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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS FACULDADE DE DIREITO DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À PESQUISA JURÍDICA RELATÓRIO DE PESQUISA Análise da faculdade do juiz exigir depósito prévio ou caução ou fiança para concessão de liminares em Mandados de Segurança Professor: Ronaldo Lobão Aluno:

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Page 1: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

FACULDADE DE DIREITO

DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À PESQUISA JURÍDICA

RELATÓRIO DE PESQUISA

Análise da faculdade do juiz exigir depósito prévio ou caução ou fiança

para concessão de liminares em Mandados de Segurança

Professor: Ronaldo Lobão

Aluno:

Page 2: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

SUMÁRIO

1 – Introdução............................................................................................. P. 032 – Desenvolvimento................................................................................... P. 042.1 – Análise do art. 7º, inciso III, da Lei nº 12.016/09......................... P. 042.2 – Pesquisa Empírica............................................................................. P. 053 – Conclusão – Convergências Entre Teoria e Prática –

Os resultados Parciais.................................................................... P. 124 – Bibliografia............................................................................................P. 15

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Page 3: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

1 – INTRODUÇÃO

Após elaboração do pré-projeto de pesquisa, como primeira avaliação da

disciplina, tentou-se seguir o cronograma de trabalho ali proposto. Ao início da

pesquisa, já se notou que, para procurar exaurir ao máximo o objeto e cumprir com

todos os objetivos propostos, não seria suficiente o tempo de meio semestre, sendo

objeto da avaliação consubstanciada neste relatório resultados parciais do esforço inicial

de pesquisa empreendido.

A ideia é que, diante das preliminares iniciais expostas neste relatório, se

possa aprofundar cada vez mais no objeto pesquisado, de modo a verdadeiramente se

chegar a respostas razoavelmente conclusivas.

Conforme se demonstrará adiante, este panorama parcial se mostrou mais rico

do que esperado quando da idealização do pré-projeto, reclamando novas perguntas e,

consequentemente, a busca de novas conclusões.

O método também se revelou incompleto, visto que este aluno olvidou de

observar no método empírico sua experiência pessoal como estagiário do Ministério

Público Federal. De fato, durante a realização dos trabalhos, a experiência cotidiana no

trato com processos judiciais envolvendo benefícios com suspeita de fraude, com

redação de minutas de pareceres para sugerir ao julgador soluções para o caso se

mostrou muito rica a dar subsídios que pudessem auxiliar na análise dos

questionamentos feitos no pré-projeto.

Para registrar estas experiências de modo que possam ser avaliadas, nos

anexos conterão algumas minutas por mim escritas.

Outro momento que se mostrou bastante esclarecedor foi a única entrevista

formal que pôde ser realizada: com o Procurador Regional da República, Dr. Rogério

Soares do Nascimento. O cenário por ele descrito, aliado à sua experiência no combate

aos crimes previdenciários, trouxe elementos históricos interessantes para a pesquisa.

No anexo constará original manuscrito dos apontamentos feitos na entrevista.

Aqui também serão relatadas conversas informais com alguns professores da

Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, as quais, por total falta de

registro, apenas serão mencionadas e não constarão dos anexos. Como este trabalho, a

princípio, possui um menor rigor científico, e as participações destes professores serão

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Page 4: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

meramente ilustrativas para o desencadear das ideias, o que se crê é que qualquer

registro não será necessário.

Para sistematização do relatório, foi obedecida a ordem metodológica do pré-

projeto, de modo que o primeiro capítulo do desenvolvimento estabelecerá um resultado

parcial da análise do instituto em tela e o segundo relatará tanto as experiências pessoais

do aluno como a entrevista formal e as conversas informais acima descritas..

Por fim, a conclusão trará mais observações acerca do todo pesquisado, com

resumos dos resultados parciais, além de proposições a servirem como próximo passo

para aprofundamentos posteriores e a impressão pessoal do aluno quanto à experiência

da pesquisa.

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Page 5: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

2 – DESENVOLVIMENTO

2.1. – ANÁLISE DO ART. 7º, INCISO III DA LEI Nº 12.016/09

Assim estatui o dispositivo em apreço:

“Art. 7. Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:(…)III – que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica”

No campo da dogmática, percebe-se a presença de dois institutos processuais:

o primeiro deles, inserido na primeira parte do inciso (“que se suspenda o ato(...), caso

seja finalmente deferida”), é a tutela de urgência, que tanto pode ser cautelar quanto

antecipatória, apesar deste aluno crer que, quando se suspende o ato impugnado, se

entrega liminarmente o bem da vida almejado quando da impetração, sendo, portanto,

apenas antecipatória. Na segunda parte do inciso (“sendo facultado exigir do impetrante

caução(...) pessoa jurídica”) encerra-se o instituto da contracautela.

Quando analisado o dispositivo legal em tese, conforme observado ao longo

deste trabalho, não há como se afirmar categoricamente que a contracautela

representaria uma “igualdade de armas” no caso específico do mandado de segurança

em matéria de restabelecimento de benefícios suspensos por suspeita de fraude.

Tal instituto pode proporcionar a restauração do equilíbrio entre os litigantes

“perdida” com a concessão da medida liminar ou a perpetuação do desequilíbrio

remediado pela tutela de urgência. Da mesma forma, não se poderia afirmar que tal

faculdade facilitaria a concessão da medida em todas as hipóteses, seja por dar mais

segurança à relação processual, seja por afastar o perigo da irreversibilidade.

Isto porque o direito ao benefício da previdência social é direito fundamental,

previsto na Constituição da República, e verba de natureza alimentar, isto é, destinada a

satisfazer o princípio basilar da dignidade da pessoa humana, sendo, portanto, bem

jurídico de alta importância. Mas não se pode esquecer que o princípio da solidariedade

e o princípio da proteção ao erário, derivado da supremacia do interesse público,

também são direitos fundamentais da comunidade. O que se percebe são dois valores

sociais muito caros ao brasileiro médio que, na presente hipótese, encontram-se em

tensão, o que retira a possibilidade de uma solução meramente etérea do caso.

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Page 6: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

Sendo assim, faz-se mister avaliar os aspectos práticos envolvendo o tema.

Alguns deles serão extraídos da parte empírica da pesquisa, exposta a seguir.

2.2 – PESQUISA EMPÍRICA

Conforme dito na introdução, iniciou-se a pesquisa justamente pela parte

empírica, dela tentando estabelecer quais seriam os marcos teóricos relevantes. È de se

observar que, nos tópicos anteriores, os conceitos foram abordados de maneira genérica

e longe do objeto de pesquisa. Isto era necessário para entender tais marcos teóricos de

maneira neutra, sob o perigo, de, caso contrário, o presente trabalho ser argumentativo,

e não científico.

Em segundo lugar, foi valorizado o método indutivo nesta pesquisa, de modo

que os fatos abordados é que darão a tônica da aplicabilidade ou não dos conceitos

acima explicitados ao objeto, respondendo, ainda que muito superficialmente, aos

questionamentos propostos.

Inicialmente, buscou-se contrapôr casos concretos. Neste momento, foi de

grande relevo a experiência pessoal no estágio do Ministério Público Federal, no qual a

principal atividade é elaborar minutas de pareceres para os casos concretos. Para esta

pesquisa, destacam-se três pareceres de casos diversos: em um, chegou-se à conclusão

de que o benefício era flagrantemente fraudulento e, em outro, que não foi observado o

devido processo legal, sendo a discussão quanto à legalidade ou não da concessão algo

“de bastidores”. O terceiro enfrenta problema da tutela antecipatória de benefícios

previdenciários.

O primeiro caso, atinente ao processo nº 2008.51.01.805577-9, foi marcante

por ter sido o primeiro caso constatado de fraude minutado parecer. Vale citar as

constatações mais interessantes:

“Ao observado pelo Juiz de primeiro grau no trecho acima transcrito, soma-se o fato de que a ficha de fls. 107, da CRUZADOR S/A, não obstante tratar-se de vínculo supostamente iniciado com a Apelante aos catorze anos de idade, a foto a ele anexada traz uma S.M. Aparentando maturidade, parecendo inclusive mais velha que no registro de fls. 116, da DEPAVI, que teria sido feito quando a segurada tinha quarenta e quatro anos. Observa-se ainda, neste último, que as folhas anterior (fls. 115) e posterior (fls. 117) são referentes a filhas da Autora.(…)

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Page 7: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

Não obstante, este contrato de trabalho causa mais estranheza a este órgão oficiante quando confrontado com a trajetória de vida da Autora sugerida pelo conjunto fático-probatório dos autos. Conforme documento de identidade acostado à inicial (fls. 10), a mesma nasceu em Manaus – AM, nada impedindo que esta estivesse laborando no Rio de Janeiro aos catorze anos. Contudo, esta cédula de identidade traz informações que dificultam esta conclusão: trata-se da primeira via da mesma, expedida em 05 de junho de 1985, no Espírito Santo, originada de certidão de casamento datada de 1968 e lavrada em Belém – PA.Corrobora o indício de S. estar residindo em Belém no final da década de 60 pelo menos até 1980 o teor da certidão de fls. 111, relativa à empresa DARIO ENGENHARIA, que não possuía filiais, da qual era sócia desde sua fundação, em 1976 (ano em que inclusive estaria supostamente trabalhando para a CRUZADOR S/A), juntamente com seu esposo, Dario Custódio de Souza (identificado às fls. 115 e 117)”.

Neste parecer, foi abordada também a temática do devido processo legal no

âmbito da auditoria no INSS. O mais interessante é que, no caso em comento, a Autora

da Ação obteve liminar em mandado de segurança anterior, não obstante este ter sido

posteriormente denegado. Outra descoberta interessante é que, informando o CPF do

marido da segurada no sistema de informações processuais da justiça federal,

encontram-se uma ação ordinária e um mandado de segurança, ambos visando o

restabelecimento do benefício, propostos pelo mesmo advogado, com razões de decidir

do juiz muito parecidas. Mais informações deste parecer serão cotejadas com os dados

empíricos posteriores.

O outro processo, de nº 2005.51.10.002388-1, foi especialmente escolhido

pelo fato de que o que necessariamente está ali escrito não transparece todas as ilações

em sua feitura. O parecer acostado no anexo opinou pela confirmação da sentença de 1º

grau, entendendo violados o contraditório e a ampla defesa quando do procedimento

administrativo de revisão de benefício. Realmente, ali o segurado não teve oportunidade

de defesa, nem teve suas provas apreciadas na esfera administrativa.

Mas este não era o principal pensamento na ocasião da redação da peça.

Nestes autos, o autor da ação pleiteava a conversão de tempo de trabalho exercido sob

condições especiais em tempo comum para validar sua aposentadoria. Para tal, juntou

uma série de documentos, inclusive contemporâneos aos vínculos, telas dos cadastros

oficiais e cópias autenticadas de suas carteiras de trabalho.

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Page 8: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

As provas trazidas eram idôneas e, apesar de em alguns momentos

contraditória em sua confrontação com os sistemas informatizados da Previdência

Social, eram, em sua maioria, complementares a estes e, de qualquer ótica que se

pudesse calcular o tempo de serviço do segurado, este tinha direito. Tal conclusão uma

tentativa de elaboração de tese pra abarcar, na demanda proposta, a análise da

legalidade do benefício. O problema é que isso não era possível, face à péssima redação

da petição inicial, que não dava margem a retirar dela pedido implícito desta natureza.

O terceiro parecer, exarado nos autos nº 2009.02.01.014901-5, foi um Agravo

de Instrumento interposto pelo INSS objetivando revogar uma antecipação dos efeitos

da tutela concedida em favor do segurado ordenando a implantação imediata de

benefício de aposentadoria rural por idade, com base nos documentos da inicial, estudo

social realizado pelo próprio Juízo e manifestação do Ministério Público em 1ª

instância. A grande peculiaridade deste caso é o fato da decisão não ter sido proferida

pela Justiça Federal, mas sim por Juiz Estadual no exercício de competência federal,

conforme permissivo do § 3º do art. 109 da Constituição Federal.

Este caso foi escolhido por ser um caso de deferimento da medida de urgência

em fase anterior à sentença tendo por objeto benefício previdenciário; além disso, o fato

de, neste processo estar evidenciada a boa-fé da Agravada, fato que, em verdade, por

mais incrível que possa parecer, dificulta a concessão da tutela antecipada, por um único

motivo: salvo comprovada má-fé, o benefício previdenciário é verba alimentar, não

podendo, nos casos de boa-fé, o INSS, caso saia vitorioso e a tutela seja revogada,

cobrar os valores recebidos pelo segurado, sofrendo a coletividade dano patrimonial

irreparável.

Tal característica fazia transparecer o perigo da reversibilidade, tratado

anteriormente, obstáculo à concessão da medida antecipatória. Todavia, nestes casos, o

mesmo não é aplicável. Para ilustrar o caso, transcreve-se a ementa abaixo:

“Previdenciário. Agravo de instrumento. Aposentadoria rural. Concessão de tutela antecipada pelo juízo “a quo”. Decisão fundamentada em prova documental e estudo social. “Dupla irreversibilidade”. Ponderação de interesses. Risco de falecimento antes do trânsito em julgado versus risco de lesão ao erário. Prevalência do primeiro. Pelo desprovimento do agravo”.

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Outro momento da confecção desta pesquisa foi a entrevista com o Dr.

Rogério José Bento Soares do Nascimento, Procurador Regional da República.

Conforme dito anteriormente, o roteiro da entrevista, bem como os apontamentos

originais manuscritos constarão do anexo ao presente trabalho. Para complementá-la,

também integra o anexo peça de informações da Juíza Federal Dra. Valéria Caldi

Magalhães, Titular da 8ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, nos autos do Conflito

de Competência 2008.02.01.018737-1, que sintetiza e comprova a parte histórica dos

depoimentos do Procurador da República.

Dr. Rogério atuou direta e exclusivamente no combate aos crimes

previdenciários por aproximadamente 7 anos, de 1992 a 1999 e, após, foi promovido à

2ª Instância, acompanhando o desenrolar dos fatos como órgão revisor.

O que se notou da entrevista é o alto conhecimento da conjuntura e a rica

experiência pessoal dele. A partir desta conversa, outros questionamentos

complementares surgiram, e serão expostos na conclusão. Vários dos objetivos do pré-

projeto foram por ele abordados, permitindo que os resultados parciais estimados

fossem melhor estudados.

A conversa se dividiu em dois momentos: o primeiro foi uma abordagem

histórica acerca dos crimes previdenciários no final da década de 80 e início da de 90 e

os esforços para o seu combate, além dos principais fundamentos dos pedidos judiciais

de restabelecimento (mandados de segurança e ações ordinárias); num segundo

momento, ele externa suas sensações acerca da visão dos juízes federais quanto à

temática, fundado na convivência com estes quando em 1ª instância.

Antes de iniciar a abordagem histórica, Dr. Rogério sintetizou como os

processos são classificados durante a persecução penal: a 1ª classificação diz respeito a

fraudes com origem na mesma unidade (por exemplo, o posto Méier, que é inclusive

destacado nas informações da Dra. Valéria); a 2ª são os chamados “processos satélite”,

isto é, processos de segurados em que não foi encontrado envolvimento a mais na

quadrilha de fraude além do benefício que usufrui; a 3ª ser refere à modalidade de

fraude. Em relação à 2ª classificação, a 1ª e 3ª são chamados “processos-mãe”.

Após, caracterizou a quadrilha clássica como um grupo composto de

servidores com cargos de chefia, servidores da área de conferência e habilitação de

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benefícios e intermediários, que eram, em sua maioria, despachantes e advogados,

encarregados de cooptar beneficiários para alimentar o esquema.

Iniciou a abordagem histórica evidenciando que a fraude à previdência sempre

existiu, isto porque a previdência no Brasil se iniciou de maneira fragmentária e foi se

estruturando com o passar dos anos a partir da década de 60, encontrando sua unificação

e racionalização na Constituição de 1988.

Foi devido ao trabalho da Constituinte e, posteriormente, do Poder Legislativo

que promulgou a Lei do Regime Geral (Lei nº 8.213/91) em unificar e estruturar a

Previdência Social que o então reestruturado INSS, bem como o Ministério Público e a

Polícia Federal começaram a perceber as fraudes, inicialmente detectando as chamadas

“grandes fraudes”, como a da Sra. Georgina, integrante de uma quadrilha formada

maciçamente por advogados que, em conluio com procuradores federais do INSS e um

juiz, supervalorizavam indenizações de acidentes de trabalho para embolsar a diferença

entre o efetivamente devido ao segurado e o excesso fraudulento.

A partir deste momento, em 1992, quando Waldir Peres assumiu a presidência

do INSS, iniciou-se um trabalho de fiscalização da concessão de benefícios, baseados na

tese de que parte do chamado “rombo da previdência” era a sangria provocada pelos

benefícios irregulares. Foi a época das chamadas “inspetorias”, comandadas por José

Inácio Pereira da Silva, adjetivado pelo Dr. Rogério como “muito trabalhador, mas

muito autoritário”.

O trabalho das inspetorias consistia em detectar a irregularidade e suspender o

benefício. Ocorre que tudo era feito sem qualquer instrução probatória, sem dar

oportunidade de defesa ao segurado. Ato contínuo, as falhas da inspetoria ocasionavam

inúmeros restabelecimentos fundados da inobservância do devido processo legal.

Naquele momento, a estratégia de combate aos crimes previdenciários

consistia em denunciar a quadrilha juntamente com os segurados pelo crime de

peculato(art. 312 do CP), chegando um processo a ter 50 Réus, fato que facilitava a

impunidade, pois a ação penal não conseguia prosseguir devido ao grande número de

acusados.

Num segundo momento, num esforço de melhorar o trabalho das

“inspetorias”, foi criada a “auditoria permanente” do INSS no Governo FHC, instruindo

melhor os servidores, sanando as nulidades nos procedimentos de revisão. Ocorre que o

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Page 11: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

Poder Judiciário não percebeu isso de pronto. Obedecendo a “lógica do modelo”,

continuaram ordenando o restabelecimento, somente percebendo as falhas das decisões

dadas em massa quando estas foram amplamente reformadas em 2º grau.

A partir desta conscientização, reduziu-se consideravelmente o número de

restabelecimentos e drasticamente o número de tutelas de urgência em processos dessa

natureza. Nesse momento histórico, a estratégia de combate às fraudes na seara penal

também mudou, adotando a configuração atual. Por uma questão de estratégia, os

segurados eram denunciados separadamente da quadrilha, aplicando-se a eles uma

construção teórica que desclassificou o crime por eles cometido para “estelionato

previdenciário” (art. 171 com a majorante do § 3º do CP), aplicando a “participação de

menor importância” (art. 29, § 2º do CP) de modo a que eles pudessem usufruir do

benefício de suspensão condicional do processo, que estipulava, em uma de suas

condições, a renúncia ao benefício1.

Num momento posterior, a auditoria começou a utilizar os cadastros oficiais

para a revisão de benefícios (CNIS, RAIS, dentre outros), o que gerou uma nova onda

de restabelecimentos, sob o fundamento de que tais cadastros não eram confiáveis.

Neste momento, foi criada uma força-tarefa composta por Policiais Federais,

Procuradores Federais do INSS, Auditores e Procuradores da República para investigar

e coibir as fraudes. Houve a realização, durante este momento, de um profundo trabalho

de inteligência e contra-inteligência, detectando-se modus operandi, maior incidência,

etc. Foi nesta época que descobriram que as quadrilhas eram montadas de fora do INSS,

por políticos da alta esfera de governo.

Na opinião do Dr. Rogério, somente se pode dar idoneidade às informações

contidas nos bancos de dados eletrônicos a partir de 1994, quando se solidificou a

informatização da administração fazendária e se reestruturou a DATAPREV.

Acerca da opinião dos Juízes Federais, o Procurador da República ponderou

que, inicialmente, devido aos inúmeros pleitos de revisão no valor dos benefícios, a

Justiça Federal, ao ponderar os valores e bens jurídicos envolvidos na questão do

restabelecimento, se inclinava pela preponderância do caráter alimentar do benefício,

por ter uma visão de uma previdência “caótica e injusta”.

1 Para mais esclarecimentos, vide informações da Dra. Valéria Caldi no Anexo. 11

Page 12: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

A partir do trabalho desenvolvido pela força-tarefa, este panorama mudou: os

julgadores começaram a ver o INSS como vítima, e no esforço de se modernizar e se

organizar, fazendo-os tender mais à proteção ao erário.

A última parte da pesquisa empírica foram conversas informais com alguns

professores da Faculdade de Direito da UFF, notadamente os Professores Carlos

Vargas, que se recusou a dar entrevista, alegando que o mais apto a dá-la seria um

professor de direito previdenciário; e a Professora Priscila Seifert, que deu uma

interessante contribuição ao projeto, sugerindo um critério de distinção para aplicação

da contracautela baseado na capacidade econômica do impetrante.

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Page 13: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

3 – CONCLUSÃO - CONVERGÊNCIAS ENTRE TEORIA E PRÁTICA – OS

RESULTADOS PARCIAIS

De início, ressalta-se que a pesquisa empírica não foi ampla o suficiente para

que se pudesse considerar qualquer conclusão obtida como efetivamente demonstrada,

de modo que neste tópico serão feitas considerações que, não obstante possam ser

enunciados, são apenas parciais e superficiais. Seu maior objetivo é servir de ponto de

partida para um aprofundamento posterior.

Efetivamente, foi constatado que benefícios não podem ser suspensos

unicamente com base nos cadastros oficiais. As pessoas que hoje se aposentam

começaram a trabalhar em meados da década de 60, período em que o CNIS não

alcança e o PIS não era informatizado. Também, conforme dito anteriormente, os dados

obtidos apontam para a não-confiabilidade das informações obtidas nos bancos de dados

anteriores a 1994, além do caráter eminentemente complementar e enunciativo destes.

Nos dias Atuais, a Auditoria tem se mostrado melhor aparelhada que em

tempos anteriores, mas por inúmeras vezes ignoram as alegações do segurado,

forçando-o a recorrer ao Judiciário.

Ao reverso, é assustador o número de benefícios fraudulentos e a sofisticação

das falsidades perpetradas. É fato público e notório que milhões de reais dos cofres

públicos são perdidos por desvio de verbas da seguridade social mediante

aposentadorias e pensões falsas.

Tais motivos levam ao primeiro resultado parcial: não obstante toda a

conjuntura dos crimes previdenciários, sua essência de direito fundamental, aliado às

falhas ainda cometidas pela fiscalização, torna possível, e aqui não se analisa o prisma

puramente legal, mas sob a idéia de justiça social, a concessão de liminares em

mandado de segurança visando restabelecimento de benefício suspenso ou cancelado

por indícios de fraude na sua concessão.

Outro fundamento que torna possível a liminar é o fato que esta, enquanto

medida antecipatória, é reversível, tendo em vista que, caso comprovada a ilegalidade

do benefício, o segurado tem elidida sua presunção de boa-fé, permitindo a cobrança

dos benefícios recebidos indevidamente.

Um segundo resultado a que se chega é que a exigência de contracautela não

necessariamente causa desequilíbrio na relação entre impetrante e INSS, tendo, porém,

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Page 14: Exemplo Relatório Pesquisa Avançado

dupla face: pode tanto alcançar a “igualdade de armas” quanto não. Nesse sentido, a

efetividade do acesso à justiça pode restar ameaçada tanto pela exigência como pela

não-exigência, ou ainda, quando possível a caução, o juiz, por falta de hábito ou por

aversão a aquela, pode acabar indeferindo a liminar, e este fato, certamente,

compromete a efetividade do acesso à justiça, visto que talvez a mesma seja o maior

fundamento das medidas de urgência.

Outro resultado que se obteve é que não há como, no presente estágio da

pesquisa, apontar qualquer tese ou solução padronizada (sim ou não acerca da exigência

de caução para concessão da liminar): a possibilidade tanto da concessão da liminar

quanto da necessidade da contracautela devem ser apuradas caso a caso, pois tudo

dependerá da capacidade do Impetrante de comprovar de plano seu direito.

O resultado anterior gerou um novo questionamento: quais os fatores que

balizariam, numa situação complicada, a exigência da caução de modo a realizar a

efetividade do acesso à justiça? No atual desenrolar do estudo, levantou-se dois fatores:

um da entrevista do Dr. Rogério, que é justamente a influência da conjuntura do

combate aos crimes previdenciários no imaginário do juiz, e o outro da conversa

informal com a professora Priscila, qual seja, a capacidade econômica do Impetrante.

A delimitação destes fatores gerou mais questionamentos, que no presente

momento, não podem nem de longe ser respondidos: Como estes fatores atuariam na

prática? Quais seriam os resultados?

Pensa-se, diante de todo o trabalhado, que imediatamente, estes seriam os

objetivos mais próximos a serem investigados num futuro aprofundamento, de modo

que, como exaustivamente salientado, esta pesquisa não explora todas as facetas do

objeto, nem esgota as exploradas aqui.

Por fim, admite-se que, diante de toda a ambição esboçada no pré-projeto,

apenas uma pequenina parte pôde ser aqui satisfeita. Da mesma forma, ante o costume

profissional de escrever argumentativamente, foram muitas as dificuldades de agir

cientificamente, sendo este trabalho o mais gratificante e desafiador do semestre letivo.

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4 – BIBLIOGRAFIA

1_ CAPPELLETTI, Mauro. Acesso à Justiça. Edição única. Sérgio Antônio

Fabris Editor. Porto Alegre: 1978, Reimpresso em 2002).

2_ THEODORO JR. Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Volume

II – Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de

Urgência. 44ª Ed. GEN-Forense, Rio de Janeiro: 2002).

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