evolução histórica dos sistemas de controlo de gestão

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Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão Período de 1950-1980 António de Oliveira Universidade Portucalense Esta apresentação foi fundamentada no trabalho com o mesmo título apresentado na Unidade Curricular de História e Teorias da Contabilidade da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho em 2008, tendo contado com a revisão da Professora Doutora Delfina Gomes. São seus coautores Jorge Barbosa, Patrícia Marques e Rosa Guedes Pinto. Resumo Objetivo O objetivo deste trabalho é analisar numa perspetival histórica os sistemas de planeamento, programação, orçamentação e controlo aplicados no período 1950- 1980, designado normalmente como Managerial Accounting Period. Estrutura/metodologia/problemática Este trabalho pretende analisar o desenvolvimento do PPBS Programming Planning and Budgeting System, do MBO Management by Objectives e do ZBB Zero Base Budgeting, numa perspetival histórica. Após a caracterização do processo de orçamentação e de controlo o trabalho analisa, para cada um dos sistemas, as suas origens, a sua definição, o seu processo de implementação e, por fim, as limitações verificadas, o que possibilita a inter-relação entre os diferentes sistemas. Conclusão Neste trabalho conclui-se que os sistemas de PPBS, MBO e ZBB evoluíram num processo contínuo, a partir de concretizações práticas e como resposta às necessidades originadas pelo aumento da complexidade organizacional. Originalidade/Contributo Este trabalho ao centrar-se numa perspetival histórica permitiu não só perceber a evolução de cada um dos sistemas analisados como enquadrar a sua implementação ao longo do tempo e colocar questões que podem ser desenvolvidas em trabalhos posteriores. Tipo de Artigo Revisão da literatura. Palavra(s) Chave PPBS; MBO; ZBB; História da Contabilidade de Gestão; Práticas de Contabilidade de Gestão. Abstract Purpose The purpose of this paper is to present an historical overview of the corporate planning, budgeting and control systems applied in the Managerial Accounting Period (1960-1980).

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Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de GestãoPeríodo de 1950-1980

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Page 1: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

Período de 1950-1980

António de Oliveira

Universidade Portucalense

Esta apresentação foi fundamentada no trabalho com o mesmo título apresentado na Unidade Curricular de História e

Teorias da Contabilidade da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho em 2008, tendo contado com a

revisão da Professora Doutora Delfina Gomes.

São seus coautores Jorge Barbosa, Patrícia Marques e Rosa Guedes Pinto.

Resumo

Objetivo – O objetivo deste trabalho é analisar numa perspetival histórica os sistemas

de planeamento, programação, orçamentação e controlo aplicados no período 1950-

1980, designado normalmente como Managerial Accounting Period.

Estrutura/metodologia/problemática – Este trabalho pretende analisar o

desenvolvimento do PPBS – Programming Planning and Budgeting System, do MBO –

Management by Objectives e do ZBB – Zero Base Budgeting, numa perspetival

histórica. Após a caracterização do processo de orçamentação e de controlo o trabalho

analisa, para cada um dos sistemas, as suas origens, a sua definição, o seu processo de

implementação e, por fim, as limitações verificadas, o que possibilita a inter-relação

entre os diferentes sistemas.

Conclusão – Neste trabalho conclui-se que os sistemas de PPBS, MBO e ZBB

evoluíram num processo contínuo, a partir de concretizações práticas e como resposta às

necessidades originadas pelo aumento da complexidade organizacional.

Originalidade/Contributo – Este trabalho ao centrar-se numa perspetival histórica

permitiu não só perceber a evolução de cada um dos sistemas analisados como

enquadrar a sua implementação ao longo do tempo e colocar questões que podem ser

desenvolvidas em trabalhos posteriores.

Tipo de Artigo – Revisão da literatura.

Palavra(s) Chave – PPBS; MBO; ZBB; História da Contabilidade de Gestão; Práticas

de Contabilidade de Gestão.

Abstract

Purpose – The purpose of this paper is to present an historical overview of the

corporate planning, budgeting and control systems applied in the Managerial

Accounting Period (1960-1980).

Page 2: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

2

Design/methodology/approach – The paper presents an approach which seeks to

illustrate the development of PPBS – Programming Planning and Budgeting System,

MBO – Management by Objectives, and ZBB – Zero Base Budgeting, in an historical

perspective. The paper starts with a review of cost accounting concepts. After the

characterization of the process of budgeting and control, the paper analyses the origins,

the implementation process and the limitations verified for each one of the planning,

budgeting and control systems applied in the Managerial Accounting Period 1960-1980,

which allows the inter-connection between the different systems.

Findings – The paper concludes that the PPBS, MBO and ZBB systems evolved in a

continuous process from practical achievements and as answers to the needs originate

by the increase of the organizational complexity.

Originality/value – By focusing in a historical perspective, this paper allowed to

understand the evolution of each system analysed as to frame their implementation over

time and to place subjects that can be developed in subsequent papers.

Article Type – Literature review.

Keyword(s) – PPBS; MBO; ZBB; Management Accounting History; Management

Accounting Practices.

Page 3: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

3

Introdução

As alterações do ambiente competitivo e a crescente complexidade organizacional que

ocorreram a partir dos anos 50 e que se acentuaram no início dos anos 60 originaram o

descrédito nos sistemas de controlo de gestão até então em vigor (Davidson &

Trueblood, 1961; Gaudion, 1968). A necessidade de ultrapassar as limitações

verificadas, de acordo com House (1963), está na origem do desenvolvimento de

sistemas alternativos, planeados e deliberados, com o objetivo de melhorar a eficiência

da gestão.

O objetivo deste trabalho é analisar, no período de 1950 a 1980, definido pela

Management Accounting Association como Managerial Accounting Period1, quais os

sistemas implementados, as suas origens, a sua definição, o seu processo de

implementação e por fim as limitações verificadas.

O primeiro sistema a ser implementado foi o Programming Planning and Budgeting

System – PPBS2, em 1960. Pretendia-se estabelecer uma ligação entre os processos de

planeamento, de programação e de orçamentação. Esta ligação fundamentava-se na

definição dos objetivos e dos custos associados para o curto, o médio e o longo prazo

(Shick, 1966).

Em 1973 foi implementado o sistema Management by Objectives – MBO3. O sistema

tem como especto central a integração de todos os colaboradores da organização nos

processos de planeamento, programação e de orçamentação, assegurando-se uma

participação e responsabilização conjunta (Drucker, 1954).

O Zero-Base Budgeting – ZBB4, foi implementado entre 1975-1977 e é um sistema que

propõe a justificação detalhada de todas as rubricas orçamentadas como ponto de

partida para a afetação de recursos (Pyhrr, 1970).

1. Conceitos de Orçamento e Controlo

Numa conceção convencional o orçamento define a situação desejada pelo decisor para

um período de tempo definido e tem como objetivo assegurar o controlo organizacional

(Hanson, 1966).

1 http://maaw.info/EvolutionOfMAGraphic.htm, acedido em 12 de Outubro de 2012.

2 Sistema de Planeamento Programação e Orçamentação

3 Sistema de Gestão por Objetivos

4 Sistema de Orçamento Base Zero

Page 4: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

4

Para Gaudion (1968) a necessidade de elaborar um orçamento verifica-se sempre que

aumenta a complexidade organizacional originada pela alteração das envolventes

externas e/ou internas.

O conceito de controlo foi enunciado por Fayol (1916) integrado como uma das tarefas

a desempenhar pelos serviços administrativos da organização. Para Hanson (1966), o

conceito de controlo consiste na verificação e certificação de que os factos ocorrem de

acordo com os princípios estabelecidos no orçamento. O seu objetivo é possibilitar a

identificação dos possíveis desvios, a sua correção e a sua prevenção. O processo de

controlo inicia-se depois do orçamento ser aprovado e tem como base a definição de

medidas que possibilitem a avaliação do desempenho. Esta conceção apresenta, todavia,

uma importante limitação: as ações de correção só podem ser aplicadas depois de se

terem verificado diferenças nas medidas de performance definidas e, deste modo, não

produzem efeitos sobre as atividades passadas (Hanson, 1966), isto é, o controlo é uma

ação ex-post.

Para minimizar esta limitação Anthony (1965, p.27) subdivide o processo de controlo

em dois subprocessos: o controlo de gestão e o controlo operacional. O controlo de

gestão é definido como o processo pelo qual os gestores da organização asseguram os

recursos necessários e a sua utilização de forma eficaz e eficiente, de acordo com os

objetivos da organização. Ainda de acordo com o autor (Anthony, 1965, p.69) o

controlo operacional é definido como o processo de assegurar que uma tarefa é levada a

cabo de forma eficaz e eficiente. Como forma de garantir um controlo ex-ante

(Anthony, 1956), o sistema de controlo de gestão deve assegurar que: os orçamentos

aprovados são comunicados de forma clara a todos os interessados (a todos os que estão

envolvidos no processo); exista motivação nas pessoas (todas as que estão envolvidas

no processo) para atingir os objetivos definidos; e os resultados alcançados são

divulgados de forma clara. Nas palavras do autor:

Our problem thereupon became not strictly an accounting problem, such as

the construction of a set of financial statements, nor an accounting-

economics problem, (…). Rather, it was a problem involving both

accounting and psychology, the study that deals with human reactions. 5

(Anthony, 1956, p.234).

5 O nosso problema não era estritamente um problema de contabilidade, como a construção de um

conjunto de demonstrações financeiras, nem um problema de contabilidade económica, (…). Mais

propriamente, era um problema que envolvia contabilidade e psicologia, o estudo que aborda as reações

humanas.

Page 5: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

5

As alterações do ambiente competitivo e a crescente complexidade organizacional que

ocorreram a partir dos anos 50, e que se acentuaram no início dos anos 60 (Davidson &

Trueblood, 1961; Gaudion, 1968), vão originar o desenvolvimento de sistemas

alternativos, planeados e deliberados, com o objetivo de melhorar a eficiência da gestão

(House, 1963). Como referem Davidson e Trueblood (1961, p.577), “Many managers

believe the accounting function has failed to adjust its objectives and activities to

decision-making requirements of a changing business world.”6

O primeiro sistema a ser implementado foi o sistema de planeamento, programação e

orçamentação.

2. O Sistema de Planeamento, Programação e Orçamentação

2.1. Introdução

O sistema de Planeamento, Programação e Orçamentação (Programming Planning and

Budgeting System – PPBS) consiste na integração dos processos de planeamento, de

programação e de orçamentação num único sistema que facilite a tomada de decisões

(Shick, 1966). A sua principal característica é incluir os objetivos organizacionais como

elementos centrais no processo de orçamentação dando resposta às limitações

anteriormente referidas (Fazar, 1969; Delisle, 1970).

O sistema surge como resposta às necessidades de controlo que têm origem no

desenvolvimento, na crescente complexidade e na diversificação das atividades das

organizações (Shick, 1966; Dyment, 1967; e Johnson, 1975).

Nos pontos seguintes abordamos as origens históricas do sistema, as suas principais

características, o seu processo de implementação e as principais limitações verificadas.

2.2. Contextualização Histórica

As origens conceptuais do PPBS surgem em 1915, quando a DuPont Powder Company

introduz o conceito de “program budgeting” (Dyment, 1967, p.77) nos seus processos

orçamentais e de planeamento (Dyment, 1967; Johnson, 1975).

O sistema foi adotado pela General Motors em 1920 (Johnson, 1978) e definido como:

“centralized control with decentralized responsibility”7 (Johnson, 1978, p.493). Ou

seja, o sistema propõe a criação de departamentos funcionais autónomos. Os

6 Muitos gestores acreditam que a função contabilística tem falhado ao ajustar os objetivos e as atividades

às exigências dos processos de tomada de decisão de um mundo empresarial em mudança. 7 Controlo centralizado e responsabilidade descentralizada.

Page 6: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

6

responsáveis de cada departamento propõem, ex-ante, os objetivos operacionais anuais a

cumprir pelos seus departamentos. A gestão de topo coordena as propostas de cada

departamento e integra-as, procedendo aos ajustamentos necessários, nos objetivos

globais da organização. De seguida, elabora o orçamento global e por departamento, os

intervalos de variabilidade e as medidas de avaliação de performance, assegurando-se

deste modo o controlo.

No setor público, segundo Horgan (1992), a primeira referência à necessidade de

melhorar o processo orçamental surge em 1912, pela President Taft’s Commission on

Economy and Efficiency. Mas, ainda de acordo com o autor, apenas em 1921 foi

adotado um sistema orçamental baseado no modelo implementado na General Motors.

Em 1942, este sistema evolui quando o governo federal americano, pelo War

Production Board, introduz o conceito de controlo com objetivo de definir prioridades,

relativamente às necessidades e à afetação de recursos (Dyment, 1967).

O conceito inicial de PPBS surge durante a década de 50 na RAND Corporation. A

organização desenvolveu um sistema de análise com o objetivo de avaliar de forma

sistemática os custos e benefícios das alternativas possíveis para atingir um objetivo

previamente definido (Dyment, 1967; Novick, 1968; Feltes, 1976; e Tyer & Willand

1997). No processo de avaliação destas alternativas, de acordo com Novick (1968),

deviam ser considerados os fatores internos e externos à organização, para além dos

fatores tradicionais a ter em conta na elaboração dos orçamentos, aspetos que são

característicos do sistema PPBS.

Paralelamente, Crankshaw (1960) refere que o Tapco Group desenvolveu um sistema

integrado de orçamentação, planeamento e controlo, como forma de ultrapassar os

sucessivos desvios entre os valores orçamentados e os valores realizados, que

conceptualmente se aproxima, também, do sistema PPBS. O sistema da Tapco Group

tinha como base cinco instrumentos de análise:

Previsões de longo prazo;

Previsões de curto prazo;

Programa de controlo de despesas;

Sistema de controlo do orçamento; e

Programa de redução de custos.

A sua eficiência conseguia-se pela inter-relação combinada destes cinco instrumentos.

O objetivo era conseguir uma descentralização de autoridade e de responsabilidade

Page 7: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

7

operacional, mantendo-se as tarefas de planeamento e de controlo ao nível da gestão de

topo.

Ainda no setor público, e de acordo com Morse Jr. (1961), foi organizado em 1948 um

programa de orçamentação, também muito próximo do PPBS, designado em 1950 por

Joint Program for Improvement of Accounting in the Federal Government8, depois

alterado em 1959 para Joint Financial Management Improvement Program9. Os

objetivos eram: “better program planning, budgeting, accounting, and financial

reporting, the proper coordination of these functions, and the encouragement of

strengthened internal financial management controls”10

(Morse Jr. 1961, p.362) e “so it

will serve essentially the same purpose of accounting in well-run private business

organizations”11

(Morse Jr. 1961, p.363).

O PPBS é definido, tal como hoje o conhecemos, em 1960 quando MacNamara,

secretário de estado da Defesa dos Estados Unidos o implementa no Departamento de

Estado da Defesa (Feltes, 1976).

A principal diferença relativamente aos modelos anteriores, de acordo com Nigro &

Nigro (1981), é a coordenação que o sistema propõe relativamente aos procedimentos

de orçamentação, planeamento e controlo, isto é:

Ênfase nos objetivos – O PPBS centra-se na definição dos objetivos a longo

prazo e nos meios necessários à sua concretização;

Ligação entre o planeamento e a orçamentação – Os recursos são distribuídos

pelas diferentes atividades tendo em conta a lucratividade dos departamentos e o

seu potencial de desenvolvimento; e

Abandono da base orçamental e do processo incremental na elaboração dos

orçamentos.

Em 1965, o presidente Johnson, autoriza a introdução do PPBS nas organizações civis

(Fazar, 1969; Botner, 1970).

8 Programa Conjunto para Melhoria da Contabilidade no Governo Federal

9 Programa Conjunto de Melhoria da Gestão Financeira

10 Melhorar os programas de planeamento, orçamento, contabilidade e informação financeira, a

coordenação destas funções, assim como, encorajar o reforço do controlo financeiro interno. 11

O sistema contabilístico (público), deverá refletir o mesmo propósito verificado nas organizações

empresariais privadas bem sucedidas.

Page 8: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

8

2.3. Definição e Implementação

A conceção do PPBS partiu da observação da existência de uma descoordenação tanto

vertical como horizontal do orçamento e do plano do Departamento de Defesa (Morse

Jr., 1961; Weber, 1961; Irish, 1967; e Feltes, 1976).

De acordo com Feltes (1976), a descoordenação vertical verificava-se na elaboração do

orçamento por um departamento mais ou menos autónomo, que não seguia as instruções

e informações provenientes do departamento de planeamento. Por outro lado, o

departamento de planeamento não integrava os dados e as previsões elaborados pelos

outros departamentos do Departamento de Defesa, gerando-se, assim, descoordenação

horizontal. Este tipo de situações são igualmente constatadas por Nigro & Nigro (1981)

nas organizações do setor privado.

O PPBS pretendeu ultrapassar esta descoordenação, estabelecendo programações

plurianuais, do topo para a base, nas quais se enquadravam os orçamentos anuais. A

programação, por sua vez, correspondia à seleção e pormenorização dos instrumentos

adequados à execução do plano propriamente dito, ao qual correspondia a fixação dos

objetivos, mediante uma análise sistemática das diferentes alternativas e com particular

atenção ao cálculo dos custos das diferentes atividades (Shick, 1966; Dyment, 1967).

Por outro lado, para Shick (1966), a estruturação da informação necessária para estes

vários níveis de tomada de decisão evitava o enviesamento orçamental que

historicamente se verificava e, segundo Dyment (1967), reduzia ao máximo a

possibilidade de avaliações subjetivas.

O processo de implementação do PPBS decompõe-se em três fases (Shick, 1966;

Delisle, 1970; e Camillus & Grant, 1980).

1ª Fase – Planeamento

A primeira fase, o processo de planeamento, consiste na explicitação dos objetivos a

longo prazo da organização e tem dois objetivos: determinar os objetivos fundamentais

da organização e selecionar as formas mais adequadas de os atingir (Nigro & Nigro,

1981, p.460). Esta fase subdivide-se em dois procedimentos e é da responsabilidade da

gestão de topo:

Análise sistemática das diferentes alternativas de desenvolvimento da

organização – Planeamento de Longo Prazo; e

Seleção das alternativas a implementar – Planeamento Estratégico, a que

corresponde uma decisão estratégica.

Page 9: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

9

A distinção entre Planeamento de Longo Prazo e Planeamento Estratégico de acordo

com Anthony (1965), prende-se com o objeto de análise. Enquanto o Planeamento de

Longo Prazo se centra nos fatores que condicionam a organização como um todo, o

Planeamento Estratégico centra-se nas decisões e planos que afetam um especto

particular da organização e que, portanto, vão condicionar o seu desenvolvimento. Deste

modo, para Vancil & Lorange (1975), a seleção entre diferentes alternativas estratégicas

fica condicionada aos objetivos de longo prazo. Estes por sua vez são definidos em

termos da avaliação das envolventes externas e dos recursos internos da organização.

2ª Fase – Programação

A segunda fase consiste na seleção dos programas de médio prazo, isto é, definir para

cada uma das alternativas escolhidas no processo de planeamento, a afetação dos

recursos necessários à sua implementação. Corresponde, portanto, a uma decisão tática.

A escolha faz-se com recurso a análises de:

Trade-off das diferentes alternativas, isto é, quais os ganhos e perdas esperadas

por se escolher uma alternativa em vez de uma outra em termos dos objetivos

definidos no processo de planeamento;

Custo-benefício das diferentes alternativas;

Eficácia das diferentes alternativas; e

Métodos e/ou modelos matemáticos de seleção, que possibilitem a sua

hierarquização.

Assegura-se, assim, uma abordagem sistemática e racional. Para Hirsch (1966) o

processo de programação pode ser subdividido em subprogramas e estes em sub-

subprogramas, até se atingir uma unidade estrutural elementar que possibilite a

pormenorização da programação. Esta característica de acordo com Shick (1966),

assegura ao processo a flexibilidade necessária à sua implementação. O processo de

programação deve estar claramente definido no tempo – programação plurianual, e deve

quantificar os outputs esperados, isto é, os objetivos definidos no processo de

planeamento devem ser agora fixados e materializados em medidas concretas e

objetivas. Só deste modo se assegura a possibilidade de controlo e este é um dos aspetos

centrais do PPBS.

Anthony (1965) define este controlo ao nível da programação como controlo de gestão,

ou seja, o processo pelo qual os gestores asseguram que os recursos obtidos são usados

Page 10: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

10

de forma eficaz e eficiente de acordo com os objetivos da organização definidos no

processo de planeamento.

3ª Fase – Orçamentação

A terceira e última fase consiste na elaboração do orçamento anual, tendo como base a

programação efetuada.

2.4. Limitações, Problemas e Deficiências

Os potenciais benefícios da implementação do PPBS não se verificaram na íntegra, uma

vez que: “the system has failed to fulfill the expectation of its more ardent proponents”12

(Botner, 1970, p.424).

De acordo com Botner (1970), o primeiro problema resulta da dificuldade em integrar

os interesses e as necessidades das diferentes unidades estruturais elementares nos

interesses e necessidades globais da organização, o que origina desvios,

desajustamentos, sobreposições e orçamentos não adequados, situação agravada no

planeamento de longo prazo. Um outro problema resulta da inexistência de bases de

dados adequadas e de trabalhadores qualificados, o que impossibilita o desenvolvimento

de medidas e critérios de avaliação eficientes. Por último, os problemas que resultam da

resistência à implementação do sistema, por parte dos trabalhadores, que não entendiam

os méritos do sistema: “In some departments PPBS encountered resistence from key

agency personal who were unconvinced of the merits of PPB techniques”13

(Botner

1970, p.426).

Por outro lado, os estudos empíricos demonstraram que nas organizações onde os

trabalhadores participavam no processo obtinham-se melhores resultados (Shetty &

Carlisle, 1975). Com o objetivo de ultrapassar estas limitações, desenvolveu-se o

sistema de gestão por objetivos.

3. Sistema de Gestão por Objetivos

3.1. Introdução

O Sistema de Gestão por Objetivos (Management by Objectives – MBO) consiste na

integração de todos os colaboradores da organização nos processos de planeamento,

programação e orçamentação assegurando-se uma participação e responsabilização

12

O sistema não tem cumprido com as expectativas dos seus mais zelosos proponentes. 13

Em alguns departamentos, o PPBS encontrou resistência nos atores chave que não estavam

convencidos do mérito das técnicas de PPB.

Page 11: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

11

conjunta como um meio para melhorar a performance da organização. O sistema surge

como uma resposta às limitações verificadas no PPBS e na sequência dos trabalhos de

McGregor.

Entender o sistema fica mais fácil depois de estudar as razões históricas que justificaram

a sua origem, o seu processo de implementação, bem como as limitações, problemas e

deficiências verificadas.

3.2. Contextualização Histórica

As origens conceptuais do MBO, de acordo com Greenwood (1981), foram definidas

por Drucker a partir dos conceitos de “managing by objectives and self-control”14

e

como resultado dos seus trabalhos de consultoria. Ainda segundo Greenwood, vários

autores dos quais destacamos Fayol (1916), Mckinsey (1922), Davis (1937) e Barnard

(1938) referiram a necessidade de estabelecer objetivos para fundamentar as opções de

gestão. Mas os autores sempre assumiram que os objetivos eram um dado adquirido,

óbvio e por todos compreendidos. Sloan na General Motors na década de 40

desenvolveu uma estrutura relacional, social e de comunicação, fundamentada na

definição de objetivos, que é conceptualmente próxima do sistema MBO. No mesmo

período Smiddy introduz uma estrutura descentralizada na General Electric também ela

baseada na definição de objetivos. Todavia, em nenhuma das situações referidas a

definição dos objetivos era o especto central dos processos de gestão implementados

(Greenwood, 1981), e esta é a questão central do MBO (Drucker, 1954).

O conceito de MBO, tal como hoje o conhecemos foi definido por Drucker, entre 1948-

1951 e implementado pela primeira vez na General Electric em 1954, Embora a sua

aceitação generalizada apenas ocorra a partir de 1973 (Greenwood, 1981).

3.3. Definição e Implementação

A conceção do sistema MBO pressupõe que cada gestor deve desenvolver e definir os

objetivos para cada unidade de negócio que devem ser enquadrados nos objetivos

globais da organização. Neste procedimento devem ser envolvidos todos os

colaboradores da organização e os objetivos devem ser negociados e fixados

conjuntamente, assegurando-se deste modo uma responsabilização conjunta, como meio

de melhorar a performance da organização (Drucker, 1954). Este especto da

14

Gestão por objetivos e autocontrolo.

Page 12: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

12

participação ativa de todos os trabalhadores é um dos aspetos centrais do sistema na

opinião de Drucker (1954) e Odiorne (1965). A participação dos trabalhadores vai

permitir identificar os seus objetivos pessoais e enquadrá-los nos objetivos globais da

organização, conseguindo-se assim a motivação e a vinculação necessária ao

desenvolvimento e implementação do processo (McGregor, 1957; Shetty & Carlisle,

1975).

O processo de implementação do MBO foi subdividido por Drucker (1954) em quatro

procedimentos:

A definição dos objetivos globais da organização deve ser centralizada;

A definição dos objetivos operacionais e das tarefas a realizar deve ser

descentralizada;

A avaliação da performance deve ser feita por comparação com os objetivos

definidos;

O sistema de recompensas e penalizações deve basear-se nos resultados.

O objetivo do primeiro procedimento é assegurar que a estratégia da organização é

definida pelos gestores, que devem possuir o entendimento claro da missão e do

objetivo da organização.

O segundo procedimento consiste em clarificar os objetivos convertendo-os em

objetivos operacionais. Esta operacionalização deve ser feita de modo a possibilitar a

sua atualização por alteração das envolventes internas e/ou externas da organização. Se

os objetivos definidos forem do conhecimento de todos os colaboradores, é de esperar

um melhor resultado. A definição dos objetivos e a sua clarificação deve ser feita pelos

gestores de topo, seguindo-se uma fase de negociação de modo a que cada trabalhador,

com o seu superior hierárquico, obtenha o consenso que possibilite o compromisso na

execução do objetivo. Este processo negocial para ser válido deve assegurar que existe

uma verdadeira participação dos trabalhadores de base no processo da definição do

objetivo.

O terceiro procedimento deve assegurar que o processo de avaliação beneficia, quer o

trabalhador, quer a organização. Este resultado torna-se possível, na opinião de

McGregor (1957), se existir um correto feedback e não um mero controlo sobre o

trabalhador, que possibilite a tomada de decisões e encoraje a sua racionalidade.

Assegura-se deste modo a maximização do resultado, por comparação entre o objetivo e

Page 13: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

13

o realizado, e por esta razão na opinião de Tosi & Carroll (1968), e Shetty & Carlisle

(1975) este é um dos aspetos mais importantes do sistema.

O objetivo do quarto e último procedimento é conseguir uma avaliação justa dos

trabalhadores (Drucker, 1954; Tosi & Carroll, 1968; e Shetty & Carlisle, 1975).

Levinson (1970) propõe um modelo alternativo de implementação sistematizado num

modelo de cinco fases:

Discussão individual entre o superior hierárquico e o trabalhador sobre a tarefa

que este realiza;

Definição de metas de curto prazo para a avaliação de performance;

Reuniões de avaliação dos progressos verificados no cumprimento dos

objetivos;

Definição de checkpoints para avaliação do progresso; e

Avaliação final dos resultados obtidos.

A abordagem de Odiorne (1974) para a implementação do MBO tem uma perspetival

mais operacional que tem em conta as restrições que decorrem das políticas

organizacionais. Nesta abordagem a implementação do sistema é concretizada sob três

perspetivas: autoritária, persuasiva e educacional.

A perspetival autoritária é aceitável nas organizações onde se verifica um modelo de

gestão autoritária. Sendo o MBO um sistema que se baseia na participação dos

trabalhadores, impor o sistema, parece contrariar as definições do modelo, mas dado o

modelo de gestão em vigor esta é a única forma de o implementar.

A perspetival persuasiva é preferencialmente utilizada pelos consultores e deve ser

considerada como uma abordagem na fase inicial no processo de implementação com o

objetivo de sensibilizar os participantes para o sistema.

A perspetival educacional pressupõe que a implementação do sistema se faça com

recurso a formação contínua, de modo a que os participantes entendam em detalhe os

procedimentos de implementação. Para o autor esta perspetival é fundamental no

sucesso da implementação.

Os objetivos a atingir com a implementação do MBO, foram sistematizados por

Levinson (1970):

Avaliar e quantificar a performance;

Associar a performance individual com os objetivos organizacionais;

Clarificar a relação entre a tarefa realizada e o resultado esperado;

Page 14: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

14

Incentivar o desenvolvimento das competências de autoavaliação dos

subordinados;

Fomentar a comunicação vertical, ascendente e descendente;

Ser a base para as remunerações e promoções;

Estimular a motivação nos trabalhadores; e

Ser um método de controlo e integração.

Para que estes objetivos sejam atingidos devem ser definidos aspetos quantitativos e

qualitativos, prazos de concretização e tempos para a execução das tarefas, tipos de

objetivos e suas dificuldades inerentes, medidas que possibilitem avaliar a criatividade e

a capacidade para ultrapassar os obstáculos. Deve ser também assegurada a utilização

adequada dos recursos, uma relação eficiente entre as práticas de gestão e o

cumprimento dos objetivos e comportamentos coordenados e cooperativos (Tosi, Rizzo

& Carroll 1970).

3.4. Limitações, Problemas e Deficiências

A principal barreira à implementação do MBO são as condicionantes que decorrem da

cultura organizacional e se este especto não for tido em conta pode impossibilitar a

implementação do sistema (Odiorne, 1974), independentemente da abordagem

escolhida (Morrisey, 1976).

Para além desta barreira, todos os autores anteriormente citados abordam esta

problemática, mas as principais limitações, problemas e deficiências foram

sistematizadas por Howell (1967); Tosi e Carroll (1968); Levinson (1970); e Aplin Jr. e

Schoderbek (1976):

O tempo necessário para implementar o sistema é muito longo, segundo Howell

(1967, p.57) é de três anos;

O sistema privilegia os objetivos de curto prazo relativamente aos de médio e

longo prazo, o que pode comprometer o desenvolvimento da organização;

A conjugação das duas limitações anteriores origina objetivos que não incluem

a alteração das envolventes entretanto verificadas;

A incapacidade de discutir os problemas sentidos;

Ignorar o feedback, o que tem como consequência a não utilização plena do

potencial do sistema;

Page 15: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

15

Utilizar o feedback como ferramenta de pressão na mensuração futura dos

objetivos; e

Uma vez que a recompensa e a promoção estão associadas ao desempenho

coloca-se o problema da comparabilidade de diferentes tarefas.

Na opinião de Tosi, Rizzo e Carroll (1970), os dois maiores problemas do sistema são a

falta de um entendimento claro dos seus procedimentos e uma implementação

inadequada e irrefletida.

Com o objetivo de ultrapassar estas limitações, bem como as verificadas no PPBS,

desenvolveu-se o sistema de orçamentação de base zero.

4. O Sistema de Orçamentação de Base Zero

4.1. Introdução

O Orçamento de Base Zero (Zero-Base Budgeting – ZBB) é um sistema de

planeamento, programação, orçamentação e controlo que exige a justificação detalhada

de todas as rubricas orçamentadas como ponto de partida para a afetação de recursos

(Pyhrr, 1970 e 1976; Dirsmith & Jablonsky, 1979; e Sherlekar & Dean, 1980).

De acordo com Duffy (1989), o sistema desenvolve-se como uma alternativa aos

sistemas PPBS e MBO, propondo uma nova abordagem para o desenvolvimento do

planeamento, programação, orçamentação e controlo na organização.

Nos pontos seguintes abordamos as origens históricas do sistema, as suas principais

características, o seu processo de implementação e as principais limitações verificadas.

4.2. Contextualização Histórica

As origens conceptuais do ZBB, de acordo com Burrows e Syme (2000) surgem em

Inglaterra no século XIX. Estes autores referem Bastable em 1892 como o pioneiro nas

críticas à elaboração do orçamento com base incremental ou com base em estimativas.

A primeira referência escrita ao sistema é feita por Higgs em 1914 e o primeiro modelo

operacional é desenvolvido por Young em 1915.

As bases conceptuais do ZBB, tal como hoje as conhecemos, foram, inicialmente,

desenvolvidas e aplicadas na Texas Instruments a partir de 1960, muito Embora, o

conceito só fosse divulgado em 1970. A sua implementação generalizada ocorre entre

1975-1977 (Pyhrr, 1970 e 1976).

Page 16: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

16

4.3. Definição e Implementação

O sistema ZBB consiste em decompor a organização em unidades de decisão. Estas

unidades de decisão são hierarquizadas com base numa análise de custo/benefício

baseada na eficácia e na eficiência (Dirsmith & Jablonsky, 1979), que vai determinar a

afetação de recursos – processo orçamental (Pyhrr, 1970).

Definição das Unidades de Decisão

A unidade de decisão, segundo Pyhrr (1970 e 1976), deve ser definida de modo a

individualizar a análise e tomada de decisão. Se for do interesse da organização a

unidade de decisão pode ser subdividida em subunidades de análise que passam a ser

tratadas isoladamente, como se de unidades de decisão se tratassem. Uma unidade de

decisão deve obedecer às seguintes características:

Identificação e descrição da atividade;

Identificação dos recursos necessários para o desenvolvimento da atividade;

Identificação dos objetivos da atividade;

Identificação do impacto dos objetivos da atividade no objetivo principal da

organização;

Identificação das relações existentes com as restantes unidades de decisão; e

Identificação das consequências para a organização da não realização da

atividade.

São definidos dois tipos básicos de unidades de decisão: as mutuamente exclusivas e as

incrementais. As unidades mutuamente exclusivas identificam formas alternativas de

avaliação da performance para a mesma atividade. Deve ser selecionado para efeitos de

implementação do sistema a melhor das alternativas. As unidades incrementais devem

refletir diferentes níveis de custos/processo para cada uma das atividades. A unidade

base corresponde ao nível mínimo de custo por processo. Ao desenvolvimento do

processo corresponde um aumento incremental de custo relativamente ao nível base

(Pyhrr, 1970 e 1976).

Processo de Hierarquização

O processo de hierarquização deve ser definido pela gestão de topo e tem como objetivo

estabelecer a ordem de prioridade das funções descritas nas unidades de decisão e a

correspondente atribuição de recursos. Possibilita-se assim a análise entre o lucro

gerado em cada uma das unidades de decisão e o seu contributo individual para o lucro

Page 17: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

17

global da organização. Se a unidade de decisão não contribui para o lucro da

organização deve ser eliminada (Pyhrr, 1970 e 1976).

O orçamento definido para a organização é atribuído a cada uma das atividades com

base neste processo de hierarquização. Estabelecida a hierarquização das unidades de

decisão, o processo de implementação do ZBB exige a criação de uma equipa

pluridisciplinar responsável pela sua conceção e operacionalização. O processo segue,

de acordo com Pyhrr (1976), os seguintes passos:

Definir as necessidades da organização com base na sua cultura. Esta adequação

entre a cultura da organização e as suas necessidades é um fator crítico no

processo de implementação;

Elaborar o orçamento que caracterize as necessidades da análise orçamental de

base zero e os procedimentos efetuados para a hierarquização das unidades de

decisão;

Explicar aos gestores operacionais responsáveis pela operacionalização da base

zero as técnicas de análise necessárias à sua implementação;

Desenvolver com os gestores de cada uma das unidades de decisão o

aperfeiçoamento da análise de base zero;

Desenvolver com os diferentes níveis hierárquicos as medidas de revisão e de

hierarquização das unidades de decisão;

Desenvolver com os diferentes níveis hierárquicos a forma de comparação de

atividades similares nas diferentes unidades de decisão;

Desenvolver com os diferentes níveis hierárquicos a elaboração do plano de

proveitos de cada uma unidade de decisão; e

Avaliar o processo e efetuar as correções consideradas necessárias.

O sistema ZBB, na opinião de Duffy (1989), não interfere no estabelecimento dos

objetivos da organização, ao contrário do que se passa no PPBS e no MBO. Segundo

Schick e Hatry (1982) desenvolve e melhora o sistema de informação da organização.

Este desenvolvimento do sistema de informação vai ter como consequência a

diminuição da incerteza na tomada de decisão. Para Hayes e Cron (1988) o sistema

prevê a introdução de indicadores de eficiência não financeiros na avaliação da

performance. A avaliação da performance da organização passa a ser realizada a partir

do conhecimento dos custos de oportunidade de cada unidade de decisão, sendo, na

opinião de Sherlekar e Dean (1980), uma das maiores vantagens do sistema.

Page 18: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

18

Para Phyrr (1970), o sistema provoca, ainda, efeitos positivos a longo prazo que

decorrem do encerramento de unidades de decisão não lucrativas e segundo Hayes e

Cron (1988), este encerramento resulta do processo de análise e avaliação da

performance da organização. Finalmente, de acordo com Schick e Hatry (1982),

desenvolve o espírito de participação ao nível operacional de cada unidade de decisão,

pela participação de equipas pluridisciplinares no processo de implementação.

4.4. Limitações, Problemas e Deficiências

A principal limitação do sistema é a resistência das estruturas organizacionais à sua

adoção (Phyrr, 1970). Sobre esta limitação, Tyre (1977, p.96) refere que: “One major

problem is that some bureaucrats will see a threat in any attempt to evaluate their

program’s effectiveness”15

.

O tempo de preparação e elaboração do orçamento aumenta pelo acréscimo de

informação exigido pelo sistema, o que pode condicionar a sua aplicabilidade (Schick &

Hatry, 1982).

Para Dirsmith e Jablonsky (1979), o sistema ZBB como técnica de gestão apresenta

características incoerentes e inconsistentes, podendo portanto induzir decisões

inadequadas. A incoerência tem origem na preferência dos decisores por indicadores de

eficiência. A inconsistência verifica-se sempre que não for possível obter

correspondência e, portanto, comparabilidade, entre os diferentes níveis de atividade,

situação que se agrava à medida que se passa da análise operacional para a análise

institucional.

5. Conclusão

O objetivo deste trabalho consistiu em apresentar uma evolução histórica dos sistemas

de controlo de gestão aplicados no período de 1950 a 1980 e definido pela Management

Accounting Association como Management Accounting Period. Esta opção justificou a

abordagem aos sistemas de controlo selecionados. Embora se tenham identificado

outros sistemas no período temporal definido, estes não se enquadram no Management

Accounting Period.

Os sistemas de controlo de gestão abordados evoluíram como resposta às necessidades

de informação originadas pelo aumento da complexidade das envolventes internas e

15

Um dos principais problemas é que alguns burocratas vão sentir como ameaça qualquer tentativa de

avaliar a sua eficácia.

Page 19: Evolução Histórica dos Sistemas de Controlo de Gestão

19

externas e foram validados pelas aplicações desenvolvidas em organizações concretas, e

posteriormente sistematizados pelos estudiosos.

A evolução foi um processo contínuo, ou seja, o sistema seguinte evoluiu a partir do

sistema anterior como resposta às insuficiências detetadas. O objetivo foi melhorar a

eficiência da gestão através de um sistema planeado e deliberado e portanto reduzir ao

mínimo a diferença entre o previsto e o realizado.

No sistema PPBS este objetivo cumpre-se porque se tomam em consideração todos os

fatores que possibilitam a redução do número e da amplitude das diferenças, tendo em

conta a situação concreta da organização onde o sistema é implementado.

O sistema MBO passa a incluir nesses fatores a participação individual no processo

orçamental, o conhecimento prévio das medidas de avaliação utilizadas e os sistemas de

recompensas associadas. Sendo então de esperar um, ainda, melhor ajustamento.

A capacidade operacional é o terceiro atributo que deve caracterizar um sistema de

controlo. Nesse sentido, o sistema ZBB prevê a elaboração de orçamentos flexíveis,

medidas de performance multiobjectivo para os diferentes níveis orçamentais e

responsabilização nos métodos de definição do orçamento.

A adoção de um qualquer destes sistemas está, antes de mais, condicionada pelas

características e necessidades da organização.

A elaboração deste trabalho levantou um conjunto de questões a que não se deu resposta

e que podem ser objeto de investigações futuras: qual a justificação para a ordem

histórica de surgimento dos sistemas, quando afinal todos os fundamentos conceptuais

já existiam anteriormente; qual a evolução do conceito de controlo de gestão entre o

Management Accounting Period e a atualidade.

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