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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RIO GRANDE DO SUL CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA DO MÉDIO ALTO URUGUAI DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ABORDAGEM EM TERMOS DOS SISTEMAS AGRÁRIOS TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Mairo Trentin Piovesan Frederico Westphalen, RS, Brasil 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NORTE DO RIO GRANDE DO

SUL CURSO DE GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA

EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA DO MÉDIO ALTO URUGUAI DO RIO GRANDE DO SUL: UMA

ABORDAGEM EM TERMOS DOS SISTEMAS AGRÁRIOS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Mairo Trentin Piovesan

Frederico Westphalen, RS, Brasil 2011

EVOLUÇÃO DA AGRICULURA DO MÉDIO ALTO URUGUAI DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ABORDAGEM

EM TERMOS DOS SISTEMAS AGRÁRIOS

por

Mairo Trentin Piovesan

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Agronomia, Área de Concentração em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito

parcial para obtenção do grau de Engenheiro Agrônomo.

Orientador: Prof. Adriano Lago

Frederico Westphalen, RS, Brasil

2011

Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul Curso de Graduação em Agronomia

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

EVOLUÇÃO DA AGRICULURA DO MÉDIO ALTO URUGUAI DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ABORDAGEM

EM TERMOS DOS SISTEMAS AGRÁRIOS

elaborada por Mairo Trentin Piovesan

como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Agrônomo

COMISÃO EXAMINADORA:

__________________________________ Dr. Adriano Lago

(Presidente/Orientador)

__________________________________ Dr. Arlindo Jesus Prestes de Lima

__________________________________

Dr. Claudir Basso

Frederico Westphalen, 14 de junho de 2011

AGRADECIMENTOS

Ao registrar os agradecimentos corremos o risco do esquecimento de alguns.

Assumo este risco e tentarei expressar minha gratidão a quem acompanhou minha

trajetória.

À Universidade Federal de Santa Maria pelo acesso ao conhecimento.

Aos professores do curso de Agronomia em especial ao professor Adriano Lago pela

orientação e conhecimento que me passou e acima de tudo pela confiança

depositada, mesmo com minha falta de organização e de presença no trabalho.

Aos colegas da primeira turma de Agronomia do Centro de Educação Superior Norte

do Rio Grande do Sul, que em conjunto superaram as mais duras dificuldades para

manterem seus estudos e chegarem aonde chegaram, a eles o desejo de muitas

conquistas e de sucesso.

Aos colegas e amigos Maurício Cherubin, Sidinei Weirich, Mateus Tonini, Edson

Telles da Rocha, Charles Mafra, Martin Witter, Sylvio Trentin, Moacir de Moraes pelo

companheirismo e auxilio nos momentos mais tensos e difíceis, a vocês o sincero

abraço de muito obrigado.

Aos companheiros e companheiras do Movimento Estudantil, desde os mais antigos

aos mais recentes, pela coragem, companheirismo e trabalho em conjunto por uma

nova universidade e sociedade, a eles o desejo de que a Luta não pare.

À Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil onde despertei para a real

função na sociedade.

Aos meus pais Antonio Piovesan e Ana Trentin Piovesan pelo apoio incondicional a

minha formação pessoal, social, cidadã e acadêmica que me deram sempre, a

vocês meu respeito, gratidão e admiração eterna, meu muito obrigado e a certeza de

que estarei sempre ao lado.

A meus irmãos e irmãs pela colaboração incansável para que fosse real o sonho de

chegar a um curso superior.

A todos do meu círculo de relações a gratidão e a certeza de que este título é tão

meu quanto de vocês.

“Os homens fazem a sua própria história, mas não o fazem como querem... a tradição de

todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”

Karl Marx.

RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso

Curso de Graduação em Agronomia

Universidade Federal de Santa Maria

EVOLUÇÃO DA AGRICULURA DO MÉDIO ALTO URUGUAI DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ABORDAGEM EM TERMOS DOS SISTEMAS

AGRÁRIOS Autor: Mairo Trentin Piovesan

Orientador: Adriano Lago

Frederico Westphalen, 1 de junho de 2011

A metodologia utilizada consta de uma articulação da bibliografia proporcionada pela

literatura disponível. Este trabalho traz uma contribuição sobre a Evolução da

Agricultura do Médio Alto Uruguai do Rio Grandedo Sul, se baseando na teoria dos

Sistemas Agrários. Analisará o processo histórico das formas de se praticar a

agricultura e de organizar a produção e a economia, passando pelas mais diversas

formas de se praticar agricultura, Agricultura Indígena, Agricultura Cabocla,

Agricultura Colonial e por fim a Agricultura Atual. Nesta região se inscrevem

mudanças importantes na forma de produção e na ocupação do espaço agrário a

partir de meados do século XIX, por ocasião da chegada de colonos descendentes

de imigrantes provenientes das Colônias Velhas. As mudanças ocorrem na forma de

uso do solo e na intensificação das atividades agrícolas e pecuárias. Em pouco mais

de meio século o colono predomina sobre o Índio e o Caboclo, conquistando suas

terras e desalojando-os dos locais onde viviam. As políticas de colonização tanto

estatais como privadas foram marcantes na região em debate, já que tinham como

interesse a abertura desta região à produção não com os habitantes originais, mas

sim com colonos considerados mais aptos. Neste sentido para a proposição de

qualquer política pública ou mesmo ações de Assistência Técnica, devem ser

levados em conta os fatores que condicionaram a atual paisagem agrária do Médio

Alto Uruguai, sendo assim, a análise dos sistemas agrários pode dar respostas

importantes. Este trabalho também poderá contribuir para futuros estudos mais

aprofundado.

Palavras chave: Sistemas Agrários – Colonização – Médio Alto Uruguai – RS;

ABSTRACT Course Conclusion Work

Graduation Curse of Agronomy

Federal University of Santa Maria

Author: Mairo Trentin Piovesan

Advisor: Adriano Lago

Date: Frederico Westphalen, 1 de junho de 2011

This work presents a study on the Evolution and Differentiation of Agrarian Systems

in the region of the New Colonies, with a special analysis of the Upper East Region

of Uruguay's state of Rio Grande do Sul will travel through history the ways of

practicing agriculture and organizing production and economy, through the

Indigenous Land System, Agrarian System Caboclo, Agrarian System Colonial Home

and finally by the Agrarian System Current. Fall in this region changes in the form of

production and the occupation of agrarian space from the mid-nineteenth century,

when the arrival of settlers descended from immigrants from the Old Colony.

Changes occur in the form of land use and intensification of agricultural and livestock

activities. In little more than half a century settler overlapped the Indian and the

Caboclo, conquering their lands and displacing them from places where they lived.

The policies of both state and private colonization were evident in the region under

discussion, as they had concerns as the opening production in this region not with

the original inhabitants, but with settlers considered superior. In this sense to the

proposition of any public policy or even those of Technical Assistance, must be taken

into account the factors that formed the current agricultural landscape of the Middle

Upper Uruguay, so the analysis of agrarian systems can give important answers.

This work could also contribute to future studies in greater depth. The methodology

consists of an articulation of the bibliography provided by the available literature.

Keywords: Agrarian Systems - colonization - Uruguay Middle High

11

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1- Municípios do COREDE Médio Alto Uruguai ............................................... 17

FIGURA 2- Processo de ocupação do território gaúcho. ................................................ 23

12

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

1.2 Objetivos ............................................................................................................ 14

2 ESTUDO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS ................................................................ 15

3 A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA NA REGIÃO DO MÉDIO ALTO URUGUAI . 17

3.1 A Região do Médio Alto Uruguai ...................................................................... 17

3.2 A formação do espaço agrário no Rio Grande do Sul ................................... 18

3.3 A Agricultura Indígena ...................................................................................... 23

3.4 A Agricultura Cabocla ....................................................................................... 27

3.5 A Agricultura Colonial ....................................................................................... 31

3.5.1 Aspectos da Imigração Européia ...................................................................... 31

3.5.2 A Agricultura Colonial ....................................................................................... 34

3.6 A Agricultura Contemporânea ......................................................................... 38

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 43

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 44

13

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho, baseado na teoria dos Sistemas Agrários, busca explicar e

caracterizar como ocorreu o processo de ocupação do espaço agrário da região do

Médio Alto Uruguai do estado do Rio Grande do Sul e também como ocorreu o

processo de Evolução da Agricultura neste local. O trabalho se constitui de uma

Revisão Bibliográfica sobre como evoluíram e se diferenciaram os Sistemas Agrários

e as formas de praticar agricultura na região em questão, visando atualizar a

Bibliografia e também subsidiar, com informações, trabalhos posteriores mais

específicos e aprofundados com relação ao tema.

A análise da Evolução da Agricultura na região denominada como Colônias

Novas, focando o caso específico da região do Médio e Alto Uruguai, se faz

necessária para a interpretação e compreenção do atual patamar em que se

encontra a Agricultura nesta região. Fenômenos como o êxodo rural, divisão das

terras, desenvolvimento, empobrecimento, descapitalização, suscessão nas

propriedades, entre outros, possuem uma raiz e uma explicação histórica que pode

ser obtida pela análise do ambiente da região.

A identificação da evolução dos sistemas agrários que formaram a paisagem

agrária da região pertencente à região do Médio Alto Uruguai, é de fundamental

importância não só para o conhecimento de como evoluiram as formas de se fazer

agricultura e os atores que foram protagonistas do processo, mas também para a

definição e execução de políticas públicas direcionadas as diferentes categorias de

agricultores existentes em um determinado local.

A região do Médio Alto Uruguai se encontra localizada pela classificação de

Silva Neto & Basso (2005) no Sistema Agrário Colônias Novas, situado no norte do

estado do Rio Grande do Sul. Possui um relevo predominantemente acidentado com

solos rasos, com predomínio da agricultura familiar com uma grande diversidade de

produção, porém com uma grande dependência da produção de grãos e em geral

uma baixa intensificação das atividades desenvolvidas.

A ocupação do espaço agrário desta região do Rio Grande do Sul difere em

muito da forma ocorrida em outras regiões como a Campanha Gaúcha, a Depressão

Central, a Serra do Sudeste entre outras, pelo fato desta região ter tido uma

característica marcante, o processo de colonização mais tardiamente por

14

agricultores europeus não-hibéricos, principalmente alemães e italianos, motivados

pela política do governo brasileiro, que passou a ter interesse em ocupar as regiões

de mata do estado, da qual faz parte o Médio Alto Uruguai.

Porem pode ser falho concluir que a ocupação desta região do estado se deu

apenas pelos imigrantes europeus. Assim como todas as regiões de Floresta do

estado, a Região do Médio Alto Uruguai anteriormente a chegada dos imigrantes,

era habitada por duas nações indígenas principais, os Guaranis e os Kaingang

(SILVA NETO & BASSO 2005), além de caboclos das mais variadas origens que se

encontravam como os primeiros cultivadores, mantendo características de coleta e

caça.

Outro aspecto, que em uma análise rasa do histórico da ocupação agrária

desta região não é explicitado e ao mesmo tempo não valorizado, é a presença da

Agricultura Cabocla, esta assim, como a Agricultura Indígena, teve e ainda tem

importância significativa na formação do espaço agrário do Médio e Alto Uruguai do

Rio Grande do Sul.

Fatores como a imigração, presença de indígenas e caboclos originam a

principal característica que possui atualmente a região do Médio Alto Uruguai, a forte

predominancia da Agricultura Familiar Camponesa, a qual teve influencia direta da

formação e evolução dos Sistemas Agrários que se estabeleceram durante o

processo histórico de formação do espaço agrário.

1.2 Objetivos

O presente trabalho teve como objetivos centrais o conhecimento e

entendimento da forma como se organizou a ocupação do espaço agrário e em que

patamar se encontra a agricultura da região das Colônias Novas, especialmente na

região do Médio e Alto Uruguai, bem como, buscou atualizar a Bibliografia sobre a

Evolução da Agricultura na região, a fim de servir como base para articulação de

possíveis Ações de Assistência Técnica e Políticas Públicas de desenvolvimento

Rural.

15

2 ESTUDO DOS SISTEMAS AGRÁRIOS

Um sistema agrário é descrito por Deffontaines et al, (2000 apud MIGUEL,

2009) como sendo um objeto de análise e observação que é o produto das relações,

em um momento e em um território, de uma sociedade rural com seu meio. Já para

Cholley (1946 apud MIGUEL, 2009), em uma aproximação de cunho geográfico do

conceito de sistema agrário afirmava que todos os elementos físicos, biológicos,

econômicos, sociais, demográficos formam uma verdadeira combinação onde a

expressão no espaço é um certo tipo de habitat, uma certa organização do terroir

(território), um certo tipo de paisagem.

Para Maigrot & Poux (1991 apud MIGUEL, 2009), o conceito de sistema agrário

é o mais apto a restituir a região no seu conjunto e a sua dinâmica. É um conceito

onde se encontram as ciências necessárias para a concepção de projetos de

desenvolvimento: econômico, socioeconômico, geografia, história e agronomia.

A definição de sistema agrário que é considerada a mais atual e completa vem

de Mazoyer & Roudart, (2001 apud MIGUEL 2009), onde um sistema agrário é um

modo de exploração do meio historicamente constituído e durável, um conjunto de

forças de produção adaptado às condições bioclimáticas de um espaço definido e

respondendo às condições e necessidades de um certo momento.

Segundo Silva Neto & Basso (2005), a análise dos Sistemas Agrários

compreende dois fatores principais. O Agroecossistema ou o Ecossistema cultivado

e o outro é o Sistema Social Produtivo. O Agroecossitema comprende o produto das

modificações no ecossitema, enquanto o sistema social compreende que as

categorias sociais existentes surgiram de um processo de acumulação de capital

diferenciado, tendo por condicionante a forma de acesso a terra e a origem da mão-

de-obra e capital.

O estudo da formação e da ocupação Agrária do estado do Rio Grande do Sul

revela aspectos muito importantes para a compreensão do mesmo, no que diz

respeito à regionalização existente. Costumeiramente os autores sobre estes

assuntos têm separado o estado em duas regiões fisiográficas diferentes. Uma é a

região de Campo, situando-se em geral na metade Sul do estado, onde predomina a

pecuária extensiva e grandes estabelecimentos. A outra é a região de Florestas, que

16

se localiza na metade Norte do estado e ocupa uma área menor que a da região de

Campos. Na região de Florestas ou de Matas, é onde surge a Agricultura no Rio

Grande do Sul, já que as terras de campo eram vistas como impossibilitadas de ter

produção, sendo destinada somente à pecuária.

Esta divisão inicial do Estado em duas regiões distintas tanto pela vegetação

como pela ocupação e a distribuição das terras, origina o estudo dos Sistemas

Agrários no Rio Grande do Sul.

Para Miguel (2009) os Sistemas Agrários que ocorrem nas regiões de

Floresta na qual se insere a região do Médio Alto Uruguai, são o Sistema Agrário

Indígena, o Colonial Inicial, o Colonial Contemporâneo e o Contemporâneo Atual.

Porem neste trabalho será analisado somente a Evolução da Agricultura da Região

do Médio Alto Uruguai. Nesta região do estado supõe-se que tenha ocorrido de

forma bem definida e clara, quatro grandes formas de se praticar agricultura, dentro

de uma linha evolutiva. Assim temos: a Agricultura Indígena, a Agricultura Cabocla,

a Agricultura Colonial e a Agricultura Atual.

17

3 A EVOLUÇÃO AGRICULTURA NA REGIÃO DO MÉDIO ALTO

URUGUAI

3.1 A Região do Médio Alto Uruguai

A região do Médio Alto Uruguai se localiza na Região Norte do Estado do Rio

Grande do Sul. O Conselho de Desenvolvimento Regional do Médio Alto Uruguai

(COREDE), ocupa 23 municípios (Figura 1), contando em 2010 com uma população

de 152.501 habitantes. Esta região ocupa uma área de 4.337,5 km² e uma

densidade demográfica de 35,2 hab/km². A taxa de analfabetismo segundo dados do

ano de 2000 é de 12,77% e para o mesmo período uma expectativa de vida de

71,25 anos. Em 2010 o Índice de Mortalidade Infantil era de 7,85 por mil nascidos

vivos.

FIGURA 1- Municípios do COREDE Médio Alto Uruguai, 2009. Fonte: Secretaria Estadual do Planejamento e Gestão - SEPLAG

18

Uma das características desta região é que grande parte da população reside

na área rural, contando com uma das menores taxas de urbanização do estado,

tendo em média 54,7% da população vivendo na área urbana, porém a maioria dos

municípios que compõem a região do Médio Alto Uruguai tem maior parte da

população morando no campo.

Um aspecto importante desta região é o saldo migratório negativo visualisado.

Entre os anos de 1995 e 2000 a região registrou perdas de população de até 10%

em alguns municípios. O destino destes migrantes foi principalmente a região

metropolitana de Porto Alegre e a região calçadista.

O Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) da Federação

Estadual de Estatística (FEE) revela que a região do Médio Alto Uruguai possui o

pior índice do estado, com 0,684 a 0,699 numa escala onde o 1 é o melhor, ficando

desta forma abaixo da média estadual que em 2008 foi de 0,772. Neste aspecto

merece destaque a existência do analfabetismo que atinge em média mais de 10%

da população da região.

O PIB por município da região em 2008 foi de R$ 1.847.711, o que

corresponde a um PIB per capita de R$ 11.629. A participação em valores das

exportações desta região em 2010 chega U$ 38.635.934, o que leva a crer que esta

é uma região importante do ponto de vista econômico para o estado do Rio Grande

do Sul.

No aspecto geral a economia da região é fortemente dependente da

agropecuária, com destaque para as culturas anuais e a produção animal através da

bovinocultura de leite e da criação de suínos e aves. A participação da agropecuária

na economia da região supera os 50% do Valor Adicionado Bruto na maioria dos

municípios.

Se por um lado em nível de estado a indústria é responsável por mais de um

terço da economia, na região do Médio Alto Uruguai ela possui uma inserção

incipiente, participando com menos de 10% do Valor Adicionado Bruto. O setor de

serviços tem uma pequena inserção na região, contrariando o que se verifica em

nível de estado, onde o setor representa mais de 60% do Valor Adicionado Bruto.

3.2 A formação do espaço agrário no Rio Grande do Sul

19

O estudo dos Sistemas Agrários e das diferentes formas de se particar a

Agricultura na Região das Colônias Novas com enfoque na região do Médio Alto

Uruguai, não é desligado do processo que ocorreu nas demais regiões do estado.

Para que se possa entender o processo ocorrido na região do Médio Alto Uruguai, é

importante analisar o contexto em que se deram os acontecimentos nas demais

regiões do estado.

A ocupação e o povoamento do Rio Grande do Sul se deram sob influencia

de alguns fatores determinantes, que segundo Bernardes (1997 apud Silva Netto e

Basso 2006) foi a vegetação. Neste sentido outros fatores como o relevo, e as

condições climáticas não foram tão determinantes a ponto de influenciar diretamente

o processo colonizatório e o interesse dos diversos grupos em habitar uma região

em detrimento de outra. Zarth (1997 apud Silva Netto e Basso 2006) afirma não ser

por determinismo geográfico simplesmente, mas por fatores conjunturais, que o

processo de ocupação do território sulino está estritamente ligado às condições

naturais da vegetação.

Neste sentido convenciona-se que ocorrem duas formações vegetais

principais no Rio Grande do Sul, a formação Florestal e a Campestre. Estas duas

formações vegetais ocorrem em regiões distintas, tendo alguns pontos de encontro

ou transição onde ocorrem justapostas. A metade Norte do estado é constituída em

grande parte pela formação Florestal. Enquanto a formação vegetal de Campo se

concentra basicamente na metade Sul do estado, cobrindo originalmente cerca de ¾

da área do estado.

Em relação a Evolução da Agricultura do Rio Grande do Sul, leva-se em conta

a ocupação inicial anterior a entrada dos espanhóis, açorianos, portugueses e

imigrantes europeus não-hibéricos. Sendo assim tem-se a ocupação indígena de

uma grande parte do estado, o que vem a entrar em crise com a disputa entre

portugueses e espanhóis pelos territórios na metade do século XVIII, principalmente

naqueles territórios localizados na fronteira com os países próximos ao Rio da Prata,

região estratégica as duas nações européias.

Com a disputa entre as duas nações colonizadoras, ocorre uma corrida à

conquista de espaços no território gaucho. O encontro com os indígenas que

habitavam este espaço leva a um extermínio destas populações bem como a

20

necessidade de isolar os indígenas, vistos como um empecilho aos interesses

econômicos das nações colonizadoras.

Neste contexto se criam as Reduções Jesuíticas, que foram espaços onde os

povos indígenas reduzidos em aldeias centralizadas, mantinham um certo grau de

“civilização” pela ação dos padres jesuítas e garantiam tranqüilidade para as ações

dos colonizadores em outras regiões do estado.

Com o passar do tempo o interesse pelas áreas onde se localizavam as

reduções jesuíticas cresceu, o que origina por volta de 1750 a Guerra Guaranítica,

onde ocorre a destruição das reduções e dispersão dos indígenas pelo estado. Esta

guerra, segundo Silva Netto e Basso (2006) tem três interesses principais. O

primeiro deles era captura do índio para mão-de-obra nas áreas de cana-de-açúcar

no sudeste do país, o que era feito pelos Bandeirantes. O segundo interesse era

garantir a posse das áreas onde havia gado em grandes quantidades. O Terceiro

motivo para que os colonizadores se lançassem a Guerra contra os Indígenas, foi à

abertura de áreas para a introdução e cultivo de erva-mate e também a abertura de

caminhos livres de ameaças de indígenas.

Nas reduções a criação de gado e a prática da agricultura foram fatos

marcantes. O gado solto e disperso após a destruição das reduções se alastrou pela

fronteira oeste do estado e se reproduziu sem controle. Esta dispersão do gado de

forma livre origina a primeira exploração econômica do estado, a produção do

charque.

Data do século XVIII e XIX a criação da primeira forma de distribuição de

terras no Rio Grande do Sul, as Sesmarias, chamadas também de Estâncias. As

Estâncias eram grandes quantidades de terra doadas pelo governo imperial aos

Soldados que lutaram na Guerra Guaranítica e posteriormente também na Guerra

do Paraguai. Este fato marca a origem do Sistema Agrário das Estâncias, baseado

na captura do gado xucro e utilização do mesmo para fabricação do charque para

consumo principalmente no Centro do país.

A regularização e fiscalização por parte do governo da doação das Sesmarias

aos soldados de alto grau não ocorre e desta maneira quantidades cada vez

maiores de terra são aglutinadas a um mesmo estancieiro, dando origem ao que

comumente chamamos de latifúndio pastoril.

Os estancieiros fortalecem-se como detentores do poder econômico regional,

exercendo-o sobre a população em geral que dependia de sua exploração

21

econômica para viver, como também em nível de governo, estabelecendo o controle

político da ainda província.

O sistema produtivo das estâncias se baseava na captura do gado, no abate

e processamento do charque nas chamadas charqueadas e posterior destinação às

regiões produtoras de café e com exploração mineral no Centro do país. Além do

charque, outra atividade que era realizada pelos estancieiros, era a venda de gado

vivo até o Sul de São Paulo abastecendo a recém formada indústria do couro. Esta

atividade de envio de gado vivo ficou conhecida como tropeada e ocupou mão-de-

obra cabocla e bandeirante durante boa parte dos séculos XVIII, XIX e inicio do

século XX.

A verificação de que a região de Campo estava sob o domínio da elite pastoril

gaúcha é procedente. Neste sentido e pelo poder político-econômico estabelecido,

os estancieiros interferiram diretamente no processo de colonização das demais

regiões do estado. A colonização por açorianos apoiada pelos estancieiros, por

exemplo, vem contribuir no processo de adensamento populacional em direção a

região das Missões (Figura 2), segundo Silva Netto e Basso (2006), assim como

para gerar uma produção de alimentos que até então não havia para alimentar tanto

as tropas como a população envolvida no sistema de produção pastoril, já que nesta

não havia a realização de qualquer outra atividade que não fosse a criação de gado

com o fim comercial.

A entrada de açorianos contribui aos estancieiros pelos motivos descritos

acima, e principalmente não interfere na modificação da estrutura fundiária existente.

Os açorianos contribuem no desenvolvimento da produção de arroz irrigado na

Depressão Central, na produção de alimentos em geral e fundamentalmente

mostraram ser possível a produção agrícola nas regiões de campo, até então

inexistente.

No século XIX ocorre a chegada dos colonos europeus não-hibéricos ao

estado, sendo este processo apoiado pelos estancieiros, com o interesse de que as

regiões de Floresta fossem abertas, dando passagem aos tropeiros de gado e por

conseqüência livrar-se do perigo do ataque de indígenas.

No inicio do século XIX a intenção do governo brasileiro e da província em

colonizar a região de Florestas do estado, alia-se com problemas sociais na Europa

não-hibérica e faz ocorrer um processo extraordinário de imigração de camponeses

pobres rumo ao Brasil. A imigração européia cumpre um papel fundamental no que

22

se refere ao povoamento da região do Prata, a criação de zonas produtoras de

alimentos e valorização das terras nas regiões de Florestas.

Inicialmente como mostra a Figura 2, as colônias de imigrantes alemães e

italianos se estabelecem nas regiões próximas de Porto Alegre e Serra Gaúcha, nas

chamadas Colônias Velhas, entre os anos de 1824 e 1890. Posteriormente há um

avanço em função dos rios em direção ao Centro Norte do estado. A migração dos

descendentes de imigrantes às regiões de Florestas no norte do estado só ocorre

com a implantação da estrada de ferro que liga Santa Maria a Cruz Alta, no final do

século XIX.

No inicio do século XX se dá a chegada dos descendentes de imigrantes

oriundos das Colônias Velhas na Região do Médio Alto Uruguai, originando o que

chamamos de Colônias Novas. Nestas regiões os Indígenas habitavam em conjunto

com os Caboclos. Tanto os Indígenas como os Caboclos desenvolviam-se em

função do uso dos recursos naturais existentes de forma abundante. A caça, a

pesca e a coleta eram praticadas garantindo o sustento das famílias, também a

agricultura com o cultivo de plantas para complementar a alimentação era

desenvolvida.

Com a entrada dos descendentes nestas regiões há um processo de

destruição das culturas locais e uma modificação estrutural na forma de produzir e

viver. Este processo inaugura o que chamamos de Agricultura Colonial e

posteriormente evolui e se denomina Agricultura Atual, onde predomina a mão-de-

obra familiar, com propriedades pequenas, cultivos intensivos, a produção animal e

as culturas de subsistência.

Neste contexto também ocorre a formação de uma categoria social importante

no campo da região de Florestas, o Granjeiro. Esta classe segundo Silva Netto e

Basso 2006, se origina de profissionais liberais, comerciantes e pequenos industriais

que se dedicam inicialmente a produção de trigo e posteriormente a produção de

soja, marcando a introdução da Revolução Verde na região das Colônias Novas, o

que iria mudar profundamente o perfil produtivo da região em questão.

23

FIGURA 2- Processo de ocupação do território gaúcho, 2004.

Fonte: SCP/ Departamento de Planejamento do Governo do Estado.

3.3 A Agricultura Indígena

O Sistema Agrário Indígena se desenvolveu na região de Florestas do Rio

Grande do Sul basicamente por duas tribos, os Guaranis e os Kaingangs conforme

explicam Silva Neto & Basso (2005). Este Sistema se desenvolveu antes de 1750,

predominando até por volta do final do século XIX e foi baseado na organização em

aldeias indígenas instaladas em toda a região onde hoje se localiza a região do

Médio Alto Uruguai.

Os Kaingang ocupavam as regiões que se localizavam próximas aos rios da

região e principalmente na Costa do Rio Uruguai, onde atualmente têm sido

24

encontrados muitos utensílios e equipamentos usados pelos índios para entre outras

tarefas cultivar o solo. Os Kaingang viviam em agrupamentos de 20 a 25 famílias e

eram liderados por um chefe geral de várias aldeias, o Cacique.

As Nações indígenas dominaram as regiões de Florestas já que estas lhes

ofereciam todas as condições de sobrevivência. As populações indígenas se

baseavam na caça, pesca e coleta. A caça se baseou segundo Deves et.al (2008)

no abate de mamíferos como o veado, anta, cateto, a queixada, o quati, e aves

como o jacu, uru, papagaio, nambu, macuco. A coleta se baseava principalmente em

espécies frutíferas como a jabuticaba, a pitanga, a cereja, o araçá, o butiá e o

araticum, também sendo realizada a busca pelo pinhão que existia de forma

abundante. Além do peixe proveniente dos rios da região, o mel e larvas de insetos

completavam a base alimentar das tribos.

Com uma oferta relativamente segura de alimentos conseguidos na natureza

pela caça, pesca e coleta, a agricultura adquiriu para os indígenas um caráter

complementar na base alimentar, tendo sido mais difundida pelos Guaranis, sendo

estes considerados como os primeiros agricultores do estado e da região em estudo.

A Agricultura se baseava em alguns cultivos de algumas culturas principais de

forma a complementar a alimentação da tribo, desta forma culturas como a bata-

doce, mandioca, milho, feijão, abóbora, fumo, mate e algodão se destacaram (SILVA

NETO & BASSO 2005). A cultura do porongo teve uma importância grande e deu

origem a uma importante atividade atualmente desenvolvida na região.

A Agricultura indígena era baseada no sistema da derrubada e queimada,

com o abandono (pousio) da área por um período de tempo para posterior utilização

para que ocorresse a regeneração da floresta e recuperação da fertilidade do solo

para um uso posterior.

Todo o processo produtivo da tribo era coordenado pelo cacique o qual

detinha a propriedade das terras. Ao cacique cabia a distribuição das áreas para

cada família, organizar o trabalho e repartir a produção de forma igualitária entre

todos os membros.

O trabalho na tribo tinha o caráter de ser livre, sendo as tarefas distribuídas

de acordo com o sexo e a idade dos membros. Aos homens cabiam tarefas mais

pesadas, como o corte da floresta, queima, preparo do solo e a fabricação de armas.

Já às mulheres cabiam as tarefas de cultivar, produzir utensílios e cuidados

domésticos.

25

Pela forma de agricultura que praticavam, os índios se viam obrigados a

abandonar as áreas de lavoura e procurar outras com melhores condições de

fertilidade de solo, caracterizando-se como uma agricultura itinerante e uma forma

nômade de vida. Desta forma, em suas mudanças de local ocorriam conflitos com

outras tribos e raças e assim a incorporação/apropriação de outras culturas às suas.

Também os índios deixavam para trás caminhos usados para se locomoverem de

um local para outro, caminhos estes que posteriormente foram utilizados como

estradas pelos colonizadores (TESCHE 2010).

Houve a partir de 1850 um processo intenso de intervenção governamental na

região com vistas à implementação de mudanças na estrutura econômica deste

espaço. Assim notou-se ser necessária uma modificação na organização fundiária e

social da região, através de mudanças no modo de vida dos indígenas, tendo sido

usada a religião como uma das ferramentas, através dos padres jesuítas.

A catequização e o aldeamento foram propostas do governo provincial, tendo

um fundo muito claro, a expansão da produção agrícola com a introdução na região

de colonizadores descendentes de europeus não-hibéricos. A intenção era modificar

os modos de vida das tribos e dar tranqüilidade para os colonos poderem ocupar as

terras e desenvolver novas atividades.

Para o Estado, o Índio era visto como um ser incapaz, tendo que

necessariamente se “adaptar” ao modo de vida, aos costumes e a cultura do homem

branco. Por vezes fez-se necessário o uso de métodos como o envio de

missionários europeus às aldeias levando consigo sementes, roupas e utensílios

para a lavoura de forma a conquistar a confiança dos indígenas e assim “domesticá-

los”. Assim fixavam-se os índios modificando a forma nômade de vida realizada

pelos mesmos, como conta Olkoski (2003).

Durante o processo de colonização que ocorreu nesta região em decorrência

de projetos estatais de ocupação, os indígenas aqui enraizados foram vistos como

um empecilho ao desenvolvimento da forma com que estava sendo proposto. No

estudo de Olkoski (2003) fica evidenciado que logo após a promulgação da Lei de

Terras em 1850, havia o interesse no aldeamento dos indígenas em locais

específicos e isolados, de forma a não se ter problemas para a execução dos

projetos de colonização que estavam sendo implantados na região.

Segundo Olkoski (2003) a preocupação da província, no século XIX, visando

"civilizar" os kaingang, tinha em mente a expansão da produção agrícola e, para

26

isso, visavam a tranqüilidade dos colonos. Assim sendo, os kaingang foram aos

poucos sendo encurralados em suas aldeias, deixando de lado sua cultura e seu

modo de vida e, aos poucos, forçados a se "colonizar".

Para Nonnenmacher (2000), houve uma política clara do governo provincial

no sentido de realizar os aldeamentos, visando a pacificação dos indígenas e

entrada com a colonização nas regiões habitadas pelos mesmos. Nestes

aldeamentos havia um tratamento “macio” aos indígenas, servindo de espelho para

que os indígenas ainda não aldeados saíssem da forma de vida que levavam e se

dirigissem também às aldeias. Para que este projeto tivesse êxito, o governo

perseguia e desalojava os índios que ainda não tivessem aldeados, forçando-os a se

aldear. É neste período que se criam dois aldeamentos importantes na região do

Médio Alto Uruguai, como o aldeamento do Guarita e o de Nonoai.

A crise do Sistema Agrário Indígena na Região do Médio Alto Uruguai não

data apenas da implementação da política de apoio a colonização por descendentes

de europeus, mas sim de um processo maior de luta realizado quando do interesse

econômico de espanhóis e portugueses pelas áreas onde se localizavam as

reduções. Mesmo estas áreas não estando localizado na região de estudo, a

influencia da destruição dos Sete Povos das Missões foi sentida também na Região

do Médio Alto Uruguai.

Pode-se citar como fator importante na crise do Sistema Agrário Indígena a

escravidão ou semi-escravidão para uso nas estâncias e nas áreas de extração de

madeira que ocorreu com a entrada dos Bandeirantes no Rio Grande do Sul. Os

bandeirantes posteriormente vêm a formar os primeiros povoados (toldos) na região

se apropriando das terras e descaracterizando a cultura e a vida do índio.

Com a apropriação das terras e a modificação cultural a que são submetidos

os indígenas, ocorre o declínio da capacidade produtiva e de subsistência, levando

por conseqüência a uma dependência ao Estado ou a algum branco que lhe explora

a mão-de-obra em troca de um pagamento irrelevante.

A completa desorganização do Sistema Indígena se dá no século XX, quando

se insere o pensamento Positivista na região, atuando no sentido de ter ao mesmo

tempo desenvolvimento e proteção aos indígenas. Neste sentido os políticos

positivistas criam no início do século o Serviço de Proteção do Índio (SPI) e na

década de 60 a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que acabam por administrar os

27

toldos (aldeamentos), destruindo por fim com a organização política de poder dos

índios, que era centrada na figura do Cacique.

O esgotamento das matas e do solo pela exploração colonizadora nas áreas

indígenas levou a perda total de autonomia do índio frente à sobrevivência sua e de

seu grupo, fazendo-o assim facilmente um peão de algum patrão que o quisesse

para trabalhar, muitas vezes em regime de super exploração de trabalho e em

condições ruins ou na maioria dos casos, fez do índio um indivíduo extremamente

dependente das políticas estatais compensatórias, como tem-se usualmente nos

dias atuais.

3.4 A Agricultura Cabocla

Alguns autores assinalam a ocorrência de outra forma importante de se

praticar agricultura, a agricultura cabocla que ocorre sobreposta ou concomitante

com a agricultura indígena. O sistema agrário caboclo se assemelhou em muito com

o indígena pelas práticas de agricultura, porém com uma diferença fundamental, as

relações comerciais feitas com excedentes de produção de erva-mate e outros

produtos, as quais não existiam no Sistema Indígena (MIGUEL 2009).

Para Silva Neto & Basso (2005) os Caboclos do Rio Grande do Sul possuem

duas caracterizações principais, tendo relação direta com a localização geográfica

onde estão localizados. Os Caboclos das regiões de Campo em geral são

trabalhadores subordinados às estâncias. Já os localizados nas regiões de

Florestas, são agricultores, posseiros e ervateiros.

Para Ardenghi (2003) designam-se caboclos os pequenos proprietários,

agregados ou arrendatários, com significativa carga étnica, fruto da mestiçagem do

índio, branco e mesmo do negro, apresentando um modo de vida típico do meio

rural e que se dedicavam a atividades extrativistas, culturas de subsistência em

cultivos em pequenas áreas.

Zarth (1997 apud Taglietti, 2006) descreve os Caboclos ou os Nacionais

como sendo lavradores nacionais, camponeses conhecidos também como,

sertanejos, caipiras e tantos outros nomes variáveis conforme a região.

28

Na tentativa de definir a composição dos Caboclos, Silva Neto & Basso (2005,

pg. 52) apresentam oito vertentes distintas que originaram os Caboclos, podendo-se

dizer que os caboclos são descendentes:

1) de bandeirantes e tropeiros paulistas com índias; 2) de açorianos

expropriados da terra; 3) de estancieiros com mulheres escravas; 4) de

militares com população com população civil; 5) de índios aculturados; 6) de

desempregados das estâncias após a utilização de cercas nas mesmas e

do desenvolvimento das estradas de ferro; 7) de desempregados das

charqueadas após desenvolvimento dos frigoríficos; 8) de colonos

empobrecidos.

Para os mesmos autores o desenvolvimento da Agricultura Cabocla se dá

especificamente na região de Florestas, ou seja, num local onde não havia interesse

para os estancieiros que ocupavam as regiões de Campos onde desenvolviam a

pecuária extensiva, sendo na época a única atividade econômica do estado.

Desta forma era de interesse dos estancieiros e do governo manter os

caboclos e posseiros longe das áreas ocupadas pela pecuária. Da mesma forma,

não havia o interesse da participação em um primeiro momento dos caboclos nos

processos de Colonização e ocupação das terras, já que os estancieiros viam nesta

categoria social um potencial de mão-de-obra para suas atividades e não era

interessante tê-los como proprietários de terra e bens.

A Agricultura Cabocla possui duas características fundamentais para Silva

Neto & Basso (2005). Uma é a forma itinerante de praticar a agricultura, já que por

não ser proprietário, o Caboclo estava sujeito a pressões e deslocamentos em vista

das investidas por parte dos estancieiros na ocupação de suas terras e

posteriormente do Estado no processo de colonização. A outra característica que

marca a agricultura cabocla é a complementaridade tanto à Estância, já que o

caboclo era quem produzia o alimento e fornecia mão-de-obra à mesma, como para

o processo de colonização no sentido de que foram em geral os caboclos que

desbravaram as regiões de Floresta e serviram de mão-de-obra para as obras de

infra-estrutura necessária ao desenvolvimento das colônias.

A Agricultura Cabocla destaca-se entre outras coisas por ter tido em suas

práticas a criação de diversas espécies de animais, como o gado, aves, eqüinos e

porcos. Em geral a criação se dava de forma solta (livre) e servia basicamente para

o consumo da família. Embora a figura do criador/engordador de porcos foi

marcante. A Banha possuía uma utilização grande entre os caboclos e também

29

servia de moeda de troca em alguns casos. A engorda de porco surge como um

fator inicial da agregação de valor aos produtos na unidade de produção familiar

cabocla, já que se engordava o porco com milho, produto este conseguido de forma

abundante nas roças caboclas.

Na Agricultura Cabocla se realizavam as trocas de forma não monetária

segundo afirmam Deves et.al (2008). Estas trocas ocorriam através de excedentes

(erva-mate, pele de animais e raramente produtos agrícolas) por produtos que não

eram produzidos na propriedade, dos quais se destacam o sal, açúcar, tecidos,

ferragens e bebidas.

Algumas relações comerciais passam a existir na medida em que a extração

de erva-mate se intensifica. Este produto ganha uma importância fundamental e

passa ser o principal produto da propriedade cabocla, sendo comercializada na

região sul do estado e uma parte exportada a Argentina.

A propriedade privada não existia, de forma que a terra era utilizada de forma

coletiva por todos. O que vem a mudar em 1850 quando da aprovação pelo governo

imperial da Lei de Terras, que, entre outras ações estabelecia a criação de colônias

militares, o Registro Paroquial de Terras, a medição, demarcação e legitimação das

áreas por meio da aquisição financeira da área. De uma forma geral, a Lei de Terras

serviu para dar respaldo à expulsão dos caboclos das regiões onde hoje se localiza

o Médio Alto Uruguai. Segundo Linhares (1999 apud Taglietti 2006), a Lei de Terras

como uma lei modernizante e reformista é usada para expropriar camponeses e

indígenas de suas terras, já que estabelece a compra como única forma de acesso

legal a terra.

Esta política implementada pelo governo imperial promoveu a entrada sem

restrição de grandes posseiros interessados em ocupar e posteriormente legitimar

as propriedades que até então não existiam de forma regularizadas. Como os

posseiros caboclos em geral não possuíam capital algum, ocorreu à inviabilização

dos mesmos em conseguir a regularização e aquisição das áreas.

Pelo motivo de estarem sendo restringidos (pela política regularizadora do

governo imperial) do acesso aos ervais e florestas de onde tiravam o sustento, os

caboclos reagiram e os conflitos foram muito constantes, como afirma Ardenghi

(2003) no trabalho sobre os Caboclos, ervateiros e coronéis em Palmeira das

Missões. Neste trabalho se evidencia e se justifica a origem do título de região

30

violenta a que esta região passou a ter. Os conflitos se estabeleciam entre os

caboclos/posseiros com os coronéis/latifundiários pelas áreas de terra desta região.

Os coronéis/latifundiários tinham sua origem de tropeiros paulistas de

ascendência luso-brasileira e também de antigos combatentes da Guerra do

Paraguai que conseguiram por ordem do governo grandes quantidades de terras.

Estes dominavam as áreas de campo e detinham grandes quantidades de bens

(gado, terra), além de deterem também o poder militar, econômico e político da

região com respaldo do governo do estado. Desta forma realizavam ocupações e

posteriores regularizações de grandes áreas para a pecuária e a agricultura em

locais ocupados pelos caboclos e posseiros, iniciando os conflitos pela posse da

terra.

Os posseiros caboclos em geral não tiveram acesso a regularização das

terras. Silva Neto & Basso (2005) argumentam que dois motivos levaram os

caboclos a perderem suas próprias terras. Um deles é que os mesmos eram

totalmente despossuídos de bens, assim como os colonos europeus, ficando

inviabilizados de pagarem pela medição das terras o que lhe daria o direito de

compra. O outro motivo foi que, por não terem nenhuma assistência governamental,

não tiveram informação de que deviam fazer a regularização, sendo muitas vezes

surpreendidos pela informação de que existia outro dono da área onde viviam e que

deviam sair.

Na cidade de Palmeira das Missões os conflitos pela posse das terras

tomaram forma e foram intensos. Segundo Ardenghi (2003), liderados pelo caboclo

Leonel Rocha, um grupo de pequenos posseiros resistiu durante muito tempo às

investidas dos coronéis/latifundiários que se lançavam para conquistar e legitimar

terras que estavam sob posse e uso dos pequenos ervateiros, tarefeiros e

agricultores, os Caboclos.

A Agricultura Cabocla se sustenta até o período da República Velha (1920-

1930), quando se intensificam as políticas de regularização das áreas pertencentes

aos pequenos posseiros para os coronéis/latifundiários e para os colonos europeus

recém-chegados das Colônias Velhas, ocorrendo a perda das terras o que obrigou

os Caboclos a constantes mudanças de local

31

3.5 A Agricultura Colonial

3.5.1 Aspectos da Imigração Européia

Durante o século XVIII e XIX o espaço agrário da região de Florestas do Rio

Grande do Sul é modificado por completo com a chegada de imigrantes europeus.

Este processo marcaria de forma definitiva a ocupação da região onde se localiza o

Médio Alto Uruguai por ser o destino de muitos dos descendentes dos imigrantes

colonizadores.

A Colonização européia rumo ao Brasil, se dá de forma intensa durante o

século XVIII e XIX, sendo protagonizada em maior número por imigrantes alemães,

italianos e poloneses. Silva Neto & Basso (2005) apontam duas razões

fundamentais para a saída dos imigrantes de seus países de origem. Uma delas é a

falta de desenvolvimento de alguns destes países, provinda de um atraso pelo qual

atravessavam as regiões mais periféricas e rurais da Europa durante o final do

século XVIII. E a outra razão fundamental ao impulso migratório foi em

conseqüência do desenvolvimento desequilibrado nos países e regiões européias,

ou seja, com o uso das máquinas e equipamentos, e a consolidação da indústria,

houve um excedente populacional de desempregados tanto na cidade como no

campo.

Alem das duas razões citadas, motivos político-ideológicos contribuíram para

a migração européia rumo ao Brasil. A presença de movimentos revolucionários de

esquerda com forte inserção na classe trabalhadora européia, aliado com os

problemas econômicos enfrentados pela população, seria o combustível para um

levante civil contra os governos (SILVA NETTO & BASSO 2005). Desta forma, a

retirada dos militantes de partidos revolucionários e o envio dos mesmos para o

outro lado do oceano, foi uma estratégia pensada de forma a tranqüilizar o poder

estabelecido até então nos países europeus.

Aliado aos problemas enfrentados nos países europeus e a necessidade de

controlar os focos de levante político, a imigração, segundo Silva Neto & Basso

(2005), foi incentivada pela intenção do governo brasileiro em ocupar as áreas do

32

Sul do país, com intuito de formar uma zona produtora de alimentos com baixo custo

de modo a fornecê-los às zonas de produção especializada voltadas a exportação,

como regiões cafeeiras, região de estâncias criadoras de gado entre outros locais

que interessavam mais economicamente ao governo.

Para Silva Neto & Basso (2005) a introdução de colonos europeus também

era importante para aumentar a densidade do povoamento na região de fronteira

com países do Rio da Prata (Argentina, Uruguai e Paraguai).

O estabelecimento dos imigrantes em solo gaúcho se dá de forma quase que

exclusiva nas regiões de Florestas. O processo de ocupação das regiões de

Floresta, não se deu por acaso ou por simples escolhas dos colonos recém

chegados. Na época, a região de Campos estava toda ocupada pelas Estâncias e

Sesmarias utilizadas para criação de gado. Desta forma restou ao colono a opção de

habitar as regiões de mata para garantir a sobrevivência. Portanto, pode-se

considerar errônea a tese usada muitas vezes para justificar a localização dos

colonos nas regiões de serra e mata, como sendo uma escolha ou opção em função

da semelhança com a região de origem dos colonos na Europa.

Inicialmente os colonos se localizam na região da Serra, e na Depressão

Central, regiões denominadas de Colônias Velhas. Nestes locais segundo Silva Neto

& Basso (2005), os colonos estabeleceram uma agricultura baseada no uso do solo

de forma intensa, utilizando a técnica da roçada e queimada e com a produção

diversificada em produtos como o milho, fumo, vinho, leite. É também nestas regiões

onde se inicia posteriormente a criação de frangos, e suínos para banha.

Nas Colônias Velhas pode-se afirmar que ocorreu uma certa prosperidade

das unidades de produção, pela intensificação das atividades desenvolvidas, pela

área relativamente grande das propriedades (de 48 a 72ha) - o que favoreceu a

reprodução da fertilidade do solo -, e pela proximidade do mercado consumidor no

caso Porto Alegre.

Com um inchaço populacional e a diminuição do tamanho das propriedades

nos anos 1920,1930 e 1940, oca

sionado por divisões sucessivas dentro da família, ocorre um processo

denominado de enxameamento. Este processo ocasiona uma migração de colonos

das Colônias Velhas rumo ao Norte do estado e região do Planalto gaúcho, onde a

estrutura agrária permanecia sem modificações ou ações de maior impacto no que

se refere a projetos de colonização ou mesmo a abertura das áreas de mata para

33

uso na agricultura, a qual era até então muito incipiente.

A chegada de colonos na região Norte do estado se dá em um momento em

que ocorre a definição do acesso a terra unicamente pela compra e regularização do

lote, o que havia sido garantido pela Lei de Terras de 1850. A forma que os colonos

tiveram acesso a terra foi por regularização e pagamento ao governo, ou seja, houve

a compra da posse do caboclo que ocupava a terra pública sem que o caboclo

recebesse alguma quantia.

Na região do Médio Alto Uruguai a imigração cumpriu um papel importante ao

desbravar a região, formando caminhos abertos por onde tropeiros faziam o

transporte de gado até a região Sul do estado de São Paulo. Estes caminhos

abertos facilitavam a passagem de tropeadas que anteriormente eram dificultadas

pelo risco de animais e pela ameaças de ataques de índios que habitavam em

grande número a região. Por este motivo os estancieiros criadores de gado das

regiões de campo não se opuseram à entrada de colonos no estado, já que os

mesmos não atrapalhavam as intenções dos estancieiros.

O processo de ocupação do espaço agrário gaúcho por imigrantes se dá

basicamente por duas nacionalidades e em épocas distintas. A colonização Alemã

começa pioneiramente datando do ano de 1824 em São Leopoldo, Santa Cruz do

Sul, e nos Vales dos Rios Caí, Taquari e Rio Pardo, enquanto que a colonização

italiana se dá prioritariamente na Encosta Superior Nordeste e no Planalto a partir de

1875. Essas duas raízes imigratórias se encontrariam nas Colônias Novas, onde se

localiza a Região do Médio Alto Uruguai.

Nesta região, a ocupação se dá de formas diferentes das outras regiões,

ocorrendo uma redução no tamanho dos lotes que os colonos adquiriam, se

compararmos com o tamanho dos mesmos nas Colônias Velhas. A ocupação na

região do Médio Alto Uruguai se dá em outro contexto político, já que nesta época

(período da proclamação da República-1889) houve a passagem da

responsabilidade da colonização do governo federal para o estadual, e este era

administrado pelo Partido Republicano Rio-Grandense, o PRR, que teve como

característica uma regularização com mais critérios a concessão de terras públicas e

devolutas através da Diretoria de Terras e Colonização e a criação das Comissões

Verificadoras a fim de fiscalizar e recuperar terras devolutas adquiridas de forma

ilegal, como aponta Da Ros (2006).

34

3.5.2 A Agricultura Colonial

Esta forma de agricultura assim como as demais, ocorre de forma sobreposta

espacial e temporalmente as anteriores, ou seja, a Agricultura Colonial Inicial ocorre

nas mesmas áreas e ao mesmo tempo que o Sistema Caboclo na Região do Médio

Alto Uruguai do Rio Grande do Sul, vindo posteriormente a sucede-lo, quando da

intensificação da política regulatória implementada pelo governo estadual no início

do século XX.

Segundo Deves et.al (2008), a Agricultura Colonial se consolida entre os anos

de 1890 e 1950 quando da chegada dos descendentes de imigrantes europeus

oriundos das Colônias Velhas (Região da Serra Gaúcha e Depressão Central do Rio

Grande do Sul).

Pode-se afirmar que a ocupação e a introdução do Sistema Colonial ocorrem

mais tardiamente se comparado ao ocorrido em outras regiões do estado. Por

exemplo, a região da Serra Gaúcha e Depressão Central recebem os colonizadores

imigrantes ainda no século XIX, o que vem a ocorrer na região do Médio Alto

Uruguai somente no início do século XX. Da mesma, forma a crise do Sistema

Caboclo ocorre antes nas regiões primeiramente colonizadas.

Este novo Sistema Agrário trouxe consigo uma modificação estrutural não só

na forma de se fazer agricultura, onde se instauraram novos métodos e formas de

manejo, mas também modificações no contexto social, econômico e ambiental da

região de Florestas do estado.

O processo de migração ocorrido no Rio Grande do Sul teve como direção o

Norte do estado dada as condições de grandes quantidades de terra devolutas e

cobertas de mata, aliado a necessidade que o estado tinha em habitar esta região

por estar localizada estrategicamente, frente aos planos de aumentar a produção

através de propriedades familiares e ocupar a região fronteiriça dos países do Rio da

Prata.

O processo migratório que levou a colonização no Norte do Rio Grande do

Sul ocorreu de forma espontânea, já que se deu apenas pela saída não orientada de

agricultores descendentes de imigrantes europeus das Colônias Velhas, para

regiões com certa abundancia de terras devolutas cobertas pela mata, as chamadas

35

Colônias Novas.

Uma diferença importante entre a Colonização das Colônias Velhas e as

Colônias Novas é que, segundo Taglietti (2006), a ocupação das últimas se dá de

forma desorientada e espontânea, forçando o estado a se dirigir a esta região do

estado para realizar a regulamentação das áreas com a criação da Comissão de

Terras e Colonização em 1917 em Palmeira das Missões.

Sobre a condição econômica dos Colonos que ocuparam a região de mata do

estado Silva Netto & Basso (2005) afirmam que eram despossuídos de recursos

financeiros, nas mesmas condições dos Caboclos que estavam em condição de

Posseiros, porém o que os diferenciou dos Caboclos no que se refere ao acesso à

propriedade foi a compreensão de que os Colono eram seres capacitados a produzir

e trabalhar para seu sustento, e portanto se enquadravam nas políticas de

regularização de terras, o mesmo não acontecendo com os Caboclos.

Os colonizadores descendentes de imigrantes inicialmente se dedicaram a

derrubada da mata que existia em abundância na região, sendo a extração de

madeira a primeira atividade econômica desenvolvida. Ao mesmo tempo em que se

retirava a Floresta se deixava aptas ao cultivo muitas áreas que eram usadas para a

produção tanto de subsistência - tornando-se uma marca da agricultura praticada na

região- como para a comercialização.

A forma que a agricultura dos colonos se deu na região do Médio Alto Uruguai

carregava uma grande influência da que era praticada nas regiões de origem dos

colonos e ao mesmo tempo possuía uma diferença fundamental, a forma com que

os Caboclos praticavam, já que com a chegada dos colonos europeus ocorre a

introdução de novas culturas, animais e modificações no manejo tanto das lavouras

como das criações animais.

As principais culturas cultivadas pelos colonos na região do Médio Alto

Uruguai segundo Taglietti (2006) foram o milho, a batata, a mandioca e o feijão,

entre outros cultivos a fim de atender a subsistência da propriedade e eventualmente

com o excedente gerar renda para adquirir produtos e bens que não eram

produzidos na propriedade. Entre as atividades que os colonos desenvolviam se

destacava a criação de galinhas para obtenção de ovos e carne. A criação de porco

se dava também e de forma bastante pronunciada, já que a banha suína

representava tanto a forma de conservar e cozinhar os alimentos, como a

36

possibilidade da venda ao comércio, sendo moeda de troca em muitas transações

realizadas pelos colonos como relata Silva Netto & Basso (2005).

Conforme Deves et.al (2008), o Sistema Agrário Colonial Inicial se diferencia

em duas características principais do Sistema Agrário Atual. O primeiro tem na

Policultura a base produtiva, tanto para subsistência quanto para a comercialização,

e a outra característica que distingue os dois Sistemas Agrários é o uso inicial de

equipamentos manuais e de tração animal no primeiro deles. O mesmo autor sugere

uma variedade de produtos que eram produzidos na colônia, entre eles se destaca o

milho, feijão, arroz, batata, mandioca, abóbora, cana-de-açúcar e alfafa. No que se

refere a ferramentas e equipamentos de produção. Deves et.al (2008) afirmam que

os colonos trabalhavam com machado, cavadeira, enxada, plantadeira manual,

manguá e a carroça. Posteriormente, pela troca do sistema de queimada para o de

pousio, ocorre a introdução do arado pula-toco, o arado e a grade puxados por

cavalo.

As vendas dos excedentes eram realizadas nos chamados bolichos ou nas

vendas localizadas na sede do vilarejo, onde a figura do bolicheiro ou vendedor se

apresenta até mesmo como agente financeiro a ponto de emprestar dinheiro aos

colonos. A renda obtida pela venda dos excedentes não servia somente para

adquirir bens e produtos não disponíveis na unidade de produção, mas também era

a forma de o colono conseguir recurso para efetuar o pagamento da medição no

caso de regularização das terras públicas, ou o pagamento pelo título de seu lote

quando adquirido de empresas privadas, que foram na região do Médio Alto Uruguai

uma figura marcante no processo de colonização.

Conforme ocorria a chegada de mais migrantes das Colônias Velhas, ocorre

também a formação de núcleos de moradores, o que vai formar posteriormente os

vilarejos que originam as atuais cidades da região. Neste sentido cumpre um papel

importante a abertura da estrada que liga Palmeira das Missões até Irai, inaugurada

em 1928 por Getúlio Vargas, onde se localiza atualmente a BR 386. A abertura

deste caminho não só possibilitou a passagem dos tropeiros e comerciários, mas

também deu condições ao fortalecimento do comércio entre os colonos, já que por

este caminho se realizavam as trocas de mercadoria e o transporte e venda dos

produtos oriundos da produção colonial.

37

A construção da estrada que liga Palmeira das Missões a Irai pode ter

condicionado também a formação das cidades que ficam as suas margens, como

sugere Taglietti (2006). O mesmo autor indica que mesmo tendo sido um processo

espontâneo, a ocupação teve algumas influências do estado, principalmente a partir

de 1917 com a criação da Comissão de Terras e Colonização em Palmeira das

Missões e sua transferência em 1937 para Frederico Westphalen, antigo Barril. A

comissão teve o papel de orientar e realizar a divisão e medição dos lotes

distribuídos aos colonos, tendo como chefe o Engenheiro Frederico Westphalen.

O Sistema Agrário Colonial Inicial ocorre até meados da década de 1950,

sendo que daí em diante se verifica mudanças importantes nas formas de se praticar

a agricultura e organizar a economia dos já pequenos vilarejos formados durante os

primeiros 50 anos de colonização por descendentes de imigrantes.

As bases para uma agricultura de base familiar são alicerçadas durante este

período na Região do Médio Alto Uruguai. Posteriormente ao período inicial, se

inscrevem mudanças significativas na forma de se manejar e produzir na agricultura,

com a introdução da Revolução Verde e na intensificação das atividades.

Pelo uso intensivo do solo baseado na retirada de vegetação, queima dos

restos vegetais e mobilização de solo, se identifica a queda na fertilidade dos solos e

a conseqüente necessidade de mudança e abertura de novas áreas para cultivar. O

final do Sistema Agrário Colonial Inicial é marcado pela corrida em busca de novas

áreas para trabalhar.

Durante os meados do século XX ocorre a implantação da Revolução Verde

na Região do Médio Alto Uruguai, sendo marcado pela adoção de práticas diferentes

das utilizadas até então na agricultura. O uso aliado da mecanização, do

melhoramento genético, do crédito e da extensão rural, acaba por modificar

estruturalmente a conjuntura agrária da região.

Culturas como a Soja e o trigo ganham força, substituindo muitas vezes as

culturas de subsistência, levando muitas propriedades a um processo de

descapitalização e perda da sustentabilidade da propriedade que em termos de área

era considerada pequena.

38

3.6 A Agricultura Contemporânea

A partir de 1950 a região do Médio Alto Uruguai sofre mudanças importantes

e estruturais. Ocorre a estabilização do grande fluxo de colonos provenientes das

Colônias Velhas, e consequentemente um aumento na população dos vilarejos que

logo após vêem a se tornar municípios se desmembrando de Palmeira das Missões.

O processo conhecido como Revolução Verde que ocorre a partir dos anos 50

na Região, traz modificações importantes no contexto da agricultura na região do

Médio Alto Uruguai, tendo no aumento substancial do volume de produção e na

ampliação da área cultivada as principais implicações no sentido econômico. Este

aumento da produção se deu pelo aumento da área cultivada e pela introdução de

insumos e sementes melhoradas, juntamente com o uso da mecanização.

A modernização da agricultura fazia parte do projeto de internacionalização

do capitalismo monopolista ditado pelos EUA, o qual objetivava introduzir o capital

industrial e financeiro na agricultura (DEVES et al, 2008)

Para Deves et.al (2008) com o avanço do modo de produção capitalista no

Brasil ocorre a política de substituição das importações, subsidiando desta forma a

agricultura que passa a ter papel fundamental no estímulo a industrialização de

base, fornecendo desde matérias-primas como também mão-de-obra. Marca

também como conseqüência da Revolução Verde e alta especialização das

atividades no campo, o que acaba por reduzir a possibilidade da produção da

produção para a subsistência do agricultor.

A mão-de-obra passa, a partir, principalmente da década de 70 a ser

deslocada da agricultura para a indústria, como afirma a Oliveira (2002). O autor

afirma que a expansão do sistema capitalista exigiu a divisão do trabalho e por

conseqüência a transferência de uma série de atividades antes desenvolvidas no

campo para a cidade. Na região do Médio Alto Uruguai na década de 80 com a crise

da grande maioria das propriedades, a saída de agricultores é acentuada, com

destino à região metropolitana de Porto Alegre, principalmente para a região

calçadista.

O período da implantação da Revolução Verde se confunde com o período de

duração da Ditadura Civil Militar que ocorre no Brasil. Esta forma de organizar a

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política e a economia brasileira se coloca a serviço da política do governo norte

americano que propunha aos agricultores brasileiros uma modificação na forma e no

contexto de produção. O governo brasileiro da época coloca a serviço deste

processo duas ferramentas importantes como assinala Miguel (2008), “as políticas

de crédito e extensão rural foram essenciais para a difusão das técnicas,

equipamentos e insumos modernos, reconfigurando o sistema agrário desenvolvido

naquele momento”.

A política de crédito, porém pode ter influenciado diretamente o processo de

concentração e aglutinação das terras em alguns pontos da região, o que, aliado a

descapitalização de uma grande parte das propriedades ocasionou a venda de lotes

e conseqüente urbanização e migração de um grande número de agricultores. Este

processo se verifica fundamentalmente no atual município de Seberi.

Com um sentido humanitário, as políticas da Revolução Verde prometem a

redução da fome e da pobreza no mundo, pelo aumento da produção com novas

cultivares, uso de máquinas e insumos externos. Além de contar com grande aporte

de recursos financeiros a Revolução Verde ganha uma importante ferramenta de

apoio, a extensão rural, esta visava a adoção por parte dos agricultores de uma

série de tecnologias a fim de se aumentar a produção e a lucratividade das

atividades desenvolvidas.

Uma mudança importante que se verifica logo com as primeiras iniciativas da

Revolução Verde foi a passagem de um sistema policultural de produção para outro

sistema baseado na sucessão de duas culturas principais, a soja e o trigo, se

tratando de um modelo monocultural de produção, conforme apontam Deves et.al

(2008).

Esta característica não é regra somente nas pequenas propriedades com

dificuldades à motomecanização (necessária as culturas como a soja e o trigo),

possibilitando assim a manutenção de sistemas diversificados e mais intensificados

de produção, como o leite, suínos e frangos.

A situação que se verifica ao se estudar a Agricultura Atual da Região do

Médio Alto Uruguai, é que as atividades desenvolvidas pela unidade familiar de

produção estiveram condicionadas ao mercado, ou seja, todas as modificações

ocorridas tiveram como função dar conta da produção de grãos especialmente

cereais e alimentos, em geral para atender a necessidade de consumo da sociedade

industrial que se formava, tanto no estado como no país, por volta da década de 70.

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Como conseqüência da intensificação e especialização das atividades

desenvolvidas na região do Médio Alto Uruguai, surge os processos de integração e

aproximação da agricultura com a indústria, verificada fundamentalmente em

atividades como a suinocultura, a avicultura, bovinocultura de leite e a fumicultura.

Ao descrever as categorias que ocupam o cenário da região do Médio Alto

Uruguai Deves et.al (2008) encontram diferenças entre as mesmas:

Enquanto no sistema anterior baseavam-se nas companhias colonizadoras,

nos colonos, nos pequenos comerciantes e nos caboclos em exclusão,

atualmente referem-se aos agricultores familiares, as empresas

agroindustriais, as cooperativas empresariais e familiares, além das

agroindústrias familiares e dos bancos comerciais e cooperativos, estes

últimos, mais recentes.

Para Silva Netto & Basso (2005) a partir de meados da década de 50 surge

uma nova classe de agricultores, os Granjeiros. Estes se desenvolvem a partir dos

problemas econômicos que ocorrem pela reprodução dos agroecossistemas nas

regiões colonizadas tardiamente, como o caso da região do Médio Alto Uruguai.

Os granjeiros são formados em linhas gerais por profissionais liberais,

comerciantes e pequenos industriais que fazem uso de mão-de-obra assalariada

para desenvolver inicialmente a cultura do trigo mecanizado nas regiões de campo e

posteriormente adentram às regiões de Floresta, chegando na região do Médio Alto

Uruguai, onde também acabam por desenvolver a cultura da soja. Esta categoria de

agricultores é responsável, segundo Silva Netto & Basso (2005), pela organização

política cooperativista/associativista, sendo a criação das cooperativas tritícolas e o

estabelecimento de preço mínimo ao trigo duas das principais conquistas desta

categoria.

A triticultura entra em crise especialmente na década de 80 pela retirada dos

subsídios à cultura e a entrada de trigo americano resultado de acordos comerciais

entre os dois países. A crise se instala de fato, e só não é mais agressiva e

pronunciada, pela ação da pesquisa que visa a obtenção de variedades resistentes

a doenças, reduzindo custos com agrotóxicos, e pela ação da Federação das

Cooperativas Tritícolas do Rio Grande do Sul (FECOTRIGO) que assegura algumas

condições que beneficiaram os agricultores, como a garantia dos preços mínimos e

a diminuição das importações.

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Com a crise tritícola se apresenta a cultura da soja. Esta cultura acaba por ser

adotada tanto pelos granjeiros que a enxergaram como a possibilidade de se manter

enquanto categoria que pudesse influenciar a política regional, como pelos

pequenos proprietários familiares que posteriormente acabam reduzindo o cultivo de

grãos para ampliação da produção animal, especialmente a bovinocultura de leite e

a suinocultura.

O Sistema Agrário Atual está num estágio em que as políticas neoliberais

implementadas no Brasil na década de 90 se fazem sentir em um numero grande

propriedades. Breitbach (2001 apud Deves et.al (2008) afirma que as exigências que

o neoliberalismo e a globalização trouxeram, inviabilizam muitos pequenos

agricultores que necessitam competir com a produção em escala dos grandes

empreendimentos, ou que são explorados pela agroindústria. Alguns problemas

enfrentados hoje na região, como o êxodo rural, a masculinização e envelhecimento

do campo podem ser explicados como conseqüência da realidade ocasionada pela

ação das políticas que foram implementadas desde a Revolução Verde até os dias

atuais.

Outra questão que assume fundamental importância no estudo do Sistema

Agrário Atual são os problemas ambientais de correntes da intensificação dos

sistemas produtivos na região do Médio Alto Uruguai. Inicialmente o principal

problema se dá pela ocorrência da erosão dos solos, esta causou a perda da

fertilidade e a redução da produção das lavouras. Com a chegada e introdução da

tecnologia da semeadura direta ocorre um controle na perda de solo, porém a

aplicação de agrotóxicos em decorrência do novo sistema de plantio e o lançamento

de resíduos da produção animal (suínos e aves) ocasionam problemas de

contaminação de águas, de rios e de nascentes.

A agricultura na região do Médio Alto Uruguai encontra muitos desafios no

sentido de manter as unidades de produção com sustentação financeira e ambiental

e ao mesmo tempo garantir a sucessão no sentido da manutenção da principal

característica que é própria, a produção de alimentos tanto para o mercado quanto

para a subsistência.

A modernização conservadora da agricultura causou ao mesmo tempo o

aumento de produção das atividades e a saída de muitos agricultores do campo. A

descapitalização que assombra muitas outras unidades de produção pode

representar problemas de ordem econômica e social para a região, exigindo

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algumas políticas públicas que possam frear os problemas visualizados no atual

Sistema Agrário, neste sentido surge a agroindustrialização tem assumido caráter de

atividade a ser desenvolvida como proposta aos problemas encontrados na região

como o empobrecimento, envelhecimento e masculinização do campo.

Alem da agroindustrialização surgem outras importantes políticas que se

apresentam como possíveis saídas aos problemas enfrentados pelos agricultores da

Região do Médio Alto Uruguai. Neste sentido a venda institucional surge como

alternativa, principalmente naqueles locais de menor capitalização por parte dos

agricultores. O programa da Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa de

Merenda Escolar têm um papel fundamental, já que promovem a comercialização

local, através da distribuição nos programas sociais do governo e nas escolas.

Porem estes programas enfrentam a falta de organização das cadeias

produtivas na região, sendo que o poder público tem tido dificuldades de promover o

desenvolvimento de políticas de estimulo a produção e a comercialização, cabendo

a iniciativa privada a regulação dos preços pagos e compra dos produtos muitas

vezes abaixo do preço de mercado.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo dos Sistemas Agrários da região do Médio Alto Uruguai, nos

possibilitou o conhecimento de como se deu o processo de ocupação, colonização e

o atual quadro em que se encontra a agricultura desta região.

A teoria dos Sistemas Agrários surge neste sentido como uma ferramenta

fundamental na explicitação do contexto atual e histórico da agricultura. Neste

trabalho, porém o uso da teoria dos sistemas agrários não ocorre conjuntamente de

uma pesquisa a campo. Esta é necessária para que se possa ter um

aprofundamento necessário a uma leitura mais específica de alguns locais que

podem dar um recorte e uma interpretação real tanto da história como do processo

atual em que se encontra a agricultura.

Em vista da riqueza de informações e aspectos a serem analisados no que se

refere ocupação e colonização da Região das Colônias Novas, sugerimos que o

trabalho de investigação e de estudo seja mantido e ampliado a fim de conhecermos

mais o chão onde pisamos.

Conhecendo esta realidade onde nos inserimos, suas peculiaridades, sua

formação sociocultural política e econômica podemos interferir no sentido da

transformação dos aspectos que entravam o desenvolvimento da região e impedem

melhorias nas condições de vida de muitas pessoas. Sem o entendimento da

formação e dinâmica dos Sistemas Agrários, cairemos em equívocos profundos ao

promover políticas públicas inadequadas a realidade da região.

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5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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