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ADVOCACIA SILVEIRA MELO RODRIGUES RUA ESCOBAR ORTIZ, 139 EDUARDO SILVEIRA MELO RODRIGUES FONE/FAX: (11) 3856-2455 / 3057-3178 MAITÊ CAZETO LOPES CEP 04512-050 SÃO PAULO SP NATÁLIA ALVES AMANCIA ALEX VITOR KENJI TIBA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL VIII TATUAPÉ DA COMARCA DE SÃO PAULO - CAPITAL. PAULO SERGIO MENEZES GARCIA, brasileiro, casado, empresário, portador do RG nº 7.348.363 - SSP/SP e inscrito no CPF/MF sob o nº 658.984.198-53, com endereço à Rua da Mooca, nº 766 Bairro Mooca CEP 03104- 010, por seus advogados (procuração anexa - doc. 01), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 20 e artigos 300 e seguintes, do Código de Processo Civil, propor AÇÃO DECLARATÓRIA de nulidade da decisão que o declarou inelegível para o cargo de Presidente do Clube e o afastou do pleito eleitoral a se realizar no dia 3 de fevereiro de 2018, com PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA , inaudita altera pars, de suspensão dos efeitos da decisão, contra SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA (SCCP), associação desportiva sem fins econômicos, inscrita no CNPJ/MF sob nº 61.902.722/0001-26, com sede na Rua São Jorge, nº 777 - CEP 03087-000, São Paulo/SP, e com endereço eletrônico < [email protected] >, pelas razões de fato e direito a seguir expostas: Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1000840-42.2018.8.26.0008 e código 538D9F6. Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MAITE CAZETO LOPES, protocolado em 29/01/2018 às 20:18 , sob o número 10008404220188260008. fls. 1

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ADVOCACIA SI LVEI RA M ELO RODRIG UE S

RUA ESCOBAR ORTIZ, 139 EDUARDO SILVEIRA MELO RODRIGUES FONE/FAX: (11) 3856-2455 / 3057-3178 MAITÊ CAZETO LOPES CEP 04512-050 – SÃO PAULO – SP NATÁLIA ALVES AMANCIA

ALEX VITOR KENJI TIBA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA

CÍVEL DO FORO REGIONAL VIII – TATUAPÉ – DA COMARCA DE SÃO

PAULO - CAPITAL.

PAULO SERGIO MENEZES GARCIA, brasileiro, casado,

empresário, portador do RG nº 7.348.363 - SSP/SP e inscrito no CPF/MF sob o nº

658.984.198-53, com endereço à Rua da Mooca, nº 766 – Bairro Mooca – CEP 03104-

010, por seus advogados (procuração anexa - doc. 01), vem respeitosamente à presença

de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 20 e artigos 300 e seguintes, do

Código de Processo Civil, propor

AÇÃO DECLARATÓRIA

de nulidade da decisão que o declarou inelegível para o cargo de Presidente do Clube e

o afastou do pleito eleitoral a se realizar no dia 3 de fevereiro de 2018, com PEDIDO

DE TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita altera pars, de suspensão dos efeitos da

decisão, contra SPORT CLUB CORINTHIANS PAULISTA (SCCP), associação

desportiva sem fins econômicos, inscrita no CNPJ/MF sob nº 61.902.722/0001-26, com

sede na Rua São Jorge, nº 777 - CEP 03087-000, São Paulo/SP, e com endereço

eletrônico < [email protected] >, pelas razões de fato e direito a seguir

expostas:

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1. DOS FATOS

O Autor, associado desde a infância, sócio remido há 30 anos e

Conselheiro Vitalício há mais de 20 anos do Sport Club Corinthians Paulista (vide

cópia da carteira do clube – doc. 02), através da Chapa denominada “Pró-Corinthians”,

em 18 de dezembro de 2017, registrou sua candidatura à Presidência da Diretoria da

Instituição (doc. 03), cuja eleição será realizada no próximo dia 03.02.2018.

Entretanto, em 07.12.2017, ou seja, antes do registro da

candidatura do Autor, a Comissão Eleitoral (2018) do Sport Club Corinthians Paulista

instaurou Procedimento Apuratório (doc. 04) objetivando investigar a indevida

“promoção” ou “anistia” levada a efeito pelo SPPC no mês de dezembro de 2017, fato

considerado ilícito eleitoral, com o qual o Autor supostamente teria tido envolvimento,

em razão de suposta participação na criação, organização, execução e divulgação da

alegada e indevida “promoção” ou “anistia”.

Em breve resumo, tem-se da Portaria Inicial do Procedimento

Apuratório (fls. 02/05 - doc.05) e da Notificação de 21.01.2018 (doc.06), que no dia

01.12.2018, antevéspera do prazo final para regularização dos associados em débito

com as mensalidades do Clube, a Diretoria publicou em página oficial da internet

promoção para reativação dos títulos sociais, concedendo grandes reduções no valor

devido. Consta, ainda, que o art. 44, § 3º do Estado Social proíbe a concessão de

qualquer anistia financeira aos associados no período de doze meses anteriores ao

pleito, e sua prática conduz à suspensão dos direitos eleitorais dos associados que de

qualquer forma dela se beneficiaram. Consta, também, que o Autor teria tido

envolvimento nos fatos relacionados à suposta “anistia”, de forma direta ou indireta,

assim incidindo em ilícito eleitoral e grave infração disciplinar em prejuízo do Clube.

Além disso, no mesmo ato de instauração do Procedimento

Apuratório, a Comissão Eleitoral (2018), cautelarmente, suspendeu os direitos

eleitorais relativos ao pleito do dia 03.02.2018, dos associados que se beneficiaram

dessa anistia parcial, excluindo-os da lista de votação.

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Após breve instrução, em 21.01.2018, foi expedida notificação

para ciência do Requerido e para que, no prazo de 3 (três) dias, querendo, apresentasse

sua defesa (vide doc. 06).

A defesa do Autor foi devidamente protocolada nos autos do

Procedimento Apuratório em 24.01.2018, destacando a ausência de descrição

específica dos fatos imputados na Portaria de instauração do Procedimento Apuratório

pela Comissão Eleitoral do Clube, bem como asseverando a total ausência de

elementos probatórios aptos a demonstrar qualquer tipo de participação do Autor na

suposta conduta de “anistia” ou “promoção” referida na Peça Inaugural (doc. 07).

Ato contínuo, em 27.01.2018, para a perplexidade do Autor, a

Impugnação apresentada, objeto do Procedimento Apuratório, veio a ser conhecida e

acolhida em Parecer, por maioria de votos, pela Comissão Eleitoral (2018) do Sport

Club Corinthians Paulista, ferindo o direito líquido, certo, legítimo e democrático do

Autor de participar das eleições presidenciais da Instituição (doc.08).

O Presidente do Conselho Deliberativo, por sua vez, em

29.01.2018, acolheu o parecer da Comissão Eleitoral, adotando-o integralmente como

razão de decidir, e declarou a inelegibilidade do Autor para o cargo de Presidente do

Clube nas eleições do próximo dia 03 de fevereiro, conforme cópia anexa (doc. 09).

Os fundamentos apontados pela Comissão Eleitoral para a

rejeição da defesa do Autor (que, destaca-se, não foram adotados por unanimidade

pelos membros da Comissão Eleitoral), acolhidos na decisão do Presidente do

Conselho Deliberativo do Sport Club Corinthians Paulista, são, em síntese, os seguintes

(vide doc. 08): não houve o alegado cerceamento de defesa; que o Autor admitiu ter

efetuado o pagamento de mensalidades de diversos associados que se encontravam em

atraso, os quais foram beneficiados pela suposta “anistia”; o pagamento é confirmado

pela funcionária Nanci Lopes Lázaro, que realizou os pagamentos por meio de cartão

de crédito do Autor; e que a conduta do Autor caracteriza grave infração eleitoral por

abuso do poder econômico (art. 19 da LC 64/1990), conhecida como “compra de

votos”, e em indícios da prática de ilícito similar ao previsto no art. 299 do Código

Eleitoral.

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Destaca-se, desde logo, que em momento algum o Sport Clube

Corinthians Paulista (Portaria Inicial, Notificação do Autor, Parecer da Comissão

Eleitoral e Decisão do Presidente do Conselho Deliberativo), especifica qualquer

violação aos artigos 43 e 44 do Estatuto Social do Sport Club Corinthians Paulista, que

dispõem sobre os requisitos necessários para a inscrição de candidaturas, inclusive para

a Presidência da Agremiação, exceção feita ao § 3º do art. 44, da qual o Autor não

participou direta ou indiretamente, que proíbe a concessão de anistia financeira aos

associados no período de dozes meses anteriores ao pleito. (Estatuto Social e

Regimento Interno da Comissão Eleitoral 2018 – docs. 10 e 11)

Esse é um breve resumo dos fatos.

Todavia, como adiante se verá, a Impugnação Administrativa

contra o Autor, acolhida pela Comissão Eleitoral e pelo Sport Clube Corinthians

Paulista, não possui sustentação fática e jurídica, motivo por qual deve ser objeto de

controle judicial por Vossa Excelência, pelas razões de fato e de direito a seguir

descritas.

Cumpre mencionar, também, a inexistência de recurso interno,

pois consoante o artigo 3º Regimento Interno da Comissão Eleitoral 2018 (vide doc.

11), a decisão final do Presidente do Conselho Deliberativo é irrecorrível, mais uma

razão pela qual se socorre do Poder Judiciário.

2. DO DIREITO E DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO

PEDIDO

Em que pese o enorme respeito à Comissão Eleitoral (2018) e ao

Presidente do Conselho Deliberativo, no presente caso não agiram com acerto ao

acolherem a Impugnação Administrativa ofertada contra o Autor Paulo Sergio Menezes

Garcia, afastando-o do processo eleitoral para a Presidência da Diretoria do Sport Club

Corinthians Paulista, como adiante se verá, pelos seguintes motivos: o Procedimento

Apuratório é nulo, por cercear o direito de ampla defesa do Autor; ficou comprovado

que o Autor não participou da suposta “anistia” concedida pelo Clube aos associados

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em débito; em regra, a legislação, em especial o Código Civil, não veda o pagamento

de dívida de terceira pessoa, como o realizado pelo Autor relativamente ao pagamento

de algumas mensalidades de associados em débito junto ao Clube; e, finalmente, não se

aplicam ao caso sub judice, nem mesmo por analogia, as disposições da Lei

Complementar n. 64/1990 (abuso de poder econômico) e do Código Eleitoral

(indícios do crime previsto no art. 299).

O Parecer da Comissão Eleitoral, acolhido pelo Presidente do

Conselho Deliberativo do Sport Clube Corinthians, que culminou com a declaração de

inelegibilidade do Autor para pleito eleitoral do Clube (v. doc. 09), está fundamentado

em meras conjecturas e ilações, inclusive sem base na legislação, motivo por que se

impõe a reforma da decisão proferida pelo Presidente do Conselho Deliberativo.

2.1. Do cerceamento do direito constitucional à ampla defesa

O Autor Paulo Sergio Menezes Garcia, como matéria preliminar

de defesa no Procedimento Apuratório, arguiu que a defesa então apresentada estava

circunscrita aos fatos narrados na Portaria de fls. 02/05, na qual não constava

referência o suposto pagamento de mensalidades com fins eleitorais, como infração

eleitoral por suposto abuso do poder econômico (Lei Complementar n. 64/1990), com

indícios de prática de crime eleitoral previsto no artigo 299 do Código Eleitoral.

A Comissão Eleitoral, assim como o Presidente do Conselho

Deliberativo do Clube, ao rejeitarem a defesa administrativa do Autor, não só

fundamentaram o Parecer e a Decisão no suposto pagamento com fins eleitorais, mas

também no fato de que o Autor teria praticado grave infração eleitoral por abuso do

poder econômico (art. 19 da LC 64/1990), conhecida como “compra de votos”,

inclusive com indícios da prática de ilícito similar ao previsto no art. 299 do Código

Eleitoral.

Assim agindo, a Comissão Eleitoral inovou em relação aos fatos

atribuídos ao Autor no Procedimento Apuratório, uma vez que não há qualquer

referência na Portaria Inicial (vide doc. 05) e na Notificação do Autor (vide doc.06), a

respeito de supostamente ter praticado grave infração eleitoral por abuso do poder

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econômico (art. 19 da LC 64/1990), conhecida como “compra de votos”, inclusive com

indícios da prática de ilícito similar ao previsto no art. 299 do Código Eleitoral.

Tanto a Comissão Eleitoral, ao incluir novos fatos no Parecer, que

não constavam da Portaria Inicial, da Notificação do Autor e dos autos (abuso de poder

econômico e indícios de prática do crime eleitoral previsto no art. 299 do Código

Eleitoral), quanto o Presidente do Conselho Deliberativo, que acolheu o Parecer da

Comissão Eleitoral e, em decisão, rejeitou a defesa administrativa do Autor,

impedindo-o de participar das eleições para a Presidência do Sport Club Corinthians

Paulista, ao declará-lo inelegível, cercearam o direito à ampla defesa do autor,

garantia essa prevista constitucionalmente.

Nesse sentido, a Constituição Federal assegura aos litigantes, em

processo judicial ou administrativo, o contraditório e a ampla defesa, com os meios e

recursos a ela inerentes (art. 5º, LV).

A ampla defesa, no caso sub judice, só pode ser exercida em

relação aos fatos adequadamente descritos na Peça Inaugural e na Notificação do

Autor. Dessa forma, eventual ampliação dos limites da investigação pela Comissão

Processante, após a instauração da Portaria de fls. 02/05 e da Notificação do Autor, sem

que haja prévio aditamento da Peça Inaugural e que haja prévia ciência ao Investigado,

implica ofensa flagrante ao princípio fundamental da ampla defesa.

De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, a ausência de

descrição específica dos fatos imputados na Portaria de instrução de Processo

Administrativo disciplinar, é causa de nulidade, por violação do princípio da ampla

defesa (AC n. 0023417-93.2009.8.26.0348, 12ª Câmara de Direito Público, j. 5-6-2013,

rel. Des. Wanderley José Federighi).

Ainda para o Tribunal de Justiça de São Paulo, é nula a Portaria e

o Processo Administrativo dela decorrente, em face da ausência de descrição suficiente

dos atos praticados pelo servidor que ensejaram a instauração do processo

administrativo (Apelação n. 4005149-64.2013.8.26.0482, 11ª Câmara Extraordinária de

Direito Público, v.u., j. 19-1-2018, rel. Aliende Ribeiro).

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Da mesma forma, conforme o Tribunal de Justiça de São Paulo, é

nulo, desde o início, o procedimento administrativo iniciado por Portaria que não

descreve qual a conduta atribuída ao infrator, em razão da violação aos princípios

constitucionais do contraditório e da ampla defesa (Apelação n. 9098284-

85.2003.8.26.0000, 9ª Câmara de Direito Público, v.u., j. 13-7-2011, rel. Des. Sérgio

Gomes).

O princípio constitucional da ampla defesa só poderia ser

plenamente exercido em relação a fatos adequadamente descritos e imputados ao

Autor. A ampliação dos fatos pela Comissão Eleitoral (prática de grave infração

eleitoral por abuso do poder econômico, conforme art. 19 da LC 64/1990, conhecida

como “compra de votos”, inclusive com indícios da prática de ilícito similar ao previsto

no art. 299 do Código Eleitoral), e seu acolhimento pelo Presidente do Conselho

Deliberativo, afastando o Autor das eleições ao cargo de Presidente do Sport Clube

Corinthians, sem que houvesse prévio conhecimento de tais fatos pelo Autor, implica

ofensa ao princípio constitucional fundamental da ampla defesa.

Diante do exposto, o Autor requer a declaração de nulidade da

decisão proferida pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Sport Club Corinthians

Paulista, que com base no Parecer elaborado pela Comissão Eleitoral acolheu a

Impugnação contra ele apresentada e o declarou inelegível para o pleito eleitoral do

Clube, tendo em vista que referida decisão cerceou-lhe o direito à ampla defesa,

previsto constitucionalmente.

2.2. Da não participação do Autor na “anistia” concedida pelo

Sport Club Corinthians Paulista

Os elementos probatórios existentes nos autos demonstram que

Paulo Sergio Menezes Garcia não praticou e não participou, direta ou indiretamente,

da suposta “anistia” “ou “promoção” tida como infração eleitoral, consistente na

concessão de reduções no valor de mensalidades devidas pelos associados objetivando

a reativação dos títulos sociais dos mesmos para que pudessem participar do pleito

eleitoral da Agremiação, de forma que se impõe o acolhimento da presente ação, com

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a declaração de nulidade da decisão proferida administrativamente pelo Sport

Club Corinthians Paulista, que acolheu a impugnação de sua candidatura à

Presidência da Agremiação e o declarou inelegível, como adiante se verá.

Inicialmente, conforme consta da própria Portaria de fls. 02/05, a

suposta “anistia” ou “promoção” para reativação dos títulos, com a concessão de

redução da ordem de 50% do valor devido, objetivando a regularização dos associados

em débito com as mensalidades do Clube, foi implementada pela Diretoria do Sport

Club Corinthians Paulista que, inclusive, em 01.12.2017 procedeu à publicação da

medida em página oficial da internet.

Corroborando referida assertiva, Eduardo Caggiano Freitas,

Diretor Administrativo do Clube, ouvido à fls. 42 do apuratório (doc. 04), afirma que,

baseado no artigo 111 do Estatuto, levou a proposta de reativação ao Presidente

Roberto de Andrade, que autorizou o procedimento, da mesma forma como havia feito

no ano de 2016, para sanar despesas, porque os gastos do Clube triplicam com as férias

e 13º salário.

Da mesma forma, Roberto de Andrade, Presidente do Clube,

ouvido às fls. 52-53 (doc. 04), assevera, in verbis: “o diretor administrativo Eduardo

Caggiano tomou a iniciativa e resolveu por si só implantar o desconto (bonificação),

limitando-se a me comunicar posteriormente, quando a decisão já estava tomada”.

Ainda de acordo com Roberto de Andrade, a competência para

implantar o desconto (bonificação) em favor dos associados em débito, cabe à Diretoria

Administrativa. Conforme suas próprias palavras, “essa iniciativa é da competência da

diretoria administrativa” (fls. 52-53).

As assertivas expendidas pelos declarantes Eduardo Caggiane

Freitas e Roberto de Andrade, no tocante à competência da Diretoria da Agremiação

para a edição da suposta “anistia”, é corroborada pelo Estatuto Social da Entidade,

especificamente nos artigos 111 a 115 (vide doc. 10).

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Assim, a instituição, implementação e publicação da suposta

“anistia” ou “promoção” foi criada e efetivada exclusivamente pela Diretoria do

Clube, que detinha competência formal para fazê-lo, e de fato o fez, conforme

uníssona prova, sem que houvesse para tanto qualquer participação do Autor Paulo

Sergio Menezes Garcia, que não integrava e não integra a Diretoria da Agremiação e

que não exerce qualquer função ou cargo administrativo no Clube.

Por outro lado, como o ato normativo do Sport Club Corinthians

Paulista, consubstanciado na suposta “anistia” ou “promoção”, foi criado e publicado

pela Diretoria da Agremiação, em conformidade com as disposições estatutárias

formais que regem a espécie, por pessoa que tinha competência para fazê-lo e com

regular publicação, referido ato goza de presunção de legalidade e legitimidade.

Dessa forma, embora as presunções de legalidade e legitimidade

não sejam absolutas, a regularidade estatutária e legal concernente à edição do ato pela

Agremiação, relativo à suposta “anistia”, faz com que o ato passe a produzir regulares

efeitos, principalmente em relação a terceiros associados, que são os beneficiários da

medida, até que, se o caso, o ato venha a ser desconstituído.

Ora, se a suposta “anistia” ou “promoção” foi praticada por

pessoa e membro da Diretoria da Agremiação que tinha competência para tanto, foi

devidamente publicada, e entrou regularmente em vigor, era de se esperar que os

associados, a partir de sua publicação, exercessem o direito então constituído, relativo

ao pagamento de suas mensalidades sociais com o desconto respectivo.

Tanto é assim, que o próprio sistema interno do Clube impedia

que pagamentos fossem efetuados sem os descontos implantados. Nesse sentido,

conforme afirmado por Eduardo Caggiano Freitas, Diretor Administrativo do Clube,

“mesmo que os associados fossem efetuar o pagamento integral do débito, o sistema

não permitia (sistema único, sem alterações)” (fls. 42 – doc. 04).

E, de fato, como é notório, inúmeros associados valeram-se do

desconto instituído pelo Clube e efetuaram o pagamento de suas mensalidades sociais

que se encontravam em atraso. E isso sem que houvesse qualquer participação do

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Autor, que se limitou ao pagamento das mensalidades sociais de alguns poucos

associados, cerca de 30 a 40, segundo ele próprio (fls. 49).

Importante destacar que a prova oral produzida nos autos, em

sua integralidade, infirma a assertiva constante da Portaria de fls. 02/05 e

acolhida pela Comissão Eleitoral e pelo SCCP, no sentido de que o Autor Paulo

Sergio Menezes Garcia, juntamente com alguns diretores, teria participado na criação,

organização, execução e divulgação da alegada e indevida “anistia” (fls. 38/41, 42,

43/44, 45/47, 52/53, 54/57, 58/59, 60/61 e 62/64 – doc. 04).

Reitera-se, nenhuma referência é feita pela integralidade das

pessoas ouvidas pela Comissão Eleitoral, a respeito da participação do Autor na

criação, organização, execução e divulgação da alegada “anistia” ou “promoção”

constantes da Peça Inicial.

Importante destacar, também, que o Autor Paulo Sergio

Menezes Garcia, embora seja associado e Conselheiro Vitalício do Clube, não

exerce qualquer atividade ou cargo administrativo junto ao Sport Club

Corinthians Paulista, assim como não o exercia à época dos fatos narrados na

Portaria Inicial de fls. 02/05 (fls. 49-50).

Assim, inexiste qualquer elemento probatório nos autos que

permita afirmar ou mesmo pensar, que o Autor tenha participado, de alguma

forma, da suposta “anistia” ou “promoção” promovida pela Diretoria do Sport

Club Corinthians, referida na Portaria de fls. 02/05 como ato infracional eleitoral.

2.3. Do pagamento de mensalidades de associados pelo Autor

Como amplamente demonstrado, o Autor não participou, de

qualquer forma, do ato de implementação da suposta “anistia” pelo Sport Club

Corinthians Paulista, seja porque o ato foi praticado pela Diretoria Administrativa da

Agremiação, competente estatutariamente para tanto, seja porque à época da edição do

ato não exercia (assim como ainda não exerce) qualquer função ou atividade

administrativa no Clube.

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Nem mesmo o fato de Paulo Sergio Menezes Garcia ter admitido

que quitou junto ao Clube as mensalidades de alguns associados em débito, permite

concluir que o Autor tenha contribuído, de qualquer forma, para a suposta “anistia” ou

“promoção” referida na Portaria de fls. 02/05 (doc. 05). De um lado, a redução ou

promoção em pauta foi regularmente editada e publicada pelo Sport Club Corinthians

Paulista em 01.12.2017, por meio da Diretoria regularmente constituída e que não era

integrada pelo Autor. De outro lado, quando do pagamento das mensalidades dos

associados, o ato concernente à promoção estava em pleno vigor e respaldava a

concretização dos pagamentos, seja pelos próprios associados, seja por terceiros.

Embora tenha admitido o pagamento de algumas mensalidades

devidas por associados do Clube, fato esse não descrito na Portaria de fls. 02/05, Paulo

Sergio Menezes Garcia é peremptório ao afirmar que não buscou e não pediu, direta ou

por meio de terceira pessoa, qualquer vantagem eleitoral com os pagamentos. Sequer

ele era candidato! Nesse sentido, afirma o Autor, in verbis (fls. 49-50): “Não pedi nada

para mim, nenhum voto (...); Quando dos fatos, não era nem candidato” (doc. 04).

No tocante à prova oral produzida pela Comissão Eleitoral,

nenhuma das pessoas ouvidas no Procedimento Apuratório (ou seja, Nanci Lopes

Lázaro, Eduardo Caggiano Freitas, Antônio Roque Citadini, Antonio Jorge Rachid

Junior, Roberto de Andrade, Emerson Piovesan, Andrés Navarro Sanchez, André Luiz

de Oliveira e Eduardo Almgren Ferreira, respectivamente às fls.38/41, 42, 43/44,

45/47, 52/53, 54/57, 58/59, 60/61 e 62/64 do apuratório (doc. 04), faz qualquer

assertiva no sentido de que o Autor teria, de alguma forma, solicitado ou cooptado

votos com base no pagamento de algumas mensalidades efetuado em favor de alguns

associados.

A argumentação constante do Parecer da Comissão Eleitoral, no

sentido de que Antônio Jorge Rachid Junior, em gravação em poder da Comissão, teria

afirmado que os pagamentos eram realizados para que o voto do associado beneficiado

fosse direcionado para Paulo e não para os adversários, não foi corroborada quando

produzida oralmente junto à Comissão. Tanto é assim que consta do próprio Parecer

que Antônio Jorge Rachid Junior, ouvido pessoalmente junto à Comissão Eleitoral, não

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mantém a suposta fala, mas refere-se ao pagamento como mera ajuda ou favor

descompromissado.

Da mesma forma, diferentemente do concluído pela Comissão

Eleitoral, situação bastante próxima ocorre em relação às declarações da funcionária

Nanci Lopes Lázaro. Ouvida perante a Comissão Eleitoral, a funcionária afirma tão

somente que o Autor deixou em seu poder cartão de crédito para pagar algumas

mensalidades de associados, mas em momento algum informa que foi para que

referidos associados viessem a votar no Autor (fls. 38/39 – do apuratório).

Portanto, a prova existente nos autos é torrencial no sentido de

que o Autor Paulo Sergio Menezes Garcia, em momento algum, pediu ou autorizou

alguém a usar seu nome para pedir votos ou de qualquer forma interferir nas eleições

do Sport Club Corinthians Paulista.

Importante destacar a assertiva de Roberto de Andrade, Presidente

do Clube, a respeito da questão do pagamento das mensalidades por terceiras pessoas.

Segundo o declarante, tal forma de proceder não impossibilita a participação de tais

pessoas como candidatas. Conforme sua expressão, in verbis, “entendo também que as

pessoas que pagaram não podem ser impedidas de participar como candidatos” (fls. 52-

53, parte final).

Da mesma forma, de acordo com Eduardo Almgren Ferreira,

Conselheiro do Clube, ouvido à fls. 62, pagar para os inadimplentes não é ilegal, assim

como não é a primeira vez que isso acontece.

Por outro lado, de se realçar que, de acordo com o item 1 da

Portaria de fls. 02/05, a Comissão Eleitoral concedeu medida cautelar de suspensão dos

direitos eleitorais, relativamente ao pleito do dia 3 de fevereiro de 2018, dos associados

que se beneficiaram dessa anistia parcial, constante da relação em anexo à Portaria,

devendo seus nomes serem excluídos das listas de votação.

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Em outras palavras, os associados que foram beneficiados com a

suposta “anistia”, para a qual o Autor não concorreu de qualquer forma, como

amplamente demonstrado, não poderão participar da eleição do Sport Club Corinthians

Paulista, uma vez que seus nomes foram excluídos das listas de votação.

Sob outro ângulo, é fato notório que o Autor Paulo Sergio

Menezes Garcia sempre foi efetivo colaborador das causas, projetos sociais e

benfeitorias relacionadas ao Sport Club Corinthians Paulista. Sempre que procurado ou

assim que toma conhecimento de alguma necessidade, presta auxílio, ajuda, por total e

mera liberalidade; e da mesma forma assim agiu quanto à ajuda em questão, movido

pelo amor ao clube e à democracia. Não é demais citar suas próprias palavras: “em

relação à reativação, deixei meu cartão de crédito com a Nanci, para pagar para

inadimplentes, para ter a mesma chance dos outros das Chapinhas” (fls. 49). Ressalte-

se que o Autor não sabia sequer quem seriam os beneficiados.

Nesse sentido, como consta do próprio Parecer da Comissão

Eleitoral (ainda que não aceito pela Comissão), Antônio Jorge Rachid Junior, ouvido

pessoalmente junto à Comissão, afirmou que os pagamentos feitos por Paulo Sergio

Menezes Garcia foram realizados como mera ajuda ou favor descompromissado (doc.

08).

Corroborando o caráter colaborador e altruísta do Autor, cita-se,

porque fato notório, sua participação, como sócio da empresa Kalunga, na campanha

Sangue Corinthiano, realizada em dezembro de 2016, organizada pela ONG Sobre

Vivência, com apoio oficial do Sport Club Corinthians Paulista e da Kalunga, na qual,

como amplamente divulgado, inclusive na internet, cerca de 1.500 (um mil e

quinhentos) corintianos foram doar sangue.1

Igualmente, não é demais citar, a ação conjunta de prevenção ao

câncer de mama, realizada em outubro de 2015, também amplamente divulgada, com a

parceria do autor e sua empresa, na qual foram oferecidos exames gratuitos de

1 Disponível em: https://www.corinthians.com.br/arena-corinthians-recebe-1-500-corinthianos-

para-doar-sangue/. Acesso em: 28-01-2018.

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mamografia, além de palestras e vídeos de conscientização,2 entre diversas outras

contribuições do autor e da sua família datadas desde os anos oitenta.

Nessa quadra, importante destacar que a conduta do Autor Paulo

Sergio Menezes Garcia, relativamente ao pagamento da mensalidade de alguns

associados junto ao Sport Club Corinthians Paulista, não encontra óbice na legislação

civil em vigor, tampouco vedação em qualquer disposição do Estatuto.

Assim, em consonância com o inciso II do artigo 5º da

Constituição Federal, que dispõe sobre o princípio fundamental da legalidade,

“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de

lei”.

Na lição de Irene Patrícia Nohara, o princípio da legalidade

“representa uma das maiores garantias dos cidadãos, que não poderão ser obrigados a

fazer ou ser coagidos a deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei”. Dessa

forma, os particulares podem fazer liberalidades com os seus bens e elegerem

“livremente os meios e fins de suas condutas, desde que estes não sejam proibidos pelo

Direito, numa atuação de não contrariedade”.3

E, de acordo com Maria Sylvia Zanella Di Pietro, o princípio da

legalidade, no âmbito das relações entre particulares, está relacionado à autonomia da

vontade, que lhes permite fazer tudo que a lei não proíbe.4

Em síntese, em relação ao indivíduo, o princípio da legalidade

previsto no art. 5º, II, da Lei Maior, contém a afirmação da liberdade como regra geral,

exigindo-se uma relação de não contradição com a lei, motivo por que é dado ao

particular fazer tudo o que não for proibido por lei.

2 Disponível em: https://exame.abril.com.br/marketing/corinthians-e-kalunga-promovem-acao-

contra-cancer-de-mama/. Acesso em 29.01.2018. 3 Direito administrativo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 65-66.

4 Direito administrativo. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 65.

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Ainda, conforme se depreende do disposto nos artigos 104 e

seguintes do Código Civil de 2002, pagar dívida de terceiro não é ilegal, é negócio

jurídico válido, à luz da lei civil.

De fato, nos termos do art. 104 do Código Civil, a validade do

negócio jurídico requer: agente capaz (inciso I); objeto lícito, possível, determinado ou

determinável (inciso II); e forma prescrita ou não defesa em lei (inciso III).

No caso sub judice, o pagamento, pelo Autor, das mensalidades

de alguns associados do Clube, envolve pessoas capazes, possui objeto lícito e forma

não defesa em lei.

Ainda de acordo com o Código Civil, a validade da declaração de

vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir

(art. 107). Também estatui o Código, que “o silêncio importa anuência, quando as

circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade

expressa” (art. 111).

De se destacar, por oportuno, que o motivo ou a causa do negócio

jurídico não se insere entre os requisitos para a validade do negócio jurídico previstos

na legislação civil, exceto nos casos previstos em lei, entendimento esse acolhido pela

doutrina.

O Código Civil Brasileiro não menciona o motivo ou a causa

como elemento essencial do negócio jurídico. Determina a legislação, apenas: que “o

falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão

determinante” (art. 140); e que “é nulo o negócio jurídico quando “o motivo

determinante, comum a ambas as partes, for ilícito” (art. 166, III).

Na doutrina, segundo Carlos Roberto Gonçalves, o Código Civil

de 2002, no art. 140, corrige a impropriedade do art. 90 do diploma de 1916,

substituindo “falsa causa por falso motivo”. Para o autor, “o motivo do negócio, ou

seja, as razões psicológicas que levam a pessoa a realizá-lo, não precisa ser

mencionado pelas partes”. Continuando, assevera que motivos “são as ideias, as razões

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subjetivas interiores, consideradas acidentais e sem relevância para a apreciação da

validade do negócio”, ou seja, “são estranhos ao direito e não precisam ser

mencionadas”. Por fim, “o erro quanto ao objetivo colimado não vicia, em regra, o

negócio jurídico, a não ser quando nele figurar expressamente, integrando-o, como sua

razão essencial ou determinante, como preceitua o art. 140” do Código Civil de 2001.5

Por sua vez, Caio Mário da Silva Pereira, citando Ruggiero e

Maroi, afirma que os motivos “se apresentam como uma razão ocasional ou acidental

do negócio, e nunca faltam como impulso originário, mas não têm nenhuma

importância jurídica”. Por essa razão, “o jurista deve relegá-los para o plano

psicológico, a que seria então afeta a indagação da deliberação consciente”.6

Ainda para Caio Mário da Silva Pereira, o Brasil tomou partido na

fileira anticausalista, sendo que “o Código Civil não cogitou da sistemática da causa,

parecendo ao legislador desnecessária a sua indagação, na integração dos requisitos dos

negócios jurídicos, in genere, preferindo cogitar dela em circunstâncias especiais”.

Assim agindo, o Direito Brasileiro “procurou simplificar a solução das questões,

instilando maior segurança nos negócios, e recusando que, a pretexto de investigar a

causa, alguém se exacerbe na busca dos motivos”. Por fim, o Código Civil de 2002

manteve-se na mesma linha de orientação não causalista, ou seja, manteve “entre os

requisitos de validade do negócio jurídico o que para nós já são tradicionais, a saber –

capacidade das partes, liceidade do objeto e forma”.7

Da mesma forma, consoante Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho, o motivo (móvel subjetivo) da prática do ato, por estar relegado ao

plano psíquico do agente, é irrelevante para o direito.8

5 Direito civil brasileiro: parte geral. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, v. 1, p. 411 e 412.

6 Instituições de direito civil: introdução ao direito civil; teoria geral do direito civil. 20. ed. Rio

de Janeiro: Forense, 2004, v. 1, p. 504 e 505. 7 Instituições de direito civil: introdução ao direito civil; teoria geral do direito civil. 20. ed. Rio

de Janeiro: Forense, 2004, v. 1, p. 508-509. 8 Novo curso de direito civil: parte geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, v. 1, p. 326.

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17

E, de acordo com Maria Helena Diniz, o erro quanto ao fim

colimado (falso motivo), em regra, não vicia o negócio jurídico, “a não ser quando nele

figurar expressamente, integrando-o, como sua razão essencial ou determinante, caso

em que o torna anulável”.9

Em outros termos, em conformidade com Maria Helena Diniz:

“O erro relativamente ao motivo do negócio, seja ele de fato ou de direito, não é

considerado essencial, logo não poderá acarretar a anulação do ato negocial. Deveras, a

causa do negócio jurídico não declarada como sua razão determinante ou condição de

que dependa não o afetará se houver erro”.10

Dessa maneira, resta cabalmente comprovado nos autos, fática e

juridicamente, que o Autor Paulo Sergio Menezes Garcia, embora admita ter ajudado

alguns associados a regularizarem a situação de suas mensalidades em débito junto ao

Clube, não sabia quem eram tais pessoas e não tinha qualquer intenção eleitoral ou de

cooptação de votos. Tal assertiva, inclusive, é corroborada pelo fato de que, à época do

auxílio dado a alguns associados, o Autor ainda não era candidato eletivo à Presidência

do Sport Club Corinthians Paulista, não sabia se seria candidato e não tinha registrado

sua candidatura, fato que veio a ocorrer somente no dia 18 de dezembro de 2017 (v.

doc. 03).

Assim, não há nos autos qualquer elemento probatório que

permita afirmar ou mesmo pensar que o Autor Paulo Sergio Menezes Garcia

tenha participado, de alguma forma, da suposta “anistia” ou “promoção” referida

na Portaria de fls. 02/05 (vide doc. 05) como ato infracional eleitoral, ou que

tenha, de alguma maneira, solicitado ou cooptado votos com base no pagamento

de algumas mensalidades em favor de alguns associados, ou ainda usado ou

autorizado alguém a usar seu nome para pedir votos ou de qualquer forma

interferir nas eleições do Sport Club Corinthians Paulista.

9 Curso de direito civil: teoria geral do direito civil. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, v. 1, p. 493.

10 In: SILVA, Regina Beatriz Tavares da (Coord.). Novo Código Civil Comentado. 10. ed. São

Paulo: Saraiva, 2016, p. 184.

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18

Em síntese, o Autor Paulo Sergio Menezes Garcia demonstrou

não haver participado, de qualquer forma, da suposta “anistia” implementada pela

Diretoria do Clube, assim como demonstrou haver cumprido todas as condições

exigidas pelo Estatuto Social da Agremiação, para participar do processo eleitoral ao

cargo de Presidente da Instituição, inclusive não lhe sendo aplicável qualquer das

vedações constantes do parágrafo 4º do artigo 44 do Estatuto Social,11 ou mesmo da

legislação em vigor, motivo porque se impõe a procedência da presente ação, com a

declaração de nulidade da decisão do Sport Club Corinthians Paulista, que o declarou

inelegível e o afastou do pleito eleitoral a ser realizado no dia 3 de fevereiro de 2018.

2.4. Do abuso de poder econômico (Lei Complementar n.

64/1990) e dos indícios de prática de crime eleitoral (art. 299

do Código Eleitoral)

A assertiva constante do Parecer da Comissão Eleitoral e acolhida

pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, no sentido de que a conduta do

Autor caracteriza grave infração eleitoral por abuso do poder econômico (art. 19 da LC

64/1990), conhecida como “compra de votos”, e em indícios da prática de ilícito

similar ao previsto no art. 299 do Código Eleitoral, não passa de mera conjectura e

ilação, inclusive sem base na legislação, motivo por que referidas afirmações devem

ser afastadas por esse Juízo, com a anulação do Processo Apuratório e, em

consequência, a reintegração do Autor ao pleito eleitoral do Clube.

Assim, a Lei Complementar n. 64 de 18-5-1990, recepcionada

pela Constituição Federal de 1988, disciplina, com base no art. 14, § 9º, da Lei Maior,

os casos de inelegibilidade e os prazos de cessão, relacionados aos direitos políticos.

A Constituição Federal de 1988 estabelece no caput do art. 14,

que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e

secreto, com valor igual para todos”.

11

Estatuto do Sport Club Corinthians Paulista. Disponível em:

https://esm31.websiteseguro.com/Estatuto2017.pdf. Acesso em 26-01=2018.

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19

E, nos termos do § 9º do art. 14 da Lei Maior (com redação dada

pela Emenda Constitucional de Revisão n. 4, de 1994), “lei complementar estabelecerá

outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a

probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida

pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência

do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na

administração direta ou indireta”.

O art. 14 da Lei Maior está inserido no Capítulo IV do texto

constitucional, intitulado dos “Dos Direitos Políticos”). Por sua vez, o Capítulo IV

insere-se no Título II da Constituição Federal, intitulado “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”.

Na lição de Alexandre de Moraes, hoje Ministro do Supremo

Tribunal Federal, os direitos políticos são conceituados como o conjunto de regras que

disciplina as formas de atuação da soberania popular, como estatui o caput do art. 14 da

Constituição Federal. São “direitos públicos subjetivos que investem o indivíduo no

status activae civitatis, permitindo-lhe o exercício concreto da liberdade de

participação nos negócios políticos do Estado, de maneira a conferir os atributos da

cidadania”.12

Gilmar Ferreira Mendes, também Ministro do Supremo Tribunal

Federal, ao tratar dos Direitos Políticos na Constituição, assevera que os direitos

políticos formam a base do regime democrático. A expressão ampla “refere-se ao

direito de participação no processo político como um todo, ao direito ao sufrágio

universal e ao voto periódico, livre, direto, secreto e igual, à autonomia de organização

do sistema partidário, à igualdade de oportunidade dos partidos”.13

E, de acordo com Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano

Nunes Júnior, “os direitos políticos, ou de cidadania, resumem o conjunto de direitos

12

Direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 216. 13

In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.779.

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20

que regulam a forma de intervenção popular no governo”. Em outros termos, “são

aqueles formados pelo conjunto de preceitos constitucionais que proporcionam ao

cidadão sua participação na vida pública do País”. Realiza, em última análise, o

disposto no parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal, que prescreve que “todo

o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou

diretamente, nos termos desta Constituição”. Nesse contexto, os direitos políticos

compreendem “os institutos constitucionais relativos ao direito de sufrágio, aos

sistemas eleitorais, às hipóteses de perda e suspensão dos direitos políticos e às regras

de inelegibilidade”.14

Dessa forma, não possui qualquer fundamento o argumento

constante do Parecer elaborado pela Comissão Eleitoral do Sport Club Corinthians e

acolhido pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, no sentido de aplicar as

disposições de ordem pública, que tratam dos Direitos Políticos, previstas no

Capítulo IV do Título II da Lei Maior (concernentes ao exercício da soberania popular

pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto), às relações eleitorais privadas,

como ao pleito eleitoral que ocorre para escolha do Presidente do Sport Club

Corinthians Paulista.

Por conseguinte, a Lei Complementar n. 64/1990, elaborada com

base no art. 14, § 9º, da Lei Maior, que estabelece casos de inelegibilidade e prazos de

cessão relativamente aos Direitos Políticos, cuja competência para conhecer e decidir

as arguições de inelegibilidade é da Justiça Eleitoral, não possui aplicação à eleição

em andamento para a escolha do Presidente do Sport Club Corinthians Paulista,

que se pauta eminentemente por normas civilistas.

Importante destacar que, mesmo não se aplicando a Lei

Complementar n. 64/1990 em relação ao caso sub judice, o pagamento de algumas

mensalidades de associados, por ele efetuado, não implicou, nem mesmo em tese,

suposto abuso de poder econômico, uma vez que os associados beneficiados pelo

pagamento foram excluídos de participar das eleições, fato esse inclusive, ocorrido

antes mesmo da inscrição do Autor como candidato à Presidência do Clube.

14

Curso de direito constitucional. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 263.

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21

Tanto é assim, que a deliberação tomada pela Comissão

Eleitoral no Parecer não foi tomada por unanimidade de votos dos integrantes do

Órgão Colegiado, mas sim por maioria de votos.

Nesse sentido, conforme consta do Parecer que propôs o

afastamento do Autor do pleito eleitoral, a deliberação foi tomada por maioria dos

votos da Comissão Eleitoral, ficando vencido o Conselheiro Manoel Félix Cintra Neto,

que entendeu não estar caracterizada qualquer infração eleitoral, pois a intervenção da

Comissão Eleitoral, afastando do pleito os associados indevidamente beneficiados pela

“anistia”, restaurou o equilíbrio da disputa e impediu que eventual propósito de

“compra de votos” fosse consumado (vide doc. 08).

De outro lado, também não assiste razão à Comissão Eleitoral e

ao Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, ao afirmarem que o Autor incidiu

em infração eleitoral, baseada em indícios da prática de ilícito similar ao previsto no

art. 299 do Código Eleitoral.

Os fatos tidos como infracionais, atribuídos ao Autor, são de

âmbito eminentemente privados, relacionados às eleições em andamento para a escolha

do Presidente do Sport Club Corinthians Paulista.

E, como antes visto, não se aplicam ao caso sub judice as

disposições que tratam dos Direitos Políticos previstos no art. 14 da Constituição

Federal, inclusive em relação ao estatuído no parágrafo 9º do citado dispositivo

normativo. O mesmo ocorre em relação à Lei Complementar n. 64/1990, elaborada de

acordo com o parágrafo 9º do art. 14 da Constituição Federal, no sentido de não ser

aplicada às eleições em andamento para escolha do Presidente do Sport Clube

Corinthians Paulista.

Por sua vez, o Código Eleitoral (Lei 4.737/65), em conformidade

com o disposto em seu art. 1º, contém normas destinadas a assegurar a organização e o

exercício dos Direitos Políticos, precipuamente os de votar e ser votado.

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22

Os crimes eleitorais, sob o aspecto material, são conceituados por

Suzana de Camargo Gomes, Desembargadora Federal, “como todas aquelas ações ou

omissões humanas, sancionadas penalmente, que atentem contra os bens jurídicos

expressos no exercício dos direitos políticos e na legitimidade e regularidade dos

pleitos eleitorais”. Em suma, os crimes eleitorais compreendem “todas a violações às

normas que disciplinam as diversas fases e operações eleitorais e resguardam valores

ínsitos à liberdade do exercício do direito de sufrágio e autenticidade do processo

eleitoral, em relação às quais a lei prevê a imposição de sanções de natureza penal”.15

Conforme orientação do Grupo Executivo Nacional da Função

Eleitoral – GENAFE, da Procuradoria-Geral Eleitoral: “A análise dos crimes eleitorais

revela que o legislador visou tutelar a lisura e legitimidade das eleições e do processo

eleitoral, a igualdade entre os candidatos e a regularidade da prestação administrativa

da Justiça Eleitoral. São inúmeros tipos penais que buscam, em uma ampla acepção,

garantir a mais legítima manifestação da vontade popular, de modo a assegurar a forma

democrática de governo pretendida na Constituição Federal”.16

Ainda de acordo com o GENAFE, a análise dos crimes eleitorais

previstos no Código Eleitoral ou em leis esparsas “demonstra que os vários tipos penais

têm como objetividade jurídica a proteção dos diversos aspectos do processo eleitoral,

com a finalidade de garantir a efetividade das normas que visam obter a mais legítima

manifestação da vontade popular. Assim, vai-se de crimes que protegem a regular

formação do corpo de eleitores até aqueles que procuram garantir a igualdade entre os

postulantes aos mandatos ou mesmo a liberdade de consciência do eleitor”.17

15

Crimes Eleitorais. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 27 e 28. 16

Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral – GENAFE - da Procuradoria-Geral Eleitoral.

Crimes eleitorais: apontamentos, apuração, jurisprudência. Disponível em: http://www.prmg.mpf.mp.br/eleitoral/eleitoral/informacoes/cartilha-crimes-eleitorais. P. 1. Acesso

em 27-01-2018. 17

Grupo Executivo Nacional da Função Eleitoral – GENAFE - da Procuradoria-Geral Eleitoral.

Crimes eleitorais: apontamentos, apuração, jurisprudência. Disponível em:

http://www.prmg.mpf.mp.br/eleitoral/eleitoral/informacoes/cartilha-crimes-eleitorais. P. 9. Acesso em 27-01-2018.

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23

A objetividade jurídica, nos crimes eleitorais, segundo Suzana de

Camargo Gomes, “está centrada no livre exercício dos direitos políticos, do direito de

votar e ser votado, e na garantia de um processo eleitoral legítimo, escoimado de

vícios, sem máculas, sendo que o Estado possui total interesse na proteção dessas

liberdades públicas, posto que fundamentais para constituição e pleno desenvolvimento

de suas funções institucionais”.18

Da mesma forma, para Guilherme de Souza Nucci, o objeto

jurídico do crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral “é a regularidade do processo

eleitoral, que consagra o sufrágio universal e a democracia pluripartidária”.19

Embora o Código Eleitoral não se aplique ao caso sub judice, mas

somente para efeito de argumentação, Suzana de Camargo Gomes, Desembargadora

Federal, ao tratar do crime eleitoral previsto no art. 299 do Código Eleitoral, citando

precedente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE, RFEspE 10.399-DF, rel. Min.

Romildo Bueno de Souza, Boletim Eleitoral, v. 02-01, p. 341), assevera que, “se a

oferta, a promessa ou dádiva é realizada com a finalidade de beneficiar quem nem

sequer chega a ser candidato, também não há falar em crime de corrupção eleitoral,

posto que falta um dos segmentos do tipo, expresso na finalidade da atividade

criminosa, voltada a obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção”. 20

Conclui-se, assim, que o Código Eleitoral, recepcionado pela

Constituição Federal de 1988,21 aplica-se somente às questões afetas aos Direitos

Políticos. E, como fartamente demonstrado, a matéria afeta à eleição junto ao Sport

Club Corinthians Paulista não se insere nos Direitos Políticos previstos no art. 14 da

Lei Maior, sendo, pois, regida por normas de Direito Privado, entre as quais, o

Código Civil.

18

Crimes Eleitorais. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 36. 19

Leis penais e processuais penais comentadas. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, v. 1.p. 189. 20

Crimes Eleitorais. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 201. 21

GOMES, Suzana de Camargo. Crimes Eleitorais. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 30.

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24

Por fim, importante destacar que a jurisprudência de nossos

Tribunais, inclusive do Superior Tribunal de Justiça, não admite a analogia in malam

partem no caso de aplicação de penalidades, como verificado no caso sub judice pela

Comissão Eleitoral e pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Clube, ao

fundamentarem a inelegibilidade e o afastamento do Autor do pleito eleitoral e sua

inelegibilidade com base em aplicação analógica de disposições penais eleitorais.

Nesse sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça que, no caso

de aplicação de penalidades, deve-se utilizar um princípio geral de direito, que cuida

da vedação da analogia em desfavor do sancionado, de sorte a somente admitir a

analogia in bonam partem (espécie que se utiliza de situações semelhantes para

solucionar o caso sem agravar a pena), e não a analogia in malam partem (espécie que

agrava a pena em pressupostas hipóteses não abrangidas pela lei).22

Por conseguinte, não há possibilidade jurídica de vir a ser

praticado o crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral (“dar, oferecer, prometer,

solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra

vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a

oferta não seja aceita”), no tocante a relações eminentemente privadas, não afetas ao

exercício de Direitos Políticos, como no caso sub judice, em que o Autor Paulo Sergio

Menezes Garcia pretende tão somente participar da eleição para Presidente do Sport

Club Corinthians Paulista.

3. DA TUTELA DE URGÊNCIA

A tutela de urgência, nos termos do art. 300 do Código de

Processo Civil, “será concedida quando houver elementos que evidenciem a

probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”.

22

Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 1.216.190-RS. 2ª Turma, v.u., j. 2-2-2010, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe, 14-12-2010.

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25

Portanto, uma vez presentes os requisitos da verossimilhança das

alegações e do fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação em face do

ato praticado pelo Sport Club Corinthians, faz jus o Autor à concessão da Tutela de

Urgência inaudita altera pars.

De fato, como restou fartamente demonstrado nos autos: o

Procedimento Apuratório é nulo, por cerceamento de defesa do Autor; a suposta

“anistia” referida na Portaria Inicial foi praticada única e exclusivamente pela Diretoria

do Clube, que tinha Competência Estatutária para tanto; a suposta “anistia” foi

publicada regularmente pelo Clube em 01-12-2017, de forma que a partir de então

passou a produzir efeitos em relação aos associados; o Autor, quando da edição da

suposta “anistia”, não exercia, assim como ainda não exerce, qualquer cargo

administrativo na Agremiação; o Autor, quando do pagamento de algumas

mensalidades de alguns associados, fato esse ocorrido no início de dezembro de 2017,

não era candidato à Presidência do Clube e ainda não sabia se o seria, sendo que sua

inscrição como candidato verificou-se apenas em 18 de dezembro de 2017; o

pagamento realizado pelo Autor, de mensalidades de alguns associados, não foi feito

com o fim de comprar votos, até porque quando do fato nem mesmo era candidato às

eleições do Clube; os associados beneficiados com o pagamento das mensalidades,

inclusive as realizadas pelo Autor, estão impedidos de participar das eleições do Clube;

o pagamento de dívida de terceiro implica negócio jurídico não vedado pela legislação

civil, exceto nos casos eventualmente previstos em lei, exceção essa não verificada no

caso sub judice; o Autor não violou ou feriu qualquer das disposições constantes dos

artigos 43 e 44 do Estatuto Social do Sport Club Corinthians Paulista, que dispõem

sobre os requisitos necessários para a inscrição de candidaturas; a Lei Complementar n.

64/1990 e o Código Eleitoral são disposições de ordem pública, aplicáveis em relação

aos Direitos Políticos, e não incidem no tocante às relações privadas, como no caso sub

judice.

Portanto, a probabilidade do direito invocado pelo Autor é

manifesta, direito esse que foi maculado pela decisão do Sport Club Corinthians

Paulista, que o declarou inelegível e o afastou, ao arrepio dos fatos, da lei e do direito,

de concorrer às eleições para o cargo de Presidente do Clube.

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26

A medida ora buscada sob a forma de tutela de urgência não será

irreversível, de forma que sua concessão inaudita altera pars não fere o disposto no art.

300, § 3º, do CPC. Isso porque o Autor, caso venha a vencer o pleito eleitoral para a

Presidência do Sport Clube Corinthians, e mesmo que venha a tomar posse no cargo,

poderá ser afastado a qualquer momento futuro pela Agremiação, desde que exista

fundamento jurídico para tanto e que sejam preservados os direitos à ampla defesa e ao

contraditório, prerrogativas essas constitucionais.

Importante destacar que, em decisão relativa ao § 2º do art. 273 do

CPC/1973, que corresponde ao § 3º do art. 300 do CPC/2015, o Superior Tribunal de

Justiça decidiu que “a exigência da irreversibilidade prevista na legislação processual

não pode ser levada ao extremo, sob pena de o novel instituto da tutela antecipatória

não cumprir a excelsa missão a que se destina”.23 Assim, a exigência legal da

reversibilidade da medida de urgência deve ser tomada cum grano salis, comportando

mitigações quando estiver em jugo um valor igualmente caro ao ordenamento

jurídico.24

Por outro lado, a manutenção da proibição de sua candidatura ao

pleito eleitoral do Sport Clube Corinthians Paulista será irreparável em relação ao

direito do Autor, caso a eleição seja realizada em 3 de fevereiro de 2018 sem a sua

participação, o que demonstra o periculum in mora. Nesse contexto, eventual negativa

da medida de urgência inaudita altera pars ora pleiteada, implica evidente perigo de

dano ou em evidente risco ao resultado útil do processo, em face da efetivação do

processo eleitoral que se realizará no dia 3 de fevereiro de 2018 no âmbito do Sport

Club Corinthians, sem que tenha havido a participação do Autor no pleito eleitoral

como candidato à Presidência.

No caso sub judice, impedir a participação do Autor no pleito

eleitoral do Sport Club Corinthians Paulista implica flagrante violação aos princípios

constitucionais democráticos do Estado de Direito Brasileiro.

23

Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 144.6565, j. 06.10.97, rel. Min. Adhemar

Maciel, DJU, 27.10.97. 24

Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 408.828, j. 13.05.05, rel. Min. Barros Monteiro, DJU, 05.05.2005.

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Dessa forma, evidenciada a probabilidade do direito, bem como o

perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, além da inexistência do perigo

de irreversibilidade dos efeitos da decisão judicial ora buscada, requer-se o

deferimento da tutela de urgência inaudita altera pars, nos termos da Lei, com a

imediata expedição de ordem judicial para a suspensão dos efeitos da decisão proferida

em 29.01.2018 pelo Presidente do Conselho Deliberativo, que o declarou inelegível e

retirou seu direito de participar das eleições para a Presidência do Clube a ser realizada

no dia 3 de fevereiro de 2018, permitindo ao Autor, por conseguinte, participar em

referido pleito eleitoral, como forma de evitar grave e irreparável dano ao Autor e

evitar risco irreparável ao resultado útil do processo.

4. DO PEDIDO

Diante do exposto, o Autor Paulo Sergio Menezes Garcia requer à

Vossa Excelência a concessão da medida de tutela de urgência inaudita altera pars,

com a imediata expedição de ordem judicial, para a suspensão dos efeitos da decisão

proferida em 29.01.2018, pelo Presidente do Conselho Deliberativo do Sport Club

Corinthians Paulista (doc. 09), que acolheu o Parecer da Comissão Eleitoral – 2018, e

retirou do Autor o direito de participar das eleições para a Diretoria do Clube, a ser

realizada no próximo dia 3 de fevereiro de 2018, permitindo ao Autor a participação

em referido pleito eleitoral, como forma de evitar grave e irreparável dano ao Autor e

evitar risco irreparável ao resultado útil do processo.

No mérito, o Autor requer a procedência da presente ação

declaratória, com a confirmação da decisão que antecipou a tutela de urgência

pretendida, para o fim de se declarar nula a decisão que acolheu a Impugnação à

candidatura do Autor e o declarou inelegível, bem como declarar a legitimidade de sua

inscrição ao pleito eleitoral a ser realizado no dia 3 de fevereiro de 2018 no âmbito do

Sport Club Corinthians Paulista, tendo em vista, entre outros elementos demonstrados

nos autos, que: o Autor teve cerceado seu direito constitucional à ampla defesa; não há

vedação constitucional, legal ou estatutária para que o Autor venha a ser candidato ao

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cargo de presidente do Clube; cumpriu todos os requisitos estatutários para inscrição e

participação na eleição; é nula a decisão do Clube que acolheu a impugnação à

candidatura do Autor, uma vez que não participou, de qualquer forma, da suposta

“anistia” referida pela Comissão Eleitoral na peça inaugural do Procedimento

Apuratório do Clube; agiu o Autor sempre pautado pela legislação em vigor e pelo

estatuto social do Clube; não interferiu, de qualquer forma, no processo eleitoral do

Clube; não há vedação legal, em relação ao autor, para celebrar negócio jurídico civil,

efetuando o pagamento de dívida de terceiro; e sobretudo porque não lhe são

aplicáveis, nem mesmo por analogia, as disposições da Lei Complementar 64/1990

(abuso do poder econômico) e o art. 299 do Código Eleitoral (crime eleitoral).

Requer o Autor, ainda, a citação do Sport Club Corinthians

Paulista para que, querendo, apresente sua defesa, nos termos da lei processual, sob as

penas de se configurar a revelia e serem considerados verdadeiros os fatos narrados na

presente petição inicial.

Requer o Autor, outrossim, que todas as publicações sejam

realizadas em nome de Maitê Cazeto Lopes, advogada inscrita na OAB/SP n. 184.422,

sob pena de nulidade.

Protesta pela produção de todos os meios de prova em direito

admitidos, inclusive pela oitiva de testemunhas, as quais serão oportunamente

arroladas, dando-se à causa o valor de R$10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, 29 de janeiro de 2018.

Eduardo Silveira Melo Rodrigues José Antonio Remedio OAB/SP nº 48.931 OAB/SP nº 79.094

Maitê Cazeto Lopes OAB/SP nº 184.422

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