evolução histórica dos estilos em...
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O móvel renascentista mais característico foi o CASSONE :
arca pesada, pintada ou encerada, feita em nogueira e usada para guardar pertences. Servindo também de assento,
era forrado com tecido ou couro, podendo ou não ter pés (garra ou soco), além de espaldar constituído por uma
sucessão de molduras e brasões.
Cassones italianos
Pés em garra
Na Itália, surgiram versões regionais do estilo, conforme cada interpretação cultural:
Stile Fiorentino: mais refinado e nobre, com incrustações em pedras semipreciosas (Florença);
Stile Senese: notável pelos trabalhos em pintura e douração de móveis (Siena);
Stile Milanese: destacado pelos móveis gravados com detalhes em marfim (Milão);
Stile Veneziano: com marchetaria em diversas cores da madeira, além do cristal polido e pintado, por influência oriental (Veneza).
Venezia
Siena
Milano
Pés em soco
O QUATTROCENTO caracterizou-se pela maior
simplicidade nos contornos e detalhes, cuja ornamentação era leve, tornando-se mais elaborada com o tempo.
Os enfeites mais comuns eram as molduras, as
pilastras e as volutas, além de painéis com motivos florais delicadamente esculpidos ou
entalhados.
Volutas
Pilastras
Molduras
A CREDÊNCIA ou taquilhão (credenza) afirmou-se como
um aparador baixo, com portas e gavetas,
intermediário entre a arca e o armário, decorada com motivos arquitetônicos, relevos e incrustações.
Além da BIBLIOTECA (libreria), apareceu o armário para guardar
utensílios (buffet), também geométricos e pesados.
Credenze
Buffet Libreria
A cadeira mais comum era
a SAVONAROLA ou
dantesca (poltrona com tenalhas), que se
caracterizava pelos pés em X, que se prolongavam formando os braços, cujo nome derivou
do frei Girolamo Savonarola (1452-98).
Reapareceu o CURUL romano: uma banqueta com os pés entalhados em X, que sempre se apresentava com o assento em tecido brocado.
Curul
Savonarole
O CINQUECENTO caracterizou-se pelo aumento dos
elementos decorativos, ainda inspirados na Antiguidade Clássica, tais como o todo (medalhão circular, em geral
modelado em terracota), folhagens espiraladas de acanto, pilastras e cariátides (colunas em formato feminino).
Interior renascentista
Ornatos
Estuque
Todos
Os pátios renascentistas eram rodeados de arcadas,
estas revestidas de
AFRESCOS ou pinturas
decorativas, além de estuques coloridos.
Os motivos decorativos mais comuns eram os camafeus, as quimeras, os amores e os medalhões reunidos por
GRUTESCOS (grotteschi).
Grutescos
Interior renascentista
Villa Rotonda (Capra, agora Almerico)
(1550/54, Vicenza)
Villa Malcontenta (Foscari) (1559/60, Veneza)
Andrea Palladio (1508/80)
Villa Cornaro (1560, Treviso)
Andrea Palladio (1508-80)
Villa Emo (1568/74, Treviso)
RENASCIMENTO ITALIANO
Cassone
Credenza
Savanarola
Pés em garra
Renascença Ibérica
O mobiliário luso-espanhol foi muito influenciado pelos árabes, devido às invasões do século VIII ao XII, onde se destacaram os BARGUEÑOS, os assentos em couro e espaldares entalhados, além das mesas com pés e travessas grossas.
A Espanha demorou para aceitar a tendência renascentista na arquitetura de interiores do restante da Europa, produzindo o ESTILO
ISABELINO entre os séculos XV e XVI, que pode ser considerado um gótico tardio.
Desenvolvendo-se principalmente depois da
queda de Granada (1492) e
a expulsão dos mouros, o ESTILO ISABELINO
predominou na Espanha entre 1480 e 1510, caracterizando-se por decorações em relevo de ferro forjado ou perfurado, além do cordobán (apurado trabalho em couro, de origem
árabe).
Cordobán
Franjas
Poltrona Isabelina
Pés torneados
Cama renascentista com dossel
Além de arcas, bargueños e credências, apareceu o SILLÓN DE FRAILEROS (cadeira de frades): poltrona robusta e
aberta, leve e fácil de transportar, com assento e espaldar cobertos de couro fixado com grandes pregos decorativos e orlas franjadas, e cuja travessa tinha tremidos ou torcidos.
Sillones de fraileros
Isabel de Aragão (1470-98)
Credência
Silla
No século XVI, o uso excessivo de prata levou ao
ESTILO PLATERESCO (de platero; homem que trabalha com a prata),
caracterizado por móveis enriquecidos com detalhes em prata, vinda do Peru, pregos
de latão, marchetaria e painéis em relevo. Além da nogueira, usava-se também
castanheira, cedro e carvalho.
Bargueño
Sillones de fraileros
Credência
Seus motivos ornamentais eram figuras grotescas, bustos de
guerreiros ou damas; querubins, máscaras e folhagens.
Apesar do desenvolvimento de
novos tipos de móveis, a ARCA
continuou sendo a peça mais popular, em madeira entalhada
com detalhes em ferro; ou coberta com couro gravado,
reforçada nos ângulos com metal cinzelado.
Arcas platerescas
Credência plateresca
Em paralelo, Portugal
produziu o ESTILO MANUELINO, o qual se
desenvolveu do reinado de D. Manuel I (1495-1521)
ao de D. João IV (1640-1656), recebendo influências das culturas árabe, hindu, chinesa e indochinesa, a partir de quando se abriu
para o barroquismo.
Poltrona
Mesa
Interior manuelino
Considerado também um estilo
gótico tardio, o MANUELINO
floresceu em Portugal, entre 1495 e 1521, caracterizando-se
por temas marítimos inspirados nos descobrimentos.
Sua ornamentação era intensa e rendilhada, composta por objetos de navegação
(amarras de navio e correntes de âncora) e frutos do mar (feixes de algas e mastros cobertos de
corais).
Torre de Belém (1514/20, Portugal)
Mesas e cadeiras manuelinas
Os motivos manuelinos eram o Brasão de D.
Manuel I, a esfera armilar (instrumento náutico), a
Cruz da Ordem de Cristo (emblema da ordem militar que ajudou a financiar as
primeiras viagens) e a corda retorcida, além de ramos curvos e da exótica
folhagem enrugada, de inspiração hindu.
Pernas torneadas em torcidos
Chamado de ESTILO INDOPORTUGUÊS,
o Manuelino empregava colunetas inteiramente cobertas
com motivos de pérolas, conchas e espirais, sendo o
calcário macio o material mais usado, pois permitia um trabalho complexo no
rendilhado, especialmente em arcos e portais.
Contadores indoportugueses
Arca de pés em soco
RENASCIMENTO IBÉRICO
Pés em torcidos
Pés em tremidos
Sillones de fraileros
Bargueño
Contador
Baú
Arca
Bibliografia
BRUNT, A. Guia dos estilos do mobiliário. Lisboa: Presença, Col. Habitat, n. 32, 1993.
DUCHER, R. Características dos estilos. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
MALLALIEU, H. (Org.) História ilustrada das antiguidades. São Paulo: Nobel, 1999.
MONTENEGRO, R. Guia de história do mobiliário. Lisboa: Presença, 1995.
VALDÓS, A. M. El mueble clásico. México: Atrium International, 2001.
YATES, S. An encyclopedia of chairs. London: Grande Books, 1999.