excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da vara … · 2018. 5. 21. · nas ordens jurídicas...
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ ____ VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – ESTADO DO PARANÁ.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , através do
Promotor de Justiça que ao final assina, vem, a presença de Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 225 da Constituição Federal, Lei n.º
7.347/85, Lei n.º 6.938/81, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL com pedido
de liminar em face de
DRANCZUK & CIA. LTDA. , pessoa jurídica de direito privado,
inscrita no CNPJ 07.923.438/0001-90, localizada na Rua Acelino Grande,
50, bairro Santa Felicidade, CEP 82.320-390, nesta Capital, Estado do
Paraná; pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:
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I - DOS FATOS
Na data de 13 de agosto de 2010, a Promotoria de Justiça
de Proteção ao Meio Ambiente recebeu denúncia anônima de morador
das proximidades da Rua Acelino Grande, 50, em que relatavam a
perturbação do sossego decorrente de vidraçaria ali existente,
denominado “Vidraçaria A Nossa”. Segundo a denúncia:
“Poluição sonora e atmosférica causada pela empresa ‘Vidraçaria A Nossa’ que também tem depósito no imóvel ao lado do numeral 50.”
Diante da situação apresentada, esta promotoria oficiou os
órgãos municipais a fim de obter informações sobre possíveis
irregularidades.
Oficiado o Corpo de Bombeiros, o 1º Grupamento de
Bombeiros respondeu afirmando que, após vistoria, foi concedido prazo
para adequações (fl. 10).
Oficiados os órgãos municipais, restou apresentado pela
Prefeitura Municipal de Curitiba (fl. 13) que o estabelecimento em
comento “está regulariza junto à esta Secretaria Municipal de Urbanismo
– SMU, pelo alvará comercial 827.071, inscrição municipal 505.789-0,
conforme tela anexo.”.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, por sua vez,
informou (fls. 16/17) o que segue:
“(...) Foi constatado que trata-se de uma loja de comércio varejista de vidros. No imóvel ao lado da loja existe um depósito de vidros e de barras de alumínio, nesse depósito são realizados cortes de perfis com auxílio de serra circular. Há também uma pequena cabine de madeira, onde são realizadas as pinturas nos vidros, com o auxílio de uma pistola de pressão. Foi lavrada a notificação nº 34807/B (cópia em anexo), para de imediato paralisar com as atividades citadas sem os devidos equipamentos de proteção ao meio ambiente
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e atender as disposições da Lei Municipal nº 10.625/02, Lei Municipal nº 7833/91 e Decreto Municipal 1153/04.”
Em manifestação apresentada a esta Promotoria pela
demandada (fls. 19/20), houve a afirmação de que a sua atividade
“DISPENSA a necessidade de Licença Ambiental, e Certificado do Corpo
de Bombeiros, tendo em vista que o tipo de instalação da empresa é
LOJA.”. Porém, restou comprovado que além de loja, a demandada
desenvolve a atividade de corte e pintura de vidros dentro de seu
estabelecimento.
Adiante, nova informação da Secretaria Municipal do Meio
Ambiente (fl. 33) com o seguinte:
“Em nova vistoria, dia 22/03/2011, o proprietário informou que não desenvolve mais as atividades de pintura e corte no endereço em questão, usando o local apenas como estacionamento de veículos. Em vistorias realizadas dia 04/07/2011, às 15h30min, e 06/07/2011, no período da manhã, não houve constatação de poluição sonora e/ou atmosférica reclamada, porém as observações foram feitas somente externamente ao imóvel, já que o proprietário do estabelecimento não permitiu a entrada dos fiscais.”
A fim de verificar a real situação do local investigado, a
Equipe Técnica desta Promotoria de Proteção ao Meio Ambiente foi
deslocada até o estabelecimento, sendo constatado o seguinte:
“(...) No momento da vistoria, os técnicos deste Centro de Apoio foram atendidos por funcionários da Vidraçaria, os quais não autorizaram a entrada da equipe nas dependências da empresa. Segundo informado, o responsável pelo empreendimento não se encontrava no momento, de modo que a vistoria não poderia ser realizada sem devida autorização. Ademais, os funcionários afirmaram que as atividades de pintura foram paralisadas. (...) Após a análise da documentação encaminhada nos
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autos, observa-se que a empresa foi notificada pelo Corpo de Bombeiros para que sanasse irregularidades constatadas nas dependências do empreendimento. No entanto, não foi encaminhada documentação comprobatória das adequações efetuadas pela empresa. Além disso, foi verificada a obrigatoriedade de obtenção de Licença Ambiental e do Certificado de Vistoria do Corpo de Bombeiros esta necessidade por meio da cobrança já realizada pelo Corpo de Bombeiros, bem como pela previsão legal estabelecida no Decreto Municipal nº 1153/04 – anexo I.”
Ocorre, no entanto, que mesmo com as irregularidades
apresentadas perante os órgãos municipais, o estabelecimento continuou
em pleno funcionamento, sendo inclusive vistoriado e aplicado as
sanções administrativas pertinentes, conforme se denota de informação
prestada pela Prefeitura Municipal de Curitiba (fl. 68):
“Em atenção aos ofícios 1301 e 1410/2012, informamos que foram realizadas vistorias na empresa nos dias 15/08 e 20/08/2012, sendo constatado o desenvolvimento de atividades que dependem de prévio licenciamento ambiental desta Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA). Foram lavradas as notificações 38334/B (cópia anexa), determinando a paralisação das atividades desenvolvidas no local e a notificação 33550/B (cópia anexa), para que fosse providenciado o devido licenciamento ambiental para as atividades desenvolvidas no estabelecimento. Em consulta ao sistema informatizado, verificamos que a empresa não providenciou o licenciamento ambiental, descumprindo a notificação 33550/B. Desta forma, foi lavrado Auto de Infração 12370 (cópia anexa) pelo desenvolvimento de atividade potencialmente poluidora sem Licenciamento Ambiental. (...)”
Por fim, a SMMA informou que “A empresa protocolou
solicitação de Autorização Ambiental de Funcionamento (AFU) sob nº
12004171, que encontra-se em análise por técnicos desta Secretaria
Municipal do Meio Ambiente.”
Note-se, portanto, que mesmo com a atuação do Poder
Polícia da Administração Pública Municipal, o estabelecimento persiste
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com suas atividades, não havendo outra opção senão recorrer ao Poder
Judiciário.
Diante do exposto, faz-se necessária a paralisação imediata
das atividades do demandado, tendo em vista que o estabelecimento em
questão não atende à sua função social estando em completa
irregularidade perante os órgãos municipais, conforme restará
comprovado adiante.
II - DO DIREITO
DO MEIO AMBIENTE COMO DIREITO E DEVER FUNDAMENTAL
A Constituição Federal da República de 1988 tratou de
cuidar do tema Meio Ambiente dedicando um Capítulo próprio para tanto,
devido sua relevância. Para tanto, cumpre a análise do artigo 225 da
Carta Magna.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
A partir do caput do referido dispositivo, o legislador
constituinte tratou de elevar o Meio Ambiente a um direito fundamental.
Diz-se que é direito fundamental, pois o meio ambiente ecologicamente
equilibrado relaciona-se diretamente com o direito à vida e à saúde, além
do princípio que é pilar da Constituição Federal, o da dignidade da pessoa
humana. Portanto, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, que no
presente caso é compreendido pelo meio ambiente urbano e o direito dos
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cidadãos gozarem de bem-estar e qualidade de vida, é direito
fundamental inerente à todos os cidadãos não só da região afetada, mas
de qualquer região do país, e deve ser defendido e assegurado a fim de
prezar pela sadia qualidade de vida e mais, pela dignidade da pessoa
humana.
Ainda com base no caput do dispositivo supra, o legislador
buscou ainda tratar a proteção ao Meio Ambiente como um Dever
Fundamental, não só da coletividade, mas também do Poder Público, o
qual se utiliza da presente Ação Civil Pública para fazer cumprir àquele
direito fundamental. Diante dessa determinação, a Carta Magna ainda vai
além, ditando em seu §1º do art. 225 as incumbências do Poder Público,
conforme segue:
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
Em conformidade com o colacionado nos dispositivos acima,
tem-se o fundamento máximo para a presente Ação Civil Pública, bem
como ressaltar a função do Poder Público para a efetivação do direito
fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é o que
se pretende com a Ação Civil Pública em tela.
DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA EMPRESA/COMÉRCIO
Nas ordens jurídicas clássicas, a propriedade era vista como
um direito ou um plexo de posições jurídicas ativas que se legitimavam
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tão-somente em razão da satisfação do interesse privado de seu titular.
Porém, libertando-se dessa função meramente individual, passou-se a
identificar na propriedade também uma função social, sem que ela
mesma, a propriedade, perdesse sua qualidade de privada. Em verdade,
como nos diz Eros Grau, a menção à função social da propriedade parte
da premissa de que essa propriedade é privada1.
Ainda que pudesse ser encontrada como implícita na
Constituição brasileira de 1946, foi a Carta de 1967 a primeira, na história
constitucional brasileira, a fazer menção expressa à função social da
propriedade, em seu art. 157, III. A alteração constitucional teve como
escopo não somente modificar o campo de exercício lícito da propriedade,
mas, antes disso, substituir o parâmetro de legitimidade do
reconhecimento estatal do direito de propriedade. Assim, a propriedade
deixava de ser protegida em razão somente da satisfação de interesses
individuais egoísticos, para, em vez disso, passar a ser tutelada em razão
da relevância social condizente a seu exercício. Noutros termos, a
propriedade deixava de ser protegida em função somente do indivíduo
para ser resguardada em razão também da sociedade. Como
consequência, o exercício da propriedade privada também deveria ser
pautado, internamente, pela compatibilização do interesse individual com
o interesse social.
Na Constituição de 1988, a função social da propriedade
finca raízes em diversos dispositivos (art. 5º, XXIII, art. 170, III, art. 184,
art. 186) e, em razão do acréscimo da função ambiental no exercício da
propriedade (explícita no art. 186, II, e implícita no art. 170, VI, e no art.
225 do Diploma Constitucional), pode ser hoje também identificada como
função socioambiental da propriedade .
Na atual ordem constitucional brasileira, a propriedade é
bem jurídico fundamental protegido e previsto no art. 5º. da Lei Máxima.
Correlato a esse bem fundamental, há o direito fundamental de
1 GRAU, Eros. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 269.
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propriedade, consistente em direito ao livre desenvolvimento e
manutenção do patrimônio, que pode ser restringido, externamente, pelos
modos previstos expressamente no Texto Maior (desapropriação e
tributação, por exemplo), e conformada, internamente, por orientação da
função socioambiental da propriedade.
Além de propiciar o desenvolvimento patrimonial individual, a
propriedade permanece em nosso sistema constitucional como forma de
proteção da própria pessoa humana2, bem como instrumento de
maximização do bem-estar material da comunidade3. A proteção da
propriedade não é mais vista como um fim em si mesmo, mas sim como
meio de tutela ampla da pessoa, de sua liberdade, de seu livre-arbítrio e
de sua felicidade, nisso consistindo sua função existencial. Ao lado dessa
função existencial, existe a chamada função social (ou socioambiental),
informada por valores solidarísticos. As referidas funções não se excluem;
complementam-se. Tampouco elas excluem a primeira função: a função
econômico-individual. Entre as três funções, porém, deve sobressair a
existencial em nosso sistema constitucional, por ser a dignidade humana
fundamento máximo de nossa República (art. 1º, III, CRFB). Após a
função existencial, deve prevalecer a função socioambiental (“social” em
sentido amplo), em especial atenção aos objetivos da República brasileira
firmados no art. 3º da Carta Maior e aos demais dispositivos constitucional
já citados antes.
O princípio da função social da empresa, tal qual os
princípios da função social da propriedade urbana e da função social da
propriedade rural, é decorrente do princípio constitucional da função
social da propriedade, e a ele está intimamente vinculado.
A função social da empresa reside não em ações
humanitárias efetuadas pela empresa, mas sim no pleno exercício da
atividade empresarial, ou seja, na organização dos fatores de produção
2 Cf. SARMENTO, Daniel. Direitos fundamentais e Relações Privadas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 90-1. 3 Cf. TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 309-20.
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(natureza, capital e trabalho) para criação ou circulação de bens e
serviços e, por conseguinte, respeito ao meio ambiente.
A função social da empresa encontra-se na geração de
riquezas, manutenção de empregos, pagamento de impostos,
desenvolvimentos tecnológicos, movimentação do mercado econômico,
entre outros fatores, como proteção do meio ambiente e sustentabilidade,
sem esquecer do papel importante do lucro, que deve ser o responsável
pela geração de reinvestimentos que impulsionam a complementação do
ciclo econômico realimentando o processo de novos empregos, novos
investimentos, sucessivamente.
Do exposto podemos concluir que a função social da
empresa é equivalente à função social da propriedade dos bens de
produção, estando ela afeta somente à empresa, enquanto atividade que
deve se exercida observando-se sua função social; ao estabelecimento
comercial, que deve ser utilizado para o exercício da atividade
empresarial com observância à função social; restando separado o
empresário, como o sujeito de direito que deve exercer a atividade
empresarial de acordo com a sua função social.
Deve o instituto da função social da empresa procurar zelar
pelo pleno exercício da atividade empresarial, descrita acima e traduzida
na geração de riquezas, manutenção de empregos, pagamento de
impostos, desenvolvimentos tecnológicos, movimentação do mercado
econômico, entre outros fatores, como proteção do meio ambiente e
sustentabilidade , tendo o Estado papel decisivo e insubstituível na
aplicação normativa, elaboração de políticas públicas de fiscalização,
proteção e incentivo ao desenvolvimento, especialmente às médias e
pequenas empresas e às empresas em dificuldades financeiras.
Desta feita, buscando respeitar o princípio da função social
da empresa/comércio, deve o estabelecimento demandado cumprir com
tal premissa, sob pena de contrariedade às normas ambientais urbanas,
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bem como o próprio mandamento constitucional explícito no art. 170,
incisos III e VI.
Assim, note-se que o estabelecimento demandado não
respeita a atividade descrita em seu Alvará de Loca lização e
Funcionamento, extrapolando as atividades ali descr itas, as quais
são potencialmente poluidoras e causam incômodos ao s moradores
vizinhos, ante as irregularidades existentes, recon hecidas e
declaradas pelo Município de Curitiba, razão pela q ual se requer a
sua imediata interdição.
DO ALVARÁ DE LOCALIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO
Para adentrar na esfera do Alvará de Localização e
Funcionamento expedido e o pedido a ser feito, necessário se faz uma
rápida análise sobre este Ato Administrativo e suas peculiaridades.
Como é sabido, o Alvará é um tipo de Licença Administrativa
expedido pela Administração Pública. Nas palavras de Maria Sylvia
Zanella Di Pietro:
Licença é o ato administrativo unilateral e vincula do pelo qual a Administração faculta àquele que preencha os requ isitos legais o exercício de uma atividade. 4
Assim, pode-se denotar que a licença é, por excelência, um
ato declaratório de um direito preexistente do administrado.
O Alvará, por sua vez, é o instrumento, meio ou fórmula
através do qual a Administração Pública expede autorização ou licença.
Em outras palavras, o alvará é a forma, o revestimento, o continente dos
atos administrativos da licença e da autorização.
4 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 16ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 220.
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É somente através do alvará que os aludidos atos
administrativos se concretizam, passam a existir na esfera jurídica.
Enquanto os atos em si compreendem o conteúdo, a matéria, o alvará,
como já dito, é a forma pela qual se manifesta a vontade da
Administração. Frisa-se uma vez mais que a licença, bem como o
alvará, é ato administrativo vinculado.
Ocorre, no entanto, que o Alvará é concedido para uma
atividade específica, devendo haver o estrito respeito a tal atividade, o
que, de fato, não ocorre no presente.
Conforme se denota da denúncia e reclamação dos
moradores vizinhos, bem como pode ficar atestado pelas equipes da
SMMA e do MP-PR, a demandada exercer atividade diversa da autorizada
pelo Alvará. Tal atividade, por sua vez – corte e pintura em vidro –
pressupõe a existência de Licença/Autorização ambiental, uma vez que
se trata de atividade potencialmente poluidora, a qual a demandada não
possui.
Portanto, considerando que o demandado exerce
atividade diversa daquela descrita em seu Alvará, a qual é
potencialmente poluidora (poluição sonoro e atmosfé rica), não há
dúvidas da ilegalidade em que o demandado mantém a sua atividade,
devendo haver a imediata cessação de tais atividade s por meio de
ordem judicial.
DA AUSÊNCIA DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Como acima explanado, o empreendimento em questão
prescinde de licenciamento ambiental para o seu efetivo funcionamento.
Fato que não ocorreu no presente caso, considerando que não existe
qualquer tipo de licenciamento para o empreendimento em questão.
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José Afonso da Silva5 nos leciona sobre a importância da
autorização ou licenciamento para a preservação do meio ambiente:
As normas de Direito Ambiental imprimem enorme condicionamento às atividades humanas, visando a resguardar a qualidade do meio ambiente. O cumprimento desse condicionamento nem sempre é espontâneo. Por isso, a legislação prevê controles prévios, concomitantes e sucessivos, por parte de autoridades públicas, a fim de verificar a regulari dade do exercício das atividades controladas. Permissões , autorizações e licenças são formas clássicas de controle prévio, porque atuam antes do início da atividade controlada.
No mesmo diapasão, preleciona Edis Milaré6:
A licença é o ato administrativo vinculado e defini tivo, que implica na obrigação do Poder Público atender a súplica do interessado, uma vez atendidos, em contrapartida, os requisitos legais pertinentes. (...) Não há poder discricionário por parte do Poder Público.
Como se vê, os instrumentos de controle ambiental, como a
autorização e a licença, são atos e medidas destinadas a verificar a
observância das normas de Direito Ambiental pelos seus destinatários.
O licenciamento ambiental, como é sabido, é um
instrumento previsto na Política Nacional do Meio Ambiente, por meio da
Lei nº 6.938/1981:
Art. 9º São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: (...) IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;
5 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003. 6 MILARÈ, Édis. Direito do Ambiente . 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais.
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Dessa forma, tendo como base essa determinação legal,
assim como o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e as particularidades ambientais que giram em torno dos
cemitérios, o Município de Curitiba tratou de criar o Decreto nº 1153/2004,
que dita, especificamente, as regras para licenciamento ambiental das
atividades efetivas ou potencialmente poluidoras na capital. Senão,
vejamos o que dita o seu artigo 1º:
Art. 1º A localização, construção, instalação, ampliação, modificação, desativação, reativação e operação de empreendimentos e atividades, públicas ou privadas instaladas ou a se instalar no Município de Curitiba, utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras e capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio Licenciamento Ambiental, a ser realizado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SMMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.
Conforme se verifica das normas acima citadas, o
licenciamento ambiental para o empreendimento em questão é
OBRIGATÓRIO! Trata-se de uma imposição do Poder Público em prol da
preservação do meio ambiente, em respeito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado previsto na Carta Magna em seu artigo 225.
De fato, conforme se verifica da informação prestada pela
Secretaria Municipal do Meio Ambiente, o empreendimento “VIDRAÇARIA
A NOSSA” não possui licenciamento ambiental para o desenvolvimento
de suas atividades.
Diante deste cenário, é inconcebível que o empreendimento
permaneça em funcionamento. Para tanto, pleiteia-se a imediata
paralisação das atividades do demandado DRANCZUK & CIA. LTDA .
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DOS DANOS MORAIS
O dano moral coletivo, hoje perfeitamente aceito pela nossa
doutrina e jurisprudência, tem como principal aplicação os casos de danos
ambientais.
Isso porque, pessoas como o ora requerido, que promovem
continuamente danos ambientais, banalizando a questão, violam os
direitos coletivos e transindividuais. Trata-se, na realidade, de danos ao
meio ambiente urbano, uma vez que infringe lei municipal, prejudicando
todo o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos que moram no
entorno.
Em se tratando de direito ambiental a repercussão dos
danos se reflete no cível, no crime e administrativamente. Trata-se de
esferas independentes entre si, mas todas importantes quanto aos
objetivos que visam.
É o que preceitua o artigo 225 da Constituição Federal, mais
especificamente em seu §3º:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Na realidade, a Constituição Federal, por meio do dispositivo
acima, veio afirmar o que já dizia a Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (Lei 6.938/81) em seu artigo 14 §1º, que assim diz:
Art. 14. Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não
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cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores. (...) § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
Ademais, restou evidente ainda que quando se trata de
responsabilidade por dano ambiental, esta será tida como
responsabilidade objetiva, seja nos termos da Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente, ou na confirmação de seus ditames por parte da
Constituição Federal. Nesse sentido, nas palavras de Vladimir Passos de
Freitas7:
A Constituição Federal de 1988, no art. 225, §3º, atribui ao poluidor, pessoa física ou jurídica, responsabilidade administrativa e penal, além do dever de reparar o dano causado. Sua redação não é explícita como a da Lei 6.938, de 31.08.1981. Mas, induvidosamente, manteve a responsabilidade objetiva, uma vez que houve recepção da lei da política nacional ambiental, que não possui nenhuma incompatibilidade com a Lei Fundamental.
No cível a reparação pode ser não apenas dos danos
materiais, mas também morais, estes são compensáveis e aqueles
indenizáveis.
Diz-se indenizáveis aqueles danos em que a vítima pode ser
restituída ao estado anterior à ocorrência do dano. Já os compensáveis
são aqueles em que a vítima não tem como ser restituída ao estado em
7 FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a Efetividade das Normas Ambientais. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 177.
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que se encontrava antes, porém, lhe é entregue certa quantia em dinheiro
ou coisa como forma de amenizar o ocorrido.
Na aplicação do dano moral ambiental deve ser considerado
e interpretado de forma sistêmica o artigo 225 da Constituição Federal
com o ordenamento jurídico, pois ocorrendo lesão ao equilíbrio ecológico,
este afetará a sadia qualidade de vida e à saúde da população. Rompido
o equilíbrio do ecossistema todos correm risco.
Nesta seara é o ensinamento do ilustre jurista - Dr. Carlos
Alberto Bittar8:
A nosso ver, um dos exemplos mais importantes de dano moral coletivo é o dano ambiental, que consist e não apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, mas também na agressão à qualidade de vida e à saúde. É que esses valores estão intimamente inter-relacionados, de modo que a agressão ao ambiente afeta diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade (CF, art. 225). O dano ambiental é particularmente perverso porque rompe o equilíbrio do ecossistema, pondo em risco todos os elementos deste. Ora, o meio ambiente é caracterizado pela interdependência e pela interaçã o dos vários seres que o formam (Lei Federal nº 6.938/81, art. 3º, I), de sorte que os resultados d e cada ação contra a Natureza são agregados a todos os danos ecológicos já causados. O instrumento processual que se presta por excelência à defesa dos valores coletivos em geral, na hipótese de dano, é a ação civil pública, em virtude da regra aberta acolhida pelo artigo 1º, IV , da Lei 7.347/85. Aliás, com a modificação realizada pe la Lei Federal 8.884/94, o artigo 1º, caput, da Lei 7. 347/85 passou a prever, expressis verbis, a possibilidade de propositura de ações de responsabilidade por danos morais de ordem coletiva. A responsabilidade pela produção do dano ambiental é objetiva – ou seja, independe da prova de culpa – por duas razões fundamentais: a) esse dano tem um caráter moral, decorrendo da própria ação lesiva ao ecossistema; b ) no Direito Ambiental, há o princípio do poluidor-
8 Procurador do Estado de São Paulo - Doutor em Direito pela Universidade de São Paulo. Artigo extraído do site http://www.sitiopaineiravelha.com/2002/fev.
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pagador, consagrado em nosso ordenamento jurídico (Lei Federal nº 6.938/81, art. 14, § 3º), pelo qual é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.
Carlo Castronovo9 preleciona:
Um dos mais importantes e significativos exemplos de dano moral coletivo é o dano ambiental, pois o 'ambiente', como 'paisagem', como 'habitat', como 'belezas naturais', é categoria relacional que expr ime a mútua colocação de uma série de elementos que, em seu conjunto, constituem um valor que transcende a sua mera soma, valor esse que não pode ser traduzido mediante parâmetros econômicos. O dano ambiental não consiste apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, prejudicando também outros valores fundamentais da coletividade a ele vinculados: a qualidade de vida e a saúde. É que esses valores estão profundamente unidos, de maneira que a agressão ao ambiente atinge diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade.
A jurisprudência por reiteradas vezes tem aceitado e
concedido a compensação por danos morais em matéria ambiental.
É o teor dos artigos da Lei 7347/85 - Lei de Ação Civil
Pública:
Art. 3º - A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Em comentários ao referido artigo dizem Nelson Nery Júnior
e Rosa Maria de Andrade Nery10:
1. Condenação em dinheiro. A aferição do quantum
9 CASTRONOVO, Carlo. La Nuova Responsabilità Civile - Regola e Metafora, Milão, Giuffrè, 1991. 10 NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação civil extravagante em vigor. 5ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2001, p. 1529
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indenizatório nas ações coletivas com a finalidade de reparação do dano difuso ou coletivo é questão de difícil solução. Poderão ser utilizados os critério s de arbitramento ou de fixação da indenização com base no valor do lucro obtido pelo causador do dano com sua atividade. É possível a cumulação da indenizaçã o por danos patrimoniais e morais (STJ 37; CDC 6º VI) .
Neste sentido, verifica-se a possibilidade de se impor ao
requerido o pagamento pelos danos morais sofridos até então pela
coletividade.
Os nossos Tribunais têm se manifestado neste sentido:
POLUIÇÃO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA FORMULADA PELO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. POLUIÇÃO CONSISTENTE EM SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO DO IMÓVEL SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO MUNICIPAL. CORTES DE ÁRVORES E INÍCIO DE CONSTRUÇÃO NÃO LICENCIADA, ENSEJANDO MULTAS E INTERDIÇÃO DO LOCAL. DANO À COLETIVIDADE COM A DESTRUIÇÃO DO ECOSSISTEMA, TRAZENDO CONSEQÜÊNCIAS NOCIVAS AO MEIO AMBIENTE, COM INFRINGÊNCIA, ÀS LEIS AMBIENTAIS, LEI FEDERAL 4.771/65, DECRETO FEDERAL 750/93, ARTIGO 2º, DECRETO FEDERAL 99.274/90, ARTIGO 34 E INCISO XI, E A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, ARTIGO 477. CONDENAÇÃO A REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS CONSISTENTES NO PLANTIO DE 2.800 ÁRVORES, E AO DESFAZIMENTO DAS OBRAS. REFORMA DA SENTENÇA PARA INCLUSÃO DO DANO MORAL PERPETRADO A COLETIVIDADE. QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL AMBIENTAL RAZOÁVEL E PROPORCIONAL AO PREJUÍZO COLETIVO. A IMPOSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO ESTADO ANTERIOR JUSTIFICAM A CONDENAÇÃO EM DANO MORAL PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PREJUDICIAL A COLETIVIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO. (TJRJ - 2.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2001.001.14586 - Rel.: Desa. Maria Raimunda T. de Azevedo - J. 07/08/2002)
E mais:
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DANO AO MEIO AMBIENTE. DERRAMAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DE GUANABARA. RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. DANO EMERGENTE. LUCRO CESSANTE. DANO MORAL DE PESSOA JURÍDICA. POLUIÇÃO NAS PRAIAS. PREJUÍZO DO COMÉRCIO LOCAL. DESVALORIZAÇÃO DO PONTO COMERCIAL. 1. Comprovado o dano ao meio ambiente, decorrente do vazamento de óleo na baía de Guanabara, proveniente das instalações da empresa, cabe o pedido de reparação dos prejuízos individualmente causados. 2. É da PETROBRÁS o dever de cuidar para que não ocorra qualquer dano ao meio ambiente. 3. Dano é o gênero, do qual são espécies o dano material e o dano moral. 4. No dano material, por seu turno, se subdivide em danos emergentes e lucros cessantes. 5. Dano emergente é o que importa em efetiva diminuição no patrimônio da vítima, em razão do ato ilícito. 6. Lucro cessante é o reflexo futuro no patrimônio da vítima. 7. A honra subjetiva é exclusiva do ser humano e se caracteriza pelo decoro e auto-estima. 8. A honra objetiva é comum à pessoa natural e à pessoa jurídica e se reflete na reputação, no bom nome e na imagem perante a sociedade. 9. Desprovimento dos recursos. (TJRJ - 8.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2002.001.09351 - Rel.: Desa. Letícia Sardas - J. 17/12/2002)
É clara e evidente a importância para o meio ambiente
urbano o respeito pleno ao princípio da função social da
empresa/comércio, justamente para os fins de fazer cumprir a função
socioambiental da propriedade, bem como prover o bem-estar e a
qualidade de vida de todos os cidadãos. Dessa forma, busca-se com a
presente Ação Civil Pública a devida reparação e compensação dos
danos causados ao meio ambiente urbano.
DOS PEDIDOS
1) DA CONCESSÃO DE LIMINAR
O artigo 12, da Lei 7.347/1985, é claro ao elencar que
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“poderá o juiz conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia
em decisão sujeita a agravo”.
A doutrina brasileira tem comumente entendido que para a
concessão de mandado liminar faz-se necessária a presença de dois
requisitos básicos, quais sejam, o “fumus boni juris” e o “periculum in
mora”.
O “fumus boni iuris”, que é a existência e ocorrência do
direito substancial invocado por quem pretende a segurança, está
cabalmente demonstrado pelos documentos que acompanham a presente
exordial, e pela legislação citada. Além disso, note-se que o
estabelecimento demandando não exerce apenas a atividade descrita em
seu Alvará de Localização e Funcionamento, extrapolando o ali contido,
exercendo atividade potencialmente poluidora. Ainda, nota-se que mesmo
após diversas intervenções por meio do órgão municipal (Auto de Infração
nº 12370) a demandada persistiu com a atividade poluidora, corroborando
com a ilegalidade de seu funcionamento.
O “periculum in mora” consiste no fato de que se for
possibilitado ao demandado que este continue com sua atividade danosa
enquanto perdurar o processo estar-se-á permitindo a continuação de
uma atividade comprovadamente ilegal e danosa, em prejuízo da saúde e
do bem-estar de um número indeterminado de pessoas que vivem na
vizinhança do estabelecimento.
Faz-se necessária a menção de que um dos princípios
basilares do direito ambiental é o da prevenção, e a ressalva de que a
concessão do mandado liminar objetiva evitar que danos ambientais ainda
maiores venham ocorrer no decurso do processo.
Preleciona Celso Antônio Pacheco Fiorillo:
“É por via da liminar, assecutória ou satisfativa, que se alcançará, ainda que provisoriamente, a certeza de que o processo não será um mal maior do que já se constitui, na medida em que a demora da entrega da tutela jurisdicional não se constituirá um mal maior ou mais
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nefasta que a própria caracterização do dano ao meio ambiente. Por isso, urge como regra necessária e política a utilização cada vez maior da tutela liminar em sede de proteção efetiva de direito difusos como um todo.”
Disso resulta a necessidade da concessão da medida
liminar, inaudita altera pars , sem necessidade de justificação prévia,
determinando-se que o estabelecimento DRANCZUK & CIA. LTDA. , seja
interditado totalmente, com base no Artigo 11 da Lei 7.347/85, com a
imposição de multa diária a ser estabelecida por Vossa Excelência, diante
do descumprimento do preceito.
Requer-se ainda a Vossa Excelência, em concedendo a
liminar, que determine a expedição de ofício a Secretaria Municipal do
Meio Ambiente para que fiscalize o cumprimento da ordem, apontando ao
juízo eventuais violações para a apuração de multa diária e a requisição
de força policial, se necessário.
2) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
A inversão do ônus da prova em sede de Ação Civil Pública
Ambiental se justifica pelo fato de o interesse público tutelado – reparação
de dado ambiental – exigir que as questões de prova sejam desde sempre
definidas sob pena da demora no trâmite implicar em agravamento da
lesão.
O processamento na forma desse instrumento é
perfeitamente cabível no caso em questão. O artigo 21 da Lei 7.347/85
determina que se aplica à defesa dos direitos e interesses difusos,
coletivos e individuais, no que tenha cabimento, os dispositivos do Código
de Defesa do Consumidor.
O artigo 6º, inciso VIII, da Lei 8.078/90, é expresso ao
admitir a inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de
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Defesa do Consumidor, na medida em que é hipossuficiente o
demandante, segundo as regras comuns da experiência como bem
esclarece o texto legal, in verbis:
“Artigo 6º - São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; ”
Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também ao
âmbito de proteção ao meio ambiente, tendo em vista que, o Ministério
Público ao ajuizamento de ações civis públicas está em franca
desvantagem perante os demandados.
Pertinente a alusão à jurisprudência a seguir:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - POSSIBILIDADE - ANTECIPAÇÃO DE HONORÁRIOS PERICIAIS PELO RÉU DEVIDA - ART.18 DA LEI 7.347/85 - ISENÇÃO CONCEDIDA AO AUTOR - RECURSO DESPROVIDO 1. É cabível a inversão do ônus da prova em Ação Civil Pública Ambiental. 2. O benefício de isenção de antecipação de custas em Ação Civil Pública, é dado para a celeridade e efetividade da ação, que visa proteger direitos da sociedade como um todo, contra danos que afetam a todos cidadãos, não havendo qualquer lógica em estender este benefício aos réus da ação, dando, de certa forma, incentivo ao dano contra o meio ambiente”. (TJPR - 4ª C.Cível - AI 0464903-8 - Londrina - Rel.: Desª Regina Afonso Portes - Unânime - J. 14.04.2008)
Razão pela qual se requer desde já, com base nos
fundamentos acima expostos, a determinação e reconhecimento da
inversão do ônus da prova no presente caso.
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3) DOS DEMAIS PEDIDOS
Diante do exposto, requer-se:
I - a concessão da liminar nos moldes anteriormente
delineados e sua confirmação;
II - a citação do demandado , na pessoa do seu
representante legal, com o permissivo do artigo 172, parágrafo 2º, do
CPC, para querendo, responder e acompanhar os termos da presente,
sob pena de serem considerados como verdadeiros os fatos aqui
alegados;
III – o deferimento da inversão do ônus da prova nos moldes
anteriores;
IV - a condenação do demandado DRANCZUK & CIA.
LTDA. em obrigação de não fazer, sob pena de multa diária em valor a
ser arbitrado por Vossa Excelência e devidamente recolhido ao Fundo
Estadual do Meio Ambiente - FEMA - consistente em se abster de
desenvolver a atividade nos moldes atuais, uma vez que completamente
ilegal perante os órgãos municipais (falta de alvará e Licença/Autorização
ambiental), contrariando ainda a função social da empresa/comércio;
V – o pagamento de indenização pelos danos causados ao
meio ambiente e pelo dano moral ambiental, a ser arbitrado por esse
Juízo;
VIII - que todas as intimações do Ministério Público
sejam feitas pessoalmente, na pessoa do Promotor de Justiça em
atividade na Promotoria de Proteção ao Meio Ambient e, na Rua
Marechal Deodoro, n. 1028, 10º Andar, Centro, Curitiba - Paraná,
conforme dispõe o artigo 236, §2º, do CPC;
IX - protesta-se ainda por todos os meios de prova em
direito admitidas , inclusive depoimento pessoal dos representantes
legais do Réu, prova pericial, documental e testemunhal;
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X - a procedência da ação em todos os seus termos ,
condenando-se o demandado ao pagamento das despesas processuais e
verbas honorárias de sucumbência, cujo recolhimento deste último deve
ser feito ao Fundo Especial do Ministério Público do Estado do Paraná,
criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302,
de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”,
parte final, da Constituição do Estado do Paraná;
XI - a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e
outros encargos, nos termos do artigo 18 da Lei n. 7.347/85.
Atribui-se à causa o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil
reais)
Nesses termos,
Pede Deferimento.
Curitiba, 03 de junho de 2013.
Sergio Luiz Cordoni Promotor de Justiça