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M INISTÉRIO P ÚBLICO DO E STADO DO P ARANÁ 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE UMUARAMA/PR. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , representado pelo órgão de execução que esta subscreve, no uso de suas atribuições previstas no artigo 25, inciso IV, alínea “b”, da Lei federal 8.625/93, e com fundamento nos artigos 37, § 4º e inciso XXI, 127, “caput”, e 129, inciso III, da Constituição Federal, nos artigos 1º, inciso IV, e 5º, da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), e demais disposições da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), com base no anexo Inquérito Civil nº MPPR-0151.12.000025-3, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente, AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (com pedido liminar) Em face de: 1. LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, brasileiro, casado, médico, ex-prefeito do Município de Umuarama, RG. nº 1.139.380-2 SESP/PR, e CPF nº 349.902.329-68, residente na Rua Tamoios, 443, Apto. 11, Vila Izabel, CEP 80320-290, Curitiba – PR, e com endereço profissional na Av. Presidente Getúlio Vargas, 2.682, Água Verde, Curitiba – PR (Animus - Clínica Interdisciplinar); 1 Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE UMUARAMA/PR.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, representado pelo órgão de execução que esta subscreve, no uso de suas atribuições previstas no artigo 25, inciso IV, alínea “b”, da Lei federal 8.625/93, e com fundamento nos artigos 37, § 4º e inciso XXI, 127, “caput”, e 129, inciso III, da Constituição Federal, nos artigos 1º, inciso IV, e 5º, da Lei nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), e demais disposições da Lei 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa), com base no anexo Inquérito Civil nº MPPR-0151.12.000025-3, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente,

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

(com pedido liminar)

Em face de:

1. LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, brasileiro, casado, médico, ex-prefeito do Município de Umuarama, RG. nº 1.139.380-2 SESP/PR, e CPF nº 349.902.329-68, residente na Rua Tamoios, 443, Apto. 11, Vila Izabel, CEP 80320-290, Curitiba – PR, e com endereço profissional na Av. Presidente Getúlio Vargas, 2.682, Água Verde, Curitiba – PR (Animus - Clínica Interdisciplinar);

1Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Umuarama

2. WANDERLEA DANTAS CORRÊA, brasileira, RG. nº 4.189.179-3, e CPF nº 570.928.939-68, servidora municipal e ex-Secretária de Administração e Fazenda do Município de Umuarama, residente na Rua Jandaia, 5.202, nesta Cidade; também podendo ser localizada na sede da Prefeitura Municipal de Umuarama;

3. VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, brasileira, solteira, advogada, OAB/PR nº 12.530, CPF nº 329.264.489-53, nascida aos 12/05/1956, filha de Vicente Marques da Silva e Amélia Carrara da Silva, residente na Rua Aquidabam, 4.373, e com escritório profissional na Rua Desembargador Lauro Lopes, 3.663, Sala Comercial 05, Edifício Piemont II, Zona I, Umuarama-PR;

4. JACOB & SILVA JACOB LTDA. – ME, atualmente DEAL DISTRIBUIDORA DE EQUIPAMENTOS APUCARANA LTDA-ME, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob nº 07.626.124/0001-26, estabelecida na Rua Dr. Osvaldo Cruz, 1022, sala 18, centro, CEP 86.800-730, Apucarana – PR, representada pelo sócio-administrador, Amarildo Jacob, residente na Rua Antônio Mantovani, 1.704, Cambé - PR;

5. AMARILDO JACOB (sócio-administrador da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA), brasileiro, casado, empresário, portador do RG. nº 7.344.344-0/PR, e CPF nº 023.859.799-77, residente na Rua Antônio Mantovani, 1.704, Cambé - PR;

6. ADEMILSON APARECIDO JACOB (então procurador da empresa Jacob & Silva Jacob Ltda.-ME), brasileiro, casado, economista, portador do R.G. nº 4.391.985-7/PR, e CPF nº 744.930.609-30, com endereço na Rua Professor João Candido Ferreira, 593, Centro, Apucarana-PR e/ou Av. Munhoz da Rocha, 1610, Apucarana-PR;

7. RODRIGO TONUS (então procurador da empresa Jacob & Silva Jacob Ltda.-ME), brasileiro, solteiro, advogado, OAB/PR nº 41.788, e CPF nº 042.046.379-81, residente e domiciliado na Rua Morretes, 10, bairro Portão, CEP 80.610-150, Curitiba – PR; e

8. WELLINGTON DE FARIA SILVA (então procurador da empresa Jacob & Silva Jacob Ltda.-ME), brasileiro, casado, inscrito 2

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no RG. nº 10.294.232/SP, e CPF nº 856.876.008-25, residente na Rua Desembargador Isaias Beviláqua, 889, Casa, Mercês, Curitiba – PR.

I – DOS FATOS.

I.1 – Introito.

À luz dos elementos de convicção produzidos por esta 5ª Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público da Comarca de Umuarama, nos Autos de Inquérito Civil nº MPPR-0151.12.000025-31, apurou-se a responsabilidade dos requeridos acima declinados pela prática de atos de improbidade administrativa, nos termos da Lei nº 8.429/92, em razão de fraude em procedimento de inexigibilidade de licitação e desvio de recursos públicos mediante simulação da prestação de serviços, conforme se passa a demonstrar.

Técnicos do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, ao realizarem inspeção junto ao Município de Cafezal do Sul durante o Plano Anual de Fiscalização, descobriram graves ilegalidades na contratação das empresas Alô Grátis Com. Mídia Eletrônica Ltda. e A. Jacob Telecom, para prestação de serviços de comunicação telefônica por meio de internet (tecnologia VOIP – voz sobre identificação de protocolo), inclusive o pagamento por serviços que não foram executados (doc. 01 e 03 - fls. 07-20 e 72-73).

Diante dessa constatação, os técnicos da Corte de Contas buscaram no Sistema de Informações Municipais (SIM-AM) do próprio Tribunal de Contas, registro acerca de possíveis contratos que tais empresas tivessem firmado com outros entes públicos, apurando que contratos semelhantes tinham ocorrido nos Municípios de Cafelândia, Cafezal do Sul, Esperança Nova, Iporã, Maria Helena, Mariluz, Ponta Grossa, Primeiro de Maio, Tunas do Paraná, Santa Mônica, São Tomé, Xambrê e Umuarama, neste último com três entidades municipais (doc. 01 - fls. 27).

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- As indicações de páginas feitas nesta petição inicial referem-se à paginação dos autos de Inquérito Civil em anexo, com 3 (três) volumes.

3Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302

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A partir desses elementos o Tribunal de Contas instaurou uma Tomada de Contas Extraordinária para cada um dos municípios envolvidos (doc. 01 - fls. 06).

Instaurada a Tomada de Contas Extraordinária n.º 56425-6/09, relativa ao Município de Umuarama e instruída com inúmeros documentos, cópias dos autos respectivos foram enviadas ao Ministério Público e resultaram na instauração do Inquérito Civil nº MPPR-0151.11.000128-7.

Dos elementos colhidos pelo Tribunal de Contas e da instrução promovida nesse inquérito civil, apurou-se que no Município de Umuarama foram realizadas a simulação de três contratos administrativos com as empresas A. Jacob Telecom – ME e Alô Grátis Com. Mídia Eletrônica Ltda., com o suposto objetivo de prestação de serviços de transmissão de voz por meio da internet, mas que efetivamente destinavam-se ao desvio de recursos públicos mediante o pagamento por serviços que nunca foram realizados.

Esses fatos resultaram na propositura de Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa, autuada sob nº 1.074/2012, em trâmite na 1ª Vara Cível desta Comarca de Umuarama.

Entretanto, durante as investigações os Técnicos do Tribunal de Contas apuraram que além dos golpes aplicados por meio das empresas A. Jacob Telecom – ME e Alô Grátis Com. Mídia Eletrônica Ltda., os requeridos Amarildo Jacob e Ademilson Aparecido Jacob também se utilizavam de uma terceira empresa, a Jacob & Silva Jacob Ltda., a qual teria sede no mesmo endereço da empresa Alô Grátis, ocupando uma mesma sala na cidade de Apucarana. Sendo que para viabilizar a inscrição no CNPJ, alvarás e inscrição no CAD-ICMS, os seus endereços foram diferenciados apenas formalmente como sendo ocupantes das salas 18 e 18-A, quando na verdade existia apenas a sala 18 no local.

Os Técnicos da Corte de Contas também apuraram que o Município de Umuarama havia firmado um contrato de prestação de serviços com a empresa Jacob & Silva Jacob Ltda., pagando a quantia de R$180.000,00 (cento e oitenta mil reais), quando o procedimento 4

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de inexigibilidade da licitação tinha sido homologado pela quantia de R$125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), conforme dado lançado no sistema on-line (SIM-AM) do TCE-PR, para a realização de um objeto antieconômico, consistente na precificação de futura licitação para concessão à instituição financeira da gestão de sua folha de pagamento de pessoal (doc. 02 - fls. 43-45).

Ocorre, no entanto, que esse contrato também foi uma fraude para desviar recursos públicos do Município de Umuarama, fatos que agora são objeto da presente ação civil pública.

I.2. A Inexigibilidade de Licitação.

Com data de 11 de fevereiro de 2007, mas efetivamente firmado em 11 ou 12 de fevereiro de 2008, a requerida WANDERLEA DANTAS CORRÊA, na condição de Secretária de Administração e Fazenda do Município de Umuarama, subscreveu comunicação interna dirigida à Chefe da Divisão de Licitações, solicitando a abertura de processo de inexigibilidade de licitação para a contratação da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA – ME, para “elaboração de projetos de viabilidade técnica e de pesquisas para fins econômicos, visando a realização de estudos e o levantamento de informações pertinentes para estabelecer o valor mínimo a ser arrecadado pela contratante em procedimento licitatório para a concessão da administração da folha de pagamento do funcionalismo municipal” (doc. 12 - fl. 268).

A referida comunicação interna foi instruída com documentos da empresa, dentre eles um instrumento de procuração datado de 11 de fevereiro de 2008, subscrito pelo requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, outorgando poderes ao requerido RODRIGO TONUS, para “firmar e gestionar o futuro contrato administrativo de prestação de serviços de elaboração de projetos de viabilidade técnica e de pesquisas para fins econômicos, a ser firmado junto à Prefeitura de Umuarama” (doc. 12 - fl. 269).

Ou seja, a contratação da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA – ME já estava decidida, sendo realizado o procedimento de inexigibilidade apenas para dar aparência de legalidade ao ato.

5Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302

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Também instruíram o procedimento de inexigibilidade os seguintes documentos: Certidão Negativa de débitos previdenciários, emitida eletronicamente pela Secretaria da Receita Federal do Brasil; Certificado de Regularidade do FGTS, emitido pela Caixa Econômica Federal; Certidão conjunta negativa relativa a tributos federais, emitida pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional; e Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral emitido pela Receita Federal. Todos emitidos eletronicamente pela internet, a partir do sítio de cada um desses órgãos, no dia 12 de fevereiro de 2008 (doc. 12 - fls. 275-277), demonstrando que o procedimento de inexigibilidade foi todo montado nesse dia.

Na mesma data, 12 de fevereiro de 2008, a divisão de licitações e contratos encaminhou o procedimento de inexigibilidade à Procuradoria Jurídica para parecer (doc. 12 - fl. 266) e a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, então Procuradora-Geral do Município de Umuarama, subscreveu o parecer fundamentando que a hipótese seria de inexigibilidade de licitação por se tratar de contratação de serviços técnicos, de natureza singular, com profissionais de notória especialização, na forma do art. 25, inciso II, da Lei 8.666/93 (doc. 12 - fls. 260-265).

Ainda, no mesmo dia 12 de fevereiro de 2008, a requerida WANDERLEIA DANTAS CORRÊA solicitou e obteve do então Prefeito, o requerido LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, a ratificação do ato por ela praticado consistente na autorização concedida para contratação da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA (doc. 12 - fls. 250 e 251).

Do mesmo modo, ainda no dia 12 de fevereiro de 2008, o Município de Umuarama, representado pelo requerido LUIZ RENATO, firmou o contrato com a empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA – ME, então representada pelo requerido RODRIGO TONUS, na condição de procurador.

Ou seja, todos os atos do procedimento de inexigibilidade, bem como a elaboração do contrato e sua assinatura, ocorreram no mesmo dia 12 de fevereiro de 2008.

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I.3. As cláusulas contratuais.

O contrato teve seu objeto assim descrito:

Cláusula 1ª. O presente contrato tem por objeto a prestação, por parte da contratada, de serviços específicos de elaboração de projetos de viabilidade técnica e de pesquisas para fins econômicos, visando a realização de estudos e o levantamento de informações pertinentes para estabelecer o valor mínimo a ser arrecadado pela contratante em procedimento licitatório, que terá como objeto a concessão da administração da folha de pagamento do funcionalismo municipal, assinalando, desta forma, o preço inicial da licitação (doc. 12 - fls. 245).

Apesar da retórica pomposa, com emprego de expressões e termos que visivelmente objetivavam apenas incrementar o texto, o objeto do contrato, em resumo, seria o estabelecimento do valor de partida para as propostas a serem feitas, pelas instituições financeiras, em futura licitação para contratar a gestão da folha de pagamento do funcionalismo municipal.

Por esse serviço o Município de Umuarama, representado pelo requerido LUIZ RENATO, comprometeu-se a pagar à empresa JACOB o equivalente a 5% (cinco por cento) do valor que futuramente fosse arrecadado pelo erário na referida licitação. Estabelecendo, ainda, que o município deveria arrecadar, obrigatoriamente, importância superior a R$2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), para que a contratada tivesse direito à remuneração, e que alcançado esse objetivo o percentual estabelecido seria calculado sobre o valor total obtido.

Ou seja, não se estabeleceu o preço a ser pago com base no serviço contratado, mas sim que o mesmo seria determinado pelo resultado financeiro de futura licitação da qual a empresa contratada, a JACOB & SILVA JACOB, não teria participação alguma e em cujo resultado o seu suposto serviço não teria nenhuma influência.

Ora, essa forma de estabelecer o preço de um contrato é absolutamente antieconômica, ofensiva aos princípios da economicidade e eficiência, posto que não remunera o serviço por 7

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seus próprios custos, pelo que ele efetivamente vale, mas sim pelo resultado de um evento em relação ao qual o mesmo é completamente alheio.

Tanto é assim, que no procedimento de inexigibilidade, que teria fundamentado a contratação, não existiu qualquer justificativa para a adoção dessa forma de estipulação do preço, em flagrante ofensa ao art. 26, parágrafo único, inciso III, da Lei 8.666/93.

Tal cláusula somente se explica no fato de que os requeridos, em verdade, não tinham outra intenção senão desviar a maior quantia de recursos quanto fosse possível, posto que quanto maior fosse o valor que seria obtido na futura licitação, maior seria a quantia desviada na forma disfarçada de pagamento para a empresa JACOB.

Além dessas cláusulas absurdas, relativas ao objeto e ao preço, o contrato ainda previa que os serviços teriam como responsável o requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, atribuindo-lhe caráter personalíssimo.

Ocorre que, o requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB formalmente não fazia parte e nem era empregado da empresa contratada, da qual era apenas um procurador, com poderes principalmente de gestão, tendo poderes de execução apenas para comprar e vender mercadorias (doc. 12 - fls. 270 e 273).

Assim, o serviço que o Município supostamente pretendia obter não poderia ter sido contratado com a empresa, já que deveria ser executado por terceira pessoa estranha aos seus quadros. Ou seja, o contrato, caso não fosse uma fraude para desviar recursos, deveria ter sido firmado com o requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, pessoa que efetivamente seria responsável pela execução do serviço contratado.

Esse dado confirma a constatação fática de que o contrato com a empresa JACOB & SILVA JACOB foi celebrado apenas e tão somente para dar aparência de legalidade à saída de recursos dos cofres públicos.8

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I.4. A simulação do serviço.

Realizados todos os atos formais do procedimento de inexigibilidade de licitação e celebrado o contrato no mesmo dia 12 de fevereiro de 2008, no dia seguinte (13 de fevereiro de 2008), exatamente às 13 horas e 59 minutos (doc. 12 - fls. 254), o requerido RODRIGO TONUS, procurador da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA., protocolou um Relatório de Serviços, subscrito pelo requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, também com data de 13 de fevereiro de 2008, como sendo o documento que dava cumprimento ao contratado (doc. 12 - fls. 254-259).

Ou seja, em menos de 24 (vinte e quatro) horas o requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, que seria o responsável técnico pela suposta execução do serviço, teria executado o contrato, cujo objeto, como dito, tinha seguinte descrição:

“serviços específicos de elaboração de projetos de viabilidade técnica e de pesquisa para fins econômicos, visando a realização de estudos e o levantamento de informações pertinentes para estabelecer o valor mínimo a ser arrecadado pela contratante em procedimento licitatório, que terá como objeto a concessão da administração da folha de pagamento do funcionalismo municipal, assinalando, dessa forma, o preço inicial da licitação.” (doc. 12 - fls. 245).

Assim, nesse período de menos de 24 horas, o requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB teria elaborado um “projeto de viabilidade técnica”, teria feito uma “pesquisa para fins econômicos”, teria “realizado estudos e levantamento de informações pertinentes” e, com base no resultado obtido com esses trabalhos, teria estabelecido o valor mínimo que deveria ser arrecadado pelo Município de Umuarama em futura licitação para concessão da administração da folha de pagamento do funcionalismo municipal.

Isso tudo, seria de uma eficiência ímpar jamais vista na administração pública ou privada, caso não passasse de um grande e grosseiro engodo para desviar recursos públicos, posto que o dito 9

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relatório não apresentou nenhum “projeto de viabilidade técnica”, tampouco se fez acompanhar de alguma “pesquisa”, seja para “fins econômicos” ou para qualquer outra finalidade, ou mesmo de “estudo ou levantamento” de quaisquer informações.

Com efeito, o relatório de serviços apresentado, feito em apenas duas páginas (mas que caberia perfeitamente em apenas uma, já que a última tem apenas um requerimento para que o mesmo fosse recebido), não passa de um instrumento inútil sem nenhuma fundamentação técnica ou científica, não apresenta nenhuma informação técnica ou dado fático que teria sido objeto de estudo ou análise para se chegar ao resultado apresentado, como também não utiliza e não se refere a qualquer método cientifico no suposto desenvolvimento do trabalho.

O dito relatório, teria se embasado apenas numa planilha anexa contendo a quantificação do número de servidores municipais por faixas de remuneração, cuja soma resultava no valor total da folha de pagamento mensal do funcionalismo municipal (doc. 12 - fl. 259). Dados esses extraídos da folha de pagamento feita pelo próprio Município de Umuarama. Ou seja, informações das quais o município sempre dispôs e que, portanto, não precisava contratar uma empresa para conhecê-las.

Apesar disso, o relatório recomendou que o Município de Umuarama estabelecesse o preço mínimo de R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais) na futura licitação de “alienação” da gestão de sua folha de pagamento para uma instituição financeira. E, ainda, estimou que as propostas a serem apresentadas pelas instituições financeiras poderiam superar esse valor mínimo em até 120% (cento e vinte por cento) - (doc. 12 - fl. 257).

Ocorreu, no entanto, que tendo por base o referido relatório, o Município de Umuarama promoveu três licitações consecutivas, todos na modalidade de pregão, visando o mesmo objetivo de conceder a uma instituição financeira a gestão de sua folha de pagamento, mas todos eles resultaram desertos por falta de interessados.

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Primeiro, lançou o Edital do Pregão Presencial 039/2008, estabelecendo o preço mínimo em R$5.000.000,00 (cinco milhões de reais) conforme recomendava aquele relatório (doc. 17 - fls. 487-511), o qual, apesar de comunicado a treze instituições financeiras (doc. 17 - fls. 480), resultou deserto por falta de interessados (doc. 15 - fls. 413-414).

Na sequência, promoveu o Pregão Presencial 064/2008, onde estabeleceu o preço mínimo em R$4.500.000,00 (quatro milhões e quinhentos mil reais), ou seja, em quinhentos mil reais abaixo do valor recomendado pelo relatório dos JACOB, mas que também resultou deserto por falta de interessados (doc. 17 e 18 - fls. 512-544).

Finalmente, em 11 de abril de 2008, o Município de Umuarama lançou o Edital do Pregão Presencial 96/2008, tendo o mesmo objeto, mas desta vez estabeleceu o preço mínimo em R$3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais), o qual também resultou deserto por falta de interessados (doc. 18 e 19 - fls. 545-585).

Ou seja, a imprestabilidade do trabalho apresentado pelo requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, pelo qual o Município de Umuarama pagou a quantia de R$180.000,00 (cento e oitenta mil reais), ficou definitivamente evidenciada na ausência de propostas, posto que estabeleceu um valor mínimo muito acima da realidade do mercado.

E, ainda, causou prejuízos econômicos ao Município de Umuarama, que teve de custear três pregões presenciais, com confecção de editais, publicações e perda de tempo, sem obter nenhum resultado.

Além desses fatos, que já seriam suficientes para demonstrar a fraude, outro dado relevantíssimo é o fato de que todos os documentos preparatórios da primeira dessas licitações desertas, o Pregão Presencial 39/2008, são datados do dia 13 de fevereiro de 2008, mesma data em que o requerido RODRIGO TONUS, procurador da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA., protocolou, exatamente às 13h59min, o relatório de serviços subscrito pelo requerido ADEMILSON 11

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APARECIDO JACOB, documento que teria servido de base para confecção do edital.

São dessa mesma data: (a) a comunicação interna, subscrita pela requerida WANDERLEA DANTAS CORREA, para a Chefe da Divisão de Licitações solicitando a abertura do procedimento licitatório (doc. 17 - fl. 511); (b) o parecer jurídico subscrito pela requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA (doc. 17 - fls. 508); e (c) o edital de licitação e respectivo aviso, subscritos pelos requeridos LUIZ RENATO e WANDERLEA (doc. 17 - fls. 487-501).

Isso demonstra que o Pregão Presencial já estava todo preparado quando o relatório da empresa JACOB & SILVA JACOB foi apresentado ao Município de Umuarama. E, muito provavelmente, também já estava pronto quando os requeridos resolveram firmar o contrato com a dita empresa, posto que, como visto acima, isso ocorreu no dia anterior, qual seja 12 de fevereiro de 2008.

Ou seja, além da absoluta imprestabilidade do relatório subscrito pelo requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, o Município de Umuarama nunca precisou do serviço que contratou com a empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME, sendo apenas uma simulação para desviar recursos públicos.

I.5. O dano econômico.

Por fim, em 18 de agosto de 2008, o Município de Umuarama, representado pelo requerido LUIZ RENATO, assinou o contrato administrativo nº 325/2008, com a Caixa Econômica Federal, transferindo-lhe o direito de exploração e prestação de vários serviços bancários e, em contra partida, a instituição financeira pagou ao município a quantia líquida de R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) - (doc. 14 - fls. 358-365).

Na sequência, os requeridos tomaram por base o valor desse contrato administrativo para efetuar o pagamento à empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME. Aplicaram o fator de 5% (cinco por cento), previsto no contrato com a JACOB, sobre a quantia de

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R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais), chegando ao valor de R$180.000,00 (cento e oitenta mil reais).

Assim, em 04 de setembro de 2008, os agentes públicos requeridos, sufragando seus objetivos, fizeram emitir dois cheques do Município de Umuarama, nos valores de R$115.000,00 (cento e quinze mil reais) e R$65.000,00 (sessenta e cinco mil reais), nominais à empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME, os quais foram entregues ao requerido, WELLINGTON DE FARIA SILVA, que subscreveu recibos nas respectivas notas de empenho (doc. 12, 13 e 19 - fls. 279-283, 299-303 e 588-589).

Ocorre, no entanto, que o contrato administrativo com a Caixa Econômica Federal decorreu do Procedimento de Dispensa de Licitação nº 015/2008 e não de um exitoso procedimento licitatório, conforme havia previsão no contrato firmado com a JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME.

Aliás, a contratação direta com a CAIXA, mediante dispensa, foi justificada exatamente no fato das licitações terem resultado desertas, conforme se extrai do parecer jurídico subscrito pela requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, do qual se transcreve o seguinte trecho:

“2. O artigo 24, inciso V, da Lei nº 8.666/93, enuncia ser cabível a dispensa de licitação quando não acudirem interessados à licitação e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas.

3. Jorge Ulisses Jacoby Fernandes afirma que a hipótese de dispensa acima apontada exige ‘a ocorrência de requisitos, sem os quais não poderá ser legitimada a contratação direta’.

4. Os requisitos legais para seu atendimento são:a) ocorrência de licitação anterior: No caso em exame

foram realizados três procedimento licitatórios anteriormente. No primeiro (Pregão nº 039/2008), nenhuma empresa apresentou os envelopes contendo a proposta e documentação, mesmo estando presente os representantes do Banco Itaú e do HSBC, não manifestaram interesse em apresentar proposta, assim sendo, declarando deserto o certame. No segundo

13Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302

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(Pregão Presencial nº 064/2008), nenhuma empresa apresentou os envelopes contendo a proposta e a documentação, mesmo estando presente funcionários do Banco Itaú que não manifestou interesse em apresentar proposta, assim sendo, declarado deserto o referido certame. No terceiro (Pregão Presencial nº 96/2008), nenhuma empresa apresentou os envelopes contendo a proposta e a documentação, sendo declarado deserto o referido certame.” (negrito original - doc. 15 - fls. 372-373).

Assim, ainda que o contrato com a JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME fosse lícito, a empresa não teria direito de receber qualquer valor, posto que as licitações realizadas com base na sua orientação resultaram todas desertas.

Ademais, o que é ainda mais grave, todas as licitações desertas (cujos eventuais resultados, caso fossem exitosas, teriam determinado o valor a ser pago para a empresa JACOB & SILVA JACOB), tinham objeto muito menos abrangente que o efetivamente contratado com a Caixa Econômica Federal, mediante dispensa.

O contrato com a empresa JACOB & SILVA JACOB previa o pagamento de 5% (cinco por cento) sobre o valor que fosse arrecadado pelo Município de Umuarama em procedimento licitatório que teria por objeto “a concessão da administração da folha de pagamento do funcionalismo municipal” (doc. 11 - fl. 245).

As licitações declaradas desertas tinham por objeto:

“a) Administração, com exclusividade, da folha de pagamento dos serviços públicos ativos, inativos e pensionistas da administração direta, autarquias e fundações; b) Direito de disponibilizar aos servidores descritos no item anterior, empréstimos em regime de consignação” (doc. 15 - fls. 376, 378 e 380).

Enquanto o contrato administrativo celebrado com a Caixa Econômica Federal, mediante dispensa de licitação, teve o seguinte rol de objetos:

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“O presente CONTRATO tem por objeto a prestação, pela CAIXA, dos seguintes serviços ao MUNICÍPIO:

I – Em caráter de exclusividade:a) Centralização e processamento de créditos

provenientes de 100% (cem por cento) da folha de pagamento gerada pelo MUNICÍPIO, que hoje representam 2036 servidores, lançados em contas correntes individuais do funcionalismo público na CAIXA, abrangendo servidores ativos e inativos, pensionistas e estagiários, autarquias e fundações, ou seja, qualquer pessoa que mantenha ou venha a manter vínculo de remuneração com o MUNICÍPIO, seja recebendo vencimento, salário, subsídio ou proventos e pensões, denominados, doravante, para efeito deste instrumento, CREDITADOS, em contrapartida da efetivação de débito na conta corrente do MUNICÍPIO;

b) Centralização e processamento da receita municipal e da movimentação financeira de todas as contas correntes, inclusive da Conta Única do MUNICIPIO (sistema de caixa único) se houver; excetuando-se os casos em que haja previsão legal, contratual ou judicial para manutenção dos recursos decorrentes de contratos ou convênios em outras instituições financeiras;

c) Centralização e movimentação financeira do MUNICÍPIO, relativa aos recursos provenientes de transferências legais e constitucionais, bem como de convênios a serem assinados com quaisquer órgãos do governo federal estadual, excetuando-se os casos em que haja previsão legal, contratual ou judicial para manutenção e movimentação dos recursos em outras instituições financeiras;

d) Centralização e processamento de todas as movimentações financeiras de pagamento a credores, incluindo fornecedores, bem como de quaisquer pagamentos ou outras transferências de recursos financeiros feitos pelo MUNICÍPIO a entes públicos ou privados, a qualquer título, excetuando-se os casos em que haja previsão lega, contratual ou judicial para manutenção e movimentação dos recursos em outras instituições financeiras;

e) Centralização e processamento de todas as movimentações financeiras dos Fundos do Poder Executivo

15Rua Des. Antônio F. Ferreira da Costa, 3693, Umuarama, PR - Fone: 44 3266-8302

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Municipal, a qualquer título, exceto os recursos oriundos de convênios e/ou contratos com obrigatoriedade de movimentação em outra instituição, por força de lei ou exigência do órgão repassador;

f) Aplicação das disponibilidades financeiras de caixa do MUNICÍPIO, bem como dos recursos dos fundos a que alude a alínea “e”;

g) Disponibilização do banco de dados dos servidores municipais da administração direta e indireta, autarquias e fundações, ativos e inativos, contendo todas as informações cadastrais;

h) Centralização na CAIXA dos depósitos judiciais de processos de quaisquer naturezas, nos casos em que o MUNICÍPIO possua autonomia na definição do banco depositário;

II – Sem caráter de exclusividade:a) Centralização das aplicações financeiras dos recursos

do FUNDO DE PREVIDÊNCIA MUNICIPAL DE UMUARAMA – FPMU, bem como dos novos depósitos recebidos pelo Fundo em percentual mínimo de 90% (noventa por cento) da totalidade dos recursos previdenciários do FMPU.

b) Centralização da arrecadação de todos os tributos cobrados pelo MUNICÍPIO mediante utilização de guias de recebimento ou cobrança integrada da CAIXA; na impossibilidade de centralização da arrecadação, o MUNICÍPIO deverá promover a transferência tempestiva da arrecadação efetuada nas demais instituições financeiras à CAIXA, para a conta de movimentação do MUNICÍPIO.

c) Concessão de crédito aos servidores ativos e inativos, pensionistas e estagiários da Prefeitura Municipal de UMUARAMA/PR e órgãos da Administração Direta e Indireta, autarquias e fundações, mediante consignação em folha de pagamento, atendidos os requisitos e pressupostos regulamentares de ordem interna da CAIXA, com prioridade de averbação da prestação consignada para a CAIXA, em relação aos descontos facultativos.” (doc. 12 - fls. 358-359).

O contrato com a CAIXA previu, ainda, que o Município de Umuarama pagaria a esta Instituição Financeira a quantia entre “R$0,45 a R$2,10 (quarenta e cinco centavos a dois reais e dez 16

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centavos) pela prestação dos serviços descritos na Cláusula Primeira, Inciso II, alínea “b”, conforme contrato de arrecadação firmado com o MUNICÍPIO” (doc. 12 - fl. 362).

Ou seja, a CAIXA somente pagou ao Município de Umuarama a quantia de R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais) porque celebrou contrato para a prestação de inúmeros outros serviços com exclusividade e outros sem exclusividade, contratando objeto muito mais amplo que a simples “concessão da administração da folha de pagamento do funcionalismo municipal”, utilizada como referência no contrato com a JACOB & SILVA JACOB LTDA. Sendo certo, portanto, que a CAIXA teria pagado um valor muito inferior se eventualmente tivesse contratado somente o serviço que supostamente foi avaliado pela empresa JACOB.

Aliás, aquelas licitações resultaram desertas exatamente porque nenhuma instituição financeira – inclusive a CAIXA - teve interesse em pagar o valor mínimo de R$3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais), previsto no último pregão deserto, para contratar apenas os serviços que eram licitados, que supostamente teria sido objeto de avaliação pela JACOB & SILVA JACOB LTDA.

Apesar disso tudo, os requeridos utilizaram o valor do contrato administrativo firmado com a CAIXA, para cuja celebração não houve nenhuma influência do “trabalho” subscrito pelo requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, para efetuar o pagamento à empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA., em verdadeiro desvio de recursos públicos.

Assim, os requeridos, em conluio de propósitos, desviaram dos cofres do Município de Umuarama, em benefício direto da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA., e indireto dos requeridos ADEMILSON APARECIDO JACOB e AMARILDO JACOB, a quantia total de R$180.000,00 (cento e oitenta mil reais), em valores da época.

Valor esse que atualizado e acrescido de juros legais, até maio de 2013, importa na quantia de R$ 360.505,28 (trezentos e sessenta mil, quinhentos e cinco reais e vinte e oito centavos), que corresponde ao dano causado ao erário do Município de Umuarama (doc. 19 - fls. 591-593).17

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II. DO DIREITO.

II.1. O ilícito procedimento de inexigibilidade nº 001/2008.

Além de ter sido uma montagem para dar aparência de legalidade ao pagamento que seria feito para a empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME., conforme acima narrado, o Procedimento de Inexigibilidade de Licitação nº 001/2008, também apresenta ilícitos de aspecto formal e material que, ao mesmo tempo em que corrobora as demais provas da fraude, são suficientes para caracterizar a sua nulidade.

Sucede que a Lei Federal 8.666/93, como cediço, prescreve formalidades essenciais aos procedimentos de dispensa e de inexigibilidade de licitação, nos seguintes termos:

Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2º e 4º do art. 17 e no inciso III e seguintes do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8º, desta Lei deverão ser comunicados, dentro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição para a eficácia dos atos.

Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retardamento, previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:

I – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for o caso;

II – razão da escolha do fornecer ou executante;III – justificativa do preço;IV – documentação de aprovação dos projetos de

pesquisa aos quais os bens serão alocados.” (grifou-se)

No presente caso, no entanto, os requeridos não justificaram a situação de inexigibilidade, não apresentaram qualquer 18

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razão pela escolha da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME e do requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, como responsável técnico, e também não apresentaram qualquer justificativa para o preço que contrataram.

Aliás, quanto ao preço, fixaram um critério para seu estabelecimento que não possuía nenhuma relação com o serviço contratado, com seus custos ou metodologia de execução. Ao contrário, o vincularam ao resultado de um evento futuro em relação ao qual o trabalho contratado não produziria nenhum efeito.

Mas não é só.

A requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, na condição de Procuradora-Geral do Município de Umuarama, fundamentou seu parecer pela declaração de inexigibilidade de licitação no art. 25, inciso II, combinado com o art. 13, da Lei 8.666/93, sem demonstrar a presença dos seus requisitos.

Esses dispositivos legais dispõem o seguinte:

“Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais especializados os trabalhos relativos a:

I – estudos técnicos, planejamento e projetos básicos ou executivos;

II – pareceres, perícias e avaliações em geral;III – assessorias ou consultorias técnicas e auditorias

financeiras ou tributárias;IV – fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras

ou serviços;V – patrocínio ou defesa de causas judiciais ou

administrativas;VI – treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;VII – restauração de obras de arte e bens de valor

históricoVIII – (vetado)”

Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:

I – (...)19

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II – para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

Ou seja, para restar caracterizada a hipótese legal de inexigibilidade do art. 25, inciso II, invocada pela requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, os requisitos a serem preenchidos são três: (1) que o serviço a ser contratado seja técnico e esteja arrolado no art. 13; (2) que, além de estar arrolado no art. 13, o serviço tenha natureza singular; e (3) que o profissional ou empresa a ser contratada tenha especialização na matéria e que essa especialização seja notória.

Porquanto, somente quando preenchidos esses requisitos, de modo cumulativo, é que a lei presume a inviabilidade de competição. Do contrário a administração deve demonstrar que naquele caso a competição seria inviável por outras razões.

Nesse sentido, são as lições da doutrina:

“Parece-nos certo que, para compor-se a inexigibilidade concernente aos serviços arrolados no art. 13, cumpre tratar-se de serviço cuja singularidade seja relevante para a Administração (e que o contratado possua notória especialização). Se assim não fosse, inexistiria razão para a lei haver mencionado ‘de natureza singular’, logo após a referência feita aos serviços arrolados no art. 13.

Se o serviço pretendido for banal, corriqueiro, singelo e, por isso, irrelevante que seja prestado por ‘A’ ou ‘B’, não haveria razão alguma para postergar-se o instituto da licitação. Pois é claro que a singularidade só terá ressonância para o tema na medida em que seja necessária, isto é, em que por força dela caiba esperar melhor satisfação do interesse administrativo a ser provido.

...Assim, o entendimento correto perante a primeira

questão suscitável pelo art. 25, II, é o de que para configurar-se a hipótese de ‘inexigibilidade’ de licitação não basta que se

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esteja perante um dos serviços arrolados no art. 13. É preciso, além disso, que, tendo natureza singular, a singularidade nele reconhecível seja necessária para o bom atendimento do interesse administrativo posto em causa. Donde, é preciso que seu desempenho demande uma qualificação incomum.” 2

“O conceito de serviço técnico profissional especializado consta do art. 13. O inc. II acrescenta duas exigências à contratação com inexigibilidade, a saber, o objeto singular da contratação e a notória especialização. A redação do inc. II exige alguns esclarecimentos.

Não basta, para reconhecer inviabilidade de competição, a mera caracterização de um serviço constante do elenco do art. 13. Para tanto, é indispensável a natureza singular do objeto contratado. Observe-se que a notória especialização não consiste propriamente em requisito da inexigibilidade, mas em pressuposto a ser utilizado na seleção do particular a ser contratado. Após reconhecer tratar-se de caso de inexigibilidade, a Administração deve escolher um sujeito para ser contratado: a notória especialização é um requisito a propósito da identidade do contratado.”3

Assim, não bastava dizer que se tratava de contratação de serviço técnico profissional especializado para resultar demonstrada a hipótese de inexigibilidade prevista no art. 25, inciso II, da referida lei. Era imprescindível que a administração municipal, bem como a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA em seu parecer jurídico, demonstrasse a presença material dos requisitos, quais sejam, a singularidade do objeto e a notória especialização da empresa a ser contratada, no caso a JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME.

Ocorre que, no presente caso, não restou preenchido e nem demonstrado no parecer jurídico, nenhum desses requisitos.

2

2

- CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, Curso de Direito Administrativo, 9ª ed., São Paulo: Malheiros Ed., 1997, p. 349-350.

3

3

- MARÇAL JUSTEN FILHO, Comentários à lei de licitações e contratos administrativos, 8ª ed. São Paulo: Dialética, 2000, p. 286.

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Acerca da suposta singularidade do objeto, a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, restringiu-se a dizer o seguinte:

“É mister ressaltar que a singularidade dá-se nos serviços que serão prestados, para tanto, a empresa não precisa ser única no mercado, mas sim ter particularidades, especialidades, que outras empresas não possuam.

...No caso em pauta o serviço pretendido pelo Município é

singular, prevê estudo meticuloso de mercado, entrando inclusive na seara de informações bancárias considerada sigilosa.” (doc. 12 - fls. 260-265).

Ou seja, o único fundamento invocado para sustentar a suposta singularidade do serviço seria a previsão de “estudo meticuloso de mercado” e “de informações bancárias de caráter sigiloso”.

Ocorre que, o fato do serviço contratado supostamente pressupor ou incluir um “estudo meticuloso de mercado” não importa, necessariamente, em singularidade do objeto. Porquanto, segundo lições da melhor doutrina, o serviço somente poderá ser considerado singular quando for de ocorrência excepcional (presente na hipótese) e não puder ser executado por um profissional padrão (requisito ausente no caso).

Ou seja, o serviço somente será singular se além de excepcional também não puder ser executado por qualquer profissional com formação na respectiva área do conhecimento.

“A identificação de um ‘caso anômalo’, depende da conjugação da natureza própria do objeto a ser executado com as habilidades titularizadas por um profissional-padrão que atua no mercado. Ou seja, não basta reconhecer que o objeto é diverso daquele usualmente executado pela própria Administração. É necessário examinar se um profissional qualquer de qualificação média enfrenta e resolve problemas dessa ordem, na atividade profissional comum.”4

4

4

- MARÇAL JUSTEN FILHO, Comentários à lei de licitações e contratos administrativos, 8ª ed. São Paulo: Dialética, 2000, p. 287.22

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Assim, além da excepcionalidade, também era necessário demonstrar no procedimento de inexigibilidade que o serviço pretendido não poderia ser satisfatoriamente executado por um profissional padrão, com conhecimento regular em sua área de formação. Inexistindo essa comprovação não há que se falar em singularidade do objeto e, por conseguinte, não se caracteriza a hipótese de inexigibilidade.

Aliás, os técnicos do Tribunal de Contas entenderam que o serviço contratado não tinha natureza singular, exatamente porque poderia ter sido executado pelo pessoal do próprio Município de Umuarama, que, quando muito, poderiam ter consultado profissionais de outras prefeituras onde a concessão da folha de pagamento já tivesse ocorrido (doc. 02 - fl. 45).

Mas além de não demonstrar a singularidade do serviço, os requeridos agentes públicos, em especial a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, passaram ao largo de demonstrar a notória especialização da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME. Muito ao contrário, os documentos juntados no procedimento de inexigibilidade demonstravam apenas a formação do requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB na área de economia, nada mais que isso (doc. 12 - fl. 274).

E em relação à empresa, os documentos demonstravam que estava muito longe de ter alguma qualificação para execução do serviço contratado, ou mesmo de especialidade em qualquer atividade que fosse.

Com efeito, as atividades econômicas que se propunha a exercer, segundo seu contrato social, eram nitidamente voltadas para o comércio em geral, e no ponto em que – com muito esforço interpretativo – poderia ter alguma relação com o serviço a ser contratado não deixava claro qual seria a área do conhecimento em que poderia atuar.

Explica-se. O contrato social dispunha que a empresa JACOB & SILVA JACOB atuaria nos seguintes ramos:

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“Comércio de Móveis Hospitalares e Móveis em Geral, comércio varejista de máquinas, de veículos especiais e acessórios, de unidades móveis de saúde, de produtos e equipamentos agropecuários e veterinários, de materiais de limpeza e higiene, de produtos alimentícios, de material de escritório e expediente, de produtos e equipamentos de informatização, de eletrônicos, de eletrodomésticos e de assistência. Comércio de material e equipamento para iluminação, de mobiliário e de segurança. Comércio atacadista de medicamentos. Elaboração de projetos de viabilidade técnica; de cursos e concursos; de treinamento; de eventos e de pesquisas.” (doc. 12 - fl. 270).

Ou seja, não arrolava nenhuma atividade que tivesse relação com o serviço a ser contratado. Das atividades descritas a que mais se aproxima seria a “elaboração de projetos de viabilidade técnica” e “de pesquisas”. No entanto, essas expressões são vagas e destituídas de qualquer significância, na medida em que não especificam a área do conhecimento científico ou econômico em que incidiriam.

Ao contrário disso, o rol de atividades comerciais é tão amplo, envolvendo uma gama de produtos tão diversos entre si (hospitalares, maquinas, veículos, acessórios, produtos agropecuários, veterinários, limpeza e higiene, alimentícios, escritório, expediente, informatização, eletrônicos, eletrodoméstico, iluminação, mobiliário, segurança, medicamentos), que somente poderia levar à conclusão de que a empresa não tinha nenhuma especialidade.

Destarte, os documentos juntados ao procedimento de inexigibilidade, assim como o parecer subscrito pela requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, não demonstravam a presença dos requisitos exigidos pelo art. 25, inciso II, da Lei 8.666/93, configuradores da hipótese de inexigibilidade. Ao revés, demonstravam que o trabalho pretendido não era singular e que a empresa contratada, assim como o profissional supostamente responsável, não tinham nenhuma especialização, muito menos notoriedade.

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Mas apesar dessa constatação, que estava documentalmente comprovada no procedimento administrativo, a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA emitiu aquele parecer, buscando dar aparência de legalidade à contratação direta da requerida JACOB & SILVA JACOB LTDA e, assim, criar instrumentos formais que autorizassem o futuro pagamento.

A consequência disso é a nulidade do procedimento administrativo e da própria declaração de inexigibilidade de licitação, bem como a comprovação de que a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA estava conluiada com os demais requeridos, pois emitiu parecer nitidamente contrário às disposições legais objetivando dar aparência de legalidade para a contratação direta da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA.

II.2. Da improbidade administrativa.

A probidade administrativa é uma forma de moralidade administrativa que consiste no dever do “funcionário servir à Administração com honestidade, procedendo no exercício de suas funções, sem aproveitar os poderes ou facilidades deles decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer”5.

O constituinte, visando, evidentemente, tutelar a sociedade dos administradores e servidores desonestos, dispôs que os atos de improbidade administrativa deverão ser rigidamente punidos, inclusive com suspensão dos direitos políticos e perda da função pública.

Prevê o § 4º, do artigo 37, da Constituição Federal que:

“4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”

5

5

- MARCELO CAETANO, apud JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, ed. Malheiros, 9ª edição, 4ª tiragem, p. 571.

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No plano infraconstitucional, a Lei Federal nº 8.429/92, regulamentando a Lei Maior, prevendo três modalidades de atos ímprobos: (a) atos que importam em enriquecimento ilícito (artigo 9º); (b) atos que causam prejuízo ao erário (artigo 10); e (c) atos que atentam contra princípios da administração (artigo 11).

Reza o artigo 10 da Lei 8.429/92 que:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:

I. facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no artigo 1º desta Lei;

(...)VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou

dispensá-lo indevidamente;

Ao comentar tal dispositivo, MARCELO CAETANO, com a clareza que lhe é peculiar, salienta:

“A conduta do agente é realçada. Qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, pode, em princípio, configurar ato de improbidade lesivo ao erário. Como visto, de várias formas pode o agente público causar a lesão: ocasionando perda patrimonial, através de desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de haveres ou bens públicos. Pretende a lei evitar e coibir a lesão ao erário. Eis sua finalidade. As hipóteses procuram ser exaustivas, mas não são. Eis a razão do termo “notadamente”. Assim sendo, outras formas de lesão ou prejuízo ao erário também estão abarcadas na lei”.6

6

6

- Probidade Administrativa: Comentários à Lei 8.429/92 e legislação complementar, 2ª edição, ed. Malheiros, 1997, p. 49.

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Entendeu o legislador em especificar a frustração da licitude como conduta a gerar dano ao erário, pois o certame licitatório visa, justamente, resguardar o patrimônio público buscando-se sempre a melhor proposta. Qualquer desrespeito à lisura da licitação, consequentemente, acaba por desviar do seu foco, o que, sem maiores discussões, leva a um dano ao erário, como de fato ocorreu no caso concreto.

Pelo princípio da legalidade a Administração deve observar estritamente as leis, não podendo agir senão quando e conforme permitido pela ordem jurídica.

Celso Antônio Bandeira de Melo afirma que7:

"Assim, o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Esta deve tão-somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no Direito brasileiro. Michel Stassinopoulos, em fórmula sintética e feliz, esclarece que, além de não poder atuar contra legem ou praeter legem, a Administração só pode agir secundum legem.”

Assim, na prática de seus atos, a Administração jamais pode agir contra a lei, o que sem dúvida lesa o próprio Estado Democrático de Direito. Especificamente sobre o ato administrativo, a Lei nº 4.717/65 elevou ao plano legal os seus requisitos já há muito reconhecidos pela doutrina: todo ato administrativo, para ser legal, deve ser praticado por agente competente, ter forma prescrita em lei, objeto lícito, motivo e finalidade pública, sob pena de nulidade, ex vi do artigo 2º dessa lei, in verbis:

Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:

7

7

- Curso de Direito Administrativo Brasileiro, 17ª ed. Malheiros, 2004, p. 92.

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a)incompetência;b)vício de forma;c) ilegalidade do objeto;d) inexistência dos motivos;e) desvio de finalidade.Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de

nulidade observar-se-ão as seguintes normas:a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não

se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou;b) o vício de forma consiste na omissão ou na

observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;

c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo;

d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido;

e) o desvio da finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

Daí que, em decorrência da violação ao principio da legalidade, além de configurar ato de improbidade administrativa, todos os atos praticados pelos requeridos, especialmente o procedimento de inexigibilidade 001/2008, o contrato administrativo 55/2008 e os pagamentos que se seguiram, são atos nulos de pleno direito e, como tal, devem ser declarados pelo Poder Judiciário, responsabilizando-se os requeridos pelos danos advindos.

Por sua vez, o princípio da impessoalidade, conforme a unanimidade das obras de Direito Administrativo, deve ser entendido sob duas perspectivas: na primeira acepção, a impessoalidade significa que o autor dos atos estatais é o órgão ou entidade e não a pessoa do agente; na segunda acepção, a impessoalidade exige que o administrador realize os atos de seu mister de acordo com a finalidade pública e nunca agindo para beneficiar ou afetar determinadas

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pessoas, pela simples razão de serem essas mesmas pessoas amigas ou desafetas do administrador.

Vale transcrever lapidares ensinamentos da doutrina especializada sobre o referido princípio:

"Sob outra ótica, torna cogente que a administração dispense igualdade de tratamento a todos aqueles que se encontram em posição similar, o que pressupõe que os atos praticados gerem os mesmos efeitos e atinjam a todos os administrados que estejam em idêntica situação fática ou jurídica, caracterizando a imparcialidade do agente público. (...) Com isto preserva-se o princípio da isonomia entre os administrados e o princípio da finalidade, segundo o qual a atividade estatal deve ter sempre por objetivo a satisfação do interesse público, sendo vedada a atividade discriminatória que busque unicamente a implementação de um interesse particular. " 8

"...o princípio (da impessoalidade) estaria relacionado com a finalidade pública que deve nortear toda a atividade administrativa. Significa que a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, uma vez que é sempre o interesse público que tem que nortear o seu comportamento... " 9

É evidente que não atua conforme os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade aquele que permite, contribui ou concorre para que uma empresa de “fachada”, sem qualificação técnica e sem especialidade para a realização do serviço, seja contratada mediante procedimento de inexigibilidade de licitação, sem o preenchimento dos requisitos legais e, ainda, o que é pior, realiza pagamentos para essa mesma empresa, mediante a apresentação de um simulacro de serviço.

8

8

- EMERSON GARCIA e ROGÉRIO PACHECO ALVES, Improbidade Administrativa, 2ª ed. 2004, Lumen Juris, p.55-56.

9

9

- SÉRGIO MONTEIRO MEDEIROS, Lei de Improbidade Administrativa, 2003, Ed. Juarez de Oliveira, p.100.

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Assim, das condutas dos agentes públicos requeridos, depreende-se, de forma inequívoca, a prática de atos de improbidade administrativa, pois além de violarem os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade e moralidade, também se utilizaram de seus cargos públicos para desviar recursos públicos em benefício particular, causando lesão ao erário.

Com as mesmas condutas, portanto, os requeridos agentes públicos facilitaram e concorreram dolosamente para a incorporação ao patrimônio particular da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA., e, por consequência, de seu titular, o requerido AMARILDO JACOB, bem como de seus procuradores, os requeridos ADEMILSON APARECIDO JACOB e WELLINGTON DE FARIA SILVA, de valores integrantes do acervo patrimonial do Município de Umuarama, como se estivessem efetuando o pagamento de um simulacro de serviço.

Vale lembrar, que tanto os agentes públicos como os particulares estão sujeitos às sanções da Lei 8.429/92:

Art. 1º. Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta Lei.

(...) Art. 2º. Reputa-se agente público, para os efeitos desta

Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Art. 3º. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza

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ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

De outro vértice, a punição dos atos de improbidade administrativa, tanto do agente público como do particular deverá ocorrer de acordo com as sanções previstas no artigo 12, o qual prevê que cada modalidade de ato de desonestidade tem espécies e gradação de sanções diferentes:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações:

I - ...II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do

dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

Assim, em face da expressa e clara disposição de lei, constatada a improbidade administrativa por flagrante ilegalidade no fabricado processo de inexigibilidade de licitação (que não atendia aos requisitos legais), na simulação da prestação de um serviço e no pagamento por serviço inexiste e desnecessário ao interesse público, 31

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caracterizando desvio de recursos públicos e em evidente prejuízo ao erário, é de rigor a imposição das citadas sanções aos requeridos.

Destarte, conclui-se que os requeridos, LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, WANDERLEA DANTAS CORRÊA e VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, praticaram os atos de improbidade administrativa, capitulados no art. 10, caput e incisos I e VIII, da Lei 8.429/92, estando sujeitos às sanções do art. 12, inciso II, da mesma lei; e os demais requeridos, JACOB & SILVA JACOB LTDA, AMARILDO JACOB, ADEMILSON APARECIDO JACOB, RODRIGO TONUS e WELLINGTON DE FARIA SILVA, concorreram e se beneficiaram dos mesmos atos de improbidade, estando, portanto, sujeitos às mesmas sanções preconizadas aos agentes públicos, nos termos do art. 3º da citada lei.

Porém, caso este juízo entenda que os atos de improbidade administrativa narrados não provocaram dano ao erário (art. 10, I e VIII, da Lei 8.429/92), o que se admite apenas como argumentação, todos os requeridos teriam, no mínimo, cometido o ato de improbidade, previsto no art. 11, “caput” e inciso I, da Lei 8.429/92, por violação dos princípios da administração pública, dentre eles, o da legalidade, moralidade e impessoalidade, ficando sujeitos às sanções do art. 12, inciso III, da referida lei.

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto na regra de competência.”

Destarte, devem os requeridos serem condenados pela prática de atos de improbidade administrativa que causa dano ao erário, previsto no art. 10, I e VIII, suportando as sanções do art. 12, II, ou, subsidiariamente, pela prática de atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração pública, na forma do art. 11, I, da mesma lei, devendo suportar as sanções do art. 12, III, todos da Lei 8.429/92.32

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III – INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS E RESPONSABILIDADES POR IMPROBIDADE.

III.1. Primeiro requerido.

O requerido LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, ex-prefeito do Município de Umuarama durante a gestão 2005-2008, é corresponsável por todos os atos ilícitos narrados. Enquanto mandatário do Município de Umuarama o requerido LUIZ RENATO tinha o poder de controle e mando sobre todos os demais agentes públicos envolvidos e, ainda, contribuiu diretamente para que os ilícitos acima descritos se efetivassem, pois homologou o julgamento do ilícito procedimento de inexigibilidade de licitação 001/2008 e assinou o contrato nº 055/2008, firmado entre o Município de Umuarama e a empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA (doc. 11 e 12 - fls. 245-249 e 251).

Assim, com suas condutas comissivas, o requerido praticou os atos de improbidade administrativa, acima descritos, concorrendo para o dano causado ao erário, razão pela qual deve ser solidariamente responsabilizado com os demais requeridos.

III.2. Segunda requerida.

A requerida WANDERLEA DANTAS CORRÊA, também é corresponsável por todos os atos ilícitos acima narrados. Porquanto, no exercício do cargo de Secretária de Administração e Fazenda do Município de Umuarama, deu início a todos os atos ilícitos, solicitando a abertura do procedimento de inexigibilidade de licitação nº 001/2008, juntando os documentos supostamente apresentados pela requerida JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME (doc. 12 - fl. 268).

Também foi a requerida WANDERLEA DANTAS CORREA que solicitou a ratificação pelo prefeito do ato ilícito por ela praticado na contratação da referida empresa (doc. 12 - fl. 250), bem como subscreveu declaração afirmando que a empresa JACOB & SILVA 33

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JACOB LTDA-ME, teria prestado serviços ao Município de Umuarama, possibilitando o seu pagamento.

Destarte, com suas condutas, além de praticar os atos de improbidade acima descritos, a requerida WANDERLEA DANTAS CORREA concorreu para a totalidade do dano causado ao erário, pelo qual deve ser solidariamente responsabilizada, juntamente com os demais requeridos.

III.3. Terceira requerida.

A requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, na condição de Procuradora-Geral do Município de Umuarama, portanto, pessoa de confiança do então prefeito, o requerido LUIZ RENATO, emitiu parecer jurídico declarando ser caso de inexigibilidade de licitação quando, sabidamente, não estavam presentes as hipóteses legais, dando, assim, instrumentos formais para a contratação direta da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME.

Com efeito, especialmente por ser presumidamente conhecedora dos aspectos legais do procedimento de licitação e das hipóteses de inexigibilidade, a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA senão agiu com dolo, o que se admite apenas à título de argumentação, portou-se, no mínimo, com culpa grave, ao emitir parecer pela declaração de inexigibilidade de licitação sem o preenchimento dos requisitos legais (doc. 12 - fls. 260-265).

Assim, com sua conduta dolosa, ou no mínimo culposa, a requerida VALDÍVIA MARQUES DA SILVA, praticou os mesmos atos de improbidade administrativa dos demais requeridos (fundamentação acima), concorrendo para o desvio de recursos públicos e para o dano causado ao erário do Município de Umuarama, razão pela qual deve igualmente ser solidariamente responsabilizada.

III.4. Quarta e quinto requeridos.

A empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME e o seu sócio administrador, o requerido AMARILDO JACOB, foram os principais beneficiários com os atos de improbidade administrativa praticados 34

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pelos agentes públicos, pois foram os destinatários dos pagamentos, efetuados por meio de dois cheques nominais à requerida JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME.

Além disso, o requerido AMARILDO JACOB, enquanto sócio administrador da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME, subscreveu procuração, por instrumento público, ao requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, outorgando-lhe poderes gerais para administrar e firmar contratos em nome da empresa, possibilitando, assim, a contratação com o Município de Umuarama (doc. 12 - fl. 273).

Também foi o requerido AMARILDO JACOB, enquanto titular da empresa, que posteriormente outorgou procuração ao requerido WELLINGTON DE FARIA SILVA, dando-lhe poderes específicos para, representando a empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME perante o Município de Umuarama, receber o pagamento relativo ao contrato 55/2008, podendo assinar empenhos e o respectivo recibo de quitação. Possibilitando, assim, que os pagamentos fossem efetuados em nome da empresa.

III.5. Sexto requerido.

O requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB, apresentando-se como sócio administrador da empresa JACOB & SILVA JACOB LTDA, mas na verdade na qualidade de procurador-administrador da mesma, assinou instrumento de procuração em favor do requerido RODRIGO TONUS, outorgando-lhe poderes para negociar e firmar contrato administrativo com o Município de Umuarama especialmente para prestação de serviços de “elaboração de projetos viabilidade técnica e de pesquisas para fins econômicos” (doc. 12 - fl. 269).

Assim agindo, ADEMILSON APARECIDO JACOB, possibilitou que RODRIGO TONUS, representando a requerida JACOB & SILVA JACOB LTDA., firmasse contrato com o Munícipio de Umuarama.

Também foi o requerido ADEMILSON APARECIDO JACOB que, valendo-se da sua formação em economia, subscreveu o 35

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simulacro de “relatório de serviços” que foi utilizado como sendo o produto da execução do contrato e com base no qual os agentes públicos requeridos fundamentariam os ilícitos pagamentos.

III.6. Sétimo e oitavos requeridos.

Por fim, os requeridos RODRIGO TONUS e WELLINGTON DE FARIA SILVA, enquanto procuradores, foram os representantes da requerida JACOB & SILVA JACOB LTDA., durante a prática de todos os atos ilícitos, atuando como verdadeiros longa manus dos requeridos ADEMILSON APARECIDO JACOB e AMARILDO JACOB.

Foi o requerido RODRIGO TONUS quem, em representação da empresa, subscreveu o contrato administrativo nº 55/2008 com o Município de Umuarama (doc. 12 - fl. 249). E também foi RODRIGO TONUS quem, no dia imediatamente seguinte, apresentou o simulacro de relatório subscrito por ADEMILSON APARECIDO JACOB, requerendo o seu recebimento pela Secretaria Municipal de Administração e Finanças (doc. 12 - fl. 255).

Já o requerido WELLINGTON DE FARIA SILVA, foi quem se deslocou até Umuarama para receber os cheques dados em pagamento pelo suposto serviço, tendo assinado as notas de empenho dando quitação pelo pagamento (doc. 12 - fls. 279-285).

IV - DA MEDIDA CAUTELAR EM CARÁTER LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DOS BENS.

A Constituição da República de 1988, em seu artigo 37, § 4º, estabelece, dentre outras consequências, que “os atos de improbidade administrativa importarão a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário”.

Ou seja, a Carta da República preocupa-se em assegurar o integral ressarcimento do erário lesado por atos de improbidade administrativa, dando tratamento especial ao tema e prevendo a indisponibilidade de bens como sendo mecanismo juridicamente adequado a esse objetivo.36

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Esse tratamento especial dado pela Carta Cidadã ao ressarcimento de danos causados ao erário também veio estampado na cláusula de imprescritibilidade da respectiva ação de ressarcimento, constante do § 5º do mesmo artigo 37: “A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.”

Visando dar concretude a esses ditames constitucionais, o legislador ordinário editou a Lei Federal 8.429/92, conhecida Lei da Improbidade Administrativa, prescrevendo em seu art. 5º que, “ocorrendo lesão ao patrimônio público, por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano”. Em seu art. 7º, que “quanto o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado”. E no parágrafo único, do mesmo dispositivo acrescenta que, “a indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”

Destarte, dessas normas especiais, de natureza constitucional e infraconstitucional, extrai-se um micro sistema jurídico voltado à repressão de condutas ímprobas causadoras de prejuízos ao erário e que estabelece especial tratamento para assegurar o integral ressarcimento do dano.

Esse micro sistema jurídico de defesa do patrimônio público, lesado por ato de improbidade administrativa, excepciona os requisitos gerais da medida cautelar de indisponibilidade de bens, passando a exigir, implicitamente, apenas a demonstração do fumus boni iuris, sendo dispensável a comprovação do periculum in mora, que passa a ser presumido, posto que a Constituição Federal, assim como a Lei 8.429/92, impõem a medida como necessária à garantia de recomposição, sempre que houver forte indício da prática de ato de improbidade administrativa que cause dano ao erário.

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Essa regra especial, decorrente de tal micro sistema jurídico, é reconhecida pela doutrina especializada na matéria:

“Razoável o argumento que exonera a presença do fumus boni iuris e do periculum in mora, para concessão da indisponibilidade de bens, apesar de opiniões contrárias. Com efeito, a lei presume estes requisitos ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à garantia da execução da sentença, tendo como requisitos específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos do ato hostilizado.” (grifou-se) 10

Neste sentido, também é o ensinamento de Emerson GARCIA e Rogério Pacheco ALVES:

“Quanto ao periculum in mora, parte da doutrina se inclina no sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo art. 7o da Lei de Improbidade, o que dispensaria o autor de demonstrar a intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. Neste sentido, argumenta Fábio Osório Medina que “O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário”, sustentando, outrossim, que “a indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz consequência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37, § 4o, da Constituição Federal.” De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. Deste modo,

10

1

- MARTINS JÚNIOR, Wallace P. Probidade Administrativa. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 395/396.

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em vista da redação imperativa adotada pela Constituição Federal (art. 37, § 4o) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7o), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência.” (grifou-se) 11

E bem assim, também de José Roberto dos Santos BEDAQUE:

“[...] desnecessário o perigo do dano, pois o legislador contenta-se com o fumus boni iuris para autorizar essa modalidade de medida de urgência. Essa solução vem sendo adotada pela jurisprudência.

Identificam-se, portanto, as características da indisponibilidade prevista no art. 7º: está limitada ao valor do prejuízo causado e não necessita da demonstração do perigo de dano. O legislador dispensou esse requisito, tendo em vista a gravidade do ato e a necessidade de garantir o ressarcimento do patrimônio público.” (grifou-se). 12

Essas lições da doutrina especializada também foram reconhecidas e internalizadas pela mais atualizada jurisprudência de nossos Tribunais, que vislumbrou a existência do referido tratamento especial decorrente do referido micro sistema de defesa do erário. A título de exemplo, pode-se citar o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. JUIZ QUE DECRETA LIMINARMENTE A INDISPONIBILIDADE DOS BENS DOS ACUSADOS. AGRAVANTE QUE SUSTENTA: A) ILEGITIMIDADE PASSIVA PORQUE JÁ NÃO ESTARIA MAIS À FRENTE DA DIRETORIA DA PARANAPREVIDÊNCIA QUANDO DA CONTRATAÇÃO DA

11

1

- GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 768.

12

1

- Tutela Jurisdicional Cautelar e Atos de Improbidade Administrativa. Cassio Scarpinella Bueno e Pedro Paulo de Rezende Porto Filho (coord.). Improbidade administrativa (questões polêmicas e atuais). São Paulo: Malheiros, 2001, p. 260.

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CITIS; B) LEGALIDADE DA DISPENSA DE LICITAÇÃO NA CONTRATAÇÃO DA CELEPAR PELA PARANAPREVIDÊNCIA; C) INEXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO PÚBLICO; E D) AUSÊNCIA DO PERIGO DA DEMORA PARA A DECRETAÇÃO DA INDISPONIBILIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. ... omissis ...(...)4. Da ausência de perigo da demora para a decretação de indisponibilidade de bens. Do perigo da demora e da impossibilidade de decretação sem prova do esvaziamento dos bens. Periculum in mora que é consequência jurídica do processamento da ação por improbidade administrativa. Prova de esvaziamento dos bens que é dispensável se a medida visa, justamente, evitar esse esvaziamento. Presunção extraída do artigo 7º e 16º da Lei nº 8.429/92. Recurso desprovido nesse ponto. A indisponibilidade de bens é medida obrigatória, pois, traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte no artigo 37, parágrafo 4º, da Constituição Federa l. Com efeito, o que se deve garantir é o integral ressarcimento ao erário. Assim, o patrimônio do réu da ação de improbidade fica, desde logo, sujeito às restrições do artigo 37, parágrafo 4º, da Carta Magna, pouco importando, nesse campo, a origem lícita dos bens. Trata-se de execução patrimonial decorrente de dívida por ato ilícito". A liminar não objetiva o aceleramento do direito invocado, a outorga dos efeitos antecipados do que se persegue, ou seja, o reconhecimento da improbidade e a condenação ao ressarcimento ou das demais sanções legais, mas busca vencer o perigo que a demora da prestação jurisdicional efetiva pode trazer, visando a eficácia e utilidade do processo principal, para evitar danos de difícil e incerta reparação, pois, ao final, podem vir a ser condenados os réus a ressarcir o erário e não mais possuírem meios para tanto. Não seria razoável exigir que estivessem presentes indícios ou sinas de dilapidação do patrimônio, pois, o que se pretende é justamente evitá-la. Importante a atuação

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preventiva da medida, sob pena de ineficácia. Recurso desprovido.13

Ainda, também em recente decisão, o Superior Tribunal de Justiça reafirma esse entendimento como sendo de ambas as suas turmas de direito público:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. ART. 7º DA LEI 8.429/92. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ENTENDIMENTO DO STJ DE QUE É POSSÍVEL ANTES DO RECEBIMENTO DA INICIAL. SUFICIÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE DANO AO ERÁRIO OU DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO (FUMAÇA DO BOM DIREITO). PERIGO DA DEMORA IMPLÍCITO. INDEPENDÊNCIA DE DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL. INCIDÊNCIA TAMBÉM SOBRE BENS ADQUIRIDOS ANTES DA CONDUTA. TRIBUNAL DE ORIGEM QUE INDIVIDUALIZA AS CONDUTAS E INDICA DANO AO ERÁRIO EM MAIS DE QUINHENTOS MIL REAIS. SÚMULA N. 83/STJ.1. Hipótese na qual se discute cabimento da decretação de indisponibilidade de bens em ação civil pública por ato de improbidade administrativa.2. O acórdão recorrido consignou expressamente "haver prejuízo ao erário municipal", bem como que "estariam presentes os requisitos necessários (fumus boni iuris e o periculum in mora) (....) limitado ao valor total de R$ 535.367.50".

13

1

- Grifou-se e destacou-se: TJPR, Agr. Instr. 414321-1, Acórdão nº 30716, Curitiba, 4ª Câmara Cível, Relator Marcos de Luca Fanchin, DJPR 16/5/2008.No mesmo sentido: TJPR, Ag Instr 429206-2, Acórdão nº 31112, Sarandi, 4ª Câmara Cível, Relatora Anny Mary Kuss, DJPR 20/6/2008; TJPR - 4ª C. Cível - AI 856041-6 - Londrina - Rel.: Guido Döbeli - Unânime - J. 26.06.2012; TJPR - 4ª C.Cível - AI 856041-6 - Londrina - Rel.: Guido Döbeli - Unânime - J. 26.06.2012; TJPR - 4ª C. Cível – AI 855133-5 – Rel.: Guido Döbeli – J. 17.07.2012.

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3. O entendimento conjugado de ambas as Turmas de Direito Público desta Corte é de que, a indisponibilidade de bens em ação de improbidade administrativa: a) é possível antes do recebimento da petição inicial; b) suficiente a demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, caracterizador do fumus boni iuris; c) independe da comprovação de início de dilapidação patrimonial, tendo em vista que o periculum in mora está implícito no comando legal; d) pode recair sobre bens adquiridos anteriormente à conduta reputada ímproba; e e) deve recair sobre tantos bens quantos forem suficientes a assegurar as conseqüências financeiras da suposta improbidade, inclusive a multa civil. Precedentes: REsp 1115452/MA; REsp 1194045/SE e REsp 1135548/PR.4. Ademais, a indisponibilidade dos bens não é indicada somente para os casos de existirem sinais de dilapidação dos bens que seriam usados para pagamento de futura indenização, mas também nas hipóteses em que o julgador, a seu critério, avaliando as circunstâncias e os elementos constantes dos autos, afere receio a que os bens sejam desviados dificultando eventual ressarcimento.(AgRg na MC 11.139/SP).5. Destarte, para reformar a convicção do julgador pela necessidade da medida em favor da integridade de futura indenização, faz-se impositivo revolver os elementos utilizados para atingir o convencimento demonstrado, o que é insusceptível no âmbito do recurso especial, tendo em vista o óbice da Súmula n. 7/STJ.6. Agravo regimental não provido.” 14

E mais:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MEDIDA CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS. PREVISÃO CONSTITUCIONAL (ART. 37, § 4º) PERICULUM IN

14

1

- STJ, AgRg no AREsp 20.853/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, J. 21/06/2012, DJe 29/06/2012.

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MORA PRESUMIDO. FUMUS BONI IURIS: INDISPENSABILIDADE.1. A indisponibilidade de bens é medida que, por força do art. 37, § 4º da Constituição, decorre automaticamente do ato de improbidade. Daí o acertado entendimento do STJ no sentido de que, para a decretação de tal medida, nos termos do art. 7º da Lei 8.429/92, dispensa-se a demonstração do risco de dano (periculum in mora), que é presumido pela norma, bastando ao demandante deixar evidenciada a relevância do direito (fumus boni iuris) relativamente à configuração do ato de improbidade e à sua autoria (REsp 1.203.133/MT, 2ª T., Min. Castro Meira, DJe de 28/10/2010; REsp 1.135.548/PR, 2ª. T., Min. Eliana Calmon, DJe de 22/06/2010; REsp 1.115.452/MA, 2ª T., Min. Herman Benjamin, DJe de 20/04/2010; MC 9.675/RS, 2ª T., Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 03/08/2011; EDcl no REsp 1.211.986/MT, 2ª T., Min. Herman Benjamin, DJe de 09/06/2011; e EDcl no REsp 1.205.119/MT, 2ª T., Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 08/02/2011; AgRg no REsp 1256287/MT, 2ª T, Min. Humberto Martins, DJe de 21/09/2011; e REsp 1244028/RS, 2ª T, Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 02/09/2011).2. No caso concreto, o acórdão recorrido afirmou a presença do requisito de fumus boni iuris com base em elementos fáticos da causa, cujo reexame não se comporta no âmbito de devolutividade próprio do recurso especial (Súmula 7/STJ).3. Recurso especial desprovido, divergindo do relator.”15

Portanto, em sede de ação civil pública por ato de improbidade administrativa, na modalidade de causar dano ao erário, inexiste o requisito da comprovação de dilapidação do patrimônio por parte dos agentes ímprobos para que haja a decretação da indisponibilidade de bens, como medida de garantia ao integral ressarcimento do dano ao erário. Nesses casos, tal como na presente

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- STJ, REsp 1315092/RJ - Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho - Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki - Primeira Turma - J. 05/06/2012 - DJe 14/06/2012.

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demanda, o requisito geral do “periculum in mora” é presumido pelas normas especiais do micro sistema, decorrente do tratamento especial dado pela própria Constituição Federal em defesa do erário contra lesões provocadas por atos ímprobos.

Cabe, ainda, observar que a existência dessas normas especiais não ofende os direitos fundamentais do devido processo legal e da propriedade, porquanto o tratamento especial decorre diretamente da própria Constituição Federal (art. 37, §§ 4º e 5º) e, como cediço, nenhum direito, mesmo os fundamentais, são absolutos, tanto mais quando excepcionados pela própria Carta Magna.

Ademais, ainda que a exceção não decorresse diretamente da Constituição Federal (o que se admite apenas a título de argumentação), tais direitos fundamentais também não seriam violados. Primeiro, porque este é o devido processo legal, vale dizer, o legalmente previsto para o caso em apreço. E, segundo, porque a medida de indisponibilidade de bens não afasta - não excluí - o direito de propriedade, apenas restringi o exercício de parte dele, especificamente o direito de alienação, permanecendo íntegros todos os demais poderes inerentes à propriedade.

Assim, sendo presumido o periculum in mora, e estando cabalmente preenchido o requisito do fumus boni iuris, forte na gravidade dos fatos e no lastro probatório carreado em sede de inquérito civil, e tendo em vista a existência de dano ao erário do Município de Umuarama, atualmente no montante de R$ 360.505,28 (trezentos e sessenta mil quinhentos e cinco reais e vinte e oito centavos), imperioso que seja, liminarmente, decretada a indisponibilidade de bens dos requeridos, como medida jurídica necessária ao resguardo do patrimônio público e da garantia do seu futuro ressarcimento.

V - DOS PEDIDOS.

Por todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu órgão de execução, formula os seguintes pedidos:

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1. Liminarmente, presentes os requisitos necessários, seja concedida a medida liminar, inaudita altera pars, determinando cautelarmente a indisponibilidade dos bens dos requeridos, até o limite do dano causado ao erário, no valor de R$ 360.505,28 (trezentos e sessenta mil quinhentos e cinco reais e vinte e oito centavos), devidamente corrigido e acrescido de juros legais, na forma especificada no tópico IV acima;

2. Seja autuada a presente ação e determinada, por oficial de justiça, a notificação dos requeridos para, querendo, oferecerem manifestação por escrito, no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 17, § 7º, da Lei nº 8.429/92 (com redação dada pelo art. 3º da Medida Provisória nº 2.088 de 23.02.2001);

3. Transcorrido o prazo acima, com o sem manifestação do requeridos, seja recebida a presente inicial de ação civil pública, autuada e processada pelo rito ordinário, conforme preconizado no art. 17, caput, da Lei nº 8.429/92;

4. Recebida a presente, seja determinada a citação, por oficial de justiça, dos requeridos inicialmente qualificados, para, querendo, contestarem os pedidos, no prazo de lei, nos termos do art. 17, § 9º (com redação dada pelo art. 3º da Medida Provisória nº 2.088 de 23.02.2001), sob pena de confissão e revelia, permitindo-se ao oficial de justiça utilizar-se da exceção prevista no art. 17, § 2º, do Código de Processo Civil;

5. Seja notificado o Município de Umuarama, na pessoa de seu representante legal, para, querendo, integrar a lide (artigo 17, § 3º, da Lei nº 8.429/92);

6. Seja, ao final, julgada procedente a presente ação civil pública para o fim de condenar os requeridos LUIZ RENATO RIBEIRO DE AZEVEDO, WANDERLEA DANTAS CORRÊA, JACOB & SILVA JACOB LTDA-ME, AMARILDO JACOB, ADEMILSON APARECIDO JACOB, RODRIGO TONUS e WELLINGTON DE FARIA SILVA:

(a) Pela prática de atos de improbidade administrativa, capitulados no art. 10, caput e incisos I e VIII, da Lei nº 8.429/92, aplicando-lhes as sanções do inciso II, do art. 12; ou 45

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(b) Subsidiariamente, na forma do art. 289 do CPC, por força do princípio da eventualidade, não se verificando dano ao erário, sejam os mesmos requeridos condenados por ato de improbidade administrativa, tipificado no art. 11, caput e inciso I, aplicando-lhes as sanções do inciso III, do art. 12, da Lei 8.429/92; e

(c) Cumulativamente, ao ressarcimento integral do dano, que na data de hoje importa na quantia de R$360.505,28 (trezentos e sessenta mil quinhentos e cinco reais e vinte e oito centavos), acrescida de juros legais e correção monetária até o efetivo pagamento, pela qual os requeridos devem ser solidariamente responsabilizados;

7. Seja o requerente, dispensado do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, à vista do disposto no art. 18 da Lei nº 7.347/85;

8. Sejam as intimações do requerente feitas pessoalmente, dado o disposto no artigo 236, § 2º, do CPC e no artigo 153, IV da LC nº 85/99 PR;

9. Seja deferida a juntada dos documentos que acompanham a presente inicial e outros que se fizerem necessários à completa elucidação e demonstração cabal dos fatos ora articulados, bem como a produção de provas pericial, testemunhal (relação abaixo e outras), e depoimento pessoal dos requeridos;

10. Sejam os requeridos condenados ao pagamento das custas e demais despesas processuais; e

11. Oportunamente, em caso de decisão favorável ao pedido inicial, e após o seu trânsito em julgado, sejam expedidos ofícios ao Cartório Eleitoral de Umuarama, ao Tribunal Regional Eleitoral e ao Tribunal Superior Eleitoral, para o fim previsto no artigo 20 da Lei nº 8.429/92, bem como à Prefeitura e à Mesa da Câmara Municipal de Umuarama/PR para as providências cabíveis, e, ainda, ao Conselho Nacional de Justiça para fins de inscrição dos condenados junto ao Cadastro Nacional de Condenados por ato de Improbidade Administrativa – CNCIA (Resolução CNJ nº 44/2007). 46

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Dá-se à causa o valor de R$ R$360.505,28 (trezentos e sessenta mil quinhentos e cinco reais e vinte e oito centavos).

Umuarama-PR, 07 de junho de 2013.

FABIO HIDEKI NAKANISHI Promotor de Justiça

ROL DE TESTEMUNHAS:

1 - Carlos Alberto R. Fernandes (sem qualificação nos autos): Servidor Público Estadual, Analista de Controle do TCE/PR (matrícula nº 51.104-8), encontradiço no Tribunal de Contas, em Curitiba-PR;

2 – Emerson da Rocha (sem qualificação nos autos): Servidor Público Estadual, Analista de Controle do TCE/PR (matrícula nº 51.245-1), encontradiço no Tribunal de Contas, em Curitiba-PR; e

3 – Vinícius B. Leoni Lacerda (sem qualificação nos autos): Servidor Público Estadual, Oficial de Controle do TCE/PR (matrícula nº 51.343-1), encontradiço no Tribunal de Contas, em Curitiba-PR.

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