expansão marítima

11
Expansão Marítima Expansão Marítima O início dos tempos modernos foi mar cado pelo encontro de dois mundos que se ligariam de forma defi- nitiva na História. De um lado, o mundo europeu po- deroso e cruel no tratamento com os povos conquista- dos. De outro, as regiões descobertas da África, Ásia e América, que os europeus passaram a chamar de Novo Mundo. A conquista dessas áreas inaugurou um longo tempo de domínio, destruição e grandes mudanças para ambas as partes, deixando uma herança que até hoje marca a história desses povos. O ponto de partida foi o despertar de duas nações - Portugal e Espanha, que tomaram a dianteira na aventura das Grandes navegações. Para compreender essa história devemos retroceder um pouco no tempo, escolhendo como ponto de partida, a ocupação da península ibérica pelos árabes no século VIII. Nessa época, as tropas mouras atravessaram o estreito de Gibraltar, derrotando os cavaleiros cristãos. O estrago só não foi maior, porque os francos impediram a expansão islâmica pelo resto do conti- nente, na batalha de Poitiers, em 721. Po- rém a península qua- se que inteira foi ocu- pada pelos árabes durante várias déca- das. A partir do século XII, na mesma época das Cruzadas, juntaram-se vários nobres católicos, sob o comando dos su- seranos de Leão, Castela, Navarra e Aragão. A empreita- da cruzadista reuniu combatentes ávidos pela conquista de novas terras. Dentre esses, destacou- se o duque de Borgonha, famoso pelas suas vitórias. Como prêmio o duque de Borgonha recebeu as terras do Condado Portucalense, que se tornaria o embrião de Portugal. A região embora interligada geo- graficamente, desde cedo, apresentou características autonomistas. Enquanto isso, os reinos cristãos ibéricos que se formavam continuavam sua luta contra os mouros. Muitas vezes lutavam entre si o que facilitava o separatismo do Condado Portucalense em relação ao restante. Daí foi uma passo para a formação do Estado português. Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”. Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: “Viver não é necessário; o que é necessário é criar”. Fernado Pessoa. Obra Poética O ALTO-MAR ERA PARA OS NAVEGADORES DO SÉCULO XV O QUE O ESPAÇO É PARA OS ATUAIS ASTRO- NAUTAS - COM A DIFERENÇA DE QUE O NAVEGADOR SABIA MENOS PARA ONDE IA E TINHA MENOS ESPERANÇA DE VOLTAR. 1 Uma vez que um navio entrava nas vastidões não cartografadas do oceano, ficava sujeito a todos os caprichos extremos do tempo

Upload: aulas-de-historia

Post on 30-Jun-2015

28.914 views

Category:

Education


9 download

DESCRIPTION

Texto de minha autoria sobre a Expansão Marítima

TRANSCRIPT

Page 1: Expansão Marítima

ExpansãoMarítima

ExpansãoMarítima

O início dos tempos modernos foi marcado pelo encontro de doismundos que se ligariam de forma defi-

nitiva na História. De um lado, o mundo europeu po-deroso e cruel no tratamento com os povos conquista-dos. De outro, as regiões descobertas da África, Ásiae América, que os europeus passaram a chamar deNovo Mundo.

A conquista dessas áreas inaugurou um longotempo de domínio, destruição e grandes mudanças paraambas as partes, deixando uma herança que até hojemarca a história desses povos. O ponto de partida foio despertar de duas nações - Portugal e Espanha, quetomaram a dianteira na aventura das Grandesnavegações. Para compreender essa história devemosretroceder um pouco no tempo, escolhendo comoponto de partida, a ocupação da península ibérica pelosárabes no século VIII. Nessa época, as tropas mourasatravessaram o estreito de Gibraltar, derrotando oscavaleiros cristãos.

O estrago sónão foi maior, porqueos francos impedirama expansão islâmicapelo resto do conti-nente, na batalha dePoitiers, em 721. Po-rém a península qua-se que inteira foi ocu-pada pelos árabesdurante várias déca-das.

A partir doséculo XII, na mesmaépoca das Cruzadas,juntaram-se váriosnobres católicos, sobo comando dos su-seranos de Leão,Castela, Navarra eAragão. A empreita-da cruzadista reuniucombatentes ávidospela conquista de novas terras. Dentre esses, destacou-se o duque de Borgonha, famoso pelas suas vitórias.

Como prêmio o duque de Borgonha recebeu asterras do Condado Portucalense, que se tornaria oembrião de Portugal. A região embora interligada geo-graficamente, desde cedo, apresentou característicasautonomistas. Enquanto isso, os reinos cristãos ibéricosque se formavam continuavam sua luta contra osmouros. Muitas vezes lutavam entre si o que facilitavao separatismo do Condado Portucalense em relação aorestante. Daí foi uma passo para a formação do Estadoportuguês.

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não épreciso”.

Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com oque eu sou: “Viver não é necessário; o que é necessário é criar”.

Fernado Pessoa. Obra Poética

O ALTO-MAR ERA PARAOS NAVEGADORES DO

SÉCULO XV O QUE O ESPAÇOÉ PARA OS ATUAIS ASTRO-

NAUTAS - COM A DIFERENÇADE QUE O NAVEGADOR

SABIA MENOS PARA ONDE IAE TINHA MENOS ESPERANÇA

DE VOLTAR. 1

Uma vez queum navioentrava nasvastidões nãocartografadasdo oceano,ficava sujeitoa todos oscaprichosextremos dotempo

Page 2: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

Com efeito, a Guerra de Reconquista, como échamada, influiu decisivamente na organização do jo-vem Estado. Diferente de outras monarquias onde aautoridade real era tolhida por uma série de limites. Por-tugal desde o início teve o rei congregando apoio nosdiferentes segmentos da sociedade. Na época feudal aregião não teve vínculos fortes de ordem pessoal.Eduardo Oliveira, historiador, caracteriza como feuda-lismo frustrado, onde a terra conquistada não traziadelegações de poder hereditário. As instituiçõesmunicipais eram vinculadas ao rei que tinha amplospoderes. Além disso, o conflito com os árabes refoçoua liderança real, com apoio dos nobres, burguesia, cleroe do povo em geral.

PORTUGAL E A CRISE DO SÉCULOXIV

O Estado português era no início doséculo XIV, uma economia predominantemen-te agrária. Porém aos poucos se desenvolveuno litoral uma atividade pesqueira bastante ren-tável. Com a pesca de sardinha os portugue-ses progrediram rapidinho para espécies maio-res, como o atum e a baleia. Muitas cidadescresceram em decorrência do mercado pesquei-ro. A rota de comércio que ligava o sul ao norteda Europa incluía Portugal como parada obri-gatória dos navios que se dirigiam para a prós-pera região de Flandres, no norte do continente.

No século XIV houve a Peste Negra.Como a península Ibérica foi menos atingida,houve um benefício comercial e a regão setorrnou um porto mais ou menos seguro, aocontrário de outros lugares, onde ocorreu o declínio daatividade comercial. Como afirma Ricardo Maranhão:

“A formação de uma burguesia mercantil nos portoslusitanos foi facilitada, sob certos aspectos, pela pró-pria crise do século. As rotas terrestres que ligavamos dois pólos de comércio do baixo medievo, Itália eFlandres, haviam-se tornado perigosas pelas revol-tas camponesas, pela guerra e pela violência dafome”.

Como na época das Cruzadas, a geografia dePortugal beneficiou-o: os mercadores flamengos e ita-lianos passaram a dar preferência à rota marítima decabotagem que, ultrapassando Gibraltar, fazia esca-la nos portos lusos. Évora, Lisboa, Porto e outras ci-dades puderam participar de grandes negócios mer-cantis. Para fortalecer a burguesia nascente e apro-veitar-se do comércio intermediário, muitos genoveses,florentinos, flamengos e judeus se estabeleceram de-finitivamente nos principais portos do reino”. 2

A reconquista dapenínsula Ibéricafoi empreendidapelos reinoscristãos do nortea partir do séculoXI. Pode seobservar nomapa: à medidaque as vitóriassobre osmuçulmanos sesucediam, osreinos cristãos,cada vez maisextensos, seuniam. Fonte:História Modernae Contemporânea.Leonel Itaussu eLuís César Costa.pág 23

A batalha de Aljubarrota, em abril de 1385, foidecisiva para a coroação de D.João de Avis

Page 3: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

No fim desse mesmo século morreu o últimodescendente da dinastia Borgonha, sem deixar umherdeiro varão. Como a herdeira do trono era casadacom o rei de Castela, havia o perigo da anexação dePortugal. Os portugues se rebelaram e após dois anosde lutas sangrentas venceram os ibéricos eempossaram o duque de Avis com apoio da burguesiae a nobreza. A “Revolução de Avis” embora não tenhalevado a burguesia ao poder, deixou-a na confortávelsituação de interferir mais diretamente nos negóciosdo Estado.

Essa relação essencial entre centralizaçãopolítica e início da expansão possibilita o chamadopioneirismo português, ou seja, a expansão ultra-marina explicita o capitalismo comercial portuguêsque só é possível graças ao Estado centralizado.Por sua vez, a Revolução de Avis é o momento de suapartida para a modernidade. A base social da revo-lução (grupos mercantis) imprime forma, auxiliadapelos interesses reais, promovendo o alargamentodo comércio português. Dessa maneira, Portugalreúne condições propícias para a expansão: cen-tralização política, acumulação prévia de capital,grupo mercantil forte e com influência junto aosinteresses mercantis reais.” 3

RUMO À EXPANSÃO MARÍTIMA

Depois da consolidada a centralização políticacom a dinastia de Avis, a monarquia portuguesa deuinício a conquista de regiões próximas ao territórioportguês. Nessa perspectiva se enquadravam asregiões do norte da África, produtoras de trigo, bemcomo rotas de ouro no Saara. No estreito de Gibraltarestava a cidade de Ceuta que era um grande entrepostode comércio. Com a conquista da cidade osportugueses pretendiam diminuir a dependência dosmercadores de Veneza, que tinham o monopólio decomércio no Mediterrâneo.

Além disso a conquista de Ceuta tinha oincentivo da Igreja queapoiava qualquer empreitada queresultasse em prejuízo para os mouros islâmicos. O norteda África ainda estava entulhado de guerreiros de Alá,que ameaçavam a península Ibérica. A Igreja Católicaapoiou a expansão portuguesa, dando-lhe um carátercruzadista retomando o espírito cristão das cruzadas deJerusalém. Na dobradinha com a Igreja, as expediçõespassaram a ter um verniz cristão, o que encobria o carátercomercial do empreendimento.

As novidades tecnológicas do RenascimentoCultural também favoreceram os portugueses. No sé-culo XIV propagou-se o uso da pólvora, além da bússolae o astrolábio. Utilizadas em conjunto essas invençõesderam supremacia aos lusitanos, impossibilitando umareação mais eficaz dos povos conquistados.

O Tempo da História

1280

FORMAÇÃO DE PORTUGAL

1385

REVOLUÇÃO DE AVIS

1415

CONQUISTADE CEUTA

1488

CABO DASTORMENTAS 1492

CONSOLIDAÇÃO DA ESPANHA

1453

TOMADA DE CONSTANTINOPLA

1498

VASCO DA GAMA NAS

ÍNDIAS

Umcartógrafoholandêstrabalhaentremapas; umglobo eoutrosacessóriosdo seu ofício

Page 4: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

Outra novidade foi onavio à vela, de manejo fácil permitindo

suportar distâncias mais longas. A vela era usada emnavios antigos, mas o novo formato triangular e o teci-do mais resistente permitiam a navegação com ventocontrário, o que representava uma revolução na arte denavegar.

“Só o navio europeu podia ir a toda parte. Oleme axial com charneira de cadaste, inventado noséculo XIII, possuía uma forte ação sobre a água, gra-ças ao longo safrão. O grande braço de alavanca aolado do timoneiro multiplicava a força do homem e,no decorrer do século, os europeus aprenderam a apli-car o cabrestante ao leme, a partir de então dotadode uma roda de fácil manobra. As dimensões do lemetornaram-se ilimitadas, conseqüentemente as dimen-sões do navio e o volume aumentaram tanto quanto opermitia a madeira em construção”.

Os europeus eram os únicos que sabiam deter-minar com suficiente exatidão o ponto de partida, adireção em seguida, o ponto em que se encontravamem dado momento em pleno mar, o ponto de chegada,e que atribuíam a tais conhecimentos um valor uni-versal, transmitindo-os mediante processos acessíveisà razão de qualquer homem. Os chineses não se servi-am da bússola e se orientavam pelas estrelas. Do mes-mo modo procediam os polinésios, que dispunham,além disso, desse estranho e inexplicável instinto pri-mitivo, que lhes permitia em seus mares, sem qualquer

costa visível, voltar-se para a direção certa. Os pro-cessos permaneciam empíricos, de valor exclusiva-mente local, incertos e dificilmente transmissíveis”.4

A CONQUISTA DA ÁFRICA

Começando as grandes conquistas os portu-gueses ocuparam a rica cidade de Ceuta, no norte daÁfrica.Além do mais, a região se adequava ao plantiode algodão, trigo e cevada, sua localização era exces-sivamente privilegiada, situada no ponto mais extremodo estreito de Gibraltar.

Contrariando o que se esperava os muçulma-nos driblaram os cristãos, desviando a rota de Ceutapara outras regiões do Mediterrâneo. Isso deixou acidade esvaziada de sua riqueza, ofuscando o sucessomilitar. O prejuízo comercial serviu de lição e ajudouna partcipação mais consistente da Escola de Sagres,comandada pelo infante D. Henrique.

No mapa vocêobserva aprimeira etapada expansãoportuguesa como ataque àCeuta, no norteda África. Fonte:Leonel Itaussue Luís Costa.opcit.

“QUANDO AS JORNADAS ÉPICAS DOS SÉ-CULOS XV E XVI COMEÇARAM A TRANSFORMARA VISÃO DE MUNDO DO HOMEM OCIDENTAL,SURGIU A PROCURA DE CARTAS E MAPAS MAISEXATOS. A GEOGRAFIA FANTASIOSA DA AN-TIGUIDADE - QUE REPRESENTAVA A TERRACOMO UMA MASSA TERRESTRE ÚNICA INTER-LIGADA E CERCADA DE MARES DESCONHECI-DOS - CEDEU LENTAMENTE O PASSO A LEVAN-TAMENTOS BASEADOS NA OBSERVAÇÃO DIRE-TA, COM A AJUDA DE NOVOS INSTRUMENTOSDE NAVEGAÇÃO. ASSIM, COM CRESCENTE PRE-CISÃO, AS COSTAS FORAM DETERMINADAS, ASROTAS MARÍTIMAS CARTOGRAFADAS, OS MA-RES SONDADOS E A DIREÇÃO DOS VENTOSAUSPICIOSOS CUIDADOSAMENTE ANOTADA. ”5

Page 5: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

A escola que era um centro de estudos náuticosextrapolou sua finalidade original e transformou-se nocentro financeiro das expedições. Todos os passoseram decididos na escola de Sagres. Na verdade, comoafirma, Eduardo Bueno, a escola só existiu no sentidofilosófico da palavra, pois não houve o espaço físicopodendo-se se considerar como Escola de Sagres todoum conjunto de decisões que nortearam a expansão.

Por trás da Escola de Sagres estava a Ordem deCristo, originada da antiga Ordem dos Templários, queextinta na França, por ameaçar a Igreja Católica. A Or-dem que era muito rica foi acolhida em Portugal, de-pois da expulsão do território francês. Além do inte-

resse econômico a Ordem via nas ex-pedições a chance de expandir o ca-tolicismo. Em conseqüência os na-vios adornavam as velas com a cruzde malta que era o símbolo da Ordemde Cristo.

“Vários mapas da época nem sequer se preocu-pavam em tentar reproduzir a distribuição espacial

de continentes, países e mares so-bre a Terra. Os mapas mais pa-recidos com os que conhece-mos atualmente demonstramque os europeus tinham umaidéia muito vaga ou não ti-nham idéia alguma sobre oscontinentes e oceanos: ge-ralmente a América nãoaparecia, a África e a Ásiaeram disformes, assim comoos oceanos; vários dese-nhos, dispostos por todo omapa e em suas bordas,

misturavam elementos reais,relativos à vegetação, fauna, relevo, etc. , comfantasias...Os europeus do século XV misturavam co-nhecimento geográficos com lendas, realidade, comimaginação. Acreditavam, por exemplo, na existênciade um país imaginário, Offir, de onde teriam se origi-nado todos os tesouros do rei Salomão.” 6

Em 1419, os portugueses ocuparam o arquipéla-go de Açores. Em 1434, contornaram o cabo Bojador,que segundo a crença, era o ponto final do OceanoAtlântico. No litoral africano fundaram inúmeras feitorias– praças fortificadas de embarque de mercadorias. Nasfeitorias se apropriaram das riquezas locais, sobretudoa pimenta e o marfim que eram obtidos através doescambo. Em pouco tempo obtiveram os escravos emtroca de objetos de metal e outras mercadorias debaixíssimo valor, quinquilharias e bijuterias.

Os escravos se tornaram a mercadoria maisvalorizada. Em Portugal foram utilizados no serviçodoméstico, mas o emprego dessa mão-de-obra se deuprincipalmente, na agricultura canavieira de Açores,Madeira e Cabo Verde, e mais tarde no Brasil.

“EM VISTA DASTREVAS E DA ESCURIDÃO

DO NEVOEIRO, QUASEÍAMOS BATER NAS PEDRASE NAS ILHAS ANTES DE VÊ-LAS. MAS DEUS CUIDOU DE

NÓS, ROMPENDO ONEVOEIRO PARA QUEPUDESSEMOS VER.“

Diário de Bordo - 1457.

MAR PORTUGUÊS

Ó MAR SALGADO, QUANTO DO TEU SALSÃO LÁGRIMAS DE PORTUGALPOR TE CRUZARMOS, QUANTAS VEZES MÃESCHORARAM.QUANTOS FILHOS EM VÃO REZARAM!QUANTAS NOIVAS FICARAM POR CASARPARA QUE FOSSES NOSSO, Ó MAR!

VALEU A PENA? TUDO VALE A PENASE A ALMA NÃO É PEQUENA.QUEM QUER PASSAR ALÉM DO BOJADORTEM QUE PASSAR ALÉM DA DOR.DEUS AO MAR O PERIGO E O ABISMO DEU.MAS NELE É QUE ESPELHOU O CÉU.

FERNANDO PESSOA . OBRA POÉTICA .

A bússola erausada nanavegação doséculo XIII esofreutransformaçõespara ser adaptadano balanço donavio no períododosdescobrimentos

Page 6: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

Foi nesse período, que os turcos otomanos do-minaram Constantinopla, em 1453. Com o domínio turcoas mercadorias que utilizavam essa rota de comérciotornaram-se mais carasdiminuindo a importância doMediterrâneo. O “bloqueio”de Constantinopla incentivoua procura de uma nova rotaque os levasse às Índias enessa perspectiva osportugueses estavam nametade desse caminho.

“A Coroa portuguesa acreditava, sobretudodurante o reinado de D.João II (1481-91), ser o se-gredo a alma do negócio - e manteve sempre em gran-de sigilo os objetivos e os resultados de suas navega-ções. Há indícios de que nos anos 1470 os portugue-ses já tivessem começado a considerar seriamente apossibilidade de contornar a África ou até mesmo deatravessar o Atlântico para alcançarem por mar osricos mercados da Índia.” 7

Em 1488, Bartolomeu Dias contornou o Cabodas Tormentas, que mudou o nome para Cabo da BoaEsperança. Com o périplo africano os portuguesesnavegaram no oceano Índico, etapa final para ocaminho das Índias. A partir desse momento o encontroda almejada rota era só uma questão de tempo. Eóbviamente os conquistadores lusitanos acreditavamque esse era o melhor caminho.

“Todo homem de bom juízodepois de ter realizado a sua

viagem, reconhecerá que é ummilagre manifesto ter podido

escapar de todos os perigos que seapresentaram em sua

peregrinação”Diário de Bordo

Constantinoplatinha umfantásticosistema dedefesa,constituído deoito grandesmuralhas.Entretanto,depois dedécadas deataques dosturcos-otomanos,as defesas foramsuplantadas e acidade rendeu-seem 1453

Na gravura ao lado, marinheiro utiliza uminstrumento de navegação

Page 7: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

A ESPANHA E CRISTÓVÃOCOLOMBO

Enquanto isso, os reinos ibéricos estavam naiminência de expulsar os mouros do reino de Granada.Demorou mas os espanhóis superaram seus conflitosinternos. Em 1492, finalmente derrotaram osmuçulmanos consolidando a centralização política e aformação do reino da Espanha. Anteriormente, os es-panhóis já tinham avançado nessa direção com o ca-samento dos reis católicos Fernando de Aragão eIsabel de Castela.

A partir desse momentoalcançavam o status político dePortugal. A expansão maríti-ma tinha como pré-requisitoa formação do Estado, pelanecessidade de congregarinvestimentos que ainiciativa particularjamais poderia obter.Como era de se esperara Igreja deu apoioincondicional aosmonarcas espanhóis , damesma forma que fizeraem Portugal. Dadas ascondições para o início da empreitada marítima surgiua grande questão.

Que caminho eles deveriam seguir? Não pode-ria ser litoral africano, já dominado pelos portugueses!Quando estavam sem rumo, entrou em cena o famosonavegador - Cristóvão Colombo. Antes de ir para aEspanha, o navegador quase morreu, em 1451, quan-do seu navio foi atacado e o comandante salvou-seagarrado numa tábua. Por um tempo foi casado comuma portuguesa, que o incentivou a apresentar seuambicioso projeto ao rei D. João II que rejeitou a idéia.Mas que planos tão misteriosos eram esses?

Acreditava Colombo que navegando em dire-ção ao Ocidente chegaria com muito mais facilidade às

terras do Oriente. Partia dapremissa de que a Terra eraredonda. Só que na épocahavia dúvidas quanto àesfericidade da Terra.Adeptos dessa teoria erampublicamente ridicularizadospor opositores, que defendi-am as concepções medievaisda Terra plana.

Por sorte houve quemapostasse que podia darcerto um plano que parecia

suicida. Como os reis espanhóis não tinham nada aperder, entregaram ao navegador genovês o comandodas três caravelas - Santa Maria, Pinta e Niña.

COLOMBO DESEMBARCA NAAMÉRICA

Depois de muita festa os navios saíram do portode Palos, em agosto de 1492. Pelos cálculos de Colomboera uma viagem de sete semanas até a chegada nasÍndias. Os suprimentos não íam durar muito mais queisso e a água, mesmo no início, tinha uma coloraçãoescura e um gosto azedo, piorando a condição dostripulantes. Depois de dois meses em alto mar atripulação estava em desespero,começando um motim .Parasorte de

Colombo, quando ía começar a revolta, sentiram a pre-sença de mosquitos e algas marinhas que era o sinal deterra à vista!

“Colombo, imediatamente, imaginou que ha-via chegado ao Japão, citado como Cipango por Mar-co Polo. Em seguida, analisou a latitude e concluiuter chegado à China. Em suas viagens de reconheci-mento pela costa, perdeu a nau Santa Maria. Mas soubeaproveitar a madeira para erguer uma espécie de forteque daria proteção para 40 de seus homens. (...) Navolta, sem perceber, traçou sua rota mais para leste eencontrou ventos mais favoráveis que sopravam maispara oeste. Enfrentou fortes tempestades em seuregresso antes e depois de chegar às ilhas dos Açores,desembarcando finalmente no porto de Lisboa em 4de março de 1493”.

Durante a viagem, Colombo escreveu uma car-ta aos reis católicos Fernando e Isabel. Narrou a via-gem e descreveu as ilhas que havia encontrado comose elas fossem parte daquelas que existem nas costasda China, já que supunha ter chegado lá. Desejoso derealizar uma segunda viagem, Colombo ressaltou apresença de ouro e procurou sempre fazer analogiasentre as populações que havia encontrado e as “tri-bos selvagens” que existiam no Oriente.” 8

Os reiscatólicosFernando eIsabelinvestiram nasviagens deColombo

Page 8: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

A descoberta de novas terras causou um pro-blema internacional, pois o rei de D. João de Portugal,exigiu a divisão imediata das áreas do Atlântico. Com amediação do Papa, reuniram-se os diplomatas dospaíses ibéricos. Em 1493, surgiu a proposta que pareciaconciliadora, na bula “Inter Coetera”, determinando umalinha a 100 léguas a oeste de Cabo Verde como marcoda divisão. A idéia recusada pelos portugueses. Dessaforma o impasse foi resolvido, em 1494, com a linha a370 léguas a oeste do mesmo local. O Tratado deTordesilhas, foi considerado um marco no entendimentoentre duas nações. Para leste, todas as terrasdescobertas pertenceriam a Portugal e a oeste,pertenceriam à Espanha.

Colombo ainda retornou três vezes aocontinente descoberto. Mas as viagens foram em vão,pois o navegador não encontrou a sonhada passagempara o Oriente. Teimoso e obstinado, percorreu todo olitoral da América Central e diversas ilhas do mar doCaribe. Em 1498, viu a foz do rio Orenoco e nãopercebeu que se tratava de um continente. Mesmoassim Colombo não cedia. No auge da loucura chegoua acreditar que estava na porta do paraíso.

Em 1501, já não tinha mais prestígio com os reisda Espanha. A Colombo restou uma “aposentadoria”num castelo do interior da Espanha, onde morreu, em1506, pobre e esquecido por seus antigos admirado-res. Para seus fãs foi um herói, para seus detratoresnão passou de um louco e algoz conquistador.

Tratado de Tordesilhas - 1494

Embarque dasnaus portuguesasem 1497

Page 9: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

OS PORTUGUESES NOORIENTE

Em 1497, partiu de Lisboa a esquadra coman-dada por Vasco da Gama. Contornaram o cabo da BoaEsperança e chegaram em Moçambique. Partindo desselocal com o auxílio de um navegante árabe seguiramem direção às Índias. Após um mês de viagem, em1498, ancorava os navios em Calicute, na Índia, ondeteve fria recepção do sultão. Apesar do clima hostil aviagem de Vasco da Gama foi lucrativa. Depois demeses de viagem retornaram a Portugal, em 1499

Navegar é preciso. Tornava-se imprescindívelestabelecer relações mais concretas com os mercado-res da Índia e a conquista efetiva das regiões doOriente. Com esses objetivos partiu a nova esquadracom treze navios, sob o comando de Pedro ÁlvaresCabral. Em 22 de abril, chegaram no litoral da Bahia,batizando as terras encontradas com o nome de VeraCruz.

A existência de um marco que garantia a possede novas terras, a pouca surpresa na Carta de Pero Vazde Caminha, a presença de navegadores no litoral norte

do Brasil, antes da chegada de Cabral, são evidênciasda intencionalidade portuguesa da descoberta. Mas aquestão ainda está em aberto, por falta de outrasprovas mais contundentes. De qualquer forma, muitoantes da descoberta, o Brasil já pertencia a Portugal,como definia o Tratado de Tordesilhas.

“No dia 23, quinta-feira, navegaram para ter-ra e foram ancorar em frente da boca de um rio, ondeos cristãos travaram as primeiras relações com osindígenas.

No dia subseqüente, a 24 sexta-feira, rumarampara o norte. Os vasos maiores fundearam fora, en-quanto os navios de menor tonelagem entraram numabrigo que Cabral chamou de Porto Seguro mais

tarde denominado baía de Cabrália. Dois jovens indí-genas, apanhados numa almádia foram apresentadosa Cabral. Os intérpretes das línguas asiáticas e afri-canas estavam a bordo, porém não compreenderam oidioma falado pela tribo dos tupiniquins, que entãodominavam o sul baiano.” 11

Para transmitir a notícia ao rei D. Manuel, Cabralenviou o navio de Gaspar de Lemos, com a famosa cartade Pero Vaz de Caminha. Depois de sete dias a esquadraembarcou em direção a Calicute, deixando aqui uns po-bres coitados como garantia da presença portuguesa.Na Índia os portugueses foram mal recebidos eescorraçados pelas tropas do sultão. Para sorte de Cabralfoi possível a aliança com inimigos de Calicute. Com osnovos aliados Cabral bombardeou a cidade. Capturoudez embarcações árabes e intimidou os indianos,obtendo várias mercadorias que abarrotaram os naviosrestantes.

Por um bom tempo os portugueses se esquece-ram do Brasil, e se concentraram no lucrativo comérciocom as Índias. O esquecimento das terras brasileirasdurou até o momento que as especiarias tornaram-seum pesadelo para os lusitanos mas aí vái ser outrahistória.

CESSEM DO SÁBIO GREGO E TROIANOAS NAVEGAÇÕES GRANDES QUE FIZREAM;CALE-SE DE ALEXANDRE E DE TRAJANOA FAMA DE VITÓRIAS QUE TIVERAMQUE EU CANTO O PEITO ILUSTRE LUSITANO.A QUEM NEPTUNO E MARTE OBEDECERAM.CESSE TUDO QUE A MUSA ANTIGA CANTA.QUE OUTRO VALOR MAIS ALTO SE ALEVANTA.

Luís de Camões

Quadro mostra a chegada de Vasco da Gama nas Índias

Page 10: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

Cartografia das GrandesNavegações

Fonte:Explorando a América LatinaAna Maria Machado

Editora Ática

Page 11: Expansão Marítima

Exp

ansã

o M

aríti

ma

Olympio. Pág. 21.2 In. Maranhão, Ricardo e outros. Brasil História. Texto e Consulta. Edito-ra Brasiliense. Pág. 46.3 In. Koshiba, Luis e Denise Manzi Freire. Historia do Brasil. AtualEditora. Pág. 29.4 In Mousnier, Roland. A Europa e o Mundo. Difel Editora. Pág 47.5 In. Hale, John R. Op. Cit. Pág. 61.6 In.Amado, Janaína e Garcia, Leonidas Franco. Navegar é preciso.Atual Editora. Pág 25.7 In. Maestri, Mário. Terra do Brasil. Coleção Polêmica. Editora Moderna.Pág 22.8 In. Theodoro, Janice. Pensadores, exploradores e mercadores. Cole-ção Ponto de Apoio. Editora Scipione. Pág. 67. 9 In. Hale John, R. Op. Cit. Pág. 28.10 Camões, Luís de. Os Lusíadas. Editora Porto. pág.37.11 In. Dias, Manuel Nunes. A Expansão Européia e a Descoberta doBrasil - Brasil em Perspectiva. Difel. In Maranhão, Ricardo e outros. opcit. Pág 57.12 In. Galeano Eduardo. Veias Abertas da América Latina. Editora Paze Terra. Pág 31.