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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTROLADORIA E CONTABILIDADE CLAUDIO MARQUES Expectativa de remuneração como atributo de atratividade da profissão de auditoria independente no Brasil SÃO PAULO 2013

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Page 1: Expectativa de remuneração como atributo de … · Prof. Dr. Reinaldo Guerreiro ... Alex, Carlos, Ivan, Cilene, Aziz, Alexandre, Rafael, Esmael ... Prof. Sigmar (Psicologia-USP),

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDAD E

DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTROLADORIA E CONTAB ILIDADE

CLAUDIO MARQUES

Expectativa de remuneração como atributo de atratividade da profissão de auditoria

independente no Brasil

SÃO PAULO 2013

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Prof. Dr. João Grandino Rodas Reitor da Universidade de São Paulo

Prof. Dr. Reinaldo Guerreiro

Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

Prof. Dr. Edgard Bruno Cornacchione Junior Chefe do Departamento de Contabilidade e Atuária

Profa. Dra. Silvia Pereira de Castro Casa Nova

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade

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CLAUDIO MARQUES

Expectativa de remuneração como atributo de atratividade da profissão de auditoria independente no Brasil

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências.

Área de Concentração: Controladoria e Contabilidade

Orientador: Prof. Dr. Edgard Bruno Cornacchione Junior.

Versão Corrigida (versão original disponível na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – FEA/USP)

São Paulo

2013

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do

SBD/FEA/USP

Marques, Claudio Expectativa de remuneração como atributo de atratividade da profissão de auditoria independente no Brasil / Claudio Marques. – São Paulo, 2013. 151 p. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2013. Orientador: Edgard Bruno Cornacchione Junior. 1. Auditoria 2. Auditoria independente 3. Teoria da expectativa 4. Remuneração I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. II. Título. CDD – 657.45

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Nome: Marques, Claudio Título: Expectativa de remuneração como atributo de atratividade da profissão de

auditoria independente no Brasil

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Controladoria e Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de Concentração: Controladoria e Contabilidade.

Aprovado em: 19 / 12 / 2013.

Banca examinadora

Prof. Dr. Edgard Bruno Cornacchione Junior

Instituição: USP Assinatura:_______________________________

Profa. Dra. Graziella Maria Comini

Instituição: USP Assinatura:_______________________________

Prof. Dr. Luiz Nelson Guedes de Carvalho

Instituição: USP Assinatura:_______________________________

Prof. Dr. Moisés Balassiano

Instituição: FUCAPE Assinatura:_______________________________ Profa. Dra. Elionor Farah Jreige Weffort

Instituição: FECAP Assinatura:_______________________________

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Dedicatória

À minha esposa e companheira de estudos

Kelly, com meus sentimentos de amor e

gratidão por suas manifestações de apoio e

compreensão durante o período de

realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de expressar um agradecimento especial ao meu orientador Prof. Dr.

Edgard Bruno Cornacchione Junior, por suas atitudes sempre encorajadoras, por suas

intervenções sempre inteligentes e oportunas; externo ainda que o convívio durante o período

da minha pesquisa não foi importante somente em relação aos conhecimentos científicos, mas

sim como experiência de vida, na sala de aula, no trato com outras pessoas. Prof. Edgard,

muito obrigado (mesmo) por possibilitar essa maravilhosa experiência de vida a qual

impregnou profundas mudanças na minha maneira de encarar a vida pessoal e profissional.

Aos novos amigos do curso de doutorado representados por Anderson, Alex, Carlos, Ivan,

Cilene, Aziz, Alexandre, Rafael, Esmael, Daniel, Ana Paula, Ricardo, Aládio, Cristiane, Julio,

Thatiana, Rose, Lara, Josué, Suliane, Manoel, Kelly Farias, Nálbia, Nelma, Tânia, Josedilton,

Érika, Marcelo, Renato, Sheizi, Luis Paulo, Renata, Robson, George, Janilson e Benjamim,

que compartilharam comigo suas alegrias, aflições, reclamações, sugestões, elogios e

conhecimentos, meu sincero agradecimento a todos.

Um agradecimento especial à minha amiga de curso e esposa Kelly Marques, que esteve

sempre presente me apoiando em todos os momentos, compartilhando comigo as angustias e

as alegrias dessa jornada. Minha querida esposa serei eternamente grato por tudo.

Gostaria de externar meus agradecimentos aos professores que compartilharam comigo seus

conhecimentos no âmbito de algumas disciplinas, que foram: Prof. Bruno Salotti, Prof.

Ariovaldo dos Santos, Prof. Gilberto Martins, Prof. Edgard Cornacchione, Prof. Luiz Paulo

Fávero, Prof. Mesuti Akdere (University of Wisconsin-EUA), Prof. Sigmar (Psicologia-USP),

Profa. Beatriz Maria Braga (Adm-FGV). Externo também, meus agradecimentos àqueles

profs. que não tive a oportunidade de acompanhar suas disciplinas, mas que contribuíram para

a minha formação científica, os quais são: Prof. Welligton Rocha, Profa. Silvia, Prof. Márcio,

Profa. Graziella (Adm-USP), Prof. Nelson Carvalho, Prof. Moisés (FUCAPE), Prof. Fabio

Frezatti.

Externo também um agradecimento especial a todos os coordenadores dos cursos de

graduação em contabilidade que permitiram o acesso aos participantes dessa pesquisa,

representados pelos professores Flávio Dias dos Santos Correia (UNEB), Ednei Morais

Pereira (UFG), Márcia Athayde Moreira (UFMG), Gilberto José Miranda (UFU), Luciano

Marcio Scherer (UFPR), Márcia Bianchi (UFRGS), Ernesto F. R. Vicente (UFSC), Márcio

Luiz Borinelli (USP) e Mariana S. F. do Amaral Fregonesi (FEARP).

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Também não poderia deixar de agradecer à Universidade Estadual de Maringá, representada

por seus dirigentes, chefes do departamento e colegas professores que possibilitaram a

realização desse curso com o apoio institucional e os incentivos para qualificação.

Com sentimentos de felicidades por ter conseguido alcançar mais esse objetivo em minha

jornada terrena, agradeço aos que me agraciaram com o dom da existência, primeiramente a

Deus e aos meus pais Oziro Marques e Nadir Politto Marques, que sempre foram um porto

seguro nesta minha caminhada.

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RESUMO

A proposta central do estudo foi investigar se o valor da remuneração pode influenciar na preferência ou atratividade da auditoria independente como uma alternativa de ocupação profissional no ambiente brasileiro. Teve como foco os alunos do curso de ciências contábeis que são os prováveis candidatos a optar por essa atividade profissional. Para alcançar tal objetivo, foi definido como estratégia de pesquisa o desenho quase-experimental, conduzido com 240 alunos pertencentes às instituições públicas estaduais e federais no Brasil, em que os sujeitos participantes foram direcionados aleatoriamente ao grupo de controle ou ao grupo experimental. Cada grupo recebeu algumas ofertas de trabalho nas três atividades profissionais definidas para a pesquisa, cuja tarefa dos integrantes era dizer se aceitava ou não a vaga ofertada. A diferença entre o grupo de controle e o experimental foi o estímulo da remuneração apresentada para o grupo de experimento. A metodologia aplicada nas mensurações compreendeu basicamente análises de frequência dos grupos e testes não paramétricos para verificar a existência ou não de diferenças de média entre os grupos. Os resultados indicaram o aceite da primeira hipótese de que a preferência pela atividade de auditoria é influenciada pela percepção do valor da remuneração e, em termos relativos essa influência representou 26% na taxa de aceite, o teste não paramétrico de Mann-Whitney também confirmou a existência dessa influência apontando um p-valor < 0,000. Os resultados também indicaram suporte ao modelo de valência da teoria da expectativa em que os indivíduos com alto índice de valência pela atividade de auditoria escolheram essa atividade independentemente do estímulo remuneração uma vez que já tinham valorado os atributos de trabalho mais preferidos. Com isso, a segunda hipótese da pesquisa de que a remuneração não influencia na escolha quando a valência pela auditoria for alta, também foi aceita. Por outro lado, os resultados também apontam para o aceite da terceira hipótese indicando que aqueles indivíduos com menor valência tiveram influência significativa do fator remuneração na escolha da vaga de auditoria. Apesar de não ser o foco dessa pesquisa também foi possível evidenciar os atributos de trabalho mais preferidos pelos alunos, os quais se mostraram similares aos levantados em outras pesquisas como, por exemplo, Rendell e Brown (2011) e Leschinsky & Michael (2004), esses fatores foram 1. Oportunidade de avanço na carreira, 2. Estabilidade e segurança no trabalho e 3. Conseguir alta remuneração, seguida por outros com menor grau de importância. A principal contribuição dessa pesquisa foi evidenciar a influência do fator remuneração na atração da atividade de auditoria, permitindo assim corroborar com as pesquisas que apontam a remuneração como um dos motivos da carência de auditor independente no país, como é o caso da pesquisa de Amorin (2012).

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ABSTRACT

The main goal of this study was to investigate whether compensation value can influence the preference for or attractiveness towards independent auditing as a vocational choice in Brazil. It focused on students majoring in Accounting, who are the most likely candidates to opt for this professional occupation. To that end, the research strategy was defined in a quasi-experimental design, among 240 students enrolled at state and federal universities in Brazil; participants were randomly assigned to either the control or experimental group. Each group received a number of job offers in all three professional fields defined for the study, and participants had the task of declaring whether or not they would have accepted the job offer. The difference between the control and experimental groups was the compensation incentive (specific salary offer) presented to the experimental group. The methodology applied in the measurements consisted basically of frequency analyses of the groups and non-parametric tests to determine whether or not means differed between the groups. The results indicated acceptance of the first hypothesis that the preference for the auditing occupation is influenced by the perception of remuneration value; in relative terms, this influence accounted for 26% of the job acceptance rate, and the Mann-Whitney non-parametric test confirmed the existence of this influence as well, indicating a p-value < 0.000. The results also supported the value model of expectancy theory in which individuals with high valuing rates for the auditing occupation chose it regardless of the compensation stimulus, as they had already valued their most preferred job attributes. With that, the second research hypothesis – that compensation does not influence the choice whenever valence for auditing is high – was accepted as well. On the other hand, the results also indicate acceptance of the third hypothesis, indicating that those individuals with lower valence were significantly influenced by the compensation factor when choosing the auditing job opening. Although it was not the focus of this research study, it was possible to determine the students’ most preferred job attributes, which proved similar to those surveyed in other studies, such as Rendell & Brown (2011) and Leschinsky & Michael (2004). Those factors were: 1. Opportunities for career advancement, 2. Job security and stability, and 3. High remuneration, followed by other factors with lower degrees of importance. The main contribution provided by this research was to evidence the influence of the compensation factor on the attractiveness of the auditing occupation, thereby making it possible to corroborate studies that show remuneration as one of the reasons for the shortage of independent auditors in Brazil, as observed in research by Amorin (2012).

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LISTAS DE QUADROS

Quadro 1. Classificação das gerações.............................................................................. 46

Quadro 2. Resumo das características e motivadores de trabalho entre as gerações....... 49

Quadro 3. Variáveis intrínsecas e extrínsecas utilizadas em pesquisas sobre preferência ocupacional................................................................................. 56

Quadro 4. Relação dos Estados/Instituições de Ensino foco da pesquisa........................ 72

Quadro 5. Quantidade de alunos participantes da pesquisa por instituição de ensino..... 72

Quadro 6. Faixas salariais praticadas no Brasil, conforme Robert Half Recrutamentos.. 81

Quadro 7. Salários médios praticados pelo mercado brasileiro e utilizados na pesquisa. 81

Quadro 8. Salários utilizados na manipulação experimental........................................... 82

Quadro 09. Teste de Normalidade dos Dados................................................................... 125

Quadro 10. Ranking do teste não paramétrico Mann-Whitney para atividade de auditoria........................................................................................................ 126

Quadro 11. Resultados dos testes não paramétricos para as três profissões...................... 126

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estados da federação onde atuam as BIG4....................................................... 71

Figura 2. Protocolo da pesquisa....................................................................................... 84

Figura 3. Histogramas do grau de importância dos atributos de trabalho dos pesquisados nas Universidades.......................................................................... 98

Figura 4. Diagramas de caixa (Box-Plot) do grau de importância dos atributos de trabalho dos alunos Universidades............................................................... 99

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Número de inscritos e aprovados no exame de qualificação técnica................ 62

Gráfico 2. Motivos para tornar-se um Auditor Independente............................................ 78

Gráfico 3. Motivos para NÃO tornar-se um Auditor Independente.................................. 78

Gráfico 4. Frequências das idades dos sujeitos participantes na pesquisa......................... 94

Gráfico 5. Sexo dos estudantes universitários pesquisados................................................ 95

Gráfico 6. Distribuição dos participantes provenientes das Universidades por renda familiar.................................................................................................... 96

Gráfico 7. Distribuição dos participantes provenientes do Congresso por renda familiar... 97

Gráfico 8. Diagramas de caixa das Valências dos alunos universidades para as três profissões consideradas.................................................................................... 101

Gráfico 9. Diagramas de caixa das Valências dos alunos congresso para as três profissões consideradas................................................................................... 102

Gráfico 10. Frequência de rejeição entre as vagas ofertadas............................................ 122

Gráfico 11. Frequência de aceites por categorial salarial alunos universidades............... 122

Gráfico 12. Comparativo de aceites das vagas entre controle e experimento.................. 123

Gráfico 13. Efeito da remuneração na preferência das atividades profissionais.............. 124

Gráfico 14. Média de aceites das vagas em cada grupo da pesquisa............................... 125

Gráfico 15. Percentual de aceite por classe de remuneração entre as profissões.............. 127

Gráfico 16. Comparativo dos salários médios aceitos versus média salarial da pesquisa. 127

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LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação das principais teorias de motivação............................................ 44

Tabela 2 - Quantidade de participantes em cada grupo e suas respectivas fontes............. 94

Tabela 3 - Legenda das rendas e seus respectivos valores................................................. 96

Tabela 4 - Legenda dos atributos de trabalho usados para medição de suas respectivas valências....................................................................................... 98

Tabela 5 - Estatística resumo do grau de importância dos atributos respondidos pelos alunos universidades.............................................................................. 99

Tabela 6 - Estatística resumo do grau de importância dos atributos respondidos pelos alunos congresso..................................................................................... 100

Tabela 7 - Estatística resumo da variável valência dos alunos universidades para as três profissões consideradas....................................................................... 101

Tabela 8 - Frequência das valências referente às respostas dos alunos universidades para as três profissões..................................................................................... 101

Tabela 9 - Estatística resumo da variável valência dos alunos congresso para as três profissões consideradas......................................................................... 102

Tabela 10 - Frequência das valências referente às respostas dos alunos congresso para as três profissões.................................................................................... 103

Tabela 11 - Frequência da aceitação e rejeição da vaga de auditor dos alunos universidades do grupo controle................................................................... 104

Tabela 12 - Frequência da aceitação ou não da vaga de consultor dos alunos universidades do grupo controle................................................................... 104

Tabela 13 - Frequência da aceitação ou não da vaga de analista dos alunos universidades do grupo controle................................................................... 104

Tabela 14 - Proporção de aceite da vaga de auditor com o estimulo da remuneração, referente aos alunos universidades do grupo experimental........................... 105

Tabela 15 - Proporção de aceite da vaga de auditor com o estimulo da remuneração, referente aos alunos congresso do grupo experimental................................. 106

Tabela 16 - Proporção de aceite da vaga de consultor com o estimulo da remuneração, referente aos alunos universidades do grupo experimental........................... 106

Tabela 17 - Proporção de aceite da vaga de analista com o estimulo da remuneração, referente aos alunos universidades do grupo experimental.......................... 107

Tabela 18 - Percentual de aceite da vaga de auditor por nível de valência, para os alunos universidades do grupo controle........................................... 108

Tabela 19 - Percentual de aceite da vaga de consultor por nível de valência, para os alunos universidades do grupo controle........................................... 109

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Tabela 20 - Percentual de aceite da vaga de analista por nível de valência, para os alunos universidades do grupo controle........................................... 109

Tabela 21 - Aceite das vagas por níveis salariais e valências para a profissão de auditor, dos alunos universidades do grupo experimental........................ 110

Tabela 22 - Aceite das vagas por níveis salariais e valências para a profissão de auditor, dos alunos congresso do grupo experimental.............................. 111

Tabela 23 - Aceite das vagas por níveis de salários e valências para a profissão de consultor, dos alunos universidades do grupo experimental.................... 111

Tabela 24 - Aceite das vagas por níveis de salários e valências para a profissão de analista, dos alunos universidades do grupo experimental....................... 112

Tabela 25 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo................ 113

Tabela 26 - Aceitação da vaga de consultor dos alunos universidades por grupo............ 114

Tabela 27 - Aceitação da vaga de analista dos alunos universidades por grupo............... 114

Tabela 28 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo, para nível de valência alto............................................................................. 115

Tabela 29 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo, para nível de valência médio......................................................................... 115

Tabela 30 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo, para nível de valência baixo......................................................................... 116

Tabela 31 - Medidas de associação das vagas de consultor e analista dos alunos universidades por grupo, para os três níveis de valências............................. 116

Tabela 32 - Proporção de aceite da vaga de auditor por classe de remuneração e nota média geral, para alunos universidades do grupo experimental......... 117

Tabela 33 - Proporção de aceite da vaga de consultor por classe de remuneração e nota média geral, para alunos universidades do grupo experimental......... 118

Tabela 34 - Proporção de aceite da vaga de analista por classe de remuneração e nota média geral, para alunos universidades do grupo experimental......... 119

Tabela 35 - Proporção dos alunos universidades entre níveis de valências para auditor e faixa de renda familiar................................................................... 120

Tabela 36 - Proporção dos alunos universidades entre níveis de valências para consultor e faixa de renda familiar................................................................ 120

Tabela 37 - Proporção dos alunos universidades entre níveis de valências para analista e faixa de renda familiar................................................................... 121

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CVM Comissão de Valores Mobiliários

CRCs Conselhos Regionais de Contabilidade

CFC Conselho Federal de Contabilidade

IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

IESs Instituições de Ensino Superior

BACEN Banco Central do Brasil

SUSEP Superintendência de Seguros Privados

BCB Banco Central do Brasil

QTG Qualificação Técnica Geral

PwC PricewaterhouseCoopers

AICPA Instituto de Contadores Públicos Certificados Americano

CPA Contador Público Certificado

ROWE Results-Only Work Environment

CNAI Cadastro Nacional de Auditores Independentes

EPC Educação Profissional Continuada

CMN Conselho Monetário Nacional

AIPF Auditor Independente Pessoa Física

AIPJ Auditor Independente Pessoa Jurídica

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO……………………………..……....................................................... 17

1.1 Contextualização e Problema de Pesquisa.....…….................................................. 17

1.2 Objetivos da Pesquisa................................................................................................. 24

1.3 Questão de Pesquisa……………………………….................................................... 24

1.4 Hipóteses da Pesquisa................................................................................................. 25

1.5 Importância da Pesquisa............................................................................................ 26

1.6 Contribuições e Impactos Esperados......................................................................... 29

2 REVISÃO TEÓRICA................................................................................................... 31

2.1 Teoria da Expectativa................................................................................................ 31

2.1.1 Teorias Motivaionais............................................................................................... 41

2.1.2 Gerações e Motivações no Trabalho....................................................................... 45

2.1.2.1 Conceitos e Características................................................................................... 45

2.1.2.2 Motivações no Trabalho........................................................................................ 47

2.1.3 Antecedentes da Pesquisa sobre Preferência Ocupacional..................................... 50

2.2 A Profissão de Auditor no Brasil................................................................................ 57

2.2.1 Aspectos Gerais da Auditoria Independente......................................................... 57

2.2.2 Requisitos Legais para Atuação como Auditor no Brasil.................................... 61

2.2.2.1 Exame de Qualificação do Auditor..................................................................... 61

2.2.2.2 Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI).................................. 62

2.2.2.3 Educação Profissional Continuada (EPC)......................................................... 63

2.2.2.4 Requisitos para Atuação no Mercado de Valores Mobiliários (CVM)........... 63

2.2.2.5 Requisitos do Auditor para o Banco Central do Brasil (BACEN)................... 64

2.3 Considerações Finais sobre a Revisão Teórica.......................................................... 65

3 METODOLOGIA......................................................................................................... 67

3.1 Desenho da Pesquisa.................................................................................................. 67

3.2 Sujeitos Participantes................................................................................................ 69

3.3 Escalas de Valência e de Instrumentalidade das Atividades Profissionais........... 73

3.4 Opções Ocupacionais.................................................................................................. 74

3.5 Remuneração como uma Variável de Estudo.......................................................... 76

3.6 Opções de Remuneração........................................................................................... 79

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3.7 Protocolo da Pesquisa................................................................................................ 82

3.8 Mensuração e Analise dos Dados............................................................................. 85

3.8.1 Medidas Descritivas................................................................................................ 86

3.8.2 Medidas Associativas.............................................................................................. 87

3.9 Validades no Desenho da Pesquisa........................................................................... 88

3.9.1 Validade Interna da Pesquisa................................................................................. 89

3.9.2 Validade Externa da Pesquisa................................................................................ 91

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................... 93

4.1 Dados Demográficos dos Participantes.................................................................... 93

4.2 Escalas de Valência e Instrumentalidade Ocupacional.......................................... 97

4.3 Medidas de Frequência do Grupo de Controle e Grupo Experimental............... 103

4.4 Medidas de Associação entre Valência Ocupacional e Escolha das Vagas.......... 108

4.5 Medidas de Associação entre o Grupo de Controle e Experimental.................... 112

4.5.1 Análises do Grupo de Controle e Experimental sem as Valências.................... 113

4.5.2 Análises do Grupo de Controle e Experimental com as Valências.................... 115

4.6 Relação entre a Nota Média Geral e o Aceite das Vagas....................................... 117

4.7 Relação entre Renda Familiar e o Aceite das Vagas.............................................. 119

4.8 Considerações sobre as Preferências e Rejeições das Profissões........................... 121

4.9 Significância da Remuneração na Preferência Ocupacional................................. 123

5 CONCLUSÃO............................................................................................................... 129

5.1 Conclusão da Pesquisa e Recomendações............................................................... 129

5.2 Limitações.................................................................................................................. 134

5.3 Sugestões para Investigações Futuras..................................................................... 135

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 137

Apêndice – Instrumento de Coleta dos Dados................................................................ 145

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17

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização e Problema de Pesquisa

O Brasil é classificado como um dos países com menor número de auditores em relação à

população geral, ficando atrás até mesmo de outros países da América Latina como, por

exemplo, a Argentina, cuja relação conforme Holland (1999) era de 1 auditor para cada

13.200 habitantes, enquanto que no Brasil essa relação era de 1 para 24.600. Recentemente,

Amorim (2012) evidenciou em seu estudo que essa relação tornou-se bem mais ampla quando

se compara a quantidade de auditores com cadastro ativo e autorizados pelos órgãos de classe

a exercer a auditoria no país em relação à população geral, constatando uma média nacional

de 1 auditor para 78.625 habitantes, bem acima da relação apresentada por Holland (1999).

Kanitz (1999), também relatau que o Brasil é um dos países menos auditados do mundo e que

essa carência de auditores se reflete no índice de corrupção do País e apresentou a relação

auditores e população próxima à de Holland (1999).

Essa pouca expressividade de auditores também pode ser constatada junto à Comissão de

Valores Mobiliários (CVM) que é o órgão regulador e fiscalizador do mercado de valores

mobiliários no País (CVM, 2012), cujo informe demonstra a existência de 68 auditores

pessoas físicas e 355 pessoas jurídicas habilitadas para o exercício da auditoria no Brasil,

compreendendo apenas quatrocentos e vinte e três (423)1 participantes no mercado da

auditoria externa vinculados a esse órgão. Considerando que as pessoas jurídicas,

participantes desse mercado, contam com vários auditores e responsáveis técnicos no

desenvolvimento de suas atividades, a quantidade de participantes atinge 854 indivíduos

conforme descreve Amorin (2012).

Por outro lado, conforme dados divulgados pelo World Bank (2012) e CEBR (2012), em 2011

o Brasil foi classificado como a sexta maior economia mundial, apresentando um Produto

Interno Bruto (PIB) de US$ 2,5 trilhões, passando a economia do Reino Unido e, as previsões

dos mais otimistas é que brevemente (em 2015) estará na quinta posição, a qual em 2011

1 Destaca-se que as pessoas jurídicas são compostas por vários auditores e responsáveis técnicos certificados

para a realização da auditoria.

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pertencia à França. Nesse cenário, as atividades econômicas no País demandarão cada vez

mais os serviços de auditoria do profissional contador e, consequentemente, o planejamento

da base profissional dessa categoria torna-se imprescindível.

De acordo com literatura pesquisada, a qual será abordada na sequencia, verificou-se que

ainda são poucas as evidências publicadas sobre os motivos dessa aparente carência de

profissionais auditores em nosso país, sendo poucos os pesquisadores que se propuseram a

identificar os fatores que inibem ou promovem a atratividade da auditoria como uma

atividade profissional juntos aos possíveis futuros candidatos que são os alunos do curso de

Ciências Contábeis.

Assim, a proposta central desse estudo é examinar o relacionamento entre preferência

ocupacional pela atividade de auditoria independente no Brasil e a variável remuneração que

compreende um dos possíveis fatores motivacionais extrínsecos (elemento de recompensa)

elencados pela literatura como tendo influência na preferência ou escolha de uma ocupação

profissional. A importância de se estudar esse tema está estritamente vinculada ao problema

de pesquisa levantado, o qual foi identificado pela percepção de um contexto da realidade

brasileira que compreende a aparente falta de interesse dos estudantes de contabilidade em se

vincular à área de auditoria, o que pode estar refletindo no número reduzido de auditores

certificados no País. Adicionalmente a esse contexto, pesquisa de Finn e Donovan (2013)

constatou que em uma significante parcela dos jovens pertencentes à geração Y falta interesse

pela tradicional carreira ligada às empresas de auditoria, a qual requer um intenso

comprometimento com o trabalho no início da carreira em troca de uma chance para tornar-se

sócio mais tarde.

Para realizar tal proposta de pesquisa foi escolhida como base teórica a área dos estudos

motivacionais, a qual tem recebido grande importância de pesquisadores no campo das

ciências sociais aplicadas (Renko, Kroeck, & Bullough, 2011). Pesquisas de Wang, Venezia,

& Lou, (2013); Hägglund & Palmqvist, (2006); Stajkovic & Luthans, (2001) e Rynes, (2004)

apontam que a remuneração em suas diversas modalidades (fixa, variável, opções de ações,

benefícios etc.) pode ser utilizada como um fator de motivação dos empregados para o

desempenho das tarefas, bem como uma fonte de atração para se vincular a determinadas

configurações empresariais ou mesmo áreas de atuação.

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Para os estudiosos da área a escolha de uma ocupação é uma das decisões mais importantes

tomada por uma pessoa durante o curso de sua vida, uma vez que essa definirá uma série de

características pessoais como, por exemplo, estilo de vida, status, atitudes, opiniões, além de

consumir a maior parte do tempo de vida da pessoa. Por isso, a escolha não é fácil. Antes

mesmo da decisão de escolher uma ocupação, existe um processo anterior que é conhecido

como preferência pela ocupação que nem sempre corresponde à própria escolha, o sujeito

pode ter preferência por uma ocupação e escolhe outra em função de uma série de motivos

como pressão familiar, dificuldade de ingresso, oportunidade etc. (Mitchell & Beach, 1976).

Especificamente no contexto da contabilidade, o curso de graduação possibilita aos seus

estudantes muitas opções ocupacionais ou escolhas profissionais, sendo que a opção por uma

área em detrimento das outras geralmente envolve uma infinidade de análises e informações

que nem sempre são conhecidas profundamente até mesmo pelos próprios sujeitos que tomam

a decisão. Dentre os aspectos que as pesquisas apontam como itens de atratividade ou

permanência em uma ocupação destacam-se o status social, o contexto econômico, a

característica do mercado, as diferenças individuais, as necessidades da sociedade etc.

(Danziger & Eden, 2006; Rynes & Barber, 1990; Stone, Bryant, & Wier, 2010; Fenlon &

Mohrman, 2010).

Procurar entender aspectos que influenciam na atratividade de uma ocupação torna-se de

grande importância para o desenvolvimento da área, uma vez que possibilitará apresentar

subsídios para planejamentos ou direcionamentos futuros da profissão; especificamente na

área de auditoria os implicados poderão ser as firmas de auditoria, os órgãos representativos

da classe como os Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) e o Conselho Federal de

Contabilidade (CFC), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON) e até

mesmo as Instituições de Ensino Superior (IESs) que poderão direcionar seus esforços

educacionais focando em determinados perfis acadêmicos desejados. Adicionalmente, os

resultados da pesquisa poderia ainda contribuir para um possível aumento da

quantidade/disponibilidade de profissionais auditores, uma vez que a proposta deste trabalho

traz em seu núcleo uma análise das expectativas dos indivíduos em relação à atração.

É notório que uma área de atuação só se desenvolve quando possui uma ampla base de

profissionais qualificados além, é claro, da necessidade por parte da sociedade pelos produtos

ou serviços desta área de atuação. Nesse contexto, um dos aspectos que se pretende trazer

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para a discussão tanto no meio profissional como científico é o planejamento dessa base de

profissionais qualificados para o exercício e desenvolvimento da profissão.

Outra forma de olhar a demanda crescente pelos serviços profissionais do auditor são as

recentes mudanças na legislação brasileira com a adoção das normas internacionais de

contabilidade e a consequente exigência de auditoria nas empresas de grande porte, não se

limitando apenas às empresas de capital aberto.

Tendo como um dos seus objetivos proporcionar confiança para o funcionamento da

economia e do mercado de capitais, a auditoria externa é considerada como uma atividade

extremamente importante para a sociedade bem como para os participantes desse mercado. A

auditoria como uma atividade profissional não é regulamentada somente pela CVM, o próprio

CFC, que é o órgão regulador e fiscalizador da profissão de contabilidade, atualmente é o

responsável juntamente com o IBRACON pela certificação (por meio do exame de

qualificação) do profissional auditor junto aos órgãos profissionais como a própria CVM, o

Banco Central do Brasil (BACEN) e a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), bem

como pela manutenção do cadastro nacional de auditores independentes no país. De acordo

com informações divulgadas pelo próprio CFC (2012) atualmente esse cadastro está

composto por 2.363 profissionais ativos, categorizados como QTG (qualificação técnica

geral), BCB (Banco Central do Brasil), CVM e SUSEP.

Ainda que os profissionais certificados e cadastrados pelo CFC/IBRACON correspondam a

uma quantidade maior em relação ao cadastro da CVM, continua sendo considerada como

pouco expressiva. Essa afirmação é corroborada quando se compara com o número de

instituições autorizadas a funcionar no âmbito do sistema financeiro nacional, que também

necessitam da realização da auditoria independente em seus relatórios financeiros. Conforme

o departamento de organização do sistema financeiro, ligado ao Banco Central do Brasil, em

junho de 2012 a quantidade de instituições era de 2.488.

Essa pouca expressividade é evidenciada também no levantamento realizado pelo próprio

CFC (2010, p.33), que utilizando-se da metodologia de amostragem identificou que os

contadores que atuam na área de auditoria (interna e externa) no Brasil correspondem a 8,7%

do total dos contadores pesquisados, representando uma das áreas com menor índice de

atuação, ao lado de Finanças e Perícia.

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Este contexto da auditoria sinaliza preocupações com o futuro da atividade no país, fazendo

com que os agentes envolvidos direcionem esforços no sentido de planejar esse futuro, como

é percebido na afirmação de Ariovaldo Guello um dos ex-presidentes do IBRACON, o qual

destaca que “[...] o Brasil é um País pouco auditado e esse é um dos grandes desafios [...].

Essa é a minha preocupação, a carência de pessoas. [...] esse é um processo que eu diria ser

talvez o mais difícil deles, atrair as pessoas” (IBRACON, 2012, p.74).

Essa preocupação com a escassez de profissionais é percebida não somente em nosso País, os

trabalhos de Bonner e Sprinkle (2001) e Kass-Shraibman (2008) relatam resultados de

pesquisas que mostram que nos últimos anos os Estados Unidos da América sofrem com a

escassez de profissionais contadores, constatando um declínio no número de graduados em

contabilidade bem como no número de candidatos realizando o exame de qualificação

denominado “CPA exam”. Contrariamente a esse declínio, o número de companhias públicas

que requerem realização da auditoria anual está aumentando, necessitando assim de maior

disponibilidade de profissionais capazes de suprir essa necessidade.

Ainda no contexto americano, Kass-Shraibman (2008) descreve resultados de pesquisa que

apontam para alguns motivos para essa situação, como por exemplo, o requerimento adicional

de 150 horas educacionais antes de fazer o exame de qualificação, aumentando as barreiras

para entrar na profissão; aumento na demanda pelos serviços do contador por parte das

empresas em geral; menor salário/ano inicial dos contadores (entre US$31.750 e US$36.250)

em comparação, por exemplo, aos profissionais de tecnologia (entre US$37.500 e

US$62.500).

Essa realidade americana, com as devidas proporções, assemelha-se à realidade brasileira na

medida em que existe um mercado de capitais ativo e com perspectivas de crescimento

(consequentemente havendo uma demanda crescente pelo profissional contador/auditor), bem

como o aumento na exigência de requisitos para a entrada na profissão como o exame de

suficiência, especificamente no caso do auditor, o exame de qualificação técnica e a educação

continuada para manter-se na atividade, aumentando ainda mais as barreiras de entrada na

profissão. Esses fatos demonstram claramente que é necessário planejar a oferta de

profissionais qualificados para o mercado, a qual passa necessariamente pela atração dos

novos e possíveis candidatos a essa profissão.

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Neste contexto, é imprescindível pesquisar não somente os fatores que mantém as pessoas nas

organizações, mas principalmente os fatores que atraem um profissional para seu ambiente de

trabalho, que os motivam para a escolha daquela função ou atividade profissional, uma vez

que essa atração poderá significar a própria continuidade daquele contexto organizacional ou

mesmo daquela classe profissional. Pesquisadores como Mitchell, (1999) e Cable e Judge,

(1994) destacam que os sistemas de recompensa e mais especificamente o dinheiro, têm sido

visto como formas de atração, motivação e retenção de pessoas qualificadas para as

organizações, embora evidências contrárias também são verificadas (Rynes, Gerhart, &

Minette, 2004).

Michaels, Handfield-Jones e Axelrod (2001, p.2) destacam em sua pesquisa sobre como

atrair, desenvolver e reter gestores de talentos a qual denominaram ‘a guerra por talentos’, “...

que atualmente os talentos são fatores críticos para o desempenho organizacional e que a

habilidade da organização para atrair, desenvolver e reter talentos será a principal vantagem

competitiva por muito tempo”2. Esses autores relatam ainda vários exemplos de gestores

expressando que a diferenciação das suas empresas em relação aos seus concorrentes são os

seus talentos.

Por outro lado, os próprios pesquisadores Michaels et al. (2001) chamam a atenção para o

fato de que apesar da mensagem sobre a importância dos talentos para a organização parecer

de fácil entendimento, muitas destas não a compreende totalmente, tomando decisões que

contrariam essa importância. Apesar dessa constatação, a pesquisa desses autores evidenciou

que aquelas organizações que desenvolvem um melhor trabalho de atração, desenvolvimento

e retenção de seus talentos ganham mais do que participação do mercado de talentos,

aumentam drasticamente o seu desempenho, ou seja, apresentam vantagem competitiva.

Boudreau e Ramstad (2007) destacam que a guerra pela atração e retenção dos talentos ocorre

principalmente em ambientes com alta demanda e baixa oferta desses profissionais, ou seja,

em ambientes onde esses talentos são escassos.

Embora o tema “qualificação” não seja o foco dessa pesquisa, o mesmo é destacado aqui pelo

fato de que a atividade de auditoria se baseia em dois grandes pilares, que são a independência

e a competência. Dessa forma, conforme destaca Wines (2012), a demanda pelos serviços de

auditoria só será criada se os auditores convencerem o mercado sobre sua independência e

2 “… that talent is now a critical driver of corporate performance and that a company’s ability to attract, develop,

and retain talent will be a major competitive advantage far into the future.”

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competência. Essa exigência de independência e de conhecimentos especializados (técnicos e

científicos) não são características desenvolvidas rapidamente, necessitam de planejamento

para que a disponibilidade de talentos para esse mercado de trabalho seja compatível com as

perspectivas de crescimento do mercado.

Fenlon e Mohrman (2010, p.2), relatam essa preocupação pela disponibilidade de talentos

destacando o caso da empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers (PwC), que após o

mundialmente e bem conhecido colapso da empresa de auditoria Arthur Andersen e da Enron

e, na sequência, a implementação da Lei Sarbanes-Oxley, os gerentes da empresa tiveram

dificuldades em preencher as posições/vagas devido às rápidas rotatividades e, conforme um

dos gerentes de operações, a "Rotatividade não foi somente um problema de custo, mas

também de qualidade. Existe uma profunda conexão entre a experiência que nosso pessoal

possui e a experiência que eles fornecem aos nossos clientes. Para nós, atração e retenção de

talentos é uma estratégia indispensável.”3

Exemplo internacional de estratégias para atrair jovens talentos para a profissão contábil é

verificado pelas ações do Instituto de Contadores Públicos Certificados americano (AICPA),

que possui um website para estudantes de ensino médio interessados na profissão

desenhar/simular o seu futuro como um Contador Público Certificado (CPA), além de

parceiros e outros programas que mostram a riqueza da carreira como um CPA (AICPA,

2011).

Por todo o exposto, é visível a necessidade de pesquisas que procurem esclarecer os possíveis

atributos do trabalho ou fatores motivacionais que influenciam na preferência/atratividade

pelos sujeitos ingressantes na ocupação, pois esse conhecimento poderá contribuir para

direcionar esforços no sentido de compreender ou mesmo criar possíveis mecanismos de

atração para a atividade. Para essa pesquisa foi escolhido o atributo de trabalho denominado

remuneração e apesar de não ser a única variável responsável pela atratividade de uma

profissão, há evidências de que é um dos mais efetivos e importantes atributos do trabalho

(Rynes & Barber, 1990; Singh, 2008).

3 "Turnover was not just a matter of cost, but also quality. There's a deep connection between the experience our

people have and the experience they provide to our clients. For us, attracting and retaining top talent is a strategic imperative."

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1.2 Objetivos da Pesquisa

Com o propósito de buscar esclarecimentos sobre aspectos que possam influenciar a

preferência dos alunos do curso de Ciências Contábeis para a atividade de auditoria

independente no Brasil, esta pesquisa tem como objetivo geral verificar se o fator

remuneração pode influenciar na preferência ou atratividade da auditoria independente

como uma alternativa de ocupação profissional no ambiente brasileiro.

Além do objetivo principal também foram estabelecidos alguns objetivos específicos a serem

alcançados com a realização desta pesquisa, os quais são:

1. Verificar quais são os atributos de trabalho mais preferidos indicados pelos sujeitos da

pesquisa;

2. Verificar qual é a expectativa de remuneração ou preço de referência que os sujeitos da

pesquisa têm ancorado numa decisão pela auditoria.

1.3 Questão de Pesquisa

A partir da problemática destacada anteriormente a qual está contextualizada numa

perspectiva de crescimento do mercado de capitais no País, da quantidade de auditores

certificados para a realização de auditorias exigidas nesse mercado bem como pela

concorrência no mercado de trabalho por pessoas qualificadas, a presente pesquisa tem como

foco de investigação os prováveis candidatos à função de auditor e suas motivações para a

preferência da carreira de auditor independente.

Conforme já expressado, são vários os determinantes motivacionais ou atributos de trabalho

que podem influenciar na preferência por uma carreira profissional, nessa pesquisa a variável

remuneração foi escolhida para ser manipulada em um desenho quase-experimental no intuito

de alcançar resposta para a seguinte questão de pesquisa:

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O fator remuneração influencia de maneira significativa na preferência dos possíveis

candidatos (ou novos entrantes) para a atividade de auditoria independente no Brasil?

1.4 Hipóteses da Pesquisa

Entender o que nos motiva como seres humanos é um desafio que há séculos vem inquietando

pensadores e cientistas do comportamento humano. Desde os pensadores clássicos como

Aristóteles, Freud, Maslow dentre outros, muito foi desenvolvido no sentido de entender o

porquê as pessoas fazem o que elas fazem (Kroth, 2007; Nohria, et al., 2008).

Atualmente a literatura apresenta uma grande quantidade de teorias e evidências empíricas

que intentam esclarecer e demonstrar as nuances motivacionais das pessoas para determinadas

ações. No conjunto dessas teorias destaca-se, por exemplo, a teoria das expectativas de

Vroom, a teoria das necessidades de McClelland, a teoria da hierarquia das necessidades de

Maslow e a teoria X e Y ou de dois fatores de Herzberg (Kroth, 2007).

A teoria da expectativa proposta por Vroom (1964) pressupõe que numa situação em que uma

pessoa se depara com várias alternativas/ofertas de emprego, sua escolha será determinada

pela comparação da atratividade do trabalho e da organização. Dessa forma, considerando que

o fator remuneração é um desses atributos de atratividade do trabalho o qual se vincula a uma

organização, são propostas as seguintes hipóteses para esta pesquisa.

H1: A preferência pela atividade de auditoria é influenciada pela percepção do valor da

remuneração entre os alunos do curso de Ciências Contábeis.

H2: Os indivíduos que se declaram inicialmente atraídos pela atividade de auditoria NÃO

apresentam diferenças significativas em relação à probabilidade de aceitar uma oferta de

trabalho na área de auditoria externa, independentemente do fator remuneração.

H3: Os indivíduos que se declaram inicialmente NÃO atraídos pela atividade de auditoria

apresentam diferenças significativas em relação à probabilidade de aceitar uma oferta de

trabalho na área de auditoria externa, quando o fator remuneração está presente.

Com o propósito de evidenciar se existe relação entre o fator motivacional remuneração e a

preferência/atratividade da auditoria como profissão defende-se neste estudo a seguinte tese:

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“A atratividade da auditoria externa como uma possível atividade profissional é

influenciada pelo valor da remuneração inicial oferecida pelo mercado de trabalho.”

1.5 Importância da Pesquisa

A principal proposta dessa pesquisa foi investigar se o valor da remuneração tem influência

ou não sobre a preferência pela atividade de auditoria entre os alunos do curso de Ciências

Contábeis de algumas instituições de ensino superior no Brasil. Essa proposta se justifica por

algumas razões já descritas anteriormente, entre as quais se destaca a percepção de que a

atividade de auditoria não está sendo tão atrativa para os alunos do curso de Ciências

Contábeis em relação à outras opções ocupacionais, em função da constatação do baixo

número de profissionais auditores qualificados para o exercício da profissão no país, bem

como pela carência de pessoas qualificadas conforme sugerem alguns profissionais de

recursos humanos das empresas de auditoria (Amorin, 2012).

Outra justificativa se refere às mudanças observadas nas relações de empregos na atualidade,

com a inserção no mercado de trabalho de pessoas que apresentam motivações diferentes

daquelas que eram percebidas em décadas passadas. Pesquisas apontam que essa nova

geração, denominada de geração Y, a qual está ingressando no mercado de trabalho na

atualidade, apresenta ou traz diferentes expectativas para esse mercado de trabalho (Cordeiro,

2012; Brick, 2011; Hansen & Leuty, 2012).

Em função dessas mudanças nas relações de trabalho caracterizadas por aspectos como a

globalização, a tecnologia da informação, as reestruturações organizacionais etc, as

organizações ou até mesmo as áreas de conhecimento apresentam diferentes posturas no

tocante à atração e retenção desses novos entrantes (Brick, 2011; Levenson, Fenlon, &

Benson, 2010).

As novas gerações apresentam formas diferentes de serem motivadas para o desempenho de

uma atividade ou mesmo na escolha dessa atividade. McShane e Von Glinow (2008, p.132)

destacam em um relatório de pesquisa que mais de 40% dos empregados com idade entre 25 e

34 anos às vezes ou frequentemente se sentem desmotivados no trabalho, já aqueles com

idade entre 35 e 44 anos representam 30% e os pertencentes à faixa etária entre 45 e 54 anos

apresentam somente 18%, evidenciando claramente que as faixas etárias que representam as

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novas gerações se sentem desmotivadas com maior frequência. Desse modo, estudar os

atributos ou determinantes que motivam essas pessoas para determinadas ações podem revelar

importantes aspectos referentes às formas contemporâneas de motivação.

Outra importante fonte de informação que pode ser destacada para justificar esse estudo é a

pesquisa de Ressler e Thompson (2008), que partem da ideia de que na economia 24/7 (vinte

quatro horas por dia e sete dias na semana) global de hoje não se aplica a crença sobre o

trabalho de 40 horas por semana, de segunda a sexta, das oito às dezessete horas. Esses

autores justificam essa afirmação mencionando que o que se vende para a companhia são os

resultados e não o tempo e nem a vida das pessoas, no entanto, as empresas costumam

monitorar o tempo de permanência dentro do local de trabalho e não os resultados que os seus

funcionários apresentam para a mesma.

Assim, esses autores apresentam um sistema de trabalho o qual denominaram Results-Only

Work Environment (ROWE), em que pressupõe que as pessoas podem fazer qualquer coisa

que queiram e quando queiram desde que o trabalho seja feito e gere o resultado esperado. O

pressuposto desse sistema está baseado na noção de que somos adultos, ou seja, somos

responsáveis pelas nossas ações. Em síntese, a idéia é que as pessoas tenham total

flexibilidade para planejar suas atividades e o que importa no final é o resultado do trabalho e

não o tempo de permanência na empresa. Essa proposta foi iniciada quando a empresa

americana Best Buy solicitou ajuda para transformá-la em uma empresa top na preferência das

pessoas que estavam procurando por um emprego. Conforme relato de Ressler e Thompson

(2008), com este sistema proposto para a organização, além dos funcionários estarem

satisfeitos com suas vidas e seus trabalhos a empresa também se beneficiou com aumento

médio de 35% na produtividade e forte diminuição em taxas de rotatividade de até 90% em

muitas divisões.

O caso mencionado reforça a ideia de que para atrair os melhores talentos para uma empresa

ou mesmo para determinada área de atuação deve-se pensar em novas estratégias que

motivem as pessoas a fazerem as suas escolhas, ou seja, para ter preferência em relação às

outras opções.

Assim, uma pesquisa que visa verificar se uma determinada variável (remuneração) pode

influenciar na atração/preferência de possíveis candidatos ao exercício de uma função na área

de contabilidade, mais especificamente na área de auditoria, é útil no sentido de estabelecer

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estratégias ajustadas aos fatores manifestados como preferenciais por esses possíveis

candidatos. Considerando também que a expectativa de crescimento econômico do país e

consequentemente do mercado de capitais demandará cada vez mais profissionais habilitados

para a execução da atividade de auditoria externa.

Um fato que merece destaque e que remete ao contexto da delimitação da pesquisa relaciona-

se à escolha do fator remuneração/recompensa em detrimento de outros fatores, ou seja,

porque a escolha desse fator? Pesquisas de Felton, Buhr, & Northey (1994); Gokuladas

(2010); Stringer, Didham, & Theivananthampillai (2011) apontam para a existência de uma

infinidade de fatores, tanto intrínsecos como extrínsecos às pessoas, que influenciam na

preferência/atratividade de uma profissão. Uyar, Haydar e Kuzey, (2011) apontam que esses

fatores mudam durante o curso da carreira. Conforme relatado por Fenlon e Mohrman (2010,

p. 30), em um levantamento junto ao pessoal da empresa de auditoria PwC, “[...] que cada

funcionário possui uma constelação de interesses pessoais e que variam durante o curso da

própria carreira, [...].”4 Assim, a presente pesquisa poderia estar direcionada para qualquer um

dos fatores elencados pela literatura.

Contudo, a justificativa da escolha do fator remuneração/recompensa teve alguns aspectos

contextuais percebidos pelo pesquisador, quais sejam: o fato de que pesquisas na área de

negócios (abordadas na revisão da literatura), apesar de evidenciarem a importância do fator

remuneração na atração e escolha de uma carreira em contabilidade, este geralmente não é

apresentado como um fator chave, como exemplo dessas pesquisas destaca-se a investigação

de Uyar, Haydar & Kuzey, (2011). Por outro lado, existem pesquisas na área de negócios

demonstrando que a remuneração é sim um fator que influencia na atratividade e escolha de

uma profissão como em Singh, (2008), Payne, Cook, Horner, Shaub, & Boswell, (2010).

Pesquisas na área de saúde evidenciaram que a remuneração foi o fator motivacional mais

importante na escolha pelos alunos do primeiro ano, o que é, no mínimo, intrigante se

observada a área (Girasek, Molnár, Eke, & Szócska, 2011).

Outro fato que merece destaque e que se apresenta no contexto da justificativa para a

elaboração dessa pesquisa está relacionado à metodologia aplicada, uma vez que as pesquisas

nesse contexto de motivação e escolha geralmente são desenvolvidas por investigações

utilizando-se de levantamentos (surveys), que no geral traz como resultado uma lista de

4“[…] that every staff member has a personal constellation of interests that vary during the course of one's career, […]”

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fatores classificados como de interesse/atrativo para a escolha, mas não evidenciam qual a

importância desses fatores nessa atração. Por isso, um desenho de pesquisa quase-

experimental pode ajudar a verificar essa importância.

Porfeli et al. (2012, p.341) afirmam que “Pesquisas contínuas são, entretanto, necessárias para

identificar as principais percepções do trabalho ao longo da vida que podem promover ou

inibir o desenvolvimento de carreira no século 21.” 5, por isso, destaca-se a necessidade do

desenvolvimento de pesquisas que intentam conhecer as motivações das pessoas quando

tomam a importante decisão de carreira.

1.6 Contribuições e Impactos Esperados

Espera-se que os resultados apresentados com a realização dessa pesquisa possam descortinar

a influência da remuneração na preferência da auditoria como uma opção profissional em

relação aos possíveis candidatos dessa atividade. Com isso, entende-se ser de suma

importância para a estruturação e desenvolvimento de políticas e planos que possam atrair os

talentos para a atividade de auditoria bem como apoiar os órgãos de classe a elaborarem

programas que visam atrair aqueles talentos que ainda não se decidiram na escolha da

profissão.

Os achados dessa pesquisa poderão ainda contribuir para os profissionais, para as

organizações ligadas à área de contabilidade e para a própria contabilidade. No tocante aos

profissionais, estes poderão utilizar os achados para planejar a sua carreira de maneira a

comparar suas motivações relacionadas ao fator remuneração em relação àquelas constatadas

pela pesquisa.

No tocante às organizações, principalmente as firmas de auditorias, espera-se que os

resultados possam explicitar a importância do fator remuneração dada pelos possíveis

candidatos à vaga, podendo assim, apoiá-las no planejamento de seu processo de atração e

retenção de talentos. Citando Parker e Kohlmeyer (2005), os resultados também podem ser

importantes para as empresas de auditoria em função do alto custo de recrutamento e

5 Ongoing research is, therefore, needed to identify the core enduring lifespan perceptions of work that may promote or inhibit people from actively engaging in lifelong vocational behaviors known to promote career development in the 21st century.

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treinamento do pessoal de apoio, podendo direcionar seus esforços de atração e recrutamento

alinhados com os atributos de preferências dos possíveis candidatos.

As instituições de ensino superior que planejam desenvolver a área de auditoria, também

poderão se utilizar dos resultados da pesquisa com possíveis ajustes nos conteúdos e métodos

que possam focar na atração do aluno para essa atividade.

Por fim, espera-se trazer para discussão no âmbito da sociedade e dos órgãos de classe ligados

à contabilidade, o tema atração de candidatos para a função de auditoria, com o objetivo de

planejar cenários de longo prazo desta atividade profissional que é tão importante para o

desenvolvimento econômico do país.

Como quesito de originalidade da pesquisa, destaca-se que a utilização do desenho quase-

experimental como um modelo de pesquisa no contexto de preferência ocupacional no Brasil.

Especificamente no âmbito da contabilidade tem um caráter de inovação, uma vez que não se

identificou na literatura nacional pesquisada nenhum trabalho neste contexto. Assim, além do

caráter inovador em relação à estratégia de pesquisa aqui definida, entende-se que o objetivo

de buscar uma possível relação de um fenômeno contextual do país, o qual foi retratado no

problema de pesquisa e que está relacionado à atratividade da atividade de auditoria

independente como uma função profissional no âmbito da contabilidade, que por sua vez se

reflete na quantidade de auditores certificados existentes no país, também tem sua

característica de inovação.

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2. REVISÃO TEÓRICA

Neste capítulo é apresentado o suporte teórico para o desenvolvimento da pesquisa,

destacando inicialmente aspectos sobre a teoria da expectativa com ênfase no seu modelo de

valência, em seguida uma introdução às teorias motivacionais e sua ligação com os propósitos

desta pesquisa; são apresentados ainda tópicos sobre gerações e suas motivações no trabalho,

os antecedentes da pesquisa no contexto de preferência ocupacional e ao final um tópico sobre

a profissão de auditor independente no Brasil com destaque aos requisitos de entrada na

profissão.

2.1 – Teoria da Expectativa

A teoria da expectativa sistematizada e proposta por Vroom (1964) é composta basicamente

por dois grandes modelos relacionados com o tema motivação e trabalho, o primeiro modelo

(modelo de valência) se propõe a prever as valências (orientação afetiva) em relação a uma

determinada coisa que o indivíduo deseja obter ou alcançar (denominado no contexto da

teoria de resultados), o segundo modelo (modelo de força) é responsável por prever a força

em relação ao comportamento (Vroom, 1964; Brice & Nelson, 2008).

De acordo com Mitchell (1974), o modelo de valência pode ser utilizado para prever a

orientação afetiva (atração) relacionada a qualquer resultado, no entanto, sua utilização mais

frequente tem sido no contexto de satisfação com o trabalho, preferência ocupacional e

desempenho no trabalho. Por outro lado, o modelo de força pode ser utilizado para prever a

escolha de uma ocupação, a permanência no trabalho e o esforço (comportamento).

Preferência e escolha são variáveis de atitudes e comportamentais respectivamente,

significando que um determinado indivíduo poderá ter preferência por um objeto, mas que por

outras razões, sua escolha (comportamento) é contrária a essa preferência (Mitchell & Beach,

1976).

Um dos principais achados da meta-análise realizada por Van Eerde e Thierry (1996) sobre a

teoria da expectativa foi de que as variáveis de atitude (intenção e preferência) foram mais

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fortemente relacionadas aos elementos do modelo teórico do que as variáveis

comportamentais (desempenho, esforço e escolha).

Apesar dos propósitos dessa pesquisa estar direcionado especificamente sobre a preferência

ocupacional utilizando-se do modelo de valência, este tópico tem como objetivo apresentar

vários aspectos/elementos do modelo teórico, com o objetivo de compreender a proposta da

teoria como um todo, não se limitando somente ao aspecto da preferência ocupacional.

A proposição sobre preferência ocupacional representa aquela atividade ou trabalho que o

indivíduo visualiza como tendo a maior valência (preferência ou atratividade). Já a escolha

ocupacional representa aquela atividade ou trabalho que apresenta maior força positiva, ou

seja, é compreendida como uma função da valência (preferência) da atividade e da

expectativa para o alcance daquela ocupação. Assim, a motivação de uma pessoa para a

escolha de uma ocupação é o resultado das duas proposições, devendo existir a atração para a

ocupação e também a crença que será capaz de conseguir a ocupação (Brooks & Betz, 1990).

Conforme destacado anteriormente essas proposições são geralmente definidas pelos

pesquisadores como “Modelo de Valência” e “Modelo de Força” da teoria da expectativa

(Stahl & Harrell, 1983).

Vroom (1964, p. 14) inicia a apresentação do seu modelo destacando que este é similar ao

desenvolvido por outros pesquisadores, como por exemplo, Lewin (1938), Rotter (1955),

Peak (1955), Davidson, Suppes e Siegel (1957), Atkinson (1958) e Tolman (1959). Sua

proposta assume que o comportamento ou ação de uma pessoa é o resultado de suas escolhas

entre várias opções e “Que as escolhas feitas por uma pessoa entre cursos de ações

alternativos são legalmente relacionadas com eventos psicológicos ocorrendo

simultaneamente com o comportamento (Steers & Porter, 1975, p.185).6”.

A similaridade com as outras teorias está no fato de que a força para agir de determinada

maneira, depende da força da expectativa de que a ação será seguida por um resultado. Vroom

(1964, p.17) destaca que: “Uma expectativa é definida como uma crença momentânea em

relação à probabilidade que uma determinada ação será seguida por um determinado

resultado”.7

6 “That the choices made by a person among alternative courses of action are lawfully related to psychological events occurring contemporaneously with the behavior.” 7 A expectancy is defined as a momentary belief concerning the likelihood that a particular act will be followed by a particular outcome.

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Assim, os pressupostos fundamentais da teoria da expectativa estão relacionados

primeiramente às crenças pessoais de que determinados comportamentos conduzirão a

determinados resultados (crenças pessoais da(s) consequência(s) do comportamento), bem

como os relacionamentos causais entre esses resultados, os quais são denominados de

expectativas ou instrumentalidades. Outro aspecto fundamental da teoria é o de que as pessoas

apresentam diferentes reações afetivas em direção aos resultados, ou seja, desejando ou tendo

aversão aos prováveis resultados, os quais são denominados no contexto do modelo teórico de

valência positiva ou valência negativa.

Teoricamente o modelo poderá ser utilizado para predizer o comportamento de uma pessoa

entre um conjunto de possíveis comportamentos que a mesma poderia escolher (Sanchez, et

al., 2000).

O termo força utilizado na proposição é responsável por impulsionar uma pessoa para a ação.

Essa força dependerá da expectativa ou probabilidade subjetiva de que uma determinada ação

trará ou não o resultado desejado. Esse resultado é entendido no contexto da teoria como

qualquer coisa que um indivíduo possa querer obter/alcançar. Quando a expectativa de que a

ação conduzirá ao resultado desejado, a força poderá apresentar seu valor máximo

(geralmente definido matematicamente como 1) e quando a expectativa é de que a ação não

alcançará o resultado desejado, a força poderá ser mínima (ou zero). Assim, a força de uma

expectativa ou probabilidade subjetiva pode variar de zero (0) a um (1) (Vroom, 1964).

Colocado de outra maneira, a teoria da expectativa baseia-se na ideia de que a partir das

experiências adquiridas se desenvolvem expectativas sobre a probabilidade de alcançar vários

níveis de desempenho, também se desenvolvem expectativas sobre se esse desempenho

conduzirá a determinados resultados e, por fim, de maneira natural os esforços em direção aos

resultados ajudará preencher as necessidades próprias de cada pessoa (McShane & Von

Glinow, 2008).

Para Van Eerde e Thierry (1996, p.576) o modelo e seus componentes são suscetíveis a

diferentes interpretações e que em geral os pesquisadores discordam sobre qual o significado

dos construtos bem como sua mensuração. Considerando a possibilidade de várias

interpretações sobre o significado dos construtos e as respectivas mensurações, destacam-se

na sequência algumas operacionalizações dos conceitos, enfatizando aquela utilizada nesta

pesquisa.

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Sanchez, Truxillo e Bauer (2000, p.740), destacam que pesquisadores têm usado dois modelos

matemáticos na aplicação da teoria da expectativa, um denominado multiplicativo e o outro

de aditivo. O modelo multiplicativo define que motivação (ou força) é o resultado da

multiplicação dos componentes de valência, de instrumentalidade e de expectativa, sendo o

outro modelo a somatória dos três componentes. Apesar de o modelo multiplicativo

representar o modelo original de Vroom (1964, p. 276)8, autores como Van Eerde e Thierry

(1996) defendem o uso do modelo aditivo sobre qualquer modelo multiplicativo.

A Teoria da Expectativa apresenta em seu contexto três construtos que são utilizados tanto

para o modelo de valência quanto para o de força. Esses construtos são denominados de

Valências, Instrumentalidades e Expectativas, os quais foram detalhados na sequencia.

Valência é definida como orientações afetivas em direção a determinados resultados ou pode

ser entendida como preferências das pessoas em relação a possíveis resultados percebidos.

Vroom (1964, p. 15) destaca que esse termo é o mesmo utilizado por outros autores e com o

mesmo significado como, por exemplo, incentivo, atitude e utilidade esperada, todos se

referindo às orientações afetivas em direção a resultados. Valência então pode ser entendida

como o peso ou a força que a pessoa dá em relação a prováveis resultados, no processo de

preferência ou satisfação antecipada (Mitchell, 1976).

Nesse processo existem alguns resultados que somente tem valência enquanto meio para

alcançar outros resultados, ou seja, o resultado por si só não é atrativo, o que é atrativo são os

outros resultados que ele pode proporcionar, os quais no contexto do modelo é denominada de

Instrumentalidade.

Instrumentalidade: Vroom (1964) define a instrumentalidade percebida como o grau no qual

a pessoa vê o resultado em questão como conduzindo ao alcance de outros resultados, por

exemplo, a crença que desempenho conduzirá ao resultado desejado. Como exemplo, a

instrumentalidade pode ser operacionalizada como o grau no qual os estudantes acreditam que

tendo um bom desempenho no curso, passará nos exames de qualificações da profissão. Ou

ainda, acreditam que sendo um auditor terão status profissional, experiência em vários ramos

de negócios ou mesmo uma remuneração alta.

8 The model asserts that the probability of a person performing an act is a direct function of the algebraic sum of the products of the valence of outcomes and expectancies that they will occur given the act.

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Diferentemente do conceito de expectativa que representa uma associação entre ação e

resultado, a instrumentalidade é conceituada como uma associação entre resultados (resultado

e resultado), no qual pode variar de menos um (–1) a mais um (+1). Por ser uma associação

entre resultados é necessário mencionar que a Instrumentalidade é permeada por dois tipos de

resultados, um denominado de primeira ordem (primeiro resultado) e outro denominado de

segunda ordem (segundo resultado). O valor menos um (-1) indica que a probabilidade

subjetiva de se obter o segundo resultado é dada como certo sem a obtenção do primeiro

resultado e impossível com ele. Por exemplo, o resultado ‘j’ é certo sem o resultado ‘k’ e

impossível com ele. Já o valor mais um (+1) indica que o resultado de primeira ordem é uma

condição suficiente e necessária para o alcance do resultado de segunda ordem, por exemplo,

o resultado ‘j” é uma condição necessária e suficiente para o alcance do resultado ‘k’ (Vroom,

1964, p.18). Essa associação é representada no modelo de valência destacado na sequência.

Expectativa: Esse construto, o qual dá o nome ao próprio modelo teórico, é utilizado no

modelo de força (expectativa), não aparecendo no modelo de valência (preferência).

Conforme destacado no tópico anterior, essa variável é uma associação entre ação e resultado,

a qual pressupõe a existência de uma probabilidade subjetiva (expectativa) de que uma ação

conduzirá a desempenhos e que desempenhos conduzirão a resultados, ou seja, associação

entre ação-desempenho-resultado. É definido como a probabilidade subjetiva que uma ação

ou esforço conduzirá a um dado nível de desempenho ou resultado específico (Ilgen, Nebeker,

& Pritchard, 1981).

Os resultados alcançados por uma pessoa não depende somente das escolhas feitas por ela,

mas também depende de eventos que estão além do seu controle. Isso significa que mesmo a

pessoa tendo preferência a determinados resultados, o alcance ou realização não dependerá

somente de sua preferência ou de sua ação em direção ao resultado/objetivo. Vroom (1964, p.

17) destaca um exemplo de uma pessoa que entra numa escola de medicina, no entanto,

raramente tem certeza de que completará com sucesso o programa de estudo.

Assim, expectativas podem ser entendidas como probabilidades subjetivas ou crenças

individuais que determinados resultados serão alcançados ou não. As ações ou as escolhas das

pessoas não são afetadas somente por suas preferências, mas também por sua crença de que os

resultados serão alcançados. Se acreditar na probabilidade da ocorrência do resultado para o

qual tem preferência irá agir, caso contrário, mesmo tendo preferência não despenderá esforço

na ação.

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É evidente que um indivíduo não agirá (não ação) se a crença no alcance do resultado é nula,

entendida como impossibilidade de realização. Contudo, se essa crença ou probabilidade

subjetiva apresenta vários níveis de possibilidades, podendo ser entendida em sua forma

positiva como a de uma pessoa que acredita que um alto esforço conduzirá a um alto

resultado, ou ainda, ser entendida conforme Ilgen, et al. (1981, p. 191) em termos do grau de

covariância entre esforço e desempenho, em que esforço é uma variável contínua com muitos

níveis de possibilidades que um indivíduo pode mostrar.

Van Eerde e Thierry (1996, p.576) afirmam que: “Na prática, expectativa também tem sido

mensurada como a relação ou correlação percebida entre uma ação e um resultado”.9 Mitchell

e Beach (1976, p.235) destacam que sendo uma probabilidade percebida subjetivamente

possui o intervalo de zero (0) a mais um (+1), ou seja, quando não existe a expectativa de

ocorrência assume como probabilidade zero ou caso exista a expectativa de ocorrência poderá

assumir a probabilidade mais um, que seria 100% de probabilidade de ocorrência da

expectativa.

Por serem expectativas de ocorrência, existe uma associação entre ação e resultado. Enquanto

que a instrumentalidade é uma associação entre resultado e resultado. Portanto, pode-se

entender que as expectativas são probabilidades percebidas enquanto que instrumentalidades

são correlações percebidas.

Modelo de Valência (preferência)

O Modelo de Valência como afirmado por Vroom (1964, p. 18) é útil no entendimento de

preferências, mas não é capaz de prever a escolha, uma vez que não contém o construto

denominado expectativa. Esse construto somente é desenvolvido no modelo de Força.

Vroom (1964) utiliza em seu modelo o termo preferência ou valência como a atratividade, a

desejabilidade ou mesmo a aversão antecipada de um resultado em relação a outro(s).

Pressupõe que as pessoas, em um dado momento no tempo, têm preferência entre resultados

(desejo ou aversão). Isso significa que entre dois possíveis resultados, por exemplo, ‘A’ e ‘B’,

a pessoa poderá ter preferência ao resultado ‘A’ em detrimento a ‘B’, poderá preferir ‘B’ à

9 “In practice, expectancy has also been measured as the perceived relation or correlation between an action and an outcome.”

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‘A’, ou ainda ser indiferente, qualquer resultado será satisfatório ou preferido. Tal preferência

refere-se ao relacionamento entre a força do desejo da pessoa entre resultados específicos

(Vroom, 1964, p. 15; Steers & Porter, 1975, p.185).

Vroom (1964, p.15) destaca ainda que a utilização do termo “preferência” pelos psicólogos

apresenta-se de duas maneiras, uma refere-se às orientações afetivas em direção aos

resultados com a utilização dos termos valência, incentivos, atitude e utilidade esperada, a

outra se refere à força do desejo ou aversão para uma ampla classe de resultados, utilizando

termos como motivo, valor e interesse.

Dessa forma, a valência pode apresentar orientações afetivas tanto positivas quanto negativas

em relação a um determinado resultado e é considerada como um componente da força

motivacional. A valência positiva de um resultado é quando a pessoa prefere alcançá-lo ao

invés de não alcançá-lo, por outro lado, quando um resultado apresenta valência negativa a

pessoa irá preferir não alcançá-lo à alcançá-lo. Por fim, também pode existir um resultado

com valência neutra ou zero, quando a pessoa é indiferente ao alcance ou não do resultado

(Porfeli, Lee, & Weigold, 2012; Vroom, 1964).

Porfeli, Lee, e Weigold (2012, p.341) destacam que as pessoas presumivelmente colocam

uma valência subjetiva sobre resultados antecipados na medida em que estes satisfaçam suas

necessidades, desejos ou interesses. E, no momento em que a pessoa coloca uma valência

positiva sobre determinado resultado, é provável que essa pessoa se envolva para alcançar os

resultados desejados e o contrário também é esperado.

É importante destacar que a valência (satisfação antecipada) de um resultado pode não ter o

mesmo significado de força ou valor (satisfação experimentada) desse resultado. Conforme é

apresentado por Vroom (1964, p. 15) “Em um determinado momento pode existir uma

substancial discrepância entre a satisfação antecipada de um resultado (por exemplo, sua

valência) e a verdadeira satisfação que ele fornece (por exemplo, seu valor)”10. Isso significa

que existem resultados que por si só (sua propriedade intrínseca) não são suficientes para

antecipar a satisfação ou insatisfação (valência), neste caso, a força do desejo ou aversão da

pessoa em direção ao resultado estará associada com outros resultados, os quais são meios

que ganham valência para alcançar o resultado final.

10 At any given time there may be a substantial discrepancy between the anticipated satisfaction from an outcome (i.e., its valence) and the actual satisfaction that it provides (i.e. its value)

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Neste caso, tanto a força do desejo quanto da aversão a um determinado resultado/objeto

estão relacionadas à crença da pessoa de que o resultado trará as consequências desejadas ou

indesejadas. Dependendo dessas crenças terá uma atitude positiva ou negativa, ou seja, terá

uma atitude positiva em relação ao objeto caso entenda que as consequências serão desejadas

e, por outro lado, se entender que as consequências serão indesejadas terá uma atitude

negativa em direção ao resultado.

Considerando os aspectos destacados anteriormente, Vroom (1964, p.17) sugere uma

proposição para a valência dos resultados e suas consequências esperadas da seguinte forma:

“A valência de um resultado para uma pessoa é uma função monotonicamente crescente da

soma algébrica dos produtos das valências de todos os outros resultados e suas concepções

das instrumentalidades para o alcance desses outros resultados”11.

O modelo de valência é representado simbolicamente como:

Onde:

j = 1 ... n; ƒ ‘ > 0; iI jj = 0

Vj= a valência do resultado j

I jk = instrumentalidade percebida ( -1 ≤ Ijk ≤ 1) ou crença de que Vj conduzirá ao alcance do

resultado k

Vk = valência do resultado k

n = o número de resultados

Neste modelo a satisfação antecipada com a ocupação resulta da instrumentalidade da

ocupação em alcançar outros resultados e a valência desses resultados. Por isso, geralmente é

conhecido como modelo de valência/preferência (ΣIV).

11 The valence of an outcome to a person is a monotonically increasing function of the algebraic sum of the products of the valences of all other outcomes and his conceptions of its instrumentality for the attainment of these other outcomes.

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Modelo de Força (escolha)

A segunda proposição do modelo de Vroom (1964) visa especificar como as valências e as

expectativas são combinadas de maneira a determinar as escolhas. É assumido que a escolha

ou comportamento de uma pessoa é o resultado de um campo de forças, cada qual com

direções e magnitudes distintas (Vroom, 1964, p. 18).

Assim, as escolhas realizadas pelas pessoas entre ações alternativas serão aquelas que

apresentarem forças mais fortemente positivas ou mais fracamente negativas. Ou seja, na

ocorrência da escolha o pressuposto é que será aquela com a menor força negativa ou aquela

com a maior força positiva.

Este modelo tem a função de prever a força em direção ao comportamento. O conceito de

força é tido como uma função das somas algébricas dos produtos das valências de todos os

resultados e da força das expectativas das pessoas que a ação será seguida pelo alcance desses

resultados. O valor ou força do resultado é a real satisfação com o alcance do resultado, ou

seja, é a satisfação atual e não mais uma satisfação antecipada (Porfeli et al., 2012).

Simbolicamente o modelo é representado da seguinte forma:

Onde:

Fi = a força do indivíduo para desempenhar a ação i;

Eij = a força da expectativa (0 ≤ Eij ≤ 1) que a ação i será seguida pelo resultado j;

Vj = a valência do resultado j

n = o número de resultados

De acordo com Vroom (1964, p.19) “É também assumido que as pessoas escolhem entre

ações alternativas aquela que apresentar a maior força positiva (ou menor força negativa)” 12.

12“ It is also assumed that people choose from among alternative acts the one corresponding to the strongest positive (or weakest negative) force.”

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Essa força que impulsiona o indivíduo à ação é o resultante da multiplicação dos níveis de

expectativas e da valência conforme o modelo apresentado anteriormente. Vroom (1964)

utilizou o termo “escala de força motivacional”13 referindo-se ao resultante dessa expectativa

e valência.

Em uma pesquisa meta-análise sobre a teoria da expectativa, os autores Van Eerde e Thierry

(1996, p.582) identificaram que as variáveis que são mais fortemente relacionados ao modelo

da expectativa (e componentes) parecem ser de atitude (intenção e preferência) mais do que

comportamental (desempenho, esforço e escolha). Kopf (1989), fazendo uma análise sobre

resultados de pesquisas sobre a teoria, destaca que a multiplicação de instrumentalidade e de

valência foram as que apresentaram maior correlação do que quaisquer outras possíveis

combinações. Depreende-se então, que o modelo de valência é o que mais está tendo suporte

pelos estudos empíricos.

Mitchell e Beach (1976, p.235) destacam que este modelo poderia ser utilizado dentre outras

funções, para predizer escolhas de ocupação, ou seja, escolhas de profissões/atividades. “Para

escolha ocupacional nós podemos querer saber a expectativa que uma dada escolha poderia

conduzir à realização ocupacional e a valência da realização”14.

Tanto para a preferência como para a escolha ocupacional as variáveis de valência poderiam

ser as mesmas. O pressuposto do modelo de força é que o indivíduo escolherá aquela

ocupação com maior força. Esse modelo geralmente é conhecido como modelo de escolha (Σ

EV).

Em relação à escolha de uma ocupação/função profissional, de acordo com os pressupostos

dessa teoria, a preocupação é com a percepção do indivíduo em relação aos resultados de uma

determinada escolha e a respectiva importância desses resultados para o indivíduo. Como os

indivíduos usam informações sobre uma determinada profissão a fim de chegar a uma escolha

final?

De acordo com Mitchell e Beach (1976, p.234) a teoria da expectativa de Vroom inclui uma

fórmula ou modelo para predizer a preferência ocupacional e outra para predizer a escolha

ocupacional. O primeiro modelo se refere à valência do resultado e o segundo à força do

13 “motivational force score” 14 For occupational choice we would want to know the expectancy that a given choice would lead to occupational attainment and the valence of attainment.

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resultado. Conforme Kopf (1989) a combinação do construto de expectativa e valência resulta

no modelo de força que também é frequentemente denominado de modelo de expectativa.

Dolan e Lingham (2011) destacam ainda que a Teoria da Expectativa é compreendida como

uma função da expectativa, da instrumentalidade e do valor sobre o objeto da decisão,

compreendendo a motivação uma função de três componentes, quais sejam:

1. Uma expectativa de esforço-desempenho (expectativa), que um maior esforço conduzirá

a um bom desempenho;

2. Uma percepção de desempenho-resultado (instrumentalidade), que um bom desempenho

conduzirá a certos resultados; e

3. A atratividade do resultado (valência), em que qualquer resultado pode ter um valor

positivo ou negativo (se estamos exercendo um esforço ou estamos motivados, devemos

avaliar o resultado, o que significa dizer que devemos acreditar que aumentar o esforço

conduzirá a altos desempenhos e que altos desempenhos resultarão em recompensas que

valem a pena.)

2.1.1 Teorias Motivacionais

Esta pesquisa está inserida no contexto das teorias comportamentais ou estudos de processos

cognitivos que intentam mostrar ou explicar as motivações das pessoas para determinadas

ações, em especial no âmbito do trabalho. Com base nesse contexto teórico, a investigação

teve como foco os potenciais candidatos a exercerem a atividade de auditoria independente no

Brasil, conforme destacado anteriormente na situação problema.

As teorias sobre motivação discutem diversos fatores que influenciam na satisfação ou

preferência no trabalho e, dentre esses fatores, um que é bastante explorado é o incentivo

monetário ou recompensa. Pressupondo a existência de diferenças motivacionais entre os

indivíduos, a proposta é investigar se o valor da remuneração em início de carreira influencia

na preferência pela função de auditor independente no Brasil como opção de carreira

profissional. Ou seja, investigar se a remuneração pode ou não ser um fator de influência na

atratividade da auditoria como uma possível opção de carreira.

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Geralmente as pesquisas motivacionais no contexto de trabalho abordam temas como fatores

intrínsecos e extrínsecos, entre grupos e entre indivíduos, entre indivíduos e organizações

(Lin, Tsai, Joe, & Chiu, 2012). Os fatores como recompensa, responsabilidade,

comprometimento, esforço, dificuldade da tarefa, qualidade de vida e trabalho, flexibilidade

de tempo, oportunidade de crescimento, entre outros que tentam relacionar ou explicar os

possíveis fatores motivacionais que podem levar à escolha de uma carreira ou de um trabalho,

representam focos mais específicos dessas pesquisas (Renko, Kroeck, & Bullough, 2011; )

São várias as teorias utilizadas nas pesquisas dentro dessa configuração, como exemplos

destacam-se a teoria da decisão comportamental, a teoria da expectativa, a teoria das

necessidades de McClelland, a hierarquia das necessidades de Maslow, dentre outras.

A teoria da expectativa, originalmente proposta por Vroom (1964), é apresenta com sendo

uma teoria da motivação que traz como foco central a possibilidade de explicação das

escolhas ou direções dos comportamentos, sendo considerada uma das teorias mais populares

e amplamente estudada sobre motivação humana (Van Eerde & Thierry, 1996).

Essa teoria tem sido usada para prever atitudes e comportamentos relacionados ao trabalho,

como por exemplo: desempenho, preferência, satisfação, escolha, esforço, realização etc. O

seu pressuposto básico é que os indivíduos geralmente irão direcionar seus esforços em

relação a comportamentos ou ações quando percebem que existe uma alta probabilidade de

serem capazes de desempenhar o comportamento, alta probabilidade que o comportamento

conduzirá a algum resultado e que o resultado terá algum valor para o indivíduo.

Vroom, (1964, p. 28) apresenta esse pressuposto do modelo da seguinte forma “[...] escolhas

pelas pessoas entre cursos alternativos de ação são presumidas depender do peso relativo da

força. Cada força é, por sua vez, presumida ser igual à soma algébrica dos produtos da

valência dos resultados e expectativas de que os resultados serão alcançados” 15. Assim, numa

visão hedonista as pessoas escolherão as ações que maximizarão a satisfação esperada com os

resultados de suas ações como, por exemplo, nível de desempenho/dedicação no trabalho para

um determinado nível de remuneração. O levantamento efetuado em relação à referida teoria

demonstrou a existência de vários trabalhos empíricos em diversas áreas, inclusive na

contabilidade, evidenciando que a mesma pode fundamentar o tipo de pesquisa proposto.

15

“[…] choices by person among alternative courses of action are hypothesized to depend on the relative strength of forces. Each force is in turn hypothesized to be equal to the algebraic sum of the products of the valence of outcomes and expectancies that the outcomes will be attained.”

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Por abranger aspectos comportamentais com suas respectivas variações e complexidades, as

bases teóricas disponíveis também são diversas e a escolha de uma em detrimento das outras

foi somente uma questão de percepção do pesquisador.

O entendimento sobre motivação, assim como tantos outros aspectos do comportamento

humano nas organizações, é um tema bastante complexo. Não se apresenta na forma de uma

relação linear, as relações são sempre multidimensionais, por isso, não é possível dizer que

agindo de determinada forma irá atingir maior ou menor grau de motivação, podendo existir

diferenças significativas nas motivações dos indivíduos. Apesar dessa complexidade,

pesquisadores, principalmente da área da Psicologia, vem de longa data procurando

desenvolver modelos que possam explicar as variações existentes nos níveis de motivação das

pessoas. Os pressupostos que despertam o interesse nessas pesquisas sobre motivação são de

que pessoas motivadas realizam suas atividades de forma mais produtiva/eficiente,

consequentemente aproveitam e desenvolvem melhor os aspectos de sua vida no trabalho, nos

estudos, nos relacionamentos etc.

O termo Motivação é originário da palavra “movere” em latin, que significa mover ou

movimento (Steers, Mowday, & Shapiro 2004, p.379). Conforme Dolan e Lingham (2011, p.

3.2), “Uma boa maneira de entender motivação é como um direcionador ou força dentro de

nós que é desencadeada por várias necessidades”16. Dessa forma, são as necessidades que nos

motivam a ‘movere’, a agir de maneira que essa ação possa suprir as necessidades. Tanto a

motivação como as necessidades não são tangíveis, algo que se pode tocar ou ver. No entanto,

é possível assumir sua presença ou ausência a partir dos comportamentos observáveis (Dolan

& Lingham, 2011; Steers, Mowday, & Shapiro 2004)

Por outro lado, autores como Latham e Pinder (2005, p.488) afirmam que “[...] teorias

baseadas nas necessidades explicam porque a pessoa deve agir, mas não explicam porque

determinadas ações são escolhidas em determinadas situações para obter determinados

resultados”, acrescentam ainda que “[...] assim, juntamente com uma maior atenção para as

necessidades também tem havido um ressurgimento do interesse nas diferenças individuais,

particularmente em relação aos efeitos das características do trabalho sobre a motivação do

empregado”. 17

16 “A good way to understand motivation is as a drive or force within us that is triggered by various needs.” 17

“need-based theories explain why a person must act; they do not explain why specific actions are chosen in specific situations to obtain specific outcomes ... Hence, along with increased attention to needs, there has also

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A discussão em torno da ação motivada pelas necessidades e da ação movida por resultados

gerou na literatura dois grandes grupos de teorias motivacionais. O primeiro grupo,

representado pelas proposições de Maslow, McClelland, Alderfer entre outros, foi

denominado de teorias de conteúdo, cujo principal objetivo foi de identificar os fatores

associados com motivação. O segundo grupo, denominado de teorias de processo, tentam

entender o processo cognitivo pelo qual as pessoas passam na determinação de como

comportar-se no local de trabalho (Steers, Mowday, & Shapiro 2004).

A Tabela 1 apresenta uma classificação feita por Dolan e Lingham (2011) dos grupos dessas

teorias e suas respectivas características.

Tabela 1 - Classificação das principais teorias de motivação

Classificação Teorias Características

Teorias de Conteúdo

Maslow's Needs Hierarchy

Assume que comportamentos tentam satisfazer necessidades/Direciona as questões de quais necessidades desencadeiam motivações.

Alderfer's ERG

McClelland's Needs

Classification Herzberg's Two-Factor

Teorias de Processos

Vroom's Expectancy Comportamento é racional e envolvem processos de pensamentos cognitivos/Direciona a questão do porque as pessoas se comportam como o fazem.

Locke’s Goal-Setting

Adam’s Equity

Teorias baseadas no ambiente

Skinner’s Operant-Conditioning

Foco sobre as razões externas, explicando como alguém mantém o comportamento de certa forma.

Fonte: adaptado de (Dolan & Lingham, 2011)

No âmbito das teorias motivacionais cognitivas ou de processo uma que é considerada de

destaque e bastante conhecida nos estudos sobre motivação e trabalho é a teoria da

expectativa. (Steers et al., 2004;Van Eerde & Thierry, 1996; Ilgen, Nebeker, & Pritchard,

1981). Para Kopf (1989, p.5) “O termo ‘teoria da expectativa’ não se refere a uma teoria

específica, mas a um corpo de teorias relacionadas no qual sua hipótese é que as pessoas se

engajam em um determinado comportamento por causa das suas escolhas e que suas escolhas

são baseadas nas ‘expectativas’ sobre as consequências de suas ações”18.

been a resurgence of interest in individual differences, particularly with regard to the effects of job characteristics on employee motivation 18 “The term ‘expectancy theory’ does not refer to a specific theory, but to a body of related theories which hypothesize that people engage in a particular behavior because they choose to, and that their choices are based on ‘expectations’ about the consequences of their actions.”

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Essa relação ação-consequência ou escolha-consequência, tratada nas teorias motivacionais

cognitivas, em geral, se baseia no princípio do hedonismo o qual pressupõe que indivíduos

escolherão comportamentos que acreditam resultar em prazer e evitarão comportamentos que

acreditam resultar em dor (Kopf, 1989; Vroom, 1964; Steers et al., 2004).

2.1.2 Gerações e Motivações no Trabalho

2.1.2.1 Conceitos e Características

O termo gerações, no contexto social, se refere aos grupos de indivíduos que compartilham de

maneira semelhante suas experiências de vida em relação aos aspectos naturais, culturais,

políticos e econômicos (Smith & Clurman, 1998; Cordeiro, 2012). A literatura apresenta

outros conceitos e características de gerações, os quais geralmente apresentam a vivência de

experiências num determinado momento histórico como elemento comum entre eles

(Cordeiro, 2012).

As discussões relacionadas ao tema mencionam a existência de quatro gerações distintas

convivendo simultaneamente na atualidade, conhecidas cronologicamente como geração

Silenciosa (silent), geração Baby Boomers, Geração X e Geração Y ou Millennial (Twenge,

Campbell, Hoffman, & Lance, 2010; Cordeiro, 2012).

Apesar de bem definida cada uma das gerações, o seu entendimento em termos de período de

nascimento não é tão simples, existindo bastante discordância sobre o período correspondente

a cada uma (Cordeiro, 2012). Hansen e Leuty (2012) destacam que a maior parte dessa

literatura as classifica como geração Silent nascidos entre 1925 e 1945; Baby Boomers

nascidos entre 1946 e 1964; geração X nascidos entre 1965 e 1980 e, por fim, os pertencentes

à geração Y, aqueles nascidos após 1980. Outro ponto de destaque é que a maior parte da

literatura classifica geração com base na idade, dividindo os indivíduos de cada geração por

suas datas de nascimentos (Cordeiro, 2012).

A Geração Silent também conhecida como geração dos tradicionalistas compartilhou eventos

históricos semelhantes como a grande depressão, a segunda guerra mundial e é considerada a

geração que enfrentou tempos difíceis. Os indivíduos dessa geração são descritos como leais,

tendo bastante fé nas instituições e com planejamento de carreira de longo prazo em uma

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única organização (Twenge et al., 2010). O trabalho para essa geração é considerado como

um dever e uma obrigação (Hansen & Leuty, 2012).

A Geração Baby Boomers é considerada a maior das gerações e como tal é caracterizada pela

competição por recursos e oportunidades. Seus valores são os esforços para chegar à frente,

obtendo sucesso material. Hansen e Leuty (2012), descrevem essa geração como sendo muito

otimista e responsável por muitos movimentos sociais e ainda são vistos como viciados em

trabalho, valorizando suas carreiras e ainda buscando o significado de vida no trabalho.

Os indivíduos da Geração X, diferentemente da lealdade e do otimismo das gerações

precedentes, são considerados como cínicos, céticos e pessimistas. Autores como Losyk

(1997), Hansen e Leuty (2012), Arnett (2000), argumentam que essas características podem

ser originárias de muitos eventos negativos vivenciados durante o período de sua formação,

eventos como aumento da violência, aumento de divórcios, crises econômicas e problemas

sociais. Pesquisa de Arnett (2000), evidencia que apesar do pessimismo demonstrado por essa

geração quando observada num todo, no aspecto individual seus representantes demonstraram

otimismo em relação ao futuro pessoal. Em relação ao trabalho também são considerados

comprometidos, apesar da mudança frequente de emprego (Cohen, 2002).

Conforme classificação apontada anteriormente, os representantes da geração Y são aqueles

nascidos após 1980, os quais começaram a ingressar no mercado de trabalho por volta do ano

2000, atualmente estão com seus 33 anos ou menos. Essa geração compartilhou de eventos

históricos comuns como a ascensão da internet e globalização comercial, os quais são

utilizados para caracterizá-la como tal.

Em uma classificação de gerações na Austrália, McCrindle (2006) destaca que a geração Y

representa os nascidos entre 1980 e 1994, que atualmente (2013) tem no mínimo 19 anos. De

acordo com essa classificação os nascidos após 1994 pertencem à geração Z.

Descrição Nascidos Builders Antes de 1946 Boomers 1946 – 1964 Geração X 1965 – 1979 Geração Y 1980 – 1994 Geração Z 1995 – 2009

Quadro 1. Classificação das gerações Fonte: Adaptado de McCrindle (2006)

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Cordeiro (2012) apresenta em sua pesquisa uma ampla e profunda revisão sobre os aspectos

tecnológicos, históricos, sociais, políticos e econômicos que caracterizam cada uma das

gerações. Especificamente em relação ao Brasil, menciona que as pesquisas sobre o tema são

incipientes, carecendo de mais produção e que os pesquisadores nacionais geralmente se

utilizam de classificações internacionais sobre gerações para apoiar seus estudos, no geral são

estudos teóricos. Destaca ainda que a produção mais relevante em termos de quantidade e

profundidade com estudos teóricos e empíricos longitudinais é de origem norte-americana.

Essa evidência de baixa produção acadêmica sobre o tema gerações, principalmente sobre a

geração Y no contexto nacional, também foi constatada por Santos (2011), que verificando os

principais periódicos nacionais no período de 2005 a 2010 não identificou artigos que

tratassem sobre o referido tema, encontrando somente trabalhos publicados em eventos.

2.1.2.2 Motivações no Trabalho

Geralmente quando se aborda o tema gerações o foco é em relação às suas diferenças e

especificamente em ambientes organizacionais são investigadas em termos dessas

divergências. Nesse contexto, uma das hipóteses que permeia os estudos sobre gerações nas

organizações é a de que existem diferenças entre estas e são relacionadas aos valores no

trabalho. No entanto, pesquisas como a de Hansen & Leuty (2012) apontam que nem sempre

essas diferenças são verificadas empiricamente, existindo tanto percepções semelhantes como

divergentes entre as gerações.

O conhecimento do que os trabalhadores de cada geração valorizam no ambiente do trabalho

e os possíveis meios para satisfazer esses valores tornam-se extremamente importante para a

organização, pois pressupõe que uma das maneiras de atrair e reter empregados se dá pela

criação de um ambiente de trabalho que fortaleça aquilo que é valorizado pelos trabalhadores

de cada geração.

Nessa linha de pensamento, Brick (2011) constatou empiricamente que existem diferenças

significativas sobre os valores da companhia e motivadores de trabalho entre as gerações de

engenheiros e cientistas em uma empresa do ramo de petróleo. O autor constatou que entre os

seis principais motivadores de trabalho pesquisados, a geração Y classificou “chance de

promoção” e “boa remuneração” em primeiro e segundo lugar respectivamente, a geração X

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classificou em primeiro e segundo lugar “boa remuneração” e “chance para desenvolver

trabalho de qualidade” e a geração Baby Boomers apresentou em primeiro lugar o motivador

“chance para desenvolver trabalho de qualidade” seguido pelo motivador “ter estabilidade no

emprego”.

Hansen e Leuty, (2012) apoiando-se em um estudo empírico, confirmam a existência de

diferenças entre gerações no tocante aos valores de trabalho e sugerem que os trabalhadores

das gerações mais recentes (Baby Boomers e X) colocam mais importância em variáveis como

condições de trabalho, estabilidade, colegas e compensação em relação à geração Silent.

Para Cohen (2002), a lealdade da geração X em relação ao tempo de permanência na

companhia tende a ter vida curta, diferentemente das gerações anteriores que mantinham

vínculos de longo prazo.

Leschinsky e Michael (2004), avaliaram 20 motivadores de trabalho em uma amostra de

trabalhadores pertencentes a três gerações e constataram que entre a geração X e Y os

principais motivadores foram bom salário e estabilidade de emprego. Os trabalhadores da

geração Baby Boomers reportaram como principais motivadores pensão e outros benefícios de

seguridade como os mais importantes.

No contexto brasileiro, uma pesquisa empírica realizada por Cordeiro (2012) constatou que o

perfil de carreira que predomina entre os indivíduos brasileiros (pesquisados) pertencentes à

geração Y é o “Arquiteto da Carreira Proteana”, em que a própria pessoa é quem gerencia sua

carreira de forma adaptativa e flexível. A relação de troca nesse perfil de carreira é

caracterizada pela oferta de desempenho e esforço adicional por parte do empregado e o

empregador deve oferecer oportunidades de desenvolvimento e ganhos de curto prazo para o

empregado (Cordeiro, 2012). O Quadro 2 apresenta resultados de pesquisas que evidenciam

os atributos de trabalho mais valorados pelos integrantes de três gerações (Boomers, X e Y).

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Motivações no Trabalho entre Gerações

Autor(es) Baby Boomers Geração X Geração Y

Hansen & Leuty (2012) Status e Autonomia

Condições Trabalho; Estabilidade; Colegas; Compensação

Cohen (2002) Carreira de Longo Prazo

Mobilidade na Carreira com vínculos organizacionais de curto prazo

Sem comprometimento com o tempo de permanência na empresa

Brick (2011) Chance para desenvolver um trabalho de qualidade

Boa Remuneração; Chance para desenvolver um trabalho de qualidade;

Chance para Promoção; Boa Remuneração

Cordeiro (2012) Perfil de Carreira Proteana (adaptativa e flexível) Oportunidades de Desenvolvimento; Recompensas de Curto prazo

Leschinsky e Michael (2004)

Pensão e outros benefícios de seguridade

Bom Salário e estabilidade de emprego

Bom Salário e estabilidade de emprego

Santos (2011) Equilíbrio entre vida profissional e pessoal

Rendell & Brown (2011) Oportunidade de progressão na carreira; Salários Competitivos; Programas de treinamento e desenvolvimento.

Quadro 2. Resumo das características e motivadores de trabalho entre as gerações

As pesquisas sobre o tema motivação no trabalho geralmente tentam identificar os principais

motivadores relatados pelos indivíduos, de maneira a direcionar esse conhecimento para um

melhor alinhamento entre os motivadores e as políticas da empresa no tocante a atração e

retenção de empregados capacitados para desempenhar a respectiva função no trabalho.

Pressupõe que esse alinhamento possa gerar comprometimento dos empregados com os

objetivos da organização. Abordando esse tema em relação às gerações, foi verificado pelos

resultados das pesquisas apresentadas no quadro 2 que esses motivadores variam entre

gerações e os próprios motivadores.

Especificamente em relação à remuneração como um fator de atração, é percebido que este

geralmente aparece classificado como um dos principais fatores, significando que é um fator

que não pode ser desconsiderado pelas empresas quando da elaboração de políticas de atração

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e retenção de empregados, mesmo tendo algumas vertentes de pesquisa que mencionam que o

fator remuneração não sensibiliza a geração de trabalhadores da atualidade (Rendell &

Brown, 2011)

Analisando os dados de um levantamento com 4.364 graduandos entre 75 países, inclusive o

Brasil (com 211 respondentes) Rendell e Brown (2011), destacam que para atrair a geração Y

ou geração do milênio, os empregadores devem oferecer mais do que um bom salário e que

essa geração é motivada por muito mais do que dinheiro, levando em conta os valores da

companhia quando estão considerando um trabalho. No entanto, apesar desses comentários

sobre as formas de atração dos trabalhadores da geração do milênio, pontuando que dinheiro

não é tudo, os autores apresentam um gráfico em que “salário competitivo e outros incentivos

financeiros” aparece como o segundo fator mais valorizado pelos sujeitos respondentes

(44%), perdendo apenas para o fator “oportunidades para progressão na carreira” que aparece

em primeiro lugar com 52%.

Os dados apresentados por Rendell e Brown (2011), permitem fazer outro tipo de

interpretação em que o fator dinheiro ou recompensa financeira pode não ser tudo (usando a

expressão dos autores de que dinheiro não é tudo), mas um item preponderante na atração de

um empregador e que deve ser considerado como um fator de atração pelos novos

trabalhadores do milênio.

2.1.3 Antecedentes da Pesquisa sobre Preferência Ocupacional

As teorias motivacionais geralmente estabelecem os critérios/motivos que levam um

indivíduo agir ou decidir de uma determinada maneira, os quais tentam explicar porque as

pessoas agem daquela forma ou o que as motivam a agir daquela maneira. Em uma das

vertentes econômicas, os motivos para ação estão baseados na maximização do lucro ou

receita ou na utilidade das recompensas materiais, pressupondo que as escolhas serão feitas

sempre visando o melhor resultado ou recompensa. No contexto da definição de carreira ou de

trabalho, uma visão mais abrangente pode ser relevante, pois as pessoas escolhem ou têm

preferências por determinadas áreas ou atividades por várias outras razões além do aspecto

econômico. Esse contexto pode ser corroborado com resultados de diversas pesquisas como

Campbell e Niles, (2006); Stahl e Harrell, (1983); Law e Yuen, (2012); Aiman-smith, Bauer e

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Cable, (2001); Jinkens e Camilo, (2011); Vandenberghe, St-Onge e Robineau, (2008); Fehr e

Falk (2002).

Sem contradizer a diversidade de razões quando da escolha ou preferência por uma

determinada ocupação, a presente pesquisa se propõe a avaliar a importância dos motivos

econômicos no contexto da preferência por uma atividade profissional em detrimento de

outras, visando entender se a percepção do valor da remuneração influencia no

comportamento das pessoas quando da definição ou preferência por uma determinada

carreira, em especial a de auditor independente. Kunz e Pfaff (2002, p.290), fazendo uma

análise das pesquisas em laboratório que apresentam efeitos prejudiciais da recompensa em

configurações de trabalho, destacam que “Dentro das corporações de negócios, pessoas

esperam ser pagas em troca da venda de seu trabalho. Então recompensas são a norma ao

invés de serem circunstancialmente inapropriadas”19.

Pressupondo a diversidade de motivos na preferência por uma ocupação, indivíduos com

características pessoais diferentes terão diferentes motivos de atração, estarão olhando para

diferentes atributos de trabalho. Geralmente esse olhar é categorizado na literatura sob dois

enfoques, um se refere às características intrínsecas e o outro às características extrínsecas,

também denominadas de motivações ou variáveis internas e motivações ou variáveis externas

(Deci, Koestner, & Ryan, 1999; Stahl & Harrell, 1983; Jackling & Keneley, 2009; Amabile,

Hill, Hennessey, & Tighe, 1994; Gagné & Deci, 2005).

Apesar dos vários estudos teóricos e empíricos sobre preferência ocupacional que utilizam a

teoria da expectativa como base, são poucos os pesquisadores que visam mostrar a influência

de atributos de trabalho pela manipulação experimental. A literatura geralmente apresenta os

atributos de trabalho de forma hierárquica, posicionando pelo seu grau de importância ou

ainda destacando aqueles que se mostraram mais significativos no estudo (Aiman-smith et al.,

2001; Jinkens & Camilo, 2011; Amabile et al., 1994; Uyar et al., 2011).

Por outro lado, alguns estudos que apresentam relações de causa e efeito nem sempre são

convincentes nessas relações. O trabalho de Fessler (2003) pode ser utilizado como uma fonte

de comparação sobre a importância dos incentivos monetários (remuneração) como uma

variável de pesquisa. O autor se propôs a identificar o link entre incentivos monetários,

19 - Within business corporations, people expect to be paid in exchange for selling their labor. Thus rewards are the norm rather than being situationally inappropriate

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atratividade da tarefa e o desempenho da tarefa, concluindo que quando a tarefa foi percebida

inicialmente como atrativa, a utilização do método de remuneração por produção (variável)

ocasionou uma redução na atratividade percebida da tarefa e piorou o desempenho na tarefa,

comparativamente ao sistema de remuneração fixa. Apesar de ter colocado como uma das

limitações da pesquisa, o autor definiu um único valor para remunerar as pessoas no sistema

de remuneração por produção, não verificando se uma maior remuneração poderia alterar a

atratividade da tarefa ou mesmo manter a atratividade demonstrada inicialmente.

O trabalho de Fessler (2003) se diferencia da configuração da presente pesquisa em função do

estímulo de vários níveis de remuneração, não se fixando em um único valor/estímulo. Com

isso, o intuito é tentar identificar a influência da expectativa de remuneração em relação às

suas respectivas atratividades inicialmente percebidas.

A teoria da expectativa tem sido aplicada e validada em diversos campos de estudos, em

especial nos estudos sobre preferências e decisão de escolher um trabalho, ou seja, em

pesquisas que envolvem intenções-atitudes, mais do que desempenho e esforço

comportamental (Van Eerde & Thierry, 1996). É importante destacar que a produção

científica nacional que faz uso dessa teoria em suas investigações é inexpressiva quando

comparada à produção internacional. Essa inexpressividade torna-se ainda mais evidente

quando se observa a área das ciências contábeis que raramente faz uso dessa teoria. Um dos

trabalhos considerados pioneiros na área é a investigação de Chien (2005) em que aplica os

dois modelos da teoria para verificar a influência da expectativa de aumentar a nota no curso

com outras variáveis no contexto educacional.

Colocada de forma simples e direta, essa teoria estabelece que a ação da pessoa é dirigida

pelas consequências esperadas, sendo previsto que um individuo irá agir de certa maneira com

base nas expectativas de que a ação será seguida por um dado resultado (por exemplo, a

escolha de um certo trabalho conduzirá ao sucesso financeiro?) e sobre a atratividade desse

resultado para o individuo (por exemplo, sucesso financeiro é importante para mim?). Ou

ainda conforme coloca Chien (2005), existe relação entre a motivação do aluno em aumentar

a nota e seu desempenho na disciplina? (desempenho na disciplina é importante para o

aluno?).

Os pressupostos dessa teoria mostram uma evidente relação com a principal variável

(remuneração) definida para o presente estudo. A remuneração é tida como um dos possíveis

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elementos de recompensa no contexto de trabalho que pode ser utilizada para motivar e atrair

as pessoas (Payne, Cook, Horner, Shaub, & Boswell, 2010; Rynes, 2004; Rynes, Gerhart &

Minette, 2004; Kuvaas, 2006).

Uma das principais fontes teóricas que apoia a presente pesquisa é o trabalho de Rynes,

Gerhart e Minette (2004), em que os autores fazem uma revisão das evidências sobre as

discrepâncias entre o que as pessoas dizem e fazem em relação ao salário/pagamento. Os

autores apresentam resultados de pesquisa que evidenciam a subestimação do salário quando

os sujeitos respondem diretamente sobre a importância do dinheiro no contexto de trabalho,

geralmente essas pesquisas utilizam técnicas de levantamento “surveys” solicitando aos

sujeitos para classificar a importância dos motivadores de trabalho.

Por outro lado, quando o atributo recompensa é medido indiretamente por outras técnicas de

pesquisa, este se apresenta com um dos mais importantes atributos motivacionais de atração,

de retenção e de desempenho no trabalho (Sprinkle, 2000; Miceli & Mulvey, 2000).

Na sequência são apresentados resultados de várias pesquisas abordando as variáveis mais

utilizadas no estudo sobre preferências ocupacionais, bem como a importância dos incentivos

financeiros no contexto de trabalho (atração, retenção e desempenho). O objetivo de

contextualizar os direcionamentos das pesquisas é evidenciar o que diferencia a presente

proposta das demais.

Mello e Castro et.al. (2007) pesquisando sobre a expectativa e satisfação de alunos em relação

ao estágio, utilizaram entre outras variáveis a remuneração. Os resultados mostraram que a

maioria (65,8%) dos pesquisados (76 alunos) consideraram a remuneração justa em relação à

carga de obrigações que recebem. Os pesquisadores consideraram uma carga alta de

expectativa em relação ao estágio, ou seja, estava suprindo as expectativas, pelo menos para a

maioria dos estudantes. Neste caso, a variável remuneração teve um efeito positivo em relação

às expectativas.

Boonpattarakan (2011), utilizando a teoria da expectativa identificou junto aos empregados e

supervisores de uma companhia eletrônica na Tailândia que as recompensas/resultados que

atribuíram mais valor no contexto de trabalho foram as monetárias, ficando as não monetárias

em segundo plano.

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Von Bonsdorff (2011), investigou preferência por recompensas de 628 enfermeiras

Finlandesas e identificou que tanto recompensas financeiras como não financeiras foram

altamente apreciadas e claramente identificadas pelas participantes da pesquisa. Concluiu

ainda que a preferência por recompensa financeira foi estatisticamente mais fraca entre as

enfermeiras mais jovens (20 a 29 anos) comparativamente às mais velhas.

Stajkovic e Luthans (2001), numa pesquisa com trabalhadores do ramo industrial, o qual é

caracterizado pelos autores como uma atividade de tarefas simples e salários relativamente

baixos, constataram que dinheiro neste contexto foi percebido como tendo um alto valor

instrumental materializado pelo esforço extra na realização das tarefas. Nesta configuração, o

dinheiro foi percebido como o principal incentivo motivacional na melhoria do desempenho,

comparativamente à variável reconhecimento social e obtenção de feedback.

Chiang e Jang (2008), com o propósito de confirmar a validade da teoria da expectativa em

uma organização empresarial do ramo de hotelaria, identificaram que os fatores motivacionais

intrínsecos foram mais influentes do que os fatores extrínsecos na motivação dos

funcionários.

Cheng, Lin, e Su (2011), explorando atitudes e motivos dos estudantes em escolas de

negócios em Taiwan optando por realizar exames de certificação da profissão, verificaram

que o fator recompensa foi o indicador com menos força e, ignorando outros fatores, tem

pouco impacto nas atitudes dos estudantes.

No contexto da contabilidade Mauldin, Crain e Mounce (2000) investigaram alguns fatores

que influenciaram a decisão dos estudantes em seguir nesta área, entre 12 fatores pesquisados

o fator “dinheiro” apareceu em terceiro lugar como mais influente nessa decisão, logo após o

fator “oportunidade de carreira” e “interesse na área”. Por outro lado, Uyar, Haydar e Kuzey

(2011) constataram em uma pesquisa, também com alunos e no contexto da contabilidade,

que o fator financeiro não foi um dos mais influentes na decisão de seguir na área contábil,

este ficou classificado apenas na sétima colocação entre os nove fatores apresentados.

Jinkens e Camilo (2011), em uma investigação sobre os fatores determinantes que

influenciam os estudantes a buscar uma carreira em contabilidade, constataram que a

recompensa monetária não é o fator que mais influencia nessa decisão.

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Felton, Buhr e Northey (1994), pesquisando os fatores que influenciam a escolha dos

estudantes da área de negócios em optar por uma carreira em contabilidade, identificaram que

a segunda variável mais importante relacionada à seleção de carreira é a variável ganho

inicial. Assim, os autores sugerem às firmas de auditoria ajustar os salários dos que entram na

carreira da contabilidade, de forma a tornar-se mais atrativa para os estudantes de negócios.

Essa investigação foi realizada em sete universidades americanas com estudantes do quarto

ano.

Trank, Rynes e Bretz Jr. (2002), examinando alguns indicadores relacionados às diferenças

individuais na preferência por atributos organizacionais e de trabalho com 378 estudantes na

área de artes e negócios, constataram que estudantes com alta habilidade cognitiva e alto

desempenho acadêmico (nota média no curso) diferem em suas preferências daqueles que

apresentam alto desempenho social (atividades de liderança e extra curriculares). Os

acadêmicos com alto desempenho social além de esperar mais trabalhos desafiantes e

promoções rápidas, também esperam alto nível de pagamento e amplos bônus pelo

desempenho.

Vandenberghe, St-Onge e Robineau (2008), explorando o link entre traços de personalidade e

atração por vários tipos de recompensas quando da escolha de um emprego, constaram que os

indivíduos com traços de personalidade caracterizada como “aberto a experiências” estão

positivamente relacionados à atração de cinco dos oito componentes de recompensa

pesquisados, ou seja, os indivíduos com esse traço de personalidade foram os que mais

apresentaram atração por fatores de recompensa.

Sprinkle (2000), utilizando a técnica experimental examinou a influência de contratos de

remuneração com incentivo e contrato com salário fixo sobre a motivação do indivíduo em

aprender e desempenhar. Os resultados apresentados contrariam várias outras pesquisas

(referenciadas em seu estudo) de que incentivos monetários diminuem o desempenho,

concluindo que os incentivos monetários não somente aumentaram a duração do esforço, mas

também parecem aumentar a intensidade do esforço.

Como visto, os antecedentes da pesquisa sobre preferência ocupacional e o fator remuneração,

levantados na literatura pesquisada e aqui apresentados, evidenciam que os resultados dessas

pesquisas apresentam um mix de resultados, não tendo uma vertente comum entre elas. Esse

contexto sinaliza a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.

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Especificamente em relação às pesquisas sobre preferência ocupacional no âmbito da teoria

da expectativa, a literatura pesquisada geralmente apresenta uma série de atributos de trabalho

como sendo os possíveis resultados (desejáveis ou indesejáveis) no contexto do trabalho.

Geralmente esses atributos são denominados de recompensas intrínsecas e/ou recompensas

extrínsecas. No intuito de justificar a utilização dos atributos de trabalho utilizados na

presente pesquisa, é apresentado na sequência o Quadro 03 com os tipos de variáveis

utilizadas nessas pesquisas, os quais são separados em variáveis extrínsecas e variáveis

intrínsecas.

Autor(es) EXTRÍNSECAS INTRÍNSECAS Método

Stahl e Harrell

(1983)

1. Localização Geográfica; 2. Uso de conhecimento e

habilidades especiais; 3. Oportunidade de

Desenvolvimento Profissional;

4. Salário

1) Necessidade de Poder 2) Necessidade de

Afiliação 3) Necessidade de

realização e obtenção de feedback

Experimento (modelagem tomada de decisão em relação a preferência de um trabalho

Brice e Nelson (2008)

1. Lucratividade Independência Trabalho excitante e desafiante

Survey (questionário online)

Wheeler e Mahoney (1981)

1. Chance para aprender novas coisas; 2. Oportunidade de Avanço na carreira; 3. Altos Salários.

1. Prestigio e Status Social 2. Uso de conhecimentos e habilidades especiais

Survey (questionário)

Muchinsky e Taylor (1976)

1. Chance para beneficiar a Sociedade; 2. Oportunidade de Avanço na carreira; 3. Bom Salário

1. Uso de conhecimento e habilidades especiais; 2. Chance para usar os próprios conhecimentos e habilidades especiais;

Survey (questionário)

Trank, Rynes, & Bretz Jr. (2002)

Flexibilidade de Trabalho; Plano de Carreira; Oportunidade de Treinamento; Pagamento Individual; Oportunidade de Promoção; Nível de Pagamento; Rápidas Promoções

Elogio e Reconhecimento; Comprometimento; Empreendedorismo.

Survey (questionário)

Vandenberghe et al., (2008)

Pagamento Variável; Oportunidade de avanço na carreira; Trabalho Flexível; Bônus

Qualidade do Trabalho e Relacionamento Social Prestígio do Trabalho

Survey (questionário)

Brooks e Betz (1990)

Variedades de atividades; Estabilidade no Trabalho; Altos Salários; Prestigio e Status Social; Estímulo Intelectual; Atividades de Lazer

Trabalho Flexível; Capacidade de conciliar a casa e vida família

Survey (questionário)

Quadro 3. Variáveis intrínsecas e extrínsecas utilizadas em pesquisas sobre preferência ocupacional

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As pesquisas apresentadas no Quadro 3, indicam quais atributos ou fatores de trabalho estão

sendo utilizados nas investigações sobre o tema, as quais geralmente utilizam a técnica de

levantamentos. Os atributos mencionados nessas pesquisas serviram de base para o

instrumento de coleta desta pesquisa.

2.2 A Profissão de Auditor no Brasil

O termo auditoria não é empregado somente na área da contabilidade e de negócios, pode ser

estudado e aplicado em vários ramos conhecimento. Attie (2006, p.42), destaca que apesar

desta variedade de áreas em que o termo é aplicado, sua finalidade é sempre a mesma, qual

seja, a de um especialista em sua área de atuação com vistas à emissão de uma opinião.

Mesmo na área de contabilidade e negócios poder ser abordada ou visualizada por diversas

dimensões como, por exemplo, histórica, ética, importância social, independência etc.

Contudo, considerando os propósitos deste estudo, o objetivo deste tópico é apresentar

características gerais da atividade da auditoria independente e seus requisitos legais de

atuação no contexto da contabilidade. Com isso, a intenção é levantar informações que

possam colaborar no desenho da pesquisa que busca o entendimento sobre a preferência da

auditoria como uma atividade profissional.

2.2.1 Aspectos Gerais da Auditoria Independente

Podendo a auditoria ser analisada por diversas dimensões e áreas, é importante explicitar

inicialmente qual é o contexto da auditoria que abrange este estudo. Em termos amplos, está

vinculada à área da contabilidade, conhecida como auditoria contábil. Em termos de vínculo

da auditoria com seus clientes e usuários, a abrangência aqui é denominada de auditoria

independente, também conhecida como auditoria externa, onde não existe vínculo de

dependência ou empregatício entre o auditor e a organização auditada.

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No contexto das possíveis dimensões a qual pode ser discutida, destaca-se o trabalho de Watts

e Zimmerman (1983) em que apresentam e discutem evidências históricas da auditoria a partir

dos aspectos da assimetria de informações ou problemas de agência, em que o papel da

auditoria estaria no monitoramento dos contratos, visando com isso reduzir os custos de

comportamentos oportunistas na medida em que informa possíveis rupturas contratuais. Os

autores também discutem os aspectos de competência e independência na identificação e

divulgação dessas rupturas. Assim, o papel do auditor nessa dimensão origina-se de conflitos

de interesse entre partes relacionadas independentemente de qualquer imposição legal.

Por outro lado, a dimensão legal também é discutida como uma maneira de entender a prática

da auditoria ou o papel do auditor. Essa dimensão é evidenciada no trabalho de Ricardino e

Carvalho (2004) em que apresentam uma retrospectiva sobre o desenvolvimento das

atividades de auditoria no Brasil, destacando que a criação da CVM em 1976 e, na sequência,

o estabelecimento da obrigatoriedade da auditoria independente pela Lei 6404/76, foram

marcos históricos para consolidação do papel da auditoria independente no país, referindo-se

a esse papel como “[...] o de se pronunciar sobre a adequação das demonstrações contábeis

publicadas” (Carvalho & Ricardino, 2004, p.33). Nessa dimensão, o papel da auditoria

independente é enfatizado pela obrigatoriedade legal de atestar a adequação dos relatórios

contábeis mesmo não estando no contexto de conflitos de agência.

Seja no âmbito de conflitos de interesse ou no âmbito legal, a auditoria independente é

caracterizada por disponibilizar informações imparciais sobre a adequação e confiabilidade

das atividades de uma organização expressas em seus relatórios contábeis, de maneira que

seja aumentado o grau de confiança dos usuários desses relatórios.

A auditoria é considerada por Hoog e Carlin (2009, p.54) como um “exame sistemático das

demonstrações financeiras e operações com a finalidade de determinar se estão de acordo com

os princípios da contabilidade geralmente aceitos”. O objetivo da auditoria para Attie (2006,

p. 31) é “[...] expressar uma opinião sobre a propriedade das demonstrações financeiras, e

assegurar que elas representem adequadamente a posição patrimonial e financeira, o resultado

de suas operações e as origens e aplicações de recursos correspondentes aos períodos em

exame [...]”

Esses conceitos, assim como tantos outros dispostos na literatura, evidenciam que as

atividades do auditor se referem ao processo sistemático de exames das demonstrações

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financeiras e operações comparativamente aos princípios legais e normativos estabelecidos,

visando dar mais confiabilidade às informações fornecidas aos usuários.

A norma brasileira de contabilidade sobre auditoria, denominada de técnicas de auditoria

(TA200), regida atualmente pela resolução 1.203/09 do CFC, define que a auditoria em

termos de seu objetivo:

[...] é aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuários. Isso é alcançado mediante a expressão de uma opinião pelo auditor sobre se as demonstrações contábeis foram elaboradas, em todos os aspectos relevantes, em conformidade com uma estrutura de relatório financeiro aplicável. No caso da maioria das estruturas conceituais para fins gerais, essa opinião expressa se as demonstrações contábeis estão apresentadas adequadamente, em todos os aspectos relevantes, em conformidade com a estrutura de relatório financeiro. A auditoria conduzida em conformidade com as normas de auditoria e exigências éticas relevantes capacita o auditor a formar essa opinião [...] (CFC, 2012).

A norma estabelece de forma clara e explícita que a referida confiabilidade é alcançada pela

opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis, opinião essa que deve estar amparada

pelas normas e exigências éticas da profissão.

O IBRACON disponibiliza em seu endereço eletrônico, direcionado especificamente aos

alunos interessados na carreira de auditor a seguinte informação:

O Auditor Independente exerce papel fundamental para assegurar credibilidade às informações financeiras de determinada empresa (entidade), ao opinar se as demonstrações financeiras preparadas pela sua administração representam adequadamente sua posição patrimonial e financeira e o seu desempenho e que a informação divulgada é completa. A auditoria da informação é essencial para a proteção dos usuários das demonstrações financeiras, aumenta a confiança, contribuindo para a eficiência do mercado (IBRACON, 2012).

Nota-se que os aspectos levantados até aqui sobre a auditoria e a função do auditor são bem

abrangentes não especificando exatamente quais são as atividades desempenhadas pelo

auditor, mesmo naquelas informações direcionadas aos alunos como é o caso do IBRACON,

destacadas anteriormente. Por outro lado, tendo o propósito de entender as preferências dos

alunos pela auditoria, torna-se imprescindível discutir as atividades envolvidas na realização

desta função. Considerando a existência de várias fontes que poderiam ser utilizadas para

levantar as atividades da auditoria, optou-se por utilizar além daquelas dispostas na literatura,

as disponibilizadas pelas empresas de auditoria que atuam no país bem como órgãos

internacionais que tratam sobre o tema.

A firma de auditoria Ernst Young Terco é a que apresenta mais detalhadamente exemplos de

possíveis atividades desempenhadas por um auditor dentre as quatro maiores firmas de

auditorias atuantes no país, denominadas de BIG4. As atividades do auditor são

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exemplificadas da seguinte forma: testar e avaliar os controles internos das organizações

clientes; avaliar o processo de folha de pagamento; avaliar os estoques apontados nas

demonstrações financeiras; acompanhar o processo de abertura de uma empresa (E&Y, 2012).

Os livros texto sobre auditoria, geralmente apresentam as atividades de auditoria dentro de

certas etapas, as quais são denominadas de etapa inicial, de execução e de conclusão da

auditoria. Conforme destaca Attie (2006), a etapa inicial compreende o dimensionamento dos

trabalhos da auditoria a partir das informações sobre a empresa e termina com a realização do

contrato dos serviços de auditoria. A etapa de execução é caracterizada pela realização de

várias outras atividades, as quais representam o planejamento do trabalho, o estudo e a

avaliação dos sistemas de controles internos, testes de procedimentos de controles internos,

seleção e programa de trabalho de auditoria e evidenciação dos exames efetuados. Por fim, na

etapa de conclusão, as atividades desenvolvidas representam a avaliação das evidências

obtidas e elaboração do relatório de auditoria (Attie, 2006).

No âmbito internacional, um sistema de informação sobre atividades ocupacionais

denominado de O*NET resource center, ligado ao departamento de trabalho dos Estados

Unidos, disponibiliza informações sobre centenas de ocupações profissionais, dentre essas a

auditoria é compreendida pelas seguintes atividades:

• coleta e análise dos dados para detectar controles deficientes, esforço duplicado, extravagância, fraude ou não cumprimento com as leis, regulamentos e políticas gerenciais. • preparar relatório detalhado sobre os achados da auditoria. • supervisionar as normas de auditoria estabelecidas e determinar o escopo da investigação requerida. • Relatar à administração os resultados da auditoria sobre a utilização dos ativos e recomendar mudanças nas atividades operacionais e financeiras. • Inspecionar os livros contábeis, os sistemas da contabilidade e o uso dos procedimentos contábeis aceitos para registro das transações. • examinar os registros e entrevistar os trabalhadores para assegurar o registro das transações e cumprir com as leis e regulações. • examinar e avaliar o sistema de informação e financeiro, recomendando controles para garantir a confiabilidade do sistema e a integridade dos dados. • revisar os dados sobre os ativos, patrimônio líquido, obrigações, capital social, sobras, receitas e despesas. • conferir com representantes da empresa sobre questões regulatórias e financeiras. • examinar se os objetivos da organização estão refletidos em suas atividades administrativas e se os empregados entendem os objetivos (O*NET, 2012).

Em síntese, todas as atividades demandas no desenvolvimento do trabalho de auditoria visam

oferecer credibilidade às demonstrações financeiras das empresas auditadas, para que seus

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usuários, como acionistas, agentes do mercado de capitais, financiadores, administradores etc.

possam tomar suas decisões com mais confiança.

2.2.2 Requisitos Legais para Atuação como Auditor no Brasil

No Brasil como em qualquer outro país que tenha um mercado de capitais desenvolvido, são

estabelecidos vários requisitos para o desempenho da atividade de auditoria. O objetivo deste

tópico é descrever essas exigências e com isso subsidiar o desenho experimental em relação à

ocupação de auditoria que será apresentada aos sujeitos da pesquisa.

2.2.2.1 Exame de Qualificação do Auditor

O desenvolvimento mundial do mercado financeiro e de capitais demandou um processo de

avaliação de qualificação do profissional auditor independente, uma vez que a certificação dos

informes contábeis passou a ser de grande importância para a sociedade usuária, a qual deixou

de ser somente local. Assim, as entidades envolvidas com o processo da auditoria passaram a

adotar formas de qualificação profissional que em geral representam a aplicação de exames,

comprovação de experiência (com supervisão) na área da auditoria independente e também

metas de educação continuada.

No Brasil, em função das necessidades de qualificação técnica do auditor independente

exigidas pela CVM, o BC e a SUSEP, a partir de 2004/2005 o CFC juntamente com o

IBRACON passaram a elaborar e aplicar o exame de qualificação técnica para os auditores

independentes. No início esse exame era aplicado duas vezes ao ano e atualmente é realizado

somente uma vez, geralmente no mês de junho o qual teve sua 13ª edição em 2013.

Além da aplicação do exame de qualificação técnica também foi criado pelo CFC o Cadastro

Nacional de Auditores Independentes (CNAI). Em maio de 2012 esse cadastro contava com

2350 profissionais registrados, assim, o CFC passou a ter informações sobre esses

profissionais contadores uma vez que o cadastro deve ser atualizado anualmente.

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2.2.2.2 Cadastro Nacional de Auditores Independentes (CNAI)

As resoluções 1019/05 e 1147/08do CFC estabelecem que o contador regularmente registrado

no CRC e aprovado no Exame de Qualificação Técnica terá seu registro automático no CNAI,

com exceção dos contadores que tinham seus registros na CVM até 10 de dezembro de 2003,

que mesmo não prestando o Exame de Qualificação tiveram seus registros automáticos no

CNAI. Uma exigência para que sejam mantidos ativos no cadastro é se submeter ao Programa

de Educação Profissional Continuada conforme os termos do CFC, os quais serão abordados

na sequência.

Um fato importante que merece destaque nesse contexto é o número de inscritos e de

aprovados nos exames de qualificação técnica realizados pelo CFC desde a sua primeira

edição. De acordo com dados divulgados pelo CFC (2012), o número de inscritos e aprovados

nesses exames foram os seguintes:

597

1687

1329

1056

690

1264 12651328

1270

455

857

544

272 224

400293

618

465

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Exame de Qualificação TécnicaInscritos Aprovados Linear (Aprovados )

Gráfico 1. Número de inscritos e aprovados no exame de qualificação técnica – CFC 2012

Como pode ser observado no Gráfico 1, nas primeiras edições do exame a quantidade de

aprovação foi significativamente maior comparativamente às ultimas, podendo-se inferir

como possíveis causas para essa diminuição uma maior exigência em relação aos conteúdos

do exame no decorrer das edições ou mesmo o despreparo dos candidatos. Por outro lado, se

for observado o número de inscritos para a realização do exame percebe-se uma diminuição

gradativa desde a sua primeira edição até 2008 e após esse período houve um equilíbrio no

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número de inscritos. Amorin (2012) analisa esse quadro como havendo um incremento no

número de inscritos e aprovados no CNAI, destacando que mesmo assim não é suficiente para

atender a demanda do mercado por profissionais auditores.

2.2.2.3 Educação Profissional Continuada (EPC)

Com o objetivo de manter, atualizar e expandir os conhecimentos técnicos necessários ao

exercício da auditoria nos relatórios contábeis, o CFC por meio da resolução 1146/08

estabeleceu critérios para a Educação Profissional Continuada dos profissionais contadores

devidamente registrados nos CRC´s, inscritos no CNAI e com extensão àqueles profissionais

com atuação e cadastro na CVM, SUSEP e no BACEN.

A referida norma estabelece que os contadores que se enquadram no contexto da EPC devem

atualmente cumprir 96 pontos por triênio-calendário, com o mínimo de 20 pontos em cada

ano do triênio, a partir do registro no CNAI.

Os profissionais atuantes em instituições financeiras conforme estabelece o Conselho

Monetário Nacional (CMN), devem possuir dentro da pontuação exigida de EPC o mínimo de

8 pontos anuais em atividades específicas relativas à auditoria de instituições financeiras.

Já os contadores atuantes no âmbito da SUSEP devem cumprir no mínimo 8 pontos anuais em

atividades específicas de auditoria em sociedades seguradoras, de capitalização e em

atividades abertas de previdência complementar. Todas as atividades exigidas em cada área

devem ser comprovadas por meio de um relatório de atividades que deve ser encaminhado ao

CRC até 31 de Janeiro do ano subsequente ao ano base.

2.2.2.4 Requisitos para Atuação no Mercado de Valores Mobiliários (CVM)

Para atuar no mercado de valores mobiliários, o contador auditor deve cumprir uma série de

exigências para ter seu registro na CVM, bem como para manter o registro/autorização, as

quais foram apresentadas resumidamente na sequência.

Existem duas possibilidades para o registro junto à CVM, uma é na categoria de Auditor

Independente Pessoa Física (AIPF) e outra é como Auditor Independente Pessoa Jurídica

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(AIPJ). Para o registro como AIPF o profissional deve estar registrado no CRC na categoria

de contador; ter atuado como auditor no território nacional por um período não inferior a 5

(cinco) anos, consecutivos ou não; estar exercendo auditoria em estrutura compatível com o

exercício da atividade; atualização permanente sobre o contexto das atividades dos clientes

bem como das práticas contábeis e operacionais e, por fim, ter sido aprovado em exame de

qualificação técnica. De acordo com essa instrução, a CVM remete sua aplicação ao CFC em

conjunto com o IBRACON ou ainda por instituição indicada pela CVM em moldes a serem

definidos.

Para o registro como AIPJ os profissionais devem possuir inscrição no Registro Civil das

Pessoas Jurídicas na forma de sociedade civil; todos os sócios devem ser contadores e que

pelo menos 50% deles sejam cadastrados como responsáveis técnicos junto à CVM; deve

constar no contrato social a responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios pelas obrigações

sociais; tantos os sócios como os responsáveis técnicos devem estar regularmente registrado

no CRC; como na pessoa física, todos os sócios e responsáveis técnicos devem comprovar o

exercício da auditoria no território nacional por um período não inferior a cinco anos,

consecutivos ou não e ainda devem ter sido aprovados no exame de qualificação técnica, por

fim, possuir um quadro de pessoal técnico adequado ao número e porte dos clientes e com

conhecimentos atualizados permanente sobre os ramos das atividades auditadas bem como

das práticas contábeis e operacionais.

Independente do tipo de registro, se AIPF ou AIPJ, há uma série de documentos que devem

ser apresentados para apreciação da CVM, os quais estão estipulados na referida instrução

mencionada anteriormente. Outros aspectos como prazo na análise e concessão, suspensão e

cancelamentos, hipóteses de impedimentos e incompatibilidade, deveres e responsabilidades

dos auditores e dos administradores das empresas auditadas, rotatividade dos auditores,

controle de qualidade etc., estão contidos nesta instrução da CVM.

2.2.2.5 Requisitos do auditor para o Banco Central do Brasil (BACEN)

A resolução nº 3.198/2004 do BACEN trata especificamente da auditoria independente para

instituições financeiras e outras autorizadas a funcionar por este órgão, bem como para as

câmaras e prestadores de serviços de compensação e de liquidação.

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Inicialmente para atuar como auditor independente nesse âmbito, conforme essa resolução, o

contador auditor deve estar registrado na CVM. Também, como opção de enquadramento

jurídico, o auditor pode atuar como pessoa física ou pessoa jurídica. O aspecto da

independência do auditor é destacado com bastante ênfase nessa resolução, em que após

enfatizar várias situações da perda de independência, menciona que se verificar qualquer outra

situação que possa afetar essa independência do auditor as partes envolvidas devem

providenciar a regularização, podendo implicar na substituição do auditor. O prazo máximo

que o auditor pode emitir pareceres é de cinco exercícios sociais completos, após esse período

o mesmo deve ser substituído, podendo ser recontratado três anos após sua substituição.

De forma idêntica à CVM, o BACEN reporta ao CFC e ao IBRACON a aplicação do Exame

de Qualificação ao qual denomina ”Exame de Certificação”, que é exigido dos auditores

independentes envolvidos em trabalhos de auditoria das instituições ligadas/subordinadas às

regras do BACEN. Por outro lado, nessa mesma resolução, o BACEN é autorizado a admitir a

realização de exames de certificação por tipo de mercado ou conjunto de atividades.

Outra resolução do BACEN, a de nº 3771/09, altera alguns requisitos para atuar como auditor

independente, definindo que para a manutenção da certificação o profissional auditor

independente deve ser aprovado em novo exame de certificação em período não superior a

três anos da última aprovação ou estar no exercício da auditoria nas instituições ligadas ao

BC, bem como participar dos programas de educação profissional continuada.

Essa educação continuada difere um pouco dos requisitos estabelecidos pelo CFC e

IBRACON, uma vez que é definida uma quantidade mínima de 120 horas a cada três anos,

com observância de no mínimo 20 horas por ano. Em se tratando de auditores que não

exerceram a atividade de auditoria de forma contínua, as regras estabelecidas nessa resolução

são outras.

2.3 Considerações Finais sobre a Revisão Teórica

A função da revisão literária aqui apresentada foi mostrar os pressupostos teóricos observados

para o desenvolvimento desta pesquisa. Entre as teorias motivacionais existentes, a teoria da

expectativa foi escolhida como aquela que poderia melhor retratar os objetivos aqui

propostos. Essa teoria apresenta dois modelos teóricos e o modelo de preferência foi o

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escolhido para subsidiar o desenvolvimento da pesquisa. Foram levantados também os

antecedentes das pesquisas sobre preferência ocupacional onde se observou que os resultados

dessas investigações apontam para várias direções e geralmente são pesquisas que se utilizam

da estratégia de levantamento “survey”. Essa estratégia de pesquisa também foi percebida nas

investigações sobre gerações e apresentada no tópico 2.1.2, evidenciando que apesar das

alegações sobre diferenças entre as gerações, os resultados das pesquisas apontam que as

preferências pelos atributos de trabalho, especificamente em relação às recompensas

extrínsecas não são tão divergentes. Por fim, também foram abordados os requisitos legais

para a entrada na profissão de auditoria mostrando os possíveis campos de atuação. O

próximo capítulo é destinado a apresentar a metodologia utilizada nessa pesquisa.

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3. METODOLOGIA

3.1 Desenho da Pesquisa

A estratégia inicialmente definida para alcançar os propósitos desse estudo foi o desenho

experimental, por entender que este poderia apresentar as relações ou explicações do

fenômeno estudado. No entanto, na fase inicial do levantamento dos dados foi constatada a

impossibilidade da distribuição aleatória dos participantes aos grupos (experimental e

controle) da pesquisa em função de diversos fatores instrumentais e estruturais. Isso fez com

que a pesquisa fosse caracterizada como um desenho quase-experimental, que de acordo com

Campbell e Stanley (1963) e Gall, Gall e Borg (2003), o fator determinante que diferencia um

desenho experimental de um quase-experimental é a falta dessa distribuição aleatória, sendo

que geralmente em pesquisas de campo essa aleatoriedade não é possível.

De acordo com Wheeler e Murthy (2011, p.166) “[...] experimentos são os que mais se

aproximam em estabelecer causalidade. Isto é verdade porque experimentos permitem aos

pesquisadores manipular diretamente as variáveis de interesse e assim ter maior controle

sobre a validade interna, [...].”20

O modelo de estudo quase-experimental é característico das pesquisas com enfoque

quantitativo. O trabalho de Coleman e Irving (1997), pode ser utilizado como exemplo de um

desenho de pesquisa na área de escolha organizacional, em que os grupos de participantes

(controle e experimental) receberam informações de fontes diferenciadas sobre previsões de

emprego e a manipulação se deu por meio da apresentação de informações somente positiva

ou somente negativa. O consequente efeito dessa manipulação foi que o grupo que recebeu

somente informações positivas apresentou diferenças significativas em relação ao grupo que

recebeu informações negativa, independente da fonte de informação, ou seja, de quem passou

as informações sobre a organização.

20 “[…]experiments come closest to establishing causality. This is true because experiments allow the researcher to directly manipulate the variables of interest and thus to have greater control over internal validity, […]”

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Considerando as hipóteses do presente trabalho, a variável utilizada para a manipulação

experimental foi de natureza extrínseca, mais especificamente conhecida como um atributo de

trabalho ou de uma atividade profissional, que é a remuneração, entendida no contexto dessa

pesquisa como sendo o montante de valor percebido/recebido pelas pessoas em troca de seus

serviços.

A escolha dessa variável para manipulação no experimento, conforme já destacado

anteriormente, está relacionada à sua importância quando da preferência por uma carreira

profissional pelos novos entrantes no mercado de trabalho. Dessa forma, com o estímulo da

remuneração em vários níveis, foi possível fazer as análises e inferências sobre a

preferência/atratividade da auditoria independente a partir da manipulação dessa variável.

No intuito de verificar uma possível relação entre a variável “remuneração” e a variável

“preferência pela atividade de auditoria”, o desenho quase-experimental simulou um contexto

de ofertas de empregos em três áreas/atividades profissionais no contexto da contabilidade aos

alunos sujeitos da pesquisa.

Em relação às pesquisas sobre preferência ocupacional no âmbito da contabilidade, não foram

encontrados na literatura nacional analisada estudos que utilizaram experimentos ou quase-

experimentos como estratégia de pesquisa. Por outro lado, no contexto internacional, ainda

que não seja especificamente sobre preferência ocupacional, a utilização dessa estratégia de

pesquisa na contabilidade é uma prática bastante utilizada. Um levantamento feito por Chan,

Landry, e Troy (2011), junto aos principais periódicos científicos de contabilidade,

constataram que entre o período de 1994 a 2007 foram publicados 369 artigos que

empregaram o método experimental, destacaram ainda que tem sido prática comum usar

estudantes como sujeitos em pesquisa comportamental e em contabilidade financeira. Essa

constatação indica que o desenvolvimento de experimentos no âmbito da contabilidade é

factível e incentivada, uma vez que esses principais periódicos estão publicando os resultados

dessas pesquisas.

Outro importante aspecto considerado como influente na definição do desenho quase-

experimental neste estudo, foi o resultado de uma pesquisa meta análise de Van Eerde e

Thierry (1996) com pesquisas publicadas sobre a utilização da teoria da expectativa entre os

anos de 1973 e 1993, em que sugerem o uso de desenhos experimentais como forma de poder

revelar mais sobre a validade dos construtos dessa teoria. Ainda que o objetivo desta

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investigação não seja validar os construtos da teoria, espera-se que a utilização dessa

estratégia possa, além de responder às inquietações desta pesquisa, acrescentar aspectos de

validade dos pressupostos da teoria, mais especificamente referente ao modelo de preferência.

3.2 – Sujeitos Participantes

Os sujeitos que participaram dessa pesquisa foram originários de duas fontes de dados. A

primeira, denominada de fonte principal, é representada pelos alunos vinculados às

instituições públicas de ensino superior no Brasil, os quais estavam na fase final do curso

quando da realização da pesquisa. A segunda fonte ou fonte secundária é representada pelos

alunos cadastrados na base de dados do Congresso USP de Iniciação Científica da

Universidade de São Paulo, os quais estavam vinculados às várias instituições de ensino

superior no país, representando tanto públicas como privadas e também estando em qualquer

fase do curso. O objetivo desse segundo levantamento foi proporcionar um efeito de

comparação com os dados principais.

A quantidade total de alunos que participaram da pesquisa foi de 411, os quais representaram

uma amostra não aleatória do universo pesquisado. A participação foi de forma voluntária,

dos quais 240 (25,1% da amostra) foram originários da fonte principal e 171 (12% da

amostra) representando a fonte secundária, conforme pode ser visualizado no Quadro 5.

Em relação ao levantamento principal, inicialmente o pesquisador fez contato com os

coordenadores das instituições que foram foco da pesquisa solicitando a possibilidade de

realizar a pesquisa com seus alunos. Após a concordância do coordenador e ajustes

operacionais, foi feito o levantamento dos dados. Um website foi desenvolvido para que o

quase-experimento pudesse ser aplicado, o qual foi acessado por meio de um link

encaminhado por email aos sujeitos participantes.

As instituições de ensino provedoras dos alunos da fonte principal para fazer parte dessa

investigação foram Universidades Públicas Estaduais e Federais, conforme Quadro 4. A

definição por essas instituições se deu a partir de contatos com representantes do

departamento de recursos humanos de três firmas de auditoria pertencentes ao grupo de

empresas denominadas BIG4, em que descreveram como fontes de recrutamento, várias

escolas e em diversos locais, mas que geralmente o foco principal são instituições públicas, ou

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seja, representam aquelas em que direcionam maior tempo e esforço em seu processo de

atração e seleção.

A definição do procedimento de focar nas instituições de ensino que são prováveis

fornecedoras de candidatos/estudantes às firmas de auditoria teve como principal propósito

evitar possíveis interferências nas respostas dos sujeitos em relação às expectativas e

valências de seguir uma carreira no campo da auditoria independente, ou seja, em

locais/instituições onde a demanda pelos serviços profissionais de auditoria é baixa ou

inexistente os estudantes poderiam entender como uma atividade distante da sua realidade,

podendo enviesar sua reação em relação à pesquisa.

A pesquisa focou os estudantes que estão em estágio final do curso (quarto ou quinto ano),

por considerar que neste estágio já possuem conhecimento suficiente das possibilidades de

atuação no contexto da área de Ciências Contábeis bem como da atividade/função de auditoria

independente e das demais áreas relacionadas na pesquisa. Também nesse estágio do curso,

geralmente os estudantes já definiram ou estão prestes a definir qual carreira seguir, o que

possibilitou verificar o peso que é dado à remuneração em relação à auditoria independente

como uma opção de carreira.

Na sequência, foi apresentado um mapa que identifica os locais de atuação das maiores firmas

de auditoria no Brasil denominadas de BIG4. A localização dessas firmas foi utilizada como

base para a definição das instituições de ensino superior (estadual/federal) alvo dessa

pesquisa.

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BIG 4

BIG 4

BIG 4

BIG 4

BIG 4

BIG 4

BIG 4

BIG 4

Deloitte;

E&Y e

KPMG

BIG 4

E&Y

KPMG

KPMG

BIG4: São as quatro maiores firmas de auditoria atuando no Brasil – (Deloitte; E&Y; KPMG e PwC)

ESTADOS DA FEDERAÇÃO QUE POSSUEM ESCRITÓRIOS DAS FIRMAS DE AUDITORIA

Figura 1. Estados da federação onde atuam as BIG4

Após verificação dos estados/municípios onde estão localizados os escritórios das BIG4, foi

possível identificar as instituições de ensino superior (federal e estadual) que também atuam

nas respectivas unidades da federação e municípios. No portal do Ministério de Educação e

Cultura (MEC) no endereço (http://emec.mec.gov.br/), foi possível levantar 17 (dezessete)

instituições de ensino superior que em princípio foram alvo desse estudo, conforme Quadro 4.

Após definido o foco da pesquisa foram feitos os contatos com os 17 coordenadores de cursos

dessas instituições de ensino, solicitando a possibilidade de realização da mesma. Em

princípio, todos apresentaram concordância com a aplicação da pesquisa, no entanto, por

problemas instrumentais e operacionais foi constatado que não seria possível efetuar o

levantamento da maneira planejada em algumas dessas instituições. Com isso, foi feito um

redirecionamento das instituições permanecendo como foco as localizadas nas regiões sul,

sudeste e centro-oeste, contudo as outras regiões não foram tiradas da amostra e sendo

possível a aplicação do instrumento de pesquisa seria incluído na análise, o que foi feito. O

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72

principal motivo de focar a pesquisa nessas três regiões está relacionado à predominância

(87%) de atuação das empresas de auditoria no Brasil e em função da própria dinâmica

econômica (economia mais ativa) necessitando dos serviços de auditoria (Amorin, 2012).

ESTADOS/ INSTITUIÇÕES ESTADOS/ INSTITUIÇÕES

AMAZÔNAS -AM Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Paraná - PR Universidade Federal do Paraná - UFPR

Bahia - BA Universidade do Estado da Bahia - UNEB Universidade Federal da Bahia - UFBA

Pernambuco - PE Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Brasília-DF Universidade de Brasília - UnB

Rio de Janeiro - RJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

CEARÁ - CE Universidade Federal do Ceará - UFC Universidade Estadual do Ceará - UECE

Rio Grande do Sul - RS Universidade Federal do Rio grande do Sul - UFRGS

GOIÁS - GO Universidade Federal de Goiás - UFG

Santa Catarina - SC Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Minas Gerais - MG Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Universidade Federal de Uberlândia - UFU

São Paulo - SP Universidade de São Paulo - USP (São Paulo) Universidade de São Paulo - USP (Ribeirão Preto)

Relação dos Estados/Instituições de Ensino foco da pesquisa

Quadro 4: Relação dos Estados/Instituições de Ensino foco da pesquisa

Problemas institucionais e operacionais também impossibilitaram a aplicação da pesquisa em

algumas das instituições integrantes das regiões sul, sudeste e centro-oeste (alvo

redirecionado), contudo, foi possível levantar os dados na maioria delas, conforme pode ser

obervado no Quadro 5.

Quadro 5. Quantidade de alunos participantes da pesquisa por instituição de ensino.

ESTADOS/ INSTITUIÇÕES Qtde Alunos Qtde Respostas % Resp

Bahia - BA

Universidade do Estado da Bahia - UNEB 59 9 15,25%

GOIÁS - GO

Universidade Federal de Goiás - UFG 92 22 23,91%

Minas Gerais - MG Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG 79 15 18,99%

Universidade Federal de Uberlândia - UFU 92 25 27,17%

Paraná - PR

Universidade Federal do Paraná - UFPR 89 16 17,98%

Rio Grande do Sul - RS

Universidade Federal do Rio grande do Sul - UFRGS 188 71 37,77%

Santa Catarina - SC

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC 78 27 34,62%

São Paulo - SP Universidade de São Paulo - FEARP 117 33 28,21%

Universidade de São Paulo - USP 162 22 13,58%

SOMA 956 240 25,10%

Relação dos Estados/Instituições de Ensino foco da pesquisa

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73

Em relação ao levantamento secundário, após a solicitação ao coordenador do Congresso USP

à época e sua respectiva concordância, o link da pesquisa foi encaminhado aos alunos

cadastrados na base de dados do Congresso, os quais ainda estavam cursando contabilidade

em suas respectivas instituições de ensino. O número de alunos cadastrados no congresso era

de 1.427, dos quais 171 (12% dos cadastrados) participaram da pesquisa.

3.3 Escalas de Valência e de Instrumentalidade das Atividades Profissionais

Os atributos de trabalho utilizados nesta pesquisa para obter a escala de valência dos

participantes, foram selecionados com base naqueles já utilizados em pesquisas anteriores

sobre preferência ocupacional, bem como pesquisas que testaram o modelo de preferência de

Vroom (Wheeler & Mahoney, 1981; Brooks & Betz, 1990a; Bonitz, Larson, & Armstrong,

2010 e Aiman-smith, Bauer, & Cable, 2001). Dessa forma, foram selecionados oito possíveis

atributos que poderiam estar relacionados com as três atividades profissionais utilizadas na

pesquisa, no intuito de obter as valências dos participantes para cada atributo.

Os atributos de trabalho selecionados e apresentados aos alunos foram os seguintes: 1.Ter a

oportunidade de desenvolver várias funções e atividades no trabalho; 2. Ter estabilidade e

segurança no trabalho; 3. Conseguir Alta Remuneração; 4. Status Social e Profissional; 5.

Oportunidade de Avanço na Carreira Profissional; 6. Necessidade de fazer várias viagens em

função do trabalho; 7. Necessidade de fazer horas extras; 8. Necessidade de realizar cursos e

treinamentos.

Para cada um dos atributos de trabalho, foi elaborado e apresentado aos participantes uma

escala de importância ou valência de segunda ordem, variando de 0 (nenhuma importância) à

10 (muito importante). A manifestação dos participantes sobre essa escala representou a

valência ou grau de importância que cada um atribuiu a esses fatores. A questão sobre a

valência foi apresentada aos alunos da seguinte maneira: “Na sequência, está uma lista de

possíveis resultados que podem ser alcançados em Seu futuro trabalho ou carreira. Classifique

os resultados de acordo com o grau de importância ou o quanto eles são desejáveis para

você.”, conforme utilizado em Brooks e Betz, (1990).

Após os participantes terem se manifestado sobre as valências dos atributos de trabalho,

foram apresentadas as questões sobre a instrumentalidade de cada uma das atividades

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profissionais definidas para essa pesquisa, para que os mesmos também pudessem apresentar

suas percepções em relação ao vínculo das atividades aos atributos de trabalho. A questão

sobre instrumentalidade foi apresentada numa escala de probabilidade variando de 0% (nada

provável) a 100% (muito provável), da seguinte forma: “Considerando os possíveis resultados

de um futuro trabalho destacados na questão anterior, em sua opinião, qual é a probabilidade

de Você encontrar o máximo de resultados desejáveis, aceitando uma vaga de trabalho (em

grandes empresas) para ser um: Analista Financeiro, Auditor e Consultor”.

Obtendo as respostas sobre a valência de segunda ordem e as respectivas instrumentalidades

em relação a essas valências, foi possível calcular a escala de valência/preferência de cada

uma das atividades profissionais bem como para cada um dos participantes, conforme

preconiza a teoria da expectativa de Vroom. Com isso, foi possível fazer as análises e

associações necessárias para alcançar os objetivos aqui propostos.

3.4 Opções Ocupacionais

A tarefa designada aos sujeitos participantes da pesquisa foi a decisão de escolher uma oferta

de emprego em relação às três opções de atividades ocupacionais disponíveis. As respectivas

atividades ocupacionais envolvidas na pesquisa foram definidas basicamente em função da

disponibilidade de informações sobre cada uma das áreas bem como da preferência do

pesquisador, destacando que poderia(m) ser definida(s) outra(s) atividade(s) no contexto da

contabilidade.

Entre as várias opções ocupacionais que um aluno do curso de Ciências Contábeis pode

escolher como carreira profissional uma delas é a auditoria. Essa área ainda pode ser

subdividida em alguns seguimentos como, por exemplo, auditor interno vinculado a uma

média ou grande empresa, auditor independente ou externo vinculado à média ou grande

firma (empresa) de auditoria e auditor externo empresário (dono do próprio escritório de

auditoria). Vale destacar que a resolução nº 1.203/09 do CFC (2012) normatizou os objetivos

gerais do auditor independente no contexto da convergência das normas brasileiras de

contabilidade aos padrões internacionais.

Como o foco da pesquisa não está relacionado à característica da empresa e sim da atividade

de auditoria independente, foi definida para utilização na pesquisa a atividade de auditoria

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independente vinculada às grandes empresas. Por outro lado, no intuito de captar a preferência

pela auditoria independente foi necessário utilizar-se de outras atividades profissionais que

servirão como opções de escolha conforme os pressupostos do modelo de preferência da

teoria da expectativa, onde em situações de escolha o sujeito irá optar por aquela alternativa

com maior valência positiva ou menor valência negativa. As outras atividades definidas no

desenho da pesquisa foram: consultor contábil e analista financeiro. A escolha dessas áreas

para utilização no experimento é justificada em função de serem atividades distintas no

contexto da contabilidade, com isso espera-se que a manipulação experimental não seja

influenciada por percepções de atividades semelhantes, como seria o caso da auditoria interna.

Cada opção ocupacional teve um conjunto de informações essenciais do contexto de cada

atividade, sendo apresentadas aos participantes na forma de anúncio/oferta de emprego. Com

isso, as informações contidas nos folhetos de emprego para cada opção teve basicamente as

mesmas características no intuito de evitar possíveis percepções do efeito manipulação pelos

sujeitos respondentes.

As opções ocupacionais disponibilizadas no experimento compreenderam as seguintes:

Opção O1 = oferta de vaga para auditor independente/externo.

Opção O2 = oferta de vaga para consultor contábil.

Opção O3 = oferta de vaga para analista financeiro.

Para cada uma das atividades profissionais estipuladas no estudo, foi feito um

anúncio/panfleto com a oferta de emprego, representando vagas de trabalho, ou seja, vaga

para auditor independente, para consultor contábil e para analista financeiro. As vagas foram

ofertadas aos alunos por grandes empresas que prestam os respectivos serviços.

A tarefa dos alunos, após a análise de cada uma das ofertas, foi efetuar a escolha daquela que

lhe é mais atrativa como uma opção ocupacional ou aquela que melhor preencha suas

expectativas em relação a uma atividade profissional. A diferenciação das informações entre o

grupo de controle e o experimental foi a inclusão da variável remuneração para o grupo

experimental, apresentando três níveis de remuneração (baixo, médio e alto).

Constaram nos panfletos algumas informações sobre a vaga ofertada, as quais foram

levantadas junto à literatura pesquisada e também por meio dos endereços eletrônicos de

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organizações que desenvolvem atividades em cada uma das áreas. Especificamente no caso da

atividade de auditoria independente as informações também vieram de pessoas responsáveis

pelo setor de recursos humanos das empresas de auditoria denominadas BIG4 e também

daquelas disponíveis em seus endereços eletrônicos.

3.5 Remuneração como uma Variável de Estudo

Conforme demonstrado no tópico 2.2 da revisão teórica, a variável remuneração geralmente

não se configura como a variável mais influente ou principal no contexto de trabalho, seja na

atração, na retenção ou no desempenho. Por outro lado, sua presença geralmente é percebida

nesses estudos e mesmo não aparecendo como a principal ela apresenta seu grau de

importância (Finn & Donovan, 2013; Rendell & Brown, 2011; Tang, Tillery, Lazarevski, &

Luna-Arocas, 2004).

Rynes; Gerhart e Minette (2004), afirmam que a maioria dos profissionais de recursos

humanos parece acreditar que os empregados superestimam a importância do pagamento

quando solicitado para se manifestar em pesquisas de levantamentos “surveys” sobre esse

tema. No entanto, os autores discutem e apresentam resultados de pesquisa que evidenciam o

contrário, que o pagamento pode ser um importante motivador geral, havendo uma

discrepância entre o que as pessoas dizem e o que fazem em relação à importância do

pagamento como um motivador.

No geral, a pesquisa de Rynes; Gerhart e Minette (2004), discute os achados dos estudos

mostrando que empregados tendem a dizer que pagamento é menos importante para eles do

que realmente é, quando questionados diretamente sobre essa importância. Os autores

concluem que dinheiro não é o único e nem o principal motivador para todas as pessoas, mas

existem evidências de que o dinheiro é um importante motivador para a maioria das pessoas.

Destacam ainda que as pesquisas de levantamento solicitando aos participantes para ranquear

o dinheiro e outros atributos de trabalho não refletem adequadamente a importância do

dinheiro como um motivador, tanto para se vincular a uma organização como para deixá-la.

Seguindo essa linha de pensamento sobre a importância do pagamento ou remuneração como

um fator de atração em configurações de trabalho, bem como se esse fator seria uma

importante variável de pesquisa que pudesse explicar ou mesmo ter influência na preferência

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pela atividade de auditoria, foi realizado um levantamento com os alunos do curso de ciências

contábeis da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade

de São Paulo, que estavam à época cursando a disciplina de Auditoria. Esse levantamento foi

realizado com 73 alunos participantes que tiveram suas respostas validadas aos propósitos da

pesquisa, sendo que 33 desses alunos estavam cursando no período matutino e 40 cursavam

no período noturno.

As questões apresentadas aos alunos tiveram duas vertentes, a primeira foi direcionada aos

possíveis motivos para tornar-se um auditor independente e a segunda aos possíveis motivos

para NÃO tornar-se um auditor independente. Cada uma das vertentes tiveram quatro

possíveis atributos de trabalho e uma opção em aberto para que o sujeito pudesse se

manifestar caso não tenha se identificado com as opções anteriores. As questões foram as

seguintes:

Por que Você consideraria tornar-se um Auditor Independente? [ ] Rápida Ascensão Profissional (Carreira) [ ] Curva de Crescimento da Remuneração [ ] Aprendizagem de Modelos de Negócios [ ] Status Social e Profissional [ ] Outra Razão: ____________________

Porque Você NÃO consideraria tornar-se um Auditor Independente? [ ] Excesso de Viagens [ ] Excesso de Horas Extras [ ] Remuneração Inicial Baixa [ ] Trabalho dentro de uma empresa [ ] Outra Razão: _______________

Após a compilação das respostas foram obtidos os seguintes resultados:

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Gráfico 2. Motivos para tornar-se um Auditor Independente

Gráfico 3. Motivos para NÃO tornar-se um Auditor Independente

Em relação à primeira vertente sobre os prossíveis motivos para tornar-se um auditor

independente, observa-se no Gráfico 2, que a grande maioria (60%) escolheu o fator

“Aprendizagem de Modelos de Negócio”, seguida pelo fator “rápida ascensão profissional”

(21%). Observa-se também que o fator “curva de crescimento da remuneração” foi percebida

por apenas 12% dos respondentes como um fator motivador para se vincular à atividade de

auditoria.

Em relação à segunda vertente sobre os possíveis motivos para NÃO tornar-se um auditor

idenpentende, o fator preponderante foi “excesso de horas extras” percebido por 36% dos

respondentes como um fator desfavorável a um possível vínculo com a atividade. Na

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sequência, com 34% aparce o fator “remuneração inicial baixa”, também percebida como um

fator desfavorável a um possível vínculo.

Os resultados que emergiram desse levantamento, deixou explicito que a percepção dos

alunos em relação à remuneração inicial pode ser um fator influente na preferência pela

atividade de auditoria, demonstrando assim que essa variável mereceu ser investigada no

contexto de preferência ocupacional.

3.6 Opções de Remuneração

A proposta dessa investigação foi verificar em que medida a variável remuneração poderia

influenciar na preferência pela atividade de auditoria independente como uma opção de

carreira profissional junto aos alunos de Ciências Contábeis, os quais são os possíveis

candidatos dessa atividade profissional. Portanto, a remuneração é compreendida como a

variável de interesse na manipulação experimental, sendo esta apresentada aos sujeitos da

pesquisa de maneira a captar seu nível de influência na preferência pela atividade de auditoria.

Já destacado na revisão teórica, o termo preferência (modelo de valência) não tem o mesmo

significado de escolha (modelo de esforço) no contexto da teoria da expectativa. A própria

teoria da expectativa e outros trabalhos que se utilizaram dela, mostram que às vezes as

pessoas tem preferência por uma determinada atividade, mas escolhem outras que resultam

em maior valência positiva ou ainda menor valência negativa (Vroom, 1964; Rynes, 1989).

Ainda que o termo preferência e escolha possam ter significados diferentes no âmbito da

teoria da expectativa, o pressuposto no contexto dessa pesquisa é que as pessoas irão decidir

pela atividade profissional que lhe for mais atrativa, aquela que realmente fornecerá a maior

valência em relação aos atributos vinculados à ocupação bem como em termos de recompensa

extrínseca (remuneração), representando assim uma situação que se aproxima do real numa

possível escolha profissional.

Sendo a remuneração uma possível variável que pode influenciar na preferência pela

atividade de auditoria, o desenho desta pesquisa está direcionado para buscar o entendimento

dessa possível relação. Para tanto, no intuito de captar essa influência uma das definições

operacionais estabelecidas foi a utilização da remuneração mensal, ou seja, a remuneração

que a pessoa receberá durante o mês de trabalho pelos serviços prestados.

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A escolha da remuneração mensal para manipulação no experimento se deu em função do

entendimento de que esta poderia captar as expectativas envolvidas na preferência de uma

atividade profissional por parte dos alunos. Esse entendimento está baseado em recentes

conversas informais com alunos da Universidade de São Paulo que poderiam ser prováveis

participantes dessa pesquisa, sobre fatores que são considerados quando da escolha de uma

vaga de trabalho, em que os aspectos relatados sempre comparavam a remuneração mensal

das atividades em discussão e nunca em termos de remuneração anual ou mesmo a vitalícia

(compreendida como a remuneração global de todos os períodos de vida útil de trabalho).

Assim, acredita-se que a utilização da remuneração mensal é a que melhor retrata o estímulo

para decisão da escolha ocupacional dos sujeitos participantes dessa pesquisa.

Outro importante aspecto estabelecido sobre remuneração se refere à fonte utilizada como

referência dos valores. O objetivo de utilizar uma fonte como referência é justificado como

uma maneira de manter esses valores o mais próximo da realidade. No entanto, por ser uma

variável de manipulação, esta poderia partir de uma base qualquer de maneira que após seu

tratamento na pesquisa, fosse possível obter o preço de referência dos sujeitos da pesquisa.

Considerando que não foi identificado nenhum órgão ou entidade oficial que pudesse

disponibilizar os dados estatísticos sobre remuneração das profissões no Brasil,

especificamente daquelas que são objetos desta pesquisa, decidiu-se por utilizar as

informações disponibilizadas por uma firma especializada em recrutamento denominada

Robert Half Company (2013). Essa organização edita e divulga anualmente um guia salarial

de várias áreas ocupacionais, sendo uma delas a área de contabilidade e finanças.

As informações sobre remuneração disponibilizadas por essa instituição se referem a

levantamentos efetuados juntos aos profissionais, permitindo assim identificar os valores

médios recebidos durante cada etapa na carreira, principalmente os valores recebidos no inicio

da atividade profissional (remuneração inicial). Essa empresa de recrutamento, por ter sua

atuação em vários países, disponibiliza informações salariais para cada um dos países em que

opera suas atividades, inclusive o Brasil. Com base nas informações divulgadas por essa

empresa foi elaborado o Quadro 6, demonstrando os valores salariais médios no Brasil para

cada uma das atividades profissionais ligadas a esta pesquisa e seus respectivos tempo de

trabalho. Esses valores representam os salários praticados por grandes empresas que atuam

em cada um dos ramos de atividades.

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Tempo Auditor Analista Financeiro Consultor Contábil 0 a 2 anos R$3.500, - R$6.000, R$2.500, - R$4.000, R$2.500 - R$4.500, 03 a 05 anos R$4.000, - R$7.000, R$3.500, - R$6.500, R$3.500, - R$7.500, 03 a 05 anos R$5.500, - R$9.000, R$3.500, - R$6.500, R$4.000, - R$9.000,

Quadro 6. Faixas salariais praticadas no Brasil, conforme Robert Half Recrutamentos

Com o propósito de enfatizar ou reforçar a utilização de valores mensais na manipulação

experimental, destaca-se que a referida empresa de recrutamento quando da divulgação desse

mesmo guia salarial para o mercado norte americano, apresenta os valores de cada atividade

em uma base anual, ou seja, diferente do Brasil em que a base é mensal. Daí a opção de

trabalhar com valores mensais, o que sugere representar melhor a percepção do brasileiro

(sujeitos da pesquisa) em relação ao salário para uma possível decisão ocupacional. Essa

ênfase é subsidiada no fato de que a mesma empresa que disponibiliza o guia salarial

apresenta em bases diferentes os salários de cada país, evidenciando que o costume e a cultura

no Brasil é perceber o salário em termos mensais.

Assim, as opções iniciais de remuneração que foram disponibilizadas no experimento estavam

vinculadas às suas respectivas áreas de atividade numa base mensal, conforme demonstrada

no Quadro 7.

Atividade/Tempo 0 a 2 anos Auditor - Assurance Services $3.500, - $6.000,

Consultor Contábil - Account Manager $2.500, - $4.500,

Analista Financeiro -Finance Analyst $2.500, - $4.000, Quadro7. Salários médios praticados pelo mercado brasileiro e utilizados na pesquisa.

Com base nos valores apresentados no quadro 6, foi possível estipular os valores acima e

abaixo da média do mercado, tendo como referência o salário médio de entrada (0 anos). A

metodologia aplicada nesse cálculo utilizou como base o salário de entrada como o valor

médio e para o cálculo do salário acima da média e abaixo da média, foi aplicada a mesma

proporcionalidade verificada na média dos valores iniciais (0 anos) e finais (2 anos).

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Os valores apurados e utilizados na manipulação experimental foram os seguintes:

Atividade/Tempo Abaixo da Média (Baixo) Média Acima da

Média (alto) Auditor (Assurance Services)

$2.580, $3.500, $4.750,

Consultor Contábil (Account Manager)

$1.790, $2.500, $3.500,

Analista Financeiro (Finance Analyst)

$1.920, $2.500, $3.250,

Quadro 8: Salários utilizados na manipulação experimental.

3.7 Protocolo da Pesquisa

O presente estudo foi caracterizado como um desenho quase-experimental contendo um grupo

de controle e um grupo experimental, com aplicação de pré-teste e pós-teste, denominado por

Gall, Gall e Borg (2003, p.402) como um desenho com grupo de controle não equivalentes.

Nesse tipo de desenho de pesquisa “[...] o objetivo é manter as experiências do grupo de

controle e do grupo experimental tão idênticas quanto possível, exceto que o grupo

experimental seja exposto ao tratamento experimental. [...]. Então, a mudança no pós-teste do

grupo experimental, além da mudança que ocorre no grupo de controle, pode ser seguramente

atribuída ao tratamento experimental” 21 (Gall, Gall, & Borg, 2003, p.374).

O que se pretende observar no grupo experimental sobre o grupo de controle é a variação ou

mudança da preferência pela atividade de auditoria independente a partir da manipulação do

fator remuneração, ou seja, verificar se a informação sobre remuneração influencia na decisão

da escolha ocupacional. Para tanto, foi solicitado aos sujeitos da pesquisa imaginar que estão

procurando um trabalho e sua tarefa é escolher, entre as ofertas de trabalho, aquela

considerada mais atrativa, aquela que poderá trazer mais atributos desejáveis de trabalho.

Todas as vagas ofertadas estão relacionadas ao contexto da contabilidade conforme já exposto

no tópico 3.4.

Os sujeitos da pesquisa foram aleatoriamente distribuídos (por ordem de acesso) ao grupo de

controle e ao grupo experimental, sendo metade para cada um dos grupos. Destaca-se também

21 “[...] the goal is to keep the experiences of the experimental and control groups as identical as possible, except that the experimental group is exposed to the experimental treatment. […]. Thus, the posttest change of the experimental group beyond the change that occurred in the control group can be safely attributed to the experimental treatment.”

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que esses indivíduos estavam na fase final do curso e já haviam cursado a disciplina de

auditoria, de maneira que todos os participantes já possuíam uma percepção prévia dessa

atividade. Contudo, no intuito de evitar vieses ou desequilíbrio nas decisões, em função de

uma possível falta de conhecimento das outras ocupações, foi apresentado um conjunto de

informações sobre cada uma das atividades, inclusive da auditoria independente, só após a

leitura dessas informações é que foram apresentadas as ofertas de trabalhos.

As pesquisas sobre o modelo de valência da teoria da expectativa, geralmente têm mensurado

a preferência ocupacional simplesmente perguntando aos sujeitos o quanto estão atraídos ou

interessados em uma determinada ocupação (Brooks & Betz, 1990; Bonitz et al., 2010;

Aiman-smith et al., 2001). Seguindo esta vertente da teoria, a escala de preferência em relação

à vaga escolhida foi obtida por meio de questionamento direto aos sujeitos participantes.

Inicialmente tanto o grupo de controle como o grupo experimental foram expostos às questões

sobre a valência de segunda ordem vinculada às atividades profissionais. Na sequência, foram

apresentadas as questões sobre a instrumentalidade (link entre cada uma das atividades com

os atributos desejáveis de trabalho) em que os participantes tiveram que apresentar, para cada

uma das atividades profissionais, o grau em que percebiam aquela atividade como

responsável por obter o máximo de resultados desejáveis entre os oito atributos apresentados.

Com as respostas sobre as valências de segunda ordem e as instrumentalidades para cada

atividade profissional, foi possível calcular a escala de preferência ou valência de primeira

ordem de cada um dos sujeitos participantes.

As vagas de trabalho ofertadas para cada uma das atividades foram apresentadas aos

participantes por meio de um panfleto contendo várias características da vaga, após a leitura

desses panfletos foi solicitado aos participantes para indicar se aceitariam aquela vaga que

estava sendo ofertada.

Q1: Você aceitaria essa vaga de trabalho?

As informações sobre cada uma das vagas/atividades ofertadas foram as mesmas tanto para o

grupo de controle como para o grupo experimental, a única exceção é que o grupo

experimental recebeu as ofertas das vagas com o valor da remuneração (nos três níveis –

baixa/média/alta) oferecida pelas empresas, já o grupo de controle não recebeu essa

informação.

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Figura 2 - Protocolo da Pesquisa

A primeira observação do desenho quase-experimental se refere à valência ou preferência

pelas atividades profissionais disponibilizadas em função das vagas de empregos. Com esse

percentual de preferência, obtido por meio da questão 1 (Q1), foi possível identificar os

sujeitos que já de imediato demonstraram interesse pela auditoria como uma possível

atividade profissional e também aqueles que demonstraram preferências pelas demais

atividades. Essa escala de valência demonstra a força da preferência pelas atividades, sendo

com isso possível fazer as relações sobre o efeito da informação de remuneração na decisão

ocupacional.

SEM Remuneração‘$’

Com Remuneração‘$’

Q1

Q1

ALUNOS

n

Grupo Controle

“n 1 ≥≥≥≥ xx”

Grupo Experimental

“n 1 ≥≥≥≥ xx”

Escala de Valência dos atributos de trabalho e das instrumentalidades das Atividades (AU /

AF /CO)

Aleatório

AU = Oferta de vaga para atividade de auditoria; AF = Oferta de vaga para atividade de analista financeiro; CO = Oferta de vaga para atividade de consultor; Q1 = Questões sobre valências de trabalho e instrumentalidade das atividades; OPO1; OPO2 = Primeira e segunda observação sobre Preferência Ocupacional.

OPO1

Escala de Valência dos atributos de trabalho e das instrumentalidades das Atividades (AU /

AF / CO)

Questão sobre atributos de trabalho e instrumentalidade das atividades

OPO2

Preferências Ancoradas AU AF CO

Preferências Ancoradas AU AF CO

PROTOCOLO DA PESQUISA

Grupos de Observação

Ofertas Vagas de Trabalho para:

AU / AF / CO

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Os procedimentos relacionados à segunda etapa do experimento corresponderam à segunda

observação experimental, que se refere ao percentual ou nível de preferência pela atividade de

auditoria. Assim, foi possível saber qual é a expectativa de remuneração ou o preço de

referência ancorado ao esforço de optar pela auditoria uma vez que essa não foi sua escolha

principal.

A manipulação experimental foi realizada por meio da apresentação dos valores de

remuneração para cada uma das vagas de trabalho ofertadas aos alunos pertencentes ao grupo

experimental. Assim, aqueles alunos que escolheram a auditoria já na primeira vez estavam

explicitando o seu preço de referência. No entanto, para aqueles que não escolheram a

auditoria foi dado sequência no experimento com novas ofertas de vagas.

As opções de remuneração foram apresentadas sequencialmente até o limite três

possibilidades. Se o aluno não escolheu nenhuma das três ofertas de trabalho, foi solicitada

sua manifestação sobre se existe um preço de referência para escolha da vaga ofertada. Por

fim, se mesmo assim o sujeito não apresentar o seu preço de referência, não tendo nenhum

interesse em se vincular à vaga ofertada, foi perguntado qual(is) o(s) motivo(s) para essa

decisão, possibilitando com essa informação fazer inferências sobre os aspectos da não

preferência pela atividade de auditoria.

Os materiais definidos para utilização na pesquisa foram basicamente panfletos/anúncios com

as ofertas de empregos contendo informações sobre as características das vagas bem como o

valor da remuneração quando direcionado ao grupo experimental. O panfleto também

apresentava a questão sobre o aceite ou não da vaga. Foi aplicado ainda um questionário

solicitando informações demográficas dos participantes, como idade, gênero, renda familiar,

nota no curso, etc.

3.8 Mensuração e Análise dos Dados

A pesquisa foi estruturada de tal maneira que os dados obtidos foram categorizados como

paramétricos e não paramétricos. Dessa forma, as mensurações e análises desses dados foram

feitas basicamente utilizando medidas descritivas e medidas de associação. Na sequência,

destacam-se alguns aspectos sobre essas medidas no intuito de melhor evidenciar a forma

utilizada nas análises e interpretações dos dados que são apresentadas no próximo capítulo.

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86

3.8.1 Medidas Descritivas

As medidas descritivas são basicamente divididas em medidas de posição central e medidas

de dispersão. As medidas descritivas: média, coeficiente de variação e quartis foram utilizadas

para sumarizar os dados coletados para facilitar a visualização de padrões. A média, uma

medida de posição, foi utilizada para sumarizar os dados coletados. A média foi utilizada para

descrever a maioria das variáveis analisadas, como idade, sexo, faixa de renda e desempenho

acadêmico.

As medidas de dispersão são importantes por darem informações sobre a variabilidade do

conjunto de observações. Para isso, foi utilizada a variância amostral, definida como:

Outra medida de variabilidade dos dados é o coeficiente de variação (CV), que representa o

desvio-padrão expresso como porcentagem da média. Sua principal qualidade é a capacidade

de comparação de distribuições diferentes (Bussab & Morettin, 2010).

Se CV(%) < 30%, então se pode dizer que a variabilidade dos dados é baixa, desta forma, a

média é uma ótima medida para representar os dados. Se 30% < CV(%) < 50%, pode-se

considerar que a média é uma boa medida e se CV > 50%, então não se recomenda a

utilização da média para representar os dados. Neste último caso pode-se considerar a

mediana ou a moda. O CV(%) foi calculado para determinar se a média representa

satisfatoriamente os dados (Magalhães & Lima, 2010).

Além disso, medidas separatrizes – como os quartis – foram calculadas. Medidas separatrizes

são valores que ocupam posições no conjunto de dados, em rol, dividindo-o em partes iguais.

Assim, os quartis dividem o banco de dados ordenado em quatro partes iguais: 1º. Quartil:

indica que 25% dos dados são valores menores ou iguais ao valor do primeiro quartil; 2º.

Quartil: indica que 50% dos dados dos dados são valores menores ou iguais ao valor do

segundo quartil, coincidindo com a mediana; 3º. Quartil: indica que 75% dos dados são

valores menores ou iguais ao valor do terceiro quartil.

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87

3.8.2 Medidas Associativas

Medidas de associação buscam explicar como se comporta uma variável em função do

desempenho de outras variáveis. Dados (xi, yi), i = 1, ..., n, n pares de observações das

variáveis e , que podem ser qualitativas ou quantitativas. Uma possível relação entre x e y

pode ser quantificada por uma medida de associação. Os pares representam a ocorrência

simultânea de x e y. A associação entre variáveis pode ser negativa ou positiva (sentido) e

fraca ou forte (intensidade ou força).

No caso de variáveis qualitativas é comum a utilização da estatística do χ2 (qui-quadrado) de

Pearson, para o cálculo das medidas de associação. Assim, baseadas na estatística qui-

quadrado de Pearson foram calculadas três medidas de associação com os dados da pesquisa,

dispostas na sequencia. A primeira delas é a medida de associação definida por Pearson como

coeficiente de contingência que tem interpretação análoga ao coeficiente de correlação e é

dada por:

)( 2

2

nC

+=

χχ

A segunda medida de associação foi a denominada V de Cramer que é calculada por:

( )1

2

−=

qnV

χ

em que q é o menor número entre linhas e colunas. Os valores da análise de associação

variam entre 0 e 1. V = 0 indica que não há associação entre as variáveis e V = 1 representa

uma associação perfeita entre as variáveis.

Uma terceira medida de associação denominada Coeficiente de Tschuprow foi calculada

como forma comparativa entre as medidas de associação. O Coeficiente de Tschuprow é dado

por:

( )( )11

2

−−=

mqnT

χ

,

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88

em que q é o número de colunas e m é o número de linhas. Semelhante ao coeficiente de

Cramer, o Coeficiente de Tschuprow varia entre 0 e 1, indicando ausência ou perfeita

associação entre as variáveis, respectivamente.

As medidas de associação calculadas a partir do qui-quadrado tiveram o propósito de testar

possíveis inconsistências entre os dados e também possibilitar maior confiabilidade nas

análises. Vale resaltar que os cálculos das medidas descritivas e de associação foram feitas no

software estatístico denominado R (Windows) e os testes não paramétricos de significância

foram realizado no software SPSS20.0 IBM.

3.9 Validades no Desenho da Pesquisa

Uma das preocupações centrais na pesquisa experimental ou quase-experimental é o

estabelecimento de determinados controles, de maneira que as mudanças observadas no pós-

teste sejam atribuídas exclusivamente ao tratamento experimental, ou seja, à manipulação

experimental. Apesar de não existir um controle absoluto sobre todas as possíveis variáveis ou

fatores que podem afetar o resultado da manipulação experimental, o que se busca é ter o

máximo controle, de maneira que os resultados possam refletir com segurança os efeitos da

manipulação. Conforme destacam Gall et al. (2003,p.367) “[...] controlando esses fatores, um

pesquisador fortalece o poder do experimento para demonstrar um relacionamento de causa e

efeito.”22

Os fatores que podem afetar ou ameaçar os resultados de uma pesquisa experimental são

tratados na literatura como validade interna e validade externa. Conforme Sampieri, Collado e

Lucio (2006, p.167) validade interna é o grau de confiança que se tem nos resultados da

pesquisa, ou seja, que os resultados possam ser interpretados adequadamente e sejam válidos

e isso é decorrente do controle experimental pelo pesquisador que por sua vez é obtido

quando se elimina as possíveis explicações contraditórias ou fontes de invalidação interna,

para tanto, o pesquisador deve buscar ter o controle dessas variáveis para que o efeito

observado seja atribuído apenas ao tratamento. A validade externa refere-se ao grau de

generalização dos resultados a outros indivíduos ou populações além daqueles estudados

(Sampieri et al., 2006; Gall et al., 2003).

22

“[...] controlling these factors, a researcher strengthens the Power of na experiment to demonstrate a cause-and-effect relationship.

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89

3.9.1 Validade Interna da Pesquisa

Como visto anteriormente, a validade interna do experimento é obtida pelo controle das

possíveis variáveis que podem ameaçar os resultados da manipulação experimental,

interferindo no efeito observado do tratamento. Conforme destacam Gall et al. (2003, p.368),

esse controle em pesquisas na área das ciências sociais e comportamentais é bastante

questionado, considerando que o foco da experimentação são os seres humanos. Por outro

lado, apesar dos questionamentos, o pesquisador deve sempre buscar ter o máximo de

controle sobre tais variáveis ameaçadoras de maneira que os resultados da pesquisa possam

ter validade interna.

Buscando a obtenção da validade interna, essa pesquisa considerou os 12 fatores descritos por

Gall et al. (2003, p. 368), como possíveis ameaças à essa validade, os quais são descritos

como História; Maturação; Testes; Instrumentação; Regressão Estatística; Seleção diferencial;

Mortalidade experimental; Interação Seleção-Maturação; Difusão do Tratamento

Experimental; Rivalidade compensatória pelo grupo de controle; Equalização compensatória

de tratamentos; e Desmoralização ressentida do grupo de controle.

O fator História pode afetar o resultado por meio de ocorrências alheias no desenvolvimento

da manipulação experimental as quais estão associadas às características dos sujeitos da

pesquisa como, por exemplo, sujeitos possuindo níveis diferenciados de conhecimento ou em

períodos escolares diferentes. Para controle dessa variável a amostra dos participantes deve

assegurar uma similaridade de características, conforme já relatado anteriormente, todos

devem estar na fase de final de curso, quarto ou quinto ano e já ter cursado a disciplina de

auditoria. Na busca dessa similaridade foram excluídos da amostra aqueles que já possuíam

vínculo com a atividade de auditoria.

Em relação ao fator Maturação que ocorre em consequência do tempo com possíveis

mudanças internas dos participantes, o controle esteve na aplicação da pesquisa em uma única

fase, em que o aluno recebeu o instrumento de pesquisa e de maneira voluntária respondeu de

pronto as questões, não havendo possibilidade de iniciar a pesquisa e terminar em um outro

momento. Com isso, espera-se a não existência de interferências físicas ou psicológicas em

função da duração da pesquisa.

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90

Os fatores referentes à Administração de Testes e Instrumentação referem-se àqueles

associados à aplicação dos pré e pós-testes. O fator teste poderá impactar nos resultados

quando o pré e o pós-teste são similares, podendo acarretar aprendizado nos sujeitos da

pesquisa, enviesando as observações. A instrumentação pode interferir nos resultados quando

os instrumentos de medição ou os estímulos são diferentes para cada um dos grupos e o

propósito final é a comparação dos grupos. Essa diferenciação no instrumento pode acarretar

o efeito instrumentação. No caso da presente pesquisa, a escala de medida para mensuração

dos dados foi a mesma durante as etapas do experimento, correspondendo a uma escala

probabilística e uma dicotômica. O possível efeito aprendizado foi controlado por meio da

aplicação das mesmas informações tanto para o grupo de controle quanto para o grupo

experimental.

O fator Regressão refere-se a uma tendência de os indivíduos apresentarem seus resultados

em direção à média em um segundo teste ou pós-teste, em função de possíveis fatores não

controlados no primeiro teste. Visando ter o controle sobre essa variável, a operacionalização

tanto do pré-teste quanto do pós-teste foi aplicada de forma sequencial, podendo evitar efeitos

externos não controláveis sobre as respectivas mensurações.

O fator Seleção pode afetar os resultados na medida em que os grupos não sejam

equivalentes, apresentando vieses de seleção. Conforme explicita Gall et al. (2003, p.371), a

melhor forma de diminuir o impacto desse fator nos resultados é a atribuição dos sujeitos aos

grupos de forma aleatória. Assim, o presente estudo controlou os efeitos desse fator por meio

da distribuição aleatória dos sujeitos aos respectivos grupos de controle e experimental.

A Mortalidade Experimental refere-se à perda de participantes durante o desenvolvimento

da pesquisa por vários motivos. Independente do motivo, a ameaça da validade em relação à

perda de participantes está no possível desequilíbrio que isso pode acarretar na formação dos

grupos que são comparados. Assim, na expectativa de minimizar as possíveis perdas de

participantes e o consequente desequilíbrio de grupos, foi adotada a seguinte estratégia:

primeiramente, a seleção da amostra dos participantes da pesquisa foi realizada de forma

aleatória em relação ao número total de alunos definidos como alvo da pesquisa. Após essa

seleção, os alunos foram distribuídos aleatoriamente para cada um dos grupos (controle e

experimento). Por fim, foi feita a coleta dos dados junto aos sujeitos em um único dia,

evitando assim a dispersão em função do fator tempo.

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O fator Interação entre seleção e maturação é considerado por Gall et al. (2003) similar ao

fator Seleção Diferencial descrito anteriormente. Essa similaridade está na possibilidade de

formação de grupos diferenciados por viés de seleção ou outros aspectos não observados

quando da formação dos grupos. Assim, para controle desse fator foi utilizada a mesma

estratégia apontada para o Fator Seleção Diferencial, que compreende a atribuição aleatória

aos grupos de controle e ao grupo experimental.

Difusão do Tratamento Experimental ocorre quando a condição de tratamento é percebida

como mais atrativa em relação à condição de controle. Isso pode ocorrer quando os

participantes estão bem próximos durante a aplicação do experimento. Na presente pesquisa

esse efeito parece não ser significativo uma vez que as decisões sobre as preferências

ocupacionais foram baseadas nas mesmas informações tanto para o grupo de controle como

para o experimental, com exceção da manipulação da remuneração ao grupo experimental.

Entende-se que a manipulação experimental não teve implicações a ponto de ser considerada

uma atividade mais atrativa.

Outros fatores relacionados por Gall et al. (2003) que pode afetar a validade interna da

pesquisa referem-se à Rivalidade Compensatória pelo Grupo de Controle, a Equalização

Compensatória de Tratamentos e Desmoralização Ressentida do Grupo de Controle.

Considerando que esses fatores em geral se referem a conflitos que podem ocorrer entre os

grupos de participantes no experimento, entende-se que esses fatores não tiveram influência

no presente estudo em função do próprio desenho da pesquisa não exigir nenhuma atividade

que poderia ocasionar competição ou conflitos entre os grupos.

Todos os fatores relacionados por Gall et al. (2003) e destacados aqui como possíveis fontes

de invalidação interna de uma pesquisa experimental, foram considerados na execução deste

estudo com o propósito de diminuir essas possíveis ameaças de maneira que seja plausível

apresentar um resultado que represente o verdadeiro efeito da manipulação.

3.9.2 Validade Externa da Pesquisa

Validade externa em pesquisas experimentais ou quase-experimentais representa o quanto os

resultados da pesquisa podem ser generalizados para além dos grupos experimentais.

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Entendida por Sampieri et al. (2006, p.211) como o “[...] grau de generalização dos resultados

de um experimento em situações não-experimentais e a outros indivíduos ou populações.” A

validade externa, assim como a validade interna, é ameaçada por fatores que podem diminuir

ou limitar o alcance dos achados da pesquisa. Assim, o desenho quase-experimental deve

tentar controlar esses possíveis fatores de forma que seus efeitos possam ser neutralizados ou

minimizados.

Brach e Glass (1968, apud GALL et al. 2003, p.375) identificaram possíveis fatores que

podem ameaçar a validade externa de uma pesquisa e classificam os mesmos em dois grupos

denominados de validade populacional e validade ecológica. A validade populacional se

refere à generalização dos resultados da amostra pesquisada para uma população maior. A

validade ecológica se refere à extensão em que o resultado pode ser generalizado a partir de

um conjunto de condições ambientais criadas pelo pesquisador para diferentes condições

ambientais.

Quanto à validade populacional, considerando que a amostra definida nesta pesquisa

compreende os alunos de determinadas instituições de ensino estadual e federal e que estão na

fase final do curso, o máximo que se pode generalizar é para a específica população abrangida

no experimento, não sendo generalizados para todos os alunos que estão cursando Ciências

Contábeis no Brasil.

Ainda no contexto de validade populacional, Gall et al., (2003, p.375) destacam que a

extensão com que as variáveis pessoais interagem com os efeitos do tratamento também são

fatores que podem limitar a generalização. Essas variáveis pessoais podem se apresentar nas

mais diversas características e níveis como, por exemplo, gênero, nível de conhecimento e

ambição. Assim, a estratégia utilizada no intuito de controlar seus possíveis efeitos no

resultado da pesquisa foi a atribuição dos sujeitos aos grupos de forma aleatória.

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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

O presente capítulo é destinado à apresentação dos dados/informações obtidos junto aos

alunos do curso de Ciências Contábeis vinculados a algumas IES no Brasil por meio da

aplicação do instrumento de pesquisa pela web. Inicialmente são apresentados os dados

demográficos dos participantes e na sequência os procedimentos de testes não paramétricos

(análises associativas) com os dados principais da pesquisa. Em função da existência de duas

fontes de dados (alunos do congresso e alunos de IESs), foi dada ênfase aos dados da fonte

principal (alunos das IESs) e quando se julgou necessário, para efeitos de comparação, foram

apresentados os dados dos alunos do congresso (fonte secundária).

4.1 Dados Demográficos dos Participantes

A quantidade de participantes na pesquisa foi de 411 alunos, dos quais 171 estavam

vinculados à fonte secundária dos dados (a qual será denominada a partir daqui de “alunos

congresso”) e 240 estavam vinculados à fonte principal dos dados, que compreende as

universidades alvo do estudo (que será denominada partir daqui de “alunos universidades”). A

composição dos participantes (congresso e universidades) pode ser observada na Tabela 2.

Além disso, os alunos foram divididos entre grupo experimental (202) e grupo controle (209).

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Tabela 2 - Quantidade de participantes em cada grupo e suas respectivas fontes.

Fonte Controle Experimental Total Congresso 87 84 171 FEARP 17 16 33 UFG 11 11 22 UFMG 8 7 15 UFPR 8 8 16 UFRGS 35 36 71 UFSC 14 13 27 UFU 13 12 25 UNEB 5 4 9 USP 11 11 22 Total 209 202 411

Idade dos Participantes

Em relação à idade dos alunos participantes, percebe-se uma concentração alta entre 20 e 26

anos, condizente com a média de 25,4 anos, o coeficiente de variação de 21,17% torna a

medida apropriada. Além disso, foram verificados alguns valores mais altos de idade, porém

estas se encontram com baixa frequência. O Gráfico 4 apresenta a frequência da idade dos

alunos pertencentes às universidades.

Gráfico 4. Frequências das idades dos sujeitos participantes na pesquisa.

Os alunos congresso apresentaram uma situação semelhante em relação à idade dos alunos

universidades, onde há uma concentração alta de jovens, tanto que a média e o coeficiente de

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variação foram 24,98 e 26,07%, respectivamente. Houve também a incidência de pessoas com

maior idade, contudo representando uma pequena quantidade. Assim, os alunos participantes

da pesquisa são caracterizados em sua maioria por jovens pertencentes à geração Y, os quais

nasceram entre 1980 e 1994, conforme classificação apresentada na revisão teórica (Cordeiro,

2012; Hansen & Leuty, 2012; McCrindle, 2006).

Sexo

O Gráfico 4 mostra a classificação dos sujeitos da pesquisa em relação à variável sexo. Pode-

se observar uma diferença pequena entre a quantidade de participantes em relação ao seu

gênero, sendo em valores absolutos igual a 28, de um total de 134 (56%) mulheres e 106

(44%) homens, somando 240 estudantes universitários.

Gráfico 5: Sexo dos estudantes universitários pesquisados.

Essa classificação entre sexos, também se apresentou semelhante para os alunos congresso,

sendo que das 171 pessoas pesquisadas, 99 (58%) foram mulheres e 72 (42%) homens,

resultando numa diferença em termos absoluto de 17 alunos. Apesar da prevalência feminina

entre os participantes, a diferença entre gêneros mostrou-se relativamente baixa.

Renda Familiar

Uma das variáveis de interesse na pesquisa foi a renda familiar dos participantes, a qual

poderia influenciar significativamente na preferência pelas atividades profissionais em estudo,

em especial a de auditor. Com o objetivo de verificar a existência ou não dessa influência, foi

solicitado aos participantes que indicassem a renda familiar de acordo com as faixas de renda

dispostas na Tabela 3, a qual foi baseada em números de salários mínimos conforme

estabelecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e utilizada por

institutos de pesquisas como o Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE).

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Tabela 3 - Legenda das rendas e seus respectivos valores. Renda Valor Estrato Social ( ) Até R$ 1.356,00 E ( ) De R$ 1.356,00 a R$ 2.712,00 D ( ) De R$ 2.712,00 a R$ 6.780,00 C ( ) De R$ 6.780,00 a R$ 13.560,00 B ( ) Acima de 13.560,00 A

Obs. A composição da tabela baseia-se no valor do Salário Mínimo de R$ 678,00

O Gráfico 6 apresenta a variável renda familiar dos alunos universidades, conforme

classificação descrita na Tabela 3. Percebe-se que a maioria dos universitários (69%) possui

renda familiar média entre R$2.712,00 a R$13.560,00 pertencendo, portanto, às classes

sociais B e C, conforme classificação estabelecida anteriormente. Observa-se também que

tanto a menor quanto a maior renda possuem uma porcentagem baixa de pessoas.

Gráfico 6. Distribuição dos participantes provenientes das Universidades por renda familiar.

Os alunos participantes provenientes do congresso tiveram uma configuração de renda

relativamente diferenciada em relação aos alunos das universidades dentro das faixas B e C,

apresentando ambas as faixas 48,53% comparativamente aos 69% dos alunos universidades

nessas mesmas classes. O Gráfico 7 mostra essa concentração maior entre as classes C e D,

com 33,33% e 34,50% respectivamente.

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Gráfico 7. Distribuição dos participantes provenientes do Congresso por renda familiar.

4.2 Escalas de Valência e Instrumentalidade Ocupacional

Conforme preconiza a teoria das expectativas de Vroom (1964), o modelo de valência ou

preferência possui duas escalas (valência de segunda ordem e instrumentalidade) que quando

somadas ou multiplicadas se obtém os índices de preferência (valência de primeira ordem) por

determinada ocupação.

Conforme descrito no tópico sobre metodologia, a valência de segunda ordem foi obtida por

meio de questionamentos aos sujeitos da pesquisa sobre oito possíveis atributos de trabalho.

Os atributos foram os resultados esperados em um futuro trabalho profissional, medidos em

uma escala de importância de 0 a 10, conforme demonstrado na Tabela 4. A

instrumentalidade foi medida por meio de uma escala de 0% a 100% e sumarizou a opinião

dos participantes em relação à probabilidade de obter o máximo de resultados desejáveis

aceitando uma das vagas de analista financeiro, auditor ou consultor como oportunidade de

emprego no futuro profissional. Assim, foram utilizados os valores das escalas de cada

atributo, sumarizados em um índice único para cada profissão, como segue:

em que i = 1, 2, 3 indexa as profissões auditor, consultor e analista e Aj representa o atributo j.

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Os atributos de trabalhos apresentados aos participantes estão espelhados na Tabela 4 e foram

vinculados a cada uma das atividades profissionais (auditor, consultor e analista financeiro).

Tabela 4 - Legenda dos atributos de trabalho usados para medição de suas respectivas

valências. Sequência Atributos de Trabalho Atributo 1 Ter oportunidade de desempenhar várias funções e atividades no trabalho. Atributo 2 Ter estabilidade e segurança no trabalho. Atributo 3 Conseguir alta remuneração. Atributo 4 Status social e profissional. Atributo 5 Oportunidade de avanço na carreira profissional. Atributo 6 Necessidade de fazer várias viagens em função do trabalho. Atributo 7 Necessidade de fazer horas extras. Atributo 8 Necessidade de realizar cursos e treinamentos profissionais.

Fonte: Dados da Pesquisa São apresentados na Figura 3 os histogramas e as distribuições para o grau de importância dos

atributos de trabalho dos alunos universidades, enquanto que na Figura 4 são apresentados os

diagramas de caixa dessas mesmas distribuições.

Figura 3. Histogramas do grau de importância dos atributos de trabalho dos pesquisados nas Universidades.

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Figura 4. Diagramas de caixa (Box-Plot) do grau de importância dos atributos de trabalho dos alunos Universidades

Tabela 5 - Estatística resumo do grau de importância dos atributos respondidos pelos alunos universidades.

Atributo Média Mínimo 1º Quartil Mediana 3º Quartil Máximo 1 7,77 0 7 8 10 10 2 8,74 2 8 9,5 10 10 3 8,46 2 8 9 10 10 4 6,92 0 6 7 8 10 5 8,85 0 8 9 10 10 6 4,28 0 2 5 6 10 7 3,82 0 2 4 5 10 8 7,79 0 7 8 9 10

Observa-se pela Tabela 5 e nas Figuras 3 e 4 que os atributos 1, 2, 3, 4, 5 e 8 tiveram

concentrações de avaliações altas, com destaque para o segundo, terceiro e quinto atributos,

cujas medianas foram iguais ou superiores a nove, especialmente o segundo atributo possui

50% das notas superiores ou iguais a 9,5. Já o sexto e sétimo concentraram-se em notas baixas

e medianas.

Comparando os alunos do congresso e alunos universidades, observa-se nas Tabelas 5 e 6 que

as preferências pelos atributos de trabalhos apresentaram índices semelhantes, inclusive com

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100

o mesmo ranking de classificação para todos os atributos. Destaca-se que os escores médios

dos alunos congresso foram maiores do que os escores dos alunos universidades.

Tabela 6 - Estatística resumo do grau de importância dos atributos respondidos pelos alunos congresso.

Atributo Média Mínimo 1º Quartil Mediana 3º Quartil Máximo 1 8,08 2 7 8 10 10 2 8,84 3 8 10 10 10 3 8,66 2 8 9 10 10 4 7,77 0 7 8 9 10 5 9,28 5 9 10 10 10 6 5,47 0 4 6 7 10 7 4,58 0 3 5 6 10 8 8,40 0 8 9 10 10

O ranking de preferência pelos atributos de trabalho, tanto dos alunos universidades quanto

dos alunos congresso, configurou-se da seguinte maneira: 1º: Oportunidade de avanço na

carreira profissional; 2º: Ter estabilidade e segurança no trabalho; 3º: Conseguir alta

remuneração; 4º: Necessidade de realizar cursos e treinamentos profissionais; 5º: Ter

oportunidade de desempenhar várias funções e atividades no trabalho; 6º: Status social e

profissional; 7º: Necessidade de fazer várias viagens em função do trabalho; 8º: Necessidade

de fazer horas extras.

Os escores das instrumentalidades foram obtidos perguntando aos participantes a percepção

sobre a probabilidade de alcançar o máximo de resultados ou atributos de trabalho desejáveis

para cada uma das profissões definidas na pesquisa. Com isso, foi possível verificar o link

entre a instrumentalidade de cada atividade profissional e as respectivas valências de segunda

ordem.

A valência ocupacional de primeira ordem foi calculada pela forma apresentada na

metodologia utilizando-se do modelo multiplicativo. No Gráfico 8 observa-se os diagramas de

caixa da valência para as três profissões consideradas, em relação aos alunos universidades.

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Gráfico 8. Diagramas de caixa das Valências dos alunos universidades para as três profissões

consideradas.

Tabela 7 - Estatística resumo da variável valência dos alunos universidades para as três profissões consideradas.

Estatísticas Valência

Analista Financeiro Auditor Consultor Média 0,51 0,51 0,57 CV(%) 41,28 50,72 38,55

Percebe-se pela Tabela 7 que a valência média para todas as profissões é muito similar,

comportamento também visualizado no Gráfico 8, sendo que as mesmas apresentam

coeficiente de variação razoável, indicando que a média é uma medida boa para representar o

grupo.

Para que as análises associativas fossem realizadas, foi necessário categorizar a variável

valência como baixa, média e alta, seguindo o seguinte critério: menor que 0,4; entre 0,4 e 0,7

e maior que 0,7, respectivamente.

Tabela 8 - Frequência das valências referente às respostas dos alunos universidades para as três profissões.

Valência Analista Auditor Consultor Alta 48 65 78 Média 125 90 108 Baixa 67 85 54

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102

Observa-se na Tabela 8 que a valência para a profissão consultor teve maior frequência de

classificações altas para os entrevistados nas universidades, representando 32,5%, tendo ainda

45% das classificações médias e a apenas 22,5% de classificações baixas, sendo o menor

número de classificações baixas entres as profissões. Para as profissões de analista e auditor o

maior número de classificações também foi médio, porém a classificação alta nessas

profissões apareceu com menor frequência. Observa-se também que a profissão de auditor

teve a maior frequência com baixa valência entre as três profissões, indicando que a auditoria

foi visualizada para um maior número de alunos como aquela provável de não alcançar os

atributos de trabalho desejáveis, ou seja, aquela que teve mais rejeição comparativamente às

outras atividades.

Considerando agora os alunos originários do congresso constata-se pelo Gráfico 9 que os

diagramas de caixas estão semelhantes aos dos alunos entrevistados nas universidades, a não

ser pelo limite inferior e o ponto discrepante no diagrama da vaga de analista.

Gráfico 9. Diagramas de caixa das Valências dos alunos congresso para as três profissões

consideradas.

Tabela 9 - Estatística resumo da variável valência dos alunos congresso para as três profissões consideradas.

Estatísticas Valência

Analista Financeiro Auditor Consultor Média 0,59 0,60 0,64 CV(%) 35,81 39,41 30,68

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103

Como na Tabela 8, as médias são parecidas entre as profissões, porém na Tabela 9 os

coeficientes de variação são menores, tornando a média uma medida ainda mais adequada

para representar os dados.

Tabela 10 - Frequências das valências referentes às respostas dos alunos congresso para as três profissões.

Valência Analista Auditor Consultor

Alta 57 65 77 Média 33 35 22 Baixa 81 71 72

Observando a Tabela 10 verifica-se mais uma vez que a valência para a profissão de consultor

teve maior frequência de classificações altas para os pesquisados, representando 45%,

contudo 42% se posicionaram na valência baixa. Já as valências de analista e auditor tiveram

resultados muito próximos, com maior número de valências baixas, seguido por altas e, com

menor frequência, médias.

Importante destacar que as diferenças percebidas nos níveis de valências entre os alunos

originários das universidades e do congresso podem ter ocorrido em função do tempo de

curso desses alunos, em que 52% (89) dos alunos oriundos do congresso estavam cursando 1º,

2º ou 3º ano. Já os alunos universidades estavam no último período do curso, ou seja, 4º ou 5º

ano. Talvez a percepção das atividades profissionais possa ter sido influenciada por essa

maturação, em que alunos nas fases iniciais do curso poderiam não ter uma percepção clara

dessas atividades profissionais, possivelmente influenciando suas respostas.

4.3 Medidas de Frequência do Grupo de Controle e Grupo Experimental

Grupo de Controle

Esta pesquisa foi estruturada de maneira que os participantes em cada uma das IESs fossem

distribuídos aleatoriamente (conforme ordem de acesso à pesquisa) ao grupo de controle ou

ao grupo experimental. Essa distribuição aleatória resultou em 122 alunos direcionados ao

grupo de controle e 118 alunos ao grupo experimental, em relação aos alunos universidades.

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104

Foi solicitado aos participantes do grupo de controle para se manifestarem em relação ao

aceite ou não da vaga de trabalho que estava sendo ofertada, com isso foi possível identificar

a preferência ou não de cada participante em relação às atividades profissionais utilizadas na

pesquisa. Conforme espelhado na Tabela 11, percebe-se que a maioria dos alunos

universidades do grupo de controle aceitou a vaga de auditor, totalizando 66,39% dos sujeitos

desse grupo, enquanto que o número de rejeição às vagas de auditor foi de 33,61%.

Tabela 11 - Frequência da aceitação e rejeição da vaga de auditor dos alunos

universidades do grupo controle.

Vaga Frequência Proporção Sim 81 0,6639 Não 41 0,3361 Total 122 1,0000

Nota-se na Tabela 12 uma situação semelhante à apresentada na Tabela 11, na qual

aproximadamente dois terços dos alunos universidades aceitaram a vaga de consultor, ou seja,

praticamente o mesmo número de alunos que aceitou a vaga de auditor, também aceitou a

vaga de consultor, representando 67,21% dos participantes do grupo de controle.

Tabela 12 - Frequência da aceitação e rejeição da vaga de consultor dos alunos universidades

do grupo controle.

Vaga Frequência Proporção

Sim 82 0,6721 Não 40 0,3279

Total 122 1

Em relação à vaga de analista financeiro, é possível observar uma pequena diferenciação em

relação às outras duas atividades, em que o número de aceites à vaga do grupo de controle foi

próximo ao número de rejeição, totalizando 56,56% de aceites e 43,44% de não aceites,

conforme mostrado na Tabela 13.

Tabela 13 - Frequência da aceitação e rejeição da vaga de analista dos alunos universidades

do grupo controle.

Vaga Frequência Proporção

Sim 69 0,5656 Não 53 0,4344

Total 122 1

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105

Os dados levantados com os sujeitos do grupo de controle indicaram que as atividades

profissionais em análise tiveram proporção maior de aceite em relação à rejeição.

Evidenciando que mesmo sem o estímulo da remuneração essas atividades são percebidas

pela maioria dos alunos como uma possível escolha profissional.

Grupo Experimental

Este tópico é destinado a apresentar as mensurações e análises referentes ao grupo

experimental cuja diferenciação em relação ao grupo de controle é o estímulo da remuneração

apresentada nas ofertas das vagas aos alunos participantes.

Foi utilizada tanto para o grupo de controle como para o experimental a mesma sequência nas

ofertas das vagas de trabalho, onde inicialmente foram ofertadas as vagas de trabalho para a

profissão de auditor, na sequência para consultor e ao final para a vaga de analista financeiro,

todas com suas respectivas classes de remuneração (abaixo do mercado, média do mercado e

acima do mercado).

Iniciando as mensurações com a vaga de auditor, constatou-se que quando ofertada a

respectiva vaga aos alunos do grupo experimental com o estímulo da remuneração,

comparativamente ao grupo de controle, apenas 7,63% (9 alunos) não aceitaram a vaga por

nenhum valor, enquanto que para o grupo de controle sem o estímulo da remuneração

verificou-se que 33,61% (41 alunos) não aceitaram a vaga. As frequências apresentadas

indicam que o estímulo da remuneração tende a influenciar na decisão dos alunos em aceitar

ou não a vaga.

Tabela 14 - Proporção de aceite da vaga de auditor com o estímulo da remuneração, referente aos alunos

universidades do grupo experimental.

Salário Frequência Proporção R$ 2.580,00 52 0,4407 R$ 3.500,00 20 0,1695 R$ 4.750,00 16 0,1356 maior que R$5.000,00 21 0,1780 nenhum salário 9 0,0763 Total 118 1

* Média dos salários acima de $5.000,00 = R$6.847,62.

A Tabela 14 demonstra a proporção de aceite da vaga por faixa salarial, em que 44,07% dos

alunos aceitaram a vaga de auditor logo na primeira oferta e apenas 7,63% não aceitou a vaga

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106

por nenhum salário. Destaca-se também que 17,8% dos alunos apresentaram um preço de

referência para aceitar a vaga acima dos valores fixados na pesquisa como “maior que o

mercado”, ou seja, para esses alunos o aceite esteve condicionado a um salário maior do que

aqueles estipulados na pesquisa, apresentando um valor médio de R$6.847,62.

Os alunos congresso apresentaram proporção semelhante aos alunos universidades, em que

89,3% aceitaram a vaga com o estímulo da remuneração e somente 10,71% não aceitaram por

nenhum valor. A média salarial do aceite com valores acima do mercado ficou em R$

6.300,00, pouco abaixo da média verificada com os alunos universidades. Uma das possíveis

explicações para essas diferenças pode ter sido o período de curso dos alunos congresso, em

que boa parcela estava nos primeiros anos do curso.

Tabela 15 - Proporção de aceite da vaga de auditor com o estímulo da remuneração, referente aos alunos congresso

do grupo experimental.

Salário Frequência Proporção

R$ 2.580,00 43 0,5119 R$ 3.500,00 13 0,1548 R$ 4.750,00 9 0,1071 maior que R$5.000,00 10 0,1190 nenhum salário 9 0,1071

Total 84 1 *Média dos salários acima de $5.000,00 = R$6.300,00.

Observa-se também na Tabela 15 que mais da metade dos questionados aceitou a vaga de

auditor logo na primeira oferta, percentual ainda maior do que o apresentado na Tabela 14.

Tabela 16 - Proporção de aceite da vaga de consultor com o estímulo da remuneração, referente aos alunos

universidades do grupo experimental.

Salário Frequência Proporção

R$ 1.790,00 13 0,1102 R$ 2.500,00 44 0,3729 R$ 3.500,00 26 0,2203 maior que R$4.000,00 26 0,2203 nenhum salário 9 0,0763

Total 118 1 *Média dos salários acima de $4.000,00 = R$ 5.559,62

Verifica-se pela Tabela 16 que diferentemente da vaga de auditor, aproximadamente 11% dos

alunos aceitaram a primeira vaga de consultor, porém quase 40% aceitou a segunda vaga.

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107

Essa ocorrência pode estar ligada ao efeito maturação da pesquisa, na qual o salário ofertado

na segunda opção era próximo ao apresentado na primeira opção da vaga para auditor, em que

o aluno poderia ter fixado uma base salarial em relação aos valores apresentados inicialmente

para a atividade de auditoria.

Foi verificada também que apenas 7,63% dos alunos não aceitaram a vaga de consultor por

nenhum dos estímulos salariais, se comparada aos 32,8% do grupo de controle que não

aceitaram a vaga quando o estímulo salarial estava ausente.

Em relação aos alunos congresso para a vaga de consultor, constatou-se semelhantemente à

vaga de auditor, que aproximadamente 10% dos alunos não aceitaram a vaga por valor algum

e que a média salarial mais alta girou em torno de R$5.700,00.

Tabela 17 - Proporção de aceite da vaga de analista com o da remuneração, referente aos alunos universidades do

grupo experimental.

Salário Frequência Proporção

R$ 1.920,00 20 0,1695 R$ 2.500,00 31 0,2627 R$ 3.250,00 23 0,1949 maior que R$3.500,00 29 0,2458 nenhum salário 15 0,1271

Total 118 1 *Média dos salários acima de $3.500,00 = R$ 5.225,86.

Observa-se na Tabela 17, para a vaga de analista financeiro que, similarmente ao apresentado

na Tabela 16 para a vaga de consultor, pouco mais de 15% aceitaram a primeira vaga, porém

mais de 25% aceitaram a segunda vaga, cujo salário é próximo ao ofertado na primeira vaga

de auditor, isso remete à mesma observação feita anteriormente sobre o efeito maturação da

pesquisa. Mesmo assim, foi constatado que somente 12,71% não aceitaram a vaga por

nenhum dos estímulos salariais, diferentemente dos 43,44% que não aceitaram a vaga quando

o estímulo salarial estava ausente no grupo de controle.

Ainda em relação à vaga de analista, com alunos congresso, foi constatada uma situação

semelhante ao ocorrido para as vagas de auditor e consultor, apresentando aproximadamente

10% de não aceite por nenhum valor. A média de salário acima do mercado para esse grupo

ficou em torno de R$ 5.300,00

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108

Em uma análise geral dos dados de proporcionalidade apresentados para o grupo experimental

é possível afirmar que há indicativo de que o estímulo da remuneração pode influenciar na

atratividade da vaga para todas as atividades profissionais (auditor, analista e consultor). Essa

possível influência em termos da proporcionalidade girou em torno de 25% a 30% se

comprada ao grupo de controle.

4.4 Medidas de Associação entre Valência Ocupacional e Escolha das Vagas

Grupo de Controle

O modelo teórico de Vroom sobre valência ocupacional prevê que os indivíduos irão escolher

aquelas ocupações que apresentarem um alto índice de valência (valência de segunda ordem e

instrumentalidade).

Esse pressuposto da teoria foi constado nessa pesquisa com o grupo de controle, em que

93,75% dos indivíduos que tiveram um índice de valência alto, aceitaram a vaga de auditoria

e somente 6,25% não aceitaram a vaga. Por outro lado, 57,45% daqueles que tiveram valência

baixa não aceitaram a vaga, estando coerente com o que prevê a teoria e revelando a

influência da remuneração com aqueles sujeitos que não demonstraram ter preferência pela

auditoria. No intuito de verificar o nível de significância dessas medidas, foram calculadas

algumas medidas de associação como seguem:

O qui-quadrado de Pearson foi de χ2 = 23,33 (p-valor < 0,0001), Coeficiente de Correlação

de Pearson C = 0,40, Coeficiente de Tschuprow foi de T = 0,52; Coeficiente de Associação de

Cramer foi de V = 0,43. Pode-se dizer que há indicativos de associação moderada entre o

nível de valência de auditor com aceitação da vaga de auditor, para alunos universidades do

grupo controle.

Tabela 18 - Percentual de aceite da vaga de auditor por nível de valência, para os alunos universidades do grupo controle.

Vaga Valência Auditor

Alta Média Baixa

Sim 93,75% 72,09% 42,55% Não 6,25% 27,91% 57,45%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

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109

O mesmo procedimento foi realizado para as atividades profissionais de consultor e analista

financeiro, conforme demonstrado na Tabela 19 e 20, a seguir.

Tabela 19 - Percentual de aceite da vaga de consultor por nível de valência, para os alunos universidades do grupo controle.

Vaga Valência Consultor

Alta Média Baixa

Sim 84,62% 68,42% 38,46% Não 15,38% 31,58% 61,54%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Apesar dos índices (consultor e analista financeiro) apresentarem uma menor associação entre

as valências e o aceite da vaga, comparativamente à atividade de auditor, pode-se dizer que há

indicativo de associação na aceitação dessas vagas para alunos universidades do grupo

controle.

Na Tabela 19 observa-se que para as valências mais altas o percentual de aceite é maior e para

as valências baixas o número de aceites é menor. As medidas de associação calculadas para a

atividade de consultor foram as seguintes: χ2 = 15,15 (p-valor < 0,0001); C = 0,33, T = 0,41 e

V = 0,35.

Tabela 20 - Percentual de aceite da vaga de analista por nível de valência, para alunos universidades do grupo controle.

Vaga Valência Analista

Alta Média Baixa

Sim 77,78% 62,07% 32,43% Não 22,22% 37,93% 67,57%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

A Tabela 20 apresenta um padrão semelhante ao observado para as profissões anteriores. As

medidas de associação calculadas foram: χ2 = 14,43 (p-valor = 0,00015), C = 0,32, T = 0,41

e V = 0,34, portanto há indícios de associação entre a aceitação dos universitários pela vaga

de analista com o nível de valência de analista no grupo de controle.

As mensurações e análises apresentadas neste tópico, relacionando dados de valência e o

aceite ou não da vaga ofertada indicam que os pressupostos do modelo de valência da teoria

da expectativa teve suporte com os dados aqui apresentados, pois os testes não paramétricos

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110

mostraram uma possível associação entre a variável valência e escolha. A atividade

profissional que evidenciou maior correlação entre as três pesquisadas foi a de auditor, cujo

índice de correlação de Pearson foi de 0,40, enquanto que esse mesmo índice foi de 0,33 e

0,32 para as atividades de consultor e analista financeiro respectivamente.

Grupo experimental

Este tópico apresenta as mensurações e análises dos dados obtidos junto ao grupo

experimental em relação ao nível de valência e o aceite da vaga para cada uma das atividades

profissionais em questão. Destaca-se que a única diferença em relação ao tópico anterior é a

presença da remuneração quando da escolha ou não da vaga ofertada. Com isso, o modelo de

valência da teoria da expectativa também será colocado em discussão de maneira a verificar

se os pressupostos do modelo foram observados nessa configuração de pesquisa.

Os dados relacionados ao aceite ou não da vaga de auditor, apresentados na Tabela 21,

indicam para um suporte aos pressupostos do modelo de valência, uma vez que os 100% dos

participantes que demonstraram inicialmente uma valência alta, aceitaram a vaga ofertada em

uma das categorias salariais.

Tabela 21 - Aceite das vagas por níveis salariais e valências para a profissão de auditor, dos alunos universidades do grupo experimental.

Salário Valência Auditor

Alta Média Baixa

R$ 2.580,00 75,76% 36,17% 26,32% R$ 3.500,00 9,09% 19,15% 21,05% R$ 4.750,00 6,06% 17,02% 15,79% maior que R$5.000,00 9,09% 21,28% 21,05% nenhum salário 0,00% 6,38% 15,79%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Observa-se ainda na Tabela 21que para a valência alta, a proporção de aceites à primeira vaga

foi maior que 75%, enquanto que para a valência média foi aproximadamente 36% e para a

baixa foi 26%. Para as ofertas com salários mais altos, a proporção de aceites com valência

média e baixa foi similar. A proporção de alunos que não aceitaram a vaga por salário algum

foi quase 10% maior para a valência baixa do que para a valência média, sendo zero para a

valência alta. Portanto, com as medidas de associação calculadas χ2 = 22,42 (p-

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111

valor<0,0001), C = 0,3996, T = 0,37 e V = 0,3082, pode-se dizer que há um indicativo de

associação moderada entre as variáveis.

Tabela 22 - Aceite das vagas por níveis salariais e valências para a profissão de auditor, dos alunos congresso do grupo

experimental.

Salário Valência Auditor

Alta Média Baixa

R$ 2.580,00 61,76% 60,61% 11,76% R$ 3.500,00 14,71% 15,15% 17,65% R$ 4.750,00 14,71% 3,03% 17,65% maior que R$5.000,00 8,82% 9,09% 23,53% nenhum salário 0,00% 12,12% 29,41%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Na Tabela 22 observa-se que entre os alunos congresso a proporção de aceites no primeiro

nível salarial para a vaga de auditor foi similar entre as valências alta e média e aqueles com

valências baixas apresentaram um baixo índice de aceite (11,76%) na primeira oferta da vaga,

situação essa que está em conformidade com os preceitos da teoria que embasa essa pesquisa.

Por outro lado, 100% daqueles que apresentaram valências altas aceitaram a vaga ofertada em

alguma das classes de remuneração.

Assim, com as medidas de associação calculadas, χ2 = 21,3 (p-valor < 0,0001), C = 0,45, T =

0,42 e V = 0,36, nota-se que também há indícios de associação moderada entre o salário com

o qual a vaga de auditor foi aceita e nível de valência de auditor, para os alunos congresso.

Tabela 23 - Aceite das vagas por níveis salariais e valências para a profissão de consultor, dos alunos

universidades do grupo experimental.

Salário Valência Consultor

Alta Média Baixa

R$ 1.790,00 10,26% 13,73% 7,14% R$ 2.500,00 38,46% 35,29% 39,29% R$ 3.500,00 25,64% 21,57% 17,86% maior que R$4.000,00 20,51% 23,53% 21,43% nenhum salário 5,13% 5,88% 14,29%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Como observado anteriormente, a Tabela 23 mostra que a maior proporção de alunos aceitou

a segunda vaga de consultor, não diferindo muito entre os níveis de valência, sendo os que

não aceitaram a vaga por nenhum salário foram aqueles que apresentaram maior diferença

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112

entre as classes de valência. As medidas de associação calculadas foram: χ2 = 7 (p-valor =

0,0082); C = 0,17 T = 0,1457 e V = 0,12, indicando indícios de associação fraca entre o

salário de aceitação da vaga pelos níveis de valência de consultor.

Tabela 24 - Aceite das vagas por níveis de salários e valências para a profissão de analista, dos alunos

universidades do grupo experimental.

Salário Valência Analista

Alta Média Baixa

R$ 1.920,00 23,81% 20,90% 3,33% R$ 2.500,00 23,81% 23,88% 33,33% R$ 3.250,00 14,29% 20,90% 20,00% maior que R$3.500,00 38,10% 22,39% 20,00% nenhum salário 0,00% 11,94% 23,33%

Total 100,00% 100,00% 100,00%

Analisando a Tabela 24 e considerando as medidas de associação calculadas para ela, χ2 =

12,91 (p-valor < 0,0003); C = 0,31; T = 0,28 e V = 0,23, pode-se dizer que há indícios de

associação fraca entre os níveis de valência de analista com o salário de aceitação à vaga de

analista. As medidas associativas calculadas para as três profissões não se configuraram

similar, a atividade de consultor e analista financeiro tiveram indícios de uma fraca

associação. Por outro lado, para a atividade de auditor as medidas associativas indicaram a

existência de associação moderada entre valência e o aceite das vagas.

Um ponto convergente observado em todas as atividades profissionais foi que todos os

sujeitos com valências altas aceitaram alguma oferta de vaga, indicando que mesmo com

índices baixos e moderados de associação, todas as atividades percebidas inicialmente como

atrativas (valência alta) tiveram sua aceitação por algum salário.

4.5 Medidas de Associação entre o Grupo de Controle e Experimental.

Este tópico visa apresentar as medidas de associação entre o grupo de controle e o

experimental no intuito de subsidiar as respostas da questão e das hipóteses levantadas na

presente pesquisa. Para tanto, os cálculos apresentados nas tabelas a seguir tiveram por base

as proporções em relação aos totais das linhas entre parênteses. Comparando, pois, a

distribuição das proporções para vaga de auditor, consultor e analista, independentemente do

grupo (linha de totais), com as distribuições diferenciadas por grupo (linhas de controle e

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113

experimental). Inicialmente foram apresentadas as proporções sem o índice de valência e, na

sequência, foram incluídos os níveis de valências.

4.5.1 Análises do Grupo de Controle e Experimental sem as Valências

Tabela 25 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo.

Grupo Vaga Auditor

Total Não Aceitou Aceitou

Controle 41(33,61%) 81(66,39%) 122(100%) Experimental 9 (7,63%) 109(92,37%) 118(100%) Total 50(20,83%) 190(79,17%) 240(100%)

Observa-se na Tabela 25 que dos alunos (fonte principal) pesquisados do grupo controle

houveram 66,39% de aceitação à vaga de auditor e para os universitários do grupo

experimental a aceitação foi de 92,37%. Com as medidas de associação calculadas: χ2 = 22,99

(p-valor < 0,0001); C = 0,29; T = 0,30 e V = 0,30; verifica-se que há indicativo de

associação entre a aceitação da vaga de auditor e os grupos.

Destaca-se ainda que a diferença entre o grupo controle e o grupo experimental é que para o

grupo de controle foi oferecida apenas uma vaga, sem menção à remuneração, enquanto que

para o grupo experimental foi oferecida uma vaga com um salário inicial e no caso do aluno

que não aceitou a primeira oferta foram feitas outras ofertas com salários mais altos. Dessa

forma, a associação entre essas variáveis está relacionada ao estímulo financeiro.

Esses resultados também indicam que, mesmo sem considerar as valências dos sujeitos

participantes, o fator remuneração teve influência na preferência pela vaga de auditor. Essa

influência, medida pelos testes de associação, compreende aproximadamente 30%. Portanto, a

questão de pesquisa sobre se a percepção do valor da remuneração influencia na preferência

dos possíveis candidatos (ou novos entrantes) para a atividade de auditoria independente no

Brasil, pode ser respondida em termos associativos indicando um índice de aproximadamente

0,30 para todos os testes realizados com o grupo experimental e o de controle com os alunos

universidades (fonte principal).

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114

Tabela 26 - Aceitação da vaga de consultor dos alunos universidades por grupo.

Grupo Vaga Consultor

Total Não Aceitou Aceitou

Controle 40(37,79%) 82(67,21%) 122(100%) Experimental 9(7,63%) 109(92,37%) 118(100%) Total 49(20,42%) 191(79,58%) 240(100%)

Conforme Tabela 26, dos alunos pesquisados do grupo controle houve 67,21% de aceitação à

vaga de consultor e para os alunos do grupo experimental a aceitação foi de 92,37%. As

medidas de associação calculadas foram: χ2 = 21,84 (p-valor < 0,0001); C = 0,29; T = 0,30; e

V = 0,30; portanto verifica-se que há indicativo de associação entre a aceitação da vaga de

consultor pelos universitários e os grupos de controle e experimental. Isso demonstra que o

fator remuneração também teve influência no aceite da vaga para a profissão de consultor,

assim como verificado para a vaga de auditor.

Tabela 27 - Aceitação da vaga de analista dos alunos universidades por grupo.

Grupo Vaga Analista

Total Não Aceitou Aceitou

Controle 53(43,44%) 69(56,56%) 122(100%) Experimental 15(12,71%) 103(87,29%) 118(100%) Total 68(28,33%) 172(71,67%) 240(100%)

Observa-se na Tabela 27 que entre os alunos pesquisados do grupo controle houve 56,56% de

aceitação à vaga de analista e para os alunos do grupo experimental a aceitação foi de

87,29%. Pode-se identificar uma diferença de porcentagem de aceitação entre os dois grupos.

Com as medidas de associação calculadas, χ2 = 26,4 (p-valor < 0,0001); C = 0,31; T = 0,33 e

V = 0,33; verifica-se que há indicativo de associação entre a aceitação da vaga de analista

entre os grupos.

A atividade de analista financeiro apresentou os escores das medidas associativas um pouco

acima das atividades de auditoria e consultoria, indicando uma maior influência da

remuneração na preferência por essa atividade, mesmo com um nível salarial menor em

relação às outras atividades.

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115

4.5.2 Análises do Grupo de Controle e Experimental com as Valências

Para as análises a seguir foram feitas as divisões entre valências alta, média e baixa, as quais

foram apresentadas respectivamente nessa mesma ordem.

Tabela 28 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo, para nível de valência alto.

Grupo Vaga Auditor

Total Não Aceitou Aceitou

Controle 2(6,25%) 30(93,75%) 32(100%) Experimental 0(0,00%) 33(100,00%) 33(100%) Total 2(3,08%) 63(96,92%) 65(100%)

Na Tabela 28 observa-se que a porcentagem de aceitação para o grupo de controle é 93,75% e

do grupo experimental é 100%. As medidas de associação calculadas foram χ2 = 0,54 (p-valor

= 0,4624); C = 0,09;T = 0,09 e V = 0,09; portanto indicando uma fraquíssima associação, o

que já era esperado uma vez que se a valência é alta espera-se que o aluno aceite a vaga

independentemente do salário.

Essa constatação indica aceitação da hipótese de que os indivíduos que se declaram

inicialmente atraídos ou com maior valência pela atividade de auditoria NÃO apresentarão

diferenças em relação à probabilidade de aceitar uma oferta de trabalho na área de auditoria,

independentemente do fator remuneração.

Tabela 29 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo, para nível de valência médio.

Grupo Vaga Auditor

Total Não Aceitou Aceitou

Controle 12 (27,91%) 31 (72,09%) 43 (100%)

Experimental 3 (6,38%) 44 (93,62%) 47 (100%)

Total 15 (16,67%) 75 (83,33%) 90(100%)

Na Tabela 29 observa-se uma diferença de mais de 20% entre a proporção de aceitação,

indicando uma relação entre as variáveis. As medidas de associação foram χ2= 6,02 (p-valor

< 0,014); C = 0,25; T = 0,26 e V 0,26, portanto, pode-se dizer que há indícios de associação

entre as variáveis grupo e vaga para auditor, no nível de valência médio.

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116

Tabela 30 - Aceitação da vaga de auditor dos alunos universidades por grupo, para nível de valência baixo.

Grupo Vaga Auditor

Total Não Aceitou Aceitou

Controle 27 (57,45%) 20 (42,55%) 47 (100%) Experimental 6 (15,79%) 32 (84,21%) 38 (100%) Total 33 (38,82%) 52 (61,18%) 85 (100%)

Na Tabela 30 observa-se uma disparidade acentuada nas proporções: 84,21% de aceitação do

grupo experimental e 42,55% de aceitação do grupo controle, indicando aproximadamente o

dobro de aceitação para o grupo experimental. Logo, há indícios de associação entre as

variáveis grupo e vaga para auditor. Os cálculos das medidas de associação foram: χ2 = 13,65

(p-valor < 0,0002); C = 0,37; T = 0,40 e V = 0,40, que também, indicam associação

moderada entre aceitação dos universitários da vaga de auditor e grupo, para o nível de

valência de auditor baixo.

Essa relação responde a hipótese de pesquisa de que os indivíduos que se declararam

inicialmente NÃO atraídos ou com menor valência pela atividade de auditoria apresentarão

diferenças em relação à probabilidade de aceitar uma oferta de trabalho na área de auditoria,

quando o fator remuneração estiver presente. Mesmo indicando uma associação moderada,

pode-se dizer que a hipótese foi aceita e, conforme esperado, os indivíduos com valências

baixas tiveram suas decisões influenciadas pelo incentivo financeiro.

Esse mesmo comportamento foi observado também para as outras profissões, de forma que

foram apresentadas, somente as medidas de associação para cada uma das atividades e com os

seus respectivos níveis de valência.

Tabela 31 - Medidas de associação das vagas de consultor e analista dos alunos universidades por grupo, para os três níveis de valências.

Atividades/Valências Medidas de Associação

Consultor Valência Alta Valência Média Valência Baixa

χ

2 = 1,25 (p-valor = 0,2636); C = 0,12; T =0,12 e V = 0,13. χ

2 = 9,77 (p-valor = 0,0018); C = 0,29; T = 0,30 e V = 0,30. χ

2 = 10,96 (p-valor =0,0009); C= 0,41; T = 0,45 e V = 0,45. Analista Valência Alta Valência Média Valência Baixa

χ 2 = 3,49 (p-valor = 0,0617); C = 0,26; T = 0,23 e V = 0,26.

χ2 = 10,13 (p-valor = 0,0015); C = 0,27; T = 0,28 e V = 0,28.

χ2 = 11,28 (p-valor = 0,0008); C = 0,40; T = 0,41 e V = 0,41.

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117

A Tabela 31 mostra que quando a valência é alta o nível de associação é bem fraco, em que o

valor do qui-quadrado aparece menor e consequentemente o nível de significância (p-valor)

não permite aceitar a hipótese da existência de associação entre essas variáveis. Por outro

lado, quando a valência é média ou baixa os índices de associação calculados e o nível de

significância do qui-quadrado permitem aceitar a hipótese de associação, mesmo que

moderada.

4.6 Relação entre a Nota Média Geral e o Aceite das Vagas

No intuito de verificar se a nota média geral no curso teve alguma influência ou relação com a

escolha da vaga em cada uma das profissões, foram calculadas as medidas de associação

dessas variáveis seguindo os mesmos critérios adotados até aqui. As tabelas apresentadas na

sequência relacionam a nota média com o aceite da vaga nas referidas faixas de remuneração.

Portanto, essas análises foram efetuadas somente para o grupo experimental uma vez que este

contém essas categorias de remuneração.

Observa-se na Tabela 32, que 68,38% dos alunos do grupo experimental têm sua média geral

nas disciplinas do curso entre 7,1 a 9,0 e a aceitação dos alunos com a média geral nesta faixa

foi de 34,19% para o salário de R$2.580,00. A classe dos universitários com média entre 9,0 a

10,0 teve maioria das vezes a aceitação apenas para a terceira oferta de vaga, com salário de

R$4.750,00. Isso demonstra certa tendência de mudança de aceitação de salário nas diferentes

faixas de notas médias. Com as medidas de associação calculadas, χ2 = 22,89, C = 0,40; T =

0,41 e V = 0,25, pode-se verificar que há indícios de associação entre a nota dos universitários

com o salário de aceitação da vaga de auditor.

Tabela 32 - Proporção de aceite da vaga de auditor por classe de remuneração e nota média geral, para alunos universidades do grupo experimental.

Salário Nota

Total de 3,1 a 5,0 de 5,1 a 7,0 de 7,1 a 9,0 de 9,1 a 10,0

R$ 2.580,00 0,00% 10,26% 34,19% 0,00% 44,44% R$ 3.500,00 0,85% 3,42% 11,97% 0,00% 16,24% R$ 4.750,00 0,00% 4,27% 7,69% 1,71% 13,68% maior que R$5.000,00

0,00% 7,69% 10,26% 0,00% 17,95%

nenhum salário 0,85% 1,71% 4,27% 0,85% 7,69% Total 1,71% 27,35% 68,38% 2,56% 100,00%

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118

É possível observar na Tabela 33 que na classe de notas médias entre 7.1 a 9.0, onde

concentrou-se o maior número de alunos (68,38%), as vagas foram aceitas em maior

proporção com o salário de R$2.500,00, ou seja, na segunda oferta; diferentemente do

observado em relação ao aceite das vagas de auditoria, que apresentou a maior proporção de

aceite na primeira oferta. Isso remete e reforça os comentários efetuados anteriormente de que

uma possível explicação para essa ocorrência pode ter sido o efeito maturação, onde o salário

apresentado inicialmente para a vaga de auditor foi maior do que o apresentado para o de

consultor e possivelmente os alunos ficaram com o valor de referência apresentado na

primeira oferta.

As medidas de associação calculadas foram: χ2 = 10,2; C = 0,27, T = 0,28 e V = 0,17.

Portanto, pode-se dizer que há indícios de associação fraca entre a nota dos alunos

universidades do grupo experimental e o salário de aceitação para a vaga de emprego de

consultor.

Tabela 33 - Proporção de aceite da vaga de consultor por classe de remuneração e nota média geral, para alunos universidades do grupo experimental.

Salário Nota

Total de 3,1 a 5,0 de 5,1 a 7,0 de 7,1 a 9,0 de 9,1 a 10,0

R$ 1.790,00 0,00% 2,56% 8,55% 0,00% 11,11% R$ 2.500,00 0,85% 11,11% 25,64% 0,00% 37,61% R$ 3.500,00 0,85% 7,69% 12,82% 0,85% 22,22% maior que R$4.000,00

0,00% 5,98% 14,53% 0,85% 21,37%

nenhum salário 0,00% 0,00% 6,84% 0,85% 7,69% Total 1,71% 27,35% 68,38% 2,56% 100,00%

Observa-se na Tabela 34 certa diferença nas proporções de aceitação da vaga de analista

financeiro entre as faixas de nota dos universitários. Assim, juntamente com as medidas de

associação calculadas: χ2 = 13,53; C = 0,32; T = 0,32 e V = 0,19, pode-se dizer que há

indicativo de associação entre a nota dos universitários do grupo experimental e o salário para

aceitação da vaga de analista.

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Tabela 34 - Proporção de aceite da vaga de analista por classe de remuneração e nota média geral, para alunos universidades do grupo experimental.

Salário Nota

Total de 3,1 a 5,0 de 5,1 a 7,0 de 7,1 a 9,0 de 9,1 a 10,0

R$ 1.920,00 0,00% 5,13% 11,97% 0,00% 17,09% R$ 2.500,00 0,85% 5,13% 20,51% 0,00% 26,50% R$ 3.250,00 0,85% 6,84% 11,11% 0,00% 18,80% maior que R$3.500,00

0,00% 6,84% 17,09% 0,85% 24,79%

nenhum salário 0,00% 3,42% 7,69% 1,71% 12,82%

Total 1,71% 27,35% 68,38% 2,56% 100,00%

Destaca-se também que os alunos que apresentaram nota média geral mais alta (9.0 a 10.0),

somente aceitaram a vaga quando os níveis de remuneração foram mais altos, na terceira

oferta ou ainda estipulando o seu preço de referência. Apesar da menor proporção de alunos

nessa categoria, isso foi observado para todas as profissões em análise.

4.7 Relação entre Renda Familiar e o Aceite das Vagas

Os dados levantados na pesquisa permitiram ainda verificar se a renda familiar teve alguma

influência ou relação com a escolha da vaga em cada uma das profissões. Assim, foram

calculadas as medidas de associação dessas variáveis seguindo também os mesmos critérios

adotados até aqui.

A renda familiar dos alunos universidades, conforme demonstrado na Tabela 35, concentra-se

na faixa de R$2.712,00 a R$6.780,00 e o mesmo também é observado separadamente para

cada nível de valência de auditor. Nota-se também que a diferença de proporção de

universitários entre os níveis de valência com renda familiar até R$1.356,00 e acima de

R$13,560,00 é menor do que um. Para as proporções com renda familiar de R$1.356,00 a

R$2.712,00, R$2.712,00 a R$6.780,00 e R$6.780,00 a R$13.560,00 é em média maior do que

3,24. Então, pode-se dizer que há uma diferença de proporção de universitários entre os níveis

de valência, porém pequena.

As medidas de associação calculadas para a Tabela 35 foram: χ2 = 6,4, coeficiente de Pearson

C = 0,1612, coeficiente de Tshuprow T = 0,13 e V de Cramer = 0,1155, indicando uma

associação fraca entre os níveis de valência e as faixas de renda familiar dos universitários.

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Tabela 35 - Proporção dos alunos universidades entre níveis de valências para auditor e faixa de renda familiar.

Renda Valência Auditor

Total Alta Média Baixa

até R$1.356,00 2,92% 2,08% 2,08% 7,08% de R$1.356,00 a R$ 2.712,00 3,75% 7,08% 5,42% 16,25% de R$2.712,00 a R$ 6.780,00 12,50% 14,17% 17,92% 44,58% de R$6.780,00 a R$13.560,00 5,42% 11,25% 7,92% 24,58% acima de R$13.560,00 2,50% 2,92% 2,08% 7,50% Total 27,08% 37,50% 35,42% 100,00%

Pela Tabela 36, é possível observar que apenas a renda familiar dos universitários acima de

R$13.560,00 não apresentou diferença nas proporções entre os níveis de valências de

consultor, sendo que as outras faixas de renda apresentaram alguma diferença entre os níveis

de valência. Com as medidas de associação calculadas, χ2 = 8,59, C = 0,1859; T = 0,159 e V

= 0,1338, pode-se verificar que há indicativo de associação fraca na proporção entre os níveis

de valência de consultor com a renda familiar.

Tabela 36 - Proporção dos alunos universidades entre níveis de valências para consultor e faixa de renda familiar.

Renda Valência Consultor

Total Alta Média Baixa

até R$1.356,00 3,75% 2,08% 1,25% 7,08% de R$1.356,00 a R$ 2.712,00 3,33% 9,58% 3,33% 16,25% de R$2.712,00 a R$ 6.780,00 15,42% 19,58% 9,58% 44,58% de R$6.780,00 a R$13.560,00 7,50% 11,25% 5,83% 24,58% acima de R$13.560,00 2,50% 2,50% 2,50% 7,50%

Total 32,50% 45,00% 22,50% 100,00%

Na Tabela 37 observa-se que para cada faixa de renda familiar dos alunos universidades

foram verificadas pequenas diferenças nas proporções entre os níveis de valências de analista,

portanto, com as medidas de associação calculadas, χ2 = 5,8462, C = 0,1542, T = 0,1312 e V

= 0,11, pode-se verificar que há um indicativo de associação fraca das proporções de

universitários entre os níveis de valências de analistas com a faixa de renda familiar.

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121

Tabela 37 - Proporção dos alunos universidades entre níveis de valências para analista e faixa de renda familiar.

Renda Valência Analista

Total Alta Média Baixa

até R$1.356,00 2,08% 2,92% 2,08% 7,08% de R$1.356,00 a R$ 2.712,00 2,50% 9,58% 4,17% 16,25% de R$2.712,00 a R$ 6.780,00 10,00% 23,33% 11,25% 44,58% de R$6.780,00 a R$13.560,00 3,33% 12,50% 8,75% 24,58% acima de R$13.560,00 2,08% 3,75% 1,67% 7,50% Total 20,00% 52,08% 27,92% 100,00%

Em uma análise geral das mensurações associativas realizadas entre a variável renda e a

variável escolha da vaga e seus níveis de valência, é possível afirmar que os indicativos de

associação se mostraram em um nível baixo, demonstrando uma fraca associação para todas

as atividades profissionais analisadas. Portanto, nessa configuração de pesquisa com suas

respectivas limitações, pode-se dizer que a variável renda não interfere de maneira

significativa numa possível atração e escolha ocupacional.

4.8 Considerações sobre as Preferências e Rejeições das Profissões

O número de alunos que apresentaram rejeição em alguma ou em todas as profissões da

pesquisa foi relativamente baixo em relação ao total da amostra. Em quantidades absolutas

isso representou a rejeição de 18 alunos tanto para a auditoria como para a consultoria e 25

alunos para a atividade de analista, significando que a atividade de analista foi a que mais

apresentou rejeição pelos alunos. Essa análise refere-se a ambos, alunos do congresso e das

universidades, sendo o percentual de participação nas rejeições de aproximadamente 50%

para cada uma dessas fontes da pesquisa e para todas as atividades pesquisadas.

Verifica-se no Gráfico 10 que seis alunos não aceitaram nenhuma das vagas ofertadas em

nenhuma das profissões, o restante dos alunos apresentaram rejeição por uma das profissões,

mas aceitaram as outras atividades. Só para exemplificar, das 18 rejeições para auditor, 11

aceitaram a vaga de consultoria e 12 a vaga de analista e assim sucessivamente.

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122

Gráfico 10. Frequência de rejeição entre as vagas ofertadas.

Os motivos apresentados pelos alunos em relação à decisão de não aceitar a vaga ofertada

foram preponderantemente relacionados aos itens: 1. Não ter interesse na área, 2. Não

Identificação / Afinidade e Perfil, e 3. Procurar Estabilidade. Esses motivos foram observados

para todas as profissões e uma possível explicação para essas rejeições é realmente a falta de

interesse e não identificação com a atividade rejeitada, essa análise é corroborada pelo aceite

de outras atividades quando houve rejeição em uma.

Em relação à frequência de aceite das vagas, observa-se no Gráfico 11, que a profissão que

apresentou maior quantidade de aceites no primeiro nível salarial, considerado abaixo do

mercado, foi a auditoria e consequentemente teve a menor taxa de aceite nos níveis salariais

médio e acima do mercado.

Gráfico 11. Frequência de aceites por categorial salarial alunos universidades

As outras atividades apresentam uma distribuição um pouco diferenciada, conforme

espelhado no Gráfico 11. Talvez o fato de que as vagas de auditor foram apresentadas

primeiramente aos alunos e com uma faixa salarial maior em relação às outras atividades

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123

possa ter influenciado para a ocorrência de tal diferenciação. Contudo, mesmo que possa ter

ocorrido tal situação isso não afetou a proposta da pesquisa que era de verificar a influência

da remuneração na atratividade da auditoria, especificamente na relação entre o grupo

experimental e controle.

4.9 Significância da Remuneração na Preferência Ocupacional

As mensurações e análises feitas anteriormente basicamente apresentaram as relações de

frequências e os níveis de associações das variáveis em estudo, evidenciando a influência do

fator remuneração na escolha de uma atividade profissional pelos alunos pesquisados. Com o

objetivo de enfatizar essas relações, este tópico tem a função de demonstrar por meio de

gráficos e testes estatísticos a influência da remuneração entre os grupos pesquisados.

É possível visualizar no Gráfico 12 que quando o estímulo da remuneração esteve presente

(grupo experimental), houve um acréscimo significativo no percentual de aceite das vagas

ofertadas. Em termos relativos esse acréscimo percentual corresponde a 25,98% para a

atividade de auditoria, 25,16% para a consultoria e 30,73% para analista financeiro. Esse

cenário indica que o estímulo da remuneração influenciou na atratividade de todas as

atividades profissionais analisadas, não somente na área de auditoria.

Gráfico 12. Comparativo de aceites das vagas entre controle e experimento

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124

A atividade profissional de analista financeiro foi a percebida pelos alunos do grupo de

controle como aquela menos atrativa, escolhida por 56,6% dos alunos participantes, seguida

pela atividade de auditor com 66,4% e de consultor com 67,2%. Nota-se que tanto a atividade

de auditor como de consultor teve praticamente o mesmo nível de preferência. Comparando o

grupo de controle e o experimental, observa-se no Gráfico 13 que o estímulo financeiro teve

sua maior influência na atividade de analista, apresentando acréscimo de 30,7% nas escolhas.

A atividade de auditoria e consultoria tiveram praticamente os mesmos percentuais de

acréscimo, conforme se observa nas linhas sobrepostas no Gráfico 13.

Gráfico 13. Efeito da remuneração na preferência das atividades profissionais

Os Gráficos 12 e 13 objetivaram explicitar o efeito do dinheiro nas preferências das atividades

profissionais em análise, onde visualmente foi possível perceber esse efeito. No entanto, com

o propósito de verificar o nível de significância estatística desse efeito, foi efetuado o teste de

Mann-Whitney. Para a realização desse teste foi utilizada a variável “percentual de aceite” em

cada uma das atividades e em cada grupo da pesquisa, possibilitando assim calcular uma

média de aceite de todas as profissões e para cada grupo e, conforme espelhado no Gráfico

14, obteve-se uma média de 63% de aceite para o grupo de controle e 91% para o grupo

experimental. Esses percentuais de aceite foram distribuídos para cada participante na

pesquisa, permitindo comparar os aceites do grupo de controle com os aceites do grupo

experimental.

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125

Gráfico 14. Média de aceites das vagas em cada grupo da pesquisa

Considerado uma alternativa ao teste paramétrico t, o teste Mann-Whitney é aplicado em

dados não paramétricos para testar se existe ou não diferenças de médias entre os grupos

amostrais. Conforme Fávero, Belfiore, Silva e Chan (2009), o teste Mann-Whitney é utilizado

para duas amostras independentes quando essa é pequena e/ou quando a hipótese de

normalidade for violada. Para verificar a normalidade dos dados da pesquisa, foi aplicado o

teste paramétrico de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk no SPSS versão 20.0, constatando

em ambos os testes, conforme Quadro 12, a não normalidade dos dados, uma vez que os

níveis de significância foram menores que 5%, ou seja, p-value < 0,05. Assim, tendo o

pressuposto de não normalidade dos dados da pesquisa, foi possível aplicar o teste Mann-

Whitney para verificar a existência de diferenças entre os grupos, ou seja, o nível de

significância das variações entre os grupos.

Grupos Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk

Statistic df Sig. Statistic df Sig.

Três Profissões 1,00 ,247 122 ,000 ,853 122 ,000

2,00 ,468 118 ,000 ,474 118 ,000

Quadro 09. Teste de Normalidade dos Dados

Com a utilização do software estatístico SPSS 20.0, precedeu-se a aplicação do referido teste

entre os grupos de controle e experimento em cada uma das atividades profissionais e, ao

final, o teste também foi aplicado para as três atividades profissionais simultaneamente

utilizando-se do escore médio de aceites. Os resultados apontaram para a rejeição da hipótese

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nula de não haver diferenças entre os grupos, ao nível de significância de 0,5%, evidenciando

para todas as profissões um p-valor < 0,000.

Grupos N Mean Rank Sum of Ranks

Auditor

1,00 122 68,99 8416,50

2,00 118 173,76 20503,50

Total 240

Quadro 10. Ranking do teste não paramétrico Mann-Whitney para atividade de auditoria

Auditor Consultor Analista Todas

Mann-Whitney U 913,500 918,000 1432,500 1233,000

Wilcoxon W 8416,500 8421,000 8935,500 8736,000

Z -12,612 -12,609 -11,466 -11,543

Asymp. Sig. (2-tailed) ,000 ,000 ,000 ,000

Quadro 11. Resultados dos testes não paramétricos para as três profissões

Outra análise efetuada com os dados da pesquisa foi a verificação da esperança E(x) de

remuneração para cada uma das atividades profissionais. Esse cálculo possibilitou verificar

qual o valor médio esperado de remuneração indicado pelos sujeitos da pesquisa em suas

escolhas profissionais. Para o cálculo da esperança de remuneração foi utilizado o valor de

cada categoria salarial multiplicada pela probabilidade de aceite nessas respectivas categorias,

o somatório do produto dessa multiplicação resultou na esperança de remuneração. Fávero et

al. (2009) descrevem a fórmula para esse cálculo da seguinte forma:

Em que o “x” representa as quatro categorias remuneratórias definidas como: 1.abaixo do

mercado, 2.média do mercado, 3.acima do mercado e 4.definida pelo aluno. As

probabilidades foram representadas pelo percentual de aceite verificado em cada uma dessas

categorias. O Gráfico 15 demonstra cada uma das categorias e suas respectivas probabilidades

de escolha.

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Gráfico 15. Percentual de aceite por classe de remuneração entre as profissões

Os resultados desses cálculos evidenciaram que a esperança de salário dos sujeitos

pesquisados ficou abaixo da média geral das categorias salariais definidas na pesquisa, ou

seja, os preços de referência dos alunos foram menores do que a média geral dos salários,

indicando a possibilidade de aceitar a vaga por um valor menor que a média geral.

Gráfico 16. Comparativo dos salarios médios aceitos versus média salarial da pesquisa

A esperança de remuneração para a categoria de auditor apresentou um valor de R$3.593,00,

enquanto que a média geral foi de R$4.419,00. Para a categoria de consultor e analista a

esperança foi de R$3.125,00 e R$2.900,00 respectivamente, conforme mostra o gráfico 16.

Em termos percentuais a auditoria foi a que apresentou maior diferenças nas médias

correspondendo a uma esperança salarial de 18,7% menor que a média apresentada na

pesquisa, enquanto que consultor e analista apresentaram 6,4% e 10,0% respectivamente.

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Uma possível análise que se depreende desse cenário, é que apesar da influência valor da

remuneração na atração das atividades profissionais, esses valores não se configuram pelo seu

valor máximo, nem mesmo pela média salarial ofertada, ficando abaixo dessa média, ou seja,

existe um preço médio de referência que possivelmente atrairá os candidatos e o

conhecimento desse preço de referência poderá ser um diferencial competitivo das

organizações empregadoras. Em síntese, os resultados apresentados nessa pesquisa

demonstram que o fator remuneração teve influência na preferência das atividades

profissionais (demonstradas pelos sujeitos pesquisados) e com isso foi alcançado o propósito

inicial da pesquisa. Por fim, considerando todas as análises e mensurações efetuadas neste

capítulo, são apresentadas no próximo capítulo as conclusões advindas dessas análises.

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5 CONCLUSÃO

O objetivo desse capítulo é apresentar os achados que emergiram nesta investigação por meio

de uma síntese, oferecendo assim, as referidas conclusões aos possíveis interessados nesta

pesquisa. Contém ainda as limitações verificadas bem como as sugestões para futuras

investigações.

5.1 Conclusão da Pesquisa e Recomendações

A presente investigação teve como principal objetivo verificar se a percepção dos alunos do

curso de Ciências Contábeis sobre o valor da remuneração em início de carreira poderia

influenciar na atratividade da auditoria como uma opção profissional, possibilitando assim

perceber se existe influência da remuneração na preferência por essa atividade profissional.

Para alcançar tal objetivo, foi definido o desenho quase-experimental como estratégia de

pesquisa, cuja principal característica foi a seleção da amostra dos participantes de forma não

aleatória, somente a distribuição dos participantes aos grupos de controle e experimental foi

feita de forma aleatória (por ordem de acesso à pesquisa).

A literatura levantada sobre o tema preferência ocupacional, geralmente investiga os atributos

relacionados ao trabalho que podem ter influência na preferência ou escolha de uma atividade

profissional e quase sempre esses atributos são apresentados numa ordem hierárquica de grau

de importância ou mesmo destacando aqueles significativamente mais influentes, os fatores

chaves. Essa mesma literatura ainda indica que esses atributos mudam em relação à

permanência (retenção) e ao desempenho no trabalho e conforme destaca Levenson, Fenlon e

Benson (2010), as pessoas tem uma constelação de interesses pessoais que variam durante o

curso da carreira profissional. Esse contexto indica que uma visão mais abrangente deve

nortear as pesquisas sobre atração, desempenho e retenção de pessoas. O que diferencia a

proposta dessa pesquisa é justamente entender o impacto de um único fator sobre a

preferência por uma atividade profissional, possibilitando assim entender a importância desse

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fator na atração da ocupação, mesmo concordando que o fator estudado não é o único nem o

mais importante que motiva na escolha de uma carreira profissional.

A amostra da pesquisa foi composta por 240 alunos vinculados às instituições públicas de

ensino superior, com origem principalmente na região sul, sudeste e centro-oeste. Sendo a

maioria (75%) desses participantes pertencentes à geração Y com idades entre 20 a 26 anos e

com leve predominância da participação feminina representando 56% dos pesquisados. A

renda familiar indicou que quase a metade (44,6%) da amostra pertence à classe C, seguida

pela classe B com 24,6%.

As mensurações e análises nos dados da referida amostra foram efetuadas para todas as

atividades profissionais definidas na pesquisa, possibilitando verificar a influência do fator

remuneração na atratividade de cada atividade profissional e suas respectivas associações.

Essa influência foi analisada basicamente por meio da confrontação entre o grupo de controle

e o experimental. Os achados da pesquisa, no geral, evidenciaram a influência do fator

remuneração na atratividade para todas as atividades profissionais analisadas, os quais foram

apresentados na sequência dando ênfase à atividade foco do estudo, a auditoria.

A primeira hipótese (H1) levantada na pesquisa foi de que a preferência pela atividade de

auditoria é influenciada pelo valor da remuneração entre os alunos do curso de Ciências

Contábeis. Comparando os grupos de controle e experimental, mesmo sem considerar as

valências demonstradas inicialmente pelos participantes, foi possível evidenciar que quando a

informação sobre remuneração esteve presente (grupo experimental), houve alteração

significativa no percentual tanto de aceitação como de rejeição. O nível de significância

demonstrado pelas medidas de associações realizadas foi de aproximadamente 0,30, o que

evidencia indícios de associação entre a variável decisão pela auditoria e o estímulo

financeiro. Também foi efetuado o teste não paramétrico de Mann-Whitney com a variável

“percentual de aceite” entre os grupos controle e experimento, cujo resultado indicou a

influência do fator remuneração no aceite das vagas, apresentando um p-valor < 0,000.

Portanto, é possível aceitar a hipótese formulada, mesmo antes de considerar as valências da

referida atividade.

As mensurações efetuadas para as atividades de consultor e analista também apresentaram

indícios de associação semelhantes à do auditor, com os índices variando entre 0,30 a 0,33

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131

respectivamente, permitindo relacionar a influência da remuneração nessas atividades

também. Sendo confirmada essa influência também pelo teste Mann-Whitney.

Com a inclusão dos indicadores de valência baseados nos pressupostos da teoria da

expectativa em seu modelo de preferência, constatou-se que a relação entre decisão pela

auditoria e o estímulo remuneração tornou-se ainda mais evidente. Os testes estatísticos

efetuados indicaram não haver associação entre os grupos de indivíduos que apresentaram um

alto nível de valência (preferência) pela atividade de auditoria, ou seja, a influência da

remuneração para esses indivíduos foi praticamente nula ou inexistente, não influenciando na

decisão de aceitar a vaga de trabalho. Essa constatação na pesquisa corrobora os pressupostos

da teoria da expectativa a qual prevê que indivíduos que apresentam alto nível de valência por

determinada atividade profissional irão escolher a respectiva atividade, independentemente

dos estímulos apresentados, pois os resultados esperados com a decisão já foram computados

no nível de valência anterior.

Com os resultados da pesquisa é possível aceitar a segunda hipótese (H2) levantada de que os

indivíduos que se declaram inicialmente atraídos pela atividade de auditoria NÃO

apresentarão diferenças significativas em relação à probabilidade de aceitar uma oferta de

trabalho na área de auditoria externa, independentemente do fator remuneração.

Por outro lado, os grupos de sujeitos que apresentaram baixo nível de valência pela auditoria,

tiveram seus escores mudados significativamente. Os testes estatísticos realizados indicaram

haver um nível de associação moderada de aproximadamente 0,40 numa escala de 0 a 1.

Nessa situação, em que o nível de valência para determinada atividade ocupacional é baixo, a

teoria prevê que os indivíduos evitariam optar por essa atividade, contudo, não foi o que

ocorreu quando o estímulo remuneração esteve presente. Os grupos (controle e experimento)

apresentaram variações percentuais inversas em relação ao aceite e não aceite da vaga,

conforme o esperado pela influência do fator remuneração. Isso significou uma diminuição

das rejeições de 57,4% para 15,8% e um aumento no aceite 42,5% para 84,2% em relação aos

grupos e aos sujeitos com escore de valência baixo.

Com essas variações e níveis de associação apresentadas é possível aceitar a terceira hipótese

(H3) de que os indivíduos que se declararam inicialmente NÃO atraídos pela atividade de

auditoria apresentarão diferenças significativas em relação à probabilidade de aceitar uma

oferta de trabalho na área de auditoria externa, quando o fator remuneração estiver presente.

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Em relação à resposta da questão de pesquisa formulada, (O fator remuneração influencia de

maneira significativa na preferência dos possíveis candidatos (ou novos entrantes) para a

atividade de auditoria independente no Brasil?) é possível concluir, em consonância com os

achados apresentados no capítulo anterior, que há evidências da influência do fator

remuneração na preferência pela auditoria como uma atividade profissional e que essa

influência em termos de medidas, conforme as análises não paramétricas (medidas de

associação) realizadas corresponderam a um escore aproximado de 30% a 40% na preferência

pela atividade de auditoria, dependendo das relações entre as variáveis que são observadas. Os

testes não paramétricos também confirmaram essa influência, mostrando a existência da

diferença de média entre o grupo que teve o estímulo financeiro e o grupo sem esse estímulo.

Com isso, também é possível confirmar a tese inicialmente proposta neste trabalho.

Outra análise efetuada e que resultou em um dos achados dessa pesquisa refere-se à

associação entre a variável nota média geral no curso e a preferência ocupacional. Os dados

analisados apontaram um índice de associação de aproximadamente 0,30 numa escala de 0 a

1, para todas as profissões pesquisadas. Mesmo com indicativo de moderada associação, essa

variável deve ser considerada no contexto da atratividade ocupacional, até porque, em uma

análise mais especifica dos dados, ficou evidenciado que aqueles alunos que apresentaram as

notas médias mais altas (acima de 9,0) somente aceitaram as vagas de trabalho pelo maior

salário, na terceira oferta ou estipulando o seu valor de referência.

Essa relação não foi percebida entre a variável renda familiar e preferência ocupacional, uma

vez que os cálculos de associação apresentaram índices variando entre 0,10 a 0,15, indicando

uma fraca associação entre elas. Nessa configuração de pesquisa e considerando as devidas

limitações, é possível inferir que a variável renda familiar não teve influência na preferência

das ocupações. Por outro lado, é uma variável que merece mais atenção para auxiliar no

entendimento de sua importância na motivação pelas escolhas profissionais.

Em função da forma como foi estruturada a pesquisa, tendo como foco os alunos em final de

curso, não foi possível analisar possíveis diferenças ou influência da remuneração entre as

gerações, pois a amostra pesquisada se caracterizou basicamente por sujeitos pertencentes à

geração Y. Os achados dessa pesquisa evidenciaram que os principais motivadores de

trabalho em ordem de importância foram 1. Oportunidade de avanço na carreira, 2.

Estabilidade e segurança no trabalho e 3. Conseguir alta remuneração. Esses achados foram

similares aos resultados da pesquisa de Leschinsky e Michael (2004), com sujeitos da geração

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Y, que apresentaram como principais motivadores 1. bom salário e 2. estabilidade de

emprego. Nota-se que mesmo em diferentes configurações de trabalho os atributos

motivacionais são os mesmos, somente a ordem de importância não é idêntica, observa-se

também que a variável remuneração/salário aparece como um dos principais atributos de

preferência.

Ainda no contexto de gerações a recente pesquisa de Rendell e Brown (2011) evidencia que

os três principais atributos de atratividade de um empregador relatados por integrantes da

geração Y ou geração do milênio são: 1. Oportunidade de progressão na carreira (52%),

seguida por 2. Incentivos Financeiros e Salários Competitivos (44%) e 3. Programas de

desenvolvimento e treinamento (35%), corroborando ainda mais os achados da presente

pesquisa, evidenciando certa semelhança em relação aos atributos de atividades mais

preferidas por essa geração.

Vale destacar que a pesquisa de Rendell e Brown (2011) foi realizada com mais de quatro mil

alunos recém-graduados entre 75 países. Apesar de mencionar em suas análises sobre a

importância da remuneração como um atributo de atração, os autores mencionam que os

integrantes da Geração do milênio (geração Y) são atraídos para os empregadores que podem

oferecer mais do que simplesmente bom salário. É evidente que o fator remuneração não é um

simples atributo, até pelo fato de se configurar como um dos mais valorados por essa geração.

O que se conclui com essas observações é que a remuneração tem uma importante influência

na atração por determinadas ocupações, não podendo ser considerada como um simples fator

ou um fator de menor importância. Especificamente no contexto dessa pesquisa, a

importância foi evidenciada quando a proporção de aceite das vagas foi relativamente maior

quando a informação sobre remuneração esteve presente.

Em sintonia com essa linha de pensamento, a pesquisa de Aiman-smith et al. (2001) evidencia

que a variável pagamento emergiu como um forte indicador na intenção de seguir um

determinado trabalho. Em uma análise geral tanto da literatura abordada quanto dos

resultados emergidos, fica evidente que olhar somente para a questão da remuneração (fator

extrínseco) quando da elaboração de uma política de atração de candidatos pode não ser a

melhor estratégia, por outro lado não dar a devida atenção a esse fator, como sugerem

algumas pesquisas, também pode não ser a melhor forma de agir. Convergindo assim com os

resultados da investigação de Kuchinke e Cornachione Jr. (2010) de que é necessário

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balancear os aspectos intrínsecos e extrínsecos quando relacionados aos valores e preferências

pessoais de trabalho.

Implicações desse estudo para as firmas de auditoria é que sabendo da importância da

remuneração para o seu público alvo, suas políticas de atração poderiam contemplar ou talvez

dar mais ênfase à divulgação da informação sobre remuneração. Quanto o candidato ganhará

sendo um auditor júnior? Caso a remuneração não seja competitiva em relação às outras

atividades, a sugestão aqui é entender o preço de referência do seu público alvo e ajustá-la de

forma a atrair os candidatos mais bem qualificados. Ressalta-se que, conforme evidenciado

nessa pesquisa, o preço de referência dos alunos com as melhores notas são superiores aos

demais e se considerar a nota no curso como um requisito de qualificação, para atraí-los deve-

se ter o conhecimento desse preço de referência.

Tanto as instituições de ensino como os órgãos de classe também podem se beneficiar dos

resultados aqui apresentados, uma vez que sabendo da importância da remuneração na atração

para a atividade, podem desenvolver estratégias juntamente com as empresas de auditoria no

sentido divulgar os benefícios financeiros acoplados à profissão. Por fim, considerando todos

os resultados apresentados dessa investigação pode-se dizer que os objetivos inicialmente

propostos foram todos alcançados.

5.2 Limitações

Os resultados apresentados nesse estudo estão sujeitos a uma série de limitações comuns a

esse tipo de pesquisa, sendo a principal delas a restrição dos achados a uma possível

generalização, estando esses resultados estritamente relacionados à amostra pesquisada.

Apesar dessa restrição, a confiabilidade da amostra foi percebida em dois momentos, o

primeiro está relacionado aos alunos (sujeitos da pesquisa) que possivelmente estão em um

momento de definição de suas atividades profissionais e que são possíveis candidatos a uma

vaga nas profissões pesquisadas, com isso suas respostas podem representam adequadamente

o que foi constatado na pesquisa; o segundo momento foi a semelhança dos resultados entre o

grupo principal (universidades) e o grupo secundário (congresso) indicando que a amostra foi

representativa da população, ainda que não possa se fazer inferências para além do escopo

pesquisado.

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135

O tamanho da amostra também foi percebido como um fator limitador dessa pesquisa,

considerada reduzida em relação à população. Esse fator também remete aos aspectos da

impossibilidade de fazer qualquer tipo de generalização, ficando restrito à amostra

pesquisada.

A tarefa de escolher ou demonstrar preferência pelas vagas ofertadas na pesquisa permaneceu

um tanto abstrata, pois não tem um caráter de uma decisão real na vida dos respondentes.

Também, os cenários apresentados sobre as ofertas de vagas não representam completamente

uma situação real e consequentemente podem impactar em uma decisão real. Por outro lado,

contrapondo essa limitação, a tarefa de escolher uma vaga de trabalho em uma das atividades

profissionais oferecidas está intrinsecamente relacionada aos sujeitos da pesquisa,

representando uma tarefa que se aproxima da realidade vivenciada por eles, ou seja, época em

que estão definindo a atividade/área profissional que irão seguir.

Reconhecendo as referidas limitações, acredita-se que os resultados desse estudo indicam

algumas direções que podem ser úteis para mudanças e que podem melhorar a atratividade da

carreira de auditor para os alunos mais qualificados ou os “talentos”, os quais as firmas de

auditoria, os órgãos profissionais bem como as instituições de ensino estão procurando atrair.

5.3 Sugestões para Investigações Futuras

Ficou evidente pela literatura pesquisada que os requisitos de atração, de retenção e de

desempenho, em configurações de trabalho, se diferem entre si, com mudanças em função do

tempo e nas motivações internas e externas de cada pessoa. Especificamente em relação ao

campo da atração, ficou evidente também a necessidade de mais pesquisas que possam

melhorar o entendimento dessa realidade e subsidiar as pessoas ou entidades que tenham

interesse em conhecer os mecanismos de atração de novos candidatos para a organização ou

para a área de conhecimento.

Os resultados apresentados nessa pesquisa sugerem que a remuneração tem influência na

atratividade das atividades profissionais analisadas. A partir desses achados sugere-se que

mais pesquisas possam ser desenvolvidas no sentido de acrescentar mais conhecimentos sobre

os requisitos de atração das profissões, possibilitando às organizações desenvolver suas

estratégias de atração mais alinhadas com as preferências de seu público alvo. Essa carência

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136

de pesquisa foi percebida principalmente na literatura nacional e isso faz com que o tema

possa ser amplamente explorado por pesquisadores brasileiros.

Sugere-se também que as futuras pesquisas no contexto de preferência ocupacional sejam

empreendidas com estratégias de pesquisas diferenciadas daquelas denominadas

levantamentos, em que o sujeito é questionado diretamente sobre a importância de

determinadas variáveis no contexto de trabalho. Especificamente em relação à importância do

dinheiro como um fator de preferência, a investigação de Rynes et al. (2004), revelou que

existe discrepância entre o que as pessoas dizem e o que as pessoas fazem. Por isso, a

sugestão de aplicar outras estratégias de pesquisa, objetivando identificar a importância das

variáveis relacionadas à atração. Uma das estratégias que poderiam ser utilizadas é o desenho

experimental, podendo revelar relações de causa e efeito entre as variáveis pesquisadas.

Organizações que desenvolvem atividades relacionadas à auditoria, geralmente apresentam ao

seu público alvo, o pacote de recompensas como um diferencial competitivo em relação às

outras organizações concorrentes. Esse contexto implica em uma possível vertente de

pesquisa a qual poderia investigar qual a influência desses pacotes de benefícios na

atratividade da profissão.

Existem vários outros fatores que podem interagir com a atratividade de uma ocupação, mas

que não foram objeto de análise nesse estudo e que poderiam ser investigados pelos

pesquisadores da contabilidade de forma a permitir que as organizações e demais interessados

possam entender mais sobre os fatores de atratividade da profissão como, por exemplo, o fator

reputação da organização, pesquisado por Cable e Graham (2000); a questão vocacional

alinhada às pesquisas na área da psicologia. Futuras pesquisas também poderiam investigar as

motivações para a saída da profissão, por que o indivíduo entra na profissão de auditor e após

um período de tempo ele deixa esta área. Por fim, deixamos como proposta de investigações

futuras a verificação do perfil profissional demandado pelo mercado de trabalho da auditoria

considerando a dinâmica deste mercado na atualidade, que poderia esclarecer se a formação

acadêmica nos cursos de contabilidade está alinhada às necessidades desse mercado de

trabalho.

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137

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A P Ê N D I C E

Instrumento de Coleta dos Dados aplicado via web

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