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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOMINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTOPROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIMPROMOTORIA DE JUSTIÇA DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM - ES
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, por seu Promotor de Justiça, com fundamento nos arts. 129, II,
da Constituição Federal e art. 1º, IV, da Lei 7.347, de
24.07.85 (Lei de Ação Civil Pública) e pelos motivos de
fato e de direito a seguir expostos, cumpre propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
em face da FUNDAÇÃO EDUCACIONAL VALE DO ITAPEMIRIM – FEVIT, conhecida como FDCI - FACULDADE DE DIREITO DE CACHOEIRO DE
ITAPEMIRIM, CNPJ 03.715.369/0002-50, com domicílio na Rua
Mário Imperial, 56, Caixa Postal 14, Bairro dos
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Ferroviários, nesta cidade, pelos fatos e fundamentos
jurídicos que passará a expor:
I) LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
O vigente texto constitucional confere legitimidade ao
Ministério Público para zelar pelo efetivo respeito dos
Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados na Constituição, promovendo as medidas
necessárias a sua garantia; ao mesmo tempo, assegura, como
função institucional, a promoção da ação civil pública para
a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos (artigos 127 e
129, II e III, C.F.):
“Art. 127 - O Ministério Público é
instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais
indisponíveis.
(...)”
“Art. 129 - São funções
institucionais do Ministério
Público:
(...)
II - zelar pelo efetivo respeito dos
Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos
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assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a
sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a
ação civil pública, para a proteção
do patrimônio público e social, do
meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos;
(...)”
Ampliando a previsão constitucional, a Lei nº
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), dispõe em seu
artigo 81 e parágrafo único, que a defesa dos interesses e
direitos dos consumidores pode ser exercida individual ou
coletivamente, entendendo-se dentre estes últimos, além dos
interesses coletivos e difusos, também os interesses ou
direitos individuais homogêneos - decorrentes de origem
comum (inc. III). A mesma lei, outrossim, atribui ao
Ministério Público a legitimidade para ajuizar as ações
Art. 81 - A defesa dos interesses e
direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva
será exercida quando se tratar de :
(...)
III - interesses ou direitos
individuais homogêneos, assim
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entendidos os decorrentes de origem
comum.
Art. 82 - Para os fins do artigo 81,
parágrafo único, são legitimados
concorrentemente:
I - o Ministério Público;
(...)
Art. 91 - Os legitimados de que trata
o artigo 82 poderão propor em nome
próprio e no interesse das vítimas ou
seus sucessores, ação civil coletiva
de responsabilidade pelos danos
individualmente sofridos, de acordo
com o disposto nos artigos seguintes.
Art. 92 - O Ministério Público, se
não ajuizar a ação, atuará sempre
como fiscal da lei.
A jurisprudência é tranqüila no sentido de
aceitar o Ministério Público como legitimado para defender
interesses homogêneos difusos como o direito pleiteado na
presente ação.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE
DOMINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
INACOLHIMENTO. INSTITUIÇÃO PARTICULAR
DE ENSINO SUPERIOR. COBRANÇA DE TAXA
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PARA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA.
IMPOSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DA
RESOLUÇÃO 03/89 DO CONSELHO FEDERAL
DE EDUCAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE
TAL ENCARGO PARA O ALUNADO. ERRO
MATERIAL. CORREÇÃO PELO TRIBUNAL.
POSSIBILIDADE. RECUROS IMPROVIDOS. 1.
É sabido que a Lei n. 7.347/85 - Lei
da Ação Civil Pública cuida apenas da
tutela de interesses transindividuais
todavia, em se tratando da defesa em
juízo dos interesses transindividuais
dos consumidores, a LACP e o Código
de Defesa do Consumidor devem ser
aplicados em conjunto, pois se
complementam. 2. Há nitida relação de consumo entre as instituições particulares de ensino e seu corpo discente, sendo perfeitamente aplicável a hipótese prevista no art. 82, I do CDC, o qual legitima, concorrentemente, o Ministério Público para a defesa dos interesses e direitos dos consumidores coletivamente. (TRF 5ª R - AC 320042 - Processo: 200283000018931/PE - 2ª T
- J. 01/06/2004 - Relator(a) Petrucio
Ferreira - v.u.)
Vale destacar, também o posicionamento da
doutrina sobre o tema.
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NELSON NERY JÚNIOR: "Convém salientar que ao Ministério Público foi
conferida legitimidade para propor
ação coletiva para a defesa de
direitos individuais tratados
coletivamente (art. 81, par. único,
nº III, CDC). Muito embora essa
legitimação não esteja no art. 129,
nº III, da CF, é possível à lei
ordinária cometer outras atribuições
ao Ministério Público, desde que
compatíveis com suas finalidades
institucionais (art. 129, nº IX, CF).
As normas do CDC são, ex lege, de ordem pública e interesse social
(art. 1º, CDC). Ao definir o perfil
institucional do Ministério Público,
o art. 127, da CF, diz ser o parquet
instituição que tem por finalidade a
defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. A
categoria jurídica dos direitos e
interesses individuais homogêneos foi
delineada no CDC posteriormente à
Constituição Federal. Assim, o
ajuizamento, pelo Ministério Público,
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de ação coletiva para a defesa de
direitos individuais homogêneos
tratados coletivamente está em
perfeita consonância com suas
finalidades institucionais, sendo
legítima a atribuição, ao Ministério
Público, dessa legitimidade para
agir, pelos arts. 81 e 82, do CDC, de
conformidade com os arts. 127 e 129,
nº IX, da CF." (cf. "Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto", Forense Universitária, 1992, pág. 627).
KAZUO WATANABE: "Foi a relevância
social da tutela a título coletivo dos
interesses ou direitos individuais
homogêneos que levou o legislador a
atribuir ao Ministério Público e a
outros entes públicos a legitimação
para agir nessa modalidade de demanda
molecular, mesmo em se tratando de
interesses e direitos disponíveis" (cf.
pág. 511; em sentido semelhante: JOÃO BATISTA DE ALMEIDA, "A Proteção Jurídica do Consumidor", São Paulo,
Saraiva, 1993, pág. 156).
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Por fim, há que se considerar que os interesses
defendidos na presente ação referem-se à educação, extrema
e cuidadosamente tratada pela Constituição Federal e
legislação ordinária, já que, como é cediço, é a base para
o desenvolvimento humano, social e econômico, sendo direito
diretamente ligado à cidadania e à formação e
desenvolvimento individuais(dignidade).
II – DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL
A presente demanda versa sobre a cobrança de uma
“taxa” para a confecção de diploma pelo réu, correspondente
ao valor de R$120,00 (cento e vinte reais), exigindo,
também, a “taxa” de R$40,00 (quarenta reais) para a
confecção do certificado de estágio, e, ainda, exige que os
formandos paguem a “taxa” de registro do diploma (R$30,00 –
trinta reais) em favor da UFES. A soma das referidas
“taxas” totaliza o valor de R$190,00 (cento e noventa
reais).
Insta ressaltar que o valor exigido é para benefício
exclusivo do réu, ou seja, não é destinado a União ou
qualquer entidade federal.
Sendo assim, por não serem valores que deveriam ser
destinados à União, inexiste razão para o processamento e
julgamento pela Justiça Federal. Até porque a matéria da
presente demanda não é referente a delegação do serviço,
pois versa sobre um descumprimento de contrato e de uma
prática abusiva na seara do Consumidor.
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O fato de um serviço prestado pela instituição de
ensino descumprir normas do Código de Defesa do Consumidor
e resoluções do Conselho Federal de Educação não tem o
condão de atribuir a condição de ré para a União. Não há
prova de que a União foi omissa no seu dever de fiscalizar.
O rol de competência do art. 109 da CRFB é taxativo e
não inclui que necessariamente os serviços delegados pela
União farão com que todas as causas envolvendo os
delegatários (serviços delegados) serão de competência da
Justiça Federal.
É evidente, todavia, que se no curso da causa a União
manifestar interesse na condição de assistente poderá
ocorrer a alteração da competência.
Contudo, não há que se presumir tal interesse, até
porque é a União que tem que se manifestar se possui ou não
interesse jurídico na causa.
Como ré, a União só figuraria no pólo passivo se
ficasse devidamente comprovada a omissão no dever de
fiscalizar, mas não foi o que ocorreu no caso em tela.
Deve-se ressaltar que a lesão aos direitos individuais
homogêneos ficou adstrita a relação contratual e
consumerista entre alunos e a Faculdade de Direito, não
existindo qualquer ato direto da União, ou uma vantagem
direta ou indireta deste ente federativo com a ilegalidade
que se questiona na presente demanda.
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Por outro lado, é sabido que a Constituição da
República (art. 207) criou a autonomia universitária, de
modo que possuam independência administrativa e na gestão financeira.
É óbvio que está autonomia não é absoluta, devendo
seguir parâmetros delineados por nossas leis (Código de
Defesa ao Consumidor, entre outras) e pelas Resoluções do
Conselho Nacional de Educação.
Por existir esta autonomia administrativa a
responsabilidade judicial pelos atos praticados é um
corolário lógico da mesma, já que não se pode imaginar uma
autonomia sem a conseqüente responsabilidade. Não há que se
vincular necessariamente a União sempre que uma instituição
de ensino superior for parte na demanda, também em razão da
referida autonomia estabelecida no art. 207 da Constituição
da República.
Vale mencionar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal
têm interpretado literalmente o art. 109 da CRFB (rol
taxativo de competência da Justiça Federal). Assim sendo,
até mesmo concessionárias de serviço público federal e
Sociedades de Economia Mista não são processadas e julgadas na Justiça Federal, salvo se comprovado interesse jurídico
da União:
"Sobre a competência, está
pacificado o entendimento de que não
havendo interesse jurídico da União
Federal no feito, como no presente
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caso, em se tratando de empresa
concessionária de serviço público e
particular, a competência é da
Justiça Estadual, v.g., AI 388.982-
AgR, 1º-10-2002, 2ª T., Velloso; e RE
210.148, 5-5-1998,1ª T., Gallotti."
(AI 607.035-AgR, voto do Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 12-
12-06, DJ de 9-2-07). No mesmo
sentido: AI 597.052-AgR, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgamento em 2-
3-07, DJ de 23-3-07; AI 650.085-AgR,
Rel. Min. Celso de Mello, julgamento
em 19-6-07, DJ de 5-10-07.
Por fim, em caso semelhante, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro reconheceu a competência da Justiça Estadual para julgar o feito, tanto que decidiu da seguinte forma:
Apelacao Civel. Declaratoria.
Autonomia universitaria. Reconhecendo
o insubstituivel papel da
universidade criada e mantida pela
iniciativa privada, o legislador
constituinte a consagrou no texto da
Carta Politica, ao lado das
instituicoes mantidas pela iniciativa
estatal. A ideia de autonomia
financeira da universidade privada há
de compreender a liberdade de fixacao
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das mensalidades, anuidades, taxas ou
contribuicoes, sem o que se
inviabilizam a autonomia da gestao
financeira e a propria sobrevivencia
da instituicao. Licitude na cobranca
das mensalidades escolares acrescidas
das cominacoes legais. Diploma de conclusao de curso e identidade estudantil isentos de taxas por estarem seus custos inseridos na anuidade escolar. Onus sucumbenciais. Inteligencia do paragrafo unico, do
art. 21, do CPC. Acao procedente em
parte. Sentenca confirmada. Apelos
desprovidos. (PCF) (1990.001.03539 - TJ-RJ – 8ª Câmara Cível - Rel. Des.
Celso Guedes – Julgamento 19/03/1992)
Cumpre destacar, ainda, que no caso em tela a FDCI -
Faculdade de Direito de Cachoeiro de Itapemirim possui
natureza de fundação pública municipal, criada pela Lei Municipal 4955/2000, não, sendo, portanto, de natureza privada.
Ademais, trata-se de uma instituição que visa a
prestação de um serviço público relevante, a educação.
Sendo assim, por força do art. 39-A, III, “f”, c/c art. 63,
III, “b” e “e”, da Lei Complementar Estadual nº 234/02, a
competência pertence ao MM. Juiz da Fazenda Pública Municipal da comarca de Cachoeiro de Itapemirim/ES.
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III - DOS FATOS
No dia 03/12/2007 alunos da Faculdade de Direito de
Cachoeiro de Itapemirim compareceram na Promotoria de
Justiça irresignados com a cobrança de um valores para a
confecção do diploma e registro do mesmo, além da cobrança
de uma “taxa” de certificado de estágio.
Verificando que os valores cobrados não tinham
fundamento contratual e legal, o Ministério Público expediu
a Recomendação Administrativa nº 004/2007 para o fim de
buscar um solução extrajudicial ao caso.
Embora alertada sobre a ilegalidade, o réu preferiu
alegar que a atribuição é do Ministério Público Federal e
não se comprometeu expressamente a restituir os valores
pagos e a não cobrá-los dos alunos.
Vale ressaltar os formandos se sentem injustiçados com
a referida cobrança, pois contribuíram pelo menos 05
(cinco) anos para o réu com o fim de ao final obterem os
diplomas. No entanto, sem qualquer embasamento jurídico e
contrariando resoluções do Conselho Federal de Educação, o
réu decidiu cobrar “taxas” para confeccionar o diploma e
registrá-lo, além de cobrar uma taxa para o certificado de
estágio.
Veja que até mesmo o registro do diploma está sendo
cobrado pela faculdade, determinando que os alunos paguem
um boleto bancário em favor da UFES, referente a taxa para
registro do diploma.
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Assim, caso o aluno se negue ao pagamento das
referidas “taxas”, não terão direito ao diploma e este não
será devidamente registrado junto ao órgão federal com
atribuição para tanto.
IV - FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A) Da existência de norma federal que proíbe a cobrança de
taxa para a expedição e registro de diploma
Inicialmente, temos que todos os cursos ministrados
pelo réu são remunerados por seus alunos em contraprestação
pelos serviços prestados. Dentre esses, inserem-se as aulas
ministradas e todos os demais serviços inerentes ao
objetivo último do aluno, qual seja, graduar-se e obter o
almejado diploma, com o seu respectivo registro no órgão
oficial competente.
É certo que as faculdades dispõem e oferecem aos
discentes outros serviços como transferência, xerox, 2ª via
de documentos, expedição de cartões magnéticos para acesso
ao sistema informatizado da instituição, entre outros, que
podem ser remunerados pelos alunos. Por óbvio, todos estes
serviços podem ser cobrados e estão dentro do âmbito da
autonomia universitária prevista no art. 207 da CRFB.
Todavia, entende-se como abusiva a cobrança da taxa para expedição e registro do diploma de conclusão do curso, pois tal situação encontra-se proibida por normas federais como serão abaixo transcritas.
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Em relação a esse tema, tinha-se a Resolução nº 1, de
14 de janeiro de 1983, editada pelo antigo Conselho Federal
de Educação, hoje Conselho Nacional de Educação, que
dispunha:
Resolução nº 01, de 14 de janeiro de
1983 - Disciplina a cobrança de
encargos educacionais nas
instituições escolares do sistema
federal de ensino.
Art. 1º - A fixação e o reajuste dos
encargos educacionais correspondentes
aos serviços de educação prestados
pelas instituições vinculadas ao
sistema federal de ensino, de todos
os níveis, ramos e graus, inclusive
de suprimento ou suplência e
quaisquer outros correspondentes,
serão estabelecidos nos termos desta
Resolução, tendo em vista o disposto
no Decreto-Lei nº 532, de 16 de abril
de 1969.
Art. 2º Constituem encargos
educacionais de responsabilidade do
corpo discente:
I - a anuidade;II - a taxa;
III - a contribuição.
§ 1º A anuidade escolar, desdobrada em duas
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semestralidades, constitui a
contraprestação pecuniária
correspondente à educação ministrada
e à prestação de serviços a ela
diretamente vinculados, como a
matrícula, estágios obrigatórios,
utilização de laboratórios e
biblioteca, material de ensino de uso
coletivo, material destinado a provas
e exames, 1ª via de documentos para
fins de transferência, de
certificados ou diplomas (modelo oficial ) de conclusão de cursos, de
identidade estudantil, de boletins de
notas, de cronogramas, de horários
escolares, de currículos, e de
programas.
§ 2º A taxa escolar remunera, a
preços de custo, os serviços
extraordinários efetivamente prestados ao corpo discente como a 2ª
chamada de provas e exames,
declarações, e de outros documentos
não incluídos no § 1º deste artigo,
atividades extra-curriculares
optativas, bem como os estudos de
recuperação, adaptação e dependência,
prestados em horários especiais com
remuneração específicas para os
professores.
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§ 3º A contribuição escolar remunera
os serviços de alimentação, pousada e
transporte e demais serviços não
incluídos nos parágrafos anteriores,
efetivamente prestados pela
instituição.
Tal Resolução foi modificada pela Resolução nº 03/89,
também do Conselho Federal de Educação, que substituiu os
termos “anuidade” por “mensalidade” constantes do artigo 4º da Resolução 01/83 e suprimiu o termo “diploma” do
parágrafo primeiro, ficando com a seguinte redação:
‘Resolução nº 03, de 13 de outubro de
1989 - Disciplina a cobrança de
Encargos Educacionais nas
Instituições do Sistema Federal de
Educação
Art. 4º Constituem encargos
educacionais de
responsabilidade de corpo discente:
I – a mensalidadeII – a taxa
III – a contribuição.
§ 1º A mensalidade escolar constitui a contraprestação pecuniária
correspondente à educação ministrada
e à prestação de serviços a ela
diretamente vinculados como
matrícula, estágios obrigatórios,
utilização de laboratórios e
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biblioteca, material de ensino de uso
coletivo, material destinado a provas
e exames, de CERTIFICADOS DE CONCLUSÃO DE CURSOS, de identidade estudantil, de boletins de notas,
cronogramas, de horários escolares,
de currículos e de programas.
§ 2º A taxa escolar remunera, a
preços de custo, os serviços
extraordinários efetivamente prestados ao corpo discente como a
segunda chamada de provas e exames,
declarações, e de outros documentos
não incluídos no § 1º deste artigo,
atividades extracurriculares
optativas, bem como os estudos de
recuperação, adaptação e dependência
prestados em horários especiais com
remuneração específica para os
professores.
§ 3º A contribuição escolar da
instituição remunera os serviços de
alimentação, pousada e transporte e
demais serviços não incluídos nos
parágrafos anteriores.
Art. 11 - É vedada qualquer forma de
arrecadação
paralela obrigatória de receita.
Art. 13 - A instituição de ensino
devolverá ao aluno
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qualquer valor cobrado em excesso ou
em desacordo com esta Resolução ou
decisão do Conselho Federal de
Educação.
Parágrafo único. A devolução de que
trata este art.
observará o mesmo critério
estabelecido no art. 7º da presente
Resolução1.
A jurisprudência, com o advento da Resolução nº 03/89
(que, como visto, dentre outras coisas suprimiu o termo
“diploma” do parágrafo primeiro do artigo 4º), firmou
entendimento no sentido de que os custos com o diploma
sequer deveriam ser arcados pelos alunos através de sua
“diluição” nas mensalidades, mas sim, exclusivamente, pela
instituição educadora:
MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO
SUPERIOR. EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA.
CONDICIONAMENTO AO PAGAMENTO DE TAXA.
RESOLUÇÃO 03/89 DO CONSELHO FEDERAL
DE EDUCAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO DE
TAL ENCARGO PARA O ALUNADO. 1. Com o
advento da Resolução 03/89 do
Conselho Federal de Educação revogou-
se a Resolução 01/83, instrumento no
qual constava, claramente, que a
anuidade - encargo de
responsabilidade do aluno - já
englobava as despesas de emissão de
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diploma. Ocorre que a novel Resolução
03/89 além de modificar a
nomenclatura de anuidade para
mensalidade, excluiu a expressão " diploma", pelo que se conclui que a expedição de tal documento passou a ser encargo exclusivo da Instituição de Ensino, não mais estando embutido na mensalidade paga pelo
universitário. 2.
Irreparável a decisão monocrática que
reconheceu aos autores o direito de
perceberem seus diplomas
independentemente do pagamento de
taxa; 3. Remessa Oficial improvida.
(TRF 5ª R - REO 88521 - Processo:
200081000222661/CE - 2ª T - J.
05/10/2004 - Relator(a) Petrucio
Ferreira)
"ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
SEGURANÇA. ENSINO SUPERIOR. EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA. RETENÇÃO. ILEGALIDADE. EXIGÊNCIA DE PAGAMENTO DE TAXAA instituição de ensino superior, por
já cobrar anuidade escolar, na qual
está incluída a primeira via de
expedição de certificados ou diplomas
no modelo oficial, não podem cobrar
taxa para expedir primeira via de
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diploma do aluno, tampouco reter a expedição do documento até pagamento
da taxa estabelecida. Remessa oficial à qual se nega provimento." (Tribunal
Regional Federal da 1ª Região, REOMS
n° 2003.36.00.013030-0/MT, rel.
Desembargadora Federal Maria Isabel
Galotti Rodrigues, Julg. 12.05.2006,
DJ 29.05.2006 p. 177, grifos
acrescidos).
“MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO
SUPERIOR.
EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA INDEPENDENTE DOPAGAMENTO DE TAXA. POSSIBILIDADE.A universidade privada está adstrita
ao cumprimento das normas gerais da
educação nacional. A Resolução do
Conselho Federal de Educação (Res. Nº
01/83) determinou que a expedição da
1ª via de diploma está compreendida
no valor da mensalidade paga.
Remessa oficial improvida.” (Tribunal
Regional Federal da 5ª Região, REO nº
055973-6/CE, rel. Desembargador
Federal Nereu Santos. Julg.
18.05.2000, DJ 31.07.2000, p. 672,
grifos acrescidos)
Em suma, verifica-se nitidamente que a expedição e o registro de diplomas, assim como o certificado de
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estágio, não podem ser considerados serviços extraordinários pelo réu, pois o pagamento por tais serviços já se encontram realizados nas mensalidades escolares pagas durante todo o período de graduação dos alunos.
B) Da existência de direito difuso e coletivo
Após a análise dos dispositivos legais acima, mostra-
se que a facilitada e desembaraçada diplomação dos
formandos é item público. Trazer o debate para o cenário
das regulações eminentemente privadas, a versar sobre
regras contratuais, seria sem propósito. A certificação não está atrelada ao contrato de prestação de serviços firmado entre unidade de ensino e estudante. Seu propósito é outro: permitir que o recém graduado exerça profissionalmente os conhecimentos e técnicas obtidas nos bancos acadêmicos.
É importante ressaltar também que a questão essencial
em discussão relaciona-se com educação e sempre que tal
tema estiver em destaque, presente se encontra um direito
difuso, considerando os princípios e normas que regem o
sistema de ensino no Brasil (CF, Lei nº 9.394/96 - LDB e
CDC - art. 81).
Destaque-se, também, que em decorrência de uma prática
abusiva várias pessoas sofreram um dano patrimonial
(aqueles que pagaram as “taxas”) e outros estão sendo
cobrados indevidamente para tanto, impedindo, assim, a
obtenção do diploma.
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Convém consignar que os interesses ditos individuais
homogêneos (Lei 8.078/90, art. 81, III), que se apresentam
“uniformizados pela origem comum”, a despeito de, na sua
essência remanescerem individuais, podem e até devem ser
tutelados, processualmente falando, de forma coletiva
(arts. 90 a 100 do mesmo diploma legal).
Art. 81. A defesa dos interesses e
direitos dos consumidores e das
vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva
será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos,
assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de
natureza indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos
coletivos, assim entendidos, para
efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza
indivisível de que seja titular
grupo, categoria ou classe
de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação
jurídica base;
III - interesses ou direitos
individuais homogêneos, assim
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entendidos os decorrentes de origem
comum.
Art. 90. Aplicam-se às ações
previstas neste título as normas do
Código de Processo Civil e da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985,
inclusive no que respeita ao
inquérito civil, naquilo que não
contrariar suas disposições.
C) Da Abusividade da cobrança de taxa
A proteção conferida pelo CDC contra a abusividade de
cláusulas contratuais é suficiente para afastar em
definitivo a exigibilidade da “taxa” em comento. Dispõe o
art. 51 do referido Código:
“Art. 51 - São nulas de pleno
direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que:
(...)
IV- estabeleçam obrigações iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a
eqüidade;
(...)
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X- permitam ao fornecedor, direta ou
indiretamente, variação do preço de
maneira unilateral;
(...)
§ 1º - Presume-se exagerada, entre
outros casos, a vantagem que:
(...)
II- restringe direitos ou obrigações
fundamentais inerentes à natureza do
contrato, de tal modo a ameaçar seu
objeto ou o equilíbrio contratual;
(...)”
Ora, sendo a expedição e registro do diploma ato
indissociável da conclusão do curso, a cobrança de uma
prestação adicional, estranha às mensalidades regularmente
pagas pelo discente, restringe sobremaneira o direito
fundamental do concluinte de obter, ao final do curso e sem
ônus para tanto, o documento que, a teor do art. 48 da Lei
9394/96, atesta sua habilitação para exercer a profissão
escolhida:
“Art. 48. Os diplomas de cursos
superiores reconhecidos, quando
registrados, terão validade nacional
como prova da formação recebida por
seu titular.”
Cumpre ressaltar que a fixação do preço da “taxa” combatida nestes autos se faz unilateralmente pela instituição de ensino, implicando séria ameaça ao
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equilíbrio contratual, já debilitado ante a desigualdade
econômica existente entre as partes, caracterizando-se,
portanto, a abusividade e ilegalidade dessa cobrança.
Até porque, sequer consta no contrato do réu a
cobrança das referidas “taxas”. E mesmo se existisse a
referida previsão o art. 51 da lei 8078/90 dispõe que a
mesma seria nula de pleno direito.
D) Da restituição do valor pago indevidamente
Não seria justo permitir que o réu se beneficiasse da
prática abusiva em tela, em detrimento daqueles que com
receio de não obterem o diploma efetuaram o pagamento da
“taxas” cobradas ilegalmente.
Sendo assim, torna-se imprescindível a aplicação do
art. 42, parágrafo único, da Lei 8072/90, verbis:
“Art. 42. (...)Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em
excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável.”
O réu deve, portanto, restituir em dobro os valores
pagos indevidamente pelos alunos que pagaram as referidas
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“taxas”, já que ficou comprovado se tratar de uma cobrança
ilegal e abusiva.
Ainda que o Juízo não entenda aplicável o dispositivo
legal específico acima mencionado, deve-se, ao menos, ser
deferida a restituição dos valores, devidamente corrigidos
monetariamente, sob pena de se permitir um enriquecimento
sem causa, o que é expressamente vedado pelo art. 884 do
Código Civil.
V - DA MEDIDA LIMINAR
A suspensão liminar da cobrança da “taxa” de expedição
do diploma para os alunos que colarão grau ao final do
corrente ano letivo é medida necessária e urgente, tendo em
vista que o provimento tão-somente ao final da ação
compelirá vários formandos a pagar o malsinado preço.
Para tanto, temos que a prova inequívoca decorre dos
fatos narrados e comprovados pelos documentos encartados em
anexo, principalmente pela omissão da Instituição em
cumprir a Recomendação Administrativa nº 004/2007, que
determinava que o réu deveria se comprometer por escrito a
não cobrar as referidas “taxas”.
A verossimilhança da alegação exsurge dos argumentos
exaustivamente desenvolvidos nesta ação e normas
pertinentes que comprovam a ilegalidade das “taxas” em
exame.
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O fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação decorre da proximidade do encerramento do ano
letivo e iminente cerimônia de colação de grau
(13/12/2007), de maneira que, não sendo concedida a
antecipação de tutela, vários concluintes serão compelidos
a pagar as “taxas” abusivas.
Ressalte-se que inexiste o perigo da irreversibilidade
do provimento antecipatório, tendo em vista que se ao final
V. Exa. entender legítima a cobrança de soma adicional para
expedição do diploma, o que se cogita por puro apego ao
debate, as instituições poderão reaver o que entendem
devido, fundamentada em decisão judicial.
Assim, presentes, os requisitos necessários à
concessão da tutela antecipada, requer o Ministério
Público, com fundamento no art. 84, § 3º do Código de
Defesa do Consumidor e no art. 12 da Lei n.º 7.347/1985:
A) a suspensão da cobrança das “taxas” para expedição do diploma (R$120,00), registro do diploma (R$30,00) e da taxa de certificado de estágio (R$40,00) de TODOS OS ALUNOS DA FDCI - FACULDADE DE DIREITO DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM, até que seja proferida a sentença de mérito, bem como daqueles
que já colaram grau mas não obtiveram, não retiraram ou não
conseguiram registrar os respectivos diplomas em razão do
não pagamento de taxa, determinando-se multa cominatória no valor de R$ 10.000,00 por aluno e por dia de descumprimento da ordem judicial, a ser revertida para o Fundo Estadual de Defesa do Consumidor, gerido pelo Procon/ES.
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VI – DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO:
a) a confirmação do pedido liminar constante na alínea “a”
do item anterior, condenando o réu definitivamente à
obrigação de não fazer lá referida;
b) a citação do réu, na forma da lei, para, querendo,
contestar a presente Ação Civil Pública;
c) a condenação do réu à obrigação de não fazer consistente
em não exigir de seus concluintes, deste ano letivo e dos vindouros, as “taxas” para expedição do diploma, registro do diploma e a taxa de certificado de estágio, bem como à
obrigação de indenizar,consistente na devolução, em dobro,
de todos os valores cobrados indevidamente de todos (ex)
alunos formados, a título de taxa de expedição ou registro
de diplomas, acrescidos de correção monetária e juros
legais (parágrafo único do art. 42 do CDC), estabelecendo-
se também, para o descumprimento da decisão, multa diária a
ser quantificada por Vossa Excelência;
d) condenação da ré ao pagamento de danos morais coletivos,
a ser fixado pelo Juízo, para ser revertido ao Fundo
Estadual de Defesa do Consumidor, gerido pelo Procon/ES;
e) a intimação da União Federal para manifestar se possui interesse jurídico no feito.
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Requer-se, ainda, o julgamento antecipado da lide,
conforme art. 330, inciso I do CPC, por tratar-se de
matéria exclusivamente de direito e, caso Vossa Excelência
entenda ser necessária qualquer dilação probatória.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova
em direito admitidos.
Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).
Termos em que pede deferimento.
Cachoeiro de Itapemirim/ES, 07 de dezembro de 2007.
Cleto Vinícius Vieira Pedrollo
Promotor de Justiça