina participou de um projeto ligado ao Alma, de resgate da visão dos antigos atacamenhos sobre o céu. “Ouvimos as histórias de nossos avós, que acreditam que a Via Láctea é um rio por onde navegam as almas”, conta. Coincidência ou não, Chajnantor, o platô escolhido pelo Alma para posicionar as antenas, era um lugar sagrado para os lican-antai e significa, em kunza, “lugar de partida”.

Today, there are few more than 5,000 Atacameños spread out in villages along the River Loi. Over the past decades, these villages were emptied by mining and tourism. Now there’s an ongoing movement for cultural renewal. One example of this is Carolina Patrícia Yufla, born in the village of Toconce, which has a current population of 30. Her grandfather was a celebrated Yatiri, as the wise men are known, and her grandmother, to this day, herds llamas. Her six siblings work with mining or tourism — like her, a guide for Explora. “I want to learn so I can go back to my village and work with tourism,” she says. Recently, Yufla participated in a project linked to Alma that worked to rescue the old Atacameños people’s vision of the sky. “We heard stories from our grandparents, who believe that the Milky Way is a river where souls sail,” she says. Coincidence or not, Chajnantor, the plateau chosen by Alma as the location of the antennas, was a sacred place for the Likan Antay and means, in Kunza, “take-off point.”

silvana martinez, natural da Vila de solor, e sua loja de lindas roupas e joias, no centro de san pedro silvana martinez, from the village of solor, and her store with beautiful clothes and jewelry in the center of san pedro

pre-colombian art is an inspiration for artist Jesus Valencia, from concepción, who has been in san pedro for 15 years. made of recycled bronze and copper, his sculptures can cost up to usD 3500.

Jesus Valencia —rua Gustavo Le Paige, 151, tel. (+56 55) 85-1020

Atacama

Page 8: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

109 tam nas nuvens108 tam nas nuvens experiences

na lagoa Chaxa, no salar do atacama, flamingos compõema paisagem cor-de-rosa At chaxa lagoon, in salar de Atacama, flamingos comprise the pink scenery

Atacama

Page 9: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

110 tam nas nuvens experiences

para comprar lembrancinhas andinas, o paseo Artesanal (alto), no centro, é o lugar. Acima, a turista alimenta uma lhama no vilarejo de toconao To buy andean souvenirs, the paseo artesanal (up top), in the center, is the place. above, a tourist feeds a llama in the village of Toconao 

san pedro era ainda mais bonita há sete anos. Antes da chegada da luz elétrica dava para ver mais estrelas”“san pedro was more beautiful 7 years ago, when we still used generators for power. then it was possible to see more stars

comEntARistA * Arthur Azevedo

pode parecer impossível, mas os enólogos da Viña Ventisquero venceram o desafio de produzir vinho no Atacama. Apesar do clima hostil, eles encontraram um lugar para plantar uvas: o Vale do huasco (onde só chove 0,1 milímetro por ano). é dali que vêm as 200 garrafas do ramirana sauvignon blanc Gran reserva. o vinho do deserto atualmente é pouco mais que uma miragem, mas a produção, afirmam, vai aumentar.it might sound impossible, but the winemakers at Viña Ventisquero have overcome the challenge of producing wine in atacama. Despite the hostile climate, they have found a place to plant grapes: the huasco Valley (which receives just 0.1 millimeters of rain each year). The 200 bottles of ramirana sauvignon blanc gran reserva come from there. so far, the desert wine is little more than a mirage, but they say that its production will expand.

Arthur Azevedo é consultor de vinhos da tAm, diretor-

executivo da Associação brasileira de sommeliers-

sp (abs-sp.com.br) e editor do site Artwine

(artwine.com.br)arthur azevedo is a wine

consultant for Tam airlines, executive director of the

brazilian sommeliers association-sp

(abs-sp.com.br) and editor of the website

artwine (artwine.com.br)

commentator * Arthur Azevedo

Guillermina Lima

““

ilu

sTra

çã

o: s

aTTu

ro

Dri

gu

es

Atacama

Page 10: Experiências capa Atacama céu · gares tão distantes quanto Rússia, Polônia, Canadá, Bélgica e Panamá. Seus pró-prios dez telescópios ficam ao relento e dispostos em um

112 tam nas nuvens experiences

A cidade de San Pedro de Atacama sempre foi um lugar de passa-gem. Último povoado andino entre o Altiplano e o mar, último oásis antes do deserto, um mercado de passagem onde se falavam várias línguas. Tanto quanto hoje. As ruas de terra com suas casas de adobe são uma passarela para turistas vindos do mundo intei-ro. Quando Guillermina Lima, o marido e os quatro filhos chega-ram, há mais de 25 anos, também circulava muita gente por ali. “Havia muito pouco turismo, mas San Pedro era rota por causa da fronteira com a Argentina”, conta. Na falta de hotéis no então pequeno vilarejo, eles resolveram abrir o primeiro camping local, hoje uma pousada chamada Takha Takha. Atualmente, a cidade tem 5 mil habitantes e quase uma centena de lugares para hos-pedar turistas, de despojados hostels a hotéis de luxo, além de 50 agências de turismo. A luz elétrica chegou há apenas sete anos, para tristeza de Guillermina. “Não se veem mais tantas estrelas.”

Multilingual oasis

The city of San Pedro de Atacama has always been a stopover between destinations. The last Andean settlement between the highlands and the sea, the last oasis before the desert, an outpost where various lan-guages are spoken. The dirt roads with their adobe houses are a walk-way for tourists who come from all over the world. When Guillermina Lima, her husband and four kids arrived there over 25 years ago, there was also a lot of people circulating there. “There was very little tour-ism, but San Pedro was the route because of the border with Argenti-na,” she says. Because of a lack of hotels in the small village at the time, they decided to open the first local campsite, now a guesthouse called Takha Takha. Nowadays, the city has 5,000 inhabitants and almost a hundred places to accommodate tourists, from rustic hostels to luxury hotels, as well as 50 travel agencies. Electricity arrived just seven years back, to Lima’s dismay. “You can’t see that many stars anymore.”

oásis multilíngue um doCumentário para assistir antes

de ir e um livro para trazer de láA docuMentAry to wAtch Before you trAvel And A Book to BrinG with you

bAgAgEm cultuRAlcultural baggage

neste documentário, o cineasta chileno usa a astronomia para falar do passado político do país.

in this documentary, the chilean filmmaker uses astronomy to discuss the country’s political past.

nostalgia for the light patricio guzmán

los antiguos habitantes de salar de ataCama dr. agustín llagostera martínez

escrito pelo ex-diretor do museu Arqueológico Gustavo le paige, é o melhor livro sobre a história atacamenha. à venda no museu. written by a former director of the museum of archaeology gustavo le paige, it’s the best book on the history of atacama. sold at the museum.

As ruas de terra e as casas de adobe dão charme à compacta san pedro The dirt roads and adobe houses add a certain charm to tiny san pedro

Atacama