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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP ............, brasileiro, casado, aposentado, portador da Cédula de Identidade RG. nº ........... e do CPF/MF nº ..........., residente e domiciliado na Rua ..........., nesta Cidade e Comarca de São Paulo, por seu advogado que esta subscreve, (doc. 01), vem, respeitosamente, perante V. Exa., com fundamento no artigo 5º, incisos V e X da Constituição Federal e demais legislações aplicáveis à espécie, propor a presente AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS, em face de ..........., instituição financeira, inscrita no CNPJ/MF sob nº ..........., com sede na Rua ..........., na Cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, e filial na Rua .., Centro, nesta Cidade e Capital do Estado de São Paulo, e ainda, com escritório do seu Departamento Jurídico, na sede Administrativa do Banco ............ sito na Praça ..........., Jabaquara, São Paulo-SP, CEP ..........., pelas razões de fato e de direito que passa a expor. I - DOS FATOS Em 07/07/81, O Autor propôs reclamatória trabalhista, contra o Banco Réu, perante a ..ª Junta de Conciliação e Julgamento, atual ..ª Vara da Justiça do Trabalho (doc. 02). Nesta ação trabalhista foi celebrado Acordo, homologado judicialmente, em 20/11/85, (doc. 03). No Acordo, foi reconhecido que o reclamado, Banco Réu, deveria pagar ao reclamante, Autor, a complementação de aposentadoria vitalícia que

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Page 1: EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO ... · Em 07/07/81, O Autor propôs reclamatória trabalhista, contra o Banco Réu , perante a ..ª Junta de Conciliação e Julgamento,

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO - SP ............, brasileiro, casado, aposentado, portador da Cédula de Identidade RG. nº ........... e do CPF/MF nº ..........., residente e domiciliado na Rua ..........., nesta Cidade e Comarca de São Paulo, por seu advogado que esta subscreve, (doc. 01), vem, respeitosamente, perante V. Exa., com fundamento no artigo 5º, incisos V e X da Constituição Federal e demais legislações aplicáveis à espécie, propor a presente

AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS, em face de ..........., instituição financeira, inscrita no CNPJ/MF sob nº ..........., com sede na Rua ..........., na Cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, e filial na Rua .., Centro, nesta Cidade e Capital do Estado de São Paulo, e ainda, com escritório do seu Departamento Jurídico, na sede Administrativa do Banco ............ sito na Praça ..........., Jabaquara, São Paulo-SP, CEP ..........., pelas razões de fato e de direito que passa a expor. I - DOS FATOS Em 07/07/81, O Autor propôs reclamatória trabalhista, contra o Banco Réu, perante a ..ª Junta de Conciliação e Julgamento, atual ..ª Vara da Justiça do Trabalho (doc. 02). Nesta ação trabalhista foi celebrado Acordo, homologado judicialmente, em 20/11/85, (doc. 03). No Acordo, foi reconhecido que o reclamado, Banco Réu, deveria pagar ao reclamante, Autor, a complementação de aposentadoria vitalícia que

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lhe assegurasse vencimentos mensais como se na ativa estivesse, conforme se depreende da cláusula 5 do aludido Acordo. Assim, o Banco Réu é e sempre foi obrigado a complementar, mensalmente, os vencimentos pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, de forma a atingir o valor correspondente ao salário do Autor como se o mesmo ainda estivesse trabalhando. Todavia, ao longo dos anos, o Banco Réu sempre descumpriu o Acordo judicial, efetuando o pagamento, a menor, das importâncias devidas ao Autor, circunstância essa que se constatou nos autos da reclamatória trabalhista, cuja cópia o Autor junta nesta inicial, a começar pela petição de 29/03/1990 (doc. 04), pela qual foi requerida a execução das diferenças correspondentes ao período de 02/86 a 04/91. Em que pese a impugnação do Banco Réu, foi realizada perícia (doc. 05) constatando que efetivamente o Banco Réu não cumpria o Acordo Judicial. Homologados os cálculos por sentença (doc. 06), entretanto, o Banco Réu ignorando o Acordo feito, promoveu o depósito judicial da quantia (doc. 07) discutida e interpôs recursos que foram todos rejeitados, negados ou improvidos (doc. 07), em todas as instâncias da Justiça do Trabalho. Em 19/12/97, o Autor efetuou o levantamento do depósito judicial correspondente às diferenças de complementação de aposentadoria relativas ao período de 02/86 a 04/91 (doc. 08). Ocorre que essa situação de injuridicidade veio se perpetuando, pois, não obstante o Acordo judicialmente homologado e o trânsito em julgado da decisão homologatória dos cálculos relativos às diferenças do período de 02/86 a 04/91, o Banco Réu sempre se recusou a corrigir, em sua folha de pagamento, a importância devida ao Autor a título de aposentadoria complementar vitalícia. Por tal motivo, em 30/03/98, o Autor apresentou cálculos correspondentes às diferenças do período de 05/91 a 01/98 (doc. 09), o que denota o descumprimento, por parte do Banco Réu, do Acordo homologado judicialmente. Em 29/10/98 (doc. 10), foram homologados os cálculos apresentados e concedida a tutela antecipada requerida, determinando-se a penhora de dinheiro do Banco Réu. Feita a penhora do valor das diferenças correspondentes ao período de 05/91 a 01/98 e decorrido o trâmite legal, o Autor efetuou o levantamento dos depósitos (doc. 12).

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Todos os recursos interpostos pelo Banco Réu, a exemplo do que já ocorrera anteriormente, foram rejeitados, negados e improvidos pela Justiça do Trabalho. Entretanto, tendo em vista que o Banco Réu continuou e insistiu em não cumprir a sentença judicial, o Autor requereu a execução das diferenças das verbas que tinha direito, relativas ao período de 02/98 a 12/99 (doc. 13), objetivo este alcançado em 11/07/2000 (doc. 14). Ainda assim, continuou o Banco Réu a não cumprir a sentença judicial, forçando o Autor, pela quarta vez consecutiva a se socorrer do Poder Judiciário para receber as diferenças que lhe eram devidas, a partir de 05/200 a 09/200 (doc. 15). Conforme repisado em petições constantes dos autos do processo trabalhista, ora juntadas, O BANCO RÉU NÃO CUMPRIA, CONFESSAVA QUE NÃO CUMPRIA, NÃO ACATAVA, AFIRMAVA QUE NÃO ACATAVA ORDEM JUDICIAL, ENFIM, NÃO DAVA A MÍNIMA AO PODER JUDICIÁRIO E MUITO MENOS AOS DIREITOS DO AUTOR. Tanto assim é que, POR QUATRO VEZES CONSECUTIVAS O AUTOR FOI OBRIGADO A RECORRER AO PODER JUDICIÁRIO PARA FAZER VALER SEUS DIREITOS, OU SEJA, FAZER COM QUE O BANCO RÉU FOSSE COMPELIDO A CUMPRIR UMA SENTENÇA JUDICIAL. Não satisfeito em levar o Autor ao desespero, com toda a protelação, em junho de 1999, o Banco Réu SIMPLESMENTE SUSPENDEU O PAGAMENTO DA COMPLEMENTAÇÃO DA APOSENTADORIA DO AUTOR, DEIXANDO DE PAGAR, INCLUSIVE A IMPORTÂNCIA, AINDA QUE À MENOR, PORÉM INDISPENSÁVEL À SOBREVIVÊNCIA DESTE. E com uma agravante; sob argumentos absurdos e estapafúrdios. Em outras palavras, o Banco Réu, descaradamente, deixava de cumprir uma sentença judicial, e o que é pior, cínica e sarcasticamente, CONFESSAVA TAL CRIME. Por tal razão, o MM. Juiz daquela Vara do Trabalho determinou que o Banco Réu voltasse a pagar a complementação da aposentadoria, sob pena de multa diária (doc. 17). Induvidosa e inquestionavelmente, os danos materiais e morais sofridos pelo Autor, frente a esta situação vexatória a que foi submetido pelo Banco Réu, são claros, evidentes e patentes, e por isso devem ser reparados.

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A função jurisdicional tem por finalidade primordial por fim aos conflitos entre as partes. Ora, se uma das partes, não cumpre e insiste em não cumprir uma determinação judicial, a par das cominações penais a que está sujeita, não resta outra alternativa, à parte inocente, senão buscar uma reprimenda judicial, consistente na reparação do dano moral sofrido, decorrente desta situação de desconforto, adversa, perene e perpétua. Afinal, o Banco Réu obrigou o Autor, durante 20 anos, a se socorrer do Poder Judiciário para fazer valer seus direitos. Durante duas décadas, submeteu o Autor a constrangimentos, amarguras, angústias, privando-o do seu direito básico, qual seja, receber importância vital para sua sobrevivência. E tudo isso com uma agravante; sem razão, por mero capricho, com único propósito retaliatório, sem qualquer fundamento e desrespeitando uma ordem judicial, conforme se comprova através de suas petições acostadas no processo trabalhista e ora juntadas nesta demanda. O único intento do Banco Réu consistia em reduzir, senão eliminar, o direito à complementação da aposentadoria a que o Autor tinha direito, direito este obtido por força de comando judicial. Aliás, ao longo dos anos, maliciosa e artificiosamente o Banco Réu foi reduzindo a remuneração do Autor de modo a reduzir a importância relativa à complementação de aposentadoria a que estava obrigado a pagar. Seu intento, pois, visava desestimular o Autor a se socorrer do Poder Judiciário. Por isso, litigou de má-fé. E nem se diga que longo percurso transcorrido pelo Autor e demora e fazer valer seus direitos decorreu da morosidade do judiciário brasileiro. Por primeiro, foi o Autor quem foi obrigado a se dirigir ao Poder Judiciário por culpa do próprio Banco Réu. Por segundo, é bastante cômodo àqueles que não cumprem suas obrigações lançar a culpa aos problemas enfrentados pelo Poder Judiciário. Ora, agiu o Banco Réu de má-fé, pois, exatamente por conhecer tais problemas deixou de pagar a complementação de aposentadoria, sabedor das dificuldades enfrentadas pelo Autor, aliás, outra razão a lhe ser imputada responsabilidade pelos danos morais causados. Ademais, os problemas do Poder Judiciário não são só do próprio Judiciário, mas sim, de toda a sociedade, mas aquele que pretende se aproveitar

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destes problemas para o fim de se ver livres das suas responsabilidades, diretamente está causando danos à outra parte, na medida em que o prejudicado será mais uma vítima da morosidade do Judiciário. Tivesse cumprido o Acordo judicial, seguramente nenhum aborrecimento, angústia, amargura, enfim, danos morais teria suportado o Autor. Todos têm acesso ao Judiciário, segundo consta da Carta Constitucional. Entretanto, aquele que obriga a parte contrária a se socorrer deste Poder, de forma abusiva, arbitrária, sem razão, apenas por retaliação, causa, diretamente, além dos danos materiais, os danos morais daí decorrentes. Repugna-se, também, o argumento de que o Banco Réu utilizou-se de todos os recursos previstos em lei, direito este igualmente consagrado pela Constituição. Porém, esta utilização de forma abusiva e sem qualquer fundamento, como foi o caso, não tem amparo em lei. Afinal, a cada recurso interposto, com intuito apenas procastinatório, gerava, por conseguinte aborrecimentos e amarguras do Autor em ser forçado a respondê-lo e aguardar o trâmite processual, retardando ainda mais o recebimento das quantias que tinha direito. Não pode, por tudo isso, agora, se safar incólume. Deve, pois, reparar os danos morais causados. E, no caso, não só danos morais o Banco Réu causou ao Autor. Danos materiais também e de monta, se levados em conta à situação de hipossuficiência do Autor. Ambos os danos, materiais e morais, serão comprovados e demonstrados, a seguir. II - DOS DANOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS A demonstração do quantum do dano patrimonial é singela. Repetindo, tivesse o Banco Réu pago as complementações de aposentadoria de forma e nas datas corretas, o Autor, a rigor, não suportaria nenhum ônus a título de Imposto de Renda. O Autor apontou, perante o Juízo Trabalhista, as diferenças de complementação de aposentadoria apuradas, a partir de fevereiro de 1986 a setembro de 2000, diferenças estas que o Autor veio a receber, após árdua e incansável batalha judicial, em várias parcelas.

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Com efeito, sempre que o Autor lograva êxito no recebimento das diferenças de complementação de aposentadoria, por conseguinte, as percebia de forma englobada, isto é, computando-se os vários anos e meses a que correspondiam. Sendo assim, sobre as quantias recebidas, englobadamente, incidia uma alíquota mais elevada do Imposto de Renda, o que não aconteceria se estivesse recebendo as importâncias de forma correta, ao longo dos meses e anos. Tome-se, como exemplo o valor recebido, referente ao período de maio de 1991 a janeiro de 1998, no montante de R$.40.048,24 (doc. 12). No mês de maio/91 (doc. 12-B), o Autor deveria receber do Banco Réu uma remuneração total de Cr$.166.270,00 (como se na ativa estivesse), porém o Banco Réu pagou a importância de Cr$.145.535,06, gerando uma diferença, a menor, de Cr$.20.734,94. Assim é que a complementação de aposentadoria a ser paga pelo Banco Réu e sobre a qual incidiria o Imposto de Renda na Fonte, seria de Cr$.79.740,00, ou seja, Cr$.166.270,00 descontada a quantia recebida do INSS Cr$.86.530,00. De outro lado, a tabela progressiva do Imposto de Renda na Fonte, vigente (doc. 12-D) naquele mês era a seguinte: Base de cálculo (Cr$)

Alíquota (%)

Parcela a deduzir (Cr$)

até 72.311,00 0 Isento de 72.311,01 a 241.038,00 10 7.231,00 acima de 241.038,00 25 43.386,80 Portanto, sobre a importância de Cr$.79.740,00, não haveria incidência do Imposto de Renda na Fonte, pois, desta quantia ainda deveria ser deduzida a verba relativa aos dependentes do Autor. Por conseguinte, se o Banco Réu tivesse pago, DE FORMA CORRETA, naquela oportunidade, a complementação de aposentadoria a que estava obrigado, por força do acordo judicial, o Autor não precisaria suportar o ônus tributário tão elevado que lhe foi imposto, quando do pagamento, ao ser compelido judicialmente. E nem se diga que, ainda que a remuneração (complementação) devida ao Autor ficasse isenta do Imposto de Renda na Fonte descontado mensalmente, mas, no exercício seguinte, ao apresentar a Declaração Anual

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de Renda, sobre o total das remunerações do ano-base anterior, com a aplicação a tabela anual do Imposto de Renda, de qualquer modo ficaria obrigado a recolher tal imposto. Ora, os rendimentos do Autor consistiam única e tão somente da aposentadoria que percebia do INSS e da complementação desta aposentadoria que recebia do Banco Réu. Portanto, a isenção do imposto persistiria também quando da apresentação da Declaração de Renda, no ano seguinte. Mas, ainda que assim não fosse, de qualquer sorte, na Declaração Anual, o Autor poderia recuperar eventual imposto pago no ano anterior, como é cediço ocorrer com os assalariados e todos aqueles que sofrem retenção mensal na fonte deste imposto. Com efeito, o Autor possuía outras despesas que não eram dedutíveis na retenção mensal na fonte, mas que as considerava quando da elaboração da Declaração de Renda, conforme era permitido pela legislação de então, a exemplo dos encargos com aluguel, despesas com educação, gastos médicos, doações etc. Enfim, ainda que sofresse retenção do imposto na fonte, na Declaração Anual, recuperaria tal encargo tributário, ao considerar todas as possíveis deduções e descontos permitidos. Tome-se como outro exemplo a complementação de aposentadoria do mês de janeiro/98 (doc. 12-C). Neste mês o Banco Réu deveria pagar uma complementação de aposentadoria no valor de R$.1.154,34, ou seja, a remuneração de R$.1.662,63 (como se na ativa estivesse), descontada a aposentadoria do INSS no valor de R$.508,29, recebida pelo Autor. A tabela progressiva do Imposto de Renda vigente neste mês era a seguinte: Base de cálculo (R$)

Alíquota (%)

Parcela a deduzir (R$)

até 900,00 0 Isento de 900,00 a 1.800,00 15 135,00 acima de 1.800,00 27,5 360,00 Portanto, sobre a complementação de aposentadoria (R$.1.154,34) não haveria incidência do Imposto de Renda na Fonte, se considerada as demais deduções. No entanto, tendo em vista que referida quantia só foi recebida pelo Autor, de forma acumulada, juntamente com todas as diferenças apuradas no período de maio/91 a janeiro/98, o Autor teve seu patrimônio despojado do valor deduzido e descontado do Imposto de Renda, por força da legislação deste imposto.

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Concluindo, neste aspecto, sobre um rendimento que se fosse pago de forma correta, não havia incidência de Imposto de Renda, ou na pior das hipóteses, incidiria uma alíquota menor, no entanto, pago acumuladamente, o Autor sofreu retenção do Imposto e ainda por uma alíquota muito mais elevada, ou seja, de 27,5%. Vale ressaltar que, atualmente, sobre os rendimentos auferidos pelo Autor não há desconto de Imposto de Renda, mesmo porque são inferiores ao limite da Tabela Progressiva deste Imposto (doc. 16). É certo que o fisco federal nada tem a ver com o fato do Banco Réu não ter cumprido a sentença judicial, na época própria, e vir a ser forçado a cumpri-la, somente agora, após 15 a 20 anos. Para o fisco importa o fato gerador do imposto. Ocorrido aquele, é devido este. Pouco lhe importa de ou a quem cabe a culpa. Neste sentido, afasta-se de antemão a responsabilidade do sujeito ativo (fisco) da relação tributária, afinal, culpa não lhe cabe se, na época própria o Banco Réu não pagou na forma e datas corretas o que deveria ter pago. Pagas todas as verbas agora, aplica-se a tabela atual do Imposto. Por isso, a responsabilidade por este imposto recolhido e suportado pelo Autor é integralmente do Banco Réu. Repetindo, tivesse pago a complementação de aposentadoria, na forma e datas corretas, o Autor não teria suportado tal carga tributária e seu patrimônio despojado de uma importância por culpa única e exclusiva do Banco Réu. A bem da verdade, no montante recebido estão incluídos juros de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária, e, sobre tais verbas também incidiu Imposto de Renda na Fonte. Entretanto, a responsabilidade do Banco Réu neste caso ainda persiste, porquanto, tanto os juros quanto à correção monetária são devidos em razão do Banco Réu não ter pago ao Autor a complementação de aposentadoria na forma e nas datas corretas. Em que tudo isso pese, deve ser relevado ainda que, na pior das hipóteses, o valor da complementação de aposentadoria percebida pelo Autor dificilmente poderia ultrapassar a segunda faixa da alíquota de incidência do imposto. Em outras palavras, considerando a tabela atual do Imposto de Renda, no máximo, o valor da complementação da aposentadoria do Autor estaria sujeito à alíquota de 15% (quinze por cento), ou seja, dificilmente atingiria a terceira faixa, isto é de 27,5% (vinte e sete e meio por cento).

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No entanto, com o pagamento acumulado, o Autor foi obrigado a pagar um Imposto de Renda à alíquota de 27,5% (vinte e sete e meio por cento), isto é, suportando uma carga tributária não condizente com seu atual padrão de vida. Isto posto, o Autor faz jus a reparação dos danos materiais sofridos, a título de Imposto de Renda, danos estes suportados por culpa única e exclusiva do Banco Réu e a serem apurados em liquidação de sentença, atualizados monetariamente. No mínimo, tais danos materiais importam no montante de R$.45.590,75, (R$.40.048,24 + R$.5.542,51) correspondente ao valor do Imposto de Renda descontado na fonte, sobre o montante recebido a título de complementação de aposentadoria, em razão do Banco Réu não ter pago tais verbas na forma e nas datas corretas. III - DOS DANOS MORAIS Entende-se por dano a lesão de direito legítimo, provocada de forma injusta por ato intencional, negligência, imprudência ou imperícia. O responsável por quaisquer destes atos fica obrigado a indenizar o titular do direito violado, na forma da lei. A conceituação de dano moral continua sendo objeto de discussões doutrinárias, no entanto, a definição mais aceita é que o considera como sendo toda violação de direito da qual não provoca reflexos no patrimônio da vítima, ou seja, o dano não-material que, dessa forma, não produz seqüelas patrimoniais, caracteriza-se como dano moral. De maneira geral, o Poder Judiciário tem acolhido os pedidos de ressarcimento por danos morais nos casos de (a) injúria, difamação, usurpação do nome, firma ou marca; (b) os que produzem privação do amparo econômico e moral de que a vítima gozava; (c) os que representam possível privação do incremento duma eventual sucessão; (d) os que determinam grande choque moral, equivalendo ou excedendo as graves ofensas corporais, por serem feridas incuráveis; (e) os que debilitam a resistência física ou a capacidade de trabalho, podendo acarretar abreviação da existência de quem sofreu o dano. (RT 693/188). Em todas essas hipóteses existe a presença da dor íntima do ofendido, o desrespeito aos direitos da personalidade, como os referentes à vida, à saúde, à liberdade, à honra. Protege-se, portanto, direitos essenciais para a condução harmoniosa da existência humana. Não há como se contestar os abalos psicológicos decorrentes de uma ofensa à moral, à honra e outros bens imateriais de outrem. O

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respeito à integridade moral deve ser assegurado a todos, sem exceção. Destarte, os indivíduos que sofreram lesão em sua esfera moral devem procurar o Judiciário para que este promova a competente proteção e indenização dos direitos lesionados. A angústia, os aborrecimentos, as exasperações, os sofrimentos porque passou e passa o Autor, frente ao Banco Réu, para fazer valer seus direitos, são indescritíveis. Os mais de 20 (vinte) anos trabalhados na instituição financeira, durante os quais o Autor se dedicou de corpo e alma, deu sua vida, relegou a segundo plano a própria família, com seriedade, honestidade, dignidade e honradez, de nada valeram. A exemplo das demais instituições financeiras, cujos banqueiros controlam e traçam os destinos deste país a seu bel prazer, o Banco Réu, usou, abusou da dignidade do Autor. A começar pelos idos de 1981, quando o Autor foi obrigado a se socorrer do Poder Judiciário para fazer valer seus direitos, intentando reclamatória trabalhista pleiteando o que era justo e a lei lhe concedia. Assim é que, em 1985, para por fim ao processo trabalhista, Autor e Banco Réu firmaram um acordo, acordo este homologado por sentença do MM. Juiz da 23ª Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho. Com o trânsito em julgado da sentença, o Acordo fez coisa julgada material. Porém, o fato incontestável é que jamais o Banco Réu cumpriu referido Acordo. Equivale a dizer, o Banco Réu não respeitou nem a sentença judicial. Ora, estava expresso no Acordo que o Banco Réu deveria complementar a aposentadoria que o Autor recebe do INSS, como se na ativa estivesse. Só que o Banco Réu nunca pagou a remuneração ao Autor como se na ativa estivesse, ou seja, não cumpria o acordo judicial. Desde 1981, ou seja, há 20 (vinte) anos o Autor vem batalhando contra o Banco Réu no judiciário. Atormentou-lhe o pesadelo durante 20 anos de ser obrigado a perseguir no judiciário o que lhe era e é de direito e reconhecido pelo próprio Poder Judiciário. O Autor ao longo de sua caminhada, fez tudo o que foi possível para ser apenas gente. A humildade lhe convoca, sempre e sempre, para ser

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correto e justo na faina familiar e no meio social em que vive. À sua esposa e filhos sempre se resignou a mostrar-lhes os caminhos da verdade e do direito, por isso, às vezes, até desestimulado, incutia-lhes na mente de que o Poder Judiciário era e ainda é a sua única e última tábua de salvação para ter recuperado o que Banco Réu teimava-lhe em negar, a saber, sua dignidade. Em sua estima pessoal, como homem, esposo e pai, veio constituindo um somatório de valores para a construção do seu ego, compartilhando suas esperanças e otimismo, embora intimamente assaz amargurado, com seus familiares de modo a lhes fazer ver que sua hipossuficiência econômica perante a instituição financeira, não fosse motivo para que se mantivesse mudo, surdo, inerte, desesperançoso e prejudicado. Ruminou amarguras e angústias por duas décadas. Sentiu-se, por inúmeras vezes, impotente e humilhado ao longo de 20 de anos. Foi vítima de retaliação por parte do Banco Réu quando este sem qualquer razão simplesmente suspendeu o pagamento das quantias pelas quais estava obrigado a pagar ao Autor. O Banco Réu, por todos os meios e ações, quis subjugar o Autor, a ferro e força, a se associar à associação na qual não estava obrigado a se vincular. Sentiu, o Autor, suas forças debilitadas a cada revés e atitude descabida do Banco Réu em protelar o pagamento do que lhe era de direito e justiça. Não poucas vezes deparou-se nos extertores da rendição frente ao poderio econômico da instituição financeira. Contudo e a tudo suportou e pretende, agora, ver todo o dano moral do qual foi vítima ser devidamente reparado. O ilustre Professor Carlos Alberto Bittar assevera:

"Os danos morais plasmam-se, no plano fático, como lesões às esferas da personalidade humana situadas no âmbito do ser como entidade pensante, reagente e atuante nas infrações sociais. Deve, pois, suportar a mais veemente repulsa do Direito, que com razão, procura realizar a defesa dos valores básicos da pessoa e do relacionamento social”. (Reparação Civil por Danos Morais, São Paulo, RT, 1993).

Os danos morais são danos como os demais, portanto, sujeitos à reparação. Todavia, é na preocupação da harmonia e do equilíbrio que se justifica a aplicação mais ou menos rigorosa contra o infrator em favor do ofendido.

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Devendo na espécie, ser levado em conta o esforço pessoal, a função no meio social que ocupa a vítima e a capacidade de suportar, pecuniariamente a sua responsabilidade. Como frisou o mestre Clayton Reis, "portanto, reconheçamos que todas as ofensas contra a vida e integridade pessoal, contra o bom nome e reputação, contra a liberdade no exercício das faculdades físicas e intelectuais, podem causar um forte dano moral à pessoa ofendida e aos parentes, por isso mesmo estes têm o direito de exigir uma indenização pecuniária que terá função satisfatória." (O Dano Moral e sua Reparação, Forense, 1983, p. 331). A dor moral constitui emoção deprimente. E é sabido que as emoções, fortes e prolongadas, são maléficas para os mecanismos afetivos porquanto causam sequelas. Vale salientar que, a conduta do Banco Réu acarretou inúmeras seqüelas, interrompendo o equilíbrio biopsíquico do Autor, na tranqüilidade, nos entendimentos e nos afetos da sua pessoa, forçando-o a efetuar despesas com remédios, exames e consultas, provocando-lhe uma dor moral diante da situação enfrentada. Definindo a dor moral assim se expressa Alberto Pimentel Filho:

"No caso de descarga nervosa (conseqüentemente da representação mental) incidir sobre os nervos vaso-dilatadores, a circulação sangüínea ativa-se, o vigor físico aumenta, os músculos se contraem com mais energia. Esse aumento da circulação sangüínea ativa a nutrição dos tecidos, todas as funções se executam melhor; sente-se a plenitude da vida. E tudo isto produz um estado de consciência agradável, quer dizer, o tom da emoção é, neste caso, o prazer. Em condições opostas, incidindo a descarga nervosa sobre os centros e nervos vasoconstritores, a circulação afrouxa, o vigor físico deprime-se, a contração muscular é débil, ou se paralisa. O estado de consciência provocado por todas estas modificações é, então, desagradável: o tom da emoção é, neste caso, a dor". (Noções de Psicologia, 2 ª ed. P.223).

A ausência de prejuízo material, nesses casos, não constitui exceção, sabido que o dano se reflete muito mais uma situação de dor moral do que física, tornando, realmente, difícil o arbitramento de indenização, sabido que a moral, a honra, a dignidade não podem ter um preço correspondente à mera avaliação material. E, muitas vezes, a reparação maior do dano moral não se reflete no preço indenizatório. E, bem, por isso, não se encontra disposição legal expressa que possa estabelecer parâmetros ou dados específicos para o arbitramento, pois, sobretudo, nesses casos, não se pode deixar de considerar a situação econômica, financeira, cultural e social das partes envolvidas.

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Na lição do preclaro Augusto Zenum, apud, (Dano Moral e sua Reparação, Editora Forense, p.68), dano é o "que se origina do dever genérico, do qual é gerada a obrigação de reparar, donde o princípio segundo o qual o que faz o que não deveria fazer (dammum facere decitur quis facit quod sib non est permissum). De forma escorreita assim tem se posicionado a mais abalizada doutrina:

"A reparação do dano moral cumpre, portanto, uma função de justiça corretiva ou sinalagmática, por conjugar, de uma só vez, a natureza satisfatória da indenização do dano moral para o lesado, tendo em vista o bem jurídico danificado, sua posição social, a repercussão do agravo em sua vida privada e social e a natureza penal da reparação para o causador do dano, atendendo à sua situação econômica, a sua intenção de lesar (dolo ou culpa), a sua imputabilidade, etc." (MARIA HELENA DINIZ, INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, in Revista Jurídica, CONSULEX, ano 1 - n º 03, 1997).

No entender de Aguiar Dias, o dano moral é o efeito não patrimonial da lesão de direito e não a própria lesão abstratamente considerada. Para Savatier, dano moral é todo sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária. Na lição de Pontes de Miranda, nos danos morais a esfera ética da pessoa é que é ofendida, o dano não patrimonial é o que, só atingindo o devedor como ser humano, não lhe atinge o patrimônio. (TJRJ apud “Responsabilidade Civil, Rui Stocco, RT, 1994, p. 395). Para Carlos Alberto Bittar, “danos morais são lesões sofridas pelas pessoas, físicas ou jurídicas, em certos aspectos de sua personalidade, em razão de investidas injustas de outrem. São aqueles que atingem a moralidade e a afetividade da pessoa, causando-lhe constrangimento, vexames, dores, enfim, sentimentos e sensações negativas”. Ainda, recorrendo aos ensinamentos da ilustre jurista Maria Helena Diniz:

"O interesse em restabelecer o equilíbrio moral e patrimonial violado pelo dano é a fonte geradora da responsabilidade civil. Na responsabilidade civil são a perda ou a diminuição verificadas no patrimônio do lesado e o dano moral que geram a reação legal, movida pela ilicitude da ação do autor da lesão ou pelo risco. A responsabilidade civil cinge-se, portanto, à reparação do dano moral ou patrimonial causado, garantindo o direito do lesado à segurança, mediante o pleno ressarcimento do prejuízo, restabelecendo-se na medida do possível do statu quo ante. Na atualidade, o princípio que domina a responsabilidade civil é o da restitutio in integrum, ou seja, da completa reposição da vítima à situação anterior à lesão". Quando a vítima ou o lesado indireto reclama reparação pecuniária em virtude do dano moral que recai,

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por exemplo, sobre a honra, imagem, ou nome profissional não está pedindo um preço para a dor sentida, mas a penas que lhe outorgue um meio de atenuar em parte as conseqüências do prejuízo, melhorando o seu futuro, superando o déficit acarretado pelo dano, abrandando a dor ao propiciar alguma sensação de bem estar, pois, injusto e imoral seria deixar impune o ofensor ante as graves conseqüências provocadas pela sua falta. Na reparação do dano moral, o dinheiro não desempenha função de equivalência, como no dano patrimonial, porque não se pode avaliar economicamente valores dessa natureza, por isso, tem, concomitantemente, a função satisfatória e a de pena". (INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, ob. cit).

No mesmo sentido, Augusto Zenum:

"Quando falamos de dano não patrimonial, entendemos referir-se de dano que não lesa o patrimônio da pessoa. O conteúdo deste dano não é o dinheiro nem de uma coisa comercialmente reduzível em dinheiro; na il dolore, o sofrimento, a emoção, o defeito físico ou moral, em geral uma dolorosa sensação sentida pela pessoa, atribuindo-se à palavra dor o mais amplo sentido." (Dano Moral e sua Reparação, ed. Forense, p.76).

"Mas não há quem possa negar que a dor, o sofrimento e o sentimento deixam seqüelas, trazem sulcos profundos, abatendo a vítima, que se torna inerte, apática, indiferente a tudo e a todos, causando-lhe sérios danos morais e o desprazer de viver.... Os atributos do ser humano, as virtudes que o adornam e o dignificam são seus valores espirituais, os valores da honradez, do bom nome, de personalidade, dos sentimentos de afeição, em fim, todo patrimônio moral e espiritual de valia inestimável". (Arnoldo Marmitt, Perdas e Danos, Aide Editora, p.134). Em sentido jurídico, dano é a supressão ou diminuição de uma situação favorável que estava protegida pelo direito (Menezes Cordeiro, Direito das Obrigações, 2º vol., págs. 283). Todavia, a "proteção pelo direito" da "situação favorável", independe de uma norma jurídica escrita, posto que, como bem esclarece Pontes de Miranda (Tratado de Direito Privado, tomo I, págs. XII/XIII) a norma deve fazer parte do sistema jurídico, podendo ter sido escrita ou não, mas deve existir no sistema. Para caracterização do dano moral, ainda segundo Pontes de Miranda, é indispensável que a "situação favorável" que foi lesionada (suprimida ou diminuída) estivesse protegida pelo direito, o que pode significar que não é a lesão a qualquer situação favorável que fará surgir o dano. No caso do Autor, ele possuía uma “situação favorável” consistente no fato de que, pelo Acordo homologado por sentença judicial (norma) ele deveria receber do Banco Réu, a complementação da aposentadoria como se na ativa estivesse.

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E esta situação favorável foi lesionada, diminuída, interrompida, prejudicada pelo Banco Réu ao não cumprir a sentença judicial, pagando-lhe a menor e até suspendendo os pagamentos, obrigando-o a percorrer, durante anos e anos, a via crucis do judiciário em busca dos seus direitos, causando-lhe, em conseqüência amarguras, dissabores, atropelos, angústias que afetaram sobremaneira sua personalidade e modus vivendi. Enfim, a doutrina unanimente entende que dano moral é aquele que não afeta o patrimônio, consistindo em dores físicas, sofrimentos psíquicos, angústias, amarguras, aborrecimentos, resultantes da violação de direitos da personalidade, mormente, sem razão por parte do causador, como é o caso. E tudo isso, conforme relatado até aqui o Autor passou e foi submetido pelo Banco Réu. A jurisprudência pátria é torrencial na afirmação de que o Autor tem justo direito à indenização que reclama.

"Estão acordes todos os autores em reconhecer e confessar a dificuldade, a impossibilidade se quiserem, de dar uma expressão econômica a valores morais como esse que perdeu a autora. Mas ao mesmo tempo, na doutrina dos melhores escritores e da jurisprudência dos Tribunais mais adiantados, afirma-se que é preciso reconhecer e consagrar o direito a uma justa indenização" (Acórdão do Supremo Tribunal Federal, Revista dos Tribunais, vols. 8, pág.181, e II, pág.35.) “Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 000772/90. Relator Ministro Waldemar Zveiter. Ementa: Responsabilidade Civil - Indenização - Dano Moral e Material. Se existe dano material e dano moral, ambos ensejando indenização, esta será devida como ressarcimento de cada um deles, ainda que oriundo do mesmo fato”. “Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 0008768. Relator Ministro Barros Monteiro. Ementa: Dano moral puro. Caracterização. Sobrevindo em razão de ato ilícito, perturbação nas relações psíquicas, na tranqüilidade, nos entendimentos e nos afetos de uma pessoa, confira-se o dano moral, passível de indenização. Recurso Especial conhecido e provido”. “Indenização. Dano moral. Reparação que independe da existência de seqüelas somáticas. Inteligência do art. 5 º, V, da CF e da Súm.37 do STJ. Ante o texto constitucional novo é indenizável o dano moral, sem que tenha a norma (art. 5º, V) condicionado a reparação à existência de seqüelas somáticas. Dano moral é moral”. (1 º TACSP – EI 522.690/8-1 – 2 º Gr. Cs – Rel. Juiz Octaviano Santos Lobo – j. 23.06.94) (RT. 712/170) “Responsabilidade Civil. Ato Ilícito. Molestamento Verbal. Dano Moral e Material. Enseja reparação civil de conformidade com o art. 159 do CC, o molestamento verbal reiterado de caráter sexual, apto a causar danos morais, em razão do constrangimento ou ofensa moral, e danos materiais,

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consistentes nas despesas efetuadas em defesa do direito à tranqüilidade e ao bom nome do cidadão”. (TAMG – AC 186.553-6 – 1 ª c – Rel. juiz Cruz Quintão – DJMG 07.10.95)

IV - DO QUANTUM DOS DANOS MORAIS Questão bastante controvertida é a quantificação dos danos morais, uma vez que não há lei regulamentando a matéria. No entanto, a doutrina e a jurisprudência são unânimes em afirmar que a mesma deve ser ajustada na proporção dos danos causados, na repercussão dos mesmos e na situação econômica de ambas as partes (ofensor e ofendido). O Código Civil, bem como algumas leis esparsas, estabelecem critérios para a quantificação de alguns danos não patrimoniais. O artigo 1.547 do Código Civil trata apenas da indenização por injúria ou calúnia. No entanto diversas espécies de danos morais não se encontram abrangidas pela disciplina do Código Civil o que não impede a sua ressarcibilidade. Já os artigos 1.549 e 1.553 do Código Civil, nos casos que especificam, deixaram ao arbítrio do juiz a quantificação da indenização. O valor da indenização deve ser fixado de forma a coibir a prática reiterada do dano moral. Revela-se inadmissível, portanto, a estipulação de quantia inócua frente ao poder financeiro do agente da lesão. Diante disso, a reparação pecuniária deve guardar relação diretamente proporcional com a capacidade econômica do agressor. Com isso, quanto maior o patrimônio deste, maior a indenização a que se tem direito. Uma vez inobservada a função inibitória da punição, concede-se ao ofendido a possibilidade de recurso à instância superior. Em contrapartida, também, deve-se vislumbrar a hipótese em que, através da decisão, onera-se abusivamente o ofensor. Não se pode conceder ressarcimento de vulto a implicar no enriquecimento ilícito do ofendido. Caso se observe tal vício, ao vencido no caso concreto, também, é facultado a interposição do recuso adequado. Não pode ser a pecúnia doloris uma satisfação simbólica porque não repercutirá jamais no Banco Réu, pois continuará a praticar o mesmíssimo dano a exemplo do que já ocorrera. A sua obrigação reparadora há de ser sentida, financeiramente, pois é onde mais pode lhe pesar como admoestação. Ao mesmo tempo em que amenizará a dor moral do Autor.

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Dessa maneira, o juiz, ao proferir a sentença nos casos de indenização por dano moral, deve nortear-se no equilíbrio entre os aspectos acima mencionados: a prevenção de novas práticas lesivas à moral e as condições econômicas dos envolvidos. Ocorre, no entanto, que a jurisprudência brasileira, modificando o direito legislado, fixou que cabe ao juiz, a seu prudente arbítrio, fixar a indenização por dano moral. Assim, pode-se citar, dentre muitos outros, os seguintes Acórdãos:

“RSTJ 105/230, Recurso Especial nº 53.321 - RJ, Relator Ministro Nilson Naves. Ementa: Responsabilidade civil. Imprensa (publicação de notícia ofensiva). Ofensa à honra. Dano moral. Valor da indenização. Controle pelo STJ. 1. Quem pratica pela imprensa abuso no seu exercício responde pelo prejuízo que causa. Violado direito, ou causado prejuízo, impõe-se sejam reparados os danos. Caso de reparação de dano moral, inexistindo, nesse ponto, ofensa a texto de lei federal 2. Em não sendo mais aplicável a indenização a que se refere à Lei nº 5.520/67, deve o juiz, no entanto quantificá-la moderadamente. O critério da pena de multa máxima prevista no Cód. Penal (em dobro, segundo o disposto no Cód. Civil, art. 1.547, parágrafo único) nem sempre é recomendável. 3. O valor da indenização por dano moral não pode escapar ao controle do Superior Tribunal de Justiça. 4. Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido em parte, para reduzir-se o valor da condenação." “RSTJ 106/329. Recurso Especial nº 123.205 - ES, Relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Ementa: Dano moral. Indenização. O artigo 1.547, parágrafo único do Código Civil, embora não seja indicativo de valor certo nem de teto para a estimação da indenização do dano moral, serve de parâmetro, juntamente com outras disposições legais, para o arbitramento judicial. Recurso conhecido e provido em parte”. “RSTJ 99/179. Recurso Especial nº 52.842-RJ. Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Ementa: Recurso especial. Dano Moral. Lei de Imprensa. Limite da Indenização. Prova do dano. Prequestionamento. 1. O dano moral é o efeito não patrimonial da lesão de direito, recebendo da Constituição de 1988, na perspectiva do relator, um tratamento próprio que afasta a reparação dos estreitos limites da lei especial que regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação. De fato, não teria sentido pretender que a regra constitucional que protege amplamente os direitos subjetivos privados nascesse limitada pela lei especial anterior ou, pior ainda, que a regra constitucional autorizasse um tratamento discriminatório. 2. No presente caso, o Acórdão recorrido considerou que o ato foi praticado maliciosamente, de forma insidiosa, por interesses mesquinhos, com o que a limitação do invocado art. 52 da Lei de Imprensa não se aplica, na linha de precedente da Corte. 3. ... 4. ... 5. O valor da indenização deve moldar-se pelo prudente arbítrio do juiz, adotada a técnica do quantum fixo, não havendo qualquer violação ao art. 1.547 do Código Civil nem, muito menos, ao art. 49 do Código Penal, diante do critério adotado pelo Acórdão

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recorrido. 6. Recurso Especial da empresa conhecido, em parte, mas, improvido; Recurso Especial do autor não conhecido”. “RT 730/207. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Apelação nº 6.303-4/1 - j. 02.04.1996 Relator: Des. Guimarães e Souza. Ementa: O arbitramento do dano moral é apreciado ao inteiro arbítrio do Juiz que, não obstante em cada caso, deverá atender à repercussão econômica dele, à prova da dor e ao grau de dolo ou culpa do ofensor."

Como se vê, fica a critério do juiz arbitrar, motivadamente, o dano não patrimonial. É de se constatar, outrossim, que em matéria de responsabilidade civil por dano não patrimonial, a indenização concedida ao lesionado deve possuir função punitiva, à semelhança, aliás, de qualquer indenização. Neste sentido, o magistério de Maria Helena Diniz:

"A reparação do dano moral é, em regra, pecuniária, ante a impossibilidade do exercício do jus vindicatae, visto que ele ofenderia os princípios da coexistência e da paz sociais. A reparação em dinheiro viria neutralizar os sentimentos negativos de mágoa, dor, tristeza e angústia, pela superveni6encia de sensações positivas de alegria ou satisfação, pois possibilitaria ao ofendido algum prazer que, em certa medida, poderia atenuar seu sofrimento. Trata-se da reparação por equivalente, ou melhor, da indenização entendida como remédio subrogatório, de caráter pecuniário, do interesse atingido. (....) Logo, quando a vítima ou o lesado indireto reclama reparação pecuniária em virtude do dano moral que recai, por exemplo, sobre a honra, imagem, ou nome profissional não está pedindo um preço para a dor sentida, mas apenas que se lhe outorgue um meio de atenuar em parte as conseqüências do prejuízo, melhorando seu futuro, superando o déficit acarretado pelo dano, abrandando a dor ao propiciar alguma sensação de bem-estar, pois, injusto e imoral seria deixar impune o ofensor ante as graves conseqüências provocadas pela sua falta. (....) Na avaliação do dano moral, o órgão judicante deverá estabelecer uma reparação eqüitativa, baseada na culpa do agente, na extensão do prejuízo causado e na capacidade econômica do responsável. (....) A reparação do dano moral cumpre, portanto, uma função de justiça corretiva ou sinalagmática, por conjugar, de uma só vez, a natureza satisfatória da indenização do dano moral para o lesado, tendo em vista o bem jurídico danificado, sua posição social, a repercussão do agravo em sua vida privada e social e a natureza penal da reparação para o causador do dano, atendendo a sua situação econômica, a sua intenção de lesar (dolo ou culpa), a sua imputabilidade, etc".

Inúmeros julgados vertem para o mesmo entendimento.

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“Indenização - Dano moral - Arbitramento - Critério - Juízo prudencial - Ação procedente - Recurso provido para esse fim. A indenização por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve em conta a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo atentado, o autor da ofensa. Ementas oficiais: 1. Responsabilidade Civil - Erro bancário culposo - Nome de correntista - Registro indevido na central de restrições de órgão de proteção ao crédito - Dano moral configurado - Indenização devida - Provimento ao recurso - Ação julgada procedente - Aplicação do artigo 5º, Inciso X, da Constituição da República, e artigo 159 do Código Civil. Responde, a título de ato ilícito absoluto, pelo dano moral conseqüente, o estabelecimento bancário que, por erro culposo, provoca registro indevido do nome de cliente em central de restrições de órgão de proteção ao crédito. 2. Indenização - Dano moral - Arbitramento Critério - Juízo prudencial. A indenização por dano moral é arbitrável, mediante estimativa prudencial que leve em conta a necessidade de, com a quantia, satisfazer a dor da vítima e dissuadir, de igual e novo atentado, o autor da ofensa (TJSP – 2ª Câm. Civil - Ap. Cível nº 198.945-1/SP; Rel. Des. Cezar Peluso; j. 21.12.1993; v.u.)” JTJ 156/94. “TJSP - Matéria: Indenização - Danos Morais - Recurso: AC 131663 1 - Relator: Cezar Peluso - Data: 16/04/91. ementa: Indenização - Dano moral - Protesto cambiário indevido - Procedência - Autora que arcou com descrédito econômico e conseqüente perda da confiança pública na capacidade de cumprir suas obrigações negociais - garantia de ressarcimento expressa no art. 5, x da Cf - quantum arbitrável (art. 1.553 do CC), eis que não há critério objetivo para seu cálculo - fixação em cem vezes o valor do título, corrigido desde a data do processo e juros de mora desde a citação - recurso parcialmente provido”. “TAMG - Processo: 0186974-5/01 - Proc. Princ.: 186974-5 - Descrição: Embargos Infringentes (CV) - Origem: Juiz de Fora - Órgão: 7ª Câmara Cível - Julgamento: 30/11/1995 - Relator: Juiz Fernando Bráulio - Decisão: Por maioria - Ementa: Indenização - Injúria - Dano moral .- Fixação - art. 1.547, parágrafo único, do CC - voto vencido - É razoável para a fixação do quantum indenizatório devido por danos morais ter-se em conta a natureza da infração e a pena pecuniária máxima prevista para o crime. v. v. - a fixação da soma reparadora, referente aos danos morais ocasionados a vitima constrangida por ter sido abordada e revistada pela polícia em público, em local onde a mesma é considerada socialmente pessoa de bem e sem mácula, vindo tal ato ferir-lhe a suscetibilidade da auto-estima, deve representar um fator de minimização da dor por ela experimentada, levando-se em consideração, ainda, o suporte econômico do causador do dano”. “TAMG - Processo: 0227912-3/00 - Descrição: Apelação (CV) - Origem: Belo Horizonte - Órgão: 3ª Câmara Cível - Julgamento: 19/02/1997 - Relator: Juiz Duarte De Paula - Decisão: Unânime - Publicação: RJTAMG 66/148. Ementa: Indenização - Estabelecimento comercial - Legitimatio ad causam - Culpa - Serviço de proteção ao crédito - Dano moral - Fixação há legitimidade da empresa vendedora para responder pela reparação de danos morais, quando negligência em não comunicar a à financiadora o desfazimento da negócio ilícito por ela realizado com interposta pessoa, após receber em devolução a mercadoria, produto do delito, deixando que seja

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levado o nome da vítima do furto de documentos aos registros do SPC. - na fixação da indenização por danos morais deve-se ter em conta a satisfação do lesado e a repercussão econômica do quantum fixado no patrimônio do que pratica a lesão”. “TAMG - Processo: 0229151-8/00 - Descrição: Apelação (CV) - Origem: Belo Horizonte: - Órgão: 4ª Câmara Cível - Julgamento: 02/04/1997 - Relator: Juiz Ferreira Esteves - Decisão: Unânime - Publicação: Não Publicado. Ementa: Indenização - Dano moral - Duplicata protesto de títulos serviço de proteção ao crédito - quantum debeatur - fixação denunciação da lide - direito de regresso - o indeferimento de pedido de denunciarão a lide não induz a nulidade da sentença, vez que a falta de instauração da lide secundária não impede o exercício do direito de regresso. - o protesto de duplicata emitida sem causa gera, por si só. o direito a indenização por danos morais, com a relevância, no presente caso, pelo envio do nome ao SPC, cancelamento de cheque especial e impedimento de se poder comprar pelo sistema de crediário. - para a fixação do quantum indenizatório devem ser levados em consideração os seguintes elementos orientadores, quais sejam, a extensão e conseqüências do dano sofrido, o interesse em conflito de modo que reflita de forma expressiva no patrimônio do lesante, visando coibir a pratica de referidos atos atentatórios a imagem da pessoa e a situação econômico-financeira, tanto do causador do dano, como da vítima”.

V - DO DIREITO Só pela narração dos fatos apontados, conclui-se, com clarividência solar, que o Autor sofreu e ainda sofre sérios danos patrimoniais e morais perpetrados pelo Banco Réu, danos estes que devem ser reparados, segundo o ordenamento jurídico pátrio. Com efeito, prescreve o inciso V, do artigo 5º da Constituição Federais que "é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem". Também, segundo o inciso X, do mesmo artigo, "são invioláveis a intimidade, a via privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação". Neste mesmo sentido, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), ao estabelecer os direitos básicos do consumidor, estabelece em seu artigo 6º, inciso VI, "a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos". A reparação dos danos materiais está fundamentada nos artigos 159, 1059 e 1060 do Código Civil.

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O Banco Réu causou ao Autor um prejuízo financeiro não pagando no tempo certo e de forma correta a complementação de aposentadoria, segundo havia acedido, no acordo judicial, firmado em 1985 e homologado por sentença judicial do MM. da 23ª Junta de Conciliação e Julgamento da Justiça do Trabalho. Com isso, ao pagar acumuladamente todas as diferenças apuradas ao longo de 15 anos, ocasionou um aumento desnecessário na carga tributária suportada pelo Autor, conforme demonstrado e comprovado. E toda esta situação, consistente na demora de cumprir o Acordo judicial, ao longo dos anos, somada ao fato de que o Banco Réu chegou até a suspender o pagamento da complementação da aposentadoria, causou-lhe danos morais em razão dessa situação de constrangimento, sofrimento, amargura e desgosto a que foi obrigado a se sujeitar, por puro capricho da referida instituição financeira. Sendo assim, cabe ao Banco Réu ressarcir todos estes danos materiais, patrimoniais e morais suportados pelo Autor, por culpa única e exclusiva dele mesmo. VI - DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM A competência da Justiça Comum para decidir a presente demanda é inconteste. As relações atuais mantidas entre o Autor e o Banco Réu não têm natureza laboral, afeta à Justiça do Trabalho, mesmo porque se trata de ex-empregado daquela instituição financeira e que se encontra aposentado. De fato, o Autor está pleiteando reparação de danos materiais e morais decorrentes de obrigação não cumprida pelo Banco Réu, muito embora contraída em sede de reclamatória trabalhista, todavia, seus reflexos estão subjugados a decisum da Justiça Comum. Ademais, o Autor nem empregado é do Banco Réu desde 1981. As execuções das verbas não pagas foram promovidas na Justiça Laboral tendo em vista que o Acordo judicial foi lá concretizado. Sendo assim, não sendo mais empregado, as conseqüências pela conduta dolosa do Banco Réu, ao longo dos anos, estão afetas à Justiça Comum.

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De mais a mais, a jurisprudência é pacífica quanto à competência da Justiça Comum para dirimir conflitos desta natureza. Confira-se:

“A natureza jurídica da lide é que determina a competência em razão da matéria. A ação de indenização por danos morais proposto por ex-empregado contra ex-empregador não tem natureza trabalhista, tendo em vista a extinção do contrato de trabalho, trata-se, pois de matéria pertinente à responsabilidade civil, que compete à justiça estadual comum processar e julgar”. (CC 18272, Reg. 96/0059377-9, Romildo Bueno de Souza - STJ - DJU - Pg. 100 – 1/2/1999. “Falece competência à Justiça do Trabalho apreciar e julgar pedidos de ressarcimento de danos morais, ainda que exsurgente de responsabilidade no âmbito da relação empregatícia, exatamente porque a matéria não se reveste de índole trabalhista (e sim de natureza iniludivelmente civil); e, ainda, porque só uma lei ordinária, poderia atribuir competência à Justiça Especializada, diante do permissivo constitucional, extraído do termo e outras controvérsias oriundas da relação de trabalho, na forma da lei” colocado no corpo do art. 114, da Constituição Federal” (RO 6664/97, Ac. 1ª T, Manuel Cândido Rodrigues - TRT - MG - Boletim Doutrina e Jurisprudência – 5/12/1997). “A Norma Consolidada, quando trata das reparações que devem ser praticadas por empregado e empregador, quando das rescisões contratuais, não elenca em nenhum momento indenização por danos morais. Tal matéria reveste-se de natureza estritamente civil, razão pela qual a competência para apreciar tal pleito é da Justiça Comum”. (640/97, Ac. 2695/97, Raimundo Feitosa de Carvalho - TRT - CE - DOJT – 13/8/1997 “Conflito de competência. Empregado. É a Justiça Comum a competência para processar e julgar ação de indenização por dano moral”. (CC 21.964/SP, Reg. 98.229060, Ruy Rosado de Aguiar Junior - STJ - DJU – 22/6/1998) “É da Justiça Comum a competência para processar e julgar ação de indenização por dano moral”. (CC 20.151/SP, Reg. 97.543242, Ruy Rosado de Aguiar Junior - STJ - DOU - seção l - 6/4/1998). “Em hipótese assemelhada, já ficou anotado o seguinte entendimento jurisprudencial: COMPETÊNCIA - Ação por danos morais e materiais -Julgamento afeto à Justiça Comum - Exigência e publicação de exame hematológico de empregado. com resultado soro positivo para Aids - Pretensão contra empregadora que não se funda na Consolidação das Leis Trabalhistas - lnaplicabilidade do artigo 114 da Constituição da República - Recurso provido. Objetivando indenização por danos. inclusive morais, não pode a causa estar compreendida no rol das controvérsias decorrentes da relação de trabalho " (Agravo de Instrumento n° 243.762-1, São Paulo, Relator J. Roberto Bedran - CCIV2, v.u., 07.02.95). No mesmo sentido, os julgamentos constantes da RT 752/145 e Agravo de Instrumento n° 21.011-

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5, de São Paulo, 8ª Câmara de Direito Público, Relator Celso Bonilha, j. em 02.10.96, v.u. Pelo exposto, ao recurso foi dado provimento.”

VII - DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA Atualmente, o Autor recebe, mensalmente, o montante de R$.1.626,35, sendo, parte do Banco Réu, no valor de R$.1.050,52 e parte do INSS, no valor de R$.575,83. Além das despesas pessoais, o Autor tem gastos com sua família, incluindo despesas com alimentação, luz, água, gás, telefone, saúde de si próprio e da sua esposa e filhos. Como pode se perceber, Excelência, os rendimentos do Autor são irrisórios. Não pode o Autor nem mesmo arcar com as custas iniciais desta ação, ainda que à taxa de 1% (um por cento), sob pena de comprometer sua renda familiar. Em outras palavras, a situação econômica do Autor não lhe permite pagar custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio e da sua família. Diante disso, declara-se o Autor pobre nos termos e sob as penas da Lei nº 1.060/50, com redação dada pela Lei nº 7.510/86, motivo pelo qual requer os benefícios da assistência judiciária gratuita, inclusive por ser tal medida amplamente amparada pela atual Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXXIV. VIII – DA CITAÇÃO DO BANCO RÉU Conforme é público e notório o Banco Réu foi incorporado pelo Banco ............ Na verdade, o Banco ..... comprou o Banco Réu, conforme Ata de Assembléia (doc. 17). Conforme se vê dos documentos de (docs. 17), o Banco............ detém o controle acionário do Banco Réu, possuindo 85% (oitenta e cinco por cento) das ações ordinárias deste último. Com a aquisição do Banco Réu pelo Banco ......., todas as suas agências, sucursais e filiais em São Paulo foram encerradas. Onde era a sucursal do Banco Réu em São Paulo, agora é agência do Banco .........., estando ali lotados os antigos funcionários do Banco Réu.

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Ainda, conforme se vê (doc. 17) os advogados do Banco Réu são os mesmos do Banco .........., até porque, o Departamento Jurídico do Banco Réu agora é o mesmo do Banco ...... Até para lavrar o instrumento de procuração, para ambos os Bancos, o Tabelião foi o mesmo. Portanto, Banco ..... e o Banco Réu se confundem, sendo a rigor, a mesma instituição financeira, ou no mínimo, o primeiro é o sucessor do segundo. Enfim, é o mesmo Banco. A aplicação da teoria da descaracterização da personalidade jurídica in casu, em relação ao Banco Réu – BANCO ........... S/A., é perfeitamente aplicável. 9. Por tais, razões a fim de agilizar o processamento da presente demanda, requer o Autor que a citação do Banco Réu seja feita na pessoa do representante legal do seu acionista majoritário, no caso o Banco ...., na Agência localizada na Rua ........... Centro, em São Paulo, ou, alternativamente, no endereço do seu Departamento Jurídico, na sede Administrativa do Banco ............ sito na Praça ..........., Jabaquara, São Paulo-SP, CEP ..........., conforme consta dos instrumentos de procuração outorgada pelo Banco Réu na demanda trabalhista. IX - DO PEDIDO Por todo o exposto, requer o Autor: a) A citação do Banco Réu para, querendo, contestar no prazo legal a presente ação, sob pena de confesso e serem presumidos como verdadeiros os fatos narrados pelo Autor; b) Seja a presente ação julgada totalmente procedente, com a condenação do Banco Réu a pagar ao Autor, os danos materiais a serem apurados em liquidação de sentença, bem como os danos morais, estes a serem arbitrados por este d. magistrado. c) Seja o Banco Réu condenado no pagamento das custas judiciais e honorários advocatícios, estes na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação; d) Os benefícios da Justiça Gratuita, por ser o Autor pobre nos termos da Lei, conforme já demonstrado e declarado.

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e) Na citação, os benefícios do artigo 172 do Código de Processo Civil; Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, especialmente, oitiva de testemunhas, depoimento pessoal do representante legal do Banco Réu, juntada de novos documentos e perícias, se necessárias. 3. Dá à causa o valor de R$.10.000,00 (dez mil reais), para efeitos fiscais e de alçada.

N. Termos.

P. E. Deferimento.

São Paulo, 04 de fevereiro de 2001

______________________ JOÃO BATISTA CHIACHIO

OAB/SP nº 35.082