evolução do princípio da igualdade em portugal

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ACÓRDÃO N.º 396/2011 Não cabe, evidentemente, ao Tribunal Constitucional intrometer-se nesse debate, apreciando a maior ou menor bondade, deste ponto de vista, das medidas implementadas. O que lhe compete é ajuizar se as soluções impugnadas são arbitrárias, por sobrecarregarem gratuita e injustificadamente uma certa categoria de cidadãos. Não pode afirmar-se que tal seja o caso. O não prescindir-se de uma redução de vencimentos, no quadro de distintas medidas articuladas de consolidação orçamental, que incluem também aumentos fiscais e outros cortes de despesas públicas, apoia- se numa racionalidade coerente com uma estratégia de atuação cuja definição cabe ainda dentro da margem de livre conformação política do legislador. Intentando-se, até por força de compromissos com instâncias europeias e internacionais, conseguir resultados a curto prazo, foi entendido que, pelo lado da despesa, só a diminuição de vencimentos garantia eficácia certa e imediata, sendo, nessa medida, indispensável. Não havendo razões de evidência em sentido contrário, e dentro de “limites do sacrifício”, que a transitoriedade e os montantes das reduções ainda salvaguardam, é de aceitar que essa seja uma forma legítima e necessária, dentro do contexto vigente, de reduzir o peso da despesa do Estado, com a finalidade de reequilíbrio orçamental. Em vista deste fim, quem recebe por verbas públicas não está em posição de igualdade com os restantes cidadãos, pelo que o sacrifício adicional que é exigido a essa categoria de pessoas – vinculada que ela está, é oportuno lembrá-lo, à prossecução do interesse público - não consubstancia um tratamento injustificadamente desigual. ACÓRDÃO N.º 353/2012 Requerentes, além de outros argumentos, invocam que as normas questionadas violam o princípio da igualdade consagrado no artigo 13.º da Constituição, na sua dimensão de “igualdade perante a repartição de encargos públicos” . Alegam que a medida imposta pelas normas impugnadas se traduz numa dualidade de tratamento, ao estabelecer uma distinção entre cidadãos a quem os sacrifícios são exigidos pelo Estado essencialmente através dos impostos e outros cidadãos a

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Direito, Principio da Igualdade, Jurisprudência do Tribunal Constitucional,

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ACRDO N. 396/2011

No cabe, evidentemente, ao Tribunal Constitucional intrometer-se nesse debate, apreciando a maior ou menor bondade, deste ponto de vista, das medidas implementadas. O que lhe compete ajuizar se as solues impugnadas so arbitrrias, por sobrecarregarem gratuita e injustificadamente uma certa categoria de cidados.

No pode afirmar-se que tal seja o caso. O no prescindir-se de uma reduo de vencimentos, no quadro de distintas medidas articuladas de consolidao oramental, que incluem tambm aumentos fiscais e outros cortes de despesas pblicas, apoia-se numa racionalidade coerente com uma estratgia de atuao cuja definio cabe ainda dentro da margem de livre conformao poltica do legislador. Intentando-se, at por fora de compromissos com instncias europeias e internacionais, conseguir resultados a curto prazo, foi entendido que, pelo lado da despesa, s a diminuio de vencimentos garantia eficcia certa e imediata, sendo, nessa medida, indispensvel. No havendo razes de evidncia em sentido contrrio, e dentro de limites do sacrifcio, que a transitoriedade e os montantes das redues ainda salvaguardam, de aceitar que essa seja uma forma legtima e necessria, dentro do contexto vigente, de reduzir o peso da despesa do Estado, com a finalidade de reequilbrio oramental. Em vista deste fim, quem recebe por verbas pblicas no est em posio de igualdade com os restantes cidados, pelo que o sacrifcio adicional que exigido a essa categoria de pessoas vinculada que ela est, oportuno lembr-lo, prossecuo do interesse pblico - no consubstancia um tratamento injustificadamente desigual.

ACRDO N. 353/2012

Requerentes, alm de outros argumentos, invocam que as normas questionadas violam o princpio da igualdade consagrado no artigo 13. da Constituio, na sua dimenso deigualdade perante a repartio de encargos pblicos. Alegam que a medida imposta pelas normas impugnadas se traduz numa dualidade de tratamento, ao estabelecer uma distino entre cidados a quem os sacrifcios so exigidos pelo Estado essencialmente atravs dos impostos e outros cidados a quem os sacrifcios so exigidos no s por essa via, mas tambm, e cumulativamente, atravs da ablao de partes significativas dos seus direitos retribuio e penso de reforma e aposentao.

indiscutvel que, com as medidas constantes das normas impugnadas, a repartio de sacrifcios, visando a reduo do dfice pblico, no se faz de igual forma entre todos os cidados, na proporo das suas capacidades financeiras, uma vez que elas no tm um cariz universal, recaindo exclusivamente sobre as pessoas que auferem remuneraes e penses por verbas pblicas. H, pois, um esforo adicional, em prol da comunidade, que pedido exclusivamente a algumas categorias de cidados.Em vista deste fim, quem recebe por verbas pblicas no est em posio de igualdade com os restantes cidados, pelo que o sacrifcio adicional que exigido a essa categoria de pessoas vinculada que ela est, oportuno lembr-lo, prossecuo do interesse pblico - no consubstancia um tratamento injustificadamente desigual.Entendeu-se que o recurso a uma medida como a reduo dos rendimentos de quem aufere por verbas pblicas como meio de rapidamente diminuir o dfice pblico, em excecionais circunstncias econmico-financeiras, apesar de se traduzir num tratamento desigual, relativamente a quem aufere rendimentos provenientes dosetorprivado da economia, tinha justificaes que a subtraam censura do princpio da igualdade na repartio dos encargos pblicos, uma vez que essa reduo ainda se continha dentro dos limites do sacrifcio. inegvel que noatualcontexto uma medida deste tipo tem, desde logo, uma razo justificativa que a suae ficcianos resultados a curto prazo, ao nvel da reduo do dfice pblico, sendo certo que, de momento, na situao em que o pas se encontra e tendo em conta os compromissos internacionais assumidos, essa reduo do dfice se apresenta como umobjetivoprioritrio de poltica econmica e financeira. ORelatrio do Oramento de Estadopara 2012 acrescenta ainda que"no [] igual a situao de quem tem uma relao de emprego pblico e os outros trabalhadores"e invoca essencialmente duas razes: os trabalhadores do Estado e outras entidades pblicas beneficiam em mdia de retribuies superiores s dosetorprivado e tm uma maior garantia de subsistncia do vnculo laboral.()Alm disso, uma comparao tendo como critrio a simples mdia do valor dos rendimentos auferidos nos doissetores, seria sempre insuficiente para justificar uma discriminao nos cortes dos rendimentos concretamente auferidos por cada um dosafetados..Em qualquer destes planos, o que releva considerar que a suspenso dos subsdios de frias e de Natal afecta individualmente os trabalhadores do sector pblico em funo do respectivo nvel remuneratrio, sendo indiferente, do ponto de vista da onerosidade da medida, que as remuneraes globalmente consideradas na Administrao Pblica sejam superiores s que so auferidas pelos trabalhadores do sector privado ou que estes se encontrem em situao mais desfavorvel no que se refere garantia de empregabilidade.Subsiste, pois, como razo justificativa para o tratamento diferenciado dos que auferem remuneraes e penses do Oramento do Estado apenas a eficcia das medidasadotadasna obteno de um resultado de inegvel e relevante interesse pblico.Na verdade, defensvel que a opo tomada se revela particularmente eficaz, pela sua certeza e rapidez na produo de efeitos, numaperspetivade reduo do dfice a curto prazo, pelo que ela se mostracoerente com uma estratgia deatuao, cuja definio cabe dentro da margem de livre conformao poltica do legislador.Nestes termos, poder concluir-se que certamente admissvel alguma diferenciao entre quem recebe por verbas pblicas e quem atua nosetorprivado da economia, no se podendo considerar, noatualcontexto econmico e financeiro, injustificadamente discriminatria qualquer medida de reduo dos rendimentos dirigida apenas aos primeiros.Mas, obviamente, a liberdade do legislador recorrer ao corte das remuneraes e penses das pessoas que auferem por verbas pblicas, na mira de alcanar um equilbrio oramental, mesmo num quadro de uma grave crise econmico-financeira, no pode ser ilimitada. A diferena do grau de sacrifcio para aqueles que so atingidos por esta medida e para os que no o so no pode deixar de ter limites.Na verdade, a igualdade jurdica sempre uma igualdade proporcional, pelo que a desigualdade justificada pela diferena de situaes no est imune a um juzo de proporcionalidade. A dimenso da desigualdade do tratamento tem que ser proporcionada s razes que justificam esse tratamento desigual, no podendo revelar-se excessiva.Como se pode ler nos acrdos n. 39/88 e 96/05, desteTribunal (acessveis em tribunalconstitucional.pt): A igualdade no , porm igualitarismo. antes igualdade proporcional. Exige que se tratem por igual as situaes substancialmente iguais e que, a situaes substancialmente desiguais se d tratamento desigual, mas proporcionado.Isto significa que temos de verificar se os quantitativos cujo pagamento suspenso pelo disposto nos artigos 21. e 25., da Lei n. 64-B/2011, de 30 dedezembro(Oramento de Estado para 2012), num "critrio de evidncia" no controlo da igualdade proporcional, no so excessivamente diferenciadores, face s razes que se admitiram como justificativas de uma reduo de rendimentos apenas dirigida aos cidados que os auferem por verbas pblicas.A diferena de tratamento de tal modo acentuada e significativa que as razes de eficcia da medidaadotadana prossecuo doobjetivoda reduo do dfice pblico para os valores apontados nos memorandos de entendimento no tem uma valia suficiente para justificar a dimenso de tal diferena, tanto mais que poderia configurar-se o recurso a solues alternativas para a diminuio do dfice, quer pelo lado da despesa (v.g., as medidas que constam dos referidos memorandos de entendimento), quer pelo lado da receita (v.g. atravs de medidas de carcter mais abrangente e efeito equivalente reduo de rendimentos). As referidas solues, podendo revelar-se suficientemente eficientes do ponto de vista da realizao do interesse pblico, permitiriam um desagravamento da situao daqueles outros contribuintes que auferem remuneraes ou prestaes sociais pagas por verbas pblicas.Da que seja evidente que o diferente tratamento imposto a quem aufere remuneraes e penses por verbas pblicas ultrapassa os limites da proibio do excesso em termos de igualdade proporcional.Apesar de se reconhecer que estamos numa gravssima situao econmico-financeira, em que o cumprimento das metas do dfice pblico estabelecidas nos referidos memorandos de entendimento importante para garantir a manuteno do financiamento do Estado, taisobjetivosdevem ser alcanados atravs de medidas de diminuio de despesa e/ou de aumento da receita que no se traduzam numa repartio de sacrifcios excessivamente diferenciada.Alis, quanto maior o grau de sacrifcio imposto aos cidados para satisfao de interesses pblicos, maiores so as exigncias de equidade e justia na repartio desses sacrifcios.

ACRDO N. 187/2013

3. Princpio da igualdade33. De acordo com o sentido reiterado e uniforme da jurisprudncia deste Tribunal, s podem ser censuradas, com fundamento em leso do princpio da igualdade, as escolhas de regime feitas pelo legislador ordinrio naqueles casos em que se prove que delas resultam diferenas de tratamento entre as pessoas que no encontrem justificao em fundamentos razoveis, percetveis ou inteligveis, tendo em conta os fins constitucionais que, com a medida da diferena, se prosseguem (acrdo n. 47/2010).Sob tal perspetiva, a questo suscitada pela norma constante do artigo 29. da Lei n. 66-B/2012, a de saber se a manuteno da reduo da remunerao mensal base, associada suspenso do pagamento do subsdio de frias ou equivalente e ambas conjugadas com a manuteno das outras medidas de conteno remuneratria como a proibio de valorizaes para trabalhadores do setor pblico, correspondem a um tratamento proporcionalmente diferenciador do segmento atingido perante o princpio da igualdade consagrado no artigo 13. da Constituio, na sua dimenso de igualdade perante a repartio de encargos pblicos.Mais concretamente, tratar-se- de saber se a medida da diferena constitucionalmente tolerada se esgotou na reduo remuneratria temporria determinada pela Lein. 55-A/2010 e subsequentemente reiterada,ou, apesar de ultrapassada j, no contexto da Lei do Oramento de Estado para 2012, pela associao quela da suspenso do pagamento dos dois subsdios (cfr. o acrdo n. 353/2012), ainda respeitada, pela Lei do Oramento do Estado para 2013, pela cumulao daquela reduo com a suspenso do pagamento de um dos subsdios.A igualdade proporcional s afervel no contexto, pelo que h que atender ao conjunto diversificado de medidas, teleologicamente unificadas, que acompanham as de manuteno das redues da remunerao mensal base e de suspenso total ou parcial de um dos dois subsdios. Para alm do diferente enquadramento normativo, h que atender situao atual das finanas pblicas e evoluo que ela sofreu desde as primeiras medidas de austeridade. Todavia, se muda o objeto de valorao, da no se segue que deva mudar o critrio de apreciao que o Tribunal ento enunciou e aplicou. Esse critrio conserva plena validade, apenas podendo eventualmente ser outro o resultado da sua aplicao, em face da no coincidncia do alcance das redues remuneratrias, atentos o seu teor e o contexto, normativo e factual, em que se inserem.Tal critrio diz respeito, num primeiro momento, existncia de um fundamento para a prpria opo de diferenciar e, num segundo momento, medida em foi decidido concretizar tal diferenciao.()OTribunal considerou subsistir, comorazo justificativa para o tratamento diferenciado dos que auferem remuneraes e penses do Oramento do Estado, apenas a eficcia das medidas adotadas na obteno de um resultado de inegvel e relevante interesse pblico.35. Tambm quanto caracterizao do fundamento com base no qual possvel excluir o carter arbitrrio da opo que, quanto repartio dos encargos pblicos em contextos de emergncia financeira, aponte para a considerao diferenciada da posio daqueles que auferem rendimentos pagos por verbas pblicas no h razes para divergir do juzo seguido nos acrdos n.s 396/2011 e 353/2012.Numa conjuntura de progressiva acentuao do dfice das contas pblicas e da consequente dificuldade de obteno, em condies sustentveis, de meios normais de financiamento, houve que proceder a um esforo de correo do desequilbrio oramental para o qual, enquanto titular do poder poltico soberano, o Estado foi convocado. Neste complexo campo de ponderao, no patentemente desrazovel que o legislador tenha atribudo s despesas com as remuneraes dos trabalhadores com funes pblicas um particularismo suficientemente distintivo e relevante para justificar um tratamento legal diverso do concedido a situaes equiparveis (sob outros pontos de vista). Ora, uma interveno com um alcance redutor (apenas) das remuneraes dos que so pagos por verbas pblicas no , face ao que ficou dito, em si mesma, arbitrria.36. A concluso de que reduo salarial concretizada na norma constante do artigo 29. da Lei n. 66-B/2012 subjaz um critrio ponderativo racionalmente credencivel no todavia, suficiente para assegurar a respetiva validade constitucional.Desde logo porque o princpio da igualdade exige que, a par da existncia de um fundamento material para a opo de diferenciar, o tratamento diferenciado assim imposto seja proporcionado. Se o princpio da igualdade permite (ou at requer, em certos termos) que o desigual seja desigualmente tratado, simultaneamente impe que no seja desrespeitada a medida da diferena. Ainda queo critrio subjacente diferenciao introduzida seja, em si mesmo, constitucionalmente credenciado e racionalmente no infundado, adesigualdade justificada pela diferenciao de situaes nem por isso se tornar imune a um juzo de proporcionalidade (acrdo n. 353/2012).A desigualdade do tratamento dever, quanto medida em que surge imposta, ser proporcional, quer s razes que justificam o tratamento desigual no poder ser excessiva, do ponto de vista do desgnio prosseguido , quer medida da diferena verificada existir entre o grupo dos destinatrios da norma diferenciadora e o grupo daqueles que so excludos dos seus efeitos ou mbito de aplicao.

Da a concluso de que o diferente tratamento imposto a quem aufere remuneraes e penses por verbas pblicas ultrapassa os limites da proibio do excesso em termos de igualdade proporcional.42. Por outro lado, a medida de suspenso do subsdio de frias, cumulada com as redues salariais que provm j do exerccio oramental de 2011, que incidem sobre os trabalhadores do setor pblico, a par de um forte agravamento fiscal aplicvel generalizadamente aos rendimentos do trabalho, no pode encontrar justificao suficiente no princpio da vinculao ao interesse pblico.A imposio de sacrifcios mais intensos aos trabalhadores que exercem funes pblicas no pode ser justificada por fatores macroeconmicos relacionados com a recesso econmica e o aumento do desemprego, que tero de ser solucionados por medidas de poltica econmica e financeira de carter geral, e no por via de uma maior penalizao dos trabalhadores que, no plano da empregabilidade, no suportam, ou no suportam em idntico grau, os efeitos recessivos da conjuntura econmica.O Tribunal decidiu j, atravs dos falados acrdos n.s 396/2011 e 353/2012, que admissvel efetuar alguma diferenciao entre os trabalhadores do setor pblico e os do setor privado, apenas pelo facto de aqueles serem remunerados por verbas pblicas. No excluindo que o legislador, em excecionais circunstncias econmico-financeiras, e como meio de rapidamente diminuir o dfice pblico, possa recorrer a uma medida de reduo dos rendimentos de trabalhadores da Administrao Pblica, ainda que essa medida se traduza num tratamento desigual, relativamente a quem aufere rendimentos provenientes do setor privado da economia, por considerar que h ainda a uma justificao que afasta a eventual violao do princpio da igualdade na repartio dos encargos pblicos.Na ltima dessas decises, o Tribunal considerou, porm, que os efeitos cumulativos e continuados dos sacrifcios impostos s pessoas com remuneraes do setor pblico, sem equivalente para a generalidade dos outros cidados que auferem rendimentos provenientes de outras fontes, corresponde a uma diferena de tratamento que no encontra j fundamento bastante no objetivo da reduo do dfice pblico. E implica por isso uma violao do princpio da igualdade proporcional, assente na ideia de que a desigualdade justificada pela diferena de situaes no est imune a um juzo de proporcionalidade e no pode revelar-se excessiva.No h motivo agora para alterar este juzo.A concorrncia de medidas de incidncia geral um dado de certo modo ambivalente, que no releva para a formulao de um juzo de igualdade proporcional. Persistindo uma diferena de tratamento, o aumento da carga fiscal idntico para todos os contribuintes, No s porque o tratamento diferenciado dos trabalhadores do setor pblico no pode continuar a justificar-se atravs do carter mais eficaz das medidas de reduo salarial, em detrimento de outras alternativas possveis de conteno de custos, como tambm porque a sua vinculao ao interesse pblico no pode servir de fundamento para a imposio continuada de sacrifcios a esses trabalhadores mediante a reduo unilateral de salrios, nem como parmetro valorativo do princpio da igualdade por comparao com os trabalhadores do setor privado ou outros titulares de rendimento. E ainda porque a penalizao de certa categoria de pessoas, por efeito conjugado da diminuio de salrios e do aumento generalizado da carga fiscal, pe em causa os princpios da igualdade perante os encargos pblicos e da justia tributria.

Existe um fim de interesse pblico que exclui a arbitrariedade da diferenciao a reduo de salrios a quem aufere verbas pblicas um modo de reduzir a despesa pblica. H fundamento para a diferenciao operada pelo legislador.Isto seria suficiente para fundamentar, numa verso fraca do princpio da igualdade a constitucionalidade da medida.No entanto, o Tribunal considera que necessrio para alm de um fundamento material para a opo diferenciadora, o tratamento diferenciado tem de submeter-se a um juzo de proporcionalidade i.e se necessrio, adequado e no excessivo do ponto de vista que pretende acautelar.