evoluÇÃo das polÍticas pÚblicas para a … · de soja na região centro-oeste do país e a...

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Informações Econômicas, SP, v.40, n.10, out. 2010. EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGROPECUÁRIA BRASILEIRA: uma análise da expansão da soja na região Centro-Oeste e os entraves de sua infraestrutura de transportes 1 Vivian Helena Capacle Correa 2 Pedro Ramos 3 1 - INTRODUÇÃO 1 2 3 O agronegócio brasileiro é uma das mais importantes fontes geradoras de riquezas para o País e nele destaca-se a cultura da soja cuja produção se consolidou na região Centro- -Oeste. Impulsionada pela forte atuação do Estado na condução das políticas setoriais para a agricultura, nos anos 1970, a região Centro- Oeste se constituiu em um exemplo típico de região de fronteira, consolidando uma moderna produção agroindustrial. Entretanto, a peculiaridade da econo- mia brasileira, dos anos recentes, de deterioração das finanças públicas, reduziu, substancialmente, os investimentos públicos em várias áreas da atividade econômica com destaque para os seto- res de infra-estrutura, como o de telecomunica- ções, o de energia elétrica e o de transportes. Nesse contexto, a produção de soja do Centro-Oeste foi penalizada pela escassez de investimentos no desenvolvimento de uma infra- estrutura de transportes adequada ao escoamen- to da produção, e as perdas que a produção enfrenta são resultados da precariedade logística na região. O objetivo deste trabalho é apresentar a 1 Os resultados deste trabalho fazem parte da dissertação da primeira autora, apresentada ao Instituto de Economia, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), para o título de Mestre em desenvolvimento econômico em 2007. Este trabalho foi apresentado na VI Jornadas Interdisciplina- rias de Estudios Agrarios y Agroindustriales, que ocorreu na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Bue- nos Aires, em novembro de 2009. Os autores agradecem o apoio da CAPES. Registrado no CCTC, IE-66-2010. 2 Administradora, Mestre, Instituto de Economia da UNI- CAMP (e-mail: [email protected]). 3 Economista, Professor Doutor, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (e-mail: [email protected]). expansão da produção de soja para a região de fronteira agrícola, região Centro-Oeste, que foi incentivada pela atuação forte do Estado brasileiro na economia. Mesmo com a crise fiscal do Estado, a partir dos anos 1980, essa produção se consoli- dou na região e não foi acompanhada por uma adequada infra-estrutura de transportes para o escoamento dessa produção. A metodologia utilizada para a elabora- ção deste trabalho foi de revisão bibliográfica de trabalhos que retratam a expansão da produção de soja na região Centro-Oeste do País e a crise fiscal do Estado. Foram utilizados dados secun- dários sobre a expansão da soja no País e sobre as perdas da produção no momento do escoa- mento, além de dados de entrevistas realizadas a algumas entidades de classe relacionadas à infra-estrutura de transportes e à produção de soja. 2 - POLÍTICAS SETORIAIS REGIONAIS E EX- PANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NO BRASIL O forte estímulo à expansão agrícola nos cerrados esteve atrelado à decisão de esti- mular a ocupação da Amazônia, nos anos 1970, para que ela pudesse se tornar uma área impor- tante para a produção agrícola. Como isso não aconteceu, os esforços se voltaram para a região dos cerrados que está mais bem situada em relação aos mercados do Centro-Sul do País (MUELLER, 1990). O primeiro programa especial de fo- mento à expansão agrícola começou em 1972 com o lançamento pelo Banco de Desenvolvi- mento de Minas Gerais (BDMG) do Programa de Crédito Integrado (PCI) para áreas no Estado de Minas Gerais. Outro programa conhecido como

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Informaccedilotildees Econocircmicas SP v40 n10 out 2010

EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA

uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste e os entraves de

sua infraestrutura de transportes1

Vivian Helena Capacle Correa2 Pedro Ramos3

1 - INTRODUCcedilAtildeO 1 2 3 O agronegoacutecio brasileiro eacute uma das mais importantes fontes geradoras de riquezas para o Paiacutes e nele destaca-se a cultura da soja cuja produccedilatildeo se consolidou na regiatildeo Centro- -Oeste Impulsionada pela forte atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira consolidando uma moderna produccedilatildeo agroindustrial Entretanto a peculiaridade da econo-mia brasileira dos anos recentes de deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas reduziu substancialmente os investimentos puacuteblicos em vaacuterias aacutereas da atividade econocircmica com destaque para os seto-res de infra-estrutura como o de telecomunica-ccedilotildees o de energia eleacutetrica e o de transportes Nesse contexto a produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste foi penalizada pela escassez de investimentos no desenvolvimento de uma infra-estrutura de transportes adequada ao escoamen-to da produccedilatildeo e as perdas que a produccedilatildeo enfrenta satildeo resultados da precariedade logiacutestica na regiatildeo O objetivo deste trabalho eacute apresentar a 1Os resultados deste trabalho fazem parte da dissertaccedilatildeo da primeira autora apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) para o tiacutetulo de Mestre em desenvolvimento econocircmico em 2007 Este trabalho foi apresentado na VI Jornadas Interdisciplina-rias de Estudios Agrarios y Agroindustriales que ocorreu na Faculdade de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade de Bue-nos Aires em novembro de 2009 Os autores agradecem o apoio da CAPES Registrado no CCTC IE-66-2010 2Administradora Mestre Instituto de Economia da UNI-CAMP (e-mail vivianecounicampbr) 3Economista Professor Doutor Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) (e-mail peramosecounicampbr)

expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo de fronteira agriacutecola regiatildeo Centro-Oeste que foi incentivada pela atuaccedilatildeo forte do Estado brasileiro na economia Mesmo com a crise fiscal do Estado a partir dos anos 1980 essa produccedilatildeo se consoli-dou na regiatildeo e natildeo foi acompanhada por uma adequada infra-estrutura de transportes para o escoamento dessa produccedilatildeo A metodologia utilizada para a elabora-ccedilatildeo deste trabalho foi de revisatildeo bibliograacutefica de trabalhos que retratam a expansatildeo da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes e a crise fiscal do Estado Foram utilizados dados secun-daacuterios sobre a expansatildeo da soja no Paiacutes e sobre as perdas da produccedilatildeo no momento do escoa-mento aleacutem de dados de entrevistas realizadas a algumas entidades de classe relacionadas agrave infra-estrutura de transportes e agrave produccedilatildeo de soja 2 - POLIacuteTICAS SETORIAIS REGIONAIS E EX-

PANSAtildeO DA FRONTEIRA AGRIacuteCOLA NO BRASIL

O forte estiacutemulo agrave expansatildeo agriacutecola nos cerrados esteve atrelado agrave decisatildeo de esti-mular a ocupaccedilatildeo da Amazocircnia nos anos 1970 para que ela pudesse se tornar uma aacuterea impor-tante para a produccedilatildeo agriacutecola Como isso natildeo aconteceu os esforccedilos se voltaram para a regiatildeo dos cerrados que estaacute mais bem situada em relaccedilatildeo aos mercados do Centro-Sul do Paiacutes (MUELLER 1990) O primeiro programa especial de fo-mento agrave expansatildeo agriacutecola comeccedilou em 1972 com o lanccedilamento pelo Banco de Desenvolvi-mento de Minas Gerais (BDMG) do Programa de Creacutedito Integrado (PCI) para aacutereas no Estado de Minas Gerais Outro programa conhecido como

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Capacle Correa Ramos

Programa de Assentamento Dirigido do Alto do Paranaiacuteba (PADAP) foi direcionado para o cerra-do do Alto Paranaiacuteba sendo que os Estados de Rondocircnia Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Goiaacutes interagiam com programas de apoio agraves atividades de assentamento Foi portanto a partir desses programas iniciais que a regiatildeo dos cerrados se transformou em aacuterea potencial de expansatildeo de frente agriacutecola comercial O PCI funcionou como projeto piloto mais amplo de estiacutemulo agrave expansatildeo agropecuaacuteria originando daiacute o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro)4 um dos maiores pro-gramas5 instituiacutedos no Centro-Oeste para estimu-lar o raacutepido desenvolvimento e modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio (COELHO 2001) Entretanto as frentes comerciais no Centro-Oeste natildeo se deram de forma uniforme no espaccedilo e no tempo pois para a consecuccedilatildeo dos objetivos do Polocentro por exemplo o creacutedi-to subsidiado foi concedido em aacutereas que jaacute apre-sentavam infra-estrutura de transportes eletri-ficaccedilatildeo e calcaacuterio (COELHO 2001 MUELLER 1990) O Polocentro perdurou por cerca de dez anos a partir de 1975 e atingiu direta e indi-retamente 37 milhotildees de hectares dos quais 18 milhatildeo de hectares com lavouras 12 milhatildeo de hectares com pecuaacuteria e 700 mil hectares com reflorestamento Entre os anos de 1975 e 1984 foram despendidos US$ 868 milhotildees ao progra-ma distribuiacutedos no setor de transporte pesquisa e agropecuaacuteria armazenamento energia assis-tecircncia e creacutedito rural (COELHO 2001 PESSOcircA 1988) Destaca-se ainda que as pesquisas agropecuaacuterias realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (Embrapa) tambeacutem foram importantes para proporcionar e estimular a ampliaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola na regiatildeo dos cerrados Os estiacutemulos agrave produccedilatildeo proporciona-ram o crescimento da aacuterea cultivada de gratildeos em 75 e a produtividade em 278 entre 1965 e 1985 Dentre as culturas foi a de soja que prevale-

4Estabelecido pelo Decreto nordm 75320 de 29 de janeiro de 1975 conforme Circular nordm 259 do Banco Central de 19 de junho de 1975 (MUELLER 1990) 5Aleacutem dos programas que ampliaram a infra-estrutura na regiatildeo como forma a integraacute-la agraves outras regiotildees do Paiacutes o governo militar criou a Superintendecircncia de Desenvolvimen-to do Centro-Oeste (SUDECO) como instacircncia de planeja-mento e desenvolvimento da regiatildeo criada pela Lei nordm 5365 de 1ordm de dezembro de 1967 (AGUIAR 2006)

ceu apresentando um crescimento da produccedilatildeo acima de 1100 entre 1970 e 1985 Outros programas especiais de desen-volvimento regional para partes do Centro-Oeste prevendo melhorias na infra-estrutura e o desen-volvimento de aacutereas atingidas que impactaram sobre a atividade agropecuaacuteria da regiatildeo foram instituiacutedos sendo eles Programa de Cooperaccedilatildeo Nipo-Brasileira para Desenvolvimento dos Cerra-dos (Proceder) Programa Especial de Desenvol-vimento do Pantanal (Prodepan) Programa Es-pecial de Desenvolvimento da Grande Dourados (Prodegran) Programa Especial da Regiatildeo Geo-econocircmica de Brasiacutelia (Geoeconocircmica) Progra-ma de Poacutelos Agropecuaacuterios e Minerais da Ama-zocircnia (Poloamazocircnia) e o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polo-noroeste) (MUELLER 1990) De acordo com Guimaratildees e Leme (2002) na economia dos cerrados predominam a pecuaacuteria extensiva de corte a pecuaacuteria extensiva de leite a agricultura extensiva de alimentos baacute-sicos e na produccedilatildeo agriacutecola intensiva predomi-nam as culturas do milho e da soja sendo que essas produccedilotildees desencadearam o proacuteprio pro-cesso de agroindustrializaccedilatildeo regional com em-preendimentos modernos e de alta produtividade Conclui-se assim que a expansatildeo da agropecuaacuteria brasileira para a aacuterea de fronteira foi estimulada por poliacuteticas pontuais do governo que visaram a ampliaccedilatildeo e o desenvolvimento da agropecuaacuteria naquela regiatildeo Nesse contex-to pode-se compreender um esforccedilo de des-concentraccedilatildeo econocircmica regional jaacute que a par-tir dos anos 1970 se observou uma redistribui-ccedilatildeo regional do creacutedito puacuteblico rural incluindo a regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes (Tabela 1) Aleacutem das poliacuteticas agriacutecolas de incen-tivo agrave modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio que promoveram um maior crescimento econocircmico na Regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram essen-cialmente importantes os investimentos em in-fra-estrutura na regiatildeo implementados de forma decisiva a partir do Plano de Metas a exemplo da modernizaccedilatildeo das vias de transportes (GUI-MARAtildeES LEME 2002) Por meio do Plano de Metas articulou-se uma infra-estrutura a cargo do Estado com um novo padratildeo de industrializaccedilatildeo e de unifica-ccedilatildeo do mercado nacional no binocircmio da induacutestria automobiliacutestica rodoviarista Nesse contexto eacute que se redefiniu espacialmente a funccedilatildeo da fronteira

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

TABELA 1 - Participaccedilatildeo das Regiotildees do Brasil no Creacutedito Rural em Anos Seleciona-

dos (em )

Ano Sudeste Sul Centro- Oeste

NorteNordeste

1966 47 30 - 231970 456 318 65 1611975 357 382 101 1501980 341 358 105 1961985 262 416 163 159

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Coelho (2001) agriacutecola no Paiacutes sendo a partir dos anos 1960 atraveacutes das poliacuteticas agriacutecolas especiacuteficas que houve uma forte repercussatildeo sobre a economia da regiatildeo Centro-Oeste periacuteodo que ficou co-nhecido como a Marcha para o Oeste Atraveacutes dos investimentos em infra-estrutura de transportes concentradas no modal rodoviaacuterio6 a construccedilatildeo de duas rodovias foram portanto fundamentais para essa regiatildeo a BR 153 e a BR 060 A primeira delas ligou Goiacircnia (GO) a Satildeo Joseacute do Rio Preto (SP) e a segunda partindo de Brasiacutelia ligou Anaacutepolis-Goiacircnia-Sudoeste de Goiaacutes integrando-se agrave BR 364 e de forma descon-tiacutenua agrave BR 153 Em seguida a polarizaccedilatildeo de Goiacircnia foi reforccedilada pela atuaccedilatildeo do Governo Estadual e Federal na construccedilatildeo de outras rodo-vias inclusive estaduais Para Natal (1991) o Centro-Oeste do Paiacutes que se destacava como grande aacuterea de fronteira agriacutecola em expansatildeo foi a regiatildeo que recebeu maior atenccedilatildeo do Governo Federal em investimentos na aacuterea de logiacutestica de transportes correspondendo a 37 do incremento da exten-satildeo das vias rodoviaacuterias federais no periacuteodo entre 1950 e 1960 Marginalizado da era ferroviaacuteria o Es-tado de Mato Grosso foi contemplado com a prin-cipal via rodoviaacuteria de integraccedilatildeo SudesteCentro-OesteNorte a BR 364 Essa rodovia a partir dos anos 1960 foi fundamental para a consolidaccedilatildeo dos trecircs principais nuacutecleos econocircmicos do Estado de Mato Grosso Rondonoacutepolis Cuiabaacute e Caacutece-res integrando-os a noroeste com Rondocircnia e Acre e a sudeste com o Triacircngulo Mineiro De mesma importacircncia a rodovia BR 163 como via longitudinal entre os Estados de

6A concentraccedilatildeo logiacutestica do Paiacutes no modal rodoviaacuterio esteve atrelada ao contexto rodoviarista da economia brasileira

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul possibilitou a integraccedilatildeo dos municiacutepios desses estados refor-ccedilando a aacuterea de influecircncia na fronteira agropecuaacute-ria (GUIMARAtildeES LEME 2002) Eacute possiacutevel observar que o Estado foi fundamental para o processo de expansatildeo agriacute-cola para a aacuterea de fronteira A expansatildeo natildeo foi promovida somente por poliacuteticas setoriais agriacuteco-las mas principalmente pela interiorizaccedilatildeo de vultosos investimentos federais em infra-estrutura de transportes na figura dos grandes eixos rodo-viaacuterios Iniciou-se portanto a grande mudanccedila funcional da Regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes com crescimento populacional e econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola em bases modernas e tec-nificadas que foram responsaacuteveis pelo salto pro-dutivo e exportador do complexo de gratildeos e car-nes da regiatildeo No anos 1970 e em anos anteriores sob o contexto da desconcentraccedilatildeo econocircmica regional elevadas inversotildees de capital estatal na esfera produtiva do Paiacutes principalmente em infra-estrutura de transportes abasteceram a regiatildeo Centro-Oeste de um aparelhamento de infra-estrutura produtiva que em adiccedilatildeo ao crescimen-to da produccedilatildeo de gratildeos atraiacuteram entre os anos 1970 e 1980 importantes empresas agroindustri-ais interessadas nos insumos agriacutecolas que contri-buiacuteram para o crescimento acelerado da economia da regiatildeo (GUIMARAtildeES LEME 2002 CASTRO FONSECA 1995) Em siacutentese na ausecircncia de tais poliacuteti-cas dificilmente haveria a expansatildeo e a diversifi-caccedilatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria na regiatildeo de fronteira Por meio do Polocentro por exemplo houve a expansatildeo de uma agricultura empresarial com base em meacutedias e grandes propriedades aleacutem do crescimento da atividade pecuaacuteria A tabela 2 apresenta uma variaccedilatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria no Paiacutes a partir dos anos 1970 evidenciando que entre os anos de 1970 e 1975 a regiatildeo de fronteira agriacutecola Centro-Oeste brasileiro jaacute se destacava pelo elevado cresci-mento da produccedilatildeo Assim sendo a modernizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo agropecuaacuteria na regiatildeo de fronteira pro-movida pelas poliacuteticas setoriais refletiu-se na produtividade do setor na regiatildeo Centro-Oeste principalmente na produccedilatildeo de soja que se des-tacava pelo crescimento expressivo da produccedilatildeo e pelo alto niacutevel de produtividade Poreacutem como em outros programas se-

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Capacle Correa Ramos

TABELA 2 - Variaccedilatildeo Real da Produccedilatildeo Agrope-cuaacuteria para o Brasil e Regiatildeo Deacuteca-da de 1970

(em ) Regiatildeo 1970-75 1975-80 1970-80

Norte 2980 7710 130Nordeste 4380 820 5550Sudeste (SP) 2850 2510 6070Satildeo Paulo 3680 3070 7880Sul 4740 2380 8240Centro-Oeste 4760 7030 15130Brasil 3780 3040 7970

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Kageyama (1986) toriais pela crise financeira do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 houve uma derrocada de investimentos e de intervenccedilatildeo na grande aacuterea de fronteira agriacutecola do Paiacutes e foram tomadas medidas para eliminar os subsiacutedios ao creacutedito rural A partir de 1985 portanto a conduccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas agriacutecolas tomou um rumo diferente O setor agriacutecola perdeu o apoio puacuteblico que tinha ateacute 1986 jaacute que a poliacutetica econocircmica passou a focar na estabilidade com metas de curto prazo A crise fiscal do Estado natildeo se repercu-tiu apenas no creacutedito rural pois outros programas de apoio ao setor foram afetados com reduccedilatildeo significativa dos gastos puacuteblicos No iniacutecio dos anos 1990 como aponta Coelho (2001) foram extintos o Instituto do Accediluacutecar e do Aacutelcool (IAA) e o Instituto Brasileiro do Cafeacute (IBC) O Programa de Abastecimento por exemplo que englobava a poliacutetica de preccedilos e estoques reguladores de gratildeos apresentou que-da dos gastos puacuteblicos na ordem de 78 sendo que entre os anos de 1987 e 1989 passou de US$ 82 bilhotildees para US$18 bilhatildeo (BACHA 2004) Nesse contexto de fragilidade financei-ra do Estado em subsidiar o setor agriacutecola ao final dos anos 1980 as restriccedilotildees financeiras e fiscais internas e externas levaram ao abandono os grandes programas de incentivo agrave expansatildeo e ao crescimento da produccedilatildeo agriacutecola e popula-cional na regiatildeo relegando o espaccedilo agrave loacutegica do mercado Goldin e Rezende (1993) argumentam que com a crise da oferta de creacutedito rural a partir de 1979 as regiotildees Sul e Sudeste do Paiacutes tive-ram reduccedilatildeo do grau de mecanizaccedilatildeo de suas

produccedilotildees enquanto a regiatildeo Centro-Oeste a partir dos anos 1980 expandiu a cultura mecani-zada principalmente a de soja ganhando vanta-gens comparativas dada a sua maior aptidatildeo regional agrave lavoura mecanizada sendo irrelevan-tes as desvantagens regionais como a baixa densidade demograacutefica Entretanto permaneceram demandas que natildeo foram resolvidas desde o fim dos pro-gramas setoriais de apoio ao setor7 e os estiacutemu-los alcanccedilados pela regiatildeo foram aos poucos se esvaindo sendo os efeitos desse ldquoabandonordquo sentidos nos dias atuais Haacute necessidade de me-lhores acessos agrave infraestrutura (transportes energia telecomunicaccedilotildees) devido agrave existecircncia de aglomerados urbanos isolados dos principais centros econocircmicos Ainda assim satildeo deman-dados programas que tendem a preservaccedilatildeo de aacutereas de floresta que abrangem partes da regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes A razatildeo dessas e de ou-tras demandas significativas estaacute no abandono preteacuterito de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvi-mento regional que tecircm impactos na competitivi-dade da cultura de gratildeos por exemplo Assim todo o aparato de incentivos agrave promoccedilatildeo econocircmica da regiatildeo pela forte pre-senccedila do Estado foi abandonado Inicialmente se investiu em poliacuteticas e programas para o desen-volvimento econocircmico e social dos cerrados e depois sucumbida pela forte crise financeira puacuteblica a regiatildeo foi de longe a que menos aten-ccedilatildeo recebeu sendo que as bases produtivas que foram desenvolvidas ficaram sem o apoio gover-namental Eacute no final dos anos 1970 e 1980 por-tanto que as poliacuteticas regionais foram muito de-sacreditadas dada a substituiccedilatildeo do planejamen-to governamental pela valoraccedilatildeo das forccedilas de mercado como mecanismo para se alcanccedilar a eficiecircncia econocircmica Sob um Estado desestruturado preva-lecem projetos natildeo mais na concepccedilatildeo de de-senvolvimento regional mas sim na ideia de eixos estruturantes concentrados em aacutereas mais dinacircmicas num caraacuteter privado de seleccedilatildeo dos investimentos Nesse contexto combinaram-se as

7Como exemplo por volta de 1982 houve o fim do Polo-centro que tinha como objetivo estimular o raacutepido desen-volvimento e a modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio nos cerrados brasileiros Parcialmente os seus objetivos foram alcanccedilados beneficiando contudo grandes propriedades

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

accedilotildees do Estado e do capital privado para criar condiccedilotildees importantes agrave implantaccedilatildeo de grandes empresas do complexo agroindustrial na regiatildeo Centro-Oeste e para a consolidaccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos com uma base altamente tecnificada e de alta produtividade com destaque para a cultu-ra da soja Entretanto o abandono do aparato institucional desenvolvimentista tem reflexos para a competitividade da produccedilatildeo de gratildeos a e-xemplo da produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste do Paiacutes que hoje enfrenta perdas devido ao gargalo logiacutestico da regiatildeo Amparada sob um modelo de transportes rodoviarista ao longo dos anos o afastamento do Estado nessa regiatildeo natildeo a abas-teceu de investimentos para a ampliaccedilatildeo e res-tauraccedilatildeo da capacidade de transportes por vias terrestres enquanto a produccedilatildeo de soja crescia e se desenvolvia 3 - PRODUCcedilAtildeO DE SOJA NA REGIAtildeO CEN-

TRO-OESTE E CONDICcedilOtildeES DA INFRAES-TRUTURA DE TRANSPORTES PARA O SEU ESCOAMENTO

Embora a conjuntura adversa da eco-nomia brasileira tenha implicado a diminuiccedilatildeo das poliacuteticas voltadas agrave agropecuaacuteria do Paiacutes eacute am-plamente reconhecido que o setor rural resistiu e se expandiu tendo ampliado suas vendas exter-nas tanto com produtos tradicionais como com os natildeo tradicionais Os investimentos em infraestrutura de transportes no Centro-Oeste do Paiacutes que interli-garam essa regiatildeo aos mercados internos foram fatores importantes no iniacutecio da expansatildeo agriacuteco-la e para a intensificaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Atualmente a regiatildeo Centro-Oeste se consolida como uma importante regiatildeo produtora de soja cujo modernismo dinacircmica e agroindus-trializaccedilatildeo caracterizam a agricultura regional A produccedilatildeo brasileira de gratildeos apresentou um au-mento de produtividade e conquistou competitivi-dade internacional e o Paiacutes se tornou um impor-tante produtor e exportador de soja Na safra de 200910 a aacuterea cultivada de soja no Paiacutes foi de 2336 milhotildees de hectares e as exportaccedilotildees de soja em gratildeo no ano de 2009 pelo Brasil repre-sentaram 43 da produccedilatildeo (ROESSING LAZ-ZAROTTO 2005 CONAB 2010)

De acordo com o Ministeacuterio da Integra-ccedilatildeo Nacional8 (AGUIAR 2006) a soja produzida nessa regiatildeo apresentava segundo estimativas um custo meacutedio inferior a 30 ao dos Estados Unidos maior produtor internacional da oleagino-sa em decorrecircncia da combinaccedilatildeo de fatores que proporcionaram elevada produtividade como o uso de tecnologias avanccediladas na produccedilatildeo agropecuaacuteria resultados das pesquisas realiza-das pela EMBRAPA Ademais o crescimento da quantidade produzida decorreu da maior expan-satildeo da aacuterea de cultivo em relaccedilatildeo agraves outras cultu-ras e isso explica o seu padratildeo de crescimento forma expansiva na regiatildeo de fronteira agriacutecola Enquanto nos anos 1970 e 1980 os estados que lideravam a produccedilatildeo de soja no Paiacutes eram aqueles da regiatildeo Sul com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul a partir dos anos 1990 esses estados vatildeo perdendo partici-paccedilatildeo no quantum da produccedilatildeo da oleaginosa para os estados da regiatildeo Centro-Oeste Em 1980 a produccedilatildeo de soja dessa regiatildeo represen-tou 125 da produccedilatildeo total do Paiacutes e em 1990 evoluiu para 32 alcanccedilando em 2000 47 da produccedilatildeo total Dentro da regiatildeo Centro-Oeste eacute o Estado de Mato Grosso o liacuteder na produccedilatildeo da oleaginosa respondendo aproximadamente por 30 da produccedilatildeo nacional de soja na safra 200708 de acordo com CONAB (2009) sendo portanto o maior estado brasileiro produtor dessa cultura tanto em termos de quantidade produzida quanto em termos de aacuterea colhida Os dados mostram que o movimento de expansatildeo da cultura da soja natildeo tem se limi-tado apenas agrave regiatildeo Centro-Oeste Os estados da regiatildeo Norte tecircm se destacado pelo aumento de 43 da aacuterea colhida entre 2004 e 2005 por exemplo com destaque para os Estados de To-cantins Roraima e Paraacute A regiatildeo Nordeste por exemplo com destaque para os Estados do Ma-ranhatildeo Piauiacute e Bahia tem apresentado cresci-mento expressivo da produccedilatildeo da oleaginosa apoacutes os anos 1990 A figura 1 apresenta a expansatildeo da cultura da soja na regiatildeo Centro-Oeste e no Bra-sil

8Plano Estrateacutegico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) estudo para orientar e organizar as iniciativas puacuteblicas e da sociedade para o desenvolvimento sustentaacute-vel da regiatildeo

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Capacle Correa Ramos

1970

1990

2005

1980

2000

2007

De Ateacute Cor 0 260000t

260001t 520000t

520001t 1000000t

1000001t 3000000t

3000001t 6000000t

6000001t 9000000t

9000001t 13000000t

13000001t 18000000t

ausecircncia de dados

Figura 1 - Evoluccedilatildeo da Produccedilatildeo de Soja Regiatildeo Centro-Oeste e Brasil 1970 a 2005 Fonte IBGE (2009)

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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Programa de Assentamento Dirigido do Alto do Paranaiacuteba (PADAP) foi direcionado para o cerra-do do Alto Paranaiacuteba sendo que os Estados de Rondocircnia Mato Grosso Mato Grosso do Sul e Goiaacutes interagiam com programas de apoio agraves atividades de assentamento Foi portanto a partir desses programas iniciais que a regiatildeo dos cerrados se transformou em aacuterea potencial de expansatildeo de frente agriacutecola comercial O PCI funcionou como projeto piloto mais amplo de estiacutemulo agrave expansatildeo agropecuaacuteria originando daiacute o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro)4 um dos maiores pro-gramas5 instituiacutedos no Centro-Oeste para estimu-lar o raacutepido desenvolvimento e modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio (COELHO 2001) Entretanto as frentes comerciais no Centro-Oeste natildeo se deram de forma uniforme no espaccedilo e no tempo pois para a consecuccedilatildeo dos objetivos do Polocentro por exemplo o creacutedi-to subsidiado foi concedido em aacutereas que jaacute apre-sentavam infra-estrutura de transportes eletri-ficaccedilatildeo e calcaacuterio (COELHO 2001 MUELLER 1990) O Polocentro perdurou por cerca de dez anos a partir de 1975 e atingiu direta e indi-retamente 37 milhotildees de hectares dos quais 18 milhatildeo de hectares com lavouras 12 milhatildeo de hectares com pecuaacuteria e 700 mil hectares com reflorestamento Entre os anos de 1975 e 1984 foram despendidos US$ 868 milhotildees ao progra-ma distribuiacutedos no setor de transporte pesquisa e agropecuaacuteria armazenamento energia assis-tecircncia e creacutedito rural (COELHO 2001 PESSOcircA 1988) Destaca-se ainda que as pesquisas agropecuaacuterias realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaacuteria (Embrapa) tambeacutem foram importantes para proporcionar e estimular a ampliaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola na regiatildeo dos cerrados Os estiacutemulos agrave produccedilatildeo proporciona-ram o crescimento da aacuterea cultivada de gratildeos em 75 e a produtividade em 278 entre 1965 e 1985 Dentre as culturas foi a de soja que prevale-

4Estabelecido pelo Decreto nordm 75320 de 29 de janeiro de 1975 conforme Circular nordm 259 do Banco Central de 19 de junho de 1975 (MUELLER 1990) 5Aleacutem dos programas que ampliaram a infra-estrutura na regiatildeo como forma a integraacute-la agraves outras regiotildees do Paiacutes o governo militar criou a Superintendecircncia de Desenvolvimen-to do Centro-Oeste (SUDECO) como instacircncia de planeja-mento e desenvolvimento da regiatildeo criada pela Lei nordm 5365 de 1ordm de dezembro de 1967 (AGUIAR 2006)

ceu apresentando um crescimento da produccedilatildeo acima de 1100 entre 1970 e 1985 Outros programas especiais de desen-volvimento regional para partes do Centro-Oeste prevendo melhorias na infra-estrutura e o desen-volvimento de aacutereas atingidas que impactaram sobre a atividade agropecuaacuteria da regiatildeo foram instituiacutedos sendo eles Programa de Cooperaccedilatildeo Nipo-Brasileira para Desenvolvimento dos Cerra-dos (Proceder) Programa Especial de Desenvol-vimento do Pantanal (Prodepan) Programa Es-pecial de Desenvolvimento da Grande Dourados (Prodegran) Programa Especial da Regiatildeo Geo-econocircmica de Brasiacutelia (Geoeconocircmica) Progra-ma de Poacutelos Agropecuaacuterios e Minerais da Ama-zocircnia (Poloamazocircnia) e o Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polo-noroeste) (MUELLER 1990) De acordo com Guimaratildees e Leme (2002) na economia dos cerrados predominam a pecuaacuteria extensiva de corte a pecuaacuteria extensiva de leite a agricultura extensiva de alimentos baacute-sicos e na produccedilatildeo agriacutecola intensiva predomi-nam as culturas do milho e da soja sendo que essas produccedilotildees desencadearam o proacuteprio pro-cesso de agroindustrializaccedilatildeo regional com em-preendimentos modernos e de alta produtividade Conclui-se assim que a expansatildeo da agropecuaacuteria brasileira para a aacuterea de fronteira foi estimulada por poliacuteticas pontuais do governo que visaram a ampliaccedilatildeo e o desenvolvimento da agropecuaacuteria naquela regiatildeo Nesse contex-to pode-se compreender um esforccedilo de des-concentraccedilatildeo econocircmica regional jaacute que a par-tir dos anos 1970 se observou uma redistribui-ccedilatildeo regional do creacutedito puacuteblico rural incluindo a regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes (Tabela 1) Aleacutem das poliacuteticas agriacutecolas de incen-tivo agrave modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio que promoveram um maior crescimento econocircmico na Regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram essen-cialmente importantes os investimentos em in-fra-estrutura na regiatildeo implementados de forma decisiva a partir do Plano de Metas a exemplo da modernizaccedilatildeo das vias de transportes (GUI-MARAtildeES LEME 2002) Por meio do Plano de Metas articulou-se uma infra-estrutura a cargo do Estado com um novo padratildeo de industrializaccedilatildeo e de unifica-ccedilatildeo do mercado nacional no binocircmio da induacutestria automobiliacutestica rodoviarista Nesse contexto eacute que se redefiniu espacialmente a funccedilatildeo da fronteira

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

TABELA 1 - Participaccedilatildeo das Regiotildees do Brasil no Creacutedito Rural em Anos Seleciona-

dos (em )

Ano Sudeste Sul Centro- Oeste

NorteNordeste

1966 47 30 - 231970 456 318 65 1611975 357 382 101 1501980 341 358 105 1961985 262 416 163 159

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Coelho (2001) agriacutecola no Paiacutes sendo a partir dos anos 1960 atraveacutes das poliacuteticas agriacutecolas especiacuteficas que houve uma forte repercussatildeo sobre a economia da regiatildeo Centro-Oeste periacuteodo que ficou co-nhecido como a Marcha para o Oeste Atraveacutes dos investimentos em infra-estrutura de transportes concentradas no modal rodoviaacuterio6 a construccedilatildeo de duas rodovias foram portanto fundamentais para essa regiatildeo a BR 153 e a BR 060 A primeira delas ligou Goiacircnia (GO) a Satildeo Joseacute do Rio Preto (SP) e a segunda partindo de Brasiacutelia ligou Anaacutepolis-Goiacircnia-Sudoeste de Goiaacutes integrando-se agrave BR 364 e de forma descon-tiacutenua agrave BR 153 Em seguida a polarizaccedilatildeo de Goiacircnia foi reforccedilada pela atuaccedilatildeo do Governo Estadual e Federal na construccedilatildeo de outras rodo-vias inclusive estaduais Para Natal (1991) o Centro-Oeste do Paiacutes que se destacava como grande aacuterea de fronteira agriacutecola em expansatildeo foi a regiatildeo que recebeu maior atenccedilatildeo do Governo Federal em investimentos na aacuterea de logiacutestica de transportes correspondendo a 37 do incremento da exten-satildeo das vias rodoviaacuterias federais no periacuteodo entre 1950 e 1960 Marginalizado da era ferroviaacuteria o Es-tado de Mato Grosso foi contemplado com a prin-cipal via rodoviaacuteria de integraccedilatildeo SudesteCentro-OesteNorte a BR 364 Essa rodovia a partir dos anos 1960 foi fundamental para a consolidaccedilatildeo dos trecircs principais nuacutecleos econocircmicos do Estado de Mato Grosso Rondonoacutepolis Cuiabaacute e Caacutece-res integrando-os a noroeste com Rondocircnia e Acre e a sudeste com o Triacircngulo Mineiro De mesma importacircncia a rodovia BR 163 como via longitudinal entre os Estados de

6A concentraccedilatildeo logiacutestica do Paiacutes no modal rodoviaacuterio esteve atrelada ao contexto rodoviarista da economia brasileira

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul possibilitou a integraccedilatildeo dos municiacutepios desses estados refor-ccedilando a aacuterea de influecircncia na fronteira agropecuaacute-ria (GUIMARAtildeES LEME 2002) Eacute possiacutevel observar que o Estado foi fundamental para o processo de expansatildeo agriacute-cola para a aacuterea de fronteira A expansatildeo natildeo foi promovida somente por poliacuteticas setoriais agriacuteco-las mas principalmente pela interiorizaccedilatildeo de vultosos investimentos federais em infra-estrutura de transportes na figura dos grandes eixos rodo-viaacuterios Iniciou-se portanto a grande mudanccedila funcional da Regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes com crescimento populacional e econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola em bases modernas e tec-nificadas que foram responsaacuteveis pelo salto pro-dutivo e exportador do complexo de gratildeos e car-nes da regiatildeo No anos 1970 e em anos anteriores sob o contexto da desconcentraccedilatildeo econocircmica regional elevadas inversotildees de capital estatal na esfera produtiva do Paiacutes principalmente em infra-estrutura de transportes abasteceram a regiatildeo Centro-Oeste de um aparelhamento de infra-estrutura produtiva que em adiccedilatildeo ao crescimen-to da produccedilatildeo de gratildeos atraiacuteram entre os anos 1970 e 1980 importantes empresas agroindustri-ais interessadas nos insumos agriacutecolas que contri-buiacuteram para o crescimento acelerado da economia da regiatildeo (GUIMARAtildeES LEME 2002 CASTRO FONSECA 1995) Em siacutentese na ausecircncia de tais poliacuteti-cas dificilmente haveria a expansatildeo e a diversifi-caccedilatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria na regiatildeo de fronteira Por meio do Polocentro por exemplo houve a expansatildeo de uma agricultura empresarial com base em meacutedias e grandes propriedades aleacutem do crescimento da atividade pecuaacuteria A tabela 2 apresenta uma variaccedilatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria no Paiacutes a partir dos anos 1970 evidenciando que entre os anos de 1970 e 1975 a regiatildeo de fronteira agriacutecola Centro-Oeste brasileiro jaacute se destacava pelo elevado cresci-mento da produccedilatildeo Assim sendo a modernizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo agropecuaacuteria na regiatildeo de fronteira pro-movida pelas poliacuteticas setoriais refletiu-se na produtividade do setor na regiatildeo Centro-Oeste principalmente na produccedilatildeo de soja que se des-tacava pelo crescimento expressivo da produccedilatildeo e pelo alto niacutevel de produtividade Poreacutem como em outros programas se-

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TABELA 2 - Variaccedilatildeo Real da Produccedilatildeo Agrope-cuaacuteria para o Brasil e Regiatildeo Deacuteca-da de 1970

(em ) Regiatildeo 1970-75 1975-80 1970-80

Norte 2980 7710 130Nordeste 4380 820 5550Sudeste (SP) 2850 2510 6070Satildeo Paulo 3680 3070 7880Sul 4740 2380 8240Centro-Oeste 4760 7030 15130Brasil 3780 3040 7970

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Kageyama (1986) toriais pela crise financeira do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 houve uma derrocada de investimentos e de intervenccedilatildeo na grande aacuterea de fronteira agriacutecola do Paiacutes e foram tomadas medidas para eliminar os subsiacutedios ao creacutedito rural A partir de 1985 portanto a conduccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas agriacutecolas tomou um rumo diferente O setor agriacutecola perdeu o apoio puacuteblico que tinha ateacute 1986 jaacute que a poliacutetica econocircmica passou a focar na estabilidade com metas de curto prazo A crise fiscal do Estado natildeo se repercu-tiu apenas no creacutedito rural pois outros programas de apoio ao setor foram afetados com reduccedilatildeo significativa dos gastos puacuteblicos No iniacutecio dos anos 1990 como aponta Coelho (2001) foram extintos o Instituto do Accediluacutecar e do Aacutelcool (IAA) e o Instituto Brasileiro do Cafeacute (IBC) O Programa de Abastecimento por exemplo que englobava a poliacutetica de preccedilos e estoques reguladores de gratildeos apresentou que-da dos gastos puacuteblicos na ordem de 78 sendo que entre os anos de 1987 e 1989 passou de US$ 82 bilhotildees para US$18 bilhatildeo (BACHA 2004) Nesse contexto de fragilidade financei-ra do Estado em subsidiar o setor agriacutecola ao final dos anos 1980 as restriccedilotildees financeiras e fiscais internas e externas levaram ao abandono os grandes programas de incentivo agrave expansatildeo e ao crescimento da produccedilatildeo agriacutecola e popula-cional na regiatildeo relegando o espaccedilo agrave loacutegica do mercado Goldin e Rezende (1993) argumentam que com a crise da oferta de creacutedito rural a partir de 1979 as regiotildees Sul e Sudeste do Paiacutes tive-ram reduccedilatildeo do grau de mecanizaccedilatildeo de suas

produccedilotildees enquanto a regiatildeo Centro-Oeste a partir dos anos 1980 expandiu a cultura mecani-zada principalmente a de soja ganhando vanta-gens comparativas dada a sua maior aptidatildeo regional agrave lavoura mecanizada sendo irrelevan-tes as desvantagens regionais como a baixa densidade demograacutefica Entretanto permaneceram demandas que natildeo foram resolvidas desde o fim dos pro-gramas setoriais de apoio ao setor7 e os estiacutemu-los alcanccedilados pela regiatildeo foram aos poucos se esvaindo sendo os efeitos desse ldquoabandonordquo sentidos nos dias atuais Haacute necessidade de me-lhores acessos agrave infraestrutura (transportes energia telecomunicaccedilotildees) devido agrave existecircncia de aglomerados urbanos isolados dos principais centros econocircmicos Ainda assim satildeo deman-dados programas que tendem a preservaccedilatildeo de aacutereas de floresta que abrangem partes da regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes A razatildeo dessas e de ou-tras demandas significativas estaacute no abandono preteacuterito de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvi-mento regional que tecircm impactos na competitivi-dade da cultura de gratildeos por exemplo Assim todo o aparato de incentivos agrave promoccedilatildeo econocircmica da regiatildeo pela forte pre-senccedila do Estado foi abandonado Inicialmente se investiu em poliacuteticas e programas para o desen-volvimento econocircmico e social dos cerrados e depois sucumbida pela forte crise financeira puacuteblica a regiatildeo foi de longe a que menos aten-ccedilatildeo recebeu sendo que as bases produtivas que foram desenvolvidas ficaram sem o apoio gover-namental Eacute no final dos anos 1970 e 1980 por-tanto que as poliacuteticas regionais foram muito de-sacreditadas dada a substituiccedilatildeo do planejamen-to governamental pela valoraccedilatildeo das forccedilas de mercado como mecanismo para se alcanccedilar a eficiecircncia econocircmica Sob um Estado desestruturado preva-lecem projetos natildeo mais na concepccedilatildeo de de-senvolvimento regional mas sim na ideia de eixos estruturantes concentrados em aacutereas mais dinacircmicas num caraacuteter privado de seleccedilatildeo dos investimentos Nesse contexto combinaram-se as

7Como exemplo por volta de 1982 houve o fim do Polo-centro que tinha como objetivo estimular o raacutepido desen-volvimento e a modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio nos cerrados brasileiros Parcialmente os seus objetivos foram alcanccedilados beneficiando contudo grandes propriedades

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

accedilotildees do Estado e do capital privado para criar condiccedilotildees importantes agrave implantaccedilatildeo de grandes empresas do complexo agroindustrial na regiatildeo Centro-Oeste e para a consolidaccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos com uma base altamente tecnificada e de alta produtividade com destaque para a cultu-ra da soja Entretanto o abandono do aparato institucional desenvolvimentista tem reflexos para a competitividade da produccedilatildeo de gratildeos a e-xemplo da produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste do Paiacutes que hoje enfrenta perdas devido ao gargalo logiacutestico da regiatildeo Amparada sob um modelo de transportes rodoviarista ao longo dos anos o afastamento do Estado nessa regiatildeo natildeo a abas-teceu de investimentos para a ampliaccedilatildeo e res-tauraccedilatildeo da capacidade de transportes por vias terrestres enquanto a produccedilatildeo de soja crescia e se desenvolvia 3 - PRODUCcedilAtildeO DE SOJA NA REGIAtildeO CEN-

TRO-OESTE E CONDICcedilOtildeES DA INFRAES-TRUTURA DE TRANSPORTES PARA O SEU ESCOAMENTO

Embora a conjuntura adversa da eco-nomia brasileira tenha implicado a diminuiccedilatildeo das poliacuteticas voltadas agrave agropecuaacuteria do Paiacutes eacute am-plamente reconhecido que o setor rural resistiu e se expandiu tendo ampliado suas vendas exter-nas tanto com produtos tradicionais como com os natildeo tradicionais Os investimentos em infraestrutura de transportes no Centro-Oeste do Paiacutes que interli-garam essa regiatildeo aos mercados internos foram fatores importantes no iniacutecio da expansatildeo agriacuteco-la e para a intensificaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Atualmente a regiatildeo Centro-Oeste se consolida como uma importante regiatildeo produtora de soja cujo modernismo dinacircmica e agroindus-trializaccedilatildeo caracterizam a agricultura regional A produccedilatildeo brasileira de gratildeos apresentou um au-mento de produtividade e conquistou competitivi-dade internacional e o Paiacutes se tornou um impor-tante produtor e exportador de soja Na safra de 200910 a aacuterea cultivada de soja no Paiacutes foi de 2336 milhotildees de hectares e as exportaccedilotildees de soja em gratildeo no ano de 2009 pelo Brasil repre-sentaram 43 da produccedilatildeo (ROESSING LAZ-ZAROTTO 2005 CONAB 2010)

De acordo com o Ministeacuterio da Integra-ccedilatildeo Nacional8 (AGUIAR 2006) a soja produzida nessa regiatildeo apresentava segundo estimativas um custo meacutedio inferior a 30 ao dos Estados Unidos maior produtor internacional da oleagino-sa em decorrecircncia da combinaccedilatildeo de fatores que proporcionaram elevada produtividade como o uso de tecnologias avanccediladas na produccedilatildeo agropecuaacuteria resultados das pesquisas realiza-das pela EMBRAPA Ademais o crescimento da quantidade produzida decorreu da maior expan-satildeo da aacuterea de cultivo em relaccedilatildeo agraves outras cultu-ras e isso explica o seu padratildeo de crescimento forma expansiva na regiatildeo de fronteira agriacutecola Enquanto nos anos 1970 e 1980 os estados que lideravam a produccedilatildeo de soja no Paiacutes eram aqueles da regiatildeo Sul com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul a partir dos anos 1990 esses estados vatildeo perdendo partici-paccedilatildeo no quantum da produccedilatildeo da oleaginosa para os estados da regiatildeo Centro-Oeste Em 1980 a produccedilatildeo de soja dessa regiatildeo represen-tou 125 da produccedilatildeo total do Paiacutes e em 1990 evoluiu para 32 alcanccedilando em 2000 47 da produccedilatildeo total Dentro da regiatildeo Centro-Oeste eacute o Estado de Mato Grosso o liacuteder na produccedilatildeo da oleaginosa respondendo aproximadamente por 30 da produccedilatildeo nacional de soja na safra 200708 de acordo com CONAB (2009) sendo portanto o maior estado brasileiro produtor dessa cultura tanto em termos de quantidade produzida quanto em termos de aacuterea colhida Os dados mostram que o movimento de expansatildeo da cultura da soja natildeo tem se limi-tado apenas agrave regiatildeo Centro-Oeste Os estados da regiatildeo Norte tecircm se destacado pelo aumento de 43 da aacuterea colhida entre 2004 e 2005 por exemplo com destaque para os Estados de To-cantins Roraima e Paraacute A regiatildeo Nordeste por exemplo com destaque para os Estados do Ma-ranhatildeo Piauiacute e Bahia tem apresentado cresci-mento expressivo da produccedilatildeo da oleaginosa apoacutes os anos 1990 A figura 1 apresenta a expansatildeo da cultura da soja na regiatildeo Centro-Oeste e no Bra-sil

8Plano Estrateacutegico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) estudo para orientar e organizar as iniciativas puacuteblicas e da sociedade para o desenvolvimento sustentaacute-vel da regiatildeo

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1970

1990

2005

1980

2000

2007

De Ateacute Cor 0 260000t

260001t 520000t

520001t 1000000t

1000001t 3000000t

3000001t 6000000t

6000001t 9000000t

9000001t 13000000t

13000001t 18000000t

ausecircncia de dados

Figura 1 - Evoluccedilatildeo da Produccedilatildeo de Soja Regiatildeo Centro-Oeste e Brasil 1970 a 2005 Fonte IBGE (2009)

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

TABELA 1 - Participaccedilatildeo das Regiotildees do Brasil no Creacutedito Rural em Anos Seleciona-

dos (em )

Ano Sudeste Sul Centro- Oeste

NorteNordeste

1966 47 30 - 231970 456 318 65 1611975 357 382 101 1501980 341 358 105 1961985 262 416 163 159

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Coelho (2001) agriacutecola no Paiacutes sendo a partir dos anos 1960 atraveacutes das poliacuteticas agriacutecolas especiacuteficas que houve uma forte repercussatildeo sobre a economia da regiatildeo Centro-Oeste periacuteodo que ficou co-nhecido como a Marcha para o Oeste Atraveacutes dos investimentos em infra-estrutura de transportes concentradas no modal rodoviaacuterio6 a construccedilatildeo de duas rodovias foram portanto fundamentais para essa regiatildeo a BR 153 e a BR 060 A primeira delas ligou Goiacircnia (GO) a Satildeo Joseacute do Rio Preto (SP) e a segunda partindo de Brasiacutelia ligou Anaacutepolis-Goiacircnia-Sudoeste de Goiaacutes integrando-se agrave BR 364 e de forma descon-tiacutenua agrave BR 153 Em seguida a polarizaccedilatildeo de Goiacircnia foi reforccedilada pela atuaccedilatildeo do Governo Estadual e Federal na construccedilatildeo de outras rodo-vias inclusive estaduais Para Natal (1991) o Centro-Oeste do Paiacutes que se destacava como grande aacuterea de fronteira agriacutecola em expansatildeo foi a regiatildeo que recebeu maior atenccedilatildeo do Governo Federal em investimentos na aacuterea de logiacutestica de transportes correspondendo a 37 do incremento da exten-satildeo das vias rodoviaacuterias federais no periacuteodo entre 1950 e 1960 Marginalizado da era ferroviaacuteria o Es-tado de Mato Grosso foi contemplado com a prin-cipal via rodoviaacuteria de integraccedilatildeo SudesteCentro-OesteNorte a BR 364 Essa rodovia a partir dos anos 1960 foi fundamental para a consolidaccedilatildeo dos trecircs principais nuacutecleos econocircmicos do Estado de Mato Grosso Rondonoacutepolis Cuiabaacute e Caacutece-res integrando-os a noroeste com Rondocircnia e Acre e a sudeste com o Triacircngulo Mineiro De mesma importacircncia a rodovia BR 163 como via longitudinal entre os Estados de

6A concentraccedilatildeo logiacutestica do Paiacutes no modal rodoviaacuterio esteve atrelada ao contexto rodoviarista da economia brasileira

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul possibilitou a integraccedilatildeo dos municiacutepios desses estados refor-ccedilando a aacuterea de influecircncia na fronteira agropecuaacute-ria (GUIMARAtildeES LEME 2002) Eacute possiacutevel observar que o Estado foi fundamental para o processo de expansatildeo agriacute-cola para a aacuterea de fronteira A expansatildeo natildeo foi promovida somente por poliacuteticas setoriais agriacuteco-las mas principalmente pela interiorizaccedilatildeo de vultosos investimentos federais em infra-estrutura de transportes na figura dos grandes eixos rodo-viaacuterios Iniciou-se portanto a grande mudanccedila funcional da Regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes com crescimento populacional e econocircmico baseado na produccedilatildeo agriacutecola em bases modernas e tec-nificadas que foram responsaacuteveis pelo salto pro-dutivo e exportador do complexo de gratildeos e car-nes da regiatildeo No anos 1970 e em anos anteriores sob o contexto da desconcentraccedilatildeo econocircmica regional elevadas inversotildees de capital estatal na esfera produtiva do Paiacutes principalmente em infra-estrutura de transportes abasteceram a regiatildeo Centro-Oeste de um aparelhamento de infra-estrutura produtiva que em adiccedilatildeo ao crescimen-to da produccedilatildeo de gratildeos atraiacuteram entre os anos 1970 e 1980 importantes empresas agroindustri-ais interessadas nos insumos agriacutecolas que contri-buiacuteram para o crescimento acelerado da economia da regiatildeo (GUIMARAtildeES LEME 2002 CASTRO FONSECA 1995) Em siacutentese na ausecircncia de tais poliacuteti-cas dificilmente haveria a expansatildeo e a diversifi-caccedilatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria na regiatildeo de fronteira Por meio do Polocentro por exemplo houve a expansatildeo de uma agricultura empresarial com base em meacutedias e grandes propriedades aleacutem do crescimento da atividade pecuaacuteria A tabela 2 apresenta uma variaccedilatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria no Paiacutes a partir dos anos 1970 evidenciando que entre os anos de 1970 e 1975 a regiatildeo de fronteira agriacutecola Centro-Oeste brasileiro jaacute se destacava pelo elevado cresci-mento da produccedilatildeo Assim sendo a modernizaccedilatildeo da pro-duccedilatildeo agropecuaacuteria na regiatildeo de fronteira pro-movida pelas poliacuteticas setoriais refletiu-se na produtividade do setor na regiatildeo Centro-Oeste principalmente na produccedilatildeo de soja que se des-tacava pelo crescimento expressivo da produccedilatildeo e pelo alto niacutevel de produtividade Poreacutem como em outros programas se-

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TABELA 2 - Variaccedilatildeo Real da Produccedilatildeo Agrope-cuaacuteria para o Brasil e Regiatildeo Deacuteca-da de 1970

(em ) Regiatildeo 1970-75 1975-80 1970-80

Norte 2980 7710 130Nordeste 4380 820 5550Sudeste (SP) 2850 2510 6070Satildeo Paulo 3680 3070 7880Sul 4740 2380 8240Centro-Oeste 4760 7030 15130Brasil 3780 3040 7970

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Kageyama (1986) toriais pela crise financeira do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 houve uma derrocada de investimentos e de intervenccedilatildeo na grande aacuterea de fronteira agriacutecola do Paiacutes e foram tomadas medidas para eliminar os subsiacutedios ao creacutedito rural A partir de 1985 portanto a conduccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas agriacutecolas tomou um rumo diferente O setor agriacutecola perdeu o apoio puacuteblico que tinha ateacute 1986 jaacute que a poliacutetica econocircmica passou a focar na estabilidade com metas de curto prazo A crise fiscal do Estado natildeo se repercu-tiu apenas no creacutedito rural pois outros programas de apoio ao setor foram afetados com reduccedilatildeo significativa dos gastos puacuteblicos No iniacutecio dos anos 1990 como aponta Coelho (2001) foram extintos o Instituto do Accediluacutecar e do Aacutelcool (IAA) e o Instituto Brasileiro do Cafeacute (IBC) O Programa de Abastecimento por exemplo que englobava a poliacutetica de preccedilos e estoques reguladores de gratildeos apresentou que-da dos gastos puacuteblicos na ordem de 78 sendo que entre os anos de 1987 e 1989 passou de US$ 82 bilhotildees para US$18 bilhatildeo (BACHA 2004) Nesse contexto de fragilidade financei-ra do Estado em subsidiar o setor agriacutecola ao final dos anos 1980 as restriccedilotildees financeiras e fiscais internas e externas levaram ao abandono os grandes programas de incentivo agrave expansatildeo e ao crescimento da produccedilatildeo agriacutecola e popula-cional na regiatildeo relegando o espaccedilo agrave loacutegica do mercado Goldin e Rezende (1993) argumentam que com a crise da oferta de creacutedito rural a partir de 1979 as regiotildees Sul e Sudeste do Paiacutes tive-ram reduccedilatildeo do grau de mecanizaccedilatildeo de suas

produccedilotildees enquanto a regiatildeo Centro-Oeste a partir dos anos 1980 expandiu a cultura mecani-zada principalmente a de soja ganhando vanta-gens comparativas dada a sua maior aptidatildeo regional agrave lavoura mecanizada sendo irrelevan-tes as desvantagens regionais como a baixa densidade demograacutefica Entretanto permaneceram demandas que natildeo foram resolvidas desde o fim dos pro-gramas setoriais de apoio ao setor7 e os estiacutemu-los alcanccedilados pela regiatildeo foram aos poucos se esvaindo sendo os efeitos desse ldquoabandonordquo sentidos nos dias atuais Haacute necessidade de me-lhores acessos agrave infraestrutura (transportes energia telecomunicaccedilotildees) devido agrave existecircncia de aglomerados urbanos isolados dos principais centros econocircmicos Ainda assim satildeo deman-dados programas que tendem a preservaccedilatildeo de aacutereas de floresta que abrangem partes da regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes A razatildeo dessas e de ou-tras demandas significativas estaacute no abandono preteacuterito de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvi-mento regional que tecircm impactos na competitivi-dade da cultura de gratildeos por exemplo Assim todo o aparato de incentivos agrave promoccedilatildeo econocircmica da regiatildeo pela forte pre-senccedila do Estado foi abandonado Inicialmente se investiu em poliacuteticas e programas para o desen-volvimento econocircmico e social dos cerrados e depois sucumbida pela forte crise financeira puacuteblica a regiatildeo foi de longe a que menos aten-ccedilatildeo recebeu sendo que as bases produtivas que foram desenvolvidas ficaram sem o apoio gover-namental Eacute no final dos anos 1970 e 1980 por-tanto que as poliacuteticas regionais foram muito de-sacreditadas dada a substituiccedilatildeo do planejamen-to governamental pela valoraccedilatildeo das forccedilas de mercado como mecanismo para se alcanccedilar a eficiecircncia econocircmica Sob um Estado desestruturado preva-lecem projetos natildeo mais na concepccedilatildeo de de-senvolvimento regional mas sim na ideia de eixos estruturantes concentrados em aacutereas mais dinacircmicas num caraacuteter privado de seleccedilatildeo dos investimentos Nesse contexto combinaram-se as

7Como exemplo por volta de 1982 houve o fim do Polo-centro que tinha como objetivo estimular o raacutepido desen-volvimento e a modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio nos cerrados brasileiros Parcialmente os seus objetivos foram alcanccedilados beneficiando contudo grandes propriedades

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

accedilotildees do Estado e do capital privado para criar condiccedilotildees importantes agrave implantaccedilatildeo de grandes empresas do complexo agroindustrial na regiatildeo Centro-Oeste e para a consolidaccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos com uma base altamente tecnificada e de alta produtividade com destaque para a cultu-ra da soja Entretanto o abandono do aparato institucional desenvolvimentista tem reflexos para a competitividade da produccedilatildeo de gratildeos a e-xemplo da produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste do Paiacutes que hoje enfrenta perdas devido ao gargalo logiacutestico da regiatildeo Amparada sob um modelo de transportes rodoviarista ao longo dos anos o afastamento do Estado nessa regiatildeo natildeo a abas-teceu de investimentos para a ampliaccedilatildeo e res-tauraccedilatildeo da capacidade de transportes por vias terrestres enquanto a produccedilatildeo de soja crescia e se desenvolvia 3 - PRODUCcedilAtildeO DE SOJA NA REGIAtildeO CEN-

TRO-OESTE E CONDICcedilOtildeES DA INFRAES-TRUTURA DE TRANSPORTES PARA O SEU ESCOAMENTO

Embora a conjuntura adversa da eco-nomia brasileira tenha implicado a diminuiccedilatildeo das poliacuteticas voltadas agrave agropecuaacuteria do Paiacutes eacute am-plamente reconhecido que o setor rural resistiu e se expandiu tendo ampliado suas vendas exter-nas tanto com produtos tradicionais como com os natildeo tradicionais Os investimentos em infraestrutura de transportes no Centro-Oeste do Paiacutes que interli-garam essa regiatildeo aos mercados internos foram fatores importantes no iniacutecio da expansatildeo agriacuteco-la e para a intensificaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Atualmente a regiatildeo Centro-Oeste se consolida como uma importante regiatildeo produtora de soja cujo modernismo dinacircmica e agroindus-trializaccedilatildeo caracterizam a agricultura regional A produccedilatildeo brasileira de gratildeos apresentou um au-mento de produtividade e conquistou competitivi-dade internacional e o Paiacutes se tornou um impor-tante produtor e exportador de soja Na safra de 200910 a aacuterea cultivada de soja no Paiacutes foi de 2336 milhotildees de hectares e as exportaccedilotildees de soja em gratildeo no ano de 2009 pelo Brasil repre-sentaram 43 da produccedilatildeo (ROESSING LAZ-ZAROTTO 2005 CONAB 2010)

De acordo com o Ministeacuterio da Integra-ccedilatildeo Nacional8 (AGUIAR 2006) a soja produzida nessa regiatildeo apresentava segundo estimativas um custo meacutedio inferior a 30 ao dos Estados Unidos maior produtor internacional da oleagino-sa em decorrecircncia da combinaccedilatildeo de fatores que proporcionaram elevada produtividade como o uso de tecnologias avanccediladas na produccedilatildeo agropecuaacuteria resultados das pesquisas realiza-das pela EMBRAPA Ademais o crescimento da quantidade produzida decorreu da maior expan-satildeo da aacuterea de cultivo em relaccedilatildeo agraves outras cultu-ras e isso explica o seu padratildeo de crescimento forma expansiva na regiatildeo de fronteira agriacutecola Enquanto nos anos 1970 e 1980 os estados que lideravam a produccedilatildeo de soja no Paiacutes eram aqueles da regiatildeo Sul com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul a partir dos anos 1990 esses estados vatildeo perdendo partici-paccedilatildeo no quantum da produccedilatildeo da oleaginosa para os estados da regiatildeo Centro-Oeste Em 1980 a produccedilatildeo de soja dessa regiatildeo represen-tou 125 da produccedilatildeo total do Paiacutes e em 1990 evoluiu para 32 alcanccedilando em 2000 47 da produccedilatildeo total Dentro da regiatildeo Centro-Oeste eacute o Estado de Mato Grosso o liacuteder na produccedilatildeo da oleaginosa respondendo aproximadamente por 30 da produccedilatildeo nacional de soja na safra 200708 de acordo com CONAB (2009) sendo portanto o maior estado brasileiro produtor dessa cultura tanto em termos de quantidade produzida quanto em termos de aacuterea colhida Os dados mostram que o movimento de expansatildeo da cultura da soja natildeo tem se limi-tado apenas agrave regiatildeo Centro-Oeste Os estados da regiatildeo Norte tecircm se destacado pelo aumento de 43 da aacuterea colhida entre 2004 e 2005 por exemplo com destaque para os Estados de To-cantins Roraima e Paraacute A regiatildeo Nordeste por exemplo com destaque para os Estados do Ma-ranhatildeo Piauiacute e Bahia tem apresentado cresci-mento expressivo da produccedilatildeo da oleaginosa apoacutes os anos 1990 A figura 1 apresenta a expansatildeo da cultura da soja na regiatildeo Centro-Oeste e no Bra-sil

8Plano Estrateacutegico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) estudo para orientar e organizar as iniciativas puacuteblicas e da sociedade para o desenvolvimento sustentaacute-vel da regiatildeo

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1970

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2007

De Ateacute Cor 0 260000t

260001t 520000t

520001t 1000000t

1000001t 3000000t

3000001t 6000000t

6000001t 9000000t

9000001t 13000000t

13000001t 18000000t

ausecircncia de dados

Figura 1 - Evoluccedilatildeo da Produccedilatildeo de Soja Regiatildeo Centro-Oeste e Brasil 1970 a 2005 Fonte IBGE (2009)

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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TABELA 2 - Variaccedilatildeo Real da Produccedilatildeo Agrope-cuaacuteria para o Brasil e Regiatildeo Deacuteca-da de 1970

(em ) Regiatildeo 1970-75 1975-80 1970-80

Norte 2980 7710 130Nordeste 4380 820 5550Sudeste (SP) 2850 2510 6070Satildeo Paulo 3680 3070 7880Sul 4740 2380 8240Centro-Oeste 4760 7030 15130Brasil 3780 3040 7970

Fonte Elaborada pelos autores a partir de Kageyama (1986) toriais pela crise financeira do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 houve uma derrocada de investimentos e de intervenccedilatildeo na grande aacuterea de fronteira agriacutecola do Paiacutes e foram tomadas medidas para eliminar os subsiacutedios ao creacutedito rural A partir de 1985 portanto a conduccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas agriacutecolas tomou um rumo diferente O setor agriacutecola perdeu o apoio puacuteblico que tinha ateacute 1986 jaacute que a poliacutetica econocircmica passou a focar na estabilidade com metas de curto prazo A crise fiscal do Estado natildeo se repercu-tiu apenas no creacutedito rural pois outros programas de apoio ao setor foram afetados com reduccedilatildeo significativa dos gastos puacuteblicos No iniacutecio dos anos 1990 como aponta Coelho (2001) foram extintos o Instituto do Accediluacutecar e do Aacutelcool (IAA) e o Instituto Brasileiro do Cafeacute (IBC) O Programa de Abastecimento por exemplo que englobava a poliacutetica de preccedilos e estoques reguladores de gratildeos apresentou que-da dos gastos puacuteblicos na ordem de 78 sendo que entre os anos de 1987 e 1989 passou de US$ 82 bilhotildees para US$18 bilhatildeo (BACHA 2004) Nesse contexto de fragilidade financei-ra do Estado em subsidiar o setor agriacutecola ao final dos anos 1980 as restriccedilotildees financeiras e fiscais internas e externas levaram ao abandono os grandes programas de incentivo agrave expansatildeo e ao crescimento da produccedilatildeo agriacutecola e popula-cional na regiatildeo relegando o espaccedilo agrave loacutegica do mercado Goldin e Rezende (1993) argumentam que com a crise da oferta de creacutedito rural a partir de 1979 as regiotildees Sul e Sudeste do Paiacutes tive-ram reduccedilatildeo do grau de mecanizaccedilatildeo de suas

produccedilotildees enquanto a regiatildeo Centro-Oeste a partir dos anos 1980 expandiu a cultura mecani-zada principalmente a de soja ganhando vanta-gens comparativas dada a sua maior aptidatildeo regional agrave lavoura mecanizada sendo irrelevan-tes as desvantagens regionais como a baixa densidade demograacutefica Entretanto permaneceram demandas que natildeo foram resolvidas desde o fim dos pro-gramas setoriais de apoio ao setor7 e os estiacutemu-los alcanccedilados pela regiatildeo foram aos poucos se esvaindo sendo os efeitos desse ldquoabandonordquo sentidos nos dias atuais Haacute necessidade de me-lhores acessos agrave infraestrutura (transportes energia telecomunicaccedilotildees) devido agrave existecircncia de aglomerados urbanos isolados dos principais centros econocircmicos Ainda assim satildeo deman-dados programas que tendem a preservaccedilatildeo de aacutereas de floresta que abrangem partes da regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes A razatildeo dessas e de ou-tras demandas significativas estaacute no abandono preteacuterito de poliacuteticas puacuteblicas para o desenvolvi-mento regional que tecircm impactos na competitivi-dade da cultura de gratildeos por exemplo Assim todo o aparato de incentivos agrave promoccedilatildeo econocircmica da regiatildeo pela forte pre-senccedila do Estado foi abandonado Inicialmente se investiu em poliacuteticas e programas para o desen-volvimento econocircmico e social dos cerrados e depois sucumbida pela forte crise financeira puacuteblica a regiatildeo foi de longe a que menos aten-ccedilatildeo recebeu sendo que as bases produtivas que foram desenvolvidas ficaram sem o apoio gover-namental Eacute no final dos anos 1970 e 1980 por-tanto que as poliacuteticas regionais foram muito de-sacreditadas dada a substituiccedilatildeo do planejamen-to governamental pela valoraccedilatildeo das forccedilas de mercado como mecanismo para se alcanccedilar a eficiecircncia econocircmica Sob um Estado desestruturado preva-lecem projetos natildeo mais na concepccedilatildeo de de-senvolvimento regional mas sim na ideia de eixos estruturantes concentrados em aacutereas mais dinacircmicas num caraacuteter privado de seleccedilatildeo dos investimentos Nesse contexto combinaram-se as

7Como exemplo por volta de 1982 houve o fim do Polo-centro que tinha como objetivo estimular o raacutepido desen-volvimento e a modernizaccedilatildeo do setor agropecuaacuterio nos cerrados brasileiros Parcialmente os seus objetivos foram alcanccedilados beneficiando contudo grandes propriedades

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

accedilotildees do Estado e do capital privado para criar condiccedilotildees importantes agrave implantaccedilatildeo de grandes empresas do complexo agroindustrial na regiatildeo Centro-Oeste e para a consolidaccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos com uma base altamente tecnificada e de alta produtividade com destaque para a cultu-ra da soja Entretanto o abandono do aparato institucional desenvolvimentista tem reflexos para a competitividade da produccedilatildeo de gratildeos a e-xemplo da produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste do Paiacutes que hoje enfrenta perdas devido ao gargalo logiacutestico da regiatildeo Amparada sob um modelo de transportes rodoviarista ao longo dos anos o afastamento do Estado nessa regiatildeo natildeo a abas-teceu de investimentos para a ampliaccedilatildeo e res-tauraccedilatildeo da capacidade de transportes por vias terrestres enquanto a produccedilatildeo de soja crescia e se desenvolvia 3 - PRODUCcedilAtildeO DE SOJA NA REGIAtildeO CEN-

TRO-OESTE E CONDICcedilOtildeES DA INFRAES-TRUTURA DE TRANSPORTES PARA O SEU ESCOAMENTO

Embora a conjuntura adversa da eco-nomia brasileira tenha implicado a diminuiccedilatildeo das poliacuteticas voltadas agrave agropecuaacuteria do Paiacutes eacute am-plamente reconhecido que o setor rural resistiu e se expandiu tendo ampliado suas vendas exter-nas tanto com produtos tradicionais como com os natildeo tradicionais Os investimentos em infraestrutura de transportes no Centro-Oeste do Paiacutes que interli-garam essa regiatildeo aos mercados internos foram fatores importantes no iniacutecio da expansatildeo agriacuteco-la e para a intensificaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Atualmente a regiatildeo Centro-Oeste se consolida como uma importante regiatildeo produtora de soja cujo modernismo dinacircmica e agroindus-trializaccedilatildeo caracterizam a agricultura regional A produccedilatildeo brasileira de gratildeos apresentou um au-mento de produtividade e conquistou competitivi-dade internacional e o Paiacutes se tornou um impor-tante produtor e exportador de soja Na safra de 200910 a aacuterea cultivada de soja no Paiacutes foi de 2336 milhotildees de hectares e as exportaccedilotildees de soja em gratildeo no ano de 2009 pelo Brasil repre-sentaram 43 da produccedilatildeo (ROESSING LAZ-ZAROTTO 2005 CONAB 2010)

De acordo com o Ministeacuterio da Integra-ccedilatildeo Nacional8 (AGUIAR 2006) a soja produzida nessa regiatildeo apresentava segundo estimativas um custo meacutedio inferior a 30 ao dos Estados Unidos maior produtor internacional da oleagino-sa em decorrecircncia da combinaccedilatildeo de fatores que proporcionaram elevada produtividade como o uso de tecnologias avanccediladas na produccedilatildeo agropecuaacuteria resultados das pesquisas realiza-das pela EMBRAPA Ademais o crescimento da quantidade produzida decorreu da maior expan-satildeo da aacuterea de cultivo em relaccedilatildeo agraves outras cultu-ras e isso explica o seu padratildeo de crescimento forma expansiva na regiatildeo de fronteira agriacutecola Enquanto nos anos 1970 e 1980 os estados que lideravam a produccedilatildeo de soja no Paiacutes eram aqueles da regiatildeo Sul com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul a partir dos anos 1990 esses estados vatildeo perdendo partici-paccedilatildeo no quantum da produccedilatildeo da oleaginosa para os estados da regiatildeo Centro-Oeste Em 1980 a produccedilatildeo de soja dessa regiatildeo represen-tou 125 da produccedilatildeo total do Paiacutes e em 1990 evoluiu para 32 alcanccedilando em 2000 47 da produccedilatildeo total Dentro da regiatildeo Centro-Oeste eacute o Estado de Mato Grosso o liacuteder na produccedilatildeo da oleaginosa respondendo aproximadamente por 30 da produccedilatildeo nacional de soja na safra 200708 de acordo com CONAB (2009) sendo portanto o maior estado brasileiro produtor dessa cultura tanto em termos de quantidade produzida quanto em termos de aacuterea colhida Os dados mostram que o movimento de expansatildeo da cultura da soja natildeo tem se limi-tado apenas agrave regiatildeo Centro-Oeste Os estados da regiatildeo Norte tecircm se destacado pelo aumento de 43 da aacuterea colhida entre 2004 e 2005 por exemplo com destaque para os Estados de To-cantins Roraima e Paraacute A regiatildeo Nordeste por exemplo com destaque para os Estados do Ma-ranhatildeo Piauiacute e Bahia tem apresentado cresci-mento expressivo da produccedilatildeo da oleaginosa apoacutes os anos 1990 A figura 1 apresenta a expansatildeo da cultura da soja na regiatildeo Centro-Oeste e no Bra-sil

8Plano Estrateacutegico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) estudo para orientar e organizar as iniciativas puacuteblicas e da sociedade para o desenvolvimento sustentaacute-vel da regiatildeo

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1970

1990

2005

1980

2000

2007

De Ateacute Cor 0 260000t

260001t 520000t

520001t 1000000t

1000001t 3000000t

3000001t 6000000t

6000001t 9000000t

9000001t 13000000t

13000001t 18000000t

ausecircncia de dados

Figura 1 - Evoluccedilatildeo da Produccedilatildeo de Soja Regiatildeo Centro-Oeste e Brasil 1970 a 2005 Fonte IBGE (2009)

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

accedilotildees do Estado e do capital privado para criar condiccedilotildees importantes agrave implantaccedilatildeo de grandes empresas do complexo agroindustrial na regiatildeo Centro-Oeste e para a consolidaccedilatildeo da produccedilatildeo de gratildeos com uma base altamente tecnificada e de alta produtividade com destaque para a cultu-ra da soja Entretanto o abandono do aparato institucional desenvolvimentista tem reflexos para a competitividade da produccedilatildeo de gratildeos a e-xemplo da produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste do Paiacutes que hoje enfrenta perdas devido ao gargalo logiacutestico da regiatildeo Amparada sob um modelo de transportes rodoviarista ao longo dos anos o afastamento do Estado nessa regiatildeo natildeo a abas-teceu de investimentos para a ampliaccedilatildeo e res-tauraccedilatildeo da capacidade de transportes por vias terrestres enquanto a produccedilatildeo de soja crescia e se desenvolvia 3 - PRODUCcedilAtildeO DE SOJA NA REGIAtildeO CEN-

TRO-OESTE E CONDICcedilOtildeES DA INFRAES-TRUTURA DE TRANSPORTES PARA O SEU ESCOAMENTO

Embora a conjuntura adversa da eco-nomia brasileira tenha implicado a diminuiccedilatildeo das poliacuteticas voltadas agrave agropecuaacuteria do Paiacutes eacute am-plamente reconhecido que o setor rural resistiu e se expandiu tendo ampliado suas vendas exter-nas tanto com produtos tradicionais como com os natildeo tradicionais Os investimentos em infraestrutura de transportes no Centro-Oeste do Paiacutes que interli-garam essa regiatildeo aos mercados internos foram fatores importantes no iniacutecio da expansatildeo agriacuteco-la e para a intensificaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Atualmente a regiatildeo Centro-Oeste se consolida como uma importante regiatildeo produtora de soja cujo modernismo dinacircmica e agroindus-trializaccedilatildeo caracterizam a agricultura regional A produccedilatildeo brasileira de gratildeos apresentou um au-mento de produtividade e conquistou competitivi-dade internacional e o Paiacutes se tornou um impor-tante produtor e exportador de soja Na safra de 200910 a aacuterea cultivada de soja no Paiacutes foi de 2336 milhotildees de hectares e as exportaccedilotildees de soja em gratildeo no ano de 2009 pelo Brasil repre-sentaram 43 da produccedilatildeo (ROESSING LAZ-ZAROTTO 2005 CONAB 2010)

De acordo com o Ministeacuterio da Integra-ccedilatildeo Nacional8 (AGUIAR 2006) a soja produzida nessa regiatildeo apresentava segundo estimativas um custo meacutedio inferior a 30 ao dos Estados Unidos maior produtor internacional da oleagino-sa em decorrecircncia da combinaccedilatildeo de fatores que proporcionaram elevada produtividade como o uso de tecnologias avanccediladas na produccedilatildeo agropecuaacuteria resultados das pesquisas realiza-das pela EMBRAPA Ademais o crescimento da quantidade produzida decorreu da maior expan-satildeo da aacuterea de cultivo em relaccedilatildeo agraves outras cultu-ras e isso explica o seu padratildeo de crescimento forma expansiva na regiatildeo de fronteira agriacutecola Enquanto nos anos 1970 e 1980 os estados que lideravam a produccedilatildeo de soja no Paiacutes eram aqueles da regiatildeo Sul com destaque para o Estado do Rio Grande do Sul a partir dos anos 1990 esses estados vatildeo perdendo partici-paccedilatildeo no quantum da produccedilatildeo da oleaginosa para os estados da regiatildeo Centro-Oeste Em 1980 a produccedilatildeo de soja dessa regiatildeo represen-tou 125 da produccedilatildeo total do Paiacutes e em 1990 evoluiu para 32 alcanccedilando em 2000 47 da produccedilatildeo total Dentro da regiatildeo Centro-Oeste eacute o Estado de Mato Grosso o liacuteder na produccedilatildeo da oleaginosa respondendo aproximadamente por 30 da produccedilatildeo nacional de soja na safra 200708 de acordo com CONAB (2009) sendo portanto o maior estado brasileiro produtor dessa cultura tanto em termos de quantidade produzida quanto em termos de aacuterea colhida Os dados mostram que o movimento de expansatildeo da cultura da soja natildeo tem se limi-tado apenas agrave regiatildeo Centro-Oeste Os estados da regiatildeo Norte tecircm se destacado pelo aumento de 43 da aacuterea colhida entre 2004 e 2005 por exemplo com destaque para os Estados de To-cantins Roraima e Paraacute A regiatildeo Nordeste por exemplo com destaque para os Estados do Ma-ranhatildeo Piauiacute e Bahia tem apresentado cresci-mento expressivo da produccedilatildeo da oleaginosa apoacutes os anos 1990 A figura 1 apresenta a expansatildeo da cultura da soja na regiatildeo Centro-Oeste e no Bra-sil

8Plano Estrateacutegico de Desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) estudo para orientar e organizar as iniciativas puacuteblicas e da sociedade para o desenvolvimento sustentaacute-vel da regiatildeo

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1970

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2005

1980

2000

2007

De Ateacute Cor 0 260000t

260001t 520000t

520001t 1000000t

1000001t 3000000t

3000001t 6000000t

6000001t 9000000t

9000001t 13000000t

13000001t 18000000t

ausecircncia de dados

Figura 1 - Evoluccedilatildeo da Produccedilatildeo de Soja Regiatildeo Centro-Oeste e Brasil 1970 a 2005 Fonte IBGE (2009)

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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De Ateacute Cor 0 260000t

260001t 520000t

520001t 1000000t

1000001t 3000000t

3000001t 6000000t

6000001t 9000000t

9000001t 13000000t

13000001t 18000000t

ausecircncia de dados

Figura 1 - Evoluccedilatildeo da Produccedilatildeo de Soja Regiatildeo Centro-Oeste e Brasil 1970 a 2005 Fonte IBGE (2009)

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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Entre os periacuteodos safras 2004 e 2005 a aacuterea colhida de soja no Brasil cresceu 65 passando de 21538 milhotildees para 22948 mi-lhotildees de hectares No periacuteodo safra 2006 e 2007 o Paiacutes apresentou uma pequena queda na aacuterea colhida passando de 22047 milhotildees para 20565 milhotildees de hectares A tabela 3 mostra a quantidade de soja em gratildeo que eacute produzida no Brasil e suas regi-otildees evidenciando que a regiatildeo Centro-Oeste apesar de ter apresentado queda na produccedilatildeo no ano safra 200607 foi a regiatildeo que ainda apre-sentava as maiores quantidades produzidas e a uacutenica que apresentou recuperaccedilatildeo na quantidade produzida entre os anos safras 200708 e 200809 de acordo com CONAB (2009) Atual-mente essa regiatildeo responde por 55 do total de soja produzida no Paiacutes e ainda por 48 da aacuterea colhida TABELA 3 - Comparativo de Quantidade Produ-

zida de Soja por Regiatildeo e Brasil Safras 200405 a 200809

(em t) Regiatildeo 200405 200506 200607 2007081 2008091

Norte 14199 12552 10799 14724 1414

Nordeste 30531 35609 38672 48298 41619

Centro-Oeste 289735 279247 264948 29114 291349

Sudeste 4752 41371 40054 39834 39802

Sul 132062 182492 229445 206181 183971

Brasil 5230460 550271 583918 600177 5708811Produccedilatildeo estimada Fonte CONAB (2009) Ao se fazer uma comparaccedilatildeo entre a quantidade exportada de soja em gratildeos pelo Paiacutes em 2005 o equivalente a 22435 milhotildees de toneladas (CONAB 2007) e o volume produ-zido pela regiatildeo Centro-Oeste de 28652 milhotildees de toneladas observa-se que este uacuteltimo eacute 27 superior ao montante que eacute exportado pelo Paiacutes sendo a produccedilatildeo do Estado do Mato Grosso responsaacutevel por 26 do total de gratildeos in natura que eacute exportado Concluiacute-se assim que a regiatildeo Centro-Oeste se constituiu em um importante polo pro-dutor de soja no Paiacutes Essa capacidade eacute fruto do desenvolvimento e da consolidaccedilatildeo de suas competecircncias teacutecnicas as quais a transformaram em uma plataforma de exportaccedilotildees de commodi-ties agriacutecolas que satildeo importantes para a eco-nomia do Paiacutes

Ademais conforme aponta o Ministeacuterio da Integraccedilatildeo Nacional (AGUIAR 2006) a am-pliaccedilatildeo da agropecuaacuteria nessa regiatildeo a tornou o principal polo produtor e exportador do agronegoacute-cio brasileiro Entre os anos de 1990 e 2000 a participaccedilatildeo da regiatildeo na produccedilatildeo de gratildeos saltou de 201 para 305 com uma produccedilatildeo de mais de 25 milhotildees de toneladas Contudo apesar da importacircncia eco-nocircmica a regiatildeo Centro-Oeste natildeo apresenta hoje as condiccedilotildees logiacutesticas eficientes para o escoamento de sua produccedilatildeo de soja Nessa regiatildeo a maior parte dos escoamentos ocorre via o modal rodoviaacuterio de transportes - principal mo-dal de transportes no Paiacutes em termos de volume de cargas transportadas - em razatildeo do natildeo de-senvolvimento de outro modal adequado e em niacuteveis satisfatoacuterios para essa produccedilatildeo No periacuteodo inicial de expansatildeo da soja para o cerrado brasileiro houve investi-mentos em rodovias e armazenamento na re-giatildeo Centro-Oeste como apontado pela cons-truccedilatildeo da BR 163 hoje importante corredor de escoamento da produccedilatildeo Mas ao longo dos anos ficaram sem conservaccedilatildeo restauraccedilatildeo e ampliaccedilatildeo ao passo que essa cultura se conso-lidava e ganhava competitividade internacional Atualmente as vias de transportes terrestres da regiatildeo por onde se concentra o escoamento da produccedilatildeo jaacute estatildeo bem degrada-das e ineficazes gerando perdas de competitivi-dade internacional agrave produccedilatildeo de soja e ao agro-negoacutecio do Paiacutes Conclui-se que o gargalo fun-damental da competitividade vem a ser a defici-ecircncia logiacutestica e de infraestrutura que acarretam um custo logiacutestico no Paiacutes de 83 em meacutedia superior ao dos Estados Unidos e 94 superior ao da Argentina principais concorrentes brasilei-ros no setor de soja (JANK NASSAR TACHI-NARDI 2004-2005) O fato eacute que a produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes eacute altamente competitiva ldquodentro da porteirardquo mas apresenta grandes restri-ccedilotildees logiacutesticas De acordo com IBRE (2005) 25 da receita das vendas da produccedilatildeo de soja estatildeo comprometidos com os custos internos de trans-portes em decorrecircncia do tipo predominantemen-te rodoviaacuterio em deterioraccedilatildeo e pela inexistecircncia de uma rede estruturada e eficiente de transportes hidroviaacuterio eou ferroviaacuterio para o escoamento da produccedilatildeo agropecuaacuteria da regiatildeo enquanto a despesa meacutedia de transportes para um produtor

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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norte-americano eacute de menos de 10 da receita obtida

Imbatiacutevel em produtividade devido agrave combina-ccedilatildeo de diligecircncias empresarial com condiccedilotildees naturais privilegiadas nossa agricultura vecirc gran-de parte do seu impressionante diferencial com-petitivo ser literalmente jogado fora pelos gra-viacutessimos problemas logiacutesticos do paiacutes (IBRE 2005)

A situaccedilatildeo de escassez de investimen-tos na infraestrutura de transportes observada na regiatildeo e no Paiacutes eacute reflexo entre outros motivos da deterioraccedilatildeo das financcedilas puacuteblicas dos anos 1980 que afastou o Estado das massivas inver-sotildees de capitais na economia e que emperrou o desenvolvimento dos transportes nas regiotildees Centro-Oeste e Norte do Paiacutes (IBRE 2005) A inserccedilatildeo produtiva na Regiatildeo Centro-Oeste portanto se consolidou pela base infraes-trutural que teve como caracteriacutestica principal a direccedilatildeo definida pelo traccedilado das rodovias e pela dimensatildeo fracionada do transporte de cargas conforme apontam Guimaratildees e Leme (2002) Em 1995 contudo como a agricultura foi sempre penalizada pelos altos custos de transporte a poliacutetica agriacutecola passou a atuar juntamente com o Ministeacuterio dos Transportes para implantar e dinamizar os corredores multi-modais de transportes baseando-se no aprovei-tamento dos recursos hidroviaacuterios e na privatiza-ccedilatildeo das ferrovias e portos Com essas medidas os custos de transportes se reduziram em 40 na meacutedia e o custo portuaacuterio em 50 (COELHO 2001) De acordo com Nasser (2000) eacute nesse periacuteodo - deacutecada de 1990 - que vieram agrave tona do cenaacuterio econocircmico estudos e discussotildees sobre economia regional em razatildeo da emergecircncia de vaacuterios problemas de acircmbito regional Entretanto pelo contexto de desmonte do Estado muitos desses projetos logiacutesticos sob a concepccedilatildeo de desenvolvimento regional que se basearam no planejamento da infra-estrutura de suporte agrave comercializaccedilatildeo com vistas agrave promoccedilatildeo da inte-graccedilatildeo regional natildeo se concretizaram pois pre-valeceu a ideacuteia de eixos estritamente concentra-dos em aacutereas mais dinacircmicas e jaacute integradas Portanto pelo desordenamento da ca-pacidade do Estado em realizar inversotildees sob a loacutegica do desenvolvimento regional ao longo dos anos natildeo se observou um esforccedilo da poliacutetica agriacutecola para realizar inversotildees na ampliaccedilatildeo e

manutenccedilatildeo das rodovias que abastecem a regi-atildeo Centro-Oeste sobre as quais a expansatildeo e a consolidaccedilatildeo da agricultura moderna e tecnifica-da da soja se apoiou Ademais natildeo se vislum-brou um sistema multimodal de transportes na regiatildeo que pudesse favorecer e promover a com-petitividade dessa produccedilatildeo Atualmente as rodovias BR 163 e BR 364 satildeo as principais rodovias de escoamento da produccedilatildeo sojiacutecola do Centro-Oeste brasileiro para os portos das regiotildees Sul e Sudeste responsaacute-veis por cerca de 80 de toda a exportaccedilatildeo da produccedilatildeo do complexo soja do Paiacutes Entretanto pela fragilidade financeira do Estado as rodovias BR 163 e BR 364 se encontram em estados pre-caacuterios para o traacutefego de veiacuteculos o que inferem em perdas agrave competitiva produccedilatildeo de soja do Centro-Oeste brasileiro Apesar da existecircncia de rotas de esco-amento por hidrovias e ferrovias as rodovias ainda satildeo as mais demandadas por conta do menor custo generalizado Ou seja o unimodal rodoviaacute-rio por exemplo torna-se mais viaacutevel em razatildeo de sua flexibilidade em atuar porta a porta por natildeo exigir transbordos que impotildeem em perdas de tempos entre outros fatores que refletem no custo maior de circulaccedilatildeo A perda de competitividade que a pro-duccedilatildeo de soja apresenta em seu escoamento estaacute no fato de ele se concentrar no modal rodo-viaacuterio para percorrer um trecho de cerca de 2 mil km (no corredor Centro-Oeste-Sudeste-Sul) sendo que alguns pontos estatildeo em precaacuterio es-tado de conservaccedilatildeo em razatildeo do abandono efetivo das inversotildees de investimentos no setor de transportes a partir dos anos 1980 Assim sendo pela maior distacircncia do Estado de Mato Grosso (estado de maior rele-vacircncia nacional na produccedilatildeo de soja) aos portos de exportaccedilatildeo (Santos -SP) e Paranaguaacute (PR) por exemplo) o uso do modal rodoviaacuterio como meio unimodal aliado ao estado precaacuterio das rodovias eacute o que prejudica a rentabilidade dos produtores (TAVARES 2004) Em resumo infere-se que a infra-estrutura de transportes eacute essencial para a pro-moccedilatildeo do desenvolvimento econocircmico pois conforme aponta Senna (2007)

As rodovias desempenham um papel-chave no desenvolvimento e o crescimento econocircmico estaacute fortemente relacionado aos investimentos no setor

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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Portanto uma adequada infraestrutura de trans-portes eacute um importante fator para ganhos de competitividade principalmente em aacutereas cuja produccedilatildeo tem contribuiccedilotildees significativas agrave eco-nomia brasileira como eacute a Regiatildeo Centro-Oeste com a produccedilatildeo de soja ora abastecida por uma base infra-estrutural concentrada no modal rodo-viaacuterio Para um escoamento eficiente da pro-duccedilatildeo eacute preciso uma infraestrutura de transportes suportaacutevel agrave demanda com rodovias que estejam pavimentadas e bem conservadas bem como que haja a utilizaccedilatildeo de modais mais eficientes como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio e um estiacutemulo ao uso da intermodalidade sem que haja perdas na circulaccedilatildeo Assim sendo as recentes discussotildees a cerca dos embates contra os gargalos logiacutesticos que comprometem o escoamento da produccedilatildeo de soja produzida no Centro-Oeste do paiacutes dizem respeito ao escoamento pelos portos da regiatildeo Norte De acordo com IBRE (2005) a amplia-ccedilatildeo do escoamento da produccedilatildeo de soja pelo Norte do paiacutes eacute um imperativo de racionalidade econocircmica considerando-se ainda que essa produccedilatildeo se expande para os Estados dessa regiatildeo Contudo a consolidaccedilatildeo dessas rotas alternativas para um dos portos da regiatildeo Norte a exemplo do porto de Santareacutem (PA) depende da pavimentaccedilatildeo do trecho da rodovia BR 163 no Estado do Paraacute ateacute Santareacutem que se encon-tra muito descaracterizado em razatildeo do elevado niacutevel de deteriorizaccedilatildeo da via Em eacutepocas de chuva o traacutefego por esse trecho soacute ocorre com a ajuda de tratores que desatolam os caminhotildees De acordo com Bahia et al (2007) cons-tatou-se que o transporte da produccedilatildeo de soja do Estado do Mato Grosso ateacute o porto de Santareacutem (PA) apresentaria um custo logiacutestico 20 menor se comparado ao escoamento ateacute os portos de Santos e Paranaguaacute caso a capacidade desse porto fosse (quase) proporcional agrave capacidade do porto de Paranaguaacute (5 milhotildees) A distacircncia da regiatildeo central do Estado do Mato Grosso ateacute esse porto eacute de cerca de 14 mil km via a rodovia BR 163 chamada nesse ponto de Cuiabaacute-Santareacutem um trecho considerado pequeno para a regiatildeo da Amazocircnia Diante da situaccedilatildeo escassa de finan-ciamentos puacuteblicos a pavimentaccedilatildeo da Rodovia BR 163 no Estado do Paraacute assim como a re-

versatildeo do seu estado precaacuterio poderia ser reali-zada pela iniciativa privada por meio de conces-satildeo se a mesma proporcionasse fluxo de veiacutecu-los eou apresentasse representatividade econocirc-mica que viabilizassem os investimentos priva-dos Entretanto satildeo identificadas consideraacute-veis insuficiecircncias teacutecnicas e econocircmicas no que tange agraves poliacuteticas setoriais para a malha rodoviaacuteria brasileira isso porque a soluccedilatildeo encontrada na privatizaccedilatildeo de rodovias para a promoccedilatildeo de in-vestimentos necessaacuterios natildeo foi capaz de comba-ter todas as suas ineficiecircncias Eacute significativa a quantidade de vias rodoviaacuterias sem pavimentaccedilatildeo com destaque para as regiotildees menos desenvolvi-das do Paiacutes cujas densidades econocircmica e de-mograacutefica natildeo satisfazem o interesse da iniciativa privada pela concessatildeo Em razatildeo da insuficiecircncia financeira do Estado e o natildeo interesse da iniciativa privada na concessatildeo das rodovias mais longiacutenquas do Paiacutes as Parcerias Puacuteblico Privadas (PPPs) podem ser um arranjo institucional capaz de solucionar as precariedades logiacutesticas dessas regiotildees No paiacutes as PPPs satildeo instrumentos que ainda precisam se fortalecer institucionalmente e juridicamente e eacute preciso tambeacutem um esforccedilo poliacutetico para promover essa iniciativa Esse tema contudo natildeo seraacute a-presentado neste artigo e poderaacute ser discutido pelos autores em outros trabalhos Observa-se uma expansatildeo da cultura de soja para outras regiotildees brasileiras como o nordeste do Maranhatildeo nordeste e sudeste do Paraacute Tocantins e o centro-sul do Piauiacute sem acompanhamento do crescimento na capacidade dos portos de exportaccedilatildeo e condiccedilatildeo da in-fraestrutura de transportes na regiatildeo Norte Portanto eacute necessaacuterio que haja um empenho das poliacuteticas puacuteblicas sobre o setor de infraestrutura de transportes que repense a matriz de transportes de cargas no paiacutes para combater os gargalos logiacutesticos que tanto tem penalizado o setor agro-exportador de soja do Centro-Oeste brasileiro Deve-se reconhecer ainda a depen-decircncia de fundamentos macroeconocircmicos e regu-latoacuterios eficientes e estaacuteveis para a promoccedilatildeo dos investimentos com a participaccedilatildeo da iniciativa privada no paiacutes Conforme aponta Prado (1993) natildeo haacute desenvolvimento sem a intervenccedilatildeo do Estado e as poliacuteticas puacuteblicas foram e satildeo impor-tantes para gerar crescimento econocircmico e mu-danccedilas estruturais que promovam e caracterizem

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

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ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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o desenvolvimento econocircmico de um paiacutes Espera-se assim que as discussotildees sobre as perspectivas da produccedilatildeo de soja na regiatildeo Centro-Oeste do Brasil considere as ne-cessidades que esse setor tem de uma infra-estrutura logiacutestica eficiente para o escoamento da produccedilatildeo Somente assim os resultados que o setor tem obtido como os ganhos de produtivida-de e que satildeo resultados de muitos anos de pes-quisa e investimento natildeo sejam perdidos no momento do escoamento da produccedilatildeo 4 - CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS Este trabalho mostrou como a produccedilatildeo brasileira de soja se expandiu para a regiatildeo Cen-tro-Oeste via os incentivos de poliacuteticas puacuteblicas que pretendiam inicialmente estimular a ocupa-ccedilatildeo na Amazocircnia em um projeto maior de des-concentraccedilatildeo econocircmica e regional no Paiacutes Haacute que se destacar contudo que a expansatildeo para essa aacuterea de fronteira agriacutecola natildeo foi acompanhada por investimentos em in-fraestrutura de transportes que fossem adequa-dos ao escoamento da produccedilatildeo agriacutecola que ali crescia e se desenvolvia O que prevaleceu na regiatildeo Centro-Oeste do Paiacutes foram investimentos

em rodovias sendo que com a crise fiscal do Estado brasileiro a partir dos anos 1980 o setor de transportes perdeu participaccedilatildeo nos recursos puacuteblicos Hoje a produccedilatildeo de soja no Centro-Oeste brasileiro apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desenvolveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo mesmo apoacutes 20 anos de consolidaccedilatildeo na regiatildeo o setor eacute penalizado pela falta de investimentos em in-fraestrutura de transportes adequada ao seu escoamento Para que o setor sojiacutecola da regiatildeo Cen-tro-Oeste deixe de incorrer em perdas no momen-to do escoamento da produccedilatildeo se faz necessaacuterio articular programas governamentais que repen-sem a produccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola no paiacutes jun-tamente com a demanda por uma infraestrutura de transportes adequada para o escoamento da pro-duccedilatildeo Esse eacute um desafio importante a ser enfrentado atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas para o alcance de um sustentaacutevel desenvolvimento eco-nocircmico da regiatildeo e do paiacutes e natildeo eacute um problema exclusivo no setor sojiacutecola haja vista a expansatildeo de outras culturas para a regiatildeo Centro-Oeste e as precariedades logiacutesticas no restante do Paiacutes

LITERATURA CITADA AGUIAR E F (Coord) Plano estrateacutegico de desenvolvimento do Centro-Oeste (2007-2020) Brasiacutelia Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Nacional [2006] 224p Disponiacutevel em lthttpwwwintegracaogovbrdesenvolvimento docentrooesteindexasparea=SCO20-20Publicaccedilotildeesgt Acesso em 11 set 2007 BACHA J C Economia e poliacutetica agriacutecola no Brasil Satildeo Paulo Atlas 2004 226p BAHIA P Q et al A competitividade da soja do Centro-Oeste atraveacutes da logiacutestica de rede de transportes de gratildeos de soja para exportaccedilatildeo do estado do Mato Grosso In CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ADMINISTRACcedilAtildeO E SOCIOLOGIA RURAL 45 2007 Londrina PR Anais Brasiacutelia SO-BER 2007 CASTRO A C FONSECA M G D A dinacircmica agroindustrial do Centro-Oeste Brasiacutelia IPEA 1995 220p COELHO C N 70 Anos de poliacutetica agriacutecola no Brasil (1931-2001) Revista de Poliacutetica Agriacutecola Brasiacutelia Ano X n 3 jul-set 2001 (Ediccedilatildeo Especial) COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Acompanhamento da safra brasileira de gratildeos 20092010 - deacutecimo primeiro levantamento ago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrOlalaCMS uplo-adsarquivos8218897d1eb5849906fc53856bddc894pdfgt Acesso em 16 ago 2010

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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Evoluccedilatildeo das Poliacuteticas Puacuteblicas para a Agropecuaacuteria Brasileira

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB Seacuterie histoacuterica 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebindexphpPAG=211gt Acesso em set 2009 ______ Balanccedila do agronegoacutecio 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrconabwebdownload indicadores0205_balanca_exportacaopdfgt Acesso em fev 2007 GOLDIN I REZENDE G C A agricultura brasileira na deacutecada de 80 crescimento numa economia em crise Rio de Janeiro IPEA 1993 119p GUIMARAtildeES E N LEME H J C Caracterizaccedilatildeo histoacuterica e configuraccedilatildeo espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste In HOGAN D J et al (orgs) Migraccedilatildeo e ambiente no Centro-Oeste Campinas UNICAMP 2002 324p INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA- IBGE Banco de dados agregados Disponiacutevel em lthttpwwwsidraibgegovbrgt Acesso em set 2009 INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA - IBRE Logiacutestica o calcanhar-de-Aquiles do agronegoacutecio Conjun-tura econocircmica Rio de Janeiro v 59 n 05 maio 2005 JANK M S NASSAR A M TACHINARDI M H Agronegoacutecio e comeacutercio exterior brasileiro Revista USP Satildeo Paulo n 64 p 14-27 dezfev 2004-2005 KAGEYAMA A A Modernizaccedilatildeo produtividade e emprego na agricultura - uma anaacutelise regional 1986 389f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campi-nas 1986 (Versatildeo Modificada) MUELLER C C Poliacuteticas governamentais e expansatildeo recente da agropecuaacuteria no Centro-Oeste Planeja-mento e poliacuteticas Puacuteblicas Brasiacutelia n 3 p 45-73 jun 1990 NASSER B Economia regional desenvolvimento regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de inte-graccedilatildeo e desenvolvimento Revista do BNDES Rio de Janeiro v 7 n 14 p 145-178 dez 2000 NATAL J L A Transporte ocupaccedilatildeo do espaccedilo e desenvolvimento capitalista no Brasil histoacuteria e perspectivas 1991 256f Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP 1991 PESSOcircA V L Accedilatildeo do Estado e as transformaccedilotildees agraacuterias no cerrado das zonas de Paracatu e Alto Paranaiacuteba - MG 1988 239p Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociecircncias e Ciecircncias Exatas Universidade Estadual Paulista Rio Claro SP 1988 PRADO L C D Teoria do desenvolvimento econocircmico e padrotildees histoacutericos de industrializaccedilatildeo In ENCON-TRO NACIONAL DE ECONOMIA 21 1993 Belo Horizonte Anais Brasiacutelia ANPEC 1993 ROESSING A C LAZZAROTTO J J A cultura da soja no Brasil evoluccedilatildeo recente Londrina EMBRAPA dez 2005 SENNA L A S Rodovias - convicccedilatildeo versus necessidade O Estado de S Paulo Satildeo Paulo 12 fev 2007 Opiniatildeo p B2 TAVARES C E C Fatores criacuteticos agrave competitividade da soja no Paranaacute e no Mato Grosso Brasiacutelia CONAB 2004 9p Disponiacutevel em lthttpwwwconabgovbrdownloadcasespeciaisTrabalho 20sobre20Competitividade20Soja20MT20e20PRpdfgt Acesso em 15 mar 2007

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

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hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010

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EVOLUCcedilAtildeO DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS PARA A AGROPECUAacuteRIA BRASILEIRA uma anaacutelise da expansatildeo da soja na regiatildeo Centro-Oeste

e os entraves de sua infraestrutura de transportes RESUMO A regiatildeo Centro-Oeste do Brasil em razatildeo da atuaccedilatildeo do Estado na conduccedilatildeo das poliacuteticas setoriais para a agricultura nos anos 1970 tornou-se um exemplo tiacutepico de regiatildeo de fronteira Hoje a produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo apresenta excelentes ganhos de produtividade e com isso desen-volveu uma soacutelida competitividade internacional Contudo eacute prejudicada pela falta de investimentos em infraestrutura de transportes auferindo em perdas de receita de 25 Mesmo apoacutes vinte anos de conso-lidaccedilatildeo da produccedilatildeo de soja nessa regiatildeo natildeo foi encontrada uma soluccedilatildeo logiacutestica eficiente para o seu escoamento Satildeo necessaacuterios investimentos na revitalizaccedilatildeo das rodovias que abastecem a regiatildeo e desenvolvimento de modais como o hidroviaacuterio e o ferroviaacuterio adequados ao escoamento de produtos de baixo valor agregado e que percorrem longos trechos como eacute o caso da produccedilatildeo de soja Este tra-balho tem como objetivo apresentar a expansatildeo da produccedilatildeo de soja para a regiatildeo Centro-Oeste e os problemas decorrentes da falta de uma poliacutetica direcionada a investimentos em infraestrutura de trans-porte Para tanto utilizou-se de revisatildeo bibliograacutefica dados secundaacuterios sobre a expansatildeo da soja e perdas da produccedilatildeo no momento do escoamento e entrevistas a entidades de classe Palavras-chave poliacuteticas puacuteblicas desenvolvimento econocircmico fronteira agriacutecola soja transportes

EVOLUTION OF PUBLIC POLICIES FOR BRAZILIAN AGRICULTURE an analysis of soy expansion in Brazilrsquos mid-west and of the

hindrances to its transportation infrastructure

ABSTRACT The national sectorial policies on agriculture of the 1970s turned Brazilrsquos mid-west into an example of a frontier region Its current soybean production has been delivering excellent produc-tivity gains and sound international competitiveness However competitiveness is harmed by the lack of investments in transportation infrastructure resulting in revenue losses of 25 Although soy production in this region was consolidated 20 years ago no efficient logistic solution to its delivery has yet been found This paper aims to show the increase in soybean production in Brazilrsquos mid-west and the problems arising from the lack of a policy for investments in transportation infrastructure To this end we conducted a literature review and analyzed secondary data about the topic and also interviewed members of class entities Key-words public policy economic development frontier region soybean transportation Recebido em 02052010 Liberado para publicaccedilatildeo em 02092010