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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS FEDERAIS DO BRASIL Referente ao Ofício 2210/2015/SGM/P (Denúncia oferecida em 1º.9.2015, em desfavor da Excelentíssima Presidente da República, Sra. Dilma Vana Rousseff) HÉLIO PEREIRA BICUDO e JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, cidadãos brasileiros, já qualificados e com certidões de quitação eleitoral devidamente anexadas (seguem novas), nos autos da denúncia ofertada em face da PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Sra. DILMA VANA ROUSSEFF, pela prática de crimes de responsabilidade, haja vista notificação recebida, sem indicação clara de nenhuma irregularidade, conferindo o prazo de dez dias para complementarem a inicial, vêm ADITAR a DENÚNCIA, para incluir o DENUNCIANTE MIGUEL REALE JÚNIOR, jurista responsável pelo minucioso estudo sobre as chamadas “pedaladas fiscais”, que ensejou a Representação Criminal ofertada em face da Presidente da República, perante a Procuradoria Geral da República (certidão de quitação eleitoral anexa).

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Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS …migalhas.com.br/arquivos/2015/9/art20150917-06.pdf · 2 . Primeiramente, cumpre consignar que conforme determina a Constituição

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS

DEPUTADOS FEDERAIS DO BRASIL

Referente ao Ofício 2210/2015/SGM/P

(Denúncia oferecida em 1º.9.2015, em desfavor da Excelentíssima Presidente da

República, Sra. Dilma Vana Rousseff)

HÉLIO PEREIRA BICUDO e JANAINA CONCEIÇÃO

PASCHOAL, cidadãos brasileiros, já qualificados e com certidões de quitação eleitoral

devidamente anexadas (seguem novas), nos autos da denúncia ofertada em face da

PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Sra. DILMA VANA ROUSSEFF, pela prática de

crimes de responsabilidade, haja vista notificação recebida, sem indicação clara de

nenhuma irregularidade, conferindo o prazo de dez dias para complementarem a inicial,

vêm ADITAR a DENÚNCIA, para incluir o DENUNCIANTE MIGUEL REALE

JÚNIOR, jurista responsável pelo minucioso estudo sobre as chamadas “pedaladas

fiscais”, que ensejou a Representação Criminal ofertada em face da Presidente da

República, perante a Procuradoria Geral da República (certidão de quitação eleitoral

anexa).

Page 2: EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA DOS …migalhas.com.br/arquivos/2015/9/art20150917-06.pdf · 2 . Primeiramente, cumpre consignar que conforme determina a Constituição

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Primeiramente, cumpre consignar que conforme determina a

Constituição Federal e a Lei 1.079/50, todos os requisitos formais e materiais para o

início do processo de impeachment foram cumpridos: os fatos foram narrados; a

capitulação jurídica foi conferida; as firmas foram reconhecidas em Cartório, por

autenticidade; as certidões de quitação foram anexadas; as testemunhas foram indicadas

e farta documentação foi apresentada, com destaque para termo de delação premiada,

acórdão do Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª. Região e do Egrégio Supremo

Tribunal Federal, bem como notícias jornalísticas de diversas fontes. Ressaltem-se os

Pareceres dos Juristas Ives Gandra Martins e Adilson de Abreu Dallari, bem como os

artigos e discurso dos Juristas Modesto Carvalhosa, José Afonso da Silva e Flávio

Flores da Cunha Bierrenbach.

Ademais, com fundamento nas lições de Paulo Brossard, os

denunciantes asseveraram que o processo de Impeachment visa à verdade real, sendo

certo que os Parlamentares não ficam adstritos aos termos da denúncia, podendo trazer

aos autos fatos posteriores, decorrentes do quanto narrado.

Imperioso destacar que os denunciantes solicitaram,

expressamente, que o Tribunal de Contas da União, o Tribunal Superior Eleitoral, o

Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Regional Federal da 4ª. Região e a 13ª. Vara

Federal Criminal de Curitiba-PR fossem oficiados, com o fim de enviarem a íntegra dos

procedimentos em trâmite, respectivamente, referentes às pedaladas fiscais, às contas do

Governo Federal e à Operação Lava Jato, todos fatos objeto da denúncia.

Desse modo, tem a presente o fim de reiterar a denúncia

ofertada, em todos os seus termos.

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Das pedaladas fiscais:

Não obstante, haja vista que, na data em que a denúncia fora

apresentada, estava ocorrendo, perante o Senado Federal, Audiência Pública, referente

às chamadas pedaladas fiscais, requer-se, nesta oportunidade, seja a Ata de referida

Audiência anexada a este feito.

O documento é identificado como Ata da Vigésima Oitava

Reunião Ordinária da Comissão de Assuntos Econômicos da 1ª. Sessão Legislativa

Ordinária da 55ª. Legislatura, realizada em 1º. de Setembro de 2015, às 10 horas, na sala

de reuniões n. 19 da Ala Senador Alexandre Costa, Senado Federal.

Na referida Audiência Pública, foram ouvidos Júlio Marcelo de

Oliveira, Procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União-

MPTCU; Leonardo Rodrigues Albernaz, Secretário de Macro-avaliação Governamental

do Tribunal de Contas da União- TCU; e Tiago Alves de Gouveia Lins Dutra,

Secretário de Controle Externo da Fazenda Nacional do Tribunal de Contas da União.

Como já é de conhecimento público, Júlio Marcelo de Oliveira foi

o Procurador que, primeiramente, denunciou, mediante a apresentação de Representação

ao Tribunal de Contas da União, o expediente denominado “pedaladas fiscais”. Tal

representação deu ensejo à instauração do Processo número 021643/2014-8, tendo sido

realizada auditoria pela Secretaria de Controle Externo da Fazenda Nacional do

Tribunal de Contas da União.

Na Audiência Pública, os convidados foram bastante minuciosos

ao explicar as irregularidades perpetradas pela Presidente da República, deixando

evidentes os motivos pelos quais, no Acórdão 825/2015, o Plenário do TCU condenou a

prática.

Com a presente, junta-se a íntegra do Acórdão acima mencionado,

no qual se lê que:

“22.Passando agora ao objeto inicial desta representação, qual

seja, o suposto atraso, por parte da União, nos repasses de

valores destinados ao pagamento de benefícios de programas

sociais, subsídios e subvenções de sua responsabilidade,

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restou confirmado nos autos que: i) despesas concernentes

ao bolsa família, ao seguro-desemprego e ao abono foram

pagas pela Caixa: ii) subsídios do Programa Minha Casa

Minha Vida – PMCMV vêm sendo financiados pelo FGTS; e

iii) subvenções econômicas, sob a modalidade de equalização

de taxas de juros, vêm sendo bancadas pelo BNDES ou pelo

Banco do Brasil.

23. No caso das despesas referentes ao bolsa família, ao

seguro-desemprego e ao abono salarial, verificou-se que,

ao longo de 2013 e dos sete primeiros meses de 2014 (jan. a

jul./2014), abrangidos na fiscalização, a Caixa Econômica

Federal utilizou recursos próprios para o pagamento dos

benefícios de responsabilidade da União. Na verdade,

conforme demonstram as tabelas constantes do relatório

de fiscalização, as contas de suprimento desses programas

na Caixa passaram a disponibilizar um crédito

assemelhado ao cheque especial, porquanto seus saldos, ao

longo do período fiscalizado, foram quase sempre

negativos.

24. De acordo com informações fornecidas pelo

Departamento de Supervisão Bancária do Bacen, o saldo total

desses passivos ao final do mês de agosto de 2014 era de R$

1,74 bilhão, assim composto:

(i) Bolsa Família: R$ 717,3 milhões; (ii) Abono Salarial: R$

936,2 milhões; e (iii) Seguro Desemprego: R$ 87 milhões.

25. Com relação ao PMCMV, os orçamentos aprovados desde

o ano de 2010, bem como o projeto para o ano de 2015,

previam que as despesas com as subvenções econômicas

desse programa seriam financiadas com recursos da chamada

“fonte 100”, que representa recursos livres e ordinários

arrecadados pelo Tesouro ao longo do respectivo exercício

financeiro.

26. Entretanto, o pagamento dessas subvenções de

responsabilidade da União vem ocorrendo por intermédio de

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adiantamentos concedidos pelo FGTS, na forma autorizada

pelo art. 82-A da Lei 11.977/2009, utilizando-se a fonte de

recursos “operação de crédito interna”.

27. Desse modo, do montante de R$ 7,8 bilhões despendidos

com subsídios concedidos no programa entre 2009 e 2014,

apenas R$ 1,6 bilhão foi repassado pela União ao FGTS,

conforme atestam dados encaminhados pela CAIXA. Ou seja,

dos R$ 7,8 bilhões que deveriam ter sido pagos aos mutuários,

apenas R$ 1,6 foi desembolsado pela União, sendo que o

restante, no montante de R$ 6,2 bilhões, foi pago com

recursos do FGTS, a título de adiantamento.

28. Note-se que, nesse caso específico, o pagamento de

dívidas pelo FGTS deu-se sem a devida autorização em Lei

Orçamentária Anual ou em Lei de Créditos Adicionais,

requerida no art. 167, inciso II, da Constituição da República

e o art. 5º, § 1º, da LRF, caracterizando a execução de despesa

sem dotação orçamentária.

29. Quanto ao pagamento das despesas correspondentes à

subvenção econômica de equalização de taxa de juros no

âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI),

que era feito semestralmente, os atrasos começaram no 2°

semestre de 2010, sendo que, a partir de então, até o 1º

semestre de 2014, não houve mais nenhum repasse da União

ao BNDES atinente a tal dispêndio.

30. Em 10 de abril de 2012, quando o saldo a pagar devido

pela União montava a R$ 6,7 bilhões, foi editada a Portaria

122/2012, prorrogando por 24 meses o prazo para pagamento

das dívidas. A tabela 15 do relatório precedente mostra que,

sem a postergação estabelecida na mencionada portaria, em

junho de 2014, o saldo a pagar com a equalização da taxa de

juros montaria a R$ 19,6 bilhões.

31. Todas essas movimentações financeiras e orçamentárias

acarretaram, evidentemente, o surgimento de passivos do

Governo Federal junto à Caixa, ao FGTS e ao BNDES, em

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cujos balanços constam devidamente registrados tais haveres,

a débito do Tesouro Nacional. Ou seja, no bojo dessas

operações, créditos foram efetivamente auferidos pela União,

à margem da Lei Complementar 101/2000 (LRF).

32. Uma vez caracterizados como operações de crédito,

tais procedimentos violam restrições e limitações impostas

pela LRF.

33. Primeiro, porque, no que se refere aos recursos

disponibilizados pela Caixa e pelo BNDES, envolvem

instituições financeiras públicas controladas pelo ente

beneficiário dos valores, contrariando o art. 36 da LRF,

segundo o qual é “proibida a operação de crédito entre uma

instituição financeira estatal e o ente da Federação que a

controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo ”.

Depois, porque não atendem às formalidades requeridas

no art. 32 da referida lei, em especial a necessidade de

prévia e expressa autorização no texto da lei orçamentária

para sua contratação, estabelecida no inciso I do § 1° do

referido artigo. E, ainda, porque, circunstancialmente,

infringem a vedação do art. 38, inciso IV, alínea “b”, da

Lei, que proíbe a contratação de crédito por antecipação

de receita no último mandato do Presidente da

República...

... 36. Outra questão relevante atinente à formação desses

passivos é que eles não estão registrados pelo Bacen no rol

de obrigações da Dívida Líquida do Setor Público - DLSP,

o que faz com que despesas da ordem de bilhões de reais,

vinculadas a programas e ações importantes do Governo

Federal, sejam captadas somente no mês dos repasses

efetuados pela União, e não naquele em que foram

efetivamente realizadas, acarretando distorções

significativas no resultado fiscal primário e no montante

da dívida pública.

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37. Tomemos por exemplo os programas do Governo

operados pela Caixa. O Tesouro deixa de repassar os valores a

serem pagos, mas a instituição financeira efetua os

pagamentos aos beneficiários, passando a ser credora da

União pelo valor correspondente. Como esse passivo do

Tesouro junto à Caixa não está abrangido nas estatísticas

de endividamento utilizadas pelo Bacen, os adiantamentos

feitos pelo banco também não são captados no resultado

primário apurado pela autarquia. Ou seja, muito embora

os benefícios estejam sendo pagos, por intermédio da

Caixa, não são contabilizados como despesas no resultado

primário da União, por meio da elevação da dívida do

Tesouro junto à instituição financeira. Assim, somente no

mês em que a União paga à Caixa pelos adiantamentos feitos

é que os dispêndios são computados nas estatísticas oficiais,

quando o correto é a contabilização da despesa e do

consequente endividamento da União no mês do pagamento

efetuado pela Caixa.

O Acórdão do Tribunal de Contas da União é extenso, porém, o

trecho acima transcrito mostra bem que o Governo Federal fez empréstimos vedados de

Instituições Financeiras Públicas, quais sejam, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica

Federal e, como se não bastasse, realizou a maior parte desses empréstimos em ano

eleitoral.

Tal fato, por si só, já fere a Lei de Responsabilidade Fiscal e

constitui crime comum e de responsabilidade. No entanto, a situação se revelou ainda

mais séria, pois, como se depreende dos itens em destaque, os débitos foram

contabilizados pelos bancos, entretanto, não foram contabilizados pelo Tesouro

Nacional, criando uma falsa sensação de higidez nas contas públicas, fato que, como

asseverado na denúncia ofertada em 1º. de Setembro do ano corrente, fora alardeado

pela denunciada durante toda a campanha eleitoral.

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Em representação criminal ofertada perante a Procuradoria Geral

da União, em petição elaborada pelo denunciante Miguel Reale Júnior, cuja íntegra fora

juntada com a inicial, restou evidenciado que as práticas constatadas pelo Tribunal de

Contas da União caracterizam os crimes comuns capitulados nos Artigos 359-A e 359-C

do Código Penal, ambos contrários às finanças públicas; na mesma representação,

asseverou-se que também se caracterizara o crime previsto no artigo 299 do mesmo

Código Penal, qual seja falsidade ideológica, haja vista a deliberada omissão dos

débitos na escrituração.

No entanto, como já consignado na exordial, tal prática também

caracteriza crime de responsabilidade, haja vista a flagrante afronta à Lei de

Responsabilidade Fiscal e, por conseguinte, ao Orçamento. Vejamos.

As operações de crédito firmadas com a Caixa Econômica Federal

e o Banco do Brasil não só não estavam autorizadas, como eram expressamente vedadas

pelo artigo 36, “caput”, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), in verbis:

Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma

instituição financeira estatal e o ente da Federação que a

controle, na qualidade de beneficiário do empréstimo.

A inadmissibilidade dos fatos em apreço não se lastreia apenas no

artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal. Também o artigo 38 de referido diploma

legal veda, expressamente, a realização de crédito por antecipação, enquanto existir

operação da mesma natureza não resgatada, sendo certo que coíbe esse tipo de

operação, no último ano de mandato do Presidente, do Governador ou do Prefeito

Municipal. Confira-se:

Art. 38. A operação de crédito por antecipação de receita

destina-se a atender insuficiência de caixa durante o exercício

financeiro e cumprirá as exigências mencionadas no art. 32 e

mais as seguintes:

I - realizar-se-á somente a partir do décimo dia do início do

exercício;

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II - deverá ser liquidada, com juros e outros encargos incidentes,

até o dia dez de dezembro de cada ano;

III - não será autorizada se forem cobrados outros encargos que

não a taxa de juros da operação, obrigatoriamente prefixada ou

indexada à taxa básica financeira, ou à que vier a esta substituir;

IV - estará proibida:

a) enquanto existir operação anterior da mesma natureza

não integralmente resgatada;

b) no último ano de mandato do Presidente, Governador ou

Prefeito Municipal.

Ainda que o Governo Federal estivesse autorizado a realizar

operações de crédito com bancos públicos (e não está), jamais poderia efetuá-las,

sucessivamente, ou seja, sem resgatar as anteriores e, frise-se, em nenhuma hipótese,

poderia ter aceitado a antecipação de receita no último ano de mandato da Presidente da

República, como ocorrera no caso dos autos. A proibição, portanto, é tripla!

Como consignado na denúncia, além de caracterizar crimes

comuns, as chamadas pedaladas fiscais caracterizam crimes de responsabilidade, uma

vez que o artigo 85 da Constituição Federal determina que:

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:

I - a existência da União;

II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;

III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;

IV - a segurança interna do País;

V - a probidade na administração;

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VI - a lei orçamentária;

VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.

A Lei 1.079/50, por sua vez, que confere concretude material e

formal a esse dispositivo constitucional, estatui, em seu artigo 4º.:

Art. 4º São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentarem contra a Constituição Federal, e, especialmente, contra:

I - A existência da União:

II - O livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e dos poderes constitucionais dos Estados;

III - O exercício dos direitos políticos, individuais e sociais:

IV - A segurança interna do país:

V - A probidade na administração;

VI - A lei orçamentária;

VII - A guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos;

VIII - O cumprimento das decisões judiciárias (Constituição, artigo 89).

Nota-se que tanto a Constituição Federal, como o artigo 4º. da Lei

1.079/50 dizem ensejar o impedimento do Presidente da República o fato de este atentar

contra a probidade na Administração e contra a lei orçamentária, justamente o caso dos

autos.

No entanto, por força de alterações ocasionadas pela Lei

10.028/00, a clareza da ocorrência do crime de responsabilidade resta ainda maior,

pois o artigo 10 passou a vigorar com a seguinte redação:

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Art. 10. São crimes de responsabilidade contra a lei

orçamentária:

1- Não apresentar ao Congresso Nacional a proposta do

orçamento da República dentro dos primeiros dois meses de

cada sessão legislativa;

2 - Exceder ou transportar, sem autorização legal, as verbas do

orçamento;

3 - Realizar o estorno de verbas;

4 - Infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da

lei orçamentária.

5) deixar de ordenar a redução do montante da dívida

consolidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o

montante ultrapassar o valor resultante da aplicação do limite

máximo fixado pelo Senado Federal;

6) ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo

com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem

fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional

ou com inobservância de prescrição legal;

7) deixar de promover ou de ordenar na forma da lei, o

cancelamento, a amortização ou a constituição de reserva

para anular os efeitos de operação de crédito realizada com

inobservância de limite, condição ou montante estabelecido

em lei;

8) deixar de promover ou de ordenar a liquidação integral

de operação de crédito por antecipação de receita

orçamentária, inclusive os respectivos juros e demais

encargos, até o encerramento do exercício financeiro;

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9) ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a

realização de operação de crédito com qualquer um dos

demais entes da Federação, inclusive suas entidades da

administração indireta, ainda que na forma de novação,

refinanciamento ou postergação de dívida contraída

anteriormente;

10) captar recursos a título de antecipação de receita de tributo

ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido;

11) ordenar ou autorizar a destinação de recursos provenientes

da emissão de títulos para finalidade diversa da prevista na lei

que a autorizou;

12) realizar ou receber transferência voluntária em desacordo

com limite ou condição estabelecida em lei.

Art. 11. São crimes de responsabilidade contra a guarda e o legal

emprego dos dinheiros públicos:

1) ordenar despesas não autorizadas por lei ou sem observância

das prescrições legais relativas às mesmas;

2) abrir crédito sem fundamento em lei ou sem as formalidades

legais;

3) contrair empréstimo, emitir moeda corrente ou apólices,

ou efetuar operação de crédito sem autorização legal;

4) alienar imóveis nacionais ou empenhar rendas públicas sem

autorização em lei;

5) negligenciar a arrecadação das rendas, impostos e taxas, bem

como a conservação do patrimônio nacional.

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Desde logo é importante consignar que o simples fato de ter a

Presidente descumprido os comandos dos artigos 36 e 38 da Lei de

Responsabilidade Fiscal e, mediante tal prática, incorrido nos crimes capitulados

nos artigos 359-A e 359-C do Código Penal, já seria suficiente para caracterizar o

crime de responsabilidade, dado que o artigo 4º., da Lei 1.079/50, tutela a lei

orçamentária.

No entanto, as práticas constatadas pelo Tribunal de Contas

da União configuram, perfeitamente, os crimes previstos nos artigos 10 e 11 da Lei

1.079/50, com a redação conferida pela Lei 10.028/2000. Valendo lembrar que a

doutrina assinala terem os crimes comuns e de responsabilidade natureza diversa

e, portanto, independência entre si:

“A recentíssima Lei 10.028, de 19 de outubro de 2000, tipificou

os comportamentos que passam a ser crimes. Já não haverá mera

infração administrativa, no caso de descumprimento das

determinações legais. Passa o comportamento do agente público

a ter tal relevância no setor financeiro que o descumprimento

das normas estabelecidas na lei de responsabilidade fiscal não só

enseja sanção civil, como passa, agora, a constituir crime. Em

sendo assim, há a infração política, que pode ensejar o

impeachment, mediante julgamento pelo Legislativo, bem

como há a infração civil, que enseja indenizações e cassação e

mandato através do Judiciário, bem como passa a existir o crime

de caráter financeiro” (Regis Fernandes de Oliveira.

Responsabilidade Fiscal. 2ª Ed. São Paulo: RT, 2002. p. 105 e

106, destacamos).

“Quando o autor da conduta for o Presidente da República,

cometerá igualmente crime de responsabilidade, conforme

dispõe o art. 10 da Lei n. 1.079/50, alterada pela Lei n.

10.028/2000. Note que os “crimes de responsabilidade”

definidos no Diploma aludido não têm natureza penal (mas

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político-administrativa), a despeito de sua terminologia,

motivo por que a imputação ao mandatário da Nação do

crime capitulado no art. 359-A do CP e do ato descrito na

Lei n. 1079/50 não configurará bis in idem” (André Estefam.

Direito Penal – Parte Especial (arts. 286 a 359-H)- Volume 4,

São Paulo: Saraiva, 2011. p. 437, destacamos).

Acerca da possibilidade de conviverem crimes comuns contra

as finanças públicas e crimes de responsabilidade, cumpre destacar que, em

palestra ministrada em outubro de 2001, durante o 7o. Seminário do Instituto

Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) (DVD 400 C), José Eduardo Martins

Cardoso, atual Ministro da Justiça, fez uma explanação bastante ampla sobre a

Lei de Responsabilidade Fiscal. Conquanto tenha tecido algumas críticas à Lei, o

palestrante, em mais de uma oportunidade, disse dever a Lei ser aplaudida, por

forçar o administrador público ao planejamento, sob pena de sanções drásticas, de

diversas ordens. Ele aduziu ter vindo a lei coibir a prática irresponsável de

contrair dívidas em ano eleitoral, deixando um pacote de dívidas para o sucessor,

afirmando ser um dos pontos mais positivos da lei a necessidade de respeitar-se a

lei orçamentária. Mais ainda: ao referir as penalidades ao desrespeito à

Responsabilidade Fiscal, Dr. Cardoso foi enfático ao sublinhar que enseja sanções

penais e até o Impeachment. Sua visão acerca da Lei de Responsabilidade Fiscal

era tão rígida que, na ocasião, chegou a defender que se aplicaria até às Fundações

de Direito Privado.

Com efeito, dada a inobservância ao quanto determinado pelo

artigo 10, número 6, da Lei 1.079/50, cabe imputar à Presidente da República a prática

reiterada de contrair empréstimos vedados e de deixar de efetuar o devido registro das

despesas realizadas.

Como se não bastasse, ao arrepio do determinado pelo artigo 10,

número 7, da Lei 1.079/50, deixou a Presidente da República de ordenar o cancelamento

das operações de crédito feitas ilegalmente.

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Igualmente, contra o que determina o artigo 10, número 8, da Lei

1.079/50, a Presidente não promoveu a liquidação das operações ilegais, até o

encerramento do exercício financeiro. Ressalte-se que tal fato fica bastante evidente no

relatório apresentado pelos técnicos que efetivaram a inspeção nos órgãos federais

(documento constante do CD anexo).

O artigo 10, número 9, por sua vez, veda expressamente autorizar

a realização de operação de crédito com qualquer dos entes da federação, inclusive

entidades da administração direta, sendo certo que o artigo 11, número 3, da Lei

1.079/50, proíbe contrair empréstimo sem autorização legal.

Como asseverado na inicial, nota-se, à toda evidência, que além

de se ter caracterizado crime de responsabilidade por violação à Lei de

Responsabilidade Fiscal, as chamadas pedaladas conformam perfeitamente os crimes de

responsabilidade que atentam contra a lei orçamentária.

Ademais, no Acórdão do TCU e na Audiência Pública, cuja ata

ora é juntada, além de fazer os empréstimos vedados, a Presidente da República

determinou, por meio de estreita relação havida com o Secretário do Tesouro Nacional

Arno Augustin, que esse débito não fosse escriturado, incorrendo em verdadeira

falsidade ideológica e, por conseguinte, em flagrante afronta à probidade na

administração, protegida pelo artigo 85, inciso V, da Constituição Federal, pelo artigo

4º., inciso V. da Lei 1.079/50 e pelo artigo 9º., número 7, do mesmo diploma legislativo,

os quais tutelam a honra e o decoro no exercício das funções públicas.

Com efeito, conforme já consignado, as operações de crédito

deixaram de ser corretamente escrituradas pelo Tesouro Nacional, conferindo a quem

analisasse as contas públicas a falsa sensação de regularidade. Como bem apontaram o

Procurador que atua frente ao Tribunal de Contas da União e os Técnicos responsáveis

pela inspeção feita em vários órgãos federais, os Bancos públicos lançavam os créditos

que tinham perante o Tesouro; o Governo Federal, por outro lado, deixava de lançar os

débitos que tinha perante os bancos públicos. Transformou-se, por via de omissão

dolosa- (o não registro das despesas)- déficit em superávit primário, com graves

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consequências para a economia, hoje sentidas por todos, especialmente, pela classe mais

pobre.

Acerca do desrespeito referente à Lei 1.079/50, cumpre ainda

enfatizar que, desde meados de 2014, a ocorrência das ilegalidades descritas já era de

conhecimento público, seja por força de reportagens, indevidamente desmentidas pelos

órgãos oficiais, seja por meio da própria representação feita pelo Ministério Público,

perante o Tribunal de Constas da União, em agosto de 2014. A leitura do relatório de

fiscalização mostra, aliás, que os auditores já haviam noticiado os mesmos fatos, em

julho de 2014, sem que quaisquer providências fossem adotadas (vide CD com cópia

das principais peças dos autos do processo de número 021643/2014-8).

Esse proceder não ocorreu apenas relativamente à Caixa

Econômica Federal; deu-se também perante o Banco do Brasil e o FGTS, sem contar os

problemas bem especificados no Relatório de Inspeção, referentes aos repasses aos

Estados e Municípios.

Da leitura da denúncia ofertada e do quanto consignado no

presente aditamento, resta límpido que a Presidente da República incorreu em crimes de

responsabilidade, por atentar contra a probidade administrativa e o orçamento. Com

relação à probidade, como já delineado, além da falta de decoro consubstanciada na

maquiagem das contas públicas, tem-se o fato de a Chefe da Nação ser reincidente na

prática de não responsabilizar seus subordinados, chegando a protegê-los, mantendo-os

em seus respectivos cargos e negando fatos.

A Audiência Pública realizada pelo Senado Federal, no dia da

distribuição da denúncia, revela que os convidados confirmaram, detalhadamente, os

crimes objeto do presente feito.

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Dos Decretos não Numerados

Além dos fatos já descritos na denúncia, a ata anexa traz à tona a

questão referente à edição de vários decretos não numerados, abrindo créditos

suplementares, ao que tudo indica, não autorizados pelo Congresso Nacional, fato

grave, que também implica prática de crime de responsabilidade.

Com efeito, consta que, no final de 2014, quatorze decretos não

numerados foram editados, abrindo créditos suplementares de valores muito elevados,

sem a autorização do Congresso Nacional. Em tabela anexa à presente, seguem

discriminados tais decretos.

Como se pode observar da tabela anexa, os valores de créditos

suplementares objeto de decretos não numerados da denunciada foram da ordem de R$

18.448.483.379,00 (dezoito bilhões, quatrocentos e quarenta e oito milhões,

quatrocentos e oitenta e três mil, trezentos e setenta e nove reais).

Estes decretos foram publicados após a constatação, pelo Tesouro

Nacional, de que as metas estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei

Orçamentária Anual não haviam sido cumpridas, como revelado pelo Relatório de

Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 5º Bimestre de 2014, do Tesouro

Nacional.

No Relatório consta, expressamente, que:

“11. Assim como o ocorrido com a grande parte dos países, o cenário internacional teve significativa influência sobre a economia brasileira. A redução do ritmo de crescimento da economia brasileira afetou as receitas orçamentárias de forma que se faz necessário garantir espaço fiscal para preservar investimentos prioritários e garantir a manutenção da competitividade da economia nacional por meio de desonerações de tributos. O nível das despesas também foi influenciado por eventos não‐recorrentes, como o baixo nível de chuvas e secas verificadas em diversas regiões do país. 12. Nesse contexto, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional, por intermédio da Mensagem nº 365, de 10 de Novembro de 2014, Projeto de Lei que altera a LDO‐2014 (PLN nº 36/2014) no sentido de ampliar a possibilidade de redução da meta de resultado primário no montante dos gastos relativos às

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desonerações de tributos e ao PAC. Ou seja, em caso de aprovação do referido projeto, o valor que for apurado, ao final do exercício, relativo a desonerações e a despesas com o PAC, poderá ser utilizado para abatimento da meta fiscal. O presente relatório já considera o projeto de lei em questão, indicando aumento de R$ 70,7 bilhões na projeção do abatimento da meta fiscal. Isso posto, o abatimento previsto, neste Relatório, é de R$ 106,0 bilhões, o que é compatível com a obtenção de um resultado primário de R$ 10,1 bilhões. (GRIFAMOS)

A partir destas informações resta claro que o resultado das metas

estabelecidas pela LDO (resultado primário) não estava sendo cumprido pelo Governo

Federal; tanto que o resultado das metas de superávit primário foi alterado por meio do

mencionado PLN 36/2014 (transformado na Lei nº 13.053/2014) - projeto esse

apresentado ao Congresso Nacional no dia 11 de novembro de 2014, cuja

mensagem ao Congresso foi redigida em 5 de novembro de 2014, como consta da

proposição apresentada - que alterou a LDO/2014 (Lei 12.919/2013) e que assim

dispõe:

LEI Nº 13.053, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2014

Altera a lei no 12.919, de 24 de dezembro de 2013, que dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2014.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o A lei no 12.919, de 24 de dezembro de 2013, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 3o A meta de resultado a que se refere o art. 2o poderá ser reduzida até o montante das desonerações de tributos e dos gastos relativos ao Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, cujas programações serão identificadas no projeto e na Lei Orçamentária de 2014 com o identificador de resultado primário previsto na alínea “c” do inciso II do § 4o do art. 7o desta lei. ..................................................................” (NR) Art. 2o Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 15 de dezembro de 2014; 193o da Independência e 126o da República.

A partir da aprovação desta lei, a meta fiscal foi reduzida em até R$

67 bilhões, como se pode verificar da mensagem ao PLN 36/2014, que dispõe:

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EM nº 00206/2014 MP Brasília, 5 de Novembro de 2014 Excelentíssima Senhora Presidenta da República, 1. Ao longo de 2014, foi revisada para baixo a previsão de crescimento da economia brasileira para este ano quando comparada à utilizada no início de 2013, para elaboração do Projeto de Lei de Diretrizes orçamentárias de 2014. Esta revisão para baixo da previsão de crescimento tem ocorrido em diversos países, levando instituições e organismos internacionais a revisarem para baixo a estimativa de crescimento da economia mundial para este ano de 2014. 2.A redução do ritmo de crescimento da economia brasileira afetou as receitas orçamentárias de forma que se faz necessário garantir espaço fiscal para preservar investimentos prioritários e garantir a manutenção da competitividade da economia nacional por meio de desonerações de tributos. As políticas de incentivos fiscais e a manutenção do investimento tornaram se imprescindíveis para minimizar os impactos do cenário externo adverso e garantir a retomada do crescimento da economia nacional. 3. Neste sentido, a proposta encaminhada consiste em ampliar a possibilidade de redução do resultado primário no montante dos gastos relativos às desonerações de tributos e ao Programa de Aceleração do Crescimento -PAC. Para isto propõe-se a alteração da Lei nº12.919, de 24 de dezembro de 2013, que “Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2014 e dá outras providências”, que estabelece no caput do art. 3º que a meta de superávit primário poderá ser reduzida em até R$ 67.000.000.000,00 (sessenta e sete bilhões de reais), valores esses relativos às desonerações de tributos e ao Programa de Aceleração do Crescimento -PAC, cujas programações serão identificadas no Projeto e na Lei Orçamentária de 2014 com identificador de Resultado Primário previsto na alínea “c” do inciso II do § 4ºdo art. 7ºdesta Lei. 4.Diante do exposto, submeto à consideração de Vossa Excelência a anexa proposta de Projeto de Lei que altera o caput do art. 3ºda Lei nº12.919, de 24 de dezembro de 2013, que “Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2014 e dá outras providências”. (GRIFAMOS).

Portanto, resta comprovado que o Governo Federal, desde o dia 05 de

novembro de 2014, pelo menos, já tinha conhecimento que a meta de superávit

primário prevista na LDO não estava sendo cumprida, data a partir da qual foram

expedidos os decretos acima especificados.

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A ilícita prática deu ensejo à formulação do requerimento de número

12/2015, por parte dos Deputados Pauderney Avelino e Professora Dorinha Seabra

Rezende, nos seguintes termos:

“Requeiro a Vossa Excelência que solicite ao Tribunal de Contas da União

– TCU, com base no art. 49, IX e 166, § 1º, da Constituição, que aprecie,

para efeito de elaboração do Parecer Prévio previsto no art. 71, I da

Constituição, referente ao exercício de 2014, os fatos já apontados pelo

Ministério Público de Contas no âmbito do processo TC 021.643/2014-8,

conforme Requerimento de 17 de junho de 2015, no âmbito do TC

005.3352015-9; ou seja, se os decretos editados, pela Presidente da

República, para abertura de créditos suplementares à lei orçamentária de

2014, no período de 5 de novembro de 2014 até 14 de dezembro de 2014,

encontravam-se amparados pelo disposto no art. 4º do texto da lei

orçamentária para 2014 (Lei nº 12.952, de 20 de janeiro de 2014), uma vez

que tais créditos, no momento em que foram editados, podem ser

considerados incompatíveis com a obtenção da meta de resultado primário

então vigente.

Ressalta-se que essa possibilidade de ter havido infração a dispositivo da lei

orçamentária de 2014 foi objeto da Denúncia apresentada junto ao TCU em

18/12/14, identificada pelo protocolo 52.261.129-6, de autoria do Sen. José

Agripino Maia, Presidente do Democratas; do Senador Aécio Neves,

Presidente do Partido da Social Democracia Brasileira; do Deputado

Roberto Freire, Presidente do Partido Popular Socialista; e do Deputado

Beto Albuquerque, Líder do Partido Socialista Brasileiro” (cópia do inteiro

teor anexa).

Em sede de Memorial, cuja cópia segue anexa, o Procurador junto

ao Tribunal de Contas da União, Dr. Júlio Marcelo de Oliveira, claramente consignou:

“Além das omissões intencionais na edição de decretos de

contingenciamento em desacordo com o real comportamento das receitas e

despesas do país, houve ainda edição de decretos para abertura de

créditos orçamentários sem a prévia, adequada e necessária autorização

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legislativa, violando a Lei Orçamentária anual, a LRF e a Constituição

da República” (grifos no original).

O art. 167, inciso V, da Constituição Federal, estabelece ser

vedada a ABERTURA DE CRÉDITO SUPLEMENTAR sem prévia autorização

legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes. Se ocorrer, incide-se no art.

10, número 6, da Lei n. 1079 que, como visto, tipifica como crime de responsabilidade

ordenar ou autorizar abertura de crédito sem fundamento na lei orçamentária ou sem

autorização legislativa.

Diante do quanto narrado na exordial e das especificações

constantes da presente, os denunciantes reiteram o pleito de que V. Excelência receba a

acusação, para que a Câmara dos Deputados possa autorizar que a Sra. Presidente da

República seja julgada perante o Senado Federal, pelos crimes de responsabilidade que

cometera, quais sejam, aqueles capitulados nos artigos 85, incisos V, VI e VII, da

Constituição Federal; nos artigos 4º., incisos V e VI; 9º. números 3 e 7; 10, números 6,

7, 8 e 9; e 11, número 3, da Lei 1.079/50, sendo, ao final, condenada à perda do cargo e

à inabilitação, pelo prazo de oito anos.

Ainda acerca da possibilidade jurídica do Impeachment:

Relativamente ao cabimento do pedido, na esteira do asseverado

na denúncia, lembra-se que os fatos objeto do presente feito alcançaram o segundo

mandato da denunciada; entretanto, ainda que tais fatos tivessem ocorrido

exclusivamente no primeiro mandato, o impedimento seria de rigor, pois o instituto da

reeleição estabelece ao mandatário reeleito a continuidade de gestão, de modo que os

atos praticados no primeiro mandato surtem efeitos no seguinte, de igual

responsabilidade do Presidente da República.

O fundamento desta responsabilidade continuada decorre,

justamente, do fato de que a reeleição é, em verdade, uma continuidade administrativa,

mantendo-se o vínculo entre as legislaturas. Nesse sentido:

“A reelegibilidade, como bem asseverado pelo Ministro Carlos

Velloso, assenta-se em um postulado de continuidade administrativa.

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‘É dizer – nas palavras do Ministro Carlos Velloso – a permissão da

reeleição do Chefe do Executivo, nos seus diversos graus, assenta-se

na presunção de que a continuidade administrativa, de regra, é

necessária” (ADI-MC 1.805, acima referida).” (Gilmar Mendes

Ferreira. o. c., pg. 732).

A natureza política da cassação de mandato eletivo das Casas

Legislativas foi fundamento determinante para o Supremo Tribunal Federal estabelecer

que nem mesmo o princípio da unidade de legislatura representa obstáculo

constitucional a que as Casas legislativas venham, ainda que por fatos anteriores à

legislatura em curso, a instaurar - contra quem já era titular de mandato na

legislatura precedente - procedimento de caráter político-administrativo, destinado

a viabilizar a decretação da perda do mandato (Min. CELSO DE MELLO, MS -

24.458 DF).

Duas são as decisões do Supremo Tribunal Federal em mandados

de segurança impetrados por parlamentares que respondiam no Conselho de Ética, por

quebra de decoro parlamentar relativa a atos praticados na legislatura anterior. Em

ambas, a Suprema Corte firmou entendimento de que ilícitos realizados em mandato

anterior podem ser objeto de processo disciplinar no mandato seguinte, levando à perda

desse segundo mandato. Confira-se voto do Min. NERI DA SILVEIRA:

“A cristalizar-se o entendimento de que determinada legislatura não

pode conhecer de fatos ocorridos na anterior, estaremos estabelecendo

período de verdadeiro vale-tudo nos últimos meses de todas as

legislaturas. Se restarem provados os fatos a ele imputados, deverá

esta Casa agir, lançando mão dos princípios constitucionais colocados

à sua disposição (quais sejam, o da razoabilidade e o da máxima

efetividade das normas constitucionais), além de valer-se dos

princípios que lastreiam o sistema jurídico nacional para emitir juízo

político, declarando a perda do cargo de Deputado Federal, por parte

do representado”. (STF - Mandado de Segurança nº 23.388 – Rel.

Min. Néri da Silveira – j. 25.11.1999 – DJ de 20.4.2001).

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Importante asseverar que o trecho em destaque do voto proferido pelo

ilustre Ministro do STF Néri da Silveira reproduz texto do voto proferido pelo relator do

processo de cassação, por quebra de decoro parlamentar, do ex-Deputado Federal

Talvane Albuquerque. Constata-se, por conseguinte, que não só o Supremo Tribunal

Federal reconhece a possibilidade de se cassar mandato eletivo por prática

ocorrida em mandato anterior, mas também esta Casa, que já sedimentou sua

jurisprudência a respeito.

Ainda mais incisivo é o voto do Min. CELSO DE MELLO, cujo teor

principal é o seguinte:

“Tenho para mim, ao examinar, em sede de estrita delibação, a

pretensão mandamental deduzida pelo ora impetrante - não obstante as

razões tão excelentemente desenvolvidas por seus eminentes

Advogados - que tal postulação parece não se revestir de

plausibilidade jurídica, especialmente em face da existência de

decisão plenária, proferida pelo Supremo Tribunal Federal, quando do

julgamento do MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA,

ocasião em que esta Suprema Corte, tendo presente situação

virtualmente idêntica à que ora se registra neste processo ("Caso

Talvane Neto"), rejeitou a tese de que a Casa legislativa não pode

decretar a cassação de mandato de qualquer de seus membros,

por falta de decoro parlamentar, se o fato motivador dessa

deliberação houver ocorrido na legislatura anterior” (MS 24.458

DF).

Essa decisão, emanada do Plenário do Supremo Tribunal Federal,

acha-se consubstanciada em acórdão assim ementado:

"Mandado de segurança. 2. Ato da Mesa da Câmara dos Deputados,

confirmado pela Comissão de Constituição e Justiça e Redação da

referida Casa legislativa, sobre a cassação do mandato do impetrante,

por comportamento incompatível com o decoro parlamentar.

3. Pretende-se a extinção do procedimento de perda do mandato.

Sustenta-se que a cassação do mandato, para nova legislatura, fica

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restrita à hipótese de, no curso dessa legislatura, se verificarem

condutas, dela contemporâneas, capituláveis como atentatórias do

decoro parlamentar. 4. Não configurada a relevância dos fundamentos

da impetração. Liminar indeferida. 5. Parecer da Procuradoria-Geral

da República pela prejudicialidade do mandado de segurança, em face

da perda de objeto; no mérito, pela denegação da ordem. 6. Tese

invocada, acerca da inexistência de contemporaneidade entre o fato

típico e a competência da atual legislatura, que se rejeita. 7. Não há

reexaminar, em mandado de segurança, fatos e provas (...). 9.

Mandado de Segurança indeferido." (grifei)

Cabe destacar, neste ponto, que o princípio da unidade de legislatura -

que faz cessar, a partir de cada novo quadriênio, todos os assuntos

iniciados no período imediatamente anterior, dissolvendo-se, desse

modo, todos os vínculos com a legislatura precedente (JOSÉ

AFONSO DA SILVA, "Princípios do Processo de Formação das Leis

no Direito Constitucional", p. 38/39, item n. 14, 1964, RT) - rege,

essencialmente, o processo de elaboração legislativa, tanto que,

encerrado o período quadrienal a que se refere o art. 44, parágrafo

único, da Constituição Federal, dar-se-á, na Câmara dos Deputados, o

arquivamento das proposições legislativas, com a só exceção de

alguns projetos taxativamente relacionados na norma regimental

(Regimento Interno da Câmara dos Deputados, art. 105).

Por tal razão, o eminente Professor JOSÉ AFONSO DA SILVA,

ao tratar do postulado da unidade de legislatura, examina-o dentre os princípios que

informam o processo constitucional de formação das leis.

“Nenhum membro de qualquer instituição da República está

acima da Constituição, nem pode pretender-se excluído da crítica

social ou do alcance da fiscalização da coletividade.” (STF, MS

24.458, Rel. Min. Celso de Melo, acima citado).

Decorre dessas razões de decidir que a rejeição à comunicação entre

as ilegalidades praticadas em um mandato e a responsabilidade no mandato ulterior do

reeleito vai de encontro ao princípio republicano, ao princípio da moralidade que

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alicerça a República, o que se aplica para quaisquer dos poderes constituídos, pois

nenhum deles está alheio à noção de fiscalização e de responsabilidade. Como diz o

Ministro Relator, “nenhum membro de qualquer instituição da República está

acima da Constituição”.

Assim, quer em razão dos crimes de responsabilidade ocorridos no

início deste segundo mandato, quer pelo caráter de continuidade do segundo mandato

do Chefe do Executivo reeleito, quer pela continuidade das ilegalidades no início desta

legislatura, a responsabilidade da denunciada pelos fatos aqui narrados é incontroversa.

Por óbvio, conforme os ensinamentos do ex-Ministro Carlos Velloso,

no julgamento do MS 21.623-9, independentemente da natureza que se confira ao

Impeachment, exclusivamente política, ou político-penal, a denunciada deverá gozar de

todas as garantias constitucionais:

“Posta assim a questão, quer se entenda como de natureza política o ‘impeachment’ do Presidente da República, ou de natureza político-penal, certo é que o julgamento, que ocorrerá perante o Senado Federal, assim perante um Tribunal político, há de observar, entretanto, determinados critérios e princípios, em termos processuais, jurídicos. Esta afirmativa, quer-me parecer, tem o endosso de Paulo Brossard”.

No entanto, não se pode perder de vista a natureza prevalentemente

política do Impeachment, que permite que cada parlamentar vote de acordo com sua

consciência, não ficando adstrito aos mesmos rigores jurisdicionais.

Diante das razões deduzidas na denúncia ofertada em 1º. de Setembro

e neste aditamento, tem-se que o seguimento do feito implicará a concretização da

Constituição Federal e da lei, ensejando o resgate da probidade na gestão da coisa

pública, que é de todos, muito embora venha sendo tratada como se fora de ninguém.

A fim de fortalecer, ainda mais, o conjunto probatório, além da oitiva

das testemunhas arroladas na exordial, arrola-se o Excelentíssimo Procurador do

Tribunal de Contas da União, Dr. Júlio Marcelo de Oliveira- (SAFS Quadra 4,

Lote 1, Edifício Sede, Sala 121, CEP 70.042.900).

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Integrando a presente segue petição subscrita pelo Jurista Dirceu

Torrecillas Ramos e pelos Ilustres Advogados Maurício Nanartonis e João Paulo Netto,

em que os Movimentos Contra a Corrupção manifestam apoio ao pedido de

Impeachment encabeçado por Hélio Bicudo, solicitando o apensamento da denúncia

ofertada por Carla Zambelli Salgado, Heduan Pinheiro, Danilo Amaral e Nilton Masi

Caccaos Jr., em face da Sra. Presidente da República, a este feito. O pleito é subscrito

por diversos líderes de Movimentos Populares.

Por fim, consigna-se que, após a distribuição da denúncia, formou-

se o Movimento Parlamentar Pró-Impeachment, lançando a petição como abaixo-

assinado, que já conta com quase um milhão de assinaturas.

Brasil, 16 de setembro de 2015.

HÉLIO PEREIRA BICUDO

MIGUEL REALE JÚNIOR

JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL

De Acordo:

Carla Zambelli Salgado, pelos Movimentos Contra a Corrupção

Kim Patroca Kataguiri, pelo Movimento Brasil Livre

Adelaide Castro de Oliveira, Vem Pra Rua