excertos das cartas chilenas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – Campus Arapiraca Literatura de Língua Portuguesa 1 – Prof. David Lopes Excertos das Cartas chilenas 25 – Não há, meu Doroteu, não há um chefe, Bem que perverso seja, que não finja, Pela religião, um justo zelo, E, quando não o faça por virtude, Sempre, ao menos, o mostra por sistema. (Carta 13ª.) * Ah! pobre, ah! pobre povo, a quem governa Um bruto general, que ao céu não teme, (Carta 10ª.) * Ah! dize, Doroteu, por que motivo O pai de Fanfarrão o não pôs antes 290 – Na loja de algum hábil sapateiro, C’os moços aprendizes deste oficio? Agora dirás tu: "Nasceu fidalgo E as grandes personagens não se ocupam Em baixos exercícios." Nada dizes. 295 – Tonante, Doroteu, é pai dos deuses: Nasceu-lhe o seu Vulcano e nasceu feio. Mal o bom pai o viu, pregou-lhe um coice Que o pôs do Olimpo fora, e o pobre moço Foi abrir uma tenda de ferreiro. (Carta 12ª.) * Fizeram os devotos de uma imagem, 120 – Da festa protetor, ao grande chefe. Aceita o Fanfarrão do cargo a honra E medita fazer um grão festejo. (Carta 12ª.) * Mas, caro Doroteu, um chefe destes Só vem para castigo de pecados. Os deuses não carecem de mandarem 290 – Flagelos esquisitos; quasi sempre Nos punem com as coisas ordinárias. ... 295 – Perguntarás agora que torpezas Comete a nossa Chile, que mereça Tão estranho flagelo? Não há homem Que viva isento de delitos graves, E, aonde se amontoam os viventes 300 – Em cidades ou vilas, aí crescem Os crimes e as desordens, aos milhares.

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Page 1: Excertos Das Cartas Chilenas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – Campus ArapiracaLiteratura de Língua Portuguesa 1 – Prof. David LopesExcertos das Cartas chilenas

25 – Não há, meu Doroteu, não há um chefe,Bem que perverso seja, que não finja,Pela religião, um justo zelo,E, quando não o faça por virtude,Sempre, ao menos, o mostra por sistema. (Carta 13ª.)

*

Ah! pobre, ah! pobre povo, a quem governaUm bruto general, que ao céu não teme, (Carta 10ª.)

*

Ah! dize, Doroteu, por que motivoO pai de Fanfarrão o não pôs antes290 – Na loja de algum hábil sapateiro,C’os moços aprendizes deste oficio?Agora dirás tu: "Nasceu fidalgoE as grandes personagens não se ocupamEm baixos exercícios." Nada dizes.295 – Tonante, Doroteu, é pai dos deuses:Nasceu-lhe o seu Vulcano e nasceu feio.Mal o bom pai o viu, pregou-lhe um coiceQue o pôs do Olimpo fora, e o pobre moçoFoi abrir uma tenda de ferreiro. (Carta 12ª.)

*

Fizeram os devotos de uma imagem,120 – Da festa protetor, ao grande chefe.Aceita o Fanfarrão do cargo a honraE medita fazer um grão festejo. (Carta 12ª.)

*

Mas, caro Doroteu, um chefe destesSó vem para castigo de pecados.Os deuses não carecem de mandarem290 – Flagelos esquisitos; quasi sempreNos punem com as coisas ordinárias....295 – Perguntarás agora que torpezasComete a nossa Chile, que mereça

Tão estranho flagelo? Não há homemQue viva isento de delitos graves,E, aonde se amontoam os viventes300 – Em cidades ou vilas, aí crescemOs crimes e as desordens, aos milhares.Talvez prezado amigo, que nós, hoje,Sintamos os castigos dos insultosQue nossos pais fizeram; estes campos305 – Estão cobertos de insepultos ossosDe inumeráveis homens que mataram.Aqui os europeus se divertiamEm andarem à caça dos gentiosComo à caça das feras, pelos matos....Que muito, pois, que Deus levante o braçoE puna os descendentes de uns tiranosQue, sem razão alguma e por capricho,Espalharam na terra tanto sangue! (Carta 10ª.)

*

Um louco chefeO poder exercita do monarca285 – E os súditos não devem nem fugir-lheNem tirar-lhe da mão a injusta espada. (Carta 10ª.)

*

Os súditos devem esperar até odia em que mão robusta e santaDepois de castigar-nos, se condoa430 – E lance na fogueira as varas torpes. (Carta 6ª.)

*

Nasceu o sábio Homero entre os antigosPara o nome cantar do grego Aquiles;Para cantar também ao pio Enéias,Teve o povo romano o seu Vergílio:Assim, para escrever os grandes feitosQue o nosso Fanfarrão obrou em Chile,Entendo, Doroteu, que a ProvidênciaLançou na culta Espanha o teu Critilo. (Carta 9ª.)

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