excelentÍssimo senhor doutor juiz de direito da comarca de ... · sanitárias, afetas à dignidade...

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NÍSIA FLORESTA Rua Agripino Marques de Carvalho, nº 43, Conjunto Jessé Freire – CEP: 59164-000 – fone/fax:3277-3871 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE NÍSIA FLORESTA/RN: Referente ao Inquérito Civil nº 10/2010 A sensação térmica no interior das celas do novo pavilhão é extremamente desfavorável (comparável a uma estufa), não oferecendo condições humanas de uso. (Prof. Leonardo Flamarion Marques Chaves e Prof. Paulo Alysson Brilhante Faheina de Souza). O MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE, por meio do Promotor de Justiça Substituto que assina a presente, com fundamento no art. 129, inc. III da Constituição Federal e na Lei 7.347/85, em face do Inquérito Civil que tramita nesta Promotoria de Nísia Floresta, e com fulcro nos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos, vem propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA em desfavor do ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa jurídica de direito público interno, a ser representado em Juízo por seu bastante procurador judicial, com endereço para citação e intimação na Procuradoria Geral do Estado – PGE, sito à Avenida Afonso Bezerra, 115, Tirol, CEP 59020-100, Natal/RN; pelos fatos e razões de direito a seguir descritos: e da empresa contratada para realização do serviço, VERDI CONSTRUÇÕES S.A., CNPJ, 03.928.516/0002-70, a ser citada à Avenida Júlio de Castilhos, 235/31 - Centro - Porto Alegre - RS - (51) 3072-7594.

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NÍSIA FLORESTARua Agripino Marques de Carvalho, nº 43, Conjunto Jessé Freire – CEP: 59164-000 – fone/fax:3277-3871

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE NÍSIA FLORESTA/RN:

Referente ao Inquérito Civil nº 10/2010

A sensação térmica no interior das celas do

novo pavilhão é extremamente desfavorável

(comparável a uma estufa), não oferecendo

condições humanas de uso. (Prof. Leonardo

Flamarion Marques Chaves e Prof. Paulo

Alysson Brilhante Faheina de Souza).

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO NORTE, por meio

do Promotor de Justiça Substituto que assina a presente, com fundamento no art. 129,

inc. III da Constituição Federal e na Lei 7.347/85, em face do Inquérito Civil que

tramita nesta Promotoria de Nísia Floresta, e com fulcro nos fatos e fundamentos

jurídicos a seguir expostos, vem propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA

em desfavor do ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, pessoa

jurídica de direito público interno, a ser representado em Juízo por seu bastante

procurador judicial, com endereço para citação e intimação na Procuradoria Geral do

Estado – PGE, sito à Avenida Afonso Bezerra, 115, Tirol, CEP 59020-100, Natal/RN;

pelos fatos e razões de direito a seguir descritos:

e da empresa contratada para realização do serviço, VERDI

CONSTRUÇÕES S.A., CNPJ, 03.928.516/0002-70, a ser citada à Avenida Júlio de

Castilhos, 235/31 - Centro - Porto Alegre - RS - (51) 3072-7594.

I – DOS FATOS

Correu na Promotoria de Justiça de Nísia Floresta o Inquérito Civil nº

10/2010 – PJNF (que segue em anexo à presente ação) que tinha por objeto apurar a

regularidade (ou irregularidade) da construção/expansão do novo pavilhão do presídio

estadual Dr. Francisco Nogueira Fernandes, vulgarmente denominado de Penitenciária

Estadual de Alcaçuz - PEA.

Fato público e notório, encontra-se em vias de construção um novo pavilhão

no citado presídio, que tem por objeto a criação de 400 (quatrocentas) vagas para o

sistema carcerário do Rio Grande do Norte.

Despiciendo afirmar o relevo que a obra apresenta, bem como os múltiplos

aspectos de ordem técnico e jurídicos que o Estado do Rio Grande do Norte, através de

sua Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania – SEJUC, deve observar quando

contrata interposta pessoa (através de inexigibilidade de licitação) para realizar a citada

obra.

Há facetas que serão demonstradas de índole ambiental, de segurança,

sanitárias, afetas à dignidade humana dos presos e estruturais (não se tratando o

tema apenas e tão somente de levantar meras paredes) que não foram

corretamente observadas pelos acionados.

Assim sendo, por dever constitucional, este órgão ministerial buscou junto a

Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania – SEJUC respostas às pertinentes

indagações, tendo solicitado do Centro de Apoio das Promotorias Criminais – CAOP-

CRIM perícia no sentido de se formar o convencimento sobre a regularidade, ou não, da

citada obra.

A citada perícia fora realizada, havendo graves problemas que devem

ser sanados antes da completa entrega da obra, bem como de seu regular

funcionamento, motivo do acionamento do Poder Judiciário na espécie.

Apenas a guisa de ilustração, indagou-se sobre: a existência de laudo da

vigilância sanitária; a existência de licença prévia do órgão ambiental da Unidade da

Federação, sobre a área edificante; a manifestação prévia do órgão de abastecimento

de água e saneamento básico local; e manifestação prévia do órgão de distribuição

de energia elétrica local.

Estes questionamentos, dentre outros, servem para demonstrar ao MM.

Julgador que a quaestio iuris apurada no procedimento inquisitorial não se limita apenas

e tão somente a aspectos estruturais da obra, devendo a mesma ser analisada em sua

plena totalidade, antes de entrar em funcionamento.

Indagado o órgão ambiental do Rio Grande do Norte – IDEMA, no dia

11/11/2010, nos termos do ofício 693/2010 – PJNF, tendo sido requisitado “cópia do

processo de licença ambiental para construção, instalação e funcionamento da

ampliação do presídio estadual de Alcaçuz, este respondeu através do ofício

1295/2010-DG que “conforme pesquisa realizada em nosso sistema não

encontramos nenhum procedimento administrativo de Licenciamento Ambiental

em nome do Presídio Estadual de Alcaçuz”.

As respostas e esclarecimentos pertinentes ao ajuizamento da presente

ação foram encaminhados pelos órgãos responsáveis, razão pela qual, consoante se

demonstrará, há elementos suficientes para o ajuizamento da presente ação

principal.

Cumpre informar de plano, que houve ajuizamento ação cautelar

preparatória n. 0003175-74.2010.8.20.0145, tendo em vista que a perícia e outras provas

que serão apresentadas e relatadas ainda não haviam sido obtidas, bem como pelos

graves danos que o empreendimento já estava a causar. A título de esclarecimento, e

com o fito de servir de base fática também para a presente ação, esclarece-se abaixo as

razões que deram ensejo a prévia impetração (que atualmente integram a presente actio

principal), sem prejuízo da continuidade narrativa após o tópico seguinte.

I.I – Dos fatos que deram ensejo a impetração cautelar

Na data de 15 de dezembro de 2010 foi amplamente noticiado no Jornal

Tribuna do Norte a matéria jornalística intitulada “Moradores de Alcaçuz reclamam de

obra na penitenciária”. O texto, contido na ação cautelar, detém o seguinte teor:

“Os moradores da comunidade de Alcaçuz, que vivem na

área vizinha à penitenciária, desde ontem tentam evitar o

prosseguimento de uma obra que serviria para despejar

água tratada de esgoto em um afluente do Rio Pium. O

afluente, cuja nascente fica a cerca de 200 metros da

penitenciária, é utilizado como fonte para as plantações e

até mesmo para beber, quando a bomba do poço que serve

à comunidade para de funcionar”.

A citada reportagem também mostra a posição Estatal, nos seguintes termos:

“O engenheiro responsável pela obra não atendeu a

imprensa e havia garantido que se tratará apenas de água

pluvial. No entanto, o secretário de Justiça e Cidadania,

Leonardo Arruda, confirmou que a obra faz parte do

projeto da Estação de Tratamento de Esgotos prestes a ser

concluída na penitenciária. Ele afirmou que as

informações repassadas pela empresa responsável é de que

a água resultante do tratamento terá, pelo menos, 95% de

pureza.

“A estação é para ser uma solução, não um problema.

Agora os resíduos têm de ir para algum lugar”, afirmou o

secretário. Leonardo Arruda disse que vai procurar, junto à

empresa e ao Idema, a melhor saída para o impasse. Uma

reunião deve ocorrer ainda no início desta tarde”.

A Promotoria de Justiça de Nísia Floresta também recebeu termo de

declaração do Sr. José de Alencar Silva que corrobora o noticiado, informando o

prejuízo à nascente e pleiteando imediatas providências do Ministério Público.

Este membro ministerial dirigiu-se imediatamente ao local, tendo

solicitado o comparecimento do Idema para fins de acompanhamento e

providências cabíveis. Na localidade, verificou-se in loco que a obra de descarte

estava em vias adiantadas, estando toda a comunidade local (cerca de seiscentas

pessoas) ameaçadas pelo possível prejuízo ambiental.

Foi entregue a este membro ministerial abaixoassinado onde significativo

número de moradores da comunidade afirmam:

“Viemos por meio deste, denunciar a construção na

penitenciária de Alcaçuz que estar levando encanação de

esgoto até a nascente do rio (de água mineral), localizado

e, Hortigranjeira Nísia Floresta/RN, por sua vez a

população manifestou-se contra e estar organizando este

abaixo assinado para levar a situação ao conhecimento das

autoridades competentes”.

Em contato com o Sr. José de Alencar Silva, o mesmo esclareceu que deu

autorização de mera passagem por seu terreno, tendo descoberto recentemente “que

iriam passar canos por sua propriedade com o intuito de derramar águas no rio da

comunidade (...)”. Apesar do representante da obra ter avisado que o descarte seria

de águas pluviais, o declarante teme que sejam também despejados águas de

esgoto. Afirmou ainda que não conferia autorização para tal fim.

As fotos que seguem em anexo, falam mais do que mil palavras, sobre parte

da temática contida no pleito cautelar.

Foto da obra já realizada, tendo sido paralisada pelos moradores.

Foto das encanações de descarte.

Trecho que seria cavado, sendo a parte de mata verde, o caminho de acesso ao leito do

rio.

Nascente do rio.

Foto que demonstra que o rio não é poluido, sendo possível se inferir sua pureza.

Leito do rio e dimensão.

Extensão e corpo que o rio toma.

Os fiscais ambientais do Idema que compareceram ao local, Dinarte

Lucas, Mat. 153.629-0 e Nivaldo Nicério Gomes, Mat. 1655663, ressaltaram que a

obra não tem licença, que se trata de área de preservação permanente e que,

mesmo se fossem águas pluviais, o que se admite apenas à título de argumentação,

também não seria possível o descarte no rio, tendo em vista o risco de

assoreamento do mesmo. Ademais, pontuaram ainda que o desnível do local do

presídio para o rio leva a crer que se trata de águas de esgoto, consoante

declaração em anexo.

Efetivamente Douto Julgador, é de se estranhar a intenção de extensa

tubulação para se levar apenas águas pluviais... Ainda mais porque, como afirmado

tanto pelos fiscais do Idema quanto pelo próprio Engenheiro responsável pela obra,

tratando-se de uma área de dunas, a água da chuva seria facilmente absorvida sem

necessidade de escoamento para o rio.

Ademais, importa ressaltar que, além da poluição que a mesma gerará ao

rio, soma-se a questão do assoareamento que será gerado, decorrente do descarte na

parte de cima do morro...

Este membro ministerial, junto com os agentes do Idema, deslocou-se

para o interior do presídio, onde o então Secretário Leonardo Arruda e o

responsável da obra encontravam-se presentes. Indagado sobre as licenças

ambientais, notadamente a de instalação, a licença de operação e a possível licença

de funcionamento, foi apresentado o documento que fora anexo na ação cautelar,

que se trata de um “Pedido de Licença de Regularização de Operação”.

No citado documento, lê-se “Secretaria de Estado da Justiça e da Cidadania,

CNPJ nº 40.799.652/0001-52, torna público que está requerendo ao instituto de

desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte – IDEMA a Licença de

Regularização de Operação relativa à Penitenciária Estadual de Alcaçuz, situado no

Município de Nísia Floresta.

IMPÕE-SE DESTACAR QUE O CITADO DOCUMENTO TEM DATA

DE 14 DE DEZEMBRO DE 2010, OU SEJA, UM DIA ANTERIOR A

AVERIGUAÇÃO...

Indagado sobre a problemática do Rio, o responsável pela obra afirmou que

se fosse o caso fecharia a tubulação, e a água poderia ser descartada no interior do

próprio presídio... A solução técnica não foi imediatamente apresentada, ao sentir deste

órgão ministerial.

Ademais Inclíto Julgador, importa afirmar que dentro do pavilhão encontra-

se em fase de conclusão a implantação de uma completa estação de tratamento,

consoante se infere das fotografias anexadas.

Consoante se verifica da denúncia, a presente obra enseja, no mínimo,

alta potencialidade de causação de impactos ambientais, não tendo até a presente

data sido demonstrado que a mesma está de acordo com as exigências afetas à

legislação ambientalista de regência.

Ademais, a obra apresenta sérios riscos ao meio ambiente e à saúde da

população envolvida, sendo relevante ressaltar que a nascente do rio em apreço

alimenta o rio Pium, relevante manancial de água que corta o Município de Nísia

Floresta.

Em acréscimo, imprescindível a existência, antes da realização da obra,

de uma licença prévia; no curso da mesma, de uma licença de instalação; e, após,

de uma licença de funcionamento. Nada disso existe.

Não nos comove, data máxima vênia, o argumento lançado pelo Ilmo.

Secretário, de que a obra se trata apenas de uma continuação do já existente, sendo

necessário apenas a regularização ambiental do presídio como um todo.

Fato público e notório, a obra praticamente dobra o número de vagas do

presídio. Ademais, consoante reportagem entregue pelo citado representante

governamental, e de também conhecimento de todos os atores que trafegam no presídio,

tem-se “um modelo pioneiro (...) são células pré-moldadas, com paredes e lajes de

concreto de alto desempenho, com fibras de polipropileno, cinco vezes mais resistentes

que o material convencional.”

Cumpre ressaltar que, na citada cautelar n. 0003175-74.2010.8.20.0145 o r.

órgão Judicante atendeu o pedido ministerial, tendo deferido liminar, consoante se

infere do dispositivo infra transcrito:

Relação: 0002/2011 Teor do ato: 28. Por tudo exposto,

defiro o pedido a fim de determinar a paralisação das

obras em curso na Penitenciária Estadual de Alcaçuz bem

como qualquer utilização do novo pavilhão, objeto do

presente feito. 29. Em caso de descumprimento, a ser

demonstrado pelo órgão ministerial, fixo multa diária no

montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a incidir,

individual e pessoalmente, sobre o Secretário de Justiça e

Cidade e Governadora do Estado, a contar a partir da

intimação pessoal. 30. Determino, ainda, a citação dos

demandados. 31. Ciência ao Ministério Público.

Advogados(s): José Duarte Santana (OAB 384A/RN)

Importa gravar para fins de registro, como fora requerido na ação cautelar,

que NÃO houve o atendimento da determinação judicante, tendo HAVIDO A

CONTINUIDADE da continuidade das obras, APESAR DO EMBARGO JUDICIAL.

Desde já, diante da impetração da presente ação principal, pugna-se

pela continuidade da liminar deferida, sem prejuízo dos fatos e fundamentos novos

que embasam a presente, que servem, por si só, para o deferimento de nova tutela

antecipatória, consoante passa-se a expor.

I – DA CONTINUIDADE FÁTICA (após a pausa excursiva que trouxe os

elementos fáticos que subsidiaram a ação cautelar, e ora integram esta ação).

Retornemos.

Como afirmado alhures, correu na Promotoria de Justiça o Inquérito Civil n.

10/10 (que acompanha esta exordial), que tinha por desiderato apurar a regularidade da

construção de expansão do presídio estadual de Alcaçuz, notadamente quanto as

questões de infra-estrutura e de observância à Lei de Execução Penal.

A obra fora licitada por inexigibilidade de licitação, sustentando que se

tratava de fornecedor exclusivo (IC., fl. 09). Tem-se na espécie um encargo

de R$ 10.992.147,86 (dez milhões, novecentos e noventa e dois

mil, cento e quarenta e sete reais e oitenta e seis centavos) (IC., fl. 12) arcado pelo Estado do Rio Grande do Norte.

Assim, diante de elevado valor, espera-se, no mínimo,

que a mesma apresente TODAS as condições imprescindíveis

para seu regular funcionamento. NÃO É O QUE SE

VISUALIZA, CONSOANTE SE DEMONSTRARÁ.Cumpre ressaltar que o novo pavilhão tem por objeto ampliar a capacidade

do presídio, com novas quatrocentas vagas, conforme fl. 28 do incluso IC.

Estabeleceu o contrato administrativo

formalizado entre os réus, enquanto obrigações da

contratada (IC., fl. 41):

“3.1. cumprir fielmente o presente Contrato, de modo que

no prazo estabelecido, as obras e serviços sejam entregues

inteiramente concluídos e acabados, em perfeitas

condições de uso e funcionamento.

3.2. observar, na execução dos serviços, as leis, os

regulamentos, as posturas, inclusive de segurança e

medicina do trabalho e de segurança pública, bem como as

normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT).

3.3. providenciar, as suas expensas, junto às repartições

competentes, o necessário licenciamento dos serviços, as

aprovações respectivas, inclusive de projetos

complementares, a ART, o “Alvará de Construção” e a

“Carta de Habite-se”, quando for o caso (...).

3.13. responsabilizar-se:

c) pela estabilidade dos serviços e o perfeito e eficiente

funcionamento de todas as instalações, responsabilidade

esta que, na forma da lei, subsistirá mesmo após a

aceitação provisória ou definitiva dos serviços.

g) pela entrega dos serviços com as instalações definitivas

de luz, força água, esgoto, telefone e contra incêndio,

devidamente testadas e aprovadas, em perfeitas condições

de uso e funcionamento, e, quando for o caso, ligadas às

redes públicas, com aprovação das concessionárias locais,

se for o caso.

h) pela correção dos defeitos notificados pela

CONTRATANTE ou pela Fiscalização, a

CONTRATADA terá 20 (vinte) dias úteis.

3.16 refazer os serviços, sem ônus para o

CONTRATANTE, caso não atendam as especificações, de

acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT).”

Todas estas obrigações assumidas pela contratada, ora demandada

(VERDI CONSTRUÇÕES S.A.) devem ser transcritas, para justificar sua inclusão

no pólo passivo da presente demanda, e os pedidos que serão deduzidos ao final. As

mesmas são suficientes para apontar que a empresa, e o Estado do Rio Grande do

Norte (enquanto contratante), tem incumbência plena para que a obra em apreço

tenha PLENA FUNCIONALIDADE, afastando-se qualquer omissão,

irregularidade ou ilicitude no citado empreendimento.

O Estado do Rio Grande do Norte, através da SEJUC, fl. 54 do IC, prestou

esclarecimentos sobre a obra, no sentido da mesma apresentar um conjunto de 52 celas,

sendo cinquenta coletivas, e duas individuais, perfazendo um total de quatrocentas e

duas novas vagas.

Outrossim, não esclareceu efetivamente se haveria a destinação do novo

pavilhão apenas para presos definitivos, pois pontuou de forma vaga: “A COAPE está

estudando a possibilidade da utilização deste novo pavilhão apenas para presos

condenados (...)”.

No que se refere a questões de aeração, qualidade e fluxo do ar, informou a

SEJUC que “A aeração, pela qualidade e fluxo de ar no interior das celas, o conforto

higrotérmico, conforto acústico e os demais, incluindo sua durabilidade, estão

devidamente detalhados na Análise de Desempenho Técnico”. Ocorre Excelência,

consoante será demonstrado, os resultados não são satisfatórios, são inadequados à

realidade do nordeste brasileiro, para se dizer o mínimo, sendo cabalmente

refutados pela perícia ministerial, consoante se afirmará infra.

Outra colocação da COAPE, que não condiz com a perícia a seguir

detalhada, refere-se a seguinte afirmação: “a areação e a circulação do vento no seu

interior estão garantidas por uma circulação do vento cruzado, o que possibilita uma

renovação adequada do ar interno” (IC., fl.55).

No relatório de análise do sistema construtivo penitenciário – SISCOPEN

acostado às fls. 157 e ss. do IC, pode-se compreender efetivamente do que se trata a

construção sub judice, alicerçada na idéia de “monoblocos”, in verbis:

“2.3. O objeto é formado por uma série de módulos,

“caixas”, pré-fabricadas, que podem assumir diferentes

aplicações de acordo com o programa de necessidades de

um estabelecimento penal (...) (fl. 175 do IC).

2.19. O termo “monobloco” surge da solidarização dos

painéis e peças que terminam por caracterizar um

elemento único. Os painéis do piso, paredes e lajes de teto

recebem inserts metálicos que funcionam como esperas

para a união do conjunto por meio de soldas. Os inserts

são galvanizados “a quente” o que garante maior

durabilidade” (fl. 181 do IC).

Como é de conhecimento basilar, não basta a Contratada fixar blocos para

alojar os presos. Mister que sejam atendidos os mandamentos constitucionais e legais

para a alocação dos detentos e que a obra tenha sua funcionalidade atestada, consoante

transcrição das obrigações assumidas no contrato administrativo supra.

A presente ação, por conseguinte, tem por missão estabelecer que o novo

pavilhão, mais do que a mera alocação de celas sequenciais e em bloco, seja

funcionalmente adequada e subsuma-se aos ditames impostos nos ordenamento jurídico

pátrio.

Interessante mencionar que o citado documento de posse do Estado réu já

aponta os problemas que ora serão demonstrados, consoante se infere às fls. 201 e ss. do

IC. Vejamos as “críticas construtivas” que o próprio projeto já prevê, que embasam

sobremaneira a pretensão ministerial deduzida na presente actio:

“A descarga da bacia sanitária é acionada por um

cordão que segue em um duto até a caixa que se localiza

na passarela. Observou-se que a falta de manutenção,

quando do rompimento do cordão, não substitui o

mesmo. Dai a improvisação com cordas de panos passando

por dentro da cela até a caixa.

Sugere-se a colocação de uma tela metálica de proteção

na luminária embutida na parede.

A quina formada pelo encontro dos módulos com o radier

não recebe acabamento algum. Fica então uma fresta por

onde corre a água da lavagem dos pisos, podendo vir a ser

um ponto de vetores, além de esconderijo para objetos

proibidos (...).”

É de se dizer: o projeto, em sua origem, apresenta imperfeições e falhas,

não sendo factível que o Estado, ciente das mesmas, concorde com a permanência

destas.

Ainda no que se refere a problemática do acionamento das descargas,

pontua o relatório, fl. 206 do IC: “As instalações estão funcionando. O único detalhe é o

cordão de acionamento da descarga da bacia sanitária que se parte e é improvisado com

retalhos de pano que passam pela porta”.

O projeto, consoante se infere às fls. 208 e ss. do incluso IC, fora analisado

pelo Ministério da Justiça, que expedira Recomendações (consoante se infere do citado

relatório) exatamente em pontos que são impugnados na presente ação. Transcreve-se

naquilo que é relevante:

3.2.7 As recomendações Gerais (item Dois do Anexo V),

no que tange aos projetos dos módulos, sugerem evitar

revestimentos abrasivos (2.7) ou combustíveis (2.17),

proteger as instalações do acesso as pessoas presas

(2.12) (...) não utilizar elementos que possam ser

utilizados como armas, especialmente os metálicos (...).

3.2.10. As Recomendações ainda reservam três itens

para as portas das celas (2.20, 2.21 2 2.22), que

determinam a necessidade de criação de aberturas

para visualização do interior das celas (...)”. (grifos e

sublinhados nossos).

Tais problemáticas, junto com outras, serão sobejamente demonstradas no

tópico dedicado à perícia desenvolvida por este órgão ministerial.

Houve apresentação pelos acionados, importa ressaltar, de “Análise de

Desempenho Técnico da Penitenciária modulada Pré-Fabricada em CAD+GRC

produzido pelo NORIE – Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IC. fls 274 e ss). Este, item 3.7, apresenta

considerações sobre o conforto higrotérmico, nos seguintes termos:

“O conforto térmico é garantido pela utilização de um

forro formado por um sanduíche com 8,5 cm de CAD, 5,0

cm de isopor e 1.5 cm de GRC em contato com o

ambiente, de aberturas que permitem o controle da

ventilação, proteção à chuva e atenuação da temperatura

nos ambientes internos. Em relação às paredes laterais de

CAD, apesar de possuírem apenas 4.5 cm de espessura,

conforme descrito no item 2, as mesmas encontram-se

justapostas à parede lateral de outra cela, com

preenchimento de 2 cm de graute, resultando em um bom

isolamento térmico e acústico entre as celas. O isolamento

térmico das paredes laterais na extremidade final do

conjunto é garantido pela execução de uma parede de

alvenaria com 19 cm acrescido de um revestimento de 2

cm. As paredes de frente e fundos da cela, com 10 cm de

espessura, propiciam uma atenuação na transmissão da

temperatura.” (Fl. 296 do IC).

Desnecessário dizer, a mais não poder, que o clima da região sul (onde

se localiza a Universidade que desempenhou o estudo) é completamente diverso do

existente na região nordeste do Brasil. Essa afirmação foi efetivamente comprovada

através do laudo pericial do Ministério Público, consoante será exposto abaixo.

Ademais, consoante transcrição supra e igualmente presente no original (anexo I do IC,

fl. 22), o estudo limita-se a levar em consideração as espessuras da parede, reproduzindo

referência bibliográfica, sem considerar o que se vivencia na prática no interior da cela,

bem como as condições climáticas do local onde a estrutura é instalada.

Consta ainda no procedimento ministerial, a título de menção, o anexo II,

volume 1 e 2, que foram acostadas as plantas do projeto em análise. Em acréscimo, no

que se refere ao sistema de esgotamento sanitário, tem-se um amplo sistema de

tratamento de esgoto, consoante acima apontado nas fotos.

Os laudos e arguições das partes demandadas não convenceram o órgão

ministerial, que pugnou pela realização de perícia técnica, que demonstra de forma

científica aquilo que saltava aos olhos de todos os que visitam o presídio.

O parecer técnico apresentado pelo Ministério Público (que segue com a

presente vestibular) fora executado pela FUNPEC – FUNDAÇÃO NORTE

RIOGRANDENSE DE PESQUISA E CULTURA / DEC - DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA CIVIL – UFRN, instituição da mais alta credibilidade, passemos as

suas considerações e implicações nos pedidos desta Ação Civil Pública.

I.II – DO PARECER TÉCNICO E DOS PROBLEMAS APONTADOS NA OBRA

EM APREÇO

IRREGULARIDADES ENCONTRADAS

A seguir, transcrevem-se irregularidades encontradas pelos peritos, que variam

de gravidade e devem ser corrigidas pelos acionados, antes do funcionamento do novo

pavilhão.

“A Vistoria Técnica realizada na obra de expansão do

Presídio Estadual de Alcaçuz detectou falhas que podem

comprometer a funcionalidade e a segurança desta unidade

prisional. As irregularidades e/ou ineficiências

encontradas serão apresentadas a seguir”:

Cumpre ressaltar que, naquilo que foi possível, o órgão ministerial

apresenta, desde já, solução para a problemática apontada.

I.II.A - Janelas de acrílico

A janela de acrílico não é segura; pode ser facilmente arrancada; virará

arma nas mãos dos detentos; pode servir de instrumento de tortura entre os

detentos; e, quando retirada, ocasionará que os presos sejam expostos a chuva

diuturnamente. Incabível pensar que, em pleno século XXI, os reclusos sejam

expostos à chuva, para se dizer o mínimo.

Foto 14 – Janela de acrílico das celas

Foto 15 – Risco de acidente durante manuseio da janela de acrílico

Detalhe do fechamento

“As janelas de acrílico não consistem numa opção

adequada à proteção da chuva pelos usuários por

alguns motivos:

Trata-se de um painel de acrílico que pode ser facilmente

arrancado pelo detendo.

O fechamento é inadequado e oferece risco ao se manuse-

ar a janela de acrílico. O Foto 15 mostra que, ao fechar ou

abrir a janela de acrílico, há grande risco de acidente, po-

dendo desencadear ferimentos grave nas mãos e dedos.

Por fora, o painel pode ser quebrado e, posteriormente,

ser entregue aos detentos. Dessa forma, existe possibili-

dade desse material se transformar em arma pontiagu-

da, comprometendo a segurança de outros detentos e

agentes carcerários.

A janela de acrílico aumenta a temperatura no interior

da cela, conforme apresentado no relatório de conforto

térmico ambiental.

O elemento de sustentação da janela de acrílico (no deta-

lhe da Foto 14) é frágil e deverá não suportar o manuseio

por parte dos detentos.

Sugere-se que seja instalado um beiral mais comprido (1,5

m) ou instalado qualquer forma de anteparo que possa evi-

tar a penetração da chuva. Dessa forma, a janela de acríli-

co poderá ser retirada. Este novo elemento proposto pode

ser parafusado no beiral de concreto existente, como mos-

tra a Foto 16.”

Foto 16 – Simulação de novo beiral

I.II.B - Luminárias da cela

Apesar de haver um vidro protetor, possivelmente o mesmo será

arrancado pelos detentos, gerando celas escuras ou ponto de energia para os

detentos que o usarão para recarregarem celulares ou ligarem fogões elétricos que

servirão para efetuar choque térmico nas paredes (propiciando fugas). Importa

ressaltar que a sugestão do laudo ministerial, no sentido de se apor uma grade

protetora, também fora apontada pelo estudo apresentado pela SEJUC, consoante

transcrição feita acima. O Estado contratante tinha plena ciência da imperfeição, e

anuiu com a mesma, devendo haver a correção.

1,5 m

Foto 17 – Luminárias no interior da cela

“As celas do novo pavilhão do Presídio de alcaçuz são

dotadas de duas luminárias embutidas, com proteção de

policarbonato de 1 cm de espessura, como mostra a Foto

17.

Sugere-se que, para aumentar a segurança, esta luminária

receba uma proteção adicional em forma de gradil, que

pode ser fixada com adesivo estrutural. Dessa forma,

diminui o risco do detendo tentar quebrar e retirar o

policarbonato para realizar adaptações e transformá-la

também em tomadas.”

Foto 18 – Simulação de gradil de proteção fixado com adesivo estrutural

I.II.C - Acionamento da descarga do vaso

Foto 19 – Acionamento da descarga

Apesar de haver uma “cordinha” para o acionamento das descargas a

mesma será arrancada pelos detentos, gerando celas com problemas de

higienização. A fragilidade das descargas já era de conhecimento das autoridades,

sendo apontada nos documentos que foram enviadas ao órgão ministerial. O

Detalhe do acionamento da descarga

Estado contratante tinha plena ciência da imperfeição, e anuiu com a mesma,

devendo haver a correção. Passemos as considerações técnicas, sobre o citado

problema.

“O acionamento da descarga é feito a partir de uma corda

que tem uma extensão superior a 5 metros. Em virtude da

distância e das curvas realizadas, o acionamento

através desta corda é muito pesado e desconfortável.

Estima-se que seja necessária uma força de 30 Kgf

para acionamento da descarga.

“Existe, ainda, grande risco da

corda não suportar as solicitações

diárias, romper-se e, transformar-se

em elemento para prática de

suicídio. A Foto 20 mostra a caixa de descarga

instalada no pavimento superior distante do vaso que está

no térreo, próximo a janela. Por isso, outro dispositivo

deve ser adotado.

Foto 20 – Caixa de descarga no pavimento superior

Cabível que a empresa demandada instale mecanismo para que haja o

acionamento automático por parte dos agentes penitenciários, de forma central e

automática.

I.II.D - Canos hidráulicos e elétricos expostos no hall

Como afirmado acima, pelas próprias recomendações do Ministério da

Justiça, não podem haver tubulações expostas, que facilmente serão destruídas

pelos detentos. Permitir que o empreendimento venha a funcionar com tais

instalações significará, em pouco tempo, a inviabilidade da obra, pela quebra das

instalações, tornando o bem público inservível e o dinheiro público desperdiçado.

Foto 21 – Tubulação exposta no corredor de circulação

“A tubulação individual de cada cela é composta por canos

hidráulicos e elétricos. Estes elementos estão expostos e,

portanto, não oferecem nenhuma proteção contra

vandalismo. Ao circular pelos corredores existe acesso a

essa tubulação e, portanto, é possível transformá-la

numa arma. Canos hidráulicos ao se partirem

forçadamente apresentam extremidades pontiagudas.

Sugere-se que seja feito um fechamento com chapa de aço

Detalhe da tubulação exposta

parafusada, oferecendo proteção a esta tubulação. Este

fechamento deve ser removível para se permitir

manutenção.

Foto 22 – Simulação de fechamento desta tubulação.

I.II.E - Plataformas de ferro do hall

Os agentes penitenciários e funcionários outros também merecem um

ambiente de trabalho que atenda os rigores de segurança do trabalho.

Foto 23 – Espaço entre elementos da plataforma

Aqui aponta-se problemática para a segurança dos agentes e dos

funcionários que transitarão no estabelecimento. Há espaços no piso feito de

grades (segundo piso) que colocam em risco a atividade diária dos servidores.

“As fotos 23 e 24 mostram que, no pavimento superior,

existem espaçamentos nas barras e plataformas do piso

que comprometem a segurança dos usuários. O espaço

existente é propicio à ocorrência de acidentes e, por isso,

deve ser fechado. Para tanto, pode ser adotado chapas de

aço chumbadas ou soldadas. Nas aberturas que tenham

engrenagens de portas de cela podem ser utilizadas chapas

basculantes ou removíveis.”

Requer-se, nos termos apostos, chapas de aço chumbadas ou soldadas. Nas

aberturas que tenham engrenagens de portas de cela podem ser utilizadas chapas

basculantes ou removíveis.

Foto 24 – Espaço entre barras da plataforma

I.II.F - Fechaduras inadequadas em áreas de recepção

Foto 26 – Fechaduras frágeis e de baixo tráfego

Neste particular, consoante demonstrado pelos peritos, há desconformidade

dos materiais empregados com a obrigação assumida, mormente as contidas nas normas

da ABNT.

“As fechaduras instaladas nos ambientes da recepção

caracterizam-se como populares, de baixo tráfego e de

material ferroso. Este tipo de fechadura não é indicado

para ambientes de grande circulação de pessoas.

Sugere-se que as fechaduras existente sejam substituídas

por fechaduras normatizadas pela ABNT, de alto tráfego e

resistentes à maresia.”

Pleiteia-se a troca, por material pertinente, nos termos contratados.

I.II.G - Acúmulo de água em corredor de circulação

Tratando-se de um sistema pré-moldado, o mesmo deveria prever um

mecanismo de escoamento das águas. Ocorre que este (caso exista) não se verificou

efetivo, havendo grave risco para a saúde humana dos detentos. Mister um

mecanismo para impedir a entrada de água do solário e propiciar a saída evitando

acúmulo no piso.

Foto 27 – Piso molhado após chuva.

Foi possível detectar durante Vistoria Técnica que nas

áreas de circulação do presídio (corredor de acesso às

celas), existia o acúmulo de água. Após a ocorrência de

chuva, foi possível perceber que o escoamento desses

ambientes não funcionou adequadamente. Dessa forma, há

risco de queda ao se trafegar nessas condições.

A água acumulada foi proveniente do solário, como

mostra a Foto 28.

Foto 28 – Porta do solário e corredor de circulação

Deve a empresa contratada estabelecer mecanismo para impedir a

entrada de água e acúmulo da mesma nos corredores, bem como sistema de

escoamento para a retirada natural da mesma.

I.II.H - Ausência de armazenamento e sistema de bombeamento da água tratada

na Estação de Tratamento de Esgoto

Solário

Foto 29 – Estação de Tratamento de Esgoto sem reaproveitamento

Após tratamento da água servida, não há um

reaproveitamento dessa água para fins secundários. A

tubulação de saída da água tratada, evidente na saída do

menor tanque, mostra que não há nenhum tipo de

instalação cujo objetivo seja o de reaproveitar a água.

Requer-se que sejam instalados dispositivos para o armazenamento e

posterior bombeamento desta água para irrigação da área verde, ou usos outros (CASO

HAJA ANUÊNCIA DO ÓRGÃO AMBIENTAL E A SOLUÇÃO SEJA

AMBIENTALMENTE CORRETA). A empresa contratada não propiciou o pleno

funcionamento do sistema, tendo em vista que não há solução para a água que

venha a ser tratada.

Os dejetos humanos entram para tratamento, não sabendo a empresa

acionada informar efetivamente para onde os mesmos serão enviados, em uma

perspectiva ambiental.

Este ponto deve ser considerado em conjunto com a análise técnica a ser

efetuada pelo órgão ambiental, caso haja o licenciamento. Até a presente data, o

licenciamento não fora apresentado ao parquet.

Saída da água tratada sem re-aproveitamento

I.II.I - Telhado subdimensionado da Estação de Tratamento de Esgoto

Foto 30 – Cobertura dos tanques de infiltração da Estação de Tratamento de Esgoto

A cobertura dos tanques de infiltração da Estação de

Tratamento de Esgoto foi sub-dimensionado e, por isso,

não apresenta condições de sustentabilidade da telha

instalada. Mesmo o elemento de cobertura sendo de baixo

peso (telha de alumínio), a estrutura composta por

tubulação metálica não confere segurança e condições de

uso.

Durante a segunda Vistoria Técnica realizada pela equipe,

foi observado que a cobertura desmoronou parcialmente

ao não suportar a incidência de chuvas ocorridas no dia

anterior.

Portanto, aconselha-se que a estrutura seja inteiramente

reforçada, principalmente diminuindo a distância entre os

apoios de sustentação das telhas.

Nos termos do laudo, a estrutura precisa ser reforçada, sob pena de

desmoronar muito em breve. Ressalta-se que a mesma já teve uma

ruptura/desabamento, consoante relatado pelos peritos.

Distância muito longa entre apoios

I.II.J - Falta de reservatório elevado para abastecimento do novo pavilhão do PEA

Foto 31 – Ausência de reservatório elevado

Não basta o Estado levantar paredes, sendo necessário colocar as utilidades

necessárias para a alocação dos presos. Consoante afirmado exaustivamente, a empresa

se obrigou a fixar todos os meios para o pleno funcionamento da obra em apreço.

Embora haja a instalação de encanamentos, não há reservatório próprio. Incabível se

pensar que, após elevado gasto público, a situação verificada nos outros pavilhões (de

ausência de água de forma contínua, e acionamento de descargas e banhos poucas vezes

ao dia, em afronta a dignidade humana) venha a se repetir nas novas instalações.

Incabível se pensar em qualquer instalação sem reservatório hídrico

(caixa). Seria o mesmo que uma casa sem caixa d´água, onde os integrantes da

mesma aguardariam a boa vontade da distribuidora, ensejando graves problemas

à salubridade mínima inerente a qualquer espaço de convivência.

As celas são sujas em Alcaçuz não pelo fato dos presos omitirem-se na

limpeza, mas sim porque não há água suficiente para tal fim. Incabível o novo

pavilhão ocasionar o mesmo problema.

A demanda por água no novo pavilhão do Presídio

Estadual de Alcaçuz requer a construção de um

reservatório próprio. O reservatório existente atualmente

no Presídio não suporta a demanda atual pela baixa

capacidade.

Com a ocupação das novas unidades prisionais, será

necessário dotar o presídio de maior suprimento de água e,

para isso, será necessário construir um reservatório

elevado que deverá ter, no mínimo, uma capacidade de 80

m3.

Obs. Foi considerado no cálculo um consumo per/capto de

200 litros e 400 detentos.

Pugna o Ministério Público pela efetiva construção de um reservatório

próprio, que tenha capacidade para abastecer os detentos, de no mínimo 90 m3

(ciente de que haverá superpopulação carcerária, devendo o Estado prever folga

para ).

I.II.L - Visibilidade da guarita

Foto 32– Ala do pavilhão 4 sem visualização da guarita

A construção do novo pavilhão na forma atual, gera risco evidente a

segurança e a administração, visto que as guaritas que vigiavam o pavilhão 4

tiveram sua visibilidade suprimida.

Com a construção do novo pavilhão do Presídio Estadual

de Alcaçuz, a área para banho de sol do pavilhão 4 ficou

sem visualização por parte dos agentes localizados nas

guaritas.

Por isso, aconselha-se a construção de uma nova guarita

cujo local deverá ser determinado por um especialista em

segurança.

Requer a construção de novas guaritas, de modo que o pavilhão 4 não

fique com pontos cegos de observação.

I.II.M – Sobre o fornecimento de energia

Não consta no procedimento inquisitorial documentação afeta à

empresa de energia, atestando de forma cabal que há a possibilidade de

fornecimento elétrico, bem como que as adaptações necessárias foram feitas até a

entrada do presídio. A título de prudência, pugna-se que as partes demandadas

esclareçam, sobre a adequação das instalações até a rede da COSERN, bem como

se a referida empresa terá condições de alimentar a nova demanda de detentos.

Cumpre relembrar que o novo pavilhão praticamente dobra o número

de detentos, sendo, no mínimo, factível se pensar que haverá um excessivo aumento

na demanda diária, cabendo as partes acionadas responderem pela efetividade da

rede existente e instalada.

Pede-se com a presente ação que sejam feitas as instalações necessárias

até a rede pública, bem como que haja o (re)dimensionamento das instalações até a

rede pública para atender a nova demanda; caso a empresa fornecedora não tenha

condições de suprir a nova demanda, pelo embargo da obra e do funcionamento do

novo pavilhão, até que a Cosern ateste que há a possibilidade de atender a nova

demanda a ser contratada e que os equipamentos existentes são aptos para tal

desiderato.

I.III - DA PROBLEMÁTICA DO CONFORTO TÉRMICO AMBIENTAL NO

INTERIOR DAS CELAS.

Diante da gravidade do tema, dedica-se um tópico apartado para o

problema. Ademais, pela contundência do laudo pericial, transcreve-se a conclusão

pericial mais relevante:

“A sensação térmica no interior das celas

do novo pavilhão é extremamente

desfavorável (comparável a uma estufa),

não oferecendo condições humanas de

uso.”

Relevante desde logo pontuar que o conceito de conforto térmico é

eminentemente técnico (não se confundido com o senso comum), nos termos

esclarecidos pelos especialistas contratados:

A expressão “desconforto térmico” trata-se de um

conceito tipicamente utilizado em estudos de engenharia

cujo objetivo é detectar a influência da temperatura no

habitat das pessoas. Não se trata de uma simples

expressão para determinar se há conforto ou desconforto

por parte do usuário. Trata-se de uma expressão cujo

alcance é determinar se há condições mínimas de um ser

humano utilizar àquele ambiente de forma digna e

saudável diante das condições de ventilação e

temperatura. Não consiste, portanto, numa expressão que

possa estar atrelada ao conforto no sentido de luxo ou

privilégio.

Cumpre repisar e transcrever a mais não poder que a empresa contratada

obrigou-se a:

3.2. observar, na execução dos serviços, as leis, os

regulamentos, as posturas, inclusive de segurança e

medicina do trabalho e de segurança pública, bem como

as normas da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT).

3.13. responsabilizar-se:

c) pela estabilidade dos serviços e o perfeito e eficiente

funcionamento de todas as instalações,

responsabilidade esta que, na forma da lei, subsistirá

mesmo após a aceitação provisória ou definitiva dos

serviços.

g) pela entrega dos serviços com as instalações definitivas

de luz, força água, esgoto, telefone e contra incêndio,

devidamente testadas e aprovadas, em perfeitas condições

de uso e funcionamento, e, quando for o caso, ligadas às

redes públicas, com aprovação das concessionárias locais,

se for o caso.

h) pela correção dos defeitos notificados pela

CONTRATANTE ou pela Fiscalização, a

CONTRATADA terá 20 (vinte) dias úteis.

3.16 refazer os serviços, sem ônus para o

CONTRATANTE, caso não atendam as especificações,

de acordo com a Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT).”

Pois bem. O sistema adotado de módulos enseja, quando colocado no

nordeste brasileiro, um calor excessivo dentro das celas, notadamente pelo emprego de

portas chapeadas. Praticamente não há fluxo de ar o que, somado com o fato do presídio

se situar em uma baixa no terreno, gera uma situação fática que não se coaduna com o

ordenamento jurídico pátrio.

Foram feitos estudos técnicos, com análise da temperatura no interior

das celas, que demonstram cabalmente que os limites são indesejáveis. Colaciona-

se os resultados do estudo:

Tendo em vista a necessidade de uma medição mais

apurada no que se refere a conforto térmico ambiental,

foram realizadas medições nas unidades mais

desfavoráveis do novo pavilhão do PEA.

Foto 06 – Medição da temperatura de globo no interior da cela mais exposta ao sol

Foto 07 – Medição da temperatura de superfícies externas à cela mais exposta ao

sol

I.III.I - RESULTADO DA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO

EM CELA DO PRESÍDIO DE ALCAÇUZ - RN

Transcreve-se abaixo o resultado apresentado pela perícia técnica do Ministério

Público.

CARACTERÍSTICAS: cela situada em ponto extremo (paredes

norte e oeste voltadas ao meio externo), no nível do solo, com

cobertura de laje exposta (cor cinza), com capacidade para 8

indivíduos, que se encontrava desocupada no momento das

medições. As medições foram realizadas no período da tarde de

um dia em que choveu durante toda a madrugada e parte da

manhã, mas encontrava-se ensolarado no momento da coleta de

dados.

INSTRUMENTAÇÃO: Termômetros de bulbos úmido e seco e

de globo, anemômetro de fio quente e medidor de umidade do

ar, conforme recomendações[1]

.

PROCEDIMENTO: Realização de três séries de medições

(Tbu, Tbs, Tg, velocidade e umidade do ar no interior da cela),

em duas situações – janela aberta e janela fechada.

Determinação das médias de cada série. Análise da condição de

conforto predominante no interior da cela com base no Anexo 3

da Norma Regulamentadora NR-15, do Ministério do

Trabalho[2]

. Análise da condição de conforto com base em

diagrama bio-climático [3]

. Comparação de resultados para

emissão de parecer.

RESULTADOS: Nas tabelas 1 e 2 vêem-se os resultados (valores médios) para cada situação.

Tab. 1 – Medições de variáveis ambientais / cela com janela fechada

Hora Tbu Tbs Tg U.R. Var14h00 – 14h30 26,5ºC 29,5ºC 31,0ºC 74,3% 0,0 m/s

Tab. 2 – Medições de variáveis ambientais / cela com janela aberta

Hora Tbu Tbs Tg U.R. Var14h45 – 15h15 25,0ºC 29,0ºC 31,0ºC 67,9% 0,1 m/s

ANÁLISES: O limite de tolerância para exposição ao calor, de

acordo com o Ministério do Trabalho[2]

, é estabelecido com

base no “Índice de Bulbo Úmido – Temperatura de Globo

(IBUTG)”, dado pela seguinte equação:

IBUTG = (0,7 x tbn

) + (0,3 x Tg) (1)

Substituindo-se os dados das tabelas 1 e 2 na eq. (1), obtém-se:

(a) para cela com janela FECHADA ............... IBUTG = 27,85

(b) para cela com janela ABERTA ................... IBUTG = 26,80

Considerando-se o regime de trabalho CONTÍNUO equivalente

à atividade LEVE, o limite estabelecido para o IBUTG é de até

30,0 (conforme consta no Quadro 1, do Anexo 3 da NR-15).

As análises realizadas com base no diagrama bio-climático

sugerido por Koenigsberger et al. (1977), segundo Frota et al.

(1990)[3]

, indicaram que, em ambas situações (janela

FECHADA ou ABERTA), o interior da cela apresenta condição

classificada FORA DA ZONA DE CONFORTO.

Os valores obtidos para o IBUTG ficaram abaixo do limite

estabelecido pela NR-15. Contudo, nessa análise, não foi

considerada a ocupação da cela. Conforme Lamberts et al.

(1997)[1]

, a taxa de metabolismo de um único indivíduo em

repouso chega a 80 W. Logo, em uma cela com 8 indivíduos,

haverá uma carga térmica adicional de 640 W, fato que

modificará a condição de conforto no local. Além disso, os

dados constantes nas tabelas foram obtidos a partir de medições

realizadas em uma única tarde, que foi precedida por uma

madrugada e parte de uma manhã com chuva.

Considerando-se a análise realizada com base no diagrama bio-

climático apresentado em Frota et al. (1990)[3]

, constatou-se

que a condição térmica no interior da cela está fora da zona

de conforto nas duas situações – com janela fechada ou

aberta. Parte desse resultado pode ser atribuído à situação da

cela, com duas faces voltadas ao sol, teto de laje exposta e

pouca ventilação. Portanto, são necessárias alterações no

local para amenizar a carga térmica no ambiente das celas

do Presídio de Alcaçuz. Tendo sido implementadas essas

medidas, sugere-se que sejam feitas novas medições para

determinação da taxa de ocupação adequada em cada cela.

Fonte: NR-15

I.III.II - CONCLUSÕES DA AVALIAÇÃO DA CONDIÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO

EM CELA DO PRESÍDIO DE ALCAÇUZ - RN

Segue infra as conclusões dos peritos técnicos, transcritas do laudo e da

complementação do laudo, referentes aos resultados obtidos.

• O novo presídio de alcaçuz não ofere-

ce condição de funcionamento. Exis-

tem muitos elementos que necessitam

de providências e correções (item

4.0); (esta conclusão é feita de forma

geral, aplicando-se também a proble-

mática do conforto térmico, ora abor-

dada).

• A temperatura no interior das celas

está acima do recomendado por

Norma, mesmo sem detentos;

• Os resultados do estudo de conforto

térmico ambiental revelaram que,

sem serem feitas correções e/ou

adaptações no local, não é possível

inserir pessoas para residirem nas

unidades carcerárias. As celas volta-

das para o oeste e sudoeste recebem

o sol da tarde e, dessa forma, atin-

gem temperaturas internas que re-

sultam em grande desconforto tér-

mico, mesmo vazias;

• O número de detentos em cada uni -

dade prisional dependerá da locali-

zação da cela. Porém, no presente

momento, não há condição térmica

e de segurança para acomodar nin-

guém em nenhuma cela, mesmo nas

celas mais favoráveis à temperatu-

ra, por falta de circulação de ar;

• O estudo revelou que nas celas loca -

lizadas à oeste e sudoeste não há

condição de ninguém habitar. A

temperatura destas celas, mesmo

vazias, ultrapassa a zona de confor-

to térmico. Nas demais celas, mes-

mo a situação térmica sendo um

pouco melhor, não se recomendaria

mais que (02) dois detentos por

cela;

• Portanto, é inviável a utilização do

presídio sem que sejam feitas inter-

venções para melhoria das proprie-

dades térmicas;

• Sugere-se que, depois de sanados os

problemas apontados neste PARE-

CER TÉCNICO, seja feito um novo

estudo de conforto térmico ambien-

tal, porém, individualizado, em cela

por cela. Somente dessa forma, será

possível determinar o número ade-

quado de detentos por unidade car-

cerária, tendo em vista os aspectos

desfavoráveis no que se refere à

temperatura e ventilação;

• O novo pavilhão do PEA foi edifica -

do numa depressão e apresenta uma

metodologia construtiva não muito

indicada para regiões quentes, como

o Nordeste brasileiro. Um estudo

prévio técnico acerca das proprie-

dades dessas unidades carcerárias

na nossa região teria sido, no míni-

mo, mais prudente, tendo em vista o

alto investimento realizado.

Qual a influência da madrugada e do

início da manhã ter sido de chuva sobre

os resultados obtidos? Amplia ou diminui

o fator térmico negativamente aos

presos? O que poderia acontecer em

situações outras, como no verão?

R - A ocorrência da chuva no dia anterior e

na manhã pode ter influenciado nas

temperaturas medidas, mas de forma

discreta. A medição foi feita em horário

tipicamente quente (13:00), com sol, em

pleno verão, ou seja, numa situação muito

desfavorável. Portanto, acredita-se que não

houve influência significativa da chuva

sobre os resultados.

É possível sugerir a substituição das

portas chapeadas por portas de grades

como medida solucionadora da

problemática térmica? Caso positivo, e

seja solução mais evidente para a

problemática, favor acrescer.

R - A substituição de portas de chapa por

portas de grade favoreceria a circulação

de ar nas celas do presídio. Dessa forma, a

temperatura no interior das celas tenderia

a diminuir. Haver circulação do ar de

ambientes fechados é fator determinante

para diminuição da temperatura e

conseqüente melhoria das condições de

trabalho e uso.

A metodologia utilizada no fechamento

das celas do novo pavilhão do PEA (portas

de chapa) não é compatível com o clima

do Nordeste. Antes da instalação do novo

pavilhão, deveria ter havido um estudo

técnico para avaliação e adaptação da

metodologia do presídio às condições

locais. Por isso, recomenda-se a

substituição.

O que é cota do novo pavilhão ? (item 6)

R - Cota corresponde à altura de um plano

em relação a outro. O item 6 mostra que

existe uma diferença de nível (altura)

entre o terreno externo do presídio e o

terreno do novo pavilhão. O terreno do

novo pavilhão é mais baixo que o terreno

externo, dificultando a ventilação. Além

disso, a altura das celas do novo pavilhão

é pequena, dificultando ainda mais a

ventilação.

O laudo trabalha com o conceito de

desconforto térmico, que precisa ser

melhor explicitado ou mudado, sob risco

de leigos entenderem que há apenas um

incômodo. Ademais, o laudo, se possível,

poderia expor e discriminar o quão

elevado é este desconforto térmico e os

riscos para a saúde humana.

R - A expressão “desconforto térmico”

trata-se de um conceito tipicamente

utilizado em estudos de engenharia cujo

objetivo é detectar a influência da

temperatura no habitat das pessoas. Não se

trata de uma simples expressão para

determinar se há conforto ou desconforto

por parte do usuário. Trata-se de uma

expressão cujo alcance é determinar se há

condições mínimas de um ser humano

utilizar àquele ambiente de forma digna e

saudável diante das condições de

ventilação e temperatura. Não consiste,

portanto, numa expressão que possa estar

atrelada ao conforto no sentido de luxo ou

privilégio.

A sensação térmica no interior das celas

do novo pavilhão é extremamente

desfavorável (comparável a uma estufa),

não oferecendo condições humanas de

uso.

Não foi respondida diretamente as

indagações: “A porta de chapa uniforme

de metal pode ensejar o aquecimento

excessivo dentro da cela?”

R - Conforme já respondido, as portas de

chapa diminuem a circulação de ar,

colaborando, dessa forma, para o

aquecimento excessivo no interior das

celas.

Evidencia-se ínclito julgador, a mais não poder, que as

novas celas, nos moldes atuais, não propiciam a permanência

de presos em seu interior. HÁ GRAVE DESRESPEITO AOS

DIREITOS HUMANOS A ALOCAÇÃO DE PRESOS EM

CONDIÇÕES QUE SE ASSSEMELHAM A UMA SAUNA,

NO NOVO PAVILHÃO OBJETO DESTA LIDE! Não pode o

Ministério Público e o Judiciário anuírem a condutas lesivas

aos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal,

notadamente a vida e a dignidade humana.

Os peritos são categóricos ao afirmar pela

impossibilidade de presos permanecerem no interior das celas

recém construídas.

I.III.III - MEDIDAS MITIGADORAS À PROBLEMÁTICA TÉRMICA

DEMONSTRADA

Na engenharia, sempre há uma possível solução. Apontamos algumas, de

ordem paliativa/mitigadoras e outra de ordem solucionadora, que devem ser adotadas

cumulativamente. Como o Estado é uno, cabível o Ministério Público apontar idéias

(ventiladas pelos peritos) com o desiderato de resolver a contenda.

Ressalte-se, desde logo, que as idéias lançadas devem ser, após

implementadas, periciadas para saber do seu efetivo resultado. Enquanto as

condições técnicas mostrarem-se insatisfatórias à permanência dos

presos (objeto desta lide) entende e pugna o parquet pela

impossibilidade de alocação dos presos no novo pavilhão. Caberá a

empresa e o Estado comprovar que o conforto térmico retornou à

níveis satisfatórios e desejáveis, sob pena de permanência do embargo

da obra, mesmo que as soluções abaixo descritas sejam tomadas em

sua inteireza.

1 - Pintar de branco as lajes da cobertura das celas (medida mitigadora).

Foto 08 – Lajes das celas com temperatura excessiva

Com a pintura dessas superfícies, a temperatura no interior das celas deverá

diminuir.

2 - Melhorar a circulação de ar através da retirada dos anteparos visuais (medida

mitigadora).

Foto 09 – Anteparos visuais que impedem a circulação do vento

Os anteparos visuais são importantes para não permitirem a comunicação entre

presos, mas impedem a circulação do vento. A diminuição da temperatura no interior

das celas depende de circulação de ar nos ambientes.

3 - Instalar insufladores de ar no teto das lajes dos corredores do 1° pavimento para

induzir a penetração forçada de ar no interior dos corredores de circulação e das celas

(medida mitigadora).

Foto 10 – Simulação de insufladores no teto do 1° andar

A instalação de insufladores de ar vai permitir a circulação do vento nos

corredores e a consequente penetração para o interior das celas.

4 - A pequena janela das portas das celas deverão permanecer sempre abertas (medida

mitigadora).

Foto 11 – Janela das portas que deve permanecer aberta para ajudar na circulação

No relatório realizado pela UFRS apresentado nos autos, a janela da porta das

celas estão abertas para permitir a circulação do ar. Considerando o clima e a

temperatura do Nordeste, esta medida é indispensável em Alcaçuz.

5 - Retirada de painel de acrílico nas aberturas das janela (medida mitigadora).

Foto 12 – Painéis de acrílico que devem ser removidos

Os painéis de acrílico aumentam a temperatura no interior das celas. No item 4.1

consta a alternativa para substituição deste elemento.

6 – Substituição das portas chapeadas por portas de grade

Como afirmado pelos experts, a porta chapeada impede sobremaneira a

circulação de ar. Sua substituição definitiva é condição sine qua non para a sensível

diminuição do conforto térmico.

Ressalte-se outrossim que as citadas portas chapeadas não são adequadas ao

regime imposto, sendo cabíveis em regimes outros, como os disciplinares diferenciados

existentes nos presídios federais., onde apenas um preso encontra-se recluso em sua

cela. Adotar a porta chapeada para celas coletivas (com oito, quiça até quatorze presos),

impedindo o Estado de saber o que ocorre no interior das celas, é propiciar

sobremaneira o cometimento de ilícitos no interior dos presídios, morte entre os

detentos, tráfico de entorpecentes, uso de celulares, entre outros problemas comumente

conhecidos.

Ademais, tem-se, como afirmado alhures, toda a problemática afeta ao

conforto térmico.

Por estas TODAS razões, vem o Ministério Público pugnar pelas reformas e

adequações acima expostas (que são muitas), consoante fundamentos jurídicos infra

aduzidos. Diante do volume fático, e pelas problemáticas se dividirem em ordens

diversas, para a compreensão da matéria e facilitação da apreciação da presente lide, os

fundamentos jurídicos a seguir expostos serão subdivididos em três ordens, a saber:

relativos ao contrato administrativo; relativos a dignidade humana dos presos; e

relativos a temática ambiental.

Passa-se a fundamentação, nos termos explicitados.

II - FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.I - DA NECESSÁRIA OBSERVÂNCIA AO PACTUADO EM SEDE

ADMINISTRATIVA

Como demonstrado alhures, a empresa acionada tem por dever contratual

corrigir todas as falhas apontadas, e o Estado réu tem por missão constitucional a plena

fiscalização e imposição de ônus, caso a empresa mantenha-se inerte.

A Constituição Federal impõe que a administração pública direta, indireta

ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios de LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE,

MORALIDADE e PUBLICIDADE (art. 37). Para tanto, tem-se que a administração

pública, seja a nível federal, estadual ou municipal, realiza as suas políticas públicas e

sociais diretamente, através de seus órgãos, e por meio de contratos celebrados com

empresas privadas ou outros órgãos administrativos.

O Contrato Administrativo é o ajuste, o acordo de vontades, que a

administração pública celebra com o particular ou outra entidade administrativa para

realização de objetivos de interesse público.

O regime jurídico dos contratos administrativos instituído pela Lei nº

8.666/93 confere à Administração Pública, em relação a eles, a prerrogativa de

fiscalizar-lhes a execução. Essa Lei estabelece que a execução do contrato deverá ser

acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração especialmente

designado, sendo permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de

informações pertinentes a atribuição de fiscalização.

Estabelece o art. 54 da Lei 8.666/93 que:

Art.54. Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-

se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito público, aplican-

do-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contra-

tos e as disposições de direito privado.

§ 1o

Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as

condições para sua execução, expressas em cláusulas que definam

os direitos, obrigações e responsabilidades das partes, em confor-

midade com os termos da licitação e da proposta a que se vincu-

lam.

Incabível se pensar que a administração gaste mais de dez milhões de

reais e as obras em comento apresentem graves incongruências, como as contidas

nesta inicial.

RESSALTE-SE QUE JÁ HOUVE INAUGURAÇÃO, COM A

APOSIÇÃO DE PLACA, NO APAGAR DAS LUZES DA ÚLTIMA

ADMINISTRAÇÃO.

A fiscalização é uma prerrogativa ínsita à administração, nos termos

normativos infra transcritos:

Art.55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabele-

çam:

I- o objeto e seus elementos característicos;

II- o regime de execução ou a forma de fornecimento;

(...)

VI- as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução,

quando exigidas;

VII - os direitos e as responsabilidades das partes, as penalida-

des cabíveis e os valores das multas;

VIII - os casos de rescisão;

IX- o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de

rescisão administrativa prevista no art. 77 desta Lei;

XI - a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dis-

pensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta do licitante vence-

dor;

XII - a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente

aos casos omissos;

Consoante contido no contrato assinado pelas partes, TODOS os custos

para a plena realização da obra correm por conta da empresa acionada. Ademais,

enquanto prerrogativa exorbitante da administração, compete-lhe o dever de fiscalizar o

contrato em apreço, in verbis:

Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído

por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerro-

gativa de:

I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às fi -

nalidades de interesse público, respeitados os direitos do con-

tratado;

II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso

I do art. 79 desta Lei;

III - fiscalizar-lhes a execução;

IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial

do ajuste;

V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens

móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do con-

trato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administra-

tiva de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de

rescisão do contrato administrativo.

A execução dos contratos deve ser a mais fiel possível, o que não ocorrera

na espécie. Nestes termos, fixa a legislação de regência:

Art. 66. O contrato deverá ser executado fielmente pelas par -

tes, de acordo com as cláusulas avençadas e as normas desta

Lei, respondendo cada uma pelas conseqüências de sua inexe-

cução total ou parcial.

Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fis -

calizada por um representante da Administração especialmen-

te designado, permitida a contratação de terceiros para assisti-

lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição.

§ 1o O representante da Administração anotará em registro pró-

prio todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato,

determinando o que for necessário à regularização das faltas ou de-

feitos observados.

§ 2o As decisões e providências que ultrapassarem a competência

do representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tem-

po hábil para a adoção das medidas convenientes.

Além do dever da administração em fiscalizar a obra, compete ao contratado

todos os ônus para a execução do contrato, inclusive correções, reparos, substituições,

conforme fixa a Lei pátria:

Art. 69. O contratado é obrigado a reparar, corrigir, remover, re -

construir ou substituir, às suas expensas, no total ou em parte, o

objeto do contrato em que se verificarem vícios, defeitos ou incor-

reções resultantes da execução ou de materiais empregados.

Art. 70. O contratado é responsável pelos danos causados direta -

mente à Administração ou a terceiros, decorrentes de sua culpa ou

dolo na execução do contrato, não excluindo ou reduzindo essa

responsabilidade a fiscalização ou o acompanhamento pelo órgão

interessado.

Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previ-

denciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.

Caso o contratado não venha a corrigir os vícios apontados, resta presente

causa de rescisão contratual, devendo a administração impor todos os ônus decorrentes

de tal regime jurídico, conforme se infere da Legislação de regência:

Art. 77. A inexecução total ou parcial do contrato enseja a sua res-

cisão, com as conseqüências contratuais e as previstas em lei ou re-

gulamento.

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

I - o não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações,

projetos ou prazos;

II - o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especifi -

cações, projetos e prazos;

(...)

VII - o desatendimento das determinações regulares da autoridade

designada para acompanhar e fiscalizar a sua execução, assim

como as de seus superiores;

VIII - o cometimento reiterado de faltas na sua execução, anotadas

na forma do § 1o do art. 67 desta Lei;

(...)

Restou sobejamente demonstrado que o contrato em apreço não fora

completamente bem executado pela empresa ré. Igualmente, o Estado acionado pouco

fez para efetivamente fiscalizar a obra, anuindo as várias irregularidades demonstradas

nesta exordial.

Passa-se a enfrentar a fundamentação jurídica afeta problemática ambiental,

que também serve de sustentáculo a presente ação.

II.II - DA AUSÊNCIA DE LICENÇA AMBIENTAL

Como afirmado alhures, a obra não tem licença prévia, de instalação ou de

operação. O Estado (deveria ter sido a empresa contratada) entrou com um pedido de

regularização de obra, o que não supre a exigência legal.

A ausência de análise prévia pelos técnicos ambientais levou aos problemas

acima ventilados, e outros, como o gasto desmedido de dinheiro público com áreas

verdes, quando sequer há um sistema de irrigação.

Os peritos pontuaram que:

• Existe área verde no entorno do novo pavilhão do

PEA, mas não há sistema de irrigação;

• Não existe re-aproveitamento da água tratada. Não

existe reservatório inferior e nem sistema de bom-

beamento para re-utilização da água para irrigação,

limpeza do presídio, como mostra o item 4.9;

• Na Estação de Tratamento, a cobertura dos tanques

é sub-dimensionada, não conferindo segurança e

durabilidade, como mostra o item 4.10;

• Não há reservatório elevado no novo pavilhão.

Provavelmente, haverá falta de água decorrente da

inexistência de um reservatório de grande capaci-

dade para suprir o novo pavilhão, como demonstra-

do no item 4.11;

Assim, imprescindível o estudo prévio de impacto ambiental e a licença

ambiental, para se autorizar o funcionamento da obra em comento.

A defesa do meio ambiente é uma das funções atribuídas expressamente

pela Carta Magna ao Ministério Público, em razão de ser um bem de grande interesse a

toda a sociedade e que, maculado, poderá trazer transtornos de toda ordem, dentre eles o

dano à saúde da população.

Estabelece a Constituição Federal em seu art. 225, in verbis:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à

coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as

presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao

Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e

manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços

territoriais e seus componentes a serem especialmente

protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente

através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a

integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou

atividade potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto

ambiental, a que se dará publicidade;

(...)

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio

ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou

jurídicas, a sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

(Grifo acrescido)

Infere-se da citada norma constitucional que se impõe ao Poder Público o

dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações,

incumbindo-lhe adotar todas as providências previstas nos diversos incisos da referida

disposição, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado.

Para tanto exigiu-se das atividades potencialmente poluidoras o estudo

de impacto ambiental. O Estudo de Impacto Ambiental tem por objetivo avaliar as

proporções das possíveis alterações que um empreendimento, público ou privado,

pode ocasionar ao meio ambiente.

Trata-se de um meio de atuação preventiva, que visa evitar as conseqüências

danosas, sobre o ambiente, de um projeto de obras, de urbanização ou de qualquer

atividade.”.1 Tal estudo é exigido pelo art. 225, § 1º, IV da Constituição Federal, para

instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do

meio ambiente.

E o estudo de impacto ambiental não é instrumento para o qual exista

sucedâneo, sobre o qual se possa transigir. Discorrendo acerca da Resolução CONAMA

n.º 01/86, Paulo Afonso Leme Machado adverte sobre o cuidado que deve ter a

Administração no concernente ao EIA/RIMA:

“A Lei 6.938/81 já houvera dado à Administração Pública

ambiental o direito de exigir a elaboração do ElA. A vantagem

1 José Afonso da Silva, Direito Ambiental Constitucional. 4. ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 286-287.

de se arrolarem algumas atividades no art. 2º obriga também a

própria Administração Pública, que não pode transigir,

outorgando a licença e/ou autorização sem o EIA.”.2

O “EIA - Estudo de Impacto Ambiental” não é mero rótulo, mas instrumento

cuja forma, metodologia e procedimentos encontram-se definidos na Resolução

CONAMA n.º 01/86, sendo insuscetível de substituição ao alvedrio dos órgãos

ambientais. Doutrina e jurisprudência são tranqüilas a esse respeito:

No caso da aplicação do princípio da precaução, é

imprescindível que se use um procedimento de prévia

avaliação, diante da incerteza do dano, sendo este procedimento

o já referido Estudo Prévio de Impacto Ambiental. Outras

análises, por mais aprofundadas que sejam, não podem

substituir esse procedimento.

Não se verifica até a presente data, pelos fatos narrados, que tenha

havido um PRÉVIO estudo de impacto ambiental, razão pela qual se busca a

suspensão da atividade para fins de correção dos equívocos.

II.II.I - DO CONCEITO DE IMPACTO AMBIENTAL

O conceito de impacto ambiental saiu da esfera eminentemente técnica e

pode ser encontrado com facilidade no próprio Dicionário Aurélio, nos seguintes

termos:

Qualquer alteração do meio ambiente causada por atividades

humanas, e que afetam direta ou indiretamente o bem-estar da

população, suas atividades, a biota, as condições estéticas,

sanitárias e a qualidade dos recursos ambientais: 2 [Tb. us.,

menos freqüentemente, para alterações causadas pela natureza

no meio ambiente.]

O art. 1º da Resolução CONAMA 001/86 estabelece o conceito legal de

impacto ambiental da seguinte forma:

2 Op. cit., p. 205.

Art. 1 Para efeito desta Resolução, considera-se impacto

ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causada por

qualquer forma de matéria ou energia resultante das

atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem:

I- a saúde, a segurança e o bem estar da população;

II- as atividades sociais e econômicas;

III- a biota;

IV- as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V- a qualidade dos recursos ambientais

Como se extrai dos conceitos acima, o controle dos impactos negativos ao

meio ambiente dependem, necessariamente de estudos prévios e de plano de controle

ambiental. Sem uma atividade de controle ambiental, não é possível mitigar os

impactos decorrentes das atividades utilizadoras dos recursos naturais.

No caso dos autos, até a presente data não restou plenamente

demonstrado que o contratante tenha as licenças ambientais para operar a obra,

razão pela qual se busca sua suspensão através da presente Ação, tendo em vista

que a obra não possui qualquer garantia de que não acarretará impactos

ambientais negativos ao ambiente.

A Lei 6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente

considerou o LICENCIAMENTO AMBIENTAL como uma das formas mais

importantes de se prevenir danos aos recursos ambientais.

Quem pretende construir, instalar, ampliar ou funcionar um

estabelecimento ou atividade com utilização de recursos ambientais que podem,

sob qualquer forma, causar degradação ambiental, deverá submeter a sua intenção

a um LICENCIAMENTO no órgão ambiental competente..

O licenciamento ambiental é tão importante que o legislador estabeleceu que

a ausência da licença ambiental constitui crime ambiental, como se observa no art. 60

da Lei 9.605/98 que diz:

Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer

funcionar, em qualquer parte do território nacional,

estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores,

sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes,

ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes.

Pena – detenção de um a seis meses ou multa ou ambas as

penas cumulativamente.

Com já mencionado, regulamentando os aspectos do licenciamento

ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6938/81, a

Resolução CONAMA 237/97, em seu art. 1º, incisos I e II, define licenciamento e

licença ambiental como:

I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo

pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização,

instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e

atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas

efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob

qualquer forma, possam causar degradação ambiental,

considerando as disposições legais e regulamentares e as

normas técnicas aplicáveis ao caso.

II- Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão

ambiental competente estabelece as condições, restrições, e

medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo

empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar,

ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras

dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente

poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar

degradação ambiental.

A Resolução detalha quais são as licenças expedidas durante o procedimento

de licenciamento ambiental, esclarecendo:

Art. 8.º O Poder Público, no exercício de sua competência de

controle, expedirá as seguintes licenças:

I- Licença Prévia (LP) – concedida na fase preliminar do

planejamento do empreendimento ou atividade, aprovando sua

localização e concepção atentando sua viabilidade ambiental e

estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem

atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II- Licença de Instalação (LI) – autoriza a instalação do

empreendimento ou atividade de acordo com as especificações

constantes dos planos, programas ou projetos aprovados,

incluindo as medidas de controle ambiental e demais

condicionantes da qual constituem motivo determinante;

III- Licença de Operação (LO) – autoriza a operação da

atividade ou empreendimento após a verificação do efetivo

cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as

medidas de controle ambiental e condicionantes determinados

para a operação.

Parágrafo Único. As licenças ambientais poderão ser expedidas

isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza,

características e fase do empreendimento.

Na situação em análise, o Estado do Rio Grande do Norte e a empresa

contratante queimaram etapas do procedimento ambiental tendo havido a construção

sem a Licença Prévia e de Instalação, bem como sem o efetivo conhecimento do

projeto aprovado, sem a garantia da implantação das medidas de controle ambiental dos

efeitos nefastos ao meio ambiente que podem ser ensejados pelo sistema mal realizado.

II.II.II - DOS PARÂMETROS DE LANÇAMENTO DE EFLUENTES

Como a obra pode ter impactos graves ao rio e a bacia hídrica,

necessário pontuar os fundamentos jurídicos afetos ao tema.

Sobre a proteção das águas, é importante mencionar que o art. 26 da

Constituição Federal estabelece que:

Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

I- as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,

emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma

da lei, as decorrentes de obras da União.

(...)

A Constituição Federal, em seu art. 22, IV, diz que compete privativamente à

União legislar sobre águas. Com essa premissa constitucional, a Lei 9.433/9 instituiu a

Política Nacional de Recursos Hídricos. Vale transcrever alguns preceitos dessa Política:

OBJETIVOS

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I- assegurar à atual e às futuras gerações a necessária

disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados

aos respectivos usos;

(...)

DAS DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO

Art. 3º. Constituem diretrizes gerais de ação para

implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos

I- a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação

dos aspectos de quantidade e qualidade;

II- a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades

físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais

das diversas regiões do Pais;

III- a integração da gestão dos recursos hídricos com a

gestão ambiental;

(...)

No âmbito Estadual, existe a Lei Estadual 6.908/96 – que dispõe sobre a

Política Estadual de Recursos Hídricos. O art. 1º, I, da referida Lei inclui como objetivo

assegurar que a água possa ser controlada e utilizada em padrões de quantidade e

qualidade satisfatórios por seus usuários atuais e pelas gerações futuras.

A Resolução 357/05 do CONAMA atualizou a Resolução 20/86. No

Capítulo IV, constam as prescrições sobre as CONDIÇÕES E PADRÕES DE

LANÇAMENTO DE EFLUENTES. Dita a Resolução:

CAPÍTULO IV - DAS CONDIÇÕES E PADRÕES DE

LANÇAMENTO DE EFLUENTES

Art. 24. Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente

poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de

água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às

condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em

outras normas aplicáveis.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente poderá, a

qualquer momento:

I - acrescentar outras condições e padrões, ou torná-los mais

restritivos, tendo em vista as

condições locais, mediante fundamentação técnica; e

II - exigir a melhor tecnologia disponível para o tratamento dos

efluentes, compatível com

as condições do respectivo curso de água superficial, mediante

fundamentação técnica.

Os padrões para o lançamento de efluentes no corpo d’água estão previstos

no art. 34 da Resolução 357/05. Aos padrões da Resolução devem ser acrescidos os

padrões adicionais impostos pelo órgão ambiental licenciador.

O lançamento de efluentes fora dos padrões estabelecidos pela Resolução e

em dissonância das demais características das águas receptoras ocasionam a alteração

da qualidade original, dando ensejo a poluição do corpo hídrico. Não se pode descurar,

ainda, que o lançamento de efluentes, também tem de estar de acordo com a capacidade

de auto-depuração do corpo receptor.

No caso em apreço, verifica-se que a entidade contratante, deseja com sua

obra lançar os efluentes, pluviais, ou quiça de esgotos, na nascente do Rio, consoante

fartamente demonstrado. Assim, diante do total desrespeito as normas invocadas, busca-

se o socorro do Poder Judiciário com o fito de tal conduta ser obstada.

II.III - DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA INERENTE AOS PRESOS, E

DA IMPOSSIBILIDADE DOS MESMOS SEREM RECOLHIDOS EM CELAS

COM ELEVADO DESCONFORTO TÉRMICO

Até a presente data, as celas são inabitáveis, nos termos descritos pela

perícia técnica.

A Constituição Federal, em vigor no país, inaugurou um novo sistema de

proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana, conformando, inclusive, um novo

modelo de sistema penal, submetido a esses mesmos princípios.

Assim, é a partir da CF/88 que deve partir o propósito de exigibilidade do

pedido da presente ação civil pública de ver garantido aos presos o recolhimento em

celas habitáveis, com conforto térmico satisfatório.

Neste sentido, prescreve a CF/88 que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-

reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento

desumano ou degradante;

Ora, degradante ou desumano, como o próprio termo nos revela será o trata-

mento dispensado ao indivíduo que o retire de sua condição humana. E não se pode con-

ceber que um ser humano seja recolhido em celas com elevadas condições térmicas, sob

pena de estar-se impondo, por via transversa, a pena de morte, posto seja este o re-

sultado final da ausência de condições para se manter no cárcere.

E assim, surgem duas possibilidades: ou o Estado, responsável pela custódia

dos presos fornece local adequado, reformando as celas do novo pavilhão, ou constrói,

novamente, no sistema prisional, uma infra-estrutura adequada para que presos possam

ser recolhidos.

Outra observação que nos parece pertinente, respeita a questão da responsa-

bilidade civil do Estado, que pode advir de quaisquer danos à saúde ou a vida de um

preso que esteja sob custódia da administração pública em função da omissão no dever

de fornecer local adequado para recolhimento.

Assim, custos de possíveis indenizações recairão sobre a sociedade não sen-

do, pois, admissível a perpetuação do discurso de alguns que julgam impertinente o gas-

to do dinheiro público com presos.

No mesmo sentido, prossegue a CF/88, segundo a qual:

XLVII - não haverá penas:

e) cruéis [...]

Ora, a pena deve ser imposta nos estritos limites previstos na lei, de forma

que não poderá, por exemplo, ultrapassar a pessoa do preso para atingir sua família, e

nem poderá impor um encargo sobre o réu que ele não possa suportar, como no caso das

penas cruéis, ou seja, que impõem um sofrimento desmedido, além do querido pelo

constituinte e necessário para a reabilitação do transgressor.

Neste diapasão, a CF/88 prescreve que:

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integrida-

de física e moral; [...]

Decerto que a integridade física do preso estará garantida se ao mesmo não

forem impostos métodos de tortura, para fins de investigação ou intimidação, mas não é

menos verdade que a integridade física e psíquica só restará preservada se ao indivíduo

for permitido recolher-se adequadamente.

O Supremo Tribunal Federal já teve a oportunidade de manifestar-se quanto

ao caráter humanista da CF/88, ante a consagração de valores que privilegiam a dignida-

de da pessoa humana. Neste sentido:

Tanto quanto possível, incumbe ao Estado adotar me-

didas preparatórias ao retorno do condenado ao conví-

vio social. Os valores humanos fulminam os enfoques

segregacionistas. A ordem jurídica em vigor consagra o

direito do preso de ser transferido para local em que

possua raízes, visando a indispensável assistência pelos

familiares. Os óbices ao acolhimento do pleito devem

ser inafastáveis e exsurgir ao primeiro exame, conside-

radas as precárias condições do sistema carcerário pá-

trio." (HC 71.179, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamen-

to em 19-4-94, DJ de 3-6-94)

Não fossem os argumentos e normas acima expostos suficientes ao conven-

cimento da existência de um local digno para o preso ser recolhido, a CF/88, ao inserir o

país no âmbito das relações internacionais, restou por admitir a validade dos tratados in-

ternacionais relativos aos direitos humanos.

Prescreve a CF/88 que:

§ 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre di-

reitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do

Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos

dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes

às emendas constitucionais.

Destacam-se:

a) Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo art. 10, incisos 1 e 3,

destaca:

Art. 10 – 1. Toda pessoa privada de sua liberdade deve-

rá ser tratada com humanidade e respeito à dignidade

inerente à pessoa humana; (...) 3. O regime penitenciá-

rio consistirá em um tratamento cujo objetivo princi-

pal seja a reforma e a reabilitação moral dos prisionei-

ros.

b) a Convenção Americana de Direitos Humanos, segundo a qual:

Art. 5° - Direito à integridade pessoal: 1. Toda pessoa

tem direito a que se respeite sua integridade física, psí-

quica e moral; (...) 6. As penas privativas de liberdade

devem ter por finalidade essencial a reforma e a rea-

daptação social dos condenados.

Conclui-se, portanto, que há uma evidente relação entre a preservação da

dignidade da pessoa presa e a finalidade ressocializadora da pena, razão pela qual o em-

prego de penas ou a sua execução de maneira cruel, desumana ou degradante, viola, a

um só tempo, o direito individual do preso e o direito difuso de toda a coletividade a

uma atividade estatal que contribua para o bem comum.

A Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984, que institui as normas para a execu-

ção penal, é anterior à CF/88, mas foi recepcionada pela mesma em razão da coaduna-

ção entre seu conteúdo e os dos princípios acima expostos, motivo pelo qual podemos

asseverar que, sob o prisma material, a lei em questão encontra seu fundamento de vali-

dade na Carta Magna.

Por fim, a preocupação com a integridade física dos presos é de tal ordem

que o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, órgão ligado ao Ministé-

rio da Justiça, editou a Resolução n° 14, de 11 de novembro de 1994, que fixou as Re-

gras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil, que dentre outras regras, prevê

que:

Art. 3° É assegurado ao preso o respeito a sua individu-

alidade, integridade física e dignidade pessoal.

Como visto, a gama de normas que disciplinam e conformam a execução

penal no país assegura firmemente o direito do preso, provisório ou não, a integridade

física e, via de conseqüência, ao direito de não permanecer em celas com desconforto

térmico.

III - DO PEDIDO DE LIMINAR

Avaliando os requisitos para concessão da liminar autorizada legalmente, em

especial o art. 12 caput, da Lei 7.347/85, pode-se afirmar que esses requisitos básicos,

quais sejam o fumus boni juris e o periculum in mora, são de fácil percepção.

Com certeza, pela análise dos elementos colhidos no presente procedimento

administrativo, o Ministério Público pede a continuidade da liminar deferida na ação

cautelar.

Caso a continuidade da mesma seja incabível, pugna por nova cautelar, ora

incidental.

A defesa ambiental aqui pleiteada encontra completo respaldo jurídico e

conseqüentemente, a plausibilidade do direito substancial encontra-se palpável.

Ademais, os dispositivos invocados afetos ao tema da dignidade humana dos presos e

aos requisitos administrativos ínsitos à fiscalização da obra e da obrigação da contratada

impõe a percepção de que há uma fumaça de bom direito no caso sub examine.

Ademais, há grave risco para os presos no que se refere ao funcionamento

da obra. Há igual risco para os próprios funcionários, consoante demonstrado. As

instalações, consoante afirmado pelos próprios peritos, não tem condições de entrar em

funcionamento.

Pede-se a vênia para não transcrever os múltiplos fatos acima apontados,

que integram o presente capítulo, como se aqui estivessem transcritos.

Quanto ao perigo da demora (periculum in mora), forçoso é convir que

esse quesito também se encontra atendido. A demora de um provimento jurisdicional

voltado para proteger o caso em apreço pode ocasionar danos irreversíveis tanto ao

meio ambiente, quanto à vida humana.

Como bem ensina LUIZ GUILHERE MARINONI em sua obra Técnica

Processual e Tutela dos Direitos:

A probabilidade do dano deve merecer socorro em face de qualquer

direito ameaçado, e por isso tem vinculação com o princípio da

preventividade, que assume particular importância no direito

ambiental, diante de sua natureza inviolável. (RT, 2004)

Ao Ministério Público, portanto só resta apontar as tantas ilegalidades

verificadas e pedir ao Poder Judiciário, como mérito, o embargo da obra, até a

apresentação de todas as licença respectivas e da correção de todas as

irregularidades/ilegalidades apontadas.

IV - PEDIDOS

Diante do exposto, e no afã de obter a melhor tutela ambiental, REQUER a

Vossa Excelência:

a) liminarmente, a imediata paralisação de todas as obras em curso , bem como o

impedimento de alocação de apenados no novo pavilhão no intuito de se

evitar que seja causado algum dano, bem como que o impedimento perdure até

a realização do estudo de impacto ambiental, relatório ambiental e licenciamento

ambiental; do conserto de todas as irregularidades apontadas nesta exordial (que

passam a constar deste pedido como se aqui estivessem transcritas); e da

adequação do conforto térmico no interior das celas, considerando-se o

número de apenados (usando-se como parâmetro o número de oito

apenados) que eventualmente venham a ser alojados, no limite estabelecido

pela NR-15 (30,0 IBUTG).

b) liminarmente, declarar-se nulo o eventual ato de entrega da obra pela empresa

contratada, bem como o de recebimento por parte do Estado réu, impondo a este

o ônus de fiscalizar e comprovar a adequação do objeto aos termos contratuais,

apresentando manifestação circunstanciada sobre a execução da obra ao presente

órgão judicante.

c) liminarmente, obstar o Estado réu de efetuar quaisquer pagamentos referentes ao

citado contrato à empresa Contratada dos valores pertinentes ao contrato

administrativo objeto desta lide, até que a obra esteja completamente acabada e

com possibilidade de entrar em funcionamento, mediante a realização do estudo

de impacto ambiental, relatório ambiental e licenciamento ambiental; do

conserto de todas as irregularidades apontadas nesta exordial (que passam a

constar deste pedido como se aqui estivessem transcritas); e da adequação do

conforto térmico no interior das celas, considerando-se o número de

apenados que eventualmente venham a ser alojados (usando-se como

parâmetro o número de oito apenados), ao limite estabelecido pela NR-15

(30,0 IBUTG).

d) a citação dos demandados, pelos seus representantes, nos endereços já indicados,

para contestarem ou concordarem com o pedido, sob pena de revelia;

e) a procedência do pedido, no sentido de tornar a tutela antecipada pleiteada

definitiva, condenando os demandados a procederem os reparos necessários ao

pleno funcionamento da obra objeto desta lide, nos termos discriminados nesta

exordial que passam a integralizar este pedido como se aqui estivessem

transcritos, notadamente:

e.1) obtenção do licenciamento ambiental,

notadamente a licença de instalação e operação.

e.2.) correção das janelas de acrílico; colocação de

anteparo para chuva, impedindo a penetração de

chuva no interior da cela.

e.3) colocação de gradil de proteção nas

luminárias.

e.4) Substituição do mecanismo de acionamento de

descarga. Colocação de mecanismo de descarga

central, passível de ser acionado pelos agentes

penitenciários.

e.5) Fechamento e proteção das tubulações e

instalações elétricas expostas.

e.6) Conserto do piso superior, impedindo

acidentes.

e.7) Substituição das fechaduras por materiais de

alta qualidade.

e.8) Estabelecimento de mecanismo que impeça a

entrada de água no pavimento/piso, bem como

estabelecimento de mecanismo que possibilite a

retirada da água no corredor de circulação. Na

segunda parte deste item, caso a medida seja

inviável ou impossível, pela readequação do

equilíbrio financeiro do contrato, reduzindo-se o

gasto público pela ineficiência da obra.

e.9) Implantação de sistema para armazenamento e

bombeamento da água oriunda da estação de

esgoto. Embargo específico da obra até que tal

medida seja implementada.

e.10) Reforço da estrutura dos tanques de

infiltração da estação de tratamento, diminuindo-se

as distâncias entre os apoios de sustentação das

telhas.

e.11) Instalação de reservatório hídrico para

abastecimento do novo pavilhão, com capacidade

para abastecer, no mínimo, quatrocentos apenados.

Embargo específico da obra até que tal medida seja

implementada.

e.12) Construção de novas guaritas, com o fito de

estabelecer a visibilidade do pavilhão 4.

e.13) Estabelecimento de medidas que

restabeleçam o conforto término no interior das

celas e do pavilhão, no limite máximo de 30,0

IBUTG (considerando-se a cela com as janelas

abertas ou fechadas, vazias ou com número de até

14 apenados, tendo em vista a factível

superpopulação carcerária que possivelmente se

implantará no pavilhão).

e.14) Instalação elétrica até a rede pública,

obrigando os acionados a providenciar as

adequações pertinentes ao atendimento da nova

demanda elétrica.

e.15) Condenação do Estado na obrigação de

não fazer, no sentido de se inviabilizar a

alocação de presos no interior de TODO O

PRESÍDIO DE ALCAÇUZ , bem como no novo

pavilhão (ou no citado empreendimento, caso o

mesmo venha a ser destacado e fixado como

novo presídio, qualquer que seja a

nomenclatura a ser adotada) caso o IBUTG seja

superior a 30,0 no interior da cela.

e.16) Condenação do Estado na obrigação de

fazer, no sentido de se retirar quaisquer presos

no interior de TODO O PRESÍDIO DE

ALCAÇUZ , bem como no novo pavilhão (ou no

citado empreendimento, caso o mesmo venha a

ser destacado e fixado como novo presídio,

qualquer que seja a nomenclatura a ser

adotada) CASO O IBUTG SEJA SUPERIOR A

30,0 NO INTERIOR DE QUAISQUER CELAS.

e.17) Substituição das portas chapeadas por portas

de grade, como forma de reduzir o desconforto

térmico, e permitir a visualização do interior das

celas, pelos agentes, evitando o cometimento de

crimes no interior do presídio.

f) objetivando conferir eficácia real à decisão liminar concedida, postula-se a

fixação de multa diária para o caso de não cumprimento da medida dentro do

prazo estipulado, cujo ônus deverá recair sobre os demandados e, no caso do

Poder Público, sobre as pessoas dos agentes públicos que derem causa ao

descumprimento da ordem, de forma a não onerar o erário.

Tal possibilidade, salutar para os cofres públicos e para a respeitabilidade

das decisões judiciais, conta com o aval da ilustre processualista LUCIANE

GONÇALVES TESSLER, que colaciona, a seu favor, entendimento doutrinário

sufragado pelo e. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. In verbis:

“Nessas situações, nunca se alcançará a execução indireta, se

a sanção não for pessoal. Qualquer forma de coação, para

efetivamente ameaçar o agente responsável pelo ilícito, terá

que atingir sua própria esfera individual. É por isso que, sendo

o demandado pessoa jurídica de direito público, compete ao

juiz analisar o caso concreto, para, se for o caso, dirigir a

ameaça de multa ao próprio agente responsável pela prática

do ato.

“Perceba-se que a imposição da multa à pessoa jurídica de

direito público sacrifica duplamente a sociedade. (...). O

Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em

magnífico julgado, já consagrou tal entendimento. O

Desembargador Relator, com inteligência, ressaltou que “o

poder público não está acima do controle jurisdicional. A

multa aplicada ao poder público genericamente apena o

próprio povo, daí que essa cominação deve ser estabelecida

somente para o agente que deve cumprir a decisão judicial.”

(in Tutelas Jurisdicionais do Meio Ambiente; Coleção Temas

Atuais de Direito Processual Civil; vol. 9; São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais; 2004; p. 298).

g) a realização de perícia, para se constatar que a obra em comento é

potencialmente poluidora ao meio ambiente; que há graves irregularidades na

obra; e que o desconforto térmico no interior das celas é demasiado, afrontando

a condição humana e a NR-15 (notadamente quando alojados presos no interior

da cela).

h) a condenação dos demandados nos honorários de peritos, que porventura forem

precisos, e verbas sucumbenciais de praxe.

Protesta provar o alegado por todas as formas admitidas em Direito,

notadamente a pericial, a documental que ora se junta, bem como pela oitiva dos peritos

que produziram o laudo do Ministério Público, notadamente o Prof. Leonardo

Flamarion Marques Chaves e o Prof. Paulo Alysson Brilhante Faheina de Souza, da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Dá-se a causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Nestes termos;

Pede deferimento.

NÍSIA FLORESTA/RN, 14 de fevereiro de 2011.

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RAFAEL SILVA PAES PIRES GALVÃO

PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO