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Evolução histórica dos efeitos pessoais do casamento

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DEVER DE COOPERAO

O quarto dever elencado pelo artigo 1672. precisamente o de Cooperao.

Importa neste mbito recordar que o Cdigo Civil na sua redao originria no consagrava o dever de cooperao. Aos cinco deveres enunciados atualmente no Cdigo Civil, no seguimento da redao dada pelo Decreto-Lei 496/77, de 25-11 correspondiam outrora apenas trs: os deveres de fidelidade, coabitao e assistncia. Contudo, mostrava-se este conjunto tecnicamente insuficiente, no abrangendo, a no ser mediante uma interpretao extremamente ampla, sem cabimento na letra da lei, determinadas violaes no seio da relao matrimonial.

O dever de cooperao tem a sua base legal no artigo 1674. CC, o qual estabelece que este dever importa para os cnjuges a obrigao de socorro e auxilio mtuos e a de assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes vida da famlia que fundaram. Este artigo decompe, assim, o dever de cooperao em duas obrigaes distintas que acabam por complementar-se: a obrigao de socorro e auxlio mtuos por um lado e a obrigao de os cnjuges assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes vida que instituram.

A primeira, a obrigao de socorro e auxilio mtuos corresponde a uma interveno ativa na vida do outro cnjuge, implicando deste modo uma imiscuio na esfera deste.

Os termos socorro e auxlio so muitas vezes utilizados no quotidiano como sinnimos, porm juridicamente estes assumem significados distintos. Enquanto que o primeiro incide sobre uma ajuda que visa superar situaes de anormal gravidade, de crise, ou emergncia do outro cnjuge, o segundo pressupe uma cooperao destinada a suprir e enfrentar as necessidades dirias.

Saliente-se todavia que esta obrigao no tem um carcter unicamente imaterial, de apoio psicolgico e defesa contra atos de terceiros, comportando igualmente uma vertente patrimonial, no sentido de colaborao na administrao dos bens prprios do outro cnjuge e a proteo dos mesmos quando estes se encontrem em risco (Teixeira de Sousa, Divrcio p. 41, seguindo os ensinamentos de Gernhuber/ Coester-Waltjen, Familienrecht pp. 145-146, 152-153)

Este dever, como os demais deveres conjugais imperativo, no podendo excluir-se convencionalmente. No entanto e como todas as demais obrigaes inseridas em deveres conjugais, a obrigao de socorro e auxlio mtuos est sujeita a limites. Estes limites no esto expressamente tipificados na lei enquanto tal, sendo concretizados atravs de concepes emergentes da doutrina e por decises jurisprudenciais. A ttulo de exemplo imagine-se a seguinte situao de um dos cnjuges sofrer uma alterao grave das faculdades mentais, durando esta mais de um ano. Tal situao pode constituir fundamento de um pedido de divrcio litigioso, como retratado no artigo 1781. al. b) CC.

A obrigao de assuno em conjunto das responsabilidades inerentes vida familiar refere-se a um domnio mais genrico da vida da famlia constituda, tendo, por conseguinte, como beneficirios alm do outro cnjuge, todo o coletivo familiar. Esta implica a cooperao no sustento, guarda e educao dos filhos provenientes de ambos os cnjuges, bem como o amparamento a outros familiares que estejam a cargo de um ou de outro cnjuge.

Desta definio ou concretizao da obrigao de assuno em conjunto das responsabilidades inerentes vida familiar ressaltam similitudes manifestas com a obrigao de contribuir para os encargos da vida familiar, afinidade esta explcita no artigo 1676., n.1, quando este prev a possibilidade do cumprimento do dever de contribuir para os encargos da vida familiar atravs da afetao dos recursos de ambos os cnjuges queles encargos e pelo trabalho despendido no lar ou na manuteno e educao dos filhos. Ora, tal semelhana tem despoletado crticas opo do legislador de autonomizar o dever de cooperao perante o dever de assistncia.Porm e at uma nova interveno legislativa que consagre uma soluo alternativa, deve o intrprete preocupar-se em obter resultados que evitem a sobreposio das duas obrigaes em causa, o que se justifica sobretudo por razes de diferenas de regime aplicveis a cada uma delas. A sobreposio evitvel tendo em conta que o artigo 1676., n.1 no obriga, ao invs do 1675. manuteno e educao dos filhos; indica sim, uma forma, entre outras, de satisfao do dever de contribuir para os encargos da vida familiar. a obrigao de assuno em conjunto das responsabilidades familiares, sem dvida, mais completa, vinculando os cnjuges a uma cooperao comum no s ao nvel relacional, mas tambm ao nvel patrimonial.

O DEVER DE ASSISTNCIA

O artigo 1672., por ltimo, refere o dever de assistncia, o qual corresponde a um dever estruturalmente patrimonial, envolvendo, assim, prestaes suscetveis de avaliao pecuniria. Este dever compreende duas obrigaes distintas que nunca vigoram em simultneo, nem se aplicam ao mesmo crculo de beneficirios do cumprimento : a de prestao de alimentos e a de contribuio para os encargos da vida familiar.

A obrigao de prestao de alimentos, a qual no pode cingir-se a uma interpretao literal, expandindo-se no apenas ao sustento, mas tambm habitao e vesturio do titular do direito, bem como tudo o mais que integre o nvel de vida correspondente condio econmica e social da respetiva famlia, tem a particularidade de apenas se autonomizar em face da segunda numa situao de ruptura, ou seja, quando os cnjuges vivem separados situao retratada nos artigos 1675. e no no 1676. -, de direito ou mesmo s de facto. Quando existe efetivamente uma vida e economia comum, o dever de prestao de alimentos toma a forma de dever de contribuio de para os encargos da vida familiar.Inversamente , verificando-se a ruptura da vida comum, no existe vida familiar, pelo que deixa de fazer sentido falar na obrigao de contribuir para os respetivos encargos, transmutando-se, por conseguinte, a obrigao de contribuir para os encargos da vida familiar numa obrigao de alimentos, obrigao esta que vincula automaticamente um cnjuge perante o outro. Pode de igual modo, quando verificados os pressupostos, converter-se aquela obrigao numa outra obrigao de alimentos autnoma, a qual j no ter como credor ou outro cnjuge, mas sim a outros familiares, nomeadamente os filhos importa porm notar que este fenmeno s tem lugar nos casos em que tenha sido instaurada a curadoria definitiva artigo 108. - e nos casos em que tenha sido decretada a separao de pessoas e bens artigo 1795.-A. No entanto no devemos cair no erro de enveredar por uma interpretao demasiado restritiva, delineando um contraste desmesurado entre ambas as obrigaes, j que a obrigao conjugal de prestar alimentos sub-roga-se de contribuio para os encargos da vida familiar, substituindo-a, to somente porque esta ltima no adequada a um vnculo matrimonial que j no se reflete numa comunho de vida. Verificamos pois que em termos prticos o que cinde ambas as obrigaes exclusivamente a ausncia de economia comum.

De resto a obrigao alimentar dos cnjuges aproxima-se do dever sub-rogado (como proposto no artigo 2015.).

Coloca-se neste ponto a questo de saber a quem incumbe a obrigao de prestao de alimentos, questo esta cuja resposta nos facultada pelo artigo 1675., o qual distingue duas hipteses. Veja-se, porm, que o legislador entendeu, segundo a formulao do presente artigo, que a obrigao de prestar alimentos na separao de facto no resulta de critrios exclusivamente econmicos; a culpa nas suas vrias acepes, assim como a imputabilidade dos cnjuges, figuram como condies determinantes desta obrigao.

Se a separao for imputvel igualmente a ambos os cnjuges ou no for imputvel a qualquer deles, de acordo com o artigo 1675., n.2, conserva-se a obrigao mtua de obrigao de alimentos. da maior relevancia prtica ressaltar que a primeira situao evidenciada (separao imputvel a ambos os cnjuges) no tem base legal na atual redao do Cdigo, devendo, como tal, esta lacuna ser integrada por recurso analogia.

J se a separao de facto for unicamente imputvel a um dos cnjuges, ou a ambos, a obrigao de alimentar s incumbe, em princpio, ao nico ou principal culpado, relevando aqui uma vez mais a medida da culpa (civil). Excecionalmente, por ponderaes de equidade pode o tribunal impor ao cnjuge inocente ou menos culpado a obrigao de prestar alimentos ao outro, considerando, particularmente, factores como a durao do matrimnio e a colaborao das partes para a economia do casal artigo 1675., n.3. Naturalmente, ao ru que cabe o nus da prova da culpa da separao, como facto impeditivo ou extintivo do direito a alimentos (regra constante do artigo 342., n,2 do Cdigo Civil).

No deixa todavia de pasmar esta regra consagrada neste n.3 do artigo 1675., num sistema como o Portugus, com a redao dada pela Lei n. 61/2008, de 31 de Outubro, que aboliu a culpa enquanto pressuposto de obteno do divrcio. No seguimento desta Lei no reconhecido aos Tribunais a capacidade para efetuar juzos culpabilizantes relativamente aos cnjuges, quando confrontados com situaes de divrcio, dado que so irrelevantes para a tomada de deciso. Assim sendo, atendendo ao disposto e com vista a assegurar a plena coerncia do sistema, entendemos que o artigo 1675., n.3 deve ser alvo de uma interpretao atualista, em consonncia com as alteraes geradas pela Lei 61/2008, optando-se pela desconsiderao da culpa.

OBRIGAO DE CONTRIBUIR PARA OS ENCARGOS DA VIDA FAMILIAR:

O dever de assistncia, tal como o artigo 1675. o define, compreende em segundo lugar, como j acima referimos, a contribuio de cada um dos cnjuges para os encargos da vida familiar, destinada a ocorrer a necessidades dos membros do agregado familiar de base conjugal que vivam em economia comum.

As necessidades, no entanto, no tm que restringir-se necessariamente aos cnjuges, alargando-se aos filhos e inclusive a outros parentes ou afins associados mesma economia domstica (Duarte Pinheiro, Jorge O Direito da Famlia Contemporneo, Lies 4. Edio, 2013, aafdl); incumbe-nos relevar o facto de que nem todas as necessidades se integraro no conceito de encargos da vida familiar, mas apenas aquelas que se adequam condio econmica e social de um determinado ncleo em concreto.

Ainda no que concerne ao objeto destes encargos, note-se que estes vo para alm das necessidades outrora entendidas como bsicas; nos tempos hodiernos este elenco no , de todo, taxativo, contemplando para alm das despesas com a habitao, a alimentao, o vesturio, a higiene, a sade e a educao dos filhos, tambm as necessidades de lazer, de recreio fsico e espiritual, de realizao e afirmao profissional e de expresso e aquisio espiritual (Ac. da RL 28/05/2002, processo n. 00110057) de cada um dos membros da famlia. Desta forma, parece inequvoca a concepo que considera que o nico tipo de encargos sem cabimento no dever conjugal de contribuio acaba por ser o daqueles que entram em coliso direta com a prpria ideia de vida em comum, materializando uma violao de outros deveres conjugais.

Pela forma como o n.1 do artigo 1676. se encontra redigido, podem inferir-se trs concluses basilares.

Em primeiro lugar que ambos os cnjuges so obrigados a concorrer para os encargos da vida familiar, no segundo um critrio de estrita igualdade, mas de acordo com o princpio mais equitativo da proporcionalidade sobre as suas possibilidades. Esta igualmente a soluo legislativa adotada noutras legislaes estrangeiras, nomeadamente no artigo 214. do Code Civil Francs, com a redao que lhe foi dada pela Lei de 13 de Julho de 1965, segundo o qual se as convenes matrimoniais no regularem a contribuio dos esposos para os encargos do casamento, eles contribuiro para o efeito em proporo das suas respetivas possibilidades.

Por outro lado, a contribuio proporcional exigida dos cnjuges abrange tanto os rendimentos (frutos do capital) como os proventos (ganhos do trabalho), se ambos eles (ou um deles pelo menos) exercerem qualquer atividade lucrativa remunerada;

Em terceiro lugar tomada em conta, na contabilizao da contribuio dos cnjuges, o trabalho por qualquer deles despendido, seja no lar ou nas atividades domsticas, seja na manuteno dos filhos.

Veja-se que que a formulao utilizada pelo legislador serve-se de uma conjuno copulativa e no disjuntiva pela afetao dos seus recursos queles encargos e pelo trabalho despendido no lar ou na manuteno e educao dos filhos. Receou o legislador que se ao invs dissesse que os cnjuges podiam cumprir este dever de uma forma ou da outra, a formulao legal pudesse sugerir que um dos cnjuges o cumprisse da primeira forma e ou outro da segunda, e tal traria discusso questes de retrocesso no mbito de concretizao e aplicao do Princpio da igualdade, nomeadamente a igualdade de gneros na relao matrimonial. Pelo contrrio, nesta formulao, cada um dos cnjuges pode pois cumprir a obrigao de contribuir para os encargos da vida familiar de uma das formas referidas no artigo 1676., n.1, da outra, ou de ambas (deixa-se tal cumprimento ao critrio das partes, desde que tal seja convencionado entre eles).

O acordo sobre a repartio de funes ou tarefas uma das mais importantes convenes sobre a orientao da vida em comum a que os cnjuges esto obrigados nos termos do artigo 1671., n.2. Trata-se na grande maioria dos casos de declaraes negociais, geralmente tcitas, o que no impossibilita, contudo que o acordo dos cnjuges seja revogado ou denunciado unilateralmente por qualquer deles; alis, um acordo, ainda que tcito, irrevogvel seria, de acordo com os princpios gerais do nosso estado de direito, nulo por coartar excessivamente os direitos pessoais dos cnjuges.

Daqui resulta que nem sempre fcil uma exata e precisa quantificao da prestao que d corpo ao dever de contribuio, embora nem sempre seja possvel evadir-se na prtica de o fazer, at porque muitas vezes essa mesma quantificao que permite dar corpo ao dever de contribuio, permitindo aferir se um cnjuge tem ou no um crdito sobre o outro, em situaes de partilha do casal ou antes se vigorar o regime da separao artigo 1676., n.3. ainda imprescindvel esta quantificao quando se tratam de situaes abrangidas pelo n. 4 do artigo 1676., e para apurar o valor da indemnizao que um terceiro tem de pagar ao cnjuge lesado pela diminuio ou perda da capacidade contributiva do outro exemplo patente nomeadamente nas aes de responsabilidade civil por acidentes de viao intentadas pelo cnjuge da vtima.

Conclumos, assim, que esta uma matria de difcil concretizao, onde predomina como caracterstico do Direito Civil, uma considervel autonomia da vontade das partes no que respeita fixao do modo de cumprimento do dever em estudo.

Na ausncia de acordo, rege plenamente a prescrio da contribuio proporcional, seguida da garantia legal estabelecida pelo artigo 1676., n.4, ou seja: a faculdade que dada a um cnjuge de obter judicialmente o cumprimento do dever de contribuio que incumbe ao outro. A consagrao expressa desta garantia, frustra assim a ideia durante muito tempo apologizada por certas fraes da doutrina do no intervencionismo judicial nas relaes conjugais, salvo em situaes de ruptura, tal como a de impassibilidade de execuo especfica dos deveres conjugais, inconcebvel quando estamos perante um dever conjugal, como o dever de assistncia, que se pode cumprir atravs da realizao de prestaes fungveis.

A anterior redao do n.2 do artigo 1676., dada pelo Decreto-Lei n. 497/77, de 25 de Novembro, consagrava para os casos em que a contribuio efetiva de um dos cnjuges para os encargos da vida familiar era notoriamente superior que lhe competiria, segundo o critrio legal da proporcionalidade dos meios, a presuno que ele renunciava ao direito de exigir do outro cnjuge a compensao devida. Tratava-se de uma presuno legal, iuris tantum, que o cnjuge lesado podia no entanto ilidir, alegando e provando que por vrias vezes reclamou do seu consorte a elevao da sua contribuio para tais encargos.

A Lei n. 61/2008, de 31 de Outubro, em vigor atualmente, introduziu uma alterao importante no regime do dever de assistncia, ao eliminar a presuno iuris tantum que anteriormente vigorava de renncia do cnjuge que contribui excessivamente para os encargos da vida familiar ao direito de exigir ao outro a correspondente compensao.

Hodiernamente caso a contribuio de um dos cnjuges seja notavelmente superior ao que devido, por ter renunciado excessivamente satisfao plena dos sues interesses em prol da vida em comum, destacadamente sua vida profissional, com prejuzos patrimoniais elevados, esse cnjuge tem o direito de exigir do outro a correspondente compensao. Este preceito visa, segundo as mais atuais concepes da doutrina, valorar ainda que implicitamente a relevncia do trabalho no lar, protegendo o cnjuge abdicante da vida profissional.

todavia neste ponto questionvel a opo do legislador pelo termo renunciou, podendo conduzir a interpretaes desconformes com o esprito do preceito, dado no abranger segundo uma interpretao literal o cnjuge que nunca exerceu qualquer profisso, impedindo-o de exigir qualquer compensao ao outro, quando exatamente esta a situao que mais se visa tutelar.

Por outro lado, como concretizar os diversos conceitos indeterminados que esta norma aporta? Como determinar em concreto quando se verifica uma renncia excessiva? Como determinar quando que a contribuio de um dos cnjuges foi consideravelmente superior do outro? Ou ainda o que so prejuzos patrimoniais importantes? Estes so conceitos carentes de uma concretizao suficientemente sustentada quer pela doutrina, quer pela jurisprudncia, que neste momento se aferem casuisticamente, tendo em linha de conta a real complexidade de cada caso, em consonncia, claro, com os princpios e normas orientadoras do Sistema.

NOME O APELIDO DOS CNJUGES

Os efeitos do casamento quanto ao nome patrocnio, ou seja, aos apelidos dos cnjuges esto regulados nos artigos 1677. a 1677. - C do Cdigo Civil.

A regra fundamental consagrada no artigo 1677., n.1, dispe que cada um dos cnjuges conserva os seus prprios apelidos, podendo no entanto acrescentar-lhes apelidos do outro, at ao mximo de dois.

Mantiveram-se assim as solues, tradicionais no nosso direito, contrariamente ao que sucede nos ordenamentos jurdicos alemo e italiano, de que o casamento no retira a qualquer dos cnjuges os seus apelidos de solteiro, e de que, por outro lado, nenhum deles tem a obrigao de adicionar apelidos do outro cnjuge aos seus apelidos originrios, podendo, inclusive, renunciar em qualquer momento aos apelidos adotados.

Assim, no ordenamento portugus, modificao do nome derivada do casamento constitui uma simples faculdade e no um dever, faculdade esta sujeita ao princpio da igualdade, vertido nos artigos 13. e 36. da Constituio da Repblica Portuguesa, podendo ser exercida por qualquer um dos cnjuges e no apenas pelo cnjuge mulher. Este entendimento teve como base a Reforma de 1977, inovadora face a outros ordenamentos jurdicos de matriz romano-germnica.

Se na ocasio do casamento qualquer dos cnjuges usar da faculdade concedida pelo artigo 1677., a indicao dos apelidos adotados deve ficar a constar do respetivo assento, conforme determina o artigo 167., n.1 al. h), Cdigo do Registo Civil, no que concerne ao casamento catlico; na situao de o casamento ser civil, no estabelece o artigo 181. do mesmo cdigo a indicao dos apelidos adotados por qualquer dos nubentes entre os elementos que o assento deve conter, no entanto, o n.2 do mesmo artigo dispe que a assinatura dos nubentes poder incluir os apelidos adotados.

Porm, esta faculdade que a lei atribui aos cnjuges no pode ser exercida em simultneo por ambos; alis a razo de ser da consagrao de tal faculdade implica o exerccio apenas por um dos cnjuges, sendo inslito o resultado que se obteria face a uma soluo inversa. Destarte, devem as partes indicar consensualmente qual das duas optar por exercer esta faculdade, pelo que contrrio, na falta deste, no haver qualquer alterao do nome.

Repare-se que esta faculdade constitui uma exceo ao princpio da imutabilidade do nome fixado no assento de nascimento consagrado no artigo 104., n.1 do Cdigo do Registo Predial, o qual se coaduna com o vertido no artigo 1677., n.2. Esta exceo ao princpio da imutabilidade justifica-se por ser til a existncia de uma marca distintiva comum a todos os membros da mesma famlia; mais, luz do princpio da imutabilidade do nome, a derrogao a este princpio s pode admitir-se quando confrontado com o valor da integrao na famlia. Deste modo, no nos parece legtima ou sequer de acordo com a teleologia da norma e do sistema, uma interpretao literal do artigo 1677., no sentido de permitir que um ou os dois cnjuges alterem os seus nomes, sem tal origine um elemento identificador comum.

Contudo, podem os cnjuges, se quiserem os dois exercer a faculdade que o artigo 1677. lhes confere, acrescentar um o apelido ou os apelidos do outro no fim do seu nome e o outro intercalar no nome, antes dos seus prprios apelidos, o apelido ou os apelidos do outro cnjuge. Nem o artigo 1677. bane semelhante possibilidade, uma vez que acrescentar tanto significa juntar no fim, como no meio, intercalar. Esta opo no porm aceite pacificamente na doutrina e na prtica administrativa portuguesa, sendo rejeitada nomeadamente pelo Professor Doutor Jorge Duarte Pinheiro, cuja linha de argumentao assenta no facto de a tese da intercalao acarretar uma modificao estrutural do nome fixado no assento de nascimento e, portanto, uma mudana demasiado profunda para ser reconhecida (Cf. Pinheiro Duarte, Jorge O Direito da Famlia Contemporneo, Lies, 4. Edio, aafdl, Lisboa, 2013, pp. 484)

O cnjuge que tenha adotado apelidos do outro conserva-os em caso de viuvez e, se o declarar expressamente at celebrao de novo matrimnio, inclusive depois de segundas npcias, como vertido no artigo 1677. - A, no podendo neste caso, no entanto, acrescentar apelidos do segundo cnjuge 1677., n.2. Inversamente, se contrair segundas npcias e no fizer a suprarreferida declarao at dar em que as contrair, o vivo ou viva perde os apelidos do primeiro cnjuge, que tenha adotado, habilitando-se ento a acrescentar apelidos do segundo cnjuge aos seus, nos termos gerais do 1677., n.1.

O caso de separao judicial de pessoas e bens est previsto na 1. parte do n.1 do artigo 1677. - B, o qual dispe que, decretada a separao, e tal como no caso de viuvez, cada um dos cnjuges conserva os apelidos do outro que porventura tenha adotado. Nada o impede, ainda assim, de renunciar aos apelidos do outro cnjuge, nos termos gerais do artigo 104., n.2 al. d) do Cdigo do Registo Civil.

Regime diferente aplicado ao caso de divrcio, em que, em princpio, cada um dos cnjuges perde os apelidos do outro que tenha adoptado, nos termos do artigo 1677. - B, n.1, 2. parte*. Pode ainda neste caso conserv-los se o ex- cnjuge der o seu consentimento, por algum dos meios previstos no n.2 do mesmo preceito, ou de igual modo no caso de ser concedida autorizao face aos motivos invocados pelo cnjuge que os pretende manter. *ACORDAO REL. COIMBRA de 3.4.2001 decidiu que no assiste ao filho quando a me tenha perdido com o divrcio o apelido do pai, o direito de alterar o seu assento de nascimento, eliminando o apelido do pai do nome da me, mas a soluo oferece algumas dvidas.

Advirta-se, por fim, que, falecido um dos cnjuges ou decretada a separao de pessoas e de bens ou o divrcio, o cnjuge que conserve apelidos do outro pode vir a ser privado do direito de os usar quando esse uso lese gravemente os interesses morais do outro cnjuge ou da sua famlia, conforme consagra o artigo 1677. - C, n.1).

CASAMENTO, NACIONALIDADE, ENTRADA E PERMANNCIA NO TERRITRIO PORTUGUS

A nacionalidade portuguesa no se adquire nem se perde por mero facto da celebrao do casamento.

No que se refere aos efeitos do casamento sobre a nacionalidade dos cnjuges, h que ter em linha de conta, principalmente, o estatudo nos artigos 3. e 8. da Lei da Nacionalidade (aprovada pela Lei n. 37/81 de 3 de Outubro), complementada pelo Regulamento da Nacionalidade Portuguesa (aprovado pelo DL n. 237-A/2006, de 14 de Dezembro).

Prev esta lei que o estrangeiro casado h mais de trs anos com nacional portugus, pode adquirir a nacionalidade portuguesa, atravs de declarao feita na constncia do matrimnio (artigo 3., n.1). Em regra, deve a declarao ser instruda com certido do assento de casamento, bem como com certido do assento de nascimento do cnjuge de nacionalidade portuguesa (artigo 14., n.3 do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa). todavia de salientar que este perodo de trs anos como requisito mnimo de durao do matrimnio resultou do aditamento introduzido pela Lei n. 25/94 de 19 de Agosto, a qual alterou o regime da anterior Lei n. 37/81. A determinao deste tempo mnimo de durao visou essencialmente diminuir ou pelo menos desincentivar os casamentos levados a cabo com o nico objetivo de aquisio da nacionalidade portuguesa, evitando assim a simulao absoluta.

Por outro lado, o portugus que contraia matrimnio com nacional de outro Estado, no perde por esse facto a nacionalidade portuguesa, excetuando-se os casos em que, sendo tambm nacional de outro Estado, declarar expressamente que no quer ser portugus, conforme expressa o artigo 8. da Lei da Nacionalidade. Note-se que tal como antes verificamos em situaes anlogas, tambm aqui a declarao deve ser instruda com documento comprovativo da nacionalidade estrangeira do interessado (artigo 30., n.3 do Regulamento da Nacionalidade).

Quanto entrada e permanncia em territrio nacional de estrangeiro casado rege a Lei n. 37/2006, de 9 de Agosto, caso o respetivo cnjuge seja cidado da Unio, entendendo-se como tal o cidado nacional de Portugal, de outro Estado da Unio Europeia, da Sua ou de Estado parte no Acordo sobre o Espao Econmico Europeu.

J se o respetivo cnjuge no for cidado da Unio, a entrada e permanncia em territrio nacional de estrangeiro casado so reguladas pela Lei n. 23/2007, de 4 de Julho. Nos artigos 98. a 108. da referida Lei, disciplinada a autorizao de residncia para reagrupamento familiar com o cnjuge, sendo que este direito conferido destacadamente ao estrangeiro com autorizao de residncia vlida no territrio nacional, que com ele tenha vivido noutro pas, que dele dependa economicamente ou que com ele coabite.