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EXPEDIENTEReitor
Isidoro Zorzi
Diretor do Centro de Ciências da
Comunicação
Jacob Raul Hoffmann
Coordenadores dos Cursos de
Comunicação Social
Jornalismo - Alvaro Benevenutto Júnior
Publicidade e Propaganda - Marcelo Wasserman
Relações Públicas - Jane Rech
Professor
Paulo Ribeiro
Diagramação e Arte
Vinícius Agliardi e Henrique Kuhn Gobbi
Fotos
Divulgação da Feira do Livro
Alunos da Turma
Redação
Angelo Luis Scopel, Bianca Vist Hahn,
Bruna Longo, Bruna Trubian, Camila da Costa,
Débora Debon, Fernanda Prado da Silva,
Francielle Arenhardt Pereira, Giulia Andreazza,
Henrique Bettiato Zattera, Henrique Kuhn
Gobbi, Luciane Karen Modena, Luís Henrique
Bisol Ramon, Marina Demicheli, Marina Isoton,
Michele dos Santos, Monica da Costa, Pâmela
Pelizzaro, Patrícia de Cesaro Guilherme,
Paulo Henrique Prior, Priscilla Breda Panizzon,
Ricardo Augusto de Souza, Rudinei Picinini
e Vinícius Agliardi.
Mais do que a venda de obras, a 29° Feira
do Livro de Caxias do Sul apresentou uma in-
teressante programação de debates e encontros.
Não se trata nem de chamar de programação
paralela, pois os bate-papos e palestras estavam
na essência dos 17 dias de feira. Uma integra-
ção entre a atividade dos livreiros e a mensagem
dos autores que participaram dos vários paineis.
Na verdade, a feira apenas refletiu o que
a Secretaria da Cultura, através da Coordenação
do Livro, já faz ao longo do ano. Uma atividade
que dá suporte para além do simples fazer chegar
o livro ao público. Esta atividade é impulsionada
por iniciativas como o PPEL (Programa Perma-
nente de Estímulo à Leitura), Passaporte da Lei-
tura, as contações de histórias, e outras inúme-
ras atividades que se desenvolvem na Biblioteca
Largo da Estação, destinado ao público infantil.
Assim foi a 29° Feira do Livro: uma inte-
gração entre as obras presentes e a voz daqueles
que as produzem, numa perfeita sintonia que
resultou em cerca de 25 bate-papos e palestras.
Ressalte-se que paralelo à feira aconteceu ainda o
encontro da AGES (Associação Gaúcha de Escri-
tores) e o PROLER, Encontro Estadual de Leitura.
É a síntese destes debates que o lei-
tor encontrará aqui, numa cobertura da
quase totalidade dos debates da 29° Feira
do Livro de Caxias do Sul, edição de 2013.
EDITORIALPor Paulo Ribeiro
ABERTURA
A 29ª edição da Feira
do Livro de Caxias
do Sul teve a sua
abertura no dia 27 de setembro
e trouxe o tema “Em rede com a
leitura”. A abertura oficial acon-
teceu às 18h no palco central da
Praça Dante Alighieri e contou
com a presença do prefeito de
Caxias do Sul, Alceu Barbosa
Velho, e secretários de Cultura
e Educação. A coordenadora da
feira do livro, Daniela Ribeiro, o
presidente da associação dos li-
vreiros, Cristiano Bartz Gomes
e a presidente da Academia Ca-
xiense de Letras, Marilene Caon,
também estiveram presentes na
solenidade, bem como o patrono
da feira, Carlos Henrique Iotti e
as homenageadas Iraci Hoch Ma-
boni e a ilustradora Rita Brugger.
Estiveram também pre-
sentes, as novas soberanas da
Festa da Uva 2014, a rainha Gio-
vana Dannenhauer Crosa, as
princesas Gabrielle Debastiani
e Karina Furlin, que aproveita-
ram a cerimônia para homena-
gear Carlos Henrique Iotti com
uma placa e o convidaram para
ser embaixador da Festa da Uva,
que acontece nos dias 20 de fe-
vereiro a 9 de março de 2014.
De acordo com a coor-
denadora da feira, Daniela Ri-
beiro, em seu discurso de aber-
tura, entendemos que a leitura
trabalha com toda experiência
IOTTI ABRE A REDE COM A LEITURA
A 29ª feira do livro de Caxias do Sul, que aconteceu entre os dias 27 de setem-
bro a 13 de outubro, contou com participação de 45 bancas e mais de 100 escritores
O patrono Iotti, o prefeito Alceu Barbosa Velho e homenageados tocam o sino de abertura da Feira do Livro
por Adelir Rech
vital do ser humano e é uma fer-
ramenta da transformação social,
auxiliando pessoas a se conhece-
rem melhor, levando à reflexão e
discussão sobre o mundo e a vida
humana, esse é o nosso papel en-
quanto formadores de leitores.
“Estamos iniciando a nossa fes-
ta dos livros, assim traduzimos
essa festa, assim traduzimos a 29ª
edição do nosso maior evento li-
terário, porque começamos aqui
na praça, o valor do livro e da
leitura na vida das pessoas.”
Ela lembrou também a acolhida
dos inúmeros projetos de incen-
tivo à leitura, que o Departamen-
to do Livro leva a diferentes seg-
mentos da comunidade Caxiense.
Irreverente, o cartunista
Carlor Henrique Iotti destacou a
importância da leitura e o senti-
mento em ser patrono da segun-
da maior Feira do Livro do Rio
Grande do Sul. “As pessoas têm
me perguntado durante esses dias,
uma coisa muito comum, qual é o
sentimento de ser o patrono? Eu
tenho respondido que são mui-
tos sentimentos! O sentimento
de alegria estar representando
festa dos livros. O livro é um ob-
jeto libertador. Eu costumo dizer
isso nas escolas onde eu vou, eu
digo pra gurizada, o livro é um
objeto libertador, porque nin-
guém fica igual depois de ler um
livro. Tu aprimora, ele te melho-
ra, ele te liberta”, afirmou Iotti.
A contadora de histórias
Iraci Hoch Maboni declarou sua
alegria em ser homenageada e
agradeceu à Apadev (Associação
de Pais e Amigos dos Deficientes
Visuais), à Academia Caxiense
de Letras, ao Inav (Instituto da
Audiovisão) e à biblioteca pú-
blica. Ela lembrou o apoio in-
condicional que recebe no seu
voluntariado.“Para a turma da
bengala branca e dos óculos es-
curos e a turma da baixa visão e
também os colegas videntes que
assistem a leitura, eu só posso di-
zer que pra mim é uma grande
alegria a convivência com vocês,
me faz crescer. A sua coragem é
contagiante, quando eu quero es-
morecer, eu lembro de vocês, vo-
cês me ensinam que sempre há
um caminho. Eu compartilho essa
homenagem então, com os meus
ouvintes cegos e videntes para os
quais eu sou leitora, e também
a minha família. O poeta Jaime
Paviani no poema ao leitor diz:
Abrimos os livros, só se lê a vida.
Vamos aos livros”, destacou Iraci.
No Final da cerimônia de
abertura, o Prefeito Alceu Barbosa
Velho, juntamente com os demais
homenageados, tocaram o sino,
gesto simbólico que anunciou o
inicio oficial da 29º Feira do Livro.
Após a solenidade, Siane Salvador
fez sua apresentação musical. Du-
rante o evento estão programados
43 bate-papos com escritores lo-
cais, nacionais e internacionais.
O patrono Iotti recebeu uma placa do seu antecessor Gilmar Marcílio
BATE-PAPO
Durante o segundo dia da
29ª Feira do Livro de Caxias do
Sul, o autor Português Gonçalo
Tavares ministrou uma oficina
que aconteceu na Vitrine Cul-
tural na Casa da Cultura, com o
tema “Escrita, Linguagem e ima-
ginação: Modernidade e Tradi-
ção na Literatura”. A oficina du-
rou cerca de três horas e meia e
contou com mais de 25 pessoas.
Gonçalo Manuel Tava-
res nasceu em 1970 na cidade de
Luanda na Angola, mas quanto
tinha dois anos se mudou para
Portugal. Gonçalo é um professor
universitário e escritor, ele teve
sua primeira obra publicada em
2001. Hoje ele conta com mais
de 20 obras publicadas e recebeu
diversos prêmios, como o prêmio
José Saramago 2005 (Portugal),
Internazionale Trieste 2008 (Itá-
lia), o Portugal Telecom de 2007
e de 2011, e no Brasil com o ro-
mance “Jerusalém”, que foi inclu-
ído na edição europeia de “1001
livros para se ler antes de morrer”.
A oficina começou com
a apresentação de todas as pes-
soas que estavam presentes, pois
Gonçalo argumentou que, “como
não iriamos mais nos ver”,
fica mais fácil lembrar-se
dos rostos. Logo depois,
ele iniciou uma breve ex-
plicação do funcionamen-
to da linguagem, e que
escrevemos apenas com
alguns traços. “Escrever
é fazer traços”, explicou.
Gonçalo então argumen-
tou sobre o concreto e o
abstrato: “Quando escre-
vemos, tentamos colocar
algo abstrato em concreto”.
Em mais uma dinâmica,
ele pediu para todos desenharem
o que consideravam uma casa “er-
rada”. Com isso, ele explicou a di-
ferença de “erro” e “errante”, onde
o erro é qualquer coisa que pode
ser aproveitada criativamente,
e o errante é sair sem destino.
Concluindo a dinâmica, Gonça-
OFICINA DE CRIATIVIDADE ESCRITOR GONÇALO TAVARES
Com o tema “Escr ita, Linguagem e Imaginação: Modernidade e Tradição na Li-teratura”, o escr itor por tuguês ministrou uma of icina com várias dinâmicas
por Angelo Luís Scopel
lo mostrou que mesmo algumas
casas “erradas” serem parecidas,
todas possuem qualidades dife-
rentes. “É difícil revelar algo sem
dar algo para pensar”, resumiu.
Outro tema levantado por
Gonçalo foi a relação entre a lin-
guagem e a verdade, quando não
deve existir a ideia que a lingua-
gem captaria a verdade. “Não po-
demos escrever algo original sem
ver de um ponto de vista diferente”.
Ele trabalhou então outra dinâmi-
ca, onde cada participante tinha
de descrever o colega ao lado sem
nenhum adjetivo: “treinar o olhar,
é treinar o escrever”, finalizou.
Gonçalo falou tam-
bém sobre o “acaso”. Ele se ba-
seia nas circunstâncias que nos
são dadas sem nenhuma neces-
sidade. “A poesia é um encon-
tro raro de palavras”, comentou.
O autor também propôs
uma atividade onde se escolhe-
ria cinco letras do alfabeto, e com
essas letras se teria de formular
frases, retornando ao tema criati-
vidade. “Ser criativo é ser racional
de uma forma diferente”. Gonçalo
comentou rapidamente sobre al-
gumas regras de escrita, e sobre
um grupo que trabalhou escre-
vendo textos com esses tipos de
regras na França,
o Ouvroir de Lit-
térature Potentiel
(OuLiPo), que era
um grupo de escri-
tores e matemáti-
cos que trabalham
com a libertação da
literatura de uma
forma paradoxal.
G o n ç a l o
finalizou dizendo
que a criatividade
é “imprevisível”.
Como a oficina
se estendeu por
mais tempo que
o esperado (por-
que geralmente
ele costuma falar
sobre seus livros),
Gonçalo terminou o encontro
dizendo: “o golpe mais incisivo
vai se dar com a mão esquerda”.
Gonçalo M. Tavares: “escrever é fazer traços”
BATE-PAPO
Grandes escritores mar-
caram presença na 29ª Feira do Li-
vro de Caxias do Sul. No dia 28 de
setembro ocorreu um dos
eventos mais esperados da fei-
ra: o escritor portu-
guês Gonçalo Tavares
participou de mais um
debate, que ocorreu no
auditório da Praça Dan-
te Alighieri. O escritor,
mediado pelo ex-patrono da Fei-
ra do Livro e filósofo Gilmar Mar-
cílio, contou sobre suas criações
literárias e seu processo criativo.
Gonçalo Tavares é consi-
derado o prodígio da literatura
portuguesa. Possui mais de 20
livros publicados e recebeu os
importantes prêmios da língua
portuguesa, como o Portugal
Telecom (2007), o prêmio José
Saramago (2005) e o prêmio
LER/Millennium BCP (2004).
Seu romance “Jerusalém” foi in-
cluído na edição europeia de
“1001 Livros Para Ler Antes de
Morrer”e recebeu elogios do fa-
moso escritor José Saramago.
Ao iniciar o bate-papo, Gil-
mar Marcílio questionou sobre
algumas de suas obras, como O
Reino, Aprender a rezar na Era
da Técnica e Jerusalém. Gonça-
lo Tavares explicou que procura
homenagear, por exemplo, na
série O Bairro, alguns escritores,
seus pensamentos e suas obras. Ao
ser questionado sobre as obras
O Bairro e O Reino e as carac-
terísticas de seus personagens,
Gonçalo explicou sobre a ideia da
diferença que existe na realidade.
“O Bairro tem mais a ver com
o encantar, enquanto O Rei-
no, com o desencantar.”
Gonçalo expli-
cou, por outro lado,
que seus livros fazem
um estudo sobre o mal.
“Nós todos somos agen-
tes do mal e agentes do bem.
Eu tenho medo das pesso-
as que dizem que nunca fize-
ram o mal. A pessoa pode ter
30 anos com atos muito corre-
tos e apenas um momento com
um ato muito terrível”, relatou.
Falando sobre sua obra
Aprender a Rezar na Era da
Técnica, o autor contou sobre a
modernidade e a decadência do
reino humano. Gonçalo deixou
clara a relação entre o pensamento
e o corpo. O autor percebeu que
há uma disputa entre a crença
O escritor português esteve presente no dia 28 de setembro na 29ª Edição da Feira do Livrocontando sobre suas criações literárias e sobre seu processo criativo para o público presente
por Giulia Andreazza
O PENSAMENTO DE GONÇALO TAVARES
e o modelo capitalista. Para ele,
existe uma espécie de competi-
ção entre essas formas de pensar
que, de certa forma, tortura o ser
humano pela falta de equilíbrio.
“O século XXI é uma luta en-
tre o som da oração e o som da
máquina. Pedem-nos para rezar,
mas só lembramos da tabuada.
Pedem para lembrar da tabuada, e
só pensam em re-
zar”, explicou o escritor.
Sobre a questão do tempo
nos dias atuais, Gonçalo criticou
como a sociedade faz com que
nos mantenhamos ocupados dia-
riamente com tarefas que nem
sempre são pertinentes, mas que
aparecem como urgentes. É como
se as coisas só ganhassem sen-
tido quando temos urgência. O
autor diz que a boa pergunta é,
“o que devo fazer hoje enquan-
to não morro?” E ilustrou com a
história de Alexandre, O Grande,
que simulava sua morte toda noite
antes de dormir. “Um dia é uma
coisa enorme”, disse o escritor.
Segundo ele, um ato urgente
não é um ato importante. Atos
importantes são aque-
les que nos marcam. A ur-
gência adia o importante.
Ao ser questionado sobre
seu processo criativo, Gonçalo
disse que é necessário abrir tempo
e se isolar para começar o proces-
so de lucidez e criação. “Se que-
ro fazer algo, tenho que tirar os
obstáculos em frente ao tempo. O
sim exige tempo. Se queremos fa-
zer um trabalho, temos que estar
isolados”. De acordo com o escri-
tor, precisamos defender nosso
espaço para desenvolver a criação
artística. “Precisamos de um tem-
po só para nós, longe de quem ama-
mos, um tempo para exercitar a
nossa mente”, esclareceu.
Ao entrar no tema de con-
quistas, Gilmar Marcílio ques-
tionou o escritor sobre o que é
importante conquistar nessa épo-
ca de urgências. Gonçalo Tavares
deixou claro sua opinião dizendo
que é preciso
encontrar um
pequeno es-
conderijo, um
espaço só nos-
so onde possa-
mos fazer o que
queremos. “As
pessoas têm
medo de não
estarem a fazer
nada. A imo-
bilidade social
é quase uma
ameaça”, definiu.
Gonçalo Tavares disse que
durante esses 12 anos de produ-
ção, não deixou de ler nenhum
dia. O escritor também contou so-
bre essa nova lógica de produção
e reprodução de conteúdo que,
com a internet, foi revolucionada
e muitos textos se tornam públi-
cos sem estarem amadurecidos o
suficiente com o intuito de torna-
rem-se “escritores”. “O ato de es-
crever e o ato de publicar são duas
ações muito diferentes. Publi-
car é uma violência. Escritor é
quem escreve, não quem publica”,
o p i n o u .
Para encerrar o debate,
Gonçalo leu histórias de sua obra
O Sr. Brecht e um espaço para
perguntas foi aberto ao público.
Gonçalo Tavares palestra na Feira do Livro e conta sobre suas criações
BATE-PAPO
Advogado até os 40, William C. Gordon se
inspirou em seus casos reais para compor os perso-
nagens de seus livros. Na noite do domingo, 29 de se-
tembro, em torno das 19h, no auditório da 29ª Feira
do Livro de Caxias do Sul, em um bate-papo o escri-
tor norte-americano contou ao público histórias de
sua infância e os segredos por trás de seus mistérios.
Apaixonado pelos livros desde sua ado-
lescência, de um tempo quando os mistérios
eram descobertos apenas pelo “faro” e pela as-
túcia, fez daquele período o ambiente dos to-
dos seus livros. O romancista policial é casado
com a aclamada escritora chilena Isabel Allende.
William Gordon iniciou o evento se des-
culpando ao público por não falar português,
mas explicou que conseguia dominar o espanhol,
pois viveu em um bairro americano povoado por
muitos mexicanos. Neste mesmo local, o escri-
tor contou que para fugir das crianças maiores
que queriam lhe bater, ele recorria ao seu escon-
derijo predileto: a biblioteca. “Escrever é um ato
de vingança de quem lê muito. Eu sou um conta-
dor de histórias, mas muitos dizem que eu mes-
mo sou uma história.”, disse, referindo-se a todas
os episódios vivenciados em uma infância difícil.
Segundo o advogado, as grandes inspi-
rações para suas obras foram os casos que teve
ao longo de sua primeira profissão e, também,
fruto de uma observação intensa, como acon-
teceu quando conheceu um chinês albino e o
achou uma boa ideia de personagem para o
seu livro O Mistério dos Vasos Chineses. Da
Romancista policial, Willian C. Gordon publicou o primeiro livro depois dos 60 anos.Em bate-papo, contou que sua maior inspiração são os casos reais de tribunais
por Marina Demicheli
OS ROMANCES POLICIAIS DE UM TEMPO REMOTO
Gordon: Meu próximo livro será sobre perdas. Elas são as que tive em minha vida.
mesma forma, confessou que em seus livros exis-
tem fragmentos autobiográficos. “Quem quiser
me conhecer, que leia meus livros”, brincou.
Em todos os seus cinco livros publica-
dos, O Mistério dos Jarros Chineses, Vidas Par-
tidas, O Anão, O Rei da Sarjeta e Os Corredo-
res do Poder, o ambiente é um tempo onde não
haviam computadores, celulares ou exames de
DNA. Seu personagem, dito como o investi-
gador, contava apenas com sua intuição para
solucionar os mistérios que, por ser uma
sua marca registrada, tinha uma re-
viravolta não premeditada pelo leitor.
Com cerca de 70 pessoas, o escri-
tor norte-americano encerrou o bate-papo
por volta das 20h, contando como funciona
seu processo criativo: afirmou que não sabe
de onde vem sua criatividade, porém quan-
do surge um “gancho” é quase impossível
parar de inventar. William C. Gordon con-
cluiu ressaltando a importância de sua esposa
em todas as fases desde que se conheceram.
Gordon: Minha esposa costuma dizer que tenho uma concentra-ção de 11 minutos.
BATE-PAPO
A 29ª Feira do Livro de Caixas do Sul
contou com a presença de dois escritores da ci-
dade na noite do dia 30 de setembro, segunda-
-feira. O debate acompanhado por mais de 30
pessoas, teve a participação de Ângela Broilo e
Luiz Narval. O evento, que iniciou às 19 horas,
foi mediado pelo também escritor, Uili Bergami.
Os escritores, ambos com duas obras pu-
blicadas e ganhadores de concursos literários,
relataram como funciona seu processo criati-
vo. Revelaram para quem escrevem, como utili-
zam a técnica para escrever algo sólido que va-
lha à pena para as duas partes, a do escritor e
do leitor, e a motivação que eles têm para criar.
Ângela Broilo, que participou das antologias A árvo-
re da vida e Nos trilhos da história, conta que levou
cinco anos para que ficasse pronto seu livro Hipe-
restesia. A autora contou que seu processo criativo
é lento, pois gosta de pesquisar muito antes de es-
crever e de ser verdadeira no momento da escrita.
Ela se autodenomina “obcecada” em aprender e luta
contra as suas deficiências. Além disso, Ângela acha
que sempre tem muito a aprender. “Leia os autores
que você gostaria de ser”, indicou.
Luiz Narval, autor dos livros A Mansão da Rue
Lafayette e Era em pleno dia ascensão da noite,
diz ter uma escrita erudita, e que seu posiciona-
mento é muito forte, pois acredita que com um
pensamento já traçado, fica mais fácil seguir um
caminho. Ao contrário de Ângela, ele revelou que
o escritor precisa gostar do que escreve e que não
tem um leitor ideal. Para ele, se o livro que escre-
veu agradou pelo menos uma pessoa, já é o sufi-
ciente. “Um livro pode ser um erro ou um acerto”,
disse o autor que busca escrever sobre “algo sólido”.
Para finalizar o bate-papo, o mediador
abriu espaço para o público fazer perguntas aos
escritores, que prontamente foram respondidas.
E m u m b a t e - p a p o l i t e r á r i o , o s d o i s a u t o r e s c a x i e n s e s , Â n g e l a B r o i l o e L u i z N a r v a l , t i v e r a m a o p o r t u n i d a d e d e f a l a r s o b r e o p r o c e s s o c r i a t i v o e a s t é c n i c a s u t i l i z a d a s
por Marina Isoton
A CRIAÇÃO LITERÁRIA
Ângela Broilo, Uili Bergamini e Luiz Narval: bate-papo caxiense
BATE-PAPO
Valorizar os escritores re-
gionais é também papel de uma
feira do livro. Assim, na terça-fei-
ra, dia 1º, foi a vez de duas “pratas
da casa” falarem com o público
na 29ª Feira do Livro de Caxias
do Sul, no auditório da Praça
Dante Alighieri. Tendo em pauta
a Literatura Infantojuvenil, o de-
bate contou com a presença dos
escritores regionais Flávio Luis
Ferrarini e Kalunga, e mediação
da também escritora e contado-
ra de histórias Helô Bacichette.
Flávio Luis Ferrarini tra-
balha como publicitário em Ca-
xias do Sul, é escritor de mais de
20 títulos, nos gêneros de contos,
crônicas, poesia, poesia em pro-
sa, epigramas, novela e narrativa
infantojuvenil. É também colu-
nista do jornal O Florense e Se-
manário, participou de antolo-
gias literárias como Quando as
Folhas Caem, Letras do Brasil e
Poetas do Rio Grande do Sul. Sua
obra mais recente, Bento Bandi-
ni - Seja Você Mesmo, foi lançada
em maio, e, como os livros ante-
riores, já está sendo trabalhado
Na terça, dia 1º de outubro aconteceu na Praça Dante um encontro com os escritores Flávio LuisFerrarini e Kalunga, com mediação da também escritora e contadora de histórias Helô Bacichette
por Camila da Costa
LITERATURA INFANTOJUVENIL COM PRATAS DA CASA
Kalunga: o adulto que tem sensibilidade também vai gostar do infantojuvenil
Kalunga é poeta, contista,
animador cultural, compositor e
palestrante, participa de projetos
como Autor Presente, Adote um
Escritor, Fome de Ler e Lendo pra
Valer. Em seu nome tem 20
títulos publicados para o público
infantil e infantojuvenil, entre eles
o mais recente, Gre-nalzinho é
Sempre Gre-nalzinho. Também já
gravou três CD’s infantis: Canção
do Amiguinho, Kalunga
Criança – Vol. I e II.
Ao responderem ao ques-
tionamento se a Literatura In-
fantojuvenil realmente existe, os
convidados afirmaram que, sim.
Ferrarini acredita que esse gênero
literário existe e sempre vai existir:
“é essencial essa literatura, pois até
pouco tempo atrás não
existia literatura para essa
faixa de idade e agora está
sendo cada vez mais pro-
curada, porém é necessá-
rio saber o que o público
quer e sempre motivá-
-los”. Kalunga ressalta a
importância do incentivo
da escola para que essa
literatura continue a exis-
tir: “é muito importante
trabalhar o boca a boca,
cada professor que elogia
vale mais do que dez arti-
gos publicados no jornal”.
Indagado se utiliza uma
linguagem específica quando es-
creve para o público infantojuve-
nil, Kalunga explicou: “Eu respeito
muito o crítico literário, me preo-
cupo com a linguagem, porém,
escrevo sem freios, e minha pre-
ocupação maior é: tomara que dê
certo”.
Ferrarini, que diz ter tími-
do, optou em publicar seus livros
apenas em Caxias revelou: “no iní-
cio eu pensava em fama, dinheiro
e mulheres, hoje em dia, apenas
ser lido e reconhecido já está bom.
Se fosse um gênero mais consumi-
do, talvez eu tentaria, mas prefiro
escrever para menos pessoas, com
mais qualidade.”
Kalunga, ao contrário do
colega, não se acomoda: “faço
tudo hoje como se fosse o primei-
ro livro que escrevi, procuro edi-
toras, recebo mais não do que sim,
mas não me abalo com não. As
coisas acontecem para quem está
no meio, está no mercado.”
O bate-papo contou com a
presença de 20 pessoas, das quais
a maioria era da terceira idade.
Flávio Luis Ferrarini e Kalunga no debate sobre literatura infantojuvenil
BATE-PAPO
Em encontro mediado pelo cronista Tiago Marcon, o escritor voltou à Feira do Livro de Caxias, falou de sua relação com as palavras e socializou percepções acerca da literatura contemporânea
por Ricardo Augusto de Souza
ANTÔNIO TORRES DIZ QUE NÃO HÁ CRÍTICA LITERÁRIA
Uma das atrações da
29ª Feira do Livro de Caxias do
Sul foram os bate-papos, reali-
zados diariamente, às 19h, no
Auditório da Feira. No dia 2 de
outubro, o convidado foi o reno-
mado escritor Antônio Torres,
que participou também da 24ª
edição da Feira, em 2007. Tor-
res falou sobre a importância da
literatura na infância e lamen-
tou a ausência de uma crítica li-
terária mais rígida atualmente.
O responsável pela mediação
foi o cronista Tiago Marcon.
Antônio Torres é natural
de Junco, pequeno povoado que
hoje corresponde à cidade de Sá-
tiro Dias, no interior da Bahia.
Sua estreia na literatura ocorreu
em 1972 com o romance Um cão
uivando para a lua, considerado
pela crítica “a revelação do ano”.
Entre seus romances, destaca-
-se a trilogia composta por Essa
Terra (1976), O cachorro e o
lobo (1997) e Pelo fundo da agu-
lha (2006). Recebeu os prêmios
Machado de Assis pelo con-
junto da obra e Zaffari & Bour-
bon por Meu querido canibal.
Descontraído e alegre,
Antônio Torres iniciou o debate
ressaltando a importância da in-
fância na construção do
sujeito. O autor comen-
tou que, ainda na escola,
durante o desfile de 7 de
setembro, recebeu a ta-
refa de recitar versos do
poeta Castro Alves. Se-
gundo ele, ao olhar para
as pessoas emocionadas
diante da poesia e, pos-
teriormente, da música,
notou o quanto as pala-
vras, quando dispostas
de determinada maneira,
possuem poder de tocar
os seres humanos. “Elas (a
música e a poesia) atingem até
os analfabetos de alguma manei-
ra”, afirmou. Diante disso, Torres
destacou também o quanto esses
fatos da infância forjaram o adul-
to que ele é. “Para mim, o menino
é que é o pai do homem”, opinou.
Indagado sobre como
havia descoberto seu talento
Segundo o escritor Antônio Torres “a literatura está ficando no gueto”.
para a literatura, comentou que a iniciação à escri-
ta se deu de forma romântica. Segundo ele, ainda
no sertão, escrevia cartas de amor “encomendadas”
por meninos ou meninas que não tinham coragem
de fazer uma declaração ao vivo à pessoa amada. O
escritor disse que, por meio das cartas, descobriu a
importância das palavras para as pessoas. “Isso me
levou para as letras com a percepção do quanto a
literatura pode fazer bem para o outro”, destacou.
Sobre a relação com outros escritores, Torres
contou dois fatos marcantes de sua carreira. O pri-
meiro deles aconteceu em Portugal, onde um poeta
português, após ler um de seus textos, o acolheu e in-
centivou Torres a dedicar-se à escrita. Outro aconte-
cimento marcante para Antônio Torres foi a amizade
que construiu com o também escritor Moacyr Scliar.
Segundo o autor, os dois se conheceram durante
um evento em Frankfurt e a partir dali a amizade só
cresceu. “Moacyr Scliar ficou meu irmão”, enfatizou.
No momento em que o bate-papo foi para a
questão dos temas literários, Antônio Torres não titu-
beou. Para o autor, a questão da morte é tema não só
muito presente na literatura, mas, sim, em toda a exis-
tência. “A morte é o grande tema da vida!”, disparou.
Ao entrar no debate acerca da nova dinâmica
de escrita proporcionada pelas novas tecnologias, o
escritor foi irônico e cutucou as identidades super-
ficiais que brotam nesse novo contexto de “virtua-
lização” do mundo, onde todas as pessoas querem
passar a imagem de que sabem fazer tudo, principal-
mente quando o assunto é escrever. “Há mais escri-
tor que gente hoje no mundo. Na verdade, há mais
tudo que tudo no mundo hoje em dia”, brincou.
Outro fator que preocupa o escritor é o fato de
que é cada vez mais difícil conceber uma crítica apro-
priada aos jovens escritores, pois eles possuem uma
sede de publicação e o sucesso comercial, às vezes, faz
com que
se sintam
s u p e r -
dot ados .
Para o
autor, no
caso dos
blogs, essa
crítica é
p r a t i c a -
m e n t e
a u s e n t e
e o efei-
to disso é
sentido na
qualidade da produção literária contemporânea. “A
avaliação é extremamente necessária. No meu tem-
po, você aprendia no esporro do chefe”, enfatizou.
Antônio Torres ainda aproveitou o bate-papo
para criticar a relação das pessoas em geral com os
livros hoje. Para ele, há um mercado que se apropriou
da literatura como uma mercadoria que cria a ilu-
são de que ela está em alta no século XXI quando,
na verdade, o que está em alta é o consumo como
um todo. “Quem está em alta é o produto livro. A
literatura não, ela está ficando no gueto”, lamentou.
Por fim, o escritor respondeu a algumas pergun-
tas e distribuiu autógrafos aos presentes no evento.
BATE-PAPO
C om o ap oi o à l e i tura é p os s ív e l re sg atar t radi çõ es , c r i ar hábi to s d a l e i -tura e d a imag inação e e x p l orar o univ e r s o l i t e rár i o at rav és d os l iv ro s
por Bianca Vist Hahn
O INCENTIVO NA FORMAÇÃO DE LEITORES
A leitura na infância e
na adolescência tem valor na
formação e alfabetização de
alunos. Na 29° Feira do Livro
em Caxias do Sul este tema foi
proposto para um bate-papo
ocorrido na quinta-feira, 3 de
outubro. Conduzido pela jor-
nalista Vania Marta Espeiorin
o debate teve a participação do
convidado Luiz Eduardo Matta.
O escritor Luiz Eduardo
Matta possui mais de dez livros
publicados, sendo a maioria de
suas obras voltadas ao público
jovem e infantil. Seus livros são
amplamente adotados em salas
de aula. É membro da AEILIJ –
Associação de Escritores e Ilus-
tradores de Literatura Infantil
e Juvenil. Ele afirma que a li-
teratura enriquece muito mais
que ver filmes e novelas, diverte
aprendendo, tem um lado que se
está apreendendo com a ficção.
Para o início do debate, o
autor foi questionado sobre a in-
fluência da leitura em sua adoles-
cência. Ao contar sua história, ele
declarou que lia muito quando
criança, porém na adolescência
não gostava de ler, tinha pregui-
ça. Porém, essa percepção da lei-
tura mudou a partir do momento
em que na escola foi solicitado
que ele lesse um
livro do gênero
policial, e foi aí
que começou
a prender sua
atenção e criar
aspiração pela
leitura. “Não
gostava de ler,
foi o livro cer-
to que me en-
tusiasmou a
ler”, contou.
M a t t a
revelou que os
seus formadores
foram à profes-
sora de língua portuguesa e uma
livreira de 65 anos, que revelaram
para ele a leitura no País. Alguns
estudos revelam que antigamen-
te o maior estimulador da leitura
era a mãe, no entanto, nos dias de
hoje, esse papel passou a ser de-
sempenhado pelo professor. “Sin-
to-me otimista em relação ao pro-
gresso do Brasil relacionado à leitura e incentivo”, disse o escritor.
Solicitado que descrevesse o seu processo criativo o que ele leva
para a escrita e sobre o envolvimento dele nas histórias, Matta
explicou que é um exercício de alto controle, de não se apegar aos
personagens e que a história não se perca. Além disso, gerando ri-
sos na plateia, afirmou que assistir novelas me inspira a escrever.
Durante o debate foi observado de fato que o tema leitura se insere
em diversos meios. Quando estimulado desde criança, o incentivo
a leitura só tem a somar. Para finalizar, Matta incentivou a plateia
com seguinte declaração: “Nossa língua é muito linda. Vamos co-
nhecer mais. Aprender com os livros nos transforma como pessoas”.
Matta afirma que é possível através da leitu-ra voltar a ser criança.
O p a t r o n o d o e v e n t o , C a r l o s H e n r i q u e I o t t i , p a r t i c i p o u d e u m a c o n v e r s a e u m P o c k e t S h o w , q u a n d o c o n t o u u m p o u c o s o b r e a c r i a ç ã o d e s e u s p e r s o n a g e n s
por Vinícius Agliardi
IOTTI É DESTAQUE NA 29ª FEIRA DO LIVRO
A 29ª Feira do livro, com
o tema “em rede com a leitura”,
promoveu no dia 04 de outubro
um bate-papo e Pocket Show com
o cartunista Carlos Henrique Iot-
ti, patrono da feira. Iotti é o cria-
dor de personagens como Radic-
ci, Irmão Benildo, entre outros.
Carlos Henrique Iotti
é jornalista e cartunista, e suas
charges bem humoradas e acom-
panhadas de crítica social e polí-
tica levam os leitores a buscarem
informação sobre o dia-a-dia.
Aos 16 anos, começou a sua car-
reira com o desenho, a após con-
cluir a graduação em jornalismo,
criou seus primeiros persona-
gens. Radicci já esteve em rádios,
revistas, na televisão e até mesmo
na copa do mundo. Em 1997, Iot-
ti ganhou o HQMIX, prestigiado
prêmio de quadrinhos brasileiro.
Em 1983 nasceu o popu-
laríssimo Radicci. Iotti contou
que a ideia para seus persona-
gens foi a partir da observação
dos moradores de Caxias do Sul.
“Há 30 anos, eu estava com a in-
cumbência de criar um persona-
gem, e eu não tinha ideia. Estava
voltando para cara, e vi um
casal no supermercado, e
a mulher casualmente se
chamava Genoveva, e aí
eu olhei e disse: está
aí o que eu tenho
que fazer. Es-
tes personagens. Uma maneira
de homenagear o colono”, disse.
Iotti disse também que
fez Radicci com todas as carac-
terísticas de um anti-herói, que o
personagem é teimoso, insisten-
te, possui fisiono-
mia baixa,
é re-
BATE-PAPO
chonchudo e não trabalha. Carac-
terísticas generalistas do “gringo”.
Genoveva, esposa da figura principal, foi
criada e não aparece muito, porém é ela
que, segundo o cartunista, manda na histó-
ria e também é sujeita a “atentados terroris-
tas” de Radicci. Além destes, a história tam-
bém possui personagens como Guilhermino,
o filho Hippie e Nôno, o patriarca da família.
O cartunista contou que frequentemente é
confundido com seu personagem principal, e por
casa disto, decidiu criar a Jaquirana Air, uma histó-
ria que acontece a bordo de um avião. Uma associa-
ção entre o toque gauchesco da companhia ao ser-
viço da Varig no interior do Estado nos anos 1970.
Mais adiante, Iotti originou mais persona-
gens, incluindo o padre Irmão Benildo, inspirado em
seu professor de escola e criado apenas para o rádio.
A criação do mesmo se deu ao fato do humorista
querer falar coisas na qual, segundo ele, não podia.
Após o término do bate-papo, Iotti abriu
um espaço para perguntas e distribuiu autógra-
fos no livro 30 anos de Radicci, que saiu na
Coleção L&PM Pocket com tiras inéditas.
Iotti: O Radicci tem a cara do gringo
BATE-PAPO
Permeando pelos mais variados assuntos, Marcia compartilhou sua concepção de filoso-fia tradicional e contemporânea a partir de suas obras, de maneira acessível e bem humorada
por Henrique Bettiato Zattera
MARCIA TIBURI, DE CORPO E ALMA
As relações e correlações
da filosofia com a existência hu-
mana foram os eixos que condu-
ziram o bate-papo com a escri-
tora, filósofa e professora Marcia
Tiburi, na 29ª Feira do Livro de
Caxias do Sul. O evento acon-
teceu no dia 05 de outubro, no
auditório da feira e foi mediado
pelo psicanalista Caetano Olivei-
ra. O debate foi marcado por um
confronto saudável e interativo
entre os dois profissionais. “Insis-
tem em colocar uma filósofa para
debater com um psicanalista, não
sou louca, apenas sou melhor do
que ele (psicanalista)”, começou
Marcia, tirando risos da plateia.
Marcia Angelita Tiburi
nasceu em Vacaria, Rio Grande
do Sul. É graduada em filosofia
e artes, mestre e doutora em filo-
sofia. Publicou diversos livros de
filosofia, entre eles As Mulheres
e a Filosofia (Editora Unisinos,
2002) Filosofia Brincante (Re-
cord, 2009) e o romance Mag-
nólia, indicado ao prêmio Jabuti
de melhor romance em 2006. Es-
creveu para várias revistas e jor-
nais e, desde 2008, é colunista da
Revista Cult, além de participar
de inúmeras entrevistas e deba-
tes em programas de televisão.
O bate-papo iniciou com
foco direto na filosofia clássica,
analisando o estereótipo de que
a filosofia está fundamentada
em jargões. Marcia argumen-
tou que jargões na filosofia são
comuns, porém o pensamento
construído através de jargões
bloqueia a experiência do pró-
prio pensamento. De acordo
com ela, por muito tempo a fi-
losofia vem sendo regida por re-
flexões importantes, porém an-
tiga, o que nos torna capazes de
inventar nossa própria filosofia.
Contextualizando que
atualmente a educação das crian-
ças é criada a partir de chanta-
gens, Caetano questionou como
Marcia lidava com sua mãe e
como lida, hoje, sendo mãe. A
escritora afirmou que mãe quer
seu filho como quer a si mesma,
e de um modo geral a mulher
possui muito isso, talvez por ter
naturalmente o instinto mater-
no. Deixou claro, também, que a
maternidade é algo feminino, já
a criação de um filho é uma res-
ponsabilidade coletiva, do pai,
da mãe, da tia e da avó. Na re-
lação mãe e filho, Marcia critica
essa ação, porém não nega que
seja um dos mecanismos mais
fáceis de “vencer” uma criança.
No âmbito da infância,
Marcia trouxe sua obra Era meu
esse rosto, onde estão registra-
dos todos os fatos que marcaram
seus primeiros anos de vida, as
memórias, as vivências e histó-
rias ocorridas quando criança. Já
em seu livro Filosofia Brincante,
a autora caracterizou a infância
como uma experiência da lingua-
gem, uma libertação da mente e
disse que essa prática é fundamen-
tal para quem escreve poesia, lite-
ratura e inclusive filosofia. Marcia
ironizou afirmando que todos que
estavam presentes no bate-papo
pareciam crianças, com os olhos
brilhando e prontos para absor-
ver o máximo de informações.
Outro livro citado foi So-
ciedade Fissurada, no qual Mar-
cia abordou o tema das drogas.
Ela argumenta que teve o intuito
de levantar a questão da responsa-
bilidade social comprovando que
esse problema não atinge somen-
te consumidor, mas a sociedade
em geral. Marcia explicou que
existem dois tipos drogas, as ilí-
citas e a lícitas. A autora deduziu
que todos sabiam o que eram as
drogas ilícitas, então se focou na
outra. De acordo com Marcia, as
drogas lícitas são quaisquer coisas
que atinjam nossos sentimentos,
como a música, a leitura, ou para
ela, a filosofia. “As pessoas buscam
drogas químicas para sentirem
prazer, porém nunca tentaram
misturar literatura com filoso-
fia. É só ler um livro que te deixe
louco que vocês verão o que é o
mais profundo prazer”, sugeriu.
Instigada sobre a real de-
finição de razão, Marcia defendeu
que a razão é muito posterior ao
nosso corpo. “Desenvolvemos
a linguagem, a política e depois
esboçamos um cálculo, uma ten-
tativa de unir o que não tem co-
nexão, é aqui que nasce a razão”,
disse. Segundo a autora, atual-
mente podemos dizer que a razão
é um afeto, pois para as pessoas
que não sabem pensar, existem
outras pessoas que pesam por
elas. O exemplo dado por Márcia
foram os publicitários, que criam
o pensamento e o vendem para os
outros. Marcia justificou que hoje
as peças publicitárias não criam
dúvidas ou questio-
namentos como anti-
gamente, elas apenas
traduzem uma ideia e
repassam para o pú-
blico. Caetano con-
cluiu esse pensamen-
to argumentando
que atualmente nin-
guém mais propõe,
todos incorporam
o que está pronto.
Marcia fina-
lizou o bate-papo
construindo a ver-
dadeiro significado
de filosofia. Segundo
ela, a filosofia não
é uma especialização de nada, é
apenas um fluxo de pensamentos.
Com a filosofia você pode tudo,
assim como o pensamento. Mar-
cia completou que as pessoas pen-
sam para ficarem felizes. “Nesse
momento eu sou um ornitorrinco,
porque eu realmente tenho uma li-
gação muito forte com esse bicho,
e eu sei que se eu fosse ele, eu seria
muito feliz. Por isso gosto de pen-
sar nisso”, disse. E finalizou que o
nosso pensamento, assim como
a filosofia, não existe para expli-
car o mundo, mas para inventar o
mundo onde nos sentimos felizes.
Marcia Tiburi: hoje sou um ornitorrinco
BATE-PAPO
A escritora Tatiana Levy compareceu a Feira do livro de Caxias do Sul para umaconversa sobre a carreira, a vida, e comentou sobre suas obras Chave de casa e Dois rios
por Patrícia de Cesaro Guilherme
ENTRE A AUTORA E O PERSONAGEM
A 29° Feira de Caxias
do Sul contou com a presença
da escritora Tatiana Salem Levy
que veio diretamente de Lisboa
para um bate–papo no auditó-
rio da feira, quando falou sobre
sua carreira, história de vida, as
obras e futuros lançamentos.
Tatiana é escritora e
descendente de judeus turcos,
que nasceu durante a ditadura
militar,quando a família estava
exilada em Portugal. Nove me-
ses depois do nascimento, volta-
ram para o Brasil, beneficiados
pela Lei da Anistia brasileira.
Ela contou que sempre
teve dificuldades de falar em
público, mas que hoje consegue
lidar melhor com a situação.
“Desde pequena eu leio bastante,
minha família sempre foi da lei-
tura, minha mãe era jornalista e
sempre me incentivou”, revelou.
De acordo com Tatiana, sua
inspiração para escrever vem
dos próprios sentimentos que
carrega. A autora revelou que
adora viajar e conhecer luga-
res novos, que isso traz grandes
ideias para seus livros. “ Viajar
é como um livro, você conhe-
ce muitas culturas”, indicou.
Tatiana falou ainda sobre
seu livro Dois rios, que conta a
história de dois irmãos gêmeos
que cresceram sem a presença
do pai, e ao longo dos anos suas
vidas foram tomando rumos di-
ferentes. A história é conduzida
por duas narrativas, que traz no
primeiro momento a versão da
irmã sobre a vida, e depois so-
bre a trajetória do irmão pelo
mundo, contada por ele mesmo.
A obra Chave de casa foi
lançado primeiramente em Por-
tugal, já vendeu mais de 30 mil
exemplares e recentemente saiu a
edição de bolso pela editora Re-
cord. O livro conta a história de
uma paixão violenta, fala que a
dor está em tudo que existe e como
lidar com isso na vida, também
traz a história de judeus e muçul-
manos que foram expulsos da pe-
nínsula Ibérica pela inquisição.
Conforme Tatiana, nem
todo autor consegue escrever
sobre a dor. Ela que está passan-
do por uma ótima fase na sua
vida,comentou que não conse-
gue escrever sobre algo se não
está sentindo a mesma emo-
ção no momento e garante que
prefere ser feliz a ter que sofrer
por uma história. “Cada au-
tor tem um processo”, conclui.
BATE-PAPO
O filósofo Aristóteles, na
Grécia Antiga, já destacava o po-
der do multifacetado verbete “ca-
tarse”. O tema, que é tão antigo e
ao mesmo tempo tão atual, foi o
assunto de um bate-papo com os
poetas Bernardethe Pierina Ghi-
dini Zardo e Leandro Angonese,
com a mediação do escritor Uili
Bergamin, na noite da terça-feira,
dia 08 de outubro, durante a pro-
gramação da 29ª Feira do Livro
de Caxias do Sul. No Auditório da
Feira, em meio a ansiosos espec-
tadores – e ao sopro quase musi-
cal do forte vento – a instigante
temática foi o centro das atenções.
Integrante da Academia
Caxiense de Letras, Bernardethe
Zardo é graduada em Educação
Artística e tem pós-graduação
em Folclore e em Filosofia Práti-
ca. A escritora participou de an-
tologias locais e publicou o livro
de poesias A menina do Arco. Es-
treando na categoria de Contos,
recebeu, neste ano, o primeiro
prêmio no Concurso Anual Lite-
rário de Caxias do Sul. Também
membro da ACL, o metalúrgico e
poeta Leandro Angonese é autor
dos livros Palavras ao Vento, Pá
de Cata-vento e Orações de um
Ateu. O escritor também
faz parte do Grupo de
Estudos Literá-
rios Litteris
Te Deum.
R e -
conhecida
como uma
autora de
“poesia de
encantamen-
to”, Bernardethe
classifica o ato de
escrever como uma
das mais sublimes formas de
comunicação. Para ela, escrever é
a maior experiência do sagrado,
uma vez que quando se está ver-
dadeiramente em contato com o
sacro, acontece uma espécie de
comunicação interna. “O ato de
escrever é a primeira tentativa
de o homem entrar em contato
com o seu espírito. Quando eu
escrevo, encanto-me com o meu
próprio espírito”, afirmou. A ale-
gria e o prazer de poetizar é um
dos combustíveis
para perdurar
a fascinação
pela vida.
Q u e s -
t i o n a d a
quanto ao
exercício de
catarse nas suas
obras, Bernar-
dethe – que é
fã da poetisa
chilena Gabriela
Mistral – diz que o
processo de lidar com as pa-
lavras é, sem sombra de dúvida,
um exercício catártico; a enorme
complexidade de versar é, logo, o
melhor exemplo para essa cons-
tatação. Angonese, dono de uma
poesia mais angustiosa, tem nas
Os poetas caxienses Bernardethe Zardo e Leandro Angonese, cada qual com o seu es-tilo, discutiram como se desenvolve o difícil e maravilhoso processo da escrita poética
por Priscilla Breda Panizzon
A ARTE DA POESIA COMO CATARSE
aflições do dia a dia a inspiração
para escrever. “Catarse para mim é
purificação, é livrar-se das angús-
tias que tomam conta dos meus
dias, da minha vida”, destacou.
Inspirado pela dureza dos
poemas de Augusto dos Anjos,
Angonese diz que não é comum
encontrar a poética no chão de fá-
brica, em meio ao maquinário que
trabalha sem parar. Em uma socie-
dade cada vez mais “supersônica”,
é essencial que se volte a atenção
ao eu, à identidade de cada um que
acaba se dissipando por entre as
novas tecnologias. “Se não souber-
mos quem somos, como podemos
mudar o mundo? Desse modo,
somos marionetes de quem sabe
quem é e onde quer chegar”, des-
tacou. De acordo com o escritor,
os livros fazem pensar, fortificam
o cérebro, fazem-no trabalhar os
seus músculos. Mais do que isso,
eles desenvolvem o senso crítico
nos seres humanos – e cidadãos.
Ao final do bate-papo, que,
por várias vezes teve a participação
do público, a questão da catarse
ainda suscitava algumas dúvidas
– talvez os questionamentos sobre
ela e a criação literária nunca te-
nham fim. Entretanto, é fato que
a catarse não precisa (nem deve)
necessariamente ser algo ruim,
como o expurgamento da tristeza.
Afinal, catarse também pode ser,
sem problema algum, o extravasa-
mento da alegria. Expurgar pode
ser uma ação tanto envolvida em
lágrimas, quanto em sorrisos. Ca-
tarse, nas veias de quem escreve, é
sentir o êxtase em contar histórias
para si e para o mundo. É tornar o
indescritível em versos, é deleitar-
-se ou sofrer, por amor às palavras.
Bernardethe e Leandro: os autores debateram a ânsia da literatura poética
Ilustrações: Manoela B. Costa
BATE-PAPO
Lygia Fagundes Telles foi
o assunto que alimentou um dos
bate-papos do dia 08 de outubro,
no auditório da 29ª Feira do Li-
vro. A atividade abordou a vida, a
obra e o estilo da autora, trabalha-
das pela escritora caxiense Maria
Helena Balen, patrona da Feira
do Livro de 2009. Maria Helena
ainda leu trechos de dois con-
tos, destacando a capacidade de
Lygia em criar imagens textuais.
A escritora paulista tem,
aos 90 anos, uma carreira con-
sagrada na literatura nacional.
Uma de suas obras mais conhe-
cidas é Ciranda de Pedra (1954),
adaptada para telenovela em 1981
e em 2008. Também escreveu As
Meninas (1973), que recebeu o
prêmio Jabuti em 1974 e foi aos
cinemas em 1995. Pelo conjunto
de sua obra, foi agraciada com o
Prêmio Camões em 2005, o mais
E s c r i tora ca x i e n s e ab ord ou a v i d a e a obra d a autora , qu e j á re ceb e u o P rê -mi o C amõ es e o c up a , aos 9 0 anos , a 1 6 ª cad e ira d a Acad e mi a Bra s i l e i ra d e L e t ra s
por Luciane Karen Modena
MARIA HELENA BALEN DESFIA O ESTILO DE LYGIA FAGUNDES TELLES
Maria Helena: “Minha escrita era anêmica antes de ler Lygia”
importante da língua portuguesa.
A palestrante Maria He-
lena Balen, que também é pro-
fessora, produz crônicas sema-
nalmente para o jornal Pioneiro,
e se diz influenciada pelo estilo
de Lygia. Maria Helena destacou
a habilidade da autora com o de-
senvolvimento de contos a partir
de situações banais do cotidiano.
“O jeito de ela escrever torna cada
conto um clássico”, mencionou.
Ela também citou que Lygia es-
crevia todos os tipos de ficções,
incluindo romances policiais.
Outro aspecto abordado
por Maria Helena foi a contem-
poraneidade e o pioneirismo da
autora. De acordo com a cronista
caxiense, Lygia publicou seu pri-
meiro livro em 1931, e contemplou
três gerações com suas obras. Ela
ainda pontuou que a autora sofreu
com a separação dos pais em 1936,
cursou Educação Física e Direito,
e chegou a casar-se por duas ve-
zes. “À época, todas essas atitudes
eram muito incomuns”, destacou.
A escrita repleta de ima-
gens, metáforas e figuras de lin-
guagem conquistou Maria He-
lena. “Antes de ler Lygia, minha
forma de escrever era desmi-
linguida, desbocada, anêmica e
capenga”, disse, com humor. A
cronista, depois que começou a
analisar a obra de Lygia, passou
a inserir imagens nos seus tex-
tos. “Certa vez, precisei informar
que meus personagens estavam à
tardezinha. Achei fraca a expres-
são, e lembrei de Lygia com a sua
definição de céu roxo”, salientou.
Maria Helena ainda leu tre-
chos do conto policial Venha ver o
pôr do sol, e, na íntegra, o conto
História de Passarinho, posterior-
mente distribuído aos presentes.
Analisou as metáforas trazidas no
primeiro, considerando que o lei-
tor é direcionado para dentro do
cenário por meio delas. No segun-
do texto, a escritora caxiense co-
mentou a indefinição de um nome
para o personagem central, o que
demonstra a impessoalidade dos
personagens. “Ele não tem nome,
é apenas um homem ruivo”, citou.
Para Maria Helena, ler as obras de
Lygia Fagundes Telles proporcio-
na uma escrita melhor. “Quem a
conhece escreve com poucas pala-
vras e mais recursos visuais, sem
descrever”, menciona. Dessa for-
ma, a leitura de seus contos não se
resume à contemplação das histó-
rias, mas abrange o aprendizado
de novos recursos de linguagem.
“Ela é uma oficina literária, por-
que escreve com imagens”, define.
Lygia Fagundes Telles: uma oficina literária em suas obras
BATE-PAPO
A escritora Patrícia Bar-
boza esteve presente em um
bate-papo na 29ª Feira do Livro
de Caxias do Sul, no dia 9 de ou-
tubro, com mediação da escrito-
ra e jornalista Maristela Deves.
A sessão teve a participação de
turmas da escola estadual Ores-
tes Manfro, de São Marcos - RS.
Carioca, pós-graduanda
em literatura infantojuvenil, Pa-
trícia Barboza além de escritora,
coordena e palestra pelo Projeto
Leitura Nota 10, que visita diver-
sas instituições de ensino com o
objetivo de incentivar os jovens
aos hábitos da leitura. Recente-
mente, a autora teve participa-
ção na coletânea de histórias O
Livro das Princesas, que reconta
os contos infantis como se fi-
zessem parte dos dias atuais; a
publicação também reuniu as
renomadas autoras internacio-
nais Meg Cabot, Lauren Kate
e a brasileira Paula Pimenta.
A conversa começou de
forma descontraída enquanto a
escritora apontou para os jovens
presentes de que seus hobbies e
talentos são importantíssimos
para o futuro, e que esses não
devem permitir que adultos os
desmotivem no momento pelo
qual estão passando agora, a ado-
lescência. Para a autora que, em
suas próprias palavras, se esque-
ceu de crescer, a adolescência é a
melhor parte da vida e é por isso
que escolheu escrever para tal pú-
blico. “O universo dos adolescen-
tes é fascinante”, complementou.
Explicando sobre sua sé-
rie de livros As Mais, a autora se
aprofundou no processo de cria-
ção de uma linguagem para o
público jovem, uma vez que esse
está sempre pensando para além
do mundo literário. As persona-
gens da série se relacionam facil-
mente com os leitores, pois são
inspirados não só com as experi-
ências da autora nos seus tempos
de adolescência, mas como em
ícones e estereótipos da cultu-
ra pop atual, citando a polêmica
música de Gabriel, O Pensador,
Loira Burra como exemplo, e
colocando sua personagem loira
e ‘nerd’ em contraparte.
Com relação à escrita
em si, Patrícia também expôs
que a não utilização de gírias
lhe garante uma abrangência
nacional, não dependendo das
mesmas para indicar jovialida-
de. “A juventude está na atitude”,
afirmou. A autora também ex-
plicou que o período entre de-
zembro e março é quando mais
consegue escrever, devido às
viagens que realiza no decorrer
do ano. “Às vezes o que o escri-
tor menos faz é escrever”, disse.
Envolvida com seu pú-
blico em diferentes mídias, a
escritora vê a internet como
uma ferramenta extremamente
A 29ª Feira do Livro foi anfitriã de um encontro com a autora infantoju-venil Patrícia Barboza que discutiu sobre sua carreira e suas publicações
por Henrique K. Gobbi
‘AS MAIS’ DE PATRÍCIA
útil não só para a comunicação com o mesmo, mas
para o cenário comercial, através da possibilidade
de venda das publicações físicas e de e-books para
todo o território nacional. Com a preferência pes-
soal pelo livro em sua forma material, a autora dei-
xou sua crítica à prática da pirataria, estimulando
os presentes a gratificarem os autores que gostam,
comprando suas obras. “Com tanto trabalho envol-
vido numa publicação, é um desrespeito com o au-
tor e todos os envolvidos só baixar o PDF”, apontou.
Com o quarto volume da série As Mais plane-
jado para o lançamento em 2014 e um projeto para uma
faixa etária mais avançada, as perspectivas de Patrícia
Barboza para o futuro encerraram a conversa que foi
seguida por uma sessão de autógrafos e fotografias aos
leitores, que recepcionaram a autora carinhosamente.
Patrícia Barboza: a autora que se esqueceu de crescer
BATE-PAPO
Diferentes assuntos fo-
ram discutidos e trazidos em
pauta durante a 29ª Edição da
Feira do Livro de Caxias do Sul.
Na quarta feira de feira, dia 9
de outubro, ocorreu um bate-
-papo com o jornalista Sérgio
Rodrigues, mediado pela jorna-
lista e também escritora Adriana
Antunes no auditório da Praça
Dante Alighieri. A dinâmica se
apresentou diante da apresen-
tações de ideias referentes aos
livros escritos por Rodrigues e
a Literatura Virtual muito uti-
lizada por ele nos dias de hoje.
Sérgio Rodrigues é um
jornalista que mantém o blog to-
daprosa, o mais visitado blog de
Literatura da internet brasileira e
no momento hospedado no site
da revista Veja. Além de do blog,
Sérgio se aventura em obras
como Elza, a garota (2008) e As
sementes de Florwerville(2006) e
também ministra de ofi-
cinas de criação literária.
A primeira parte do bate-
-papo foi em torno de explicações
sobre a maneira de escrever O
drible, que se volta para a narrati-
va de um gol que não aconteceu.
Sérgio explicou que sua atuação
com palavras sempre foram me-
lhores que com a bola, mas por
ser um apaixonado pelo futebol,
resolveu escrever sobre o gol per-
dido por Pelé na copa do mun-
do de 1970, no México, contra o
Uruguai. Seu objetivo nesse livro
foi a transformação de segundos
em páginas trazendo o desafio de
Uma discussão dinâmica envolvendo o escritor e jornalista Sérgio Rodrigues e mediado pelajornalista Adriana Antunes marcou um dos últimos debates da 29ª Feira do Livro de Caxias
por Luis Henrique Bisol Ramon
SÉRGIO RODRIGUES E A LITERATURA VIRTUAL
Wrobel: o Judaísmo não é uma religião, mas uma cultura
Pelé contra Deus, onde uma eter-
nidade banal foi transcrita para
situar os leitores ao momento do
lance primordial de Pelé com a
bola. ”O envolvimento e a contri-
buição do futebol com e para li-
teratura é muito importante, pois
o futebol está totalmente ligado
com a cultura brasileira’’ explicou.
Questionando sobre o seu
processo criativo, o autor argu-
mentou que sempre acreditou que
a melhor forma de acertar é re-
escrever muito. ‘’Tem problemas
que resolvo dormindo e têm
muitos que empaco para resol-
ver’’. Segundo ele, cada escritor
tem sua maneira de re-
solver
s e u s
livros,
porém
o afas-
tamen-
to é a
m e l h or
f o r m a
de estar
livre, ape-
nas com
seus pen-
samentos.
‘’Uma das tristezas da literatura é
sua construção em solidão e seu
consumo também em solidão’’.
Outro ponto posto em
pauta foi em torno de que toda li-
teratura é autobiográfica, e Sérgio
Rodrigues argumentou: “nem
sempre sou meus personagens,
eu escrevo a partir do que eu vivi
mas isso não significa que sem-
pre sou meus personagens.” disse.
A análise mais profun-
da do bate-papo foi em torno do
movimento literário virtual, esfe-
ra que Sérgio Rodrigues domina:
“A internet foi a melhor coisa de-
pois de Gutemberg para a litera-
tura”. A internet é um meio que
muito valoriza a escrita e deve
ser muito utilizada nos dias de
hoje para a expansão da literatu-
ra para a Geração Y”, defendeu.
Por fim Rodrigues expli-
cou sobre a importância de sua
entrada na revista Veja, e seu ga-
nho de novos de leitores e também
fez um breve uma comparação en-
tre o jornalismo e a literatura: “a
literatura torna o ser humano
mais livre e mais criativo para
expres-
sar seu
p e n s a -
mento”,
indicou.
BATE-PAPO
A Feira do Livro abriu
suas portas para o escritor e ad-
vogado Ronaldo Wrobel. O tema
debatido foi os judeus no Bra-
sil. O autor também falou sobre
o seu livro Traduzindo Hanna,
que foi inspirado em algumas
experiências vividas por ele.
O escritor e advoga-
do acaba de lançar o roman-
ce Traduzindo Hanna. Antes,
publicou Propósitos do Acaso,
Raiz Quadrada e outras histó-
rias e o livro ilustrado Nossas
festas – Celebrações Judaicas
e escreve mensalmente artigos
para revista judaica Menorah.
Para começar o bate-papo
Wrobel falou sobre suas origens,
sua família foi ligada à Rede Ban-
deirantes até que sua família se des-
ligou dos veículos Comunicação.
O escritor foi questiona-
do sobre a cultura judaica, que se
assemelha à cultura dos descen-
dentes de italianos de nossa re-
gião, até mesmo uma espécie de
dialeto foi criada para que os ju-
deus que vieram do leste europeu
pudessem de comunicar, iídiche,
que com o passar do tempo pas-
sou a ser falado por pequenas co-
munidades na Europa e até mes-
mo na Argentina. O autor relatou
que o idioma iídiche passou a
ser um idioma morto, porque as
pessoas não o fala-
vam para se comu-
nicar, mas sim por
maneiras lúdicas.
W r o b e l
contou que inúme-
ras vezes, em outros
países, as pessoas
se identificavam
com ele e que fu-
gia do estereótipo
brasileiro. Quan-
do chegava a uma
palestra ouvia que
alguns esperavam
que chegasse jo-
gando futebol e com um abacaxi
na cabeça, mas, ao contrário do
que eles pensavam, “eu chegava
falando com seriedade”, contou.
Em Traduzindo Hanna, Wro-
bel fala sobre suas experiên-
cias de vida, seu desejo de
transmitir valores. Para ele,
uma vida sem projetos é uma
vida sem graça. “A publi-
O s j u d e u s m u d a r a m , s e a d a p t a r a m a s d i f e r e n t e s c u l t u r a s p e l o n o m u n d o . P a r a i s s o , a 29 ª F e i r a d o L i v r o p r o m o v e u o d e b a t e c o m o e s c r i t o r d e o r i g e m j u d i a
por Michele dos Santos
ESCRITOR RONALDO WROBEL COMENTA O JUDAÍSMO NO BRASIL
cação é como um jardim secreto”, disse.
No último capítulo do livro, ele expli-
cou, o escritor usa a narrativa em primeira pes-
soa, criando confusões entre os leitores, que che-
garam a confundir o relato com a realidade.
O romance traz a história de um sapatei-
ro polonês, que traduz cartas de judeus, através
da cartas de Hannah para sua irmã Guerta, o sa-
pateiro passa a conhecê-la e, por fim, se apaixona.
Wrobel afirmou que os judeus estão adapta-
dos as culturas de outros países e até mesmo a manei-
ra de como são vistos mudou. Mas ainda existem os
hebraicos que continuam em comunidades fechadas.
Ronaldo Wrobel disse que sua identificação
com o Brasil é maior do que suas origens judaicas, e
chegou a criticar a culinária israelita: ele a chamou de
“culinária de sobrevivência”, portanto, feita para que
o alimento dure e não pelo prazer culinário. O autor
chamou o Rio de Janeiro de “bagunça”, por causa da
diversidade e que é impossível viver no Rio sem con-
viver com outras culturas. Mas disse que vem de uma
família que tem o sentimento de não pertencimento, o
local onde “estavam” não fazia parte de suas histórias.
Para Wrobel, o regime Nazista foi usado
como instrumento político e os judeus foram usados
como bode expiatório. De acordo com ele, o mito
de que os judeus são os donos da mídia e possuem
muito dinheiro, não existe mais, e a manipulação
dos veículos de comunicação por judeus foi extinta.
Para encerar o bate-papo surgiu uma dis-
cussão acalorada sobre suicídio, fato que não é re-
tratado pela mídia. Para o autor, é necessário que
imprensa noticie as mortes, sem escondê-las. A dis-
cussão ficou ainda mais tensa quando uma estudan-
te de jornalismo foi contrária a Wrobel, dizendo que
esse tipo de fato não deve ser noticiado, pois pode
servir de incentivo. O escritor rebateu, afirmando
que é um direito da população saber o que acontece.
Wrobel: o Judaísmo não é uma religião, mas uma cultura
BATE-PAPO
O psiquiatra Jairo Bauer
respondeu a vários questiona-
mentos num bate-papo realizado
no dia 11 de outubro, na Feira do
Livro de Caxias do Sul. Mediado
pelo jornalista Carlinhos Santos,
Jairo abordou questões como
sexo, drogas, gravidez na adoles-
cência, prevenção, entre outros.
Jairo Bauer nasceu em
São Paulo e é médico psiquiatra
formado pela Faculdade de Medi-
cina da Universidade de São Pau-
lo ( FMUSP), e pelo Instituto de
Psiquiatria da mesma universida-
de. É autor dos livros Sexo e Cia,
O Corpo das Garotas, Primeira
Vez e Álcool, Cigarros e Drogas.
Também é parceiro de Marcelo
Duarte n’ O Guia dos Curiosos
Sobre Sexo e de Sonia Franci-
ne em Tipo Assim Adolescente.
De acordo com Jairo, o
tema sexologia é um assunto que
ainda sofre muitos preconceitos,
e que fomos obrigados a falar da
questão quando a epidemia da
Conhecido por responder dúvidas de adolescentes e jovens sobre sexo, Jairo Bauer médico famo-so por seus programas em rádios e televisão, esteve presente no 29ª Feira do Livro de Caxias do Sul
por Bruna Longo
CONVERSA INFORMAL COM JAIRO BAUER
Ilustrações: Paulo Henrique Prior
AIDS esteve presente no Brasil e,
a partir disso, conseguimos abor-
dar o assunto com mais leveza.
Jairo Bauer explicou que
para os jovens tudo que é diferente
é estranho, por isso ainda há tabus
sobre sexualidade. O adolescente
ainda está descobrindo seu cor-
po e entendendo o que pode fazer
com ele “O jovem muito jovem,
tem tremenda dificuldade em li-
dar com o que é diferente, com
o que não esta no espaço básico
dele e se sente muito ameaçado
em ser diferente,” argumentou.
Conforme Jairo, a geração
de hoje é mais bem informada, e
a questão está em conscientizá-los
em usar essas informações para
que possam tomar as melhores de-
cisões. Fazer com que eles saibam
administrar a sua independência
com responsabilidade “Se per-
guntarmos para um jovem como
se prevenir para não engravidar
todos saberão responder”, disse.
No término do bate-
-papo, Jairo Bauer respondeu
perguntas do público. Questio-
nado sobre as dificuldades de se
chegar ao orgasmo feminino, o
médico comentou que para os
homens é tudo muito óbvio, a
mulher ainda tem um certo pre-
conceito em conhecer seu corpo,
ela tem que explorar a si mesma.
Ele também respondeu
perguntas sobre a influência da
sexualidade na religião e o cuida-
do que deve-se ter com as DST’s,
finalizando assim a sua partici-
pação na Feira de Caxias do Sul.
Jairo Bauer: “Na adolescência é o momento que você pode acrescentar elementos para tomar decisões.”
O Auditório da Feira foi
local de um bate-papo, na tarde
de 12 de outubro, entre dois no-
mes que marcaram presença no
cenário esportivo. O autor Mar-
cos Eduardo Neves e o ex-joga-
dor, atual secretário do esporte e
lazer de Caxias do Sul, Washing-
ton Stecanela Cerqueira, conver-
saram durante mais ou menos
uma hora sobre como se dá a
produção de biografias, prin-
cipalmente no cenário do qual
ambos são “experts”: futebol.
Washington, ex-futebo-
lista, conhecido como “Coração
Valente”, era considerado por
muitos um verdadeiro “matador”
do gol. Enquanto jogador, teve
sua trajetória marcada pela supe-
ração de problemas de saúde que,
por vezes, colocaram sua carrei-
ra e também sua vida em risco.
O atual secretário faz a abertura
da programação, relatando o fato
de ter conhecido Neves em um
bar do Leblon-RJ, ainda na épo-
ca em que atuava no Fluminense.
O autor, escritor e mem-
bro da Academia Brasileira de
Literatura, Marcos Eduardo Ne-
ves, que já possui cinco livros
publicados, também escreve re-
gularmente nas revistas Placar,
Trip, Lola e Tam nas Nuvens.
Neves relatou a honra que sen-
tia em estar novamente ao lado
de Washington para um bate-
-papo e aproveita-se da presen-
ça do jogador para fazer um co-
mentário audacioso dizendo que
poderia escrever uma biografia
do popular “Coração Valente”.
Washington então coloca
em pauta o último livro de Ne-
ves: 20 Jogos Eternos do Flamen-
go, que tem sido um recorde de
vendas, assim como seu clássico
Nunca Houve um Homem como
Heleno. Neves descreve algumas
de suas várias biografias de per-
sonagens que possuem forte rela-
ção com o futebol, apesar de não
ser seu único estilo biográfico.
De acordo com o au-
tor, o futebol tem muita ener-
gia, garra e paixão, e a questão
da fama, bem como a transfor-
mação em ídolo, segundo ele,
derrama inúmeras lágrimas nos
BATE-PAPO
O secretário Washington dividiu o palco da feira com o biógrafo Marcos Eduardo Neves, paradiscutir algumas trajetórias futebolísticas que compõem a história do esporte mundialmente
por Francielle Arenhardt Pereira
BIOGRAFIAS QUE NARRAM TRAJETÓRIAS DE FUTEBOL E FAMA
Marcos Neves e Washington conversa sobre biografias esportivas
olhos dos envolvidos. Neves diz ter conhecido de
perto a realidade que é o futebol no Brasil e tam-
bém na Turquia, e afirma não conhecer lugar algum
onde há tanto fanatismo por esse esporte, como lá.
Washington complementa, relatando que
quando foi contratado por um time turco, apesar
de ser minimamente conhecido lá, diante do que
era aqui em sua terra, ficou espantado ao se depa-
rar com uma multidão de 10 mil torcedores/fãs lhe
esperando. Por esse motivo, teria sido até escolta-
do. Ele cita também o exemplo do jogador curi-
tibano, Alex de Souza, que jogou por algum tem-
po no time turco Fenerbahçe e ao retornar para
o Brasil enfrentou um protesto de vários dias em
frente a sua casa, implorando a não saída do país.
Discutindo justamente essas diferenças abis-
sais entre o fanatismo de cada país, o ex-jogador pede
ao autor que fale um pouco sobre sua obra que fala de
toda a trajetória de Heleno, nome de origem grega,
que viveu uma grande carreira almejada por muitos.
Segundo o autor, a ideia de produzir uma obra sobre
essa figura pública, épica, veio do prefácio de Anjo ou
Demônio, a polêmica trajetória de Renato Gaúcho.
Após uma longa pesquisa, Neves en-
tão escreveu sobre o menino que estudou no
melhor colégio brasileiro da época, graduou-
-se em direito e que oriundo de uma família no-
bre, produtora de café, vestia ternos produzi-
dos pelo mesmo alfaiate de Juscelino Kubitschek.
Heleno de Freitas, foi uma grande personali-
dade do futebol e isso, aliado a sua beleza natural, lhe
concedeu inúmeros privilégios - com as mulheres, fez
muito sucesso. Porém sua vida noturna, feita de noites
promíscuas lhe desencadeou uma DST que não foi tra-
tada em tempo e atingiu o nível extremo: neurossífilis.
Isto, aliado ao álcool e às drogas, levaram-lhe a uma
internação aos 34 anos e ao óbito, cinco anos depois.
Washington fortalece a história do perso-
nagem, citando diversas “regalias e tentações” que
obtinha enquanto jogador, ressaltando que uma má
administração dessa vida de fama pode gerar um tér-
mino precoce, ainda mais, quando a vida do jogador,
por si só, já tem uma média final entre 30 e 40 anos
. Washington diz que alguns jogadores, apesar de te-
rem um forte empresário, perdem-se em meio a tan-
tas oportunidades de status, que de forma demasiada
s ã o n o c i v a s à c a r r e i r a .
Marcos Neves complementa a fala de Wa-
shington, citando um dito bem conhecido de Pau-
lo Roberto Falcão, que diz que jogador de fute-
bol, “morre duas vezes”, sendo a primeira quando
encerra a carreira, e a segunda no final da vida. Po-
rém, para o autor, a administração financeira e de
fama da vida do jogador não depende tão direta-
mente da estrutura familiar, e para exemplificar re-
toma seu primeiro livro que conta a história de vida
de Renato Gaúcho, menino que aos 20 anos já era a
fonte econômica principal da família e que, ao conso-
lidar-se técnico, incialmente adquiriu uma residência
mais cômoda para toda sua família. Segundo ele, du-
rante toda a carreira
o ex-padeiro aplica-
va 50% de seus ga-
nhos, fornecia 30%
à família e utilizava
20% para si próprio,
de forma a aprovei-
tar bem sua vida.
A Prefeitura de Caxias do
Sul, por meio do Departamento
do Livro e da Leitura da Secretaria
da Cultura, realizou na noite de
domingo, dia 13, o encerramento
da 29° Feira do Livro de Caxias
do Sul, que este ano teve o tema
Em Rede com a Leitura. Duran-
te os 17 dias de duração, 103.370
livros foram vendidos pelas 45
bancas, e mais de 410 mil pes-
soas passaram pela Praça Dante
Alighieri (o público é estimado
por cálculo da Câmara Riogran-
dense do Livro, que conta quatro
pessoas para cada livro vendido).
Os números superaram a
edição anterior em 12,89%, quan-
do foram comercializados 91.560
exemplares. Os dados foram di-
vulgados na noite de domingo
por Daniela Tomazzoni Ribeiro,
que estreou na coordenação da
feira este ano, após já ter traba-
lhado em outras três edições. Até
então, as últimas oito foram co-
mandadas por Luiza Motta. Para
Daniela, um dos pontos mais po-
sitivos da programação foi a am-
pliação da diversidade de estilos,
tanto com relação aos convida-
dos como às atrações artísticas.
Entre as novidades desta
edição, estavam as mudanças na
estrutura da feira: o Café Cultural
ficou sobre o chafariz; a Sala de
Autógrafos passou para o lo-
cal onde ficava o Café; e a rua
Dr. Montaury teve trânsito
bloqueado nos finais de sema-
na, à tarde, para receber ati-
vidades culturais e de lazer.
ENCERRAMENTO
Evento finaliza com números recordes superando o ano anterior. Há pelo menos cincoedições os registros surpreendem a coordenação que tem apostado em grandes atrações
por Fernanda Prado
29° FEIRA DO LIVRO TERMINA COM SHOW DE OSVALDO MONTENEGRO
Antonio Feldmann: a Feira é o encontro das diferentes percepções de mundo
A programação teve cerca de
300 atividades entre apresenta-
ções musicais (como o Grande
Concerto Sinfônico), bate-papos
com escritores, projetos como o
Passaporte da Leitura, sessões de
autógrafos e eventos culturais na
rua Dr. Montaury nos finais de
semana, e maratona de contação
de histórias, atividade que mais
contou com a participação da co-
munidade trazendo em um úni-
co dia 4,3 mil crianças ao evento.
A feira contou com a pre-
sença de 43 escritores locais, nacio-
nais e internacionais. Os autores
estrangeiros foram destaque nesta
edição, que contou com o portu-
guês Gonçalo Tavares e o norte-
americano William C. Gordon.
Além da presença da co-
ordenadora da Feira Daniela
Ribeiro,do Vice-Prefeito Antonio
Feldmann, do secretário muni-
cipal da Cultura João Tonus, da
secretária municipal da Educa-
ção Marléa Ramos Alves, e do
reitor da UCS Isidoro Zorzi, a
solenidade de encerramento con-
tou também com a presença do
Patrono da Feira, Carlos Henri-
que Iotti, da Homenageada Ira-
ci HochMaboni e do Presidente
da Associação dos Livreiros Ca-
xienses, Cristiano Bartz Gomes.
Conforme a coordenadora
da Feira, Daniela Ribeiro, os nú-
meros são resultado de uma Feira
preparada com seriedade, com-
promisso, e acima de tudo com
muito amor. “A Feira foi pensada
na diversidade, o que se refletiu
na adesão das pessoas aos livros e
eventos que oferecemos. Este é o
caminho, apostar na diver-
sidade”, afirmou Daniela.
Antonio Feldmann acredi-
ta que a praça seja o melhor espa-
ço para se respeitar a diversidade.
“A Feira é o encontro das diferen-
tes percepções de mundo, a gente
precisa aceitar as diferenças e tra-
balhar em prol delas. A Feira do
Livro é uma festa realizada por
muitas mãos e muitos corações,
porque gente que ama o que faz
atinge o coração de outras pes-
soas”, destacou o vice-prefeito.
A escolha do patrono, Car-
los Henrique Iotti, vindo do uni-
verso das HQs, foi a porta deen-
trada para as crianças na Feira que
foram presença constante nos 17
dias de evento. “Foram 17 dias de
muita alegria, quero pedir descul-
pas por não ter estado em todas as
bancas tanto quanto gostaria, mas
foi um prazer participar desta Fei-
ra e fazer parte disto”, afirmou Iotti.
Assim que a Feira deste
ano foi encerrada, as atividades
do próximo ano já começaram
a ser pensadas. “Temos bastan-
te ideias para fazer novamente
uma grande festa dos livros para
toda a comunidade, sempre vi-
sando atrair todo o público da
cidade com seus diferentes gos-
tos literários”, finalizou Daniela.
Depois de Luiz Melodia
e João Bosco, a Feira oportuni-
zou mais um show de destaque
com Oswaldo Montenegro, que
cantou músicas de seu novo re-
pertório, mas fez questão de re-
lembrar músicas de álbuns pas-
sados, como Lua e Flor e A Lista.
Oswaldo Montenegro lotou a Praça Dante com show de encerramento da
Feira
AGES
A 29° Feira do Livro da
Cidade de Caxias do Sul trouxe,
na manhã do dia 28 de setembro,
alguns autores gaúchos para de-
bater o tema: Os desafios da cria-
ção – o que o mercado editorial
busca. O objetivo do encontro
da AGES, Associação Gaúcha
de Escritores, era debater e pro-
porcionar maior entendimento
sobre o cenário de um merca-
do competitivo. O evento acon-
teceu na Biblioteca Municipal.
O debate teve a mediação
do escritor Caio Riter, e contou
com a participação das escri-
toras Elaine Maritza da Silvei-
ra e Cláudia Mesquita, ambas
mestres em língua portuguesa.
Para completar o time, também
participou do debate o escri-
tor e editor Cássio Pantaleoni.
O debate começou abor-
dando a principal demanda do
mercado editorial. Para Pantale-
oni, que resumiu sua explicação
baseada em pesquisas, o editor
busca o livro que vende. Segundo
ele, pesquisas realizadas no ano
passado, mostram que o índice
de leitura caiu 9,1% assim como
somente 20% das pessoas alfa-
betizadas gostam de ler. Sendo
assim, nos dias de hoje o autor
precisa ter vocação para livros
menos elaborados e mais finos.
As pessoas não têm costume de
ler e, com isso, tem uma grande
dificuldade de interpretação. “É
tudo uma questão de cultura e
procura pelos livros mais finos”,
explicou. Em contraponto des-
tacou que nunca se teve tanta
nova literatura sendo publicada
no mercado. Novos escritores
estão se arriscando e produzin-
do belas obras. “A literatura pre-
cisa produzir alguma coisa boa
em cada pessoa que lê”, afirmou.
Elaine Maritza, seguindo
a mesma linha de raciocínio, ad-
Da esquerda para direita, os escritores Cláudia Mesquita, Elaine M. Silveira, Caio Riter e Cássio Pantaleoni
A IMAGINAÇÃO DA ECONOMIA
O tema Os Desafios da Criação foi um dos destaques trazidos pelos escritores na Bibliote-ca Municipal. O assunto foi discutido por quatro autores do Estado no evento realizado na feira
por Bruna Trubian
mitiu que um dos maiores desa-
fios é colocar na mão de um aluno
um bom livro de literatura infan-
tojuvenil. “Os professores são os
responsáveis por incentivar ainda
mais o gosto pela leitura”, relem-
brou, defendendo a ideia do aluno
não somente ter livros comple-
mentares de estudos como os das
disciplinas de matemática e portu-
guês. Para ela, o editor faz o livro
que vende baseado na demanda
do mercado. E isso só reflete o que
é visto nas livrarias onde somos
obrigados a ver aquilo que deve
ser vendido. Para complementar,
usou o exemplo de um clássico
famoso da atualidade. “Entramos
nas livrarias e logo se deparamos
com aquelas pilhas de “Tons de
Cinza”. Sabemos que a realidade
é essa, mas também sabemos que
ela pode ser alterada, explicou.
Para Claudia Mesquita
é de extrema importância que a
editora tenha um livro best sel-
ler. Assim fica mais fácil de reco-
nhecer outros livros importan-
tes e não menos interessantes da
mesma editora. Programas do
governo já estão com incentivo
à leitura e reformulando os tipos
de pensamento e focos de li-
teratura. Esses incenti-
vos ajudam o leitor-
-criança que passa por um meio
de campo, de seus pais e profes-
sores, e começa a criar o hábito e
gostar de conhecer novas obras.
O debate continuou com
a indagação do que seria um livro
vender bem? Nesse ponto, Clau-
dia Mesquita afirmou que na hora
que um escritor está escrevendo,
ele não sabe se o livro será um su-
cesso ou não. Ela defendeu a ideia
que ele deve se dedicar a escrever
alguma coisa boa, que identifique
o leitor, e não se focar somente
no possível resultado. Elaine da
Silveira, positivamente, defendeu
a mesma ideia, destacando que o
que deve ser considerado é a capa-
cidade de escrever uma literatura
verdadeira e po-
sitiva para o lei-
tor. Segundo ela,
o pensamento de
um educador é
de formar leito-
res, e não
de atin-
gir um
pen-
s a -
mento comercial. Para Cássio, o
leitor tem que ser respeitado, e é
importante a existência de um
afeto entre a editora e o autor.
De acordo com eles, a maior fal-
ta de respeito é o autor demorar
um ano para escrever o livro e o
leitor demorar somente duas ho-
ras para ler. Toda a literatura que
chega é avaliada em pré-juízos, e
nesse quesito a escola é somente
uma parte do sistema da obra. O
best seller tem que ser uma con-
sequência e não um fomento.
O debate finalizou com
perguntas dos presentes. O inte-
ressante foi a interação do público
e o envolvimento de outros escrito-
res que prestigiavam o momento.
Ilustrações: Paulo Henrique Prior
As políticas de leitura
e o espaço de ação para o autor
gaúcho foram alguns dos temas
abordados durante o tradicio-
nal encontro da Associação
Gaúcha de Escritores (AGES)
realizado paralelamente a 29ª
Feira do Livro de Caxias do Sul
no final de semana dos dias 28
e 29 de setembro.
Na plateia cerca de 30
pessoas assistiram o debate entre
a Coordenadora do Sistema de
Bibliotecas Públicas no Rio
Grande do Sul, Rosana Vas-
ques, a Coordenadora do De-
partamento do Livro e Leitura da
Prefeitura de Caxias e Coorde-
nadora da Feira do Livro deste
ano, Daniela Tomazzoni Ribei-
ro, e a Coordenadora da ONG
Cirandar e representante do
Colegiado Nacional do Li-
vro, Leitura e Literatu-
ra, Márcia Cavalcanti.
Daniela abriu a discussão
explanando os serviços culturais
prestados para a comunidade
através dos projetos de políticas
de leitura municipais e a implan-
ENCONTRO DISCUTE POLÍTICAS DE LEITURA
Debate também abordou a questão do espaço de ação para o autor gaúcho, além de projetos e ações culturais e educativas que visam levar o livro até as comunidades carentes da periferia
por Débora Debon
Representantes do poder público relataram experiências e projetos desenvolvidos na cidade e no estado
AGES
tação de novas bibliotecas públi-
cas nos bairros mais afastados do
centro da cidade. Além disso, ela
destacou a importância da valo-
rização do escritor caxiense inte-
grando-os nas ações do Departa-
mento do Livro e Leitura. “Nós
viemos trabalhando a questão da
leitura e a biblioteca pública nas
comunidades, desenvolvendo um
estímulo a cultura, e hoje Caxias é,
sim, uma cidade leitora”, ressaltou.
Representante da Secreta-
ria Estadual de Cultura, Rosana
enfatizou que atualmente no Rio
Grande do Sul apenas dois mu-
nicípios do interior não possuem
bibliotecas públicas. Visando am-
pliar ainda mais o segmento, ela
destaca a importância do Plano
Estadual do Livro, Leitura e Li-
teratura (PELLL), o qual propõe
a articulação das ações, proje-
tos, programas e políticas da área
do livro para o desenvolvimento
da cultura. “Percebemos que se
não tivéssemos um plano con-
solidado essas políticas acaba-
riam não sendo fortalecidas, e
quando uma administração
termina infelizmente muitos
projetos acabam não tendo
continuidade”, lamentou.
Márcia explicou para o pú-
blico presente a forma de trabalho
realizado na ONG Cirandar que
tem sede em Porto Alegre e com-
pletou cinco anos em outubro. O
projeto é focado na democratiza-
ção do acesso ao livro e a leitura
nas periferias e tem o intuito de
fortalecer redes de culturas locais
promovendo a educação através
de atividades ministradas por um
grupo de professores multidisci-
plinar. “A ONG atende nove co-
munidades onde mais de 25 mil
livros já foram emprestados, isto é
um exemplo da difusão da cultu-
ra”, destacou. Ela também expla-
na que crê no aprimoramento das
políticas de leitura no Brasil por
meio do Ministério da Cultura.
“Não é possível afirmar que o país
possui um sistema de políticas de
leitura consolidado, pois isso vem
sendo construído ao longo do tem-
po e eu acredito nisso”, pontuou.
Rosana interviu e afirmou
que nos últimos anos o Brasil teve
um investimento muito forte na
cadeia produtiva do livro, mas que
não são só os livros que formam
um país leitor. A formação de
quem lê e de uma nação que con-
segue mudar o índice de analfabe-
tismo requer um desenvolvimento
que vai além da simples aquisição
do livro. Ele precisa ser mediado,
compartilhado e, antes de tudo, es-
crito. Se o autor não encontrar seu
espaço acabará recebendo uma
política que se quer o representa.
Por fim, os escritores de-
ram início às oficinas literárias com
seus grupos de trabalho, cada qual
com uma temática pré-estabeleci-
da para que ao final do encontro
fosse redigida a carta de Caxias
da AGES abordando experiên-
cias e necessidades do segmento.
Márcia Cavalcanti: não é possível afirmar que o país possui um sistema
de políticas de leitura consolidado
A edição deste ano da Fei-
ra do Livro também foi escolhida
para ser palco do Encontro de
Escritores Gaúchos, realizado no
sábado do dia 28 de setembro na
Casa da Cultura. O evento, que
começou ás 9h, se estendeu com
oficinas durante o dia. O encon-
tro, que é uma iniciativa da AGES
(Associação Gaúcha de Escrito-
res), é organizado anualmente.
Na abertura do encontro
o atual presidente da associação,
Caio Riter, relatou o trabalho da
organização e o que ela represen-
ta para os seus associados. Riter
também explicou que a escolha
de Caxias do Sul como sede do
encontro se deu pela relevância
da feira e a coincidência de datas.
A palestra que seguiu foi feita por
um dos fundadores da AGES, o
escritor e professor da PUC-RS
A n t ô n i o H o h l f e l d t .
Hohlfeldt falou do Proje-
to Delfos da Pontifícia Universi-
dade Católica, do qual é um dos
Evento organizado pela Associação Gaúcha de Escritores foi responsável por abrir o primeirosábado de intenso movimento na feira de Caxias, marcado também por muitas atrações e atividades
por Rudinei Picinini
INTEGRAÇÃO DE ESCRITORES EM CAXIAS
Sou extremamente favorável as tecnologias, mas tenho medo que pensamos que tudo começa agora.
AGES
responsáveis, e que tem como
objetivo arquivar como patri-
mônio histórico as várias ver-
sões de textos de escritores gaú-
chos, para que se possa então
entender como os mesmos che-
garam à versão final publicada.
Hohlfeldt, de certa for-
ma, criticou as novas tecnologias
como o computador, que possibi-
lita que somente salvemos a última
versão do material escrito, provo-
cando a perda dos demais regis-
tros: “Estamos destruindo essa
prova importante do processo que
começa lentamente até ser mo-
dificado para o texto final”, disse.
Certamente, a preocupa-
ção do conferencista se faz valer
pelo fato de que cada vez mais
difícil será saber como foi o pro-
cesso de composição de uma obra,
diante da visão de seu autor. De
acordo com Hohlfeldt se terá as-
sim apenas uma última versão
de textos que não deixarão ras-
tros, para que busquemos enten-
der o fruto de sua genialidade.
Antônio Hohlfeldt tam-
bém argumentou sobre a impor-
tância do escritor na transformação
da sociedade, dando como exem-
plo o escritor francês Eugène Sue
e sua obra Os Mistérios de Paris.
Conforme Hohlfeldt,
os folhetins publicados por Sue
trouxeram à tona as grandes fe-
ridas da França, ajudando a
derrubar a própria monarquia.
O palestrante também
reforçou dizendo que práticas,
como o folhetim, que pareciam
quase extintas podem se adap-
tar muito bem às novas platafor-
mas digitais, dando como mode-
lo o escritor Stephen King, que
publicou na internet por capí-
tulos o livro The Plant, cobran-
do um dólar cada download.
Em 1986 incorporei o computador ao meu meio de trabalho, tive grande dificuldade no começo, mas logo fui me adaptando.
A 29ª Feira do Livro de
Caxias do Sul recebeu no pri-
meiro final de semana do even-
to o Encontro da Associação
Gaúcha de Escritores (Ages).
Durante a manhã do dia 28 de
setembro cerca de 40 pessoas
prestigiaram a abertura da pro-
gramação da reunião na Vitri-
ne Cultural da Casa da Cultura.
Criada em 1981 por um
grupo de escritores, a entidade
tem por objetivo reunir e repre-
sentar os autores, preservando e
resguardando seus interesses ao
mesmo tempo que investe no
desenvolvimento da cultura no
Rio Grande do Sul e no Brasil. Du-
rante esses anos a Ages promoveu
diversos seminários, eventos lite-
rários e encontros de escritores.
Neste ano, este tradicional evento
retornou ao interior, com o tema
Livro e Literatura Nas Alturas,
sendo realizado pela segunda vez
em Caxias do Sul. Na ocasião,
questões do universo editorial
e da literatura foram debatidas.
De acordo com o atu-
al presidente da entidade, Caio
Riter, o encontro está dentro
dos princípios da Ages que visa
alargar a fronteira entre os escri-
tores. “A nossa atividade é mui-
to solitária pois a criação é algo
muito pessoal e pensar que é
Tradicional evento organizado pela Associação Gaúcha de Escritores reuniu nomes da litera-tura para debater sobre temas variados nos dois dias de palestras, conferências e seminários
por Pâmela Pelizzaro
ENCONTRO DE ESCRITORES É REALIZADO NA FEIRA DO LIVRO DE CAXIAS
Antônio Hohlfedt: já fomos centrais, hoje somos gerais
AGES
possível os escritores se reunirem é algo muito grati-
ficante”, salientou Riter durante seu pronunciamento.
Logo após, a conferência de abertura ficou
por conta do escritor e sócio fundador da Ages, An-
tônio Hohlfedt, que buscou aproximar pontos de seu
currículo relacionando a atividade literária com sua
formação de jornalista para comentar sobre as mu-
danças na sociedade e os novos desafios que surgem
constantemente aos profissionais. Com seu discurso
intitulado Já fomos centrais, hoje somos gerais, Ho-
hlfedt enfatizou os avanços tecnológicos pontuando
seus prós e contras no processo de uma criação lite-
rária. Outra importante reflexão foi sobre o papel do
escritor na sociedade, que em comparação ao profis-
sional da comunicação é um formador de opinião.
Para o escritor, este encontro oportuniza discussões
conjuntas a respeito de temas que antes eram
individuais. “Esse é um ritual que repetimos anual-
mente: nos encontramos para dizer em voz alta aqui-
lo que em geral pensamos em voz baixa”, ressaltou.
Após a abertura outros compromissos fo-
ram apresentados aos participantes como forma de
estender a discussão. Depois de uma série de pa-
lestras, conferências e discussão em grupos de tra-
balhos que encerrou no domingo, 29, a diretoria
da Ages elaborou uma carta com as resoluções do
encontro. Conforme nota divulgada no site da en-
tidade, a reunião reforçou a convicção de que ati-
vidades dessa natureza são extremamente impor-
tantes e válidas e reafirmam o seu compromisso.
Caio Riter: Nossa atividade é muito solitária e esses encontros nos reúnem
A 29° Feira do Livro de Caxias
do Sul promoveu, no dia 03 de
Outubro, uma palestra com o
autor e ilustrador Ricardo
Azevedo, marcando a abertu-
ra do 20° Encontro Estadual
de Leitura – PROLER. Com
o tema, Armadilhas, a Formação
de Leitores: Didatismo e Sistema
Cultural Dominante, a pales-
tra foi direcionada a professo-
res e estudantes que formavam
a maioria do publico presente.
Ricardo Azevedo é escri-
tor, ilustrador, compositor e pes-
quisador paulista. É autor de vá-
rios livros para crianças e jovens.
Tem, além disso, dado palestras e
publicado estudos e artigos a res-
peito de temas como o discurso
popular, literatura e poesia, pro-
blemas do uso da literatura na es-
cola, cultura popular e questões
relativas à ilustração de livros.
A palestra teve inicio
com o autor mostrando al-
guns dados a respeito da edu-
cação brasileira atual. Após,
ele ressaltou que sua fala seria
um conjunto de seis paradig-
Um a c r i t i c a à for m a ç ã o d o s f utu ro s c i d a d ã o s e e s tu d ant e s d o Br a s i l e u m a n ov a for-m a d e p e ns ar, e s s e s for am o s t e m a s d a ab e r tu r a d o e n c ont ro, c om R i c ard o A z e ve d o
por Monica da Costa
RICARDO AZEVEDO CRITICA O CONSUMO
PROLER
Ricardo Azevedo: otimismo com a formação de uma sociedade mais justa
mas, itens costumeiramente valorizados e natu-
ralizados pela chamada “cultura moderna”, não
somente nas escolas, mas também em jornais, re-
vistas, publicidade, televisão, internet, entre outros.
Para explicar a “cultura moderna”, o
autor usou a citação do antropólogo Rober-
to Da Matta, que argumenta: “sistema impregnado
por uma ideologia econômica, fundada na noção
do indivíduo e na ideia de mercado, local onde tudo
pode ser trocado, comprado e vendido”. Azevedo ar-
gumentou que cada vez mais as escolas e o mundo
estão criando cidadãos para consumo e não pessoas
que sejam responsáveis pela sociedade em que vivem.
A palestra de Azevedo continuou num estilo
que mesclava leitura de poemas, citações de tex-
tos, que, segundo ele, seriam indicados para
uma boa formação educacional e, por consequ-
ência, a própria formação do indivíduo. Em uma
citação de poema de Cecília Meireles, Ricardo Aze-
vedo mostrou para os educadores e estudantes pre-
sentes, a importância que a poesia tem na formação.
Ricardo Azevedo, revelando-se um otimista,
mais adiante, apontou: “Creio na construção de uma
sociedade brasileira melhor e mais justa”. De acordo
com ele, isso só será possível quando os cidadãos, inde-
pendentemente de idade, graus de instrução ou classe
social, se derem conta de que são responsáveis pela
sociedade em que vivem.
Para encerrar a
palestra, Azevedo deixou
um recado para os pro-
fessores. “A escola tem
papel fundamental nesse
processo, é preciso definir
o que queremos, formar
alunos para manter o que
aí está ou prepará-los para
construir uma sociedade mais
equilibrada, competente, in-
teligente, criativa e humana”.