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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS57ª Promotoria de Justiça de GoiâniaRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25sala 332, Jardim Goiás, Goiânia-Goiás - CEP 74.805-100e-mail: [email protected] 3243-8442 e 127 | www.mpgo.mp.br
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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ___ VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por meio de seu
representante titular da 57ª Promotoria de Justiça de Goiânia, com sede no
endereço constante no cabeçalho desta página, no uso de suas atribuições legais e
com apoio no arts. 37, caput, II e IX, 127, caput, 129, II e III, da Constituição Federal,
art. 5º, I, da Lei 7.347/85 e art. 25, IV, “a” e “b” da Lei 8.625/93, propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
com pedido de liminar1/24
A.C.S.
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em desfavor de:
ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno,
representada pelo Procurador-Geral Alexandre Eduardo Felipe Tocantins,
domiciliado na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia/GO, CEP
74003-010;
AGÊNCIA GOIANA DE DEFESA AGROPECUÁRIA – AGRODEFESA,
entidade autárquica integrante da Administração Indireta do Estado de Goiás,
representada por seu presidente Antenor de Amorim Nogueira, domiciliado na Av.
Circular, n.º 466, Qd. 87, Lt. 2, Setor Pedro Ludovico, Goiânia/GO, CEP 74823-020,
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir delineados.
I – DOS FATOS:
A Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento – SEGPLAN, com a
participação da Agência Goiana de Defesa Agropecuária – AGRODEFESA,
lançaram o Processo Seletivo Simplificado regido pelo edital n.º 004/2014-
SEGPLAN, o qual se destina a selecionar candidatos, em caráter temporário, para o
preenchimento de 114 (cento e quatorze) vagas para o cargo de Agente de
Fiscalização Agropecuária, com formação em Técnica Agropecuária de acordo
com o Decreto Estadual n.º 8.151, de 23 de abril de 2014 e Lei n.º 15.691/2006.
Sucede que o mencionado Processo Seletivo Simplificado e o Decreto
8.151/2014 padecem de várias irregularidades. Veja-se.
De seu turno, o Decreto n.º 8.151, de 23.04.2014, autorizou a
AGRODEFESA a realizar a contratação de 114 (cento e catorze) servidores
temporários, tendo como premissa o processo administrativo n.º 201300005010210.
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Esse ponto demanda uma análise mais detalhada para demonstrar, com precisão, a
ilegalidade do Decreto.
Por meio do Edital n.º 01, de 19.08.2009, a Secretaria de Ciência e
Tecnologia do Estado de Goiás, a AGRODEFESA e a UEG realizaram concurso
público para o provimento dos cargos de Fiscal Estadual Agropecuário (nível
superior) e Técnico Agropecuário (nível médio).
O certame tinha validade de 2 (dois) anos, prorrogável uma única vez por
igual período (item 160, fl. 109v). Por meio do Decreto n.º 7.529, de 29.12.2011,
publicado na página 3 do Suplemento do Diário Oficial n.º 21.253, de 29.12.2011, o
concurso público fora prorrogado até 14.01.2014.
Todavia, 5 (cinco) meses antes da expiração da validade do concurso
público regido pelo edital n.º 01/2009, em 07.08.2013, o presidente da
AGRODEFESA solicitou à SEGPLAN a realização de “processo seletivo para
recrutamento de pessoal a ser contratado temporariamente”, conforme se vê do
processo administrativo n.º 201300005010210 (fl. 136).
Dessa forma, em vez de pedir a contratação dos aprovados no concurso
público em cadastro de reserva (em torno de 70 candidatos), o presidente da
AGRODEFESA solicitou a contratação de temporários para a realização de serviços
afetos a servidores efetivos do quadro permanente da autarquia, o que demonstra a
ilegalidade de seu pedido.
O Processo Seletivo Simplificado regido pelo edital n.º 004/2014-
SEGPLAN, ao buscar a contratação de temporários, viola a obrigatoriedade de
seleção de pessoal para controles oficiais de sanidade agropecuária por meio de
concurso público (art. 37, II, da CF; art. 9º, § 6º, II, do Decreto 5.741/2006).
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Isso se dá porque o trabalho de fiscalização de sanidade animal e vegetal
é de extrema relevância para a economia do país (e notadamente para o Estado de
Goiás), pois é o único meio de garantir o controle da disseminação de pragas, ervas
daninhas, fungos maléficos, bactérias, vírus, insetos e de quaisquer doenças de
natureza animal ou vegetal que podem efetivamente impactar na produção,
exportação, comércio interno de produtos de origem agropecuária, situações que
exigem o trabalho de Fiscais com vínculo efetivo com a Administração Pública.
Bem por isso, serviços dessa envergadura não podem ficar sob a batuta
de apadrinhados políticos escolhidos por meio de currículo em que o porte de
Carteira Nacional de Habilitação representa 20% da pontuação total, enquanto os
cursos de aperfeiçoamento integram 10% da pontuação, no máximo.
O item 1.4 do edital n.º 04/2014-SEGPLAN preconiza que o contrato
podeter vigência de até 3 (três) anos, o que se mostra inconstitucional, posto que em
confronto direto com o art. 37, IX, da Constituição Federal e com o art. 92, X, da
Constituição de Goiás, cuja interpretação autorizaria, no máximo, validade de até 1
(um) ano.
O edital n.º 004/2014-SEGPLAN também traz como fundamento o art. 2º,
IX, da Lei Estadual 13.664/20001 para tentar justificar a contratação de temporários
para a AGRODEFESA. Nesse dispositivo legal, a expressão chave é “atendimento
de situações emergenciais ligadas ao comércio estadual ou interestadual de
produtos de origem animal ou vegetal ou de iminente risco à saúde animal, vegetal
ou humana”.
1 Art. 2º - Considera-se necessidade temporária de excepcional interesse público aquela que comprometa aprestação contínua e eficiente dos serviços próprios da administração pública, nos seguintes casos: (…)
IX – vigilância e inspeção, relacionadas com a defesa agropecuária, no âmbito da Secretaria de Agricultura,Pecuária e Abastecimento e de suas jurisdicionadas, para atendimento de situações emergenciais ligadas aocomércio estadual ou interestadual de produtos de origem animal ou vegetal ou de iminente risco à saúdeanimal, vegetal ou humana.
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Com efeito, essas situações não estão acontecendo no Estado de Goiás,
muito menos desde setembro de 2013. E, se por acaso estivessem ocorrendo, seria
necessária a contratação de profissionais que fossem devidamente capazes de
reconhecerem prontamente a sintomatologia das doenças dos rebanhos e das
pragas vegetais, isto é, médicos veterinários, zootecnistas, agrônomos e outros
profissionais integrantes do cargo de Fiscal Estadual Agropecuário, que são os
verdadeiros responsáveis pela inspeção, controle e fiscalização do trânsito de
vegetais e animais, suas partes, seus produtos e subprodutos destinados a
quaisquer fins, vigilância sanitária e epidemiológica (de natureza fito e zoosanitária)
e por ações de emergência fito e zoosanitária (art. 3º, V, “b”, “c” e “d”, da Lei
Estadual 15.691/2005) e não servidores de nível médio, os quais têm como função
precípua auxiliar a execução das tarefas afetas aos Fiscais Estaduais
Agropecuários.
Ora, a título de exemplo, ressalte-se que a defesa vegetal no Estado de
Goiás exige conhecimentos técnicos nas áreas de fitopatologia e de entomologia,
com treinamentos periódicos, uma vez que para realizar inspeção de carga é
necessário verificar a ocorrência de pragas dos vegetais em trânsito e não
meramente realizar uma análise documental (cf. art. 7º da Lei Estadual
14.245/2002).
Além do mais, a aplicação de multas é ato privativo do Fiscal Estadual
Agropecuário (art. 3º, V, “e”, da Lei Estadual 15.691/2006 e art. 9º, § 2º, da Lei
Estadual 14.245/2002). Assim, a Portaria n.º 564/2014 do presidente da
AGRODEFESA, publicada no Diário Oficial n.º 21.865, de 02.07.2014, que
determinou, de ofício, a transferência de Fiscais Estaduais Agropecuários de Postos
de Fiscalização para Unidades Operacionais Locais, para além de provocar
transtornos de ordem pessoal aos servidores efetivos, possibilita aos temporários
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substituírem os Fiscais Estaduais Agropecuários, com a imensa desvantagem de
não terem poderes para aplicação de multas.
Desse modo, além de não possuírem capacidade técnica e autorização
legal para exercerem as atribuições de inspeção dos Fiscais Estaduais
Agropecuários, os servidores temporários contratados para a AGRODEFESA
não têm poderes para aplicarem multas.
Como se sabe, o Estado de Goiás é hoje zona livre de febre aftosa com
vacinação, realizada duas vezes ao ano (maio e novembro). Há previsão de que em
5 (cinco) anos o nosso Estado se transforme em zona livre de aftosa sem vacinação,
o que permitiria a Goiás exportar para grandes mercados consumidores de carne
bovina, a exemplo dos Estados Unidos da América.
É cediço, também, que o agronegócio é responsável por mais de 50% do
PIB goiano. Goiás é o 4º maior produtor de grãos do país e possui 3º maior rebanho
bovino do Brasil.
É inaceitável que mandatários de ocasião coloquem em risco a saúde
humana, animal e vegetal e a economia do Estado de Goiás. Os atos da
AGRODEFESA de substituir médicos veterinários, agrônomos, zootecnistas e outros
profissionais que compõem o quadro de Fiscais Estaduais Agropecuários por
servidores temporários de nível médio é absolutamente deletério, pois esses
temporários são incapazes de executar o serviço de atenção à sanidade
agropecuária e, o que pode ser ainda mais danoso, estão lotados em locais
estratégicos de Goiás.
Dessa forma, alternativa não restou ao Ministério Público senão exercitar
o seu dever-poder de ação na defesa do patrimônio público, da coletividade e do
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cumprimento da Constituição e das leis.
II – DO DIREITO:
II.1 – Da inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 1º da Lei
Estadual 13.664, de 27 de julho de 2000:
O art. 92, X, da Constituição do Estado de Goiás (“Art. 92. (…) X – a lei
estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público;”) foi regulamentado pela
Lei Estadual 13.664, de 27 de julho de 2000, cuja redação originária do art. 1º
previa:
“Art. 1º Para atender a necessidade temporária de excepcional interessepúblico, os órgãos da administração estadual direta, autárquica efundacional do Poder Executivo poderão contratar pessoal por tempodeterminado, pelo prazo máximo de 1 (um) ano e nas condições previstasnesta lei.”
A Lei Estadual 13.912, de 25/09/2001 alterou a redação do art. 1º da Lei
13.664/2000, aumentando o prazo máximo para de contratação temporária para 2
(dois) anos, in verbis:
“Art. 1º. Para atender a necessidade temporária de excepcional interessepúblico, os órgãos da administração direta, autárquica e fundacional doPoder Executivo poderão contratar pessoal por tempo determinado, peloprazo máximo de 2 (dois) anos, dentro do qual será permitida arecontratação na mesma ou em outra função.”
Dois anos depois, por meio da Lei Estadual 14.524, de 02/09/2003, o
prazo de contratação temporária foi dilatado para 3 (três) anos:
“Art. 1º Para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
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público, os órgãos da administração direta, autárquica e fundacional doPoder Executivo poderão contratar pessoal por tempo determinado, peloprazo máximo de 3 (três) anos, dentro do qual será permitida arecontratação na mesma ou em outra função.”
Em 2007, o Procurador-Geral de Justiça ingressou com Ação Direta de
Inconstitucionalidade em face das alterações normativas promovidas pelas Leis
13.912/2001 e 14.524/2003 ao art. 1º da Lei 13.664/2000, cujo pedido foi julgado
procedente pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás em aresto assim
ementado:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INÉPCIA. LEI 9.868/99.ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ADMISSÃO DE PESSOAL. ARTIGO 92,INCISO X DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL E 37, INCISO IX DA CF LEI13.664/00. ALTERAÇÕES DA LEI 14.524/03. PRAZO GERAL. HIPÓTESENÃO DISCRIMINADAS. 1 - Não há que se falar em inépcia da peça vestibular quando a mesma sefaz portadora dos elementos delineados no artigo 3º da Lei 9.868/99. 2 - Impõe-se o reconhecimento da incompatibilidade material das Leis13.912/01 e 14.524/03 nas alterações que introduziram ao artigo 1º da Lei13.664/00, com o imperativo do artigo 92, inciso X da Constituição Estadual,face a previsão global e genérica do prazo de duração dos contratostemporários, sem discriminar as distinções correlatas às hipóteses legais,uma vez que dada a peculiaridade de cada situação, se impõe suadiversificação para atender os reclames do princípio da continuidade doserviço público, diante da excepcionalidade das hipóteses fáticas quecomportam lapsos temporais distintos.AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE PROCEDENTE.(TJGO, ADI 361-3/200 (200703301440), Rel. DES. GILBERTO MARQUESFILHO, ÓRGÃO ESPECIAL, julgado em 14/05/2008, DJe 114 de20/06/2008)
Assim, a partir da decisão do TJGO acima transcrita, voltou a vigorar
a redação originária do art. 1º da Lei Estadual 13.664/2000, isto é, as
contratações em regime temporário poderiam viger somente pelo prazo
máximo de 1 (um) ano.
Sucede que em 16 de outubro de 2013, em clara reação legislativa ao
acórdão do TJGO na ADI 361-3/200 (200703301440), a Assembleia Legislativa do
Estado de Goiás editou a Lei 18.190, que deu nova redação ao art. 1º da Lei
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Estadual 13.664/2000, litteris:
“Art. 1° Para atender a necessidade temporária de excepcional interessepúblico, os órgãos da administração estadual direta, autárquica efundacional do Poder Executivo poderão contratar pessoal por tempodeterminado, pelo prazo máximo de 3 (três) anos e nas condiçõesprevistas nesta Lei.”- Redação dada pela Lei nº 18.190, de 16-10-2013.
Como se vê, a Lei 18.190/13 trouxe idêntica redação à da Lei 14.524/03,
declarada inconstitucional pelo TJGO na ADI 361-3/200, razão por que sua
inconstitucionalidade material é manifesta (violação ao art. 92, X, da CE/GO).
Sucede que além do flagrante vício de inconstitucionalidade material, há,
também, inconstitucionalidade formal por vício de iniciativa. Veja-se.
As leis referentes à contratação de servidores para atender
necessidade temporária de excepcional interesse público (CF, art. 37, IX e
CE/GO, art. 92, X) se inserem no âmbito de iniciativa privativa do Chefe do
Poder Executivo, nos termos do art. 61, § 1º, II, “c”, da Constituição Federal2,
norma de repetição obrigatória nas Constituições Estaduais.
Atento a esse comando superior, o constituinte goiano prescreveu no art.
20, § 1º, II, “a” e “b”, da Constituição de Goiás:
“Art. 20. (...)§ 1º São de iniciativa privativa do Governador as leis que: (...)II - disponham sobre: a) – a organização administrativa, as matérias tributária e orçamentária.b) Os servidores públicos do Estado, seu regime jurídico, a criação e oprovimento de cargos, empregos e funções na administração direta,autárquica e fundacional do Poder Executivo, a estabilidade eaposentadoria, e a fixação e alteração de sua remuneração ou subsídio;”
2 Art. 61. (...)§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...)II - disponham sobre: (...)c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria;
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Assim, lei versando sobre contratação temporária de servidores não
pode ter seu processo legislativo disparado por parlamentar, mas tão somente
pelo Governador do Estado, sob pena de inconstitucionalidade formal.
Vale registrar, no ponto, acórdão unânime do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo em caso idêntico ao ora relatado:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. LEI DEINICIATIVA PARLAMENTAR, VETADA PELO PREFEITO E COM VETOREJEITADO PELA CÂMARA, QUE A PROMULGA. INVASÃO DA ESFERADE ATRIBUIÇÕES DO CHEFE DO EXECUTIVO. VULNERAÇÃO AOPRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. INCONSTITUCIONALIDADEDECLARADA. LEI MUNICIPAL QUE ACRESCENTA PARÁGRAFO 3º AO ARTIGO 3º DALEI Nº 10.793/89, A QUAL REGULA A CONTRATAÇÃO POR TEMPODETERMINADO, EM ATENDIMENTO À NECESSIDADE TEMPORÁRIADE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. INVASÃO DE ATRIBUIÇÃODO CHEFE DO EXECUTIVO. A LEI QUE DISPÕE SOBRE SERVIDORESPÚBLICOS MUNICIPAIS E SEU REGIME JURÍDICO É DE INICIATIVAPRIVATIVA DO PREFEITO, NOS TERMOS DO ARTIGO 37, § 2º, III, DA LEIORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. VULNERAÇÃO DOSARTIGOS 4º, 5º E 111 DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA.”(TJSP, ADI 0016432-17.2011.8.26.0000, Rel. Des. RENATO NALINI,ÓRGÃO ESPECIAL, julgado em 14/12/2011, data de registro 17/01/2012)
A decisão do TJSP acima referida foi mantida pelo Supremo Tribunal
Federal, demonstrando o acerto da decisão da Corte Estadual (RE 720.059/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, julgado em 25/03/2013, publicado em DJe-061 DIVULG
03/04/2013 PUBLIC 04/04/2013).
Os Tribunais de Justiça dos Estados do Rio Grande do Sul e de
Minas Gerais tem jurisprudência no mesmo sentido da acima invocada:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL E VÍCIODE INICIATIVA. DISPOSIÇÃO SOBRE SERVIDORES PÚBLICOS. ART. 60,II, "B", CE/89. Independentemente dos propósitos objetivados pelolegislador municipal, apresenta-se inconstitucional lei de iniciativa da
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Câmara de Vereadores, que venha a dispor sobre servidores públicos -contratações emergenciais - matéria reservada ao Executivo, tal qual seestabelece em o art. 60, II, "b", CE/89. (TJRS, Ação Direta de Inconstitucionalidade Nº 70038857223, TribunalPleno, Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 14/03/2011)
LEIS MUNICIPAIS. CONTRATAÇÕES TEMPORÁRIAS POR PRAZOINDETERMINADO. VÍCIO DE INICIATIVA. - As normas da Constituição Estadual autorizam a Administração a contratarpessoal por tempo determinado desde que para atender a necessidadetemporária de excepcional interesse público, independentemente darealização de concurso público, devendo ser a contratação realizada, dequalquer modo, dentro dos princípios da moralidade e da impessoalidade esempre por prazo determinado. A matéria, contudo, é reservada a Lei deiniciativa do executivo.- Revela-se inconstitucional a lei municipal, de iniciativa da Casa Legislativa,que trata de matéria reservada à iniciativa do Poder Executivo, implicandosubtração de competência legislativa e afronta ao princípio da harmonia eindependência dos Poderes. (TJMG, Ação Direta Inconst. 1.0000.11.029868-4/000, Relator(a): Des.(a)Wander Marotta, ÓRGÃO ESPECIAL, julgamento em 23/01/2013,publicação da súmula em 01/02/2013)
Firmadas essas premissas, note-se que a Lei Estadual 18.190/2013, que
aumentou o prazo máximo de contratação de servidores temporários no âmbito da
Administração Pública do Estado de Goiás para 3 (três) anos, adveio do Projeto de
Lei n.º 118/2013, processo n.º 2013002061 (fls. 123/133), de autoria do Deputado
Estadual Frederico Nascimento e, por isso, inconstitucional por vício de
iniciativa.
Assim, o art. 1º da Lei 13.664/2000, com a redação dada pela Lei
18.190/2013, deve ser declarada inconstitucional incidenter tantum, restabelecendo-
se o prazo de 1 (um) ano constante da redação originária do aludido dispositivo
legal.
Por via de consequência, afastando-se o prazo de 3 (três) anos acima
referido, o prazo de vigência de 3 (três) anos do contrato previsto no item 1.4 do
edital n.º 004/2014-SEGPLAN deve ser declarado nulo.
11/24A.C.S.
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II. 2 – DO MÉRITO:
II.2.1 – DA NULIDADE DO DECRETO N.º 8.151, DE 23.04.2014
E DO EDITAL N.º 004/2014-SEGPLAN:
A Constituição Federal, em seu art. 37, II, traz a obrigatoriedade de se
realizar concurso público para admitir servidores na Administração Pública:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dosPoderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípiosobedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovaçãoprévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordocom a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma previstaem lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado emlei de livre nomeação e exoneração;”
Essa regra constitucional é excetuada no inciso IX do mesmo artigo: “IX -
a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;”
Na mesma senda, o Estado de Goiás assim estabeleceu no artigo 92,
inciso X, da Constituição Estadual:
Art. 92. […][…]X – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado paraatender à necessidade temporária de excepcional interesse público;
No âmbito do Estado de Goiás, o instrumento legislativo que disciplina os
casos de contratação temporária é a Lei 13.664/2000.
Porque invocados pelo edital n.º 004/2014-SEGPLAN, para os termos da
12/24A.C.S.
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presente ação interessam os incisos VIII e IX do art. 2º da Lei Estadual 13.664/2000,
que preveêm:
Art. 2º. Considera-se necessidade temporária de excepcional interessepúblico aquela que comprometa a prestação contínua e eficiente dosserviços próprios da administração pública, nos seguintes casos:(...)VIII – atendimento urgente a exigências do serviço em decorrência da faltade pessoal concursado e para evitar o colapso nas atividades afetas aossetores de:
a) trânsito, transporte, obras públicas, educação, segurança pública,assistência previdenciária, comunicação e outras negociais de captação derecursos destinados, preponderantemente, aos Programas da Rede deProteção social do Estado de Goiás;
b) segurança educacional e de educação e orientação social, no âmbito daSecretaria de Cidadania, para suprir necessidades de unidadesocioeducativa de atendimento a adolescentes em situação de conflito coma lei;
c) desenvolvimento de atividades socioculturais inclusivas de educação, artee cultura, especialmente destinadas a crianças e adolescentes, no âmbitodas unidades culturais e educativas da Agência Goiana de Cultura PedroLudovico Teixeira – AGEPEL;
IX – vigilância e inspeção, relacionadas com a defesa agropecuária, noâmbito da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento e de suasjurisdicionadas, para atendimento de situações emergenciais ligadas aocomércio estadual ou interestadual de produtos de origem animal ou vegetalou de iminente risco à saúde animal, vegetal ou humana.
De início, vê-se que o inciso VIII do art. 2º da Lei 13.664/2000 não se
aplica ao caso vertente, porquanto nada diz sobre qualquer atribuição afeta à defesa
animal ou vegetal, sanidade agropecuária, etc. Assim, equivocado o edital ao citá-lo.
Por outro lado, o inciso IX do mesmo dispositivo legal guarda relação com
as atividades desenvolvidas pela AGRODEFESA. Entrementes, tal comando legal
fora utilizado de modo indevido, uma vez que a motivação para abertura de
processo seletivo para contratação de temporários se deu de modo inválido. Veja-se.
Para que a contratação de servidores temporários se mostre regular é
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preciso que três requisitos estejam presentes: a) prazo determinado da contratação;
b) temporariedade da função; e c) excepcional interesse público. Ausente qualquer
pressuposto, a contratação é inválida.
Em relação ao “prazo determinado da contratação”, no tópico anterior
explicitou-se a contento que o prazo de 3 (três) anos previsto no edital é nulo, pois
inconstitucional. Esse prazo não deveria ultrapassar 1 (um) ano.
Acerca da “temporariedade da função”, melhor sorte não reserva ao
Decreto n.º 8.151/2014 e ao edital n.º 004/2014-SEGPLAN.
O edital n.º 004/2014-SEGPLAN se destina a selecionar candidatos, em
caráter temporário, para o cargo de Agente de Fiscalização Agropecuária, com
formação em Técnica Agropecuária.
Com efeito, o cargo de Agente de Fiscalização Agropecuária está previsto
na Lei Estadual 15.691/2006, in verbis:
Art. 2º O quadro Permanente dos servidores efetivos da AGRODEFESA éconstituído dos grupos ocupacionais a seguir denominados, compostospelos quantitativos de cargos especificados no Anexo I desta Lei:(...)III - Agente de Fiscalização Agropecuária;(...)§ 1º Os cargos serão providos mediante concurso público de provas ou deprovas e títulos, conforme dispuser o edital.
Note-se que a Lei Estadual 15.691/2006 dispõe sobre o Quadro
Permanente de Pessoal e o Plano de Cargos e Remuneração, dos servidores da
Agência Goiana de Defesa Agropecuária, e dá outras providências.
Assim, mesmo que as funções de defesa agropecuária não fossem
permanentes - - - ainda mais em uma unidade federativa como Goiás, em que o
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agronegócio responde por mais de 50% do PIB do Estado - - -, as disposições da Lei
Estadual 15.691/2006 não deixam qualquer margem à interpretação sobre a
natureza permamente das funções de Agente de Fiscalização Agropecuária.
Esse o quadro, também resta desatendido o requisito de “temporariedade
da função” para fundamentar a contratação de servidores temporários com amparo
no art. 37, IX, da CF e no art. 92, X, da CE/GO.
No pertinente ao pressuposto do “excepcional interesse público” a
embasar a contratação de temporários, restou demonstrado que a AGRODEFESA,
em vez de pedir a contratação de 70 (setenta) aprovados no concurso público em
cadastro de reserva, válido até 14.01.2014, solicitou em 07.08.2013 a contratação
de temporários para a realização de serviços afetos a servidores efetivos do quadro
permanente da autarquia.
O ato autorizativo do processo seletivo, o Decreto 8.151, foi editado em
23.04.2014, sendo que o edital n.º 004/2014-SEGPLAN foi datado de 07.05.2014 e
as inscrições poderiam ser feitas até 20.05.2014.
O caráter eleitoreiro do processo seletivo regido pelo edital n.º 004/2014-
SEGPLAN é manifesto, visando apenas beneficiar apaniguados com cargos
temporários em período eleitoral. Ademais, a substituição de Fiscais Estaduais
Agropecuários (médicos veterinários, zootecnistas, agrônomos e outros) por
servidores temporários de nível médio acarretará em uma fiscalização menos rígida,
o que também há de favorecer correligionários e amigos.
Esses fatores, somados, desnaturam o “excepcional interesse público”
apto a justificar a seleção regida pelo edital n.º 004/2014-SEGPLAN.
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Como se vê, todos os requisitos norteadores de uma contratação de
servidores temporários foram desatendidos pelos réus, o que inquina o edital n.º
004/2014-SEGPLAN e o Decreto 8.151, de 23.04.2014 de ilegalidade.
Mas não é só.
O edital n.º 004/2014-SEGPLAN prevê:
7.10 Atribuições do Cargo:7.10.1 Gerais: Fiscalizar produtos de origem vegetal, animal eagroindustrial e desempenhar atividades que compreendam tarefas deapoio administrativo, financeiro e logístico para as ações de defesaagropecuária;7.10.2 Específicas:a) auxílio na execução de medidas técnicas de defesa sanitária quandodeterminadas e sob a coordenação de servidor titular de cargo integrante dogrupo ocupacional Fiscal Estadual Agropecuário;b) execução de serviços de apoio às atividades laboratoriais, inclusivecoleta, controle e recepção de amostras;c) classificação de produtos de origem animal e vegetal;d) cadastramento e registro de propriedades rurais e demaisestabelecimentos de interesse da defesa agropecuária;e) direção de unidades operacionais locais de defesa agropecuária;f) emissão de documentos fito e zoosanitários, conforme o disposto nalegislação;g) execução técnica dos trabalhos de sua especialidade;
A segunda parte das atribuições gerais e as atribuições específicas acima
transcritas repetem, ipsis litteris, as funções do cargo efetivo de Agente de
Fiscalização Agropecuária previstas no art. 3º, III, “a” a “g”, da Lei Estadual
15.691/2006, in verbis:
Art. 3º As funções dos cargos do quadro de pessoal efetivo de que trata estaLei são as seguintes, sem prejuízo do seu detalhamento ou acréscimo deoutras funções correlatas nos termos do regulamento: (…)II - no Grupo Ocupacional Agente de Fiscalização Agropecuária: desempenho de atividades que compreendam tarefas de apoio administrativo, financeiro e logístico para as ações de defesa agropecuária, tais como:a) auxílio na execução de medidas técnicas de defesa sanitária quando
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determinadas e sob a coordenação de servidor titular de cargo integrante dogrupo ocupacional Fiscal Estadual Agropecuário;b) execução de serviços de apoio às atividades laboratoriais, inclusivecoleta, controle e recepção de amostras;c) classificação de produtos de origem animal e vegetal;d) cadastramento e registro de propriedades rurais e demaisestabelecimentos de interesse da defesa agropecuária;e) direção de unidades operacionais locais de defesa agropecuária;f) emissão de documentos fito e zoosanitários, conforme o disposto nalegislação;g) execução técnica dos trabalhos de sua especialidade;
Sucede que a primeira parte das atribuições gerais previstas no item
7.10.1 do edital n.º 004/2014-SEGPLAN - - - “fiscalizar produtos de origem
vegetal, animal e agroindustrial” - - - integra as funções do cargo de Fiscal
Estadual Agropecuário, delineadas no art. 3º, V, “a” e “b”, da Lei Estadual
15.691/2006, in verbis:
Art. 3º As funções dos cargos do quadro de pessoal efetivo de que trataesta Lei são as seguintes, sem prejuízo do seu detalhamento ou acréscimode outras funções correlatas nos termos do regulamento: (…)V - no Grupo Ocupacional Fiscal Estadual Agropecuário: desempenho deatividades relacionadas com planejamento, organização, direção,execução, supervisão, coordenação, consultoria, assessoramento econtrole de ações, projetos e programas de defesa agropecuária, tais como:a) inspeção e fiscalização de propriedades agropecuárias e de outrosestabelecimentos que exerçam atividades relacionadas com a produção,industrialização, manipulação, armazenamento, comercialização ouutilização de insumos, produtos ou subprodutos agropecuários eagroindustriais, de origem animal e vegetal, e os de uso agronômico eveterinário;b) inspeção, controle e fiscalização do trânsito de vegetais e animais,suas partes, seus produtos e subprodutos destinados a quaisquerfins;
Ao contrário do servidor temporário contratado a partir do edital n.º
004/2014-SEGPLAN, que exigiu apenas nível médio, o cargo efetivo de Fiscal
Estadual Agropecuário reclama nível de escolaridade superior, exigindo-se formação
em agronomia, engenharia florestal, medicina veterinária, zootecnia, química,
química industrial, química industrial agrícola, engenharia química, bioquímica,
engenharia de alimentos, tecnologia em alimentos ou biomedicina (Anexo I da Lei
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Estadual 15.691/2006).
Demais disso, o art. 2º, IX, da Lei Estadual 13.664/2000 prevê que os
serviços de “vigilância e inspeção, relacionadas com a defesa agropecuária, para
atendimento de situações emergenciais ligadas ao comércio estadual ou
interestadual de produtos de origem animal ou vegetal ou de iminente risco à saúde
animal, vegetal ou humana”, podem dar azo à contratação temporária.
Com efeito, esses serviços são de atribuição exclusiva dos Fiscais
Estaduais Agropecuários (art. 3º, V, da Lei Estadual 15.691/2006), cargos efetivos de
nível superior (Anexo I da Lei Estadual 15.691/2006). Assim, caso estivessem
presentes os requisitos do art. 37, IX, da Constituição Federal e do art. 92, X, da
Constituição de Goiás, um certame para contratação de temporários somente
poderia visar a seleção profissionais de nível superior (médico veterinário,
zootecnista, agrônomo, etc) e jamais detentores de nível médio, apenas.
Todavia, vulnerando essas premissas legais, dispôs o Decreto n.º 8.151,
de 23.04.2014:
“Art. 1º Fica a Agência Goiana de Defesa Agropecuária - AGRODEFESA -autorizada a celebrar 114 (cento e quatorze) contratos temporários para afunção de Agente de Fiscalização Agropecuária, com formação em técnicaagropecuária e registro na respectiva entidade fiscalizadora, nos termos daLei nº 13.664, de 27 de julho de 2000, com as alterações posteriores,especialmente da Lei nº 18.190, de 16 de outubro de 2013.
Acompanhando o erro do Decreto 8.151/2014, constou do edital n.º
004/2014-SEGPLAN:
1.3 O Processo Seletivo Simplificado destina-se a selecionar candidatos aserem contratados, em caráter temporário, para o preenchimento de 114(cento e quatorze) vagas para o cargo de Agente de FiscalizaçãoAgropecuária, com formação em Técnica Agropecuária de acordo como Decreto Estadual n.º 8.151, de 23 de abril de 2014 e Lei nº
18/24A.C.S.
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15.691/2006;(...)7.5 Nível de Escolaridade: Ensino Médio com formação em TécnicasAgropecuárias;
Nesse diapasão, por cometerem atribuições privativas de cargos efetivos
de nível superior a servidores temporários de nível médio, padecem de nulidade o
Decreto 8.151/2014 e o edital n.º 004/2014-SEGPLAN por violação art. 3º, V, e
Anexo I, da Lei Estadual 15.691/2006.
Por fim, o viés eleitoreiro do processo seletivo simplificado amparado pelo
Decreto 8.151/2014 e pelo edital n.º 004/2014-SEGPLAN, tendente a favorecer
amigos e correligionários por todo o Estado de Goiás, retirando os Fiscais Estaduais
Agropecuários concursados de locais estratégicos para a defesa agropecuária,
coloca em risco a saúde humana, animal e vegetal e a economia do nosso Estado,
reforçando a violação aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da eficiência, da razoabilidade, da proporcionalidade e da
motivação, previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal e no art. 92,
caput, da Constituição de Goiás.
Ante o flagrante desvirtuamento da contratação de temporários, forçoso
concluir que as aludidas contratações padecem de ilegalidade de objeto,
inexistência de motivos e de desvio de finalidade, devendo ser anuladas, nos
precisos termos do art. 2º, “c”, “d” e “e”, parágrafo único, “c”, “d” e “e”, da Lei
Federal 4.717/65, in verbis:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadasno artigo anterior, nos casos de:(…)c) ilegalidade do objeto;d) inexistência dos motivos;e) desvio de finalidade.
Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ãoas seguintes normas:
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(…)c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa emviolação de lei, regulamento ou outro ato normativo;d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou dedireito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente oujuridicamente inadequada ao resultado obtido;e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando afim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra decompetência.
A pronúncia de nulidade é reforçada, ainda, pelo comando do art. 4º, I, da
Lei 4.717/65:
Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados oucelebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quantoàs condições de habilitação, das normas legais, regulamentares ouconstantes de instruções gerais.
Considerando que os réus violaram a exigência de contratação por
concurso público, conforme previsão do art. 37, II, da CF, incide na espécie o
mandamento do § 2º do art. 37 da Constituição Federal: “§ 2º - A não observância
do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do ato e a punição da
autoridade responsável, nos termos da lei.”
II.2. 2 – DA NULIDADE DA PORTARIA N.º 564/2014-AGRODEFESA:
Como afirmado em linhas volvidas, a aplicação de multas é ato
privativo do Fiscal Estadual Agropecuário, nos termos do art. 3º, V, “e”, da Lei
Estadual 15.691/2006 e do art. 9º, § 2º, da Lei Estadual 14.245/2002:
“Art. 3º As funções dos cargos do quadro de pessoal efetivo de quetrata esta Lei são as seguintes, sem prejuízo do seu detalhamento ouacréscimo de outras funções correlatas nos termos do regulamento: (…)V - no Grupo Ocupacional Fiscal Estadual Agropecuário: (...)(...)e) aplicação de sanções administrativas, bem como a prática de outros
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atos de natureza preventiva, cautelar ou corretiva, de interesse fito ezoosanitário, nos termos da legislação pertinente;”
“Art. 9º. …(…)§ 2º As multas lançadas por Fiscais Estaduais Agropecuários, medianteexpedição de Auto de Infração, deverão ser recolhidas à conta arrecadadorada Agência Goiana de Defesa Agropecuária –AGRODEFESA–, através deDocumento de Arrecadação Estadual –DARE– ou Guia de Recolhimento porela emitidos.”
Assim, a Portaria n.º 564/2014 do presidente da AGRODEFESA,
publicada no Diário Oficial n.º 21.865, de 02.07.2014, que determinou, de ofício, a
transferência de Fiscais Estaduais Agropecuários de Postos de Fiscalização para
Unidades Operacionais Locais, para além de provocar transtornos de ordem pessoal
aos servidores efetivos, possibilita aos temporários substituírem os Fiscais Estaduais
Agropecuários, com a imensa desvantagem de não terem poderes para aplicação de
multas.
Desse modo, por enfraquecer a fiscalização e a defesa agropecuária nas
divisas do Estado de Goiás, trazendo riscos à saúde humana, animal e vegetal, bem
como à economia de Goiás, a Portaria n.º 564/2014-AGRODEFESA é inválida.
III – DA MEDIDA LIMINAR:
Os arts. 12 e 21 da Lei 7.347/85 c/c art. 84 da Lei 8.078/90 (Código de
Defesa do Consumidor) permitem a concessão de liminar no caso vertente.
Para tanto, é preciso ter presente os requisitos do art. 84, § 3º, do CDC:
“§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio
de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente
ou após justificação prévia, citado o réu.”
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Acredita-se ser relevante o fundamento da demanda, calcada na
violação à obrigatoriedade de recrutamento de pessoal, no desvirtuamento da
contratação excepcional de servidores temporários (CF, art. 37, IX), no caráter
eleitoreiro do Decreto 8.151/2014 e do edital n.º 004/2014-SEGPLAN e no
menoscabo à saúde humana, animal e vegetal e à economia do Estado de Goiás.
Além do mais, considerando o período eleitoral e a natural demora no
julgamento do mérito da presente ação, já estarão os contratos em execução ou até
mesmo já extintos, pelo decurso do prazo, com sérios prejuízos à força normativa da
Constituição, em especial aos princípios regentes da Administração Pública,
situações que reforçam a necessidade da concessão da medida liminar.
Com efeito, também se encontra presente o justificado receio de
ineficácia do provimento final, porquanto, acaso se aguarde o trânsito em julgado
da sentença, a omissão em realizar concurso público para o cargo efetivo de Fiscal
Estadual Agropecuário e o risco iminente à saúde humana, animal e vegetal e à
economia do Estado de Goiás continuarão por tempo indeterminado.
Esse o quadro, a liminar deve ser concedida para que sejam suspensos
os efeitos da Portaria n.º 564/2014-AGRODEFESA, do Decreto 8.151, de
23.04.2014, do edital n.º 04/2014–SEGPLAN e do processo seletivo nestes
fundado.
Assim, todos os Fiscais Estaduais Agropecuários relotados pela Portaria
n.º 564/2014 voltariam a seus antigos postos de trabalho e os servidores
temporários afastados imediatamente, rescindindo-se seus contratos, tudo de modo
a restaurar o status quo ante e trazer a defesa agropecuária do Estado de Goiás de
volta à normalidade constitucional e legal.
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Com apoio no art. 84, § 4º, do CDC, seja imposta aos réus multa de R$
50.000,00 (cinquenta mil reais) por dia de descumprimento.
IV – DO PEDIDO:
Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:
1) A concessão de medida liminar inaudita altera pars, nos termos do
artigo 12 da Lei 7.347/85, consistente na suspensão dos efeitos da Portaria n.º
564/2014-AGRODEFESA, do Decreto 8.151, de 23.04.2014, do edital n.º 04/2014–
SEGPLAN e do processo seletivo nestes fundado;
2) A citação da AGRODEFESA, na pessoa de seu Presidente, e do
ESTADO DE GOIÁS, na pessoa do Procurador-Geral do Estado, para que
contestem o pedido, no prazo legal;
3) A produção de todas as provas em direito admitidas, inclusive
testemunhal, cujo rol será oportunamente ofertado;
4) A isenção do pagamento de taxas e emolumentos, adiantamentos de
honorários periciais e quaisquer outras despesas processuais;
5) A PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, para DECLARAR A NULIDADE da
Portaria n.º 564/2014-AGRODEFESA, do Decreto 8.151, de 23.04.2014, do edital n.º
04/2014–SEGPLAN, do processo seletivo e das contratações temporárias neles
fundadas.
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Valor da causa: R$ 1.000,00 (mil reais).
Pede deferimento.
Goiânia, 14 de julho de 2014.
Fernando Aurvalle KrebsPromotor de Justiça
24/24A.C.S.