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PROMOTORIA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO COMARCA DE LONDRINA 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE LONDRINA – ESTADO DO PARANÁ. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus Promotores de Justiça que ao final subscrevem, em exercício na Promotoria Especializada de Proteção ao Patrimônio Público, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nas disposições contidas nos artigos 129, inciso III, da Constituição da República, art. 120, inciso III, da Constituição do Estado do Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art. 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, e na Lei n.º 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, contra 1 HOMERO BARBOSA NETO, brasileiro, portador do RG nº 9526444, inscrito no CPF sob o nº 7640902835, residente na Rua Santiago, 833, Bairo Bela Suíça, CEP: 86050-170, Londrina, PR. 1 Denio Ballarotti, Claudemir Vilalta, Luciana Viçoso de Oliveira, José Joaquim Ribeiro e Marcelo Macedo da Fonseca, os quais também assinaram o Aditivo 06 do Contrato nº SMGP-0062/2010, não foram incluídos no pólo passivo da presente demanda, pois não há provas suficientes que indiquem sua participação dolosa nos fatos ora narrados.

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PROMOTORIA DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO COMARCA DE LONDRINA

1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ _ª VARA DE

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE LONDRINA – ESTADO DO PARANÁ.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , por seus

Promotores de Justiça que ao final subscrevem, em exercício na Promotoria

Especializada de Proteção ao Patrimônio Público, no uso de suas atribuições

legais, com fundamento nas disposições contidas nos artigos 129, inciso III, da

Constituição da República, art. 120, inciso III, da Constituição do Estado do

Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art. 1º, inciso IV, da Lei n.º

7.347/85, e na Lei n.º 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa

Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A

RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTR ATIVA ,

contra1

HOMERO BARBOSA NETO , brasileiro, portador do RG nº

9526444, inscrito no CPF sob o nº 7640902835, residente na Rua Santiago, 833,

Bairo Bela Suíça, CEP: 86050-170, Londrina, PR.

1 Denio Ballarotti, Claudemir Vilalta, Luciana Viçoso de Oliveira, José Joaquim Ribeiro e Marcelo Macedo da Fonseca, os quais também assinaram o Aditivo 06 do Contrato nº SMGP-0062/2010, não foram incluídos no pólo passivo da presente demanda, pois não há provas suficientes que indiquem sua participação dolosa nos fatos ora narrados.

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FIDELIS CANGUÇU RODRIGUES JUNIOR , brasileiro, casado,

advogado, portador do RG nº 6.220.391-1, inscrito no CPF sob nº 015.289.009-

28, residente e domiciliado na Av. Curitiba, nº 246, fundos, Apucarana, PR.

MARCO ANTONIO CITO , brasileiro, portador do RG nº

73272270, inscrito no CPF sob o nº 025.142.049-33, residente na Avenida São

Paulo, 550, apto. 1209, Centro, CEP: 86010-060, Londrina, PR.

ELISANGELA MARCELI ARDUIN, brasileira, portadora do RG

nº 5091301-5, inscrita no CPF sob o nº 016.722.898-38, residente e domiciliada

na Rua Paulo Frontin, nº 253, apto. 303, Ibiporã, PR.

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA ., pessoa

jurídica de direito privado, com sede à Rua Dona Maria Cardoso, S/N, quadra 25,

lote 03/04, sala 02, Jardim Luz – Goiânia/GO, CEP: 74.915-175, inscrita no

CNPJ/MF sob o nº 04.446.168/0001-86.

MARCELO MACEDO DA FONSECA , brasileiro, casado,

empresário, portador da cédula de identidade RG nº 3.164.211-SPTC/GO,

inscrito no CPF n° 818.057.721-04, residente e domi ciliado na Rua Caobá, Lote

12, Quadra S3, Alfaville, Goiânia, Goiás.

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:

1 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

A Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público da Comarca de

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Londrina instaurou o Procedimento Preparatório nº MPPR-0078.11.000942-62,

com vistas a apurar ilegalidades na celebração do aditivo nº 006/20103, referente

ao contrato administrativo nº SMGP 0062/20104, aperfeiçoado entre a empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA . e o Município de

Londrina.

Após investigações promovidas por esta Promotoria, apurou-se

que o reequilíbrio econômico financeiro concedido à empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, por meio do Aditivo Contratual nº 06, foi

absolutamente ilegal, diante da ausência (falsidade) dos fundamentos fáticos que

autorizassem sua concessão.

Este fato consubstancia Ato de Improbidade Administrativa que

CAUSA LESÃO AO ERÁRIO e VIOLA OS PRINCÍPIOS QUE REG EM A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA , notadamente porque os requeridos, prevalecendo-

se de suas funções públicas e das prerrogativas inerentes a seus cargos, em

nítido acordo de vontades e divisão de tarefas, permitiram a formalização do

Aditivo nº 06, por intermédio da concessão de indevido reequilíbrio econômico

financeiro ao contrato administrativo firmado pela empresa requerida

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA ., em detrimento do

erário, e desconformidade com os princípios que regem a Administração Pública.

Por esta razão, propõe-se a presente Ação Civil Pública, com o

propósito de:

- condenar os requeridos ao ressarcimento dos prejuízos

causados aos cofres públicos (materiais e morais), decorrentes da prática dos

2 Registre-se que esta Promotoria de Justiça Especial, com o advento da Vara Especializada da Fazenda Pública desta Comarca, que exige a digitalização de todos os processos que nela tramitam, determinou fossem escaneados apenas os documentos que possuam direta e imediata indicação na Ação Civil Pública proposta, sendo certo que a integralidade dos documentos (físicos), estão arquivados na Promotoria de Justiça. 3 Aditivo 06 do Contrato nº SMGP-0062/2010 - DOC. 01. 4 Contrato nº SMGP-0062/2010 - DOC. 02.

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mencionados Atos de Improbidade Administrativa previstos nos artigos 10 e 11

da Lei 8429/92, com base na disposição contida no artigo 37, §5º, da

Constituição da República;

- imposição das sanções decorrentes da prática dos Atos de

Improbidade Administrativa, encartadas no art. 12, II e III da Lei 8429/92.

2 - DOS FATOS

Em data de 08 de março 2010, o Município de Londrina e a

empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA celebraram o

contrato administrativo nº SMGP 0062/2010 , tendo por objeto a prestação de

serviços gerais de limpeza, higienização, conservaç ão e copa, com o

fornecimento de materiais e equipamentos necessário s.

Apenas 05 meses após o aperfeiçoamento do contrato

administrativo, a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS

LTDA, por intermédio de seu representante legal, MARCELO MACEDO DA

FONSECA, requereu ao Município de Londrina a recomposição do equilíbrio

econômico financeiro referente ao contrato administrativo nº SMGP 0062/2010

(agosto de 2010), alegando, em síntese: aumento de insumos em relação às

quantidades que embasaram a formação dos preços iniciais consignadas na

proposta, decorrentes da implantação da secretaria de saúde da mulher,

ampliação da sala de espera e audiência do Gabinete do Prefeito e implantação

do ensino em tempo integral em inúmeras escolas municipais (DOC 03).

Por intermédio do Aditivo nº 06, assinado pelos requeridos,

Prefeito Municipal, BARBOSA NETO , pelo então Secretário de Gestão Pública,

MARCO CITO, pelo então Procurador Geral do Município, FIDELIS CANGUÇU e

o representante da empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS

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LTDA, MARCELO MACEDO DA FONSECA 5, concedeu-se o reequilíbrio

contratual requerido, nos seguintes termos:

“a) referente à diferença de custos com Materiais e Custos

Administrativos, no valor total de R$955.294,34 (novecentos

e cinqüenta e cinco mil, duzentos e noventa e quatro reais e

trinca e quatro centavos), para o período de março/2010 a

fevereiro/2011;

b) em decorrência do reequilíbrio concedido, passando o

valor unitário mensal de R$1.503,32 para R$2.449,42 (dois

mil quatrocentos e quarenta e nove reais e quarenta e dois

centavos), a partir de 01.03.2011, somente para os 95 postos

envolvidos/pleiteados”.

As provas coligidas nesta Promotoria de Justiça, entretanto,

comprovaram que os requeridos, em divisão de tarefas e identidades de

propósitos, falsearam as justificativas (pressupostos fáticos) que alicerçava o

pedido de reequilíbrio econômico financeiro que favoreceu a empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA., sendo certo que, para

cumprir este desiderato ilícito, subverteram toda a tramitação do pedido de

reequilíbrio (e demais documentos) no órgão competente – Diretoria de Gestão

de Licitação e Contratos .

Para melhor compreensão da sucessão dos fatos ilícitos

praticados pelos requeridos, faz-se necessário, em caráter antecedente,

demonstrar que os suportes fáticos que estearam o pedido de reequilíbrio

econômico financeiro foram simplesmente fabricados , para legitimar sua

5 É certo que outras pessoas também assinaram referido aditivo, mas não há indícios de suas participações nos Atos de Improbidade Administrativa descritos nesta ação.

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concessão.

Em seguida, será demonstrado que os requeridos, conscientes

da inviabilidade fática de concessão do reajuste financeiro (reequilíbrio) pleiteado

pela empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA.,

cometeram toda sorte de ilicitudes na tramitação do pedido de reequilíbrio

econômico financeiro junto ao órgão competente (Diretoria de Licitações e

Contratos), a fim de que, ao final, fosse concedido o reequilíbrio pretendido.

2. Falsos fundamentos para aparentar legitimidade d o

reequilíbrio.

2.1 Da alocação Do Gabinete da Secretária da Secret aria da

Mulher. O primeiro falso fundamento apresentado, dolosamente, por

MARCELO MACEDO DA FONSECA, representante da empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, para justificar a necessidade de

concessão de reequilíbrio econômico financeiro, consistia na implantação,

superveniente à celebração do contrato, da “Secretaria de Saúde da Mulher”

(DOC. 03).

Trata-se, entretanto, de uma alegação desprovida de base real,

já que se destinou, unicamente, a aparentar uma situação inexistente, para

justificar a necessidade do reequilíbrio pleiteado.

Na realidade, houve, tão-somente, a mudança do Gabinete da

Secretária da Secretaria Municipal da Mulher para o prédio da Prefeitura (sede

administrativa). Prova disto é a CI nº 0104/2010-SMM, enviada pela Secretaria

Municipal da Mulher para a Secretaria de Gestão Pública/Diretoria de Gestão de

Licitações e Contratos, informando a diminuição de 01 posto de trabalho no

Centro de Referência e Atendimento da Mulher – CAM, por conta da

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mudança/saída do Gabinete da Secretária para a o prédio da Prefeitura (sede)6.

Verifica-se, portanto, que não houve adição de local a ser

realizada prestação de serviços, tão somente o deslocamento de uma unidade

administrativa que já era atendida pela empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA.

Ademais, o local que passou a ser ocupado pelo Gabinete da

Secretária da Mulher sediava uma parte da Secretaria da Educação, havendo,

assim, apenas uma troca de Secretarias. Em outras palavras, não houve

aumento nos serviços e materiais que eram anteriormente utilizados neste

mesmo local, para a Secretaria de Educação. Ocorreu, apenas, troca de unidade

administrativa ali alocada.

Frise-se que a mudança do gabinete da Secretária da Mulher

iniciou em período anterior à celebração do contrato.

Este fato é incontroverso. Corrobora-se esta afirmação as

declarações prestadas por Carla Demartini de Castro Gonçalves, Ana Maria

Arenghi7, Denison Utiyamada8, Sonia Aparecido9 e ELISÂNGELA MARCELI

ARDUIN10 a esta Promotoria de Justiça.

6 CI nº 0104/2010-SMM – DOC. 04. 7 Declarações de Carla Demartine de Castro Gonçalves e Ana Maria Arenghi – DOC. 05. Segundo as declarantes, o Gabinete da Secretária da Mulher foi lotado no 2º andar do prédio da Prefeitura (sede), no início de 2010, sendo que este 2º andar sempre esteve ocupado, de forma que não houve aumento de unidade a ser realizada a prestação de serviços. 8 Declarações de Denison Utiyamada – DOC. 06. Segundo o declarante, “na sala em que instalou a Secretaria da Mulher, já existia a Secretaria de Educação, que ocupava grande parte da área do segundo pavimento; que, portanto, apenas houve uma troca de Secretarias, o que autoriza a inferir que os serviços e materiais já eram utilizados para a então Secretaria de Educação”. 9 Declarações de Sônia Aparecido – DOC. 07. 10 Declarações de Elisângela Marceli Areano Arduin. DOC. 08. A declarante afirmou que tinha conhecimento de que “a Secretaria da Mulher, que foi um dos fundamentos do pedido de reequilíbrio econômico financeiro, como suposto aumento de serviço, simplesmente veio substituir parte da Secretaria de Educação que estava lotada no 2º pavimento do prédio da Prefeitura do Município”.

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2.2. Da suposta ampliação da sala de espera do Gabi nete do

Prefeito.

O segundo motivo apresentado por MARCELO MACEDO DA

FONSECA, para fundamentar o pedido de reequilíbrio econômico financeiro ao

contrato firmado com a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO e SERVIÇOS

LTDA, foi a suposta ampliação da área física do Gabinete do Prefeito.

Ocorre que o projeto “Gabinete Aberto”, no qual o Prefeito

atende a população, iniciou-se em janeiro de 2010, data anterior à celebração do

contrato administrativo nº SMGP – 0062/2010 (que se deu em 08.03.2010),

conforme notícias veiculadas pelo site oficial da Prefeitura Municipal de

Londrina 11.

Portanto, o início do funcionamento do projeto “Gabinete

Aberto”, e, conseqüentemente, o suposto aumento de fluxo de pessoas no local

(que demandaria a utilização de mais insumos) ocorreu em janeiro de 2010 ,

portanto, data anterior à própria assinatura do Contrato Administrativo com a

empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, fatos

devidamente confirmados pelos servidores públicos municipais Sonia Regina

Aparecido12 (DOC. 07), Denison Utiyamada (DOC. 06) e ELISÂNGELA

MARCELI (DOC. 08) a esta Promotoria de Justiça.

Nesse vértice, é falsa a afirmativa no sentido de que o suposto

aumento do fluxo de pessoas no gabinete do Prefeito (em razão do denominado

Gabinete Aberto) ocorreu após o aperfeiçoamento do contrato administrativo

firmado com a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA ,

11 Notícias veiculadas no site oficial da Prefeitura de Londrina (www1.londrina.pr.gov.br) – DOC. 09. 12 Segundo Sonia, no exercício de sua função de gestora do contrato, ela analisou os fundamentos alegados pela empresa para a concessão do reequilíbrio econômico financeiro, concluindo pela ausência de fundamentos que legitimassem seu deferimento, sendo que “o gabinete aberto do Prefeito Barbosa Neto, foi implantado em janeiro de 2010, e, por esta razão, anterior ao aperfeiçoamento do contrato”.

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datado de março de 2011, o que legitimaria, por este fundamento, a concessão

do reequilíbrio econômico financeiro requerido.

Conclui-se, portanto, que não se tratava de um motivo real,

tendo sido criado pelos requeridos, de forma falsa e injustificável, para obter,

ilicitamente, a concessão do reequilíbrio econômico financeiro.

2.3 Do ensino integral nas escolas municipais.

O requerido MARCELO MACEDO DA FONSECA alegou, por

fim, que a implantação do ensino em tempo integral em inúmeras escolas

municipais, também aumentaria o fluxo de pessoas nas referidas escolas, o que

implicaria no aumento das despesas (produtos) da empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA .

Por intermédio do aditivo 06, concedeu-se o reequilíbrio

econômico financeiro solicitado pela empresa contratada a 95 postos da

Secretaria Municipal de Educação, lotados nas escolas municipais Aristeu dos

Santos Ribas, Elias Kauam, John Kennedy, José Gasparini, Luiz Marques

Castelo, Mari Carrera Bueno, Profª Áurea Alvim Toffoli, Profº Bento Munhoz da

Rocha Netto, Profº Moacyr Teixeira, Salim Aboriham, Zumbi dos Palmares,

Armando Rosário Castelo, Corina M. Okano e no Centro Administrativo da

Prefeitura (DOC. 01).

Em declarações prestadas a esta Promotoria de Justiça,

Luciana Adario, Gerente de Educação Integral da Secretaria de Educação do

Município de Londrina, esclareceu que, na verdade, não existe, neste Município,

“educação integral”, mas ampliação da jornada por meio de oficinas

pedagógicas, de forma que o aluno freqüenta o ensino regular em um período do

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dia, e, no outro, realiza atividades pedagógicas13.

Ocorre que as escolas municipais que foram objeto d o

Aditivo 06 já haviam iniciado a ampliação da jornad a antes da celebração

do contrato nº SMGP 0062/2010 . Na C. I. nº 1698/2011, elaborada pela

Gerência de Educação Integral do Município de Londrina14, consta que referidas

escolas municipais iniciaram a ampliação da jornada entre fevereiro de 1992 e

fevereiro de 2010.

Resta claro, então, que o motivo alegado pelo representante

legal da empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA.,

MARCELO MACEDO DA FONSECA e albergado pelos demais requeridos,

teve o propósito de simular uma situação superveniente, que, entretanto, já

existia à época da celebração do contrato.

Frise-se, outrossim, que os então gestores do Contrato,

servidores públicos municipais, Sonia Regina Aparecido e Mário Lucas,

advertiram expressamente os requeridos MARCO ANTÔNIO CITO e

ELISÂNGELA MARCELI ARDUIN , no sentido de que se deveria indeferir o

pedido de reequilíbrio econômico financeiro pleiteado pela empresa, já que não

eram verdadeiros os fundamentos fáticos que, supostamente, legitimariam sua

concessão.

2.4 Da ausência fundamentos fáticos e de parecer té cnico

da Diretoria de Gestão de Licitações e Contratos.

Os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FIDÉLIS

13 Declarações de Luciana Adário – DOC. 10. 14 Comunicação Interna nº 1698/2011 - DOC. 11. A CI nº 1698/11, elaborada pela Gerência de Educação Integral, foi apresentada a esta Promotoria de Justiça pela Gerente de Educação Integral Luciana Adário.

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CANGUÇU autorizaram a concessão do reequilíbrio econômico financeiro, por

meio do Aditivo 06, com a intermediação, colaboração e articulação de MARCO

CITO e ELISÂNGELA MARCELI , violando o procedimento administrativo

previsto no Regimento Interno da Secretaria de Gestão Pública. Sua indevida

tramitação, efetivada para favorecer ilicitamente a empresa contratada,

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA., deu-se da forma abaixo

discriminada.

De efeito, o pedido de reequilíbrio econômico financeiro

formulado pela PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. . foi

encaminhado ao Prefeito BARBOSA NETO , e, estranhamente, sem qualquer

despacho para este fim, o requerido MARCO CITO assumiu o controle de sua

tramitação, cometendo, em conluio com os demais requeridos, toda sorte de

irregularidades na sua tramitação.

MARCO CITO, no verso do pedido de reequilíbrio formulado

pela empresa PROGUARDA , despachou para que fosse encaminhado à DGLC

(Diretoria de Gestão, Licitações e Contratos), a fim de que fosse cumprido a

disposição regimental aplicável à espécie (ou seja, o pedido de reequilíbrio seria

encaminhado à Coordenadora de Gestão de Contratos15, que o submeteria à

análise prévia do gestor de contrato).

Na Diretoria de Gestão, Licitações e Contratos, a

coordenadora Ely Tieko, submeteu o pedido de reequilíbrio econômico financeiro

formulado por MARCELO MACEDO DA FONSECA , representante da empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. , à análise técnica da

gestora de contrato, Sônia Regina Aparecido que, após criteriosa análise e

15 Art. 31. À Coordenadoria de Gestão de Contratos, subordinada ao (à) Gerente de Gestão de Contratos, Convênios, Parcerias e Atas de Registro de Preços, compete acompanhar e coordenar todas as atividades desenvolvidas no âmbito da gestão e fiscalização de contratos, originando-se com a entrega do respectivo documento assinado e extrato publicado, até o seu arquivamento, após vencido o prazo de execução e/ou vigência, e ainda compete: XVII. Analisar os pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro, reajuste de preços ou repactuações.

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diligências, concluiu que inexistiam fundamentos para concessão do reequilíbrio,

informando, de igual sorte, a seus superiores hierárquicos Ely Tieko

(Coordenadora de Gestão), Denison Utiyamada (gerente de Gestão) e a

requerida ELISÂNGELA MARCELI (diretora de Gestão, Licitações e Contratos),

que se pronunciaria pelo indeferimento do pedido.

A gestora do Contrato, Sônia Regina Aparecido, entretanto,

estava repassando suas atribuições, ao então gestor de Contrato, Mário Lucas,

que concordou com todas as razões expostas por Sônia Regina, no sentido da

necessidade de se indeferir o pedido de reequilíbrio em tramitação na DGCL.

Sonia Regina Aparecido, acompanhada da requerida (e diretora

da DGLC) ELISÂNGELA MARCELI, noticiaram ao requerido MARCO CITO, que

o pronunciamento do gestor do Contrato seria pelo indeferimento do pedido de

reequilíbrio econômico financeiro, formulado pela empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA .

Incontinenti, MARCO CITO, com o propósito de burlar a

necessária intervenção do gestor do contrato (que, frise-se: se pronunciaria pelo

indeferimento), devidamente mancomunado com a requerida e então diretora,

ELISÂNGELA MARCELI , solicitou a esta que encaminhasse o pedido de

reequilíbrio à análise da Procuradoria do Município, para que este órgão

administrativo se pronunciasse, acerca da procedência ou não do pedido de

reequilíbrio requerido (recorde-se: os requeridos MARCO CITO, e ELISÂNGELA

MARCELI , tinham pleno conhecimento no sentido de que os gestores do

contrato, anterior e sucessor, entendiam que o reequilíbrio requerido pela

empresa não tinha qualquer embasamento fático/jurídico).

A Procuradora do Município, Lilian Gozi, requereu, por

intermédio do despacho nº 592/2010 16, a devolução do requerimento de

16 Despacho nº 592/2010 – DOC. 12.

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reequilíbrio econômico pleiteado à Diretoria de Gestão de Licitações e Contratos

para que o gestor de Contrato, realizasse manifestação prévia, na forma

estabelecida e exigida pelo art. 31 do Regimento Interno da Secretaria de

Gestão.

Burlando a disposição regimental, assim como o parecer prévio da

Procuradoria do Município, a Diretora ELISÂNGELA MARCELI , disponibilizou o

pedido de reequilíbrio aos cuidados do Gabinete do Secretário de Gestão,

MARCO CITO, que o reteve, deliberadamente, por aproximadamente um mês, a

fim de, a um só tempo, inviabilizar que o gestor de contrato se pronunciasse17,

por escrito, pelo indeferimento do pedido de reequilíbrio, assim como aguardasse

a sucessão do novo procurador Geral do Município.

Em seguida, com a assunção do novo Procurador Geral do

Município, MARCO CITO, em conluio com a Diretora de Gestão e Contrato,

ELISÂNGELA MARCELI 18, infringindo conscientemente o procedimento

administrativo aplicável à espécie19, remeteu o requerimento à Procuradoria

Geral do Município, com o objetivo de proporcionar a concessão ilícita do

reequilíbrio pleiteado (DOC. 08)20.

Frise-se que o Secretário Municipal MARCO CITO tinha ciência

17 Mario Lucas, percebendo que se intencionava conceder, indevidamente, o reequilíbrio econômico à empresa PROGUARDA, juntou seu parecer, pelo indeferimento do pedido, expressamente consignado no documento “não enviado”. Ofício nº 1276/2010-DGLC. DOC. 13. 18 Declarações de Elisangela Marceli Areano Arduin – DOC. 08. “Que o então Secretário Marco Cito ficou com o pedido de reequilíbrio econômico na Secretaria de Gestão por um determinado período”; “questionada a declarante, em razão desta afirmação, no sentido de que cobra o andamento de todos os procedimentos, por que não exigiu que o então Secretário de Gestão Pública devolvesse o pedido de reequilíbrio econômico e financeiro formulado pela empresa PROGUARDA que estava sob seus “cuidados” no Gabinete da Secretaria de Gestão, esclareceu que não se recordou dele”. 19 Art. 31, XVII do Regimento Interno da Secretaria de Gestão Pública. 20 “questionado o motivo pelo qual, ciente do posicionamento da Procuradoria-Geral, no sentido de que exigiria prévia manifestação do então Gestor de Contrato, Mário Lucas, não exigiu, na condição de superiora hierárquica e Diretora de Gestão de Licitações e Contratos que o pedido de reequilíbrio fosse reencaminhado para o respectivo Gestor de Contrato (que, em verdade, a declarante tinha conhecimento de seu posicionamento contrário ao deferimento do pedido de reequilíbrio), esclareceu que foi determinação do Secretário Marco Cito”.

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do posicionamento da Diretoria de Gestão de Licitações e Contratos, e,

conseqüentemente, da impossibilidade fática de concessão do reequilíbrio

pleiteado, tanto que reteve o pedido de reequilíbrio em seu gabinete com o

objetivo de traçar outra maneira de obter a concessão do reequilíbrio: violando o

regimento interno da Secretaria de Gestão Pública, ou seja, submetendo o

pedido à apreciação do Procurador Geral FIDÉLIS CANGUÇU sem a

manifestação prévia (que era pela improcedência) da Diretoria de Gestão de

Licitações e Contratos.

Ato contínuo, em 21.12.2010, o então Procurador Geral do

Município, FIDÉLIS CANGUÇU , de forma ilícita e ciente da ausência de prévia

análise da Diretoria de Gestão de Licitações e Contratos, admitiu a concessão do

reequilíbrio econômico financeiro, por meio de um parecer superficial, genérico e

desprovido de fundamentação (DOC. 12 – verso).

Por fim, BARBOSA NETO , no exercício da função de Prefeito,

assinou o aditivo 06, ciente da ausência de pressupostos fáticos para a

concessão do reequilíbrio econômico financeiro.

De efeito, é certo que o gabinete do Prefeito fica no segundo

pavimento do prédio da Prefeitura (sede administrativa)21, sendo o mesmo

pavimento no qual ocorreram as supostas (e inexistentes) ampliações de seu

gabinete, e da Secretária da Secretaria da Mulher (conforme frisado

anteriormente, a secretaria da Mulher apenas veio a ocupar um espaço

anteriormente ocupado pela Secretaria de Educação, cujo espaço anterior,

registre-se, era ainda maior).

Desta forma, BARBOSA NETO , inequivocamente, não se

limitou a assinar o termo Aditivo n.º 06, mas detinha pleno conhecimento no

sentido de que referidas mudanças nunca ocorreram, o que denota,

21 Declarações de Ana Maria Arenghi. DOC. 05

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15

seguramente, que tinha pleno conhecimento da falsidade dos fundamentos

fáticos para se conceder o reequilíbrio requerido. Mesmo ciente de tal fato,

autorizou, ilicitamente, a concessão do reequilíbrio por meio do aditivo 06 ao

contrato SMGP-0062/2010.

2.5 Do valor concedido a título de reequilíbrio eco nômico

financeiro.

O requerido MARCO CITO, determinou, com a colaboração e

intermediação da Diretora ELISÂNGELA MARCELLI, a concessão do valor de

R$955.294,34, a título de reequilíbrio econômico financeiro, que seria pago

retroativamente (da data da assinatura do aditivo, até a data da assinatura do

contrato administrativo n.º SMGP 0062-2010, realizada em março de 2010), além

de R$ 89.879,5022, pagos mensalmente, a partir da data da concessão do aditivo.

Essa quantia, além de superior ao valor pleiteado pela empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. é abusivo, já que não

possuía correspondência com os documentos apresentados (além de provir de

autoridade incompetente).

Conforme se verifica da seqüência do procedimento

administrativo, após a autorização, pelo Procurador Geral FIDELIS CANGUÇU,

da concessão do reequilíbrio econômico-financeiro, o Secretário Municipal de

Gestão Pública, MARCO CITO, emitiu parecer, assinado também pela Diretora

de Gestão de Licitação e Contratos, ELISÂNGELA MARCELI, no qual

determinava a forma de cálculo para a realização do termo aditivo referente ao

22 Registre-se que este valor foi obtido, segundo o seguinte raciocínio aritmético: do valor de R$ 2449,42 (valor concedido por intermédio do aditivo contratual n.º 06/2011), subtraiu-se o valor de R$ 1503,32 (valor inicialmente contratado, por ocasião do aperfeiçoamento do contrato administrativo SMGP 0062-2010, realizada em março de 2010), resultando na diferença de R$ 946,10. Deste valor, multiplicou-se por 95 (n.º de postos existentes no prédio da prefeitura, e que sofreram alteração contratual, por meio do aditivo n.º 06).

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reequilíbrio concedido, indicando o valor de R$89.125,6423 que deveria ser pago

a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS., mensalmente, a

título de equilibro econômico financeiro24.

Portanto, Mário Lucas, atendendo determinação dos requeridos

MARCO CITO e ELISANGELA , elaborou nova planilha de reequilíbrio (DOC. 17),

sendo estabelecido (em razão do Aditivo n.º 06) que o custo de materiais e

serviços administrativos seria reajustado retroativamente em R$955.294,34,

elevando o valor unitário de 95 postos de serventes de 8 horas de R$1.503,32

para R$2.449,42 (observe que o valor pleiteado pela empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. consistia na importância de R$1.758,62

para cada posto de trabalho de 8h25).

A respeito da origem do valor determinado por ELISÂNGELA

MARCELI e MARCO CITO, a título de reequilíbrio econômico financeiro (DOC.

15), ELISÂNGELA afirmou que o valor de R$955.294,34 é resultado da

subtração do valor apresentado no Romaneio de Entrega de Materiais de

Limpeza emitido por Complleta Distribuidora26 e do valor constante no valor da

proposta licitada. Vale ressaltar que o “romaneio” (DOC. 16) apresentado por

MARCELO MACEDO FONSECA e utilizado pelos demais requeridos para

fundamentar a necessidade de concessão do reequilíbrio econômico financeiro

consistiu, apenas, em uma relação de materiais de limpeza entregue pela

Distribuidora Complleta, em abril de 2010.

Observe-se, entretanto, que inexiste qualquer relação desta

distribuidora com a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS 23 Este valor foi determinado por MARCO CITO, por meio da FIDE de 28-02-2011 – DOC. 15 24 Folha de Informações e Despachos referente ao cálculo de reequilíbrio da Proguarda, de 28.02.2011 – DOC. 15. 25 Planilha anexa ao requerimento de reequilíbrio econômico financeiro formulado pela Proguarda – DOC. 14. 26 Romaneio de Entrega de Materiais de Limpeza emitido por Complleta Distribuidora – DOC 16.

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LTDA. , sendo certo que, ainda que se demonstrasse que a Distribuidora

Complleta se tratava de fornecedora de produtos higiênicos à empresa

PROGUARDA (o que se admite, apenas por hipótese), tem-se que o documento

(ROMANEIO) utilizado pelos requeridos MARCO CITO, ELISANGELA MARCELI

e MARCELO MACEDO DA FONSECA , para justificar a concessão do

reequilíbrio econômico financeiro é totalmente imprestável para essa finalidade,

já que não comprova que os materiais nele relacionados se destinavam aos

postos de serviço existentes do Município de Londrina e que, por este fato,

estavam ligados ao cumprimento do objeto contratado com o Município de

Londrina (objeto do contrato nº SMGP-0062/2010).

Mesmo consciente de que o “romaneio” apresentado por

MARCELO MACEDO DA FONSECA era imprestável para se comprovar o

alegado aumento de insumos, ELISÂNGELA MARCELI 27, em conluio com

MARCO CITO, e demais requeridos, utilizaram referido “romaneio” para

determinar a metodologia e cálculo a serem utilizados na concessão do valor de

reequilíbrio econômico financeiro28.

Resta claro, portanto, que o valor determinado por MARCO

CITO e ELISÂNGELA MARCELLI era ilegal e não possuía elementos reais que

o embasassem ou justificassem.

Os critérios foram arbitrariamente criados por MARCO CITO e

ELISANGELA MARCELI , para se conceder o reequilíbrio econômico em favor da

empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA , critérios estes

referendados pelo requeridos FIDELIS CANGUÇU, PREFEITO BARBOSA

27 DOC. 08. “Questionado a declarante de quem se trata a empresa Complleta Distribuidora, esclarece que “imagina” que seja a empresa que distribui os produtos de limpeza para a Proguarda; questionada a declarante se este documento comprova que, de fato, todos os materiais ali indicados, seriam apenas utilizados no contrato firmado com o Município de Londrina, esclareceu que não tem como provar ou como fazer esta constatação”. 28 DOC. 08. “Questionado a declarante se, segundo seu entendimento, pode o Administrador Público conceder reajustes fundado em um documento “imprestável”, que não se comprova os fatos nele inseridos, esclareceu que não”.

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NETO e, sobretudo, por MARCELO MACEDO FONSECA , representante da

empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA (que, frise-se,

não apenas foi ilicitamente beneficiada com a concessão do reequilíbrio como,

fundamentalmente, forneceu os falsos fundamentos, para sua concessão, cuja

falsidade já foi devidamente demonstrada nos tópicos 2.1; 2.2; e 2.3).

MÁRIO LUCAS, o gestor do contrato (que sucedeu Sônia

Regina Aparecido), com o nítido propósito de se eximir de responsabilidade,

consignou, expressamente, que criou uma planilha de reajuste de preços,

atendendo a determinação dos requeridos ELISANGELA e MARCO CITO , o

que o motivou a distribuir, aleatoriamente, os valores de R$ 89.000,00, mensais,

aproximadamente, sobre todos os postos de serviços, para que o acréscimo de

R$955.294,34 fosse justificado (DOC. 17).

A Auditoria do Ministério Público concluiu pela ilegalidade dos

cálculos determinados pelos requeridos, à empresa PROGUARDA .

Verifica-se, desta forma, a ilegalidade do valor mensal

concedido a título de reequilíbrio econômico financeiro e a falsidade da planilha

realizada com o fim de justificar o valor concedido e determinado, a título de

reequilíbrio financeiro, por MARCO CITO e ELISÂNGELA MARCELLI .

Vale ressaltar, outrossim, que a requerida, empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA , requereu, por intermédio

de MARCELO MACEDO DA FONSECA , a concessão de reequilíbrio econômico

financeiro para os postos alocados na Secretaria Municipal de Mulher e Gabinete

do Prefeito, que estão situados na sede administrativa da Prefeitura Municipal de

Londrina. No entanto, MARCO CITO e ELISÂNGELA MARCELI, com o aval de

BARBOSA NETO e FIDÉLIS CANGUÇU, determinaram que o reequilíbrio

econômico financeiro fosse concedido a todos os postos da sede administrativa,

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de forma absurda, ilegal e ilógica29.

Nada mais exato. É fato incontroverso que, na hipotética

situação (que se admite apenas para argumentação) de que, de fato, houve

aumento do fluxo de pessoas, decorrente do aumento do gabinete do PREFEITO

BARBOSA NETO e da SECRETARIA DA MULHER (o que, registre-se, não é

verdadeiro, conforme já exposto nos itens 2.1; 2.2), reputa-se inadmissível que

todos os demais postos de serviço (em número de 95), existentes no prédio da

Prefeitura Municipal de Londrina, fossem “agraciado” com o reequilíbrio

econômico financeiro.

Portanto, não bastasse a falsidade do pressuposto fático que

autorizaria a concessão do reequilíbrio econômico financeiro (conforme

demonstrado – tópicos 2.1 e 2.2), também estenderam, indevidamente, a todos

os postos do prédio da prefeitura, o indevido reajuste (rectius- reequilíbrio

econômico financeiro).

Frise-se que MARCO CITO, com a intermediação de

ELISÂNGELA MARCELI , e com o propósito de atingir objetivo de todos os

requeridos – concessão do reequilíbrio econômico financeiro -, estabeleceu os

critérios e valores referente ao cálculo do reequilíbrio econômico financeiro

(DOC. 15 e 2030). Todavia, a função de estabelecer os critérios de cálculo e os

valores de reequilíbrios, reajustes e repactuações é da Coordenadoria de Gestão

e Contratos, conforme disposto no art. 31, XVII do Regimento da Secretaria de

Gestão Pública, e não do Secretário MARCO CITO, que, mais uma vez, violou

as disposições regimentais, com a aquiescência, de todos os demais

requeridos, para favorecer ilicitamente a empresa P ROGUARDA

29 Folha de Informações e Despachos da Secretaria Municipal de Gestão Pública referente a solicitação de reequilíbrio da Proguarda de 17.03.2011 – DOC. 19. 30 Folha de Informações e Despachos da Secretaria Municipal de Gestão Pública referente a solicitação de reequilíbrio da Proguarda de 03.02.2011 – DOC. 20.

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20

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA 31.

3- Do direito

3.I – Do equilíbrio econômico financeiro .

Os requeridos, na condição de agentes públicos do Município

de Londrina e terceiros, em divisão de tarefas e identidade de propósitos,

concederam à empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA ,

o valor de R$955.294,34, por intermédio do ADITIVO nº 06, do c ontrato

Administrativo n.º 006/2010.

Segundo lição de Marçal Justen Filho32, o equilíbrio econômico

financeiro do contrato administrativo significa a relação (de fato) existente entre o

conjunto dos encargos impostos ao particular e a remuneração correspondente.

Nesse sentido, afirma que “quando se alude a equilíbrio econômico-financeiro

não se trata de assegurar que a empresa se encontre em situação lucrativa. A

garantia constitucional se reporta à relação original entre encargos e

vantagens”33.

Essa relação de equilíbrio, prossegue Marçal Justen Filho34,

“...delineia-se a partir da elaboração do ato convocatório. Porém, a equação se

firma no instante em que a proposta é apresentada. Aceita a proposta pela

Administração, está consagrada a equação econômico-financeira dela constante”.

No caso em apreço, a proposta apresentada pela empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇAO E SERVIÇOS LTDA, no certame licitatório,

31 Leia-se, a propósito, as declarações de ELISÂNGELA MARCELI (DOC. 08) e ELY TIEKO (DOC. 21), prestadas a esta Promotoria de Justiça. 32Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 13. ed. São Paulo: Dialética, 2009, p. 746 33 Justen Filho, Marçal. Op. cit., p. 747 34 Justen Filho, Marçal. Op. Cit., p. 747.

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que culminou na celebração do Contrato nº SMGP-0062/2010, em 08.03.2010,

estabeleceu-se a equação econômico-financeira entre as partes contratantes.

Essa equação econômico-financeira, todavia, apenas pode ser

alterada diante da existência de fatos supervenientes, imprevistos e imprevisíveis,

que legitime sua revisão. É a disposição encartada no art. 65, II, “d” da Lei

8.666/93.

Com certeza, não é a hipótese versada nos autos. Os fatos que

motivaram a aplicação do reequilíbrio econômico financeiro foram montados,

“fabricado”, pelo requerido MARCELO MACEDO DA FONSECA , em conluio com

os demais requeridos, já que a implantação do projeto “Gabinete do Prefeito” e a

ampliação da jornada nas escolas municipais ocorreu em período anterior à

celebração do contrato nº SMGP-062/2010, sendo, portanto, anterior ao

estabelecimento da equação econômico financeira do referido contrato.

Por outro lado, também não houve implantação da “Secretaria

da Mulher”, ou seja, não houve o aumento de unidade a serem prestados os

serviços, tão-somente a realocação de uma unidade (Gabinete da Secretária da

Secretaria da Mulher) que já era atendida pelo contrato nº SMGP-0062/2010.

Marçal Justen Filho estabelece os fundamentos fáticos que

legitimam a invocação do reequilíbrio econômico-financeiro35, sendo eles:

“A Administração pode recusar o restabelecimento da equação

apenas mediante invocação da ausência dos pressupostos

necessários. Poderá invocar:

- ausência de elevação dos encargos do particular;

- ocorrência do evento antes da formulação das propostas ;

- ausência de vínculo de causalidade entre o evento

ocorrido e a majoração dos encargos do contrato ;

35 Op. Cit., p. 748/749.

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22

- culpa do contratado pela majoração dos seus encargos (o

que inclui a previsibilidade da ocorrência do evento)”.

As provas coligidas nos autos atestam que os motivos

apresentados por MARCELO MACEDO FONSECA e acatados pelos requeridos

com o objetivo de obter ilicitamente a concessão do reequilíbrio econômico

financeiro preexistiam à celebração do contrato (Gabinete Aberto e escolas

municipais com ampliação de jornada), bem como também não possuíam vínculo

de causalidade entre o evento ocorrido e a majoração dos encargos levados a

efeito (alocação do Gabinete da Secretária da Secretaria da Mulher).

3.II - Ato de Improbidade Administrativa que causa lesão ao

erário.

No caso vertente, os requeridos, cada qual no exercício de suas

funções Municipais, praticaram ações dolosas que ensejaram perda patrimonial

do Município de Londrina, já que concorreram para a concessão ilícita do

reequilíbrio econômico financeiro objeto do aditivo 06 do contrato nº SMGP-

0062/2010, em detrimento do erário.

De efeito, os fatos retratados nesta ação autorizam afirmar que

MARCO CITO, ELISÂNGELA MARCELI e FIDELIS CANGUÇU, valendo-se das

facilidades e das prerrogativas que usufruíam com os cargos de Secretário

Municipal de Gestão Pública, Diretora de Licitação e Contratos e Procurador

Geral do Município, cientes da ausência de pressupostos fáticos,

convencionaram a violação do procedimento administrativo previsto no

Regimento Interno da Secretaria de Gestão Pública, com o único propósito de

conceder ilicitamente a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E

SERVIÇOS LTDA. ., reequilíbrio econômico financeiro.

De igual sorte, o réu HOMERO BARBOSA NETO , ciente da

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ausência de pressupostos fáticos para a concessão do reequilíbrio e da

transgressão do Regimento Interno da Secretaria de Gestão Pública, assinou o

aditivo 06 do contrato nº SMGP-0062/2010.

Posto isto, não restam dúvidas no sentido de que o reequilíbrio

econômico financeiro, concedido à empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E

SERVIÇOS LTDA, não possuía validade legal, mas simplesmente destinava-se à

satisfação de interesses privados e dissociados do interesse público, causando

prejuízo ao erário Municipal.

Portanto, os requeridos praticaram, voluntária e

conscientemente, Ato de Improbidade Administrativa que causou lesão ao erário,

por intermédio da concessão do reequilíbrio econômico financeiro formalizado no

Aditivo 06. Seus comportamentos se adéquam ao disposto no art. 10, caput e

inciso I, XI da Lei 8429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

Nesse vértice, cada requerido exerceu importante tarefa no

ato ímprobo descrito nesta ação, quer porque solicitou o reequilíbrio econômico

financeiro sob falsos fundamentos (Marcelo Macedo Fonseca), quer porque

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assinou o aditivo 06 (Prefeito BARBOSA NETO ), quer porque autorizou a

concessão do reequilíbrio econômico financeiro (Procurador Geral FIDÉLIS

CANGUÇU), quer, outrossim, porque subverteu o regimento interno da Secretaria

de Gestão Pública (então Secretário de Gestão Pública MARCO CITO e a

Diretora de Licitações e Contratos ELISÂNGELA MARCELI ).

Na hipótese, os requeridos subsumem seus comportamentos

funcionais às disposições contidas no art. 10, caput, incisos I, XI e XII, sendo

certo que, no exercício de seus misteres, contribuíram, ilicitamente, para o

enriquecimento de terceiros, em detrimento dos cofres públicos do Município de

Londrina. Consigne, a propósito, a seguinte lição de Pazzaglini Filho36:

“Em todas as espécies do art. 10, o agente realiza condutas que ensejam o enriquecimento indevido de terceiro, pessoa física ou jurídica. Não é preocupação do legislador, neste dispositivo, o eventual proveito obtido pelo agente público, direta ou indiretamente, mas tão somente seu agir ou não agir em benefício de outrem, contra o erário. É da subversão da atividade funcional que trata, quer dizer, do agente público que, inobservando o dever de zelar e proteger o erário, assiste ou colabora para que terceiro se beneficie, a dano dos cofres públicos”.

Fernando Rodrigues Martins, ao discorrer sobre o sentido e

alcance da disposição legal contida no art. 10, caput e inciso I, da Lei de

Improbidade Administrativa, destaca que:

“Referido inciso deve ser interpretado em cotejo com as modalidades de enriquecimento ilícito elencadas no art. 9º da Lei Federal 8.429-92. Pretendeu o legislador, com a redação acima, estancar as mais variadas formas de dilapidação ao erário público. Com efeito, aqui trata de tipificar a conduta do agente que, causando dano ao erário, concorre, de qualquer maneira, para o enriquecimento de terceiro.

36 PI FILHO, Marino, et all. Improbidade administrativa: aspectos jurídicos da defesa do patrimônio público, São Paulo: Atlas, 19996, p. 70/71.

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25

É cogente não esquecer que, conforme disciplina o art. 3º da Lei federal nº 8429-92, o terceiro também sofrerá as sanções nele tratadas, bastando que, para tanto, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade administrativa ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”. 37

Conseqüentemente, não restando dúvidas acerca da

invalidade destes atos que autorizaram a concessão do reequilíbrio e efetuaram

os pagamentos, o patrimônio Municipal deve ser recomposto ao status quo ante:

“Como conseqüência da infração às normas vigentes, ter-se-á a nulidade do ato, o qual será insuscetível de produzir efeitos jurídicos válidos. Tem-se, assim, que qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido será ilícita, pois “quod nullum est, nullum producit effectum”, culminando em caracterizar o dano e o dever de ressarcir”38.

Os comportamentos dos requeridos HOMERO BARBOSA

NETO, FIDÉLIS CANGUÇU, MARCO CITO e ELISÂNGELA MARC ELI

configuram atos de improbidade administrativa encartados no art. 10, caput,

incisos I, XI e XII da Lei nº8429/92, assim como o comportamento de MARCELO

MACEDO DA FONSECA , representante legal da empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA., configura atos de improbidade

administrativa encartados no art. 10, caput, inciso I, da Lei nº8429/92, importando

na lesão aos cofres públicos municipais no valor total de R$1.143.817,05 (um

milhão, cento e quarenta e três mil, oitocentos e dezessete reais e cinco

centavos)39, o que legitima suas condenações nas sanções encartadas no art. 12,

inciso II, da Lei n.º 8429-92.

37 MARTINS, Fernando Rodrigues. Controle do patrimônio público. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 98/99. 38 GARCIA; ALVES. Op. cit., p. 261. 39 Total pago à empresa Proguarda referente ao aditivo 06 atualizado pela Auditoria do Ministério Público na Informação elaborada pela Controladoria Geral do Município -035/2011 – DOC. 23 e 24.

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26

Por outro lado, a empresa PROGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. , por ter se beneficiado dos valores

pagos mensalmente a título de reequilíbrio econômico financeiro, enriqueceu-se

ilicitamente, às custas do erário.

3.III - Atos de Improbidade Administrativa que aten tam

contra os Princípios da Administração Pública.

Além de causarem enriquecimento ilícito (de terceiro) e prejuízo

ao erário, as condutas dos requeridos atentaram contra os princípios que regem a

Administração Pública. A Constituição Federal, com o propósito de estabelecer

vetores básicos da atividade estatal, vinculou os atos da Administração Pública à

observância, dentre outros, dos princípios da moralidade, legalidade,

impessoalidade, publicidade, eficiência40.

Enfatize-se que os princípios consagrados na Constituição

Federal, expressa ou implicitamente, espraiam seus efeitos a todo o ordenamento

jurídico, vinculando, a um só tempo, as funções legislativa, executiva e

jurisdicional, de tal sorte que a interpretação, criação e execução de toda a

legislação infraconstitucional devem conformar-se à Constituição Federal. Neste

sentido leciona Emerson Garcia:

“Os princípios a exemplo das regras, carregam consigo acentuado grau de imperatividade, exigindo a necessária conformação de qualquer conduta aos seus ditames, o que denota o seu caráter normativo (dever ser). Sendo cogente a observância dos princípios, qualquer ato que dele s destoe será inválido , conseqüência esta que representa a

40 Art. 37. A Administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, e, também, ao seguinte”.

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sanção para a inobservância de um padrão normativo cuja reverência é obrigatória”. 41

Os princípios constitucionais consubstanciam intransponíveis

barreiras ao exercício de qualquer função Estatal, servindo de diretivas

valorativas para a interpretação (função judiciária), criação (função legislativa) e

execução (função executiva) do Direito Positivo.

A lei de Improbidade Administrativa, em consonância com a

Constituição Federal, também estabeleceu limitações materiais ao exercício da

atividade funcional, limitações estas que, uma vez violadas, importa em

improbidade administrativa. Assim, dispõe o art. 11 da Lei n.º 8429/92:

“Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições (...)”

Este dispositivo legal deve ser interpretado em consonância

com o artigo 4º da mesma lei, que dispõe:

“Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela observância dos princípios da legalidade, da impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

Fábio Medina Osório esclarece o sentido e alcance desta

disposição legal:

“ O art. 4º da lei bem revela, modo explícito, que os princípios constitucionais da administração integram a tipicidade de todo e qualquer ato de improbidade administrativa. Não há que se cogitar, por exemplo, de que o art. 11 aparentemente não cuidaria do princípio da impessoalidade, eis que não o mencionou expressamente. Todos os tipos se integram, em primeiro lugar, ao art. 37, caput, da Carta de 1988 e a toda doutrina do desvio de

41 GARCIA, Emerson. Improbidade Administrativa. 3ª ed. Lúmen Juris. Rio de Janeiro: 2006, p. 39.

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poder, que fornece o substrato teórico para a conceituação dos atos de improbidade”. 42

Nessa esteira, os fatos relatados evidenciam que a conduta dos

requeridos distanciou-se da previsão inserta no art. 37, caput, da Constituição

Federal, em clara afronta aos princípios da legalidade e moralidade,

caracterizando ato de improbidade. Desta forma, o fato acima descrito apresenta

vício de improbidade, que, no entender Hely Lopes Meirelles, justifica sua

invalidação.43 Isso porque a conduta dos requeridos HOMERO BARBOSA

NETO, FIDÉLIS CANGUÇU, MARCO CITO, ELISÂNGELA MARCE LI e

MARCELO MACEDO FONSECA, contribuíram diretamente para que a empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA . se enriquecesse

ilicitamente, o que colide com os princípios da legalidade, moralidade e lealdade

às instituições.

Em outras palavras. A concessão do reequilíbrio econômico

financeiro, por intermédio do aditivo 06, deve ser declarado inválido em

decorrência da ausência pressuposto fático e da violação do procedimento

administrativo previsto, em clara lesão aos interesses públicos e desrespeito aos

princípios da Administração Pública.

Em relação aos últimos, preleciona Celso Antônio Bandeira

de Mello44:

"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão

42 Improbidade Administrativa, Rio Grande do Sul: Síntese, 2ª ed., p. 120. 43 Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo: Malheiros Editores, 32ª ed., p. 109. 44 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 451. 5ªed. Malheiros Editores, 1994.

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de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada".

De efeito, os atos praticados pelos requeridos tiveram por

finalidade a captação de recursos públicos para satisfação de interesses

particulares. Para tanto, os requeridos formalizaram aditivo ilícito, objetivando

acobertar o desvio de recursos públicos, infringindo expressas disposições legais,

em evidente prejuízo ao erário.

O administrador público está obrigado a seguir estritamente o

que determina a lei, devendo cumpri-la não só na sua literalidade, mas também

no seu espírito. Aqui, aplica-se o ensinamento antigo de que nem tudo o que é

legal é honesto (non omne quod licet honestum est ).

A despeito disso, houve deliberada e expressa transgressão da

Legalidade. Este princípio constitucional, base do Estado de Direito, submete a

atividade estatal ao ordenamento jurídico, não podendo o administrador agir

contra legem ou praeter legem, atuando somente secumdum legem. Deve a

atividade administrativa não apenas observar as proibições que a lei impõe, mas

só fazer o que ela antecipadamente autoriza.

Nesse vértice, HOMERO BARBOSA NETO , FIDÉLIS

CANGUÇU, MARCO CITO e ELISÂNGELA MARCELI , utilizaram-se de suas

funções públicas para, nesta condição, contribuírem para o enriquecimento ilícito

da empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA ., o que

colide com o art. 37, caput, da Constituição Federal, violando, assim, o princípio

da legalidade. Segundo leciona Celso Antônio Bandeira de Mello45:

"(...) o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Esta deve tão somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos

45 Op.cit., p. 48.

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os seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no direito brasileiro (...)".

É induvidoso que a conduta de todo agente público46 deve

estribar-se nos termos e limites da lei. O particular pode fazer tudo o que a lei não

proíbe; ao administrador, em sentido inverso, apenas é admitido fazer o que a lei

expressamente autoriza. No caso vertente, os requeridos, ao contrário,

praticaram atos expressamente proibidos por lei, violando os valores

fundamentais protegidos pelo Direito Penal.

Note-se que os requeridos, cientes da ausência de

pressupostos fáticos que autorizassem a concessão do reequilíbrio econômico

financeiro, por intermédio da divisão de tarefas e identidade de propósitos,

subverteram o Regimento Interno da Secretaria de Gestão Pública e permitiram a

concessão do reequilíbrio, evidenciando comportamento contrário à ordem

jurídica e que teve por único propósito a consecução de interesses privados.

Este comportamento ímprobo afrontou todos os ditames legais

e subverteu os valores consagrados expressa e implicitamente na Constituição

Federal que devem nortear toda a ação daqueles que desempenham funções

públicas.

Além de manifestamente ilegal, os comportamentos dos

requeridos são ostensivamente imorais, já que em total descompasso com o

sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé exigidos pelo senso

46 Conforme dispõe o art.2º da lei 8.429/92: “Reputa-se agente público para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição nomeação, designação contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.”

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comum. Não se pode conceber como moral e ético a conduta de quem se utiliza

de cargo público para praticar ilegalidades.

Emerson Garcia47 delimita, apropriadamente, o princípio da

moralidade:

“O princípio da legalidade exige a adequação do ato à lei, enquanto que o da moralidade torna obrigatório que o móvel do agente e o objetivo visado estejam em harmonia com o dever de bem administrar.”

Nesse sentido, leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro48:

“(...) sempre que em matéria administrativa se verificar que o comportamento da Administração ou do administrado que com ela se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e de eqüidade, a idéia comum de honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da moralidade administrativa.”

Não se pode conceber como moral a conduta de quem se utiliza

de cargo público para praticar ilegalidades. Os requeridos agiram em total

desamparo da boa fé e da honestidade que deve pautar, principalmente, o agente

público na condução dos negócios da Administração Pública.

Ressalte-se, outrossim, que os comportamentos dos requeridos

importaram na violação do dever de lealdade à Instituição para a qual

representam. De fato, os requeridos afrontaram os deveres de honestidade,

legalidade e lealdade ao Município de Londrina.

Ao discorrer sobre o Princípio da Lealdade às Instituições,

Emerson Garcia, ressalta que:

“O dever de lealdade em muito se aproxima da concepção de boa-fé, indicando a obrigação de o agente: a) trilhar os

47 Op. cit., p. 75/76. 48 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 79, 12ª ed. São Paulo, Editora Atlas. 2000.

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caminhos traçados pela norma para a consecução do interesse público e b) permanecer ao lado da administração em todas as intempéries (...)”

Citando Pedro Nevado-Batalha Moreno, prossegue o autor,

esclarecendo que a lealdade às instituições abrange

“(...) o dever de neutralidade e independência política no desenvolvimento do trabalho; o respeito à dignidade da administração; o respeito ao princípio da igualdade e da não-discriminação; e o respeito aos particulares no exercício de seus direitos e liberdades públicas”. 49

Restou demonstrado, portanto, que os requeridos afrontaram

os princípios da legalidade, da moralidade administrativa, violando, também, o

dever de lealdade ao ente público para o qual exercem sua função, o que

consubstancia improbidade administrativa expressamente prevista no artigo 11,

“caput”, e inciso I, da Lei 8.429/92.

3.IV – ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DA EMPRESA

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA.

É evidente que o requerido MARCELO MACEDO DA

FONSECA, ao formular o pedido de reequilíbrio sob falsos fundamentos, assim

como os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FIDÉLIS CANGUÇU , ao

autorizarem a concessão do reequilíbrio econômico financeiro, e MARCO CITO e

ELISÂNGELA MARCELI , ao subverterem o trâmite do pedido de reequilíbrio com

o propósito de conceder, ilicitamente, o reequilíbrio pleiteado, concorreram, por

ação, para que a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS

LTDA. se enriquecesse ilicitamente.

49 Op. cit., p. 291.

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De igual sorte, a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E

SERVIÇOS LTDA. , foi beneficiada com os valores pagos mensalmente a título de

reequilíbrio econômico financeiro, sem fazer jus a este, enriquecendo-se

ilicitamente, às custas do erário.

A empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇAÕ E SERVIÇOS

LTDA., na condição de terceira beneficiada com a prática do Ato de Improbidade

Administrativa (art. 3º da Lei de Improbidade Administrativa), praticou importante

tarefa na empreitada ímproba, já que seu representante legal, MARCELO

MACEDO DA FONSECA , consignou três fatos inverídicos no pedido de

reequilíbrio econômico financeiro encaminhado ao Município de Londrina,

simplesmente montados e criados para aparentar a legitimidade do aditivo

contratual levado a efeito.

Concretizou-se, assim, enriquecimento sem causa, indevido, às

custas do erário Municipal, razão pela qual deve ser condenada, solidariamente

com os demais requeridos, na devolução das quantias indevidamente recebidas,

no valor de R$1.143.817,05 (um milhão, cento e quarenta e três mil,

oitocentos e dezessete reais e cinco centavos), além das demais sanções

derivadas da prática dos atos Ímprobos.

3.V. Individualização dos comportamentos ilegais do s

requeridos.

Descreve-se, a seguir, os comportamentos ilegais dos

requeridos.

HOMERO BARBOSA NETO , na condição de agente público,

agindo dolosamente e em co-autoria com os demais requeridos, concorreu para a

prática do ilícito, no exercício de suas funções de Prefeito do Município de

Londrina, ao assinar (ciente da ausência de pressupostos fáticos) o aditivo 06

relativo ao contrato nº SMGP-0062/2010, aperfeiçoado com a empresa

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PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA ., autorizou a concessão

ilícita do reequilíbrio econômico financeiro. Seu comportamento afrontou a

Constituição Federal, a Lei 8.666/93, subsumindo-se, ainda, às hipóteses

previstas no art. 10, incisos I, XI e XII e 11, caput, inc. I da Lei 8429/92, causando

prejuízo ao erário no valor de R$1.143.817,05.

FIDÉLIS CANGUÇU , na condição de agente público, agindo

dolosamente e em co-autoria com os demais requeridos, concorreu para a prática

do ilícito, no exercício de suas funções de Procurador Geral do Município de

Londrina, ao admitir a concessão do reequilíbrio econômico financeiro, objeto do

Aditivo 06, ciente da ausência de pressupostos fáticos a da ausência do parecer

prévio da Diretoria de Licitação e Contratos. Seu comportamento afrontou a

Constituição Federal, a Lei 8.666/93, subsumindo-se, ainda, as hipóteses

previstas no art. 10, incisos I, XI e XII e 11 da Lei 8429/92, causando prejuízo ao

erário no valor de R$1.143.817,05.

MARCO ANTONIO CITO , na condição de agente público,

agindo dolosamente e em co-autoria com os demais requeridos, concorreu para a

prática do ilícito, no exercício de suas funções de Secretário Municipal de Gestão

Pública, pois, ciente da ausência de pressupostos fáticos que autorizassem a

concessão do reequilíbrio econômico financeiro, assumiu a tramitação do pedido

de reequilíbrio, articulou a violação do procedimento administrativo previsto (art.

31, XVII do Regimento Interno da Secretaria de Gestão Pública) e determinou,

indevidamente, a concessão do valor de R$955.294,34 a título de reequilíbrio

econômico financeiro. Seu comportamento afrontou a Constituição Federal, a Lei

8.666/93, subsumindo-se, ainda, às hipóteses previstas no art. 10, incisos I, XI e

XII e 11, caput, inc. I da Lei 8429/92, causando prejuízo ao erário no valor de

R$1.143.817,05.

ELISÂNGELA MARCELI AUREANO ARDUIN, na condição

de agente público, agindo dolosamente e em co-autoria com os demais

requeridos, concorreu para a prática do ilícito no exercício de suas funções de

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Diretora de Licitação e Contratos, pois, ciente da ausência de pressupostos

fáticos que autorizassem a concessão do reequilíbrio econômico financeiro, bem

como da necessidade de manifestação prévia da Diretoria de Licitação e

Contratos, remeteu o pedido para apreciação direta do Procurador Geral do

Município, e, posteriormente, ratificou, em conluio com Marco Cito os valores

ilegais determinados por este. Seu comportamento afrontou a Constituição

Federal, a Lei 8.666/93, subsumindo-se, ainda, Às hipóteses previstas no art. 10,

incisos I, XI e XII e 11, caput, inc. I, da Lei 8429/92, causando prejuízo ao erário

no valor de R$1.143.817,05.

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA

figurou como beneficiária do reequilíbrio concedido ilicitamente, por intermédio do

aditivo n° 06, no valor de R$1.143.817,05, celebrado sob falsos fundamentos

fáticos, como já descrito nesta petição inicial. Seu comportamento afrontou a

Constituição Federal, a Lei 8.666/93, subsumindo-se, ainda, às hipóteses

previstas no art. 10, inciso I, e 11, caput, inc. I, da Lei 8429/92, causando prejuízo

ao erário no valor de R$1.143.817,05.

MARCELO MACEDO FONSECA, representante legal da

empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA., na condição

de terceiro, agindo dolosamente e em co-autoria com os demais requeridos,

concorreu para a prática do ilícito, ao simular a existência de motivos, ciente de

sua inexistência, e com estes formular o pedido de reequilíbrio econômico

financeiro sob falsos fundamentos, de forma a beneficiar ilicitamente a empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA . com a concessão do

reequilíbrio. Seu comportamento afrontou a Constituição Federal, a Lei 8.666/93,

subsumindo-se, ainda, Às hipóteses previstas no art. 10, inciso I, e art. 11, caput,

inc. I, da Lei 8429/92, causando prejuízo ao erário no valor de R$1.143.817,05.

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3. VI - Dano moral difuso

Saliente-se que, além dos danos materiais sofridos, os

comportamentos ímprobos dos requeridos macularam a imagem da

Administração Pública Municipal, com inegável repercussão negativa perante

toda a sociedade.

A moralidade na Administração é uma conquista da

sociedade e do processo democrático que vai sendo construído, paulatinamente

e é evidente que acontecimentos dessa magnitude contribuem para a

desmoralização do ente público.

Ao tratar do tema, Emerson Garcia50 esclarece que:

“a Lei nº 8.429/92 não se destina unicamente à proteção do erário, concebido este como o patrimônio econômico dos sujeitos passivos dos atos de improbidade, devendo alcançar, igualmente, o patrimônio público em sua acepção mais ampla, incluindo o patrimônio moral”.

Prossegue o autor esclarecendo que o dano moral, nesses

casos, “será experimentado pelo próprio patrimônio público, concebido este como

o conjunto de direitos e deveres pertencentes, em última ratio, à coletividade”.

A condenação por danos morais tem como finalidade repor

o status quo, além de conferir uma resposta ao legítimo titular do bem jurídico

(patrimônio público, material e moral) afetado (povo), sobretudo no que diz

respeito ao direito da coletividade de exigir dos administradores uma conduta

proba e compatível com os princípios que regem a administração pública.

A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso X, deixa

explícita a possibilidade de indenização pelos danos morais:

50 GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, p. 444/445, 3ª ed. Livraria e Editora Lumen Juris Ltda. 2006.

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Art.5º. São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

A possibilidade de indenização por danos morais difusos

também está garantida pela Lei da Ação Civil Pública quando estabeleceu em

seu artigo 1º:

Art. 1º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados (...)

Desta forma, impõe-se que além dos prejuízos materiais

causados aos entes públicos, os requeridos HOMERO BARBOSA NETO,

FIDÉLIS CANGUÇU, MARCO ANTONIO CITO, ELISÂNGELA MAR CELI

ARDUIN, MARCELO MACEDO FONSECA e PROGUARDA ADMINIST RAÇÃO

E SERVIÇOS LTDA, sejam condenados a indenizar a Administração Pública

pelos danos morais causados à sua imagem, no valor dos danos materiais, ou a

ser arbitrado por esse respeitável juízo.

4 - DO PEDIDO

Em razão de todo o exposto, requer-se:

a) a notificação dos requeridos, nos termos do art. 17,

§ 7º, da Lei no. 8.429/92, com a redação dada pela Medida Provisória sob n.º

2088/2000 (e suas reedições subseqüentes);

b) o recebimento da presente ação e a citação dos

requeridos para, querendo, defenderem-se da imputação de prática de ato de

improbidade administrativa, sob pena de revelia;

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c) a intimação do Município de Londrina para que se

posicione acerca do gizado no art. 17, § 3º, da Lei n.º. 8.429/92;

d) a produção de prova por todos os meios possíveis,

principalmente documental, depoimentos pessoal dos requeridos, oitiva de

testemunhas a serem oportunamente indicadas, juntada de novos documentos e

exames periciais que se fizerem necessários à instrução da causa;

e) o deferimento das prerrogativas estatuídas do art.

172, § 2º, do C.P.C., para cumprimento das medidas judiciais de notificação,

citação e/ou intimação;

f) seja julgada procedente a presente ação,

reconhecendo-se a prática de atos de Improbidade Administrativa praticados

pelos requeridos HOMERO BARBOSA NETO, FIDÉLIS CANGUÇU, MARCO

ANTONIO CITO e ELISÂNGELA MARCELI encartados nos arts. 10, inciso I, XI e

XII, c/c art. 11, caput e inciso I, da Lei nº 8429/92; e praticados pelos requeridos

MARCELO MACEDO FONSECA e a empresa PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO

E SERVIÇOS LTDA , encartados nos arts. 10, inciso I, c/c art. 11, caput e inciso I,

da Lei nº 8429/92, declarando-se, em conseqüência, a invalidade do aditivo 06,

com efeito ex tunc, referente ao contrato SMGP-0062/2010 e de todos os atos

dele decorrentes;

g) sejam os requeridos HOMERO BARBOSA NETO,

FIDÉLIS CANGUÇU, MARCO ANTONIO CITO, ELISÂNGELA MAR CELI,

MARCELO MACEDO FONSECA, juntamente com a empresa PR OGUARDA

ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. condenados a ressarc ir os danos

causados ao Município de Londrina, no valor de R$1. 143.817,05 (um milhão,

cento e quarenta e três mil, oitocentos e dezessete reais e cinco centavos).

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h) sejam os requeridos condenados a indenizar os

danos morais produzidos, na mesma quantia dos danos materiais. Não sendo

aceita esta importância, sejam os danos arbitrados por esse r. Juízo;

i) sejam os requeridos HOMERO BARBOSA NETO,

FIDÉLIS CANGUÇU, MARCO ANTONIO CITO e ELISÂNGELA MA RCELI

condenados pela prática de Atos de Improbidade Administrativa, encartados no

art. 10, caput, incisos I, XI e XII, e art. 11, caput e inciso I, c/c art. 3º, todos da Lei

nº 8.429/92; e MARCELO MACEDO FONSECA, juntamente com a empresa

PROGUARDA ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA , condenados pela prática

de Atos de Improbidade Administrativa, encartados no art. 10, caput, inciso I, c/c

art. 11, caput e inciso I, c/c art. 3º, todos da Lei nº 8.429/92, aplicando-se a todos

os requeridos, via de conseqüência, as sanções decorrentes da prática do ato de

Improbidade Administrativa previstas no art. 12, incisos II e III, da Lei nº 8429/92.

Atribui-se à presente causa o valor de R$1.143.817,05.

Londrina, 02 de setembro de 2011