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Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado GAECO Rua 11-A, esq. c/ Rua 1-A, n. 380, Setor Aeroporto, CEP: 74.075-120, Goiânia/GO 62-3223-8686 [email protected] Página 1 de 97 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 11ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA/GO JUIZ 1 Por dependência aos autos judiciais n. 201702373511 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com fundamento no art. 129, inciso I, da Constituição Federal, e com fulcro nos autos do Procedimento de Investigação Criminal n. 33/2015 (anexo), vem perante este juízo oferecer DENÚNCIA em desfavor de: 1) JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, brasileiro, casado, empresário, ex-vereador de Goiânia, ex-presidente da SHC, natural de Carmo do Paranaíba/MG; 2) MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, brasileira, casada, empresária, atual presidente da SHC, natural de Ouro Verde de Goiás/GO; 3) EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, brasileira, tesoureira da SHC, natural de Ouro Verde de Goiás/GO; 4) PEDRO BESERRA DA CRUZ, brasileiro, divorciado, assistente administrativo aposentado, Natural de Pium/TO; 5) WENDER MENDES ARAÚJO, brasileiro, solteiro, motorista, funcionário da SHC, natural de Goiânia/GO; 6) SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA, brasileiro, funcionário da SHC e ex- funcionário da AGEHAB; 7) EDUARDO LUIZ MOREIRA, brasileiro; 8) NILBERTO MOREIRA LOPES, brasileiro; 9) ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO, brasileiro, ex-vice-presidente da SHC; 10) ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, brasileiro, divorciado, motorista;

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Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAECO

Rua 11-A, esq. c/ Rua 1-A, n. 380, Setor Aeroporto, CEP: 74.075-120, Goiânia/GO

62-3223-8686 – [email protected]

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 11ª VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE GOIÂNIA/GO – JUIZ 1

Por dependência aos autos judiciais n. 201702373511

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com fundamento no art.

129, inciso I, da Constituição Federal, e com fulcro nos autos do Procedimento de

Investigação Criminal n. 33/2015 (anexo), vem perante este juízo oferecer DENÚNCIA em

desfavor de:

1) JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, brasileiro, casado, empresário, ex-vereador

de Goiânia, ex-presidente da SHC, natural de Carmo do Paranaíba/MG;

2) MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, brasileira, casada, empresária, atual

presidente da SHC, natural de Ouro Verde de Goiás/GO;

3) EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, brasileira, tesoureira da SHC, natural de

Ouro Verde de Goiás/GO;

4) PEDRO BESERRA DA CRUZ, brasileiro, divorciado, assistente

administrativo aposentado, Natural de Pium/TO;

5) WENDER MENDES ARAÚJO, brasileiro, solteiro, motorista, funcionário da

SHC, natural de Goiânia/GO;

6) SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA, brasileiro, funcionário da SHC e ex-

funcionário da AGEHAB;

7) EDUARDO LUIZ MOREIRA, brasileiro;

8) NILBERTO MOREIRA LOPES, brasileiro;

9) ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO, brasileiro, ex-vice-presidente da

SHC;

10) ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, brasileiro, divorciado, motorista;

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11) KESLLEY BERNADINO AVELAR, brasileiro, união estável, músico.

Pela prática dos crimes narrados e imputados nesta peça acusatória:

1. DA IMPUTAÇÃO

A organização criminosa a seguir mencionada, no decorrer de sua existência

(2004 a 2017), praticou inúmeros crimes de estelionato contra diversas vítimas, sempre com

o objetivo de obter vantagem pecuniária em detrimento de pessoas de baixo poder

aquisitivo, e que possuíam o sonho da casa própria em comum. Durante a investigação,

foram identificadas e ouvidas mais de duas centenas de vítimas. Como é praticamente

impossível instruir um único processo criminal contendo cerca de 200 crimes narrados, cada

um com suas respectivas testemunhas e diferentes envolvidos, no intuito de se permitir uma

razoável duração do processo bem como facilitar o próprio direito à ampla defesa dos

denunciados em relação a cada imputação, nesta presente peça acusatória serão

imputados apenas os crimes de integrar organização criminosa (art. 2°, caput, da lei

12.850/13) e 14 (cartoze) crimes de estelionato (art. 171, caput do CP), contra vítimas

diferentes, com todas as provas a eles correlatas.

Os demais crimes de estelionato, praticados pelos membros da organização

criminosa contra as outras dezenas de vítimas, serão imputados em subsequentes

denúncias, que deverão tramitar autonomamente, com todos os elementos de prova a elas

pertinentes. Nesse sentido, uma cópia integral e digital do Procedimento de Investigação

Criminal - PIC 33/2015-GAECO (que embasa a presente denúncia), bem como a cópia

desta própria peça acusatória, também acompanharão as subsequentes ações penais.

1.1. DO CRIME DE INTEGRAR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (ART. 2º, CAPUT, DA LEI

12.850/13)

No período compreendido entre o ano de 2004 até o mês de outubro de 2017,

na cidade de Goiânia/GO, onde fica localizada a sede da Sociedade Habitacional

Comunitária (SHC), os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA

DA SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO, SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA, EDUARDO LUIZ MOREIRA,

NILBERTO MOREIRA LOPES, ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO, KESLLEY

BERNADINO AVELAR e ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, associaram-se de forma

estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas, ainda que informalmente, com o

objetivo de obter vantagem pecuniária, mediante a prática de sucessivos crimes de

estelionato (pena maior que 4 anos) contra diversas vítimas (mais de 200).

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1.2. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA CLAYDILAINE MARQUES MONTEIRO (ART.

171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 22 de maio de 2012 (22/05/2012), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS e PEDRO BESERRA DA CRUZ, obtiveram,

para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em

prejuízo da vítima CLAYDILAINE MARQUES MONTEIRO, a induzindo a erro, mediante

meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida

quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO

PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimento da vítima de fls.

2.065/2.066 (Volume XI do PIC), recibo de fls. 2.067, comprovante de depósito de fls. 2.068

(Volume XI do PIC), e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade

da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls.

863/866, 872/874 e 877/879 do Volume V do PIC).

1.3. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ANA CAROLINA MACHADO AMARAL (ART.

171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 1º de novembro de 2012 (1/11/2012), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO e NILBERTO MOREIRA LOPES obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 11.000,00 (onze mil reais), em prejuízo da vítima ANA

CAROLINA MACHADO AMARAL, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimento da vítima de fls. 1.416/1.417 (Volume VIII

do PIC), depoimentos de testemunhas de fls. 1.389/1.390, 1.392 e 1.414 (Volumes VII e VIII

do PIC), depósito constante no Parecer Técnico n. 016/0040/030/6234/15MAI2017/CI-

MPGO de fls. 71 do Anexo II do PIC, e declarações de representantes da AGEHAB

relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em

programas habitacionais (fls. 863/866, 872/874 e 877/879 do Volume V do PIC).

1.4. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JORGE FERNANDO DA SILVA BEZERRA

(ART. 171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 27 de novembro de 2012 (27/11/2012), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, PEDRO BESERRA DA CRUZ e WENDER MENDES ARAÚJO obtiveram, para

a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 13.000,00 (treze mil reais), em prejuízo

da vítima JORGE FERNANDO DA SILVA BEZERRA, o induzindo a erro, mediante meio

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fraudulento, o fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia

para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO

II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 946/947 (Volume V

do PIC), depósito constante no Parecer Técnico n. 016/0040/030/6234/15MAI2017/CI-

MPGO de fls. 72 do Anexo II do PIC, e declarações de representantes da AGEHAB

relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em

programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

1.5. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA MAYARA DE OLIVEIRA MARTINS (ART. 171,

CAPUT DO CP)

Consta que em 11 de dezembro de 2012 e 10 de janeiro de 2013, no município

de Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA e PEDRO

BESERRA DA CRUZ obtiveram, para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$

14.000,00 (catorze mil reais), em prejuízo da vítima MAYARA DE OLIVEIRA MARTINS, a

induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o

pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da

AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme

depoimentos de fls. 2.328 e 2.329 (Volume XII do PIC), recibos de fls. 2.331 e 2.332, e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

1.6. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA MARCIA PEREIRA DE JESUS (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 25 de março de 2013 e 1º de abril de 2013, no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO e EDUARDO

LUIZ MOREIRA obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$

15.000,00 (quinze mil reais), em prejuízo da vítima MARCIA PEREIRA DE JESUS, a

induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o

pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da

AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme

depoimento de fls. 1.405 (Volume VIII do PIC); depósito constante no Parecer Técnico n.

016/0040/030/6234/15MAI2017/CI-MPGO de fls. 72 do Anexo II do PIC, e declarações de

representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão

de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V

do PIC).

1.7. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JEAN JUNIO DE MATOS (ART. 171, CAPUT,

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DO CP)

Consta que no dia 06 de dezembro de 2013, no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, PEDRO

BESERRA DA CRUZ, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS e NILBERTO MOREIRA LOPES

obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 15.000,00 (quinze mil

reais), em prejuízo da vítima JEAN JUNIO DE MATOS, a induzindo a erro, mediante meio

fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia

para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO

II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 881 e 882 (Volume V

do PIC); depósito constante na fl. 86 do Volume V do PIC, e declarações de representantes

da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários

em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

1. 8. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JANAÍNA DE SOUZA GODIM (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 12 de março de 2015 (12/03/2015), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO, EDUARDO LUIZ MOREIRA e NILBERTO MOREIRA LOPES

obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 20.000,00 (vinte mil

reais), em prejuízo da vítima JANAÍNA DE SOUZA GODIM, a induzindo a erro, mediante

meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida

quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO

PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimentos de fls. 1.814/1.815

(Volume X do PIC), recibo de fls. 1818, comprovante de depósito de fls. 1.818/1.819

(Volume X do PIC), e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da

cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls.

863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

1. 9. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JOSELIA DE SÁ SILVA (ART. 171, CAPUT

DO CP)

Consta que no dia 12 de março de 2015 (12/03/2015), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ e WENDER

MENDES ARAÚJO obtiveram, para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$

18.000,00 (dezoito mil reais), em prejuízo da vítima JOSELIA DE SÁ SILVA, a induzindo a

erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento

da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB,

denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimentos

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de fls. 2.738/2.739 (Volume XIV do PIC), comprovante de depósito de fl. 2.744, recibo de fls.

2.745 (Volume XIV do PIC), e declarações de representantes da AGEHAB relatando a

ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em programas

habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

1. 10. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ALEX RIBEIRO MARIANO (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no 03 de março de 2016 (03/03/2016), no município de Goiânia/GO,

os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO e

KESLLEY BERNADINO AVELAR obtiveram, para a SHC e para eles próprios, vantagem

ilícita de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), em prejuízo da vítima ALEX RIBEIRO MARIANO,

o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o fazendo acreditar que seria imprescindível

o pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da

AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme

depoimentos de fls. 2.720/2.721 (Volume XIV do PIC), comprovantes de depósitos de fls.

2.723 e 2724 (Volume XIV do PIC), doc. de fls. 2725, recibo de fls. 2726, e declarações de

representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão

de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V

do PIC).

1. 11. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ISAC ALVES SOARES (ART. 171, CAPUT,

DO CP)

Consta que no dia 11 de março de 2016 (11/03/2016), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO e KESLLEY BERNADINO AVELAR obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 14.815,00 (catorze mil e oitocentos e quinze reais), em

prejuízo da vítima ISAC ALVES SOARES, o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 1.805/1.806 (Volume IX do PIC),

recibo de fls. 1808, comprovante de depósito de fls. 1.809 (Volume IX do PIC), e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

1. 12. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA LEANDRO MANOEL DE SOUZA (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

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Rua 11-A, esq. c/ Rua 1-A, n. 380, Setor Aeroporto, CEP: 74.075-120, Goiânia/GO

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Consta que no dia 17 de agosto de 2016 (17/08/2016), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, ALEXANDRO

JACINTO DE SOUZA e NILBERTO MOREIRA LOPES obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), em prejuízo da vítima

LEANDRO MANOEL DE SOUZA, o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o fazendo

acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse parte

do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma

moradia popular, conforme depoimentos de fls. 3.003/3.004 (Volume XV do PIC),

comprovante de depósito de fl. 3.006 (Volume XV do PIC), recibo de fls. 3009, e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

1. 13. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA HERICK DOUGLAS DE SOUZA

NASCIMENTO (ART. 171, CAPUT DO CP)

Consta que no dia 23 de janeiro de 2017 (23/01/2017), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, ALEXANDRO

JACINTO DE SOUZA e NILBERTO MOREIRA LOPES obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), em prejuízo da vítima HERICK

DOUGLAS DE SOUZA NASCIMENTO, o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimentos de fls. 2.939/2.940 (Volume XV do PIC),

recibo de fls. 2.942, comprovante de depósito de fl. 2.946 (Volume XV do PIC), e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

1. 14. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JOELMA DE SOUSA MIRANDA (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 29 de junho de 2017, no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO,

EDUARDO LUIZ MOREIRA e ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA obtiveram para a SHC e

para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 14.000,00 (catorze mil reais), em prejuízo da

vítima JOELMA DE SOUSA MIRANDA, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

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Rua 11-A, esq. c/ Rua 1-A, n. 380, Setor Aeroporto, CEP: 74.075-120, Goiânia/GO

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obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 1.539/1.540 (Volume VIII do PIC),

doc. de fls. 1.542, recibo de fls. 1.546, comprovante de depósito de fl. 1.547 (Volume VIII do

PIC), e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de

valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874;

e 877/879 do Volume V do PIC).

1. 15. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ANDRIELLY COSTA SILVA LUCENA (ART.

171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 1º de agosto 2017, no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO e

ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem

ilícita de R$ 12.000,00 (doze mil reais), em prejuízo da vítima ANDRIELLY COSTA SILVA

LUCENA, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria

imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa

Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia

popular, conforme depoimento de fls. 1.530 e 1.531 (Volume VIII do PIC), recibo de fls.

1535, e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de

valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874;

e 877/879 do Volume V do PIC).

2. DAS CIRCUNSTÂNCIAS DOS CRIMES IMPUTADOS (ART. 41 DO CPP) E DA JUSTA

CAUSA (ART. 395, III DO CPP)

2.1. DO CRIME DE INTEGRAR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Conforme descrito no item 1.1., no período compreendido entre o ano de 2004

até o mês de outubro de 2017, na cidade de Goiânia/GO, onde fica localizada a sede da

Sociedade Habitacional Comunitária (SHC), os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO,

MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA

DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO, SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA, EDUARDO

LUIZ MOREIRA, NILBERTO MOREIRA LOPES, ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO,

KESLLEY BERNADINO AVELAR e ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, associaram-se

de forma estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas, ainda que informalmente,

com o objetivo de obter vantagem pecuniária, mediante a prática de sucessivos

crimes de estelionato (pena maior que 4 anos) contra diversas vítimas (mais de 200).

Os fatos criminosos cometidos pelos investigados, mais especificamente os

crimes de estelionato, ocorreram desde meados de 2004, contudo, se intensificaram a partir

do ano de 2012, quando o Estado de Goiás, através da AGEHAB, e a CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL, assumiram integralmente as construções do projeto habitacional denominado

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JOÃO PAULO II. A Organização Criminosa continuou agindo até o dia 26 de outubro de

2017, ocasião em que foi deflagrada a denominada “OPERAÇÃO ALICERCE”, que

paralisou a atividade ilícita dos denunciados.

Para se entender a forma como se estabeleceu e agiu a ORCRIM ao longo do

tempo, utilizando-se de uma pessoa jurídica sem fins lucrativos (Sociedade Habitacional

Comunitária - SHC), torna-se oportuno se fazer uma rápida regressão temporal.

2.1.1. HISTÓRICO DA ATUAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Durante a investigação do PIC 33/2015, apurou-se que já no ano de 1993, o

denunciado JOSÉ MAURÍCIO BERALDO constituiu a COOPERATIVA HABITACIONAL

POPULAR DE GOIÂNIA (COHPOG), cuja finalidade era construir moradias envolvendo a

comunidade de baixa renda.

Em 1997, após “denúncias” de outros associados relatando irregularidades

praticadas por BERALDO na administração dos recursos financeiros da referida associação,

dentre elas, a não prestação de contas e o uso político da organização, foi ajuizada pelo

Ministério Público de Goiás, através da 8ª Promotoria de Justiça, uma Ação Civil Pública

(Protocolo n° 9701290542) que tramitou na 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de

Goiânia, culminando com a dissolução da COHPOG.

Vale ressaltar um trecho mencionado naquela ação, demonstrando como atuava,

já naquela época (1996), o investigado JOSÉ MAURÍCIO BERALDO:

“(...) O Poder Público Municipal não confiava em sua atuação como diretor presidente, seguramente devido aos fortes indícios de irregularidades ocorridas na Cooperativa, e somente continuaria a auxiliar na construção das casas planejadas, caso fosse efetivado o afastamento da indigitada pessoa. Presumiu, ingenuamente ou com alta dose de omissão, que tal medida seria suficiente para moralizar e regularizar, como em um passe de mágica, todos os problemas existentes na COHPOG. Entretanto, o próprio Sr. José Maurício Beraldo indicou como seu sucessor o então diretor financeiro, Sr. Caio França de Oliveira, que exercia a função desde o início de 1996 e reconheceu, na oportunidade acima mencionada a existência de uma dívida de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais). Com tal indicação, a referida mudança, como era de ser esperado, não ultrapassou a folha de papel em que foi redigida, pois na realidade o Sr. José Maurício Beraldo continua a dirigir e coordenar todos os atos da direção da COHPOG (...)”.

Antevendo a dissolução da COHPOG, JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, então,

constituiu em 22 de dezembro de 1996, a SOCIEDADE HABITACIONAL COMUNITÁRIA –

SHC, se tornando presidente dessa associação civil sem fins lucrativos, que atuaria na

defesa dos direitos sociais, mais especificamente, na luta pela moradia para pessoas de

baixa renda.

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A partir da criação da SHC, as ilegalidades se avolumaram e ganharam

contornos profissionais, pois BERALDO e seus comparsas se utilizaram do sonho de

centenas de pessoas de baixa renda, de adquirir a casa própria, para se enriquecerem

ilicitamente, causando lesão e frustração a muitas famílias.

2.1.2. DOS PRIMEIROS LOTEAMENTOS CLANDESTINOS CAPITANEADOS PELA SHC E

PELOS DENUNCIADOS

Antes do loteamento JOÃO PAULO II, onde ocorreram os crimes imputados

nesta denúncia, outros loteamentos clandestinos foram capitaneados pelo investigado JOSÉ

MAURÍCIO BERALDO e demais denunciados. Apesar de não ser objeto específico desta

ação penal, torna-se importante demonstrar que a atuação criminosa dele e de seus

principais parceiros vem de longa data, sendo que o poder estatal já tentou por diversas

vezes, principalmente no âmbito cível, combater essa prática tão nociva para a nossa

sociedade, especialmente a de baixa renda.

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Infelizmente, a paralisação dessa atividade criminosa só foi possível com a

atuação no âmbito criminal, após a deflagração da “OPERAÇÃO ALICERCE”, em 26 de

outubro de 2017, com as devidas medidas cautelares estabelecidas.

Foi constatado que em meados do ano de 1998 a SHC adquiriu uma gleba de

terras na “Fazenda Retiro”, com área de 63.80.00 ha, pela qual pagou R$ 350.000,00

(trezentos e cinquenta mil reais), depois de aprovada a compra pelos associados, os quais

contribuíram, cada qual, com o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).

Esse loteamento recebeu o nome de “VALE DOS SONHOS - 1ª ETAPA”, e havia

a previsão de se assentar 1.000 famílias, em lotes de aproximadamente 250 m². Esse

loteamento foi realizado de forma ilegal, sem regularização perante qualquer órgão

competente. Diante desses fatos, o Ministério Público, em 3 de agosto de 1999, propôs a

primeira Ação Civil Pública em face da SHC (Protocolo n. 199901444579).

A SHC capitaneou outras duas Etapas do “VALE DOS SONHOS”, nos mesmos

moldes da primeira, todas sem atender aos requisitos legais, causando prejuízos a muitas

famílias.

Diante das irregularidades e das reclamações que chegaram àquela época ao

Ministério Público, em 11 de agosto de 2004, a 8ª Promotoria de Justiça de Goiânia

(Urbanismo) ajuizou a segunda Ação Civil Pública contra a SHC, requerendo a sua

dissolução e o cancelamento do registro de seus respectivos atos constitutivos (vide ACP

em mídia de fl. 35 do PIC).

Nesse período (2004) a presidência da SHC havia sido transferida de BERALDO

para o denunciado PEDRO BESERRA, tendo em vista que aquele estava disputando as

eleições para a Câmara de Vereadores de Goiânia, tendo sido eleito para a legislatura de

2005/2009. Mesmo afastado formalmente, era ele quem continuava comandando a SHC.

Vale a pena mencionar trecho da ação:

“Em decorrência do problema habitacional que as cidades enfrentam é comum deparar-se com um grande número de associações, registradas no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas, interessadas a resolver este problema. Acontece que algumas destas associações em vez de cumprir o que está estabelecido em seus Estatutos, dedicam-se ao parcelamento do solo sem a observância da lei específica (Lei n. 6,766/79 Parcelamento do solo urbano), o que gera a formação de loteamentos clandestinos contribuindo para boa parte da degradação urbana das cidades. Foi o que aconteceu com a Cooperativa Mista Habitacional Popular de Goiânia-COHPOG, já dissolvida, e acontece com a Sociedade Habitacional Comunitária - SHC. Ambas se enquadram perfeitamente nessas associações tão repudiada por nós, vez que adquirem a terra, parcelam e vendem aos associados sem ao menos terem regularizado a situação do loteamento perante os Órgãos competentes. O que consequentemente gera transtornos para toda a população de um modo

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geral porque são “criadas” periferias sem o mínimo de infra-estrutura como arruamentos, salubridade, segurança, funcionalidade, estética (...). Feito o loteamento, nessas condições, põem-se os lotes à venda, geralmente para pessoas de rendas modestas, que, de uma hora para outra, perdem seu terreno e a casa que nele ergueram, também clandestinamente, porque não tinham documentos que lhes permitissem obter a competente licença para edificar no lote...”. (grifou-se).Anote-se que essas associações de fachada, a priori, são devidamente reguladas perante os Órgãos Públicos, porém exploram a chamada “indústria das invasões e dos loteamentos clandestinos”, que se aproveitam da boa-fé e credulidade de pessoas humildes, interessadas em adquirir a tão sonhada casa própria, para obterem vantagens econômicas. Mais imoral ainda, é quando os dirigentes dessas Sociedades, além do interesse econômico têm o interesse de arrecadar dividendos políticos. Não há que se discutir que os parcelamentos de solos clandestinos como ocorreu com loteamento Residencial Goiânia Viva (COHPOG), com o loteamento Vale dos Sonhos e com o loteamento Serra Azul (SHC), espelham uma prática maléfica; a uma porque a implantação destes loteamentos não atende às normas urbanísticas constituindo crime porque como é sabido o parcelamento do solo urbano é atividade que depende de autorização pública, sendo ilícita sua prática sem a regularização no Órgão competente, e a duas porque sugam as economias de famílias carentes de moradia, que adquirem o lote sem obterem a garantia legal de que receberão o bem quitado e o pior, alienam lotes em regiões ambientalmente frágeis, causando perigo de vida a essa população.”

Além dos problemas ambientais mencionados acima, os depoimentos das

testemunhas colhidos no Ministério Público indicam que a SHC foi utilizada como fachada

para o enriquecimento ilícito de seus diretores e auxiliares, ora denunciados, em prejuízo de

inúmeras famílias. Eles adquiriram a gleba de terra onde foi construído o loteamento VALE

DOS SONHOS e construíram várias casas com o dinheiro das famílias que se associaram,

contudo, ficaram com parte desses lotes para eles. Posteriormente, os vendiam para

terceiros e se beneficiavam pessoalmente com a venda desses lotes.

Apenas a título de corroboração, na própria declaração de imposto de renda de

BERALDO consta a propriedade de 5 (cinco) lotes no loteamento VALE DOS SONHOS.

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Também foi constatado que alguns imóveis no residencial VALE DOS SONHOS

eram vendidos para terceiros, como se fossem da SHC. O dinheiro era depositado na conta

da própria SHC, mas logo em seguida esses valores eram transferidos para contas pessoais

dos investigados ou sacados em espécie, na boca do caixa.

A título de exemplo, foi o que ocorreu na venda de lotes para as pessoas de .

SEBASTIÃO FABRÍCIO DO NASCIMENTO (Termo de Declarações às fls. 914 e 915 do

PIC) e AIRTON SERGIO RODRIGUES (Termo de Declarações às fls. 912 e 913):

Estas transações ocorreram, respectivamente, nos meses de julho e agosto de

2014, período em que a presidência da SHC já estava nas mãos da investigada MARIA

APARECIDA. Com a quebra do sigilo bancário (Parecer Técnico às fls. 63/91 do Anexo II do

PIC), foi possível identificar parte dos valores mencionados pelos depoentes que, de fato,

foram depositados na conta da SHC.

Essa comercialização de lotes no VALE DOS SONHOS, pelos próprios

investigados, através da SHC, com retiradas em dinheiro logo em seguida, apesar de não

ser objeto da presente denúncia, no mínimo, demonstra o desvirtuamento da finalidade

dessa “associação sem fins lucrativos” criada pelos denunciados, bem como a forma pela

qual foram agindo ao longo do tempo, visando enriquecerem-se às custas de famílias

carentes.

2.1.3. DO LOTEAMENTO JOÃO PAULO II – 1ª ETAPA

Em 25 de abril de 2004, em área contigua ao “RESIDENCIAL VALE DOS

SONHOS”, a SHC, em parceria com o Estado de Goiás, iniciou o loteamento denominado

“RESIDENCIAL JOÃO PAULO II”, onde a organização criminosa iniciou a prática dos

crimes de estelionato, objeto da presente ação penal.

O Termo de Convênio de Cooperação Técnica de fls. 79/82 do PIC, assinado

em 25 de junho de 2004, entre SHC e AGEHAB, foi destinado especificamente ao referido

loteamento.

Neste convênio, o Estado de Goiás se comprometia a doar a área onde seriam

construídas as residências populares do “JOÃO PAULO II”. Além disso, doaria aos

beneficiários os chamados “Cheques Moradia”, para a aquisição de materiais de construção.

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A SHC ficou responsável pela identificação das pessoas de baixa renda, que não possuíam

casa própria, confeccionando uma lista de possíveis beneficiários, que deveriam se

enquadrar nos critérios legais do programa. Essa lista seria encaminhada à AGEHAB, para

a conferência e aprovação. Os beneficiários, após aprovação da AGEHAB, se

encarregariam de fornecer a mão-de-obra para a construção e o material dos alicerces das

moradias.

Neste último ponto, ou seja, os alicerces, ficou estabelecido pela SHC que os

beneficiários deveriam pagar o valor correspondente em dinheiro diretamente à própria

associação (R$ 2.500,00 a R$ 3.000,00), que se incumbiria da compra e entrega do material

dos alicerces nas obras de cada beneficiário aprovado pela AGEHAB.

Os critérios para se enquadrar no programa estão previstos no Parágrafo

Terceiro, da Cláusula Terceira, do referido Termo de Convênio, a fl.81.

A SHC era a responsável pela elaboração da lista dos futuros beneficiários, que

seria encaminhada à AGEHAB para análise e aprovação. Em síntese, para se conseguir

fazer parte dessa lista, o primeiro passo era se associar à SHC, pagando uma módica

mensalidade. O segundo passo, entregar os documentos necessários. Após a aprovação

pela AGEHAB, deveriam os beneficiários pagar para a referida associação, em conta ou em

espécie, o valor dos alicerces das casas, que deveriam ser construídos nos respectivos

lotes destinados pela AGEHAB aos aprovados.

Com a aprovação pela AGEHAB, além dos lotes, tais pessoas receberiam

“Cheques-Moradia” do Estado, que deveriam ser descontados apenas em lojas de materiais

de construção. Posteriormente, essas lojas teriam descontos no ICMS do Estado de Goiás,

conforme disposições da Lei n. 14.542/03, em consonância com a Lei 11.977/09, do

Programa Minha Casa Minha Vida.

Detendo uma espécie de monopólio no cadastramento das famílias

carentes deste Programa, os membros da ORCRIM iniciaram as falcatruas. Eles

atuavam cobrando antecipadamente, a título de alicerces, o valor de R$ 2.500,00 a

R$3.000,00, de pessoas que sequer haviam tido o nome aprovado pela AGEHAB. Na

maioria das vezes, essa cobrança já ocorria no próprio ato de cadastro inicial junto à

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SHC. Cobravam o referido valor como uma espécie de condição para que o nome do

interessado fosse incluído na lista da SHC e, posteriormente, encaminhado à

AGEHAB, iludindo as vítimas de que se tratava de uma cobrança prévia necessária.

De forma mais clara, cobravam das vítimas os valores dos alicerces antes

mesmo que elas fossem beneficiadas com um lote pelo Estado, onde, por suposto,

aqueles seriam construídos.

Mais grave do que a própria cobrança ilegal antecipada, foi o fato dos

denunciados terem cadastrado, e recebido pelos supostos alicerces, muito mais

pessoas do que o programa social suportava. Ademais, como o intuito era lucrar a

qualquer custo, ainda que em detrimento de vítimas carentes, os denunciados

cadastravam na SHC, inclusive, pessoas que não se enquadravam nos critérios legais

do programa, apenas para receber delas o valor dos supostos alicerces, mesmo

sabendo que elas jamais receberiam moradias populares.

Visando tornar ainda mais verossímil a armadilha, usando parte dos valores dos

“alicerces” pagos pelas vítimas, os denunciados iniciaram várias fundações de casas no

terreno destinado ao loteamento JOÃO PAULO II, mexendo ainda mais com a imaginação

das famílias carentes, facilitando a enganação.

Algumas vítimas, estranhando o andamento pífio das obras e a nítida

desproporção entre a quantidade de obras de alicerces iniciadas e de pessoas que faziam

parte do programa social, começaram a questionar os denunciados, os quais sempre diziam

que as coisas estavam indo bem e que todos que haviam pago pelos alicerces receberiam

uma moradia, bastando que continuassem trabalhando nas construções, participando das

reuniões políticas organizadas por BERALDO na SHC e pagando a mensalidade da

associação.

Para reforçar o ardil, diziam que, excepcionalmente, em caso de eventual

desistência do programa de moradia, o beneficiário seria ressarcido integralmente.

Além de terem desviado o valor recebido, a título de alicerces, das vítimas

cadastradas a mais e das que não se enquadravam nos critérios do programa,

também desviaram o dinheiro pago pelas próprias pessoas que tiveram seus nomes

aprovados pela AGEHAB, e que seriam beneficiadas com a moradia, pois nem mesmo

os alicerces das casas das pessoas aprovadas foram finalizados. Isso impossibilitou

o Estado de Goiás de continuar fornecendo os “Cheques-Moradia” para

complementação das obras.

Fato é que as obras da 1ª Etapa do RESIDENCIAL JOÃO PAULO II acabaram

parando em 2009, por falta de dinheiro. Havia muito mais pessoas que pagaram para a SHC

seus “alicerces” do que lotes ou construções existentes. O dinheiro pago por essas famílias

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estava parte nos alicerces de algumas construções inacabadas e parte no bolso dos

próprios denunciados.

De 2004 a 2009, o presidente da SHC era PEDRO BESERRA, que assumiu

quando MAURÍCIO BERALDO se enveredou mais intrinsecamente no caminho da política,

utilizando das reuniões promovidas na SHC para solicitar apoio. Como já dito, BERALDO

continuava comandando tudo nos bastidores. ANDRÉ LUIZ era o coordenador da 1ª Etapa

do JOÃO PAULO II, na SHC, participando de reuniões com os cadastrados. EMÍLIA era a

tesoureira, responsável pelo trâmite de dinheiro. MARIA APARECIDA era a vice-presidente,

detendo o controle de tudo que ocorria na SHC. SILAS era o braço direito de BERALDO, o

auxiliando tanto na SHC como na Câmara de Vereadores. Atuava também dentro da

AGEHAB, justamente no setor de cadastro de beneficiários. EDUARDO, WENDER e

NILBERTO eram os principais captadores de vítimas. ALEXANDRO e KESLLEY,

respectivamente companheiros de MARIA APARECIDA e EMÍLIA, eram responsáveis por

emprestar suas contas bancárias para recebimento do produto do crime, e posterior repasse

aos demais membros da organização criminosa, ficando com parte do valor.

O papel individualizado de cada um será especificado em tópico próprio, mas

pode-se afirmar que agiam concertados para enganar muitas vítimas, dizendo a todas que

haveria uma casa e um lote para cada uma, desde que pagassem o valor dos alicerces,

participassem das reuniões políticas organizadas por BERALDO e quitassem as

mensalidades da SHC. Agiam assim, já sabendo que não haveria imóveis para todos os

cadastrados nessa primeira etapa.

Algumas vítimas procuraram o Ministério Público em 2009. Diante de inúmeras

reclamações, em 1° de fevereiro de 2010, uma terceira Ação Civil Pública foi ajuizada em

face da SHC e seus sócios, exigindo a adequação do loteamento “JOÃO PAULO II”, de

acordo com a lei, bem como a condenação por ato de improbidade administrativa contra

JOSÉ MAURÍCIO BERALDO e o então presidente da AGEHAB, ÁLVARO CESAR

LOURENÇO, além de outros agentes públicos como, FRANCISCO RODRIGUES VALE

JÚNIOR e LUIZ ALBERTO GOMES DE OLIVEIRA (mídia à fl. 35 do PIC).

Vale a pena trazer uma passagem da citada Ação Civil Pública:

“A ausência de uma política pública urbana criteriosa, em obediência aos princípios gerais estabelecidos pela Constituição da República de 1988 e pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), assim como uma política séria de habitação urbana, favoreceram a proliferação de associações inescrupulosas, que buscam o lucro através da meios inidôneos e ilícitos, em detrimento de pessoas de boa-fé e vulneráveis (princípio da Lei 8.078/90, Artigo 4º, I). A Sociedade Habitacional Comunitária – SHC, aproveitando o estado de perigo e necessidade de inúmeras famílias, é um nítido exemplo desta atividade ilícita: transformar o sonho do homem urbano em adquirir uma moradia digna e própria em verdadeira empresa, porém com evidentes meios alheios e estranhos à lei. (...), no caso em tela (loteamento denominado “Residencial João Paulo II”) a lei não foi obedecida, tendo em vista que inclusive os entes

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responsáveis pela proteção do bem comum e do interesse público uniram esforços com a citada associação para implementar o fato ilícito. Em área contígua ao parcelamento do solo irregular denominado “Residencial Vale do Sonhos”, em parceria com o Estado de Goiás (forneceu o terreno e providenciou a o trâmite de aprovação do empreendimento), iniciativa da Sociedade Habitacional Comunitária – SHC (criada e ideologicamente dirigida pelo Sr. José Maurício Beraldo), deu-se início, sem qualquer tipo de aprovação por parte do Executivo Municipal, a instalação do loteamento denominado “Residencial João Paulo II”. (...). o então presidente da AGEHAB alegou desconhecer qualquer critério técnico com relação ao projeto habitacional, inclusive lista dos beneficiários, prestando informações falsas ao Ministério Público. O presidente da Sociedade Habitacional Comunitária – SHC afirmou ao Ministério Público que a AGEHAB havia fornecido cheques moradia aos beneficiários do Projeto Habitacional e que competia a estes a execução do alicerce (daí a exigência da cobrança do valor de R$ 1.500,00) e, em regime de auto-construção ou mutirão, a construção das casas; mas então, qual a destinação dos valores entregues referentes ao Cheque Moradia? Serviu apenas para a aquisição dos materiais de construção? A SHC se negou a prestar as informações, bem como fornecer lista dos beneficiários dos 821 (oitocentos e vinte e um) lotes do empreendimento.(...)”

As construções, como visto, foram paralisadas em 2009. As famílias ficaram sem

casas e não foi apresentada a prestação de contas por parte da SHC. Entretanto, novos

cadastros e valores de “supostos alicerces” continuavam sendo recebidos de novas vítimas,

por parte dos denunciados. A paralização perdurou até o dia 20 de dezembro de 2011,

quando o Estado de Goiás assumiu integralmente a construção das obras

paralisadas, sem qualquer ônus a mais para os beneficiários desta 1ª etapa do JOÃO

PAULO II (fls. 66/69 do PIC). Nessa época, a presidente da SHC era a investigada MARIA

APARECIDA DA SILVEIRA.

Foi definido, então, nessa nova parceria, que a SHC deveria enviar novamente

os cadastros dos beneficiários à AGEHAB, para um recadastramento. Com essa assunção,

apenas 290 casas seriam construídas, frisando, sem nenhum custo aos beneficiários.

Outras 150 moradias seriam construídas através de um convênio com a CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL. Assim, um total de 440 famílias seriam atendidas nesta 1ª etapa,

que era a quantidade aproximada de alicerces existentes.

Constatou-se que a partir da assunção das obras integralmente pelo Estado e

CEF, com a retomada da movimentação do canteiro de obras, os membros da ORCRIM

aproveitaram para lucrar ainda mais. Passaram a “vender” os cadastros de supostos

desistentes do programa para novas vítimas por valores acima de R$ 12.000,00, fazendo-as

crer que receberiam uma das 440 casas da “nova” 1ª Etapa.

Contudo, na realidade, os primeiros 440 beneficiários já estavam definidos

e aprovados pela AGEHAB enquanto a ORCRIM turbinava os lucros `as custas de

vítimas desesperadas, ora dizendo a elas que esse alto valor (R$ 12.000,00 a R$

20.000,00) seria destinado a desistentes do programa que pagaram pelos alicerces

anteriormente, ora dizendo que seria destinado a construção dos próprios alicerces, o

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que, como já afirmado, não correspondia à realidade, pois sequer alicerces os

beneficiários deveriam arcar a partir de dezembro de 2011.

As primeiras 440 moradias foram entregues às famílias em 7 de dezembro

de 2013. As outras centenas de famílias que se associaram à SHC e pagaram pelos

supostos alicerces de suas casas ficaram sem moradia, não receberam lotes e a imensa

maioria sequer recebeu seu investimento de volta.

A título de exemplo, KIMBERLY DARLENY STALSCHUS LOPES, declarações

às fls. 810/811, associou-se à SHC no ano de 2002, pagou valores à associação a partir de

2006. Trabalhou na construção das casas, mas não recebeu nenhuma das que foram

entregues pelo Estado em 2013.

“(…) que a declarante teve o prejuízo dos R$ 3.000,00 (três mil reais) pagos pelo alicerce e as diárias de construção, cerca de R$ 40,00 (quarenta reais) por dia; que o marido da declarante trabalhou como guarda noturno do loteamento; que a declarante e seu marido trabalharam cerca de 07 (sete) meses no loteamento; (...) que a declarante ainda não possui casa; (...)”.

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A Sra. JURACY DE JESUS CRUZ AVELINO se associou à SHC em 2001 e

também realizou pagamentos a partir de 2006, como se vê de suas declarações, à fl. 754:

“que associou-se à SHC em uma reunião; que à época pagava R$ 5,00 (cinco reais) por mês para ser associada; que associou-se em 2001; que nunca recebeu casa; que pagou outras quantias para a SHC; que seu dinheiro não foi devolvido; que recebeu 03 (três) cheques-moradia, utilizados supostamente para comprar os materiais de construção; (...)”.

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JORGE FERNANDO DA SILVA BEZERRA depositou R$ 13.000,00 (treze mil

reais) na conta da SOCIEDADE HABITACIONAL COMUNITÁRIA (SHC), em 27 de

novembro de 2012, conforme disse a fls. 946 e 947 do PIC, e comprovantes a seguir:

“(...) que se recorda que CIDA auxilia PEDRO BESERRA; (...) que indagado sobre o depósito de 13 mil reais na conta da SHC, afirma que foi cobrado pela construção do alicerce de sua moradia no JOÃO PAULO II, na primeira etapa; que foi prometido a ele que seria beneficiada na primeira etapa do loteamento; (...) que transferiu seu cadastro para THAISA GUIMARÃES DE NOVAES, mãe de sua filha; (...) que PEDRO BESERRA afirmou que o salário do declarante não era compatível, razão pela qual não teria sido beneficiado na segunda etapa também; (...)”.

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Documentação

(Fls. 946/948 volume V e fl. 72 anexo II)

A fls. 44/51, 160 e 206 do PIC constam diversas representações de vítimas da

SHC, relativas à 1ª Etapa do JOÃO PAULO II, recebidas no MINISTÉRIO PÚBLICO

FEDERAL e encaminhadas ao parquet ESTADUAL.

Fato que chamou a atenção, inclusive dos outros associados, foi que muitas

pessoas que não eram associadas da SHC foram incluídas nessa nova 1ª Etapa (440) e

foram contempladas com as moradias entregues em dezembro de 2013, em detrimento de

outras que eram associadas há muitos anos. Nenhuma explicação era dada a respeito disso

pelos investigados.

A lista fornecida pela AGEHAB com os novos beneficiários das 290 casas

entregues nesta 1ª Etapa encontra-se a fls. 992/996 do PIC 33/2015. Também foram

fornecidos os Termos de Autorizo de Mudança das famílias beneficiadas a fls. 999/1309.

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Contudo, mais de 100 (cem) vítimas pagaram valores de supostos alicerces para

a SHC, bem como trabalharam nas obras para receber moradia na 1ª Etapa do JOÃO

PAULO II, mas “ficaram a ver navios”, sem receber seu dinheiro de volta e sem casa/lote.

Ressalte-se que somados os valores pagos somente pelas vítimas identificadas

e ouvidas pelo Ministério Público, nesta 1ª etapa, o prejuízo estimado gira em torno de R$

470.481,00 (quatrocentos e setenta mil e quatrocentos e oitenta e um reais), conforme

tabela (fls. 3201/3210, Volume XVI do PIC). Isso levando-se em conta os valores à época,

sem qualquer tipo de correção monetária.

Segundo depoimentos colhidos no Ministério Público, tanto de vítimas,

testemunhas, como dos próprios denunciados, há uma estimativa de que cerca de 1.800

pessoas chegaram a ser cadastradas pela SHC como participantes deste programa na 1ª

Etapa.

Registre-se que após descobrirem que estavam sendo investigados, os

denunciados inseriram os nomes de muitas dessas vítimas em uma lista fabricada pela

SHC, e apenas por ela, de supostos beneficiários de uma futura e eventual 3ª Etapa do

JOÃO PAULO II, que sequer teve iniciado o processo de seleção dos futuros beneficiários

na AGEHAB e CAIXA, muito menos as construções.

Ainda que futuramente algumas dessas vítimas que pagaram por “alicerces”

(principalmente a partir de 2012) consigam ter seus nomes aprovados na esperada 3ª Etapa

do JOÃO PAULO II, com aprovação pela AGEHAB e posteriormente pela CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL, os crimes praticados contra elas continuarão existindo.

Isso porque, como já mencionado, desde o mês de dezembro de 2011, não

havia mais que se falar em “despesas com alicerces”, pois ou o Estado de Goiás assumiu

integralmente a construção (1ª Etapa, a partir de 2011) ou a construção foi feita em parceria

do Estado de Goiás com o próprio beneficiário, que financiava parte da construção pela

CAIXA (2ª Etapa). Tudo construído por empreiteira contratada pelo Estado, sem

necessidade de qualquer tipo de adiantamento por parte do beneficiário.

2.1.4. DO LOTEAMENTO JOÃO PAULO II – 2ª ETAPA

Logo após a entrega das 440 casas da 1ª Etapa (7/12/2013), a AGEHAB lançou

a 2ª Etapa do JOÃO PAULO II, com previsão de construção de mais 230 casas (fls. 997 e

998). Mesmo com o fracasso da parceria com a SHC na 1ª Etapa, e diante de tantas

irregularidades encontradas, inexplicavelmente, ela continuava monopolizando o

encaminhamento de cadastros de candidatos a beneficiários para a AGEHAB, para

aprovação. Esta 2ª Etapa está em fase de construção, conforme explicado em despacho da

AGEHAB de fl. 992 do PIC.

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A partir desta etapa, o procedimento se alterou. Não havia mais a necessidade

dos beneficiários arcarem com os alicerces das construções. Em resumo, a SHC continuou

elaborando a lista inicial de interessados e a encaminhando à AGEHAB. Esta, após

aprovação, a encaminhava para a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, que também teve

que aprovar o cadastro. Nesta 2ª etapa, o Estado de Goiás doou os lotes (230) e os

“Cheques- Moradia”, em valores que chegavam a ultrapassar 30 mil reais. Como o valor não

era suficiente para a finalização total das moradias, a CAIXA financiou parte da construção

do imóvel, através de contrato individual com cada beneficiário, com prazo de até 25 anos.

Não houve, portanto, mais nenhuma mão-de-obra a ser realizada diretamente

pelos beneficiários. Não houve, também, qualquer outro valor a ser pago ao Estado ou

à SHC, a título de alicerces ou coisas do gênero. O único custo que o beneficiário deveria

arcar era com o financiamento bancário do restante da construção, a ser quitado em até 25

anos, diretamente com a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Contudo, agora, havia a garantia

de que todos os aprovados receberiam suas casas.

Os denunciados, diante desse quadro, viram outra grande oportunidade de

ganhar dinheiro fácil, pois continuavam detendo o monopólio do cadastro dos beneficiários,

isto é, a SHC era a responsável por elaborar a lista dos 230 beneficiários, que seria

encaminhada à AGEHAB e depois à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, para aprovação.

Tudo começava na SHC.

Das 230 casas a serem construídas, os denunciados destinaram uma parte para

as pessoas que foram prejudicadas na 1ª Etapa, isto é, pessoas das quais a SHC ficou com

o valor dos alicerces e não haviam sido contempladas nas primeiras 440 casas. A outra

parte do cadastro destinaram para vender a quem tinha condições de pagar, e agora,

cobrando valores bem mais altos.

A AGEHAB fez inúmeras campanhas publicitárias para conscientizar as pessoas

de baixa renda a não pagar para participar de programas sociais. É terminantemente

proibido cobrar para incluir pessoas em programas sociais, pois foge à lógica e ao bom

senso permitir que instituições sem fins lucrativos cobrem (caro) de pessoas de baixa renda

para incluí-las em programas sociais, destinados, justamente, a quem não tem condições de

adquirir uma moradia com seu trabalho.

Vejamos o que disseram o ex-presidente da AGEHAB, LUIZ ANTONIO STIVAL

MILHOMENS (fls. 863/866); o Gerente de Programas Habitacionais, FERNANDO DE ASSIS

AZEVEDO (fls. 872/874); o ex-presidente da AGEHAB, ÁLVARO CÉSAR LOURENÇO (fls.

877/879); e, o ex-diretor, de 2011 a 2014, LUCIANO ALVES PEREIRA (fls. 1410/1412),

respectivamente, sobre a desnecessidade de pagamentos à associação:

“(...) que a cobrança de qualquer valor dos cadastrados é expressamente proibida; que já ouviu dizer que os associados pagam mensalidades às entidades; que, na gestão do declarante, quando o cadastrado é

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contemplado, não é preciso pagar valores e há a entrega da casa construída; (...)”. LUIZ ANTONIO STIVAL MILHOMENS

“(...) que o declarante é gerente da Gerência de Programas Habitacionais na AGEHAB; que trabalha na AGEHAB desde o ano de 2007; que está no cargo de gerente na Gerência de Programas Habitacionais desde o ano de 2015; (...). que o declarante ouviu falar da SHC recentemente; que ouviu que a SHC não conseguiu concluir uma obra e que a AGEHAB faria o aporte para a construção de casas; que todas as conveniadas encaminham listas de cadastrados para a AGEHAB para aprovação mediante preenchimento dos requisitos legais; que o cheque moradia só é emitido quando o cadastro é aprovado; que tem que constar nos documentos do cadastrado alguma área destinada a ele para liberação do cheque moradia; que, geralmente, o beneficiário já possui ou está aguardando a doação de lote pela prefeitura; que o cheque é liberado quando há o lote ou expectativa de recebê-lo; que não sabe informar a razão da não entrega de casas na 1ª etapa do João Paulo II; que não há procedimentos de apuração com esse objeto (da não entrega de casas); que a AGEHAB fraciona os cheques justamente para tentar ter controle, isto é, para que o beneficiário receba o cheque e a moradia; que, no caso do cheque moradia construção, é feito atestado de viabilidade técnica para a confirmação de que o beneficiário do cheque tem um lote; que os cheques são entregues de acordo com o número de lotes/casas, isto é, que os números são iguais; que, no departamento do declarante, a AGEHAB nunca autorizou cobrança de valores de associados por parte da SHC; que sabe que SILAS trabalhou na AGEHAB, na Gerência de Cadastros; que a Gerência de Cadastros é responsável pelas listas de cadastros; que quando envolve a CEF tem que passar também pela aprovação da citada instituição; que quando o cadastro não é aprovado a pessoa não tem nenhum prejuízo; que as pessoas não são obrigadas a pagar valores antes da aprovação do cadastro; que não se recorda o ano em que a AGEHAB juntamente da CEF fez o aporte da 1ª etapa do João Paulo II; que a AGEHAB assumiu a obra e não cobrou valor algum dos associados da SHC.(...)”. FERNANDO DE ASSIS AZEVEDO

“(...) que em qualquer empreendimento/loteamento a rotina procedimental era a mesma; que firmavam-se convênios com associações, com o propósito de que as associações fariam o gerenciamento do empreendimento; que as atribuições estavam contidas no termo do convênio firmado; que a entidade conveniada tinha como uma das responsabilidades a realização do cadastramento de pessoas interessadas; que os cadastros eram conferidos pela AGEHAB e havia análise das famílias de acordo com os critérios legais do programa; que a família que cumprisse os critérios, era contemplada; que era firmado um contrato com cada um dos beneficiários também; que existia uma relação do beneficiário com a entidade; que na relação entre beneficiários e conveniada a AGEHAB não se envolvia, desde que essa relação não afetasse o contrato dela com a AGEHAB; que as famílias, no caso de construção, tinham como obrigação a construção do alicerce com material e mão de obra, de acordo com o projeto da AGEHAB; que a execução dos alicerces era fiscalizada pela AGEHAB; que quando o alicerce era construído de acordo com o padrão, era liberada a primeira parcela do cheque moradia; que no contrato com o beneficiário identificava-se o imóvel, isto é, era específico para a construção em determinado terreno;(...). que os cheques eram aprovados somente e necessariamente quando já houvesse um lote para o beneficiário; que quando o beneficiário assinava o contrato constava a identificação do lote; que no loteamento Vale dos Sonhos/João Paulo II houve um problema de remanejamento; que quando foi feito o projeto foi baseado no plano altimétrico; que quando foram abrir as ruas e demarcar os lotes foram detectadas erosões, teve de ser feito um remanejamento de lotes, mas nenhum beneficiário ficou sem lote; que quando a Caixa Econômica Federal (CEF) assume, o processo é diferente; que, nesse caso, são juntados o recurso da CEF para mão de obra e do cheque para material; que, não só o programa cheque

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moradia, como em outros, compete ao conveniado a divulgação, o chamamento e movimentação para angariar pessoas; que os programas são executados em parcerias para melhorias sociais; que aos órgãos de habitação compete verificar se as famílias enquadram nos requisitos legais; que não é possível fiscalizar as tratativas entre a associação e os beneficiários; que o recurso só do cheque-moradia não é suficiente para a construção das casas; que ainda que os beneficiários tivessem de investir outros valores nas construções eles deveriam saber em qual lote estariam investindo nos materiais; que o declarante não tem conhecimento de pessoas que não receberam casas no João Paulo II; que a recomendação da AGEHAB para a associação era que se individualizasse as casas para que a família pudesse melhorar o que fosse possível, de acordo com o padrão das casas;; que PEDRO BESERRA era o presidente à época; que não conhece MARIA APARECIDA (CIDA), esposa de MAURÍCIO; que o declarante não se recorda de SILAS; que a AGEHAB nunca instruiu a SHC a cobrar valores de beneficiários; que a AGEHAB tinha conhecimento de relações comerciais entre os beneficiários e as associações, mas que nunca orientou a cobrança de valores pelas entidades. (...)”. ÁLVARO CÉSAR LOURENÇO

“(...) que a AGEHAB “entrou”, em cooperação com a SHC, no loteamento João Paulo II, no ano de 2011, quando da construção de cerca de 400 (quatrocentas) casas, em um projeto que estava parado há algum tempo; que, em novo convênio, o projeto tornou-se tripartite, com recurso do governo federal (Minha Casa Minha Vida), do Estado que cedia o terreno e o cheque moradia e, da AGEHAB; (...) que naquela época a Caixa Econômica Federal (CEF) ainda não havia entrado no projeto; que a solução foi entrar com o programa Minha Casa Minha Vida para aporte de recursos do programa, bem como com o cheque moradia; que a AGEHAB era responsável por administrar a obra; que o estado faria um novo cadastro junto com a CEF (CADMULTI); que a AGEHAB assumiu a mão-de-obra naquela etapa; que nos novos cadastros houve uma nova política de publicidade; que todos os cadastros, após a análise, ficavam disponíveis no sítio da AGEHAB e na própria AGEHAB para consulta; que os cadastros tinham de ser aprovados tanto na AGEHAB quanto na CEF; (...) que as pessoas cadastradas não deveriam pagar valor algum à associação pela casa; que a 1ª etapa era gratuita; que o Estado assumiu tudo; que o declarante acredita que na 1ª etapa eram 400 (quatrocentas) casa; que essas casas foram entregues entre 2012/2013; que o procedimento era aprovado na AGEHAB, após, era mandado para a CEF, se aprovado pela CEF o beneficiário tinha de assinar o contrato e os cheques; que os cheques voltavam para financeiro e iniciava-se o processo de construção das casas; que no documento que os beneficiários assinavam com o Estado e com a CEF, havia uma cláusula que proibia a venda/doação/abandono/ausência do imóvel por 8 (oito) anos sob pena de ter de devolver valores para o Estado (para a AGEHAB); que a AGEHAB era a única responsável por essas questões contratuais; que em 2013 começou a 2ª etapa; que na 2ª etapa o modelo da casa era diferente; que a 2ª etapa ficava na mesma área; que havia contrato com a CEF também; que o beneficiário era mutuário e tinha de pagar para a CEF; que o procedimento era o mesmo; (...) que não se paga nenhum cadastro do Estado; (...) que o beneficiário podia desistir do programa, era só fazer um distrato com a AGEHAB e a CEF; que quando acontecia o distrato era uma situação complicada, mas que o declarante sabe dizer que não havia “ágio”; que o recurso público é administrado pelo Estado e pela CEF, portanto, não havia razão para cobrar valores de cadastrados que desistiam; que o nome do cadastrado que substituía o desistente tinha de ser aprovado no novo cadastro na AGEHAB; que a informação que a AGEHAB passava era que a “troca” só poderia ser realizada na AGEHAB; que, em tese, o pessoal da SHC não poderia incluir/excluir cadastrados; que quando o cadastro é aprovado, o beneficiário recebe cópia do contrato (com CPF do beneficiário); que até a entrega da chave da casa depende da apresentação do contrato; que não há possibilidade de uma pessoa receber em

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outra etapa se ela está cadastrada em uma diferente; que a SHC e o Estado não tinham autonomia para realizar vendas das casas; que o Estado é quem “efetua a troca” do cadastro, em caso de abandono da casa, por exemplo; (...) que a cobrança não era permitida nem autorizada pela AGEHAB; (...)”. LUCIANO ALVES PEREIRA

Por fim, colamos informação da assessoria jurídica da AGEHAB, dando ênfase

nas campanhas informativas que a instituição faz para coibir o comércio clandestino de

casas populares (fls. 633/637).

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Na informação resposta, ficou patente a preocupação do Estado com

associações ou entidades que usam do convênio firmado com o Estado para, ilicitamente,

cobrarem vantagens indevidas de cidadãos de baixa renda.

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Ainda assim, os denunciados ludibriavam as novas vítimas dizendo que seria

necessário o pagamento que variava entre R$ 10.000,00 a R$ 20.000,00 para serem

incluídas nessa 2ª Etapa. Ora justificavam o valor cobrado para a construção dos futuros

alicerces das casas, ora alegavam que seria destinado ao ressarcimento de supostos

desistentes dessa 2ª Etapa.

Contudo, como visto, não passava de uma fraude, já que nesta 2ª Etapa não

havia valor algum a ser pago a título de alicerces, pois o próprio beneficiário assinava um

contrato com a CEF e pagava pela sua moradia, recebendo do Estado apenas uma parte da

obra e o respectivo lote. Ademais, os valores pagos pelas novas vítimas foram

distribuídos em quase toda a sua totalidade para os próprios denunciados, inclusive,

com depósitos diretamente em suas contas pessoais, e não para supostos

ressarcimentos de anteriores prejudicados.

Algumas das vítimas desta etapa, apesar de terem sido enganadas a pagar altos

valores a título de alicerces para a SHC (R$ 10.000,00 a R$ 20.000,00), acabaram

conseguindo ter seus nomes aprovados tanto pela AGEHAB como pela CEF e assinaram

contrato individual com tais instituições. Em breve, receberão suas casas, contudo, tiveram

um prejuízo indevido, pois a cobrança realizada pela ORCRIM foi ilegal.

MARILEIDE MARIA DE SOUZA pagou R$ 15.000,00 (quinze mil reais), sendo

R$ 12.000,00 em 27/12/2013 na conta da SHC e mais R$ 3.000,00 em espécie. Ela assinou

contrato com a Caixa Econômica Federal, referente a sua casa na 2ª Etapa do JOÃO

PAULO II, que está em construção (declaração a fls. 1785 e 1786 do Volume IX):

“(...) que, 15 (quinze) dias depois do cadastro, WENDER ligou para a declarante e disse que tinha uma oportunidade única; que WENDER disse que se a declarante tivesse R$ 15.000 (quinze mil reais) para pagar a SHC, entraria na 2ª etapa do JOÃO PAULO II; que o referido valor era para "cobrir" o valor já pago por uma pessoa que havia desistido do projeto; que acreditou que o valor era para pagar a casa e que WENDER não explicou que esse valor era o pagamento apenas do lote; que pagou R$ 12.000,00 (doze mil reais), por transferência, para a conta da SHC, no dia 27/12/2013; que EDUARDO, da SHC, falou que a declarante teria de parcelar o restante, R$ 3.000,00 (três mil reais), em 6 parcelas de R$ 500,00; que a declarante pagou os R$ 3.000,00 (três mil reais) dessa forma; que trabalhavam na SHC, CIDA, WENDER, EDUARDO, PEDRO e VALDIR (companheiro de WENDER; (...)que não recebeu cheque moradia, mas recebeu subsídio do governo, cerca de R$ 19.000,00 (dezenove mil reais), e assinou o contrato com a CEF; que o pessoal da AGEHAB sempre estava na SHC; que está pagando o financiamento da CEF; que está aguardando receber a casa da 2a etapa; que a entrega das casas está previsto para janeiro de 2018; (...)”.

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Vide trecho das declarações de MAYARA DE OLIVEIRA MARTINS, que pagou

R$ 14.000,00 (catorze mil reais), sendo R$ 7.000,00 em 11/12/2012 e mais R$ 7.000,00 em

10/01/2013, conforme recibos à frente (declarações a fls. 2328 e 2329 do Volume XII):

“(...) que a declarante pagou a quantia de R$ 14.000,00 para ter o direito de entrar no programa de moradia; que a declarante foi até a sede da SHC e em conversa com PEDRO BESERRA foi informada que se realizasse o referido pagamento receberia a casa na segunda etapa; que a declarante concordou e o pagamento foi realizado em espécie para o próprio PEDRO BESERRA; que PEDRO BESERRA entregou para a declarante os recibos do valor total (em anexo); que quando se associou e fez o pagamento dos R$ 14.000,00 estavam presentes o PEDRO BESERRA, o SILAS, o MAURÍCIO BERALDO e a CIDA; que posteriormente a declarante fez o cadastro com a CAIXA ECONÔMICA na própria SHC. Que assinou contrato com a Caixa Econômica e atualmente paga uma mensalidade em média de R$ 60,00; (...)”.

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Da mesma forma, SEBASTIÃO GONÇALVES DA COSTA também pagou R$

15.000,00 (quinze mil reais) em 15/08/2013, e assinou contrato com a Caixa Econômica

Federal (declarações às fls. 1879 e 1880 do Volume X):

“(...) que conheceu a SHC por meio das reuniões realizadas na sede; que nas reuniões Pedro Beserra, Beraldo e Cida ofereciam casas para pessoas de baixa renda; que se associou à SHC no ano de 2013, que está cadastrado na segunda etapa do João Paulo II. Que para receber a casa no João Paulo II, foi contatado por uma pessoa (mulher), que pagou o valor de R$ 15.000,00; que pensando que a casa seria construída de imediato, e que as prestações seriam abatidas no valor da casa realizou o pagamento. Que tinha uma poupança e era seu único dinheiro guardado, que resgatou e fez o pagamento para SHC; que realizou uma transferência da sua conta poupança para uma conta corrente fornecida pela SHC. Que no dia seguinte após o depósito 15/08/2013, buscou o recibo na SHC do valor do pagamento efetuado. Que tempos depois, o declarante teve seu cadastro aprovado e assinou o contrato com a Caixa Econômica (...)”.

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Como visto, as vítimas acima tiveram que pagar altos valores para ser incluídas

na 2ª Etapa do JOÃO PAULO II, porém já assinaram contrato individual com a CEF e em

breve receberão suas casas. Tiveram o prejuízo “apenas” dos valores ilícitos, cobrados

pelos denunciados, que variavam de R$ 10.000,00 a R$ 20.000,00.

Não obstante isso, muitas outras vítimas foram induzidas a erro pelos

denunciados nesta 2ª Etapa e pagaram à SHC os mesmos valores indevidos, além

disso, não foram sequer incluídas na lista desta etapa. Ficaram sem contrato e não

receberão lotes nem moradia, além do prejuízo financeiro.

ANTONIO ALBERTO DOS SANTOS FILHO pagou R$ 15.000,00 (quinze mil

reais) à SHC em 4/06/2013, conforme extrato detalhado da conta da SHC (fl. 72 do Anexo II

do PIC), e não foi contemplado na lista de beneficiários da 2ª Etapa, isto é, terá que

aguardar uma eventual futura etapa (declarações a fl. 1.407 do Volume VIII):

“que o declarante é associado da SHC há cerca de 03 (anos); que o declarante conheceu a SHC por meio de um amigo; que o declarante cadastrou-se na tentativa de ganhar uma moradia; que o funcionário da SHC que atendeu o declarante foi WENDER; que o declarante pagou R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para a SHC com o objetivo de adiantar o "negócio"; que o declarante fez cadastro pela Caixa Econômica Federal também; que tempos depois do cadastro na SHC o pessoal da associação informou o declarante que seu cadastro na CEF havia sido reprovado; que PEDRO BESERRA da SHC ligava para o declarante convidando-o para participar das reuniões; que se compromete a trazer o comprovante de pagamento à SHC; que o declarante tem receio de "perder" o dinheiro que pagou à SHC; que WENDER disse para o declarante que o dinheiro pago era para "adiantar" o recebimento da casa; que quando o declarante cobrou seu dinheiro de volta o pessoal da SHC disse que não devolvia dinheiro; que o declarante não recebeu moradia até hoje; que o pessoal da SHC disse ao declarante que a casa ainda seria construída; que o pessoal da SHC não disse ao declarante para que o dinheiro seria usado (...)”.

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JEAN JUNIO DE MATOS (fls. 881 e 882 do Volume V), pagou R$ 15.000,00

(quinze mil reais) à SHC em 6/12/2013, foi enganado pelos denunciados e não foi

contemplado com a assinatura do contrato com as instituições responsáveis pelo programa

social:

“que em meados de 2012 ou 2013 foi procurado por Nilberto, funcionário da SHC, lhe oferecendo uma oportunidade de ser beneficiado com uma das casas populares do projeto João Paulo II (2ª Etapa); Que Nilberto lhe informou que seria necessário o pagamento de R$ 15.000,00 na conta da SHC mais 2.000,00 reais de corretagem para o próprio Nilberto; Que o declarante efetuou o pagamento. Os R$ 15.000,00 foi transferido direto da conta do declarante para a conta da SHC e os R$ 2.000,00 foi dado em dinheiro para Nilberto, a título de corretagem. (...) Que tanto Eduardo como Nilberto lhe informaram que esses RS 15.000,00 seriam destinados ao beneficiário anterior, que havia desistido do projeto, para que este não tivesse prejuízo; Que levou seus documentos até a SHC juntamente com o comprovante de depósito; Que até hoje não recebeu a casa; (...) Que quando vai procurar saber o que está ocorrendo, Pedro Beserra informa que ele deve esperar, que não é bem assim, que sua mãe seria beneficiada na 3ª etapa e outras coisas mais; (...) Que antes de efetuar o pagamento, todos da SHC falavam que com o pagamento de R$ 15.000,00, seu cadastro seria aprovado pela AGEHAB e CAIXA ECONÔMICA FEDERAL; (...)”.

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MARCIA PEREIRA DE JESUS (declarações à fl. 1405 do Volume VIII) pagou

R$ 15.000,00 (quinze mil reais) à SHC em 25/03/2013 e 01/04/2013, e, enganada pelos

denunciados, nunca foi contemplada com o contrato ou a casa própria:

“Que acha que é associada da SHC desde meados do ano de 2010; Que não tem certezas; Que sabe quem é José Maurício Beraldo, Pedro Beserra, Cida, Eduardo e Wendel; Que vai às reuniões; Que quem toca as reuniões é Maurício Beraldo e sua equipe; Que procurou a SHC para conseguir uma casa popular; que na SHC informaram a declarante que teria que pagar 15 mil reais para obter uma casa no João Paulo II; Que ela entraria no lugar de outra pessoa que não teve o cadastro aprovado; Que até hoje não recebeu a casa; Que foi difícil conseguir esse valor para pagar à SHC”;

A fls. 3211/3215 do PIC foi juntada uma lista contendo todas as vítimas

identificadas e ouvidas pelo Ministério Público em relação a esta 2ª Etapa do JOÃO PAULO

II, indicando inclusive quem foi beneficiado com o contrato e quem não o foi, bem como o

prejuízo total desta 2ª Etapa, que foi de aproximadamente R$ 344.600,00 (trezentos e

quarenta e quatro mil e seiscentos reais).

2.1.5. DO LOTEAMENTO JOÃO PAULO II – 3ª ETAPA

Existem estudos para a construção da “3ª ETAPA do JOÃO PAULO II”,

contudo, segundo informações da própria AGEHAB, ainda não há sequer previsão de

implantação. Ainda assim, caso saia do papel, serão seguidas as mesmas diretrizes da 2ª

Etapa, isto é, sem qualquer contraprestação prévia dos beneficiários, havendo apenas o

financiamento de parte da construção diretamente com a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

(fls. 60/65).

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Mesmo sendo um projeto futuro, e ainda estar em fase de estudos, os membros

da organização criminosa não perderam tempo e logo passaram a divulgar o cadastramento

para as supostas casas da 3ª Etapa.

Para tanto, cobravam dos interessados valores que variavam de R$ 15.000,00 a

R$ 20.000,00 para terem seus nomes incluídos na lista da SHC, que supostamente seria

encaminhada à AGEHAB. Como sempre, diziam que esses valores se destinariam à

construção dos alicerces das futuras casas ou, às vezes, falavam que se destinariam ao

ressarcimento de cadastrados da 3ª Etapa que haviam desistido do programa.

Em relação a esta etapa, ludibriar as pessoas ficou ainda mais fácil, pois, de

fato, as obras da 2ª Etapa estavam a todo vapor, com o gerenciamento da AGEHAB e CEF.

Além disso, as casas da 1ª etapa já haviam sido entregues em dezembro de 2013. As

vítimas caíam facilmente na conversa dos denunciados, isto é, de que era

imprescindível o pagamento dessas quantias para fazer parte do programa.

As pessoas, vendo o canteiro de obras da 2ª Etapa em evolução e diante do

sonho em ter uma casa própria, se endividavam com parentes, amigos e instituições

bancárias e pagavam até R$ 20.000,00 para a SHC. Só depois descobriam que as obras

em construção não seriam destinadas a elas e que tudo não passava de uma fraude,

pois não havia necessidade de qualquer pagamento antecipado.

Aliás, muitos pagamentos feitos pelas vítimas eram depositados

diretamente na conta de pessoas ligadas aos denunciados, ou dos próprios membros

da organização criminosa que não tiveram contato com a vítima, como se fossem os

desistentes dos programas.

CLAYDILAINE MARQUES MONTEIRO, no dia 22 de maio de 2012, pagou R$

10.000,00 (dez mil reais) na conta da denunciada EMÍLIA ANGELINA DE JESUS para fazer

parte da 3ª Etapa do programa (declarações a fls. 2065 e 2066 do PIC):

“Que é associada na SHC desde 2012, após informações recebidas por sua irmã, que também é associada, para aquisição de uma casa no loteamento João Paulo II. Que a depoente fez sua carteirinha de associada e não paga taxa de manutenção pela mesma. Que sempre havia reuniões mas pouco comparecia pois era durante à tarde, no seu horário de trabalho. Sabia das informações através de sua irmã que participava das reuniões. Que a depoente aguarda sua moradia na extensão da segunda etapa do Loteamento João Paulo II; que sempre contatava na associação com o senhor PEDRO BESERRA. Que por orientação do senhor PEDRO BESERRA, a depoente depositou a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais), pois o mesmo justificou que tal quantia seria necessária para a construção do alicerce. A depoente disse que sempre indagou a demora na entrega da casa, considerando que o depósito da quantia acima mencionada ocorreu em 2012. A justificativa dada pelo senhor PEDRO BESERRA era a demora em aprovar o cadastro junto à Caixa. A depoente informa que trabalhavam na associação o sr. PEDRO BESERRA e outras pessoas da qual não se recorda o

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nome. Que atualmente a depoente reside na casa de sua sogra, aguardando a entrega da casa.”.

ANA CAROLINA MACHADO AMARAL depositou o valor de RS 10.000,00 (dez

mil reais), no dia 1º de novembro de 2012, na conta da SOCIEDADE HABITACIONAL

COMUNITÁRIA (SHC), conforme disse a fls. 1416 e 1417 do PIC:

“que a declarante associou-se à SHC em 16/01/2008, com o intuito de receber moradia; que o cadastro foi feito em seu nome, mas quem efetuou pagamento à SHC foi sua mãe, MARLY DE OLIVEIRA VICTORIO; que o marido da declarante ficaria responsável por pagar as prestações depois que assinassem o contrato com a Caixa Econômica Federal (CEF); que o valor pago à SHC foi de R$ 11.000,00 (onze mil reais), a título de "compra" do cadastro de uma pessoa que havia desistido do programa habitacional; que as tratativas a respeito do cadastro foram realizadas com um funcionário da SHC, NILBERTO; que NILBERTO disse à declarante que R$ 10.000,00 (dez mil reais) era para pagar o cadastro antigo e que R$ 1.000,00 (mil reais) era para outro fim, o qual a declarante não se recorda; que a declarante descobriu, posteriormente, que NILBERTO é corretor de imóveis e acredita que o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) era uma espécie de comissão; que a declarante freqüentava as reuniões na SHC; que a declarante se recorda de algumas pessoas da SHC, como PEDRO BESERRA, CIDA, MAURÍCIO BERALDO, EMÍLIA, WENDER, NILBERTO e possivelmente, HENRIQUE; (...) que a declarante ainda não recebeu casa”.

JANAÍNA DE SOUZA GODIM, em 12 de março de 2015, depositou R$

15.000,00 (quinze mil reais) na conta do denunciado EDUARDO LUIZ MOREIRA

(declarações a fls. 1814 e 1815 do PIC):

“(...) que se associou à SHC em 12 de março de 2015; que NILBERTO foi até sua casa e buscou a declarante para leva-la até uma casa no loteamento JOÃO PAULO II; que a casa mostrada por NILBERTO pertencia a ele mesmo; que na SHC quem fez a carteirinha da declarante foi EDUARDO; que EDUARDO e NILBERTO disseram que a declarante seria cadastrada para a 3ª etapa do loteamento; que NILBERTO disse que a declarante teria de pagar o valor já pago por um associado que havia desistido (cadastro não aprovado) do programa de moradia; que o valor que pagou foi R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sendo que NILBERTO cobrou comissão de R$ 5.000,00 (cinco mil reais); (...) que se recorda que trabalhavam na SHC, WENDER, PEDRO, CIDA, EMÍLIA, EDUARDO, NILBERTO e BERALDO; (...)”.

JOSELIA DE SÁ SILVA, em 12 de março de 2015, depositou na conta de

EMÍLIA ANGELINA DE JESUS o valor de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), de acordo com

o que disse a fls. 2738 e 2739 do PIC:

“Que conheceu WENDER, da SHC, desde a infância; que WENDER comunicou para a declarante que existia uma pessoa associada da SHC que desistiu do projeto e queria vender a casa; que a referida associada, pagou para a SHC a quantia de R$ 18.000,00; que a declarante precisava solver esse valor para que a SHC pudesse ressarcir a pessoa associada que estava desistindo do projeto; e então, a declarante poderia ficar no lugar da associada; que a declarante aceitou a proposta e efetuou o pagamento em forma de transferência bancária para a conta corrente da EMÍLIA (comprovante anexo); que a casa da declarante é para ser entregue no terceiro módulo do João

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Paulo II; que a declarante é obrigada a participar das reuniões da SHC; que não assinou contrato com a CAIXA ECONÔMICA; que não pegou cheque moradia; que atualmente mora de aluguel.”.

No ano de 2016, ALEX RIBEIRO MARIANO depositou em contas diversas,

inclusive, na conta do denunciado KESLLEY BERNADINO, companheiro de EMÍLIA, e de

ANDRÉ LUIZ PEREIRA SILVA SOBRINHO, o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais),

conforme declarações a fls. 2720 e 2721 do PIC:

“Que a mãe, Maria Cristina Ribeiro da Silva, mora em uma casa no Vale dos Sonhos; que Maria Cristina Ribeiro da Silva conhece o WENDER desde a infância; que o PEDRO BESERRA informou para o declarante que existia uma pessoa, associada da SHC, que estava desistindo do projeto moradia e queria vender a casa dela; que o declarante precisava efetuar o pagamento de R$ 15.000,00, para ressarcir a associada desistente; que a casa do declarante seria entregue na segunda etapa do João Paulo II; que atualmente não recebeu a casa; que fez o cadastro na AGEHAB; que o declarante aceitou a proposta e no ano de 2016, depositou o valor de R$ 15.000,00; que a referida quantia foi depositada em contas bancárias com titulares diferentes, quais sejam: WALDECI PIRES DE OLIVEIRA; ANDRÉ LUIZ PEREIRA SILVA SOBRINHO E KESLLEY BERNARDINO DE AVELAR (conforme comprovantes anexo); que o declarante não assinou contrato com a CAIXA ECONÔMICA; (...)”.

Já a vítima ISAC ALVES SOARES depositou o valor de R$ 14.800,00 (catorze

mil e oitocentos reais), em 11/03/2016, na conta do denunciado KESLLEY BERNADINO,

companheiro da denunciada EMÍLIA, supostamente, o cadastrado que havia desistido

(declarações a fls. 1805 e 1806 do Volume IX):

“Que, no ano de 2015, soube de uma reunião em dia de sábado na SHC, foi até lá e conversou com EMÍLIA; que disse para EMÍLIA que queria entrar no projeto, ao que EMÍLIA cadastrou o declarante na 3ª etapa do loteamento JOÃO PAULO II; que EMÍLIA disse que o declarante teria de pagar o valor já pago por outra pessoa que havia desistido do projeto; que o valor era R$ 14.800,00 (catorze mil e oitocentos reais); que efetuou o pagamento na conta de KESLLEY BERNADINO DE AVE, no dia 11/03/2016; que EMÍLIA disse que KESLLEY era uma pessoa que havia desistido do projeto porque estava de mudança para o Nordeste; que frequentava as reuniões; que nas reuniões BERALDO prometia finalizar a 2a etapa e iniciar o 3º módulo do JOÃO PAULO II; que BERALDO falava que no 3º módulo seriam construídos apartamentos; que está aguardando a entrega desses apartamentos na 3a etapa; que ainda tem esperança de receber moradia; (...)”.

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LEANDRO MANOEL DE SOUZA, no dia 17 de agosto de 2016, depositou R$

15.000,00 (quinze mil reais) na conta do denunciado ALEXANDRO JACINTO,

companheiro de MARIA APARECIDA, e pagou R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em espécie

para o denunciado NILBERTO (declarações a fls. 3003 e 3004 do PIC):

“Que no ano de 2014, se associou ao projeto SHC; que no ano de 2016, foi cobrado do declarante a quantia de R$ 22.000,00, que a contrapartida era a construção do alicerce da unidade habitacional do depoente, conforme recibo comprovante anexo; que seria contemplado com a residência na segunda etapa do João Paulo II; que posteriormente foi encaminhado para a terceira etapa do João Paulo II; que o mencionado valor foi quitado em duas parcelas; que a primeira parcela foi de R$ 15.000,00 em forma de depósito bancário na conta corrente de ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, AGÊNCIA 3638/013 CONTA CORRENTE 00.003.634-8, na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL; que a segunda parcela foi quitada em espécie, na sede da SHC e entregue em mãos para o NILBERTO; que o declarante não assinou contrato com a CAIXA ECONÔMICA; que não recebeu cheque moradia; que mora de favor.”.

Do mesmo modo, HERICK DOUGLAS DE SOUZA NASCIMENTO, por

orientação dos denunciados, depositou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) na conta de

ALEXANDRO JACINTO, em 23/01/2017, conforme se extrai de suas declarações a fls.

2939 e 2940 do Volume XV:

“Que no mês de fevereiro do presente ano, o NILBERTO, corretor da SHC, tomou conhecimento de que a mãe do declarante, LUZINETE, procurava um lote para comprar; que o NILBERTO esteve na residência do depoente e informou que na SHC o declarante poderia comprar uma casa no projeto moradia; que o NILBERTO cobrou o valor de R$ 20.000,00; que a unidade habitacional do declarante é para ser entregue na terceira etapa do João Paulo II; que o declarante aceitou e efetuou o pagamento dos R$ 20.000,00; que o mencionado pagamento foi realizado em duas parcelas; que a primeira parcela de R$ 15.000,00, foi depositada na conta corrente de ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, agência 3638/013 conta 00.003-643-8, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (comprovante anexo); que a segunda parcela de R$ 5.000,00, foi entregue em espécie na mão de NILBERTO; (...)”.

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JOELMA DE SOUSA MIRANDA depositou R$ 14.000,00 (catorze mil reais), no

dia 29 de junho de 2017, na conta do denunciado ALEXANDRO JACINTO, companheiro

de MARIA APARECIDA, conforme narrou a fls. 1539 e 1540 do PIC:

“Que desde 2005 tentava fazer cadastro na SHC; que PEDRO BESERRA dizia que o cadastro da declarante não saía porque o título de eleitor da declarante tinha de ser de Goiânia/GO; que esse ano a declarante foi à SHC novamente; que na referida ocasião EMÍLIA disse que se surgisse alguma vaga ligaria para a declarante; que, após, a EMÍLIA ligou para a declarante dizendo que havia surgido uma vaga e ela teria de pagar R$ 14.000,00 (catorze mil reais) pelo cadastro de uma pessoa que havia desistido; que essa pessoa se chamava ALEXANDRO; que não conhece tal pessoa; que ao se dirigir à SHC foi atendida por CIDA, EDUARDO e WENDER; que quem levou a declarante ao banco foi WENDER (banco Bradesco); que eles disseram que a declarante deveria depositar o valor (R$ 14.000,00) na conta de ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA; que EDUARDO quem fez a carteirinha da declarante; que perguntou à CIDA se podia dar errado e não receber casa, ao que a CIDA disse que não, que inclusive daria um recibo da SHC pelo pagamento; que a casa seria entregue a ela até dezembro de 2018; que se referia à 3a etapa do JOÃO PAULO II; que sua vizinha ANDRIELLY também efetuou depósito na conta de ALEXANDRO; que sente muita tristeza e que o dinheiro todo que tinha pagou à SHC; que aos fins de semana aconteciam reuniões em que BERALDO dizia que as casas seriam entregues; que em determinada reunião BERALDO inclusive chamou os associados para apedrejara casa de uns idosos (Dona Dora) do bairro.”.

ANDRIELLY COSTA SILVA LUCENA, em 1º de agosto de 2017, efetuou

depósito no valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais), na conta do denunciado ALEXANDRO

JACINTO (declarações a fls. 1530 e 1531 do PIC):

“que ouviu falar sobre a SHC por meio de vizinhos no seu setor; que fez carteirinha, participou de reuniões e não foi contemplada com moradia; que, recentemente, procurou WENDER; que WENDER disse que havia casas de pessoas que haviam desistido; que ele disse que a declarante teria de pagar R$ 12.000,00 (doze mil reais); que WENDER disse que a pessoa desistente era ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA; que a declarante conseguiu R$ 6.000,00

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(seis mil reais), por meio de consórcio e mais R$ 6.000,00 (seis mil reais) com a sua sogra; que o pessoal da SHC mentia que os alicerces lá do JOÃO PAULO II, da 2a etapa, eram da 3a etapa; que da última vez que foi à SHC, PEDRO BESERRA mostrou planilhas para a declarante, dizendo que ela receberia casa; que quando arrumou os R$ 12.000,00 (doze mil reais) o WENDER chamou a declarante à SHC; que nesse dia CIDA e EMÍLIA assinaram documentos para a declarante; que, após, WENDER junto de seu namorado, levaram a declarante ao banco para que ela efetuasse o depósito; que WENDER ficou com o recibo do pagamento e não o entregou à declarante; que WENDER disse que ALEXANDRO era um morador que associou-se desde 2009 e havia pago valores para a compra de materiais e outras coisas; que a sogra da declarante é aposentada e que a declarante ainda está devendo os R$ 6.000,00 (seis mil reais); que se compromete a trazer o comprovante de transferência para ALEXANDRO JACINTO (agência 3638 e conta 3643-8) e o comprovante do consórcio; que não conhece ALEXANDRO JACINTO; que WENDER disse que ALEXANDRO tinha ido à SHC antes da declarante e que a declarante não podia ter contato com o outro associado; que tentou saber quem era ALEXANDRO JACINTO, mas que WENDER disse que um associado não podia conversar com o outro para "não falar besteiras"; que a declarante sente muita raiva do pessoal da SHC.”.

A vítima CLEIDE SERPA OLIVEIRA pagou R$ 8.000,00 (oito mil reais) na conta

de ALEXANDRO JACINTO (declarações a fls. 1834 e 1835 do Volume X):

“Que soube da SHC por meio de WENDER; que WENDER perguntou se a declarante queria participar do programa de moradia; que WENDER falou que a declarante teria de pagar R$ 13.000,00 para ser contemplada com moradia; que WENDER disse que o referido valor era para comprar materiais de construção da casa; que WENDER cadastrou a declarante na 3ª etapa do loteamento JOÃO PAULO II; que pagou R$ 8.000,00 na conta de ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA; que frequentava as reuniões da SHC; que não pagava mensalidade; que ficou de pagar o valor restante, R$ 5.500,00, depois; que WENDER e EMÍLIA falaram que a casa seria entregue em dezembro desse ano, mas que depois disso ouviu dizer que associados antigos ainda não tinham recebido casa; (...)”.

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A vítima JESSYKA ALMEIDA DE SOUZA fez o depósito na conta da própria

denunciada EMÍLIA, no valor de R$ 17.000,00 (dezessete mil reais), de acordo com seu

depoimento a fls. 2321 e 2322 do Volume XII:

“Que se associou à SHC no mês de agosto de 2015; (...) que a casa da declarante era para ser entregue na terceira etapa, no presente ano. Que a EMÍLIA, o WENDEL e a CIDA em uma determinada reunião onde se encontravam todos os associados, se dirigiram até o LUIZ ALMEIDA VIEIRA (pai da declarante) e disseram que a casa seria entregue no prazo de dois anos, caso a declarante pagasse o valor de R$ 17.000,00; que a declarante aceitou o acordo e efetuou o pagamento dos R$ 17.000,00, em forma de transferência bancária para o banco 237, agência 0486, conta corrente 0102046-3 no nome de EMÍLIA ANGELINA DE JESUS; (...) que a contrapartida seria compra do material que seria usado na construção dos alicerces das unidades; habitacionais do projeto João Paulo II. (...)”.

Além das declarações de tantas vítimas, o extrato detalhado do denunciado

ALEXANDRO, mais uma vez, evidenciou o envolvimento dos denunciados na prática dos

ilícitos, corroborando o posterior repasse do produto do crime aos demais membros da

ORCRIM. Como se vê, há transações entre ALEXANDRO, KESLLEY, EMÍLIA, EDUARDO,

DIESSA (filha de PEDRO), PEDRO e NILBERTO. Há, também, o registro dos depósitos de

algumas vítimas nas contas do próprio ALEXANDRO (fls. 144/172 do Anexo II):

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Muitas outras pessoas foram vítimas dos denunciados nesta 3ª Etapa. Vide lista

de fls. 3216/3221 do PIC, elencando mais 48 (quarenta e oito) vítimas identificadas e

ouvidas pelo Ministério Público em relação a esta etapa do JOÃO PAULO II. Somando-se os

valores pagos indevidamente por elas aos membros da ORCRIM chega-se ao montante de

R$ 672.300,00 (seiscentos e setenta e dois mil e trezentos reais), sem correção monetária.

Depois de descobrirem que estavam sendo investigados, os membros da

ORCRIM, no intuito de tentar enganar as próprias autoridades, produziram uma lista

contendo 380 supostos “futuros” beneficiários da “3ª ETAPA do JOÃO PAULO II” (fls.

620/632). Nessa lista, incluíram pessoas que foram enganadas na 1ª Etapa (pagaram

alicerces e mão-de-obra e não receberam casas), enganadas na 2ª Etapa (pagaram de R$

10.000,00 a R$ 20.000,00 a título de alicerces, sem necessidade, tendo sido contempladas

ou não com contratos) bem como pessoas enganadas na futura 3ª Etapa (pagaram de R$

10.000,00 a R$ 20.000,00 a título de alicerces, sem necessidade, não havendo sequer

previsão de implantação).

Entretanto, esta lista foi produzida apenas pela SHC, sem qualquer crivo da

AGEHAB e CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Foi apenas uma tentativa de maquiar e

justificar os valores indevidamente cobrados. Aliás, segundo informações do próprio

presidente da AGEHAB, além de estar em fase de estudos, só existem 138 lotes para a

implantação dessa 3ª Etapa. E ainda que essas vítimas consigam a aprovação de seus

cadastros e futuramente entrem na 3ª Etapa, o prejuízo que tiveram com os valores

pagos a título de supostos “alicerces” ou de “ressarcimento de desistentes” nunca

deveriam ter existido, já que os valores não eram devidos.

Numa breve síntese, os valores cobrados pela ORCRIM eram indevidos. Eram

indevidos porque a única contraprestação dos beneficiários seria financiar parte da obra

pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, depois de terem seus nomes aprovados por esta.

Após o pagamento, a quase totalidade do dinheiro recebido era desviado para os próprios

membros da organização criminosa. Ainda que os valores cobrados indevidamente das

vítimas fossem destinados a quitar dívidas da SHC, inclusive com outras vítimas anteriores,

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o crime não deixaria de existir, pois apenas se estaria usando o produto de um crime

posterior para reparar prejuízo de outro crime anterior.

Por fim, mesmo que essas vítimas consigam se encaixar futuramente na 3ª

Etapa, o prejuízo do valor pago ilegalmente continuará existindo, isto é, o crime de

estelionato persistirá.

Derradeiramente, somando-se a quantidade de todas as vítimas identificadas e

ouvidas pelo Ministério Público, das três etapas do JOÃO PAULO II, chega-se a um total de

199 (cento e noventa e nove) vítimas conhecidas e um prejuízo estimado de R$

1.403.381,00 (um milhão, quatrocentos e três mil e trezentos e oitenta e um reais).

2. 1.6. DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS DOS DENUNCIADOS

JOSÉ MAURÍCIO BERALDO é o sócio fundador e chefe informal da SHC. É o

principal líder da organização criminosa. Em conluio com sua ex-esposa e atual presidente

MARIA APARECIDA, bem como com PEDRO BESERRA, ex-presidente da SHC, desde o

ano de 2004 montaram uma estrutura organizada para identificar pessoas que possuíam

interesse em ter a casa própria através de programas sociais para exigirem valores

indevidos como condição. Estes valores, posteriormente, eram desviados a eles próprios,

através de saques em espécie ou transferências bancárias.

BERALDO, além de sócio fundador, é um dos principais articuladores das

reuniões de possíveis beneficiários. Além disso, fazia a ponte entre a associação e o

Estado. Ele era um dos principais responsáveis por fazer com que a SHC fosse a instituição

conveniada com a AGEHAB incumbida de cadastrar as pessoas interessadas no Programa

JOÃO PAULO II. Ele também foi um dos maiores destinatários dos recursos recebidos

ilicitamente na conta da SHC. Foi eleito vereador de Goiânia em 2004 e reeleito em 2008,

permanecendo na Câmara de Vereadores de Goiânia até o ano de 2012.

Declarações de algumas vítimas reforçaram o fato de que BERALDO participava

ativamente das atividades da associação, mesmo já não sendo o presidente da SHC. E,

ainda, que era agressivo com os associados. São as declarações de MARIA MADALENA

DE BRITO MELO (fls. 161/163, Vol. I do PIC), JOÃO GOMES NETO (fls. 709/711, Vol. IV do

PIC) e PAULO ROBERTO MARQUES (fls. 804/805, Vol. V do PIC), respectivamente:

“(...) que a declarante não chegou a receber ameaças, porém, foi maltratada por MAURÍCIO BERALDO, por ela ter procurado o MPF; que BERALDO tem participado das reuniões e ele continua comandando a SHC; que muitas pessoas estão com medo de reclamar; que a filha da declarante de nome RENATA PRISCILA também foi maltratada pelo sr. BERALDO; que a declarante informa outras pessoas que pagaram vantagem indevida para obter casas (...) que ambos têm outros imóveis e renda suficiente;” MARIA MADALENA DE BRITO MELO (fls. 161/163, Vol. I do PIC)

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“(...) que o loteamento era no setor João Paulo II; que quem pedia o dinheiro para o alicerce era o BERALDO, PEDRO BESERRA, em reunião; (...) que o pessoal da SHC não respeitava os associados; que os associados não contestavam MAURÍCIO por medo; (...) que terminaram de construir as casas em 2014 e entregaram para cerca de 400 (quatrocentas) pessoas, mas não entregaram a casa do declarante; que quando o declarante reclamou a casa à época, o pessoal da SHC disse que entregariam mais casas, para ele ser paciente; que há cerca de 15 (quinze) dias procurou o pessoal da SHC para cobrar sua casa ou seu dinheiro de volta;(...)” JOÃO GOMES NETO (fls. 709/711, Vol. IV do PIC) “(...) que quando foi à SHC questionar, MAURÍCIO BERALDO mandou funcionários “retirarem” o declarante e sua esposa da reunião da SHC; que já viu MAURÍCIO falar que mataria quem o questionasse; (...) que quem vende as casas é MAURÍCIO BERALDO e PEDRO; que os associados têm medo do pessoal da SHC; que os funcionários da SHC são violentos e brutos; (...) que SILAS era quem passava os cadastros para a AGEHAB; (...) que o declarante ouviu dizer que SILAS cobrava valores “por fora” para entregar casas;” PAULO ROBERTO MARQUES (fls. 804/805, Vol. V do PIC)

Documentos apreendidos no dia da OPERAÇÃO ALICERCE, no endereço

residencial do denunciado MAURÍCIO BERALDO, corroboraram seu vínculo com a

associação:

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O extrato bancário detalhado do denunciado BERALDO demonstrou que ele e

os outros membros da SHC efetuaram transações bancárias entre si. Chama a atenção um

depósito em sua conta de R$ 50.000,00, em dinheiro, cuja conta de origem foi da própria

SHC (fls. 69 do Anexo II do PIC):

MARIA APARECIDA, mais conhecida como CIDA, é a atual presidente da SHC,

e está neste cargo desde o ano de 2010. Foi casada e conviveu maritalmente com

BERALDO até o ano de 2010. Ela era uma das principais organizadoras das atividades

ilícitas, promovendo as reuniões e o recebimento das vantagens indevidas, corroborando a

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história enganosa de seus “captadores de clientes” EDUARDO, NILBERTO e WENDER,

isto é, de que só receberia moradia quem pagasse de R$ 10.000,00 a R$ 20.000,00 para a

SHC, ora a pretexto de ressarcimento aos desistentes do programa, ora a título de

pagamento de futuros (e inexistentes) alicerces das casas.

MARIA APARECIDA atendia as pessoas, participava das reuniões, e

corroborava a necessidade de pagamento por parte dos beneficiários, em todas as etapas

do programa social. Ela permitia a venda de casas e lugares na lista de supostos futuros

beneficiários. Os valores da conta bancária da SHC eram movimentados e sacados com sua

autorização.

Várias vítimas chegaram a pagar valores acima de R$ 12.000,00 para seu atual

companheiro ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, que se passava como suposto

desistente do programa. Após o depósito, este sacava o valor, ficava com uma parte e

devolvia a outra para MARIA APARECIDA, chegando a repassar também aos outros

membros da ORCRIM.

PEDRO BESERRA já foi presidente da SHC entre os anos de 2002 a 2009, e

continua sendo um “gerente” da associação. Era o responsável por atender as pessoas,

cobrar valores, negociar e elaborar a lista de possíveis beneficiários, juntamente com os

dois primeiros. Também tinha a função de reforçar a necessidade de se pagar altos valores

à SHC a título de ressarcimento de supostos desistentes do programa. Era também um dos

organizadores das reuniões políticas de BERALDO na SHC, onde iludiam as vítimas com

promessas irreais.

O Sr. JOÃO GOMES NETO também disse ter efetuado pagamento à SHC,

trabalhado na obra e não recebeu moradia. (fls. 709 e 710). JOÃO, inclusive, procurou

PEDRO BESERRA e obteve respostas negativas quanto ao recebimento de casa ou a

devolução do dinheiro que pagou à SHC:

“que é associado da Sociedade Habitacional Comunitária, localizada no Vale dos Sonhos, desde 10 de outubro de 2001; (...) que no mesmo período saiu o lote e o cheque moradia no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais); que na SHC disseram que os R$ 5.000,00 (cinco mil reais) não dava, que precisavam de mais R$ 2.000,00 (dois mil reais) para o alicerce; que programaram um mutirão para construção das casas em 2007; (...) que não tinha casa separada no setor; que o pessoal da SHC nunca apontou qual era a casa do declarante; que terminaram de construir as casas em 2014 e entregaram para cerca de 400 (quatrocentas) pessoas, mas não entregaram a casa do declarante; (...) que trabalhou no mutirão, assinou cheque-moradia, pagou o alicerce e não recebeu casa; (...)”.

Durante as interceptações telefônicas deferidas por V. Exa, foi possível colher a

ligação entre o investigado PEDRO BESERRA e o sr. JOÃO GOMES NETO. No resumo do

diálogo abaixo, percebe-se que este último tentou receber o valor que havia pago à SHC

anos atrás, e que até então não havia recebido.

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Além disso, PEDRO recebia valores de outros membros da associação e,

inclusive, até mesmo da conta da própria SOCIEDADE HABITACIONAL COMUNITÁRIA,

como se vê (Parecer Técnico Parecer Técnico a fls. 63/91 do Anexo II do PIC):

Dentre os documentos apreendidos no endereço residencial de PEDRO, os

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seguintes foram considerados relevantes, dado que demonstram o controle dos cadastros

também por parte dele:

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EMÍLIA, irmã de MARIA APARECIDA e, portanto, ex-cunhada de JOSÉ

MAURÍCIO BERALDO, era a tesoureira da SHC e atuava na associação desde 2004. Ela

tinha a função de organizar os repasses em dinheiro da conta da SHC para os líderes da

organização criminosa. Também se apropriava de valores indevidos para enriquecimento

pessoal. Ela instruía algumas vítimas a depositarem o dinheiro dos supostos alicerces, ou

de ressarcimento a um suposto desistente, diretamente na conta de seu próprio

companheiro KESLLEY, bem como na de ALEXANDRO, companheiro de sua irmã CIDA,

como se eles fossem desistentes do programa. EMÍLIA chegou a receber valores de vítimas

diretamente em sua própria conta bancária.

EMÍLIA também atendia as pessoas e participava das reuniões políticas na sede

da SHC, corroborando as informações sobre a necessidade de pagamento para se

conseguir uma casa popular.

A vítima ANA MARIA DOS SANTOS REGO (fls. 1551 e 1552, Vol. VIII do PIC),

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ouvida em 31/10/2017, a exemplo, disse que EMÍLIA foi quem a procurou para pagar R$

16.000,00 (dezesseis mil reais) para que recebesse sua casa:

“(...) que no começo do ano de 2013, a EMÍLIA ligou para a declarante e disse que teria a chance de receber sua casa em 05 dias; que até segunda-feira ela tinha de depositar R$ 16.000,00; que se fizesse o depósito nesse período receberia a chave de sua casa e os documentos; que vendeu sua moto, pegou dinheiro emprestado e depositou na segunda-feira, no Banco do Brasil, na conta da SHC; que, após o depósito, foi até a SHC e lá a atenderam EMÍLIA, CIDA, PEDRO BESERRA, WENDER, BERALDO e ANDRÉ; que perguntaram se a declarante havia depositado o dinheiro; que a declarante confirmou; que BERALDO abraçou a declarante e apresentou ANDRÉ dizendo que ele havia arrumado a documentação e levaram a declarante até uma casa e disseram que aquela seria a casa da declarante; que, segundo eles, ela só poderia entrar na casa após o recebimento dos documentos; que a declarante voltou a procurar a SHC dias depois, entretanto, EMÍLIA, CIDA, PEDRO BESERRA, WENDER e BERALDO falaram para a declarante que havia dado um probleminha e que ela teria que esperar; que mesmo assim a declarante foi até a suposta casa que seria sua e lá, uma senhora, costureira, que a declarante não se recorda o nome, disse que havia comprado a mesma casa do Sr. BERALDO e PEDRO BESERRA POR R$ 5.000,00; que o pessoal da SHC sempre diz à declarante que ela está na próxima etapa; que, recentemente, encontrou WENDER, que disse que a declarante iria receber o dinheiro ou sua casa; que o pessoal da SHC disse que o dinheiro cobrado era para material de construção e outras despesas da obra (pedreiros etc.); que a declarante entrou em depressão e sofre muito até hoje”.

No aparelho celular de EMÍLIA, apreendido no dia da operação, existem diversas

conversas que reforçam a atuação criminosa dos denunciados. Como exemplo, há diálogos

entre EMÍLIA e MARIA APARECIDA, bem como de EMÍLIA com um suposto corretor,

falando sobre contrapartida. Os diálogos, mais uma vez, confirmam o envolvimento e

vínculo entres eles, bem como a cobrança de valores dos cadastrados:

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Os supramencionados denunciados são, portanto, os líderes da organização

criminosa, sendo que BERALDO possuía ascendência sobre todos. A maior parte do

dinheiro obtido ilicitamente das vítimas era desviada para eles.

WENDER MENDES ARAÚJO atuava como captador de eventuais interessados

em adquirir uma casa popular, sendo uma espécie de corretor da SHC. Além disso,

WENDER induzia os interessados a efetuar o pagamento na conta da associação ou de

outros denunciados, além de cobrar uma comissão particular. Auxiliava também na

organização dos documentos que deveriam ser apresentados junto à AGEHAB.

As vítimas AUDIRA MARIA AVELINO DA CONCEIÇÃO (fls. 750/752), JOSÉ

APARECIDO MENDES DE MOURA (fls. 889/890) e ANDRIELLY COSTA SILVA LUCENA

(fls. 1530 e 1531), respectivamente, apontaram o ardil praticado pelo denunciado WENDER:

“(...) que MAURÍCIO BERALDO é o “manda-chuva”; que PEDRO BESERRA foi quem colheu as assinaturas do cheque-moradia; (...) que a declarante cobrou de PEDRO o dinheiro da mãe corrigido; que PEDRO disse que o dinheiro da mãe da declarante perdeu o valor; que a declarante disse que ia procurar as autoridades e que PEDRO disse apenas “vai”; que esse encontro com PEDRO aconteceu no ano de 2014; que PEDRO não devolveu quantia paga alguma; (...) que o fundador da SHC é o MAURÍCIO BERALDO; que o PEDRO BESERRA era o presidente à época; que a CIDA é mulher MAURÍCIO; que WENDEL é o “testa de ferro”, a pessoa que oferece as casas, isto é, vende as casas; que WENDELL oferece casas do loteamento para outras pessoas comprarem; (...) que WENDEL já xingou a declarante; que os funcionários da SHC humilharam a declarante por diversas vezes; (...)”.AUDIRA MARIA AVELINO DA CONCEIÇÃO (fls. 750/752).

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“(...) Que em meados 2012 procurou a SHC para tentar ser beneficiado com uma casa, nos programas de habitação; Que foi atendido pelo Sr. WENDEL, o qual disse que não se estava fazendo cadastro para a 2ª etapa do João Paulo II; Que foi embora sem ter muita esperança; Que poucos dias depois de ter falado com WENDEL, no dia 28/12/2012, um corretor de imóveis lhe procurou, oferecendo ajuda para ser beneficiado com uma casa no João Paulo II, através da SHC; (...) Que no mesmo dia, o declarante foi ao Banco Caixa Econômica Federal, fez um saque R$ 11.000,00 e depositou R$ 9.000,00 na conta da SHC, cujo número foi repassado por WENDEL; Os outros R$ 2.000,00 repassou em dinheiro para WENDEL, em suas mãos, também no mesmo dia”. JOSÉ APARECIDO MENDES DE MOURA (fls. 889/890) “(...) que WENDER disse que havia casas de pessoas que haviam desistido; que ele disse que a declarante teria de pagar R$ 12.000,00 (doze mil reais); que WENDER disse que a pessoa desistente era ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA; que a declarante conseguiu R$ 6.000,00 (seis mil reais), por meio de consórcio e mais R$ 6.000,00 (seis mil reais) com a sua sogra; que o pessoal da SHC mentia que os alicerces lá do JOÃO PAULO II, da 2ª etapa, eram da 3ª etapa; que da última vez que foi à SHC, PEDRO BESERRA mostrou planilhas para a declarante, dizendo que ela receberia casa; que quando arrumou os R$ 12.000,00 (doze mil reais) o WENDER chamou a declarante à SHC; que nesse dia CIDA e EMÍLIA assinaram documentos para a declarante; que, após, WENDER junto de seu namorado, levaram a declarante ao banco para que ela efetuasse o depósito; que WENDER ficou com o recibo do pagamento e não o entregou à declarante; que WENDER disse que ALEXANDRO era um morador que associou-se desde 2009 e havia pago valores para a compra de materiais e outras coisas; (...) que WENDER disse que ALEXANDRO tinha ido à SHC antes da declarante e que a declarante não podia ter contato com o outro associado; que tentou saber quem era ALEXANDRO JACINTO, mas que WENDER disse que um associado não podia conversar com o outro para “não falar besteiras”; (...)”. ANDRIELLY COSTA SILVA LUCENA (fls. 1530 e 1531).

Ressalte-se também que alguns cadastros foram encontrados na casa de

WENDER, quando da ocasião da busca e apreensão:

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EDUARDO e NILBERTO tinham a mesma função de WENDER, porém, com

menor grau de autonomia. Eles eram responsáveis por encontrar as pessoas interessadas

em adquirir uma casa e cobrar os valores ilícitos, mesmo sabendo que tratava-se de

procedimento ilegal. Se beneficiavam com pagamentos da própria SHC e da “comissão” que

os beneficiários tinham que pagar diretamente a eles.

Algumas vítimas afirmaram as práticas dos denunciados EDUARDO e

NILBERTO, a exemplo, JEAN JUNIO DE MATOS (fls. 881 e 882) e ANA CAROLINA

AMARAL MACHADO (fls. 1416 e 1417):

“que em meados de 2012 ou 2013 foi procurado por Nilberto, funcionário da SHC, lhe oferecendo uma oportunidade de ser beneficiado com uma das casas populares do projeto João Paulo II (2ª etapa); que Nilberto lhe informou que seria necessário o pagamento de R$ 15.000,00 na conta da SHC e os R$ 2.000,00 foi dado em dinheiro para Nilberto, a título de corretagem; (...) que tanto Eduardo quanto Nilberto lhe informaram que esses R$ 15.000,00 seriam destinados ao beneficiário anterior, que havia desistido do projeto, para que este não tivesse prejuízo; (...) que até hoje não recebeu casa; que teve seu cadastro desaprovado pela Caixa Econômica Federal, e portanto, foi instruído por Pedro Beserra e outros funcionários da SHC que poderia passar o contrato para sua mãe, o que foi feito; que sua mãe também não recebeu casa até hoje;”. (JEAN JUNIO DE MATOS, fls. 881/882) “(...) que as tratativas a respeito do cadastro foram realizadas com um funcionário da SHC, NILBERTO; que NILBERTO disse à declarante que R$ 10.000,00 (dez mil reais) era para pagar o cadastro antigo e que R$ 1.000,00 (mil reais) era para outro fim, o qual a declarante não se recorda; que a declarante descobriu, posteriormente, que NILBERTO é corretor de imóveis e acredita que o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) era uma espécie de comissão; (...) que a declarante ainda não recebeu casa”. (ANA CAROLINA AMARAL MACHADO, fls. 1.416/1.417)

No aparelho celular de NILBERTO, apreendido na busca e apreensão, foram

encontradas conversas de WhatsApp sobre negociações de casas dos referidos programas

sociais.

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Reforce-se que dentre os documentos apreendidos na casa do denunciado

NILBERTO, foi encontrado um comprovante de depósito, no valor de 15.000,00 (quinze mil

reais), de JUAREZ CHAVES QUEIROZ para a conta do denunciado ALEXANDRO

JACINTO DE SOUZA, como se vê:

No aparelho celular de EDUARDO, também foram encontradas conversas

importantes, nas quais ele trata com EMÍLIA sobre vários casos de cadastrados,

demonstrando completo domínio dos acontecimentos na associação, bem como com outros

envolvidos:

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SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA, antigo assessor de BERALDO, além de atuar

na SHC, foi inserido por este na AGEHAB, justamente no setor que avaliava os cadastros

enviados pela SHC, dos pretensos beneficiários dos programas sociais. Aliás, pouco tempo

antes da operação, ele saiu da AGEHAB e retornou à SHC. SILAS era considerado o

representante da SHC dentro da AGEHAB e atendia muitas pessoas na associação,

corroborando a solicitação de vantagem indevida. Ele recebeu valores da conta de PEDRO

BESERRA (fl. 77 do Anexo II do PIC).

A vítima MARIA DE NAZARÉ COELHO MARQUES (fls. 801 e 802) afirmou ter

visto SILAS trabalhando tanto na SHC quanto na AGEHAB:

“(...) que o pessoal da SHC prometia as casas e dizia que os próprios associados construiriam as casas; que MAURÍCIO BERALDO era o presidente da SHC; que além de MAURÍCIO, PEDRO BESERRA, também coordenava a associação; que a CIDA, esposa de MAURÍCIO, também fazia parte da diretoria da SHC; que EMILIA trabalhava e trabalha na SHC até hoje; que SILAS era funcionário da AGEHAB e depois passou a trabalhar na SHC; (...) que a declarante procurou o pessoal da SHC para saber por qual motivo não recebeu a casa, ao que o sr. PEDRO disse para a declarante procurar a AGEHAB; que MAURÍCIO intimidava os associados e dizia que a culpa deles não terem recebido casas não era dele; que os associados têm medo do pessoal da SHC; (...) que SILAS era funcionário da AGEHAB e ia para a SHC para supostamente ajudar no cadastramento e na distribuição das casas; (...) que tem medo de represálias por parte do pessoal da SHC; que a declarante já presenciou desacatos à associados dentro da SHC por parte do próprio MAURÍCIO; (...)” (Maria de Nazaré Coelho Marques, fls. 801/802)

Assim como aconteceu com os outros denunciados, foram apreendidos

documentos na residência de SILAS que demonstraram que ele também controlava os

cadastros dos associados:

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ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA e KESLLEY BERNADINO AVELAR,

respectivamente, companheiros de MARIA APARECIDA e de EMÍLIA, tinham a função de

emprestar suas contas bancárias para recebimento do produto dos crimes praticados, isto é,

os depósitos das vítimas. Logo após, os sacavam e os entregavam para suas

companheiras, ficando com uma parte do dinheiro ilícito. Também transferiam parte da

propina para os outros denunciados. Seus nomes eram usados como supostos desistentes

do programa social habitacional. Esses acontecimentos foram narrados e esclarecidos por

eles mesmos.

Em seu interrogatório, ALEXANDRO disse:

“(...) que é companheiro de MARIA APARECIDA DA SILVEIRA há 08 (oito) anos; que CIDA é presidente da SHC; (...) que CIDA já pediu a conta do interrogando emprestada, para receber e efetuar depósitos; que já fez transferências para EDUARDO, PEDRO e WENDER a pedido de CIDA e EMÍLIA; (...) que algumas vezes sacou os valores depositados em sua conta bancária para CIDA; que esses saques eram no valor de R$ 5.000,00 ou R$ 6.000,00; (...)”.

Por sua vez, KESLLEY relatou:

“Que é companheiro de EMÍLIA desde 2002, relacionamento do qual adveio o nascimento de uma filha, hoje com doze anos; (...) Que ninguém possui procuração para movimentar sua conta bancária. Que ninguém sabe sua senha e nem tem autorização sua para movimentar a conta. Questionado sobre o pagamento de R$ 14.800,00 (quatorze mil e oitocentos reais) feito por ISAC na sua conta em 11/03/2016, afirma que provavelmente se trata de transferência feita a pedido de EMÍLIA. Esclarece que EMÍLIA costumava utilizar sua conta bancária para receber transferências e pagamentos, para ‘fazer as coisas’. (...)”.

São alguns comprovantes de depósitos feitos nas contas dos denunciados pelas

vítimas da organização criminosa:

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ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO, possui estreita ligação com JOSÉ

MAURÍCIO BERALDO, PEDRO BESERRA DA CRUZ, SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA e a

própria SHC. Ele foi um dos principais coordenadores do Programa JOÃO PAULO II dentro

da SHC. A Portaria n. 048, da Câmara Municipal de Goiânia, datada de 20 de janeiro de

2005, revela a nomeação dele como Assessor de Gabinete do, à época, vereador JOSÉ

MAURÍCIO BERALDO.

A vítima DAYANNE AGDA MARIA DE JESUS (declarações de fls. 1859 e 1860,

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Vol. X do PIC) disse que quem a atendeu na SHC foi o denunciado ANDRÉ e, inclusive, que

ele falou que DAYANNE tinha de pagar R$ 8.000,00 (oito mil reais) para “entrar no projeto”.

No dia 27 de agosto de 2009, DAYANNE efetuou o pagamento, em espécie, conforme

contou:

“(...) que foi até a SHC e foi atendida por ANDRÉ LUIZ; que ANDRÉ LUIZ explicou que algumas pessoas tinham saído do programa e que se a declarante tivesse interesse em receber moradia poderia entrar no projeto, desde que pagasse R$ 8.000,00 pelos materiais de construção, valor já pago pela pessoa que havia desistido; que pagou R$ 8.000,00, em espécie, no dia 27/08/2009, para ANDRÉ LUIZ; que, segundo ANDRÉ, a declarante ficaria cadastrada na 2ª etapa do JOÃO PAULO II; (...)”.

Ressalte-se que quem assinou os recibos de DAYANNE foi o próprio

denunciado ANDRÉ LUIZ:

Outra vítima que também tratou com ANDRÉ LUIZ foi MARIA VÂNIA OLIVEIRA

DA SILVA (declarações às fls. 2097 e 2098, vol. XI), que pagou R$ 8.000,00 (oito mil reais)

como suposta “contrapartida”:

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“(...) Que então, foi procurada pelo PEDRO DE AQUINO NASCIMENTO, intermediador do ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO, CPF 300 280 001-53, telefone 62 98486 55 96; que o ANDRÉ ofereceu o alicerce e o terreno no valor de R$ 8.000,00, em contrapartida a declarante receberia a casa pronta. (...)”.

Outro documento, referente ao ano de 2009, associa ANDRÉ LUIZ ALVES DE

CARVALHO à SHC. Nas fls. 28 do Anexo I, Volume I do PIC, percebe-se que um seminário

versando sobre a atuação da cooperativa no Residencial João Paulo II teve como um dos

interlocutores ANDRÉ LUIZ, qualificado como membro da coordenação da União Nacional

por Moradia Popular.

Já em 2010, ANDRÉ LUIZ aparece como suposto representante das entidades

Sociedade Habitacional Comunitária e União Nacional da Moradia, respectivamente, no

quadro do comitê de Goiás da Campanha Nacional pela Moradia Digna (2016):

No ano de 2015, ANDRÉ LUIZ foi fotografado em reunião na sede da SHC. As

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imagens foram publicadas em 24/05/2015, no Facebook da associação1.

ANDRÉ LUIZ chegou a receber valor identificado da tesoureira da SHC, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS, e possivelmente pode ter valores oriundos dos saques em espécie

da conta da associação:

Por fim, insere-se tabela demonstrando alguns saques em espécie pelos

denunciados diretamente da conta da SHC, a partir do ano de 2012:

1 Vide <https://www.facebook.com/SHC-Sociedade-Habitacional-Comunit%C3%Alria-

286054644902409/?fref=ts), fls. 31 do Anexo I, Vol. I – SIGILOSO do PIC nº 33/2015> Acesso em: 05 fev, 2016.

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Passa-se, adiante, à narrativa circunstanciada de alguns crimes individuais de

estelionato praticados pela ORCRIM contra 14 (catorze) vítimas diferentes.

2.2. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA CLAYDILAINE MARQUES MONTEIRO (ART.

171, CAPUT, DO CP)

Consta também no Procedimento de Investigação Criminal (PIC) 33/2015 –

GAECO, que no dia 22 de maio de 2012 (22/05/2012), no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS e PEDRO BESERRA DA CRUZ, obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 10.000,00 (dez mil reais), em prejuízo da vítima

CLAYDILAINE MARQUES MONTEIRO, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimento da vítima de fls. 2.065/2.066 (Volume XI

do PIC), recibo de fls. 2067, comprovante de depósito de fls. 2.068 (Volume XI do PIC); e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

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Neste caso específico, a vítima, logo após associar-se à SHC, por “orientação”

de PEDRO BESERRA e tomando como verdadeiras as informações repassadas pelos

codenunciados nas reuniões da associação, depositou o numerário na conta bancária da

denunciada EMILIA ANGELINA, após ser ludibriada, sob o pretexto de arcar

financeiramente com a construção do alicerce de seu futuro imóvel, que seria entregue na

extensão da 2ª Etapa do Loteamento JOÃO PAULO II.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade e visando facilitar o induzimento da vítima, diziam que assinariam

um “recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Frise-se que a vítima depositou o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) no dia 22

de maio de 2012, por meio da conta bancária de sua irmã DAYSILAINE MARQUES

MONTEIRO, pessoa associada e igualmente vítima da ação astuciosa dos denunciados.

Documentação

(Fls. 2065/2069 volume XI)

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No entanto, mesmo após o pagamento do valor supramencionado, a vítima não

foi contemplada com a moradia, assim como tantas outras.

Ademais, ainda que tivesse sido contemplada na 1ª ou 2ª Etapas, quando

efetuou o pagamento (22/05/2012) as obras da primeira Etapa já estavam a cargo do Estado

de Goiás (desde 20/12/2011), que assumiu integralmente as construções, não havendo que

se falar em qualquer tipo de contraprestação por parte dos contemplados. Também, se

tivesse sido incluída na lista dos aprovados da 2ª Etapa o crime não estaria afastado, já que

nesta, quem arca com as despesas, é parte o Estado e parte o próprio contemplado, que

financia junto à CAIXA o restante da obra.

Em resumo, o valor depositado na conta corrente da denunciada EMÍLIA

ANGELINA a título de “construção de alicerce” era terminantemente proibido, causando

prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através

de uma atuação orquestrada e enganosa, que fizeram com que a vítima pagasse R$

10.000,00 pensando ser o meio necessário para fazer parte do programa social

mencionado.

2.3. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ANA CAROLINA MACHADO AMARAL (ART.

171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 1º de novembro de 2012 (1/11/2012), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO e NILBERTO MOREIRA LOPES obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 11.000,00 (onze mil reais), em prejuízo da vítima ANA

CAROLINA MACHADO AMARAL, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimento da vítima de fls. 1.416/1.417 (Volume VIII

do PIC); depoimentos de testemunhas de fls. 1.389/1.390; 1.392; e 1.414 (Volumes VII e VIII

do PIC); depósito constante no Parecer Técnico n. 016/0040/030/6234/15MAI2017/CI-

MPGO de fls. 71 do Anexo II do PIC, e declarações de representantes da AGEHAB

relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em

programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

Como já amplamente explanado no título I, sobre a forma de agir da organização

criminosa, os denunciados engaram a vítima ANA CAROLINA dizendo que para fazer parte

do Programa JOÃO PAULO II, e obter uma moradia popular, ela deveria pagar R$

11.000,00, sob o pretexto de “comprar um cadastro” de outra pessoa desistente do

programa.

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Neste caso específico, no mês de outubro de 2012, NILBERTO foi o primeiro a

manter contato com a vítima, falando da suposta desistência de um cadastrado do

programa. Disse a ela que era necessário o pagamento do valor supramencionado para

entrar no lugar do desistente. Como as obras da 1ª Etapa do JOÃO PAULO II já haviam sido

assumidas pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL em parceria com a AGEHAB, elas estavam

a todo vapor, ajudando a incutir na cabeça da vítima que se tratava de coisa séria. Inclusive,

os denunciados utilizaram desse fato para reforçar a fraude.

Ela se dirigiu à SHC e teve contato com os denunciados PEDRO BESERRA,

MARIA APARECIDA, BERALDO, EMÍLIA e WENDER, que não só corroboraram a estória

enganosa contada por NILBERTO como auxiliaram na organização dos documentos

necessários.

Assim, em 1/11/2012, a vítima, através de sua mãe MARLY DE OLIVEIRA

VICTORIO, efetuou o depósito de R$ 10.000,00 na conta da SHC. Além disso, teve que

pagar mais R$ 1.000,00 a título de corretagem ao denunciado NILBERTO, uma inédita

“corretagem de cadastro de programa social”.

Documentação

(Fl. 72 anexo II)

Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Mesmo tendo pago indevidamente o valor total de R$ 11.000,00 aos

denunciados, não foi contemplada com as casas entregues na 1ª Etapa do JOÃO PAULO II

(inteiramente custeadas pelo Estado de Goiás) nem fez parte dos aprovados na 2ª Etapa do

mesmo loteamento, que está em construção, através da parceria entre AGEHAB e CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL.

Ademais, ainda que ela tivesse sido uma das contempladas na 1ª ou 2ª Etapas,

quando efetuou o pagamento (1/11/2012) as obras da 1ª Etapa já estavam a cargo do

Estado de Goiás (desde 20/12/2011), que assumiu integralmente as construções, não

havendo que se falar em qualquer tipo de contraprestação por parte dos contemplados.

Também, se tivesse sido incluída na lista dos aprovados da 2ª Etapa o crime não estaria

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afastado, já que nesta, quem arca com as despesas, é parte o Estado e parte o próprio

contemplado, que financia junto à CAIXA o restante da obra.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “taxa de cadastro” era

terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e

vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que

fizeram com que a vítima pagasse R$ 11.000,00 pensando ser imprescindível para fazer

parte do programa social mencionado.

2.4. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JORGE FERNANDO DA SILVA BEZERRA

(ART. 171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 27 de novembro de 2012 (27/11/2012), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, PEDRO BESERRA DA CRUZ e WENDER MENDES ARAÚJO obtiveram, para

a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 13.000,00 (treze mil reais), em prejuízo

da vítima JORGE FERNANDO DA SILVA BEZERRA, o induzindo a erro, mediante meio

fraudulento, o fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia

para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO

II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 946/947 (Volume V

do PIC); depósito constante no Parecer Técnico n. 016/0040/030/6234/15MAI2017/CI-

MPGO de fls. 72 do Anexo II do PIC; e declarações de representantes da AGEHAB

relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em

programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

A vítima se cadastrou na SHC no ano de 2006. Os denunciados garantiram que

a vítima receberia sua moradia assim que a 1ª etapa do loteamento fosse entregue, fato que

não ocorreu, já que o número de cadastrados pela SHC extrapolava o de imóveis a serem

entregues.

Mantendo o modus operandi, os denunciados aproveitaram que as obras da 1ª

Etapa do JOÃO PAULO II já haviam sido assumidas pela AGEHAB, para sofisticar o ardil.

No mês de novembro de 2012, com as obras da 1ª Etapa em evolução, PEDRO

BESERRA ludibriou JORGE FERNANDO, criando a inverídica necessidade de pagamento

pela construção do alicerce de sua casa a ser entregue nesta 1ª Etapa, supostamente no

valor de R$ 13.000,00 (treze mil reais), contrapartida levada a efeito pela vítima no dia 27 de

novembro de 2012.

Os denunciados PEDRO BESERRA e MARIA APARECIDA, visando dar um ar

de seriedade para facilitar no induzimento da vítima, diziam que assinariam um “recibo” em

nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

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Documentação

(Fls. 946/948 volume V e fl. 72 anexo II)

Vale dizer que a vítima não foi contemplada na referida etapa e também não foi

aprovada na 2ª Etapa.

Tempos depois, após transferir o cadastro à sua companheira THAISA

GUIMARÃES, mas ainda sem previsão de receber sua casa, procurou a SHC. Na ocasião,

PEDRO BESERRA e os outros denunciados afirmaram que sua moradia não havia sido

entregue “por conta de outras pessoas que já estavam aguardando”.

Assim, mesmo tendo pago indevidamente o valor total de R$ 13.000,00 (treze

mil reais) aos denunciados, não foi contemplado com nenhuma das casas entregues.

Ademais, ainda que tivesse sido contemplado em alguma das etapas, quando

efetuou o pagamento (27/11/2012) as obras da 1ª Etapa já estavam a cargo do Estado de

Goiás (desde 20/12/2011), que assumiu integralmente as construções, não havendo que se

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falar em qualquer tipo de contraprestação por parte dos contemplados. Lado outro, mesmo

que tivesse sido incluída na lista dos aprovados da 2ª Etapa, o crime não estaria afastado, já

que nesta, quem arca com as despesas é, parte o Estado, parte o próprio contemplado, que

financiaria o restante da obra junto à CAIXA.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “construção de alicerce”

era terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e

vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que

fizeram com que a vítima pagasse R$ 13.000,00 pensando ser imprescindível para fazer

parte do programa social mencionado.

2.5. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA MAYARA DE OLIVEIRA MARTINS (ART. 171,

CAPUT DO CP)

Consta que em 11 de dezembro de 2012 e 10 de janeiro de 2013, no município

de Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA e PEDRO

BESERRA DA CRUZ obtiveram, para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$

14.000,00 (catorze mil reais), em prejuízo da vítima MAYARA DE OLIVEIRA MARTINS, a

induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o

pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da

AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme

depoimentos de fls. 2.328 e 2.329 (Volume XII do PIC), recibos de fls. 2.331 e 2.332, e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

MAYARA e seu esposo associaram-se à SHC quando o projeto do loteamento

JOÃO PAULO II começou. Na época, inclusive, seu marido trabalhou como pedreiro nas

obras das casas populares. A vítima passou anos cadastrada no projeto para receber

moradia, o que não ocorreu até o ano de 2012, momento em que o denunciado PEDRO

BESERRA disse para a vítima que se ela pagasse o valor de R$ 14.000,00 (catorze mil

reais) ela seria contemplada com uma casa na 2ª etapa do JOÃO PAULO II.

A vítima, convencida pelo denunciado, efetuou o pagamento no valor de R$

14.000,00 (catorze mil reais), no interior da SHC, onde estavam presentes os denunciados

PEDRO, SILAS, MAURÍCIO BERALDO e MARIA APARECIDA, confiando que receberia

sua moradia.

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Documentação

(Fls. 2.331 e 2.332 do Volume XII)

Após o pagamento, de fato, a vítima assinou contrato com a Caixa Econômica

Federal, no entanto, como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar

lotes, casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os

habitacionais.0

Conclui-se, diante da situação meticulosamente criada e sustentada pelos

denunciados, que a vítima pagou indevidamente o valor de R$ 14.000,00 (catorze mil reais),

por uma casa em loteamento que sequer havia sido concluído. Mais do que isso, ainda que

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existisse, as obras eram custeadas integralmente pelo Estado e pelo próprio beneficiário,

através de financiamento junto à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL de parte da obra.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “pagamento”, era

terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e

vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que

fizeram com que a vítima pagasse R$ 14.000,00 pensando ser necessário para fazer parte

do programa social mencionado, “pagando” por algo que não existia.

2.6. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA MARCIA PEREIRA DE JESUS (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 25 de março de 2013 e 1º de abril de 2013, no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO e EDUARDO

LUIZ MOREIRA obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$

15.000,00 (quinze mil reais), em prejuízo da vítima MARCIA PEREIRA DE JESUS, a

induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o

pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da

AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme

depoimento de fls. 1.405 (Volume VIII do PIC); depósito constante no Parecer Técnico n.

016/0040/030/6234/15MAI2017/CI-MPGO de fls. 72 do Anexo II do PIC, e declarações de

representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão

de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V

do PIC).

Neste caso específico, nos meses de março e abril de 2013, a vítima, enganada

pelos ora denunciados, pessoas que afirmavam “lutar pela moradia popular”, efetuou o

pagamento do valor supramencionado com o objetivo de se integrar ao projeto de casas

populares, supostamente, no lugar de uma pessoa que “não teve o cadastro aprovado”.

Vale dizer que, como contrapartida econômica à futura unidade imobiliária, os

integrantes da SHC e ora denunciados MAURÍCIO BERALDO, PEDRO BESERRA, MARIA

APARECIDA, EDUARDO LUIZ e WENDER MENDES ludibriaram a vítima, no sentido de

ser necessário o pagamento de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para que fosse contemplada

com moradia, dizendo ser uma exigência legal do programa.

Os depósitos foram efetivados pela vítima diretamente na conta bancária da

associação, nos dias 25 de março de 2013 e 1º de abril de 2013. Vejamos:

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Documentação

(Fls. 1.405/1406 volume VIII e fl. 72 anexo II)

Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Ademais, ainda que o dinheiro cobrado da vítima tivesse sido usado para pagar

dívidas da SHC, ou mesmo reparar os prejuízos de outra vítima da organização criminosa, o

crime praticado continuaria intacto, já que estariam apenas usando o produto de um crime

para reparar a vítima de outro crime anterior.

Mesmo tendo pago indevidamente o valor total de R$ 15.000,00 aos

denunciados, a vítima não foi contemplada com sua moradia na 2ª Etapa do loteamento.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “compra de cadastro”

era terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e

vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que

fizeram com que a vítima pagasse R$ 15.000,00 pensando ser necessário para fazer parte

do programa social.

2.7. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JEAN JUNIO DE MATOS (ART. 171, CAPUT,

DO CP)

Consta que no dia 06 de dezembro de 2013, no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, PEDRO

BESERRA DA CRUZ, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS e NILBERTO MOREIRA LOPES

obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 15.000,00 (quinze mil

reais), em prejuízo da vítima JEAN JUNIO DE MATOS, a induzindo a erro, mediante meio

fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia

para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO

II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 881 e 882 (Volume V

do PIC); depósito constante na fl. 86 do Volume V do PIC, e declarações de representantes

da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários

em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

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Infere-se do procedimento de investigação criminal que a vítima JEAN JUNIO

DE MATOS, assim como outras tantas vítimas, se associou à SHC no ano de 2013, com o

objetivo de conseguir moradia por meio do projeto do loteamento JOÃO PAULO II, gerido

pela associação.

O denunciado NILBERTO, à época, procurou a vítima para oferecer a suposta

“oportunidade” de ser beneficiado com uma casa popular da 2ª etapa do projeto JOÃO

PAULO II. O cadastramento junto à SHC foi concluído pelos denunciados NILBERTO e

EDUARDO, que cobraram a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), sob o argumento de

que deveriam ressarcir o beneficiário desistente, para que “este não tivesse prejuízo”. Além

disso, teve que pagar mais R$ 2.000,00 a título de corretagem ao denunciado NILBERTO,

uma inédita “corretagem de cadastro de programa social”.

O valor foi depositado diretamente na conta da SHC, no dia 06 de dezembro de

2013, sob o argumento de que seria contemplado na referida etapa. Já o valor da

corretagem foi repassado ao denunciado NILBERTO, em dinheiro. Vejamos o comprovante:

Documentação

(Fls. 884 volume V e fl. 73 anexo II)

Mesmo tendo pago indevidamente o valor total de R$ 15.000,00 aos

denunciados, a vítima não foi contemplada com sua moradia na 2ª Etapa do loteamento.

Frise-se que a 2ª etapa não exigia qualquer contraprestação prévia por parte dos

beneficiários, já que era construída com recursos do Estado e pelo financiamento junto à

Caixa Econômica Federal, pelo próprio contemplado.

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Ademais, ainda que o dinheiro cobrado da vítima tivesse sido usado para pagar

dívidas da SHC, ou mesmo reparar os prejuízos de outra vítima da organização criminosa, o

crime praticado continuaria intacto, já que estariam apenas usando o produto de um crime

para reparar a vítima de outro crime anterior.

Conclui-se, por fim, que o dinheiro que despendeu junto à SHC, a título de

“ressarcimento de suposto desistente”, era terminantemente proibido, causando prejuízo à

vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através de uma

atuação orquestrada e enganosa, fazendo com que a vítima pagasse R$ 15.000,00

pensando ser necessário para fazer parte do programa social mencionado.

2. 8. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JANAÍNA DE SOUZA GODIM (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 12 de março de 2015 (12/03/2015), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO, EDUARDO LUIZ MOREIRA e NILBERTO MOREIRA LOPES

obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 20.000,00 (vinte mil

reais), em prejuízo da vítima JANAÍNA DE SOUZA GODIM, a induzindo a erro, mediante

meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida

quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO

PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimentos de fls. 1.814/1.815

(Volume X do PIC), recibo de fls. 1818; comprovante de depósito de fls. 1.818/1.819

(Volume X do PIC); e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da

cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls.

863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

Consta do caderno investigativo que a vítima conheceu a SHC no ano de 2015,

tendo o primeiro contato com o denunciado NILBERTO, que passeou com a vítima ao longo

das construções em andamento da 2ª Etapa, informando a ela que as obras da 3ª Etapa

logo seriam construídas e entregues também.

Em seguida, a vítima foi até a SHC para se cadastrar na suposta 3ª Etapa do

JOÃO PAULO II, sendo o denunciado EDUARDO o responsável pelos trâmites na

associação. Ainda no dia do cadastro, EDUARDO e NILBERTO enganaram novamente a

vítima, informando que para fazer parte do programa social, deveria ser pago um valor já

arcado por outro associado que, supostamente, havia desistido.

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Frise-se que JANAÍNA se dirigiu à SHC por diversas vezes e teve contato com

os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA, MAURÍCIO BERALDO, EMÍLIA

e WENDER, que não só confirmaram a estória enganosa contada por NILBERTO, como

auxiliaram na organização dos documentos necessários.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar no induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Assim, diante da aparente veracidade das informações repassadas pelos

integrantes do esquema criminoso, em 12 de março de 2015 a vítima efetuou o depósito de

R$ 15.000,00 (quinze mil reais) na conta do denunciado EDUARDO LUIZ. Além disso,

pagou R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de comissão ao denunciado NILBERTO, uma

inédita “corretagem de cadastro de programa social”. Veja-se:

Documentação

(Fls. 1.816/1.821 do volume X)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

A vítima pagou indevidamente o valor total de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) aos

denunciados, por uma casa em um loteamento que sequer existia ou tinha previsão de

existência, a suposta 3ª etapa, sob o argumento fictício de que estaria ressarcindo um

suposto desistente desta etapa.

Em resumo, o dinheiro depositado na conta do denunciado EDUARDO LUIZ

MOREIRA a título de “ressarcimento de suposto desistente” era terminantemente proibido,

causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos

denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que fizeram com que a

vítima pagasse R$ 20.000,00 pensando ser necessário para fazer parte do programa social

mencionado, pagando por algo que não existia.

2. 9. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JOSELIA DE SÁ SILVA (ART. 171, CAPUT

DO CP)

Consta que no dia 12 de março de 2015 (12/03/2015), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ e WENDER

MENDES ARAÚJO obtiveram, para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$

18.000,00 (dezoito mil reais), em prejuízo da vítima JOSELIA DE SÁ SILVA, a induzindo a

erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento

da referida quantia para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB,

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denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimentos

de fls. 2.738/2.739 (Volume XIV do PIC), comprovante de depósito de fl. 2.744, recibo de fls.

2.745 (Volume XIV do PIC), e declarações de representantes da AGEHAB relatando a

ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em programas

habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

Consta do caderno investigativo que, no ano de 2015, JOSÉLIA foi procurada

pelo ora denunciado WENDER, para que ela comprasse a casa de uma pessoa que havia

desistido do projeto de moradia.

Neste contexto, o denunciado WENDER, utilizando-se do mesmo modus

operandi, disse à vítima que ela teria que arcar com os gastos da pessoa desistente,

supostamente valorados em R$ 18.000,00 (dezoito mil reais), contrapartida obrigatória em

face da necessidade de ressarcimento da pessoa que havia deixado o projeto.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar no induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Após acreditar na versão falaciosa de WENDER, JOSÉLIA, assim como tantos

outros prejudicados, efetuou o pagamento de R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) diretamente

na conta da denunciada EMILIA ANGELINA DE JESUS, no dia 12 de março de 2015,

conforme demonstram os documentos.

Vale destacar que o compromisso firmado com a SHC era a entrega da casa na

3ª Etapa do João Paulo II, que, frise-se, nunca existiu.

Documentação

(Fls. 2.738/2.745 volume XIV)

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62-3223-8686 – [email protected]

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Mesmo tendo pago indevidamente o valor total de R$ 18.000,00 aos

denunciados, não foi contemplada com moradia, até porque a 3ª Etapa sequer saiu do papel

e, quando sair, não haverá qualquer contraprestação prévia por parte dos beneficiários.

Assim, ainda que futuramente a vítima seja uma das beneficiárias da esperada

3ª Etapa do JOÃO PAULO II, foi induzida a erro, através de estória ardilosamente contada, a

pagar R$ 18.000,00 previamente, como um fictício ressarcimento de suposto desistente da

referida etapa.

Saliente-se, mais uma vez, que o dinheiro depositado na conta da denunciada

EMÍLIA ANGELINA, sob o falso argumento de ressarcimento de desistente, era indevido,

causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos

denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que fizeram com que a

vítima pagasse R$ 18.000,00 pensando ser necessário para fazer parte do programa social

mencionado.

2. 10. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ALEX RIBEIRO MARIANO (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que nos dias 21 de janeiro de 2016 (21/01/2016) e 03 de março de 2016

(03/03/2016), no município de Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO,

MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA

DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO e KESLLEY BERNADINO AVELAR obtiveram,

para a SHC e para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), em

prejuízo da vítima ALEX RIBEIRO MARIANO, o induzindo a erro, mediante meio

fraudulento, o fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia

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para que fizesse parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO

II, e pudesse obter uma moradia popular, conforme depoimentos de fls. 2.720/2.721

(Volume XIV do PIC), comprovantes de depósitos de fls. 2.723 e 2724 (Volume XIV do PIC),

doc. de fls. 2725, recibo de fls. 2726, e declarações de representantes da AGEHAB

relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a inclusão de beneficiários em

programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do Volume V do PIC).

Consta da documentação acostada aos autos investigativos que a vítima ALEX

RIBEIRO soube da SHC por meio de sua mãe, MARIA CRISTINA RIBEIRO DA SILVA, que

conhecia o denunciado WENDER.

Vale dizer que neste caso específico, o denunciado PEDRO BESERRA,

valendo-se dos mesmos argumentos falaciosos, enganou a vítima, dizendo que havia uma

pessoa desistente, e, caso a vítima tivesse interesse em comprar a “casa”, que seria

entregue na 2ª Etapa do João Paulo II, teria que efetuar o pagamento de R$ 15.000,00

(quinze mil reais), com o suposto objetivo de ressarcir a associada retirante.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar o induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

O valor de R$ 15.000,00 foi depositado em contas diferentes, de WALDECI

PIRES DE OLIVEIRA (no dia 21/01/2016), do denunciado ANDRÉ LUIZ PEREIRA SILVA

SOBRINHO (no dia 21/01/2016) e do denunciado KESLLEY BERNARDINO DE AVELAR

(no dia 03/03/2016), companheiro de EMÍLIA.

Documentação

(fls. 2.720/2.726 volume XIV)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Mesmo tendo pago indevidamente o valor total de R$ 15.000,00 aos

denunciados, não foi contemplada com moradia. E, saliente-se, que o dinheiro que

despendeu a título de ressarcimento de desistente, era terminantemente proibido, causando

prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através

de uma atuação orquestrada e enganosa, fazendo com que a vítima pagasse R$ 15.000,00

pensando ser necessário para fazer parte do programa social mencionado.

2. 11. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ISAC ALVES SOARES (ART. 171, CAPUT,

DO CP)

Consta que no dia 11 de março de 2016 (11/03/2016), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER

MENDES ARAÚJO e KESLLEY BERNADINO AVELAR obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 14.815,00 (catorze mil e oitocentos e quinze reais), em

prejuízo da vítima ISAC ALVES SOARES, o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o

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fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 1.805/1.806 (Volume IX do PIC),

recibo de fls. 1808, comprovante de depósito de fls. 1.809 (Volume IX do PIC), e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

Neste contexto, extrai-se do caderno investigativo, em síntese, que no ano de

2015, a vítima procurou a SHC para se cadastrar no programa de moradia. Vale dizer que o

cadastramento junto à SHC foi levado a efeito pela ora denunciada EMÍLIA ANGELINA.

Para enganar a vítima, a denunciada afirmou que ela deveria efetuar pagamento

para ressarcimento de um suposto desistente da 3ª etapa, apontado como sendo KESLLEY

BERNADINO DE AVELAR, pessoa que estaria de mudança para o Nordeste.

Ocorre que, no decorrer da investigação, conforme já destacado, verificou-se

que KESLLEY é, em verdade, companheiro da denunciada EMÍLIA, que KESLLEY

emprestava sua conta e repassava o dinheiro para a denunciada, após retenção de parte do

numerário.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar o induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Assim, diante da aparente veracidade dos dados repassados pelos denunciados,

a vítima, no dia 11 de março de 2016, efetuou o pagamento de R$ 14.800,00 (catorze mil e

oitocentos reais), acreditando que estava “cobrindo” os gastos de um associado desistente,

na esperança de receber moradia em uma etapa que, em verdade, sequer existia.

Documentação

(Fls. 1.805/1809 volume IX)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

A vítima pagou indevidamente o valor total de R$ 14.800,00 (catorze mil e

oitocentos reais) aos denunciados, por uma casa em um loteamento que sequer foi iniciado.

E mesmo que, futuramente, venha a existir, o valor adiantado não será empregado na obra.

Ademais, ainda que o dinheiro cobrado da vítima tivesse sido usado para pagar

dívidas da SHC, ou mesmo reparar os prejuízos de outra vítima da organização criminosa, o

crime praticado continuaria intacto, já que estariam apenas usando o produto de um crime

para reparar a vítima de outro crime anterior. Mas como visto, o valor foi depositado na

conta do próprio denunciado KESLLEY, reforçando o ardil dos denunciados.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “ressarcimento de

alicerces de associado desistente” era terminantemente proibido, causando prejuízo à

vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através de uma

atuação orquestrada e enganosa, que fizeram com que a vítima pagasse R$ 14.800,00

(catorze mil e oitocentos reais) pensando ser necessário para fazer parte do programa

social, ou seja, “pagando” por algo que não existia.

2. 12. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA LEANDRO MANOEL DE SOUZA (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 17 de agosto de 2016 (17/08/2016), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, ALEXANDRO

JACINTO DE SOUZA e NILBERTO MOREIRA LOPES obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), em prejuízo da vítima

LEANDRO MANOEL DE SOUZA, o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o fazendo

acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse parte

do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma

moradia popular, conforme depoimentos de fls. 3.003/3.004 (Volume XV do PIC),

comprovante de depósito de fl. 3.006 (Volume XV do PIC), recibo de fls. 3009 e declarações

de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores para a

inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e 877/879 do

Volume V do PIC).

Infere-se do procedimento de investigação criminal que a vítima LEANDRO

MANOEL, assim como outras centenas, se associou à SHC no ano de 2014, com o objetivo

de conseguir moradia por meio do projeto do loteamento JOÃO PAULO II, gerido pela

associação.

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Já no ano de 2016, os denunciados, na condição de membros da SHC,

cobraram da vítima a quantia de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais), sob o argumento

enganoso de que o valor se referia à contrapartida necessária à construção do alicerce de

sua futura unidade habitacional, imóvel a ser entregue na 2ª Etapa do João Paulo II.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar o induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Diante da situação meticulosamente criada pelas pessoas ora denunciadas, a

vítima, no dia 17 de agosto de 2016, realizou um depósito de R$ 15.000,00 (quinze mil

reais) na conta do denunciado ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, companheiro de

MARIA APARECIDA.

Além disso, por orientação dos próprios denunciados, entregou R$ 7.000,00

(sete mil reais) para NILBERTO, acreditando que o dinheiro seria repassado para a

associação.

Documentação

(Fls. 3003/3009 volume XV)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Vale frisar que a vítima pagou indevidamente o valor total de R$ 22.000,00 (vinte

e dois mil reais) aos denunciados e não foi incluída na lista da referida 2ª Etapa do

programa. Aliás, ainda que tivesse sido uma das contempladas nesta Etapa, o crime

continuaria intacto, pois as obras foram custeadas integralmente pelo Estado de Goiás e

pelos próprios beneficiários, que deveriam financiar parte dela junto à CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL. Não havia, portanto, nenhuma contraprestação prévia por parte dos

beneficiários, quer a título de alicerces ou outra coisa qualquer.

Por fim, os denunciados, tentando ludibriar mais uma vez a vítima, e também as

autoridades, criaram uma lista de supostos beneficiários da futura 3ª Etapa, que ainda não

foi sequer iniciada.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “adiantamento de

alicerce” da futura 3ª etapa, era terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que

ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação

orquestrada e enganosa destes últimos, que fizeram com que a vítima pagasse R$

22.000,00, pensando ser necessário para fazer parte do programa social mencionado.

2. 13. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA HERICK DOUGLAS DE SOUZA

NASCIMENTO (ART. 171, CAPUT DO CP)

Consta que no dia 23 de janeiro de 2017 (23/01/2017), no município de

Goiânia/GO, os denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA

SILVEIRA, EMÍLIA ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, ALEXANDRO

JACINTO DE SOUZA e NILBERTO MOREIRA LOPES obtiveram, para a SHC e para eles

próprios, vantagem ilícita de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), em prejuízo da vítima HERICK

DOUGLAS DE SOUZA NASCIMENTO, o induzindo a erro, mediante meio fraudulento, o

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimentos de fls. 2.939/2.940 (Volume XV do PIC),

recibo de fls. 2.942, comprovante de depósito de fl. 2.946 (Volume XV do PIC), e

declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de valores

para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874; e

877/879 do Volume V do PIC).

Extrai-se dos autos de investigação que no mês de fevereiro de 2017, o ora

denunciado NILBERTO, pessoa que se identificava como “corretor da SHC”, soube que a

genitora da vítima estaria à procura de um lote à venda.

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Diante da situação propícia, NILBERTO compareceu na residência da vítima e o

informou que uma casa poderia ser adquirida no projeto de moradia, a ser entregue na 3ª

Etapa do João Paulo II, pela contrapartida econômica de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),

como se fosse uma exigência legal do programa social.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar o induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Assim, diante das informações prestadas pelo “corretor” e tomando por

verdadeiros os argumentos falsamente empregados, a vítima efetivou, no dia 23 de janeiro

de 2017, depósito no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) na conta poupança de

titularidade do denunciado ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA, companheiro de MARIA

APARECIDA, e, em complementariedade, repassou o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)

em espécie, diretamente ao denunciado NILBERTO.

Documentação

(Fls. 2.939/2.946 volume XV)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

Conclui-se, diante da situação meticulosamente criada e sustentada pelos

denunciados, que a vítima pagou indevidamente o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),

por uma casa em loteamento que sequer existia. Mais do que isso, este “adiantamento”

cobrado pelos denunciados, como se fosse uma exigência legal, era indevido.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “compra de cadastro”,

em parte depositado na conta poupança do denunciado ALEXANDRO JACINTO, parte

repassado em espécie ao denunciado NILBERTO, era terminantemente proibido, causando

prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através

de uma atuação orquestrada e enganosa, que fizeram com que a vítima pagasse R$

20.000,00 pensando ser necessário para fazer parte do programa social.

2. 14. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA JOELMA DE SOUSA MIRANDA (ART. 171,

CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 29 de junho de 2017, no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO,

EDUARDO LUIZ MOREIRA e ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA obtiveram para a SHC e

para eles próprios, vantagem ilícita de R$ 14.000,00 (catorze mil reais), em prejuízo da

vítima JOELMA DE SOUSA MIRANDA, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a

fazendo acreditar que seria imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse

parte do Programa Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse

obter uma moradia popular, conforme depoimento de fls. 1.539/1.540 (Volume VIII do PIC),

doc. de fls. 1.542, recibo de fls. 1.546, comprovante de depósito de fl. 1.547 (Volume VIII do

PIC), e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de

valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874;

e 877/879 do Volume V do PIC).

Ressai dos elementos colhidos no bojo do PIC que a vítima JOELMA DE

SOUSA tentou se cadastrar no projeto de moradia conduzido pela SHC ao longo de todo o

período compreendido entre 2005 e 2016, sem êxito, já que, nas palavras do denunciado

PEDRO BESERRA, “seu título de eleitor não era de Goiânia/GO”.

Lado outro, já no ano de 2017, a vítima procurou novamente a associação,

ocasião em que a denunciada EMÍLIA afirmou que, “caso surgisse alguma vaga”, ligaria

para JOELMA, criando o cenário propício à pratica do delito pela organização.

Escolhendo o momento propício, a denunciada EMILIA contatou a vítima e

prestou-lhe as informações iniciais acerca da suposta desistência de um dos futuros

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beneficiários da 3ª Etapa do JOÃO PAULO II, alegando que os imóveis “seriam entregues

até o mês dezembro de 2018”.

EMÍLIA disse a JOELMA que a pessoa desistente se chamava ALEXANDRO,

bem como que a vítima deveria depositar diretamente na conta dele o valor de R$ 14.000,00

(catorze mil reais), contraprestação a título de ressarcimento de gastos efetivados

anteriormente pelo desistente. Como já explanado, ALEXANDRO, é, em verdade, o

companheiro da denunciada MARIA APARECIDA.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar o induzimento da vítima, diziam que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato fizeram.

Assim, finalizado o “andamento administrativo” na SHC, levado a efeito pelos

denunciados MARIA APARECIDA, EDUARDO LUIZ e WENDER MENDES, no dia 29 de

junho de 2017, o denunciado WENDER levou JOELMA até o Banco Bradesco para que ela

efetuasse o depósito diretamente na conta bancária do denunciado ALEXANDRO.

Documentação

(Fls. 1539/1550 volume VIII)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

A vítima pagou indevidamente o valor total de R$ 14.000,00 (catorze mil reais)

aos denunciados, a título de ressarcimento de cadastro que sequer existia, assim como a

etapa apontada pelos denunciados (3ª Etapa do João Paulo II). Vale dizer, mais uma vez,

que mesmo que a 3ª Etapa do loteamento venha a existir, esse adiantamento a título de

ressarcimento não será empregado na obra.

Não obstante, o suposto desistente, como visto, era o próprio denunciado

ALEXANDRO, o qual se passava como suposto beneficiário desistente do programa social,

além de emprestar sua conta bancária para recebimento dos valores ilícitos das vítimas, os

transferindo em seguida para sua companheira CIDA e demais denunciados.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC a título de “ressarcimento de

cadastro” era terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que ainda não foi

ressarcida, e vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação orquestrada e

enganosa, que fizeram com que a vítima pagasse R$ 14.000,00 pensando ser necessário

para fazer parte do programa social, ou seja, “pagando” por algo que não existia.

2. 15. DO ESTELIONATO CONTRA A VÍTIMA ANDRIELLY COSTA SILVA LUCENA (ART.

171, CAPUT, DO CP)

Consta que no dia 1º de agosto 2017, no município de Goiânia/GO, os

denunciados JOSÉ MAURÍCIO BERALDO, MARIA APARECIDA DA SILVEIRA, EMÍLIA

ANGELINA DE JESUS, PEDRO BESERRA DA CRUZ, WENDER MENDES ARAÚJO e

ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA obtiveram para a SHC e para eles próprios, vantagem

ilícita de R$ 12.000,00 (doze mil reais), em prejuízo da vítima ANDRIELLY COSTA SILVA

LUCENA, a induzindo a erro, mediante meio fraudulento, a fazendo acreditar que seria

imprescindível o pagamento da referida quantia para que fizesse parte do Programa

Habitacional da AGEHAB, denominado JOÃO PAULO II, e pudesse obter uma moradia

popular, conforme depoimento de fls. 1.530 e 1.531 (Volume VIII do PIC), recibo de fls.

1535, e declarações de representantes da AGEHAB relatando a ilegalidade da cobrança de

valores para a inclusão de beneficiários em programas habitacionais (fls. 863/866; 872/874;

e 877/879 do Volume V do PIC).

No mês de agosto de 2017, a vítima, enganada pelos ora denunciados, pessoas

que afirmavam “lutar pela moradia popular”, efetuou o pagamento do valor

supramencionado com o propósito de obter o “direito de entrar no projeto”, supostamente,

no lugar de uma pessoa desistente da 3ª Etapa do JOÃO PAULO II, apontada pelo

denunciado WENDER, como sendo ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA.

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O valor cobrado seria, supostamente, o numerário despendido anteriormente por

ALEXANDRO com a compra de materiais de construção.

Frise-se que a situação fática laborava em favor dos denunciados, já que as

obras da 2ª Etapa do JOÃO PAULO II, que haviam sido assumidas pela CAIXA

ECONÔMICA FEDERAL em parceria com a AGEHAB, estavam a todo vapor, situação que

incutiu na cabeça da vítima que se tratava de coisa séria. Inclusive, os denunciados

utilizaram esse fato para reforçar a fraude. Vale dizer, neste sentido, que o denunciado

PEDRO BESERRA mostrou, inclusive, planilhas para a declarante, apontando que o imóvel

seria entregue na 3ª Etapa.

Os denunciados PEDRO BESERRA, MARIA APARECIDA e EMÍLIA, visando

dar um ar de seriedade para facilitar no induzimento da vítima, disseram que assinariam um

“recibo” em nome da SHC, após o pagamento, o que de fato ocorreu.

Assim, logo após os supostos trâmites administrativos na SHC, conduzidos por

MARIA APARECIDA e EMÍLIA ANGELINA, a vítima, acompanhada de WENDER, realizou

o depósito da importância diretamente na conta corrente de ALEXANDRO JACINTO

(agência 3638 e conta 3643-8).

Documentação

(Fls. 1530/1538 volume VIII)

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Como amplamente divulgado, é terminantemente proibido comercializar lotes,

casas ou vagas em programas sociais custeados pelo Estado, mormente os habitacionais.

A vítima pagou indevidamente o valor total de R$ 12.000,00 (doze mil reais) aos

denunciados, a título de ressarcimento de alicerce que nunca existiu (3ª Etapa do João

Paulo II).

Não obstante, o suposto desistente, como visto, era o próprio denunciado

ALEXANDRO, o que não era real.

Em resumo, o dinheiro que despendeu à SHC, depositado na conta do

denunciado ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA a título de “ressarcimento de alicerce” era

falso e terminantemente proibido, causando prejuízo à vítima, que ainda não foi ressarcida,

e vantagem ilícita aos denunciados, através de uma atuação orquestrada e enganosa, que

fizeram com que a vítima pagasse R$ 12.000,00 pensando ser necessário para fazer parte

do programa social, ou seja, “pagando” por algo que não existia.

3. DO PEDIDO

Ante o exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás, através do Grupo de

Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, denuncia as pessoas abaixo

relacionadas como incursas nos respectivos tipos penais:

● JOSÉ MAURÍCIO BERALDO: art. 2º, caput c/c §3º da Lei n. 12.850/13; artigo

171, caput, do Código Penal, por 14 (quatorze) vezes; ambos na forma do artigo

69, também do Código Penal;

● MARIA APARECIDA DA SILVEIRA: art. 2º, caput, c/c §3º da Lei n.

12.850/13; artigo 171, caput, do Código Penal, por 14 (quatorze) vezes; ambos

na forma do artigo 69, também do Código Penal;

● EMÍLIA ANGELINA DE JESUS: art. 2º, caput, c/c §3º da Lei n. 12.850/13;

artigo 171, caput, do Código Penal, por 12 (doze) vezes; ambos na forma do

artigo 69, também do Código Penal;

● PEDRO BESERRA DA CRUZ: art. 2º, caput, c/c §3º da Lei n. 12.850/13;

artigo 171, caput, do Código Penal, por 14 (quatorze) vezes; ambos na forma do

artigo 69, também do Código Penal;

● WENDER MENDES ARAÚJO: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13; artigo 171,

caput, do Código Penal, por 9 (nove) vezes; ambos na forma do artigo 69,

também do Código Penal;

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● SILAS DE OLIVEIRA ALMEIDA: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13; artigo

171, caput, do Código Penal, por 1 vez; ambos na forma do artigo 69, também

do Código Penal

● EDUARDO LUIZ MOREIRA: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13; artigo 171,

caput, do Código Penal, por 03 (três) vezes; ambos na forma do artigo 69,

também do Código Penal;

● NILBERTO MOREIRA LOPES: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13; artigo 171,

caput, do Código Penal, por 5 (cinco) vezes; ambos na forma do artigo 69,

também do Código Penal;

● ANDRÉ LUIZ ALVES DE CARVALHO: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13;

● ALEXANDRO JACINTO DE SOUZA: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13;

artigo 171, caput, do Código Penal, por 4 (quatro) vezes; ambos na forma do

artigo 69, também do Código Penal;

● KESLLEY BERNADINO AVELAR: art. 2º, caput, da Lei n. 12.850/13; artigo

171, caput, do Código Penal, por 2 (duas) vezes; ambos na forma do artigo 69,

também do Código Penal;

Requer por conseguinte, o recebimento da presente ação penal, nos termos do

artigo 394, § 1º, inciso I, do Código de Processo Penal, notificando-se os denunciados para

apresentarem resposta à acusação no prazo legal, designando-se audiência de instrução e

julgamento para a oitiva das vítimas e testemunhas abaixo arroladas e o interrogatório dos

réus, para ao final, condená-los nas penas que lhes couberem. Requer-se, outrossim, a

fixação de valor mínimo para a reparação dos danos causados pelas infrações penais, nos

termos do artigo 387, inciso IV, do Código de Processo Penal, consubstanciado no valor

total do prejuízo de todas as vítimas, conforme tabelas anexas.

Vítimas

● Claydilaine Marques Monteiro, qualificada a fls. 2.065 e 2.066 do PIC;

● Ana Carolina Machado Amaral, qualificada a fls. 1.416 e 1.417 do PIC;

● Jorge Fernando da Silva Bezerra, qualificado a fls. 946 e 947 do PIC;

● Mayara de Oliveira Martins, qualificada a fls. 2.328 e 2.329 do PIC;

● Marcia Pereira de Jesus, qualificada a fls. 1.405 do PIC;

● Jean Junio de Matos, qualificado a fls. 881/882 do PIC;

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● Janaína de Souza Godim, qualificada a fls. 1.814 e 1.815 do PIC;

● Josélia de Sá Silva, qualificada a fls. 2.738 e 2.739 do PIC;

● Alex Ribeiro Mariano, qualificado a fls. 2.720 e 2.721 do PIC;

● Isac Alves Soares, qualificado a fls. 1.805 e 1.806 do PIC;

● Leandro Manoel de Souza, qualificado a fls. 3.003 e 3.004 do PIC;

● Herick Douglas de Souza Nascimento, qualificado às fls. 2.939/2.940 do

PIC;

● Joelma de Sousa Miranda, qualificada a fls. 1.539/1.540 do PIC;

● Andrielly Costa Silva Lucena, qualificada a fls. 1.530 e 1.531 do PIC.

Rol de Testemunhas

● Luiz Antonio Stival, qualificado às fls. 863/866 do PIC;

● Fernando de Assis Azevedo, qualificado às fls. 872/874 do PIC;

● Álvaro César Lourenço, qualificado às fls. 877/879 do PIC;

● Luciano Alves Pereira, qualificado às fls. 1410/1412 do PIC.

Goiânia, 26 de julho de 2018.

THIAGO GALINDO PLACHESKI Promotor de Justiça-GAECO

GABRIELLA DE Q. CLEMENTINO

Promotora de Justiça-GAECO

RAMIRO CARPENEDO M. NETTO

Promotor de Justiça-GAECO

FERNANDO M. CESCONETTO Promotor de Justiça-GAECO