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Exmo. Sr. Ministro Hamilton Carvalhido Relator da Petição n° 33.275 Tribunal Superior Eleitoral Associação dos Magistrados Brasileiros AMB, entidade com sede em Brasília/DF, na SCN Qd. 02, Bloco D Torre B, Conjunto n° 1.302, Centro Empresarial Liberty Mall CEP 70712-903, legitimada a representar os magistrados brasileiros, por seu presidente signatário, nos autos da PETIÇÃO N° 33.375, protocolada e distribuída em data de 18 de fevereiro passado por Associação dos Juízes Federais AJUFE, Associação dos Juízes Federais da 1ª Região - AJUFER, Associação dos Juízes Federais da 5ª Região REJUFE, Associação dos Juízes Federais de Minas Gerais AJUFEMG, e Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul AJUFERGS, vem à presença de Vossa Excelência trazer manifestação contrária, de forma veemente, às alegações e requerimentos constantes da petição que deu origem à autuação, conforme a exposição da sequência, desde logo requerendo o conhecimento da presente peça e a rejeição integral dos pedidos formulados por aquelas entidades. Pede juntada. Brasília/DF, 11 de março de 2011. Henrique Nelson Calandra Presidente da AMB Diógenes V. Hassan Ribeiro Walter Pereira de Souza Vice-Presidente Coordenador da Justiça Estadual

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Exmo. Sr. Ministro Hamilton Carvalhido

Relator da Petição n° 33.275

Tribunal Superior Eleitoral

Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, entidade com

sede em Brasília/DF, na SCN Qd. 02, Bloco D – Torre B, Conjunto n° 1.302, Centro

Empresarial Liberty Mall – CEP 70712-903, legitimada a representar os

magistrados brasileiros, por seu presidente signatário, nos autos da PETIÇÃO N°

33.375, protocolada e distribuída em data de 18 de fevereiro passado por

Associação dos Juízes Federais – AJUFE, Associação dos Juízes Federais da 1ª

Região - AJUFER, Associação dos Juízes Federais da 5ª Região – REJUFE,

Associação dos Juízes Federais de Minas Gerais – AJUFEMG, e Associação dos

Juízes Federais do Rio Grande do Sul – AJUFERGS, vem à presença de Vossa

Excelência trazer manifestação contrária, de forma veemente, às alegações e

requerimentos constantes da petição que deu origem à autuação, conforme a

exposição da sequência, desde logo requerendo o conhecimento da presente peça

e a rejeição integral dos pedidos formulados por aquelas entidades.

Pede juntada.

Brasília/DF, 11 de março de 2011.

Henrique Nelson Calandra

Presidente da AMB

Diógenes V. Hassan Ribeiro Walter Pereira de Souza

Vice-Presidente Coordenador da Justiça Estadual

I – A Justiça Eleitoral

A Justiça Eleitoral no Brasil é um dos melhores exemplos de

eficiência do Judiciário. Para além disso, ao longo de décadas, desde a sua

instituição, mas especialmente nas duas últimas décadas, teve indispensável

importância na redemocratização do pais, na construção de uma cidadania

participativa e no soerguimento das instituições democráticas.

A primeira das conclusões sinaladas acima é uma unanimidade

nacional e internacional. A Justiça Eleitoral Brasileira atingiu padrões de

eficiência superiores a padrões de países do chamado primeiro mundo,

plenamente desenvolvidos economicamente e que possuem instituições

democráticas consolidadas há décadas, alguns há mais de um século. Como

pode o Brasil, em duas ou três décadas, atingir tais padrões que causam

inveja e servem de modelo a países com democracia e instituições

consolidadas e que superam, em muito, a sua situação econômica?

Com efeito, as eleições das últimas décadas são realizadas com

uma margem de segurança e com uma organização incomparáveis. Mas,

fundamentalmente, a cada eleição que se sucede o grau de confiança na

apuração e na definição dos eleitos atinge percentuais próximos à perfeição.

E, ainda, os resultados são apresentados em poucas horas do final do

escrutínio, possibilitando que os eleitos e os que não tiveram sucesso

conheçam os resultados quase que imediatamente. E o mais importante de

tudo é que a cidadania vê o retorno dos seus investimentos, com a eficiência

e a rapidez na revelação do resultado, com alegria e satisfação, mesmo

quando o candidato eventualmente escolhido não tenha sido eleito.

Induvidosamente, a rapidez e a eficiência na apresentação dos

resultados contribuem para a segurança pública e para a confiança dos

cidadãos nas suas instituições.

Na última eleição do segundo turno presidencial, a população, a

mídia nacional e a mídia internacional puderam conhecer o resultado oficial

em cerca de duas horas após o encerramento do escrutínio.

Qual país em processo de redemocratização pode contar com

estrutura judiciária eleitoral que contribuiu, efetiva e concretamente, para a

consolidação da democracia?

E a Justiça Estadual, para dizer assim, a justiça dos estados, a

justiça dos denominados juízes de direito, de onde são designados os juízes

eleitorais, regozija-se pelo de fato de a Justiça Eleitoral ter atingido esse

patamar de excelência invejável.

Portanto, em razão desse fato histórico, fato, repita-se, uma vez

que os fatos não podem ser contrastados, a justiça eleitoral merece

permanecer sob os cuidados, ou em linguagem técnica, sob a competência da

justiça dos estados, sendo exercida pelos juízes de direito, aqueles mesmos

que se encontram nas distantes comarcas e que também construíram a

justiça especializada deste país. Ninguém nega que o judiciário se faz

presente nas localidades de mais difícil acesso, como a selva amazônica, nas

localidades em que se enfrentam intensas dificuldades, como o sertão

nordestino, ou em bairros em que a segurança das grandes cidades claudica.

Nestes locais se constrói a república, nestes locais se presta a jurisdição

diversificada, nestes locais se faz e se promove a cidadania. A Justiça

Eleitoral também está nesses locais distantes e de intensas dificuldades.

A Justiça Eleitoral merece permanecer com os seus criadores,

com aqueles que dela cuidaram com imensa atenção até que atingisse esse

patamar de excelência, os juízes de direito, os juízes dos estados.

II – A competência da justiça federal

A pretensão das entidades que subscrevem o requerimento que

deu origem à autuação é, por assim, dizer natimorta, ou seja sem qualquer

probabilidade de êxito. O art. 109, I, da Constituição Federal estabelece a

competência da justiça federal e assim está redigido:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes, ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Vale enfatizar: os juízes federais, por expresso preceito

constitucional, não têm competência para as causas sujeitas à Justiça

Eleitoral.

2.1. Os órgãos da Justiça Eleitoral e os órgãos das justiças

A Justiça Eleitoral tem os órgãos estabelecidos no art. 118, da

Constituição Federal, entre os quais os juízes eleitorais, conforme seu incido

III, estes designados e recrutados dentre os juízes dos estados – os juízes de

direito. O art. 121, da Constituição Federal, recepciona o Código Eleitoral e,

neste estatuto está previsto que os juízes de direito serão os juízes eleitorais

(arts. 32 e 36).

A interpretação trazida na petição que deu origem ao

expediente administrativo procura, verdadeiramente, subverter a ordem das

coisas. Nem se cogita de interpretação literal, o que constitui outro grave

erro de interpretação.

Inicie-se por ver que os órgãos da justiça, de caráter nacional,

têm atribuídos nomes pela Constituição Federal. Assim, o art. 106, II, diz

serem órgãos da Justiça Federal, os Juízes Federais; o art. 111, III, diz serem

órgãos da Justiça do trabalho, os Juízes do Trabalho; o art. 118, III,

estabelece que são órgãos da Justiça Eleitoral, os Juízes Eleitorais; o art. 122,

II, enuncia que são órgãos da Justiça Militar, os Juízes Militares; por fim, o

art. 125, que trata da Justiça Estadual, está permeado da expressão juízes de

direito.

Portanto, pretender dizer que todos seriam Juízes de Direito é

intentar contra uma concepção sedimentada na organização judiciária do

Brasil. É promover uma interpretação que viola a Constituição Federal,

afinal, em todas as Constituições, quando regulada a matéria eleitoral, a

expressão “juiz de direito” vem sendo empregada de forma a promover uma

distinção quanto ao juiz federal, justamente para consagrar ao primeiro a

jurisdição especializada nos Estados.

Nem se diga que a tentativa aqui, e na reforma do Código

Eleitoral encontra desfio instransponível, pois, residindo em sede

constitucional a designação dos juízes de direito (juízes de primeira

instância dos Estados) para a jurisdição eleitoral, qualquer iniciativa de

modificação deve dar-se em mesmo nível e nunca em pretensão

infraconstitucional e/ou administrativa.

Aqui é de extrema utilidade o parecer do constitucionalista

ANDRÉ RAMOS TAVARES (documento anexo) que, atendendo pedido da

Associação Paulista de Magistrados – APAMAGIS grafou:

“...

§9º Para oferecer uma resposta constitucionalmente conforme é

necessário percorrer o texto constitucional e alcançar o cerne da

nomenclatura utilizada constitucionalmente, avaliando-a para cada

julgador mencionado na Constituição. A tarefa de sistematizar ou

classificar, para melhor compreender, cabe precipuamente à Doutrina. Não

encontrar-se-á, na Constituição, um índex com especificações desse jaez,

que de maneira determinante e objetiva esteja a expor a opção

classificatória ou lingüística adotada para o tema. É o estudo acurado e

constitucionalmente conforme da Constituição que poderá, quando

plenamente composto, conduzir aos pressupostos classificatórios inerentes

à linguagem e aos institutos constitucionalmente previstos.

§10 A Constituição brasileira se refere a cinco categorias de julgadores,

em primeira instância, imediatamente perceptíveis a partir da leitura

constitucional. Essas categorias “primárias” são: os juízes federais², os

juízes militares³, os juízes eleitorais4, os juízes do trabalho5 e os juízes de

direito6.

§11 A expressão “Juiz de Direito”, no contexto constitucional, vem

aplicada com exclusividade ao juiz de primeira instância vinculado ao

Tribunal de Justiça dos Estados7, aos juízes militares vinculados ao

Tribunal de Justiça Militar dos Estados8 e aos juízes eleitorais vinculados

ao Tribunal Regional Eleitoral, em termos de matéria eleitoral, e ao

Tribunal de Justiça dos Estados, em termos funcionais9. É determinante

para o presente estudo se a exclusividade, referida acima, compõe efetiva

diretriz hermenêutica, no âmbito constitucional em apreço, capaz de

conduzir a conclusões suficientes e sustentáveis sobre o questionamento

apresentado pela consulente.

§12 É impositivo que, em seu contexto, a Constituição, ao se referir ao

Juiz de Direito, tratou exclusivamente dos juízes estaduais, da mesma

maneira que todas as referências aos juízes que atuam na primeira

instância no âmbito federal ecoam de uma única forma, insto é, são

identificados invariavelmente por uma única e mesma expressão, como

“juízes federais”.

§13 Essa exclusividade de tratamentos denota uma opção técnica pela

distinção entre categorias diversas, evitando uso de expressões genéricas e

abertas, ensejadoras de inclusividade total (todas espécies são bem vindas),

bem como expressões desdiferenciadoras (elimina as diferenças possíveis

entre as palavras, aproximando e até igualando expressões distintas),

causadoras de certa perplexidade na necessária unidade e harmonia

constitucional. Ao assim proceder, tem-se uma técnica redacional de

irresistível atração interpretativa.

§14 Vale, aqui, confrontar essa construção, testando suas conclusões, em

primeiro, quanto às referências textuais do conteúdo constitucional acerca

do juiz de Direito.

“Art. 235. Nos de primeiros anos da criação de Estado, serão

observadas as seguintes normas básicas: [...] VII - em cada

Comarca, o primeiro Juiz de Direito, o primeiro Promotor de

Justiça e o primeiro Defensor Público serão nomeados pelo

Governador eleito após concurso público de provas e títulos; (...)

“Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo,

nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-las

aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal

Regional do Trabalho.

“Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na Capital de

cada Estado e no Distrito Federal.

“§1º - Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão: I –

mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os

desembargadores do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes,

dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça;”

(original não grifado)

§15 E, ademais, cabe a averiguação mencionada, ainda, quanto ao uso da

expressão “juiz federal” como tendo sido usada de maneira linearmente

apartada da expressão acima utilizada, por designar realidade e instituição

diversa. Vejamos:

“Art. 106. São órgãos da Justiça Federal: I- os Tribunais

Regionais Federais; II – os Juízes Federais.

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...)

“Art. 92. São órgãos do poder Judiciário: II – os Tribunais

Regionais Federais e Juízes Federais;

“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I –

processar e julgar originariamente: a) os juízes federais da área

de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do

Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os

membros do Ministério Público da União, ressalvada a

competência da Justiça Eleitoral; b) as revisões criminais e as

ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da

região; c) os mandados de segurança e os “habeas-data”

contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; d) os

“habeas-corpus”, quando a autoridade coatora for juiz

federal; e) os conflitos de competência entre juízes federais

vinculados ao Tribunal; II – julgar, em grau de recurso, as causas

decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no

exercício da competência federal da área de sua jurisdição.”

(original não grifado)

...

§33 A Constituição da República Federativa do Brasil dedicou escassos

artigos10 à organização da Justiça Federal; não obstante essa constatação,

é possível verificar que frisou em todos sua opção eficaz e objetiva pela

hibridez do sistema judicial em apreço.

§34 Essa hibridez restou materializada na eclética composição dos

Tribunais Regionais Eleitorais, somada à concentração da competência de

primeira instância atribuída aos juízes estaduais.

§35 Ao tratar da segunda instância, foi definida a composição dos

Tribunais Regionais Eleitorais pelo art. 120, §1º, da Constituição,

estabelecendo que esses Tribunais sejam compostos por dois juízes dentre

os desembargadores do Tribunal de Justiça, dois juízes, dentre os juízes de

Direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça, um juiz do Tribunal Regional

Federal com sede na capital do Estado ou Distrito Federal, ou não havendo,

de juiz federal, escolhido em qualquer caso pelo Tribunal Regional Federal,

dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade

moral indicados pelo Tribunal de Justiça e nomeados pelo Presidente da

República.

§36 Verifica-se assim a idéia constitucional de hibridez, formando o

colegiado por desembargadores e juízes federais e estaduais, além dos

advogados escolhidos mediante processo próprio.

§37- Essa composição de segunda instância aliada ao destino da primeira

instância da Justiça Eleitoral, concedido expressamente aos juízes de

Direito (que como ficou demonstrado, é o cognome constitucional do juiz

estadual da primeira instância) provoca e mantém o equilíbrio da Justiça

Eleitoral que é esperado e protegido pela Constituição.

§38 Caso se transfira essa competência à Justiça Federal, ferir-se-á a

Constituição neste aspecto, posto que desequilibrará a hibridez

conformada pela Constituição, priorizando o federal na Justiça Eleitoral. ...”

O parecer do professor ANDRÉ RAMOS TAVARES (documento

anexo) expõe na íntegra o histórico da Justiça Eleitoral, pontua a opção

brasileira pela hibridez desta jurisdição, bem como, a técnica legislativa no

sentido de admitir o juiz de direito como juiz Estadual de primeira instância

detentor da jurisdição eleitoral, concluindo que qualquer pretensão na

alteração da construção constitucional sobre o tema, provocaria

desequilíbrio federativo.

III – A justiça em números – relatório do Conselho Nacional

de Justiça de 2009

Conforme relatório denominado a Justiça em Números, que se

encontra publicado no sítio da internet do CNJ – Conselho Nacional de

Justiça, a justiça dos estados, a justiça dos Juízes de Direito é, efetivamente, a

justiça por excelência, a justiça dos cidadãos deste Brasil.

Inicialmente convém dizer que há, no Brasil, 5.568 municípios,

nos quais a Justiça dos Estados e do Distrito Federal está presente, ainda que

não nas próprias sedes municipais, certamente nas sedes das comarcas, a

grande maioria que congrega mais de um município.

Naquele relatório da Justiça Estadual, constata-se que a

despesa total daquele segmento do judiciário atingiu a cifra de 21 bilhões e

43 milhões de reais, o que equivale a 0,67% do PIB. O número de cargos de

magistrados estaduais existentes é de 14.886, correspondente a 7,8 para

cada 100 mil habitantes. Desse total, 1.461 cargos são de 2° Grau. O número

de cargos providos, todavia, é de 11.361 magistrados, o que equivale a 5,9

por 100 mil habitantes.

O total de processos baixados no 1° grau, em 2009, foi de 8

milhões e 133 mil, tendo sido proferidas 7 milhões e 78 mil sentenças de

conhecimento. O número de casos novos, por 100 mil habitantes, no 1°

Grau, em 2009, foi de 5.745, com um total de 7 milhões e 605 mil casos

novos na Justiça Estadual. Esses números correspondem a 1.276 casos novos

por magistrado.

A Justiça Federal, por sua vez, teve uma despesa total da ordem

de 6 bilhões e 129 milhões, o que corresponde a 0,20% do PIB. O número de

cargos de magistrados é de 1.775, destes 139 no 2° Grau, equivalentes a 0,9

por 100 mil habitantes. O número total de casos novos no 1° Grau foi de

449.775. O número de processos de conhecimento baixados no 1° Grau foi

de 598.544, em 2009, tendo sido proferidas 355.005 sentenças de

conhecimento. O número de casos novos por magistrado, no 1° Grau, foi de

663.

Por esses números, meramente exemplificativos, havendo

outros números nos citados relatórios do Conselho Nacional de Justiça,

confirma-se que a Justiça dos Estados é verdadeiramente heróica, pois,

embora possua cerca de 10 vezes mais cargos de juízes de direito do que a

Justiça Federal, teve uma despesa de apenas 3,5 vezes o que esta última

despendeu no ano de 2009. Com esse número de magistrados e essa despesa

proferiu cerca de 20 vezes mais sentenças de conhecimento, no 1° Grau. E,

ainda, cada magistrado estadual recebeu cerca de 2 vezes o número de

processos recebidos por cada um dos magistrados federais, na média.

IV – O caráter nacional do judiciário

No magnífico voto que proferiu na ADI n° 3.854, o Ministro

Cezar Peluso, atual Presidente do Supremo Tribunal Federal, colocou pá de

cal sobre qualquer idéia que revele o gérmen de haver uma diferença de

qualidade no judiciário no Brasil. Cabe transcrever um excerto:

E, do ângulo das consequências práticas da norma enquanto ação estatal, às quais deve estar referida a interpretação, não se pode deixar de reconhecer que, posto não tenha sido este, decerto, o propósito normativo ou ratio iuris, a promoção discriminatória de um grupo dentro da mesma classe funcional inculca e difunde a falsa idéia de uma superioridade de méritos dos magistrados federais, uma meritocracia artificiosa, porque, a despeito das altas qualificações dos membros da categoria, a conjectura não condiz com a homogeneidade teórica da instituição judiciária, nem encontra suporte na realidade. Ademais, essa idéia por mais falsa que seja, desestimula vocações, avilta e deprime profissionais experimentados e encanecidos na arte de julgar, degrada e desprestigia a velha magistratura estadual, a que, por todos os títulos de seus afazeres seculares, o ordenamento jurídico comete o mais largo espectro de gravíssimas competências jurisdicionais, exercidas, não raro, com inexcedível sacrifício e abnegação pessoal, por multiplicidade incomparável de órgãos dispostos e enraizados até nos mais longínquos e, às vezes, quase inacessíveis recantos do território brasileiro. E, mais do que os reflexos públicos de tão desprimorosa idéia a discriminação induz situações irredutíveis a critério de justiça funcional, ou, quando menos, extravagantes, como a de servidores federais subalternos, que podem perceber remuneração superior à de desembargadores dos tribunais de justiça, cujo presidente é, na ordem constitucional, substituto e sucessor eventual do governador do Estado.

Escusaria advertir que tal afronta à igualdade em nada se entende com a legítima limitação constitucional dos valores dos subsídios, pois alcança apenas a diversidades dos tetos de remuneração; nem implica juízo crítico ou exegese de que todos os magistrados dos níveis federal e estadual devessem ou devam perceber subsídios idênticos, porque estes dependem de fatores reais de desigualdade, como, v. g., a estruturação dos degraus das respectivas carreiras e a

capacidade orçamentária dos entes federados, não obstante, a meu aviso, consulte ao interesse públicos, de lege ferenda, de subsídios entre os escalões homólogos das carreiras federais e estaduais.

Essas advertências do Ministro Cezar Peluso devem ser

incansavelmente repetidas no tentame de evitar novas investidas que buscam

desvalorizar, desprestigiar mesmo, a Justiça Estadual.

Diante do exposto, a requerente postula a rejeição e o

indeferimento dos pedidos das entidades que protocolizaram a petição que deu

origem a este feito administrativo.

Pede juntada e deferimento.

Brasília, 11 de março de 2011

Henrique Nelson Calandra

Presidente

Diógenes V. Hassan Ribeiro

Vice-Presidente de Assuntos Legislativos

Walter Pereira de Souza

Coordenador da Justiça Estadual