excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da vara … · 2018. 5. 21. · nas ordens jurídicas...

24
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _______ VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – ESTADO DO PARANÁ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através do Promotor de Justiça que ao final assina, vem, a presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 225 da Constituição Federal, Lei n.º 7.347/85, Lei n.º 6.938/81, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL com pedido de liminar em face de DRANCZUK & CIA. LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ 07.923.438/0001-90, localizada na Rua Acelino Grande, 50, bairro Santa Felicidade, CEP 82.320-390, nesta Capital, Estado do Paraná; pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

Upload: others

Post on 22-Dec-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ ____ VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – ESTADO DO PARANÁ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , através do

Promotor de Justiça que ao final assina, vem, a presença de Vossa

Excelência, com fulcro no artigo 225 da Constituição Federal, Lei n.º

7.347/85, Lei n.º 6.938/81, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL com pedido

de liminar em face de

DRANCZUK & CIA. LTDA. , pessoa jurídica de direito privado,

inscrita no CNPJ 07.923.438/0001-90, localizada na Rua Acelino Grande,

50, bairro Santa Felicidade, CEP 82.320-390, nesta Capital, Estado do

Paraná; pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

Page 2: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

2

I - DOS FATOS

Na data de 13 de agosto de 2010, a Promotoria de Justiça

de Proteção ao Meio Ambiente recebeu denúncia anônima de morador

das proximidades da Rua Acelino Grande, 50, em que relatavam a

perturbação do sossego decorrente de vidraçaria ali existente,

denominado “Vidraçaria A Nossa”. Segundo a denúncia:

“Poluição sonora e atmosférica causada pela empresa ‘Vidraçaria A Nossa’ que também tem depósito no imóvel ao lado do numeral 50.”

Diante da situação apresentada, esta promotoria oficiou os

órgãos municipais a fim de obter informações sobre possíveis

irregularidades.

Oficiado o Corpo de Bombeiros, o 1º Grupamento de

Bombeiros respondeu afirmando que, após vistoria, foi concedido prazo

para adequações (fl. 10).

Oficiados os órgãos municipais, restou apresentado pela

Prefeitura Municipal de Curitiba (fl. 13) que o estabelecimento em

comento “está regulariza junto à esta Secretaria Municipal de Urbanismo

– SMU, pelo alvará comercial 827.071, inscrição municipal 505.789-0,

conforme tela anexo.”.

A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, por sua vez,

informou (fls. 16/17) o que segue:

“(...) Foi constatado que trata-se de uma loja de comércio varejista de vidros. No imóvel ao lado da loja existe um depósito de vidros e de barras de alumínio, nesse depósito são realizados cortes de perfis com auxílio de serra circular. Há também uma pequena cabine de madeira, onde são realizadas as pinturas nos vidros, com o auxílio de uma pistola de pressão. Foi lavrada a notificação nº 34807/B (cópia em anexo), para de imediato paralisar com as atividades citadas sem os devidos equipamentos de proteção ao meio ambiente

Page 3: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

3

e atender as disposições da Lei Municipal nº 10.625/02, Lei Municipal nº 7833/91 e Decreto Municipal 1153/04.”

Em manifestação apresentada a esta Promotoria pela

demandada (fls. 19/20), houve a afirmação de que a sua atividade

“DISPENSA a necessidade de Licença Ambiental, e Certificado do Corpo

de Bombeiros, tendo em vista que o tipo de instalação da empresa é

LOJA.”. Porém, restou comprovado que além de loja, a demandada

desenvolve a atividade de corte e pintura de vidros dentro de seu

estabelecimento.

Adiante, nova informação da Secretaria Municipal do Meio

Ambiente (fl. 33) com o seguinte:

“Em nova vistoria, dia 22/03/2011, o proprietário informou que não desenvolve mais as atividades de pintura e corte no endereço em questão, usando o local apenas como estacionamento de veículos. Em vistorias realizadas dia 04/07/2011, às 15h30min, e 06/07/2011, no período da manhã, não houve constatação de poluição sonora e/ou atmosférica reclamada, porém as observações foram feitas somente externamente ao imóvel, já que o proprietário do estabelecimento não permitiu a entrada dos fiscais.”

A fim de verificar a real situação do local investigado, a

Equipe Técnica desta Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente foi

deslocada até o estabelecimento, sendo constatado o seguinte:

“(...) No momento da vistoria, os técnicos deste Centro de Apoio foram atendidos por funcionários da Vidraçaria, os quais não autorizaram a entrada da equipe nas dependências da empresa. Segundo informado, o responsável pelo empreendimento não se encontrava no momento, de modo que a vistoria não poderia ser realizada sem devida autorização. Ademais, os funcionários afirmaram que as atividades de pintura foram paralisadas. (...) Após a análise da documentação encaminhada nos

Page 4: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

4

autos, observa-se que a empresa foi notificada pelo Corpo de Bombeiros para que sanasse irregularidades constatadas nas dependências do empreendimento. No entanto, não foi encaminhada documentação comprobatória das adequações efetuadas pela empresa. Além disso, foi verificada a obrigatoriedade de obtenção de Licença Ambiental e do Certificado de Vistoria do Corpo de Bombeiros esta necessidade por meio da cobrança já realizada pelo Corpo de Bombeiros, bem como pela previsão legal estabelecida no Decreto Municipal nº 1153/04 – anexo I.”

Ocorre, no entanto, que mesmo com as irregularidades

apresentadas perante os órgãos municipais, o estabelecimento continuou

em pleno funcionamento, sendo inclusive vistoriado e aplicado as

sanções administrativas pertinentes, conforme se denota de informação

prestada pela Prefeitura Municipal de Curitiba (fl. 68):

“Em atenção aos ofícios 1301 e 1410/2012, informamos que foram realizadas vistorias na empresa nos dias 15/08 e 20/08/2012, sendo constatado o desenvolvimento de atividades que dependem de prévio licenciamento ambiental desta Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). Foram lavradas as notificações 38334/B (cópia anexa), determinando a paralisação das atividades desenvolvidas no local e a notificação 33550/B (cópia anexa), para que fosse providenciado o devido licenciamento ambiental para as atividades desenvolvidas no estabelecimento. Em consulta ao sistema informatizado, verificamos que a empresa não providenciou o licenciamento ambiental, descumprindo a notificação 33550/B. Desta forma, foi lavrado Auto de Infração 12370 (cópia anexa) pelo desenvolvimento de atividade potencialmente poluidora sem Licenciamento Ambiental. (...)”

Por fim, a SMMA informou que “A empresa protocolou

solicitação de Autorização Ambiental de Funcionamento (AFU) sob nº

12004171, que encontra-se em análise por técnicos desta Secretaria

Municipal do Meio Ambiente.”

Note-se, portanto, que mesmo com a atuação do Poder

Polícia da Administração Pública Municipal, o estabelecimento persiste

Page 5: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

5

com suas atividades, não havendo outra opção senão recorrer ao Poder

Judiciário.

Diante do exposto, faz-se necessária a paralisação imediata

das atividades do demandado, tendo em vista que o estabelecimento em

questão não atende à sua função social estando em completa

irregularidade perante os órgãos municipais, conforme restará

comprovado adiante.

II - DO DIREITO

DO MEIO AMBIENTE COMO DIREITO E DEVER FUNDAMENTAL

A Constituição Federal da República de 1988 tratou de

cuidar do tema Meio Ambiente dedicando um Capítulo próprio para tanto,

devido sua relevância. Para tanto, cumpre a análise do artigo 225 da

Carta Magna.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

A partir do caput do referido dispositivo, o legislador

constituinte tratou de elevar o Meio Ambiente a um direito fundamental.

Diz-se que é direito fundamental, pois o meio ambiente ecologicamente

equilibrado relaciona-se diretamente com o direito à vida e à saúde, além

do princípio que é pilar da Constituição Federal, o da dignidade da pessoa

humana. Portanto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, que no

presente caso é compreendido pelo meio ambiente urbano e o direito dos

Page 6: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

6

cidadãos gozarem de bem-estar e qualidade de vida, é direito

fundamental inerente à todos os cidadãos não só da região afetada, mas

de qualquer região do país, e deve ser defendido e assegurado a fim de

prezar pela sadia qualidade de vida e mais, pela dignidade da pessoa

humana.

Ainda com base no caput do dispositivo supra, o legislador

buscou ainda tratar a proteção ao Meio Ambiente como um Dever

Fundamental, não só da coletividade, mas também do Poder Público, o

qual se utiliza da presente Ação Civil Pública para fazer cumprir àquele

direito fundamental. Diante dessa determinação, a Carta Magna ainda vai

além, ditando em seu §1º do art. 225 as incumbências do Poder Público,

conforme segue:

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

Em conformidade com o colacionado nos dispositivos acima,

tem-se o fundamento máximo para a presente Ação Civil Pública, bem

como ressaltar a função do Poder Público para a efetivação do direito

fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é o que

se pretende com a Ação Civil Pública em tela.

DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA/COMÉRCIO

Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como

um direito ou um plexo de posições jurídicas ativas que se legitimavam

Page 7: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

7

tão-somente em razão da satisfação do interesse privado de seu titular.

Porém, libertando-se dessa função meramente individual, passou-se a

identificar na propriedade também uma função social, sem que ela

mesma, a propriedade, perdesse sua qualidade de privada. Em verdade,

como nos diz Eros Grau, a menção à função social da propriedade parte

da premissa de que essa propriedade é privada1.

Ainda que pudesse ser encontrada como implícita na

Constituição brasileira de 1946, foi a Carta de 1967 a primeira, na história

constitucional brasileira, a fazer menção expressa à função social da

propriedade, em seu art. 157, III. A alteração constitucional teve como

escopo não somente modificar o campo de exercício lícito da propriedade,

mas, antes disso, substituir o parâmetro de legitimidade do

reconhecimento estatal do direito de propriedade. Assim, a propriedade

deixava de ser protegida em razão somente da satisfação de interesses

individuais egoísticos, para, em vez disso, passar a ser tutelada em razão

da relevância social condizente a seu exercício. Noutros termos, a

propriedade deixava de ser protegida em função somente do indivíduo

para ser resguardada em razão também da sociedade. Como

consequência, o exercício da propriedade privada também deveria ser

pautado, internamente, pela compatibilização do interesse individual com

o interesse social.

Na Constituição de 1988, a função social da propriedade

finca raízes em diversos dispositivos (art. 5º, XXIII, art. 170, III, art. 184,

art. 186) e, em razão do acréscimo da função ambiental no exercício da

propriedade (explícita no art. 186, II, e implícita no art. 170, VI, e no art.

225 do Diploma Constitucional), pode ser hoje também identificada como

função socioambiental da propriedade .

Na atual ordem constitucional brasileira, a propriedade é

bem jurídico fundamental protegido e previsto no art. 5º. da Lei Máxima.

Correlato a esse bem fundamental, há o direito fundamental de

1 GRAU, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 269.

Page 8: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

8

propriedade, consistente em direito ao livre desenvolvimento e

manutenção do patrimônio, que pode ser restringido, externamente, pelos

modos previstos expressamente no Texto Maior (desapropriação e

tributação, por exemplo), e conformada, internamente, por orientação da

função socioambiental da propriedade.

Além de propiciar o desenvolvimento patrimonial individual, a

propriedade permanece em nosso sistema constitucional como forma de

proteção da própria pessoa humana2, bem como instrumento de

maximização do bem-estar material da comunidade3. A proteção da

propriedade não é mais vista como um fim em si mesmo, mas sim como

meio de tutela ampla da pessoa, de sua liberdade, de seu livre-arbítrio e

de sua felicidade, nisso consistindo sua função existencial. Ao lado dessa

função existencial, existe a chamada função social (ou socioambiental),

informada por valores solidarísticos. As referidas funções não se excluem;

complementam-se. Tampouco elas excluem a primeira função: a função

econômico-individual. Entre as três funções, porém, deve sobressair a

existencial em nosso sistema constitucional, por ser a dignidade humana

fundamento máximo de nossa República (art. 1º, III, CRFB). Após a

função existencial, deve prevalecer a função socioambiental (“social” em

sentido amplo), em especial atenção aos objetivos da República brasileira

firmados no art. 3º da Carta Maior e aos demais dispositivos constitucional

já citados antes.

O princípio da função social da empresa, tal qual os

princípios da função social da propriedade urbana e da função social da

propriedade rural, é decorrente do princípio constitucional da função

social da propriedade, e a ele está intimamente vinculado.

A função social da empresa reside não em ações

humanitárias efetuadas pela empresa, mas sim no pleno exercício da

atividade empresarial, ou seja, na organização dos fatores de produção

2 Cf. SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e Relações Privadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 90-1. 3 Cf. TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 309-20.

Page 9: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

9

(natureza, capital e trabalho) para criação ou circulação de bens e

serviços e, por conseguinte, respeito ao meio ambiente.

A função social da empresa encontra-se na geração de

riquezas, manutenção de empregos, pagamento de impostos,

desenvolvimentos tecnológicos, movimentação do mercado econômico,

entre outros fatores, como proteção do meio ambiente e sustentabilidade,

sem esquecer do papel importante do lucro, que deve ser o responsável

pela geração de reinvestimentos que impulsionam a complementação do

ciclo econômico realimentando o processo de novos empregos, novos

investimentos, sucessivamente.

Do exposto podemos concluir que a função social da

empresa é equivalente à função social da propriedade dos bens de

produção, estando ela afeta somente à empresa, enquanto atividade que

deve se exercida observando-se sua função social; ao estabelecimento

comercial, que deve ser utilizado para o exercício da atividade

empresarial com observância à função social; restando separado o

empresário, como o sujeito de direito que deve exercer a atividade

empresarial de acordo com a sua função social.

Deve o instituto da função social da empresa procurar zelar

pelo pleno exercício da atividade empresarial, descrita acima e traduzida

na geração de riquezas, manutenção de empregos, pagamento de

impostos, desenvolvimentos tecnológicos, movimentação do mercado

econômico, entre outros fatores, como proteção do meio ambiente e

sustentabilidade , tendo o Estado papel decisivo e insubstituível na

aplicação normativa, elaboração de políticas públicas de fiscalização,

proteção e incentivo ao desenvolvimento, especialmente às médias e

pequenas empresas e às empresas em dificuldades financeiras.

Desta feita, buscando respeitar o princípio da função social

da empresa/comércio, deve o estabelecimento demandado cumprir com

tal premissa, sob pena de contrariedade às normas ambientais urbanas,

Page 10: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

10

bem como o próprio mandamento constitucional explícito no art. 170,

incisos III e VI.

Assim, note-se que o estabelecimento demandado não

respeita a atividade descrita em seu Alvará de Loca lização e

Funcionamento, extrapolando as atividades ali descr itas, as quais

são potencialmente poluidoras e causam incômodos ao s moradores

vizinhos, ante as irregularidades existentes, recon hecidas e

declaradas pelo Município de Curitiba, razão pela q ual se requer a

sua imediata interdição.

DO ALVARÁ DE LOCALIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Para adentrar na esfera do Alvará de Localização e

Funcionamento expedido e o pedido a ser feito, necessário se faz uma

rápida análise sobre este Ato Administrativo e suas peculiaridades.

Como é sabido, o Alvará é um tipo de Licença Administrativa

expedido pela Administração Pública. Nas palavras de Maria Sylvia

Zanella Di Pietro:

Licença é o ato administrativo unilateral e vincula do pelo qual a Administração faculta àquele que preencha os requ isitos legais o exercício de uma atividade. 4

Assim, pode-se denotar que a licença é, por excelência, um

ato declaratório de um direito preexistente do administrado.

O Alvará, por sua vez, é o instrumento, meio ou fórmula

através do qual a Administração Pública expede autorização ou licença.

Em outras palavras, o alvará é a forma, o revestimento, o continente dos

atos administrativos da licença e da autorização.

4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 220.

Page 11: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

11

É somente através do alvará que os aludidos atos

administrativos se concretizam, passam a existir na esfera jurídica.

Enquanto os atos em si compreendem o conteúdo, a matéria, o alvará,

como já dito, é a forma pela qual se manifesta a vontade da

Administração. Frisa-se uma vez mais que a licença, bem como o

alvará, é ato administrativo vinculado.

Ocorre, no entanto, que o Alvará é concedido para uma

atividade específica, devendo haver o estrito respeito a tal atividade, o

que, de fato, não ocorre no presente.

Conforme se denota da denúncia e reclamação dos

moradores vizinhos, bem como pode ficar atestado pelas equipes da

SMMA e do MP-PR, a demandada exercer atividade diversa da autorizada

pelo Alvará. Tal atividade, por sua vez – corte e pintura em vidro –

pressupõe a existência de Licença/Autorização ambiental, uma vez que

se trata de atividade potencialmente poluidora, a qual a demandada não

possui.

Portanto, considerando que o demandado exerce

atividade diversa daquela descrita em seu Alvará, a qual é

potencialmente poluidora (poluição sonoro e atmosfé rica), não há

dúvidas da ilegalidade em que o demandado mantém a sua atividade,

devendo haver a imediata cessação de tais atividade s por meio de

ordem judicial.

DA AUSÊNCIA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Como acima explanado, o empreendimento em questão

prescinde de licenciamento ambiental para o seu efetivo funcionamento.

Fato que não ocorreu no presente caso, considerando que não existe

qualquer tipo de licenciamento para o empreendimento em questão.

Page 12: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

12

José Afonso da Silva5 nos leciona sobre a importância da

autorização ou licenciamento para a preservação do meio ambiente:

As normas de Direito Ambiental imprimem enorme condicionamento às atividades humanas, visando a resguardar a qualidade do meio ambiente. O cumprimento desse condicionamento nem sempre é espontâneo. Por isso, a legislação prevê controles prévios, concomitantes e sucessivos, por parte de autoridades públicas, a fim de verificar a regulari dade do exercício das atividades controladas. Permissões , autorizações e licenças são formas clássicas de controle prévio, porque atuam antes do início da atividade controlada.

No mesmo diapasão, preleciona Edis Milaré6:

A licença é o ato administrativo vinculado e defini tivo, que implica na obrigação do Poder Público atender a súplica do interessado, uma vez atendidos, em contrapartida, os requisitos legais pertinentes. (...) Não há poder discricionário por parte do Poder Público.

Como se vê, os instrumentos de controle ambiental, como a

autorização e a licença, são atos e medidas destinadas a verificar a

observância das normas de Direito Ambiental pelos seus destinatários.

O licenciamento ambiental, como é sabido, é um

instrumento previsto na Política Nacional do Meio Ambiente, por meio da

Lei nº 6.938/1981:

Art. 9º São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: (...) IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

5 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003. 6 MILARÈ, Édis. Direito do Ambiente . 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais.

Page 13: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

13

Dessa forma, tendo como base essa determinação legal,

assim como o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado e as particularidades ambientais que giram em torno dos

cemitérios, o Município de Curitiba tratou de criar o Decreto nº 1153/2004,

que dita, especificamente, as regras para licenciamento ambiental das

atividades efetivas ou potencialmente poluidoras na capital. Senão,

vejamos o que dita o seu artigo 1º:

Art. 1º A localização, construção, instalação, ampliação, modificação, desativação, reativação e operação de empreendimentos e atividades, públicas ou privadas instaladas ou a se instalar no Município de Curitiba, utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras e capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio Licenciamento Ambiental, a ser realizado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

Conforme se verifica das normas acima citadas, o

licenciamento ambiental para o empreendimento em questão é

OBRIGATÓRIO! Trata-se de uma imposição do Poder Público em prol da

preservação do meio ambiente, em respeito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado previsto na Carta Magna em seu artigo 225.

De fato, conforme se verifica da informação prestada pela

Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o empreendimento “VIDRAÇARIA

A NOSSA” não possui licenciamento ambiental para o desenvolvimento

de suas atividades.

Diante deste cenário, é inconcebível que o empreendimento

permaneça em funcionamento. Para tanto, pleiteia-se a imediata

paralisação das atividades do demandado DRANCZUK & CIA. LTDA .

Page 14: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

14

DOS DANOS MORAIS

O dano moral coletivo, hoje perfeitamente aceito pela nossa

doutrina e jurisprudência, tem como principal aplicação os casos de danos

ambientais.

Isso porque, pessoas como o ora requerido, que promovem

continuamente danos ambientais, banalizando a questão, violam os

direitos coletivos e transindividuais. Trata-se, na realidade, de danos ao

meio ambiente urbano, uma vez que infringe lei municipal, prejudicando

todo o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos que moram no

entorno.

Em se tratando de direito ambiental a repercussão dos

danos se reflete no cível, no crime e administrativamente. Trata-se de

esferas independentes entre si, mas todas importantes quanto aos

objetivos que visam.

É o que preceitua o artigo 225 da Constituição Federal, mais

especificamente em seu §3º:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Na realidade, a Constituição Federal, por meio do dispositivo

acima, veio afirmar o que já dizia a Lei da Política Nacional do Meio

Ambiente (Lei 6.938/81) em seu artigo 14 §1º, que assim diz:

Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não

Page 15: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

15

cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores. (...) § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Ademais, restou evidente ainda que quando se trata de

responsabilidade por dano ambiental, esta será tida como

responsabilidade objetiva, seja nos termos da Lei da Política Nacional do

Meio Ambiente, ou na confirmação de seus ditames por parte da

Constituição Federal. Nesse sentido, nas palavras de Vladimir Passos de

Freitas7:

A Constituição Federal de 1988, no art. 225, §3º, atribui ao poluidor, pessoa física ou jurídica, responsabilidade administrativa e penal, além do dever de reparar o dano causado. Sua redação não é explícita como a da Lei 6.938, de 31.08.1981. Mas, induvidosamente, manteve a responsabilidade objetiva, uma vez que houve recepção da lei da política nacional ambiental, que não possui nenhuma incompatibilidade com a Lei Fundamental.

No cível a reparação pode ser não apenas dos danos

materiais, mas também morais, estes são compensáveis e aqueles

indenizáveis.

Diz-se indenizáveis aqueles danos em que a vítima pode ser

restituída ao estado anterior à ocorrência do dano. Já os compensáveis

são aqueles em que a vítima não tem como ser restituída ao estado em

7 FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a Efetividade das Normas Ambientais. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 177.

Page 16: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

16

que se encontrava antes, porém, lhe é entregue certa quantia em dinheiro

ou coisa como forma de amenizar o ocorrido.

Na aplicação do dano moral ambiental deve ser considerado

e interpretado de forma sistêmica o artigo 225 da Constituição Federal

com o ordenamento jurídico, pois ocorrendo lesão ao equilíbrio ecológico,

este afetará a sadia qualidade de vida e à saúde da população. Rompido

o equilíbrio do ecossistema todos correm risco.

Nesta seara é o ensinamento do ilustre jurista - Dr. Carlos

Alberto Bittar8:

A nosso ver, um dos exemplos mais importantes de dano moral coletivo é o dano ambiental, que consist e não apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, mas também na agressão à qualidade de vida e à saúde. É que esses valores estão intimamente inter-relacionados, de modo que a agressão ao ambiente afeta diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade (CF, art. 225). O dano ambiental é particularmente perverso porque rompe o equilíbrio do ecossistema, pondo em risco todos os elementos deste. Ora, o meio ambiente é caracterizado pela interdependência e pela interaçã o dos vários seres que o formam (Lei Federal nº 6.938/81, art. 3º, I), de sorte que os resultados d e cada ação contra a Natureza são agregados a todos os danos ecológicos já causados. O instrumento processual que se presta por excelência à defesa dos valores coletivos em geral, na hipótese de dano, é a ação civil pública, em virtude da regra aberta acolhida pelo artigo 1º, IV , da Lei 7.347/85. Aliás, com a modificação realizada pe la Lei Federal 8.884/94, o artigo 1º, caput, da Lei 7. 347/85 passou a prever, expressis verbis, a possibilidade de propositura de ações de responsabilidade por danos morais de ordem coletiva. A responsabilidade pela produção do dano ambiental é objetiva – ou seja, independe da prova de culpa – por duas razões fundamentais: a) esse dano tem um caráter moral, decorrendo da própria ação lesiva ao ecossistema; b ) no Direito Ambiental, há o princípio do poluidor-

8 Procurador do Estado de São Paulo - Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo. Artigo extraído do site http://www.sitiopaineiravelha.com/2002/fev.

Page 17: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

17

pagador, consagrado em nosso ordenamento jurídico (Lei Federal nº 6.938/81, art. 14, § 3º), pelo qual é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

Carlo Castronovo9 preleciona:

Um dos mais importantes e significativos exemplos de dano moral coletivo é o dano ambiental, pois o 'ambiente', como 'paisagem', como 'habitat', como 'belezas naturais', é categoria relacional que expr ime a mútua colocação de uma série de elementos que, em seu conjunto, constituem um valor que transcende a sua mera soma, valor esse que não pode ser traduzido mediante parâmetros econômicos. O dano ambiental não consiste apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, prejudicando também outros valores fundamentais da coletividade a ele vinculados: a qualidade de vida e a saúde. É que esses valores estão profundamente unidos, de maneira que a agressão ao ambiente atinge diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade.

A jurisprudência por reiteradas vezes tem aceitado e

concedido a compensação por danos morais em matéria ambiental.

É o teor dos artigos da Lei 7347/85 - Lei de Ação Civil

Pública:

Art. 3º - A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.

Em comentários ao referido artigo dizem Nelson Nery Júnior

e Rosa Maria de Andrade Nery10:

1. Condenação em dinheiro. A aferição do quantum

9 CASTRONOVO, Carlo. La Nuova Responsabilità Civile - Regola e Metafora, Milão, Giuffrè, 1991. 10 NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação civil extravagante em vigor. 5ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2001, p. 1529

Page 18: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

18

indenizatório nas ações coletivas com a finalidade de reparação do dano difuso ou coletivo é questão de difícil solução. Poderão ser utilizados os critério s de arbitramento ou de fixação da indenização com base no valor do lucro obtido pelo causador do dano com sua atividade. É possível a cumulação da indenizaçã o por danos patrimoniais e morais (STJ 37; CDC 6º VI) .

Neste sentido, verifica-se a possibilidade de se impor ao

requerido o pagamento pelos danos morais sofridos até então pela

coletividade.

Os nossos Tribunais têm se manifestado neste sentido:

POLUIÇÃO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA FORMULADA PELO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. POLUIÇÃO CONSISTENTE EM SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO DO IMÓVEL SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO MUNICIPAL. CORTES DE ÁRVORES E INÍCIO DE CONSTRUÇÃO NÃO LICENCIADA, ENSEJANDO MULTAS E INTERDIÇÃO DO LOCAL. DANO À COLETIVIDADE COM A DESTRUIÇÃO DO ECOSSISTEMA, TRAZENDO CONSEQÜÊNCIAS NOCIVAS AO MEIO AMBIENTE, COM INFRINGÊNCIA, ÀS LEIS AMBIENTAIS, LEI FEDERAL 4.771/65, DECRETO FEDERAL 750/93, ARTIGO 2º, DECRETO FEDERAL 99.274/90, ARTIGO 34 E INCISO XI, E A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, ARTIGO 477. CONDENAÇÃO A REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS CONSISTENTES NO PLANTIO DE 2.800 ÁRVORES, E AO DESFAZIMENTO DAS OBRAS. REFORMA DA SENTENÇA PARA INCLUSÃO DO DANO MORAL PERPETRADO A COLETIVIDADE. QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL AMBIENTAL RAZOÁVEL E PROPORCIONAL AO PREJUÍZO COLETIVO. A IMPOSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO ESTADO ANTERIOR JUSTIFICAM A CONDENAÇÃO EM DANO MORAL PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PREJUDICIAL A COLETIVIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO. (TJRJ - 2.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2001.001.14586 - Rel.: Desa. Maria Raimunda T. de Azevedo - J. 07/08/2002)

E mais:

Page 19: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

19

DANO AO MEIO AMBIENTE. DERRAMAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DE GUANABARA. RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. DANO EMERGENTE. LUCRO CESSANTE. DANO MORAL DE PESSOA JURÍDICA. POLUIÇÃO NAS PRAIAS. PREJUÍZO DO COMÉRCIO LOCAL. DESVALORIZAÇÃO DO PONTO COMERCIAL. 1. Comprovado o dano ao meio ambiente, decorrente do vazamento de óleo na baía de Guanabara, proveniente das instalações da empresa, cabe o pedido de reparação dos prejuízos individualmente causados. 2. É da PETROBRÁS o dever de cuidar para que não ocorra qualquer dano ao meio ambiente. 3. Dano é o gênero, do qual são espécies o dano material e o dano moral. 4. No dano material, por seu turno, se subdivide em danos emergentes e lucros cessantes. 5. Dano emergente é o que importa em efetiva diminuição no patrimônio da vítima, em razão do ato ilícito. 6. Lucro cessante é o reflexo futuro no patrimônio da vítima. 7. A honra subjetiva é exclusiva do ser humano e se caracteriza pelo decoro e auto-estima. 8. A honra objetiva é comum à pessoa natural e à pessoa jurídica e se reflete na reputação, no bom nome e na imagem perante a sociedade. 9. Desprovimento dos recursos. (TJRJ - 8.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2002.001.09351 - Rel.: Desa. Letícia Sardas - J. 17/12/2002)

É clara e evidente a importância para o meio ambiente

urbano o respeito pleno ao princípio da função social da

empresa/comércio, justamente para os fins de fazer cumprir a função

socioambiental da propriedade, bem como prover o bem-estar e a

qualidade de vida de todos os cidadãos. Dessa forma, busca-se com a

presente Ação Civil Pública a devida reparação e compensação dos

danos causados ao meio ambiente urbano.

DOS PEDIDOS

1) DA CONCESSÃO DE LIMINAR

O artigo 12, da Lei 7.347/1985, é claro ao elencar que

Page 20: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

20

“poderá o juiz conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia

em decisão sujeita a agravo”.

A doutrina brasileira tem comumente entendido que para a

concessão de mandado liminar faz-se necessária a presença de dois

requisitos básicos, quais sejam, o “fumus boni juris” e o “periculum in

mora”.

O “fumus boni iuris”, que é a existência e ocorrência do

direito substancial invocado por quem pretende a segurança, está

cabalmente demonstrado pelos documentos que acompanham a presente

exordial, e pela legislação citada. Além disso, note-se que o

estabelecimento demandando não exerce apenas a atividade descrita em

seu Alvará de Localização e Funcionamento, extrapolando o ali contido,

exercendo atividade potencialmente poluidora. Ainda, nota-se que mesmo

após diversas intervenções por meio do órgão municipal (Auto de Infração

nº 12370) a demandada persistiu com a atividade poluidora, corroborando

com a ilegalidade de seu funcionamento.

O “periculum in mora” consiste no fato de que se for

possibilitado ao demandado que este continue com sua atividade danosa

enquanto perdurar o processo estar-se-á permitindo a continuação de

uma atividade comprovadamente ilegal e danosa, em prejuízo da saúde e

do bem-estar de um número indeterminado de pessoas que vivem na

vizinhança do estabelecimento.

Faz-se necessária a menção de que um dos princípios

basilares do direito ambiental é o da prevenção, e a ressalva de que a

concessão do mandado liminar objetiva evitar que danos ambientais ainda

maiores venham ocorrer no decurso do processo.

Preleciona Celso Antônio Pacheco Fiorillo:

“É por via da liminar, assecutória ou satisfativa, que se alcançará, ainda que provisoriamente, a certeza de que o processo não será um mal maior do que já se constitui, na medida em que a demora da entrega da tutela jurisdicional não se constituirá um mal maior ou mais

Page 21: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

21

nefasta que a própria caracterização do dano ao meio ambiente. Por isso, urge como regra necessária e política a utilização cada vez maior da tutela liminar em sede de proteção efetiva de direito difusos como um todo.”

Disso resulta a necessidade da concessão da medida

liminar, inaudita altera pars , sem necessidade de justificação prévia,

determinando-se que o estabelecimento DRANCZUK & CIA. LTDA. , seja

interditado totalmente, com base no Artigo 11 da Lei 7.347/85, com a

imposição de multa diária a ser estabelecida por Vossa Excelência, diante

do descumprimento do preceito.

Requer-se ainda a Vossa Excelência, em concedendo a

liminar, que determine a expedição de ofício a Secretaria Municipal do

Meio Ambiente para que fiscalize o cumprimento da ordem, apontando ao

juízo eventuais violações para a apuração de multa diária e a requisição

de força policial, se necessário.

2) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

A inversão do ônus da prova em sede de Ação Civil Pública

Ambiental se justifica pelo fato de o interesse público tutelado – reparação

de dado ambiental – exigir que as questões de prova sejam desde sempre

definidas sob pena da demora no trâmite implicar em agravamento da

lesão.

O processamento na forma desse instrumento é

perfeitamente cabível no caso em questão. O artigo 21 da Lei 7.347/85

determina que se aplica à defesa dos direitos e interesses difusos,

coletivos e individuais, no que tenha cabimento, os dispositivos do Código

de Defesa do Consumidor.

O artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8.078/90, é expresso ao

admitir a inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de

Page 22: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

22

Defesa do Consumidor, na medida em que é hipossuficiente o

demandante, segundo as regras comuns da experiência como bem

esclarece o texto legal, in verbis:

“Artigo 6º - São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; ”

Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também ao

âmbito de proteção ao meio ambiente, tendo em vista que, o Ministério

Público ao ajuizamento de ações civis públicas está em franca

desvantagem perante os demandados.

Pertinente a alusão à jurisprudência a seguir:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - POSSIBILIDADE - ANTECIPAÇÃO DE HONORÁRIOS PERICIAIS PELO RÉU DEVIDA - ART.18 DA LEI 7.347/85 - ISENÇÃO CONCEDIDA AO AUTOR - RECURSO DESPROVIDO 1. É cabível a inversão do ônus da prova em Ação Civil Pública Ambiental. 2. O benefício de isenção de antecipação de custas em Ação Civil Pública, é dado para a celeridade e efetividade da ação, que visa proteger direitos da sociedade como um todo, contra danos que afetam a todos cidadãos, não havendo qualquer lógica em estender este benefício aos réus da ação, dando, de certa forma, incentivo ao dano contra o meio ambiente”. (TJPR - 4ª C.Cível - AI 0464903-8 - Londrina - Rel.: Desª Regina Afonso Portes - Unânime - J. 14.04.2008)

Razão pela qual se requer desde já, com base nos

fundamentos acima expostos, a determinação e reconhecimento da

inversão do ônus da prova no presente caso.

Page 23: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

23

3) DOS DEMAIS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

I - a concessão da liminar nos moldes anteriormente

delineados e sua confirmação;

II - a citação do demandado , na pessoa do seu

representante legal, com o permissivo do artigo 172, parágrafo 2º, do

CPC, para querendo, responder e acompanhar os termos da presente,

sob pena de serem considerados como verdadeiros os fatos aqui

alegados;

III – o deferimento da inversão do ônus da prova nos moldes

anteriores;

IV - a condenação do demandado DRANCZUK & CIA.

LTDA. em obrigação de não fazer, sob pena de multa diária em valor a

ser arbitrado por Vossa Excelência e devidamente recolhido ao Fundo

Estadual do Meio Ambiente - FEMA - consistente em se abster de

desenvolver a atividade nos moldes atuais, uma vez que completamente

ilegal perante os órgãos municipais (falta de alvará e Licença/Autorização

ambiental), contrariando ainda a função social da empresa/comércio;

V – o pagamento de indenização pelos danos causados ao

meio ambiente e pelo dano moral ambiental, a ser arbitrado por esse

Juízo;

VIII - que todas as intimações do Ministério Público

sejam feitas pessoalmente, na pessoa do Promotor de Justiça em

atividade na Promotoria de Proteção ao Meio Ambient e, na Rua

Marechal Deodoro, n. 1028, 10º Andar, Centro, Curitiba - Paraná,

conforme dispõe o artigo 236, §2º, do CPC;

IX - protesta-se ainda por todos os meios de prova em

direito admitidas , inclusive depoimento pessoal dos representantes

legais do Réu, prova pericial, documental e testemunhal;

Page 24: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA … · 2018. 5. 21. · Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como um direito ou um plexo de posições jurídicas

24

X - a procedência da ação em todos os seus termos ,

condenando-se o demandado ao pagamento das despesas processuais e

verbas honorárias de sucumbência, cujo recolhimento deste último deve

ser feito ao Fundo Especial do Ministério Público do Estado do Paraná,

criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302,

de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”,

parte final, da Constituição do Estado do Paraná;

XI - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e

outros encargos, nos termos do artigo 18 da Lei n. 7.347/85.

Atribui-se à causa o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil

reais)

Nesses termos,

Pede Deferimento.

Curitiba, 03 de junho de 2013.

Sergio Luiz Cordoni Promotor de Justiça