excelentíssimos senhores desembargadores da 3ª câmara de ... · 3 o caso, portanto, é da maior...
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Excelentíssimo Senhor Desembargador da 3ª Câmara de Direito
Público do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Digníssimo Relator Ângelo Malanga
Embargos Infringentes nº 9092747-45.2002.8.26.0000
Embargante: Fazenda do Estado de São Paulo
Embargado: Ministério Público do Estado de São Paulo
CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos,
devidamente constituída na forma da lei como Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público, inscrita no CNPJ sob o nº. 04.706.954/0001-75, com sede na Rua Barão de
Itapetininga, 93, 5º andar, São Paulo/ SP, neste ato representada por sua diretora executiva
e bastante representante nos termos de seu Estatuto Social, Sra. Lucia Nader, brasileira,
solteira, cientista política, RG nº 29.570.625-5 SSP, inscrita no CPF/MF sob nº
276.635.148-58, residente e domiciliada na Alameda Franca, 853, apto 121, Cerqueira Cesar,
São Paulo – SP, 01422-001, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
manifestar-se como
AMICUS CURIAE
nos Embargos Infringentes nº 9092747-45.2002.8.26.0000, interpostos pela Fazenda do
Estado de São Paulo em face da decisão que deu provimento ao recurso de Apelação nº.
0260454.5/7-00, reformando a sentença que julgava improcedente Ação Civil Pública
ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, nos termos a seguir:
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I) POSSIBILIDADE DE MANIFESTAÇÃO DA ENTIDADE COMO AMICUS CURIAE
A figura do “amicus curiae”, do latim “amigo da corte”, tem por objetivo a
pluralização do debate jurisdicional em casos de grande relevância pública. Trata-se de
manifestação de entidades, organizações e especialistas que não possuem interesse próprio
na demanda, mas sim especialidade e notoriedade em relação ao tema discutido, podendo
contribuir com argumentos de fato e de direito para a demanda a ser julgada.
No Brasil, a figura do amicus curiae foi regulamentada em 1999 por meio das Leis
9.868 e 9.882, que dispõem sobre a ação direta de inconstitucionalidade e a argüição de
descumprimento de preceito fundamental, respectivamente. Não obstante, mesmo antes da
edição de tais leis, há o registro da utilização da figura do amicus curiae em procedimentos
judiciais de distintas naturezas, tanto em âmbito constitucional como nas cortes estaduais.
Os critérios estabelecidos pelo Supremo Tribunal Federal na admissão de
manifestações como amici curiae são pautados, portanto, em dois fundamentos: na relevância
pública e jurídica do caso; e na representatividade adequada dos manifestantes.
No caso ora em debate neste Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, discute-se a
situação dos presos com condenação definitiva que se encontram em Cadeias Públicas dos
Distritos Policiais e Delegacias Especializadas da Capital, locais que deveriam receber
apenas presos provisórios. A demanda apresentada pelo Ministério Público estadual,
visando proibir o recolhimento e a custódia desses presos definitivamente condenados,
bem como a imediata remoção para estabelecimentos prisionais adequados dos que já se
encontram nessa situação, faz parte de um quadro mais amplo de superlotação carcerária.
Como será demonstrado adiante, nesse cenário, os presos sofrem as mais graves violações
de direitos humanos.
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O caso, portanto, é da maior relevância, levando ao judiciário um pedido cujo
deslinde pode ser um importante meio de assegurar direitos básicos a pessoas que
enfrentam condições degradantes de sobrevivência.
Também são inegáveis a representatividade e a especialidade da organização que ora
propõe esta manifestação. A Conectas Direitos Humanos tem como objetivo estatutário
promover, apoiar, monitorar e avaliar projetos em direitos humanos em nível nacional e
internacional, em especial: I– promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos
humanos, da democracia e de outros valores universais; VI – promoção e defesa dos
direitos humanos em âmbito judicial (www.conectas.org).
Por meio de seu Programa de Justiça Artigo 1º, Conectas promove advocacia
estratégica em direitos humanos, em âmbito nacional e internacional, com o objetivo de
alterar as práticas institucionais e sociais que desencadeiam sistemáticas violações de
direitos humanos. É hoje a organização com maior número de amici curiae frente ao
Supremo Tribunal Federal1. Além disso, em seus dez anos de existência, a Conectas
desenvolveu uma expertise na utilização do sistema judicial para coibir práticas violadoras
de direitos humanos, conseguindo respostas positivas na imensa maioria dos casos.
É importante destacar que a manifestação como amicus curiae não é intervenção de
terceiros ou assistência às partes do processo, como é expressamente vedado pelo
Regimento Interno do Tribunal de Justiça e pela própria legislação federal que trata do
tema.
Ademais, não se pode olvidar, como já mencionado, que o Supremo Tribunal
Federal tem consolidado o entendimento de que a possibilidade de manifestação da
sociedade civil em tais processos tem o objetivo de democratizar o processo judicial,
1Pesquisa desenvolvida em dissertação de mestrado Sociedade civil e democracia: a participação da sociedade civil como amicus curiae no Supremo Tribunal Federal, de Eloísa Machado de Almeida.
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oferecendo novos elementos para os julgamentos. É o que se depreende da ementa de
julgamento da ADIn 2130-3/SC:
“(...) - A admissão de terceiro, na condição de amicus curiae,
no processo objetivo de controle normativo abstrato,
qualifica-se como fator de legitimação social das decisões da
Suprema Corte, enquanto Tribunal Constitucional, pois
viabiliza, em obséquio ao postulado democrático, a abertura
do processo de fiscalização concentrada de
constitucionalidade, em ordem a permitir que nele se realize,
sempre sob uma perspectiva eminentemente pluralística, a
possibilidade de participação formal de entidades e de
instituições que efetivamente representem os interesses
gerais da coletividade ou que expressem os valores essenciais
e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais.
Em suma: a regra inscrita no art. 7º, § 2º, da Lei nº 9.868/99
- que contém a base normativa legitimadora da intervenção
processual do amicus curiae - tem por precípua finalidade
pluralizar o debate constitucional”. (grifamos)
Com a possibilidade de manifestações da sociedade civil nas ações, busca-se a
representação da pluralidade e diversidade sociais nas razões e argumentos a serem
considerados por este Egrégio Tribunal de Justiça, conferindo, inegavelmente, maior
qualidade nas decisões. Restam, desde modo, devidamente demonstrados os requisitos
necessários para a admissão da presente manifestação na qualidade de amicus curiae, quais
sejam: relevância da matéria discutida e representatividade da postulante.
Este Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, em outras oportunidades, quando do
julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade 166.129.0/0-00 e 166.921.0/5-00, já
admitiu a entidade na qualidade de amicus curiae.
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Requer-se, assim, aplicação por analogia das Leis 9.868/99 e 9.882/99, permitindo-
se a manifestação da organização requerente como amicus curiae nos autos dos embargos
infringentes em epígrafe.
II – BREVE HISTÓRICO DA AÇÃO E SUA RELEVÂNCIA
Do objeto da demanda e sua atualidade
A Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em
1998, em face da Fazenda Pública do Estado de São Paulo, requereu a condenação do
Estado paulista a:
(i) não encarcerar e não manter encarcerados em Cadeias Públicas dos
Distritos Policiais e em Delegacias de Polícia Especializadas da Capital
presos com condenação definitiva (obrigação de não fazer);
(ii) remover todos os presos com condenações definitivas, transitadas
em julgado, atuais e futuros, que estejam em Cadeias Públicas dos
Distritos Policias e em Delegacias de Polícia Especializadas da Capital,
assim como quaisquer presos provisórios que venham a ser
definitivamente condenados, para Estabelecimentos Prisionais
adequados e pertencentes à Secretaria dos Estabelecimentos
Penitenciários do Estado (obrigação de fazer).
Isso porque, segundo consta na petição inicial do Ministério Público, “A
Administração Pública Estadual vem, reiteradamente, de forma continuada, há muitos
anos, mantendo, encarcerados, nas Cadeias Públicas dos Distritos Policiais e das Delegacias
de Polícia Especializadas, presos com condenações definitivas, para ali cumprirem as suas
penas”.
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Uma série de dados alarmantes foi apresentada pelo proponente, incluindo um
resumo da situação caótica de cada um dos Distritos Policiais. No 7º Distrito Policial, por
exemplo, havia cinco celas, com capacidade total para cinqüenta presos. No entanto, o DP
abrigava cento e cinqüenta e cinco presos, sendo oitenta e dois condenados
definitivamente.
As atas de visitas realizadas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo
também são ilustrativas. Em alguns Distritos Policiais, constatou-se, entre outros
problemas: superlotação carcerária, presos com condenação definitiva dividindo cela com
presos provisórios, condições precárias e insalubres e inexistência de segurança.
A medida liminar requerida pelo Ministério Público foi parcialmente concedida e
posteriormente derrubada pela 1ª Câmara deste Tribunal. O pedido foi então julgado
improcedente em sentença proferida pelo Juiz de Direito Dr. Valentino Aparecido de
Andrade em 4 de setembro de 2001.
Inconformado com a decisão, o Ministério Público estadual apelou, requerendo o
conhecimento e provimento do recurso para reformar o julgado de primeira instância.
O pedido da apelação foi acolhido, restando a Fazenda do Estado condenada a
cumprir com as obrigações de fazer e não fazer acima delimitadas. A exemplar decisão
desta 3ª Câmara de Direito Público considerou preliminarmente a ação civil pública
instrumento de tutela coletiva cabível, posto que “tem o escopo de tutelar direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos, bem como direitos e garantias fundamentais e sociais”,
além de entender que a matéria de fundo seria questão de direito público.
No mérito, o acórdão revelou corretamente que o objeto da ação faria parte da
chamada “Meta Zero”, do Conselho Nacional de Justiça, cujo intuito seria justamente
reduzir a zero o número de presos em delegacias. Ainda, foi considerado não haver notícias
de que o cenário de excesso de presos e as condições precárias das cadeias tivesse se
alterado, em clara afronta à Constituição de 1988 e à Lei de Execuções Penais. O acórdão
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apresentou também um panorama da jurisprudência do tribunal estadual autorizando a
remoção de presos, a limitação do número de encarcerados e a interdição de
estabelecimentos prisionais.
O seguinte trecho do acórdão demonstra a gravidade da situação objeto da
demanda:
“No mais, a apelada traz estatística sobre o crescimento da população
carcerária no Brasil e a dificuldade de se equacionar o elevado
contingente de presos. Esse argumento não justifica, de forma
alguma, a manutenção de seres humanos em condições subumanas e
degradantes. O Estado deve adiantar-se aos fatos para que o caos não
se instale no sistema penitenciário brasileiro” (p. 8 do acórdão).
Foi vencido o desembargador Leonel Costa, que votou pela extinção do processo
sem resolução de mérito devido à impossibilidade jurídica do pedido e à carência da ação,
gerando controvérsia acerca da adequabilidade da via processual utilizada e da competência
da Seção de Direito Público, questões essas que são objeto destes embargos infringentes.
Conectas Direitos Humanos vem oferecer razões a V. Exas. para que o
julgamento destes embargos avaliem com especial consideração o impacto da
decisão para a prevalência e garantia dos direitos humanos no cenário carcerário
mais amplo do estado de São Paulo.
A petição inicial da Ação Civil Pública apresenta a realidade dos presos definitivos e
provisórios em São Paulo no ano de 1998. Mesmo que algumas mudanças tenham
ocorrido nesse período de treze anos que se estende da propositura da ação até os
dias de hoje, a situação atual do sistema prisional estadual ainda constitui uma
afronta aos direitos humanos.
8
Nesse sentido, a organização requerente pretende trazer ao conhecimento deste
Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo conhecimentos específicos, que agregam aos
autos informações atualizadas sobre a realidade carcerária do Estado de São Paulo,
especialmente no que concerne a permanente violação de garantias constitucionalmente
asseguradas.
Como será demonstrado mais detalhadamente, as unidades prisionais: (i)
comportam muito mais presos do que sua capacidade permite; (ii) não têm estrutura para
garantir direitos básicos; (iii) são ambientes onde maus tratos e torturas tornaram-se
práticas recorrentes, dentre outros, o que propicia reiteradas violações de direitos humanos
no sistema.
II – FATOS: A REALIDADE DO SISTEMA CARCERÁRIO E AS VIOLAÇÕES DE
DIREITOS HUMANOS
As realidades dos sistemas carcerários nacional e estadual, marcadas pela
superlotação, pelo uso de violência por parte dos agentes do Estado e pela completa
ausência de infraestrutura, geram sistemáticas violações de direitos humanos. A
manutenção de presos com condenações definitivas junto a presos provisórios é apenas um
exemplo dessa situação, contrariando não somente previsões legais, mas também garantias
constitucionais.
(a) Superlotação
O Brasil está em 4º lugar em termos de total da população carcerária e em 31º em
termos de superlotação do mundo2. Um terço da população prisional do país encontra-se
no estado de São Paulo, o que corresponde a aproximadamente 170 mil presos.
2 International Centre for Prison Studies. Disponível em: http://www.prsonstudies.org. (última consulta em 5/10/2011.)
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Isso porque tanto no sistema prisional brasileiro quanto no paulista, vê-se um
problema comum: a implementação de uma política de encarceramento em massa
resulta em um número muito maior de pessoas presas do que os estabelecimentos
podem comportar.
No Relatório Sobre Inspeção em Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo,
produzido pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária a partir de
inspeções realizadas entre fevereiro e maio de 2011, vê-se a seguinte conclusão:
A primeira constatação é a da superlotação. Com algumas poucas exceções, quase
todas as unidades inspecionadas estão superlotadas, com população carcerária, em
alguns casos, em dobro ou até mais da capacidade permitida3.
Para se ter uma ideia da situação no Brasil, o número de presos cresceu 102% entre
2000 e 2009. Atualmente, há 496.251 presos no sistema penitenciário e na Secretaria de
Segurança Pública, enquanto o déficit de vagas é de 197.976, segundo dados do
Departamento Penitenciário Nacional do Ministério de Justiça (DEPEN). O gráfico abaixo,
elaborado com base nesses dados, ilustra bem o abismo entre a quantidade de presos e a
disponibilidade de vagas no sistema prisional brasileiro nos últimos anos4.
3 Relatório Sobre Inspeção em Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília, 2011, p.1. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJC4D50EDBPTBRIE.htm. (último acesso em 15/09/2011). As uni-dades prisionais inspecionadas foram: Cadeia Pública de Batatais (Masculina); Centro de Detenção Provisória de Franca; Cadeia Pública de Franca (Feminina); Centro de Detenção Provisória de Ribeirão Preto, Penitenci-ária de Ribeirão Preto, Centros de Detenção Provisória de Pinheiros I e II, Penitenciária Feminina de Sant´Ana e Centros de Detenção Provisória de Belém I e II e Alas de Progressão I e II. 4 Gráfico elaborado com base em informações extraídas de: InfoPen Estatística. Brasília, dez/2008, dez/2009 e dez/2010. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm (último acesso em 16/09/2011)
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A divisão por Estados da federação deixa evidente que se trata de um fenômeno
que atinge todas as regiões brasileiras, chegando a mais de 50% em algumas localidades5:
No Estado de São Paulo, como se vê na ilustração abaixo, a situação não é
diferente. De 2008 para 2010, o déficit aumentou em 20.000 vagas6:
5 Mapa elaborado com base em informações extraídas de: InfoPen Estatística. Brasília, 2010. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRIE.htm (último acesso em 08/10/2011)
Déficit de vagas no Brasil (2010)
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A superlotação carcerária tem diversas implicações negativas no que concerne aos
direitos dos presos. Os tópicos apresentados como conclusão da Comissão Parlamentar de
Inquérito do Sistema Carcerário, realizada em 2009 no âmbito da Câmara dos Deputados7,
são bem ilustrativos da situação dramática em que vivem os presos brasileiros:
1 – Falta de assistência material 2 – Acomodações: caso de polícia 3 – Higiene: não existe nas
cadeias
4 – Vestuário: nudez absoluta 5 – Alimentação: fome,
corrupção e comida no saco
6 – Assistência à saúde: dor e
doenças
7 – Assistência médica: falta
tudo
8 – Assistência farmacêutica:
um só remédio para todas as
doenças
9 – Assistência odontológica:
extrai dente bom no lugar do
estragado
6 Gráfico elaborado com base em informações extraídas de: InfoPen Estatística. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRIE.htm (último acesso em 25/09/2011) 7 Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. Série Ação Parlamentar, nº 384.
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10 – Assistência psicológica:
fábrica de loucos
11 – Assistência jurídica: nó
cego a ser desatado
12 – Assistência educacional:
ignorância como princípio
13 – Assistência social:
abandono e desespero
14 – Assistência ao egresso: feras
soltas na rua
15 – Assistência religiosa: só
Deus não salva
16 – Superlotação: inferno em
carne viva
18 – Comércio: exploração da
miséria
19 – Contato com o mundo
exterior: isolamento
20 - Água e luz: uma esmola de
cada vez
21 – Sem sol, sem ventilação e
na escuridão
22 – Tortura e maus tratos:
agonia todo dia
Não é preciso muito esforço para notar que tais conclusões denunciam uma
situação de graves e inadmissíveis violações aos direitos humanos.
Nas celas superlotadas, a saúde dos presos fica altamente comprometida. A falta de
higiene e a ausência de ventilação e iluminação adequadas tornam o ambiente propício a
disseminação de doenças e epidemias. A CPI acima mencionada constatou em suas
diligências “situações de miséria humana”. Por exemplo, no Centro de Detenção Provisória
de Pinheiros, em São Paulo, “vários presos com tuberculose misturavam-se, em cela
superlotada, com outros presos aparentemente ‘saudáveis’”8. Além disso, a impossibilidade
de descanso gera doenças psiquiátricas graves.
Como agravante do problema tem-se ainda o fato de que o Estado não fornece o
número de médicos necessário para atender esta população de modo adequado. De acordo
com dados oficiais, o Brasil conta com 422 médicos clínicos gerais para todo o seu sistema
penitenciário e com 496 enfermeiros9. Contudo, a resolução nº 9 de 2006 do Conselho
Nacional de Política Criminal Penitenciária determina que é necessário ao menos um
8 Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. Série Ação Parlamentar, nº 384, p. 203.
9 InfoPen Estatística. Brasília, 2010. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm. (Último acesso em 26/09/2011).
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médico clínico e um enfermeiro para cada 500 presos10. Supondo que todos os médicos e
enfermeiros que estão na lista oficial dos profissionais lotados no sistema penitenciário
estivessem na ativa, o número já seria altamente insuficiente, pois seriam necessários
aproximadamente 992 médicos e 992 enfermeiros, ou seja, praticamente o dobro.
As redes de água e esgoto também são insuficientes para suprir as demandas dos
presos, que se apresentam em número bem maior do que as unidades prisionais foram
planejadas para abrigar.
A falta de profissionais nessas unidades compromete ainda a segurança dos
próprios presos. O corpo de funcionários foi pensado para lidar com certa quantidade de
presos, porém a superlotação faz com que eles não consigam exercer todas as atividades
que deveriam.
A assistência social aos encarcerados também deixa muito a desejar. A CPI do
Sistema Carcerário constatou que “nas cadeias públicas e nos centros de detenção
provisória profissionais dessa área inexistem”11. Trata-se de mais uma afronta à Lei de
Execuções Penais, que prevê, em seu artigo 22, que “a assistência social tem por finalidade
amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à liberdade”. Tal carência
certamente vai de encontro ao ideal de ressocialização do preso. Nesse sentido:
“A reabilitação na prisão requer, portanto, segurança, assistência
médica adequada, trabalho, envolvimento em atividades educacionais,
culturais e recreativas, contato com a família, com amigos e com o
mundo externo. Isso não é possível onde há superlotação, número de
presos desproporcional aos funcionários disponíveis, e todos os
outros problemas que acompanham a superlotação. Apenas por meio
da redução do número de prisões é possível, mesmo para países com 10 Resolução CNPCP nº 9, de 13 de novembro de 2009. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJC7BBEEA7ITEMIDF250F7EFB32E4A798B4D8429FD19374DPTBRNN.htm (Última consulta em: 26/09/2011). 11 Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. Série Ação Parlamentar, nº 384, p. 234.
14
muitos recursos, tornar as prisões instituições mais efetivas para
reabilitação e ressocialização” 12.
Nas condições descritas, o cumprimento da pena chega a ser cruel e degradante,
exatamente como a Constituição proíbe. Como se não bastasse, são comuns os casos de
maus tratos e tortura dentro dos estabelecimentos prisionais. A CPI do Sistema Carcerário
é precisa ao concluir que “o sistema carcerário nacional é, seguramente, um campo de
torturas psicológicas e físicas”, apontando ainda que o espancamento é “rotina nas cadeias
brasileiras” 13.
Este Egrégio Tribunal de Justiça, inclusive, tem jurisprudência que reconhece o
problema da superlotação carcerária, entendendo que o excesso de presos resulta em
condições insalubres, que ferem a dignidade da pessoa humana:
“Na hipótese dos autos, observa-se que a situação da Cadeia Pública
de Viradouro, à época da propositura desta ação civil pública, não era
adequada, em afronta a todos os dispositivos supracitados[…] Ade-
mais, é incontroverso, nos autos, que, em virtude da reforma empre-
endida na Cadeia Pública de Bebedouro, havia, de fato, superlotação
na Cadeia Pública de Viradouro. Muito embora o local tenha capaci-
dade para acomodar quarenta e oito detentos, abrigava, quando da
propositura da demanda, sessenta e nove presos, dentre os quais al-
guns já condenados (fls. 38). Ora, a situação já era péssima e, com o
excesso de encarcerados, evidentemente, tornou-se um cenário insa-
lubre, propício à promiscuidade, a rebeliões e fugas”. (Apelação nº
994.06.159805-6, 12ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Osvaldo de Oli-
veira, 12/05/2010)
12Making Law and Policy that Work: a handbook for law and policy-makers on reforming criminal justice and penal legislation, policy and practice, Penal Reform International, Londres, 2010, p. 64 (tradução livre). 13 Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. Série Ação Parlamentar, nº 384, p. 270.
15
A superlotação enquanto feixe gerador de violações de direitos humanos está
presente também em medidas cautelares concedidas pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos. No caso relativo a pessoas privadas de liberdade na 76ª Delegacia de
Polícia na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, levou-se à Comissão a situação de permanente
perigo e más condições de detenção produto da superlotação (Petição 1113-06/2007).
Dentre as cautelares, foi determinado “reduzir substancialmente a superlotação nas celas da
76ª DP”.
Outro caso emblemático foi levado à CIDH por Conectas, Instituto Pro Bono, e
Conselho Comunitário Penitenciário de Guarujá e Vicente de Carvalho e outras
organizações, denunciando violações de direitos humanos na Cadeia Pública do Guarujá,
no Estado de São Paulo. Também nesse caso as medidas cautelares estabelecem uma
relação direta entre tais violações e a superlotação, visto que foi determinado que o Brasil
reduzisse a superpopulação na Cadeia Pública do Guarujá a um nível que permitisse garantir a vida e a
integridade pessoal dos internos (MC 63/2007).
b) Violação ao direito constitucional da individualização da pena
Apesar de alguns estados brasileiros estarem caminhando no sentido de reduzir o
número de presos sob custódia das Secretarias de Segurança Pública, há evidências de que
o problema não deixou de ser atual.
Por exemplo, uma das diretrizes resultantes da Conferência Nacional de Segurança
Pública, realizada em 2009, foi justamente: Desvincular totalmente a custódia de presos, tanto
provisórios como condenados, das secretarias de segurança pública conforme as recomendações internacionais.
Assim, não é raro que, nos estabelecimentos de responsabilidade da Secretaria de
Segurança Pública, sejam mantidos presos definitivos. A CPI do Sistema Carcerário
percebe que:
16
“Cadeia pública não é local de cumprimento de pena. No entanto, a
grande maioria dos Estados brasileiros se utiliza das velhas cadeias
públicas e delegacias de polícia para cumprimento de pena. O preso
responde seu processo na cadeia e nela continua cumprindo toda a sua
pena”14.
O Relator das Nações Unidas sobre Tortura (Nigel Rodley), em sua visita ao Brasil
em 2000, elaborou recomendações a serem cumpridas pelo país. As avaliações mais
recentes sobre a implementação dessas recomendações têm mostrado que não houve
avanços no que concerne à seguinte recomendação:
“A assustadora situação de superpopulação em alguns
estabelecimentos de prisão provisória e instituições prisionais precisa
acabar imediatamente, se necessário mediante ação do executivo,
exercendo clemência, por exemplo, com relação a certas categorias de
presos, tais como transgressores primários não violentos ou suspeitos
de transgressão. A lei que exige a separação entre categorias de presos deveria
ser implementada” 15.
No Estado de São Paulo, a situação é a mesma:
“Nesses casos, os estabelecimentos mais parecem depósitos de
presos, sem a mais mínima condição de qualquer ação no sentido de
humanização da pena. Até mesmo nesses estabelecimentos, foi
14 Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. Série Ação Parlamentar, nº 384, p. 244. 15 Conselho de Direitos Humanos. Report of the Special Rapporteur on torture and other cruel, inhuman or degrading treatment or punishment, Manfred Nowak – Addendum – Follow-up to the recommendations made by the Special Rapporteur Visits to Azerbaijan, Brazil, Cameroon, China (People’s Republic of), Den-mark, Georgia, Indonesia, Jordan, Kenya, Mongolia, Nepal, Nigeria, Paraguay, the Republic of Moldova, Romania, Spain, Sri Lanka, Uzbekistan and Togo,26 fev. 2010, A/HRC/13/39/Add.6.Disponível em <http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/docs/13session/A.HRC.13.39.Add%206_EFS.pdf>. (último acesso em 27/10/2011).
17
constatada a perniciosa convivência de presos condenados (que já deveriam estar
em estabelecimentos adequados) com provisórios”16.
A manutenção de presos com condenação definitiva sob tutela da Secretaria de
Segurança Pública - e não do sistema penitenciário – afronta a Constituição Federal, que
elege a individualização da pena como uma das garantias fundamentais que devem
ser asseguradas a todos (artigo 5º, XLVI).
A previsão da Lei de Execução Penal, com o objetivo de cumprir tal preceito
constitucional é clara: O preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em
julgado (art. 84, caput).
Ainda, a Lei 12.403/2011, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional, alterou
o Código de Processo Penal ao estabelecer que as pessoas presas provisoriamente ficarão separadas
das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei de execução penal (art. 300 do CPP).
Em âmbito internacional, não é diferente. As Regras Mínimas para Tratamento de
Prisioneiros, da Organização das Nações Unidas, inclui: As pessoas presas preventivamente
deverão ser mantidas separadas dos presos condenados (artigo 8.b).
A Resolução nº 14/1994, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária
(CNPCP), por sua vez, estabelece regras mínimas para o tratamento de presos no Brasil,
determinando que presos pertencentes a categorias diversas devem ser alojados em diferentes estabeleci-
mentos prisionais ou em suas seções, observadas características pessoais tais como: sexo, idade, situação
judicial e legal, quantidade de pena a que foi condenado, regime de execução, natureza da prisão e o trata-
mento específico que lhe corresponda, atendendo ao princípio da individualização da pena (artigo 7º).
Não é à toa que o Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência que considera
inadequada e ilegal a manutenção do preso que já tem condenação definitiva em 16 Relatório Sobre Inspeção em Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília, 2011, p.1. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJC4D50EDBPTBRIE.htm. (último acesso em 17/10/2011).
18
estabelecimento próprio aos presos provisórios. No caso, trata-se de preso condenado a
dezessete anos e seis meses de reclusão que demanda remoção para Cadeia Pública:
“Todavia, não há falar de participação familiar sem antes idealizar o
estabelecimento prisional adequado à situação do comando do título
executivo, porquanto o cumprimento da pena em estabelecimento
destinado à conservação dos presos provisórios esvaziaria o esforço
do sistema na recondução futura do convívio social, além,
naturalmente, de conspirar contra as disposições legais. Ordem
denegada”. (HC 30.106/GO, Rel. Ministro José Arnaldo da Fonseca,
Quinta Turma, julgado em 23/09/2003, DJ 28/10/2003, p. 326)
É verdade que o contingente de presos nas Secretarias de Segurança Pública
paulista tem diminuído ao longo dos anos. Dados oficiais mostram essa melhora no
cenário, indicando que uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo seria
capaz de concluir uma reforma que já se iniciou17:
17 Elaborado com base em informações extraídas de: Sistema Penitenciário no Brasil. Dados consolidados. Departamento Penitenciário Nacional, Ministério da Justiça, 2008, pp. 37-39.
19
Em outras palavras, trata-se de uma demanda viável para a qual já existe uma
tendência evidente.
c) A manutenção de presos sob custódia das Secretarias de Segurança Pública
e a facilitação de violações a direitos humanos
A realidade confere-nos elementos suficientes para compreender a razão pela qual
não é aceitável que os presos, principalmente definitivos, sejam mantidos sob a
responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública.
Em primeiro lugar, é temerário que as autoridades investigativas exerçam funções
que caberiam aos agentes penitenciários. De um lado, essa situação é ilegal, visto que às
polícias civis compete apenas exercer as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares (Constituição Federal, art. 144, § 4º). De outro, as autoridades investigativas
podem abusar de seu poder de custódia para pressionar suspeitos. Pesquisas mostram que,
de fato, isso tem acontecido – e da maneira mais grave: sob tortura18.
18 O gráfico foi elaborado com base nos dados apresentados na publicação da Pastoral Carcerária: Relatório sobre tortura: uma experiência de monitoramento dos locais de detenção para prevenção da tortura. São Paulo, 2010, p. 48. Disponível em: http://www.carceraria.org.br/default2.asp (último acesso em 25/09/2011). A pesquisa traba-lhou com questionários preenchidos por agentes pastorais de catorze estados diferentes.
20
Ainda, a despeito da previsão, o que se vê é que a polícia civil tem acumulado suas
funções designadas constitucionalmente com as funções que deveriam caber apenas às
autoridades prisionais. O Relatório Sobre Inspeção em Estabelecimentos Penais do Estado
de São Paulo, produzido pelo CNPCP em 2011 identifica que:
“Algumas unidades prisionais (as cadeias públicas) são administradas
pela polícia civil, sob comando de delegados de polícia e policiais
incumbidos da guarda dos presos. Nestes casos, a precariedade é
visível, sob todos os aspectos. As estruturas físicas e funcionais
deixam muito a desejar. Cadeias públicas em prédios velhos e
condições de acautelamento muito precárias, o que importa, de modo
geral, em comprometimento do tratamento do preso”19.
Vê-se que os estabelecimentos da Secretaria de Segurança Pública não têm sequer a
estrutura necessária para a boa realização do trabalho policial e muito menos para que
sejam efetivados os direitos básicos dos presos ao lazer, a educação, a visitas, entre outros.
Esses lugares não oferecem serviços laborais e educacionais, tampouco garantem condições
mínimas de segurança, como bem diagnosticou a CPI do Sistema Carcerário: “Salas de
aula, ambulatórios, oficinas de trabalho e demais instalações que visem garantir a assistência
prevista na LEP são lendas em tais estabelecimentos”20.
No mais, a própria estrutura física de estabelecimentos destinados a receber presos
provisórios não é projetada para manter pessoas encarceradas por um longo período de
tempo. Veja-se o exemplo da Cadeia Pública do Guarujá:
19 Relatório Sobre Inspeção em Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo - Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília, 2011, p.1. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJC4D50EDBPTBRIE.htm. (último acesso em 17/10/2011). 20 Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Carcerário. Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2009. Série Ação Parlamentar, nº 384, p. 244.
21
Nos Centros de Detenção Provisória, que ainda não existiam quando a ação foi
proposta, sabe-se que também há presos com condenação definitiva. O CDP da Vila
Independência é um exemplo dessa situação. No dia 7 de junho de 2011, o Conselho da
Comunidade de São Paulo constatou que havia 2.200 presos nesse CDP, sendo 508 deles
com condenação definitiva.
As informações aqui apresentadas mostram que não é viável que presos continuem
sob custódia da Secretaria de Segurança Pública. Frise-se que a mudança não é uma
pretensão distante, senão um processo que já se iniciou e falta pouco (apenas 9.400 presos)
para ser concluído no Estado de São Paulo.
Cadeia Pública do Guarujá 1: Celas úmidas, apertadas e escuras Cadeia Pública do Guarujá 2: Inexistência de colchões
Cadeia Pública do Guarujá 3: Enfermaria em condições precárias
Cadeia Pública do Guarujá 4: Ventilador improvisado devido à falta de ventilação
Cadeia Pública do Guarujá 5: Garrafas com urina, pois os presos têm direito de ir ao banheiro apenas uma vez por dia.
22
Lembrando que o déficit de vagas no sistema prisional de São Paulo foi de 44.917
vagas em 2008 para 64.681 em 2010, vê-se que a política de encarceramento atingiu um
ponto inviável frente ao qual o aumento do número de vagas não é uma solução
praticamente possível, tampouco desejável.
Por tudo isso, vê-se que o passar do tempo não solucionou problemas
fundamentais do sistema carcerário, mantendo-se a relevância da inicial apresentada pelo
Ministério Público do Estado de São Paulo.
III – Fatores que levam à superlotação
A superlotação carcerária brasileira não é um problema de falta de vagas, mas sim
de uso abusivo de prisões provisórias e de excesso de prazo nessas prisões, que mantêm
encarceradas pessoas que deveriam estar em liberdade. Em geral, são essas mesmas pessoas
as que mais sofrem com as dificuldades de acesso à justiça e com a lentidão nos
julgamentos.
a) Uso indiscriminado da prisão provisória
A superlotação do sistema carcerário resulta, em grande parte, do uso
indiscriminado da prisão provisória pelos juízes. Tanto é que, em seus mutirões, o Conselho
Nacional de Justiça constatou que o uso da prisão provisória é feito, por vezes, de maneira
irregular e até em afronta ao texto constitucional. De 2008 a 2010, o CNJ revisou 156.708
processos, beneficiando 41.404 presos, dos quais 23.915 obtiveram a liberdade21. Nesse
sentido, o relatório produzido a partir dos mutirões é ilustrativo:
“Em relação ao preso provisório, à guisa de ilustração, o mutirão já
identificou processos com quatorze anos sem julgamento em
21 Informação disponível em: Em dois anos, mais de 41 mil pessoas foram beneficiadas pelos mutirões carcerários. Cf. http://www.cnj.jus.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9668&Itemid=675 (último acesso em 02/10/2011)
23
primeiro grau de jurisdição e outros com três anos sem denúncia do
Ministério Público”22.
Em uma dessas iniciativas do Conselho, foi feita uma sobreposição dos números
relativos aos presos provisórios e aos presos condenados. Em alguns anos, as quantidades
são realmente próximas23:
Segundo o mesmo levantamento, os presos provisórios compõem nada menos que
44% da população carcerária do país e 36% dos encarcerados do Estado de São Paulo. Nos
Centros de Detenção Provisória (CDPs), diversos presos aguardam julgamento por um
tempo muito maior do que os três meses previstos em lei, em contradição com o direito
constitucional da razoável duração do processo.
Os dados abaixo deixam evidente, unidade por unidade, a discrepância entre o
número de presos provisórios e as vagas oferecidas nos CDPs de São Paulo24. O déficit
total é de 27.863 vagas!
22 Cf. Relatório Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e das Medidas Socioeducativas - DMF. Brasília, novembro de 2010, p.7. 23 Levantamento de dados disponível em: http://www.cnj.jus.br/gestao-e-planejamento/eventos/encontros-nacionais/2-encontro-nacional-do-judiciario/96-noticias/6105 (último acesso em 03/10/2011)
24
CDP Capacidade População Americana 576 1149 Bauru 768 1402 "Tácio Aparecido Santana" de Caiuá 768 941 Campinas 768 1399 CDP "Dr. José Eduardo Mariz de Oliveira" de Caraguatatuba 768 1014 Diadema 576 1137 Franca 768 806 Feminino de Franco da Rocha 864 1431 "ASP Giovani Martins Rodrigues" de Guarulhos 768 1343 II de Guarulhos 768 2044 Hortolândia 768 1796 "ASP Nilton Celestino" de Itapecerica da Serra + APP 768 2066 Jundiaí 768 1289 Mauá 576 1190 Mogi das Cruzes 768 1351 "Ederson Vieira de Jesus" de Osasco 768 2082 "ASP Vanda Rita Brito do Rego" de Osasco 768 2129 "Nelson Furlan" de Piracicaba 512 1444 Praia Grande 512 1192 Ribeirão Preto 556 740 Santo André 512 1633 "Dr. Calixto Antonio" de São Bernardo do Campo 768 2168 São José do Rio Preto 768 1477 São José dos Campos 512 1209 ASP Vicente Luzan da Silva" de Pinheiros 520 1354 "ASP Willians Nogueira Benjamin" de Pinheiros 512 1218 III de Pinheiros 512 1152 IV de Pinheiros 512 1639 Vila Independência 768 2066 Chácara Belém I +APP 768 1894 "ASP Paulo Gilberto de Araújo" de Chácara Belém +APP 768 1126 "Luis César Lacerda" de São Vicente 768 1702 Serra Azul 768 1210 Sorocaba 576 1447 Suzano 768 1702 "Dr. Félix Nobre de Campos" de Taubaté 768 1645 Total 24724 52587 Déficit 27863
24 Tabela elaborada com base em dados da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.sap.sp.gov.br/ (último acesso em 12/09/2011)
25
O poder judiciário tem reconhecido a gravidade dessa situação, a exemplo da
decisão do Juiz de Direito Titular da 1ª Vara das Execuções Criminais e Corregedor dos
Presídios, Cláudio do Prado Amaral. A sentença, ao invés de fechar os olhos à realidade,
tem como ponto de partida as condições concretas de um dos CDPs da capital:
Conforme consta dos autos, a unidade prisional em referência possui capacidade
para 512 presos. Por ocasião da última visita correcional, em 29/11/2007,
contava com 1599 presos, ou seja, mais de 03 vezes a sua capacidade. É
tranqüilo concluir que a situação é absurda e intolerável. As celas inspecionadas
na última visita correcional têm área bruta de 28,71 metros quadrados.
Subtraídos os espaços ocupados pelas cinco fileiras de “camas” fixadas às paredes
e a área do “banheiro”, resta uma área útil (chão de cela) de 21,45 metros
quadrados. Nestas condições acomodam-se até 40 presos, alguns dormindo
suspensos (sobre os demais presos), em tecidos presos às paredes de modo a imitar
uma “rede” de descanso.
As modalidades de prisão provisória têm perdido seu caráter de excepcionalidade.
Pior do que isso, não são poucos os casos de pessoas que ficam presas por meses e, quando
julgadas, são condenadas a pena restritiva de direitos - e não privativa de liberdade. Há
pesquisas que mostram que, nos casos de furto, o tempo médio de permanência de uma
pessoa primeiro presa processualmente e depois condenada à pena restritiva de direitos é
de 71,59 dias, ou seja, mais de dois meses25.
Existe vasta jurisprudência do Supremo Tribunal Federal comprovando que os
excessos e ilegalidades na prisão provisória são uma realidade:
“Excesso de prazo da prisão. Demora na solução de conflito de
competência: paciente preso há um ano e dois meses. (...). O excesso
de prazo da prisão em razão da demora na fixação do foro competente
configura constrangimento ilegal à liberdade de locomoção” (HC
25 Barreto, Fabiana Costa Oliveira. Flagrante e prisão provisória em casos de furto: da presunção de inocência à antecipação de pena. São Paulo: IBCCRIM, 2007.
26
94.247, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-6-2008, Primeira Turma,
DJE de 9-5-2008.)
“Paciente mantido preso por prazo excessivo unicamente em
decorrência da prisão em flagrante. Ausência de situação fática
vinculada a qualquer das hipóteses listadas no artigo 312 do Código de
Processo Penal. (...) Constrangimento ilegal caracterizado.” (HC 96.415,
Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 25-11-2008, Segunda Turma, DJE de 24-
4-2009.)
“(...) Constitui situação de injusto constrangimento ao status libertatis
do indiciado ou do réu a decisão judicial que, sem indicar fatos
concretos que demonstrem, objetivamente, a imprescindibilidade da
manutenção da prisão em flagrante, denega ao paciente a liberdade
provisória que lhe assegura o parágrafo único do art. 310 do CPP.” (HC
94.157, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-6-2008, Segunda Turma,
DJE de 28-3-2011.)
“A apresentação espontânea do réu demonstra que não existia a
intenção de fuga, não havendo nos autos motivo para a decretação
de sua prisão preventiva.” (HC 104.635, Rel. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 15-2-2011, Primeira Turma, DJE de 3-5-2011.)
“Mostra-se desproporcional a custódia cautelar do paciente,
considerados o tempo em que ele permaneceu preso (cinco meses) e a
pena aplicada em primeira instância (um ano de detenção). [...] Ordem
concedida para, confirmando a liminar, revogar em definitivo o decreto
de prisão preventiva e permitir que o paciente aguarde em liberdade o
julgamento do recurso.” (HC 101.146, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 29-6-2010, Primeira Turma, DJE de 20-8-2010.)
27
Vê-se, portanto, que há motivos consistentes para se afirmar que o problema da
superlotação carcerária está fortemente relacionado ao fato de haver pessoas presas que
deveriam estar em liberdade.
(b) Falta de acesso à justiça
No Estado de São Paulo, assim como em outros estados da federação, não há
defensores públicos em número suficiente para assistir a todos que têm necessidade de
auxílio do Estado. A imensa maioria da população carcerária sabidamente tem necessidade
dos serviços da Defensoria Pública.
Informações relativas ao perfil dos presos mostram que eles fazem parte de um
grupo socialmente marginalizado. No que concerne ao grau de instrução, o gráfico a seguir
é ilustrativo, mostrando que, no Estado de São Paulo, mais da metade dos presos não chega
a completar o Ensino Fundamental26:
26 InfoPen Estatística. Brasília, 2010. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm (último acesso em 30/09/2011)
28
A falta de acesso dessa população a defensores é um problema freqüente. Trata-se
de uma situação grave visto que, no processo penal brasileiro, a Defensoria exerce papel
fundamental na defesa técnica, a qual constitui elemento imprescindível da ampla defesa.
Essa deficiência, por vezes, compromete o próprio resultado do processo, abrindo caminho
para condenações e penas injustas. Os mutirões do CNJ que revisaram vários processos e
resultaram em benefícios a 41.404 presos, sendo que quase 24.000 obtiveram a liberdade,
configuram prova cabal de que há situações irregulares.
Dados do 4º Relatório Nacional sobre Direitos Humanos no Brasil mostram que,
em 2007, o Brasil possuía 1,9 defensor público para cada 100 mil habitantes. Nesse
cenário, o Estado de São Paulo apresentava a menor relação de defensores por 100
mil habitantes, sendo esse número de apenas 0,227.
No III Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil, publicado pelo Ministério da
Justiça em 2009, constata-se que, na relação entre população alvo (maiores de 10 anos com
renda até 3 salários mínimos) e defensores públicos, São Paulo ficou entre os piores, junto
com Alagoas e Maranhão. Veja-se a comparação entre os estados da Região Sudeste28:
27 4° Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil. Núcleo de Estudos da Violência – Universidade de São Paulo, 2010, p.17. 28 III Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil. Ministério da Justiça, 2009, pp. 106-107.
29
Ainda, sabe-se que, por diversas razões estruturais, o Judiciário enfrenta
dificuldades para dar respostas céleres às demandas. O Conselho Nacional de Justiça
divulgou a carga de trabalho de cada justiça estadual, a qual é composta pela soma dos
casos novos, dos casos pendentes, dos recursos internos e dos recursos internos pendentes.
São Paulo tem a quarta maior carga de trabalho, como se vê abaixo29.
Nesse cenário, são quase 3 mil processos por magistrado no estado de São Paulo30.
O Judiciário demora a dar respostas porque está sobrecarregado, além de contar com
poucos recursos de modernização.
Conjugando-se os dois fatores - morosidade da justiça e falta de acesso à defensoria
-, conclui-se que o réu que não tem como pagar um advogado pode sofrer ainda mais com
29 Gráfico elaborado com base nos dados do estudo do Conselho Nacional de Justiça, Justiça em números 2009. Brasília, 2010, p. 149. O documento original apresenta todos os estados da federação. Para este gráfico, foram selecionados cinco de cada grupo (pequeno, médio e grande porte). 30 Justiça em números 2009. Conselho Nacional de Justiça. Brasília, 2010, p. 149
30
a lentidão da tramitação dos processos, além de ver comprometido o seu direito a ampla
defesa e ao contraditório.
Em síntese, as prisões provisórias em desacordo com a lei, constatadas pelo CNJ,
poderiam ser evitadas caso esses presos tivessem acesso a uma defesa técnica. Tanto nos
casos em que essas prisões não se enquadram em nenhuma das hipóteses legais, quanto nas
vezes em que duram mais tempo do que o permitido, a atuação de um advogado faria uma
diferença substancial.
IV - IMPORTÂNCIA DE UMA DECISÃO QUE AFIRME UM SISTEMA CARCERÁRIO DE
ACORDO COM DIREITOS HUMANOS
Os dados apresentados até aqui sugerem que se tem hoje, no estado de São Paulo,
uma política de encarceramento exatamente oposta ao que seria uma política respeitosa aos
direitos humanos.
É preciso, contudo, evitar distorções. O problema não deriva da falta de vagas,
mas sim do fato das unidades já existentes estarem ocupadas por quem não deveria
ocupá-las.
É comum que o poder público apresente a construção de novas unidades prisionais
como solução ao problema da superpopulação carcerária. Essa resposta, além de não
solucionar tal problema, pode até chegar a agravá-lo. A expectativa de construção de mais
estabelecimentos prisionais acaba por mascarar os problemas centrais, que até hoje não
foram solucionados: a superlotação carcerária resultante de uma política desenfreada de
encarceramento em massa.
Em segundo lugar, mesmo que o aumento da quantidade de estabelecimentos fosse
uma boa ideia em tese – o que já se viu que não é – a população carcerária do Estado de
São Paulo cresce em ritmo acelerado. Ou seja, trata-se de uma solução inviável a curto e
a longo prazos.
31
Atualmente, o Brasil é o 31º país em superlotação carcerária do mundo, tendo um
déficit de 197.976 vagas. Para suprir essa demanda, seriam necessários 396 novos
estabelecimentos penais, com capacidade para 500 presos cada um. Porém, como o número
de presos que ingressam no sistema por mês é maior do que a quantidade que o deixa31, a
construção de mais vagas é uma estratégia insuficiente para a solução do problema da
superlotação.
Veja-se o crescimento desenfreado da população carcerária brasileira no breve
período de cinco anos32:
E em São Paulo, em apenas sete anos, o número de presos no sistema penitenciário
foi de 99.026 para 163.676. Isso quer dizer que, em 2010, já havia 64.650 presos a mais do
que em 200333:
31 Cf. O Estado de São Paulo, Número de presos cresce 13,4% em um ano no Brasil. 12/05/2008. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,numero-de-presos-cresce-134-em-um-ano-no-brasil,171219,0.htm (último acesso em 12/10/2011).
32 InfoPen Estatística. Brasília, 2006 a 2010 (quadros gerais). Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm. (último acesso em 26/09/2011).
33 InfoPen Estatística. Brasília, 2003 a 2010. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm. (último acesso em 10/10/2011).
32
Nenhuma política focada na construção de novos estabelecimentos é capaz de
incluir toda essa população carcerária. O diretor do Departamento Penitenciário do Estado
do Paraná, Maurício Kuehne, considera que, com a ampliação de unidades, “estamos
enxugando gelo”, sendo necessária uma mudança radical no modelo de segurança pública,
pois “não adianta só reprimir e fazer mais cadeias, não há dinheiro que chegue”34.
No mais, a política de aumento de vagas não resolve os problemas mais graves
apresentados, a exemplo da violência institucional e da deficiência na prestação de
atendimento médico aos presos, ao que se soma a falta de atividades de educação e trabalho
– em 2010, menos de 10% dos presos no sistema penitenciário paulista estavam em
atividade educacional e apenas um quarto deles estavam em programas de laborterapia35.
Sequer o problema da violência pode ser solucionado por essa política, o que se comprova
pelo fato de que, a despeito de haver cada vez mais pessoas presas, a taxa de reincidência,
segundo dados do CNJ, chega a 70%36.
34 Cf. O Estado de São Paulo, Número de presos cresce 13,4% em um ano no Brasil. 12/05/2008. Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,numero-de-presos-cresce-134-em-um-ano-no-brasil,171219,0.htm (último acesso em 12/10/2011). 35 InfoPen Estatística. Brasília, dez/2010. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm (último acesso em 20/10/2011). 36 Cf. Relatório Anual do Conselho Nacional de Justiça, 2010, p. 126.
33
Um sistema carcerário de acordo com direitos humanos só pode ser aquele em que
os direitos à saúde, à integridade física, ao devido processo legal, entre tantos outros, são
levados a sério, ao contrário do que ocorre atualmente. Isso só será possível quando
medidas judiciais caminharem no sentido de reestruturar o sistema prisional, o que pode
ser feito nos presentes embargos infringentes.
Esta é a posição corroborada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
um dos principais órgãos da Organização dos Estados Americanos (CIDH-OEA).
Conectas, Instituto Pro Bono, e Conselho Comunitário Penitenciário de Guarujá e Vicente
de Carvalho impugnaram as condições desumanas de encarceramento da superlotada
Cadeia Pública do Guarujá, onde adolescentes e adultos ficavam presos juntos.
As organizações obtiveram como resposta a concessão de medidas cautelares
determinando a retirada dos adolescentes e a realização de diligências necessárias para
garantia da integridade dos adultos (MC 63/2007).
Esta resposta da Comissão está afinada com sua jurisprudência, que vem
ordenando ao Brasil e a outros países com problemas semelhantes que protejam a vida e a
integridade das pessoas privadas da liberdade.
V- CONCLUSÃO
Em síntese, o presente pedido de ingresso como amicus curiae apresenta a este
Egrégio Tribunal evidências de que o sistema carcerário estadual ainda enfrenta sérios
problemas de desrespeito aos direitos humanos.
O excesso de penas de prisão impostas resulta em um cenário de superlotação no
qual garantias básicas tornam-se absolutamente inviáveis. A violação ao direito
constitucional da individualização da pena, por meio da manutenção de presos com
condenação definitiva em unidades destinadas a abrigar presos provisórios, é um exemplo
de irregularidade que pode ser sanada por este tribunal.
34
Os presos sob custódia da Secretaria de Segurança Pública sofrem ainda mais com a
falta de acesso a serviços de saúde, educação, segurança e trabalho – além da ocorrência de
maus tratos e tortura. Já foi iniciado o processo de remoção de presos desses
estabelecimentos e a redução que se conseguiu nos últimos anos mostra que a chamada
“meta zero” do Conselho Nacional de Justiça é viável, sendo a presente decisão uma
oportunidade para que o judiciário colabore com tal meta.
VI- PEDIDO
Diante de todo o exposto, requer a organização:
a) que seja admitida a presente manifestação na qualidade de amicus curiae nos autos dos
Embargos Infringentes nº 9092747-45.2002.8.26.0000;
b) que seja permitida a sustentação oral dos argumentos quando do julgamento dos
embargos;
c) que, caso não acolhidos os pedidos anteriores, seja a presente petição e documentos
recebidos como memoriais.
Nestes termos,
Pede deferimento.
São Paulo, 03 de novembro de 2011.
___________________ ___________________
Flávia Xavier Annenberg Marcos Roberto Fuchs
OAB/SP nº 310.355 OAB/SP sob nº 101.663