exercício resistido para o paciente hipertenso indicação ou contraindicação

6
Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003 Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T Exercício Exercício Exercício Exercício Exercício resistido para o esistido para o esistido para o esistido para o esistido para o paciente aciente aciente aciente aciente hipertenso: ipertenso: ipertenso: ipertenso: ipertenso: indicação ou contra-indicação indicação ou contra-indicação indicação ou contra-indicação indicação ou contra-indicação indicação ou contra-indicação Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo, Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo, Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo, Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo, Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo, Débora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís Tinucci Débora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís Tinucci Débora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís Tinucci Débora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís Tinucci Débora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís Tinucci Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo O treinamento físico aeróbio promove um importante efeito hipotensor em pacientes hipertensos e, por esse motivo, tem sido recomendado no tratamento da hipertensão arterial. Entretanto, mais recentemente, tem aumentado o interesse científico sobre os efeitos cardiovasculares de um outro tipo de exercício físico, os exercícios resistidos. Esses exer- cícios caracterizam-se por contrações de músculos específicos contra uma resistência externa e são chamados na área da atividade física de exercícios de musculação. Apesar de os dados científicos serem ainda escassos e dúbios, os exercícios resistidos apresentam efeitos cardio- vasculares diferentes em função de sua intensidade. Assim, os exercícios de baixa intensidade, que promovem melhora da resistência muscular localizada (RML), causam aumentos Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Pressão arterial; Exercício resistido; Hipertensão arterial. Recebido: 09/04/03 – Aceito: 07/05/03 Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003 Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003 Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003 Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003 Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003 Correspondência: Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (LAHAM – EEFEUSP) Profa. Dra. Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz Av. Prof. Mello Moraes, 65 – Butantã CEP 05508-900 – São Paulo, SP Tel.: (11) 3091-3136 E-mail: [email protected] modestos da pressão arterial durante sua execução, reduzem essa pressão após sua realização e, em longo prazo, podem promover uma pequena queda da pressão arterial de hipertensos. Por outro lado, os exercícios resistidos de alta intensidade, que visam à melhora da força/hipertrofia muscular, promovem um aumento extremamente grande da pressão arterial durante sua execução, o que pode levar ao rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes, que são mais comuns em hipertensos. Além disso, esses exercícios, apesar de reduzirem a pressão arterial após sua finalização, não apresentam efeito hipotensor em longo prazo. Dessa forma, os exercícios resistidos de baixa intensidade são indicados aos hipertensos em complemento aos exercícios aeróbios, mas os exercícios resistidos de alta intensidade devem ser evitados nesses pacientes. Introdução Introdução Introdução Introdução Introdução A prática regular de exercícios físi- cos aeróbios é recomendada como par- te do tratamento não-medicamentoso da hipertensão arterial 1 . Isso ocorre por- que o potencial hipotensor do trei- namento aeróbio já está bem demons- trado 2 e os riscos envolvidos nesse tipo de exercício são pequenos. Nas últimas décadas, no entanto, o interesse científico tem se voltado para a análise dos efeitos cardiovas- culares de um outro tipo de exercício físico, o exercício resistido e, principal- mente, para seus efeitos sobre a pressão arterial. Entretanto, como essa preocupação é muito recente, várias

Upload: rafael-pereira

Post on 01-Jun-2015

709 views

Category:

Education


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Exercício resistido para o paciente hipertenso  indicação ou contraindicação

119

Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T

Exercício Exercício Exercício Exercício Exercício rrrrresistido para o esistido para o esistido para o esistido para o esistido para o pppppacienteacienteacienteacienteacientehhhhhipertenso: ipertenso: ipertenso: ipertenso: ipertenso: indicação ou contra-indicaçãoindicação ou contra-indicaçãoindicação ou contra-indicaçãoindicação ou contra-indicaçãoindicação ou contra-indicação

Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo,Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo,Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo,Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo,Cláudia Lúcia de Moraes Forjaz, Cláudio Chaim Rezk, Cíntia Matos de Melo,Débora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís TinucciDébora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís TinucciDébora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís TinucciDébora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís TinucciDébora Andréa dos Santos, Luiz Teixeira, Sandra de Souza Nery, Taís Tinucci

ResumoResumoResumoResumoResumoO treinamento físico aeróbio promove um importante efeitohipotensor em pacientes hipertensos e, por esse motivo,tem sido recomendado no tratamento da hipertensão arterial.Entretanto, mais recentemente, tem aumentado o interessecientífico sobre os efeitos cardiovasculares de um outrotipo de exercício físico, os exercícios resistidos. Esses exer-cícios caracterizam-se por contrações de músculosespecíficos contra uma resistência externa e são chamadosna área da atividade física de exercícios de musculação.Apesar de os dados científicos serem ainda escassos edúbios, os exercícios resistidos apresentam efeitos cardio-vasculares diferentes em função de sua intensidade. Assim,os exercícios de baixa intensidade, que promovem melhorada resistência muscular localizada (RML), causam aumentos

Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave:Palavras-chave: Pressão arterial; Exercício resistido; Hipertensão arterial.

Recebido: 09/04/03 – Aceito: 07/05/03 Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003

Correspondência:Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da Escola de Educação Física eEsporte da Universidade de São Paulo (LAHAM – EEFEUSP)Profa. Dra. Cláudia Lúcia de Moraes ForjazAv. Prof. Mello Moraes, 65 – ButantãCEP 05508-900 – São Paulo, SPTel.: (11) 3091-3136E-mail: [email protected]

modestos da pressão arterial durante sua execução, reduzemessa pressão após sua realização e, em longo prazo, podempromover uma pequena queda da pressão arterial dehipertensos. Por outro lado, os exercícios resistidos de altaintensidade, que visam à melhora da força/hipertrofiamuscular, promovem um aumento extremamente grandeda pressão arterial durante sua execução, o que pode levarao rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes, quesão mais comuns em hipertensos. Além disso, essesexercícios, apesar de reduzirem a pressão arterial após suafinalização, não apresentam efeito hipotensor em longoprazo. Dessa forma, os exercícios resistidos de baixaintensidade são indicados aos hipertensos em complementoaos exercícios aeróbios, mas os exercícios resistidos de altaintensidade devem ser evitados nesses pacientes.

IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoA prática regular de exercícios físi-

cos aeróbios é recomendada como par-te do tratamento não-medicamentosoda hipertensão arterial1. Isso ocorre por-

que o potencial hipotensor do trei-namento aeróbio já está bem demons-trado2 e os riscos envolvidos nesse tipode exercício são pequenos.

Nas últimas décadas, no entanto,o interesse científico tem se voltado

para a análise dos efeitos cardiovas-culares de um outro tipo de exercíciofísico, o exercício resistido e, principal-mente, para seus efeitos sobre apressão arterial. Entretanto, como essapreocupação é muito recente, várias

Page 2: Exercício resistido para o paciente hipertenso  indicação ou contraindicação

120

Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T

dúvidas ainda existem e, até mesmo anomenclatura utilizada para deno-minar esse tipo de exercício aindanão está padronizada, o que faz comque muitas confusões ocorram e resul-tem em conflitos sobre a indicaçãoou contra-indicação desse exercíciopara pacientes hipertensos.

Dessa forma, o objetivo desse arti-go será apresentar e discutir os conhe-cimentos científicos atuais que pos-sam contribuir para uma análise críticadessa questão. Para tanto, será neces-sário avaliar os possíveis efeitos bené-ficos (hipotensores) desse tipo de exer-cício, ponderando-os com os possí-veis riscos envolvidos durante sua exe-cução e abordando também os fatoresque influem na relação entre o risco eo benefício.

Definição de exercíciosDefinição de exercíciosDefinição de exercíciosDefinição de exercíciosDefinição de exercíciosresistidosresistidosresistidosresistidosresistidos

Exercício resistido é a denomina-ção que vem sendo utilizada na áreamédica, o que na educação física échamado de exercício de força,exercício localizado, exercício compesos ou exercício de musculação.

Os exercícios resistidos caracteri-zam-se por exercícios nos quais ocor-rem contrações voluntárias da muscu-latura esquelética de um determinadosegmento corporal contra alguma resis-tência externa, ou seja, contra umaforça que se opõe ao movimento, sendoque essa oposição pode ser oferecidapela própria massa corporal, por pesoslivres ou por outros equipamentos,como aparelhos de musculação, elás-ticos, ou resistência manual3.

Os exercícios resistidos podem serexecutados em diferentes intensi-dades. Quando são feitos com inten-sidade leve (40% a 60% da cargavoluntária máxima – CVM, ou seja,40% a 60% do peso máximo que seconsegue levantar somente uma vez),várias repetições (20 a 30) podem ser

realizadas e o resultado dessa práticaserá o aumento da resistência da mus-culatura envolvida no exercício. Poresse motivo, esse tipo de exercícioresistido (baixa intensidade e muitasrepetições) é chamado de exercíciode resistência muscular localizada(RML). Por outro lado, quando osexercícios são realizados em intensi-dades maiores (acima de 70% daCVM), o número de repetições nãopode ser muito alto (8 a 12) e obtêm-se como resultado do treinamento oaumento da massa muscular (hiper-trofia) e da força da musculaturaenvolvida no exercício. Assim, esseexercício (alta intensidade e poucasrepetições) é chamado de exercíciode força/hipertrofia3.

Respostas pressóricasRespostas pressóricasRespostas pressóricasRespostas pressóricasRespostas pressóricasdurante o exercíciodurante o exercíciodurante o exercíciodurante o exercíciodurante o exercícioresistidoresistidoresistidoresistidoresistido

Para se discutir as respostas pres-sóricas durante a execução de exer-cícios resistidos é importante ressaltarque apenas a medida direta intra-arte-rial é considerada válida, visto queWiecek et al.4 observaram que a me-dida auscultatória indireta subestimaos valores reais em 15% durante arealização do exercício e em mais de30%, se for realizada imediatamenteapós a finalização deste.

Nos exercícios de baixa intensi-dade (RML) observou-se aumentotanto da pressão arterial sistólicaquanto da diastólica em cardiopatas,sendo essa elevação pequena e con-siderada segura4,5. Entretanto, emjovens e idosos saudáveis6 e em hiper-tensos7, esse exercício aumentou ape-nas a pressão arterial sistólica.

Por outro lado, a resposta pres-sórica durante o exercício de força/hipertrofia caracteriza-se pela eleva-ção exagerada tanto da pressãoarterial sistólica quanto da dias-tólica8,9. MacDougall et al.8 regis-

traram valores médios de pressãoarterial sistólica/diastólica de 320/250 mmHg e, em um dos volun-tários, a pressão arterial chegou a480/350 mmHg (Figura 1).

Os mecanismos apontados comopossíveis responsáveis pelo aumentodramático da pressão arterial nosexercícios resistidos de alta intensi-dade são: a pressão mecânica da mus-culatura contraída sobre os vasos san-guíneos esqueléticos e a elevação dapressão intratorácica (60 mmHg) ge-rada pela manobra de Valsalva, cujarealização é inevitável quando o exer-cício é feito em intensidades acimade 75% a 80% da CVM9.

A magnitude da resposta pressó-rica durante o exercício resistido estádiretamente relacionada às caracte-rísticas do exercício, ou seja, a in-tensidade, o número de repetições ea massa muscular envolvida3,5,6,8,9,10.A pressão arterial aumenta propor-cionalmente à intensidade do exercí-cio5,6,8,9 e atinge os valores mais altosnas últimas repetições de cadasérie3,4,8,9,10. Dessa forma, os maioresvalores pressóricos são observadosnos exercícios com várias repetiçõese em alta intensidade (8 a 12 repeti-ções em 70% a 85% CVM). De fato,nesses exercícios (força/hipertrofia),a elevação pressórica é maior que emum teste de carga máxima, ou seja, noexercício com uma única repetiçãoem 100% da CVM11. A massa mus-cular envolvida no exercício tambéminfluencia na resposta da pressãoarterial5,8,9. McDougall et al.8 obser-varam valores pressóricos maioresdurante a extensão de ambas as pernas(260/200 mmHg) do que na extensãode uma perna (250/190 mmHg) ou naflexão de um braço (230/170 mmHg).

Analisando os dados acima, pode-se dizer que a resposta pressórica aoexercício resistido depende primor-dialmente do exercício executado. Emexercícios de baixa intensidade, a ele-vação pressórica é pequena, porém,

Page 3: Exercício resistido para o paciente hipertenso  indicação ou contraindicação

121

Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T

em exercícios de alta intensidade, aelevação pressórica é extremamentegrande. Cabe ressaltar que todos osdados acima foram coletados emnormotensos, de modo que a respostapressórica em hipertensos não éconhecida.

Respostas pressóricasRespostas pressóricasRespostas pressóricasRespostas pressóricasRespostas pressóricasapós os exercíciosapós os exercíciosapós os exercíciosapós os exercíciosapós os exercíciosresistidosresistidosresistidosresistidosresistidos

Tem sido extensamente demonstradoque uma única sessão de exercícioaeróbio reduz os níveis pressóricos pós-exercício tanto em normotensos quantoem hipertensos12,13. Porém, a existênciadesse efeito hipotensor após a exe-cução de uma sessão de exercíciosresistidos ainda precisa ser investigada.Os estudos existentes são em pequenonúmero, feitos basicamente com nor-motensos e apresentam resultadoscontroversos.

De modo geral, têm-se verificadoaumento14, manutenção14,15 ou aindaredução16,17 da pressão arterial sistóli-ca, e manutenção14-16 ou queda14 dapressão arterial diastólica após umasessão de exercícios resistidos. Alémdisso, pelo nosso conhecimento, exis-tem apenas dois estudos com indiví-

duos hipertensos, nos quais se veri-ficou queda apenas da pressão arterialsistólica16 ou diminuição tanto dapressão arterial sistólica quanto da dias-tólica17.

Essa controvérsia de resultadosparece também estar relacionada àintensidade do exercício realizado.Focht e Koltyn14 observaram aumentoda pressão arterial sistólica e manuten-ção da diastólica após uma sessão em80% da CVM, porém não houve al-teração da pressão arterial sistólica,mas houve redução da diastólica apósuma sessão em 50% da CVM. Poroutro lado, em um estudo atual (dadosnão publicados) temos verificado quetanto o exercício em 40% quanto em80% da CVM promovem redução dapressão arterial, sendo a queda maiorapós o exercício de menor intensidade(Figura 2).

Outro fator a ser considerado é amanutenção desse efeito hipotensorpor longos períodos após o exercício.Roltsch et al.15, utilizando a monito-rização ambulatorial da pressão arte-rial por 24 horas após o exercício,não encontraram diferenças signifi-cantes na pressão arterial, enquantoHardy e Tucker17 constataram redu-ção dos níveis pressóricos apenas por60 minutos após o exercício.

Analisando-se os tópicos anterio-res, fica clara a carência de dados e acontrovérsia existente sobre o assunto,o que demonstra a necessidade demais estudos. Porém, os dados atuaissugerem que os exercícios resistidossão capazes de promover a hipotensãopós-exercício, sendo esse efeito maiorapós os exercícios de menor intensi-dade. Entretanto, a relevância clínicadessa queda em pacientes hipertensosnão está clara.

Efeito do treinamentoEfeito do treinamentoEfeito do treinamentoEfeito do treinamentoEfeito do treinamentoresistidoresistidoresistidoresistidoresistido

Cronicamente, o treinamento regu-lar com exercícios resistidos promoveuma série de adaptações fisiológicas,sendo as modificações musculo-esqueléticas as mais evidentes e com-provadas. Nesse sentido, o treinamentoresistido, principalmente de altaintensidade, promove hipertrofia eaumento da força muscular3. Alémdisso, ele aumenta a densidade óssea,reduzindo a prevalência da osteopo-rose3.

Por outro lado, os efeitos cardio-vasculares desse treinamento forampouco estudados e, em relação à pres-são arterial de repouso, os dados sãobastante controversos. Uma meta-nálise recente18, envolvendo 11 es-tudos sobre o treinamento resistido,mostrou uma redução da pressãoarterial sistólica de 3 + 3 mmHg e dadiastólica de 3 + 2 mmHg. Porém,essa metanálise incluiu estudos compopulações distintas (normotensos ehipertensos) e protocolos de treina-mento totalmente diferentes (inten-sidades variando de 30% a 90%CVM), o que dificulta a aplicação deseus resultados em qualquer situaçãoespecífica. Analisando os dadosapenas de normotensos, observa-seque alguns autores19,20 obtiveramredução da pressão arterial após otreinamento, mas outros11 não rela-

Figura 1 –Figura 1 –Figura 1 –Figura 1 –Figura 1 – Resposta da pressão arterial média durante a execução de uma série de leg-press duplo em 95% da carga voluntária máxima. (Adaptado de MacDougall et al.8)

Page 4: Exercício resistido para o paciente hipertenso  indicação ou contraindicação

122

Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T

taram modificações. Por outro lado,em hipertensos adultos, quatro estu-dos7,21-23 foram realizados (Tabela 1),porém em apenas um deles7 a pressãoarterial diastólica apresentou reduçãoe, nesse estudo, o treinamento em-pregado foi o de RML. Nos demaisestudos21-23, nenhum resultado hipo-tensor foi constatado.

Pelo exposto, é possível concluirque, embora o treinamento resistidopossa reduzir a pressão arterial de indi-víduos normotensos, esse efeito em

pacientes hipertensos só foi obtidocom o treinamento de baixa inten-sidade.

Considerações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisConsiderações finaisCom base nos aspectos levantados,

parece claro que a investigação cientí-fica sobre os efeitos dos exercícios re-sistidos sobre a pressão arterial e,portanto, sua aplicabilidade na popu-lação hipertensa é um campo de inves-tigação recente e as conclusões

Figura 2 –Figura 2 –Figura 2 –Figura 2 –Figura 2 – Resposta da pressão arterial diastólica (PAD) de normotensos medidaapós a execução de uma única sessão de exercícios resistidos em 40% (linhastracejadas) e 80% (linhas contínuas) da carga voluntária máxima (CVM).

* diferente do pré-exercício (p < 0,05) # diferente da sessão em 80% da CVM (p < 0,05).

possíveis nesse momento podem seralteradas em um futuro próximo a partirde dados mais precisos e esclarecedores.

Entretanto, com os dados atuaisfica claro que os efeitos dos exercíciosde baixa intensidade (RML) sãodiferentes dos observados com os dealta intensidade (força/hipertrofia).

Dessa forma, em hipertensos, osexercícios de RML parecem promo-ver aumentos seguros da pressãoarterial e há alguns indicativos de quepossam apresentar efeito hipotensorem longo prazo. Entretanto, como sóexiste um estudo a esse respeito, nãohá sustentação científica para a indica-ção desse exercício como forma únicade tratamento não-farmacológico nahipertensão. Porém, seu potencial be-néfico sobre o sistema osteomuscularindica que ele seja incluído no trei-namento de hipertensos, como com-plemento ao exercício aeróbio.

Por outro lado, os exercícios resis-tidos de alta intensidade (força/hiper-trofia) não têm mostrado nenhumefeito hipotensor na população hiper-tensa e promovem picos pressóricosextremamente elevados durante suarealização. Esses picos representam umrisco potencial muito importante, poispodem levar ao rompimento de aneu-rismas cerebrais preexistentes24,25.

Tabela 1 – Estudos sobre o efeito do exercício resistido naTabela 1 – Estudos sobre o efeito do exercício resistido naTabela 1 – Estudos sobre o efeito do exercício resistido naTabela 1 – Estudos sobre o efeito do exercício resistido naTabela 1 – Estudos sobre o efeito do exercício resistido napressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de indivíduos com pressão arterial elevadapressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de indivíduos com pressão arterial elevadapressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de indivíduos com pressão arterial elevadapressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de indivíduos com pressão arterial elevadapressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de indivíduos com pressão arterial elevada

AutorAutorAutorAutorAutor AmostraAmostraAmostraAmostraAmostra TreinamentoTreinamentoTreinamentoTreinamentoTreinamento PASPASPASPASPAS PADPADPADPADPAD

Blumenthal 99 hipertensos Circuito Sem diferença Sem diferençaet al., 1991 Não relata o significante significante

treinamento

Cononie 65 hipertensos 10 exercícios Sem diferença Sem diferençaet al., 1991 e normotensos 8 a 12 repetições significante significante

máximas

Harris e 26 hipertensos 10 exercícios Sem diferença Diminuição deHolly, 1987 40% CVM significante 4 mmHg

Van Hoof 30 hipertensos 6 exercícios Sem diferença Sem diferençaet al., 1996 12 repetições significante significante

70% CVM

Page 5: Exercício resistido para o paciente hipertenso  indicação ou contraindicação

123

Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T

ReferênciasReferênciasReferênciasReferênciasReferências1. Sociedade Brasileira de Hipertensão,

Sociedade Brasileira de Cardiologia,Sociedade Brasileira de Nefrologia. IVDiretrizes Brasileiras de HipertensãoArterial. Hipertensão 2002;4:126-63.

2. Whelton SP, Chin A, Xin X, He J. Effectof aerobic exercise on blood pressure: ameta-analysis of randomized, controlledtrials. Ann Intern Med 2002;136:493-503.

3. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos dotreinamento de força. Porto Alegre:Artes Médicas Sul, 1999.

4. Wiecek EM, McCartney N, McKelvieRS. Comparison of direct and indirectmeasures of systemic arterial pressureduring weightlifting in coronary arterydisease. Am J Cardiol 1990;66:1065-9.

5. Haslan DR, McCartney SN, McKelvieRS, MacDougall J D. Direct measure-ments of arterial blood pressure duringformal weightlifting in cardiacpatients. J Cardiopulm Rehabil 1988;8:213-25.

6. Wescott W, Howers B. Blood pressureresponse during weight training exercise.Nat Strengh Cond Assoc J 1983;5:67-71.

7. Harris KA, Holly RG. Physiologicalresponse to circuit weight training inbordeline hypertensive subjects. Med SciSports Exerc 1987;19:246-52.

8. MacDougall JD, Tuxen D, Sale DG,Moroz JR, Sutton JR. Arterial bloodpressure response to heavy resistanceexercise. J Appl Physiol 1985; 58:785-90.

9. McDougall JD, McKelvie RS, MorozDE, Sale DG, McCartney N, Buick F.Factors affecting blood pressure during

heavy weight lifting and staticcontractions. J Appl Physiol 1992;3:1590-7.

10. Clinkscales TB, Reyes R, Wood RH,Welsch MA. Influence of intensity andrepetition number on hemodynamicresponses to resistance exercise in olderadults. Med Sci Sport Exerc 2001;33:514.

11. Fleck SJ, Dean LS. Resistance-trainingexperience and the pressor responseduring resistance exercise. J ApplPhysiol 1987;63:116-20.

12. Forjaz CLM, Ramires PR, Tinucci T etal. Post-exercise responses of musclesympathetic nerve activity and bloodflow to hyperinsulinemia in humans. JAppl Physiol 1999;87:824-9.

13. Mac Donald JR. Potential causes,mechanisms and implications of post-

Keywords:Keywords:Keywords:Keywords:Keywords: Blood pressure; Resistance exercise; Hypertension.

Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003Rev Bras Hipertens 10: 119-124, 2003

AbstractAbstractAbstractAbstractAbstract

Resistance training for hypertensive patients:Resistance training for hypertensive patients:Resistance training for hypertensive patients:Resistance training for hypertensive patients:Resistance training for hypertensive patients:recommended or not recommendedrecommended or not recommendedrecommended or not recommendedrecommended or not recommendedrecommended or not recommended

Because its hypotensive effects in hypertensive patients,aerobic exercise has been recommended as part of thenon-pharmacological treatment of hypertension. Morerecently, scientific interest has increased in regarding tothe cardiovascular effects of another type of exercise, theresistance exercise. This exercise, also called strengthexercise or weight training exercise in the physicaleducation area, is characterized by specific musclecontraction against external resistance. Although thereare few and controversial data about the cardiovasculareffects of such exercise, it is known that its effects areinfluenced by intensity. Thus, low intensity resistanceexercise, which is usually performed to increase muscular

resistance, promotes a modest blood pressure increase,blood pressure decrease during recovery, and mayproduce a small decrease in blood pressure levels aftera period of training in hypertensive patients. On the otherhand, high intensity resistance exercise, which produceshypertrophy and muscular strength improvements, leadsto an exaggerated increase in systolic and diastolicblood pressures, which may cause cerebral aneurysmalrupture, which is more likely to happen in hypertensivepatients. Moreover, although intense resistance exercisecan induce a decrease in blood pressure during therecovery period, it does not have any long-termhypotensive effect in hypertensives. In conclusion, lowintensity resistance exercise is recommended tohypertensive patients in complement to aerobic training,while high intensity resistance exercise must be avoidedin these patients.

É importante ressaltar que os aneuris-mas cerebrais são mais comuns empacientes hipertensos26. Dessa forma,em virtude da ausência do efeito hipoten-sor em longo prazo e do risco potencial

da execução desse exercício, o treina-mento resistido de alta intensidade nãodeve ser feito por hipertensos.

Em conclusão, o treinamento re-sistido de baixa intensidade (RML) é

indicado ao paciente hipertenso emcomplemento ao aeróbio, enquanto otreinamento resistido de alta intensi-dade (força/hipertrofia) deve serevitado.

Page 6: Exercício resistido para o paciente hipertenso  indicação ou contraindicação

124

Rev Bras Hipertens vol 10(2): abril/junho de 2003Forjaz CLM, Rezk CC, Melo CM, Santos DA, Teixeira L, Nery SS, Tinucci T

exercise hypotension. J Human Hyper-tension 2002;16:225-36.

14. Focht BC, Koltyn KF. Influence ofresistance exercise of differentintensities on state anxiety and bloodpressure. Med Sci Sports Exerc 1999;31:456-63.

15. Roltsch MH, Mendez T, Wilund KR,Hagberg JM. Acute resistive exercisedoes not affect ambulatory bloodpressure in young men and women. MedSci Sports Exerc 2001;33(6):881-6.

16. Fisher MM. The effect of resistanceexercise on recovery blood pressure innormotensive and borderline hyper-tensive women. J Strength Cond Res2001;15(2):210-6.

17. Hardy DO, Tucker LA. The effects of asingle bout of strength training onambulatory blood pressure levels in 24mildly hypertensive men. Am J HealthPromot 1998;13(2):69-72.

18. Kelley GA, Kelley KS. Progressiveresistance exercise and resting bloodpressure a meta-analysis of randomizedcontrolled trials. Hypertension 2000;35:838-43.

19. Maiorana A, O'Driscoll G, Dembo L,Goodman C, Taylor R, Green D. Exercisetraining, vascular function, and functionalcapacity in middle-aged subjects. Med SciSports Exer 2001;33:2022-8.

20. Wiley RL, Dunn CL, Cox RH, HueppchenNA, Scott MS. Isometric exercise traininglowers resting blood pressure. Med SciSports Exerc 1992;24:749-54.

21. Cononie CC, Graves MLP, Phillips I,Sumners C, Hagberg JM. Effect ofexercise training on blood pressure in70-to 79 yr-old men and women. MedSci Sports Exerc 1991;23:505-11.

22. Blumenthal JA, Siegel WC, AppelbaumM. Failure of exercise to reduce bloodpressure in patients with mild hyper-

tension: results of a ramdomized controlledtrial. JAMA 1991;266:2098-104.

23. Hoof R, Macor F, Lijnen P, Staessen J,Thijs L, Vanhees L et al. Effect of strengthtraining on blood pressure measured invarious conditions in sedentary men. Int JSports Med 1996;17:415-22.

24. Vermeer SE, Rinkel GJ, Algra A.Circadian fluctuations in onset ofsubarachnoid hemorrhage data onaneurysmal and perimesencephalichemorrhage and systematic review.Stroke 1997;28:805-8.

25. Haykowsky MJ, Findlay JM, IgnaszewskiAP. Aneurysmal subarachnoid hemorrhageassociated with weight training: three casereports. Clin J Sports Med 1996;6:52-5.

26. Isaksen J, Egge A, Waterloo K, RomnerB, Ingebrigtsen T. Risk factors foraneurysmal subarachnoid haemorrhage:the Thomso Study. J Neurol NeurosurgPsychiatry 2002;73:185-7.